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PARTE GERAL

1 DIREITO CIVIL

2 LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO

3 CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL

4 PRINCÍPIOS APLICADOS NA ELABORAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL/02

5 PESSOAS NATURAIS

6 DOMICÍLIO

7 DIREITOS DA PERSONALIDADE

8 PESSOAS JURÍDICAS

9 BENS

10 FATO JURÍDICO

11 NEGÓCIO JURÍDICO

12 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

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1 DIREITO CIVILAo contrário do que ocorre nos demais concursos

voltados para os bacharéis em Direito, a seleção para o cargo de Delegado da Polícia Civil traz um número re-duzido de temas do Direito Civil, geralmente ligados à parte geral e à responsabilidade civil.

Os tópicos são explorados de inúmeras maneiras. Aparecem questões onde o mero conhecimento do tex-to legal é suficiente. Porém, não são raras as vezes em que as bancas exigem dos candidatos conhecimentos doutrinários e jurisprudenciais mais apurados.

As páginas que se seguem foram redigidas com base nessas premissas: a) revisão teórica da matéria, com apontamentos legais e doutrinários; b) atualiza-ção dos temas segundo a jurisprudência dos tribunais superiores; e, c) enquadramento do conteúdo às exi-gências do edital para Delegado da Polícia Civil.

2LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL)

A grande maioria dos Códigos é precedida de leis introdutórias, as quais não fazem parte de sua estrutu-ra corpórea, mas conformam uma noção preliminar de seu teor e de suas finalidades. No âmbito brasileiro, a Lei de Introdução ao Código Civil (LICC) está contem-plada no Decreto-Lei 4.657/1942, e traz relevantes dire-trizes hermenêuticas não apenas sobre as normas jurí-dicas contidas no Código Civil, como também de todo o sistema legislativo pátrio – basta ver, por exemplo, que seu artigo 5º trata de fins sociais e bem comum (o que não se limita ao Direito civil).

A LICC é conformada por dezenove artigos, que tratam de assuntos diversos como: vigência e aplica-bilidade da norma jurídica, diretrizes interpretativas e de integração da norma jurídica, bem como de te-mas de direito civil internacional (abrangendo alguns dispositivos de competência processual, homologação de sentença estrangeira e atribuições consulares em te-mas de casamento).

P Hoje não se fala mais em LICC, mas sim em “Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro”, face à nova redação trazida pela Lei nº 12.376, de 2010 (*nota: por questões meramente didáticas, manteremos no presente material a sigla “LICC” para designar o diploma).P A LICC é um diploma legislativo autônomo (não se confunde ou integra o Código Civil). É lei ordi-nária, subordinando-se à hierárquica normativa usual e à revogação por lei posterior (embora te-nha sido mantida mesmo com o advento do Códi-go Civil de 2002).

OBRIGATORIEDADE DA LEI

a) O início da obrigatoriedade da Lei: (art. 1º LICC)

O início de vigência de uma lei está previsto logo no art. 1º da LICC, que anota: “salvo disposição con-trária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada”. Ou seja, quando não há regra específica delimitando o prazo para início de vigência de uma lei, esta passará a ser obrigatória após 45 dias de sua publicação oficial (que é a data na qual o público em geral toma efetivo conhe-cimento do novo texto legislativo). Tal prazo é contado incluindo-se o dia do começo (o dia da publicação) e o último dia do prazo – nos termos da Lei complementar nº 95/1998, art. 8º, §1º.

Nada impede que uma lei tenha o início de sua vi-gência em período menor - basta, para tal, especificar qual é este período no próprio texto.

Há que se resgatar, também, a ideia da vacatio legis, que é o período temporal entre a publicação e o início de vigência da nova lei. Assim, ainda que a lei esteja promulgada e publicada, se ainda estiver durante o período da vacatio, não será aplicada (não gera efeitos, exatamente por não ter eficácia jurídica para tal).

P Durante o período da vacatio, a lei nova existe (como ato jurídico) e é válida, só não é eficaz. Ou seja, durante este lapso temporal, a eficácia per-manece com a legislação antiga.

Noutro giro, vale ressaltar que o art. 1º, §1º da LICC dispõe sobre a obrigatoriedade da lei brasileira nos Estados estrangeiros, que se inicia três meses de-pois de oficialmente publicada, quando admitida pelo Estado estrangeiro.

