direito empresarial

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Apostila Direito Empresarial

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  • Ministrio da Educao MEC

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES

    Diretoria de Educao a Distncia DED

    Universidade Aberta do Brasil UAB

    Programa Nacional de Formao em Administrao Pblica PNAP

    Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    Luiz Antnio Barroso Rodrigues

    20122 edio

  • 2012. Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Todos os direitos reservados.

    A responsabilidade pelo contedo e imagens desta obra do(s) respectivo(s) autor(es). O contedo desta obra foi licenciado temporria

    e gratuitamente para utilizao no mbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, atravs da UFSC. O leitor se compromete a utilizar

    o contedo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reproduo e distribuio ficaro limitadas ao mbito interno dos cursos.

    A citao desta obra em trabalhos acadmicos e/ou profissionais poder ser feita com indicao da fonte. A cpia desta obra sem auto-

    rizao expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sanes previstas no Cdigo Penal, artigo

    184, Pargrafos 1 ao 3, sem prejuzo das sanes cveis cabveis espcie.

    1 edio 2011

    R696d Rodrigues, Luiz Antnio BarrosoDireito empresarial / Luiz Antnio Barroso Rodrigues. 2. ed. reimp. Flori-

    anpolis : Departamento de Cincias da Administrao / UFSC; [Braslia] : CAPES : UAB, 2012.

    144p. : il.

    Bacharelado em Administrao PblicaInclui bibliografia ISBN: 978-85-7988-128-2

    1. Direito comercial. 2. Direito societrio. 3. Sociedades comerciais. 4. Contratos empresariais. 5. Falncia. 6. Educao a distncia. I. Coordenao de Aperfeioamen-to de Pessoal de Nvel Superior (Brasil). II. Universidade Aberta do Brasil. III. Ttulo.

    CDU: 347.7

    Catalogao na publicao por: Onlia Silva Guimares CRB-14/071

  • PRESIDNCIA DA REPBLICA

    MINISTRIO DA EDUCAO

    COORDENAO DE APERFEIOAMENTO DE PESSOAL DE NVEL SUPERIOR CAPES

    DIRETORIA DE EDUCAO A DISTNCIA

    DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS DIDTICOS

    Universidade Federal de Santa Catarina

    METODOLOGIA PARA EDUCAO A DISTNCIA

    Universidade Federal de Mato Grosso

    AUTOR DO CONTEDO

    Luiz Antnio Barroso Rodrigues

    EQUIPE TCNICA

    Coordenador do Projeto Alexandre Marino Costa

    Coordenao de Produo de Recursos Didticos Denise Aparecida Bunn

    Capa Alexandre Noronha

    Ilustrao Adriano Schmidt Reibnitz

    Projeto Grfico e Finalizao Annye Cristiny Tessaro

    Editorao Rita Castelan Minatto

    Reviso Textual Mara Aparecida Andrade da Rosa Siqueira

    Crditos da imagem da capa: extrada do banco de imagens Stock.xchng sob direitos livres para uso de imagem.

  • Sumrio

    Apresentao ............................................................................................................9

    Unidade 1 Direito Empresarial

    Direito Empresarial .................................................................................................13

    Evoluo Histrica do Direito Empresarial ..............................................................15

    Breves Apontamentos Sobre a Histria de Direito Empresarial e suas Teorias ...16

    Evoluo Histrica do Direito Empresarial Brasileiro ........................................20

    Pessoas ou Sujeitos de Direito .................................................................................24

    Pessoa Natural, Fsica ou Individual .................................................................26

    Pessoa Jurdica, Moral ou Coletiva ..................................................................29

    Dos fatos, dos Atos e dos Negcios Jurdicos ..........................................................33

    Unidade 2 Direito de Empresa e Societrio

    Direito de Empresa .................................................................................................41

    O Empresrio ..................................................................................................43

    A Empresa ......................................................................................................45

    Exerccio de Empresa ......................................................................................47

    Obrigaes dos Empresrios ............................................................................50

    Registros de Interesse da Empresa ...................................................................50

    Livros Empresariais .........................................................................................54

    Estabelecimento Empresarial ...........................................................................56

    Direito Societrio ....................................................................................................59

    Conceito, Espcies e Classificao ...................................................................59

    Caractersticas ................................................................................................60

  • Personificao, Personalidade e Capacidade das Pessoas Jurdicas ..................60

    Responsabilidade ...........................................................................................61

    Desconsiderao da Personalidade Jurdica .....................................................62

    Dissoluo, Liquidao e Extino ..................................................................64

    Sociedades Empresrias ..................................................................................65

    Unidade 3 Ttulos de Crdito e Contratos Empresariais

    Teoria Geral do Direito Cambirio ..........................................................................87

    Noo de Ttulos de Crdito ............................................................................87

    Princpios Gerais dos Ttulos de Crdito ...........................................................88

    Classificaes ..................................................................................................89

    O Endosso .......................................................................................................90

    O Aval .............................................................................................................91

    Principais Ttulos de Crdito ...................................................................................94

    Letra de Cmbio .............................................................................................94

    Nota Promissria .............................................................................................97

    Cheque ...........................................................................................................98

    Duplicata .......................................................................................................101

    Contratos Empresariais .........................................................................................103

    Teoria Geral dos Contratos ............................................................................103

    Principais Contratos Empresariais ..................................................................106

    Unidade 4 Noes de Falncia e Recuperao de Empresa

    Noes Preliminares de Direito Falimentar ............................................................115

    mbito de Incidncia da Lei de Falncias e Recuperao de Empresa ................... 117

    O Processo de Falncia .........................................................................................119

    A Competncia para o Processo de Falncia ..................................................119

    Os rgos da Falncia ...................................................................................120

    A Legitimidade para Requerer a Falncia .......................................................122

  • Hipteses de Decretao da Falncia .............................................................123

    Do Requerimento Decretao da Falncia da Empresa ................................ 125

    A Verificao, a Habilitao dos Crditos e a Liquidao da Empresa ............ 129

    A Recuperao da Empresa ..................................................................................130

    Referncias ...........................................................................................................141

    Minicurrculo ........................................................................................................144

  • Apresentao

    Mdulo 5 9

    Apresentao

    Caro estudante,

    Seja bem-vindo disciplina Direito Empresarial. A pretenso, com o mdulo que se inicia, apresentar-lhe noes de Direito Empresarial que at pouco tempo se chamava Direito Comercial , importante ramo do Direito. Como voc ter oportunidade de ver ao longo de nossos estudos, esse segmento do Direito de suma importncia para o seu curso, pois toca diretamente em questes pertinentes ao seu cotidiano profissional. A compreenso dele redundar em diferencial de trabalho e em valorizao profissional.

    Contudo, para melhor conhecimento das Unidades que sero abordadas, no podemos nos esquecer de temticas que j foram estudadas nas disciplinas ministradas, em especial, na Cincia Poltica, na Instituies do Direito Pblico e Privado e no Direito Administrativo.

    Assim, muito importante termos sempre em mente alguns apontamentos mais gerais acerca da prpria noo de Direito; os rudimentos da cincia jurdica e de sua importncia para a vida coletiva, regulando as condutas e buscando a soluo dos conflitos que surgem no ambiente social; e, os estudos relativos ao Direito Pblico e ao Direito Privado e suas implicaes.

    Relembrados e consolidados tais conhecimentos... Vamos, na primeira Unidade, estudar o conceito e o objeto do Direito Empresarial, sua evoluo histrica, alm de noes gerais e imprescindveis relativas aos sujeitos de direito, assim como os fatos, os atos e os negcios jurdicos.

    Na segunda Unidade nos dedicaremos ao estudo do Direito de Empresa e Societrio, onde sero abordadas noes de empresrio e suas obrigaes, empresa e seu exerccio, registros de interesse da

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    10

    empresa, livros comerciais e estabelecimento empresarial. E mais, estudaremos tambm as diversas espcies de sociedades empresariais.

    Teremos a oportunidade de estudar, na terceira Unidade, a Teoria Geral do Direito Cambirio e as principais modalidades de Ttulos de Crdito e Contratos Empresariais.

    Por fim, na quarta Unidade, dedicar-nos-emos ao conhecimento da Falncia e da Recuperao de Empresa.

    Ento, bons estudos! Qualquer dvida s procurar o auxlio do professor e/ou do tutor responsvel por sua turma.

    Professor Luiz Antnio Barroso Rodrigues

  • UNIDADE 1

    Objetivos Especficos de Aprendizagem

    Ao finalizar esta Unidade, voc dever ser capaz de:

    ff Conhecer as origens, a evoluo histrica e os institutos legais e

    jurdicos que regem o Direito Empresarial;

    ff Entender os conceitos e as noes jurdicas relativas s pessoas

    fsicas e jurdicas; e

    ff Identificar os conceitos, definies e espcies de atos, fatos e

    negcios jurdicos.

    Direito Empresarial

  • Unidade 1 Direito Empresarial

    Mdulo 5 13

    Caro estudante,

    Estamos iniciando a primeira Unidade de nosso curso de Direito Empresarial. Aqui, conforme voc viu nos objetivos, iremos abordar a definio de Direito Empresarial, originariamente chamado de Direito Comercial; sua evoluo histrica; os conceitos e as noes relativas s pessoas fsicas e jurdicas; e os conceitos, definies e espcies de atos, fatos e negcios jurdicos. Leia com ateno e no deixe de buscar auxlio para resoluo de suas dvidas.

    Desejo a voc bons estudos!

    Direito Empresarial

    Nos dias atuais, observamos certa estabilidade em torno do conceito de Direito Empresarial. Todavia, ao longo da histria, que ser mais detalhadamente abordada no prximo item, percebemos que muitas foram as transformaes sofridas por esse importante ramo do Direito Privado, inclusive em sua nomenclatura* que deixou de ser Direito Comercial para se chamar Direito Empresarial, esta ltima mais ampla e concatenada com a moderna noo de comrcio.

    Estritamente vinculada concepo de comrcio, suas prticas e seus atores, o Direito Comercial, hoje Empresarial, foi criado e desenvolvido para fomentar, tornar estvel e regulamentar as prticas a este inerentes e, em razo disso existe.

    Por Direito, dentre tantas definies possveis, variveis ao sabor das diversas escolas jurdicas, temos:

    Direito o conjunto das regras sociais que disciplinam as obrigaes e poderes referentes questo do meu e do seu, sancionadas pela fora do Estado e dos grupos

    intermedirios. (FRANA, 1994, p. 7).

    *Nomenclatura lista de

    nomes; nominata, catlo-

    go; terminologia (conjun-

    to de termos especficos

    ou sistemas de palavras).

    Fonte: Houiass (2009).

