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_____________________________________________________________ ______ CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA DIREITO TRIBUTÁRIO

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

DIREITO TRIBUTÁRIO

__________________________________________________________________

Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010

Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

MÓDULO I

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. INTRODUÇÃO

É o ramo do Direito que estuda os princípios e normas que disciplinam a tributação.

A tributação no Brasil só pode ser desenvolvida pelo Estado:

União;

Estados-Membros;

Municípios;

DF (após a CF/88, virou pessoa política. Antes era autarquia administrativa da

União).

A criação dos tributos depende de lei, logo, só quem legisla pode tributar e só quem

pode legislar são as pessoas políticas.

O Direito Tributário estuda os princípios e as normas que disciplinam a ação estatal

de exigir tributos, e se preocupa com as relações jurídicas que, em decorrência da

tributação, se estabelecem entre o Fisco e os contribuintes.

Direito Tributário, para Hugo de Brito Machado, é “o ramo do Direito que se ocupa

das relações entre o fisco e as pessoas sujeitas às imposições tributárias de qualquer

espécie, limitando o poder de tributar e protegendo o cidadão contra os abusos desse

poder”1.

O tributo é um instituto jurídico especial, pois sozinho alcança valores primordiais

às pessoas, que são: liberdade (ninguém paga tributo por vontade própria) e propriedade

(atinge o patrimônio).

2. TRIBUTO

2.1. Conceito

O conceito de tributo está previsto no art. 3.º do CTN, assim compreendido:

1 BRITO MACHADO, Hugo de. Curso de Direito Tributário. 19.ª ed. São Paulo: Malheiros.1

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“Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda cujo valor nela se

possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante

atividade administrativa plenamente vinculada.”

É uma obrigação ex lege, em moeda, que não se constitui em sanção por ato ilícito e

que tem por sujeito ativo (credor), normalmente, uma pessoa política e por sujeito passivo

(devedor) qualquer pessoa (apontada na lei da entidade tributante).

A obrigação é compulsória, obrigatória, porque decorre diretamente da lei. A

vontade do contribuinte é irrelevante.

2.2. Obrigação ex lege

O tributo é uma obrigação ex lege, pois nasce direta e imediatamente da vontade da

lei, que traça a hipótese de incidência do tributo.

As obrigações ex lege contrapõem-se às obrigações ex voluntate (em que a vontade

das partes é prestigiada pelo Direito), pois o legislador, ao mencionar instituída em lei,

certamente pretendeu afastar as chamadas obrigações convencionais, que teriam fulcro,

invariavelmente, numa convergência de vontades.

Nosso Direito desconhece o tributo in natura (no qual parte da mercadoria

comercializada é entregue ao Fisco a título de pagamento do tributo, ex.: para o pagamento

do ICMS, entregam-se 10 quilos de arroz a cada 100 quilos vendidos) e desconhece

também o tributo in labore (a cada mês, o sujeito passivo destina alguns dias de seu

trabalho à entidade tributante).

Obrigação é o vínculo abstrato de conteúdo patrimonial pelo qual uma pessoa

(sujeito passivo) vê-se compelida a dar, a fazer, a não fazer ou a suportar algo em favor de

outra (sujeito ativo).

Síntese: Sendo o tributo uma obrigação ex lege, a capacidade tributária passiva

independe da capacidade civil do contribuinte, ou sendo ele uma pessoa jurídica, do fato de

estar regularmente constituída – conforme o art.126 do CTN.

2.3. Obrigação em Moeda ou Cujo Valor Nela se Possa Exprimir

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O tributo só pode ser pago em dinheiro corrente. Com a expressão “ou cujo valor

nela se possa exprimir”, quer a lei dizer que, em circunstâncias extraordinárias, previstas

em lei, é possível que o Fisco aceite a satisfação da obrigação tributária com a entrega de

bens, cujo valor possa ser convertido em moeda. A LC n. 104, de 10.1.2001, acrescentou

no art. 156 do CTN o inc. XI:

“Art.156. Extinguem o crédito tributário:

...XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas

em lei.”

Tal inclusão serviu para explicitar o conceito de tributo, lembrando que, em casos

especiais, a lei já autorizava a extinção do crédito tributário por este instituto.

2.4. O Tributo não se Constitui em Sanção por Ato Ilícito

O tributo não é multa. Ao contrário desta, tem por pressuposto a prática de um fato

lícito qualquer, que revela capacidade econômica ou capacidade contributiva. A multa

nasce de uma ilicitude; paga-se porque se praticou um ato ilícito. Quando a lei descreve

abstratamente um fato originário de um tributo, não pode descrever um fato ilícito.

O tributo tem finalidade arrecadatória, ao passo que a multa tem finalidade

preventiva e sancionatória. O Estado tributa para atingir seus fins, e a multa visa

desestimular os infratores.

A lei não pode colocar, na hipótese de incidência tributária, a descrição de um fato

em si mesmo ilícito, sob pena de o tributo converter-se em sanção, o que é vedado por

nosso Direito positivo (art. 3.º do CTN).

Essa regra pode ser observada em relação ao Imposto de Renda, cuja hipótese de

incidência é obter rendimento. Não importa se os rendimentos são de atividade lícita ou

não. Por isso, os bicheiros devem pagar Imposto de Renda. Princípio do non olet (não

cheira).

Esse princípio, non olet, surgiu em Roma, onde um Imperador instituiu um imposto

do uso de latrina (banheiros públicos), fato que deu origem a grandes falatórios. Até seu

filho se opôs à cobrança desse imposto, dizendo que não era conveniente que Roma

sobrevivesse da cobrança de dinheiro originário de um local tão sujo. O Imperador pediu

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então para que seu filho fosse buscar um pouco do dinheiro arrecadado, mandou-o cheirar

e disse: “Está vendo filho, non olet (não cheira)!”, querendo dizer que pouco importava a

origem remota do dinheiro arrecadado.

2.5. Obrigação Cobrada Mediante Atividade Administrativa Plenamente Vinculada

É necessário entender tal expressão sem o exagero que deflui do texto. Se é verdade

que atos importantes do procedimento de arrecadação tributária pertencem à classe dos

vinculados, outros muitos existem, dentro da mesma atividade, em que o administrador

está autorizado, pela lei, a integrar com sua vontade ou juízo a norma jurídica diante do

caso concreto, operando com critérios subjetivos próprios, a fim de dar satisfação aos

objetivos consagrados no sistema legal.

Em suma, o tributo, ao lume de nosso Estatuto Magno, é a relação jurídica que se

estabelece entre o Fisco e o contribuinte (pessoa abrangida pelo Direito positivo), tendo

por base a lei, em moeda, igualitária e decorrente de um fato lícito qualquer.

A CF classificou os tributos em impostos, taxas e contribuições de melhoria (art.

145, I a III), desenhando a norma-padrão de incidência de cada uma dessas figuras

jurídicas e discriminando competências para que as pessoas políticas, querendo, viessem a

instituí-las (sempre por meio de lei). O STF, por unanimidade, reconheceu que existem, na

ordem jurídica brasileira, quatro espécies tributárias: impostos, taxas, contribuições (que

englobam contribuições de melhoria e contribuições parafiscais ou especiais) e

empréstimos compulsórios (STF, RDA, 190: 78-82).

Por fim, a CF arrolou os direitos fundamentais que a União, os Estados, os

Municípios e o Distrito Federal, ao levarem a efeito a tributação, devem respeitar.

Tributo tem o mesmo significado de obrigação tributária, e essa é uma relação

jurídica, tendo assim um sujeito ativo e um sujeito passivo.

3. OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

3.1. Sujeito Ativo

Credor do tributo: é aquele que tem o direito subjetivo de exigir a

prestação pecuniária (capacidade tributária ativa).

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Pessoas que têm capacidade tributária ativa: normalmente aquelas

investidas de capacidade política – são as pessoas políticas de direito

constitucional interno – dotadas de Poder Legislativo.

Competência tributária é a capacidade para criar o tributo, diferentemente de

capacidade tributária ativa, que é capacidade de exigir a prestação pecuniária.

A capacidade tributária ativa é delegada por lei da entidade tributante. Sendo assim,

nada impede que terceira pessoa venha a arrecadar, basta que tal atividade seja delegada

por lei. Isso se chama parafiscalidade.

Parafiscalidade é a delegação de capacidade tributária ativa que a pessoa política,

por meio de lei, faz à terceira pessoa, a qual, por vontade dessa mesma lei, poderá também

dispor do produto arrecadado. Só pode se voltar em favor de pessoas jurídicas de Direito

Público (ex.: autarquias) e em favor de pessoas jurídicas de Direito Privado perseguidoras

de finalidade pública (entes paraestatais – caminham paralelamente ao Estado, ex.:

sindicatos, SESI, SESC, SENAI, SENAC).

A parafiscalidade não pode alcançar as empresas comerciais, tendo em vista os

seguintes princípios constitucionais:

princípio da igualdade: as pessoas que se encontram na mesma situação

econômica devem ser tratadas de modo igual;

princípio da destinação pública do dinheiro arrecadado mediante o exercício da

tributação.

3.2. Sujeito Passivo

O devedor do tributo: é a pessoa, física ou jurídica, privada ou pública, que tem o

dever jurídico de efetuar o pagamento do tributo. Em tese, qualquer pessoa tem

capacidade tributária passiva, ou seja, qualquer pessoa pode figurar no pólo

negativo da obrigação tributária, inclusive as pessoas políticas (União, Estados,

Municípios e Distrito Federal). Estas são imunes apenas quanto aos impostos (art.

150, VI, “a”, da CF/88), mas podem ser alvo de taxas e contribuições de melhoria.

As autarquias: também são imunes quanto aos impostos (art. 150, § 2.º, da CF/88),

mas podem ser alvo de cobrança de taxas e contribuições.

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As empresas públicas e sociedades de economia mista: possuem capacidade

tributária passiva plena (impostos, taxas e contribuições – art. 173, inc. II, da

CF/88).

As empresas privadas.

As empresas particulares.

MÓDULO II

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. ART. 3.º DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL

Rubens Gomes de Souza foi convidado para elaborar o Anteprojeto que acabou

sendo transformado em nosso Código Tributário Nacional, contendo a definição de tributo

em seu art. 3.º, tal qual estudado.

Há doutrinadores que criticam o CTN por tal definição, já que não é dado à lei

definir, conceituar, doutrinar. Para esses doutrinadores, quem deve fazer doutrina são os

estudiosos e não o legislador.

Realmente não é bom que a lei defina, mas a definição do art. 3.º do CTN é de boa

qualidade.

1.1. Definição de Tributo

A CF não define tributo, mas cuida de uma série de figuras afins que lembram o

tributo: a desapropriação, o perdimento de bens, a pena privativa de liberdade, a pena de

multa etc. Todas essas figuras são impostas coativamente, por isso semelhantes ao tributo:

“Tributo é a relação jurídica que se estabelece entre o Fisco e o contribuinte, tendo por

base a lei em moeda igualitária e decorrente de um fato lícito qualquer (por isso pretender

instituir um tributo por decreto é impossível, a Constituição Federal impede tal situação)”.

2. NASCIMENTO DO TRIBUTO

O tributo nasce quando se verifica, no mundo em que vivemos, o fato lícito e não

voluntário descrito na hipótese de incidência tributária.

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O mundo em que vivemos é conhecido como o mundo fenomênico, dos fenômenos

naturais.

O tributo nasce de um fato lícito porque ele não é multa por ato ilícito, e não é

voluntário porque se trata de uma obrigação ex lege, nasce da vontade da lei e não da

vontade do contribuinte ou do Fisco.

No Brasil, por força do princípio da legalidade, a norma tributária só pode ser

veiculada por meio de lei. Mas não por qualquer lei; é necessário que seja lei da pessoa

política competente para criar aquele determinado tributo, sendo que tal regra se encontra

na CF (art. 150, I, da CF/88).

P.: Uma lei federal e uma estadual que dispõem sobre o mesmo tributo. Qual

prevalece?

R.: Prevalece aquela que, pela CF, for a competente para veicular o tributo. A lei

federal, portanto, não é superior à outra, todas estão em igualdade e prevalece a

competente.

A CF é a carta das competências tributárias.

Para a maioria da doutrina, a medida provisória não pode criar ou majorar tributo,

porque a medida provisória é precária e não corresponde à certeza com a qual o tributo

deve se revestir.

Atualmente, em razão da Emenda Constitucional n. 32, a medida provisória poderá

criar ou majorar tributo, dado que o § 2.º do art. 62 da Constituição Federal recebeu a

seguinte redação:

“ § 2.°. Medida provisória que implique a instituição ou majoração de impostos,

exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício

financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi

editada.”

3. HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA

É a descrição que a lei faz de um fato tributário que, quando ocorrer, fará nascer a

obrigação tributária (obrigação de o sujeito passivo ter de pagar ao sujeito ativo o tributo

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correspondente). Em suma, é o fato descrito em lei que, acontecido, faz nascer a relação

jurídica tributária, tendo por objeto a dívida tributária.

Segundo definição de Geraldo Ataliba: “Hipótese de incidência é fato descrito em

lei que, se e quando acontecido, faz nascer para alguém o dever de pagar um dado tributo”.

4. FATO IMPONÍVEL

Hipótese de incidência é diferente de fato imponível, sendo que fato imponível é

aquele que aconteceu (fato que realizou o tipo tributário), e hipótese de incidência é o fato

descrito na lei.

Ex.: uma pessoa que obter rendimentos tem que pagar Imposto sobre a Renda (IR).

Isso é a hipótese de incidência. João da Silva obteve rendimento, tem que pagar Imposto

sobre a Renda; este é o fato imponível.

Exemplo espelhado em Direito Penal:

tipo penal é a descrição legal que a ordem jurídica considera delituoso (hipótese

de incidência);

fato típico penal é a conduta do indivíduo (fato imponível).

A doutrina costuma chamar fato gerador tanto a hipótese de incidência como o fato

imponível, mas, em ciência, isso não é conveniente, porque em ciência as expressões

devem ser unívocas e não equívocas.

“Fato gerador”, portanto, é expressão equívoca e, por isso, deve ser evitada.

A doutrina mais moderna vem dividindo a expressão fato gerador em:

fato gerador in abstrato: expressão referente à hipótese de incidência;

fato gerador in concreto: refere-se ao fato ocorrido, ao fato imponível.

Para que o tributo nasça, o fato deve ajustar-se rigorosamente a uma hipótese de

incidência tributária (fenômeno da subsunção, que se equivale à tipicidade penal).

A lei descreve a hipótese de incidência, e ocorrendo o fato gerador imponível, é

devido o tributo.

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Henzel Albert diz que: “Só deves pagar tributo se realizas, em todos os seus

aspectos, a hipótese de incidência tributária”.

O que distingue um tributo do outro é a hipótese de incidência.

A norma jurídica tributária deve conter hipótese de incidência, sujeito ativo, sujeito

passivo, base de cálculo e alíquota, sob pena de não haver tributo a lançar. Enquanto a

lacuna não for suprida, não existe tributo em abstrato, não podendo existir em concreto.

5. BASE DE CÁLCULO E ALÍQUOTA

São elementos quantitativos do tributo (conjugados, permitem que se chegue ao

quantum debeatur, quantia devida, a título de tributo).

Importante ao Fisco e ao contribuinte é o quanto se deve cobrar e pagar.

5.1. Base de Cálculo

É a dimensão legal da materialidade do tributo, é a perspectiva dimensível do

aspecto material da hipótese de incidência tributária.

Deve guardar uma correlação lógica com a hipótese de incidência do tributo. Ex.:

Imposto de Renda, no qual a hipótese de incidência é obter rendimentos e a base de cálculo

é a renda líquida; ICMS, hipótese de incidência é vender mercadorias, a base de cálculo é o

valor da mercadoria.

Se houver incongruência, ou seja, não houver correlação lógica, o tributo será

indevido. Ex.: IPTU, a hipótese de incidência é ser proprietário de imóvel urbano, a base

de cálculo é, hipoteticamente, o valor do aluguel. É indevido porque os aluguéis obtidos

configuram renda (IR).

5.2. Alíquota

É o critério apontado em lei, normalmente em porcentagem, que, conjugado à base

de cálculo, permite que se chegue ao quantum debeatur. Ex.: base de cálculo igual a 100

(cem), a alíquota é de 15% (quinze por cento), o quantum debeatur será de 15 (quinze).

O tributo não pode ter característica de confisco (art. 150, IV, da CF/88). Não pode

retirar do contribuinte o mínimo vital, tanto para a pessoa física quanto para a jurídica.

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MÓDULO III

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. LEIS TRIBUTÁRIAS

A União é competente para instituir leis tributárias federais, os estados para

instituírem leis tributárias estaduais, os Municípios para instituírem leis tributárias

municipais e o Distrito Federal, as leis tributárias distritais.

Tais leis, quando obedecida a Constituição Federal, estão no mesmo plano jurídico,

não há hierarquia entre elas. Só podemos falar em hierarquia entre normas jurídicas quando

umas extraem das outras a validade e a legitimidade.

Necessário, contudo, que exista obediência à Constituição Federal (arts. 145 a 162

da CF).

Uma lei que invade a competência de outra entidade política é inconstitucional. Se

houver duas leis tributárias que tratam do mesmo tributo, certamente uma será

inconstitucional.

2. CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA DOS TRIBUTOS

Classificar é dividir um conjunto de seres (coisas, objetos) em categorias, segundo

critérios preestabelecidos.

A classificação jurídica dos tributos baseia-se nas normas jurídicas tributárias em

vigor estabelecidas na Constituição Federal.

Tributo (gênero) compreende, segundo o art. 5.º do Código Tributário

Nacional:

impostos;

taxas;

contribuições de melhoria.

Tributos, segundo a Constituição Federal, compreendem, além das três espécies

acima enumeradas, as seguintes:

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empréstimos compulsórios (art. 148 da CF/88);

contribuições especiais (art. 149 da CF/88);

Segundo uma corrente doutrinária os empréstimos compulsórios, as contribuições

especiais são tributos que podem ser exteriorizados como taxa ou imposto, ou seja, não são

outras espécies tributárias, pois espécies são somente as três do art. 145 da Constituição

Federal.

2.1. Impostos – Art. 145, I, da CF/88 e art. 16 do CTN

São os tributos economicamente mais importantes.

Conforme o art. 16 do Código Tributário Nacional, imposto é o tributo cuja

obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal

específica relativa ao contribuinte.

É um tributo não vinculado. Não é necessário que a União, os Estados-membros, os

Municípios ou o Distrito Federal prestem, por exemplo, um serviço público ou realizem

uma obra pública para poderem cobrar imposto, pois não há uma equivalência entre o

montante que uma pessoa paga a título de imposto e o que o Estado reverte em seu

benefício.

O imposto tem fundamento de validade no poder de império da entidade tributante.

Nasce sempre de fatos regidos pelo Direito Privado. Ex.: a venda de mercadorias gera

ICMS (Direito Comercial); a prestação de serviços gera ISS (Direito Civil).

Imposto é um tipo de tributo que tem por hipótese de incidência um

comportamento do contribuinte ou uma situação jurídica na qual ele se encontra.

Um comportamento do contribuinte: por exemplo, ao se adquirir um imóvel, há a

incidência do ITBI; ao se vender uma mercadoria, deve incidir o ICMS; ao se

prestar um serviço, surge o ISS.

Situação jurídica na qual o contribuinte se encontra: por exemplo, o proprietário

de um imóvel deve pagar IPTU; já o proprietário de um imóvel rural deve arcar

com o ITR.

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2.1.1. Competência dos impostos

a) Impostos federais – art. 153 da CF

Imposto sobre Importação (II);

Imposto sobre a Exportação (IE);

Imposto sobre a Renda e Proventos (IR);

Imposto de Produtos Industrializados (IPI);

Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR);

Imposto sobre grandes fortunas (IGF).

b) Impostos estaduais e do Distrito Federal – art. 155 da CF/88

Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD);

Imposto sobre Operações Mercantis (ICMS);

Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).

c) Impostos municipais e do Distrito Federal – arts. 156 e 147 in fine da CF/88

Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU).

Imposto sobre Transmissão Inter Vivos (ITBI).

Imposto sobre Serviços (ISS).

O Distrito Federal pode criar os impostos estaduais e municipais (competência

impositiva dobrada – art. 155, caput, e art. 147, in fine, ambos da Constituição Federal. A

competência impositiva distrital é o somatório das competências impositivas dos Estados e

Municípios).

De acordo com o art. 154 da Constituição Federal, a União possui competência

impositiva residual (infinita), pois sempre poderá criar imposto. Ex.: imposto sobre

arrematações. Essa competência residual limita-se apenas aos impostos e não a qualquer

tributo. Devendo ser instituídos mediante lei complementar, que sejam não-cumulativos e

não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos impostos discriminados na

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Constituição (art. 154, I, CF).

O art. 154, II, da Constituição Federal permite a instituição de impostos

extraordinários na iminência ou no caso de guerra externa, compreendidos ou não em sua

competência tributária, ou seja, podendo inclusive invadir competência das outras

entidades tributantes.

Os tributos em geral devem ser criados por lei ordinária. Os impostos de

competência impositiva residual da União (art. 154, I, da CF/88) , os empréstimos

compulsórios (art. 148 da CF/88) e a contribuição para seguridade social (art. 195, § 4.º,

CF) devem ser criados por meio de lei complementar.

2.1.2. Classificação dos impostos

a) Pessoais

São aqueles que estabelecem diferenças tributárias em função das condições

próprias do contribuinte. Ex.: IR.

b) Reais

São aqueles que não levam em consideração as condições do contribuinte, incidindo

igualmente para todas as pessoas. Ex.: IPTU.

c) Diretos

Quando numa só pessoa se reúnem as condições de contribuinte de direito (aquele

que é responsável pelo cumprimento de todas as obrigações tributárias previstas na

legislação, porque foi ele quem praticou o fato gerador do tributo) e de fato (aquele sobre

quem recai o ônus do imposto). Ex.: IR.

d)Indiretos

Quando, na relação jurídico-tributária que se estabelece entre o Estado e o sujeito

passivo, este paga o tributo correspondente e se ressarce cobrando de terceiro por meio da

inclusão do imposto no preço. Aquele que paga o imposto e mantém a relação pessoal e

direta com o Estado denomina-se contribuinte de direito; o terceiro é estranho à relação

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jurídico-tributária, embora vinculado ao fato gerador, é denominado de contribuinte de

fato (porque de fato foi ele quem suportou o ônus do imposto). É o fenômeno econômico

da transladação ou repercussão dos tributos. Ex.: ICMS, IPI. O consumidor final não é o

atingido diretamente. Ele é o contribuinte de fato e não o contribuinte de direito.

O art. 166 do Código Tributário Nacional, estabelece que a repetição dos chamados

impostos indiretos só é possível quando o contribuinte de direito não tiver repassado ao

contribuinte de fato a carga econômica do tributo ou quando, tendo havido tal repasse, o

contribuinte de direito estiver expressamente autorizado, pelo contribuinte de fato, a

ingressar com o pedido de repetição. Ex.: se o contribuinte recolher ICMS a mais, ele só

poderá pedir a repetição se ocorrer uma das hipóteses mencionadas no art. 166 do Código

Tributária Nacional. Essas situações, porém, são difíceis de ocorrer, pois geralmente há o

repasse ao contribuinte de fato e, impossível, em tese, será obter a autorização deste.

Súmula 546, Supremo Tribunal Federal, “Cabe restituição do tributo pago

indevidamente, quando reconhecido por decisão que o contribuinte de jure não recuperou

do contribuinte de facto o quantum respectivo.”

2.1.3. Princípio informador dos impostos

O princípio da capacidade contributiva encontra-se veiculado no art. 145, § 1.º, 1.ª

parte, da Constituição Federal: “sempre que possível os impostos terão caráter pessoal e

serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte”.

Esse princípio se hospeda no princípio da igualdade e ajuda a realizar os ideais

republicanos (quem tem mais, paga mais e quem tem menos, paga menos).

É por meio de alíquotas progressivas que se alcança o princípio da capacidade

contributiva, pois esse princípio exige que os impostos observem uma progressividade de

alíquotas: quanto maior a base de cálculo, tanto maior a alíquota. Ex.: IR, que tem três

alíquotas (0%,15% e 27,5%).