O art. 1º, §3º da LICC reporta-se à nova publicação do texto da lei, aduzindo que “se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, des-tinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágra-fos anteriores começará a correr da nova publicação”. Afinal, é possível que uma lei publicada contenha er-ros, razão pela qual a norma corretiva supriria a falha. Por fim, o art. 1º, §4º lembra que as correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

b) Tempo da obrigatoriedade: (art. 2º LICC)

No tocante ao tempo de vigência da norma, vigora o “princípio da continuidade” (caráter de permanên-cia). A princípio uma lei é editada para vigorar por tempo indefinido, até que seja modificada ou revo-gada por outra. É o que indica, inclusive, o art. 2º da LICC: “não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”.

P Lei temporária: é aquela que já nasce com um prazo pré delimitado de vigência. Usualmente são editadas para regulamentar situações muito particulares.

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Ainda em relação ao tema, três premissas deman-dam atenção. São elas:

1. A lei posterior revoga a anterior quando ex-pressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior (art. 2º, §1º da LICC).

2. A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior (art. 2º, §2º da LICC).

3. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdi-do a vigência (art. 2º, §3º da LICC). Tal situação visa evitar o conhecido “efeito repristinatório” (aquele pelo qual a norma revogada volta a vi-gorar caso haja revogação da lei que tira seus efeitos).

A doutrina costuma classificar a revogação toman-do como base a sua extensão em duas categorias: re-vogação total e revogação parcial. A primeira se dá quando a nova norma torna a outra totalmente sem efeito (acarreta a ab-rogação); já a revogação parcial é quando tira apenas parte de seus efeitos (ensejando a derrogação).

c) Não ignorância da Lei vigente: (art. 3º da LICC)

A LICC delimita que ninguém se escusa de cum-prir a lei, alegando que não a conhece. É certo que ninguém conhece a totalidade das leis brasileiras, não obstante a sua observância seja compulsória para to-dos. Mas é também correto aduzir que ninguém pode eximir-se de cumpri-la por não a conhecer (nemo ius ignorare censetur).

P Não confundir o “desconhecimento da lei” (o qual é inescusável) com as hipóteses de “erro substancial” (como na hipótese do art. 139, III do CC, que permite a anulação de atos ou negócios jurídicos eivados de falsa percepção da realidade).

APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS

a) Aplicação da norma jurídica e integração: (art. 4º LICC)

Como se sabe, é dever do magistrado aplicar o Direito à situação fático-concreta que se apresenta. É também de conhecimento geral que o ordenamento ju-rídico não pode apresentar lacunas, pois deve ser lido como um bloco monolítico (um todo, unitário). No en-tanto, o legislador não consegue prever todas as possí-veis situações sociais que chegarão aos tribunais, casos em que a lei poderá ser omissa diante do caso concre-to. E é exatamente dentro desta lógica que entram as regras de aplicação e integração da norma jurídica, as quais orientarão o intérprete na busca de critérios ade-quados para superar os impasses.

Assim, o art. 4º da LICC, diz que quando a lei for omissa o juiz decidirá o caso de acordo com a analo-gia, os costumes e os princípios gerais de direito. Tais mecanismos consagram-se como fontes formais secun-dárias do Direito (lembrando que a lei é a fonte formal direta e imediata).

A analogia implica na aplicação de uma lei ou con-junto de leis similares para suprir a lacuna do disposi-tivo (seria tal qual a “tapar um buraco” com um caso semelhante). Os costumes são as práticas reiteradas re-conhecidas pela lei ou pelos tribunais pátrios; entende--se que o conhecimento doutrinário e jurisprudencial enquadram-se dentro dos costumes. Por fim, os prin-cípios gerais do direito são as diretrizes fundamen-tais que dão base ao sistema jurídico de um país (por exemplo: a ideia da dignidade da pessoa humana, a igualdade, a boa-fé, etc.)

b) Interpretação da norma jurídica: (art. 5º LICC)

No entendimento doutrinário, o artigo 5º da LICC retrata o “princípio da socialidade”, e indica que o Juiz, ao aplicar uma norma jurídica, deve sempre se atentar à sua função e buscar promover a pacificação social.

