direito educacional brasileiro - nelson joaquim - 2009
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Rio de Janeiro 2009
Nelson JoaquimMestre em Direito pela Universidade Gama Filho (UGF), Ps-graduao em
Direito Civil, Romano e Comparado (UFRJ) e Educao (SENAC). Professorde Teoria Geral do Direito Civil do Centro Universitrio da Cidade, professor deIntroduo ao Direito Educacional do Curso de Ps-graduao distncia deDireito Educacionald a PUC Minas, advogado e membro efetivo do Institutodos Advogados Brasileiros (IAB).
Direito EducacionalBrasileiro
HISTRIA, TEORIA E PRTICA
PrefcioAgostinho Reis MonteiroDoutor em Educao e Professor
(Universidade de Lisboa)
Apresentao
Jorge Alberto Saboya PereiraMestre em Direito e Professor (UERJ)
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Direito Educacional Brasileiro - Histria, Teoria e Prtica
Nelson Joaquim
1a Edio
1a tiragem fevereiro de 2009 500 exemplares
Capa: Jefferson BorgesCoordenao Editorial: Jefferson BorgesCopidesque e Reviso de Originais: Luciana Nogueira e Luana MacielCopidesque: Dcio MartinsDiagramao: Magaly Lirangi
ISBN 978-85-98213-60-6
CIP (Cataloguing-in-Publication) Brasil Catalogao na PublicaoFicha Catalogrfica feita na editora
Joaquim, NelsonDireito Educacional Brasileiro / - Histria, Teoria e Prtica / Nelson Joaquim ;
[prefcio Agostinho Reis Monteiro ]. 1 ed. Rio de Janeiro : Livre Expresso ,2009.
288 p. : il. ; 21cm (broch.) ; Tabelas ; Grficos
ISBN 978-85-98213-60-6
J58d
ndice para catlogo sistemtico
CDU 34737
CDD 340370
1. Direito. 2. Educao. 3. Direito Educacional. 4. Histria Direito Educacional .I. Ttulo.
1. Direito 340. 2. Educao 370
REG. 1207-524
E-mail: [email protected] www.livreexpressao.com.br
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Copyright 2009 por Nelson Joaquim
Pgina do autor:www.direitoeducacional.com.brE-mail: [email protected]
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Uma sociedade depravada certamente necessita deleis mais severas. Infelizmente essas leis se aplicammais a punir o mal praticado do que a estancar a
fonte do mal. S a educao poder reformar os ho-mens. Ento j no precisaro de leis to rigorosas.
Allan Kardec Pedagogo e escritor francs.
Tem um Brasil [...] que chuta, perde e ganha, sobe e
desce. Vai luta, bate bola, porm no vai escola.Seu Jorge Gabriel Moura Compositor e cantor.
Resolver o problema da educao no fazer leis,ainda que excelentes: abrir escolas tendo professores
e admitindo alunos.
Pontes de Miranda Jurista e filsofo.
Os abolicionistas queriam que todos os brasileirosfossem livres da escravido, ns queremos que
todos brasileiros tenham acesso a uma escola de
qualidade, nico caminho para serem livres.Cristovam Buarque- Professor da
Universidade de Braslia, senador eex-ministro da Educao.
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Sumrio
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Agradecimentos .....................................................................9
Prefcio ...............................................................................11
Apresentao .......................................................................15
Introduo ..........................................................................18Captulo I
A Educao e o Direito ........................................................21
1. Fundamentos e Concepes da Educao ....................21
2. Democracia e Educao para John Dewey ...................401ateoria: filosofia educacional platnica ......................40
2ateoria: o ideal individualista do sculo XVIII ...........423ateoria: a educao sob o ponto de vista racional e social 44
3. O Educador e o Jurista ................................................46
4. Fontes Histricas da Educao Brasileira ......................574.1 Brasil Colnia (1500/1822) .................................574.2 Brasil Imprio (1822/1889) .................................61
4.3 Primeira Repblica (1889/193) ............................684.4. Segunda Repblica (1930/1985) .........................724.5. Nova Repblica (1985).......................................87
Captulo II
Direito Educacional ...........................................................103
1. Direito na Educao..................................................103
2. Origem e autonomia do Direito Educacional ............1052.1. Origem do Direito Educacional ........................1052.2. Autonomia do Direito Educacional ...................108
3. Conceito de Direito Educacional ...............................112
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4. Objetivo e Ao do Direito Educacional ...................117
5. Legislao Educacional (ou de Ensino) e Direito
Educacional ..............................................................119Captulo III
Interfaces do Direito Educacional .......................................122
1. Direito Internacional .................................................122
2. Direito Constitucional ..............................................129
3. Direito Administrativo .............................................129
4. Direito Tributrio .....................................................131
5. Direito Penal ............................................................134
6. Direito Processual .....................................................135
7. Direito Civil .............................................................137
8. Direito do Trabalho ..................................................139
9. Direito do Consumidor ............................................14410. Direito Empresarial .................................................146
11. Direito Ambiental ..................................................150
12. Direito da Criana e do Adolescente ........................151
13. Hermenutica Jurdica ............................................155
14. Outros Ramos do Conhecimento ...........................160
Captulo IVFontes e Princpios do Direito Educacional ........................163
1. Concepes ..............................................................163
2. Fontes formais do Direito Educacional ......................1642.1. Lei ....................................................................1642.2. Costume...........................................................170
2.3. Jurisprudncia ...................................................1722.4. Doutrina ...........................................................176
3. Princpios do Direito Educacional .............................180
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Captulo V
Direito Educao ............................................................190
1. Concepes ..............................................................1902. Direito Pblico Subjetivo .........................................193
3. Educao como Direito da Personalidade ..................196
4. Educao e Cidadania ...............................................199
Captulo VI
Contratos e Responsabilidade Civil na Educao ................205
1. Contrato de Prestao de Servios Educacionais .........2051.1. Noes de Contrato..........................................2051.2. Importncia e Caractersticas .............................2081.3. Fundamentos Legais e Matrcula na Escola ........213
2. Responsabilidade Civil dos Estabelecimentos de
Ensino .................................................................... 218
2.1. Noes de Responsabilidade Civil .....................2182.2. Fornecedores de Servios Educacionais ...............2222.3. Danos Causados ao Aluno e pelo Aluno ............227
Captulo VII
Instrumentos de Proteo e Garantias Educao...............230
1. Consideraes Iniciais ...............................................230
2. Instrumentos Preventivos ou Extrajudiciais ...............2322.1. Estabelecimentos de Ensino ...............................2332.2. Ministrio Pblico ............................................2362.3. Conselho Tutelar ...............................................2382.4. Conselhos Municipais de Educao ...................2412.5. Direito de Petio e Direito de Certides ...........242
3. Instrumentos ou Mecanismos Judiciais ......................243
3.1. Acesso Justia .................................................2443.2. Ministrio Pblico e Ao Civil Pblica ............2493.3. Mandado de Segurana e Mandado de Injuno 252
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4. Ao Afirmativa e Educao ......................................2544.1. Educao e Discriminao .................................2554.2. Ao Afirmativa ................................................259
Consideraes Finais ..........................................................268
Bibliografia .......................................................................270
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Agradecimentos
Meu especial agradecimento a Deus e aos mestres espiritu-ais por terem iluminado a trajetria rdua para realizao destetrabalho.
Fraternos agradecimentos aos meus familiares: minhaquerida esposa Jorgete Silva e meus filhos Luana Machel e Lo
Joaquim pela compreenso, apoio e incentivo para a estapublicao.
