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DIREITO DO TRABALHO I – material 07 ALTERAÇÕES, SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO Lázaro Luiz Mendonça Borges 1 - Alterações do contrato de trabalho. O contrato de trabalho é de trato sucessivo ou execução continuada e, portanto, perdura no tempo, de acordo com o princípio da imodificabilidade (ou inalterabilidade). A regra é de que o contrato de trabalho não pode ser modificado unilateralmente pelo empregador. Essa regra é observada no artigo 468 da CLT: Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. Parágrafo único - Não se considera alteração unilateral a determinação do empregador para que o respectivo empregado reverta ao cargo efetivo, anteriormente ocupado, deixando o exercício de função de confiança. Sergio Pinto Martins salienta que “o princípio da imodificabilidade do contrato de trabalho reflete uma forte intervenção do Estado na relação entre empregado e empregador, de modo a que o primeiro, por ser o polo mais fraco dessa relação, não venha a ser prejudicado com imposições feitas pelo segundo e decorrentes de seu poder de direção. Daí a necessidade da interferência do Estado, evitando que o empregador altere unilateralmente as regras do pacto laboral. Trata-se, portanto, de uma norma de ordem pública, que restringe a autonomia da vontade das partes contratantes”. 2 - Classificação das alterações. 2.1 - Quanto à origem: - obrigatórias – decorrem de lei ou instrumento coletivo - voluntárias – decorrem da vontade das partes (unilaterais ou bilaterais) 2.2 - Quanto ao objeto: - qualitativas – envolvem a natureza do trabalho do empregado (mudança de função) exemplos: promoção; rebaixamento; reversão (art. 450 e 468, parágrafo único). Art. 450 - Ao empregado chamado a ocupar, em comissão, interinamente, ou em substituição eventual ou temporária, cargo diverso do que exercer na empresa, serão garantidas a contagem do tempo naquele serviço, bem como volta ao cargo anterior. - quantitativas – envolvem remuneração e jornada. 2.3 – Quanto à natureza: sendo que as alterações podem ser lícitas ou ilícitas, dependendo do caso de observarem ou não as prescrições legais. 2.4 – Quanto às pessoas e ao número de pessoas: - unilaterais – impostas pelo empregador.

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Page 1: Direito Do Trabalho i

DIREITO DO TRABALHO I – material 07

ALTERAÇÕES, SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO

DO CONTRATO DE TRABALHO

Lázaro Luiz Mendonça Borges

1 - Alterações do contrato de trabalho.

O contrato de trabalho é de trato sucessivo ou execução continuada e, portanto, perdura no tempo, de acordo com o princípio da imodificabilidade (ou inalterabilidade). A regra é de que o contrato de trabalho não pode ser modificado unilateralmente pelo empregador. Essa regra é observada no artigo 468 da CLT:

Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia.

Parágrafo único - Não se considera alteração unilateral a determinação do empregador para que o respectivo empregado reverta ao cargo efetivo, anteriormente ocupado, deixando o exercício de função de confiança.

Sergio Pinto Martins salienta que “o princípio da imodificabilidade do contrato de trabalho reflete uma forte intervenção do Estado na relação entre empregado e empregador, de modo a que o primeiro, por ser o polo mais fraco dessa relação, não venha a ser prejudicado com imposições feitas pelo segundo e decorrentes de seu poder de direção. Daí a necessidade da interferência do Estado, evitando que o empregador altere unilateralmente as regras do pacto laboral. Trata-se, portanto, de uma norma de ordem pública, que restringe a autonomia da vontade das partes contratantes”.

2 - Classificação das alterações.

2.1 - Quanto à origem:

- obrigatórias – decorrem de lei ou instrumento coletivo

- voluntárias – decorrem da vontade das partes (unilaterais ou bilaterais)

2.2 - Quanto ao objeto:

- qualitativas – envolvem a natureza do trabalho do empregado (mudança de função) exemplos: promoção; rebaixamento; reversão (art. 450 e 468, parágrafo único).

Art. 450 - Ao empregado chamado a ocupar, em comissão, interinamente, ou em substituição eventual ou temporária, cargo diverso do que exercer na empresa, serão garantidas a contagem do tempo naquele serviço, bem como volta ao cargo anterior.

- quantitativas – envolvem remuneração e jornada.