Trata-se de uma regra de interpretação, destinada exatamente ao magistrado (ou, nos casos de arbitra-gem, ao “árbitro”). Buscar atender aos fins sociais e as exigências do bem comum na aplicação da lei é parte crucial da atividade judicial.

c) Conflito (aparente) de normas:

Em algumas situações pode ocorrer um conflito aparente de normas. São casos em que parece ser pos-sível a aplicação de várias normas jurídicas ao caso concreto, mas, em verdade, dever-se-á aplicar apenas uma.

Os critérios para resolução deste conflito, que é irreal, são basicamente três: critério hierárquico (pelo qual “a lei hierarquicamente superior afasta a incidên-cia da lei hierarquicamente inferior”), critério cronoló-gico (pelo qual “lei nova afasta a incidência de lei an-tiga”) e critério da especialidade (pelo qual “a lei mais especifica prevalece sobre a lei mais geral”).

DIREITO INTERTEMPORAL

A LICC também disciplina o direito intertemporal, visando promover a certeza, segurança e estabilidade no ordenamento jurídico, preservando as situações consolidadas em que o interesse individual deve pre-valecer.

Neste sentido, o art. 6º ressalta a clássica trilogia de garantia de direitos fundamentais (também insculpida no art. 5º, XXXVI da CF/88): o respeito ao ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Trata-se de um dispositivo que também conclama a proteção e a obrigatoriedade da lei no tempo.

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Nos termos da LICC, reputa-se ato jurídico per-feito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterá-vel, a arbítrio de outrem. Por fim, chama-se coisa jul-gada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Os arts. 7º a 17º da LICC disciplinam algumas re-gras gerais do Direito internacional privado. Trata de temas como: conflito de jurisdição, critérios para solucionar problemas de qualificação, efeitos de atos realizados em outras nações, condições de estrangeiro e eficácia internacional de decisões legítimas tomadas em um país com possibilidade de reconhecimento por outro. Trata-se de tema usualmente não explorado nas provas para Delegado de Polícia, razão pela qual não será objeto de apreciação na presente apostila.

P Nota: quanto ao tema, indicamos a simples lei-tura dos dispositivos legais.

Atos praticados no estrangeiro pelas autoridades consulares:

Por fim, vale ressaltar o teor do art. 18 LICC, que aduz: “tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento e os demais atos de Registro Civil e de ta-belionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do Consulado”.

3 CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL

Hoje, o Direito Civil não pode ser estudado como um microssistema isolado, regido apenas pelo Código Civil e pelas leis civis extravagantes. A legislação civil deve estar de acordo com os ditames constitucionais, formando um ordenamento jurídico unitário.

“O Direito Civil Constitucional, como uma mudança de postura, representa um atitude bem pensada, que tem contribuído para a evolução do pensamento privado, para a evolução dos civilistas contemporâneos e para um sadio diálogo entre os juristas das mais diversas áreas. Essa ino-vação reside no fato de que há uma inversão da forma de interpretação dos dois ramos do direito – público e priva-do -, interpretando o Código Civil segundo a Constituição Federal em substituição do que se costumava fazer, isto é, exatamente o inverso. (...) Deve ser feita a ressalva que, por tal interação, o Direito Civil não deixará de ser Direito Civil; e o Direito Constitucional não deixará de ser Direito Constitucional. O Direito Civil Constitucional nada mais é do que um novo caminho metodológico, que procura analisar os institutos privados a partir da Constituição, e,

eventualmente, os mecanismos constitucionais a partir do Código Civil e da legislação infraconstitucional, em uma análise de mão dupla” (Flávio Tartuce).

Nesse contexto, destacam-se três princípios:

• Dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF/88) – dos princípios fundamentais.

• Solidariedade social (art. 3º, I, CF/88) – socie-dade livre, justa e solidária.

• Igualdade (art. 5º, caput, CF/88) – todos são iguais perante a lei.

4PRINCÍPIOS APLICADOS NA

ELABORAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL DE 2002

1. Operalibilidade (concretude):

O direito deve primar pela efetividade, ou seja, deve ser elaborado visando a sua realização material da maneira mais eficaz possível. Uma das consequên-cias destacadas pela doutrina nesse ponto foi a sim-plificação dos institutos da prescrição e da decadência no códex de 2002, tornando-os mais eficazes do que no Código Civil de 1916, devido à sua complexidade nor-mativa.

2. Sociabilidade:

O Código de 2002 busca superar o caráter indivi-dual da antiga codificação, dando ao sistema civilista um viés mais social, voltado para toda a coletividade. Neste ponto, destacam-se a função social da proprie-dade e a função social do contrato.