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    14

    E mais, Direito a ordenao bilateral atributiva das relaes sociais, na medida do bem comum (REALE, 2004, p. 59); e por fim, seria o Direito um complexo de normas jurdicas que regem as relaes sociais, num determinado tempo e lugar, em busca do bem comum e que tem ao seu servir o poder do Estado para fazer cumprir tais regras.

    No diferente dos conceitos supracitados, a definio de Direito Empresarial, preservando os preceitos inerentes noo bsica de Direito e acrescentando outros prprios e peculiares atividade comercial, empresarial ou mercantil, consiste segundo Diniz (2005, p. 274):

    [...] no conjunto de normas que regem a atividade empresarial; porm, no propriamente um direito dos empresrios, mas sim um direito para a disciplina da atividade econmica organizada para a produo e circulao de bens ou de servios; [Ento,] [...] para o ato ser regulado pelo direito comercial, no preciso seja praticado apenas por empresrios, basta que se enquadre na configurao de atividade empresarial. O direito comercial, empresarial ou mercantil disciplina no somente a atividade do comerciante, mas tambm

    indstrias, bancos, transportes e seguros.

    Nesse sentido, segundo Ramos (2008, p. 50), o Direito Empresarial consiste no:

    Regime jurdico especial destinado regulao das atividades econmicas e dos seus agentes produtivos. Na qualidade de regime jurdico especial, completa todo um conjunto de normas especficas que se aplicam aos

    agentes econmicos, hoje chamados de empresrios.

    O que corrobora com a definio anteriormente descrita.

  • Saiba mais Immanuel Kant (1724-1804)

    Filsofo nascido na cidade de Knigsberg,

    na Prssia (atual Kaliningrad, Rssia),

    formulou o imperativo categrico.

    Elaborou as bases de toda a tica moderna

    ao buscar fundamentar na razo os princpios gerais

    da ao humana. Fonte: . Acesso em: 26 abr. 2011.

    Unidade 1 Direito Empresarial

    Mdulo 5 15

    Evoluo Histrica do Direito Empresarial

    Conforme j estudado na disciplina Cincia Poltica, o homem um ser eminentemente gregrio*. Seja nas primitivas manifestaes nmades, at as complexas formaes sedentrias, viver em sociedade, mais que um instinto, corresponde a uma necessidade.

    A partir de tal premissa*, verificamos outra de igual valor, pois na vida em comunidade, e no fora dela, que se verifica a interao humana, ou seja, as relaes intersubjetivas. De tais relaes surgem fatos, estes sociais, que sero selecionados e valorados positiva ou negativamente, em face de sua importncia e repercusso social. Em razo de tal constatao, sero criadas normas, que regulamentaro de forma a estimular tais fatos, quando estes forem valorados positivamente (educao, sade, trabalho, comrcio etc.) ou que regulamentaro de forma a coibir tais prticas, quando estas forem valoradas negativamente (ilcitos penais, civis e administrativos).

    Ento, se na vida gregria que o homem potencializa a sua capacidade existencial (ou seja, esse o ambiente prprio ao desenvolvimento do ser humano, solo frtil reproduo eficaz de sua existncia), igualmente nela que se estabelecem os embates, pois que se trata de campo propcio ao surgimento de conflitos e, somente nele, faz-se presente a necessidade das normas, regulamentando e viabilizando a sociabilidade insocivel do homem (Kant).

    Da destacamos que, desde as remotas formaes grupais, estabelecer normas (padro comportamental imposto),

    *Gregrio que faz parte

    da grei ou rebanho; que

    vive em bando; que gosta

    de ter a companhia de

    outras pessoas; socivel.

    Fonte: Houaiss (2009).

    *Premissa ponto ou

    ideia de que se parte

    para armar um raciocnio.

    Fonte: Houaiss (2009).

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    16

    seja de cunho religioso, moral, de regra de trato social e de direito, sempre representou necessidade constante na existncia social.

    Breves Apontamentos Sobre a Histria do Direito Empresarial e suas Teorias

    O comrcio, prtica das mais antigas dentre as atividades humanas, sempre esteve presente nas sociedades, desde as mais rudimentares at as mais complexas. Basta retomar os ensinamentos de Histria, adquiridos no ensino fundamental, para lembrarmos de prticas como o escambo*, feiras livres, expedies ao Oriente, navegaes e tantas outras que definitivamente elevam o comrcio importante prtica social e econmica.

    Nesse contexto, fcil verificar a existncia de normas relativas s prticas comerciais, criadas pelas primeiras civilizaes, em que ganham destaque: o Cdigo de Hamurabi, o Cdigo de Manu, o Alcoro, a Bblia, a Lei das Doze Tbuas, entre outros. De todas as civilizaes, chama ateno o desenvolvimento atingido pelo comrcio entre os Fencios, que elevaram tal atividade ao mais alto grau de importncia naquela sociedade.

    Est claro, ento, que em qualquer sociedade, em menor ou maior grau, mas sempre presente, o comrcio apresenta-se como uma importante atividade que merece e precisa ser normatizada, de forma a regulamentar sua prtica, estimular a existncia dele e inibir condutas que possam desestrutur-lo.

    Na Antiguidade, conforme mencionado anteriormente, j existiam normas que regulamentavam as atividades comerciais. Nesse perodo, todavia, no se deve falar ainda da existncia de um Direito Comercial autnomo, com princpios, regras e institutos prprios e sistematizados, mas to somente na existncia de leis esparsas*, ao lado de tantas outras que, de forma geral, regulamentavam a vida em sociedade.

    *Escambo troca de

    mercadorias ou servios

    sem fazer uso de moeda.

    Fonte: Houaiss (2009).

    v*Esparsa de esparso,

    espalhado, espargido, solto,

    disperso. Fonte: Aurlio

    (2008).

    Para mais conhecimento

    acerca dessas leis, acesse:

    Cdigo de Hamurabi:

    ;

    Cdigo de Manu: ; Alcoro:

    ,

    Bblia: ; Lei das

    Doze Tbuas: .

    Acesso em 26 abr. 2011.

  • Unidade 1 Direito Empresarial

    Mdulo 5 17

    E voc sabe quando, de fato, surgiu o Direito Comercial?

    Foi s na Idade Mdia, em especial a partir do sculo XI, com as Corporaes de Ofcio, que o Direito Comercial comea a surgir enquanto sistema, apresentando princpios e normas prprios. Assim, ainda que de forma incipiente, dada descentralizao poltico-administrativa caracterstica da poca, mas j apresentando institutos sistematizados (embora especficos de cada Corporao), inicia-se a formao do Direito Comercial enquanto cincia autnoma.

    Conforme Restiffe (2006, p. 13):

    A origem do Direito Comercial encontra-se na Idade Mdia, mais especificamente nas cidades italianas que, no sculo XI, em decorrncia do hiato de autoridade centra-lizada, vcuo este que as corporaes, em especial as dos mercadores, souberam ocupar e, ante a expanso e o

    desenvolvimento do crdito, mereciam respaldo jurdico.

    J no fim da Idade Mdia, mais precisamente no perodo denominado baixa Idade Mdia, e incio da Idade Moderna, com a formao dos Estados Nacionais e o incio das Grandes Navegaes, incrementa-se ainda mais o Direito Comercial, s que agora no mais ditado por uma Corporao, mas sim pelo poder central de um Estado Absolutista.

    Ainda, de acordo com Restiffe (2006, p. 13):

    [...] a formao dos Estados monrquicos e soberanos, com a centralizao da atividade legislativa e judicial sob seu imprio, acabou por retirar das corporaes de mercadores as disposies acerca das regras relativas ao comrcio. Houve, na verdade, j na Idade Moderna, a nacionalizao do Direito Comercial.[...] Foi no incio da Idade Moderna que ocorreram as descobertas ultramarinas, decorrncia das grandes navegaes que, por sua vez, foram impulsionadas pela expanso comercial.

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    18

    A nacionalizao do Direito Comercial, particularmen-te em Frana, ensejou a regulamentao da atividade comercial, em especial da Ordennance sur le commerce de terre (Cdigo Savary) de 1673 e da Ordennance sur

    le commerce de mer de 1681.

    Com a Revoluo Francesa, em 1789, profundas transformaes ocorreram em todas as reas: social, poltica, jurdica, econmica etc., rompendo-se com os sistemas at ento reinantes e criando-se novos, adequando-se, ento, vigente estrutura. De acordo com Restiffe (2006, p. 13):

    A Revoluo Francesa de 1789 tornou imperativa a reforma da legislao comercial, de modo a romper com a tradio, que via no Direito Comercial um direito de classe, a dos comerciantes aspecto subjetivo, portanto , e passou a v-lo com carter objetivo, isto , como o direito dos atos do comrcio, tanto que se definia comerciante a partir de atos do comrcio. Nesse cenrio foi editado o Cdigo Comercial francs de 20/09/1807.

    Por quase um sculo os princpios e fundamentos adotados no Cdigo Comercial francs influenciaram os demais Cdigos Comerciais que o sucederam (espanhol 1829, portugus 1833, holands 1838, entre outros), at que em fins do sculo XIX, pressionados por inevitveis transformaes sociais, em especial, novas prticas comerciais (surgidas a partir da Revoluo Industrial), necessria fora a elaborao de novas regras, que acompanhassem o dinamismo das prticas comerciais. Nesse vis destacam-se o Cdigo Comercial alemo (1897) e, mais especificamente, o Cdigo Civil italiano (1949), os quais, contrapondo-se doutrina francesa de base objetiva fulcrada* na Teoria dos Atos de Comrcio, adotam concepes e fundamentos distintos ao desenvolverem uma Teoria Subjetiva Moderna (a alem fundada na pessoa do comerciante em sua atividade comercial e a italiana na empresa comercial).

    *Fulcrada de fulcro,

    ponto de apoio; susten-

    tculo, base. Fonte:

    Houaiss (2009).

  • Unidade 1 Direito Empresarial

    Mdulo 5 19

    Assim, aps esses breves apontamentos histricos, constatamos

    que trs so as fases pelas quais passou o Direito Comercial em

    sua evoluo. Vamos a elas.

    Num primeiro momento (sculo XI at XVIII), marcado pelas Corporaes de Ofcio ou Guildas, constatamos um direito pautado no corporativismo classista, seja dos mercadores, dos artfices, dos arquitetos, entre outros, que criavam suas regras (fundadas nos usos e costumes) e se submetiam a elas, baseavam-se num direito fechado e classista, no qual os conflitos eram solucionados pelos cnsules, membros eleitos dentre os pares, que julgavam os litgios sem grandes formalidades. Tal perodo corresponde ao subjetivo-corporativista.

