direito civil apostila agosto 2015

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    DIREITO CIVILINTRODUO PARTE GERAL

    Professor Adriano Pedro GoudinhoDisciplina de Introduo ao Direito Civil (IDC)Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC

    Cricima/SC, agosto de 2015.

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    SUMRIO

    Apresentao....................................................................................03Ementa............................................................................................05Interpretao das Leis.......................................................................06Conceito de Direito............................................................................08O que Direito Civil...........................................................................13Lei de Introduo as Normas do Direito Brasileiro (LINDB)......................14O Direito Civil na Constituio.............................................................17

    Direito da Personalidade.....................................................................20Proteo ao nascituro.......................................................................22Incapacidades.................................................................................24Emancipao..................................................................................26Extino da pessoa natural (morte)....................................................29Domiclio da pessoa natural..............................................................33Pessoa Jurdica.................................................................................34Associaes....................................................................................41Fundaes......................................................................................43Domiclio da pessoa jurdica..............................................................45

    Dos Bens.........................................................................................46Negcio Jurdico................................................................................56Atos Jurdicos Lcitos..........................................................................75Atos Ilcitos......................................................................................76Prescrio e Decadncia.....................................................................81Das Provas.......................................................................................86Bibliografia bsica.............................................................................89Dicionrio jurdico...........................................................................89

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    APRESENTAO

    O bom ensino jurdico o que produz os profissionais queiro abrir os caminhos da cidadania ativa, da liberdade, dajustia, da aplicao do direito, enfim, por esse bomensino jurdico que se constri um Estado Democrticode Direito1.

    A Disciplina de Direito Civil Introduo - versa sobre os conceitos quenorteiam a formao da parte geral do Cdigo Civil Brasileiro, comotambm da Lei de Introduo as Normas do Direito Brasileiro (LINDB). Esse

    conhecimento permitir ao acadmico de direito se familiarizar com termose conceitos que dever carregar para toda sua vida acadmica e,especialmente, profissional.

    Para uma melhor compreenso da matria, em suma, estudar-se- noesinterpretativas; conceitos de norma jurdica e justia; a evoluo das leis oudireito com o intuito de focar a compreenso do tema previsto na disciplinaa partir de uma cosmoviso ampla e centrada nas necessidades humanas e,especificamente, o que o direito brasileiro prev para a aplicao do direito(regras gerais) a partir da anlise minuciosa da LINDB e, ainda, o que o

    Cdigo Civil apresenta em sua parte geral que dar ao acadmico aoportunidade de conhecer e discutir os conceitos legais firmados sobre apersonalidade jurdica, capacidade jurdica, pessoas fsicas e/ou naturais,pessoas jurdicas, as respectivas protees ao nome, honra, imagem, etc.

    O estudo dos bens, seu significado e aplicao; o que so negcios jurdicosem suas diversas modalidades e a maneira como se tornam lcitos ou ilcitosser tema de uma abordagem mais aprofundada.

    Por derradeiro, a diferenciao de prescrio e decadncia e o estudo dasprovas admitidas no direito, concluiro a disciplina ora abordada e que,aguarda-se, permitir o acadmico ter uma compreenso ampla dosconceitos formulados, apto a formar novas concepes, mesmo em carterprprio, e abordar as outras cadeiras que sucedero no campo do direitocivil.

    1Machado, Rubens Approbato - Advocacia e Democracia, Editora OAB, 2003.

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    Com o estudo dos temas referidos, dar-se- a devida nfase aos conceitospropriamente ditos em suas especificidades, ressalvando-se que mesmo aopinio de ilustres civilistas est sujeita a controvrsias e dvidas. Asquestes controvertidas estudadas sero amparadas com as decisesrecentes dos tribunais ptrios, em especial do Tribunal de Justia do Estadode Santa Catarina.

    As aulas sero ministradas com o auxlio da apostila disponibilizada nosistema virtual (AVA) e que cada acadmico dever ter em cada um dosencontros previstos no calendrio universitrio, bem como, tero porreferncia e subsdio para estudo complementar os livros indicados nabibliografia selecionada.

    Os conceitos apresentados nesta apostila so compilaes de vrios

    autores, com os devidos crditos e com acrscimos do professor As aulasso expositivas e necessitam da participao ativa do acadmico naformulao de questionamentos e na busca de novos conceitos, objetivandomais do que o estudo do tema apresentado, a efetiva construo de umpensamento jurdico e inovador.

    Ao final do curso de Introduo ao Direito Civil, portanto, o acadmicodever estar suficientemente familiarizado com os termos utilizados,conhecendo-os e aplicando-os aos casos apresentados ou concretos, bemcomo, capacitado a formular questionamentos sobre o tema e debater os

    diversos ordenamentos especficos e sua aplicabilidade com o mundo real.

    Abraos,

    Cricima/SC, 04 de agosto de 2015.

    Adriano Pedro GoudinhoProfessor de Direito Civil - IDC

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    EMENTA: Interpretao Jurdica; Histria do Direito; a Constitucionalizaodo Direito Civil; Direito Pblico e Privado; dos Direitos da Personalidade;das Pessoas Naturais; das Pessoas Jurdicas; do Domiclio; das DiferentesClasses de Bens; do Negcio Jurdico; dos Atos Jurdicos Lcitos; dos AtosIlcitos; da Prescrio e da Decadncia; da Prova.

    INTERPRETAO DE LEISHISTRIA DO DIREITO LEI, COSTUME, MORAL.O QUE O DIREITO CIVIL?LEI DE INTRODUO AS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO -caractersticas, vigncia, competncia, etc.DIREITO CIVIL NA CONSTITUIO Proposta do Estado Brasileiro para asrelaes entre os particulares.

    SUJEITOS DO DIREITO - Pessoa fsica ou natural e jurdica.PERSONALIDADE JURDICA - Nascituro; embrio in vitro, morte, ausncia.PESSOA FSICA - Incapaz, menor impbere, menor pbere, emancipao,interdio, prdigo, impedidos, etc.PESSOA JURDICA Conceito; classificao; de direito privado, de direitopblico, desconsiderao da personalidade jurdica.BENS - Mveis e imveis; fungveis ou infungveis; singulares ou coletivos,etc.NEGCIOS JURDICOS - Fatos naturais ou humanos; atributos;classificao; diferenciao entre atos e fatos jurdicos.

    ATOS ILCITOS Modalidades.PRESCRIO E DECADNCIA - Diferenciao e aplicabilidade.PROVAS - Requisitos e possibilidades.

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    INTERPRETAO DAS LEIS

    INTERPRETAOPara a adequada compreenso do texto legal deve-se

    ter o cuidado de conhecer tcnicas interpretativas que, alis, a principalferramenta de trabalho do acadmico de direito e do futuro profissional darea jurdica. Para que se possa operar no direito preciso ter boainterpretao, ou em outras palavras exercitar a hermenutica (ainterpretao do texto legal) ou exegese(significado original da palavra outexto). O direito vido em interpretaes dbias ou de duplainterpretao, como se verifica das seguintes frases:

    - dar e receber quitao;- receber e dar quitao;- cominao da pena / aplicao da pena;- navegar preciso; viver no preciso.

    Exemplos de textos legais de interpretao duvidosa: art. 219, 2 do CPC(procedimento da citao); Art. 10 da Lei n. 10.259/2001 emcontraposio ao art. 1 da Lei n. 8.906/94 (representao por advogado),etc.

    Os mtodos possveis de interpretao, segundo Fbio Ulhoa Coelho, so os

    seguintes:

    Gramatical: O intrprete sustenta o sentido da norma interpretanda apartir do exame de seus vocbulos, com vistas a precisar-lhe o significadoe, quando necessrio, a categoria morfolgica ou funo sinttica.

    Lgico: O emprego do mtodo lgico revela as incongruncias nas normasjurdicas, isto , imprecises nos enunciados normativos que obstam oraciocnio rigorosamente lgico acerca de seu significado. A ambiguidade nouso das expresses exemplo desse tipo de impreciso que o mtodo

    lgico est apto a desnudar.

    Sistemtico: Pressupe que o ordenamento tem uma lgica interna. Aceitaa premissa, segue-se que as normas devem ser interpretadas sempre emconsonncia com as demais integrantes do mesmo ordenamento. Estemtodo recomenda a articulao das normas jurdicas entre si e com osprincpios do direito como a forma de encontrar o seu significado.

    Teleolgico (*): Busca-se interpretar a lei tendo em vista os objetivos quenortearam sua edio. As normas do CDC, por exemplo, devem ser

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    teleologicamente interpretadas como preceitos destinados proteo dosconsumidores em suas relaes com os fornecedores.(*) No dicionrio, teleolgico significa: diz-se do argumento, conhecimentoou explicao, que relaciona um fato com a sua causa final.

    Histrico: Por este mtodo, procura-se desvendar a inteno do legisladorquando da elaborao do texto legal. Parte-se do convencimento de que alei deve ser aplicada de acordo com a inteno do legislador ou autoridadeque a editou.

    Como citado anteriormente, para um desempenho adequado do raciocniojurdico temos que usar, ainda, o raciocnio lgico e este caracterizadopela Dialtica.

    DIALTICA Arte do dilogo. Arte de argumentao e contraargumentao at que se alcance uma tese momentaneamente irrefutvel,ou seja, se lana uma ideia atravs de uma hiptese, se contrape a elaatravs de uma anttese at que o argumento mais verossmil sejaconsiderado tese.

    Porm o argumento jurdico, ou qualquer argumento, pode incorrer numgrave equvoco, ou seja, do pensamento construdo a partir de umsofisma.

    SOFISMA a construo de todo um raciocnio lgico ou correto a partirde uma premissa falsa, que, portanto, desmorona todo o raciocnioconstrudo.

    Alm dessas consideraes de natureza interpretativa importanteressaltar a necessidade de se conhecer o texto analisado pelo critrio danatureza no isenta do ser humano. Todos os seres humanos so formadosdesde o nascimento por uma quantidade enorme de informaes, sensaese sentimentos que lhes so transmitidos por seus pais, parentes, amigos,tutores ou pelos integrantes do crculo social ao qual pertenam, escolas,centros ecumnicos, etc. Ento justo afirmar que no existe um serhumano igual ao outro no que tange ao conhecimento, pois, este nico,mesmo que duas pessoas possam ter recebido a mesma instruo formaldurante toda a sua vida. Deste modo, possvel dizer que inexiste umainterpretao verdadeira, contudo, quando os vrios mtodos deinterpretao, os citados acima ou outros, so empregados e redundamnum mesmo resultado, ter-se- uma incrvel fora retrica na

    argumentao sustentada.

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    CONCEITO DE DIREITO - O Direito tem vrias conceituaes, porm, usualmente conhecido como sendo o conjunto de regras obrigatrias,que conta com o poder de coero do estado para ser obedecidaspelas pessoas, com o fito de regular a atividade social humana.

    A diferena bsica entre direito e a moral que esta ltima considerada adescrio dos hbitos (costumes) no mbito de uma sociedade ou grupo,tambm conhecido como regras de comportamento. Enquanto que o direito a norma positivada, ou seja, aquela que a sociedade organizada crioupara que seja cumprida por todos os seus cidados e pessoas jurdicas queconta com o indispensvel poder de coero do Estado, atravs da sano.

    interessante a abordagem realizada por Venosa2

    ao considerar que odireito uma realidade histrica, um dado contnuo, provm daexperincia. S h uma histria e s pode haver uma acumulao deexperincia valorativa da sociedade. No existe direito fora da sociedade.Acrescenta ainda que entre os vrios objetivos das normas, o primordial conciliar o interesse individual, egosta por excelncia, com o interessecoletivo. Direito ordem normativa, um sistema de normas harmnicasentre si.