3. Eticidade:

Retrata a preocupação, por parte do legislador, de trazer para o mundo civil valores éticos, diminuindo o espaço e a distância entre o direito posto e a moral. Tal princípio se manifesta em institutos como, por exem-plo, a boa fé objetiva na elaboração e no cumprimento dos contratos; e, a equidade.

5 PESSOAS NATURAISNo ordenamento jurídico brasileiro, ao contrário

do que ocorre em alguns países, somente as pessoas são sujeitos de direito. Sendo que, tais pessoas, podem ser físicas (naturais) ou jurídicas. Os animais são con-siderados objetos de direito.

Aqui, estudaremos os temas relacionados com as pessoas naturais com maior chance de cobrança no concurso para Delegado da Polícia Civil. Em seguida, faremos o mesmo com as pessoas jurídicas.

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COMEÇO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

O Código Civil enuncia que “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nasci-turo”.

O ente concebido, mas ainda não nascido, é deno-minado nascituro. De um lado a doutrina tradicional reconhece a teoria natalista como determinante dos direitos do nascituro, ou seja, preconiza que os direi-tos da personalidade somente aparecem a partir do nascimento com vida. Por outro lado, existem autores conceptualistas, para os quais o nascituro detém per-sonalidade jurídica desde a concepção.

O Brasil, para a maioria da doutrina, adotou em sua base legal a teoria natalista, no entanto, em muitos momentos, reconheceu os direitos do nascituro desde a concepção, como por exemplo, na possibilidade de fixação dos alimentos gravídicos.

Nota-se que o registro civil de nascimento da pes-soa natural é apenas um ato declaratório da personali-dade jurídica, vez que ela foi constituída no momento do nascimento com vida.

P Natimorto X neomorto: natimorto é aquele que nasceu morto. Pelo o Enunciado nº 1, da Pri-meira Jornada de Direito Civil, o natimorto é me-recedor de tutela jurídica, com o direito ao nome, a imagem e a sepultura. Por outro lado, neomorto é o indivíduo que nasce com vida, mas morre logo após o parto.P Embriões excedentários: é constitucional o estudo científico com embriões excedentes, na forma da Lei de Biossegurança.

CAPACIDADE

Existem dois tipos de capacidade das pessoas na-turais: a capacidade de direito e a capacidade de fato.

Todo ser humano é dotado de capacidade de di-reito, ou seja, á capaz de possuir os direitos inerentes aos seres humanos. Essa capacidade se confunde com a própria personalidade - aprece no nascimento com vida.Por outro lado, temos que a capacidade de fato é a aptidão para pessoalmente exercer os atos da vida civil.

A reunião das duas capacidades (de fato + de di-reito) faz surgir a capacidade plena, que no Brasil, em regra, adquire-se aos 18 anos. Entretanto, em razão de limitações orgânicas ou psicológicas, nem toda pessoa possui aptidão para exercer pessoalmente seus direi-tos. Essa impossibilidade de exercício denomina-se “incapacidade”, que pode ser “absoluta” ou “relativa”.

Absolutamente incapazes: possuem direitos, mas não podem exercê-los pessoalmente. Devem ser repre-sentados. Pelo art. 166, I do CC os negócios jurídicos celebrados pelos absolutamente incapazes são nulos.

Vilaça Azevedo crava que “ou a incapacidade ocor-re em razão da menoridade ou em razão de outro mo-tivo, que implica a falta de discernimento de quem atua, ou seja, a falta de distinção entre o bom e o mau, entre o lícito e o ilícito, entre o que é conveniente ou não”. Nesta toada, são absolutamente incapazes:

i) Menores impúberes (menores de 16 anos);

ii) Pessoas que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil;

iii) Pessoas que, mesmo por causa temporária, não puderem exprimir sua vontade.

Relativamente incapazes: são os que podem prati-car por si os atos da vida civil, desde que assistidos. Os negócios realizados sem assistência podem gerar anu-labilidade, que depende da iniciativa dos lesados, nos termos do art. 177 do CC. Aqui - como na incapacidade absoluta - o incapaz pode ser apontado pela menorida-de ou por outra situação legal. São eles:

i) Maiores de 16 e menores de 18 anos (menores púberes);

ii) Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os que, por deficiência mental, tenham discerni-mento reduzido;

iii) Os excepcionais, sem desenvolvimento men-tal completo;

iv) Os pródigos.