In memoriam, agradeo minha saudosa me, EsmeraldaLuiz Joaquim, por deixar para mim, um legado de educao,afeto, carinho, encantamento, persistncia e tolerncia durante
toda trajetria dos meus estudos. Igualmente, agradeo minhasaudosa av Izaura Ferreira Joaquim e tio Oswaldo Luiz, que seocuparam com suas oraes na caminhada inicial dos meus estudos.
Agradeo, tambm, ao meu pai, Manoel FranciscoJoaquim, pelos ensinamentos de respeito s pessoas e normas detoda natureza e de todos os nveis.
Meus agradecimentos ao professor doutor Jos RibasVieira, como orientador e amigo, que, de forma competente,contribuiu para minha dissertao de mestrado.
Agradeo ao professor doutor Edivaldo Boaventura, daUniversidade Federal da Bahia (UFBA), pela contribuio da suaobra A Educao Brasileira e o Direito, que foi referencial paraminha dissertao de mestrado e publicao deste livro.
Um agradecimento especial ao teatrlogo e aparentadoDcio Martins, pelas orientaes e incentivos nesta publicao.Outro agradecimento especial a Mileyde Ajuz, pelo carinho econtribuio na minha formao.
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10 AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos ao magistrado e professorLeandro Ribeiro da Silva (UFRJ); ao professor Agostinho ReisMonteiro, da Universidade de Lisboa; Leonardo Greco (UFRJ);
Aleksander Barreto Estephanio (UCAM), Jorge Alberto SaboyaPereira (UERJ), Mario Nilton Leopoldo (UFRJ), Pedro Sanchoda Silva (Conselheiro Estadual de Educao - BA), Gilberto Freitas(UniverCidade) e Leonardo Jos de Paula Rivas (PUC-Minas).
s professoras Maria Terezinha (UFRJ); ris Abel (UFMG), Ritade Cssia de Magalhes Amaral (UCB); Magda Correa LimaDuarte (UCAM), Selma Regina Arago (UFRJ); Cssia CelinaPaulo Moreira da Costa (UCAM); Zoraide Amaral de Souza(UGF); Cri Amaral (SENAC);Regina Santos (UGF); AzoildaLoretto da Trindade (UFRJ) e Ana Paula Teixeira Delgado(UNESA); que demonstraram grande interesse pelo meu trabalhoacadmico na rea do Direito Educacional.
Ao Centro de Filosofia e Cincias Humanas da Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que facilitou edisponibilizou o acervo da biblioteca do Centro Brasileiro dePesquisas Educacionais; e agradecimento especial agnciafinanciadora (CNPq).
Ao Instituto de Pesquisas Avanadas em Educao do Riode Janeiro, na pessoa do Dr. Joo Roberto Moreira Alves, quecontribuiu atravs de fruns, cursos, seminrios, simpsios,
congressos e, ainda, com a Revista de Direito Educacional; e aoJornal da Educao e Consultoria Jurdica Educacional.
Ao Centro de Extenso Universitria, pelas contribuiesatravs do 2 Simpsio Nacional de Direito Educacional:Educao Brasileira no Sculo XXI.
Ao Sindicato dos Professores do Municpio do Rio deJaneiro e Regio (SINproRIO) pelas contribuies atravs do
Seminrio da Educao e do I Frum da Educao Superior.Enfim, meus agradecimentos a todos que, apesar de no
mencionados, contriburam de alguma forma.
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Apresentao
Com grande satisfao apresento o prof. Nelson Joaquime algumas consideraes sobre o seu livro. Alm de ser um grandeeducador na rea do Direito, um companheiro de militncia naadvocacia e na defesa dos direitos das minorias. Tendo origem defamlia simples, mas formao moral e intelectual slida, obteve agraduao em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,posteriormente defendendo dissertao de mestrado na Universida-de Gama Filho, Ps-graduao em Direito Civil, Romano e Com-parado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, sendo atualmenteconsultor jurdico educacional e professor universitrio. Trata-se deum batalhador e acredita que este pas s poder melhorar com avalorizao da educao.
Conheci o autor desta obra, quando ento fazamos umadisciplina no Curso de Mestrado em Direito e nos afinamos devi-do paixo comum, que tnhamos pelo tema educao. Alis, nomeu livro Legislao Educacional Comentada lanado em 2003,
j fao referncia ao prof. Nelson, devido grandiosa palestra, que
ministrou em Seminrio de Direito Educacional do Instituto de Pes-quisas Avanadas em Educao (IPAE). O ilustre professor cativou aplatia com a sua didtica, carisma e conhecimento no assunto. As-sim, tornamos-nos amigos e escrevemos artigos em conjunto, o queme fornece subsdios para afirmar suas qualidades de autor e de suaobra, feita com muito carinho, competncia e dedicao.
Atualmente, o Direito Educacional vem expandindo-ses, ten-
do em vista a regulamentao do setor por parte do governo. Asavaliaes por parte do MEC tm sido cada vez mais frequentes erigorosas, da a importncia do livro para professores, coordenado-res e administradores de Instituies de Ensino Superior. E mais: o
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APRESENTAO
tema to importante, que j vem fazendo parte do contedoprogramtico de inmeros concursos de graduao em Direito,Ps-graduao de Gesto Educacional e de Direito Educacional. oportuno lembrar que para o Concurso da Procuradoria Geralda Unio (Edital n. CESPE/UNB, de 2 de maio de 2007), te-mos o Direito Educacional, entre a rea de conhecimento, com adenominao Legislao sobre Ensino. (1- A educao na Cons-tituio da Repblica Federativa do Brasil. 2- Autonomias uni-versitrias. 3- Leis de Diretrizes e Bases da Educao). E tambmpara os concursos do magistrio.
O Direito Educacional um novo ramo do direito, que sepreocupa com as normas, princpios, leis e regulamentos, que ver-sem sobre as relaes de alunos, professores, administradores, espe-cialistas e tcnicos, enquanto envolvidos, mediatamente ou imedi-atamente, no processo de ensino-aprendizagem. Tal concepo dada pelo Mestre Renato Alberto Teodoro di Dio, em sua obra
Contribuies Sistemtica do Direito Educacional.O autor fez um estudo analtico sobre as relaes entreeducao e direito, inclusive encontrando um texto raro do Ju-rista Pontes de Miranda denominado Direito Educao, de1933, em que afirma a importncia da escola nica e da educa-o para todos, que o povo deve exigir. E, tambm, na sua pes-quisa, destaca a importncia de Rui Barbosa de Oliveira e An-
sio Teixeira. Alm disso, apresentou um trabalho indito dasinterfaces do Direito Educacional com os demais ramos do di-reito e do conhecimento, sem esquecer as questes prticas doscontratos e a responsabilidade civil na educao, que envolvemos profissionais do direito e da educao.
Parafraseando o prof. Jamil Cury (CNE), em sua obra Legis-lao Educacional Brasileira, editada pela DP&A, esta obra do Prof.
Nelson Joaquim um esforo de retirar, da aparente aridez da legis-lao de ensino, uma viso geral das relaes entre educao e direito.Para que voc, leitor e educador, aproprie-se deste ponto luminosoe com ele possa acender muitos outros focos de luzes.