O art. 145, §1.º, da Constituição Federal contém a expressão “sempre que possível”,

portanto as pessoas políticas é quem decidem se imprimem caráter pessoal aos impostos. O

ICMS, por exemplo, é imposto que não respeita o princípio em estudo, pois quem suporta a

carga econômica é o consumidor final, e este suportará sempre a mesma alíquota, pouco

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importando a sua capacidade contributiva. Outro exemplo é o IPI.

O ICMS (art. 155, II, da CF/88) e o IPI (art. 153, IV, da CF/88), embora não

respeitem o princípio da capacidade contributiva, são impostos seletivos em função das

mercadorias e serviços e da essencialidade dos produtos industrializados, respectivamente.

2.2. Taxa – Art. 145, II, da CF/88 e Art. 77 do CTN

É o tributo que tem por fato gerador abstrato uma atuação estatal diretamente

referida ao contribuinte (art. 145, II, da CF/88) consistente em um serviço específico e

divisível ou em um ato de polícia, ou seja, trata-se de tributo vinculado a uma atuação

estatal. Não nasce de um comportamento do contribuinte ou de uma situação jurídica em

que este se encontre.

Essa atuação estatal pode consistir, segundo o art. 145, II, da Constituição Federal e

art. 77 do Código Tributário Nacional, em taxa de serviço ou taxa de polícia.

A especificidade da taxa advém de seu fato gerador ser uma atividade estatal

específica relativa ao contribuinte.

2.2.1. Taxa de serviço

É o tipo de tributo que tem por hipótese de incidência um serviço público específico

e divisível.

Serviço público é a prestação de utilidade material usufruível individualmente sob o

regime de Direito Público. O que torna público o tributo é o regime de Direito Público que

o rege. Os serviços públicos podem ser:

a) Gerais (universais)

Alcançam a comunidade considerada como um todo. Não se referem diretamente a

ninguém. São prestados uti universi. Devem ser custeados pelas receitas gerais da pessoa

política que os presta. Ex.: serviço de segurança pública, serviço diplomático, serviço de

defesa da soberania nacional, serviço de iluminação pública;

b) Específicos (singulares)

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Alcançam pessoas individualmente consideradas. Referem-se diretamente a alguém.

São prestados uti singuli. São dotados de divisibilidade (possibilidade de aferir-se a

utilização efetivo-potencial individualmente considerada). Ex.: serviço de fornecimento

domiciliar de água potável, serviço de fornecimento domiciliar de energia elétrica, serviço

de transporte coletivo etc.;

c) Divisíveis

É a possibilidade de o contribuinte aferir a utilização efetiva ou potencial,

individualmente considerada. No Brasil, a taxa pode ser cobrada de quem efetivamente se

utiliza do serviço público ou de quem tem a disponibilidade do serviço público. A simples

disponibilidade já dá ensejo à cobrança da taxa.

d) Fruíveis

Postos à disposição (art. 145, II, in fine, da CF/88).

Para que o serviço público possa servir como fato gerador de taxa, deve ser:

específico e divisível;

prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição;

utilizado, efetiva ou potencialmente, pelo contribuinte.

Uma parte da doutrina define o pedágio como sendo uma taxa de serviço (art. 150,

V, da CF/88), cuja divisibilidade somente se manifesta no momento da utilização da via

pública. A outra parte, entretanto, defende tratar-se de um preço público (vide item 2.2.5.).

2.2.2. Taxa de polícia

O Código Tributário Nacional, em seu art. 78, define o que se considera poder de

polícia.

É a espécie de tributo que tem por hipótese de incidência um ato de polícia de

efeitos concretos, ou seja, um ato que se refere diretamente ao contribuinte e que envolve o

exercício do chamado poder de polícia. Poder de polícia é a faculdade que o Estado tem de,

observados os limites constitucionais, baixar regras de nível constitucional legal ou

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

infralegal para disciplinar o exercício dos direitos à liberdade e à propriedade das pessoas,

compatibilizando-os com o bem comum.

O poder de polícia se manifesta das mais diversas maneiras. O art. 78 do Código

Tributário Nacional reporta-se ao interesse público concernente à segurança, à higiene, à

ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades

econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade

pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. Para alguns

autores, a enumeração possui caráter taxativo. Para outros, sua abrangência é praticamente

ilimitada.

2.2.3. Base de cálculo e alíquota

As taxas não podem ter base de cálculo idêntica à dos impostos (art. 145, § 2.º, da

CF/88).

Súmula 595, STF, “É inconstitucional a taxa municipal de conservação de estradas

de rodagem cuja base de cálculo seja idêntica à do imposto territorial rural.”

As taxas geralmente são estabelecidas em quantias prefixadas, mas o legislador

pode preferir indicar uma base de cálculo e uma alíquota; pode ocorrer também que a

determinação do valor da taxa seja feita em função de elementos, por exemplo, a área do

imóvel.

2.2.4. Competência para instituir e cobrar taxas

Competente para instituir e cobrar taxas é a pessoa jurídica de Direito Público que

seja competente para a realização da atividade à qual se vincule o fato gerador respectivo.

A entidade estatal competente para o desempenho da atividade é competente, por

conseqüência, para instituir e cobrar a taxa correspondente (art. 80 do CTN).

A doutrina reconhece:

taxas de uso: aquelas que têm por hipótese de incidência a utilização de bens

pertencentes ao domínio público;

taxas de obra: aquelas que têm por hipótese de incidência a realização de obras

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

públicas.

No Brasil são inconstitucionais, mas existem na prática.

Nada impede que a pessoa política preste um serviço público ou pratique um ato de

polícia a título gratuito. Ex.: serviço de vacinação.

Há um serviço público que necessariamente deve ser gratuito, que é o serviço de

ensino quando prestado em estabelecimento oficial de ensino (art. 206, IV, da CF/88).

Caso o Poder Público resolva cobrar os serviços e os atos de polícia, deve fazê-lo

por meio de taxa, mas sempre obedecido o regime jurídico tributário (princípios que

protegem o contribuinte contra excessos fazendários. Ex.: legalidade, igualdade, reserva de

competência, anterioridade).

2.2.5. Princípio Informador das Taxas

O princípio que rege as taxas é o da retributividade.

Por meio da taxa a pessoa política se ressarce, compensa-se dos gastos que teve para

prestar o serviço público ou para praticar o ato de polícia.

Deve haver uma correlação entre o custo do serviço e o valor da taxa, verificando-se

uma razoabilidade.

A taxa não pode ser cobrada para enriquecer os cofres públicos, mas para recompor

o erário do sangramento que teve para prestar o serviço.

2.2.6. Tarifa

A tarifa é o preço público pago pela utilização de serviços facultativos (e não

compulsórios) que a Administração Pública ou seus delegados colocam à disposição da

população.

A diferença entre taxa e preço público encontra-se na Súmula n. 545 do Supremo

Tribunal Federal: “Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas,

diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia

autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu”.

Observação para o concurso do Ministério Público e da Magistratura: os serviços e

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

atos de polícia praticados não podem ser cobrados por meio de preço (preços públicos e

tarifas).

Observação para o concurso da Procuradoria: preço é a quantidade devida pelo

serviço público ou pelo ato de polícia de fruição facultativa. Não precisa obedecer ao

regime jurídico tributário, podendo ser criado ou aumentado por meio de decreto, portaria,

ato administrativo etc., sem atenção ao princípio da anterioridade.

O preço é cabível quando se está diante de coisa em comércio.

A comparação que segue entre taxa e preço público foi retirada do Código

Tributário Nacional Comentado, coordenado por Vladimir Passos de Freitas, Revista dos

Tribunais, art. 77:

Taxa:

- exercício do poder de polícia;

- utilização efetiva ou potencial do serviço público;

- remuneração por serviços públicos essenciais ou cuja atividade econômica não

compete originariamente à iniciativa privada.

Preço Público:

- remunera serviços que não têm natureza de públicos;

- atividade monopolizada;

- pressupõe contratação;

- serviços não essenciais, que admitem concessão.

2.3. Contribuição de Melhoria – Art. 145, III, da CF/88 e Arts. 81 e 82 do

CTN

É a modalidade de tributo que tem por hipótese de incidência uma atuação estatal

diretamente referida ao contribuinte. A contribuição de melhoria tem como fato gerador a

valorização do imóvel do contribuinte em razão de obra pública (ex.: obras contra

enchentes etc.). Os beneficiários diretos da obra arcam com seu custo, total ou

parcialmente. É, portanto, tributo vinculado.

Atuação estatal (art. 145, III, da CF/88): só pode consistir em obra pública.

Obra pública: é a edificação, a ampliação ou a reforma total de um bem imóvel

pertencente ou incorporado ao patrimônio público. É preciso que essa obra pública cause

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

valorização imobiliária. Entre a obra pública e a valorização imobiliária deve haver uma

relação de causalidade.

Só pode ser cobrado depois que a obra pública estiver concluída, quando só então se

perceberá o quanto valorizou o imóvel em função de sua realização.

2.3.1. Base de cálculo e alíquota

A contribuição de melhoria é um tributo e, como tal, também tem uma base de

cálculo e alíquota que devem ser apontadas em lei. A base de cálculo possível da

contribuição de melhoria é o quantum da valorização experimentada pelo imóvel em

decorrência da obra pública realizada em suas imediações.

A alíquota possível da contribuição de melhoria é um percentual desse quantum. Só

pode ser cobrada uma vez para cada obra pública que valorize o imóvel. É um tributo

social, pois visa devolver à sociedade uma parte do enriquecimento sem causa, já que o

dono do imóvel valorizado por uma obra pública, custeada pela sociedade, paga a

contribuição de melhoria.

2.3.2. Competência para instituir e cobrar contribuição de melhoria

Tem competência para instituir e cobrar contribuição de melhoria a pessoa política

(União, Estados, Distrito Federal e Municípios) que tem atribuição para a realização dos

trabalhos.

2.3.3. Princípio informador da contribuição de melhoria

A contribuição de melhoria é guiada pelo princípio da proporcionalidade ao especial

benefício (experimentado pelo proprietário do imóvel em razão da obra pública).

3. Observação Final

As taxas e contribuições de melhoria são tributos vinculados, pois têm por hipótese

de incidência uma atuação estatal de algum modo referida ao contribuinte. Nascem sempre

de fatos regidos pelo direito público.

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MÓDULO IV

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS – ART.148, CF

São tributos restituíveis, mas nem por isso perdem a natureza tributária. Tendo em

vista a menção do instituto pela Constituição Federal (art. 148) e o fato de satisfazer

plenamente as cláusulas que compõem a redação do art. 3.º, CTN, a configuração tributária

fica nitida, tornando-se difícil sustentar posições dissonantes.

Conforme Aliomar Baleeiro, “no empréstimo forçado, não há acordo de vontades

nem contrato de qualquer natureza. Unilateralmente, o Estado compele alguém, sob sua

jurisdição, a entregar-lhe dinheiro, prometendo o reembolso sob certas condições ou dentro

de certo prazo” ( Direito Tributário, Aliomar Baleeiro, atualizado por Misabel Abreu

Machado Derzi, ed. Forense, 11a. ed., pág. 182).

Apesar do exposto, o STF entende não ser tributo, como exterioriza pela súmula

418, “O empréstimo compulsório não é tributo, e sua arrecadação não está sujeita à

exigência constitucional da prévia autorização orçamentária.”

Apenas a União, por meio de lei complementar, poderá instituir empréstimos

compulsórios.

Medida Provisória não pode criar nem alterar empréstimos compulsórios, pois é

transformada em lei por maioria simples, e o empréstimo compulsório só pode ser

aprovado por maioria absoluta.

A aplicação desse tributo deve ser vinculada à despesa que o fundamentou (art. 148,

par. ún., da CF/88), expressando uma garantia ao contribuinte.

Passaremos a analisar o art. 148, assim expresso na CF/88:

“Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos

compulsórios:

I. para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública,

de guerra externa ou sua iminência;

II. no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse

nacional, observado o disposto no art. 150, III, ‘b’.

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Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório

será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.”

1.1. Art. 148, I, da CF

“Inciso I: para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade

pública, de guerra externa ou sua iminência.”

Nesses casos, não é necessário observar o princípio da anterioridade, dado que as

situações expostas no referido artigo são de graves proporções, não podendo esperar o ano

seguinte para sua solução.

1.2. Art. 148, II, da CF

“Inciso II: no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante

interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, “b”.”

A observância do princípio da anterioridade é necessária, dada a expressa menção

constitucional. Crítica: “Poder-se-á objetar que o princípio da anterioridade torna

desnecessário o caráter de urgência a que se refere o inc. II, visto que não há como

considerar de urgência empréstimo que, uma vez aprovado, só poderá ser exigido no

exercício seguinte.” (Comentários à Constituição do Brasil, Celso Ribeiro Bastos e Ives

Gandra Martins, vol. 6, tomo I, art. 148, ed. Saraiva, 1990).

1.3. Observações

Calamidade pública, guerra externa, iminência de guerra externa e o investimento

público são os pressupostos necessários e suficientes para que o empréstimo compulsório

seja criado, não são as hipóteses de incidência do empréstimo compulsório.

Os empréstimos compulsórios são restituíveis, mas nem por isso perdem o caráter

de tributo (art. 4.º, II, do CTN: estabelece que a natureza jurídica do tributo deriva de sua

hipótese de incidência e não da destinação do tributo).

A restituição é obrigatória. A lei instituidora do empréstimo compulsório deverá

fixar o prazo e as condições do resgate (cria um direito subjetivo). A restituição só pode

ocorrer em moeda, tendo de ser integral para não caracterizar confisco, incluindo-se

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Page 24: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

também correção monetária.

Os empréstimos compulsórios poderão assumir quaisquer das formas que

correspondem às espécies do tributo (imposto, taxa ou contribuição de melhoria)

Normalmente, acabam revestindo a natureza do imposto.

Alfredo Augusto Becker foi o primeiro a observar que entre os empréstimos

compulsórios existem duas relações jurídicas:

relação jurídica tributária: tem por sujeito ativo a União e por sujeito passivo o

contribuinte. Quando o contribuinte paga o empréstimo compulsório à União,

desaparece a relação jurídica tributária;

relação jurídica administrativa: surge com o desaparecimento da relação

jurídica tributária e tem por sujeito ativo o contribuinte e por sujeito passivo a

União, tendo em vista a obrigação de pagar ser, nessa relação, da União.

2. CONTRIBUIÇÕES PARAFISCAIS

São tributos arrecadados por pessoas diversas daquelas que os instituíram. Ex.:

autarquia, empresa pública. Essa delegação recebe o nome de parafiscalidade – art. 7.o ,

CTN.

Conforme sua hipótese de incidência, a contribuição parafiscal poderá revestir a

natureza de imposto, taxa ou contribuição de melhoria.

2.1. Contribuições do Art. 149 da CF

Possuem as contribuições de intervenção no domínio econômico, o caráter

extrafiscal, com finalidade específica:

de intervenção no domínio econômico;

de interesse de categorias econômicas ou profissionais “destinada a propiciar a

organização dessa categoria, fornecendo recursos financeiros para a manutenção

de entidade associativa.” (Curso de Direito Tributário, Hugo de Brito Machado,

19a. ed., ed. Malheiros, pág. 354).

Não devemos confundir esta contribuição mencionada no art. 8o., inc. IV, da CF,

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

pois esta possui como finalidade o “custeio do sistema confederativo da

representação sindical respectiva, independentemente de contribuição prevista

em lei.”Para Hugo de Brito Machado, trata-se de contribuição de natureza não

tributária, semelhante à contribuição cobrada por qualquer associação civil.

contribuições de seguridade social: custeio da seguridade social.

A União, por meio de lei ordinária, pode criar contribuições.

São tributos qualificados pela finalidade. Dentro do seu campo de competência, a

União pode criar taxas ou impostos associados a quaisquer desses fins. Assim, tais

contribuições não caracterizam nova espécie de tributo, mas taxa ou imposto de finalidade

específica.

O parágrafo único traz uma exceção ao caput, pois autoriza os Estados, o DF e os

Municípios a instituírem contribuições sociais para custeio da Seguridade Social Estadual,

Distrital e Municipal, desde que mantenham sistemas próprios de Previdência e Assistência

Social para seus funcionários.

2.2. Contribuições do Art. 195 da CF

São tributos destinados ao financiamento da Seguridade Social – financiada por toda

sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos

orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes

contribuições sociais, art. 195, caput, CF:

O inc. I trata das contribuições patronais (do empregador, da empresa, e da entidade

equiparada da lei – sujeito passivo) que revestem a natureza dos impostos (sua hipótese de

incidência é o fato desvinculado de atuação estatal), e traz três possíveis bases de cálculo:

- a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados,

a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem

vínculo empregatício;

- a receita do faturamento;

- o lucro.

O inc. II trata das contribuições dos empregados (do trabalhador e dos demais

segurados da previdência social). Possuem o caráter das taxas, pois é colocado à disposição

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

do empregado o serviço de Previdência Social. Lembre-se que, consoante o presente

inciso, não é possível incidir referida contribuição sobre aposentadoria e pensão

concedidas pelo regime geral de previdência social.

O inc. III trata das contribuições incidentes sobre a receita de concurso de

prognósticos.

O § 6.º traz regra específica sobre o princípio da anterioridade para essa espécie

tributária (anterioridade mitigada ou nonagesimal). A lei só se torna eficaz 90 dias após a

sua publicação.

- de intervenção no domínio econômico (UF);

Contribuições - de interesse de categoria profissionais ou econômicas (UF);

Sociais - de seguridade social (UF, E, M e DF) - patronais;

- empregados;

- sobre a receita de

concurso de

prognósticos

MÓDULO V

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS

As normas constitucionais não possuem o mesmo grau de importância, pois algumas

veiculam regras enquanto outras são verdadeiros princípios.

Princípio é uma regra básica implícita ou explícita que, por sua grande generalidade,

ocupa posição de destaque no mundo do Direito e, por isso, vincula o entendimento e a boa

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

aplicação, seja dos simples atos normativos, seja dos próprios mandamentos

constitucionais. Não importa se o princípio é implícito ou explícito, mas sim se ele existe

ou não existe (ex.: o princípio da isonomia das pessoas políticas é implícito).

Sempre que houver uma dupla interpretação da norma, devem-se utilizar os

princípios. O princípio é, portanto, um vetor para as soluções interpretativas. É uma regra

básica, com âmbito de validade maior, que exerce, dentro do sistema jurídico, função

axiologicamente mais importante do que a regra, mesmo a constitucional.

1.1. Princípio da Legalidade

É um princípio universal, disposto no art. 5.º, II, da CF/88: “ninguém será obrigado

a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

No Brasil, vigora a universalidade da legislação (princípio da legalidade). A

expressão “sob reserva de lei” não faz muito sentido, pois toda matéria está sob reserva de

lei. É usada como pleonasmo, reforço, e significa que “é matéria de lei”.

O art. 150, I, da CF/88 veda às pessoas políticas a criação, a exigência ou o aumento

de tributo sem ser por intermédio de lei.

Tudo o que é importante em matéria de tributo deve ser matéria de lei. Assim,

somente a lei poderá diminuir e isentar tributos, parcelar e perdoar débitos tributários, criar

“obrigações acessórias” etc. Obrigações acessórias são deveres impostos pela lei ao

contribuinte ou à terceira pessoa a ele relacionada, tendo em vista o perfeito funcionamento

do sistema tributário. Esses deveres podem consistir em um “fazer”, um “não fazer” ou um

“suportar”.

Em Direito Tributário vigora, além do princípio da legalidade, o princípio da estrita

legalidade (princípio da reserva absoluta da lei formal), o que leva ao princípio da

tipicidade fechada da tributação. O aplicador do Direito Tributário não tem margem de

discricionariedade.

Não há exceções ao princípio da legalidade tributária. No art. 153, § 1.º, da CF/88,

existe uma “aparente” exceção que faculta ao Poder Executivo (Presidente da República –

art. 76 de CF/88) alterar, por meio de decreto, as alíquotas dos impostos sobre importação,

exportação, produtos industrializados (IPI) e operações de crédito (IOF), dentro dos

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parâmetros da lei, observando-se os ditames legais. Só poderá ser aumentada, entretanto, a

alíquota, e não a base de cálculo (como ocorria na CF anterior).

Essa faculdade regulamentar, entretanto, deverá atender ao princípio da legalidade

tributária. Os únicos regulamentos válidos em matéria tributária são os executivos, que,

subordinando-se inteiramente à lei, limitam-se a prover sua fiel execução, sem, porém,

criar ou aumentar tributos nem estabelecer quaisquer ônus ou encargos que possam

repercutir no patrimônio ou na liberdade dos contribuintes.

Os regulamentos só podem ser secundum legem, não podendo criar realidade

tributária. Sendo o regulamento fonte secundária de Direito, limitada ao princípio da

legalidade, as portarias, os pareceres normativos, a ordem de serviço e os atos

administrativos tributários em geral estão abaixo do regulamento, também devendo

observar o princípio da legalidade.

Portaria: é um ato interorgânico que serve para disciplinar as questões internas

da repartição fazendária (ex.: estabelecer escala de férias, estabelecer horários

etc.).

Parecer Normativo: é a opinião oficial da Fazenda Pública acerca do significado,

conteúdo e alcance de um dado ato normativo.

Ordem de Serviço: é uma determinação que o chefe faz ao seu subordinado para

que este realize uma dada diligência. A ordem de serviço pressupõe um vínculo

hierárquico

Atos Administrativos Tributários em Geral: aplicam a lei tributária de ofício

(ex.: lançamento identifica oficialmente o contribuinte e desvenda a quantia

devida a título de tributo. É o mais importante ato administrativo tributário).

1.2. Princípio da Anterioridade

Disposto no art. 150, III, “b”, da CF/88, é um princípio exclusivamente tributário. A

lei que cria ou aumenta um tributo, ao entrar em vigor, fica com sua eficácia suspensa até o

início do próximo exercício financeiro, quando produzirá todos os seus efeitos. O exercício

financeiro, no Brasil, inicia-se em 1.º de janeiro e termina em 31 de dezembro, coincidindo

o ano civil com o ano fiscal.

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

A lei criada em um exercício só poderá entrar em vigor, ter incidência, a partir de 1.º

de janeiro do exercício seguinte. Pelo princípio da anterioridade, a lei que cria ou aumenta

um tributo deve entrar em vigor num exercício financeiro e tornar-se eficaz no próximo

exercício financeiro.

Por trás do princípio da anterioridade está a idéia de que o contribuinte não seja

pego de surpresa, reforçando a segurança jurídica da tributação.

O princípio da anterioridade existe para favorecer o contribuinte, assim, uma lei que

isenta ou reduz o tributo poderá ter incidência imediata. Somente tributos criados ou

aumentados deverão obedecer ao princípio da anterioridade. Também deverá atender ao

princípio da anterioridade aquela lei que revoga uma isenção.

A Súmula n. 615 do STF dispõe, entretanto, que “a lei que revoga a isenção de ICM

não precisa atender à anualidade”, ou seja, a norma que revoga a isenção de ICM não

precisa atender à anterioridade. Alguns entendem que essa súmula é inconstitucional, visto

que a revogação da isenção de um tributo estará recriando o tributo.

As exceções ao princípio da anterioridade estão dispostas no art. 150, § 1.º, da

CF/88 e são:

imposto sobre a importação;

imposto sobre a exportação;

IPI;

IOF;

imposto lançado por motivo de guerra.

Os quatro primeiros poderão ter suas alíquotas aumentadas por decreto (art. 153, §

1.º, da CF/88).

Também não precisam obedecer ao princípio da anterioridade os empréstimos

compulsórios para atender às despesas extraordinárias decorrentes de calamidade pública,

guerra externa ou sua iminência (art. 148, I, da CF/88).

O art. 195, § 6.º, da CF/88 veicula uma anterioridade especial. Dispõe que a lei que

cria uma contribuição social para a Seguridade Social só poderá incidir 90 dias após sua

publicação. Nesse caso, obedece-se a uma anterioridade medida (anterioridade

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

nonagesimal). O STF entende que o princípio da anterioridade é uma cláusula pétrea e não

pode ser limitado por EC.