    Para que o direito seja reconhecido como existente e que deve ser cumprido

    necessrio que a norma descreva os atos tpicos que obrigam adeterminado comportamento, seja de forma positiva ou em sua formanegativa. A isso se d o nome de tipicidade que a descrio legal de umaconduta, predetermina uma ao do indivduo, quer para permitir que eleaja de uma forma, quer para proibir determinada ao.3

    O direito positivo, portanto, o ordenamento jurdico em vigor emdeterminado pas e em determinado perodo que se distingue do direitonatural, sendo este ltimo a ideia abstrata de direito que corresponde auma justia superior e suprema ou a expresso de princpios superioresligados natureza racional e social do homem.4

    O Direito objetivo, por seu vrtice, reconhecido como sendo o conjuntode normas impostas pelo Estado, de carter geral, a cuja observncia osindivduos podem ser compelidos mediante coero. O direito subjetivo,

    2Venosa, Slvio de Salvo, Direito civil, parte geral, Atlas, So Paulo 2003, p. 303Venosa, Slvio de Salvo, Direito civil, parte geral, Atlas, So Paulo 2003, p. 33.4 C. Massimo Bianca, Direitto civile, v. 1, p.19, citado por Carlos Roberto Gonalves in Direito Civil 1,

    Saraiva, So Paulo, 2014. P. 37.

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    ento, quando a ordem jurdica confere algum o direito de agir ou deexigir de outrem determinado comportamento. , portanto, o meio desatisfazer interesses humanos.

    CONCEITO DE LEIEm uma definio enciclopdica, pode-se definir Leicomo norma de conduta de carter obrigatrio, que conta com o poder decoero do Estado, para regular a atividade social humana. Como se viuanteriormente, a norma jurdica se extrai da vontade de um povo de seautorregulamentar ou descrever condutas tpicas aceitas comumente, bemcomo, aquelas consideradas antijurdicas que devem ser rechaadas portoda a coletividade. Todavia, o clamor geral de uma sociedade e semprepalavra de ordem em todas as reivindicaes sociais a aplicao daJUSTIA. E, infelizmente, no to simples assim se chegar a um conceitoamplo e geralmente aceito por todos (ou pela maioria) em relao a Justia.

    Na busca da definio no dicionrio se chega ao segundo conceito deJUSTIA:5

    Conformidade com o direito; a virtude de dar a cadaum aquilo que seu; faculdade de julgar segundo odireito e melhor conscincia.

    V-se, portanto, que a definio enciclopdica pouco satisfatria, pois,passa uma noo abstrata, por no dizer superficial sobre o tema. Para,Proudhon6:

    A justia, sob diversos nomes, governa o mundo,natureza e humanidade, cincia e conscincia, lgica emoral, economia poltica, poltica, histria, literatura earte. A Justia o que h de mais primitivo na almahumana, de mais fundamental na sociedade, de maissagrado entre as noes e o que as massas reclamamhoje com mais ardor. a essncia das religies, aomesmo tempo que a forma da razo, o objeto secretoda f, o comeo, o meio e o fim do saber. Que imaginarde mais universal, de mais forte, de mais perfeito doque a justia?7

    Perelman8, em seu ensaio sobre tica e direito, quando retrata a Justiadentro de um conceito universal, chega concluso que :

    5Holanda Ferreira, Aurlio Buarque deNovo Dicionrio Aurlio - 3 Edio2004.6Citado por Perelman, Chamin tica e Direito, Editora Martins Fontes, 2005.7Citado por Cham PerelmanTICA E DIREITO, editora Martins Fontes, p. 08.

    8Idem

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    Infinitamente mais delicado definir uma noo quepossibilidade dizer quando uma regra justa. A nicaexigncia que se poderia formular acerca da regra que no seja arbitrria, mas se justifique, decorra deum sistema normativo.

    Curioso o aconselhamento de Santo Toms de Aquino9 em sua sumateolgica de que quando a lei defeituosa, a no julgar de acordo com aletra da lei, mas a recorrer equidade, de acordo com a inteno dolegislador. John Rawls10, em sua teoria da justia, coloca quase do mesmomodo a sua definio das pessoas a quem se deve aplicar justia ao dizerque:

    Uma caracterstica da justia como equidade a deconceber as partes na situao inicial como racionais e

    mutuamente desinteressadas (...), so concebidascomo pessoas que no tem interesse nos interesses dasoutras.

    Portanto, a definio de Justia e, principalmente, sua aplicabilidade desuma importncia para que seja possvel se entender os conceitos ticos e aprtica de posturas profissionais condizentes.

    Noes de Justia na tica de Cham Perelman11:

    A cada qual a mesma coisa: todos os seres humanos devem ser tratadosda mesma forma, sem levar em conta as particularidades que osdistinguem. justo que todos sejam tratados da mesma forma, semdiscriminao ou discernimento.

    A cada qual segundo os seus mritos: No exige a igualdade de todos,mas um tratamento proporcional a uma qualidade do indivduo, o mrito dapessoa humana. Esse tratamento questionvel, pois como definir essemrito? Qual a medida comum entre os mritos e demritos? Existir esta

    medida?

    A cada qual segundo suas obras: Essa concepo exige um tratamentoproporcional onde o critrio no moral ou leva em conta a inteno, o queprevalece o resultado da ao. Leva-se em conta o resultado, a respostado candidato e o trabalho que apresentou.

    9Ib idem10

    Rawls, JohnUma Teoria da Justia, Martins Fontes, 2002.11Perelman, Chamtica e direito2 Ed. So Paulo: Martins Fontes, 2005.

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    A cada qual segundo suas necessidades: Essa frmula pretendediminuir os sofrimentos que resultam da impossibilidade em que ele seencontra de satisfazer suas necessidades essenciais. Contudo, talformulao se assemelha mais a concepo de caridade. Para sua realaplicao deve-se levar em considerao critrios formais das necessidadesde cada qual, pois as divergncias entre tais critrios ocasionam diversasvariantes dessa frmula.

    A cada qual segundo sua posio: Consiste em tratar os seres humanosno conforme critrios intrnsecos ao indivduo, mas conforme pertena auma ou outra determinada categoria de seres. Se considerarmos essafrmula de justia aristocrtica porque sempre defendida pelosbeneficirios dessa concepo que exigem ou impem um tratamentodiferente para as categorias de seres por eles apresentados como

    superiores. E tal reivindicao habitualmente apoiada pela fora dasarmas.

    A cada qual segundo o que a lei lhe atribui: conceder a cada ser oque a lei efetivamente lhe atribui. Com esta concepo, crvel afirmar queum juiz justo quando aplica as mesmas situaes, as mesmas leis.Contudo, tal conceito no resiste a uma anlise mais criteriosa, haja vistaque a justia no pode ser esttica, deve ser dinmica, sob pena de seperpetuar legalismos, ao contrrio de aes legtimas e justas.

    NECESSIDADES HUMANAS E AS LEIS - Os seres humanos tendem aimaginar que as leis como colocadas so mais obstculos as suasnecessidades pessoais do que mecanismos de resoluo da conduta. Porm,como j relatado, no h como afastar uma da outra no momento em que ohomem quis viver em sociedade, mais por necessidade do que opo. Naspalavras de Pierre Teilhard de Chardin:

    A moral nasceu, de modo geral, como uma defesaemprica do indivduo e da sociedade. Assim que osseres inteligentes comearam a se pr em contato e,

    consequentemente, em atrito, sentiram a necessidadede se proteger contra os seus abusos mtuos. E, assimque se estabeleceu, pelo uso, uma organizao quegarantia mais ou menos a cada um o que lhe eradevido, esse prprio sistema sentiu a necessidade de segarantir contra as mudanas que viriam questionar assolues admitidas e perturbar a ordem socialestabelecida. (In outras Palavras, pp.67).

    Teilhard de Chardin conseguiu desagradar tanto os materialistas, como oscristos, pois, aos primeiros lhes pareciam que as suas teorias eram

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    E o que o DIREITO CIVIL?

    um ramo do direito privado. Estuda ou disciplina esse ramo,especificamente, o ordenamento dos interesses dos particulares. Noensinamento de Fabio Ulhoa Coelho13o direito civil vocacionado aoestudo de normas jurdicas pertinentes s relaes privadas entreas pessoas. Acrescenta, contudo, que enquanto alguns pases o direitocivil (atravs de seus cdigos) concentra pretensamente todas as regrasdisciplinares dos conflitos de interesses privados, no Brasil, contudo,algumas relaes privadas, como exemplo, o direito do trabalho e o direitoconsumerista tm diplomas legais prprios e distintos do Cdigo CivilBrasileiro.

    Nas palavras de Miguel Reale14, o Cdigo Civil a constituio do homem

    comum, por reger as relaes mais simples da vida cotidiana, os direitos edeveres das pessoas, na usa qualidade de esposo ou esposa, pai ou filho,credor ou devedor, alienante ou adquirente, proprietrio ou possuidor,condmino ou vizinho, testador ou herdeiro etc. Toda a vida social, como senota, est impregnada do direito civil, que regula as ocorrncias do dia adia.

    Por ser um ramo do direito privado, deve-se entender o DIREITOPRIVADO como sendo aquele que trata das relaes jurdicas entreparticulares, que so todos os sujeitos de direito, exceto o Estado (entes

    federativos) e as autarquias. Como sub-ramos do direito privado, incluem-se o civil, comercial, do trabalho e do consumidor.

    Nesta linha de raciocnio, entende-se o DIREITO PBLICO como sendoaquele que cuida dos atos jurdicos praticados pelo Estado, inclusive os queimportam ou pressupem vnculos com as pessoas que residem ou atuamno territrio correspondente (os particulares). So sub-ramos do direitopblico, o direito constitucional; o direito tributrio; direito administrativo;direito financeiro; previdencirio; o direito penal e processual penal; odireito processual civil e outros tais como o direito internacional; infncia ejuventude; ambiental; telecomunicaes, etc.

    Observar-se que tal distino tem mais apelo didtico do que efetivo, pois,o direito deve ser visto como um todo unitrio e a diferenciao de um paraoutro no encontra uma viso consensual em face das inmeras inter-relaes ou inferncias entre uma disciplina e outra.

    13Coelho, Fabio Ulhoa, Curso de direito civil, Editora Saraiva, 2013, p. 34.

    14Citado por Maria Helena Diniz, in Curso de direito civil brasileiro, v. 1, p. 46

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    A LEI DE INTRODUO AS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO(Decreto Lei n. 4657 de 1942, modificada pela 12.376/2010), descreve emseu artigo 4oque quando a lei for omissa, o juiz decidir o caso de acordocom a analogia, os costumes e os princpios gerais de direito.

    Trata-se de uma legislao anexa ao Cdigo Civil, porm, autnoma, decarter universal e aplica-se a todos os ramos do direito. Possui 19 artigosque tem por objetivo criar normas sobre as normas.