2.3 – Quanto à natureza: sendo que as alterações podem ser lícitas ou ilícitas, dependendo do caso de observarem ou não as prescrições legais.

2.4 – Quanto às pessoas e ao número de pessoas:

- unilaterais – impostas pelo empregador.

- bilaterais – são negociadas entre empregado e empregador.

- individuais – dizem respeito a cada empregado.

- determinadas por negociação coletiva – aplicadas a todos os empregados da empresa ou da categoria.

3 - Jus variandi

O empregador poderá fazer, unilateralmente, pequenas modificações no contrato de trabalho que não venham a alterar significativamente o pacto laboral, nem importem prejuízos ao trabalhador. Trata-se do jus variandi, que decorre do poder de direção do empregador.

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Exemplos: alteração do horário de trabalho (súmula 265 do TST); alterações no local de trabalho; remoções e transferências lícitas (artigo 469 da CLT); retorno do empregado de confiança ao cargo anteriormente ocupado (artigo 450 da CLT).

SÚMULA 265. ADICIONAL NOTURNO. ALTERAÇÃO DE TURNO DE TRABA-LHO. POSSIBILIDADE DE SUPRESSÃO (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

A transferência para o período diurno de trabalho implica a perda do direito ao adicional noturno.

O empregado poderá também opor-se a certas modificações que lhe causem prejuízos ou sejam ilegais, que é o que se chama de jus resistentiae, inclusive pleiteando a rescisão indireta do contrato de trabalho (artigo 483 da CLT).

4 - Transferência de empregados:

A transferência do empregado decorre do jus variandi do empregador, consistente no poder que este tem de fazer pequenas modificações no contrato de trabalho, em razão de suas peculiaridades. Assim, pode o empregador transferir o operário, se atendidas certas condições previstas em lei.

- Regra geral: é vedada a transferência do empregado, sem a sua anuência, para localidade diversa da que resultar do contrato, quando implicar mudança de domicílio do obreiro (artigo 469 da CLT, caput).

- Exceções (§§ 1º a 3º do artigo 469 da CLT): cargo de confiança (desde que com o investimento de mandato possa o empregado representar o empregador, inclusive detendo poderes de gestão na empresa); cláusula explícita/implícita no contrato de trabalho (aliada à real necessidade); extinção do estabelecimento; transferência provisória (necessidade do serviço) – falta de profissionais habilitados, impossibilidade de outra pessoa executar serviços, etc.

Art. 469 - Ao empregador é vedado transferir o empregado, sem a sua anuência, para localidade diversa da que resultar do contrato, não se considerando transferência a que não acarretar necessariamente a mudança do seu domicílio.

§ 1º - Não estão compreendidos na proibição deste artigo: os empregados que exerçam cargo de confiança e aqueles cujos contratos tenham como condição, implícita ou explícita, a transferência, quando esta decorra de real necessidade de serviço.

§ 2º - É licita a transferência quando ocorrer extinção do estabelecimento em que trabalhar o empregado.

§ 3º - Em caso de necessidade de serviço o empregador poderá transferir o empregado para localidade diversa da que resultar do contrato, não obstante as restrições do artigo anterior, mas, nesse caso, ficará obrigado a um pagamento suplementar, nunca inferior a 25% (vinte e cinco por cento) dos salários que o empregado percebia naquela localidade, enquanto durar essa situação.

4.1 - Adicional de transferência:

O adicional de transferência só será devido na transferência provisória e não na definitiva. Na transferência definitiva o empregado não está fora do seu local de trabalho habitual, não necessitando de adicional.

O adicional de transferência corresponderá a 25% sobre o salário percebido pelo empregado (Orientação Jurisprudencial nº 113 – SDI-1):

OJ-SDI1-113 ADICIONAL DE TRANSFERÊNCIA. CARGO DE CONFI-ANÇA OU PREVISÃO CONTRATUAL DE TRANSFERÊNCIA. DEVIDO. DESDE QUE A TRANSFERÊNCIA SEJA PROVISÓRIA (inserida em 20.11.1997)

O fato de o empregado exercer cargo de confiança ou a existência de previsão de transferência no contrato de trabalho não exclui o direito ao adicional. O pressuposto legal apto a legitimar a percepção do mencionado adicional é a transferência provisória.