    Em outro momento, j na Idade Moderna e sob a influncia do Iluminismo, em especial do liberalismo econmico, ps-Revoluo Francesa, temos o perodo objetivo, que tem no Cdigo Comercial francs de 1808 seu marco referencial. Durante essa fase, preconizada* pela burguesia, em que prepondera a liberdade de trabalho com a livre concorrncia e a livre iniciativa, o Direito Comercial marcado pelo direito dos atos de comrcio, aplicvel a qualquer um que praticasse os atos previstos em lei, tanto no comrcio e na indstria como em outras atividades econmicas, independentemente de classe (RAMOS, 2008, p. 38).

    Nessa segunda fase do direito comercial, podemos perce-ber uma importante mudana: a mercantilidade, antes definida pela qualidade do sujeito (o direito comercial era o direito aplicvel aos membros das Corporaes de Ofcio),

    passa a ser definida pelo objeto (os atos de comrcio).

    No final do sculo XIX (com o Cdigo Comercial alemo de 1897) e, de forma mais marcante em meados do sculo XX (com o Cdigo Civil italiano de 1942), nasce a Teoria Subjetiva Moderna Teoria da Empresa. Forjada a partir das incongruncias* do sistema anterior, incapaz de estabelecer uma teoria coerente dos atos

    *Preconizada de

    preconizar, apregoar com

    louvor, fazer apologia ou

    a propaganda de; recom-

    endar, aconselhar, pregar.

    Fonte: Houaiss (2009).

    *Incongruncia ausn-

    cia de congruncia, de

    conformidade, concordn-

    cia, harmonia, adequao,

    correspondncia, identi-

    dade etc. Fonte: Houaiss

    (2009).

  • vCaso queira relembrar

    o Pacto Colonial acesse:

    . Acesso em: 26

    abr. 2011.

    Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    20

    de comrcio que, paulatinamente, fora cedendo espao a outros fundamentos, in casu: hbridos, a Teoria Objetiva revelou-se imprpria para definir seu objeto (atos de comrcio) e para acompanhar a dinmica do mercado. A partir dessas constataes desenvolveu-se a Teoria da Empresa, com a qual se

    [...] pretende a transposio para o mundo jurdico de um fenmeno que scio-econmico: a empresa como centro fomentador do comrcio, como sempre foi, mas com um colorido com o qual nunca foi vista. (HENTZ

    apud RAMOS, 2008, p. 42).

    Nesse sentido,

    [...] para a teoria da empresa, o direito comercial no se limita a regular apenas as relaes jurdicas em que ocorra a prtica de um determinado ato definido em lei como ato de comrcio (mercancia). A teoria da empresa faz com que o direito comercial no se ocupe apenas com alguns atos, mas com uma forma especfica de exercer uma atividade econmica: a forma empresarial. (RAMOS, 2008, p. 43).

    Assim, a partir de tal concepo, o foco de ateno do Direito Comercial desvia-se dos atos de comrcio para a empresa.

    Evoluo Histrica do Direito Empresarial Brasileiro

    Como voc sabe, o Brasil, desde o seu descobrimento, foi marcado por ser uma colnia de explorao. Nesse tempo vigorava o Pacto Colonial imposto pela metrpole colnia, o qual estabelecia as regras mercantis ento vigentes (1500 a 1808). Caracterizado por ciclos de explorao, como o do pau-brasil, o do acar e o do ouro,

  • vLembra-se que vimos

    anteriormente os Cdigos

    Comerciais? Temos o

    espanhol de 1829, o

    portugus de 1833, e o

    holands de 1838, entre

    outros.

    Unidade 1 Direito Empresarial

    Mdulo 5 21

    tudo que era explorado e/ou produzido e comercializado na colnia passava pela prvia autorizao e rigorosa fiscalizao da metrpole.

    No que tange explorao do pau-brasil, do ouro ou da produo do acar, que caracterizou os ciclos supracitados, tal prtica era monoplio* da metrpole, somente exercida com sua autorizao e sob sua fiscalizao. Assim, tudo o que era extrado ou produzido tinha por destino a metrpole que adquiria tais produtos com preos e taxas por ela fixados. Com relao ao comrcio de produtos manufaturados, rigorosas tambm eram as regras impostas desde a proibio da produo de tais produtos na colnia e/ou sua aquisio de outros pases at a tributao exclusiva da metrpole.

    Trezentos anos se passaram sob a gide do Pacto Colonial, at que no incio do sculo XIX, com a expanso das conquistas napolenicas na Europa e a vinda da famlia real para a colnia (1808), que fora elevada categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves, tal pacto sucumbiu nova realidade, principalmente aps o decreto real de abertura dos portos s naes amigas

    [...] que incrementou o comrcio na colnia, fazendo com que fosse criada a Real Junta de Comercio, Agri-cultura, Fbrica e Navegao, a qual tinha, entre outros objetivos, tornar vivel a idia de criar um direito comer-cial brasileiro. (RAMOS, 2008, p. 45).

    No demorou muito tempo at que, aps a Independncia, foi constituda, em 1832, uma comisso com a finalidade de elaborar um projeto de Cdigo Comercial e, em 1834, tal projeto foi apresentado ao Congresso que, uma vez aprovado, foi promulgado em 25 de junho de 1850. Tratava-se da Lei n. 556.

    No diferente do que ocorreu em outros cdigos editados no mesmo perodo, citados anteriormente, o Cdigo Comercial brasileiro foi influenciado pela legislao francesa (1807), adotando a Teoria Objetiva, que tem nos atos de comrcio seu marco referencial.

    Todavia, algum tempo depois, essa teoria, que foi fundada nos atos de comrcio (Teoria Objetiva), sucumbiu dinmica do comrcio e no acompanhou, por ser limitada e casustica demais, a

    *Monoplio privil-

    gio legal, ou de fato, que

    possui uma pessoa, uma

    empresa ou um governo

    de fabricar ou vender

    certas coisas, de explorar

    determinados servios,

    de ocupar certos cargos.

    Fonte: Houaiss (2009).

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    22

    evoluo deste, cujas caractersticas eram cada vez mais complexas. Conforme Ramos (2008, p. 39), o

    Direito Francs e outros que seguiram aquele modelo jamais conseguiram erigir uma teoria coerente dos atos de comrcio, a qual pouco a pouco veio sendo abran-dada ou abandonada em favor de outros fundamentos, havendo resultado posteriormente, como ser visto, em alguns ordenamentos jurdicos, a um retorno ao critrio subjetivo, referenciado pessoa do empresrio.

    Ento, ainda com fundamento no mesmo autor:

    A noo de direito comercial fundada exclusiva ou preponderantemente na figura dos atos de comrcio, com o passar do tempo, mostrou-se uma noo total-mente ultrapassada, j que a efervescncia do mercado, sobretudo aps a Revoluo Industrial, acarretou o surgimento de diversas outras atividades econmicas relevantes, e muitas delas no estavam comprometidas no conceito de atos de comrcio ou de mercancia. (RAMOS, 2008, p. 41).

    Diante da j abordada e reconhecida limitao da Teoria Objetiva, adotada no Cdigo Comercial de 1850, e das sucessivas crticas a ela, a doutrina e a jurisprudncia nacional, principalmente aps a edio do Cdigo Civil italiano de 1942 (que adotara a Teoria da Empresa), foram, aos poucos, adaptando-se realidade irrefutvel das modernas concepes tericas.

    Em 2002, com a entrada em vigor do novo Cdigo Civil brasileiro, ocorre a total transio da Teoria Objetiva (francesa) para a Teoria da Empresa (italiana) revogando grande parte do Cdigo Comercial brasileiro e unificando, ainda que no plano formal, o direito privado nacional (direito civil e comercial). Nesse sentido, Ramos (2008, p. 48) esclarece que:

  • Unidade 1 Direito Empresarial

    Mdulo 5 23

    Ao disciplinar o direito de empresa, o direito brasileiro se afasta, definitivamente, da ultrapassada teoria dos atos de comrcio, e incorpora a teoria da empresa ao nosso ordenamento jurdico, adotando o conceito de empresa-rialidade para delimitar o mbito de incidncia do regime

    jurdico comercial.

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    Direito Empresarial

    24

    Pessoas ou Sujeitos de Direito

    A Religio, a Moral, as Regras de Trato Social e, em ltima instncia, o Direito, como instrumentos de controle e pacificao social, no tm existncia seno na sociedade, sendo o ser humano, em primeiro plano, seu destinatrio final.

    No campo estrito do Direito, cabe ressaltar que o ser humano no o nico ente a integrar a noo jurdica de pessoa, no estando esta reduzida naquele, ou melhor, no se encerra a noo de pessoa na concepo de ser humano. Este, pelo contrrio, uma espcie daquela, que o gnero. Nesse sentido, a pessoa, enquanto destinatria final das regras jurdicas, chama-se sujeito de direito, que pode ser tanto uma pessoa fsica, individual ou natural (ser humano), quanto uma pessoa jurdica, moral ou coletiva (empresa) (REALE, 2004).

    Em sua origem, a expresso pessoa remonta ao teatro romano, do latim, personae; na esclarecedora lio de Frana (1994, p. 45):

    Pessoa vem do latim persona-ae, que por sua vez tem a origem no verbo personare (per + sonare), que quer dizer soar com intensidade. Servia aquele vocbulo inicialmente para designar a mscara usada pelos atores teatrais, graas qual lhes era assegurado o aumento do volume da voz. Por analogia, passou a palavra a ser utili-zada no Direito para designar o ser humano, enquanto

    desempenha o seu papel no teatro da vida jurdica.

    Momentos especficos, ditados pelo ordenamento jurdico, marcam a existncia incio e fim da pessoa, que sujeito de direitos, ou seja, ente capaz de adquirir direito e contrair obrigaes

  • vConfira no Cdigo Civil os artigos citados na Lei n. 10.406, de 10 de janeiro

    de 2002, no stio: . Acesso em:

    26 abr. 2011.

    Unidade 1 Direito Empresarial

    Mdulo 5 25

    (artigo 1 Cdigo Civil). Nesse sentido, estritamente vinculado noo jurdica de pessoa est a ideia de personalidade, que representa a aptido genrica de ser sujeito de direitos; e, a de capacidade, que consiste na medida jurdica das atribuies da personalidade, em especial, na estrita aptido para adquirir direitos e exercer, por si ou por outrem, atos da vida civil. Assim, as noes que envolvem e permeiam as concepes de pessoa, personalidade e capacidade, no se excluem, pelo contrrio, completam-se.

    Por fim, em breve classificao, podemos observar espcies distintas de pessoas e diferentes formas e manifestaes de personalidade e de capacidade:

    1. Quanto s pessoas: conforme j visto, estas podem ser: natural, fsica ou individual, ou seja: o homem; ou, jurdica, moral ou coletiva, ou seja, o agrupamento humano visando fins e interesses comuns.