1.2.1. Princípio da Anualidade

Vigorou no Brasil enquanto vigorou a CF/46. Dispunha que “nenhum tributo será

cobrado sem prévia autorização orçamentária anual”. Lei orçamentária é o ato-condição a

regular cobrança dos tributos. Esse princípio da anualidade foi substituído pelo princípio da

anterioridade por meio da EC n. 18/65 e depois veio disposto na CF/88.

1.3. Princípio da Segurança Jurídica da Tributação

Em sua dupla manifestação (certeza do direito e proibição do arbítrio), exige que as

leis sejam irretroativas. Não poderá haver tributo sem que a lei anterior preveja (nullum

vectigal sine praevin lege).

A lei tributária deve ser anterior ao fato imponível (art. 150, III, “a”, da CF/88), não

havendo exceção a essa regra. Quando a lei, de alguma forma, aumenta ou cria o tributo,

não poderá retroagir a fatos anteriores à sua promulgação.

Em se tratando de leis tributárias benéficas, essa regra não é de observância

obrigatória, ou seja, essas leis poderão retroagir, nos termos do art.106 do CTN.

MÓDULO VI

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. FONTES FORMAIS SECUNDÁRIAS

São consideradas de menor importância que as fontes primárias, uma vez que

possuem a função de viabilizar os comandos destas. Assim, temos como fontes formais

secundárias: decretos e regulamentos, instruções ministeriais, circulares, normas

complementares.

1.1. Decretos e Regulamentos

São expedidos pelo Chefe do Poder Executivo com o objetivo de possibilitar a fiel

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Page 31: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

execução das leis.

1.2. Instruções Ministeriais

Explicitam leis e decretos, possuem como destinatários os servidores públicos em

seus relacionamentos com os contribuintes em geral.

1.3. Circulares

As circulares, ordens de serviços e outros da mesma natureza, são atos

administrativos emitidos pelos chefes dos departamentos ou seções. Sua denominação pode

variar em face das normas administrativas de cada entidade de Direito Público.

1.4. Normas Complementares

Normas complementares, de acordo com o art. 100 do CTN são:

atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas;

decisões de órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa aos quais

a lei atribua eficácia normativa;

práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas (art. 100 do

CTN).

2. DOUTRINA

São os ensinamentos dos juristas acerca do Direito Tributário.

3. JURISPRUDÊNCIA

São decisões do Poder Judiciário acerca de questões tributárias.

MÓDULO VII

DIREITO TRIBUTÁRIO

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

1. VIGÊNCIA E APLICAÇÃO DAS LEIS TRIBUTÁRIAS

1.1. Entrada em Vigor da Lei Tributária

A lei tributária entra em vigor na data que a própria lei apontar. Se a lei não

especificar, socorre-se da regra geral trazida pelo art. 1.º da Lei de Introdução ao Código

Civil: as leis entram em vigor, no Brasil, 45 dias após sua publicação, salvo disposição em

contrário. O § 1.º do referido artigo estabelece que, no exterior, as leis entram em vigor 3

meses após sua publicação (territórios fictos, tais como embaixada, aeronaves etc.).

O período entre a publicação da lei e sua vigência chama-se vacatio legis, e serve

para que os futuros destinatários da lei possam conhecê-la e prepararem-se para bem

cumpri-la. Quanto mais complexa for a matéria em questão, mais se estende a vacatio

legis. A Constituição Federal não regula a vacatio legis, deixando a questão ao arbítrio do

legislador.

“As normas complementares da legislação tributária (art. 100, CTN) são reguladas

pelo art. 103, CTN, ou seja:

a) Os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas como

portarias, ordens de serviço, instruções normativas e circulares, na data da

respectiva publicação.

b) As decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição

administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa, quanto a esses efeitos de

regra jurídica, 30 (trinta) dias após a data de sua publicação.

c) Os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito federal

e os Municípios, na data nos mesmos prevista.”2

Portanto, nos casos do art. 100 do Código Tributário Nacional, não se aplica a regra

da Lei de Introdução ao Código Civil, por tratar-se de disposição trazida pelo próprio

Código.

O veículo adequado para a criação de tributos é a lei ordinária. As exceções são o

empréstimo compulsório (art. 148 da CF); os impostos de natureza residual (art. 154, inc. I,

da CF) e as contribuições a que se refere o art. 195, § 4.º, da Constituição Federal, que 2 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 19.ª ed. Malheiros. p. 8031

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

devem ser criados por lei complementar.

A lei ordinária é ato complexo, pois participam pelo menos dois Poderes para a sua

formação (Legislativo e Executivo). De acordo com o processo legislativo, toda lei

ordinária passa por uma fase introdutória (iniciativa), uma fase constitutiva (deliberação e

sanção) e, ainda, uma fase complementar (promulgação e publicação).

A Lei Complementar n. 90/98 dispõe que, ao término do processo legislativo, devem

as leis ser publicadas para que se tornem conhecidas. Se a lei tributária for federal, sua

publicação deverá ocorrer no DOU; se estadual, no DOE; se distrital, no DO-DF e, se

municipal, sua publicação deverá ocorrer no DOM ou, em sua falta, nos periódicos de

circulação local.

A Constituição Federal em seu art. 150, inc. III, consagra o princípio da

anterioridade que deve ser considerado com relação à vigência da legislação tributária,

desta forma, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios:

“ III – Cobrar Tributos:

a) em relação a fatos geradores ocorridos antes da vigência da lei que os

houver instituído ou aumentado;

b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os

instituiu ou aumentou.”

1.2. Revogação

A revogação pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação).

A lei tributária de caráter especial não revoga nem é revogada pela lei tributária de

caráter geral. Ex.: o art. 174 do Código Tributário Nacional dispõe que a ação de cobrança

de tributos prescreve em cinco anos; o art. 46 da Lei n. 8.212/91 dispõe que a ação de

cobrança de contribuições sociais para a Seguridade Social prescreve em dez anos. O art.

46 não revogou o art. 174, devendo ser entendido somente para as contribuições sociais

para a Seguridade Social.

Revogada, a lei tributária não mais voltará a vigorar, ainda que desapareça a lei que

a revogou. Não há efeito repristinatório no Direito Tributário Brasileiro. Se a lei “A” é

revogada pela lei “B”; ainda que a lei “C” venha a revogar a lei “B”, a lei “A” não voltará

32

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

mais a produzir efeitos.

Consoante o art. 102 do Código Tributário Nacional – “A legislação tributária dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios vigora, no país, fora dos respectivos

territórios nos limites em que lhe conheçam extraterritorialidade os convênios de que

participem, ou do que disponham esta ou outras leis de normas gerais expedidas pela

União”.

Assim, a legislação federal alcança o território do país, enquanto a dos demais entes

federativos situa-se exclusivamente nos limites que lhes sejam correspondentes.

2. INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DAS LEIS TRIBUTÁRIAS (ART. 107 A

112, CTN)

2.1. Interpretação

Interpretação é o procedimento lógico pelo qual se observam o significado, o

conteúdo e o alcance de uma dada norma jurídica. Qualquer pessoa pode interpretar a lei.

A única interpretação vinculada é a feita pelo Juiz, que obriga as partes no caso concreto

(prerrogativa do Juiz).

2.2. Interpretação das Leis Tributárias

2.2.1. Quanto ao sujeito que a realiza

Autêntica: é feita pelo Poder Legislativo por meio de leis interpretativas (lei

posterior interpretando lei anterior). O art. 106, inc. I, do Código Tributário

Nacional, dispõe que a lei tributária interpretativa retroage à data da entrada em

vigor da lei tributária interpretada.

Doutrinária: é feita pelos juristas. Será mais ou menos valiosa de acordo com a

maior ou menor intelectualidade do jurista que fez a interpretação. Não é fonte de

direito, visto que não prescreve nenhum comportamento, apenas descrevendo o

direito. A linguagem doutrinária é uma linguagem descritiva e a linguagem do

Direito é uma linguagem prescritiva.

Judicial: é feita pelo Poder Judiciário por meio de suas sentenças e seus

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

acórdãos. A cristalização das decisões judiciais forma a chamada jurisprudência,

esta não é fonte de direito nem vincula o Poder Judiciário, ou seja, não se pode

exigir que prevaleça a lei, pois não vincula o Poder Judiciário.

2.2.2. Quanto aos meios de que se vale o intérprete

Gramatical: é a simples leitura da lei. É um trabalho preliminar. É uma

interpretação leiga que prepara a interpretação jurídica.

Lógica: vale-se de elementos sistemáticos e teleológicos. O elemento teleológico

(mens legis) é a busca da vontade do Estado contida na lei (voluntas legis).

2.2.3. Quanto aos resultados que produz

A interpretação, quanto ao resultado, pode ser:

Extensiva: vai além da lei. Entende-se que o interesse público, no caso de

omissão da lei, ou numa situação de dúvida, deve prevalecer (in dubio pro fisco).

Restritiva: fica aquém da lei. Na omissão desta, não prevalece a vontade do fisco

(in dubio contra fisco).

Declaratória: fica nos estritos limites da lei. Utilizada nos dias de hoje. No caso

de dúvida, devem prevalecer os estritos limites da lei (in dubio pro lege). Se

houver, entretanto, dúvidas insuperáveis, deve-se utilizar a interpretação

restritiva.

2.3. Integração

Integrar é buscar solução para um caso concreto se houver lacuna da lei. O Código

Tributário Nacional cuida da integração em seu art. 108, prevendo, inclusive, a ordem de

utilização das fontes de integração.

“ I- analogia;

II – os princípios gerais de direito tributário;

III – os princípios gerais de direito público;

IV – a equidade”

A analogia presta-se tanto em favor do fisco como do contribuinte. Qualquer lacuna

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

na legislação tributária pode, e deve, ser preenchida pelo recurso à analogia, respeitada

apenas a ressalva do § 1.º, do art. 108. Aliás, é pelo recurso à analogia, nos termos do art.

108, inc. I, do Código Tributário Nacional, que o Supremo Tribunal Federal tem

considerado devida a correção monetária na restituição de tributos pagos indevidamente.

No campo tributário, a analogia não pode resultar exigência de novo tributo (art.

108, § 1.º, do CTN). Por força do princípio da tipicidade fechada, não se aplica analogia

em lei tributária se resultar na exigência de tributo não previsto. Por outro lado, a eqüidade

não pode dispensar o sujeito passivo do pagamento de um tributo devido (§ 2.º, do art.108,

do CTN).

Obs.: ler arts. 96 a 112 do CTN.

MÓDULO VIII

DIREITO TRIBUTÁRIO

Competência Tributária

Competência Tributária

1. CONCEITO

Competência tributária é a aptidão para criar in abstrato tributos, descrevendo

legislativamente sua hipótese de incidência, seus sujeitos ativos, seus sujeitos passivos,

suas bases de cálculo e suas alíquotas.

A rigor, a competência tributária é a aptidão não só para criar tributos, mas

também para atingir outros fins, como aumentar, parcelar, diminuir, isentar.

2. CARACTERÍSTICAS DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

A competência tributária possui vários traços característicos:

é privativa;

incaducável;

de exercício facultativo;

inampliável;

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Page 37: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

irrenunciável;

indelegável.

2.1. Privativa

A competência tributária é privativa da União, dos Estados-Membros, dos

Municípios e do Distrito Federal. Ao se dizer privativa, entenda-se exclusiva. Ex.: a

competência que a União recebeu para instituir o Imposto de Renda exclui os demais

órgãos tributantes de instituí-lo (Estado, Município e Distrito Federal).

Tanto em relação aos impostos quanto em relação à contribuição de melhoria, a

competência tributária é privativa.

Em relação aos impostos, a CF/88 utilizou dois critérios: critério material de

repartição de competências impositivas; critério territorial de repartição de competências

impositivas.

2.1.1. Critério material de repartição de competências impositivas

A Constituição Federal descreveu objetivamente fatos que poderão ser colocados na

hipótese de incidência de vários impostos. Com esse critério, a CF/88 evitou conflitos entre

a União, os Estados e os Municípios. Não conseguiu, entretanto, evitar a guerra fiscal entre

os Estados, os Municípios e o Distrito Federal.

2.1.2. Critério territorial de repartição de competências impositivas

O critério territorial de repartição de competências foi criado para evitar conflitos

entre Estados, Municípios e Distrito Federal. Por esse critério, cada Estado, Município e o

Distrito Federal terá competência para tributar nos limites de seu território. As leis

tributárias só poderão incidir sobre os fatos ocorridos no território de cada pessoa política.

Em relação às taxas e contribuições de melhoria, há alguma divergência. A doutrina

tradicional sustenta que a competência para a criação de taxas e contribuições de melhoria

é comum. Esse entendimento, entretanto, é equivocado, visto que todas as pessoas políticas

podem criar taxas e contribuições de melhoria, mas não as mesmas.

Tem competência para exigir a taxa ou a contribuição de melhoria a pessoa política

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Page 38: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

que:

Tiver competência administrativa para realizar a atuação estatal: pessoa

política que tem competência para prestar o serviço público, praticar ato de

polícia ou realizar obra pública.

Tiver regulada, por meio de lei, essa atuação estatal: o art. 21 da CF/88 aponta

as competências administrativas da União, o art. 25 da CF/88 aponta as

competências administrativas dos Estados-Membros, os arts. 29 e 30 apontam as

competências administrativas dos Municípios e o art. 32 da CF/88 aponta a

competência administrativa do Distrito Federal. A Administração Pública só

pode agir quando uma lei lhe determina a conduta.

Tiver efetivamente atuado ou, em relação à taxa, estiver pelo menos em

condições de atuar assim que recolhido o tributo: a taxa de serviço somente

poderá ser cobrada depois que o serviço público for prestado. A contribuição de

melhoria só poderá ser cobrada após serem realizadas as obras públicas. As taxas

de polícia somente podem ser cobradas após a prática do ato de polícia.

A competência administrativa residual foi dada aos Estados pelo art. 25, § 1.º,

da CF/88, ou seja, a competência dos Estados é toda aquela que não for de

competência nem da União nem dos Municípios. O § 1.º do art. 32 estende ao Distrito

Federal as competências estabelecidas para os Estados. Então o Distrito Federal

também tem competência administrativa residual para criar taxas e contribuições de

melhoria.

O art. 32 da CF/88 apontou as competências administrativas do Distrito

Federal.

2.2. Incaducável

A competência tributária, além de ser privativa, é incaducável, ou seja, não há

prazo. Ex.: imposto sobre grande fortuna – a União poderá exercer a competência a

qualquer momento.

O não-exercício da competência tributária, ainda que prolongado no tempo, não tem

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Page 39: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

a propriedade de impedir que a pessoa política venha ao final criar o tributo que lhe foi

constitucionalmente deferido.

Competência tributária nada mais é que competência para legislar sobre

tributos. A competência legislativa tributária é competência legislativa

incaducável.

O que caduca é a capacidade tributária ativa, ou seja, o direito de exigir o tributo,

que prescreve em cinco anos, conforme o disposto no art. 174 do CTN.

2.3. De Exercício Facultativo

A pessoa política é livre para exercitar sua competência tributária; é livre para criar

ou não os tributos que a Constituição lhe outorgou. O não-exercício da competência

tributária pela pessoa política não a defere a outra ou outras pessoas políticas, ou seja, o

fato de a pessoa política não exercer sua competência tributária não permite que outra

pessoa política possa exercê-la. A competência tributária não é res nullis, a competência

tributária é privativa de cada pessoa política (art. 8.º do CTN). Há, entretanto, uma exceção

a essa regra: a competência para criar o ICMS é obrigatória.

2.4. Inampliável

A competência tributária é inampliável por decisão unilateral da própria entidade

tributante, ou seja, a própria entidade tributante não poderá alargar a sua competência

tributária.

2.5. Irrenunciável

A competência tributária é irrenunciável porque a pessoa política não pode abrir

mão por definitivo de sua competência tributária.

Uma lei que o fizesse estaria, também, atentando contra o livre exercício da função

legislativa.

2.6. Indelegável

A competência tributária é indelegável, pois a pessoa política não pode transferi-la a

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

outra, nem mesmo por força de lei.

As pessoas políticas tributam por delegação constitucional, portanto não se pode delegar

o que se recebeu por delegação (“delegatur, delegare, non protest”).

Delegável é a capacidade tributária ativa, isto é, o direito de arrecadar o tributo (art.

7.º do CTN).

MÓDULO IX

DIREITO TRIBUTÁRIO

Capacidade Tributária Ativa

1. SUJEITO ATIVO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

Ocorrido o fato gerador em concreto, nasce a obrigação tributária, que, como toda e

qualquer relação jurídica, tem um sujeito ativo (credor) e um sujeito passivo (devedor).

Sujeito ativo é a pessoa que tem o direito subjetivo de cobrar o tributo, é a pessoa que

tem capacidade tributária ativa (credor do tributo). A capacidade tributária ativa está situada no

plano da atividade tributária em sentido secundário (concreto) e é, lógica e cronologicamente,

posterior ao nascimento do tributo.

Na maioria das vezes, a pessoa política que cria o tributo o arrecadará. Visto,

entretanto, que a capacidade tributária é delegável por lei, nada impede que a pessoa

política, tendo criado um tributo, delegue o direito de arrecadá-lo para pessoa diversa.

Somente pode haver delegação de capacidade tributária ativa por meio de lei (princípio da

legalidade).

A pessoa que não criou o tributo, mas irá arrecadá-lo, poderá:

arrecadar o tributo em nome e por conta da entidade tributante: nesse caso, dá-

se o fenômeno da sujeição ativa auxiliar;

arrecadar o tributo para si própria: nesse caso, dá-se o fenômeno da

parafiscalidade.

1.1. Sujeição Ativa Auxiliar

O sujeito ativo auxiliar não passa de um substituto ex legis do sujeito ativo; é um

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Page 41: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

mero arrecadador do tributo. Pode-se comparar o sujeito ativo auxiliar com o cobrador da

empresa privada. A mesma lei que delega a capacidade tributária ao sujeito ativo auxiliar

poderá fixar uma porcentagem sobre o tributo arrecadado que ficará com o mesmo.

No Brasil, o fenômeno não é comum, havendo dois casos:

ICMS sobre o consumo de energia elétrica;

ICMS sobre serviços de telefonia.

Nesses casos, a companhia, após receber a conta, remete a quantia referente ao

ICMS para os cofres públicos.

O sujeito ativo auxiliar é remanescente da época em que o Estado não estava bem

estruturado, estando tal figura fadada, por esse motivo, ao desaparecimento.

1.2. Parafiscalidade

É o fenômeno mais comum. Parafiscalidade é a delegação de capacidade tributária

ativa que a pessoa política, por meio de lei, faz à terceira pessoa, a qual, por vontade dessa

mesma lei, passa a dispor do produto arrecadado.

Podem ser beneficiadas com a parafiscalidade:

pessoas políticas (União, Estados, Municípios e Distrito Federal);

autarquias (pessoas jurídicas de Direito Público de nível meramente

administrativo).

1.2.1. Diferença entre parafiscalidade e extrafiscalidade

A parafiscalidade é a delegação de capacidade tributária ativa que a pessoa política,

por meio de lei, faz à terceira pessoa, a qual, por vontade dessa mesma lei, passa a dispor

do produto arrecadado.

Extrafiscalidade é o emprego dos meios tributários para fins não fiscais, mas

ordinatórios, isto é, para disciplinar comportamentos de virtuais contribuintes.

A tributação quase sempre persegue fins fiscais, ou seja, abastecer os cofres

públicos para atender à finalidade do Estado.

Zona Franca: recebe incentivos fiscais, portanto tem a finalidade de incentivar os

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Page 42: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

contribuintes a se instalarem em determinadas regiões. Esse é um exemplo de

extrafiscalidade.

1.2.2. O controle do Tribunal de Contas

As pessoas que arrecadam para si tributos devem ter suas contas apreciadas pelo

Tribunal de Contas (art. 71, inc. II, CF/88):

pessoa federal: Tribunal de Contas da União;

pessoa estadual: Tribunal de Contas do Estado respectivo;

pessoa distrital: Tribunal de Contas do Distrito Federal;

pessoa municipal-paulistana: Tribunal de Contas do Município de São

Paulo.

Qualquer outro município: Tribunal de Contas do Estado respectivo (ou órgão

administrativo equivalente).

A CF/88 abre espaço para criação de uma Casa de Contas Municipal, que é um

órgão administrativo equivalente, que julga as contas do Município em que foi criado.

Todos os Tribunais de Contas emitem um parecer prévio que deve ser aprovado pelo voto

de 2/3 dos legisladores da Câmara local. É um órgão auxiliar, consultivo.

MÓDULO X

DIREITO TRIBUTÁRIO

Capacidade Tributária Passiva

1. Sujeito Passivo da Obrigação Tributária (ART. 121 E 122 DO CTN)

“Sujeito passivo da relação jurídica tributária é a pessoa - sujeito de direitos - física

ou jurídica, privada ou pública, de quem se exige o cumprimento da prestação: pecuniária,

nos nexos obrigacionais; e insuscetível de avaliação patrimonial nas relações que veiculam

meros deveres instrumentais ou formais.”3

O Código Tributário Nacional esclarece a sujeição passiva da obrigação principal ou

da obrigação acessória, que poderá, ou não, recair sobre o mesmo sujeito.3 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 13.ª ed. Saraiva. p. 29741

Page 43: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Art. 121 – Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento

de tributo ou penalidade pecuniária.

Art. 122 – Sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada as prestações

que constituam o seu objeto.

Qualquer pessoa possui capacidade tributária passiva, a qual, conforme o art. 126,

do Código Tributário Nacional, independe de:

I – da capacidade civil das pessoas naturais;

II – de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou

limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da

administração direta de seus bens ou negócios;

III – de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure

uma unidade econômica ou profissional.

As pessoas políticas, inclusive suas fundações, são imunes apenas aos impostos,

podendo ser obrigadas a pagar taxas e contribuições de melhoria.

As autarquias e as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público são imunes

com relação aos impostos referentes ao patrimônio, renda e serviços desde que vinculados

as suas finalidades essenciais ou delas decorrentes, art. 150, § 2.º, da Constituição Federal.

Desta forma, possuem capacidade tributária passiva com relação aos impostos referentes

aos bens jurídicos acima mencionados se provierem de exploração de atividades

econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou que haja

contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, art 150, §3.º, da

Constituição Federal.

As empresas públicas e as sociedades de economia mista possuem total capacidade

tributária passiva (capacidade plena), portanto, devem ser submetidas ao mesmo tipo de

tributação que as pessoas jurídicas privadas (art. 173, §§ 2.º e 3.º, da CF/88).

As empresas privadas e os particulares por maior razão devem figurar no pólo

passivo da capacidade tributária.

Por força do princípio da legalidade, o sujeito passivo da obrigação tributária deve

ser apontado na lei, a qual não pode individualizar o contribuinte, devendo apenas

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Page 44: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

estabelecer critérios que permitirão sua identificação após a ocorrência do fato gerador in

concreto (fato imponível), caso contrário ofenderia o princípio da igualdade.

O sujeito passivo, na lei, é virtual (potencial); e somente após a ocorrência do fato

gerador é que se torna efetivo (real).

A pessoa política, ao editar a lei, deve respeito às normas constitucionais (norma

padrão de incidência de todas as normas tributárias).

A Constituição Federal de 1988 indica:

hipótese de incidência possível;

sujeito ativo possível;

sujeito passivo possível;

base de cálculo possível;

alíquota possível.

O contribuinte tem o direito de pagar o tributo na região onde se encontra

domiciliado ou sediado.

1.1. Diferença entre Contribuinte de Direito e de Fato

O contribuinte de direito é a pessoa que figura no pólo passivo da obrigação

tributária. Já o contribuinte de fato é o destinatário da carga econômica do tributo, ou seja,

quem suporta o ônus financeiro do tributo.

Normalmente, contribuinte de fato e de direito se confundem. Porém, algumas vezes

se distinguem.