Se a transferência decorre de acordo entre as partes, não é devido o adicional, pois nesse caso há interesse do empregado, além de a transferência ser definitiva.

4.2 - Despesas de transferência:

As despesas de transferência serão pagas pelo empregador, tanto na transferência definitiva quanto na provisória (exegese do artigo 470 da CLT).

Art. 470 - As despesas resultantes da transferência correrão por conta do empregador.

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“As despesas de transporte não têm natureza salarial, mas de reembolso de despesas, embora o enunciado 29 do TST dê a entender que se trate de salário, por força da expressão ´suplemento salarial´ ” (Sérgio Pinto Martins).

SÚMULA 29. TRANSFERÊNCIA (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

Empregado transferido, por ato unilateral do empregador, para local mais distante de sua residência, tem direito a suplemento salarial correspondente ao acréscimo da despesa de transporte.

5 – Suspensão e interrupção do contrato de trabalho:

A suspensão é a cessação temporária e total da execução e dos efeitos do contrato de trabalho. A interrupção é a cessação temporária e parcial dos efeitos do contrato de trabalho. A cessação, em ambos os casos, tem de ser temporária e não definitiva.

A doutrina esclarece que na suspensão o empregado não trabalha, a empresa não deve pagar salários nem haverá contagem de tempo de serviço do empregado afastado. Na interrupção, o empregado também não trabalha, mas deverá haver o pagamento de salários e contagem do tempo de serviço do obreiro. Tempo de serviço guarda relação com os direitos a que o empregado faz jus, como por exemplo, aquisição de férias e 13º salário, contagem de tempo para efeitos previdenciários.

5.1 - Hipóteses de suspensão:

- auxílio doença - a partir do 16º dia de afastamento. Quando por tempo inferior a 06 meses computa-se o prazo para efeito de férias;

- aposentadoria por invalidez (artigo 475 da CLT);

Art. 475 - O empregado que for aposentado por invalidez terá suspenso o seu contrato de trabalho durante o prazo fixado pelas leis de previdência social para a efetivação do benefício.

- suspensão disciplinar (artigo 474 da CLT) / suspensão no inquérito para apuração de falta grave;

Art. 474 - A suspensão do empregado por mais de 30 (trinta) dias consecutivos importa na rescisão injusta do contrato de trabalho.

- exercício de cargo público;

- faltas injustificadas;

- afastamento para cumprir com encargo sindical (543 CLT);

- greve (quando não houver pagamento de salários) – artigo 7º da Lei nº 7.783/1989 (Lei de greve);

- suspensão para participação em curso de qualificação (artigo 476-A da CLT;

Art. 476-A. O contrato de trabalho poderá ser suspenso, por um período de dois a cinco meses, para participação do empregado em curso ou programa de qualificação profissional oferecido pelo empregador, com duração equivalente à suspensão contratual, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho e aquiescência formal do empregado, observado o disposto no art. 471 desta Consolidação.

- violência doméstica – artigo9º, II, § 2º da Lei 11.340/2006.

5.2 - Hipóteses de interrupção:

- ausências por motivo de doença ou acidente de trabalho até o 15º dia (ou seja, os 15 primeiros dias de afastamento);

- paralisação da empresa por iniciativa do empregador;

- férias;

- licença remunerada;

- licença à gestante – embora o salário maternidade seja pago pelo INSS, o tempo de serviço é contado normalmente durante o afastamento;

- aborto (duas semanas – art. 395 CLT);

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Art. 395 - Em caso de aborto não criminoso, comprovado por atestado médico oficial, a mulher terá um repouso remunerado de 2 (duas) semanas, ficando-lhe assegurado o direito de retornar à função que ocupava antes de seu afastamento.

- suspensão em inquérito de apuração de falta grave, quando julgado improcedente;

- faltas justificadas (artigo 473 da CLT);

Art. 473 - O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

I - até 2 (dois) dias consecutivos, em caso de falecimento do cônjuge, ascendente, descendente, irmão ou pessoa que, declarada em sua carteira de trabalho e previdência social, viva sob sua dependência econômica;

II - até 3 (três) dias consecutivos, em virtude de casamento;

III - por um dia, em caso de nascimento de filho no decorrer da primeira semana;

IV - por um dia, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de doação voluntária de sangue devidamente comprovada;

V - até 2 (dois) dias consecutivos ou não, para o fim de se alistar eleitor, nos termos da lei respectiva.