    2. Quanto personalidade: podem ser estas: jurdica, que igual para todos os homens, todos a tm na mesma medida; ou, natural, que ir variar de indivduo para indivduo, assim, teremos tantas personalidades naturais quantos foram os seres humanos existentes (tal noo est diretamente ligada Psicologia).

    3. Quanto capacidade: que pode ser natural ou jurdica e, esta ltima, de direito ou de fato. A capacidade natural est vinculada rea psquica, corresponde higidez (sade) mental do ser humano, j a capacidade jurdica, corresponde medida jurdica das atribuies da personalidade jurdica. Esta pode variar em capacidade de direito, oriunda da personalidade, para adquirir direitos e contrair obrigaes na vida civil; e, a capacidade de fato, que consiste na aptido de exercer por si os

    atos da vida civil (NUNES, 2003).

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    Direito Empresarial

    26

    Pessoa Natural, Fsica ou Individual

    O artigo 1 do Cdigo Civil em vigor reza que [...] toda pessoa capaz de direitos e deveres na ordem civil, diferentemente do que ocorria na legislao civil revogada de 1912, que dispunha em seu artigo 2 que [...] todo homem capaz de direitos e obrigaes. Nesse sentido, fez bem o legislador ao utilizar a expresso pessoa, mais abrangente e adequada ao contexto jurdico do que a palavra homem, que no se coadunava com o verdadeiro significado e amplitude da norma, pois, conforme j visto, a concepo jurdica de pessoa no se reduz a de ser humano, sendo aquela mais ampla.

    A pessoa natural corresponde criatura com vida que provenha de mulher, ou, numa possvel definio jurdica, ao ser humano, considerado como sujeito de direitos e obrigaes. A pessoa natural tem por termos inicial e final de sua existncia o nascimento com vida e a morte.

    Nesse sentido, conforme disposto no Cdigo Civil em seu artigo 2, [...] a personalidade civil da pessoa comea do nascimento com vida; mas a lei pe a salvo, desde a concepo, os direitos do nascituro, da que somente com o nascimento com vida, termo inicial de sua existncia, que o ser humano adquire personalidade, ou seja, torna-se apto a adquirir direitos e a contrair obrigaes. Devemos ressaltar, entretanto, que conforme mandamento legal, desde a concepo, a lei assegura os direitos, ou melhor, as expectativas de direitos do nascituro, que se confirmam se houver nascimento com vida; do contrrio, desintegram-se ou se desmentem como se nunca tivessem existido, como por exemplo o natimorto.

    No mesmo diapaso, mas em sentido diametralmente oposto, conforme disposto no artigo 6 do Cdigo Civil, in verbis: A existncia da pessoa natural termina com a morte [...], temos, ento, por termo final da existncia da pessoa humana a morte; e, semelhante ao que ocorre com o nascituro, a lei tambm assegura ao falecido proteo post mortem (por exemplo, reparao honra via processo judicial cvel e criminal, artigo 138, 2 do Cdigo Penal,

  • Unidade 1 Direito Empresarial

    Mdulo 5 27

    testamento etc.), isso por meio de terceiro legitimado (por exemplo, cnjuge, descendentes, ascendentes e irmo).

    Conforme disposto na lei civil, com o nascimento com vida a pessoa natural adquire personalidade que se encerra com a morte. Liga-se, assim, a pessoa ideia de personalidade. Pessoa, ento, a dimenso atributiva do ser humano, ou seja, a qualificao do indivduo como ser social enquanto se afirma e se correlaciona no seio da convivncia atravs de laos tico-jurdicos (REALE, 2004). J a personalidade exprime a aptido genrica para adquirir direitos e contrair obrigaes (DINIZ, 2005).

    Os direitos da personalidade so absolutos, intransmissveis, indisponveis, irrenunciveis, ilimitados, imprescritveis, impenhorveis e inexpropriveis. Tais direitos abrangem a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito indenizao por dano material ou moral (artigo 5, X, da Constituio Federal de 1988 e artigo 12 do Cdigo Civil), abrangendo tambm o nome e o pseudnimo (artigo 18 e 19 da Legislao Civil).

    Da concepo jurdica de personalidade flui a noo de capacidade que corresponde ao poder de exercer os direitos inerentes pessoa. Assim, para ser pessoa basta que o homem exista, nasa com vida, quando ento adquire personalidade, j para ser capaz o ser humano precisa preencher os requisitos necessrios, previstos em lei, para agir por si ou por outrem, como sujeito ativo ou passivo duma relao jurdica (DINIZ, 2005).

    Do estudo da capacidade jurdica fluem duas modalidades, uma chamada capacidade de fato e de exerccio, que aquela exercida pessoalmente pelo titular do direito ou do dever subjetivo; e outra que a capacidade de direito ou de gozo, que aquela nsita ao ente humano. Toda pessoa normalmente tem essa capacidade; nenhum ser pode ser privado do exerccio da capacidade de direito pelo ordenamento jurdico. O Cdigo Civil expressa enfaticamente no artigo 1 que [...] toda pessoa capaz de direitos e deveres na ordem civil. A capacidade de fato pressupe a de direito, mas esta pode subsistir independentemente daquela.

    Ainda sobre a capacidade, o ordenamento jurdico no se incumbiu de defini-la de forma estrita, limitando-se a enumerar os

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    Direito Empresarial

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    casos de capacidade e incapacidade absoluta e relativa, conforme expressamente previsto em lei.

    Nesse sentido, em conformidade com a Lei civil temos que: no artigo 5 encontram-se elencadas pessoas capazes para o exerccio de atos da vida civil, informando, no caput, que a menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada prtica de tais atos. No pargrafo nico do supracitado artigo, so citadas excees ao exerccio de tais atos, antes de completada a maioridade, no qual encontra disposto que, cessar, para os menores, a incapacidade:

    I pela concesso dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento pblico, independentemente de homologao judicial, ou por sentena do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;

    II pelo casamento;

    III pelo exerccio de emprego pblico efetivo;

    IV pela colao de grau em curso de ensino superior;

    V pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela exis-tncia de relao de emprego, desde que, em funo deles, o menor com dezesseis anos completos tenha

    economia prpria.

    Em sentido contrrio, no artigo 3 encontram-se enumerados os absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil, os quais so:

    I os menores de dezesseis anos;

    II os que, por enfermidade ou deficincia mental, no tiverem o necessrio discernimento para a prtica desses atos; e

    III os que, mesmo por causa transitria, no puderem

    exprimir sua vontade.

    Por fim, no artigo 4, enumerou a lei civil os relativamente incapazes a certos atos ou maneira de exerc-los, in casu:

  • Unidade 1 Direito Empresarial

    Mdulo 5 29

    I os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

    II os brios* habituais, os viciados em txicos, e os que, por deficincia mental, tenham o discernimento reduzido;

    III os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; e,

    IV os prdigos*.

    Deixando para lei especial a regulamentao da capacidade do silvcola, conforme pargrafo nico.

    Pessoa Jurdica, Moral ou Coletiva

    A pessoa jurdica a entidade constituda de homens (universitas personarum) ou bens (universitas bonorum), com existncia (vida), direitos, obrigaes e patrimnios prprios. O Cdigo Civil enumera as pessoas jurdicas e regulamenta aquelas que lhes so afetas (artigo 40 a 69).

    Para Maria Helena Diniz (2005, p. 517):

    Sendo o ser humano eminentemente social, para que possa atingir seus fins e objetivos une-se a outros homens formando agrupamentos. Ante a necessidade de perso-nalizar tais grupos, para que participem da vida jurdica, com certa individualidade e em nome prprio, a norma de direito lhes confere personalidade e capacidade jurdi-ca, tornando-os sujeitos de direito e obrigaes.Surge assim a pessoa jurdica, que a unidade de pessoas naturais ou de patrimnios que visa consecuo de certos fins, reconhecidos pelo ordenamento normativo

    como sujeito de direitos e obrigaes.

    Assim, a pessoa moral forma-se: 1. ou a partir de uma corporao, no caso, um conjunto de pessoas que, apenas

    *brio que ou aquele

    que est alcoolizado;

    bbedo; que ou aquele

    que se embriaga frequen-

    temente; que ou quem

    propenso bebida. Fonte:

    Houaiss (2009).

    *Prdigo que dissipa

    seus bens, que gasta

    mais do que o necessrio;

    gastador, esbanjador,

    perdulrio. Fonte: Houaiss

    (2009).

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    30

    coletivamente, goza de certos direitos e os exerce por meio de uma vontade nica (associao e sociedade); 2. ou, de um patrimnio personalizado destinado a um fim, reconhecido por lei (fundaes) (DINIZ, 2005).

    Na ordem jurdica nacional temos as Pessoas Jurdicas de Direito

    Pblico e as Pessoas de Direito Privado. Vamos s diferenas

    entre elas.

    As primeiras se dividem em Pessoas Jurdicas de Direito Pblico Externo (pases soberanos, Santa S e organizaes internacionais: Organizaes das Naes Unidas (ONU), Organizao dos Estados Americanos (OEA) etc.); e Pessoas Jurdicas de Direito Pblico Interno (representada pela Administrao Pblica direta: Unio, Distrito Federal, Estados, municpios; e, pela Administrao Pblica indireta: autarquias, fundaes pblicas, Agncias reguladoras e Agncias executivas). J as Pessoas Jurdicas de Direito Privado apresentam-se divididas em Fundaes particulares, Associaes, Organizaes religiosas, Sociedades civis ou simples, Sociedades comerciais ou empresariais, Partidos Polticos (artigo 44 do Cdigo Civil) e entidades estatais, representadas, estas, pelas empresas pblicas e sociedades de economia mista.

    No estudo sobre a natureza jurdica das pessoas morais, algumas caractersticas especficas so estabelecidas:

    I As pessoas jurdicas possuem uma existncia real (autonomia de personalidade e patrimonial); II A reali-dade das pessoas jurdicas se verifica no apenas no plano moral e jurdico, mas ainda no plano fsico; III As pessoas jurdicas, entretanto, no possuem uma vontade prpria, totalmente diversa da dos seus componentes; IV A vontade das pessoas jurdicas a resultante das vontades dos indivduos que a compem; e, V A perso-nalidade das pessoas jurdicas est na dependncia do direito positivo, ao reconhec-la o direito no a cria nem

  • Unidade 1 Direito Empresarial

    Mdulo 5 31

    a concebe, seno apenas atende a imperativos do direito.

    (FRANA, 1994, p. 66).