ICMS:

contribuinte de fato: consumidor final;

contribuinte de direito: comerciante.

IR:

contribuinte de fato e de direito são o mesmo.

Súmula 546 do Supremo Tribunal Federal – “Cabe a restituição do tributo pago

indevidamente, quando reconhecido por decisão que o contribuinte “de jure” não

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Page 45: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

recuperou do contribuinte “de facto” o “quantum” respectivo”. Trata-se da

interpretação do Supremo Tribunal Federal ao artigo 166 do Código Tributário

Nacional que cuida da repetição do indébito de tributos indiretos.

1.2. Sujeito Passivo da Obrigação Tributária

1.2.1. Direto (contribuinte) – art 121, inc. I, do Código Tributário Nacional

Contribuinte direto, possui relação pessoal e direta com a situação que

constitua o respectivo fato gerador. Ele paga o tributo à título próprio, pois é o seu

patrimônio que desde o primeiro momento vai ser alcançado pela carga econômica

do tributo.

1.2.2.Indireto (responsável) – 121, inc. II, do Código Tributário Nacional

Contribuinte indireto, ou responsável, é o que paga o tributo em nome do

contribuinte, conforme expressa disposição legal. Não é o realizador do fato imponível. Na

verdade, paga o tributo a título alheio (em nome e por conta do contribuinte). Seu

patrimônio, num primeiro momento, é alcançado pela carga econômica do tributo.

Entre o contribuinte e o responsável deve, necessariamente, existir uma relação

jurídica que permita ao último o pronto ressarcimento.

A sujeição passiva indireta só é possível nos casos dos impostos, em que não há

uma contraprestação por parte do Estado.

A sujeição passiva indireta pode se dar:

por transferência: ocorre quando, após a ocorrência do fato gerador, a lei impõe

a uma terceira pessoa, que não tem relação pessoal e direta com o fato gerador, a

obrigação do pagamento do tributo; o contribuinte não é ignorado, havendo

mudança do sujeito passivo em momento posterior;

por substituição: dá-se quando o dever de pagar o tributo por expressa

determinação legal nasce de imediato na pessoa do responsável, ou seja, assim

que ocorre o fato imponível, já é cobrado do responsável; o contribuinte é desde

logo esquecido, uma vez que o legislador já o substituiu pelo responsável.

44

Page 46: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

A Emenda Constitucional n. 3/93 acrescentou o § 7.º ao art. 150 da Constituição

Federal, permitindo a cobrança antecipada de imposto do substituto tributário cujo fato

gerador deva ocorrer posteriormente.

São modalidades de sujeição passiva indireta:

Solidariedade (art. 124 do CTN): dá-se quando duas ou mais pessoas são co-

obrigadas pela lei a responderem pelo mesmo débito tributário, ou seja, existe

apenas uma relação jurídica obrigacional, na qual dois ou mais sujeitos de direito

se encontram compelidos a satisfazer a integridade da prestação. A solidariedade

pode advir de lei ou de contrato, contudo, em matéria tributária só pode haver

solidariedade legal por meio de lei da pessoa jurídica competente. A

solidariedade tributária não admite benefício de ordem (art. 124, par. ún., do

CTN).

Sucessão (arts. 129/133 do CTN): ocorrerá para “assegurar a continuidade das

relações jurídicas atiradas pelo contribuinte, que, por razões diversas (v. g., venda

do estabelecimento comercial, industrial ou profissional; venda de bem

patrimonial móvel ou imóvel; morte ou falência) deve ser sucedido na relação

jurídica tributária. É uma hipótese de sub-rogação nos direitos e obrigações do

contribuinte no contexto mais amplo da relação jurídica tributária”. A sucessão

pode ocorrer a título singular ou universal, “inter vivos” ou “causa mortis”.

Responsabilidade legal (arts. 134 e 135, do CTN): pressupõe duas condições: a)

que o contribuinte não possa cumprir sua obrigação; e b) que o terceiro tenha

participado do ato que configure o fato gerador do tributo, ou em relação a este se

tenha indevidamente omitido. Ocorrerá, por exemplo, quando a pessoa que tem

o dever de fiscalizar o recolhimento do tributo por parte do contribuinte não o faz

e, em conseqüência, ele acaba não sendo pago. Tal pessoa, num primeiro

momento, responderá pelo débito tributário, ou seja, o tabelião, por lei, é

obrigado a registrar a escritura de venda e compra do imóvel somente depois de

verificar se houve o recolhimento do ITBI. Se registra e vê-se que o ITBI não foi

recolhido, o tabelião é que deverá recolhê-lo por responsabilidade legal. O

45

Page 47: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

tabelião terá direito de regresso contra o adquirente do imóvel (responsável pelo

tributo).

Responsabilidade por infração (arts. 136 a 138 do CTN): O art. 137 dispõe que

“a responsabilidade é pessoal ao agente:

I - quanto às infrações conceituadas por lei como crimes ou contravenções, salvo

quando praticadas no exercício regular de administração, mandato, função, cargo ou

emprego, ou no cumprimento de ordem expressa emitida por quem de direito;

II - quanto às infrações em cuja definição o dolo específico do agente seja

elementar;

III - quanto às infrações que decorram direta e exclusivamente de dolo específico:

a) das pessoas referidas no artigo 134, contra aquelas por quem respondem;

b) dos mandatários, prepostos ou empregados, contra seus mandantes,

preponentes ou empregadores;

c) dos diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito

privado, contra estas”.

Nessa parte, o Código Tributário Nacional trata também da denúncia espontânea,

dispondo que a responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração,

acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou

do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa, quando o

montante do tributo dependa de apuração.

- DIRETO

(contribuinte)

SUJEITO

PASSIVO -solidariedade

- Transferência - sucessão

- INDIREITO - responsabilidade legal

46

Page 48: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

- infrações

(responsável)

- Substituição

MÓDULO XI

DIREITO TRIBUTÁRIO

A CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

1. LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO

Quando ocorre o fato gerador in concreto, nasce a obrigação tributária. Essa, ao

nascer, tem um sujeito ativo, um sujeito passivo e um objeto.

1.1. Objeto do Crédito Tributário

Objeto do crédito tributário é a quantia que terá de ser paga a título de tributo

(quantum debeatur). No instante em que nasce a obrigação tributária, surge o crédito

tributário. Quase sempre, porém, o crédito tributário nasce com característica de iliquidez,

isto é, não se sabe quanto terá de ser pago, sendo necessário que esse crédito seja

liquidado, ou seja, que se torne certo quanto à sua existência e determinado quanto ao seu

objeto.

1.2. Lançamento

É o ato administrativo de aplicação da norma tributária material ao caso

concreto.

Quem é o contribuinte?

Quanto ele deve ao Fisco?

Onde ele deve efetuar o pagamento do tributo?

Como ele deve efetuar o pagamento do tributo?

47

Page 49: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Quando ele deve efetuar o pagamento do tributo?

O lançamento dá respostas a essas 5 (cinco) indagações.

O lançamento não faz nascer o tributo. O tributo tem por fonte a lei, dela derivando

imediatamente. O lançamento não passa de um mecanismo jurídico que dá liquidez,

certeza e exigibilidade ao tributo, que lhe é lógica e cronologicamente anterior.

O lançamento, portanto, é um ato administrativo declaratório (segundo o art. 142 do

Código Tributário Nacional, o lançamento é um ato administrativo; não cabe à lei definir).

Decorre que ele produz efeitos ex tunc, ou seja, seus efeitos retroagem à data da ocorrência do

fato imponível. A lei aplicável é a que está vigente à época da ocorrência do fato imponível. É a

característica da ultratividade da lei tributária.

Art. 144 do Código Tributário Nacional: “O lançamento reporta-se à data da

ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que

posteriormente modificada ou revogada.”

1.3. Procedimento Administrativo

Segundo HELY LOPES MEIRELLES, “procedimento administrativo é a sucessão

ordenada de operações que propiciam a formação de um ato final objetivado pela

Administração” 4

O lançamento é um ato administrativo que pode ser resultado de um

procedimento administrativo.

Ocorrido o fato imponível, o tributo nasce; mas ele não pode ser voluntariamente

pago pelo contribuinte – e, muito menos, exigido pela Fazenda Pública – sem o

lançamento.

O lançamento consubstancia o crédito tributário, declarando, formal e solenemente,

quem é o contribuinte e o quanto ele deve ao Fisco.

Com o lançamento, a obrigação tributária que já existia, mas era ilíquida e incerta,

passa a ser líquida e certa, exigível em data e prazo determinados.

Segundo ALBERTO XAVIER, o lançamento não passa de um ato complementar que

age como título jurídico da obrigação tributária.5

Por ser um ato administrativo, o lançamento goza de presunções de

4 Direito Administrativo Brasileiro. 26.ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001.5 Do Lançamento no Direito Tributário Brasileiro. Resenha Tributária, 1977.

48

João Candelária, 01/03/-1,
Obter mais dados para a nota de rodapé
João Candelária, 01/03/-1,
Obter mais dados para a nota de rodapé
João Candelária, 01/03/-1,
Fiz a nota considerando Resenha Tributária como revista. Tá certo?
Page 50: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

legitimidade e de veracidade, até prova em contrário, a ser produzida pelo contribuinte

(princípio da predominância do interesse público sobre o interesse privado).

O lançamento é um ato administrativo vinculado. O agente administrativo apenas

cumpre a lei. O agente fiscal é obrigado a lançar no estrito termo da lei. Aquele que

descumprir a lei incide em responsabilidade funcional (art. 142, par. un., do CTN).

Por ser vinculado, o lançamento é apenas anulável (não é revogável). Isso porque os atos

administrativos vinculados não podem ser revogados (por conveniência e oportunidade). A

anulação do lançamento pode ser decretada, pelo Poder Executivo ou pelo Poder Judiciário,

somente mediante provocação da parte interessada (ação anulatória de débito fiscal – prazo de 5

anos após o lançamento).

De acordo com a maior ou menor participação do contribuinte na prática do

ato administrativo do lançamento, ele pode ser:

direto (ofício): feito diretamente pelo Fisco. O contribuinte não é chamado para

colaborar com a Fazenda Pública para que o lançamento se constitua. Ex.: IPTU.

misto (por deliberação): feito pelo Fisco com concurso do contribuinte. Ex.: IR.

por homologação (autolançamento): realizado pelo contribuinte ad referendum

da Fazenda Pública. Essa verifica os cálculos do contribuinte e, se aprovar, os

homologa. Estando em desacordo, a Fazenda Pública os glosa. Ex.: ICMS.

1.4. Notificação

O lançamento é levado a conhecimento oficial do contribuinte por meio de

notificação, que é o ato administrativo que dá eficácia ao lançamento. Deve-se operar in

persona, ou seja, na pessoa do contribuinte, em princípio. Pode ser feito pelo correio com

aviso de recebimento. Sempre, porém, será dado ao contribuinte fazer prova de que não foi

notificado, sem sofrer ônus.

A notificação é acessória em relação ao lançamento. Se esse é válido e aquela

nula, basta que se faça nova notificação. A recíproca, no entanto, não é verdadeira.

MÓDULO XII

DIREITO TRIBUTÁRIO

49

Page 51: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Auto de Infração

O auto de infração e imposição de multa (AIIM), como o próprio nome diz, é o

documento formal no qual a Administração Pública apontará a falha cometida (ilicitude

praticada) pelo sujeito passivo da obrigação tributária, impondo-lhe a respectiva

penalidade.

O referido documento deve ser lavrado por servidor competente, no local da

verificação da falta, e conterá, obrigatoriamente: a qualificação do autuado; o local, data e

a hora da lavratura; a descrição do fato; a disposição legal infringida e a penalidade

aplicável; a determinação da exigência e a intimação para cumpri-la ou impugná-la no

prazo de 30 (trinta) dias; a assinatura do autuante, além da indicação de seu cargo ou

função e o número de matrícula.

Convém ressaltar a opinião de RUY BARBOSA NOGUEIRA com relação ao auto de

infração e de imposição de multa:

“A legislação do IPI, como a do ICMS e ISS, previram que o agente fiscal pode

impor desde logo, na peça de acusação que é o auto de infração, a multa (passando a

designar essa peça de auto de infração e de imposição de multa), e, se o contribuinte não a

discutir e pagar dentro do prazo assinalado, terá abatimento. Como já salientamos, tais

disposições ferem os princípios de justiça, transformando agentes fiscais em árbitros e

coagindo o contribuinte. Esse não é o “processo regular”, não obedece sequer ao princípio

do contraditório, que o CTN assegura ao contribuinte, mesmo nas hipóteses mais delicadas

do seu art. 148. O auto de infração, a representação etc. nada mais são do que atos de

instauração de lançamento de ofício ou de revisão de lançamento: apenas início de

procedimento.”

O auto de infração equivale ao lançamento? Tanto quanto o lançamento, ele

constitui o crédito tributário?

Não, o auto de infração apenas constitui a sanção tributária, ou seja, consoante

PAULO DE BARROS CARVALHO, “temos um fato delituoso, caracterizado pelo

descumprimento de um dever estabelecido no conseqüente de norma tributária.” No

lançamento temos “um fato lícito, em que não encontraremos violação de qualquer

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

preceito, simplesmente uma alteração no mundo social a que o direito atribui valoração

positiva.”

O auto de infração é um ato administrativo porque corresponde a uma manifestação

objetiva da vontade do Estado, enquanto parte diretamente interessada em uma relação

jurídica.

Em havendo falta de pagamento do tributo respectivo, no mesmo documento (auto

de infração), poderá ser formalizado o crédito tributário. Pela freqüência com que ocorrem

essas conjunções, falam, alguns, em “auto de infração” no sentido largo (dois atos no

mesmo instrumento) e “auto de infração” stricto sensu, para denotar a peça portadora de

norma individual e concreta de aplicação de penalidade a quem cometeu ilícito tributário

(PAULO DE BARROS CARVALHO).

Ato Administrativo Lançamento Auto de infração

Agente: Agente fiscal Agente fiscal

Objeto: Formalizar o crédito

tributário

Formalizar a sanção tributária

Forma: Auto de lançamento Auto de infração

Motivo: Ter ocorrido o fato

imponível (ato lícito)

Ter ocorrido o descumprimento do

dever jurídico tributário (ato

ilícito)

Finalidade: Possibilitar o recolhi-

mento do tributo

Possibilitar o recolhimento da

multa fiscal

Assim, o auto de infração:

apura o valor do tributo (lançamento);

apura o valor da multa (auto de infração propriamente dito);

dá ciência ao contribuinte de que deve pagar o tributo, num dado prazo

(notificação do lançamento);

dá ciência ao contribuinte de que deve pagar a multa, num dado prazo

(notificação do auto de infração).

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Page 53: Direito Tributário.doc

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Os dispositivos legais que trazem os requisitos, os quais devem conter os autos de

infração, são:

para tributos federais – art. 10 do Dec. n. 70.235/72;

para os tributos estaduais – art. 534 ao 536 do Regulamento do ICMS – Dec. n.

45.490/00.

MÓDULO XIII

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. CAUSAS SUSPENSIVAS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO (arts. 151 a 155-A do

Código Tributário Nacional)

Quando ocorrer o fato imponível e forem praticados o ato de lançamento e a

notificação do sujeito passivo, o tributo já estará “em termos”, em condições de ser pago

pelo contribuinte e recebido pela Fazenda Publica, ou seja, o crédito tributário passará a ser

exigível.

Pode ocorrer, entretanto, um fato novo que venha a adiar o pagamento. Trata-se das

causas suspensivas da exigibilidade do crédito tributário (ato ou fato a que a lei atribui o

efeito de retardar a exigibilidade da cobrança do referido tributo).

Tais causas estão previstas no art. 151 do Código Tributário Nacional e são (obs.:

alteração pela Lei Complementar n. 104, de 10.1.2001):

moratória;

depósito do seu montante integral;

reclamações e recursos, nos termos das leis reguladoras do processo

tributário administrativo;

concessão de medida liminar em mandado de segurança;

concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies

de ação judicial;

parcelamento.

Ainda que presente a causa suspensiva da exigibilidade do crédito tributário, não

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desaparece para o contribuinte o dever de cumprir as obrigações acessórias (art. 151, par.

ún., do Código Tributário Nacional).

1.1. Moratória (Arts. 152 a 155 do Código Tributário Nacional)

É instituto que prevê a suspensão da exigibilidade do crédito tributário pela dilação

legal do prazo para o normal recolhimento do tributo.

Em regra, se a lei não fixa prazo para o recolhimento do tributo, será ele de 30 dias,

a contar da regular notificação do lançamento. Só a lei pode conceder moratória,

prorrogando aquele prazo (lei formal: princípio da legalidade e da indisponibilidade do

interesse público); lei essa da pessoa política competente para criar o tributo.

Cada ente político só pode conceder moratória de seus próprios tributos. Para uma

corrente doutrinária, o art. 152, inc. I, “b”, do Código Tributário Nacional é

inconstitucional (fere os princípios federativo, da autonomia municipal e da autonomia

distrital). Nesses termos, vide art. 151, inc. III, da Constituição Federal.

A moratória é medida de política fiscal. Normalmente, é concedida após episódio

que reduz ou diminui a capacidade contributiva do sujeito passivo (ex.: catástrofes naturais

etc.).

Consoante HUGO DE BRITO MACHADO, “a Lei Complementar n. 104, de

10.01.2001, inclui um novo inciso no art. 151 do CTN, prevendo hipótese de suspensão da

exigibilidade do crédito tributário, o parcelamento. É mais uma inovação inteiramente

inútil porque o parcelamento nada mais é do que uma modalidade de moratória”.

Para PAULO DE BARROS CARVALHO, “Moratória é a dilação do intervalo de

tempo estipulado para o implemento de uma prestação, por convenção das partes, que

podem fazê-lo tendo em vista uma execução unitária ou parcelada”.

1.2. Depósito Integral do Montante Tributário

Trata-se de um depósito cautelar feito quando o contribuinte pretende litigar contra

o fisco. Para acautelar-se dos efeitos de uma decisão contrária, o contribuinte pode colocar

à disposição da Fazenda Pública a quantia que ele entende indevida. Se o contribuinte tiver

sua ação julgada improcedente, a quantia será incorporada à Fazenda Pública. Se o

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Page 55: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

contribuinte tiver sua ação julgada procedente, ser-lhe-á restituído o depósito, corrigido

monetariamente. Esse depósito pode ser feito na esfera administrativa ou na esfera judicial.

O art. 38 da Lei n. 6.830/80 (Lei das Execuções Fiscais) estabelece que a ação

anulatória do débito fiscal deve ser precedida pelo depósito integral do montante a ser

discutido. Esse artigo, entretanto, é inconstitucional e fere o princípio da igualdade e o

princípio da universalidade da jurisdição. Atinge o princípio da igualdade porque

discrimina o contribuinte que não tem possibilidade financeira de depositar o valor,

impedindo-o de ter acesso à prestação jurisdicional (assim, o contribuinte com condições

de depositar teria acesso ao judiciário e o contribuinte carente dessas condições teria seu

acesso ao judiciário tolhido).

O Poder Judiciário declarou letra morta essa parte do art. 38. Existe, inclusive, uma

súmula do antigo Tribunal Federal de Recursos (TFR) que dispõe ser facultativo o depósito

integral do montante tributário a ser discutido (Súmula n. 247 do Tribunal Federal de

Recursos: “Não constitui pressuposto da ação anulatória do débito fiscal o depósito de que

cuida o art. 38 da Lei n. 6.830, de 1980”).

Com relação, porém, à suspensão da exigibilidade do crédito, o Superior Tribunal de

Justiça sumulou sobre o assunto: “O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito

tributário se for integral e em dinheiro” (Súmula n. 112).

Surgiu, entretanto, o depósito recursal (depósito para recorrer em instância

superior). Na esfera federal, para recorrer ao Conselho de Contribuintes, deve ser

depositado entre 30% e 60% do valor da autuação. Vem se consolidando, na

jurisprudência, o entendimento de que esse depósito não é inconstitucional.

Essa necessidade do depósito prévio veio ressuscitar a regra solve et repete (pague

para repetir). Tal regra não mais vigora em face da inconstitucionalidade acima descrita.

Conveniência do depósito: se o contribuinte perder a demanda, incidirão sobre o

devido crédito juros e correção monetária, os quais serão cobertos pelos rendimentos do

depósito financeiro.

1.3. Interposição de Recurso Administrativo com Efeito Suspensivo

Se o contribuinte, antes de ir a juízo, ingressar com recurso administrativo visando

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

obter seus direitos, e esse recurso for recebido com efeito suspensivo, ele não será alvo de

uma execução fiscal. A interposição do recurso administrativo não é obrigatória, ou seja, o

ingresso prévio nas vias administrativas é facultativo, podendo o contribuinte recorrer

diretamente ao judiciário.

Qualquer decisão administrativa pode ser revista pelo Poder Judiciário, bastando

que a parte sucumbente ingresse com a devida ação (não há trânsito em julgado de decisões

administrativas no Brasil). Enquanto o recurso administrativo estiver tramitando, fica

suspensa a exigibilidade do crédito tributário.

1.4. Concessão de Liminar em Mandado de Segurança

Liminar é uma medida cautelar, portanto se deve observar a presença dos requisitos

fumus boni iure e periculum in mora. Enquanto a liminar estiver produzindo efeitos, fica

suspensa a exigibilidade do crédito tributário.

1.5. Concessão de Medida Liminar ou de Tutela Antecipada, em Outras Espécies de Ação

Judicial

A inclusão do inc. V no art. 151 do Código Tributário Nacional pela Lei

Complementar n. 140, de 10.1.2001, trazendo como hipótese de suspensão da exigibilidade

do crédito tributário a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada em qualquer

espécie de ação judicial, veio em boa hora e teve o condão de acabar com as longas

discussões que existiam acerca do inc. IV do mesmo artigo. Dado que, para alguns

doutrinadores, somente a liminar concedida em mandado de segurança é que suspendia a

exigibilidade do crédito tributário.

O novo inciso evidencia o que já vinha sendo reclamado pelos juristas e estava

sendo reconhecido pela jurisprudência: as medidas liminares e a antecipação de tutela,

concedidas em qualquer tipo de ação judicial, possuem o condão de suspender a

exigibilidade do crédito tributário.

1.6. Parcelamento

Para confirmar o entendimento dos doutrinadores citados nesse módulo, sobre o

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

parcelamento ser uma modalidade de moratória, devemos verificar que o legislador não

criou outra seção dentro do Capítulo III, mas, sim, incluiu o parcelamento na Seção II, a

qual se refere à moratória.

No art. 155-A, incluído pela Lei Complementar n. 104, de 10.01.2001, houve mera

especificação da referida modalidade de moratória, em que se estipulou que o

parcelamento será concedido na forma e condição estabelecidas em lei específica. Salvo

disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário não exclui a incidência

de juros e multas.

O próprio § 2.º, do art. 155-A, do Código Tributário Nacional menciona que se

aplicam subsidiariamente ao parcelamento as disposições relativas à moratória.

MÓDULO XIV

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. CAUSAS EXTINTIVAS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

O que se extingue é a própria obrigação tributária e não somente o crédito tributário,

que é um dos seus elementos (a obrigação tributária possui três elementos: sujeito ativo,

sujeito passivo e crédito tributário)– art. 113, § 1.º, parte final, do CTN. Essa regra, porém,

não é absoluta: pode ocorrer a extinção de um crédito sem a extinção da obrigação, desde

que a causa extintiva tenha afetado apenas a formalização do crédito.

As principais causas extintivas encontram-se enumeradas no art. 156 do CTN:

pagamento;

compensação;

transação;

remissão;

prescrição e decadência;

a conversão de depósito em renda;

o pagamento antecipado e a homologação do lançamento, nos termos do

disposto no art. 150 e seus §§ 1.º e 4.º;

a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2.º do art. 164;

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

a decisão administrativa irreformável, assim entendida a defendida na órbita

administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória;

a decisão judicial passada em julgado;

a dação em pagamento de bens imóveis, na forma e condições estabelecidas na

lei.