VI - no período de tempo em que tiver de cumprir as exigências do Serviço Militar referidas na letra "c" do art. 65 da Lei nº 4.375,

de 17 de agosto de 1964 (Lei do Serviço Militar).

VII - nos dias em que estiver comprovadamente realizando provas de exame vestibular para ingresso em estabelecimento de ensino superior.

VIII - pelo tempo que se fizer necessário, quando tiver que comparecer a juízo.

IX - pelo tempo que se fizer necessário, quando, na qualidade de representante de entidade sindical, estiver participando de reunião oficial de organismo internacional do qual o Brasil seja membro.

- repouso semanal remunerado;

- requisição de empregado por motivo de segurança nacional (até 90 dias) – o afastamento será solicitado pela autoridade competente diretamente ao empregador, em representação fundamentada, com audiência da Procuradoria Regional do Trabalho, que providenciará a instauração do competente inquérito administrativo. Se o prazo exceder os 90 dias, passa a ser suspensão do contrato;

- lockout – paralisação das atividades, por iniciativa do empregador, com o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos empregados (art. 17, Lei 7783/89);

- intervalos intrajornada – quando computados na jornada e remunerados.

** Observação: auxílio doença e acidentário – quando por tempo inferior a 06 meses computa-se o prazo para efeito de férias.

5.3 - Divergências doutrinárias:

- acidente de trabalho (a partir do 16º dia)

- serviço militar obrigatório

Essas são hipóteses em que não há o pagamento de salários, mas existe a contagem do tempo de serviços para efeitos de indenização e estabilidade (parágrafo único do artigo 4º da CLT).

Art. 4º - Considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada.

Parágrafo único - Computar-se-ão, na contagem de tempo de serviço, para efeito de indenização e estabilidade, os períodos em que o empregado estiver afastado do trabalho prestando serviço militar ... (VETADO) ... e por motivo de acidente do trabalho.

Em ambos os casos, haverá também depósitos para o FGTS, conforme previsão no artigo 15, § 5º da Lei 8.036/1990, abaixo transcrito:

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Art. 15. Para os fins previstos nesta lei, todos os empregadores ficam obrigados a depositar, até o dia 7 (sete) de cada mês, em conta bancária vinculada, a importância correspondente a 8 (oito) por cento da remuneração paga ou devida, no mês anterior, a cada trabalhador, incluídas na remuneração as parcelas de que tratam os arts. 457 e 458 da CLT e a gratificação de Natal a que se refere a Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962, com as modificações da Lei nº 4.749, de 12 de agosto de 1965.

§ 5º O depósito de que trata o caput deste artigo é obrigatório nos casos de afastamento para prestação do serviço militar obrigatório e licença por acidente do trabalho. (Incluído pela Lei nº 9.711, de 1998)

5.4 – Suspensão e interrupção nos contratos por prazo determinado:

Tanto a suspensão quanto a interrupção não afetam a fluência do contrato a termo, salvo se houver acordo prévio (§ 2º artigo 472 da CLT).

Art. 472 - O afastamento do empregado em virtude das exigências do serviço militar, ou de outro encargo público, não constituirá motivo para alteração ou rescisão do contrato de trabalho por parte do empregador.

§ 1º - Para que o empregado tenha direito a voltar a exercer o cargo do qual se afastou em virtude de exigências do serviço militar ou de encargo público, é indispensável que notifique o empregador dessa intenção, por telegrama ou carta registrada, dentro do prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da data em que se verificar a respectiva baixa ou a terminação do encargo a que estava obrigado.

§ 2º - Nos contratos por prazo determinado, o tempo de afastamento, se assim acordarem as partes interessadas, não será computado na contagem do prazo para a respectiva terminação.

A lei nada esclarece sobre se o empregado pode ser dispensado durante o prazo de suspensão ou interrupção do contrato de trabalho. A jurisprudência tem se firmado no sentido de que a dispensa não pode ser efetivada nos casos de suspensão e interrupção do contrato.

REMUNERAÇÃO E SALÁRIO

Devido a confusão terminológica causada pela redação da lei, discute-se no campo doutrinário qual seria a distinção existente entre os vocábulos remuneração e salário.