    Ainda sobre a natureza jurdica das pessoas coletivas, quatro teorias se destacam:

    1. Teoria da Fico legal, a qual entende que a pessoa jurdica seria uma fico, uma mera criao artificial da lei, pois s o ser humano de fato sujeito de direito; 2. Teoria da Equiparao: quer entender que a pessoa moral um patrimnio equiparado no seu tratamento jurdico s pessoas fsicas; 3.Teoria da Realidade objeti-va ou orgnica, admite que h junto s pessoas naturais (organismos fsicos) organismos sociais, constitudos pelas pessoas jurdicas, que tm existncia e vontade prpria distinta da de seus membros, com finalidade atingir um objetivo social; e, 4. Teoria da realidade das instituies jurdicas: estabelece, a partir da conjugao das teorias anteriores, com extrema propriedade que a pessoa moral

    uma realidade jurdica. (DINIZ, 2005, p. 518).

    Por fim, cumpre ressaltar que, assim como as pessoas naturais, as pessoas morais apresentam marco existencial (incio e fim), personalidade, capacidade e outras caractersticas que as tornam sujeitos de direitos e obrigaes.

    As pessoas jurdicas de direito privado apresentam duas fases no seu processo de criao, uma representada pelo ato constitutivo (escrito e preliminar) e outra pelo registro em cartrio. J as pessoas Jurdicas de Direito Pblico, em regra, apresentam determinado momento histrico no seu processo de criao (por exemplo a Constituio).

    Igualmente ao que ocorre com a pessoa fsica, a capacidade da pessoa coletiva flui da personalidade que a ordem jurdica lhe reconhece por ocasio de seu registro (marco de seu nascimento).

    Nesse sentido Diniz (2005, p. 522) esclarece que,

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    32

    [...] pode exercer todos os direitos subjetivos, no se limi-tando esfera patrimonial. Tem direito identificao; dotada de uma denominao e de uma nacionalida-de. Logo, tem direito personalidade (como o direito ao nome, liberdade, prpria existncia, boa reputao); direitos patrimoniais ou reais (ser proprietria, usufrutu-ria etc.); direito industriais (CF, artigo 5, XXIX); direitos obrigacionais (contratar, comprar, vender, alugar, etc.) e

    direitos sucesso, pois pode adquirir bens causa mortis.

    Em sentido contrrio, mas na mesma linha de raciocnio, temos o fim da pessoa moral que, em se tratando de Pessoa Jurdica de Direito Pblico, igualmente ao que ocorre no seu processo de formao, aqui tambm, sero fatores histricos que determinaro sua extino. J no que tange s Pessoas Jurdicas de Direito Privado, conforme descrito na lei, temos:

    ff pelo decurso do seu prazo de durao ou pela ocorrncia de evento definido (quando expressamente previsto);

    ff por dissoluo deliberada unanimemente por scios; ff por determinao legal; ff por ato governamental; e ff por dissoluo judicial.

  • Unidade 1 Direito Empresarial

    Mdulo 5 33

    Dos Fatos, dos Atos e dos Negcios Jurdicos

    Estabelecidas as noes jurdicas imprescindveis para a compreenso da concepo legal das pessoas, torna-se necessrio, nesse momento, situar as condutas destas no mundo jurdico, em especial na Teoria Geral do Direito.

    Nesse sentido, no cabe aqui conceituar as diversas modalidades ou analisar os elementos e/ou os requisitos formadores dos fatos jurdicos, mas to somente localiz-los na estrutura de classificao dos fenmenos jurdicos.

    Assim, aps a identificao dos fatos jurdicos como ente jurdico, cumpre situ-los no organograma geral da ontologia jurdica.

    Ento, ocupando-se a Teoria Geral do Direito do estudo dos traos formais dos fenmenos jurdicos, estruturou-se um sistema de abstrao e de classificao, gerando, a partir dele, uma hierarquia de princpios e mandamentos jurdicos de notvel valor lgico e, principalmente, individualizador de tais fenmenos.

    Nesse contexto, conforme j analisado, o Direito, ao recair sobre um fato social comum, transforma-o em um fato jurdico, fazendo este sofrer, desde ento, a sua incidncia e regulamentao. Portanto, a primeira classificao fornecida pela Teoria Geral do Direito a distino entre os fatos comuns, que no interessam ao Direito e os fatos jurdicos, que sofrem sua incidncia e produzem os efeitos que lhes so afetos e/ou correlatos.

    Fato jurdico , assim, todo fenmeno capaz de produzir consequncias jurdicas (por exemplo, ao fazer nascer, ao transformar, ao alterar ou ao extinguir direitos subjetivos); e relaes jurdicas. Para Frana (1994, p. 124) [...] so os acontecimentos em virtudes

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    34

    dos quais as relaes de direito nascem, bem como se modificam e se extinguem.

    Ento, em uma anlise detida do tema, constatamos que os fatos jurdicos dividem-se em duas grandes categorias: os naturais e as aes humanas. Estas tendo por gnesis a conduta humana intencional ou no; aquelas tendo por origem os fenmenos da natureza (terremotos, enchentes, tempestades etc.).

    As aes humanas se subdividem em aes humanas de efeitos voluntrios, em que a atividade da pessoa se alia vontade de produzir as consequncias jurdicas oriundas do mandamento legal tambm chamadas atos jurdicos, que se apresentam em duas modalidades:

    ff Atos jurdicos em sentido estrito: delineados pela lei, na forma, nos termos e nos efeitos, com a mnima margem de deliberao pelas partes.

    ff Negcio jurdico: caracterizado pela maior liberdade de deliberao das partes, na fixao dos termos e das decorrncias jurdicas, como nos contratos de locao, de compra e venda etc. Para sua validade a lei exige agentes capazes, objeto lcito e possvel e obedincia forma, esta

    ltima quando determinada por lei.

    Ainda em anlise aos fatos jurdicos, temos aqueles decorrentes de aes humanas de efeitos jurdicos involuntrios, em que o efeito jurdico produzido, independe da vontade do homem, ocorrendo por fora de lei; assim, o efeito jurdico no desejado pelo agente, mas ocorre por imposio legal, independentemente do querer humano. Dentre elas temos os ilcitos de natureza civil, administrativo e penal.

    Quanto ao ilcito penal, civil e administrativo no existe entre eles uma diferena substancial ou ontolgica. A diferena de natureza legal e extrnseca, residindo no grau de tutela dispensado ao bem da vida tutelado pelo ordenamento jurdico e na espcie de consequncia jurdica, advinda a partir da violao do mandamento legal.

  • Unidade 1 Direito Empresarial

    Mdulo 5 35

    Assim, para ilustrar, observe a Figura 1:

    Figura 1: Organograma dos Fatos Jurdicos Fonte: Elaborada pelo autor

    Complementando...Quer conhecer um pouco mais sobre as temticas estudadas? Pesquise as indicaes sugeridas:

    Histria do comrcio. Nesse artigo, voc pode conferir a evoluo histrica do comrcio e as suas prticas. Disponvel em: . Acesso em: 26 abr. 2011.

    O Pacto Colonial. Para mais conhecimento sobre o Pacto colonial acesse os stios: . Acesso em: 26 abr. 2011. e . Acesso em: 26 abr. 2011.

    Consideraes sobre personalidade, pessoa e os direitos da personalidade no Direito Civil Brasileiro. Para maior aprofundamento nas questes relativas s pessoas do direito, personalidade e capacidade, recomendamos o stio: . Acesso em: 26 abr. 2011.

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    36

    ResumindoConforme voc viu nesta Unidade, atualmente, observa-

    mos uma estabilidade em torno do conceito de Direito Empre-

    sarial. Este, estritamente vinculado concepo de comrcio, a

    suas prticas e aos seus atores, no passado denominado Direito

    Comercial, foi criado e desenvolvido para fomentar, tornar estvel

    e regulamentar as prticas inerentes ao comrcio e, em razo

    disso, existe.

    Vimos tambm que a definio de Direito Empresarial,

    preservado os preceitos necessrios noo bsica de Direito e

    acrescentando outros inerentes e peculiares atividade comer-

    cial, empresarial ou mercantil, consiste

    [...] no conjunto de normas que regem a atividade empre-sarial; porm, no propriamente um direito dos empre-srios, mas sim um direito para a disciplina da atividade econmica organizada para a produo e circulao de bens ou de servios. (DINIZ, 2005, p. 274).

    Uma das prticas mais antigas dentre as atividades

    humanas diz respeito ao comrcio que sempre esteve presente

    nas sociedades, desde as mais rudimentares at as mais comple-

    xas. Assim que, no decorrer da histria, constatamos que trs

    so as fases pelas quais passou o Direito Empresarial, em sua

    evoluo, a saber: Teoria Subjetivo-corporativista; Teoria Obje-

    tiva e Teoria Subjetiva Moderna (Teoria da empresa).

  • Unidade 1 Direito Empresarial

    Mdulo 5 37

    Ao longo desse estudo foram tambm apresentados

    conceitos especficos e muito importantes para compreenso

    das prximas Unidades, como a noo de pessoa, de persona-

    lidade e de capacidade e os conceitos de fatos, atos e negcios

    jurdicos.

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    38

    Atividades de aprendizagem

    1. Aps estudar atentamente a evoluo histrica do Direito Empresa-

    rial, discorra sobre as fases de transio dele e aborde suas peculia-

    ridades.

    2. Diferencie personalidade de capacidade. Em seguida, responda ao

    questionamento: possvel falarmos em capacidade jurdica inde-

    pendentemente de personalidade? Por qu? Justifique sua resposta.

    3. Fatos, atos e negcios jurdicos. D um exemplo para cada modali-

    dade.

    Preparamos para voc algumas atividades com o objetivo de recordar o contedo que voc estudou nesta Unidade. Em caso de dvida, no hesite em fazer contato com seu tutor.

  • Unidade 2 Direito de Empresa e Societrio

    Mdulo 5 39

    UNIDADE 2

    Objetivos Especficos de Aprendizagem

    Ao finalizar esta Unidade, voc dever ser capaz de:

    ff Conhecer as noes conceituais, tericas e legais necessrias para

    o conhecimento do Direito de Empresa e Societrio;

    ff Entender como o Direito aborda questes relativas noo de

    empresrio, de empresa, de estabelecimento comercial, de

    obrigaes profissionais dos empresrios; e

    ff Identificar as questes relativas compreenso das diversas

    espcies de sociedades empresariais e suas caractersticas.

    Direito de Empresa e Societrio

  • Unidade 2 Direito de Empresa e Societrio

    Mdulo 5 41

    Caro estudante,

    Estamos iniciando uma nova Unidade e, conforme voc pde constatar nos objetivos, trataremos de noes conceituais, tericas e legais, que so imprescindveis para a compreenso da temtica: Direito de Empresa e Societrio. Nesta Unidade, iremos abordar questes jurdicas relativas ao empresrio, empresa, ao estabelecimento empresarial, s obrigaes profissionais dos empresrios e, por fim, realizaremos uma anlise sistemtica e minuciosa das diversas espcies de sociedades empresariais. Leia-a com muita ateno e no deixe de contar com o auxlio dos tutores para dirimir possveis dvidas.

