direito constitucional para prf prof. gabriel...

45
Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade _____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Upload: truongthuan

Post on 03-Oct-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

AULA 00 - DIREITO CONSTITUCIONAL (GRATUITA)

TEORIA GERAL DA CONSTITUIÇÃO E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

1- Introdução ...................................................................................................................1

2- Constituição da República Federativa do Brasil .....................................................3 2.1 - Conceito ....................................................................................................... 2.2 - Classificação ................................................................................................ 5 2.3 - A Pirâmide de Kelsen – Hierarquia entre as normas ..................................10

3 - Aplicabilidade das normas constitucionais .........................................................14 3.1- Normas de Eficácia Plena ........................................................................... 15 3.2 - Normas de Eficácia Contida ....................................................................... 15 3.3 - Normas de Eficácia Limitada ...................................................................... 17 3.4 - Normas Programáticas ................................................................................19

4 - Preâmbulo e Princípios Fundamentais (art. 1° ao 4° da CRFB) ……………...... 21 4.1 - Fundamentos da Constituição Federal (art. 1°) ......................................... 22 4.2 - Tripartição Funcional do Poder (art. 2°) ..................................................... 27 4.3 - Objetivos Fundamentais da Constituição Federal (art. 3°) ........................ 28 4.4 - Princípios que regem as relações internacionais (art. 4°) ......................... 29 4.5 - Objetivo do Brasil no plano internacional (art. 4°, parágrafo único) .......... 29 5 - LISTA DE EXERCÍCIOS ......................................................................................... 30 6 - GABARITO COMENTADO ..................................................................................... 37

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

INTRODUÇÃO

Olá futuros policiais rodoviários federais, é com imenso prazer que apresento a vocês essa aula GRATUITA de DIREITO CONSTITUCIONAL, voltada para o concurso de agente da Polícia Rodoviária Federal, dando enfoque para a banca CESPE - UNB, que foi a banca escolhida para os últimos concursos da PRF, para vocês conhecerem um pouco do meu trabalho. Primeiramente, gostaria de me apresentar: Meu nome é Gabriel Andrade da Silva, sou policial rodoviário federal, aprovado no concurso de 2009. Sou bacharel em Direito, pela Universidade Estácio de Sá e especialista em Direito Penal e Processual Penal, pela Universidade Cândido Mendes. Tenho grande experiência em concursos públicos, sendo aprovado nos seguintes concursos: Sargento da Aeronáutica (2002), TRT/RJ (2008) e Polícia Rodoviária Federal (2009). Para a confecção desta apostila, serão adotadas definições teóricas de doutrinas majoritárias mais cobradas em concursos públicos. Além disso, serão apresentados todos os artigos da Constituição (cobrados no último edital) e, ainda, decisões jurisprudenciais (decisões dos tribunais superiores) que costumam cair em prova. Mas não se preocupem, irei usar uma linguagem clara e acessível, sendo de fácil compreensão a todos, mesmo àqueles que nunca tenham estudado Direito. Como metodologia de aprendizagem, farei uma exposição teórica do conteúdo cobrado no último edital. Sempre que possível, apresentarei esquemas mentais para facilitar a memorização e revisão da matéria e, por fim, demonstrarei o que a CESPE costuma cobrar em seus concursos sobre os temas explicados, através de resolução de exercícios com comentários sobre o gabarito oficial. Os módulos estão baseados no último edital para agente da polícia rodoviária federal, mas, pela gama de informações, o curso abrange outros concursos que cobram Direito Constitucional, sendo importante ferramenta no objetivo maior de vocês: serem servidores públicos. Posso garantir que, em relação aos temas que estão dispostos nesse curso, não há a necessidade de buscar material de Direito Constitucional em outro lugar. Se lerem os módulos, fizerem os exercícios e assistirem os vídeos com dicas que serão disponibilizados futuramente, podem ter a certeza que estarão mais do que preparados para fazerem uma boa prova!

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Agora, futuro colega de trabalho, vou listar alguns motivos para lhe incentivar a se dedicar aos estudos e realizar uma boa prova:

➢ Através da Lei 13.371/16, o salário inicial para o cargo de agente da Polícia Rodoviária Federal, desde de janeiro deste ano, foi reajustado para R$ 9.473,57;

➢ A PRF já solicitou ao Ministério do Planejamento (MPOG), a abertura de um novo concurso público e já foi elaborado um cronograma de atividades, com possível edital para o segundo semestre deste ano;

➢ O serviço de policial rodoviário federal é extremamente gratificante e dinâmico: todo plantão é único;

➢ A satisfação de, através do seu trabalho, estar contribuindo em prol de uma sociedade melhor;

➢ A grande variedade de atividades que podem ser exercidas dentro da Polícia Rodoviária Federal, como fiscalizações de trânsito, combate ao crime, controle de distúrbios, atendimento médico, patrulhamento aéreo, trabalhos sociais, dentre outros;

➢ A carreira atrativa do cargo de policial rodoviário federal, com promoções anuais e, como consequência, aumento salarial.

Por fim, gostaria de dar algumas dicas de como tornar seu estudo mais efetivo e, com isso, aumentar a probabilidade de realizar uma boa prova:

➢ A banca examinadora para o concurso da PRF possivelmente será a CESPE que, como regra, adota o estilo de certo ou errado para cada questão formulada. Como devem saber, para cada questão que o candidato erra, anula-se uma que tenha acertado. Dessa forma, ao fazer uma bateria de exercícios, procure realizá-los nos moldes da CESPE e não sinta receio em deixar alguma questão em branco, caso não saiba a resposta. Lembre-se, essa questão que deixou de responder não irá anular uma questão certa!

➢ Procure olhar sempre o gabarito comentado das questões, mesmo as que tenha acertado. Às vezes acertamos uma questão tendo por base um raciocínio

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

que não é o correto. Além disso, o gabarito comentado pode trazer informações valiosas que irão aumentar seu conhecimento sobre a matéria; ➢ Sempre refaça os exercícios propostos. Vocês irão perceber que, por vezes, a banca CESPE acaba repetindo questões, mudando somente algumas palavras. Além disso, a repetição é um dos métodos de memorização mais eficazes;

➢ Após realizar uma bateria de exercícios, calcule sua porcentagem de acertos (itens certos e errados, no padrão CESPE). Tenha como meta 80% a 90% de acerto. Lembre-se: acertar todas as questões formuladas será ótimo, mas não busque os 100%. Você precisa passar na prova da PRF, e não ser um especialista em Direito Constitucional! Esse método será importante para saber a efetividade de seu estudo e também para ter um parâmetro de auto-avaliação.

Bom, futuros PRFs, após essas considerações iniciais, mostrarei o cronograma das aulas do nosso curso, baseado no último edital do concurso da Polícia Rodoviária Federal. DEDIQUEM-SE E BONS ESTUDOS!!!

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

Todos nós, pelo menos alguma vez, já ouvimos algo sobre a nossa Constituição. Sabemos que ela traz uma série de direitos, como o de se expressar livremente (Ex: manifestações populares recentes), mas também traz uma gama de deveres que devem ser cumpridos, como a proibição de ficar no anonimato durante a manifestação do pensamento (Ex: black blocs). Para efeito didático e, uma vez que já foi cobrada em concursos anteriores da CESPE, trazemos a definição de Alexandre de Moraes de Constituição que é lei fundamental e suprema de um Estado, criada pela vontade soberana do povo. Tem por objetivo a organização político-jurídica do Estado, a formação dos poderes públicos, forma de governo, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres do cidadão. Além disso, impõe limitações ao poder do Estado, através dos direitos e garantias fundamentais.1 Outro tema bastante cobrado é a concepção de constituição ideal, defendida pelo célebre escritor português J. J. Canotilho. Tratam-se de postulados político-liberais que possuem os seguintes elementos:2

→ Deve consagrar um sistema de garantias de liberdades (direitos e garantias fundamentais);

→ Deve conter o princípio da divisão de poderes, de modo a evitar os abusos estatais;

→ A Constituição deve ser escrita (documento escrito) e adotar um sistema democrático formal.

Esses postulados surgiram no início do século XIX, a partir do triunfo do movimento constitucional, e tem como objetivo a limitação do poder coercitivo do Estado. De fato, como veremos posteriormente, conforme nossa Constituição, todo poder emana do

1 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, 32ª Ed. São Paulo. Editora Atlas: 2016, p. 1. 2 CANOTILHO, J. J. Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador. Coimbra. Coimbra Editora:1994, p. 151.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, através do voto, plebiscito, referendo e lei de iniciativa popular.

voto: É a manifestação da vontade popular de forma a viabilizar a concretização da democracia representativa ou indireta.

plebiscito: consulta PRÉVIA do Governo aos cidadãos antes de decidir uma questão (Ex: divisão do estado do Pará - 2005).

referendo: consulta POSTERIOR da população de atos normativos (leis ou emendas) do Governo, visando obter sua ratificação ou não (Ex: Lei do Estatuto do Desarmamento)

iniciativa popular: projetos de lei que podem ser elaborados pelos cidadãos ao Poder Legislativo. Suas condições estão dispostas no artigo 61 § 2° da CF/88. (Ex: Lei da Ficha Limpa).

CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

Tema que a CESPE vem dando grande importância em seus concursos mais recentes. Dessa forma, trarei a vocês a classificação das Constituições, que são mais comumente cobradas em prova e ao final, será apresentado um esquema para memorização do conteúdo. 1) Quanto ao conteúdo:

a) Materiais (substanciais): Conjunto de regras materialmente constitucionais, estejam ou não codificadas em um único documento. Normas materialmente constitucionais são aquelas que regulam os aspectos fundamentais da vida do Estado (sua estrutura, organização do poder e direitos fundamentais, por exemplo).

b) Formais: São aquelas elaboradas na forma escrita, por meio de um documento solene estabelecido pelo poder constituinte. Possui como pressuposto uma Constituição rígida (sua alteração é mais dificultosa do que uma lei ordinária).

Destacamos que as normas formalmente constitucionais são aquelas que compõem o texto de uma Constituição escrita e rígida, independente do

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

conteúdo. O que deve ser observado é o processo de elaboração. Depreende-se, portanto, que em nossa Constituição, todas as normas são formais, mas nem todas são normas materiais, como vimos anteriormente.

2) Quanto à forma:

a) Escritas (instrumentais): é o conjunto de regras codificado e sistematizado em documentos solenes, elaborados por um órgão constituinte especialmente encarregado para essa tarefa, para fixar-se a organização fundamental do Estado.3 Canotilho denomina-a de Constituição instrumental, apontando seu efeito racionalizador, estabilizante, de segurança jurídica e de calculabilidade e publicidade.4

As Constituições escritas subdividem-se em:

➢ codificadas (unitárias): quando suas normas se encontram em um único texto (Ex. CF/88).

➢ legais (variadas ou pluritextuais): quando suas normas se encontram

em diversos documentos solenes.

b) Não escritas (costumeiras ou consuetudinárias): é o conjunto de regras não aglutinado em um texto solene, mas baseado em leis esparsas, costumes, jurisprudência, acordos e convenções. (Ex: Constituição Inglesa). ATENÇÃO!!!! As Constituições não escritas, embora pareça um pouco ortodoxo, também possuem normas escritas (Ex: leis e convenções). Muito cobrado pela banca CESPE!!!

3) Quanto ao modo de elaboração:

a) Dogmáticas (sistemáticas): são escritas e sistematizadas por um órgão constituinte, a partir de dogmas e valores então vigentes. Subdividem-se em:

➢ ortodoxas: refletem uma só ideologia.

➢ heterodoxas (ecléticas): quando suas normas se originam de ideologias distintas. A CF/88 é uma norma dogmática e eclética, uma

3 MORAES, Alexandre de. Op. cit. p. 10. 4 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. Almedina, p. 87.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

vez que adotou, como fundamento do Estado, o pluralismo político (artigo 1°, inciso V).

b) Históricas: são frutos de lenta contínua síntese da História e tradições de um determinado povo (Ex: Constituição Inglesa).

4) Quanto à origem:

a) Promulgadas (democráticas, populares ou votadas): derivam do trabalho de uma Assembleia Constituinte de representantes do povo, através de um processo democrático, eleitos com a finalidade de sua elaboração (Ex: Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988).

b) Outorgadas (impostas, ditatoriais, autocráticas): são elaboradas e estabelecidas sem a participação popular, através da imposição do poder da época (Ex: Constituições brasileiras de 1824, 1937, 1967 e EC n° 01/69).

c) Cesaristas (bonapartistas): são aquelas que nascem sem participação popular (outorgadas), porém dependem de ratificação (através de referendo) do povo.

d) Dualistas (pactuadas): são resultados do acordo entre uma monarquia enfraquecida e uma burguesia em ascensão. Essas constituições limitam o poder monárquico, formando as chamadas monarquias constitucionais. Pouco cobrada em provas.

5) Quanto à estabilidade:

a) Imutáveis (graníticas, intocáveis ou permanentes): Constituições onde se veda qualquer alteração, constituindo-se em verdadeiras relíquias históricas.

b) Super-rígidas: classificação defendida apenas por Alexandre de Moraes, que considera a CF/88 como super-rígida porque, como regra, pode ser alterada por um processo legislativo diferenciado (emendas constitucionais), mas, excepcionalmente, em alguns pontos é imutável (CF/88 art. 60, § 4° - cláusulas pétreas).5 Classificação pouco cobrada em provas de concurso.

5 MORAES, Alexandre de. Op. cit. p. 13.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Cláusulas Pétreas: Explícitas (Art. 60 § 4° da CF/88) Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa do Estado; II - o voto direto secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e as garantias individuais Implícitas (não previstas no Art. 60 § 4° da CF/88) Segundo a melhor doutrina: - Forma republicana de governo; - Direitos Sociais (art. 6° ao 11 da CF/88); - Princípio da anterioridade tributária (artigo 50, inciso III, alínea b da CF/88); - Princípio da anterioridade eleitoral (artigo 16 da CF/88); - Titularidade do Poder Constituinte Originário; - Titularidade do Poder Constituinte Derivado; - Procedimentos de reforma constitucional. Esse tema será melhor explicado em aulas futuras

c) Rígidas: são as constituições escritas que poderão ser alteradas por um processo legislativo mais solene e dificultoso que o existente para as demais espécies normativas. A CF/88 é rígida, uma vez que exige um procedimento mais dificultoso para ser modificada (Artigo 60 da CF/88 - emendas constitucionais). ATENÇÃO!!! (Questão elaborada pelo professor) A Constituição de 1988 tem como característica a rigidez, por ser modificada apenas por um processo mais dificultoso do que as leis ordinárias, garantindo, pois, sua estabilidade. Questão incorreta. A CF/88 é rígida, porém a mesma não é estável, pois já foi modificada por diversas emendas constitucionais. A estabilidade de uma Constituição se relaciona com o amadurecimento da sociedade e de suas instituições estatais.

d) Semirrígidas (semiflexíveis): Algumas regras podem ser alteradas pelo processo legislativo ordinário e outras somente por um processo mais dificultoso.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

e) Flexíveis: Em regra não escritas, excepcionalmente escritas, poderão ser alteradas pelo processo legislativo ordinário.

6) Quanto à sua extensão e finalidade:

a) Sintéticas (negativas, garantias, concisas, sumárias ou curtas): preveem somente os princípios e as normas gerais de regência do Estado, organizando-o e limitando seu poder, por meio de estipulação de direitos e garantias fundamentais (Ex: Constituição Norte Americana, que possui apenas sete artigos). O detalhamento dos direitos fica a cargo das leis ordinárias. Conforme José Afonso da Silva, essas constituições são consideradas constituições negativas, porque construtoras apenas de liberdade-negativa ou liberdade-impedimento, oposta à autoridade, também chamadas de constituições garantias.6

b) Analíticas (dirigentes, prolixas, extensas ou longas): examinam e

regulamentam todos os assuntos que entendam relevantes à formação e funcionamento do Estado (Ex: CF/88). Segundo José Afonso da Silva, nossa Constituição assumiu a característica de constituição-dirigente, enquanto define fins e programas de ação futura.7

A partir das definições apresentadas, podemos classificar nossa Constituição como: promulgada, escrita (legal), dogmática (heterodoxa), rígida, analítica e formal. Para facilitar o aprendizado, usamos o mnemônico PEDRA Formal. Promulgada Escrita Dogmática Rígida Analítica Formal As classificações de constituições apresentadas são as mais mencionadas pela doutrina majoritária e também as mais cobradas pela CESPE. Nesse sentido, não colocarei todas as classificações existentes, pois a apostila ficará demasiada extensa, fugindo do objetivo do curso. 6 SILVA, José Alfonso. Curso de direito constitucional positivo. 9ª ed. São Paulo: Malheiros, 1992. Prefácio, p.8. 7 SILVA, José Alfonso. Op. cit., p.8.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Segue abaixo nosso Esquema Mental para melhor assimilação e memorização do conteúdo abordado sobre o assunto.