Atentemos para a redação do art. 457 da CLT:

"Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber."

Da analise do texto legal supra, poderíamos concluir que "salário" sendo uma espécie do gênero "remuneração".

Mas se analisarmos a § 1º do mesmo artigo, veremos que a conclusão acima não esta correta.

"Integram a salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abono: pagos pelo empregador."

Vemos, então, que a lei utiliza o termo salário no lugar de remuneração.

A bem da verdade, parece-nos que a termo remuneração esta a indicar que o mesmo e a soma dos salários mais gorjetas.

Par sua vez, salário indica a parte fixa mais a parte variável pagas diretamente pelo empregador ao empregado.

Não obstante a doutrina trabalhista dividir-se quanta a distinção dos termos salário e remuneração, cremos que o melhor e a formula por nos proposta, ou seja, a de que remuneração e igual a salários mais gorjetas.

Portanto, não está errado dizer que um bancário recebe remuneração. Podemos ate usar uma formula matemática, para melhor visualização:

R=S+G

S = F + C + D + A + Ab + Sin

R = remuneração;

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S = salário;

G = gorjetas;

F = parte fixa;

C = comissões;

D = diárias;

A = ajuda de custo;

Ab= abonos;

Sin = salário indireto.

GORJETAS

Ela e a responsável pela distinção legal entre remuneração e salário. Consiste numa liberalidade em dinheiro dada pelo cliente ao prestador de serviço que o tenha atendido.

Frise-se que o empregado não pode receber apenas as gorjetas, devendo o mesmo ter assegurado, pelo menos, um salário mínimo.

A gorjeta e definida no § 3º do art. 457 da CLT.

"Art. 457 ...

§ 3º Considera- e gorjeta não só a importância espontaneamente dada pelo cliente, ao empregado, como também aquela que for cobrada pela empresa ao cliente, como adicional na contas, a qualquer título, e destinada a distribuição aos empregados."

O Tribunal Superior do Trabalho emitiu o recente Enunciado 354, o qual assim se pronuncia quanta as gorjetas:

"GORJETAS. NATUREZA JURIDICA. REPERCUSSÕES. A gorjetas, cobradas pelo empregador na nota de serviço ou oferecidas espontaneamente pelos clientes, integram a remuneração do empregado, não servindo de base de calculo para parcelas de aviso prévio, adicional noturno, horas extras e repouso semanal."

DIÁRIAS E AJUDA DE CUSTO

Quando um empregado cumpre seu trabalho numa localidade distante de onde o mesmo reside, o empregador área com as despesas do período de afastamento. A estas despesas dâ-se o nome diárias.

A ajuda de custo tem por finalidade cobrir os gastos que tem o empregado, sendo os mesmos necessários e ate indispensáveis ao desempenho do trabalho. É o caso, por exemplo, de um vendedor que recebe ajuda de custo mensal para cobrir os gastos com combustível de seu veiculo.

O § 2º do art. 457 da CLT estabelece que:

"Art. 457 ...

§ 2º Não se incluem nos salários as ajudas de custo, assim como as diárias para viagem que não excedam de 50% (cinqüenta por cento) do salário percebido pelo empregado."

Vemos que se o valor das diárias ultrapassar 50% do salário do empregado, elas se integrarão ao mesmo.

A lei visa proteger o empregado e evitar fraudes, pois, nestes casos (de ultrapassagem de 50%), os valores das diárias deverão refletir nos depósitos no FGTS, nos recolhimentos previdenciários e no pagamento de ferias e 13º salário. Atente-se que o aqui afirmado não se aplica a ajuda de custo, mas somente as diárias.

SALÁRIO IN NATURA

Também e chamado salário utilidade. Sua previsão legal encontra-se no art. 458 da CLT:

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"Alem do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações in natura que a empresa, por força do contrato ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado. Em caso algum será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas."

É o caso do zelador de prédio de apartamentos, que recebe moradia.

Entre empregados mais graduados, seria o caso daqueles gerentes que têm automóvel cedido pelo empregador. E oportuno deixar claro que a utilidade fornecida pelo empregador só se constituirá em salário se o mesmo não for utilizado no desempenho do trabalho. Usando ainda o exemplo do veiculo, se este for dado a um vendedor para que ele o utilize só mente em suas atividades, não existira caráter salarial.