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NELSONJOAQUIM
APRESENTAO
Enfim, a comunidade acadmica, os profissionais do di-reito e da educao, bem como a sociedade em geral, foram pre-senteadas com este livro, que abrange desde os fundamentos his-trico-conceituais da educao e do Direito Educacional, at osinstrumentos de proteo e garantias educao, inclusive as aesafirmativas na educao. Assim, esta obra vem a constituir-se emuma contribuio efetiva para o direito educao, com o Direi-to Educacional ocupando um lugar merecido no sistema jurdicobrasileiro.
Jorge Alberto Saboya Pereira*Rio de Janeiro, 24 de junho de 2008
(*) Jorge Alberto Saboya Pereira Mestre em Direito pela UGF,advogado, pedagogo, doutorando e professor assistente da Uni-versidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
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Prefcio
Diz um aforismo latino Ubi societas, ibi jus(Onde h soci-edade, h direito). Outrossim, poder dizer-se Ubi homo, ibieducatio (Onde h seres humanos, h educao). Sempre houvedireito, isto , normas reguladoras da vida dos grupos humanos,primeiras apenas consuetudinrias, depois tambm escritas. Sem-pre houve educao, isto , aprendizagem das novas geraes comas geraes mais velhas, primeiro apenas de modo natural, infor-mal, depois progressivamente organizada. E sempre a educaofoi objeto do direito, de regulao, como fenmeno central navida das sociedades, vital para a sua subsistncia e reproduo. ALei das XII Tbuas (450 a. C.), fonte do Direito Romano e Oci-dental, inclua o instituto dopatria potestas(poder paternal), quedominou o Direito da Famlia at aos nossos dias.
As Declaraes de direitos do sculo XVIII no se referiam educao, mas ela aparece nas primeiras constituies francesas enas que foram adotadas, ao longo do sculo XIX, na Frana enoutros pases, culminando no Princpio Constitucional da Es-
cola Obrigatria. A sua formal qualificao como direito , con-tudo, mais tardia. A Constituio brasileira de 1934 foi pioneiraao afirmar, no seu Artigo 149: A educao direito de todos edeve ser ministrada pela famlia e pelos poderes pblicos [...]. Ea Constituio de 1936 da ex-URSS foi, talvez, a primeira a uti-lizar a expresso direito educao, no seu Artigo 121: Os cida-dos da U.R.S.S. tm direito educao.
Hoje, em todos os pases do mundo, a educao objetode um quadro normativo mais ou menos densificado, que susci-ta a questo da necessidade da codificao e reconhecimento daautonomia do Direito da Educao. uma questo debatida no
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PREFCIL
Brasil h cerca de trs dcadas, quando a Universidade Estadualde Campinas organizou o 1oSeminrio de Direito Educacional,em outubro de 1977. Nas suas concluses, recomendava-se, no-meadamente, a consolidao da legislao educacional, a promo-o do estudo do Direito Educacional e a criao da Ordem Na-cional do Magistrio.
Um dos motores do desenvolvimento normativo do Direi-to da Educao o Direito Internacional da Educao, que podeser definido como um novo ramo do Direito Internacional dos
Direitos do Homem cujo objeto o direito educao: suas ori-gens, fontes normativas, mecanismos de proteo, jurisprudncia,doutrina, contedo, bem como as suas implicaes poltico-peda-ggicas. O Direito Internacional da Educao tambm continuainsuficientemente reconhecido e estudado, apesar de o corpusnormativo do direito educao ser, talvez, o mais extenso, depoisdo direito ao trabalho, que foi o primeiro direito do ser humano a
ser objeto de proteo e promoo por uma entidade internacio-nal: a Organizao Internacional do Trabalho (1919).
Portanto, o estudo do Direito da Educao, em cada pas,deve comear pelo estudo do Direito Internacional da Educao, namedida em que este deve ser o vrtice da pirmide normativa da ao
jurdica e poltica dos Estados, que so os autores e destinatrios diretosdo Direito Internacional a que se obrigam. E se a primeira das obri-
gaes de cada Estado parte em tratados sobre os direitos do ser hu-mano, integrar as suas normas na ordem jurdica interna, a segunda e a mais decisiva adotar as polticas que a sua realizao exige.Polticas que devem ser orientadas por uma viso da sua radical eticidadee pelo princpio da interdependncia de todos os direitos de cada ume dos direitos de todos.
No caso do direito educao, isso significa que a poltica
da educao no deve continuar refm do nacionalismoeconmico [] ligado a um modelo de escolaridade recursohumano e capital humano, em que os estudantes so tratadoscomo um recurso a ser desenvolvido para bem do sistema
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NELSONJOAQUIM
PREFCIL
econmico, modelo que hoje dominante na maioria dos sis-temas educativos do mundo. O direito educao tem umholstico sentido tico, cvico e econmico que est lapidarmenteapreendido no Artigo 205 da Constituio da Repblica Federa-tiva do Brasil (1988): A educao, direito de todos e dever doEstado e da famlia, ser promovida e incentivada com a colabo-rao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para otrabalho.
O livro que o Dr. Nelson Joaquim nos oferece um traba-lho elaborado com muita convico, seriedade intelectual e res-ponsabilidade cvica. um novo afluente da corrente que, desdeo Seminrio de Campinas, cada vez mais caudalosamente, abrecaminho para o reconhecimento e estudo do Direito Educacio-nal. Muito poder contribuir para a introduo de uma dimen-so jurdica na cultura pedaggica, para que os profissionais da
educao no se resignem a ser meros funcionrios de qualquereducao, mas se assumam como verdadeiros profissionais dodireito educao.
Agostinho Reis Monteiro*
Lisboa, 12 de Junho de 2008
(*) Agostinho Reis Monteiro doutorado no domnio do DireitoInternacional da Educao pela Universidade de Paris e pelaUniversidade de Lisboa. professor do Departamento de Edu-cao da Faculdade de Cincias da Universidade de Lisboa emembro do Centro de Investigao em Educao e do ConselhoInternacional do Frum Mundial de Educao (FME).
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Introduo
Este livro,Direito Educacional Histria, teoria e prtica adaptao da dissertao, sob o ttulo Educao Luz doDireito, para obteno do grau de Mestre em Direito pela UGF,aprovada com mrito e sugesto de publicao. Todavia, amplia-da, atualizada e, sobretudo, uma contribuio pessoal do autorpara construo do Direito Educacional. Este o momento dens indagarmos: e o direito, como tem visto a educao brasileirae como tem contribudo para ela? O que se pretende com o Di-reito Educacional? Qual a relao do Direito Educacional com osdiferentes ramos do conhecimento? Qual a contribuio do Di-
reito Educacional para a prtica educacional? Cabe destacar que aescolha do tema Direito Educacionaljustifica-se, por ser poucoexplorado na literatura jurdica brasileira, o que lhe confere umcarter inovador sua anlise e contribuio efetiva para o direito educao e a cidadania.
Iremos tratar das relaes entre educao e direito ao longoda histria da educao, por isso ntida a preferncia no sentido
de incorporar as diferentes concepes de educao no contextoda estrutura do direito, utilizando uma metodologia de carterinterdisciplinar. Porm, acompanhando os novos paradigmas dosistema jurdico, a partir da Constituio de 1988 e da Lei deDiretrizes e Bases da Educao Nacional de 1996.
Pretendemos proporcionar aos leitores conhecimentos b-
sicos dos direitos e deveres na educao, tendo no Direito Educa-cional o mediador das relaes entre escola, aluno, professor, go-verno e demais do processo educacional. Todavia, no bastaconhec-los preciso coloc-los em prtica. Para tanto, precisa-
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INTRODUO
mos do envolvimento e das contribuies dos profissionais daeducao, do direito e da comunidade em geral.