    Tenha ainda por certo que, embora vencida a primeira Unidade, os conhecimentos obtidos por meio dela no podem ser deixados de lado, pois eles so norteadores dos temas que sero estudados a partir de agora e, alm disso, esto estritamente vinculados.

    Nesse sentido, as noes pertinentes s temticas j abordadas, em especial o conceito de Direito Empresarial; a evoluo histrica dele e de suas teorias informadoras; e as pessoas do direito formaro a base de compreenso sobre a qual se assentaro todas as noes, conceitos e institutos que sero, agora, estudados por ns.

    Bons estudos!

    Direito de Empresa

    Da simples questo atinente nomenclatura, em especial, Direito Comercial versus Direito Empresarial, percebemos uma profunda implicao de ordem prtica e jurdica, na qual, a partir da evoluo das atividades comerciais e da necessidade de o direito acompanh-las, constatamos um profundo hiato, que fez com que o direito ampliasse sua rea de abordagem e, inclusive, a necessidade de mudar sua denominao.

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    42

    Dessa feita, a partir da vigncia do novo Cdigo Civil, de 10 de janeiro de 2002, que revogou toda a primeira parte do Cdigo Comercial de 1850, o comrcio passou a representar apenas uma das vrias atividades reguladas por um Direito mais amplo, o Direito Empresarial, que abrange o exerccio profissional de atividade econmica organizada para a produo ou para a circulao de bens ou servios, por exemplo: indstria, bancos, prestao de servios, atividade rural e outras.

    Hodiernamente, portanto, o direito comercial no cuida apenas do comrcio, mas de toda e qualquer atividade econmica exercida com profissionalismo, intuito lucrati-vo e finalidade de produzir ou fazer circular bens ou servi-os. Dito de outra forma: o direito comercial, hoje, cuida das relaes empresariais, e por isso alguns tm susten-tado que, diante dessa nova realidade, melhor seria usar a expresso direito empresarial. (RAMOS, 2008, p. 49).

    Em uma simples representao grfica, percebemos facilmente a relao que se estabelece entre o Direito Empresarial e o Direito Comercial. Nela, verificamos que o Direito Comercial est contido no Direito Empresarial, ento:vPara voc ter uma noo da importncia

    da empresa e do direito

    de empresa no mundo

    atual, assista vdeoaula

    do professor Gladston

    Mamede. Disponvel em:

    .

    Acesso em: 26 abr. 2011.

    Figura 2: Relao entre o Direito Empresarial e o Direito Comercial Fonte: Elaborada pelo autor

  • Unidade 2 Direito de Empresa e Societrio

    Mdulo 5 43

    Assim, conforme j analisado por Diniz (2005, p. 274), o Direito Empresarial pode ser definido como

    [...] o conjunto de normas que regem a atividade empre-sarial; porm, no propriamente um direito dos empre-srios, mas sim um direito para a disciplina da atividade econmica organizada para a produo e circulao de bens ou de servios [ento,] [...] para o ato ser regula-do pelo direito comercial, no preciso seja praticado apenas por empresrios, basta que se enquadre na confi-gurao de atividade empresarial. O direito comercial, empresarial ou mercantil dis ciplina no somente a ativi-dade do comerciante, mas tambm indstrias, bancos,

    transportes e seguros.

    Dessa forma, verificamos a total compatibilidade dos ensinamentos tericos com a representao grfica apresentada.

    O Empresrio

    Caro estudante, a partir das transformaes pelas quais passou

    o Direito Comercial (Empresarial), constatamos uma variao

    natural dos critrios definidores de Comerciante (Empresrio).

    A ttulo de exemplo, com a edio do Cdigo Civil de 2002,

    tornam-se ultrapassadas as noes de comerciante e de ato

    de comrcio, as quais foram superadas pelos conceitos de

    empresrio e de empresa. Vamos agora ver detalhadamente a

    evoluo desses conceitos.

    No campo estrito da conceituao de empresrio, o revogado Cdigo Comercial de 1850 adotava, como j vimos, a Teoria dos Atos de Comrcio, que se baseava na atividade desenvolvida, pautando-se na constatao da prtica de atos de comrcio,

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

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    estes os estritamente definidos em lei, como critrio identificador do comerciante. Com o advento do Cdigo Civil de 2002, foi implementada a Teoria da Empresa, esta de origem italiana, a qual foi desenvolvida para corrigir falhas e limitaes da teoria anterior e identifica o empresrio, no necessariamente pela espcie de atividade praticada, mas pela estrutura organizacional adotada, relevncia social da atividade desenvolvida e atividade econmica organizada para o fim de colocar em circulao mercadorias e servios.

    Superado em muito pela prtica, os limites circunscritos pela expresso comerciante foram ultrapassados e, atualmente, a palavra empresrio a que melhor abrange a atividade econmica daqueles que atuam de forma organizada para a produo ou para a circulao de bens, assim como para a prestao de servios.

    O Cdigo Civil de 2002, em seu artigo 966, prescreve: [...] considera-se empresrio quem exerce profissionalmente atividade econmica organizada para a produo ou a circulao de bens ou servios. A partir da definio legal identificamos elementos constitutivos da noo de empresrio:

    ff Profissionalmente: consiste em fazer do exerccio de determinada atividade econmica sua profisso habitual.

    ff Atividade econmica: consiste numa atividade exercida com o intuito de lucro.

    ff Organizao: consiste na capacidade de articular os fatores de produo (capital, mo de obra, insumos e tecnologia).

    ff Produo e circulao de bens e servios: consiste em abranger, a princpio, todas as atividades que agreguem as caractersticas anteriormente citadas, diferentemente do que ocorria na Teoria dos Atos de Comrcio, que limitava o mbito de abrangncia do regime jurdico comercial a determinadas atividades econmicas elencadas na lei.

    [...] a teoria da empresa, como critrio delimitador do mbito de incidncia do direito empresarial, superou uma grande deficincia da antiga teoria dos atos de

  • Unidade 2 Direito de Empresa e Societrio

    Mdulo 5 45

    comrcio, a qual acarretava um tratamento anti-isonmi-co dos agentes econmicos, na medida em que certas atividades, como a prestao de servios e a negociao imobiliria, eram excludas do regime jurdico comer-cial, fazendo com que seus exercentes no gozassem das mesmas prerrogativas conferidas queles abrangidos

    pelo direito comercial de ento. (RAMOS, 2008, p. 65).

    Por mais abrangente que seja a Teoria da Empresa, por fora de lei pargrafo nico do artigo 966, artigos 971, 982 e 984 , todos do Cdigo Civil, algumas atividades econmicas no foram acolhidas em seu mbito de tutela, in casu:

    1. prestao de servio de forma direita e profissionais intelectuais (advogados, mdicos, professores e outros profissionais liberais), enquanto o exerccio da profisso no constituir elemento de empresa;

    2. exercentes da atividade rural, quando no registrados na Junta Comercial, por desenvolverem uma atividade de natureza familiar; e

    3. cooperativas, ainda que exeram uma atividade empresarial de forma organizada e com o intuito de lucro, o legislador,

    por opo poltica, regulamentou que a cooperativa sempre uma sociedade simples.

    A Empresa

    Em uma primeira impresso, de ordem semntica, o signo empresa nos remete ideia de estabelecimento comercial (substantivo concreto). Todavia, em anlise mais atenta, constatamos que aquela expresso est vinculada a um sentido de atividade (conceito abstrato) em especial, economicamente organizada. Assim, o empresrio exerce a empresa.

    vConfira estes artigos na Lei n. 10.406/2002 acessando: . Acesso em:

    29 nov. 2010.

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    Direito Empresarial

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    [...] empresa uma atividade econmica organizada com a finalidade de fazer circular ou produzir bens ou servios. Empresa , portanto, atividade, algo abstrato. Empresrio, por sua vez, quem exerce empresa. Assim, a empresa no sujeito de direito. Quem sujeito de direito o titular da empresa. Melhor dizendo, sujeito de direito quem exerce empresa, ou seja, o empresrio, que pode ser pessoa fsica (empresrio individual) ou pessoa

    jurdica (sociedade empresarial). (RAMOS, 2008, p. 62).

    Nesse sentido, os termos: empresa, empresrio, sociedade empresarial e estabelecimento comercial so noes que, embora estejam estritamente relacionadas, no se confundem, sendo o primeiro um exerccio, uma atividade econmica organizada; o segundo, a pessoa fsica; o terceiro, a pessoa jurdica, que exerce tal atividade, representa o sujeito/agente de direitos e obrigaes; e, o quarto, o local onde se exerce a atividade empresarial, conforme disposto no artigo 1.142 do Cdigo Civil, o complexo de bens corpreos (instalaes, mquinas, mercadorias etc.) e incorpreos (marcas e patentes) reunidos pelo empresrio para o desenvolvimento de sua atividade empresarial.

    Conforme o artigo 1.142 do Cdigo Civil: a empresa uma atividade econmica organizada; o empresrio a pessoa fsica que exerce tal atividade, o sujeito/agente de direitos e obrigaes; a sociedade empresarial a pessoa jurdica que exerce tal atividade, o sujeito/agente de direitos e obrigaes; e o estabelecimento empresarial/comercial o local onde se exerce tal atividade, e mais, o complexo de bens corpreos e incorpreos, reunidos pelo empresrio para o desenvolvimento de sua atividade empresarial.

  • Unidade 2 Direito de Empresa e Societrio

    Mdulo 5 47

    Exerccio de Empresa

    A atividade empresarial pode ser exercida pelo empresrio individual, pessoa fsica que desenvolve atividade econmica organizada para produo e/ou circulao de bens e prestao de servios; ou pela sociedade empresarial, pessoa jurdica de direito privado, constituda por meio de contrato celebrado entre duas ou mais pessoas, que se obrigam a combinar esforos e recursos para atingir fins comuns, e que tem por objetivo social a explorao de atividade econmica. Cabe ressaltar que a noo de empresrio individual e a de scio no se confundem, pois este diz respeito ao empreendedor ou ao investidor (acionista ou cotista), que no exerce empresa, atividade que cabe sociedade empresarial; e aquele o profissional que exerce a empresa.

    Em referncia especfica ao empresrio individual, reza o Cdigo Civil, em seu artigo 972 que [...] podem exercer a atividade de empresrio os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e no forem legalmente impedidos para tanto. A partir dessa redao, constatamos que foram estabelecidos dois critrios para o exerccio de empresa: um primeiro pautado na capacidade civil e outro fundado na inocorrncia de proibies, expressamente previstas em lei.

    No que tange capacidade civil, em regra, para o exerccio de empresa necessrio que o indivduo possua idade igual ou superior a 18 anos e seja mentalmente so, ou seja, apresente capacidade de compreender e autodeterminar-se (RESTIFFE, 2006).