    Em resumo visa: Regular a vigncia e a eficcia das normas jurdicas(artigos 1 e 2), apresentando solues ao conflito de normas no tempo(art. 6) e no espao (arts. 7 a 19); Fornecer critrios de hermenutica(art. 5); estabelecer mecanismos de interpretao das normas quandohouver lacunas (art. 4) e garantir a sua eficcia, no admitindo o erro de

    direito (art. 3) e impondo a segurana e estabilidade do ordenamento (art.6).

    So fontes formais do direito: Lei, analogia, costume e Princpios geraisdo Direito. A lei, como j descrita, a norma geral de conduta que visaregular a atividade social humana, contando com o poder de coero doEstado, para ser obedecida. A analogia pode ser entendida como oprocesso lgico de interpretao pelo qual se supre omisso legislativa,aplicando a uma dada situao jurdica, para a qual no haja previso legalespecfica, norma que disciplina caso similar. O costume o hbito (de um

    povo) amplamente aceito cuja fora normativa reconhecida pelo direito. E,finalmente, os princpios gerais do direito so comumente descritoscomo regras que se encontram na conscincia dos povos e souniversalmente aceitas, mesmo no escritas. Possuem carter genrico,orientam a compreenso do sistema jurdico, em sua aplicao eintegrao, estejam ou no includas no direito positivo. So exemplos deprincpios: o enriquecimento sem causa (art. 876 do CC); no se pode lesara outrem (art. 186); no se pode escusar o no cumprimento de lei pordesconhec-lo (art. 3 da LINDB), etc.

    As leis podem ser classificadas como cogentese no cogentes. Sendo asprimeiras conhecidas, tambm, de ordem pblica ou de imperatividadeabsoluta e so: a) Mandamentais ao determinarem uma ao ou, b)proibitivas, ao ordenarem uma vedao ou absteno. E quando nocogentes, tambm conhecidas como dispositivas ou imperatividaderelativa, ou seja, no determinam nem probem de modo absolutodeterminada conduta, mas permitem uma ao ou absteno ou supremdeclarao de vontade no manifesta. Classificam-se em: a) permissivas,quando permitem que os interessados disponham como lhes convier e, b)

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    supletivas, quando se aplicam a falta de manifestao da vontade daspartes.

    So, quanto natureza, substantivas ou materiais, pois definem direitose deveres e estabelecem os seus requisitos e formas de exerccio. E,tambm, adjetivas, quando traam os meios de realizao dos direitos,tambm conhecidas como processuais ou formais.

    Quanto hierarquia, as leis so assim dispostas: Constitucionais(CF doBrasil); Complementares(situam-se entre a constituio e a lei ordinria necessrio qurum especial para sua aprovao art. 59, pargrafonico e 69 da CF e destinam-se a regulamentao de textosconstitucionais); Ordinrias (leis comuns, originrias dos rgoslegislativos, submetidas as duas casas do Congresso e, posteriormente,

    submetidas sano e promulgao da presidncia da Repblica);Delegadas (elaboradas pelo Executivo, por autorizao expressa doLegislativo. Possuem a mesma hierarquia das leis ordinrias artigo 68);Medidas Provisrias( necessrio estabelecer a relevncia e urgncia damatria e editada pelo executivo. Perdero a eficcia, desde o incio, seno forem convertidas em lei pelo Congresso Nacional, em at sessentadias, podendo ser prorrogado por uma nica vez); E, por fim, ainda temosos decretos legislativos (tratados internacionais), resolues (matriasprivativas da cmara dos deputados) e normas internas (regimentos eestatutos).

    Quanto competncia, so classificadas de leis federais, estaduais emunicipais.

    Eficcia da Lei - Eficaz a norma obedecida pelas pessoas a quem sedirige e aplicada pelos juzes. Deve-se observar que algumas normas soeficazes, porm, no so vlidas. o caso da lei seca(proibio de vendade bebidas alcolicas em dia de eleio). Por se tratar de uma proibio,somente por lei ordinria se podia regular a matria, contudo, se v arepetio desta norma em todas as eleies a partir de portarias deSecretarias Estaduais de Segurana. Por outro vrtice, existem as leisvlidas, porm, ineficazes. o caso do art. 501 do Cdigo Comercial aindaem vigor que, porm, no cumprida. (o comandante do navio obrigadomanter a escriturao regular de todos os eventos importantesrelativamente administrao e navegao da embarcao. Caso nomantenha essa escriturao, o comandante pode ser responsvel pelasperdas e danos resultantes da omisso. Hoje em dia, os comandantesapenas comunicam os fatos relevantes autoridade martima, sem osregistrar em livros mercantis).

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    Revogao da Lei A lei perde vigncia em trs hipteses: decurso deprazo, suspenso da execuo e revogao. No primeiro caso quando aprpria lei (ou a constituio) estabelece prazo determinado de vigncia,fixando um limite temporal para a sua aptido para produzir efeitos. Trata-se de lei temporria (caso das leis oramentrias).

    A segunda hiptese, como j vimos, so aquelas que perdem a eficcia porato do Senado Federal ou por deciso do STF. E a terceira possibilidade quando o legislador pe termo efetivo a uma lei. O Cdigo Civil de 2002,quando entrou em vigor em 2003, revogou expressamente o Cdigo Civil de1916.

    Deve-se observar que essa revogao pode ser expressa, como no casocitado acima, ou tcita que o caso de uma nova legislao que regula

    inteiramente a matria anterior ou incompatvel.

    Repristinao a recuperao da vigncia por uma lei revogada. Pormeio dessa operao, a norma legal objeto da revogao tem a vignciarestabelecida por uma terceira norma (art. 2, 3 da LINDB). Para queisso ocorra deve constar expressamente em lei.

    Obrigatoriedade da Lei Conforme j citado anteriormente, de acordocom a LINDB, em seu artigo 3, Ningum se escusa de cumprir a lei,alegando que no a conhece. importante destacar que humanamente

    impossvel conhecer todas as leis editadas num pas. Porm a intenodessa norma que as leis podem ser conhecidas (desde que se queira) edeste modo, se evita que algum queira se furtar de cumprir uma sanolegal pelo mero argumento do seu desconhecimento.

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    O DIREITO CIVIL NA CONSTITUIO

    Todo Estado moderno tem uma constituio, salvo raras excees(Inglaterra). Visa disciplinar a organizao do Estado como tambmassegurar os direitos fundamentais dos brasileiros e estrangeiros residentesno Brasil, alm de dispor sobre a ordem econmica, poltica e social.

    O controle de constitucionalidade no Brasil feito atravs do judicirio quese prope a observar se as leis em vigor so compatveis com aConstituio. Constitucionalidade, portanto, o atributo da lei que seapresenta compatvel com a Constituio. Este controle feito de duasmaneiras: difusa, ou seja, atravs de qualquer pessoa que suscite em umaao judicial a inconstitucionalidade da lei e, pela via concentrada querefere a uma ao proposta perante o STF com o objetivo de declarar certa

    lei constitucional ou inconstitucional. Esta ltima somente pode serpromovida por algumas autoridades ou entidades, de acordo com o artigo103 da CF, entre elas, Presidente da repblica, OAB, Procurador Geral daRepblica, etc. Dita deciso ter efeito erga omnes, ou seja, valer paratodos. H sria discusso sobre os efeitos de uma lei inconstitucional. Viade regra, deve-se observar que esta lei ter pleno efeito e vigorar at queseja extinta pelo Senado Federal ou declarada pelo STF.

    A origem do capitalismo remonta ao sculo XIX quando fazia jus a alcunhade capitalismo selvagem. A renda dos trabalhadores franceses, ingleses e

    alemes, por exemplo, era inferior a necessria para uma vida, no mnimo,digna. A condio de vida das classes trabalhadoras era de nefastamiserabilidade. Retratos pungentes desta realidade podem ser vistos emobras como Os Miserveis e Trabalhadores do Mar de Victor Hugo;Iluses Perdidas de Honor de Balzac; O vermelho e o negro deStendhal e Oliver Twist de Charles Dickens. Era o chamado CapitalismoLiberal.

    A partir do incio do sculo XX a crise da bolsa de Nova Iorque, em 1929,alertou o mundo da supervalorizao das riquezas e da distncia desmedida

    entre os mais pobres e os privilegiados. Com uma nova poltica econmicaimplantada pelo presidente norte americano Franklin Roosevelt, New Deal,que associou claramente ideias trazidas dos revolucionrios socialistas epropugnando por uma maior participao do Estado na direo econmicado pas e, principalmente, com o advento das guerras mundiais, estedesequilbrio entre as classes se tornou menor o que permitiu umadistribuio de renda mais justa.

    Enfatiza-se que a poltica do bem estar social permeou praticamente todasas polticas dos governos da Europa Ocidental, no ps-guerra (1945).

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    A realidade do welfare state europeu ou da especfica ostpolitik alem,permitiu que o Estado organizado abraasse uma srie de aes sociais como fito da diminuio das desigualdades. Em resumo, os princpios dasolidariedade e da dignidade humana, foram colocados em prtica, em suaplena extenso.

    Com a ascenso de Margareth Thatcher ao cargo de primeiro ministro daInglaterra (Gr Bretanha) em 1979, surgiu um novo modelo econmico queficou conhecido como neo liberalismo. Esse movimento propunha a menorinterveno estatal na economia e cortes acentuados em programas sociais,alm da privatizao de empresas pblicas.

    Diga-se que esse movimento de carter mundial ultrapassou as fronteiraseuropeias difundindo-se por praticamente todos os continentes e pases, emmaior ou menor grau.

    Com a crise do petrleo, provocada pela flagrante chantagem dos pases dogolfo prsico, quando aumentaram significativamente o preo do barril e oacumulo de riqueza nas classes mais altas, novamente o globo se deparacom um grande desequilbrio social.

    Por conta do aumento da desigualdade social, com um nmero maiorde pobres e com o colapso do mundo socialista, novamente deve-se reveras condues econmicas e se formula ento, a figura do Estado Social,

    que prope a reduo do espao da autonomia privada com o fito degarantir a tutela jurdica dos mais fracos.

    Pode-se vislumbrar em tal ao, uma resposta global a grandemobilidade social promovida pela China, que conseguiu tirar do estado demiserabilidade mais de 300 milhes de pessoas e a vilania que adesigualdade.

    No campo jurdico, isto restou acentuado com a consagrao dosprincpios anteriormente citados, princpio da dignidade da pessoa

    humanaque preconiza que as normas so direcionadas para a tutela daspessoas humanas e a garantia da dignidade destas. O ser humano est nocentro do sistema jurdico, em torno do qual gravitam todos os demaisinstitutos. O Estado s existe como nao se a dignidade da pessoa humanaestiver preservada e assegurada.

    Outro princpio ressaltado o da solidariedade social e igualdadesubstancial. A CF do Brasil em seu artigo 3, I, diz que constitui objetivoda repblica brasileira construir uma sociedade livre justa e solidria.Portanto, A solidariedade implica em uma mtua cooperao nas relaes

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    privadas, com o firme propsito de se alicerar negcios ou relaesjurdicas com base no respeito e responsabilidade.

    Por seu turno, a igualdade substancial est prevista no art. 3, III da CF,quando diz que objetivo da repblica erradicar a pobreza e a

    marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais. Referidaisonomia, tambm est prevista no artigo 5, caput. Em resumo,diferentemente do Estado Liberal, no Estado social os iguais so tratadosigualmente e os desiguais, na medida de sua desigualdade. Um exemploclaro o Cdigo de Defesa do Consumidor, em seu art. 6. VIII, quandotrata da inverso do nus da prova.