O rol é exemplificativo, havendo mais três causas de extinção enumeradas pela

doutrina:

confusão;

desaparecimento, sem sucessor, do sujeito ativo do tributo;

desaparecimento, sem sucessor, do sujeito passivo do tributo.

As causas extintivas têm o poder de libertar o contribuinte da relação de sujeição

que possui com a Fazenda Pública.

A obrigação tributária não permanece no tempo, não é eterna.

1.1. Pagamento

É o cumprimento do objeto da prestação tributária. É um fenômeno jurídico e não só

tributário. Pode ser considerado quanto:

Ao tempo: apontado genericamente na lei e especificamente no ato

administrativo de lançamento. Se o pagamento do tributo for feito em

prestações, o inadimplemento de qualquer uma delas acarretará o vencimento

antecipado das demais.

Ao lugar: é o domicílio ou sede do contribuinte.

Ao modo: os tributos são pagos em moeda ou equivalente (cheque, títulos da

dívida pública resgatáveis, selo ou papel selado ou estampilha). Quando pago

em cheque, dá-se ao contribuinte uma quitação provisória, que se tornará

definitiva após a devida compensação.

1.2.1. Indébito tributário

Qualquer pagamento a maior tipifica um indébito tributário. O indébito

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tributário deve ser restituído ao contribuinte. Isso ocorre por meio de ação de repetição

de indébito, que pode ser proposta até 5 (cinco) anos a contar do recolhimento a mais

(art. 168 do CTN).

O art. 169 do CTN trata da ação anulatória da decisão administrativa que denegou o

pedido de repetição, cujo prazo de prescrição é de 2 anos.

O art. 166 do CTN dispõe sobre a repetição nas hipóteses de tributos indiretos: “A

restituição de tributos que comportem, por sua natureza, transferência do respectivo

encargo financeiro somente será feita a quem prove haver assumido referido encargo, ou,

no caso de tê-lo transferido a terceiro, estar por esse expressamente autorizado a recebê-

la.” Referido artigo é declarado inconstitucional pela doutrina.

A Súmula n. 546 do STF esclarece que a repetição dos chamados tributos indiretos

só será possível quando não houver o repasse da carga econômica do tributo para o

consumidor final (contribuinte de fato) ou quando, tendo havido esse repasse, o

contribuinte de direito estiver autorizado pelo contribuinte de fato a ingressar com o pedido

de restituição.

Exemplo de tributo indireto: ICMS – contribuinte de fato é o consumidor final.

1.2. Remissão

Remissão significa perdão. Remição significa pagamento.

Remissão é o perdão legal do débito tributário, que pode ser total ou parcial.

Somente a lei pode perdoar o débito tributário (lei remissiva), não podendo, a remissão, ser

concedida por decretos, portarias ou qualquer outro ato que não seja lei propriamente dita

(princípio da legalidade e princípio da indisponibilidade do interesse público). Somente lei

específica da pessoa política tributante pode conceder a remissão. (art. 150, § 6.º, da

CF/88).

A remissão tanto como a moratória são medidas de política fiscal (moratória é o

adiamento da obrigação tributária).

1.3. Compensação

É o encontro de contas do Fisco e do contribuinte, sempre que forem credor e

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devedor um do outro. Existem duas grandes modalidades de compensação em matéria

civil: a legal e a consensual. Em matéria tributária, entretanto, somente é admitida a

compensação legal.

Para que a compensação ocorra, é necessária a presença de três requisitos:

As partes devem ser as mesmas (mesma Fazenda Pública, federal, estadual ou

municipal, e mesmo contribuinte). O contribuinte não pode utilizar um crédito

federal, por exemplo, para compensar um crédito estadual.

Os créditos já devem estar liquidados, ou seja, é necessário que se saiba

exatamente quanto há de ser pago.

A existência de uma lei autorizando a medida: cada pessoa política deve legislar

a respeito. A União obedece à Lei n. 8.383/91; o seu art. 66 permite a

compensação de tributos federais, indevidos ou recolhidos a maior, com outros

da mesma espécie. A Fazenda Pública entende que tributo da mesma espécie

significa o mesmo tributo (p. ex.: IR somente poderá ser compensado por IR). A

doutrina, entretanto, entende que tributo pode ser compensado por tributo, taxa

por taxa e contribuição de melhoria por contribuição de melhoria. A

jurisprudência tem decidido em favor da doutrina.

1.4. Transação

Transação é um acordo celebrado, com base em lei, entre o Fisco e o contribuinte,

pelo qual a primitiva obrigação tributária desaparece, dando lugar a uma ou mais novas

obrigações tributárias. É causa extintiva da obrigação tributária, muito rara.

Há quem admita que o parcelamento do débito tributário seria uma modalidade de

transação; entretanto, outros doutrinadores entendem que o parcelamento é uma

modalidade de moratória.

Em resumo, a transação é um acordo celebrado com base em lei entre o Fisco e o

contribuinte, pelo qual a primitiva obrigação tributária desaparece, fazendo nascer uma

nova (ou várias) obrigação tributária.

1.5. Confusão (doutrina)

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Ocorre quando o Fisco se torna, ao mesmo tempo, credor e devedor do tributo. Por

exemplo, no caso da herança vacante, os débitos que o espólio possuía para com o

Município desaparecem no caso de incorporação de empresas pelo Poder Público.

Ocorrendo a confusão, o débito se extingue, não podendo renascer, se o Poder

Público alienar a propriedade a terceiros, objetivando cobrar crédito anterior.

1.6. Desaparecimento sem Sucessor do Sujeito Passivo do Tributo e do Sujeito Ativo

(doutrina)

Não pode subsistir a relação jurídica tributária se uma das partes deixa de existir,

sem deixar sucessores. Exemplo: desaparecimento de Município em razão de inundação da

área onde se localizava (isso ocorreu no Nordeste, na década de 60).

O desmembramento de Goiás e Tocantins não fez desaparecer os débitos tributários,

pois houve sucessão.

Exemplo de desaparecimento do sujeito passivo sem deixar sucessores: contribuinte

que morre sem deixar bens, apenas dívidas tributárias.

MÓDULO XV

DIREITO TRIBUTÁRIO

Extinção do Crédito Tributário

1. DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO

1.1. Noções Gerais

Os arts. 173 e 150, § 4.º, ambos do Código Tributário Nacionaal, dispõem sobre a

decadência do direito de efetuar o lançamento.

O art. 174 do Código Tributário Nacional dispõe sobre a prescrição da ação de

cobrança do crédito tributário devidamente constituído pelo lançamento.

Antes do lançamento, pode ocorrer a decadência; após o lançamento, pode ocorrer a

prescrição.

Ambos os institutos importam na extinção do crédito tributário (art. 156, inc. V, do

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

CTN).

Do disposto acima decorre, como conseqüência prática, que o contribuinte que paga

o débito prescrito não tem direito à repetição, pois o direito à percepção do tributo persiste;

ao contrário, se o contribuinte pagar tributo lançado após o prazo decadencial, ele faz jus à

repetição, pois o direito já não mais existia.

1.2. Decadência

A regra do art. 173 é aplicada para tributos que são lançados de ofício ou por

declaração. A regra do § 4.º do art. 150 é aplicada para tributos que são lançados por

homologação.

O art. 173 do Código Tributário Nacional estabelece que o direito do fisco, de

constituir o crédito tributário, se extingue após cinco anos, contados:

do primeiro dia do ano seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido

efetuado;

da data em que for anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente

realizado;

da data em que for tomada qualquer providência administrativa conducente ao

lançamento.

O parágrafo único do art. 173 estabelece que “o direito a que se refere este artigo

extingue-se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que

tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo,

de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento”.

O Fisco tem cinco anos para constituir o crédito tributário.

A lei é quem aponta a data em que o lançamento será efetuado. Exemplo: o IR é

lançado no ano seguinte ao do fato imponível. O IR ano base 1996 deveria ser lançado em

1997. Se não foi lançado naquele ano, a Fazenda tem até o dia 31.12.2002 para efetuar o

lançamento (cinco anos contados de 1.1.1998).

Anulado o primitivo lançamento por vício formal, pela Administração ou pelo

Judiciário, dessa data conta-se o prazo de 5 (cinco) anos.

Exemplo de providência administrativa conducente ao lançamento é a notificação ao

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

contribuinte para que preste as declarações necessárias ao lançamento.

Observação: a contagem do prazo – da data em que for tomada qualquer providência

administrativa conducente ao lançamento – só vale se a providência for tomada no mesmo

ano em que ocorrer o fato imponível. Se for tomada no ano seguinte, incide a regra da

contagem do primeiro dia do ano seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido

efetuado, ou seja, o dies a quo será 01.01 do ano seguinte (regra benéfica ao contribuinte).

Art. 150, § 4., do Código Tributário Nacional: lançamento por homologação. O

direito da Fazenda Pública de homologar ou corrigir o autolançamento decai em 5 (cinco)

anos, contados da data da ocorrência do fato imponível.

Decorridos os 5 (cinco) anos, opera-se a homologação tácita, cujo efeito é extinguir

o crédito tributário. Porém, se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação (a

prova compete à Fazenda Pública – norma tributário-penal), o prazo decadencial se

prolonga para 20 (vinte) anos (doutrina: prazo máximo admitido em Direito).

1.3. Prescrição

1.3.1. Conceito

Prescrição é a perda da ação inerente ao direito e de toda a sua capacidade

defensiva, por seu não exercício durante certo lapso. A fluência do lapso prescricional,

diferentemente do que ocorre com a decadência, pode ser suspensa ou interrompida.

1.3.2. Requisitos para ocorrência da prescrição

Existência de uma ação exercitável.

Inércia do titular dessa ação.

Prolongamento dessa inércia durante certo lapso.

Ausência de qualquer ato ou fato a que a lei atribua o efeito de impedir,

suspender ou interromper a fluência prescricional.

Segundo o art. 174 do Código Tributário Nacional, a prescrição da ação de cobrança

do crédito tributário opera-se em 5 (cinco) anos, contados da data de sua constituição

definitiva.

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A doutrina tem entendido que o dies a quo, para o cômputo do prazo prescricional, é

o do inadimplemento do contribuinte, pois é a partir dessa data que a Fazenda Pública

passa a ter ação exercitável, ou seja, passa a poder executar o devedor .

1.3.3. Causas suspensivas da fluência do lapso prescricional (art. 151 do CTN e arts. 2. º,

§ 3.º , e 40 da Lei 6.830/80)

São causas suspensivas do crédito tributário aquelas hipóteses que suspendem a

exigibilidade do crédito tributário já definitivamente constituído (moratória, recurso

administrativo, liminar ou antecipação de tutela, depósito integral do montante tributário,

parcelamento).

Para a execução da dívida tributária, deve o Fisco:

a) inscrever, no livro próprio, a dívida do contribuinte inadimplente (Lei n.

6.830/80, art. 2.º, § 3.º);

b) extrair certidão de dívida ativa (título executivo extrajudicial);

c) ajuizar a execução fiscal, como ação judicial propriamente dita.

A partir da inscrição da dívida no livro próprio, suspende-se o prazo prescricional

por 180 dias (Lei n. 6.830/80, art. 2.º, § 3.º), concedendo-se o prazo restante para a

realização das operações “b” e “c”.

O art. 40 da Lei n. 6.830/80 estabelece que, quando a execução é iniciada, mas o

contribuinte não é encontrado para citação, ou é citado, mas não tem bens para a execução,

a prescrição fica suspensa até que se faça a citação ou encontrem-se bens para serem

penhorados.

Na verdade, esse dispositivo é inconstitucional, pois pode implicar na

imprescritibilidade da dívida tributária. Na Constituição Federal, imprescritíveis são apenas

os direitos da personalidade. Porém, esse dispositivo ainda não foi declarado

inconstitucional pela via concentrada, apenas pela via difusa (incidenter tantun).

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

1.3.4. Causas interruptivas do lapso prescricional (art. 174, par. ún., do Código

Tributário Nacional)

Despacho do juiz que ordena a citação (Lei n. 6.830/80, art. 8.º, § 2.º) – não

mais se interrompe pela citação pessoal do devedor.

Interrompe-se pelo protesto judicial: medida cautelar disciplinada no CPC, arts.

867 a 873.

Qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor. Exemplo: a notificação

judicial, a intimação judicial e a interpelação judicial.

Qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe em

reconhecimento do débito pelo devedor. Exemplo: carta que o contribuinte

escreve à autoridade administrativa pedindo prazo maior para pagamento do

tributoou parcelamento.

1.4. Decadência e Prescrição das Contribuições Sociais para a Seguridade Social

A Lei n. 8.212/91, art. 45, estabelece que a decadência do direito de lançar tais

contribuições opera-se em 10 anos, contados das mesmas hipóteses previstas no art. 183 do

Código Tributário Nacional.

A prescrição da ação de cobrança dá-se, também, em 10 anos, conforme o art. 146

da referida lei.

Alguns autores, fundados no art. 146, inc. III, “b”, da Constituição Federal,

sustentam a inconstitucionalidade desses dispositivos, pois, prescrição e decadência devem

ser reguladas em lei complementar. Porém, essa posição é minoritária, pois, a lei

complementar dispõe apenas sobre normas gerais.

MÓDULO XVI

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. IMUNIDADES E ISENÇÕES TRIBUTÁRIAS

1.1. Distinção entre Incidência, Não-Incidência, Imunidade e Isenção

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Incidência: quando ocorre o fato imponível do tributo (fato gerador em concreto).

Não-incidência: quando não ocorre nenhum fato ou quando ocorre um fato

tributariamente irrelevante (fato não imponível). Por vezes, porém, fatos tributariamente

irrelevantes podem tornar-se tributariamente relevantes, bastando que o ente político o

defina como fato imponível. Ex.: ter grande fortuna – a União pode vir a criar o imposto

sobre grandes fortunas, dado que a CF/88 prevê sua competência legislativa para tanto.

Imunidade: hipótese de não-incidência tributária constitucionalmente qualificada.

Isenção: hipótese de não-incidência tributária legalmente qualificada.

Os regimes jurídicos da imunidade e da isenção são diversos, embora o efeito seja o

mesmo, o não-pagamento de tributo.

Sustenta-se que as hipóteses de imunidade constituem cláusulas pétreas (garantias

individuais).

1.2. Imunidades

São hipóteses de não-incidência tributária constitucionalmente qualificada.

Desobedecer a uma situação de imunidade equivale a desobedecer a Constituição.

Imunidade vem de imunitas, que significa guarda, proteção.

Os casos de imunidade só existem em relação a impostos – art. 150, inc. VI, da

Constituição Federal – (tributos não-vinculados). Não há imunidade a taxas ou

contribuições.

Aparente exceção (art. 5.º, inc. XXXIV, da CF/88): aparente porque o termo taxa

foi empregado em sentido leigo. É a todos assegurada, independentemente do pagamento

de taxas, a obtenção de certidões. Taxa, neste caso, está com o sentido de emolumentos.

1.2.1. Principais hipóteses de imunidade

a) Imunidades genéricas

Imunidade recíproca entre as pessoas políticas (decorrência do princípio da

igualdade) (art. 150, inc. VI, “a”): não há supremacia entre pessoas políticas, pois

o princípio da imunidade recíproca deriva dos princípios federativos, da

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autonomia municipal, de autonomia distrital.

Exceção: as pessoas políticas não são imunes a impostos quando praticam atos

empresariais. Ex.: cantina dentro de uma repartição pública.Imunidade dos

templos de qualquer culto, art. 150, inc. VI, “b”, da Constituição Federal, desde

que não sejam ofensivos à moral, aos bons costumes ou à segurança nacional:

cabe ao ente político provar que o culto é imoral ou atentatório aos bons costumes

ou segurança nacional. Há uma tendência em favorecer os cultos e, nesse sentido,

tem-se alcançado a loja maçônica e os templos positivistas. Também são

considerados imunes os anexos do templo, ou seja, todas as coisas que viabilizam

o culto (ex. casa paroquial, abadia, seminário, convento etc.). Art. 150, § 4.º, da

Constituição Federal de 1988: a imunidade que alude a alínea “b” se limita às

atividades essenciais.

Partidos políticos e suas fundações, os sindicatos de empregados e as instituições

assistenciais, obedecidos os requisitos apontados na Lei (art. 150, inc. VI, “c”, da

CF): essa lei é uma lei complementar (art. 146, inc. II, CF/88). O art. 14 do

Código Tributário Nacional faz as vezes do art. 146, inc. II, da Constituição

Federal de 1988.

Requisitos (art. 14 do CTN):

I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a

qualquer título (Redação dada pela LC n. 104, de 10.1.2001);

II – aplicarem integralmente, no país, os seus recursos na manutenção dos seus

objetivos institucionais;

III – manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de

formalidades capazes de assegurar sua exatidão.

Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado. A imunidade só pode

ser concedida quando o partido político está regularmente constituído (registro no TSE).

A central sindical é imune à tributação por meio de impostos; é a somatória dos

sindicatos de empregados de uma determinada área.

O livro, o jornal e o periódico, bem como o papel destinado à sua impressão (art.

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

150, inc. VI, “d”): a Constituição quis expressar a livre manifestação de

pensamento, da cultura etc. São imunes à tributação por meio de impostos, tenha

o conteúdo que tiver.

O papel que não se destina à impressão não está imune à tributação.

Os livros raros são imunes. O livro eletrônico (CD-ROM) é abrangido pela

imunidade.

Livros que não estão imunes: livro de ata, livro de bordo, livro de ouro, livro-diário

etc., porque não se destinam à difusão de pensamentos.

Essa imunidade é objetiva e não subjetiva, ou seja, refere-se apenas ao objeto

(livro, periódico ou papel de impressão).

Art. 150, § 2.º, da Constituição Federal de 1988: são imunes a tributos por meio

de impostos as autarquias e as fundações públicas, pois descendem diretamente

das pessoas políticas.

Art. 150, § 3.º, da Constituição Federal de 1988: não há imunidade quanto às

atividades econômicas regidas pelo Direito Privado:

- serviços públicos em que haja pagamento de taxa ou tarifa pelo usuário;

- desonera o promitente comprador de imóvel de autarquia do dever de pagar

ITBI.

b) Imunidades tributárias específicas

As imunidades tributárias específicas dizem respeito a um único imposto.

Art. 153, § 2.º, inc. II, da Constituição Federal de 1988: IR (revogado pela EC n.

20/98).

Há entendimento doutrinário de que este artigo é cláusula pétrea e não poderia ter

sido revogado pela Emenda Constitucional. Há quem diga, contudo, que este artigo ainda

está em vigor.

São imunes de IR os proventos de aposentadoria recebidos por maiores de 65 anos

que não tenham outra fonte de rendimentos.

É dado à lei estabelecer limites para a fruição desse benefício (lei complementar).

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Autoriza uma lei complementar a regulamentar o assunto. Essa é uma norma constitucional

de eficácia contida.

Irradiam efeitos totais. Apenas uma lei complementar poderá restringir-lhe o

conteúdo. Enquanto não vier a lei, aqueles com idade superior a 65 anos não pagarão IR.

O governo fez inserir na Lei Ordinária n. 8.383/91 o art. 10, concedendo a

isenção aos aposentados que ganham até 5 (cinco) salários mínimos.

Inexistência de outras fontes de rendimento: outras fontes de trabalho.

Art. 153, § 3.º, inc. III, da Constituição Federal 1988: IPI:

São imunes ao IPI as exportações de produtos industrializados.

Todos aqueles que, de alguma maneira, contribuírem para a exportação (peças dos

produtos) são também favorecidos por essa imunidade tributária específica. Para o Poder

Público, contudo, apenas o exportador imediato é imune ao pagamento do IPI.

Art. 153, § 4.º, da Constituição Federal de 1988: ITR:

Estão imunes ao ITR os proprietários de pequenas glebas rurais, desde que não

tenham outro imóvel e dele extraíam a sua subsistência.

A Constituição Federal de 1988 remeteu à lei complementar a tarefa de dizer o que é

pequena gleba rural.

Art. 155, § 2.º, inc. X, da Constituição Federal de 1988: ICMS – são várias

imunidades:

- as exportações de mercadorias que forem produtos industrializados, exceto os

semi-elaborados, definidos em lei complementar. A imunidade alcança todos

os atos preliminares para a fabricação do produto;

- art. 155, § 2.º, inc. XII, “e”, da Constituição Federal de 1988: lei

complementar poderá isentar de ICMS exportações de mercadorias que não

forem produtos industrializados;

- LC n. 87/96 (Lei Kandir), art. 37, inc. I: isenta de ICMS quaisquer outras

exportações (produtos semi-elaborados ou primários). Essa lei fere a autonomia dos

Estados, pois prejudica a tributação dos mesmos;

- as operações interestaduais com energia elétrica e petróleo (combustíveis

líquidos e gasosos resultantes de petróleo). A Lei Kandir (art. 3.º, II) restringiu

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a imunidade a operações interestaduais para fins de comercialização ou

industrialização;

- operações com ouro, quando utilizado como ativo financeiro ou instrumento

cambial;

- art. 156, inc. II, in fine, da Constituição Federal de 1988: ITBI (SISA): não

incide sobre direitos reais de garantias incidentes sobre imóveis (hipoteca e

anticrese). Hipoteca é o direito real de garantia incidente sobre o imóvel do

devedor ou de terceiro, sem transmissão de sua posse ao credor (art. 809 do

CC). Anticrese é o direito real de garantia incidente sobre o imóvel do devedor

ou de terceiro, com transmissão de sua posse ao credor para que este perceba e

receba seus frutos, imputando-os ao débito (art. 805 do CC);

- art. 156, § 2.º, inc. I, da Constituição Federal de 1988: ITBI – não incide

sobre transmissão de imóveis de empresas para a realização de capital e sobre

transmissão de imóveis decorrentes de incorporação, cisão, fusão ou extinção

de empresas. Este dispositivo existe para facilitar a criação, transformação ou

extinção de empresas;

- art. 184, § 5.º, da Constituição Federal de 1988: são “isentas” de impostos

federais, estaduais e municipais as transferências de imóveis desapropriados

para fins de reforma agrária. Trata-se de imunidade, não de isenção, pois,

quando a não-incidência de impostos é constitucionalmente qualificada, tem-se

a imunidade;

- art. 195, § 7.º, da Constituição Federal de 1988: são “isentas” de

contribuições sociais para a seguridade social as entidades beneficentes que

observarem os requisitos apontados na lei.

Essas contribuições, quando pagas pelo empregador, têm natureza de imposto;

quando pagas pelo empregado, têm natureza de taxa por prestação de serviço.

Onde está escrito isentas, deve-se ler imunes.

Essa lei só pode ser complementar, pois, nos termos do art. 146, inc. II, só a lei

complementar pode regular restrições ao poder de tributar. Faz as vezes dessa lei o

art. 14 do Código Tributário Nacional, que prevê três requisitos para que haja aquela

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imunidade.

A imunidade é só ao imposto, não às obrigações acessórias que devem ser

cumpridas (ex.: declaração de renda, no caso de instituição educacional sem fins

lucrativos). Assim dispõe o art. 9.º do Código Tributário Nacional.

MÓDULO XVII

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. ISENÇÕES TRIBUTÁRIAS

Segundo o entendimento de Rubens Gomes de Souza, isenção é a dispensa legal do

pagamento do tributo, entendimento este compartilhado pela doutrina clássica. Para outros

autores, na isenção não há incidência, razão pela qual estes definem isenção tributária

como hipótese de não-incidência legalmente qualificada.

O primeiro conceito sustenta que a obrigação tributária nasce, mas não é

exigível. O segundo conceito, que é o atual, ou seja, na isenção não há incidência,

sustenta que a obrigação nem mesmo chega a nascer. O que para a doutrina clássica

era isenção é, na verdade, remissão (causa extintiva da obrigação tributária).

As isenções submetem-se ao princípio da legalidade; assim, só podem ser

concedidas por lei, lei lato sensu (lei ordinária, lei complementar, decreto legislativo

federal e decreto legislativo estadual ou distrital).

As isenções tributárias são normalmente concedidas por lei ordinária proveniente da

pessoa política competente para criar o tributo. De acordo com Fernando Sains de Bujanda:

“O poder de tributar e o poder de isentar são como as duas faces da moeda”.