Enfim, tudo que o empregador fornecer ao empregado para o trabalho não será considerado salário; tudo o que for fornecido pelo trabalho será salário, devendo incidir no pagamento de ferias, 13º salário, aviso previa, depósitos ao FGTS e recolhimentos previdenciários.

O art. 458 teve recente e importante alteração. Trata-se do § 2º, que tem esta redação:

“§ 2º Para os efeitos previstos neste artigo, não serão consideradas como salário as seguitnes utilidades concedidas pelo empregador:

I - vestuários, equipamentos e outros acess6rios fornecidos aos empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço;

II - educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros, compreendendo os valores relativos a matricula, mensalidade, anuidade, livros e material didático;

III - transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno em percurso servido ou não por transporte publico;

IV - assistência medica hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou mediante seguro-saúde;

V - seguros de vida e de acidentes pessoais;

VI - previdência privada;

VII - (vetado) (NR)."

Os benefícios apresentados não têm natureza jurídica salarial.

EQUIPARAÇÃO SALARIAL

Art. 461

"Sendo idêntica a função, a todo o trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade, correspondera igual salário, sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade.

§ lº Trabalho de igual valor, para os fins deste Capitulo, será o que for feito com igual produtividade e com a mesma perfeição técnica, entre pessoas cuja diferença de tempo de serviço não for superior a 2 (dois) anos.

§ 2º Os dispositivos deste artigo não prevalecerão quando o empregador tiver pessoal organizado em quadro de carreira, hipótese em que as promoções deverão obedecer aos critérios de antiguidade e merecimento.

§ 3º No caso do parágrafo anterior, as promoções deverão ser feitas alternadamente por merecimento e por antiguidade, dentro de cada categoria profissional.

§ 4º O trabalhador readaptado em nova função por motivo de deficiência física ou mental atestada pelo órgão competente da Previdência Social não servira de paradigma para fins de equiparação salarial."

A norma consolidada esta em consonância com o art. 7º, inc. XXX, da Constituição da Republica, que diz:

“Art.7º...

XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil."

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Na verdade, o principio constitucional da isonomia salarial sofre exceções, isto e, trata-se de uma igualdade relativa.

Melhor esclarecendo, só tem direito ao mesmo salário que um outro empregado aquele que exercer função idêntica, desde que trabalhe na mesma empresa, que se trate de trabalho executado com a mesma produtividade e a mesma perfeição técnica, e, ainda, que seja entre pessoas cuja diferença de tempo de serviço não seja superior a dois anos. Esta diferença deve ser no exercício da função e não no emprego. Alias este e o teor do Enunciado nº. 135, do TST:

"Para efeito de equiparação de salários, em caso de trabalho igual, conta-se o tempo de serviço na função, e não no emprego."

PROTEÇÃO AO SALÁRIO

O salário deve ser pago em períodos não superiores a um mês, exceção feita a comissões, percentagens e gratificações, e o que diz o art. 459 da CLT:

"O pagamento do salário, qualquer que seja a modalidade do trabalho, não deve ser estipulado por período superior a 1 (um) mês, salvo no que concerne a comissões, percentagens e gratificações.

§ 1º Quando o pagamento houver sido estipulado por mês, devera ser efetuado, o mais tardar ate o quinto dia útil do mês subseqüente ao vencido."

Vemos que a lei determina que o pagamento se de ate o quinto dia útil do mês subseqüente ao vencido.

A prova do pagamento do salário deve ser feita por recibo, sendo valido o comprovante de deposito bancário.

Vejamos a redação do art. 464 da CLT:

"Art. 464. o pagamento do salário devera ser efetuado contra recibo, assinado pelo empregado; em se tratando de analfabeto, mediante sua impressão digital, ou, não sendo esta possível, a seu rogo."

Aqui cabe chamar a atenção para o fato de que não se e admitida prova testemunhal em juízo para comprovação de pagamento de salário.

O art. 462 da CLT traz as regras a serem observadas para os descontos nos salários dos empregados. Vejamos:

"Art. 462. Ao empregador e vedado efetuar qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo.

§ 1º Em caso de dano causado pelo empregado, o desconto será licito, desde que esta possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado.