A PIRÂMIDE DE KELSEN - HIERARQUIA ENTRE AS NORMAS

Neopositivista austríaco, Hans Kelsen ao lançar sua obra “Teoria Pura do Direito”, em 1934, inovou, e trouxe uma nova explicação à Ciência do Direito, onde, em síntese, considerou o Direito uma ciência pura, sem interferências de outras áreas de conhecimento, como política, ética e juízos de valor. Em sua análise do Direito como ciência positivista, Kelsen estabeleceu uma hierarquia entre as normas vigentes. Para o autor, a ordem jurídica não é um sistema de normas jurídicas ordenadas no mesmo plano, situadas umas ao lado das outras, mas é uma construção escalonada de diferentes camadas ou níveis de normas jurídicas.8 A “Pirâmide de Kelsen”, como é chamada por grande parte da doutrina, tem como fundamento o seguinte postulado: normas jurídicas inferiores (normas fundadas) retiram seu fundamento de validade das normas jurídicas superiores (normas fundantes). 8 KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Martins Fontes. São Paulo, 1987, p. 240.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Com base nessa verticalização da “Pirâmide de Kelsen” é que temos, em nosso ordenamento jurídico, a Constituição situada no vértice (topo) da pirâmide, pelo fato de ser fundamento de validade de todas as outras normas do nosso ordenamento. É o que a doutrina denomina como Lei Suprema, sendo as outras normas consideradas infraconstitucionais. Em nossa Constituição, encontramos normas constitucionais originárias (concebidas pelo Poder Constituinte Originário, em Assembleia Constituinte) e normas constitucionais derivadas (resultantes do Poder Constituinte Derivado, através das chamadas emendas constitucionais9), ambas situadas no vértice da pirâmide. Com a promulgação da Emenda Constitucional n° 45/04, surgiu no ordenamento jurídico brasileiro uma nova possibilidade: os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos. Esses, após aprovação em cada Casa do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Congresso Nacional), em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, passaram a ter “status” de emendas constitucionais.10 Dessa forma, também se situam no topo da pirâmide de Kelsen. Após aprovado por esse rito especial, os tratados e convenções internacionais ingressam o chamado “bloco de constitucionalidade”. Por tratar de direitos humanos, e serem aprovadas após o rito disposto no artigo 5° §3° da CF/88, são gravados por cláusula pétrea, não podendo ser modificado pelo Poder Derivado (emenda constitucional) e, ainda, são imunes à denúncia.11 Importante destacar que os demais tratados internacionais sobre direitos humanos, aprovados pelo rito ordinário (comum), tem “status” supralegal, segundo o STF12, ou seja, estão logo abaixo da Constituição e acima das demais normas do nosso ordenamento jurídico. Outro ponto que já foi cobrado em concursos públicos pela banca CESPE se refere ao controle de convencionalidade das leis, doutrina inovadora trazida pelo Doutor Valério de Oliveira Mazzuoli. Para esse autor, após a EC 45/04, as normas infraconstitucionais estão sujeitas ao duplo processo de controle (compatibilização) vertical, vez que devem seguir o que determina a Constituição (Lei Suprema) e, ainda, o que dispõe os 9 Artigo 60 da CF/88. 10 Artigo 5° §3° da CF/88. 11 Denúncia é o ato unilateral por meio do qual um Estado se desvincula de um tratado internacional. 12 STF. ADI 5240, Relator Ministro Luiz Fux - Tribunal Pleno - decisão em 20.8.2015. Diário de Justiça de 01.02.2016.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

tratados internacionais sobre direitos humanos incorporados ao sistema jurídico brasileiro.13 As normas que estão imediatamente abaixo da Constituição e dos tratados internacionais sobre direitos humanos (normas infraconstitucionais) são as leis (complementares, ordinárias e delegadas), as medidas provisórias, os decretos legislativos, as resoluções legislativas, os tratados internacionais em geral (não versam sobre direitos humanos) e os decretos autônomos, que são consideradas normas primárias, definidoras de direitos e obrigações. Por ora, não precisam se preocupar em saber o que são cada uma dessas normas, pois serão tratadas com mais detalhes em aula futura. O que é importante é que saibam que entre elas não há hierarquia, conforme entendimento da doutrina majoritária. Abaixo das leis estão as normas (atos) infralegais. São consideradas normas secundárias, não podendo se contrapor às normas primárias e nem criar direitos ou obrigações, sob pena de serem invalidadas (Ex: decretos regulamentares, resoluções, portarias, instruções normativas, dentre outros) Por fim, trago a vocês alguns entendimentos doutrinários e jurisprudenciais, que já foram bastante cobrados em concursos elaborados pela CESPE.

1) Não existe hierarquia entre normas constitucionais originárias. Nessa ótica, os Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)14 possuem o mesmo “status” hierárquico de qualquer outra norma constitucional.

2) Não há hierarquia entre normas constitucionais originárias e normas constitucionais derivadas (emendas). Entretanto há uma diferença entre elas: As normas constitucionais originárias não podem ser declaradas inconstitucionais, ou seja, não estão sujeitas ao controle de constitucionalidade. Já as normas constitucionais derivadas (emendas) estão sujeitas ao controle constitucional, podendo ser declaradas inconstitucionais.

13 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Teoria Geral do Controle de Convencionalidade no Direito Brasileiro. In: Controle de Convencionalidade: um panorama latino-americano. Gazeta Jurídica. Brasília: 2013. 14 ADCT: contém regras para assegurar a harmonia da transição do regime constitucional anterior (1969) para o novo regime (1988), além de estabelecer regras de caráter meramente transitório, relacionadas com essa mudança, cuja eficácia jurídica é exaurida assim que ocorre a situação prevista. Tem natureza constitutional.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

3) Não há hierarquia entre leis federais, estaduais e municipais. Caso haja conflito de leis, o Poder Judiciário irá decidir através do critério da competência constitucional, ou seja, a quem compete o objeto das leis em conflito (União, Estado ou Municípios) e não por critério hierárquico. Nesse sentido, é plenamente possível que, em um caso concreto, uma lei municipal se prevaleça diante de uma lei federal.

4) Há hierarquia entre a Constituição Federal e as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas dos Municípios. A Constituição Federal é suprema, ou seja, está em um patamar superior às outras Constituições Estaduais. Essas, por sua vez, têm um grau hierárquico superior às Leis Orgânicas dos Municípios.

5) Não há hierarquia entre leis complementares e leis ordinárias. Cabe destacar que uma lei complementar possui um processo mais dificultoso para sua aprovação no Congresso nacional (maioria absoluta) do que a lei ordinária. Outro ponto de destaque, a lei complementar pode tratar de temas reservados às leis ordinárias, porém, nesse caso, podem ser revogadas ou modificadas por outra lei ordinária posterior. Em contrapartida, uma lei ordinária não pode tratar de matéria atinente às leis complementares (inconstitucionalidade formal).

6) Os regimentos dos Tribunais do Poder Judiciário e das Casas Legislativas possuem a mesma hierarquia das leis ordinárias, pois são consideradas normas primárias. Esse entendimento também é aplicado para as Resoluções do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

A seguir nosso Esquema Mental sobre a Pirâmide de Kelsen:

APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

Tema de Direito Constitucional cobrado em 9 de cada 10 concursos elaborados pela CESPE, a aplicabilidade das normas constitucionais nos permitirá entender o alcance e a realizabilidade de diversos dispositivos da Constituição Federal. Importante destacar, desde já, que todas as normas constitucionais possuem efeitos jurídicos, o que irá variar entre elas é a sua eficácia. A classificação das normas constitucionais quanto à sua aplicabilidade mais tradicional é dada por José Afonso da Silva15, onde são divididas em normas de eficácia plena, contida e limitada.16

1) Normas de eficácia plena: “são aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem, ou têm possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente aos interesses, comportamentos e situações, que o

15 SILVA, José Afonso. Aplicabilidade das normas constitucionais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1982. p.89-91. 16 Sobre a aplicabilidade e interpretação das normas constitucionais, conferir FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Interpretação e estudos da Constituição de 1988. São Paulo: Atlas, 1990. p. 11-20.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

legislador constituinte, direta e normativamente, quis regular” (Ex: remédios constitucionais).17

As normas de eficácia plena têm como características:

a) São autoaplicáveis, ou seja, independem de qualquer tipo de regulamentação para produzirem seus efeitos;

b) São não-restringíveis, uma vez que uma lei posterior não pode limitar sua aplicação;

c) Possuem aplicabilidade imediata (estão aptas a produzir todos os seus efeitos desde a promulgação da Constituição de 1988), direta (não dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos) e integral (não podem sofrer limitações ou restrições em sua aplicação).

2) Normas de eficácia contida (prospectiva): são aquelas em que “o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a determinada matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária do poder público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados.”

Um exemplo clássico bastante cobrado em concursos públicos é o do artigo 5°, inciso XIII da CF/88: “É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Como exemplo, para exercer a função de advocacia, é necessário que o bacharel em Direito seja aprovado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

As normas de eficácia contida têm como características:

a) São autoaplicáveis. Como vimos, enquanto não existir lei regulamentadora restringindo seu alcance ou sentido, ela estará apta a produzir todos os seus efeitos;

b) São restringíveis, uma vez que estão sujeitas a restrições ou limitações impostas por:

17 Remédios constitucionais: tema será abordado em aula futura.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

→ uma lei. O direito de greve dos trabalhadores do regime celetista, desde a promulgação da Constituição de 1988, pode ser exercido de maneira plena. Porém, uma lei poderá restringi-lo, ao definir os “serviços ou atividade essenciais” e dispor sobre “o atendimento dos serviços inadiáveis da sociedade”, conforme podemos observar na leitura do texto constitucional:

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

→ outra norma constitucional. Na vigência do estado de sítio, o Estado pode tomar determinadas medidas restritivas de direitos e garantias fundamentais, como podemos observar na leitura do artigo 139 da CF/88:

Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas: I - obrigação de permanência em localidade determinada; II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns; III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; IV - suspensão da liberdade de reunião; V - busca e apreensão em domicílio; VI - intervenção nas empresas de serviços públicos; VII - requisição de bens.

→ conceitos éticos jurídicos indeterminados. Um bom exemplo que, por vezes é cobrado, é o artigo 5°, inciso XXV da CF/88, que diz que o Estado, em caso de “iminente perigo público”, poderá requisitar propriedade particular. Nesse caso, o direito à propriedade, art. 5°, inciso XXII, estaria restrito. art 5° (...)

XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;

c) Possuem aplicabilidade imediata (estão aptas a produzir todos os seus efeitos desde a promulgação da Constituição de 1988), direta (não dependem de norma

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

regulamentadora para produzir seus efeitos) e possivelmente não integral (pois estão sujeitas a restrições ou limitações).

3) Normas de eficácia limitada: são aquelas que apresentam “aplicabilidade indireta, mediata e reduzida, porque somente incidem totalmente sobre esses interesses após uma normatividade ulterior que lhe desenvolva a aplicabilidade”. Em outras palavras, dependem de regulamentação futura para produzirem todos os seus efeitos.

Um bom exemplo é o artigo 37, inciso VII da CF/88, que diz: “art. 37 (...) VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica;”. Da leitura do dispositivo constitucional, observamos que o servidor público terá direito de greve, DESDE QUE tenha lei que regule sobre a greve dessa categoria, o que não ocorreu até o momento.

A título de curiosidade, está tramitando no Senado Federal o Projeto de Lei (PL) 710/11, de autoria do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que irá disciplinar o exercício do direito de greve dos servidores públicos, previsto no inciso VII do art. 37 da Constituição Federal”.

Outro ponto que devemos observar é que o Supremo Tribunal Federal (STF) em julgamento, em Plenário, do Recurso Extraordinário (RE 693456), com repercussão geral reconhecida, que discutia a constitucionalidade do desconto dos dias paradas em razão de greve de servidor, por 6 votos a 4, decidiu que a administração pública deve fazer o corte do ponto dos grevistas, mas admitiu a possibilidade de compensação dos dias parados mediante acordo. Também foi decidido que o desconto não poderá ser feito caso o movimento grevista tenha sido motivado por conduta ilícita do próprio Poder Público.18

As normas de eficácia limitada têm como características:

a) São não autoaplicáveis, pois dependem de regulamentação ulterior para que possam produzir todos os seus efeitos;

b) Possuem aplicabilidade indireta (dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos) mediata (a promulgação do texto constitucional não é

18 STF. RE 693.456. Relator: Ministro Dias Toffoli. Brasília. Decisão em 27.10.16.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

suficiente para que possam produzir todos os seus efeitos) e reduzida (possuem um grau de eficácia restrito quando da promulgação da Constituição).

Normas de eficácia limitada POSSUEM EFICÁCIA JURÍDICA, embora tenham aplicabilidade reduzida e não produzam todos os seus efeitos desde a promulgação da Constituição de 1988. Alguns doutrinadores dizem que elas têm eficácia mínima e que produzem dois efeitos desde sua promulgação: negativo (revogação de disposições anteriores e proibição de leis posteriores que se opuserem a seus comandos) e vinculativo (obrigação de que o legislador ordinário edite leis regulamentadoras, sob pena de omissão constitucional).

As normas de eficácia limitada, segundo José Afonso da Silva, subdividem-se em dois grupos:

→ Normas de princípios institutivos ou organizativos: são aquelas que dependem de lei para estruturar e organizar as atribuições de instituições, pessoas e órgãos previstos na Constituição.

As normas definidoras de princípios institutivos ou organizativos podem ser impositivas (quando impõem ao legislador uma obrigação de elaborar a lei regulamentadora) ou facultativas (quando estabelecem mera faculdade ao legislador).

→ Normas programáticas: Conforme salienta Jorge Miranda “são de aplicação diferida, explicitam comandos-valores, conferem elasticidade ao ordenamento constitucional; têm como destinatário primacial - embora não único - o legislador, (...); aparecem, muitas vezes, acompanhadas de conceitos indeterminados ou parcialmente indeterminados.”19

Maria Helena Diniz cita os artigos 21, inciso IX, 23, 170, 205, 211, 215, 218, 226, § 2°, da Constituição Federal de 1988 como exemplos de normas programáticas, por limitarem-se a traçar alguns preceitos a serem cumpridos pelo Poder Público.20

19 MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional. 4. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1990. p.218. t.1. 20 DINIZ, Maria Helena. Norma constitucional e seus efeitos. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1992. p.98-103.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Maria Helena Diniz propõe uma nova espécie de classificação das normas constitucionais, tendo por critério a intangibilidade e a produção dos efeitos concretos.21

1) Normas de eficácia absoluta: são aquelas que se diferenciam das normas de eficácia plena por serem intangíveis, ou seja, não podem ser suprimidas por emendas constitucionais (Ex: Cláusulas Pétreas - artigo 60, §4° da CF/88).

2) Normas com eficácia plena: correspondem à mesma classificação dada por José Afonso da Silva.

3) Normas com eficácia relativa restringível (redutível): correspondem às normas de eficácia contida, de José Afonso da Silva, que podem ser passíveis de restrição.

4) Normas com eficácia relativa complementável ou dependente de complementação: correspondem às normas de eficácia limitada de José Afonso da Silva.

21 DINIZ, Maria Helena. Op. cit. p.104.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Agora, vamos para nosso Esquema Mental:

PREÂMBULO E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA CF/88

Após discorremos sobre a teoria geral da Constituição, trazendo conceitos e definições de doutrinadores constitucionalistas e decisões de nossa Suprema Corte, daremos início, agora, sobre o que efetivamente está escrito em nossa Carta Magna, fazendo a análise do preâmbulo e dos princípios fundamentais (artigo 1° ao 4° da CF/88). PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Alexandre de Moraes define o preâmbulo de uma Constituição como documento de intenções do diploma, e consiste em uma certidão de origem e legitimidade do novo texto e uma proclamação de princípios, demonstrando a ruptura com o ordenamento constitucional anterior e o surgimento jurídico de um novo Estado.22 O STF, em julgamento de Ação Declaratória de Inconstitucionalidade (ADI 2.076/AC) decidiu que o preâmbulo não faz parte do texto constitucional propriamente dito, porém, o mesmo não é juridicamente irrelevante, já que deve ser observado como elemento de interpretação e integração dos diversos artigos que lhe seguem.23 Dessa forma, não há a obrigatoriedade de o preâmbulo ser replicado em Constituições Estaduais ou Leis Orgânicas dos Municípios. O preâmbulo, portanto, segundo Canotilho, por não ser norma constitucional, não poderá prevalecer contra texto expresso da Constituição Federal, nem ser paradigma comparativo para declaração de inconstitucionalidade uma lei.24 Por fim, a evocação à “proteção de Deus” no preâmbulo da Constituição Federal não a torna confessional, mas sim reforça a laicidade do Estado, afastando qualquer ingerência estatal arbitrária ou abusiva nas diversas religiões praticadas no Brasil.25 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS (artigos 1° ao 4° da CF/88): São os valores que orientam o Poder Constituinte Originário na elaboração das normas constitucionais. Na Constituição de 1988 estão dispostos no Título I, através de quatro artigos (1° ao 4°) conforme se segue:

22 MORAES, Alexandre de. Op. cit. p. 22. 23 STF - Pleno - ADI n° 2.076/AC - Rel. Ministro Carlos Velloso, decisão: 15-08-2002. Informativo STF n° 277. 24 CANOTILHO. J. J. Gomes. Op. Cit. p. 142 25 STF - Pleno - ADPF 54/DF, Rel. Min, Marco Aurélio, decisão: 11 e 12-04-2012, Informativo STF n° 661.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como FUndamentos: I - a SOberania; II - a CIdadania; III - a DIgnidade da pessoa humana; IV - os VAlores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o PLUralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Como podemos perceber, para melhor memorização dos fundamentos da CF/88, usamos o mnemônico SO-CI-FU / DI-VA-PLU, onde a sílaba FU corresponde aos FUndamentos. Passamos agora a análise do artigo mencionado. Da leitura do “caput” do artigo, podemos definir a Forma de Estado (Federação), a Forma de Governo (República), o Sistema de Governo (Presidencialismo) e o Regime de Governo (Democracia) adotados pelo Brasil.

→ Forma de Estado - Federação: o modo de distribuição geográfica do poder político se dá com a formação de entidades autônomas (União, Estados, Distrito Federal e Municípios - artigo 18 da CF/88). Essa autonomia se manifesta através de quatro formas: ➢ Autogoverno: capacidade de os entes escolherem seus governantes sem interferência de outros entes; ➢ Auto-organização: capacidade de instituírem suas próprias Constituições (no caso dos estados) ou Leis Orgânicas (nos casos dos municípios e do Distrito Federal); ➢ Auto legislação: capacidade de elaborarem suas próprias leis através de um processo legislativo próprios, embora devam seguir as diretrizes do processo em âmbito federal; ➢ Autoadministração: capacidade de se administrarem de forma independente, tomando suas próprias decisões executivas e legislativas.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Outra característica da Federação é a “união indissolúvel dos Estados e Municípios e Distrito Federal”, ou seja, os entes não têm o direito de secessão, de se separarem da Federação, pois os mesmos não possuem soberania.

→ Forma de Governo - República: o modo de distribuição do poder na sociedade ocorre com esse nas mãos de todo o povo, daí a palavra república - res publica (coisa pública). A adoção da forma de governo republicana traz consigo algumas características como temporariedade do mandato dos governantes, prestação de contas do Governo e necessidade de eleição periódica para a definição dos representantes do povo.