Decretos, em tese, não podem conceder isenções tributárias, embora sejam usados

na prática. Contra tais decretos é cabível ação popular. O Chefe do Executivo que baixar

decretos isentivos comete crime de responsabilidade (art. 85, inc. VII, da CF).

As isenções, quando concedidas por lei ordinária, podem alcançar as taxas, os

impostos e/ou contribuições de melhoria.

Medida provisória não pode conceder isenções, dado seu caráter precário e a não

previsão legal, assim como não pode instituir tributos, embora, na prática, o Supremo

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Tribunal Federal aceite a criação de tributos por medida provisória, desde que observados

os demais princípios constitucionais (anterioridade, igualdade etc.).

Lei complementar pode criar isenções para os tributos que foram instituídos por lei

complementar, tais como empréstimos compulsórios, impostos residuais e contribuições do

art. 195, § 4.º, da Constituição Federal.

1.1. Classificação das Isenções

As isenções classificam-se em:

Isenções autonômicas: são as concedidas pela própria pessoa política tributante,

titular da competência de instituir e cobrar o referido tributo; tais isenções são a

regra.

Isenções heterônomas: são as concedidas por pessoa política distinta daquela

que tributou. Na Constituição Federal, existem apenas duas hipóteses de

isenções heterônomas:

- art. 155, § 2.º, inc. XII, “e”, da CF: a União, por meio de lei complementar,

pode conceder isenções de ICMS sobre exportações de mercadorias em

geral. O art. 32, inc. I, da Lei Complementar n. 87/96, cuja

inconstitucionalidade está sendo questionada, isenta de ICMS todos os

produtos ou mercadorias destinadas a exportação (usurpação da

competência tributária dos estados, reduzindo suas fontes arrecadatórias);

- art. 156, § 3.º, inc. II, da CF: autoriza a União, por meio de lei complementar,

a conceder isenções de ISS sobre exportações de serviços.

1.2. Isenções Tributárias por Tratado Internacional

O Brasil pode celebrar tratados sobre assunto tributário. Esses tratados podem

estipular isenções tributárias (para evitar a chamada bi-tributação internacional).

Para o tratado internacional se transformar em Direito Interno e valer em foro

doméstico, é preciso que seja ratificado pelo Congresso Nacional por meio de decreto

legislativo. A rigor, a isenção não é concedida pelo tratado internacional, mas sim pelo

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

decreto legislativo que o ratifica.

P.: Pode o tratado internacional conceder isenção de tributo não federal ?

R.: Prevalece o entendimento de que é possível, pois, na verdade, não é a União que

está concedendo a isenção, mas sim o Estado brasileiro considerado como um todo. Há

entendimento, minoritário, em sentido contrário, como o do Professor Roque Carrazza,

com base no art. 151, inc. III, da Constituição Federal (vedação das isenções heterônomas)

– o que a União não pode fazer no plano interno, não pode fazê-lo no âmbito internacional.

1.3. Isenções Tributárias e o ICMS

As isenções tributárias podem ser concedidas por decreto legislativo estadual ou

distrital, no caso do Imposto de Circulação sobre Mercadorias e Serviços (ICMS). As

isenções de ICMS só podem ser concedidas por meio de convênios interestaduais, firmados

e ratificados por todos os estados e pelo Distrito Federal.

Esses convênios deveriam ser celebrados pelo Poder Executivo representado pelo

Governador, ou um representante seu, e ratificados pelo Poder Legislativo estadual (ou

distrital). Em rigor, a isenção de ICMS não é concedida pelo convênio estadual, mas sim

pelo decreto legislativo que o ratifica.

A Lei Complementar n. 24/75, art. 4.º, estabelece que os convênios devem ser

celebrados pelo Poder Executivo, representado pelo Secretário da Fazenda, e devem ser

ratificados pelo Poder Executivo, representado pelo Governador, por meio de decreto. Esse

decreto não é lei (é ato normativo infralegal); portanto, fere o princípio constitucional.

1.4. Formas de Concessão das Isenções Tributárias

São as seguintes as formas de concessão das isenções tributárias:

Com prazo certo (também chamadas transitórias): têm prazo preestabelecido de

vigência;

Com prazo indeterminado: não têm prazo preestabelecido de vigência.

Ambas podem ser:

- de modo condicionado (também chamadas isenções com encargo): para

serem usufruídas dependem do preenchimento de um requisito essencial por

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

parte do contribuinte. São também chamadas bilaterais ou onerosas;

- de modo incondicionado (também chamada isenções sem encargo): não

dependem do preenchimento de qualquer requisito especial do contribuinte

para concessão do benefício. São também chamadas unilaterais ou gratuitas.

A lei que cria isenções transitórias condicionadas gera direito subjetivo ao

contribuinte. Portanto, mesmo revogada, o contribuinte continua titular do direito conferido

pela lei (direito adquirido – art. 5.º, inc. XXXVI, da CF).

As leis que revogam isenções devem obedecer ao princípio da anterioridade.

Súmula n. 615 do Supremo Tribunal Federal: “O princípio constitucional da

anualidade (§ 29 do art. 153 da CF) não se aplica à revogação de isenção do ICM”. Essa

súmula não tem aplicação.

A lei que revoga uma isenção com prazo indeterminado deve obedecer ao princípio

da anterioridade, pois ela cria novo tributo.

As isenções são normalmente concedidas sem prazo e sem encargo. Porém, também

podem ser concedidas com prazo certo e de modo condicionado. Ex.: os médicos que

instalarem seus consultórios na periferia do Município ficam isentos do Imposto sobre

Serviços (ISS) por 10 anos.

As Constituições de 1967 e 1969 autorizavam a União, por meio de lei

complementar, a conceder isenções de impostos estaduais ou municipais, desde que

houvesse relevante interesse nacional nesse sentido. Essas leis complementares não foram

recepcionadas pela Constituição Federal de 1988, que só permite que a União conceda

isenções de impostos estaduais e municipais em duas espécies (ICMS e ISS de produtos ou

serviços destinados à exportação).

1.5. Isenção, Remissão e Anistia

A isenção não se confunde com a remissão nem com a anistia. Isenção é uma

hipótese de não incidência tributária legalmente qualificada. Remissão é o perdão legal do

débito tributário. Anistia é o perdão legal da multa decorrente do ilícito fiscal.

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Page 75: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

A lei isentiva impede que o tributo nasça. A lei remissiva faz desaparecer o tributo

já nascido. A lei anistiante faz desaparecer o ilícito tributário.

A lei isentiva é lógica e cronologicamente anterior ao nascimento do tributo. A lei

remissiva é lógica e cronologicamente posterior ao nascimento do tributo. A lei anistiante é

lógica e cronologicamente posterior ao cometimento da infração tributária.

A isenção é causa excludente do crédito tributário. A remissão é causa extintiva do

crédito tributário. A anistia é causa excludente da infração tributária.

O Código Tributário Nacional, no art. 175, impropriamente, considera a anistia

causa excludente do crédito tributário.

MÓDULO XVIII

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. EXECUÇÃO FISCAL (Lei n. 6.830/80)

É o meio jurídico que a Fazenda Pública tem a seu alcance para receber,

coativamente, débitos tributários vencidos e não pagos.

A relação que se estabelece entre fisco e contribuinte é de direito e não de poder.

Por isso a Fazenda Pública não pode fazer justiça pelas próprias mãos. Daí valer-se do

processo de execução.

Comete o crime de excesso de exação (art. 316, § 1.º, do CP), o agente fiscal que

emprega na cobrança tributária meio que a lei não autoriza.

A Fazenda Pública tem duas vias para a cobrança do tributo não pago:

Amigável (cobrança administrativa).

Judicial (ação de execução fiscal).

O processo de execução de natureza civil encontra-se unificado no CPC. Na

execução fiscal o título executivo é extrajudicial (certidão da dívida Ativa da Fazenda

Pública – CPC, art. 585, inc. VI). Essa certidão deve corresponder aos créditos inscritos na

forma da lei.

1.1 Função do Título da Execução Fiscal

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Page 76: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Materializar o crédito da Fazenda Pública.

Materializar o dever do contribuinte de pagar a quantia líquida e certa nele

inserida.

O título (certidão da dívida ativa) forma-se de acordo com os arts. 2. º, da Lei n.

6.830/80 e 201 do CTN.

Em razão do princípio da supremacia do interesse público, os atos da Administração

Pública gozam de auto-executoriedade.

A certidão da dívida ativa é um ato administrativo, mas não goza do atributo da

auto-executoriedade e possui como característica a executividade – porque a certidão da

dívida ativa é formada unilateralmente pela Fazenda Pública.

A certidão da dívida ativa goza da presunção relativa de liquidez e certeza (art. 3.º e

par. ún. da Lei n. 6.830/80).

1.2. Processo de Execução Fiscal

A petição inicial deve ser instruída com a certidão da dívida ativa da Fazenda

Pública, validamente extraída de acordo com o art. 2.º da Lei n. 6.830/80.

Ao despachar a inicial, o Juiz ordena a citação do devedor, a penhora ou arresto, o

registro da penhora (ou arresto) e a avaliação desses bens. Esse despacho de citação

interrompe o prazo de prescrição.

O executado é citado para pagar ou nomear bens à penhora em 5 (cinco) dias.

Transcorrido esse prazo in albis, o oficial de justiça arrestará bens, tantos quantos bastem,

para saldar o débito.

Da intimação da penhora, corre o prazo de 30 (trinta) dias para oposição dos

embargos (único meio de defesa válido de que se pode valer o executado). Neles, todas as

matérias de defesa são argüíveis.

Se os embargos não forem opostos ou, sendo opostos, forem rejeitados, os bens

penhorados serão avaliados, seguindo-se sua alienação em hasta pública, que observará

sempre o rito do leilão (ainda que os bens sejam imóveis). Alienados os bens, a Fazenda

Pública será paga em moeda corrente. Se o valor apurado não for suficiente para o

pagamento da dívida, haverá outra penhora sem nova oportunidade de oposição de

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Page 77: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

embargos à execução.

Para oposição dos embargos, é necessária a garantia do juízo. Se procedentes,

somente nessa hipótese, cabe reexame necessário. A apelação é possível, tanto para

procedência quanto improcedência, tendo a Fazenda prazo contado em dobro (art. 188 do

CPC).

Se o valor da execução não superar 50 ORTNs, não se impõe o reexame necessário,

tampouco se permite a apelação, o recurso possível é o de embargos infringentes, previsto

na Lei n. 6.830/80, art. 34 – diversamente do procedimento do CPC, é endereçado ao

próprio juiz sentenciante, no prazo de 10 dias.

Os embargos de declaração e o recurso extraordinário são sempre viáveis. Não se

admite recurso especial da decisão proferida nos embargos infringentes (da Lei de

Execução Fiscal), pois a decisão não é prolatada por tribunal (art. 105, inc. III, “a” , da

CF).

MÓDULO XIX

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. GARANTIAS E PRIVILÉGIOS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

A matéria sobre as garantias e os privilégios do crédito tributário encontra-se

regulada pelos arts. 183 a 192 do Código Tributário Nacional.

1.1. Garantias do Crédito Tributário

O art. 183 do Código Tributário Nacional estatui que a lei de cada tributo poderá

atribuir aos créditos tributários outras garantias, além das enumeradas no próprio Código

Tributário Nacional.

Respondem pelo pagamento do crédito tributário todos os bens do sujeito passivo,

incluindo-se aqueles sobre os quais pesem ônus reais e aqueles sujeitos à cláusula de

inalienabilidade e impenhorabilidade, irrelevante a data da constituição do ônus ou da

cláusula, ressalvados, menciona o Código Tributário Nacional “... os bens e rendas que a

lei declare absolutamente impenhoráveis” (art. 184).

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Page 78: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

A alienação ou oneração de bens ou rendas do sujeito passivo em débito com a

Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa em fase de

execução, presume-se fraudulenta. Essa presunção não se forma quando o sujeito passivo

reserva, antes da alienação ou oneração, bens ou rendas suficientes ao total do pagamento

da dívida em fase de execução (art. 185).

1.2. Preferências do Crédito Tributário

O Código Tributário Nacional, em seu art. 186, detalha a preferência do crédito

tributário por qualquer outro, seja qual for a natureza ou o tempo da constituição, salvo os

créditos decorrentes da legislação do trabalho.

1.2.1. Cobrança judicial do crédito tributário

O crédito tributário não se sujeita a concurso de credores, nem à habilitação em

falência, mas há concurso de preferências, quando mais de uma pessoa jurídica de direito

público se apresentar como credora:

União;

Estados, Distrito Federal e Territórios Federais, em conjunto e por rateio em

proporção ao montante dos créditos;

Municípios, também em conjunto e pro rata.

1.2.2. Falência, concordata, inventário e arrolamento

Nos casos de falência, os créditos tributários são considerados encargos da massa

falida, pagáveis preferencialmente a quaisquer outros. Essa preferência se manifesta não só

quanto aos créditos tributários vencidos, mas também aos vincendos, exigíveis no curso da

falência. Aplica-se a mesma regra aos processos de concordata, de inventário ou

arrolamento, bem como aos processos de liquidação judicial ou voluntária, de sociedades

comerciais. Posição diversa defende Aliomar Baleeiro, entendendo que os créditos

oriundos da legislação do trabalho têm preferência mesmo diante do disposto no art. 188

do Código Tributário Nacional – o Superior Tribunal de Justiça perfilha tal

posicionamento.

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Page 79: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Não será concedida concordata, nem declarada a extinção das obrigações do falido,

bem como não será proferida sentença de julgamento de partilha ou adjudicação, sem que o

interessado faça prova da quitação de todos os tributos devidos.

1.2.3. Concorrência pública

Nas concorrências públicas e na celebração de contratos, o proponente ou

contratante deverá fazer prova da quitação de todos os tributos devidos à Fazenda Pública

interessada, podendo a lei estabelecer exceções a tal regra.

MÓDULO XX

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS

As receitas tributárias, arrecadadas pelo ente responsável, nem sempre lhe

pertencem com exclusividade. A Constituição Federal prevê, nos arts. 157 a 162, a

distribuição dessas receitas. Em breve síntese, a distribuição é a seguinte:

art. 157 – receitas que pertencem aos Estados e ao Distrito Federal;

art. 158 – receitas que pertencem aos Municípios;

art. 159 , incs. I e II – distribuição do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre

Produtos Industrializados (IPI);

art. 160 – vedação à retenção ou restituição dos recursos;

parágrafo único – exceção;

art. 161 competência da lei complementar;

art. 162 – divulgação da arrecadação.

1.1. Participação Direta

a) Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal

O produto da arrecadação do IR, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a

qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e

mantiverem (art. 157, inc. I, da CF).

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

20% do produto de arrecadação do imposto que a União instituir, no exercício de

sua competência residual (art. 157, inc. II, da CF).

30% do IOF sobre operações com ouro, nos termos do art. 153, § 5.º, inc. I, da

Constituição Federal.

b) Pertencem aos Municípios

O produto da arrecadação do IR incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a

qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e

mantiverem (art. 158, inc. I, da CF).

50% do valor arrecadado do Imposto Territorial Rural (ITR), relativamente aos

imóveis nele situados (art. 158, inc. II, da CF).

50% do Imposto de Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), relativamente

aos veículos licenciados em seus territórios (art. 158, inc. III, da CF).

25% do ICMS arrecadado, creditado (valor agregado), da seguinte maneira: ¾,

no mínimo, proporcionalmente ao valor adicionado nas operações realizadas em

seus territórios, até ¼, na forma em que dispuser a lei (art. 158, inc. IV, e par.

ún., da CF).

70% do IOF sobre o ouro, nos termos do art. 153, § 5.o, inc. II, da Constituição

Federal.

1.2. Participação Indireta dos Estados, Distrito Federal e Municípios

Conforme dispõe o art. 159, inc. I, da Constituição Federal, o Fundo de

Participação dos Estados (FPE) recebe 21,5% sobre a arrecadação do IR e IPI, sendo que,

para esse cálculo, exclui-se a parcela da participação direta (art. 159, § 1.º, da CF).

O Fundo de Participação dos Municípios (FPM) recebe 22,5% sobre a arrecadação

do IR e IPI, excluindo-se a parcela da participação direta.

Os programas de financiamento do setor produtivo das regiões Norte, Nordeste e

Centro-Oeste recebem 3% do IR e do IPI, excluindo-se a parcela da participação direta. A

Lei n. 7.827/89 instituiu o Fundo de Financiamento do Norte (FNO), o FNE e o FCO.

O art. 159, inc. II, da Constituição Federal estabelece que a União entregará 10% do

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

produto da arrecadação do IPI aos Estados e ao Distrito Federal, proporcionalmente ao

valor das respectivas exportações de produtos industrializados, sendo que nenhuma

atividade poderá receber mais do que 20% do valor total (§ 2.º).

Desse valor, os Estados devem entregar aos municípios 25% do que receberem,

observando-se os critérios estabelecidos no art. 158, par. ún., incs. I e II.

1.3. Vedação da Retenção dos Recursos

O art. 160 da Constituição Federal prevê a proibição da retenção, ou qualquer

restrição à entrega ou ao emprego dos recursos atribuídos aos Estados, Distrito Federal e

aos Municípios, nesses recursos compreendidos adicionais e acréscimos relativos a

impostos.

O parágrafo único ressalva a possibilidade de a União e os Estados condicionarem a

entrega dos recursos ao pagamento dos seus créditos, inclusive de suas autarquias, bem

como ao cumprimento do disposto no artigo 198, § 2.º, incs. II e III (aplicação e ações e

serviços de saúde).

A falta de entrega permite o pedido de intervenção, conforme art. 10 da Lei

Complementar n. 63/90.

1.4. Observações Finais

As diversas questões acerca da repartição das receitas tributárias ficam sob a

competência de lei complementar, nos termos do art. 161 da Constituição Federal.

O art. 162 da Constituição Federal prevê o dever dos entes públicos de divulgar

valores, repasses e quantias recebidas, até o último dia do mês subseqüente ao da

arrecadação.

MÓDULO XXI

DIREITO TRIBUTÁRIO

Impostos Federais

1. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO (II)

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

O Imposto de Importação (II), também chamado tarifa aduaneira, está disciplinado

nos artigos 153, inc. I, § 1.º, da Constituição Federal, 19 e 22 do Código Tributário

Nacional e no Dec.-lei n. 37, de 18.11.1966.

1.1. Competência

O Imposto de Importação é de competência da União Federal, estando diretamente

ligado às relações do Brasil com outros países, razão pela qual é desejável a uniformidade

do tratamento tributário, projetando-se, no cenário internacional, a personalidade jurídica e

política da Federação como um todo, e não de cada Estado-membro.

1.2. Contribuinte

O contribuinte do Imposto de Importação é o importador ou quem a ele a lei

equiparar (art. 22, inc. I, do CTN). É considerado importador qualquer pessoa, jurídica ou

natural, regularmente estabelecida ou não, sendo suficiente a introdução da mercadoria no

território nacional com intenção de que aqui permaneça de forma definitiva.

Também será considerado contribuinte do Imposto de Importação o arrematante de

produtos apreendidos ou abandonados, em leilão realizado pela Alfândega, que poderá

lançá-lo por homologação, uma vez que o contribuinte efetue o pagamento do tributo antes

da ocorrência da fiscalização, conforme exige a lei.

1.3. Função

O Imposto de Importação é instrumento relevante da política econômica, atuando na

proteção à indústria brasileira, pois permite a essa competir no mercado interno em

condições de igualdade ou de vantagem com produtos do exterior, aspecto que sobrepõe

sua relevância como fonte de arrecadação para o Tesouro. Predomina, portanto, sua função

extrafiscal.

1.4. Fato Gerador

De acordo com o art. 19 do Código Tributário Nacional, o fato gerador do Imposto

de Importação é a entrada de produto estrangeiro no território nacional.

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Page 83: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

A mercadoria nacional ou nacionalizada exportada, que retorna ao País (a exemplo

de peças que são exportadas e posteriormente importadas novamente ao Brasil), será

considerada, para fins de incidência do imposto, como estrangeira, estando, portanto,

sujeita ao Imposto de Importação, exceto quando ocorrer uma das hipóteses do art. 1.º, §

1.º, do Dec.-lei n. 37/66, alterado pelo Dec.-lei n.2.472/88, ou seja:

enviada em consignação e não for vendida no prazo autorizado;

devolvida por motivo de reparo técnico, para conserto ou substituição;

devolvida por motivo de modificação na sistemática de importação por parte do

País importador;

devolvida por motivo de guerra, calamidade pública ou outros fatores alheios à

vontade do exportador.

Tal fato gerador ocorre na data da entrada dos produtos estrangeiros no território

nacional. Se houver alteração da alíquota no período de tempo entre a obtenção de guia de

importação e o desembaraço aduaneiro ou efetivo desembarque, caberá solucionar a

questão de qual a alíquota aplicável, se a maior, ou a menor. Ocorrendo a redução de

alíquota, é justo que o imposto seja pago com base na alíquota menor. Ocorrendo aumento,

devem ser respeitadas as situações jurídicas já constituídas.

Não basta a entrada física, já que, para a incidência do imposto de importação, os

produtos devem ser destinados ao Brasil.

1.5. Base de Cálculo

Estabelece o art. 20 do Código Tributário Nacional que a base de cálculo do imposto

de importação será:

expressa na unidade de medida adotada pela lei tributária, quando se trata de

alíquota específica;

o preço normal de venda que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo de

importação, em condições de livre concorrência, para entrega no lugar de

entrada no País;

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Page 84: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

o preço de arrematação, no caso de produto levado a leilão, por motivo de

apreensão ou abandono.

Aplicam-se dois tipos de alíquotas: a específica e a ad valorem.

1.6. Considerações Especiais

O referido imposto não está sujeito ao princípio da anterioridade da lei porque nele

há a predominância de sua função extrafiscal, podendo sofrer aumento durante o mesmo

exercício financeiro. Além disso, o mencionado tributo também é considerado como uma

exceção ao princípio da legalidade, pois a Constituição Federal/88, em seu art. 153, § 1.º,

autoriza a alteração de suas alíquotas (somente), dentro dos parâmetros legais, por

intermédio de um decreto do Poder Executivo.

Caberá a restituição do Imposto de Importação sempre que esse for pago em

excesso, por motivo de erro de cálculo ou erro de aplicação da alíquota, ou se houver dano,

extravio ou perda do produto.

2. IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO (IE)

O Imposto de Exportação (IE) está disciplinado no artigo 153, inc. II, da

Constituição Federal e nos arts. 23 a 28 do Código Tributário Nacional.

2.1. Competência

De acordo com o art. 153, inc. II, da Constituição Federal, compete à União instituir

e cobrar impostos sobre “exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou

nacionalizados”.

2.2. Função

O Imposto de Exportação tem função predominantemente extrafiscal; portanto, a ele

não se emprega o princípio da anterioridade (art. 150, § 1.º, da CF), e o princípio da

legalidade se mostra atingido pelo artigo 153, § 1.º, da Constituição Federal. Tal fato se dá

por ser o Imposto de Exportação instrumento da política econômica, fonte de recursos

83

Page 85: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

financeiros para o Estado.

Estabelece o art. 28 do Código Tributário Nacional que “a receita líquida do

imposto destina-se à formação de reservas monetárias na forma da lei”, em face de o

Imposto de Exportação ter função ligada à política econômica relacionada com o comércio

internacional.

2.3. Fato Gerador

O fato gerador do Imposto de Exportação é a saída, do território nacional, de

produto nacional ou nacionalizado, indicado em lista aprovada pelo Poder Executivo ( art.

23 do CTN e art. 1.º, § 3.º, do Dec.-lei n. 1.578/77).

Considera-se ocorrido o fato gerador no momento da expedição da guia de

exportação ou de documento equivalente.

2.4. Alíquotas

Existem duas espécies de alíquotas no imposto de exportação:

Alíquota específica: expressa por uma quantia determinada, em função da

unidade de quantificação dos bens exportados. Assim, diz-se que o imposto

corresponderá a tantos reais por cada metro, ou quilometro, ou outra unidade

qualquer de medida do produto.