Representação X assistência:

Como visto, os absolutamente incapazes estão pri-vados de agir juridicamente, motivo pelo qual devem ser representados. Exemplo clássico ocorre quando um menor impúbere precisa alienar um imóvel. Tal ato só pode ser realizado pelos seus pais.

Já a assistência ocorre quando o relativamente in-capaz necessita da autorização para a prática de certos atos da vida civil. O menor púbere que necessita de autorização dos pais para a venda de um imóvel serve como exemplo.

P Se houver conflito de interesses entre o incapaz e o representante legal o juiz deverá nomear um curador especial.

Tutela X curatela:

O instituto através do qual o poder familiar é subs-tituído, no intuito de proteger o menor não emancipa-do e os seus bens, no caso de morte dos pais ou desti-tuição do poder familiar, denomina-se tutela. Aparece tanto para representação quanto para a assistência. Pode derivar de provimento voluntário, de testamento ou em decorrência da lei.

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Por outro lado, a curatela é um encargo público dado para a proteção dos maiores de idade que por en-fermidade ou deficiência mental não estão aptos para praticar pessoalmente os atos da vida civil. É conferi-da pelo juiz ao término de um processo de interdição. Serve para reger e proteger tanto a pessoa quanto os seus bens.

Emancipação:

Nos termos do CC, a menoridade cessa aos dezoito 18 anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.

No entanto, é possível a antecipação da capacidade plena, em virtude da autorização dos representantes legais do menor ou do juiz, pela superveniência de fato que a lei atribui força para tanto. Trata-se do insti-tuto chamado emancipação.

A emancipação poderá ser voluntária (art. 5º, pará-grafo único, I, primeira parte), judicial (segunda parte) ou legal (incisos II, III, IV e V).

São espécies de emancipação:

i) Parental: pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial. O menor deve ter pelo menos 16 anos.

ii) Por sentença do juiz: é aquela concedida pelo juiz, ouvido o tutor, desde que o menor tenha pelo menos dezesseis anos completos. Quem emancipa é o juiz e não o tutor.

iii) Pelo casamento: neste caso, existe a necessi-dade de autorização dos pais (ou do juiz) para o casamento entre os 16 e os 18 anos. Antes dos 16 anos o casamento somente poderá ser autoriza-do no caso de gravidez ou para evitar cumpri-mento de pena criminal.

iv) Pelo exercício de cargo público: aqui, trata-se de cargo efetivo.

v) Pela colação de grau em curso superior: é muito rara a colação de grau de menor, mas caso ocorra, o CC previu a emancipação.

vi) Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego com eco-nomias próprias.

EXTINÇÃO DA PESSOA FÍSICA (FIM DA PERSONALIDADE)

Nos termos do art. 6º do Código Civil, a morte mar-ca o fim da pessoa física ou natural, que deverá ser de-clarada pelo médico e assentada em livro próprio para os óbitos em cartório.

Morte real: ocorre com o óbito da pessoa natural, ou seja, quando o cérebro para de funcionar.

“Com a morte real, fixa-se, desde logo, o término da personalidade jurídica, com os efeitos dele ine-rentes, tais o desaparecimento jurídico da pessoa humana, a dissolução do vínculo matrimonial ou da união estável, o fim das relações de parentesco e de afinidade, a transmissão da herança, a extinção dos contratos personalíssimos etc. (...) Há efeitos que perduram, após a morte real, e que têm a proteção legal da pessoa, como a sua vontade de transplan-te de órgãos para fins humanitários ou científicos, a sua vontade expressa em testamento quanto ao seu cadáver, que merece respeito, sob pena, até, de cometimento de crimes (arts. 209 a 212 do CP), tais o impedimento ou perturbação de enterro ou de ce-rimônia funerária, a violação de sepultura, a destrui-ção, subtração, ocultação ou vilipêndio ao cadáver” (Álvaro Villaça Azevedo).