→ Sistema de Governo - Presidencialismo: nesse sistema, há a preponderância do Poder Executivo sobre o Legislativo, no que tange ao direcionamento das políticas públicas, no inverso, teríamos o sistema parlamentarista. As competências privativas do Presidente da República estão dispostas no artigo 84 da CF/88.

Artigo 2° do ADCT: “No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no país”. Como sabemos, o plebiscito aconteceu e definiu, através do voto popular, que o Brasil seria uma república presidencialista.

→ Regime de Governo/Regime Político - Democracia: O Brasil é definido como um “Estado Democrático de Direito”, ou seja, um Estado sujeito às leis e que adota como regime político a democracia. Dessa forma, quem é responsável pela regência da política brasileira é o povo, pois “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”

Da leitura do parágrafo único da CF/88, depreende-se que o Brasil possui como regime a democracia mista, semidireta ou participativa, pois a mesma se manifesta de forma indireta (voto - eleição de representantes) e direta (plebiscito, referendo e iniciativa popular - art. 14, incisos I, II e II da CF/88).

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Passamos agora análise dos cinco incisos do artigo 1° da CF/88.

I - Soberania: Conforme nos ensina Alexandre de Moraes, é a capacidade de o Estado editar suas próprias normas, sua própria ordem jurídica (Constituição).26

A soberania é considerada um poder supremo e independente: supremo porque não está limitado a nenhum outro poder na ordem interna; independente porque, no plano internacional, não se subordina à vontade de outros Estados.27

II - Cidadania: representa um “status” e apresenta-se, simultaneamente, como objeto e um direito fundamental das pessoas, assegurando-se o direito dessas de participação política do Estado.

Com base no princípio da cidadania, o STF decidiu que ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se submeter, ainda que emanada de autoridade judicial. Mais: é dever de cidadania opor-se à ordem ilegal, caso contrário, nega-se o Estado de Direito.28

III - Dignidade da pessoa humana: Conforme menciona nossa Suprema Corte, a dignidade da pessoa humana é princípio supremo, significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso País e que traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo.29

Em razão da importância desse princípio, uma vez que possui elevada densidade normativa, trago a vocês algumas decisões importantes de nossa Suprema Corte, tendo como principal fundamento a dignidade da pessoa humana:

→ Em julgamento de Recurso Extraordinário (RE 580252), o plenário do STF decidiu, em 16/02/17, que o preso submetido a situação degradante e a superlotação na prisão tem direito à indenização do Estado por danos morais. No caso, o STF fixou uma indenização de R$ 2 mil para um condenado, com reconhecimento de repercussão geral, ou seja, deve ser observada pelos tribunais inferiores. Decisão polêmica de nossa Suprema Corte,

26 MORAES, Alexandre de. Op. Cit. p.74 27 CAETANO, Marcelo. Direito Constitucional, 2ª edição. Rio de Janeiro, Forense, 1987, vol. 1, pag. 169. 28 STF. HC 73.454. Rel.Min Maurício Corrêa, decisão: 22-04-1996, 2ª Turma. Diária de Justiça de 07-06-1996. 29 STF. HC 85.237. Rel. Min. Celso de Mello, decisão: 17-03-05. Diário de Justiça de 29-04-05.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

uma vez que abriu um precedente para futuras ações tendo como fundamento o mesmo objeto.30

→ Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado - Súmula Vinculante n° 11.31

→ Reconhecimento e qualificação da união homoafetiva como entidade familiar.32

→ O direito ao nome insere-se no conceito de dignidade da pessoa humana, princípio alçado a fundamento da República Federativa do Brasil (CF, art. 1º, III).33

Esses são alguns julgados do STF tendo como fundamento principal o da dignidade da pessoa humana. É importante destacar que, por vezes, a CESPE elabora questões tendo por base o entendimento atual de nossa Suprema Corte. Conhecendo o estilo da banca, é de grande valia dedicar seu tempo para avaliar os julgamentos citados, além de outros, pois esse pode ser um diferencial diante dos demais candidatos do concurso. Para facilitar, segue o link onde constam esses julgamentos: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigobd.asp?item=4.

IV - Valores sociais do trabalho e livre iniciativa: é através do trabalho que o homem garante sua subsistência e o crescimento do país. Como salienta Paolo Barile, a garantia de proteção ao trabalho não engloba somente o trabalhador subordinado, mas também aquele autônomo e o empregador, enquanto empreendedor do crescimento do país.34

De acordo com o STF, o princípio da livre iniciativa não pode ser invocado para afastar regras de regulamentação do mercado e de defesa do consumidor.35

30 STF. RE 580.252. Rel. Gilmar Mendes, decisão: 16-02-2017. Pleno. Notícias STF 16-02-17. 31 STF- Pleno - HC 91952/SP. Rel. Min. Marco Aurélio, Diário de Justiça 241, 18-12-08 32 STF. RE 477.554 AgR. Rel. Min, Celso de Mello, decisão: 16-08-11. Diário de Justiça de 26-08-11. 33 STF. RE 248.869. Rel. Maurício Corrêa, decisão: 07-08-03. Diário de Justiça de 12-03-04. 34 BARILE, Paolo. Diritti dell'uomo e libertá fondamentali. Bolonha: II Molino, 1984. p.105. 35 STF. RE 349.686. Rel. Min Ellen Gracie, decisão: 14-06-05. Diário de Justiça de 05-08-05.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

V - Pluralismo político: demonstra a preocupação do legislador constituinte em afirmar-se a ampla e livre participação popular nos destinos políticos do país, garantindo a liberdade de convicção filosófica e política e, também, a possibilidade e participação em partidos políticos.

O STF entende que a crítica jornalística é um direito cujo suporte legitimador é o pluralismo político; o exercício desse direito deve, assim, ser preservado contra ensaios autoritários de repressão penal.36

Cabe destacar que o pluralismo político exclui os discursos de ódio, assim considerada qualquer comunicação que tenha como objetivo inferiorizar uma pessoa com base em raça, gênero, nacionalidade, religião ou orientação sexual. No Brasil, considera-se que os discursos de ódio não estão amparados pela liberdade de manifestação de pensamento.

TRIPARTIÇÃO FUNCIONAL DO PODER Art. 2° São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Da leitura do artigo 2° de nossa Constituição, depreende-se que os Poderes da União (Executivo, Legislativo e Judiciário) são independentes mas, ao mesmo tempo, harmônicos entre si, o que forma o que a doutrina chama de “SISTEMA DE FREIOS E CONTRAPESOS” (check and balances), onde um Poder vai sempre atuar de forma a impedir o exercício arbitrário na atuação do outro. Um exemplo recente desse sistema no Brasil, foi a nomeação de Alexandre de Moraes para o cargo de Ministro do STF (Poder Judiciário), que é de competência privativa do Presidente da República (Poder Executivo), após aprovação pelo Senado Federal (Poder Legislativo). Esse modo de organização é o mesmo desde as lições de Montesquieu em sua obra “O Espírito das Leis”, onde o autor já previa tal sistema de harmonização e separava os poderes em Executivo, Legislativo e Judiciário, diferentemente do que faziam seus antecessores: Aristóteles (função deliberante - 1° poder; executiva - 2° poder; e judicial - 3° poder) e John Locke (função legislativa, executiva e federativa). Vale lembrar que esse dispositivo é uma cláusula pétrea (art. 60 §4°, inciso III da CF/88) que, como vimos, não pode ser alterada por emendas constitucionais. Essa constitui uma característica essencial do Estado Democrático de Direito, uma vez que evita a ocorrência de abusos e autoritarismos. 36 STF. Pet 3486/DF. Rel. Min. Celso de Mello, decisão: 22-08-05. Diário de Justiça de 22-08-05.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Decorrente do “sistema de freios e contrapesos” tem-se a formação, em cada Poder, das funções típicas (precípuas de cada Poder: administrar, legislar e julgar) e atípicas (funções precípuas do outro poder), o que caracteriza a flexibilidade da separação dos Poderes. Para melhor entendimento, segue abaixo Esquema Mental com as funções típicas e atípicas do Poder Executivo, Poder Legislativo e do Poder Judiciário.

OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Os objetivos são as metas que o Estado Brasileiro deve alcançar. Eles visam possibilitar iguais oportunidades aos brasileiros, a fim de concretizar a democracia econômica, social e cultural. Logicamente, o rol de objetivos do art. 3° não é taxativo, tratando-se apenas da previsão de algumas finalidades primordiais a serem perseguidas pela República Federativa do Brasil.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Como podemos perceber, todos os 4 incisos do artigo 3° da Constituição começam por verbos. Ficar atentos para o verbo reduzir as desigualdades sociais e regionais, que é bastante cobrado pela CESPE e, muitas vezes passa batido, pois não está no início da frase. ATENÇÃO!!! A CESPE costuma elaborar questões desse artigo com a troca de palavras, como por exemplo “solidária” por “igualitária”. Perceba, também que se quer erradicar apenas a pobreza e a marginalização, e apenas reduzir as desigualdades sociais e regionais, pois seria uma ilusão querer um país homogêneo, sem nenhuma forma de disparidade. PRINCÍPIOS QUE REGEM AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Questões que são cobradas em relação a este artigo muitas vezes se restringem ao que está necessariamente escrito na lei. ATENÇÃO!!! Não confundir prevalência dos direitos humanos (princípios que regem as relações internacionais) com dignidade da pessoa humana (fundamentos da República Federativa do Brasil). OBJETIVO DO BRASIL NO PLANO INTERNACIONAL art. 4° (...) Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

ATENÇÃO!!! A busca da integração deve ser no âmbito da América Latina, e não na América do Sul ou MERCOSUL, como costumam cobrar os examinadores. Outro ponto é que a República Federativa do Brasil deverá integrar-se social e culturalmente, e não apenas político e economicamente.