Alíquota ad valorem: indicada em porcentagem a ser calculada sobre o valor do

bem.

O Imposto de Exportação é exceção ao princípio da legalidade estrita, conforme

estabelece o art. 26 do Código Tributário Nacional, autorizando o Poder Executivo, por

meio de decreto e nos limites fixados em lei, a alterar as alíquotas do imposto, a fim de

ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior.

2.5. Base de Cálculo

Conforme estabelece o art. 24 do Código Tributário Nacional, é base de cálculo do

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Page 86: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Imposto de Exportação:

a unidade de medida adotada pela lei, quando se trata de produto sujeito a

alíquota específica;

o preço normal que o produto alcançaria, ao tempo da exportação, quando se

tratar de produto sujeito a alíquota ad valorem.

Ao Conselho Monetário Nacional compete a expedição de normas sobre a

determinação de base de cálculo do imposto e a fixação dos critérios específicos. Compete-

lhe também estabelecer pauta de valor mínimo, para os casos nos quais o preço do produto

for de difícil apuração, ou suscetível de oscilações bruscas no mercado internacional.

2.6. Contribuinte

Segundo o art. 27 do Código Tributário Nacional contribuinte desse imposto é o

exportador ou quem a lei a ele equiparar.

Exportador, por sua vez, é aquele que remete a mercadoria, a qualquer título, para o

exterior, ou a leva consigo, não sendo necessário que seja empresário, já que a exportação,

como fato gerador do imposto em causa, pode ser eventual e sem intuito de lucro. Porém,

de um modo geral, exportador é um empresário que habitualmente realiza as operações de

exportação profissional.

2.7. Lançamento

O lançamento do Imposto de Exportação é feito, geralmente, mediante declaração

prestada pelo exportador. A autoridade da Administração Tributária poderá recusar

qualquer dos elementos dessa declaração.

2.8. Considerações Especiais

A utilização do Imposto de Exportação é eventual, ficando sua incidência sob

dependência de certas situações ocasionais, ligadas à conjuntura econômica.

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Page 87: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

3. IMPOSTO SOBRE A RENDA (IR) E PROVENTOS DE QUALQUER

NATUREZA

O Imposto sobre a Renda (IR) e proventos de qualquer natureza está disposto no

artigo 153, inc. III, da Constituição Federal, e nos arts. 43 a 45 do Código Tributário

Nacional.

A competência para criar o imposto é da União e, de acordo com o § 2.º do artigo

153 da Constituição Federal, esse tributo será exigido conforme os critérios de

generalidade, universalidade e progressividade. Em outras palavras, a legislação e os atos

do Executivo referentes ao tema devem cuidar para que o tributo seja cobrado sem

distinções subjetivas. Cumprindo também o princípio constitucional da igualdade, o

mencionado imposto deverá, obrigatoriamente, possuir alíquotas progressivas.

3.1. Fato Gerador

O Código Tributário Nacional estatui, em seu artigo 43, que o fato gerador do

Imposto de Renda vem a ser a disponibilidade econômica (recebimento efetivo de

acréscimo pecuniário) ou jurídica (registro contábil de crédito de valor a favor do

contribuinte) de:

I – renda – fruto do trabalho, do capital, ou da combinação de ambos;

II – proventos de qualquer natureza (acréscimo patrimoniais não abrangidos no

conceito acima).

“§ 2.º Na hipótese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei

estabelecerá as condições e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de

incidência do imposto referido neste artigo.”

Dessa forma, o Código Tributário Nacional acabou por incluir quaisquer tipos de

aumento do patrimônio da pessoa física ou jurídica como fato gerador do Imposto de

Renda. É justamente esse incremento que constituirá a base de cálculo do imposto.

3.2. Base de Cálculo

A base de cálculo poderá ser apurada de três formas (art. 44 do CTN) sobre o lucro:

Real: para pessoas físicas, determinando-se pelo somatório de todos os

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

rendimentos anuais (salários, aplicações financeiras, ganhos na alienação de

bens etc.). Para pessoas jurídicas, o regime de apuração pode ser traduzido

como o lucro contábil (receitas – descontadas as despesas do exercício),

ajustado por adições, exclusões ou compensações prescritas ou autorizadas pela

legislação tributária (art. 6.º do Dec.-lei n. 1.598/77).

Arbitrado: se não houver meios de apuração do lucro real, por ausência de

escritura comercial e fiscal, ou por recusa na apresentação de livros e

documentos, a autoridade fazendária poderá estipular (de acordo com critérios

razoáveis, por exemplo, a média histórica do lucro da empresa) o lucro a ser

tributado. Trata-se, pois, de medida que visa proteger o Fisco e evitar fraudes.

Presumido: utilizada pelas firmas individuais e pessoas jurídicas cuja renda

anual não ultrapasse os lindes legais. Distingue-se do lucro real por não haver a

tributação sobre o efetivo acréscimo patrimonial, mas sim sobre um lucro

presumido.

3.3. Recolhimentos

Apesar de ser tributo de apuração anual (podendo ser também trimestral para

empresas), tanto pessoas físicas como jurídicas estão obrigadas a fazer antecipações

mensais. Para pessoas físicas, aplica-se a tabela progressiva da Lei n. 9.250/95, alterada

pela Lei n. 9.532/97.

Base de Cálculo

(R$)

Alíquota

(%)

Parcela a Deduzir

900,00 0 0

1.800,00 15 R$ 135,00

Acima de 1.800,00 27,5 R$ 360,00

Para pessoas jurídicas, a alíquota do imposto de renda é de 15%. Se a base de

cálculo mensal exceder R$ 20.000,00, há a incidência de adicional de 10% sobre a

diferença, nos termos da Lei n. 9.718/98. Em ambos os casos, portanto, nota-se cumprida a

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

progressividade requerida pela Constituição Federal.

No fim do exercício fiscal, a tabela para pessoas físicas é:

Base de Cálculo

(R$)

Alíquota

(%)

Parcela a Deduzir

10.800,00 0 0

21.600,00 15 R$ 1.620,00

Acima de 21.600,00 27,5 R$ 360,00

Para pessoas jurídicas optantes pelo regime anual, a alíquota é de 15%, mais

adicional de 10% sobre o que exceder a R$ 240.000,00.

Na Declaração de Ajuste, havendo saldo devedor (total das antecipações é inferior

ao devido), deverá ocorrer recolhimento suplementar. Se, por situação inversa, o saldo for

credor, a pessoa física receberá a restituição corrigida pela taxa Selic e a pessoa jurídica

poderá contabilmente compensar o crédito que possui nas antecipações do exercício

seguinte, também com atualização da Selic.

3.4. Lançamento

O lançamento do Imposto sobre a Renda decorre da declaração que o contribuinte

fornece ao Fisco sobre o fato gerador do tributo.

Em face dessa determinação, pergunta-se: haveria lançamento por declaração ( art.

147 do CTN) ou por homologação ( art. 150 do CTN)?

Resposta: Essa questão é controversa na doutrina e na jurisprudência, porquanto

influi no termo inicial da contagem do prazo decadencial. Pode-se afirmar, no entanto, que

a corrente mais forte manifesta-se a favor do art. 150 do Código Tributário Nacional

(lançamento por homologação).

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

MÓDULO XXII

DIREITO TRIBUTÁRIO

Impostos Federais

1. IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS (IPI)

O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) está previsto no artigo 153, inciso

IV, da Constituição Federal, e nos artigos 46 a 51 do Código Tributário Nacional.

1.1. Competência

O Imposto sobre Produtos Industrializados é de competência exclusiva da União.

1.2. Conceito

Considera-se produto industrializado o produto que tenha sido modificado para o

consumo (artigo 46, par. ún., do CTN). A industrialização consiste em transformação,

beneficiamento, montagem, acondicionamento ou renovação.

Transformação: é a operação, exercida sobre a matéria-prima ou produto

intermediário, que importe obtenção de um novo produto.

Beneficiamento: é a operação de modificação, aperfeiçoamento, alteração de

funcionamento ou aparência do produto; exemplo: usinagem de peças.

Montagem: é a operação que reúne produtos, peças ou partes que resultam em

um novo produto; exemplo: automóveis.

Acondicionamento ou reacondicionamento: é a operação que altera a

apresentação do produto pela colocação de embalagem, ainda que em

substituição da original, salvo quando essa embalagem se destine ao transporte

da mercadoria; exemplo: engarrafamento de bebida.

Renovação ou recondicionamento: é a operação exercida sobre o produto usado,

deteriorado ou inutilizado, e que o renova ou o restaura para utilização;

exemplo: retífica de motores.

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Page 91: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

1.3. Fato Gerador

O fato gerador do Imposto sobre Produtos Industrializados caracteriza-se pelo:

Desembaraço aduaneiro do produto estrangeiro. Havendo perda do produto antes

do desembaraço, o fato gerador não se caracterizará.

Saída do produto industrializado do estabelecimento do importador, do

industrial, do comerciante ou do arrematante.

Arrematação dos produtos importados apreendidos, abandonados e levados à

leilão (artigo 46, inciso III, do CTN).

1.4. Princípio da Seletividade

O Imposto sobre Produtos Industrializados deve possuir uma alíquota maior ou

menor, conforme a essencialidade do produto. O produto de primeira necessidade deve ter

baixa tributação e o produto menos essencial deve receber tributação mais elevada.

1.5. Princípio da Não-cumulatividade

O Imposto sobre Produtos Industrializados, pago numa operação, deve ser deduzido

do Imposto sobre Produtos Industrializados, a ser pago na operação seguinte, ou na

passagem da mercadoria de uma empresa para a outra.

Na contabilidade, o Imposto sobre Produtos Industrializados que foi pago

anteriormente, pelos fornecedores, figura como crédito. E o Imposto sobre Produtos

Industrializados que foi pago na saída do produto final figura como débito. Haverá imposto

a ser recolhido no período, quando o débito for maior que os créditos.

1.6. Princípio da Anterioridade

O Imposto sobre Produtos Industrializados é uma exceção ao princípio da

anterioridade (artigo 150, § 1.º, da CF), ou seja, a lei que institui ou aumenta o referido

imposto pode ser exigida imediatamente após sua publicação.

1.7. Princípio da Legalidade

O Imposto sobre Produtos Industrializados também é uma exceção ao princípio da

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

legalidade, pois é permitido à União aumentar ou reduzir sua alíquota por meio de decreto

do Executivo, nos limites fixados em lei (artigo 153, § 1.º, da CF).

Cumpre ainda observar que, em razão de terem predominante função extrafiscal,

também podem ter suas alíquotas alteradas por decreto os seguintes impostos da União:

Imposto sobre Importação; Imposto sobre Exportação e o Imposto sobre Operações

financeiras.

Em síntese, o Imposto sobre Produtos Industrializados não fere os princípios da

anterioridade e da legalidade, pois esse é um imposto ordenatório da economia do País,

porque dotado de extrafiscalidade.

1.8. Não-incidência na Exportação

Não incide Imposto sobre Produtos Industrializados nos produtos destinados ao

exterior (artigo 153, § 3.º, inciso III, da CF). Tecnicamente, trata-se de imunidade, uma vez

que tal dispensa é concedida pela própria Constituição Federal.

1.9. Base de Cálculo

A base de cálculo do Imposto sobre Produtos Industrializados pode ser: o valor do

produto importado mais o imposto de importação e os encargos aduneiros e cambiais; o

valor da saída do estabelecimento importador; o valor do produto industrializado; o valor

da mercadoria ou de mercadoria similar, quando tratar-se de produto nacional; o valor da

arrematação em leilão.

1.10. Alíquota

A alíquota consta em uma tabela própria e pode ser estabelecida por decreto do

Poder Executivo, conforme acima explicitado.

2. IMPOSTO SOBRE MOVIMENTAÇÕES FINANCEIRAS (IOF)

2.1. Competência e função Tributárias

Nos termos da Constituição Federal, do Código Tributário Nacional, da Lei n.

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

5.143/66 e do Decreto-lei n. 1.783/80, o imposto é de competência da União, e seus

recursos destinam-se à formação de reservas monetárias, aplicáveis em conformidade com

a legislação específica.

2.2. Delegação de Competência

Atualmente, conforme disposto no artigo 3.º do Decreto-lei n. 2.471, de 1.9.1988,

ratificado pelo artigo 48 do Decreto-lei n. 2.219/97, é da Secretaria da Receita Federal a

competência para administrar o tributo – incluindo as atividades de arrecadação, tributação,

fiscalização e de orientação às instituições responsáveis por sua cobrança e recolhimento –

e para aplicar as penalidades cabíveis.

2.3. Espécies do Imposto sobre movimentações financeiras

2.3.1. Imposto sobre operações de crédito

a) Imposto sobre operações de crédito realizadas por instituições financeiras

Entende-se por operação de crédito o empréstimo de recursos financeiros, assim

considerado o fato econômico da cessão de dinheiro, geralmente a título oneroso,

restituível a prazo certo.

São modalidades do imposto sobre operações de crédito, realizado por instituições

financeiras; os empréstimos financeiros e títulos descontados.

O fato gerador é a entrega do montante ou do valor que constitua o objeto da

obrigação, ou a sua colocação à disposição do interessado.

A base de cálculo é o montante da obrigação, compreendendo o crédito

principal e os juros.

Os contribuintes são as pessoas físicas ou jurídicas, tomadoras de crédito.

As instituições financeiras são responsáveis pela cobrança e pelo seu recolhimento

ao Tesouro Nacional.

b) Imposto sobre operações de crédito realizadas por empresas de "factoring"

A atividade dessas empresas consiste, basicamente, na prestação cumulativa e

contínua de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção de

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

riscos, administração de contas a pagar e a receber, compra de direitos creditórios,

resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços ( artigo 15, § 1.º, inciso

III, da Lei n. 9.249/95).

O fato gerador é a entrega – ou colocação à disposição do alienante – do montante

ou do valor que constitua o objeto da obrigação.

Os contribuintes são as pessoas jurídicas ou físicas que alienarem, à empresa de

factoring, os direitos creditórios resultantes de vendas a prazo.

Responsáveis, pela cobrança e pelo recolhimento ao Tesouro Nacional, são as

empresas de factoring adquirentes dos direitos creditórios.

2.3.2. Imposto sobre operações de câmbio

Entende-se por operação de câmbio, a troca da moeda de um País pela moeda de

outro (compra, venda e arbitragens de valor).

O fato gerador é a entrega – ou colocação à disposição do interessado – de moeda

nacional ou estrangeira, ou de documento que a represente.

A base de cálculo é o respectivo montante em moeda nacional, recebido e entregue,

ou posto à disposição.

Os contribuintes são os compradores e vendedores.

Os responsáveis pela cobrança e pelo recolhimento ao Tesouro Nacional, são as

empresas autorizadas a operar em câmbio.

2.3.3. Imposto sobre operações de seguro

Entende-se por operação de seguro o contrato (apólice) entre uma empresa

(seguradora) e uma pessoa física ou jurídica (segurado) pelo qual a primeira se obriga,

mediante a cobrança de uma certa quantia (prêmio), a pagar à segunda uma determinada

importância (indenização) para compensar perdas e danos decorrentes de eventualidades

tais como acidentes, incêndios, inundações, roubos (sinistros).

O fato gerador é o recebimento do prêmio.

A base de cálculo é o montante do prêmio.

Os contribuintes são as pessoas físicas e jurídicas seguradas.

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Os responsáveis, pela cobrança e recolhimento ao Tesouro Nacional, são as

companhias seguradoras ou as instituições financeiras encarregadas da cobrança dos

prêmios.

2.3.4. Imposto sobre operações relativas a títulos e valores mobiliários

a) Imposto sobre operações financeiras sobre títulos, valores mobiliários e

aplicações financeiras de renda fixa ou variável

Genericamente define-se título como sendo o documento que certifica a

propriedade de um bem ou que comprova o direito de seu detentor de receber determinado

valor em data preestabelecida. Quando se referem a bens ou direitos móveis, são

denominados valores mobiliários, ou simplesmente títulos, ou ainda, títulos de crédito.

O fato gerador é a aquisição, cessão, resgate, repactuação ou pagamento para

liquidação de títulos, ou ainda, títulos de crédito.

A base de cálculo pode ser:

na emissão, o valor nominal mais o ágio, se houver;

na transmissão, o preço ou valor nominal, ou o valor da cotação em Bolsa, como

determinar a lei;

no pagamento ou resgate, o preço.

Os contribuintes são os adquirentes de títulos ou valores mobiliários e os titulares de

aplicações financeiras.

Os responsáveis pela cobrança e pelo recolhimento ao Tesouro Nacional são as

instituições financeiras e demais instituições autorizadas pelo Banco Central: Bolsa de

Valores, de Mercadorias, de Futuros e assemelhados, e ainda a instituição que liquidar

a operação perante o beneficiário final.

b) Imposto sobre operação financeira sobre operações de pagamento para a

liquidação do resgate ou da cessão de títulos, valores mobiliários e aplicações

financeiras de renda fixa

Genericamente define-se título como o documento que certifica a propriedade de um

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Page 96: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

bem ou que comprova o direito de seu detentor de receber determinado valor em data

preestabelecida. Quando se referem a bens ou direitos móveis, são denominados valores

mobiliários, ou simplesmente títulos, ou, ainda, títulos de crédito.

O fato gerador é o pagamento para a liquidação do resgate, cessão, repactuação de

títulos e valores mobiliários.

Os contribuintes são as instituições financeiras e demais instituições autorizadas

pelo Banco Central, que liquidarem mencionadas operações. Os responsáveis pela

cobrança e seu recolhimento ao Tesouro Nacional são os próprios contribuintes.

2.3.5. Imposto sobre operações com ouro, ativo financeiro ou instrumento cambial

O ouro será considerado ativo financeiro ou instrumento cambial – desde a sua

extração e em qualquer estado de pureza, bruto ou refinado – quando destinado ao

mercado financeiro ou à execução da política cambial do País, em operações realizadas

com a interveniência de instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, na forma

e condições autorizadas pelo Banco Central (artigo 1.º da Lei n. 7.766, de 11.5.1989).

O fato gerador do imposto sobre operações com ouro, ativo financeiro ou

instrumento cambial é:

se o ouro for oriundo de município brasileiro: a primeira aquisição do ouro,

efetuada por instituição autorizada pelo Banco Central;

se o ouro for oriundo do exterior: o desembaraço aduaneiro.

A base de cálculo é o preço de aquisição do ouro.

O contribuinte é a instituição financeira, autorizada pelo Banco Central, que efetuar

a primeira aquisição.

Os responsáveis pelo recolhimento são os próprios contribuintes.

3. IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL (ITR)

3.1. Competência Tributária

É competente a União Federal para a instituição deste tributo.

95

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

3.2. Capacidade Tributária

Compete à Secretaria da Receita Federal (SRF) a administração do Imposto

Territorial Rural (ITR), como é comumente conhecido, incluídas as atividades de

arrecadação, tributação e fiscalização.

3.3. Fato Gerador

O fato gerador é a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza,

localizado fora da zona urbana do Município, em 1.º de janeiro de cada ano.

3.4. Base de Cálculo

Base de cálculo é o Valor da Terra Nua tributável (VTNt), correspondente ao

imóvel. Para o Cálculo do valor da terra nua tributável, utiliza-se a seguinte fórmula:

VTNt = VTN x Área Tributável

Área Total

Valor da Terra Nua (VTN) é o valor do imóvel, excluídos os valores relativos a

construções, instalações, benfeitorias, culturas permanentes ou temporárias, pastagens

cultivadas e melhoradas e florestas plantadas. O valor da terra nua é, portanto, composto

do valor do solo acrescentado do valor de matas nativas, florestas naturais e pastagens

naturais.

O valor da terra nua refletirá o preço de mercado de terras, apurado em 1.º de janeiro

do ano a que se referir a declaração do ImpostoTerritorial Rural.

Área tributável é igual à área total acrescida da área de interesse ambiental de

preservação permanente ou de utilização limitada.

3.5. Alíquota

O valor do imposto será apurado, aplicando-se sobre o Valor da Terra Nua

tributável (VTNt) à alíquota correspondente, considerados a área total do imóvel e o Grau

96

João Candelária, 03/01/-1,
???
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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

de Utilização (GU).

O Grau de Utilização é a relação percentual entre área utilizada pela atividade rural

e a área aproveitável do imóvel.

Área aproveitável é aquela área passível de exploração agrícola, pecuária, granjeira,

aqüícola e florestal; é a área total do imóvel, excluídas as de interesse ambiental de

preservação permanente, de interesse ambiental de utilização limitada e as ocupadas com

benfeitorias destinadas à atividade rural.

Área utilizada pela atividade rural é a porção da área aproveitável do imóvel que, no

ano anterior ao da entrega da Declaração do Imposto Territorial Rural, tenha sido:

plantada com produtos vegetais; servido de pastagem, nativa ou plantada; objeto de

exploração extrativa, observados os índices de rendimento por produto e a legislação

ambiental; objeto de exploração granjeira ou aqüícola; objeto de implantação de projeto

técnico; tenha sido afetada por ocorrência de calamidade pública de que resultou frustração

de safras ou destruição de pastagens; ou, ainda, tenha sido destinada à execução de

atividades de pesquisa e experimentação que objetivem o avanço tecnológico da

agricultura. Segue tabela:

Área total do imóvel (em

hectares)

Grau de Utilização (GU em %)

Maior

que 80

Maior que

65 até 80

Maior que

50 até 65

Maior que

30 até 50

Até 30

Até 50 0,03 0,20 0,40 0,70 1,00

Maior que 50 até 200 0,07 0,40 0,80 1,40 2,00

Maior que 200 até 500 0,10 0,60 1,30 2,30 3,30

Maior que 500 até 1.000 0,15 0,85 1,90 3,30 4,70

Maior que 1.000 até 5.000 0,30 1,60 3,40 6,00 8,60

Acima de 5.000 0,45 3,00 6,40 12,00 20,00

3.6. Lançamento

O lançamento é anual. A apuração e o pagamento do Imposto Territorial Rural serão

efetuados pelo contribuinte, independentemente de prévio procedimento da administração

tributária, nos prazos e nas condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal,

97

Page 99: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

sujeitando-se à homologação posterior.

3.7. Declaração do Imposto Territorial Rural

A Declaração do Imposto Territorial Rural é composta por dois documentos:

Documento de Informação e Atualização Cadastral (DIAC), destinado à coleta de

informações cadastrais do imóvel e de seu titular;

Documento de Informação e Apuração do Imposto Territorial Rural (DIAT), destinado

à apuração do imposto.

A data e as condições de entrega da Declaração do Imposto Territorial Rural são

fixadas anualmente pela Secretaria da Receita Federal.

MÓDULO XXIII

DIREITO TRIBUTÁRIO

Impostos Estaduais e Distritais

1. IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO, DE

QUAISQUER BENS OU DIREITOS

O Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou

Direitos está previsto no artigo 155, inciso I, da Constituição Federal, e nos artigos 35 a 42

do Código Tributário Nacional.

Atualmente, o referido imposto encontra-se regulado pela Lei n. 10.705, de

28.12.2000.

1.1. Competência

Compete aos Estados e ao Distrito Federal (art. 155, inc. I, da CF).

1.2. Função

A função do imposto sobre heranças e doações é fiscal, ou seja, tem como finalidade

gerar recursos financeiros para os Estados e para o Distrito Federal.

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

1.3. Incidência

O imposto incidirá sobre a transmissão de qualquer bem ou direito havido:

por sucessão legítima ou testamentária, inclusive a sucessão provisória;

por doação.

Ocorrerão tantos fatos geradores distintos quantos forem os herdeiros, legatários ou

donatários.

Também sujeita-se ao imposto, a transmissão de:

qualquer título ou direito representativo do patrimônio ou capital de sociedade e

companhia, tais como ação, quota, quinhão, participação civil ou comercial,

nacional ou estrangeira, bem como direito societário, debênture, dividendo e

crédito de qualquer natureza;

dinheiro, haver monetário em moeda nacional ou estrangeira e título que o

represente, depósito bancário e crédito em conta corrente, depósito em caderneta

de poupança e a prazo fixo, quotas ou participações em fundo mútuo de ações,

de renda fixa, de curto prazo, e qualquer outra aplicação financeira e de risco,

seja qual for o prazo e a forma de garantia;

bem incorpóreo em geral, inclusive título e crédito que o represente, qualquer

direito ou ação que tenha de ser exercido, e direitos autorais.