    Enaltece-se, por fim, que o Direito Civil encontra uma srie de disposiesna Constituio, tendo em vista que a CF do Brasil extremamentedetalhista ou disciplinadora. Diz-se que inexiste constituio no mundo maisprolixa que a brasileira.

    No direito civil, por exemplo, encontramos os casos dos artigos 227, 6que trata da igualdade dos filhos dentro e fora do casamento; art. 170, IIIque trata da funo social da propriedade; art. 226, 6 que fala sobre adissoluo do casamento, etc. Nem sempre a constituio clara sobredeterminado assunto, no caso do direito civil, por exemplo, em relao aunio estvel entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar,inexiste previso expressa. Contudo, possvel se sustentar tal argumento

    com base no que est previsto nos artigos 226, 3 e 5, caput, conformedecidiu o STF em 2011 (ADI 4277 e ADPF 132).

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    DIREITO DA PERSONALIDADE

    O Cdigo Civil de 2002 cuida do assunto em trs ttulos: Das pessoasnaturais; das pessoas jurdicase do domiclio.

    Em relao s Pessoas Naturais possvel observar os conceitos sobre apersonalidade e capacidade; dos direitos da personalidade e da ausncia.

    Personalidade Jurdica A personalidade est ligada pessoa. Todoaquele que nasce com vida torna-se uma pessoa e, portanto, adquirepersonalidade. A personalidade jurdica, portanto, pode ser definida comosendo a aptido genrica para adquirir direitos e contrair deveres na ordemcivil.Clvis Bevilqua a define como sendo: a aptido, reconhecida pelaordem jurdica algum, para exercer direitos e contrair obrigaes.15Para

    Fbio Ulhoa Coelho, a autorizao genrica, conferida pelo direito, para aprtica de atos no proibidos16.

    Podemos conceituar a capacidade em trs situaes: jurdica, de direito ede fato. Capacidade Jurdica: Capacidade de ser titular de direitos edeveres; Capacidade de Direito: Ter direitos subjetivos e contrairobrigaes (tambm conhecida como capacidade de gozo) e Capacidadede Fato: poder praticar pessoalmente os atos da vida civil, semnecessidade de assistncia ou representao, conhecida, tambm, comocapacidade de exerccio ou de ao.

    Da Pessoa Natural (ou fsica): Todos os seres humanos (homens emulheres) so pessoas fsicas ou naturais para o Direito. O comeo dapersonalidade natural se inicia com o nascimento com vida (art. 2 do CC).Para que ocorra efetivamente o nascimento com vida necessrio que acriana seja separada do ventre materno (no necessrio que tenha sidocortado o cordo umbilical), porm, que a criana haja respirado. Casotenha respirado, considera-se que viveu, mesmo que venha perecer emseguida. Neste caso, lavram-se as certides de nascimento e bito. importante observar que a prova inequvoca de tal situao da medicina.Esta prova importante para definir a possibilidade de receber herana etransmiti-la a seus sucessores.

    Venosa17 defende que, geralmente, os direitos da personalidadedecompem-se em direito vida, prpria imagem, ao nome e

    15Clvis BevilquaCdigo Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado, v. 1, obs. 1 ao art. 2 do CC de1916, citado por Carlos Roberto Gonalves in Direito Civil 1, Editora Saraiva, 2014.16

    Coelho, Fabio Ulhoa, Curso de Direito Civil, Editora Saraiva, So Paulo, 2013.17

    Venosa, Slvio de Salvo, Direito Civil, parte geral, 3 edio, Editora Atlas, So Paulo, 2003.

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    personalidade. Os direitos de famlia puros, como, por exemplo, o direito aoreconhecimento de paternidade e o direito a alimentos, tambm se inseremessa categoria.

    Nesta linha de raciocnio, vide as garantias previstas no artigo 5, caput einciso X, da CF do Brasil:

    Art. 5, caput - Todos so iguais perante a lei, semdistino de qualquer natureza, garantindo-se aosbrasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas ainviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termosseguintes.

    Inciso X - so inviolveis a intimidade, a vida privada, a

    honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito aindenizao pelo dano material ou moral decorrente desua violao.

    Neste mesmo sentido, ou seja, a proteo vida em todas as suasmodalidades, bem como, da imagem, o que disciplinam os artigos 15 e 21do Cdigo Civil de 2002:

    Art. 15 - Ningum pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento mdico ou ainterveno cirrgica;

    Art. 21 - A vida privada da pessoa natural inviolvel,e o juiz, a requerimento do interessado, adotar asprovidncias necessrias para impedir ou fazer cessarato contrrio a esta norma.

    Em relao proteo do nome, mais precisamente o prenome e osobrenome, o Cdigo Civil disciplina o tema nos artigos 16 e seguintes, em

    destaque:

    Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nelecompreendidos o prenome e o sobrenome.

    Art. 17. O nome da pessoa no pode ser empregadopor outrem em publicaes ou representaes que aexponham ao desprezo pblico, ainda quando no hajainteno difamatria.

    Art. 18. Sem autorizao, no se pode usar o nome

    alheio em propaganda comercial.

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    Art. 19. O pseudnimo adotado para atividades lcitasgoza da proteo que se d ao nome.

    O legislador do novo Cdigo Civil estabeleceu at mesmo a proteo

    intimidade do casamento, conforme se infere da redao do artigo 1513 emdestaque:

    Art. 1.513 - defeso a qualquer pessoa, de direitopblico ou privado, interferir na comunho de vidainstituda pela famlia.

    Proteo do NascituroConforme verificado na redao do artigo 2 doCdigo Civil Brasileiro, em sua segunda parte, a lei pe a salvo, desde aconcepo, os direitos do nascituro. Mas o que o nascituro? Para Venosa, um ente j concebido que se distingue daquele que no foi ainda

    concebido e que poder ser sujeito de direito no futuro, dependendo deuma prole eventual. Embora seja desprovido de personalidade (ainda nonasceu), o direito brasileiro assegura vrias protees ao nascituro, seja dembito civil, seja no mbito penal. No Cdigo Civil, por exemplo,encontram-se os seguintes artigos, alm do art. 2, j citado:

    Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora docasamento irrevogvel e ser feito:I - no registro do nascimento;II - por escritura pblica ou escrito particular, a ser

    arquivado em cartrio;III - por testamento, ainda que incidentalmentemanifestado;IV - por manifestao direta e expressa perante o juiz,ainda que o reconhecimento no haja sido o objetonico e principal do ato que o contm.Pargrafo nico. O reconhecimento pode preceder onascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento,se ele deixar descendentes.

    Art. 1.779. Dar-se- curador ao nascituro, se o paifalecer estando grvida a mulher, e no tendo o poderfamiliar.Pargrafo nico. Se a mulher estiver interdita, seucurador ser o do nascituro.

    Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoasnascidas ou j concebidas no momento da abertura dasucesso.

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    Nesta linha protetiva, at mesmo os no concebidos merecem abrigo,conforme se infere da redao do artigo 1.799, I do Cdigo Civil, ou seja,criou-se uma expectativa de direito:

    Art. 1.799. Na sucesso testamentria podem ainda serchamados a suceder:I - os filhos, ainda no concebidos, de pessoasindicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucesso.

    Quanto ao Cdigo Penal, se destacam os artigos relacionados ao crimecontra o nascituro (aborto) e, tambm, suas excepcionalidades:

    Aborto provocado pela gestante ou com seuconsentimento

    Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentirque outrem lhe provoque:

    Pena - deteno, de um a trs anos.

    Aborto provocado por terceiro

    Art. 125. Provocar aborto, sem consentimento dagestante:

    Pena - recluso, de trs a dez anos.

    Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da

    gestante:Pena - recluso, de um a quatro anos.

    Pargrafo nico. Aplica-se a pena do artigo anterior, sea gestante no maior de quatorze anos, ou alienadaou dbil mental, ou se o consentimento obtidomediante fraude, grave ameaa ou violncia.

    Forma qualificadaArt. 127. As penas cominadas nos dois artigosanteriores so aumentadas de um tero, se, em

    consequncia do aborto ou dos meios empregados paraprovoc-lo, a gestante sofre leso corporal de naturezagrave; e so duplicadas, se, por qualquer dessascausas, lhe sobrevm a morte.Art. 128. No se pune o aborto praticado por mdico:Aborto necessrioI - se no h outro meio de salvar a vida da gestante;Aborto no caso de gravidez resultante de estuproII - se a gravidez resulta de estupro e o aborto precedido de consentimento da gestante ou, quandoincapaz, de seu representante legal.

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    Em que pese o nascituro ter proteo legal e capacidade para alguns atos,no significa que detenha personalidade que somente comear com onascimento com vida. Trata-se de uma mera expectativa de direito, comose observou nos artigos citados. Na Frana, por exemplo, condiciona-se atutela dos direitos do nascituro a viabilidade da vida extrauterina. Emsuma, se constatado que o recm falecido no tinha meios orgnicos parasobreviver como ser biologicamente independente, no se tutelam osdireitos do nascituro. O embrio in tero o nascituro. Portanto, aps aimplantao, seja natural ou assistido (fertilizao in vitro) no teromaterno, j h a proteo do nascituro, em especial, a sua expectativa dedireito.Teorias sobre a situao jurdica do nascituro:

    Natalista Afirma que a personalidade civil somente se inicia com o

    nascimento com vida.

    Da Personalidade Condicional Sustenta que o nascituro pessoacondicional, pois a aquisio da personalidade jurdica acha-se sob adependncia de condio suspensiva, o nascimento com vida, no setratando propriamente de uma terceira teoria, mas de um desdobramentoda teoria natalista, uma vez que tambm parte da premissa de que apersonalidade tem incio com o nascimento com vida.

    Concepcionista Admite que se adquire a personalidade antes do

    nascimento, ou seja, desde a concepo, ressalvado apenas os direitospatrimoniais, decorrentes de herana, legado e doao, que ficamcondicionados ao nascimento com vida.

    O STF j aplicou tanto a teoria natalista, quando a teoria Concepcionista emseus julgados, vide decises estampadas na RE 99.038, Reclamao12.040-DF e ADI 3.510. Por outro vrtice, o STJ aplica a teoriaConcepcionista ao determinar o direito a indenizao por dano moral umnascituro, pela morte de seu pai, conforme a seguinte deciso emdestaque:

    O nascituro tambm tem direito aos danos morais pela mortedo pai, mas a circunstncia de no t-lo conhecido em vidatem influncia na fixao do quantum. (REsp 399.028/SP,Rel. Min. SLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ 15.4.2002).

    DAS INCAPACIDADES

    Da dico do artigo 3 do Cdigo Civil, depreende-se que soabsolutamente incapazes de exercer pessoalmenteos atos da vida civil as

    seguintes pessoas: Os menores de 16 anos; os enfermos ou deficiente

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    mentais que no tiverem o necessrio discernimento para a prticadestes atose os que, mesmo por causa transitria, no puderem exprimirsua vontade.

    Em relao aos menores de 16 anos, levou-se em considerao odesenvolvimento intelectual que, em tese, torna o indivduo apto para regersua vida. Para a prtica dos atos da vida civil necessrio que essesmenores sejam representados por seus pais (incapacidade absoluta).Todos os atos praticados por menores, sem a devida representao, sonulos. (art. 166, I, CC).