Contudo, no se comea uma viagem sem saber-se o trajetoe o destino. Assim, em funo dos objetivos didticos, optamosem dividir o tema em captulos bem delimitados. Iniciando coma discusso terica sobre a educao, as contribuies de educado-res e juristas e as fontes histricas da educao.
Em seguida, vamos tratar do Direito Educacional, sua ori-gem, conceito, objetivo e ao, ampliando o debate sobre sua
relao com os demais ramos do direito e do conhecimento emgeral. Em continuidade, as fontes e os princpios do Direito Edu-cacional, como base de qualquer estudo jurdico. As diferentesconcepes do direito educao: direito fundamental, direitohumano, direito pblico subjetivo, direito da personalidade ecidadania.
Nos dois ltimos captulos, vamos apresentar uma viso
prtica do Direito Educacional, tendo como objeto da investiga-o os contratos educacionais, a responsabilidade civil dos estabele-cimentos de ensino e os instrumentos extrajudiciais e judiciais deproteo e garantia educao. Ampliamos o debate sobre educa-o e discriminao, ao afirmativa na educao, esta, como ins-trumento de incluso no sistema educacional.
Em termos de trajetria histrica, o Direito Educacional
surgiu no Brasil Colnia, em 1549, quando chegaram ao Brasilos primeiros jesutas e educadores, e tem sua base jurdica naConstituio de 1824 e nas demais Constituies brasileiras, ata ltima de 1988. Todavia, as discusses, autonomia e sistemati-zao do Direito Educacional, tm origem, em termos efetivos,em outubro de 1977, no 1 Seminrio de Direito Educacional,realizado em Campinas So Paulo. O primeiro importante tra-
balho para a sistematizao do Direito Educacional foi publicadoem 1982 pelo educador e jurista Alberto Teodoro Di Dio (Con-tribuio Sistematizao do Direito Educacional). A esta, segui-ram-se outras obras. A partir da dcada de 90, ampliaram-se as
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discusses em relao ao Direito Educacional nos seminrios,congressos, simpsios e conferncias.
Hoje, com o advento da Constituio de 1988, Lei deDiretrizes e Bases da Educao, em 1996, e inmeras legislaes deensino, as instituies de ensino privadas ou/e pblicas, deparam-secom mudanas de paradigmas na rea da educao, que exigem dosprofissionais das reas da educao e jurdica e, tambm, dos gestoreseducacionais, constantes atualizaes dos conhecimentos e novashabilidades. Trata-se de uma nova viso de gesto educacional, que
ultrapassa a Pedagogia e alcana o Direito Educacional, que temum carter conciliatrio e preventivo nas relaes educacionais, mas,tambm disponibiliza instrumentos judiciais.
Enfim, estamos num bom momento para refletir, discutire contribuir para a educao. E aqui, neste livro, vamos ter aoportunidade de observar que todas aquelas pessoas envolvidasno processo ensino-aprendizagem, de forma direta ou indireta,
percebem que a educao uma rea do conhecimento, que podeser cultivada, tambm, pelo Direito Educacional.
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Captulo II
Direito Educacional
Trataremos neste captulo, inicialmente, das relaes quese estabelecem entre educao e direito, pela ponte construdapelo Direito Educacional. Destacaremos alguns juristas e
educadores, que defendem a necessidade de juntar esses dois ramosdo conhecimento. Em seguida, vamos apresentar um breve his-trico da origem e autonomia do Direito Educacional, tendo comoreferncias os textos constitucionais, as demais legislaes educa-cionais, a teoria e jurisprudncia educacional. Vamos tratar,tambm, dos conceitos, objetivos e ao do Direito Educacional.Para, afinal, analisar as diferenas existentes entre Legislao
Educacional e Direito Educacional.
1. Direito na Educao
Os profissionais do direito quando atuam no contextoeducacional e os educadores inseridos no contexto jurdico perce-bem a existncia de relaes entre a educao e o direito. Apropsito, a educadora e jurista Esther de Figueiredo Ferraz diz oseguinte: Todos ns, que atuamos na rea da Educao e do Direi-to sentimos a necessidade de juntar esses dois elementos, porque per-cebemos perfeitamente que a Educao uma rea, que deva sercultivada tambm pelo Direito.203
J a educadora Patrice Canivez na obra Educar o Cida-do? reconhece a relao entre a Educao e o Direito, quando
diz: A educao dos cidados supe um mnimo de conheci-
203. 1 Seminrio de Direito Educacional. Anais Campinas:UNICAMP/ CENTAU, 1977, p. 27.
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DIREITOEDUCACIONALBRASILEIRO
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mento do sistema jurdico e das instituies.O cidado deve,para os atos mais corriqueiros da vida, conhecer os princpios eleis, que fixam seus direitos e deveres e distinguir os casos em quese aplicam.204 Para tanto, segundo a autora:
O poder poltico tem o dever da educao e daexplicitao das leis tanto como das instituies, para quequem vem ao mundo e encontra essas leis como coeresde fato, sem as ter escolhido ou discutido, possa ascenderaos princpios, que as fundamentam e, ao encontrar-se
nesses princpios, afirme sua liberdade enquanto assumeseu lugar na comunidade.205
San Tiago Dantas, um dos mais importantes juristas brasi-leiros, percebeu as relaes existentes entre educao e direito, pro-pondo a necessidade de uma reforma da educao jurdica. Diz ele:
No estudo das instituies jurdicas apresentadas em
sistema, perde-se facilmente a sensibilidade da relaosocial, econmica ou poltica, quando a disciplina endereada apenas norma jurdica. O sistema tem umvalor lgico e racional, por assim dizer, autnomo. O estudo,que dele fazemos, com mtodos prprios estritamentededutivos, conduz a auto-suficincia, que permite ao ju-rista voltar as costas sociedade e desinteressar-se da mat-ria regulada, como alcance prtico de suas solues.206
O mesmo autor, na aula inaugural dos cursos da Faculda-de Nacional de Direito, em 1955, com o ttulo Educao Jurdi-ca e a Crise Brasileira, disse o seguinte:
204. Canivez, Patrice. Educar o cidado?, p. 80.205. Idem, p. 80/81206.Dantas, San Tiago.A educao jurdica e a crise brasileira, p. 454.
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[...] Pela educao jurdica que uma sociedade asse-gura o predomnio dos valores ticos perenes na condutados indivduos e, sobretudo dos rgos do poder pblico.
Pela educao jurdica que a vida social consegue ordenar-se segundo uma hierarquia de valores, em que a posio su-prema compete queles, que do vida humana sentido efinalidade. Pela educao jurdica que se imprime no com-portamento social os hbitos, as relaes espontneas, os ele-mentos coativos, que orientam as atividades de todos para asgrandes aspiraes comuns. [...]207
Enfim, da mesma forma que as demais cincias contribu-em para as diferentes concepes de educao, assim, tambm, odireito vem contribudo para a educao. Cabe aos profissionaisda educao e do direito estreitar esse relacionamento, comocontribuio para construo do Direito Educacional.