1.4. Base de Cálculo

A base de cálculo é o valor venal do bem ou direito transmitido, expresso em moeda

corrente nacional ou em Unidades Fiscais do Estado de São Paulo(Ufesps). Considera-se

valor venal o valor de mercado, do bem ou direito, na data da abertura da sucessão ou da

realização do ato ou contrato de doação.

A base de cálculo é equivalente a:

1/3 do valor do bem, na transmissão não onerosa do domínio útil;

2/3 do valor do bem, na transmissão não onerosa do domínio direto;

1/3 do valor do bem, na instituição do usufruto, por ato não oneroso;

2/3 do valor do bem, na transmissão não onerosa da propriedade nua.

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

No caso de bem móvel ou direito, a base de cálculo é o valor corrente de mercado

do bem, título, crédito ou direito, na data da transmissão ou do ato translativo.

1.5. Alíquota

O cálculo do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou

Direitos será efetuado mediante a aplicação dos porcentuais sobre a correspondente parcela

do valor da base de cálculo convertida em Unidades Fiscais do Estado de São Paulo, na

seguinte progressão: até 12.000 (doze mil) Unidades Fiscais do Estado de São Paulo,

2,5% ; acima desse limite, 4%.

O imposto devido é resultante da soma total da quantidade apurada na respectiva

operação de aplicação dos porcentuais sobre cada uma das parcelas em que vier a ser

decomposta a base de cálculo.

1.6. Lançamento

O lançamento é feito, em princípio, por declaração, pois o contribuinte oferece ao

Fisco os elementos necessários ao respectivo cálculo, para, posteriormente à sua

homologação, efetuar o pagamento do respectivo tributo.

2. IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES RELATIVAS À CIRCULAÇÃO DE

MERCADORIAS E SOBRE PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE

INTERESTADUAL E INTERMUNICIPAL E DE COMUNICAÇÃO, AINDA QUE

AS OPERAÇÕES E AS PRESTAÇÕES SE INICIEM NO EXTERIOR (ICMS)

2.1. Legislação

O imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestação

de serviços de transporte interestadual e intermunicipal, e de comunicação, ainda que as

operações e as prestações se iniciem no exterior (ICMS), está disciplinado:

Na Constituição Federal, principalmente em seu artigo 155, inciso II, e §§ 2.º

(com seus 12 incisos) e 3.º. Relevante o entendimento das normas

constitucionais referentes ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e

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Page 102: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Serviços (ICMS), porquanto todas as normas infraconstitucionais tributárias

devem ser interpretadas no sentido mais congruente possível com a

Constituição. Em relação ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e

Serviços , segundo Roque Antônio Carraza, o constituinte foi minucioso ao

extremo, dedicando, especificamente a esse imposto, um grande número de

artigos, incisos, parágrafos etc.

Na Lei Complementar n. 87/96, que estabelece normas gerais sobre o Imposto

sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, a serem observadas por todos os

Estados e pelo Distrito Federal.

2.2. Importância do ICMS

O ICMS representa o imposto economicamente mais importante, pois envolve

maiores quantias. Nesse sentido, possui função eminentemente fiscal, isto é, seu principal

objetivo é a arrecadação de recursos financeiros.

Apresenta, outrossim, função extrafiscal (quando seu objetivo é a interferência no

domínio econômico, estimulando ou não certa atividade econômica), na medida em que

poderá ser seletivo em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços (art. 155, §

2.º, inc. III, da CF).

2.3. Competência

competência privativa dos Estados e do Distrito Federal (art. 155, inc. II, da CF);

competência extraordinária da União, “na iminência ou no caso de guerra

externa”, mediante lei complementar (art. 154, inc. II, da CF);

competência da União para instituir e cobrar, nos Territórios, impostos de

competência privativa dos Estados (art. 147 da CF), o que inclui, é claro, o

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços ;

além dessas, há a competência do Senado para estabelecer alíquotas, mediante

resolução (art. 155, § 2.º, incs. IV e V, da CF).

2.4. Fatos Geradores

101

Page 103: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

2.4.1. Imposto sobre Operações Mercantis (operações relativas à circulação de

mercadorias) – Artigo 155, inciso II, da Constituição Federal

Algumas observações devem ser feitas a respeito do fato gerador desse imposto:

a operação a que se refere a lei é mercantil, isto é, deve ser regida pelo Direito

Comercial, tendo por finalidade o lucro e por objeto uma mercadoria;

a circulação deve ser jurídica, ou seja, pressupõe a transferência de titularidade

da mercadoria, por força de um negócio jurídico;

entende-se por mercadoria o bem móvel, que tenha por finalidade a venda ou

revenda, de modo que os bens destinados ao consumo ou ao ativo fixo não são

considerados mercadorias (exceção encontra-se no art. 155, § 2.º, inc. IX, “a”,

da CF);

a obrigação surge pela saída da mercadoria do estabelecimento comercial, tendo

como sujeito passivo qualquer pessoa (física, jurídica ou, até, sem

personificação de direito) envolvida em caráter de habitualidade, com a prática

de operações mercantis (que, de modo geral, são o produtor, o industrial e o

comerciante).

2.4.2. Imposto sobre Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal – Artigo 155,

inciso II, da Constituição Federal

O fato gerador desse imposto é a prestação, a terceiro, de um serviço de transporte

intermunicipal ou interestadual, com conteúdo econômico, sob regime de direito privado,

como, por exemplo, o serviço de transporte de passageiros, de cargas, de valores, de

mercadorias etc. Ressalte-se que o serviço de transporte, realizado totalmente dentro do

território de um Município, apenas pode ser tributado por via de Imposto sobre Serviços

(ISS) , de competência privativa municipal. O contribuinte é o prestador do serviço.

2.4.3. Imposto sobre Serviço de Comunicação – Artigo 155, inciso II, da Constituição

Federal

Entende-se por serviço de comunicação a atividade de, em caráter negocial, alguém

102

Page 104: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

fornecer a terceiros condições materiais para que a comunicação ocorra, como, por

exemplo, a instalação de microfones, caixas de som, telefones, radiotransmissores etc.

2.4.4. Imposto sobre Produção, Importação, Circulação, Distribuição ou Consumo de

Lubrificantes e Combustíveis Líquidos e Gasosos, e de Energia Elétrica – Artigo 155, §

2.º, inciso X, “b”, e § 3.º, da Constituição Federal

Destaque-se que os Estados e o Distrito Federal podem gravar com o Imposto sobre

Circulação de Mercadorias e Serviços uma, algumas ou todas as operações acima

elencadas, desde que obedecido o princípio da não-cumulatividade.

2.4.5. Imposto sobre Extração, Circulação, Distribuição ou Consumo de Minerais –

Artigo 155, § 3.º, da Constituição Federal

Mesmo destaque feito ao imposto anterior.

2.5. Princípio da Não-Cumulatividade

A não-cumulatividade do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços está

prevista no artigo 155, § 2.º, incisos I e II, da Constituição Federal, de modo que em cada

operação ou prestação é assegurado ao contribuinte, de modo definitivo, uma dedução

(abatimento) correspondente aos montantes cobrados nas operações ou prestações

anteriores.

Lembremos que o ICMS é imposto indireto. Pelo princípio da não-cumulatividade,

o Constituinte beneficiou o contribuinte (de direito) desse tributo e, ao mesmo tempo, o

consumidor final (contribuinte de fato), a quem convém preços mais reduzidos ou menos

gravemente onerados pela carga tributária.

2.6. Lançamento

O lançamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços realiza-se

por homologação, ou seja, cada contribuinte registra suas operações, escritura seus livros

de entradas e de saídas e de apuração de impostos, recolhendo o montante respectivo em

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

cada mês, independentemente de exame de seus cálculos pela autoridade administrativa.

2.7. Imunidades

A Constituição Federal (art. 155, § 2.º, inc. X) exclui a incidência de Imposto sobre

Circulação de Mercadorias e Serviços em certos casos, como o de operações que destinem

ao exterior produtos industrializados, sobre o ouro etc. As situações nela descritas,

portanto, ficam fora do alcance da regra jurídica da tributação.

3. IMPOSTO SOBRE PROPRIEDADE DE VEÍCULOS AUTOMOTORES (IPVA)

Imposto disciplinado pelo artigo 155, inciso III, da Constituição Federal.

3.1. Hipótese de Incidência

É a propriedade de veículo automotor (ciclomotor, motocicleta, automóvel, furgão,

ônibus ou caminhão etc.).

3.2. Sujeito Ativo

O sujeito ativo do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) é o

Estado onde o veículo estiver licenciado e registrado.

3.3. Sujeitos Passivos

Segundo a Lei n. 4.955, de 27.12.1985, do Estado de São Paulo, o proprietário do

veículo, que é o contribuinte, e o titular do domínio útil e/ou o possuidor do veículo são,

solidariamente, responsáveis pelo imposto, juntamente com o proprietário, sem direito a

benefício de ordem.

É um imposto vinculado ao veículo, de tal sorte que, em caso de alienação, pago o

imposto pelo antigo proprietário, ainda que em outra unidade da Federação, não será

exigido novo pagamento do adquirente.

3.4. Base de Cálculo

A base de cálculo é o valor venal do veículo, fixado de conformidade com o seu

peso, potência, capacidade máxima de tração, ano de fabricação, cilindrada, número de

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Page 106: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

eixos, tipo de combustível utilizado e dimensões.

No Estado de São Paulo, os valores venais são anualmente reajustados no mês de

dezembro de cada ano, através de decreto do Poder Executivo.

Do produto da arrecadação do imposto, 50% pertencem ao Município onde o

veículo estiver licenciado, aí incluídos os valores correspondentes à correção monetária e

aos acréscimos decorrentes do recolhimento fora dos prazos legais. Os restantes 50%

constituem receita do Estado.

MÓDULO XXIV

DIREITO TRIBUTÁRIO

Impostos Municipais

1. IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE PREDIAL E TERRITORIAL URBANA

(IPTU)

1.1. Competência

O artigo 156, inciso I, da Constituição Federal, e o artigo 32 do Código Tributário

Nacional estabelecem que compete aos Municípios instituir Imposto sobre a Propriedade

Predial e Territorial Urbana (IPTU).

O Distrito Federal também é competente para instituir o Imposto sobre a

Propriedade Predial e Territorial Urbana, por força do artigo 147 da Constituição Federal.

1.2. Fato Gerador

O artigo 32 do Código Tributário Nacional estabelece que o Imposto sobre a

Propriedade Predial e Territorial Urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio

útil ou a posse de bem imóvel, por natureza ou por acessão física, como definido na lei

civil, localizado na zona urbana do Município.

1.3. Base de Cálculo

Estabelece o artigo 33 do Código Tributário Nacional que a base de cálculo do

Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana é o valor venal do imóvel, ou

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Page 107: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

seja, o valor pelo qual o imóvel pode ser negociado no mercado imobiliário.

1.4. Progressividade e Alíquota

O artigo 156, § 1.º, da Constituição Federal dispõe:

“§ 1.º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, § 4.º, II,

o imposto previsto no inc. I poderá:

I – ser progressivo em razão do valor do imóvel;

II – ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do imóvel”.

1.5. Contribuinte

É contribuinte, do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, o

proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título

(art. 34 do CTN).

1.6. Imunidade

O artigo 150, inciso VI, da Constituição Federal estabelece que é vedado à União,

aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, instituir imposto sobre:

patrimônio, renda ou serviços, um dos outros;

templos de qualquer culto;

patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações;

entidades sindicais dos trabalhadores; instituições de educação e assistência

social, sem fins lucrativos; sempre atendidos os requisitos da lei.

1.7. Considerações Gerais

O Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana é um imposto sobre o

patrimônio, de competência do Município, e obedece ao princípio da capacidade

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Page 108: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

contributiva.

Há progressividade de caráter extrafiscal para induzir o proprietário a obedecer ao

plano diretor do Município, cumprindo assim a função primordial da propriedade, que,

consoante a natureza jurídica que se lhe empresta pela doutrina de vanguarda, é a de direito

de destinação e ordenação social.

2. IMPOSTO DE TRANSMISSÃO INTER VIVOS DE BENS IMÓVEIS (ITBI)

2.1. Competência

O artigo 156, inciso II, da Constituição Federal estabelece quecompete aos

Municípios instituir imposto sobre “transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato

oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis,

exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição”.

O Imposto de Transmissão Inter Vivos de Bens Imóveis (ITBI) está disciplinado no

artigo 156, inciso II, da Constituição Federal, e nos artigos 35 a 42 do Código Tributário

Nacional.

2.2. Sujeito Ativo

Sujeito ativo do Imposto de Transmissão Inter Vivos de Bens Imóveis é o

Município.

2.3. Considerações

Imóveis por natureza: solo com sua superfície, seus acessórios e adjacências

naturais, englobando as árvores e os frutos pendentes, o espaço aéreo e o

subsolo (art. 43, inc. I, do CC).

Imóveis por acessão física: tudo aquilo incorporado pelo homem

permanentemente ao solo, de forma que não possa ser retirado sem destruição,

modificação, fratura ou dano, como a semente plantada, os edifícios e as

construções (art. 43, inc. II, do CC).

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Direitos reais sobre bens imóveis:

Enfiteuse (ou aforamento): atribuição, pelo proprietário, do domínio útil do

imóvel a terceiro, o qual pagará uma pensão ou foro, anual, certo e invariável

(art. 678 do CC). Cumpre salientar que, com a instituição do Estatuto da Cidade

(Lei n. 10.257/01), e a entrada em vigor, em 2003, do Novo Código Civil, fica

instituído o Direito de Superfície, com características semelhantes à enfiteuse,

todavia temporário, e tem por objetivo substituí-la;

servidão: restrição imposta a um prédio, cujo proprietário perde o exercício de

alguns de seus direitos dominicais ou fica obrigado a tolerar a utilização do seu

prédio (serviente) pelo dono do prédio dominante, para certo fim (art. 695 do

CC);

usufruto: direito real de fruir as utilidades e os frutos de um bem, enquanto

temporariamente destacado da propriedade (art. 713 do CC);

habitação: faculdade de residir num prédio alheio com a família (art. 746 do

CC);

rendas constituídas sobre imóveis: contrato pelo qual uma pessoa obriga-se a

fazer certa prestação periódica a outra, em troca de um imóvel que lhe é

entregue (arts. 749 a 754 e 1.424 a 1.431 do CC);

cessão de direitos: feita por sentença judicial, por lei ou por livre acordo entre

cedente e cessionário, ou seja, são os atos que levam a pessoa que os recebe à

aquisição do imóvel, equivalendo, portanto, à própria transmissão do bem.

2.4. Fato Gerador

Fatos geradores do Imposto sobre Transmissão Inter Vivos de Bens Imóveis são

quaisquer atos ou negócios jurídicos, independentemente de registro, que transfiram o bem

imóvel, a qualquer título (compra e venda, dação em pagamento, promessa de venda

inteiramente quitada e transcrita no registro) ou os direitos reais sobre imóveis (enfiteuse,

aforamento, servidões, usufruto, habitação e rendas expressamente constituídas sobre

imóveis) e as cessões desses direitos reais.

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

2.5. Dação em Pagamento

Recebimento pelo credor de coisa, exceto dinheiro, substituindo a prestação que lhe

era devida (art. 995 do CC).

Não incide sobre direitos reais de garantia – anticrese (devedor entrega imóvel ao

credor, para que esse, em compensação da dívida, perceba os frutos e rendimentos do

imóvel) e a hipoteca (devedor oferece bem imóvel em garantia ao credor, para assegurar o

cumprimento de uma obrigação).

Artigo 156, § 2.º, da Constituição Federal:

§ 2.º O imposto previsto no inciso II (transmissão inter vivos, a qualquer título, por

ato oneroso, de bens imóveis):

“I – não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio

de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos

decorrentes de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses

casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou

direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil”.

2.5.1. Fusão

Fusão é a reunião de duas sociedades, individualmente distintas, que se transformam

em uma só.

2.5.2. Incorporação

Incorporação é uma operação por meio da qual uma ou mais sociedades são

absorvidas por outra, que por sua vez, sucede-lhes em todos os direitos e obrigações.

2.5.3. Cisão

Cisão é instituto próprio de sociedade anônima, com o objetivo de transferir parte do

patrimônio de uma companhia a outra ou outras, constituídas com essa finalidade ou já

existentes. A transferência total implica extinção da sociedade cindida e a parcial, na

divisão do seu patrimônio.

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Page 111: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Trata-se de imunidade específica concedida pela Carta Magna, configurando,

portanto, uma limitação ao poder de tributar do Município.

2.5.4. Exceção

Se a atividade preponderante do adquirente for compra e venda desses bens ou

direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil – negócios de empresas que

exploram loteamento de terrenos, incorporação de edifícios de apartamentos, compra

desses para venda etc. Logo, se obtêm lucro com a atividade.

2.5.5. Ratio legis

Analisando esse dispositivo, do ponto de vista econômico, percebe-se a intenção de

facilitar as incorporações e fusões, no pressuposto de que elas imprimem eficiência às

empresas.

2.5.6. Atividade preponderante

É a definida no artigo 37, §§ 1.º e 2.º, do Código Tributário Nacional.

2.6. Base de Cálculo

Base de cálculo é o valor venal dos bens ou direitos transmitidos (art. 38 do CTN),

ou seja, valor do imóvel para compra e venda à vista, segundo as condições usuais do

mercado de imóveis.

2.7. Alíquota

Observado o artigo 39 do Código Tributário Nacional, deve-se respeitar o limite

fixado em resolução do Senado Federal, que distinguirá, para efeito de aplicação de

alíquota mais baixa, as transmissões que atendam à política nacional de habitação.

2.8. Sujeito Passivo

Conforme estabelece o artigo 42 do Código Tributário Nacional, contribuinte do

imposto é qualquer das partes na operação tributada, como dispuser a lei.

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Page 112: Direito Tributário.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Conforme o artigo 6.º, incisos I e II, da Lei Municipal n. 11.154/91, regulamentada

pelo Decreto n. 31.133/92, são os adquirentes dos bens ou direitos transmitidos e os

cedentes, nas cessões de direitos decorrentes de compromissos de compra e venda.

3. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA (ISS)

3.1. Competência

Competente para instituir Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) é o

Município.

3.2. Base Legal

Artigo 156, inciso III, da Constituição Federal: “Compete aos Municípios

instituir imposto sobre: ... III – serviços de qualquer natureza, não

compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar”.

Artigos 71 a 73 do Código Tributário Nacional, revogados pelo Dec.-lei n.

406/68 com redação da Lei Complementar n. 56/87.

3.3. Fato Gerador

Fato gerador é a prestação habitual e remunerada, por empresa ou profissional

autônomo, com ou sem estabelecimento fixo, de serviço incluído entre os listados pelo

Decreto-lei n. 406/68. Os serviços dessa lista ficam sujeitos apenas ao Imposto sobre

Serviços de Qualquer Natureza (ISS), ainda que sua prestação envolva fornecimento de

mercadorias (ver Súmulas ns. 135, 156 e 167 do STJ).

Serviços que não constem da lista estão fora do campo de incidência do Imposto

sobre Serviços de Qualquer Natureza. O fornecimento de mercadorias com prestação de

serviços não especificados na lista ficará sujeito ao Imposto Comercial sobre Mercadorias

e Serviços (ICMS)(ver Súmula n. 163 do STJ).

3.4. Base de Cálculo

De acordo com o modelo fornecido pelo Decreto-lei n. 406/68, os Municípios

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podem organizar o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza da seguinte forma:

serviços em geral: alíquota sobre o preço dos serviços (art. 9.º, caput);

profissionais: (serviços pessoais), médicos, advogados etc.: cobrança de

importância periódica, fixa ou variável, por mês ou por ano (art. 9.º, § 1.º);

sociedade de profissionais: igual ao do item anterior, a ser pago pela sociedade,

multiplicado pelo número de profissionais que nela trabalharem – sócios,

empregados, autônomos – (art. 9.º, § 3.º);

substituição tributária: há Municípios que atribuem às pessoas jurídicas,

tomadoras dos serviços, o recolhimento do Imposto sobre Serviços de Qualquer

Natureza, se o profissional contratado não for estabelecido (art. 128 do CTN).

3.5. Contribuinte

Contribuinte do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza é o prestador do

serviço. Não são contribuintes os que prestam serviços em relação de emprego, os

trabalhadores avulsos, os diretores e membros de conselhos, consultivo ou fiscal, de

sociedade (art. 10).

3.6. Isenção

Estão isentos do pagamento de Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza a

União, os Estados, o Distrito Federal, as autarquias e empresas concessionárias de serviços

públicos, quando contratarem serviços de execução, administração, empreitada e

subempreitada de obras hidráulicas ou de construção civil, e os respectivos serviços de

engenharia consultiva (art. 11 do Dec.-lei n. 406/68).

3.7. Local da Prestação de Serviços

Local da prestação do serviço tributado é o do estabelecimento prestador, ou, na

falta desse, o do domicílio do prestador, sendo exceção a construção civil cujo local será o

da prestação do serviço (art. 12).

3.8. Município Competente para Cobrar Tributos - Jurisprudência

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ISS – Local do recolhimento

“Tributário. ISS. Local do recolhimento. 1. Para fins de incidência de ISS, tem-se

como ocorrido o fato gerador naquele local onde efetivou-se a prestação do serviço. 2.

Precedentes. 3. Recurso improvido” (ac. un. da 1.ª T. do STJ – REsp n. 130.792/CE – rel.

Min. José Delgado – j. em 2.10.1997 – Rectes.: Corpo de Vigilantes Particulares Ltda. –

Corpus e outro; Recdo.: Município de Juazeiro do Norte – DJU 1, 17.11.1997, p. 59.446 –

ementa oficial).

ISS – Administradores de consórcios – Local da prestação de serviços

“Tributário. ISS. Consórcios. As administradoras de consórcios estão sujeitas ao ISS

no Município onde organizam suas atividades principais, e não naquele em que captam a

clientela. Recurso especial não conhecido” (ac. un. da 2.ª T. do STJ – REsp n. 51.797-SP

rel. Min. Ari Pargendler – j. em 5.6.1997 – Recte.: Distrito Federal; Recdos.:

Garavelo e Companhia Ltda. e outros – DJU 1, 1.9.1997, p. 40.795 – ementa oficial).

ISS – Fato Gerador – Local da prestação do serviço

“ISS – Local do fato gerador – Município – Decreto n. 406/68. Embora o art. 12,

‘a’, considere como local da prestação do serviço o do estabelecimento prestador, pretende

o legislador que referido imposto pertença ao Município em cujo território se realizar o

fato gerador. Recurso provido” (ac. un. da 1.ª T. do STJ – REsp. n. 188.123-RS – rel. Min.

Garcia Vieira – j. em 17.11.1998 – Recte.: Comabe Automação de Escritórios Ltda.;

Recdo.: Município de Caxias do Sul – DJU-e 1, 8.3.1999, p. 135-136 – ementa oficial).

ISS – Local da Incidência

“Tributário. ISS. Local da incidência. O local do recolhimento do ISS incidente

sobre a administração de bens ou negócios, inclusive consórcios, é o território do

Município onde se realiza o serviço. O serviço de administração de consórcio compreende

não só a coleta dos nomes dos interessados como a realização de reuniões, cobrança de

parcelas e respectivas contabilização, aquisição dos bens e sorteio dos consorciados, e, in

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casu, em todas essas etapas, praticado no Município de Lins, ao qual cabe o poder de

tributar. Recurso improvido. Decisão unânime” (ac. un. da 1.ª T. do STJ – REsp n.

72.398/SP – rel. Min. Demócrito Reinaldo – j. em 6.5.1996 – Recte.: Município de Porto

Alegre; Recda.: Realçar Administradora de Consórcio Ltda. – DJU 1, 10.6.1996, p. 20.283

– ementa oficial).

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