    A lei classifica de maiores aqueles com 18 anos ou mais e menores osque no contam com 18 anos completos. Ainda so classificados comimpberes (at 16 anos) e pberes (entre 16 e 18 anos). Deve-se

    observar que as idades se contam em anos, no direito civil (art. 132, 3do CC), portanto, duas pessoas nascidas no mesmo dia (1, por exemplo)mesmo que em horas distintas (10 da manh e 11 da noite), alcanaro amaioridade ao mesmo tempo (meia-noite).

    exceo para a manifestao de vontade de um incapaz. o caso daadoo, quando o menor dever ser ouvido e sua opinio considerada, setiver mais de 12 anos (art. 28, 2 do ECA).

    Relativamente incapazesConforme se observa no Cdigo Civil, artigo

    4, so considerados relativamente incapazes os maiores de 16 anos emenores de 18 anos (inciso I); os brios habituais, os viciados em txicos,e os que, por deficincia mental, tenham o discernimento reduzido (incisoII); os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo (inciso III) e osprdigos (inciso IV). No Cdigo Civil de 1916, em seu artigo 6, inciso III,tambm eram considerados relativamente incapazes os silvcolas (oundios).Na atual redao do Cdigo de 2002, prev que a capacidade dosndios ser regulada por legislao especial (pargrafo nico). Esta lei oEstatuto do ndio (Lei 6001/1973). Deve se levar em considerao,tambm, at por sua hierarquia, a disposio constitucional prevista noartigo 231 da CF do Brasil.

    E o que incapacidade relativa?

    Ela permite que as pessoas elencadas no artigo 4 pratiquem os atos davida civil, desde que assistidos por seu representante legal, sob pena deanulabilidade (art. 171, I do CC). H, tambm, algumas excees, ou seja,praticar atos sem a necessidade do assistente legal como, por exemplo, sertestemunha(art. 228, I), aceitar mandato (art. 666), fazer testamento

    (art. 1860, pargrafo nico), exercer empregos pblicosque no exijam a

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    maioridade (art. 5, pargrafo nico, III), casar (art. 1517), ser eleitor,celebrar contrato de trabalho, etc.

    Deve-se atentar que nesta modalidade (incapacidade relativa) se reconheceno incapaz as aptides fsica e psquica para decidir sobre o que lhe interessante. A opinio deste menor (entre 16 e 18 anos) relevante para odireito e sem a sua expressa vontade ou contra ela, o negcio jurdico nose constitui. Porm, como j anotado, precisar do auxlio indispensvel doassistente. O artigo 180 do Cdigo Civil disciplina que: O menor, entredezesseis e dezoito anos, no pode, para eximir-se de uma obrigao,invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outraparte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior. Significa, ento, queentre a opo por proteger o menor ou punir a m-f, o legislador preferiua ltima opo.

    Possibilidades de reconhecimento da capacidade civil antes dosdezoito anos Conforme se verifica da redao do art. 5, pargrafonico, do Cdigo Civil, estas so as condies necessrias para a aquisioda maioridade antes dos 18 anos completos:

    Art. 5oA menoridade cessa aos dezoito anos completos,quando a pessoa fica habilitada prtica de todos os atos davida civil.Pargrafo nico. Cessar, para os menores, a incapacidade:I - pela concesso dos pais, ou de um deles na falta do

    outro, mediante instrumento pblico, independentemente dehomologao judicial, ou por sentena do juiz, ouvido otutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;II - pelo casamento;III - pelo exerccio de emprego pblico efetivo;IV - pela colao de grau em curso de ensino superior;V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pelaexistncia de relao de emprego, desde que, em funodeles, o menor com dezesseis anos completos tenhaeconomia prpria.

    Portanto, o menor relativamente incapaz poder adquirir a capacidade civilplena pela emancipao, mediante autorizao de seus pais (ou de umdeles na falta do outro), bastando para tanto, que esta expresso devontade seja registrada publicamente. Na ausncia dos pais, poder aindaser dada a emancipao, mediante autorizao do tutor e com sentenajudicial. necessrio apontar que a emancipao no um direito domenor. uma faculdade dos pais ou tutor. Caso o intuito dos pais sejaexonerar-se de qualquer responsabilidade civil pelos atos do filho(s), o atopoder ser considerado ilcito e anulvel, em virtude do exerccio abusivo dodireito (art. 932, I).

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    O emprego pblico efetivo, caso de aprovao mediante concurso,traduz-se em emancipao automtica. fato que essa modalidade cadavez mais rara, pois os concursos pblicos normalmente estabelecem a plenacapacidade civil para a sua posse.

    O casamento previsto no art. 1.517 e deve contar com a autorizao dospais para o ato. Divergindo os mesmos em relao a concesso, esta deverser suprida pelo juzo, conforme previsto no art. 1.631.

    A colao de grau em ensino superior, tambm possibilita oreconhecimento da capacidade civil plena, contudo, uma hipteserarssima em virtude das pessoas, geralmente, conclurem o ensino superioraps os 20 anos. Salvo, claro, menores precoces ou superdotados.Quando o menor participa de um estabelecimento civil ou comercial, na

    qualidade de scio, tambm adquirir a emancipao e a plena capacidadepara a vida civil.

    Por derradeiro, caso atravs do pleno emprego(carteira assinada, relaode subordinao, salrio, no eventualidade), previsto no artigo 3 da CLT,o menor entre 16 e 18 anos, tenha economia prpria,tambm adquirir aplena capacidade.

    As emancipaes so divididas em voluntrias quando concedida pelospais;judiciais, quando deferidas por sentena, ouvido o tutor e legais, nos

    demais casos (casamento, emprego pblico, colao de grau em cursosuperior, estabelecimento civil ou comercial e relao de emprego queresulte em economia prpria). A emancipao voluntria e judicial deverser registrada no Registro Civil. A Legal produz efeito desde logo, ou seja, apartir do ato ou fato que a provocou (efeito ex nunc).

    As pessoas includas no Inciso II, do artigo 4- Como brios habituaisentendam-se os alcolatras ou dipsmanos (impulso irresistvel parabeber). Os toxicmanos (usurios viciados e dependentes de substnciasentorpecentes), tambm, so includos na categoria da incapacidaderelativa. Frisa-se que os usurios eventuais que, por efeito transitriodessas substncias, ficarem impedidos de exprimir plenamente suavontade, estaro caracterizados como absolutamente incapazes (art. 3,III).

    Os deficientes mentaisde discernimento reduzido so os fracos de menteou fronteirios. Salienta-se que quando a debilidade mental privartotalmente este deficiente do necessrio discernimento para a prtica dosatos da vida civil, a incapacidade absoluta (art. 3, II). Quando, porm,

    for apenas reduzida, o caso previsto no artigo 4 ora em estudo, ou seja,

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    incapacidade relativa. Podem os brios e toxicmanos tambm ser includosna incapacidade total, desde que assim entenda o juiz que apreciar o pedidode interdio (arts. 1.772 e 1.782 do CC), estabelecendo, em qualquercaso, os limites da curatela (art. 1.767, III).

    Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo, so aquelesportadores de sndromes (Dawn, entre elas). Como excepcionalentenda-se aquele que no tem deficincia mental (inteligncia significativamenteabaixo do normal), deficincia fsica como sendo aquele portador demutilao, deformao, paralisia, entre outros e como deficinciasensorialaqueles acometidos de surdez, cegueira, entre outros. Com estasdeficincias h a incapacidade para participar em termos de igualdade como exerccio de atividades normais. Caso se reconhea o quadro de doenamental irreversvel, se trata de incapacidade absoluta (art. 3, II).

    Prdigos o sujeito que dilapida o seu patrimnio rapidamente e semqualquer juzo de valor. um defeito (ou desvio) de personalidade onde osujeito gasta imoderadamente o seu patrimnio a ponto de lev-lo amisria. Geralmente associada prtica do jogo e dipsomania(alcoolismo) e no, propriamente, a um estado de alienao mental. Opedido de interdio (curatela) poder ser promovido pelos pais ou tutores,cnjuges ou companheiros, qualquer parente e pelo Ministrio Pblico (arts.1.768 e 1.769).

    Quanto a possvel interdio do sujeito reconhecido como prdigo, pelomenos, de fato, vide algumas decises do TJSC sobre o assunto:

    DIREITO CIVIL - FAMLIA - INTERDIO - CURATELA -PRDIGO - IMPROCEDNCIA DO PEDIDO INICIAL -INCONFORMISMO - DILAPIDAO DO PATRIMNIO -INACOLHIMENTO - GASTOS IMODERADOS E DILAPIDAOPATRIMONIAL INCOMPROVADOS - RU PLENAMENTE CAPAZDE ADMINISTRAR SUA PESSOA E BENS - PROTEO DODIREITO HERANA - IMPOSSIBILIDADE - SENTENAMANTIDA - PROVIMENTO NEGADO. A interdio em razo de

    prodigalidade exige prova de que o interditando, pordistrbio psquico ou prtica costumeira, no possuacondies de conter o impulso de gastar imoderadamente oudissipar o seu patrimnio. O instituto da interdio destina-se proteo dos incapazes de gerir sua pessoa e/ou bens, noservindo para restringir os atos de disponibilidade patrimonialpraticados por pessoa dotada de plena capacidade civil, apretexto de assegurar eventual direito sucessrio. (TJSC,Apelao Cvel n. 2014.009904-8, da Capital, rel. Des.Monteiro Rocha, j. 10-04-2014).

    APELAO CVEL. AO DE INTERDIO. IMPROCEDNCIANA ORIGEM. RECURSO DOS AUTORES. NULIDADE DA

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    SENTENA POR AUSNCIA DE FUNDAMENTAO.ARRAZOADO SUFICIENTE. CENSURA POR PARTE DARECORRENTE. Se a sentena conta com arrazoadosuficiente a ponto de ser alvo de crticas por parte darecorrente, ela no padece de falta de fundamentao e no nula (art. 93, IX, da CF). CONVERSO DO JULGAMENTO

    EM DILIGNCIA. REALIZAO DE NOVA PERCIA.INSURGNCIA INTEMPESTIVA. invivel a converso do

    julgamento em diligncia, para a confeco de nova percia,se o recorrente, intimado a se manifestar sobre o resultadoda prova tcnica, no se insurge tempestivamente quanto sua completude, ou se aquela constante dos autos suficientemente esclarecedora. INTERDIO.PRODIGALIDADE. DISSIPAO DO PATRIMNIO. No prdigo, a ponto de ser alvo de interdio por incapacidadepara os atos da vida civil, aquele que no dissipa seus bensimoderadamente, no gasta ou destri desordenadamenteseu patrimnio e no se reduz misria por sua prpria

    culpa. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJSC,Apelao Cvel n. 2012.084153-7, da Capital, rel. Des. OdsonCardoso Filho, j. 10-10-2013).

    Apelao cvel. Interdio. Prdigo. Incapacidade relativa,restrita s compras no comrcio e pactuao de operaesfinanceiras de qualquer natureza. Artigos 4, inciso IV, doCdigo Civil. Transtorno comprovado. Sentena quereconhece a incapacidade total reformada. Recurso provido.(TJSC, Apelao Cvel n. 2007.014244-0, de Cricima, rel.Des. Ronaldo Moritz Martins da Silva, j. 13-11-2008).

    Para a necessria compreenso da classificao de deficincia mental,esclarece COELHO que o quociente de inteligncia do deficiente levado emconsiderao e possui trs nveis: QI de 35 ou menos considerado umapessoa com deficincia mental severa; o sujeito que possuir QI entre 36 e52, inclusive, considerado portador de deficincia mental moderadae oindivduo que possuir QI entre 53 e 70, inclusive, portador de deficinciamental leve.