2. Origem e autonomia do
Direito Educacional
2.1. Origem do Direito Educacional
Tudo comeou, segundo Di Dio, quando ele fez um Cursode Especializao sobre Direito Comparado, na Faculdade de Di-reito da Universidade de So Paulo, em 1970. Naquela ocasio,
apresentou ao Professor Dr. Antnio Chaves um trabalho sob ottulo O Direito Educacional no Brasil e nos Estados Unidos.208
Todavia, em termo efetivo as discusses sobre autonomiae sistematizao do Direito Educacional tm origem no 1oSemi-nrio de Direito Educacionalrealizado sob os auspcios da Universi-dade Estadual de Campinas (UNICAMP), em outubro de 1977.
207. Dantas, San Tiago. Palavra de um professor, p. 79.208. Di Dio, Renato Alberto. Contribuio sistematizao do Di-
reito Educacional, p. 1.
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Realizou-se na cidade de Campinas nos dias 19 a 21 de outubro de1977 e coordenado por Guido Ivan de Carvalho.
Dentre os educadores e juristas presentes estava Esther deFigueiredo Ferraz, Lourival Vilanova, Guido Ivan de Carvalho,209
lvaro lvares da Silva Campos, Jos Alves de Oliveira. Eles fo-ram designados para fazer a sntese das exposies e dos debates.E, no final, apresentaram treze concluses e recomendaes:
1. Dar ampla divulgao aos resultados do 1oSeminrio de Direi-to Educacional.
2. Sensibilizar os Poderes Pblicos e, em especial, os rgos eentidades diretamente responsveis pela educao para a im-portncia da sistematizao da legislao de ensino.
3. Recomendar ao MEC, o patrocnio de recursos especiais sobreDireito Educacional para o pessoal, que diretamente trabalhano setor de aplicao da legislao do ensino.
4. Recomendar ao MEC, seja propiciado recurso e condies paraa realizao de estudos destinados a explicaes para realizaocientfica do Direito Educacional.
5. Necessidade de consolidao da legislao educacional.
6. Necessidade da catalogao dos pronunciamentos do Conse-lho Federal de Educao constantes da revista Documenta.
7. Apoiar a criao nas Universidades e nos estabelecimentos iso-lados de ensino superior, de rgos destinados ao estudo doDireito Educacional.
8. Incentivar a promoo de Seminrio e Ciclos de Palestras, emUniversidades e estabelecimentos isolados de ensino superior,sobre legislao educacional.
209. Disse textualmente o Coordenador do Seminrio, Dr. GuidoIvan de Carvalho: Este 1oSeminrio de Direito Educacionalconstitui um marco significativo na evoluo do pensamento edu-cacional brasileiro, porque pretendo iniciar a sistematizao tc-nico-cientfica do Direito Educacional.
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9. Estimular a incluso da disciplina Direito Educacional, emcarter opcional, nos cursos regulares de graduao, que no atm em carter obrigatrio.
10. Atribuir, gradativamente aos graduados em Direito a respon-sabilidade do ensino de Direito Educacional.
11. Recomendar s Universidades, que promovam o estudo doDireito Educacional, em nvel de Ps-graduao.
12. Sugerir, como medida de relevante efeito, no sistema nacio-nal de ensino, a reestruturao dos Conselhos de Educao, de
moldes a que atuem em carter permanente e com observn-cia do princpio do contraditrio, sempre que couber.
13. Criao da Ordem Nacional do Magistrio.210
Em 1981, a tese de Livre Docncia, apresentada a Facul-dade de Educao da Universidade de So Paulo, intitulada: Con-tribuio Sistematizao do Direito Educacional, pelo educador
e jurista Renato Alberto Teodoro Di Dio. Aqui, em 1982, sob osauspcios da Universidade de Taubat, essa obra foi publicada emnosso pas. Como educador e crtico da educao brasileira, elecomentou:
Muito resta por fazer: eliminar as disparidades en-tre escolas rurais e urbanas e entre escolas de clientelapobre e de clientela rica; criar escolas especiais para ex-cepcionais negativos e para superdotados. No fundo, asoluo est mais na procura de um modelo poltico, queatenue as injustias sociais do que em expedientes peda-ggicos, administrativos e didticos, que procuremcorrigir, na escola, os reflexos de uma estrutura inqua.211
210. Anais do 1oSeminrio do Direito Educacional, UNICAMP/CENTAU, Campinas, 1977.
211.Di Dio, Renato Alberto. Contribuio sistematizao do Di-reito Educacional, p. 254.
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Infelizmente, como j comentamos, o golpe militar inici-ado em 1964, que se estendeu at a redemocratizao do pas em1985, prejudicou o avano da educao brasileira, inclusive difi-cultando a implementao das recomendaes do 1oSeminriode Direito Educacional e outras iniciativas de educadores e juris-tas. Porm, hoje, precisamos resgatar essas propostas, como con-tribuies para a construo do Direito Educacional, acesso equalidade do ensino brasileiro.
Com a nova Repblica, em 1985, a Constituio de 1988
e a Lei de Diretrizes de Bases da Educao Nacional, em 1996,avanamos na rea educacional, inclusive no Direito Educacional.Alis, a Lei Magna e a LDB, esto contribuindo com os novosparadigmas jurdicos, para construo do Direito Educacional. Acres-centa-se que, a partir de 1990 ampliaram-se as discusses em rela-o ao Direito Educacional nos seminrios, congressos, simpsiose conferncias, na maioria das vezes organizada pelo Ipae Instituo
de Pesquisas Avanadas em Educao. Todavia, precisamos de con-tribuies acadmicas mais especficas das universidades, em espe-cial nas reas jurdica e educacional.
2.2. Autonomia do Direito Educacional
A autonomia dos ramos do conhecimento, historicamen-te, ocorreu da necessidade de subdividir-se a filosofia. Esta
desmembrou-se em estudos autnomos como, por exemplos,Astronomia com Coprnico, a Fsica com Galileu e Newton, aBiologia com Lamarck, a Qumica com Lavoisier, a Sociologiacom Augusto Comte e a Psicologia com William James, Brgson,Freud e outros. Surgem, assim, as especializaes nos diferentesramos do conhecimento.212
212. Di Dio, Renato Alberto. Contribuio sistematizao do Di-reito Educacional, p. 27.
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No caso do Direito, ocorreram as fragmentaes em reasautnomas e de especializao no mbito do direito pblico eprivado. No primeiro momento, temos os tradicionais ramos doDireito como, por exemplos, Constitucional, Civil, Penal,Tributrio do Trabalho etc. No segundo momento, ocorreu afragmentao dos ramos tradicionais do Direito, para osurgimento dos microssistemas jurdicos como, por exemplo,Direito Empresarial, Direito Bancrio, Direito do Consumidor,Direito Ambiental, Direito da Criana e do Adolescente etc.
Por isso, medida que os diferentes setores da vida socialexigem regulamentaes e elaborao de normas especficas, queatendam a complexidade crescente da sociedade, surgem novosramos do Direito, inclusive o Direito Educacional.
A complexidade da sociedade, o aumento da demandapela educao e os conflitos nas relaes educacionais provoca-ram o surgimento de legislaes especficas na rea da educao e,
por consequncia, a necessidade de especializao e sistematizaodo Direito Educacional.
Contudo, cabe indagar: quando, como e quem contri-buiu para autonomia do Direito Educacional? inegvel, queRenato Alberto Theodoro Di Dio, com a sua Tese de LivreDocncia Contribuio Sistematizao do Direito Educacio-nal apresentada na Faculdade de Educao da Universidade de
So Paulo, em 1981, iniciou a construo e a autonomia do Di-reito Educacional. Ele demonstrou que o Direito Educacionalatende a todos os requisitos para caracterizar uma autonomia deum ramo do Direito.