    Todavia, a lei prev hipteses que possibilitam o exerccio de empresa independentemente de reunir a pessoa tais requisitos idade e/ou sanidade mental , nesses casos pode o incapaz, em razo de menoridade e/ou insanidade mental, ser representado (incapacidade absoluta) ou assistido (incapacidade relativa), conforme previsto no artigo 974 do Cdigo Civil: [...] poder o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herana.

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    Direito Empresarial

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    Nessas hipteses cumpre notar:

    1. autorizao judicial que dever observar o interesse do incapaz e a convenincia da continuidade do negcio, em conformidade com o 1 do artigo 974, via alvar judicial e que poder ser revogado a qualquer tempo, desde que devidamente fundamentado pelo magistrado;

    2. estrita vinculao ao exerccio individual de empresa;

    3. incomunicabilidade dos bens j possudos pelo incapaz, que no se sujeitaro ao resultado da empresa, conforme dispe o 2 do artigo 974; e

    4. esteja diretamente relacionado conti nuao da atividade empresarial e jamais para que se inicie o exerccio de tal atividade, assim, ou (4.a) o empresrio j exercia atividade empresarial, sendo a incapacidade

    superveniente; ou (4.b) a atividade empresarial era exercida por outrem, de quem o incapaz adquire a titularidade de exerccio da atividade empresarial por sucesso causa mortis.

    Esta ltima possibilidade de sucesso representa uma inovao no Cdigo Civil de 2002, sem precedente no Cdigo Comercial de 1850 que, no caso, quando do falecimento do comerciante em nome individual, sem deixar herdeiros capazes, a soluo era a liquidao do negcio, com apurao dos resultados.

    Ainda quanto capacidade civil, pode o incapaz, menor de 18 e maior de 16 anos de idade, ser emancipado, hiptese prevista no artigo 5, inciso I do Cdigo Civil; no se trata de uma exceo, autorizada pelo juiz, conforme estudado no item anterior, mas de uma antecipao de capacidade, concedida pelos pais, ou por um deles na ausncia do outro, mediante escritura pblica, independentemente de homologao do juiz. Na ausncia de ambos, pode o juiz conceder a emancipao por sentena, ouvido o tutor do menor. Outros casos de antecipao de capacidade emancipao podem ser citados, a saber: casamento, exerccio efetivo de emprego pblico, colao de grau em curso de ensino superior, constituio de estabelecimento civil ou empresarial e emprego que importa economia prpria.

  • Unidade 2 Direito de Empresa e Societrio

    Mdulo 5 49

    A emancipao irrevogvel e definitiva. Por derradeiro, cabe ressaltar que nas duas hipteses - tanto a autorizao judicial para o exerccio da atividade empresarial, como na emancipao - devero ser estas averbadas (registradas) na Junta Comercial, conforme artigo 976 do Cdigo Civil.

    No que concerne s proibies, expressamente previstas em lei para o exerccio de atividade empresarial, devem ser observados diversos casos de impedimento legal, dentre os quais destacamos:

    ff falidos no reabilitados;ff leiloeiros e corretores; ff servidores pblicos no exerccio de atividade pblica; ff estrangeiros e sociedades sem sede no Brasil para algumas atividades como a empresa jornalstica e de radiodifuso;

    ff devedores do INSS; ff mdicos, no exerccio simultneo de farmcia; eff cnjuges casados sob o regime de comunho universal de bens ou da separao obrigatria.

    importante ressaltar que de acordo com Ramos (2008, p. 73) quem exerce atividade empresarial violando impedimento, responder pelas obrigaes contradas (artigos 973 do Cdigo Civil); e mais

    [...] a proibio para o exerccio de empresa, no sendo vedado, pois, que alguns impedidos sejam scios de sociedades empresrias (desde que no ocupem cargo de administrao, controle e desde que no sejam majorit-rios), uma vez que, nesse caso, quem exerce a atividade

    empresarial a prpria pessoa jurdica, e no seus scios.

  • vSobre registros de

    interesse da empresa e

    sua legislao, veja a Lei n.

    8.934/94. Disponvel em:

    . Acesso em: 26 abr.

    2011. Confira tambm

    o Decreto n. 1.800/96.

    Disponvel em: . Acesso em: 26 abr.

    2011. E, por fim, conhea

    a Lei 9.279/96. Disponvel

    em: . Acesso em:

    26 abr. 2011.

    Visite o stio do

    Departamento Nacional

    de Registro de Comrcio

    (DNRC). Disponvel em:

    . Acesso em: 26 abr.

    2011. Conhea tambm o

    stio da Junta Comercial.

    Disponvel em:

    ou . Acesso em: 26

    abr. 2011.

    Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    50

    Obrigaes dos Empresrios

    Muitas so as obrigaes impostas aos empresrios, sejam de ordem moral, sejam de ordem legal. As obrigaes morais, embora to importantes quanto s legais, no so objeto de estudo do presente trabalho. Quanto s obrigaes legais, so estas impostas pelas leis empresariais, trabalhistas, ambientais, tributrias, administrativas, em todas as esferas de descentralizao administrativa (federal, estadual e municipal).

    Dentre as obrigaes estritamente impostas pela legislao empresarial, destacam-se as relativas ao devido registro da empresa junto aos rgos competentes; regular escriturao e guarda dos livros empresariais; elaborao de balano patrimonial periodicamente, no mnimo anual; as concernentes ao nome comercial, ao estabelecimento empresarial e ao ponto comercial; observao e respeito s regras de livre concorrncia e inviolabilidade da propriedade industrial, entre outras.

    Registros de Interesse da Empresa

    Em ateno legislao vigente, destacamos duas modalidades de registros de interesse da empresa, a primeira relativa ao Registro do Comrcio, previsto na Lei n. 8.934, de 18 de novembro de 1994, regulamentada pelo Decreto n. 1.800, de 30 de janeiro de 1996; e outra relativa ao Registro da Propriedade Industrial, previsto na Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996.

    Quanto ao Registro do Comrcio, a legislao em vigor prev o Sistema Nacional de Empresas Mercantis (SINREM), formado pelo Departamento Nacional de Registro de Comrcio (DNRC), rgo que integra o Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior, responsvel pela superviso, orientao, coordenao e normatizao, no plano tcnico, e, supletiva, no plano administrativo, com abrangncia nacional; e as Juntas Comerciais,

  • Unidade 2 Direito de Empresa e Societrio

    Mdulo 5 51

    rgos locais (com abrangncia estadual), responsveis pela execuo e administrao dos servios de registro. Assim, devidamente inscrita no Sistema Nacional, a empresa ter seu Nmero de Identificao do Registro de Empresas NIRE.

    O SINREM apresenta-se estruturado, como mostra a Figura 3:

    Figura 3: Estrutura do SINREM Fonte: Elaborada pelo autor

    Nesse sentido, igualmente ao que ocorre com a pessoa natural, que dever ter registrado no Cartrio de Registro Civil todos aos fatos marcantes da sua existncia, desde o nascimento at o bito, perpassando por diversos outros fatos relevantes de sua vida, como: emancipao, casamento, separao, divrcio, interdies etc., ao empresrio individual e sociedade empresarial tambm se instituem um registro pblico. Este constitudo pelo Registro de Comrcio, conforme previsto no artigo 967 do Cdigo Civil, levado a efeito pela Junta Comercial, rgo de publicidade, responsvel pelo registro das empresas mercantis e atividades afins, conforme previsto na Lei n. 8.934/94. O registro compreende: a matrcula, que consiste no registro dos auxiliares do comrcio; o arquivamento, que consiste no registro relativo constituio, alterao, dissoluo e extino de firmas mercantis individuais e sociedades mercantis; a autenticao

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    Direito Empresarial

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    de escriturao e documentos mercantis refere-se ao livro mercantil, que deve ser levado Junta Comercial para ser autenticado; e o assentamento de usos e costumes comerciais, entre outras atribuies.

    Importante ainda ressaltar que, embora exista uma exigncia legal relativa ao registro das pessoas, sejam elas natural ou empresarial, o fato destas no terem sido registradas no lhes priva de existncia. Assim, apresentar, nesses casos, o empresrio individual ou a sociedade empresarial uma existncia de fato (por exemplo: sociedade sem contrato social escrito) ou irregular (por exemplo: sociedade com contrato firmado, porm no registrado na Junta Comercial). Em que pesem as distines terminolgicas entre empresrio de fato e irregular, no existem distines prticas, notadamente quanto s consequncias do regime jurdico a ser aplicado a ambos.

    Saliente-se, porm, que a inscrio, embora seja uma formalidade legal imposta pela lei a todo e qualquer empresrio ou sociedade empresria com exceo da situao dos exercentes de atividade rural, como visto no requisito para a caracterizao do empresrio e sua consequente submisso ao regime jurdico empresarial. Quer-se dizer com isso que caso o empresrio ou a socie-dade empresria no se registrem na Junta Comercial antes do incio de suas atividades, tal fato no implicar a sua excluso do regime jurdico empresarial nem far com que eles no sejam considerados, respectivamente, empresrio individual e sociedade empresria. Afinal, conforme disposto no enunciado n 199 do CJF, aprova-do na III Jornada de Direito Civil, inscrio do empres-rio ou sociedade empresria requisito delineador de sua regularidade, e no de sua caracterizao. Sendo assim, se algum comea a exercer profissionalmente ativida-de econmica organizada de produo ou circulao de bens ou servios, mas no se registra na Junta Comercial, ser considerado empresrio e se submeter s regras do regime jurdico empresarial, embora esteja irregular, por isso, algumas conseqncias, como a impossibilidade de

  • Unidade 2 Direito de Empresa e Societrio

    Mdulo 5 53

    requerer recuperao judicial, por exemplo, (artigo 48 da

    Lei n. 11.101/05). (RAMOS, 2008, p. 79).

    Conforme disposto no artigo 968 e respectivos pargrafos do Cdigo Civil de 2002,

    [...] a inscrio do empresrio far-se- mediante reque-rimento que contenha: I o seu nome, nacionalidade, domiclio, estado civil e, se casado, o regime de bens; II a firma, com a respectiva assinatura autgrafa;

    III o capital; e, IV o objeto e a sede da empresa.

    O 1o prev que, com as indicaes estabelecidas nesse artigo, a inscrio ser tomada por termo no livro prprio do Registro Pblico de Empresas Mercantis e obedecer a nmero de ordem contnuo para todos os empresrios inscritos. E o 2o estabelece que [...] a margem da inscrio, e com as mesmas formalidades, sero averbadas quaisquer modificaes nela ocorrentes.