    Extino da Pessoa Natural Conforme previsto no artigo 6 do CdigoCivil, a existncia da pessoa natural termina com a morte. No caso de

    ausncia, a morte presumida, nos casos em que a lei autoriza a aberturade sucesso definitiva. Pode-se descrever a morte como: real, simultneaou comorincia, civil e presumida.

    A morte real aquela prevista no artigo 6, como relatado acima, e suaprova se faz atravs do atestado de bito (art. 77 da lei dos RegistrosPblicos Lei n. 6,015/73), ou por ao declaratria de ausncia (art. 7),podendo, ainda, ser utilizada ajustificao para assento de bito, de acordocom a previso do art. 88 da Lei de Registros Pblicos, quando h a certeza

    da morte da pessoa natural em uma catstrofe, no sendo encontrado o

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    corpo do falecido. Para consignao da morte real, necessria aconstatao da paralisao da atividade enceflica (art. 3 da Lei n9.434/97).

    Com a morte do agente extingue-se a capacidade. Ele no mais sujeitode direitos e obrigaes. Acarreta a extino do poder familiar, a dissoluodo vnculo matrimonial, a abertura da sucesso, a extino dos contratospersonalssimos, a extino da obrigao de pagar alimentos, que setransfere aos herdeiros do devedor (art. 1.700 do CC), etc.

    importante ressaltar que caso o falecido tenha sido fiador de algum, naforma do art. 836 do CC, a obrigao para aos herdeiros, contudo, estaobrigao se estende at a data da morte e no pode ultrapassar as forasda herana (o monte hereditrio deixado pelo falecido).

    A comorincia est prevista no art. 8 do Cdigo Civil. quando duaspessoas ou mais morrem no mesmo local (num acidente de carro, porexemplo) e no possvel se averiguar qual morreu primeiro. Neste caso,presume-se que os dois (ou mais) faleceram no mesmo instante(simultaneamente). Esta definio somente importa quando a relao entreos dois mortos, ou os demais, de herdeiros ou beneficirios um do(s)outro(s). Com a declarao da simultaneidade, um no herda do outro.Um exemplo clssico a morte de um segurado e beneficirio ao mesmotempo. Neste caso, o pagamento do valor do seguro no ser pago aos

    sucessores do beneficirio, pois necessrio que o beneficirio esteja vivoao tempo do sinistro. (RT, 587/121). Caso haja a necessidade de discussodesta questo, somente um mdico legista ir atestar o fato.

    A morte civil uma instituio retrgrada que existiu na idade mdia emoderna e era declarada quele que recebia a pena perptua ou adentravaa uma ordem religiosa, onde ficava recolhido. Embora vivas, eram tratadaspela lei como se mortas fossem. H um pequeno resqucio no atual CdigoCivil sobre essa expresso, no art. 1.816 que assim disciplina:

    Art. 1.816. So pessoais os efeitos da excluso; osdescendentes do herdeiro excludo sucedem, como seele morto fosse antes da abertura da sucesso.

    A morte presumida pode ser feita de dois modos: com adeclarao deausncia onde presume-se a morte quanto aos ausentes, nos casos emque a lei autoriza a abertura de sucesso definitiva (art. 6, 2 parte doCC). O art. 37 do mesmo diploma legal diz que os interessados poderorequerer a sucesso definitiva e o levantamento das caues prestadas dez

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    anos depois de passada em julgado a sentena que concede a abertura dasucesso provisria.

    Por derradeiro, pode-se considerar presumida a morte, sem declarao deausncia, nos casos previstos no artigo 7 do Cdigo Civil:

    Art. 7. Pode ser declarada a morte presumida, semdecretao de ausncia:I - se for extremamente provvel a morte de quem estavaem perigo de vida;II - se algum, desaparecido em campanha ou feitoprisioneiro, no for encontrado at dois anos aps o trminoda guerra.Pargrafo nico. A declarao da morte presumida, nessescasos, somente poder ser requerida depois de esgotadas asbuscas e averiguaes, devendo a sentena fixar a dataprovvel do falecimento.

    A diferena entre ambos que, no primeiro, no se quer a declarao damorte, mas da efetiva ausncia (desaparecimento). No segundo caso, serequer a declarao da morte. A sentena declaratria da ausncia e a damorte presumida ser levada ao registro pblico (art. 9, IV do CC).

    Individualizao da Pessoa Natural Toda pessoa deve serperfeitamente identificada como titular de direitos e obrigaes na ordemcivil. Essa identificao interessa no somente a ele, como ao Estado e aterceiros. Os principais elementos identificadores da pessoa fsica so:

    1. Nome a designao ou sinal exterior pelo qual a pessoa se identificana famlia e na sociedade. O art. 16 do Cdigo Civil disciplina a questo:

    Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nelecompreendidos o prenome e o sobrenome.

    As aes relativas ao nome podem ser: a retificao, para que sejapreservado o verdadeiro, e a contestao para que terceiro no use o

    nome ou no o exponha ao desprezo pblico.

    Conforme se verifica no disposto no art. 19 do Cdigo Civil possvel autilizao de um pseudnimoque merecer a devida proteo.

    So elementos do nome: prenome e sobrenome ou apelido familiar(tambm denominado patronmico, nome da famlia ou simplesmentenome).

    O prenome o nome prprio de cada pessoa e serve para distinguir os

    membros da mesma famlia. Pode ser simples ou composto. Irmosno

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    podem ter o mesmo prenome, a no ser que seja duplo, estabelecendo adistino (art. 63, pargrafo nico da Lei 6.015/73). Tambm no poderexpor o filho ao ridculo (art. 55, pargrafo nico da lei de registrospblicos). Caso os pais no concordem com a deciso do registro pblico,podero discutir judicialmente o caso.

    Sobrenome o sinal que indica a procedncia da pessoa. O sobrenome o caracterstico de sua famlia, transmissvel por sucesso (art. 56 daLRP). O artigo 54, item 4, da citada Lei diz que o assento de nascimentodever conter o nome e o prenome, que forem postos criana. Portanto,inexiste imposio legal expressa de se incluir o sobrenome da me e dopai. Todavia, tanto para se evitar a homonmia e, especialmente, para secumprir o disposto no artigo 226 da CF do Brasil, ou seja, de que homens emulheres so iguais na responsabilidade por seus filhos.

    O nome poder ser alterado (substitudo) quando comprovado a utilizaode apelidos pblicos notrios (art. 58 da LRP). O artigo 57 do mesmodiploma legal infere que pode ser mudado o sobrenome somente em casosexcepcionais. o caso do abandono do pai e a utilizao do nome da me.

    Ainda poder ser modificado pelo casamento, quando os nubentes, emquerendo, podero acrescentar ao seu o nome do outro, sem suprimir oseu prprio sobrenome (art. 1565, 1 do CC).

    2. Estado a soma das qualificaes da pessoa na sociedade, hbeis aproduzir efeitos jurdicos. O Estado individual diz respeito aparticularidades de sua constituio orgnica que exeram influncia sobrea capacidade civil (gnero, maioridade, menoridade, idade, altura, cor,etc.). O Estado familiar refere a sua situao na famlia, em relao aomatrimnio e ao parentesco. E, finalmente, o Estado poltico que define aposio do indivduo na sociedade poltica, podendo ser nacional (nato ounaturalizado) ou estrangeiro (art. 12 da CF do Brasil).

    Para melhor compreenso do conceito de FAMLIA, deflui-se da definiosociolgica o seguinte: grupo formado por indivduos que so ou seconsideram consanguneos uns dos outros, ou por descendentes de ummesmo tronco ancestral comum, e estranhos admitidos por adoo.18 Aconstituio federal do Brasil de 1988 traz em seu artigo 226, 4 aseguinte concepo de famlia:

    Art. 226 A famlia, base da sociedade, tem especialproteo do Estado.

    18Dicionrio Aurlio on line

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    4 - Entende-se, tambm, como entidade familiar acomunidade formada por qualquer dos pais e seusdescendentes.

    3. Do Domiclio o lugar em que a pessoa pode ser encontrada paraexercer direitos e responder por obrigaes. Quando se trata de pessoafsica o lugar que reside com nimo definitivo. Quem possui mais de umaresidncia, em que viva alternativamente, tem em qualquer um deles o seudomiclio (art. 71 do CC). Quem, por outro lado, no tiver residnciahabitual, tem o domiclio no lugar em que for encontrado (art. 73 do CC).

    A regra geral para a definio do domiclio o da ampla liberdade. A pessoapode transferir o seu domiclio a qualquer momento, bastando transferir asua residncia com a manifesta inteno de muda-la (art. 74 do CC).

    A residncia, portanto, o mero estado de fato material (a construo,casa, apartamento, etc.).

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    PESSOA JURDICA

    o sujeito de direito personificado, no humano. Como sujeito de direito,tem aptido para titularizar direitos e obrigaes. Em geral constituda poroutra ou outras pessoas. Comea a existir em decorrncia da vontade deuma ou mais pessoas, identificadas como membros, integrantes ouinstituidores da pessoa jurdica. A nica exceo quando constituda pelosentes pblicos (Unio, Estados, Municpios e o Distrito Federal) que, nestecaso, ser considerada derivada da organizao poltica independente dasociedade brasileira.

    As pessoas jurdicas so autnomas, ou seja, no se confundem com aspessoas que as integram. Em decorrncia do princpio da autonomia dapessoa jurdica, conforme disposto por Fabio Ulhoa19:

    ela, e no seus integrantes, que participa dosnegcios jurdicos de seu interesse e titulariza osdireitos e obrigaes decorrentes. Tambm ela quemdemanda e demandada em razo de tais direitos eobrigaes. Finalmente, apenas o patrimnio dapessoa jurdica (e no de seus integrantes) que, emprincpio, responde por suas obrigaes.

    Inobstante, ressalta-se que inexiste no atual Cdigo Civil previso nestesentido. Em sentido oposto, o antigo Cdigo de 1916 continha

    expressamente esta previso, conforme se infere da redao do art. 20: Aspessoas jurdicas tm existncia distinta da de seus membros. Porm, porinterpretao sistemtica de outras normas possvel se verificar aexistncia deste princpio, conforme a redao do art. 46, V, e do art.1.052, ambos do atual Cdigo Civil, que no primeiro, estabelece que umadas condies para o registro civil da pessoa jurdica existncia ou no daresponsabilidade subsidiria da responsabilidade de seus membros pelasobrigaes dela e, no segundo, restringe a responsabilidade de cada scioda sociedade limitada ao valor de suas quotas.

    Classificao das Pessoas Jurdicas

    Conforme se infere do art. 40 e seguintes do Cdigo Civil (em destaque), aspessoas jurdicas so classificadas como sendo de DIREITO PBLICO(interno ou externo) e de direito privado. No mbito do direito pblico

    19Coelho, Fabio Ulhoa, Curso de direito civil, parte geral, 6 edio, So Paulo, Saraiva, 2013, p.253.