Paulo Nader na sua obra Introduo ao Estudo do Direito,consagrada na comunidade jurdica, diz o seguinte:
A educao um dos fatores do Direito, que podedotar o corpo social de um status intelectual, capaz depromover a superao de seus principais problemas. [...]Tala presena da educao no Direito Positivo, que j se fala
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na existncia de um DIREITO EDUCACIONAL, de-nominao esta, inclusive, de uma obra publicada, emnosso pas, por Renato Alberto Teodoro di Rio, em 1982,
sob os auspcios da Universidade de Taubat. A esta, se-guiram-se outras obras.213
Alfredo Rocco, citado por Renato Alberto Teodoro DiDio, identifica a existncia de trs requisitos para caracterizar aautonomia de um ramo do Direito:
1o Extenso suficiente, que justifique um estudo especial;
2o doutrinas homogneas, dominadas por conceitos geraiscomuns e distintos dos conceitos informadores de outrasdisciplinas; e
3o Mtodo prprio para abordar o objeto de suas pesquisas.214
Vale lembrar que o direito um sistema, que deve ser estu-dado no seu conjunto, por isso uma disciplina jurdica pode serconsiderada como cincia autnoma, mas no independente. Alis,este o pensamento de Miguel Reale:
Quando vrias espcies de normas do mesmo gne-ro correlacionam-se, constituindo campos distintos de in-teresse e implicando ordens correspondentes de pesqui-sa, temos, consoante j assinalamos, as diversas discipli-
nas jurdicas, sendo necessrio apreci-las no seu conjun-to unitrio, para que no se pense que cada uma delasexiste independente das outras.215
lvaro Melo Filho sustenta a tese, no plano terico, que,em vez de questionar-se sobre as autonomias legislativa e cien-tfica do Direito Educacional, deve-se registrar que, pela simples ra-
213. Nader, Paulo. Introduo ao estudo do direito, p. 2005, p. 57.214. Apud. Dio. Renato Alberto Teodoro. Contribuio sistemati-
zao do direito educacional, p. 28.215. Reale, Miguel. Lies preliminares de direito, p. 6.
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zo de no poder existir uma norma jurdica independente da totali-dade do sistema jurdico, a autonomia de qualquer ramo do direito sempre e unicamente didtica.216
certo, tambm, segundo Pedro Sancho da Silva, que o Di-reito Educacional revela farto acervo para pesquisas e estudos, comoexige-se dos demais nobres e tradicionais ramos do saber jurdico,com significativas literaturas especficas, compatveis com as exign-cias da sistematizao e da autonomia.217
V-se, ento, que o Direito Educacional conquistou as auto-nomias legislativas, doutrinrias, metodolgicas e didticas.218 Porisso, a presena de conhecimento terico, especializado e prtico, nessenovo ramo do saber jurdico, que leva s instituies de ensino, narea educacional e jurdica, a incluir nas grades curriculares dos cursosde graduao, ps-graduao e extenso, a disciplina Direito Educa-cional.219
216. Melo Filho, lvaro. Direito educacional, p. 54.
217. Revista do Direito Educacional IPAE, p. 26.218. Merece especial destaque a publicao do livro: Currculo Mni-mo dos Cursos Jurdicos, em 1995, do professor Horcio WanderleyRodrigues, Editora Revista dos Tribunais, na qual inseriu o novoramo jurdico denominado Direito Educacional, compondo os n-cleos de estudos complementares nos cursos jurdicos e os ncleostemticos de especializao.
219. Disciplinas para um Curso de Ps-graduao com Especializao
em Direito Educacional carga horria de 360h 1. Teoria Geraldo Direito Educacional (60h); 2. Fundamentos e Teorias da Edu-cao (40h); 3. Direito Educacional Constitucional (40h); 4. Edu-cao no Estatuto da Criana e do Adolescente (30h); 5. Aspectosda Gesto Educacional (40h); 6. Direito do Consumidor em Edu-cao (30h); 7. Contratos nas Relaes Jurdicas Educacionais (20h);8. Responsabilidade Civil dos Estabelecimentos de Ensino (30h);9. Polticas Pblicas (40h); e 10. Instrumentos de Tutela Educa-o (30h). (Projeto de Curso de Especializao em Direito Educaci-onal, elaborado pelo autor, como trabalho de concluso de cursoapresentado rede EAD SENAC, como requisito parcial para ob-teno do ttulo de especialista em Educao Distncia, em 2006).
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So oportunos os comentrios de Regina Garcia de Paivasobre a situao atual do Direito Educacional:
Na atualidade, configura-se um esforo insistentena necessidade de um Direito Educacional, que se eleveda mera legislao de ensino, j estruturada e vlida nosistema educacional, para construo jurdica e doutri-nria da educao, visto que desde a dcada de 1970 esta merecer um tratamento cientfico por parte dadogmtica jurdica.220
Enfim, a autonomia est consolidada junto comunidadejurdica. Todavia, em qualquer ramo da cincia jurdica, a auto-nomia relativa, no caso do Direito Educacional existe uma relaocom os demais ramos da cincia jurdica e do conhecimento, comoveremos no captulo III deste livro.
3. Conceito de Direito Educacional
Podemos identificar dois temas fundamentais para teoriado Direito Educacional: primeiro a conceituao; segundo as re-laes jurdicas. Uma questo que, to logo se apresenta , semdvida, a escolha da expresso direito educacional. E, numsegundo momento, a definio ou conceito desse novo ramo dacincia jurdica, mas sem a pretenso de traar barreiras ou apre-
sentar definies, que possam impedir a contextualizao do Di-reito Educacional.221
Uma questo, que logo se apresenta, , sem dvida, a es-colha da expresso direito educacional. E, num segundo mo-mento, a definio ou conceito desse novo ramo da cincia jur-
220. Trindade, Andr (Coord.). Direito educacional, p. 94.221. Ao procurar e ao descobrir definies ou conceituaes, no
estamos simplesmente a olhar para palavras... mas tambm paraas realidades relativamente s quais usamos palavras para delasfalar. (Hart, Hebert L.A. O Conceito de Direito, p, 19).
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dica. Alis, todo conhecimento jurdico necessita do conceito dedireito, embora no se tem conseguido um conceito nico deDireito,222 tampouco de Direito Educacional.
Renato Alberto Teodoro Di Dio, precursor do Direito Edu-cacional no Brasil, afirma que o mais apropriado seriam as ex-presses direito da educao, direito educacional ou direitoeducativo. Os puristas optariam por direito educativo, porqueno linguajar comum, educativo carrega a conotao de algo, queeduca, ao passo que educacional seria o direito, que trata da edu-
cao. Consciente das possveis objees, que, segundo ele, po-dem ser feitas a expresso Direito Educacional; a espera de que ouso e os especialistas consagrem a melhor denominao. Em suaobra, Sistematizao do Direito Educacional, ele conceitua oDireito Educacional:
Direito Educacional o conjunto de normas, princ-pios, leis e regulamentos, que versam sobre as relaes de
alunos, professores, administradores, especialistas e tcni-cos, enquanto envolvidos, mediata ou imediatamente, noprocesso ensino-aprendizagem.223
222. Numa primeira acepo, o vocbulo direito designa o con-junto de regras jurdicas obrigatrias, em vigor num pas, numa
dada poca. Neste caso, trata-se do direito objetivo: Direito Cons-titucional, Direito Educacional, Direito Civil, Direito Penal,Direito Administrativo, Direito do Trabalho. Nesse sentido que se fala de direito positivo, direito posto pelo Estado [...] J odireito subjetivo a faculdade ou possibilidade, que tem umapessoa de fazer prevalecer em juzo a sua vontade, protegida pelodireito objetivo. Como exemplo, temos o direito educao.H, portanto, uma inter-relao entre o direito subjetivo e odireito objetivo. (Cf. Cretella Jnior, Jos. Primeiras lies dedireito, p. 89.)