§ 2º E vedado a empresa que mantiver armazém para venda de mercadorias aos empregados ou serviços destinados a proporcionar-lhes prestações in natura exercer qualquer coação ou induzimento no sentido de que os empregados se utilizem do armazém ou dos serviços.

§ 3º Sempre que não for possível o acesso dos empregados a armazéns ou serviços não mantidos pela empresa, e licito a autoridade competente determinar a adoção de medidas adequadas, visando a que as mercadorias sejam vendidas e os serviços prestados a preços razoáveis, sem intuito de lucro e sempre em beneficio dos empregados.

§ 4ºObservado o disposto neste Capitulo, e vedado as empresas limitar, por qualquer forma, a liberdade dos empregados de dispor do seu salário."

A regra geral e a da não-possibilidade de desconto nos salários do empregado. Todavia, o § 1º do art. 462 traça as regras para a ocorrência de descontos.

Como se vê, caso ocorra dano por parte do empregado, o empregador só poderá proceder desconto nos salários dos trabalhadores, se houver previsão contratual, ou se os danos ocorrerem de forma dolosa.

Quanto a previsão contratual de descontos, a regra contida na lei deve ser analisada de forma restrita. Imaginemos uma situação em que o empregador insira no contrato de trabalho de um empregado, digamos, que trabalhe com maquinas elétricas, que ocorrendo uma quebra dessa maquina o empregado tenha que ressarcir os prejuízos. Entendemos que não havendo culpa excessiva do empregado, o desconto não poderá ser efetuado.

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Por fim, são os salário impenhoráveis, podendo apenas haver retenção dos mesmos no caso de pensão alimentícias.

DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO

É previsto na Lei nº. 4.090 de 13-7-1962. E ta lei trata da gratificação natalina, que e uma gratificação salarial de ida a todo o empregado no mês de dezembro, dai sua denominação.

A Lei nº. 4.749, de 12-8-1965, disciplina o pagamento do décimo terceiro salário. Deve este ser pago até o dia 20 de dezembro. Esta lei obriga que metade do décimo terceiro deve ser pago entre os meses de fevereiro e novembro de cada ano. Daí a praxe de se pagar 50% em novembro e o restante em dezembro. Outra pratica usual e do empregado receber os referidos 50% juntamente com as ferias. Este procedimento e determinado pela lei, mas o empregado devera fazer solicitação nesse sentido no mês de janeiro de cada ano.

Questionário

Nerva, empregada da empresa A, celebrou acordo de compensação de horas com sua empregadora, amparada pela Convenção Coletiva de Trabalho da Categoria. Três meses após, Nerva foi dispensada sem justa causa, sem que tenha ocorrido a compensação integral da jornada extraordinária que laborou. Neste caso, Nerva

a) terá direito ao pagamento das horas extras não compensadas que será calculado sobre a remuneração na data da rescisão.

b) não terá direito ao pagamento das horas extras não compensadas em razão da rescisão do contrato de trabalho.

c) terá direito a uma indenização pré-fixada na Consolidação das Leis do Trabalho em 5 salários mínimos.

d) terá direito a uma indenização pré-fixada na Consolidação das Leis do Trabalho em 5 salários a serem recebidos na data da rescisão.

e) terá direito a uma indenização pré-fixada na Consolidação das Leis do Trabalho em 12 salários mínimos a serem recebidos na data da rescisão.

2-As atividades de capatazia, estiva, conferência de carga, conserto de carga, vigilância de embarcações e bloco são executadas especificamente pelo trabalhador

a) eventual.

b) temporário.

c) autônomo.

d) avulso.

e) celetista estrangeiro.

3-Gislene é empregada da empresa V. Ontem, ela laborou das 22:00hs às 06:00hs. Neste caso, em regra, de acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho

a) será devido o adicional noturno de 30% também quanto às horas extras feitas por Gislene, após às 04:00hs, em razão da prorrogação de sua jornada.

b) será devido o adicional noturno de 30% também quanto à hora extra feita por Gislene, após às 05:00hs em razão da prorrogação de sua jornada.

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c) será devido o adicional noturno de 20%, também quanto à hora extra feita por Gislene, após às 05:00hs, em razão da prorrogação de sua jornada.

d) não será devido o adicional noturno quanto às horas extras feitas por Gislene após às 05:00hs, tendo em vista o término do horário noturno legalmente previsto.

e) não será devido o adicional noturno quanto às horas extras feitas por Gislene após às 04:00hs tendo em vista o término do horário noturno legalmente previsto.