LISTA DE EXERCÍCIOS

1. (CESPE/PRF/2013) O mecanismo denominado sistema de freios e contrapesos é aplicado, por exemplo, no caso da nomeação dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), atribuição do presidente da República e dependente da aprovação pelo Senado Federal. 2. (CESPE/PRF/2013) A liberdade de exercer qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, é um exemplo de norma constitucional de eficácia limitada. 3. (CESPE/PRF/2013) Decorre do princípio constitucional fundamental da independência e harmonia entre os poderes a impossibilidade de que um poder exerça função típica de outro, não podendo, por exemplo, o Poder Judiciário exercer a função administrativa. 4. (CESPE/PRF/2013) No que se refere às relações internacionais, a República Federativa do Brasil rege-se pelos princípios da igualdade entre os Estados, da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e da concessão de asilo político, entre outros. 5. (CESPE/PRF/2012) É de eficácia limitada a norma constitucional que estabelece ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações que a lei estabelecer. 6. (CESPE/PRF/2012) As normas constitucionais programáticas definem comandos - valores que o Estado busca cumprir. 7. (CESPE/PRF/2012) A Constituição elaborada por uma Assembleia Constituinte livremente escolhida pelo povo classifica-se, quanto à origem, como outorgada. 8. (CESPE/PRF/2012) As disposições constitucionais transitórias, assim como os preâmbulos constitucionais, não comportam valor jurídico relevante.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

9. (CESPE/FUB – 2015) O pluralismo político, fundamento da República Federativa do Brasil, é pautado pela tolerância a ideologias diversas, o que exclui discursos de ódio, não amparados pela liberdade de manifestação do pensamento. 10. (CESPE/TJ-SE – 2014) A dignidade da pessoa humana, princípio fundamental da República Federativa do Brasil, promove o direito à vida digna em sociedade, em prol do bem comum, fazendo prevalecer o interesse coletivo em detrimento do direito individual. 11. (CESPE - 2012 - TJ-AL - Analista Judiciário - Área Judiciária) A garantia do desenvolvimento nacional consiste em fundamento da República Federativa do Brasil. 12. (CESPE/ ANVISA – 2016) À luz do princípio da dignidade humana, a CF estabelece que, após a aprovação por qualquer quórum durante o processo legislativo, todos os tratados e convenções sobre direitos humanos subscritos pelo Brasil passam a ter o status de norma constitucional. 13. (CESPE / Instituto Rio Branco – 2016) Sendo as leis estaduais inferiores às leis federais e, portanto, a elas subordinadas, os conflitos entre ambos os tipos de lei são resolvidos pelo critério hierárquico. 14. (CESPE / MEC – 2015) De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as normas decorrentes de tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, regularmente internalizadas no ordenamento jurídico brasileiro, apresentam status supralegal, ainda que não tenham sido aprovadas segundo o rito previsto para o processo legislativo das emendas à Constituição. 15. (CESPE/ FUB – 2015) As normas que integram uma constituição escrita possuem hierarquia entre si, de modo que as normas materialmente constitucionais ostentam maior valor hierárquico que as normas apenas formalmente constitucionais. 16. (CESPE/ TRT 8a Região – 2016) A aplicabilidade das normas de eficácia limitada é direta, imediata e integral, mas o seu alcance pode ser reduzido. 17. (CESPE/ TRT 8a Região – 2016) Em se tratando de norma constitucional de eficácia contida, o legislador ordinário integra-lhe a eficácia mediante lei ordinária, dando-lhe execução mediante a regulamentação da norma constitucional.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

18. (CESPE/ TRT 8a Região – 2016) Na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), considera-se que as normas constitucionais possuem eficácia absoluta, imediata e diferida, sendo essa a classificação mais adotada também na doutrina. 19. (CESPE / TRE-GO – 2015) Embora a aplicabilidade do direito à educação seja direta e imediata, classifica-se a norma que assegura esse direito como norma de eficácia contida ou prospectiva, uma vez que a incidência de seus efeitos depende da edição de normas infraconstitucionais, como a de implementação de programa social que dê concretude a tal direito. 20. (CESPE / Advogado Telebrás – 2015) As normas constitucionais de eficácia contida têm aplicabilidade indireta e reduzida porque dependem de norma ulterior para que possam incidir totalmente sobre os interesses relativos a determinada matéria. 21. (CESPE / MEC – 2015) Em virtude do princípio da aplicabilidade imediata das normas definidoras dos direitos e das garantias fundamentais, tais normas podem ser de eficácia plena ou contida, mas não serão de eficácia limitada. 22. (CESPE / TRE-PI – 2016) Em decorrência do pluralismo político, é dever de todo cidadão tolerar as diferentes ideologias político partidárias, ainda que, na manifestação dessas ideologias, haja conteúdo de discriminação racial. 23. (CESPE / STJ – 2015) A dimensão substancial da liberdade de expressão guarda relação íntima com o pluralismo político na medida em que abarca, antes, a formação da própria opinião como pressuposto para sua posterior manifestação. 24. (CESPE / DPE-RN – 2015) O Estado brasileiro reconhece que a família tem como base a união entre o homem e a mulher, fato que exclui a união de pessoas do mesmo sexo do âmbito da proteção estatal. 25. (CESPE/Câmara dos Deputados – 2014) A República Federativa do Brasil, constituída como Estado democrático de direito, visa garantir o pleno exercício dos direitos e garantias fundamentais, incluindo-se, entre seus fundamentos, a cidadania e a dignidade da pessoa humana. 26. (CESPE/TCDF/TAP – 2014) Ao implementar ações que visem reduzir as desigualdades sociais e regionais e garantir o desenvolvimento nacional, os

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

governos põem em prática objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. 27. (CESPE/TJ CE/ AJAJ – 2014) Os fundamentos da República Federativa do Brasil incluem, entre outros, a dignidade da pessoa humana, o pluralismo político e a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. 28. (CESPE/SUFRAMA – 2014) A CF propugna, de forma específica, a integração econômica, política, social e cultural do Brasil com os povos da América Latina. 29. (CESPE/ ANTAQ – 2014) A concessão de asilo político é princípio norteador das relações internacionais brasileiras, conforme expressa disposição do texto constitucional. 30. (CESPE / TRE-MS – 2013) É princípio fundamental da República Federativa do Brasil a dissolubilidade do vínculo federativo, dado o direito de secessão dos estados e municípios. 31. (CESPE / TRT 8ª Região – 2013) São fundamentos da República Federativa do Brasil a soberania, a cidadania, o pluralismo político e a prevalência dos direitos humanos. 32. (CESPE/TRT 1ª Região - 2010) Não há hierarquia entre lei complementar e decreto autônomo, quando este for validamente editado. 33. (CESPE / AUGE-MG-2009) As normas da CF que tratam dos direitos e garantias fundamentais são hierarquicamente superiores às normas constitucionais que disciplinam a política urbana e o sistema financeiro nacional. 34. (CESPE / Hemobrás – Adaptada - 2008) Em 30/3/2000, o Poder Executivo federal editou a medida provisória n.º 1.963-17/2000, posteriormente editada sob o n.º 2.170-36/2001, cuja vigência, nos moldes do art. 2.º da Emenda Constitucional n.º 32/01, foi prorrogada "até que medida provisória ulterior as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso Nacional", segundo entendimento pacificado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça quando do julgamento do recurso especial n.º 629.487/RS, do relator Ministro Fernando Gonçalves (Quarta Turma, julgado em 22/6/2004, DJ 2/8/2004, p. 412). O art. 5.º da referida medida provisória dispõe que, "nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização de juros com

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

periodicidade inferior a um ano." Na hipótese de ser posteriormente editada lei ordinária genérica que proíba a capitalização de juros em qualquer periodicidade, o art. 5.º da medida provisória em questão estaria naturalmente revogado, uma vez que as leis ordinárias são hierarquicamente superiores às medidas provisórias. 35. (CESPE/TRF 1ª Região-2008) Os decretos legislativos são hierarquicamente inferiores às leis ordinárias. 36. (CESPE / PM-DF - 2010) Se o Congresso Nacional aprovar, em cada uma de suas casas, em dois turnos, por três quintos dos seus votos dos respectivos membros, tratado internacional que verse sobre direitos humanos, esse tratado será equivalente às emendas constitucionais. 37. (CESPE / Delegado PC-AL – 2012) De acordo com a CF, os tratados internacionais de direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, terão status de norma constitucional. Tais tratados podem fundamentar tanto o controle de constitucionalidade quanto o controle de convencionalidade. 38. (CESPE / MEC-FUB - 2009) De acordo com a hierarquia das leis, a Constituição Federal está subordinada às leis complementares, pois elas regulamentam o que falta na Constituição. 39. (CESPE / MPE-RO - 2010) Os tratados de direitos humanos, ainda que aprovados apenas no Senado Federal, em dois turnos e por maioria qualificada, equiparam-se às emendas constitucionais. 40. (CESPE / SEFAZ-ES - 2010) Caso o Congresso Nacional aprove, em cada uma de suas casas, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, um tratado internacional acerca dos direitos humanos, tal tratado será equivalente a uma lei complementar.