223. Di Dio, Renato Alberto Teodoro. Contribuio sistematiza-o do direito educacional. P. 25.
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Vale citar o conceito de Jos Augusto Peres:
Direito Educacional um ramo especial do Direi-
to; compreende um j alentado conjunto de normas dediferentes hierarquias; diz respeito, bem proximamente,ao Estado, ao educador e ao educando; lida com o fatoeducacional e com os demais fatos a ele relacionados; regeas atividades no campo do ensino e/ou de aprendizagemde particulares e do poder pblico, pessoas fsicas e jur-dicas, de entidades pblicas e privadas.224
O Direito Educacional, segundo lvaro Melo Filho, podeser entendido como:
Um conjunto de tcnicas, regras e instrumentos ju-rdicos sistematizados, que objetivam disciplinar o com-portamento humano relacionado educao. Impondo-se como matria curricular e como disciplina autnoma,o Direito Educacional distinguir-se- inteiramente deoutras disciplinas jurdicas, pois envolver o estudo e oensino de relaes e doutrinas com as quais nunca se ha-via preocupado o direito tradicional em qualquer dos seusramos.225
Aurlio Wander Bastos, em sua obra O Ensino Jurdico noBrasil, apresenta tanto o conceito de Direito Educacional como
seu alcance: Os estudos jurdicos sobre legislao do ensino esuas prticas administrativas, assim como sobre ahermenutica de seus propsitos, classificam-se no vastombito do Direito Educacional, uma das mais significa-tivas reas do conhecimento jurdico moderno. O Direi-
224. Peres, Jos Augusto. Introduo ao direito educacional, p. 96.225. Melo Filho, lvaro. Direito educacionais aspectos tericos e
prticos p. 52.
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to Educacional estuda as origens e os fundamentos soci-ais e polticos dos currculos, programas e mtodos deensino e avaliao.226
Conceituao de Direito Educacional, segundo EdivaldoBoaventura:
Direito Educacional um conjunto de normas, prin-cpios e doutrinas, que disciplinam a proteo das rela-es entre alunos, professores, escolas, famlias e poderespblicos, numa situao formal de aprendizagem.227
Jean Carlos Lima, por sua vez, assim conceitua o DireitoEducacional:
Como ramo da cincia jurdica, atua no campo p-blico ou privado, e tem por finalidade mediar s relaesentre todos os agentes envolvidos no processo ensino-apren-dizagem. Essas relaes podem envolver vrias esferas doDireito, seja na rea Penal, Trabalhista, Civil, Tributria etc.228
Conceituar esse novo ramo da cincia jurdica no tare-fa fcil. Este tem natureza hbrida e interdisciplinar, com regrasde direito pblico e privado. Defendemos a existncia de um di-reito misto, que tutela tanto os interesses pblicos como os inte-resses privados. Sugerimos, ento, um conceito, que deve sercontextualizado e aprimorado pelos educadores e juristas:
Conjunto de normas, princpios, institutosjuspedaggicos, procedimentos e regulamentos, que ori-entam e disciplinam as relaes entre alunos e/ou res-ponsveis, professores, administradores educacionais,diretores de escolas, gestores educacionais, estabelecimen-tos de ensino e o poder pblico, enquanto envolvidos
226. Bastos, Aurlio Wander. O ensino jurdico no Brasil, p. 11.227. Boaventura, Edivaldo.A Educao brasileira e o direito, p. 29.228. Lima, Jean Carlos. Direito educacional perguntas e respostas
no cotidiano acadmico, p. 12.
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diretamente ou indiretamente no processo de ensino-aprendizagem, bem como investiga as interfaces comoutros ramos da cincia jurdica e do conhecimento.229
No que tange, ainda, a conceituao acima, cabem duasindagaes: lei e normas jurdicas significam a mesma coisa? Oque significa a expresso Institutos juspedaggicos? Primeiro,norma jurdica230 no sinnimo de lei.231 Esta pode conter in-meras normas jurdicas, como ocorre com o Cdigo Civil, ou aConstituio. Segundo, os institutos juspedaggicos so de me-
nor extenso que os institutos jurdicos.232
Para Renato Di Dio possvel identificar institutosjuspedaggicos, assim chamados, porque participam, ao mesmotempo, da natureza jurdica e da natureza educacional, fundindo,numa realidade original. Trata-se de procedimentos utilizados naprtica educacional como, por exemplo, a matrcula, a transfe-rncia, avaliao etc.233 Podemos, neste caso, considerar como
229. Por tratar-se de um ramo jurdico emergente, neste incio de scu-lo, no pretendemos traar barreiras conceituais, tampouco defini-es, que possam prejudicar a construo do Direito Educacional.
230. As normas jurdicas so de comportamento ou de organizao,que emanam do Estado ou por ele tm sua aplicao garantida.
Apresentam-se como proposies, grupos de palavras com signifi-
cado prprio e especfico. (Amaral, Francisco. Direito civil, p. 56).231. No mundo jurdico, lei a declarao solene da norma jur-
dica feita pelo poder competente. (Cretella Junior, Jos. Primei-ras lies de direito, p. 80.
232. Instituto jurdico o conjunto de normas jurdicas regulado-ras ou disciplinadoras de certa criao legal (Lei, decreto, medi-da provisria), constituindo uma entidade autnoma de direito,que atenda a interesses de ordem privada ou pblica como, porexemplo, poder familiar, tutela, bem de famlia etc. (Nunes,Pedro dos Reis. Dicionrio de tecnologia jurdica, p. 518.)
233. Di Dio, Renato Alberto Teodoro. Contribuio sistematiza-o do direito educacional, p. 156.
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aqueles contemplados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educaocomo, por exemplo, Da Educao; Da composio dos NveisEscolares; Da educao Especial etc.
A nosso ver, os institutos juspedaggicos esto em proces-so de construo, mas presentes nas diferentes legislaes educaci-onais e na prtica pedaggica.
Outro tema fundamental a relao jurdica educacio-nal,234que nasce dos acontecimentos ou relaes sociais discipli-nadas pelo Direito Educacional. , no quadro das relaes jurdi-
cas educacionais, que se apresentam os sujeitos de direito (Alu-nos, professores, gestores educacionais e o Estado).
O Direito um sistema de relaes jurdicas. Assim, se porum lado, temos relaes jurdicas de consumo, de trabalho, de fa-mlia, obrigacionais, patrimoniais etc.; por outro lado, temos asrelaes jurdicas educacionais, denominadas relaes juspedaggias.
Afinal, quais as relaes sociais ou acontecimentos, que
devem ser tidos como relaes jurdicas educacionais? O trabalhodos profissionais do direito, gestores educacionais e todos aqueles,que lidam com a legislao educacional consistem em qualificaras relaes sociais, que se enquadram no modelo normativo doDireito Educacional.