Jair, empregado da empresa Z, sofreu acidente de trabalho quando uma máquina de montagem de peças causoulhe ferimento no pé, tendo sido afastado de seu emprego por quinze dias. O afastamento por motivo de acidente de trabalho, neste caso, constitui hipótese

a) autorizadora de rescisão indireta do contrato de trabalho.

b) de extinção do contrato de trabalho sem justa causa.

c) de suspensão do contrato de trabalho.

d) de alteração do contrato de trabalho.

e) de interrupção do contrato de trabalho.

4-As irmãs Simone, Sinara e Soraya tiveram seus contratos de trabalho rescindidos. A dissolução do contrato de trabalho de Simone decorreu de culpa recíproca de ambas as partes; a rescisão do contrato de trabalho de Sinara foi indireta, tendo em vista que a sua empregadora praticou uma das faltas graves passíveis de rescisão contratual; e Soraya foi dispensada com justa causa. Nestes casos, o aviso prévio

a) não será devido a Simone, Sinara e Soraya, por expressa disposição legal.

b) será devido apenas a Simone, em 50% do seu valor.

c) será devido a Simone, Sinara e Soraya, sendo o seu valor integral para Simone e Sinara e de 50% para Soraya.

d) será devido apenas a Simone e Sinara, sendo o seu valor integral para Sinara e de 50% para Simone.

e) será devido apenas a Simone e Sinara, sendo para ambas em valor integral.

Parte superior do formulário

5-Camila labora no supermercado X, a quem a sua empregadora pretende pagar parte do salário contratual através de produtos alimentícios. De acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho, em se tratando de salário in natura, o percentual legal permitido para alimentação fornecida como salário-utilidade não poderá exceder

a) 10% do salário contratual.

b) 15% do salário contratual.

c) 20% do salário contratual.

d) 25% do salário contratual.

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e) 35% do salário contratual.

6-Considere as seguintes assertivas a respeito do 13o salário:

I. O 13o salário proporcional incide nas rescisões indiretas do contrato de trabalho, bem como nos pedidos de demissão. II. Entre os meses de fevereiro e novembro de cada ano, o empregador pagará, como adiantamento do 13o salário, de uma só vez, metade do salário recebido pelo respectivo empregado no mês anterior. III. O empregador estará obrigado a pagar o adiantamento referente ao 13o salário, no mesmo mês, a todos os seus empregados. IV. O adiantamento será pago ao ensejo das férias do empregado, sempre que este o requerer no mês de janeiro do correspondente ano.

a) II, III e IV.

b) I, II e IV.

c) I e IV.

d) I e II.

e) I, III e IV.

7-Considere:

I. Kátia, empregada da empresa P, está gozando suas férias. II. Luana, empregada da empresa M, está em horário de almoço (intervalo intrajornada remunerado). III. Lindoval, empregado da empresa G, está gozando sua "licença- paternidade". IV. Bárbara, empregada da empresa GG, está afastada de seu emprego para cumprimento de encargo público obrigatório.

a) II, III e IV.

b) I, II e III.

c) I e II.

d) III e IV.

e) I e III.

8-Gabriel ajuizou reclamação trabalhista em face da sua exempregadora no dia 10 de novembro de 2010. A Audiência UNA foi realizada no dia 8 de fevereiro de 2011 sendo que, a empresa foi intimada da respectiva reclamação trabalhista no dia 27 de janeiro de 2011. Neste caso, o prazo prescricional trabalhista de dois anos previsto na Constituição Federal brasileira foi

a) interrompido no dia 10 de novembro de 2010.

b) suspenso no dia 10 de novembro de 2010.

c) interrompido no dia 8 de fevereiro de 2011.

d) suspenso no dia 27 de janeiro de 2011.

e) interrompido no dia 27 de janeiro de 2011.

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9-No tocante às infrações obreiras relacionadas à rescisão do contrato de trabalho com justa causa, o nexo causal entre a falta e a pena aplicada e a imediaticidade da punição são especificamente requisitos

a) objetivos.

b) subjetivos.

c) circunstanciais.

d) objetivo e subjetivo, respectivamente.

e) subjetivo e objetivo, respectivamente.