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    interno, destacam-se a Unio, os Estados o Distrito Federal, os Municpios,autarquias e associaes pblicas (alm das demais entidades de carterpblico criadas por lei). As pessoas jurdicas de direito pblico externoso os Estados da comunidade internacional, ou seja, todas as pessoas queforem regidas pelo direito internacional pblico, como exemplo, as naes eos organismos internacionais (ONU, OEA, FAO, Unesco, etc.). Conformeprevisto no art. 42, tambm so reconhecidas todas aquelas pessoas queforem regidas pelo direito internacional pblico. As ONGs (mesmo asinternacionais), conforme previsto na Lei n 9.790/1999, so pessoasjurdicas de direito privado.

    So pessoas jurdicas de direito privado, de acordo com a lista apresentadano artigo 44 do Cdigo Civil: as fundaes, associaes, sociedades,organizaes religiosas, partidos polticos e a empresa individual de

    responsabilidade limitada (EIRELI).

    Art. 40. As pessoas jurdicas so de direito pblico,interno ou externo, e de direito privado.

    Art. 41. So pessoas jurdicas de direito pblicointerno:I - a Unio;II - os Estados, o Distrito Federal e os Territrios;III - os Municpios;IV - as autarquias, inclusive as associaes pblicas;

    V - as demais entidades de carter pblico criadas porlei.Pargrafo nico. Salvo disposio em contrrio, aspessoas jurdicas de direito pblico, a que se tenhadado estrutura de direito privado, regem-se, no quecouber, quanto ao seu funcionamento, pelas normasdeste Cdigo.

    Art. 42. So pessoas jurdicas de direito pblico externoos Estados estrangeiros e todas as pessoas que foremregidas pelo direito internacional pblico.

    Art. 43. As pessoas jurdicas de direito pblico internoso civilmente responsveis por atos dos seus agentesque nessa qualidade causem danos a terceiros,ressalvado direito regressivo contra os causadores dodano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

    Art. 44. So pessoas jurdicas de direito privado:I - as associaes;II - as sociedades;III - as fundaes.IV - as organizaes religiosas;

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    V - os partidos polticos.VI - as empresas individuais de responsabilidadelimitada. 1oSo livres a criao, a organizao, a estruturaointerna e o funcionamento das organizaes religiosas,

    sendo vedado ao poder pblico negar-lhesreconhecimento ou registro dos atos constitutivos enecessrios ao seu funcionamento. 2oAs disposies concernentes s associaesaplicam-se subsidiariamente s sociedades que soobjeto do Livro II da Parte Especial deste Cdigo. 3oOs partidos polticos sero organizados e funcionaroconforme o disposto em lei especfica.

    O incio da existncia legal da pessoa jurdica se d com o registro do

    respectivo ato constitutivo no rgo prprio (art. 45 do CC). Este prpriodeve ser o Registro Civil das Pessoas Jurdicas para o registro dasassociaes, fundaes e sociedades simples e nas Juntas Comerciais (art.1.150 do CC) para as sociedades empresrias. A lei expressamente prevque a aquisio da personalidade jurdica d-se com a inscrio, noregistro prprio, dos seus atos constitutivos (art. 985 do CC).Ser com este registro que a pessoa jurdica far o seu cadastro junto aoCNPJ (Cadastro Nacional das Pessoas Jurdicas).

    O trmino da pessoa jurdica se d com o cancelamento de sua inscrio no

    registro prprio. Isso somente ocorrer com a liquidao da pessoa jurdicaque, em sntese, significa solucionar suas pendncias financeirasobrigacionais e destinar o patrimnio remanescente.

    Essa finalizao da pessoa jurdica, como exposto, no simples. Via deregra, a pessoa jurdica tem crditos a receber e dbitos a pagar. O registrocompetente no aceitar a sua extino se todas as certides negativaspertinentes no forem apresentadas. Ademais, caso a pessoa jurdica tenhapatrimnio pessoal dever, na fase de liquidao, extrajudicial ou judicial,dar a destinao adequada aos bens imveis e mveis, mediante venda,doao ou mesmo leilo, em caso de insolvncia.

    claro, tambm, que na maioria dos casos, se v o fenmeno doenriquecimento patrimonial do scio administrador ou dos demais scios eseus familiares e a quase ou total ausncia de bens em nome da pessoajurdica. Como visto anteriormente (princpio da autonomia), as pessoasjurdicas no se confundem com as pessoas que as integram. o caso, porexemplo, de um integrante de um clube social. Ele deve a contribuiodestinada a sua manuteno e caso, eventualmente deixe de pag-la,

    poder ser cobrado pelo clube. Todavia, nenhum credor da associao

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#parteespeciallivroiihttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#parteespeciallivroii
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    PEDIDO DE DESCONSIDERAO DA PERSONALIDADEJURDICA, MANTIDA APS REJEIO DOS EMBARGOS DEDECLARAO OPOSTOS CONTRA O DECISUM. ALEGAODE VIOLAO DO ART. 535 DO CPC. NO OCORRNCIA.INEXISTNCIA DE CONTRADIO, OBSCURIDADE OUOMISSO NA DECISO EMBARGADA. RECURSO INCABVEL

    PARA REDISCUTIR O ENTENDIMENTO ADOTADO.PRETENSO DE DESCONSIDERAO DAPERSONALIDADE JURDICA SOB FUNDAMENTO DEDISSOLUO IRREGULAR DA ASSOCIAO.DESCABIMENTO. AGRAVADA NO ENCONTRADA NOENDEREO DE SUA SEDE, MAS QUE CONSTA COMO ATIVANO CADASTRO JUNTO RECEITA FEDERAL. SITUAO QUENO AUTORIZA A APLICAO DA EXCEPCIONALMEDIDA, SE NO VERIFICADA CONDUTAFRAUDULENTA OU ABUSO DA PERSONALIDADE.INTELIGNCIA DO ART. 50 DO CDIGO CIVIL.ALEGAO DE DESVIO DE FINALIDADE. EXISTNCIA DE

    DECISO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIOCONDENANDO O INSTITUTO AGRAVADO PORIRREGULARIDADES NA EXECUO DE CONTRATO FIRMADOCOM O MINISTRIO DA PREVIDNCIA SOCIAL. DECISOQUE NO PERMITE CONCLUIR QUE HOUVE AUTILIZAO DA ASSOCIAO PELOS SEUS DIRETORESPARA FINS DE FRAUDAR TERCEIROS.SITUAO QUE OBJETO TAMBM DE AO CIVIL PBLICA, AINDA NOJULGADA. ABUSO DA PERSONALIDADE JURDICA NODEMONSTRADO, AO MENOS POR ORA. AUTONOMIAPATRIMONIAL DOS ADMINISTRADORES DA ASSOCIAOMANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (TJSC, Agravo de

    Instrumento n. 2014.010822-0, da Capital, rel. Des. SorayaNunes Lins, j. 18-09-2014).

    AGRAVO DE INSTRUMENTO. AO DE EXECUO DEINSTRUMENTO PARTICULAR DE TRANSAO E CONFISSODE DVIDA COM PACTO DE NOVAO EXPRESSA EGARANTIDO POR NOTAS PROMISSRIAS. DECISOINTERLOCUTRIA QUE INDEFERIU PEDIDO DEDESCONSIDERAO DA PERSONALIDADE JURDICA.INSURGNCIA DA PARTE EXEQUENTE. MRITO.DESCONSIDERAO DA PERSONALIDADE JURDICA. ABUSODA PERSONALIDADE JURDICA PELA CONFUSOPATRIMONIAL. ACERVO PROBATRIO QUE DEMONSTRAA UTILIZAO DE EMPRESAS PARA PRESERVARPATRIMNIO PESSOAL DOS SCIOS. CRIAO DEOUTRA EMPRESA COM SEDE NO MESMO LOCAL DAEMPRESA AGRAVADA E DOS SCIOS DA EMPRESA.IDENTIDADE DOS OBJETOS SOCIAIS E DOS PRODUTOSCOMERCIALIZADOS. COMPOSIO DOS SCIOSIDNTICAS EM ALGUMAS DAS ALTERAES DOSCONTRATOS SOCIAIS. CONFUSO PATRIMONIALENTRE A EMPRESA E SCIO, AMBOS ORA AGRAVADOS,J RECONHECIDO EM OUTRO AGRAVADO DEINSTRUMENTO ENVOLVENDO, ALM DESTES,TERCEIRA EMPRESA. SUCESSO EMPRESARIAL

    FRAUDULENTA CONSTATADA. DESCONSIDERAO DA

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    PERSONALIDADE JURDICA QUE SE IMPE. RECURSOPROVIDO. (TJSC, Agravo de Instrumento n. 2013.001886-3,de Palhoa, rel. Des. Guilherme Nunes Born, j. 18-09-2014).

    APELAES CVEIS. AO DE ANULAO DE NEGCIOJURDICO E MEDIDA CAUTELAR INOMINADA. MAGISTRADO

    DE ORIGEM QUE JULGA PROCEDENTE A PRETENSO VAZADANA ACTIO ANULATRIA E JULGA EXTINTA A DEMANDAACAUTELATRIA. INCONFORMISMOS DA AUTORA.RECLAMO NA AO ANULATRIA. PLEITO DE CONCESSODA JUSTIA GRATUITA. PROVIDNCIA J ALBERGADA NAORIGEM. ENFOQUE OBSTADO NESTA SEARA. AGRAVORETIDO. AUTORA QUE DEFENDE O ACOLHIMENTO DOPEDIDO DE DESCONSIDERAO DA PERSONALIDADEJURDICA DA EMPRESA R. MATRIA QUE SE CONFUNDECOM O MRITO DO APELO. ARGUMENTAO QUE MERECEABRIGO. INSERO DA TEORIA MAIOR SUBJETIVA DADESCONSIDERAO, ABROQUELADA NO ART. 50 DO

    CDIGO CIVIL. ELEMENTOS CARREADOS AO PROCESSOQUE REVELAM DE MANEIRA INDELVEL O PROPSITODA REQUERIDA DE FRAUDAR A LEI PARA OCOMETIMENTO DO ATOS ILCITOS. DESVIO DEFINALIDADE E FRAUDE CONFIGURADOS. RECORRIDAQUE TENTOU POR DIVERSAS FORMAS OCULTAR O SEUENDEREO, CULMINANDO NA OCORRNCIA DA REVELIA.GOLPE APLICADO QUE LESOU DIVERSOS CONSUMIDORES.AUTORA QUE DEPOSITOU OS VALORES AJUSTADOSDIRETAMENTE NA CONTA BANCRIA DO SCIO DAEMPRESA. PRTICA COMERCIAL IRREGULAR E ABUSIVA NAVENDA DE BENS DURVEIS. AUTORA QUE TENTOU,

    INCANSAVELMENTE E SEM XITO, ACORDO E RESCISOCONTRATUAL, POR MEIO DE 89 (OITENTA E NOVE)LIGAES. MINISTRIO PBLICO DO RIO GRANDE DO SULQUE DETONOU AO CIVIL PBLICA EM FACE DA EMPRESAR E SEUS SCIOS, OBTENDO XITO NA PRETENSO.DESCONFIGURAO DA PESSOA JURDICA QUE J HAVIASIDO OPERADA NA AO COLETIVA. PRETRIO GACHOQUE, INCLUSIVE, MANTEVE INCLUME A CONDENAO NAORIGEM DO SCIO-GERENTE DA EMPRESA DEMANDADA,PELOS CRIMES DE ESTELIONATO (OITENTA E OITO VEZES)E FORMAO DE QUADRILHA. IMPERATIVA APLICAO DADISREGARD DOCTRINE PARA DESCARACTERIZAR APERSONALIDADE JURDICA DA EMPRESA R. EXTENSODOS EFEITOS DA CONDENAO OPERADA NA SENTENAAOS BENS PARTICULARES DE TODOS OS SCIOSPARTICIPANTES DA CONDUTA ILCITA OU QUE DELA SEBENEFICIARAM, EM ESPECIAL AO SCIO-GERENTE.PRECEDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA. AGRAVORETIDO PROVIDO. SENTENA REFORMADA NO PONTO.HONORRIOS ADVOCATCIOS. POSTULADA FIXAO EM20% (VINTE POR CENTO) SOBRE O VALOR ATUALIZADO DACAUSA. POSSIBILIDADE. APLICAO DO ART. 20 DOCDIGO BUZAID. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETOQUE AUTORIZAM A IMPLEMENTAO DO CRITRIOALMEJADO. DECISUM MODIFICADO NESTE PARTICULAR.