Morte presumida: pode ocorrer com ou sem a de-claração da ausência.

a) Sem declaração de ausência: nos termos do art. 7 º do CC ocorre em 2 casos: (i) com o desa-parecimento do corpo da pessoa, sendo extre-mamente provável a morte de quem estava em perigo de vida. O exemplo clássico é o da pessoa desaparecida em desastre aéreo. (ii) Com o de-saparecimento de pessoa envolvida em campa-nha militar ou feita prisioneira, quando não en-contrada em até 2 anos após o fim da guerra. Em ambas as hipóteses a prova do óbito é realizada em processo judicial de justificação.

b) Com declaração de ausência: é o desaparecimento da pessoa natural, sem que haja um corpo. Nestes casos, primeiro ocorre um período de curadoria dos bens do ausente, depois se abre a sucessão provisória e, por fim, a sucessão definitiva.

Haverá morte presumida no caso da ausência, quando for aberta a sucessão definitiva dos bens do ausente (segunda parte do art. 6º).

P Comoriência: é a morte simultânea de duas ou mais pessoas. Se não for possível averiguar qual indivíduo morreu primeiro, por exemplo, em um acidente aéreo, para efeitos de sucessão ambos serão considerados mortos no mesmo momento.

6 DOMICÍLIODomicílio como o lugar onde a pessoa natural esta-

belece residência com ânimo definitivo, convertendo--o, em regra, em centro principal de seus negócios jurí-dico ou de sua atividade profissional. A pessoa natural que tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas. Se uma pessoa natural não possuir residência, seu domi-cílio será o local onde for encontrada.

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O art. 72 do CC estabelece que “é também domicí-lio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida”. No entanto, se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.

Domicílio necessário:

O domicílio necessário é estabelecido pela lei a al-gumas pessoas. Para estas, o art. 76 do CC cravou que

I - O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente;

II - O do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções;

III - O do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encon-trar imediatamente subordinado;

IV - O do marítimo, onde o navio estiver matricula-do; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.

Pelo art. 77, “o agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve”.

7 DIREITOS DA PERSONALIDADE

Este ponto da disciplina é um dos mais importantes para a prova de Delegado da Polícia Civil. Isto porque, na atuação da polícia judiciária dos estados democrá-ticos, os direitos fundamentais – especialmente os que remetem à dignidade da pessoa humana -, devem ser largamente respeitados, de forma a se afastar o desvio e o abuso do poder. Os direitos da personalidade:

“são direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é próprio, ou seja, a sua integridade física (vida, ali-mentos, próprio corpo, vivo ou morto, corpo alheio, vivo ou morto, partes separadas do corpo, vivo ou morto); a sua integridade intelectual (liberdade de pensamento, autoria científica, artística e literária) e sua integridade moral (honra, recato, segredo pes-soal, profissional e doméstico, imagem, identidade pessoal, familiar e social)” (Maria Helena Diniz).

O Código Civil traz os direitos da personalidade nos arts. 11 a 21. Já na esfera constitucional, destaca-se o inciso X do art. 5º, prescrevendo que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra, e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Tanto o rol do Código Civil quanto o da Constituição Federal são exemplificativos. Neste ponto, o Enunciado 247 do CJF/STJ aponta que “os direitos da personalida-de, regulados de maneira não exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da

pessoa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição Federal”. Em outras palavras, quando a Constituição crava a dignidade da pessoa humana como fundamen-to da República, abre espaço para o reconhecimento de um amplo leque de direitos da personalidade, tanto na CF quanto no nas normas infraconstitucionais.

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

A busca pela concretização da dignidade da pessoa humana em todos os seus aspectos é reconhecida pe-los estudiosos e aplicadores da lei nos quatro cantos do planeta. No entanto, há uma grande dificuldade na definição exata do seu objeto.

Ingo Wolfgang Sarlet, festejado estudioso dos di-reitos fundamentais, afirma que “onde não houver respeito pela vida e pela integridade física e moral do ser humano, onde as condições mínimas para uma existência digna não forem asseguradas, onde não houver limitação do poder, enfim, onde a liberdade e a autonomia, a igualdade (em direitos e dignidade) e os direitos fundamentais não forem reconhecidos e minimamente assegurados, não haverá espaço para a dignidade da pessoa humana e esta (pessoa), por sua vez, poderá não passar de mero objeto de arbítrio e injustiças”. Existem duas dimensões da dignidade do homem: uma se refere à autodeterminação do indiví-duo, que deve ser livre para tomar as decisões essen-ciais para a sua própria existência; outra é dimensão protetiva por parte do Estado e da comunidade, que devem assegurar aos indivíduos fragilizados um rol mínimo de direitos.