    Cumpre, por fim, destacar que a firma individual ou a sociedade empresarial que, durante dez anos consecutivos, no arquivar nenhuma alterao contratual ou no comunicar Junta Comercial que se encontra em atividade, ser considerada inativa, tendo seu registro cancelado (artigo 60 da Lei de Registros Pblicos das Empresas Mercantis e atividades afins).

    O Registro da Propriedade Industrial, conforme Lei n. 9.279/96, prev que as invenes, modelos de utilidade, desenhos industriais, marcas, patentes e outros bens incorpreos so tutelados por meio do chamado Registro da Propriedade Industrial.

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    Direito Empresarial

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    Livros Empresariais

    Reza o artigo 1.179 do Cdigo Civil que

    [...] o empresrio e a sociedade empresria so obriga-dos a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou no, com base na escriturao uniforme de seus livros, em correspondncia com a documentao respectiva, e a levantar anualmente o balano patrimonial e o de resul-tado econmico.

    Assim, conforme vimos antes, obrigao imposta a todo empresrio, seja individual ou sociedade empresria, o dever de manter de forma regular, detalhada e peridica um sistema de escriturao contbil, alm de levantar, anualmente, dois balanos financeiros: o patrimonial e o de resultado econmico. Tais livros apresentam tamanha importncia que o Cdigo de Processo Civil (artigos 378 e 379) lhes confere eficcia probatria* e a Legislao Penal (artigo 297, 2 do Cdigo Penal) os equipara a documento pblico.

    So consequncias da escriturao irregular:

    ff o empresrio no poder promover ao de verificao de contas para fins de instrumentalizar pedido de falncia com base na impontualidade;

    ff presumir-se-o como verdadeiros os fatos alegados pela parte contrria, referente aos fatos que os livros comerciais fariam prova, como decorrncia do disposto no artigo 378 do Cdigo de Processo Civil; e

    ff a configurao de crime falimentar.

    Da legislao aplicvel matria, constatamos duas espcies de livros empresariais: os obrigatrios, que podem ser subdivididos em comuns e especiais, e os facultativos. Tais espcies de livros iro variar em razo da atividade empresarial exercida e do tipo societrio escolhido (RESTIFFE, 2006, p. 30).

    *Probatrio referente

    prova; que contm prova;

    que serve de prova. Fonte:

    Houaiss (2009).

  • Unidade 2 Direito de Empresa e Societrio

    Mdulo 5 55

    E voc sabe o que significa livros obrigatrios? Vamos entender,

    ento, o significado deles.

    Os Livros obrigatrios so aqueles cuja escriturao deve ser impreterivelmente observada pelos empresrios. Eles se apresentam divididos em duas espcies. Os comuns so aqueles cuja escriturao imposta a todos os empresrios, sem qualquer distino, e sua ausncia implica sano. Nossa legislao prev apenas uma espcie, o Dirio (artigo 1.180 do Cdigo Civil). Cumpre observar que o Dirio pode ser substitudo por fichas no caso de ser adotada escriturao mecanizada ou eletrnica (artigo 1.181 do Cdigo Civil) ou por livros Balancete Dirio e Balano, quando o empresrio adotar o sistema de fichas de lanamentos (artigo 1.185 do Cdigo Civil).

    Alguns julgados (decises judiciais) entendem que so tambm livros comuns obrigatrios o Registro de Compras e o Registro de Inventrio. Os especiais so aqueles cuja escriturao imposta a determinada categoria de empresrios, a exemplo do Livro de Registro de Duplicatas, que exigido somente para aqueles que trabalhem com emisso de duplicata mercantil (venda com prazo superior a 30 dias); Livro de Registro de Atas da Assembleia e Livro de Registro de Transferncia de Aes Nominativas, no caso de sociedades annimas; Livro de Entrada e Sada de Mercadorias, em se tratando de armazns gerais; Livro de Balancetes Dirios, no caso de casas bancrias; e outros, especficos do tipo de determinadas empresas ou atividades exercidas.

    Uma vez que j conhecemos o conceito de livros obrigatrios,

    vamos tratar agora sobre os Livros Facultativos.

    Os Livros Facultativos so aqueles que tm por objetivo auxiliar o empresrio no desenvolvimento de suas atividades econmicas. Por exemplo: Livro Caixa, no qual se controla a entrada e a sada de dinheiro; Razo, que classifica o movimento das

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    Direito Empresarial

    56

    mercadorias; Borrador, que funciona como um rascunho do dirio; Conta Corrente, que usado para as contas individualizadas de fornecedores ou clientes; e, ainda, Estoque, Copiador de Cartas, Copiador de Faturas etc.

    Outros livros so tambm exigidos do empresrio individual ou da sociedade empresria, por determinao de lei trabalhista, fiscal e previdenciria, todavia no se incluem estes dentre os previstos pelo Direito Empresarial.

    Para que a escriturao mercantil seja regular e produza os efeitos jurdicos previstos em lei, devem os livros observar as formalidades extrnsecas, referentes autenticao deles, bem como formalidades intrnsecas, referentes ao modo como devem ser escriturados (RESTIFFE, 2006, p. 29).

    Por fim, destacamos o tratamento dispensado s Microempresas (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP), empreendimentos que devem ter tratamento simplificado e so diferenciados de acordo com o faturamento bruto anual. Assim, quanto escriturao, encontramos duas situaes distintas relativas a esses empreendimentos:

    ff Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, optantes pelo SIMPLES, tero como obrigatrios o livro-caixa e o registro de inventrio.

    ff Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, no optantes pelo SIMPLES, esto liberadas da autenticao de livros (artigo 1.179 do Cdigo Civil), mas devem manter em boa ordem e guarda os documentos que servem de base para escriturao.

    Estabelecimento Empresarial

    Anteriormente denominado fundo de comrcio, o estabelecimento empresarial era matria originariamente abordada somente pela doutrina. Atualmente, encontra-se regulamentada pelo Cdigo Civil, em seu artigo 1.142 que dispe: [...] considera-se

  • Unidade 2 Direito de Empresa e Societrio

    Mdulo 5 57

    estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exerccio da empresa, por empresrio, ou por sociedade empresria. Da, constatamos que o estabelecimento compreende o conjunto de bens corpreos (instalaes, mquinas, mercadorias etc.) e incorpreos (ponto, nome, marcas, patentes, clientela, know-how*, contratos etc.) organizados sistematicamente pelo empresrio ou pela sociedade mercantil para e no exerccio de sua atividade empresarial.

    Quanto suscitada organizao sobre a qual se estrutura o conjunto de bens materiais e imateriais que formam o estabelecimento, verificamos que esta influenciar decisivamente na valorao financeira de tais bens, que valero mais em conjunto do que isoladamente.

    Importante, ainda, destacar que o estabelecimento e o ponto comercial so noes que no se confundem, estando este compreendido naquele, ou seja, o estabelecimento, conforme visto, no apenas o ponto, o local em si considerado, mas todo o complexo conjunto de bens materiais e imateriais, reunidos e organizados, que viabilizam o exerccio da atividade empresarial. Nesse mesmo sentido, no se pode tambm confundir o estabelecimento empresarial com o patrimnio do empresrio, conforme Ramos (2008):

    [...] v-se, pois, que nem todos os bens que compem o patrimnio so, necessariamente, componentes tambm do estabelecimento empresarial, uma vez que, para tanto, ser imprescindvel que o bem, seja ele material ou imate-rial, guarde um liame com o exerccio da atividade-fim do empresrio. Esta distino percebida com mais facilidade quando analisamos a figura do empresrio individual. Com efeito, o patrimnio do empresrio individual que pessoa fsica constitudo de todos os bens, direito e tudo mais que seja de sua titularidade. O seu patrimnio, portanto, engloba tanto aqueles bens usados para o exerccio da atividade empresarial quanto os seus bens particulares, no afetados ao exerccio da empresa. O estabelecimen-to empresarial desse empresrio individual, entretanto, corresponde apenas queles bens materiais ou imate-

    *Know-how palavra da

    lngua inglesa que significa

    o conhecimento tcnico

    profundo para efetuar

    determinados processos

    ou procedimentos. o

    nvel de habilidade profis-

    sional que mais cria valor.

    Fonte: Lacombe (2004).

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    58

    riais que estejam afetados ao desenvolvimento de suas atividades econmicas. [...] Nas sociedades empresrias, a distino deveras mais difcil, uma vez que, em tese, todos os bens da sociedade estaro, provavelmente, afetados ao exerccio da empresa. Mas pode-se pensar, por exemplo, no caso de uma grande sociedade possuir um imvel que funcione como uma sede social ou um clube para o lazer de seus funcionrios. Neste caso, o imvel pertence ao patrimnio da sociedade, mas no integra o seu estabelecimento empresarial, posto no estar afetado ao exerccio de sua atividade fim. (RAMOS, 2008, p. 111, grifo nosso).

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    Mdulo 5 59

    Direito Societrio

    Conceito, Espcies e Classificao

    As pessoas jurdicas, entidades constitudas de homens (universitas personarum) ou de bens (universitas bonorum), com existncia (vida), direitos, obrigaes e patrimnio prprios, foram regulamentadas a partir do artigo 40 do Cdigo Civil de 2002, e encontram-se organizadas em pessoas jurdicas de direito pblico e privado: as pessoas jurdicas de direito pblico dividem-se em: pessoa jurdica de direito pblico interno ou externo; e, as pessoas jurdicas de direito privado, dividem-se em associaes, fundaes, sociedades, organizaes religiosas e partidos polticos.

    Dessas espcies, constitudas a partir de um estatuto ou de um contrato social, destacamos: as associaes, que so formadas a partir da unio de pessoas que se organizam para atingir fins no econmicos (artigos 53 a 61 do Cdigo Civil); as fundaes, que so formadas a partir da um patrimnio despersonalizado, destinado a determinado fim (artigos 62 a 69, Cdigo Civil); e, as sociedades que so constitudas a partir da unio de pessoas, que celebram entre si, um contrato de sociedade e se obrigam a contribuir reciprocamente com bens e/ou servios, para o desenvolvimento da atividade contratada e a partilha entre si dos resultados.

    Caro estudante, em carter preliminar e para melhor compreenso do tema que ser objeto de estudo, torna-se relevante o aprofundamento do estudo das noes relativas s pessoas jurdicas. Lembra-se do que estudamos na Unidade 1? Vamos conhecer, agora, o Direito Societrio.

  • Bacharelado em Administrao Pblica

    Direito Empresarial

    60

    Caractersticas

    As pessoas jurdicas apresentam caractersticas especficas, que revelam sua natureza e so determinantes para individualiz-las:

    ff Autonomia de personalidade: apresentam personalidade distinta da dos seus membros.

    ff Autonomia patrimonial: possuem patrimnio diverso da dos seus membros.

    ff Isonomia de di