GABARITO COMENTADO

1. (CESPE/PRF/2013) O mecanismo denominado sistema de freios e contrapesos é aplicado, por exemplo, no caso da nomeação dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), atribuição do presidente da República e dependente da aprovação pelo Senado Federal.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Questão correta. O sistema de freios e contrapesos - check and balances - é adotado no Brasil para que um Poder possa sempre atuar de forma a impedir o exercício arbitrário na atuação do outro. Um exemplo recente foi a nomeação de Alexandre de Moraes para o cargo de Ministro do STF (Poder Judiciário), cuja escolha é de competência privativa do Presidente da República (Poder Executivo), após aprovação pelo Senado Federal (Poder Legislativo). 2. (CESPE/PRF/2013) A liberdade de exercer qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, é um exemplo de norma constitucional de eficácia limitada. Questão incorreta. A questão traz as características de uma norma de eficácia contida, que são autoaplicáveis (produzem todos os seus efeitos desde a promulgação da Constituição de 1988), porém restringíveis (estão sujeitas a restrições ou limitações impostas por uma lei, por exemplo). 3. (CESPE/PRF/2013) Decorre do princípio constitucional fundamental da independência e harmonia entre os poderes a impossibilidade de que um poder exerça função típica de outro, não podendo, por exemplo, o Poder Judiciário exercer a função administrativa. Questão incorreta. Os Poderes podem exercer funções atípicas, em decorrência do sistema de freios e contrapesos - check and balances. O Poder Judiciário pode, por exemplo, fazer uma licitação para aquisição de material para determinado Tribunal, que é uma função administrativa típica do Poder Executivo. 4. (CESPE/PRF/2013) No que se refere às relações internacionais, a República Federativa do Brasil rege-se pelos princípios da igualdade entre os Estados, da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e da concessão de asilo político, entre outros. Questão correta. A questão traz os princípios que regem as relações internacionais da República Federativa do Brasil, que estão insculpidos no artigo 4°, incisos V, IX e X da Constituição Federal. 5. (CESPE/PRF/2012) É de eficácia limitada a norma constitucional que estabelece ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações que a lei estabelecer.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Questão incorreta. A questão traz um exemplo clássico de norma de eficácia contida, que são autoaplicáveis (produzem todos seus efeitos desde a promulgação da Constituição Federal de 1988) porém são restringíveis (podem sofrer restrições ou limitações por uma lei, por exemplo). Um exemplo de norma de eficácia contida é a profissão de advocacia: o bacharel em Direito, para a exercer a profissão de advogado, deve se submeter ao exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). 6. (CESPE/PRF/2012) As normas constitucionais programáticas definem comandos - valores que o Estado busca cumprir. Questão correta. As normas programáticas são de aplicação diferida, explicitam comandos-valores que o Estado busca cumprir. 7. (CESPE/PRF/2012) A Constituição elaborada por uma Assembléia Constituinte livremente escolhida pelo povo classifica-se, quanto à origem, como outorgada. Questão errada. Quanto à origem, Constituição Federal classifica-se como promulgada, que deriva do trabalho de uma Assembléia Constituinte de representantes do povo, através de um processo democrático, eleitos com a finalidade de sua elaboração. 8. (CESPE/PRF/2012) As disposições constitucionais transitórias, assim como os preâmbulos constitucionais, não comportam valor jurídico relevante. Questão incorreta. Embora o STF tenha declarado que o preâmbulo não é norma constitucional, não comportando valor jurídico relevante, não se pode dizer o mesmo sobre os Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que são dispositivos que regulam situações de mudança de uma Constituição para outra, como a aposentadoria, por exemplo. Dessa forma, possuem valor jurídico relevante. 9. (CESPE/FUB – 2015) O pluralismo político, fundamento da República Federativa do Brasil, é pautado pela tolerância a ideologias diversas, o que exclui discursos de ódio, não amparados pela liberdade de manifestação do pensamento. Questão correta. O pluralismo político não abarca os discursos de ódio, pois estes não estão amparados pela liberdade de manifestação do pensamento. 10. (CESPE/TJ-SE – 2014) A dignidade da pessoa humana, princípio fundamental da República Federativa do Brasil, promove o direito à vida digna em sociedade,

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

em prol do bem comum, fazendo prevalecer o interesse coletivo em detrimento do direito individual. Questão incorreta. A dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil de elevada densidade normativa, estando presente em diversas decisões de nossa Suprema Corte. Esse princípio coloca o indivíduo (o ser humano) como a preocupação central do Estado. Portanto, o interesse coletivo não deve prevalecer em detrimento do direito individual. 11. (CESPE - 2012 - TJ-AL - Analista Judiciário - Área Judiciária) A garantia do desenvolvimento nacional consiste em fundamento da República Federativa do Brasil. Questão incorreta. Segundo a CF/88, São fundamentos da República Federativa do Brasil: soberania; cidadania; dignidade da pessoa humana; valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; pluralismo político. A garantia do desenvolvimento nacional constitui um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. 12. (CESPE/ ANVISA – 2016) À luz do princípio da dignidade humana, a CF estabelece que, após a aprovação por qualquer quórum durante o processo legislativo, todos os tratados e convenções sobre direitos humanos subscritos pelo Brasil passam a ter o status de norma constitucional. Questão incorreta. Conforme leitura do art. 5° §3° da CF/88, os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos serão equivalentes às emendas constitucionais, desde que sejam aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros. 13. (CESPE / Instituto Rio Branco – 2016) Sendo as leis estaduais inferiores às leis federais e, portanto, a elas subordinadas, os conflitos entre ambos os tipos de lei são resolvidos pelo critério hierárquico. Questão incorreta. Não há hierarquia entres leis estaduais e leis federais. Caso haja conflito entre as normas, será resolvido levando em consideração a repartição constitucional de competências. 14. (CESPE / MEC – 2015) De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as normas decorrentes de tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, regularmente internalizadas no ordenamento jurídico brasileiro,

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

apresentam status supralegal, ainda que não tenham sido aprovadas segundo o rito previsto para o processo legislativo das emendas à Constituição. Questão correta. Segundo o STF, os tratados e convenções internacionais que foram aprovados pelo rito ordinário terão status supralegal, ou seja, abaixo das normas constitucionais e acima das leis ordinárias. 15. (CESPE/ FUB – 2015) As normas que integram uma constituição escrita possuem hierarquia entre si, de modo que as normas materialmente constitucionais ostentam maior valor hierárquico que as normas apenas formalmente constitucionais. Questão incorreta. Não há hierarquia entre normas formalmente constitucionais e materialmente constitucionais. 16. (CESPE/ TRT 8a Região – 2016) A aplicabilidade das normas de eficácia limitada é direta, imediata e integral, mas o seu alcance pode ser reduzido. Questão incorreta. As normas constitucionais de eficácia limitada têm aplicabilidade indireta, mediata e reduzida. 17. (CESPE/ TRT 8a Região – 2016) Em se tratando de norma constitucional de eficácia contida, o legislador ordinário integra-lhe a eficácia mediante lei ordinária, dando-lhe execução mediante a regulamentação da norma constitucional. Questão incorreta. As normas constitucionais de eficácia contida possuem aplicabilidade imediata. A questão traz a característica da norma de eficácia limitada. 18. (CESPE/ TRT 8a Região – 2016) Na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), considera-se que as normas constitucionais possuem eficácia absoluta, imediata e diferida, sendo essa a classificação mais adotada também na doutrina. Questão incorreta. A classificação das normas constitucionais mais adotada, tanto pela doutrina, quanto pela jurisprudência, é a trazida por José Afonso da Silva, que as classifica de acordo com a sua aplicabilidade em normas de eficácia plena, eficácia contida e de eficácia limitada. 19. (CESPE / TRE-GO – 2015) Embora a aplicabilidade do direito à educação seja direta e imediata, classifica-se a norma que assegura esse direito como norma de