“A dignidade na sua perspectiva assistencial (proteti-va) da pessoa humana, poderá, dadas as circunstân-cias, prevalecer em face da dimensão autonômica, de tal sorte que, todo aquele a quem faltarem as condições para uma decisão própria e responsável (de modo especial no âmbito da biomedicina e bio-ética) poderá até mesmo perder – pela nomeação de um curador ou submissão involuntária a trata-mento médico e/ou internação – o exercício pessoal de sua capacidade de autodeterminação, restando--lhe, contudo, o direito de ser tratado com dignidade (protegido e assistido)” (Sarlet).

P Conceito proposto por Ingo Sarlet:Temos por dignidade da pessoa humana a qualida-de intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comuni-dade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra qualquer ato de cunho degra-dante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua par-ticipação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos, mediante o devido respei-to aos demais seres que integram a rede da vida.

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CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

a) Vitalícios: são intransmissíveis por via suces-sória.

b) Absolutos: exigíveis e oponíveis contra todos, erga omnes.

c) Imprescritíveis: o direito da personalidade não tem seu exercício adstrito a nenhum prazo de qualquer espécie.

d) Indisponíveis: não são passíveis de alienação, porém, alguns direitos da personalidade podem ter seu exercício cedido temporariamente, como o direito à imagem.

e) Extrapatrimoniais: não se encontram na esfe-ra econômico-patrimonial.

f) Impenhorabilidade: não podem sofrer qual-quer restrição judicial para a satisfação de dívi-das.

g) Ilimitados: não há um rol taxativo dos direi-tos da personalidade.

i) Irrenunciáveis: não é possível dispor dos di-reitos da personalidade.

DIREITO À HONRA

A honra, segundo Maria Helena Diniz é um bem jurídico que possui dois aspectos: “a) um subjetivo, o qual designa o sentimento da própria dignidade moral, nascido da consciência de nossas virtudes ou de nosso valor moral, isto é, a honra em sentido estrito; b) um objetivo, representado pela estimação que outrem faz de nossas qualidades morais e de nosso valor social, indicando a boa reputação moral e profissional que pode ser afetada pela injúria, calúnia ou difamação”.

Quando a honra do indivíduo é atingida gera o di-reito à reparação civil dos danos morais sofridos. Em momentos do estudo dos direitos da personalidade, bem como no estudo da responsabilidade civil, e até mesmo no direito penal (crimes contra a honra), apare-cerão exemplos de ilicitudes praticadas contra a honra. A seguir, os primeiros exemplos jurisprudenciais:

DIREITO À IMAGEM

“Sem dúvida, a imagem da pessoa é uma das prin-cipais projeções de nossa personalidade e atributo fundamental dos direitos ditos da personalidade. O uso indevido da imagem traz, de fato, situações de prejuízo e constrangimento. No entanto, em cada situação é preciso avaliar se, de fato, há abuso na divulgação da imagem. Nem sempre a simples divulgação de uma imagem é indevida, doutra forma seria inviável o noticiário televisivo, jornalístico ou similar” (Silvio Venosa).

É inquestionável o direito da pessoa em não ter a sua imagem divulgada para fins comerciais. No entan-

to, não há abuso na divulgação de imagens pela im-prensa com o objetivo de ilustrar matéria jornalística, como também não há quando a divulgação atender ao interesse da administração da Justiça e à manutenção da ordem pública, como, por exemplo, na divulgação das fotos dos procurados pela Justiça. Nota-se do jul-gado a seguir que o Superior Tribunal de Justiça aplica tal entendimento nos casos de prisão ilegal, o que afeta diretamente a atuação do delegado:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILI-DADE OBJETIVA DO ESTADO. DANO MORAL. GARANTIA DE RESPEITO À IMAGEM E À HONRA DO CIDADÃO. IN-DENIZAÇÃO CABÍVEL. PRISÃO CAUTELAR. ABSOLVIÇÃO. ILEGAL CERCEAMENTO DA LIBERDADE. PRAZO EXCESSIVO. AFRONTA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HU-MANA PLASMADO NA CARTA CONSTITUCIONAL. MANI-FESTA CAUSALIDADE ENTRE O “FAUTE DU SERVICE” E O SOFRIMENTO E HUMILHAÇÃO SOFRIDOS PELO RÉU. (...) A ampliação da responsabilidade estatal, com vistas a tutelar a dignidade das pessoas, sua liberdade, integri-dade física, imagem e honra, não só para casos de erro judiciário, mas também de cárcere ilegal e, igualmente, para hipóteses de prisão provisória injusta, embora for-malmente legal, é um fenômeno constatável em nações civilizadas, decorrente do efetivo respeito a esses valores (...) (...) (Resp 872.630/RJ, Rel. Ministro FRANCISCO FAL-CÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TUR-MA, julgado em 13/11/2007, DJe 26/03/2008).