4. Objetivo e Ao do Direito Educacional
As instituies de ensino privadas ou/e pblicas deparam-se com grandes mudanas de concepes e legislativas na reaeducacional. Para atender, essa demanda surge o Direito Educaci-onal, com os seguintes objetivos:
234. Para o civilista Francisco Amaral: relao jurdica o vnculoque o direito estabelece entre pessoas ou grupos, atribuindo-lhes poderes e deveres. (Direito Civil Introduo p. 159).
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a) Superar a fase legislativa da educao, ou seja, ultrapassar a con-cepo legalista de educao, para entender o Direito Educaci-onal como ramo da cincia jurdica interdisciplinar e prtico;
b) Facilitar a compreenso, interpretao e aplicao de legislaoeducacional;
c) Dotar os profissionais do direito e da educao de um conheci-mento global do Direito Educacional, que inclui a legislao, adoutrina, a jurisprudncia e os princpios educacionais;
d) Incentivar a pesquisa e o debate sobre as relaes do Direito
Educacional com os demais ramos da cincia jurdica e do co-nhecimento;
e) Operar em duplo sentido: de um lado preventivamente orien-tar; de outro lado, apresenta soluo de composio ou judicial;
f ) Do ponto-de-vista prtico a ao do Direito identifica-se comos instrumentos administrativos administrao escolar(extrajudiciais) e instrumentos judiciais para soluo dos con-flitos nas relaes educacionais.
inegvel a existncia dos conflitos de interesses nas relaeseducacionais entre alunos e/ou responsveis, professores, administra-dores educacionais, gestores educacionais, estabelecimentos de ensi-no e poder pblico. Neste caso, qual a ao do Direito Educacional?No primeiro momento, ele entra no cenrio da Educao como um
elemento de conciliao, que visa a prevenir os possveis conflitos,que possam surgir na esfera acadmica.235No segundo momento,esgotadas todas as possibilidades de compor ou harmonizar os con-flitos na sede administrativa ou conciliatria, cabe aos atores da rela-o jurdica recorrer Justia, para soluo judicial.236
Para uma viso mais realstica e prtica da ao do DireitoEducacional, vamos apresentar dois casos concretos de solues
judiciais:235. Lima, Jean Carlos. Direito educacional, p. 1.236. A deciso judicial punitiva ou penalidade tem, tambm, fina-
lidade pedaggica nas relaes jurdicas educacionais.
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Ao de Cobrana Mensalidade escolar O no comparecimentodo aluno aula, no o exonera do pagamento das mensalidades, massim o trancamento da matrcula Recurso parcialmente providopara afastar a multa de 2% aplicada, j que no havia convenoprvia a respeito. (Apelao Cvel no16.508/00. 10aCmara Cvel TJ-RJ. Relator: Ds. Gamaliel Quinto de Souza. 06-03-2001. Assim,temos o estabelecimento de ensino como portador do direitosubjetivo, que tem o poder de exigir do aluno o pagamento da dvida.
Responsabilidade civil, estabelecimento de ensino, pessoa jurdi-
ca de direito privado. Aluno ferido por outro, com estilete, den-tro da sala de aula. Responde o educandrio objetivamente pelodano causado, pela falha na prestao do servio. Art. 14 da Lei8.078/90 (CDC). A instituio de ensino tem o dever de exercerpermanente vigilncia sobre seus alunos, principalmente quando setratar de adolescentes, menores de idade, vedando o ingresso no esta-belecimento de qualquer instrumento, que possa colocar em risco a
integridade fsica das pessoas. Dano moral configurado. Apelaoprovida. Apelao Cvel no2003.001.24377. 7aCmara Cvel TJ-RJ. Relator: Des. Carlos C. Lavigne de Lemos. 04/05/2004.
Neste ltimo caso, temos o aluno como portador do di-reito subjetivo, que tem o poder de exigir o cumprimento dodever jurdico de responsabilidade civil.
5. Legislao Educacional (ou de Ensino) eDireito Educacional
O termo legislao quer dizer algo que foi dito, que foiescrito sob a forma de lei e que est sendo apresentado, ou queest dando-se a conhecer ao povo, inclusive para ser lido e inscritoem nosso convvio social.237Costuma-se entender por legislaoo conjunto de leis sobre determinada matria. Fala-se, por exem-
237. Cury, Carlos Roberto Jamil. Legislao educacional brasileira.Rio de Janeiro: DP&A, 2000, p. 15.
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plo, em legislao trabalhista, esportiva, fiscal, penal, ambiental,eleitoral, internacional, educacional, legislao.
A expresso legislao de ensino, modernamente cha-mada de legislao educacional.238Afinal, o que legislao deensino ou legislao educacional? Ela pode ser uma disciplina in-tegrada num currculo de um determinado curso? Qual a impor-tncia da legislao educacional? possvel confundir legislaode ensino com Direito Educacional?
Legislao de Ensino, como disciplina, um conjunto de
leis, decretos, resolues, pareceres normativos, portarias, regula-mento etc. A disciplina Legislao de Ensino tradicionalmente integrada no currculo de Pedagogia, como parte integrante doDireito Educacional e de cunho mais pedaggico. Ao contrrio,o Direito Educacional tem um carter mais jurdico do que meroconjunto de leis.239 So oportunos os esclarecimentos do educa-dor e jurista Edivaldo Boaventura:
A disciplina Legislao de Ensino no alcana o nvel desejadode eficcia jurdica na formao do educador.Atinge, quando mui-to, o objetivo da descrio da estrutura legal da educao, seus r-gos componentes, a sucesso de leis e as colocaes das diretrizes ebases. O problema da sua localizao, todavia, permanece na Fa-culdade de Educao ou na Faculdade de Direito; depender daorganizao universitria. Quando situada no departamento de
Educao, isola-se do contexto jurdico.240
238. A expresso legislao educacional revela-me um conjunto denormas legais sobre a matria educacional. Se falo legislao educa-cional brasileira, refiro-me s leis, que de modo geral formam oordenamento cultural do pas. (Cf. Martins, Vicente. O que direi-to educacional. DireitoNet, So Paulo. Disponvel em: http://www.direitonet.com.br/artigo/x/57/66/576. Acesso em: 19 fev. 2006.
239. Boaventura, Edivaldo Machado. A educao brasileira e o di-reito, p. 59.
240. Idem, p. 58.
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Vale lembrar, que a legislao educacional brasileira foielaborada ao longo dos nossos cinco sculos de histria, mas nohavia um texto nico, que congregasse todas as normas, que vi-goraram e eram aplicadas nas relaes educacionais. inegvelque a legislao educacional fundamental como fonte normativapara o Direito Educacional, at porque considerada a essnciado Direito Educacional. E aqui, a Lei de Diretrizes e Bases daEducao Lei 9.394/96 fonte legislativa.241
Assim, no h como confundir Legislao Educacional (ou
de ensino) com Direito Educacional: enquanto aquela se limitaao estudo e/ou sistematizao do conjunto de normas sobre edu-cao, este tem um campo muito mais abrangente e pode serentendido como um conjunto de tcnicas, regras e instrumentos
jurdicos sistematizados, que objetivam disciplinar o comporta-mento humano relacionado educao, como conceituou lva-ro Melo Filho.242
Por isso, fundamental o estudo do Direito Educacionalnos cursos Jurdico, Pedagogia e Gesto Educacional para atenderaos questionamentos jurdicos sobre os assuntos educacionais dis-postos nas legislaes.
241. Alves, Joo Moreira. Revista do direito educacional, p. 9.242. Apud, Motta, Elias de Oliveira. Direito educacional e educao
no sculo XXI, p. 51.
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