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

eficácia contida ou prospectiva, uma vez que a incidência de seus efeitos depende da edição de normas infraconstitucionais, como a de implementação de programa social que dê concretude a tal direito. Questão incorreta. O direito à educação (art. 205 da CF/88) trata-se de uma norma programática, que são aquelas que expressam comando-valores a serem cumpridos pelo Estado, através da implementação de políticas públicas. As normas programáticas são normas de eficácia limitada, que possuem aplicabilidade indireta e mediata, pois dependem de regulamentação ulterior para que possam produzir todos os seus efeitos. 20. (CESPE / Advogado Telebrás – 2015) As normas constitucionais de eficácia contida têm aplicabilidade indireta e reduzida porque dependem de norma ulterior para que possam incidir totalmente sobre os interesses relativos a determinada matéria. Questão incorreta. As normas constitucionais de eficácia contida têm aplicabilidade direta, restringível e possivelmente não integral. A questão traz as características de uma norma constitucional de eficácia limitada. 21. (CESPE / MEC – 2015) Em virtude do princípio da aplicabilidade imediata das normas definidoras dos direitos e das garantias fundamentais, tais normas podem ser de eficácia plena ou contida, mas não serão de eficácia limitada. Questão incorreta. Existem direitos e garantias fundamentais que são normas constitucionais de eficácia limitada, como o direito de greve dos servidores públicos (art. 37, inciso VII da CF/88), que ainda não foi regulamentado por lei. O candidato tem que ficar atento, pois existem diversos direitos e garantias fundamentais espalhados no texto constitucional, e não somente aqueles previstos no artigo 5° de nossa Constituição. 22. (CESPE / TRE-PI – 2016) Em decorrência do pluralismo político, é dever de todo cidadão tolerar as diferentes ideologias político partidárias, ainda que, na manifestação dessas ideologias, haja conteúdo de discriminação racial. Questão incorreta. O pluralismo político não abarca as manifestações de cunho racista. De fato, o racismo é crime inafiançável e imprescritível, conforme leitura do art. 5°, inciso XLII da CF/88.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

23. (CESPE / STJ – 2015) A dimensão substancial da liberdade de expressão guarda relação íntima com o pluralismo político na medida em que abarca, antes, a formação da própria opinião como pressuposto para sua posterior manifestação. Questão correta. O pluralismo político visa garantir a inclusão dos diferentes grupos sociais no processo político nacional. Por isso, guarda íntima relação com a liberdade de expressão, com a possibilidade de que os cidadãos formem sua própria opinião para posterior manifestação. 24. (CESPE / DPE-RN – 2015) O Estado brasileiro reconhece que a família tem como base a união entre o homem e a mulher, fato que exclui a união de pessoas do mesmo sexo do âmbito da proteção estatal. Questão incorreta. O STF já reconheceu a união homoafetiva como entidade familiar, ficando essas também no âmbito da proteção estatal. 25. (CESPE/Câmara dos Deputados – 2014) A República Federativa do Brasil, constituída como Estado democrático de direito, visa garantir o pleno exercício dos direitos e garantias fundamentais, incluindo-se, entre seus fundamentos, a cidadania e a dignidade da pessoa humana. Questão correta. Conforme leitura do artigo 1° incisos II e III da Constituição Federal. 26. (CESPE/TCDF/TAP – 2014) Ao implementar ações que visem reduzir as desigualdades sociais e regionais e garantir o desenvolvimento nacional, os governos põem em prática objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. Questão correta. Conforme leitura do artigo 3°, incisos II e III (parte final) da Constituição Federal. 27. (CESPE/TJ CE/ AJAJ – 2014) Os fundamentos da República Federativa do Brasil incluem, entre outros, a dignidade da pessoa humana, o pluralismo político e a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Questão incorreta. De fato, a dignidade da pessoa humana e o pluralismo político são fundamentos da República Federativa do Brasil, conforme leitura do artigo 1°, incisos III e V da CF/88. Porém, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária é um objetivo fundamental da República Federativa do Brasil (art. 3°, inciso I da Constituição Federal).

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

28. (CESPE/SUFRAMA – 2014) A CF propugna, de forma específica, a integração econômica, política, social e cultural do Brasil com os povos da América Latina. Questão correta. Conforme leitura do artigo 4°, parágrafo único da Constituição Federal. 29. (CESPE/ ANTAQ – 2014) A concessão de asilo político é princípio norteador das relações internacionais brasileiras, conforme expressa disposição do texto constitucional. Questão correta. Conforme leitura do artigo 4°, inciso X da Constituição Federal. 30. (CESPE / TRE-MS – 2013) É princípio fundamental da República Federativa do Brasil a dissolubilidade do vínculo federativo, dado o direito de secessão dos estados e municípios. Questão incorreta. Conforme leitura do artigo 1°, caput, da Constituição Federal, a Forma de Estado adotada pelo Brasil foi a Federação, sendo esta indissolúvel. Dessa forma, não há que se falar em direito de secessão dos Estados e Municípios. 31. (CESPE / TRT 8ª Região – 2013) São fundamentos da República Federativa do Brasil a soberania, a cidadania, o pluralismo político e a prevalência dos direitos humanos. Questão incorreta. Questão recorrente em provas da CESPE. Notem que a soberania, a cidadania e o pluralismo político são fundamentos da República Federativa do Brasil (artigo 1°, incisos I, II e V da CF/88), porém a prevalência dos direitos humanos trata-se de um dos princípios que regem as relações internacionais da RFB (artigo 4°, inciso II da CF/88). Percebe-se que examinador tentou confundir o candidato com o fundamento dignidade da pessoa humana (artigo 1°, inciso III da CF/88). 32. (CESPE/TRT 1ª Região - 2010) Não há hierarquia entre lei complementar e decreto autônomo, quando este for validamente editado. Questão correta. Conforme escalonamento de hierarquia das normas da Pirâmide de Kelsen, não há hierarquia entre lei complementar e decreto autônomo, ambas são leis primárias.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

33. (CESPE / AUGE-MG-2009) As normas da CF que tratam dos direitos e garantias fundamentais são hierarquicamente superiores às normas constitucionais que disciplinam a política urbana e o sistema financeiro nacional. Questão incorreta. Não há hierarquia entre normas constitucionais originárias; entre normas constitucionais originárias e derivadas; e, por fim, entre normas constitucionais materiais e formais. 34. (CESPE / Hemobrás – Adaptada - 2008) Em 30/3/2000, o Poder Executivo federal editou a medida provisória n.º 1.963-17/2000, posteriormente editada sob o n.º 2.170-36/2001, cuja vigência, nos moldes do art. 2.º da Emenda Constitucional n.º 32/01, foi prorrogada "até que medida provisória ulterior as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso Nacional", segundo entendimento pacificado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça quando do julgamento do recurso especial n.º 629.487/RS, do relator Ministro Fernando Gonçalves (Quarta Turma, julgado em 22/6/2004, DJ 2/8/2004, p. 412). O art. 5.º da referida medida provisória dispõe que, "nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano." Na hipótese de ser posteriormente editada lei ordinária genérica que proíba a capitalização de juros em qualquer periodicidade, o art. 5.º da medida provisória em questão estaria naturalmente revogado, uma vez que as leis ordinárias são hierarquicamente superiores às medidas provisórias. Questão incorreta. Aqui o examinador tenta fazer com que o candidato perca tempo, ao elaborar uma questão grande como essa. Bastaria a leitura da última frase para responder a questão, pois as medidas provisórias têm o mesmo “status” das leis ordinárias, não havendo hierarquia entre elas. 35. (CESPE/TRF 1ª Região-2008) Os decretos legislativos são hierarquicamente inferiores às leis ordinárias. Questão incorreta. Os decretos legislativos e as leis ordinárias possuem a mesma hierarquia, conforme Pirâmide de Kelsen. 36. (CESPE / PM-DF - 2010) Se o Congresso Nacional aprovar, em cada uma de suas casas, em dois turnos, por três quintos dos seus votos dos respectivos membros, tratado internacional que verse sobre direitos humanos, esse tratado será equivalente às emendas constitucionais.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Questão correta. Conforme leitura do artigo 5° §3° da Constituição Federal. 37. (CESPE / Delegado PC-AL – 2012) De acordo com a CF, os tratados internacionais de direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, terão status de norma constitucional. Tais tratados podem fundamentar tanto o controle de constitucionalidade quanto o controle de convencionalidade. Questão correta. Os tratados internacionais aprovados pelo rito especial do artigo 5° §3° da Constituição Federal terão status de norma constitucional. Dessa forma, servem como paradigma para o controle de constitucionalidade (normas infraconstitucionais devem seguir o que determina a Constituição) e o controle de convencionalidade (doutrina trazida pelo Doutor Valério de Oliveira Mazzuoli, onde as normas infraconstitucionais devem seguir o que determina os tratados internacionais sobre direitos humanos incorporados ao ordenamento jurídico brasileiro). 38. (CESPE / MEC-FUB - 2009) De acordo com a hierarquia das leis, a Constituição Federal está subordinada às leis complementares, pois elas regulamentam o que falta na Constituição. Questão incorreta. É exatamente ao contrário, as leis complementares são hierarquicamente inferiores às normas da Constituição Federal. 39. (CESPE / MPE-RO - 2010) Os tratados de direitos humanos, ainda que aprovados apenas no Senado Federal, em dois turnos e por maioria qualificada, equiparam-se às emendas constitucionais. Questão incorreta. Conforme leitura do artigo 5°, §3° da Constituição Federal, para serem considerados emendas constitucionais, é preciso que os tratados internacionais sobre direitos humanos sejam aprovados em cada casa do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros. 40. (CESPE / SEFAZ-ES - 2010) Caso o Congresso Nacional aprove, em cada uma de suas casas, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, um tratado internacional acerca dos direitos humanos, tal tratado será equivalente a uma lei complementar.

Direito Constitucional para PRF Prof. Gabriel Andrade

_____________________________________________________________________________________ Prof. Gabriel Andrade www.quebrandoasbancas.com.br

Questão incorreta. Caso o tratado internacional acerca dos direitos humanos seja aprovado pelo rito especial, conforme artigo 5°, §3° da Constituição Federal será equivalente às emendas constitucionais.