    INCONFORMISMO NA AO CAUTELAR INOMINADA. PLEITO

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    DE CONCESSO DA JUSTIA GRATUITA. QUESTO JDEFERIDA NA ORIGEM. ESMIUAMENTO VEDADO.PROCESSUAL CIVIL. REITERAO DO PEDIDO DEDESCONSIDERAO DA PERSONALIDADE JURDICAAPRESENTADO NA AO ANULATRIA. SENTENA QUEEXTINGUIU O FEITO COM RELAO AO SEGUNDO RU POR

    ILEGITIMIDADE PASSIVA E, POR CONSEQUNCIA,RECONHECEU A PERDA DE OBJETO QUANTO PRIMEIRADEMANDADA. RAZES QUE SE ENCONTRAMABSOLUTAMENTE DISSOCIADAS DO DECISUM. VIOLAOAO PRINCPIO DA DIALETICIDADE. NO CONHECIMENTO DORECURSO. AGRAVO RETIDO ALBERGADO, REBELDIA DAANULATRIA CONHECIDA EM PARTE E ACOLHIDA ERECURSO DA CAUTELAR NO CONHECIDO. (TJSC, ApelaoCvel n. 2014.054123-1, de Tubaro, rel. Des. Jos CarlosCarstens Khler, j. 26-08-2014).

    Por derradeiro, como fonte do direito para o estudo da matria em exame,cabe ressaltar que o Cdigo Tributrio Nacional, em seu artigo 135 assimdisciplina a responsabilidade tributria:

    Art. 135. So pessoalmente responsveis pelos crditoscorrespondentes a obrigaes tributrias resultantes de atospraticados com excesso de poderes ou infrao de lei,contrato social ou estatutos:I - as pessoas referidas no artigo anterior;II - os mandatrios, prepostos e empregados;III - os diretores, gerentes ou representantes de

    pessoas jurdicas de direito privado.

    A Pessoa jurdica pode praticar os atos jurdicos em geral, exceto aquelesem relao aos quais est proibida ou impossibilidade de praticar (por faltade atributos humanos). A lei confere vontade da pessoa jurdica a mesmaeficcia liberada vontade dos homens e mulheres. A expresso de vontadeda pessoa jurdica est expressa na lei e no respectivo ato constitutivo(estatuto ou contrato social). Estes instrumentos podem indicar anecessidade de uma assembleia para a aquisio de um bem imvel, porexemplo, ou autorizar o scio presidente a faz-lo, independentemente de

    reunio especfica a este fim. Cada Estatuto ou Contrato Social poderestruturar os rgos da respectiva pessoa jurdica (conselho daadministrao, assembleia da associao, conselho fiscal, etc.) de acordocom o que a lei estabelecer. Em termos gerais, porm, costuma existir umrgo de representao (ou administrao) e um de deliberao.

    O rgo de administrao/representao geralmente reconhecido comodiretoria (arts. 47 e 48 do CC). O rgo de deliberao costuma serdesignado nas associaes e sociedades, por assembleia, e integradonormalmente por todos os associados ou scios. Nas fundaes, o

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    conselho curador ou deliberativo. O princpio majoritrio que impera naformao da pessoa jurdica e, tambm, em suas decises. a vontade damaioria de seus integrantes que prevalece.

    Finalmente, deve aquele que negocia ou contrata com pessoa jurdicaverificar se o contrato social ou estatuto permite tal negociao e se o scioadministrador detm poderes para o ato. Pode ocorrer que a sociedadejurdica no autorizou (atravs de assembleia ou deliberao do conselho)referida negociao, pois a vontade da pessoa jurdica no foi regular evalidamente formada e manifestada.

    Pessoas Jurdicas de Direito Privado

    ASSOCIAES: a pessoa jurdica em que renem pessoas com objetivoscomuns de natureza no econmica (art. 53 do CC). A associao dosamigos do bairro, por exemplo, destina-se a prover aos seus associadosmelhorias nas condies de segurana urbana da regio, bem como servirde porta-voz dos anseios da comunidade aos rgos de segurana. Oconselho nacional de auto-regulamentao publicitria (CONAR) um outroexemplo.

    Para que seja constituda necessrio que os interessados se renam em

    assembleia para expressar essa vontade convergente, bem como para votaro estatuto. A ata da assembleia de fundao, assinada pelos presentes, emque se transcreve o estatuto deve ser encaminhada, em duas vias, aoRegistro Civil de Pessoas Jurdicas, para o incio da existncia legal daassociao (art. 121, da Lei de Registros Pblicos). Os requisitos legais paraa constituio de uma associao esto previstos no art. 54 do Cdigo Civil.So clusulas obrigatrias e que sero apreciadas pelo Registro Civil quandoda sua inscrio.

    Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associaes

    conter:I - a denominao, os fins e a sede da associao;II - os requisitos para a admisso, demisso e excluso dosassociados;III - os direitos e deveres dos associados;IV - as fontes de recursos para sua manuteno;V o modo de constituio e de funcionamento dos rgosdeliberativos;VI - as condies para a alterao das disposiesestatutrias e para a dissoluo.VII a forma de gesto administrativa e de aprovao dasrespectivas contas.

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    Para a sua dissoluo deve-se observar as condies estabelecidas noEstatuto. Normalmente, submete-se a deliberao dissolutiva aprovaode expressiva quantidade de associados (2/3) reunidos em assembleiaconvocada especificamente para tratar deste tema. Logo aps, segue-se aliquidao e, posteriormente, o cancelamento do registro.

    O associado livre para permanecer na associao ou dela se retirar,conforme previsto no artigo 5, XX da CF do Brasil. Portanto, o seu ingresso ato de livre arbtrio do indivduo. Porm, ao adentrar a uma associao apessoa passa, no somente, a ter direitos, como tambm obrigaes. Pagaras contribuies e respeitar as deliberaes do Estatuto, so os exemplosmais comuns. Destaca-se que entre os associados no h direitos eobrigaes recprocos, mas sim entre os associados e a associao,conforme se deflui do teor do artigo 53, pargrafo nico:

    Art. 53. Constituem-se as associaes pela unio de pessoasque se organizem para fins no econmicos.Pargrafo nico. No h, entre os associados, direitos eobrigaes recprocos.

    Punio - O associado pode sofrer punies em face do desrespeito snormas do Estatuto. Pode ir desde a advertncia at a excluso dosquadros, nas faltas mais graves. No caso de expulso, necessrio acomprovao da justa causa e, em todo caso, permitindo-se ao associado odireito a ampla defesa e recurso (art. 57 do CC).

    Da assembleia geral o rgo de deliberao mximo de umaassociao. Trata-se de uma reunio sujeita a diversas formalidades, parase considerarem vlidos os trabalhos e deliberaes havidas. A suacompetncia estabelecida pelo Estatuto. Porm, a lei (art. 59 do CC),estabelece as matrias que so privativas da assembleia geral. O seuqurum deve ser aquele previsto no Estatuto, conforme determina opargrafo nico do art. 59 do Cdigo Civil.

    SOCIEDADES So pessoas jurdicas de fins econmicos. O que aproximaos scios unicamente a possibilidade de fazer dinheiro atravs daexplorao de uma atividade econmica. um investimento de risco.Nenhuma outra razo influencia o nimo de manter a sociedade (affectiosocietatis). Elas podem ser empresrias ou simples, de acordo com a formacomo organizada a explorao da atividade econmica. Considera-seempresria a pessoa jurdica da sociedade. Banco, supermercado, hospital,concessionria ou revenda de automveis, empresa de transporte urbanoou areo e outros tantos, quando explorados por pessoa jurdica, sosociedades empresrias. Quando ausentes os elementos caracterizadores da

    empresa, porm, a sociedade simples. A atividade de uma empresa

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    simples so aquelas consideradas econmicas de natureza intelectual, comoas artsticas, cientficas ou literrias, ainda que exercidas em sociedade ouconcurso com outros colaboradores (art. 966, pargrafo nico, do CC).Sociedade de advogados ou de dentistas se enquadram nesta definio.

    FUNDAES a pessoa jurdica resultante da afetao de um patrimnioa determinada finalidade (ULHOA, 2013). O instituidor, pessoa fsica oujurdica, destaca de seu patrimnio alguns bens e vincula a administrao eos frutos desses bens realizao de objetivos que gostaria de verrealizados. A vontade do instituidor, de agregar bens fundao,permanece at mesmo aps a sua morte (se pessoa fsica) ou dissoluo(se pessoa jurdica), conforme previsto no art. 64 do CC. Porm, oinstituidor no membro da fundao como so os associados em relao associao ou os scios em relao sociedade. Quando o advogado e

    jornalista Csper Lbero morreu em acidente areo (1943), atravs detestamento, determinou que os bens de seu patrimnio fossem destinados instituio da Fundao Csper Lbero, cujos os objetivos so os demanter veculos jornalsticos (TV, rdio, jornal, internet) e uma faculdadede comunicao. Inclui-se em seu patrimnio o edifcio Gazeta com 14andares, onde funcionam a rdio Gazeta AM, a rdio Gazeta FM, Afaculdade de comunicao social Csper Lbero, TV Gazeta e o portalgazetaesportiva.net. (http://fcl.com.br/fundacao). A Fundao SOS MataAtlntica, um outro exemplo. Os bens dados fundao no pertencemmais ao patrimnio do instituidor.

    Essas fundaes, como visto, no almejam o lucro, ou seja a distribuio dedividendos entre os scios. Porm, podem ter o lucro como meio, com o fitode ampliao de patrimnio, conservao, aquisio de equipamentos,remunerao de colaboradores, etc. A vontade do institudo, manifesta poruma forma especfica (testamento ou escritura pblica), conforme previstono art. 62 do CC, que institui a fundao e essa vontade a acompanhardurante toda a sua existncia.

    vedada a desvirtuao da sua constituio e sua instituio se farmediante a inscrio de seu Estatuto no Registro Civil de Pessoas Jurdicas.Os requisitos para sua inscrio esto previstos no art. 120 da LRP.

    Art. 120. O registro das sociedades, fundaes e partidospolticos consistir na declarao, feita em livro, pelo oficial,do nmero de ordem, da data da apresentao e da espciedo ato constitutivo, com as seguintes indicaes:

    I - a denominao, o fundo social, quando houver, os fins e asede da associao ou fundao, bem como o tempo de sua

    durao;

    http://fcl.com.br/fundacaohttp://fcl.com.br/fundacaohttp://fcl.com.br/fundacao
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    II - o modo por que se administra e representa a sociedade,ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente;III - se o estatuto, o contrato ou o compromisso reformvel, no toca