A jurisprudência também condena o abuso policial no momento da prisão, como podemos observar:

RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. PRISAO ILE-GAL. FLAGRANTE PREPARADO. VIOLACAO DO DIREITO DA PERSONALIDADE. DANO MORAL IN RE IPSA. RESPONSA-BILIDADE CIVIL DO ESTADO. Coação física praticada por policial no momento da realização de prisão em flagrante com o intuito de viabilizar matéria jornalística. Imobili-zação do rosto da detenta com o intuito de submetê-la a uma fotografia. Abuso de poder. Ato que extrapola a razoabilidade da prática do ato de captura. (…) Preceden-tes deste Tribunal e do STJ. Fixação da verba. (0239241-14.2008.8.19.0001 – APELACAO - DES. CARLOS EDUARDO PASSOS - Julgamento: 09/02/2011 -SEGUNDA CAMARA CÍVEL – TJ/RJ).

DIREITO À INTIMIDADE E À PRIVACIDADE

“O conceito de intimidade refere-se aos fatos e ma-nifestações verificados na esfera mais restrita dos relacionamentos estabelecidos pela pessoa. São re-lações firmadas com a família e com os amigos mais íntimos. Outrossim, em se tratando do conceito de vida privada, tem-se o alargamento dessas vin-culações. Ela diz respeito aos relacionamentos no âmbito profissional, do ensino regular, acadêmico, comercial, religioso, dentre outros, porém limitados pela proximidade e confiança” (Nelson Nery Jr. & Rosa Maria Nery).

Assim, temos que a vida privada abrange todos os aspectos que por algum motivo a pessoa não gostaria que caísse no domínio público, ou seja, são os dados que, por sua natureza, não são objeto do direito à in-formação.

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A jurisprudência aponta casos onde a atuação poli-cial fere o direito à privacidade, como observa-se:

APELAÇÃO CÍVEL - DELEGADO DE POLÍCIA QUE ATRIBUI CULPA AO AUTOR - DIVULGAÇÃO EM JORNAIS - DANO MORAL CARACTERIZADO. Informações carecedoras de veracidade ferem a honra da pessoa objeto da notícia, pois a noção de verdade e a violação da honra estão in-timamente ligadas; se o fato é inverídico, a honra está maculada. (...) A responsabilidade civil da Administração é objetiva, sob a modalidade do risco administrativo e in-depende da prova de culpa do agente. (Apelação Cível n. 2003.002979-6, de Turvo, rel. Des. Volnei Carlin).

DIREITO AO NOME

“Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreen-didos o prenome e o sobrenome” (art. 16 do CC). O prenome (nome próprio) pode ser simples ou com-posto e, é imutável, “salvo por motivos que possam colocar a pessoa em situações indecorosas, ridícu-las ou depreciativas”. Já o sobrenome (patronímico) “relaciona-se com a procedência familiar da pessoa, podendo advir do nome paterno, materno ou de am-bos. Por isso, o sobrenome é usado pelos membros da família, conhecido também como nome de famí-lia, que se perpetua nas gerações, que se seguem, marcando verdadeiro conceito social, que deve ser respeitado” (Vilaça).

Proteção ao pseudônimo: o art. 19 do CC consagra expressamente a proteção do pseudônimo, que é nome atrás do qual se esconde um autor de obra artística, literária ou científica.

Recusa no registro: sempre que o nome expuser o titular ao ridículo ou violar a ordem pública (nome es-trangeiro de pessoa que não seja estrangeira), o titular ode recusar-se ao registro. * Procedimento de dúvida: pela Lei de registros, toda vez que o oficial se recusar ao registro, o titular poderá promover o “procedimen-to de dúvida”, que é um procedimento administrativo, presidido pelo juiz de registros públicos, e com inter-venção do MP. O próprio oficial de registro provocará o juiz para saber se deve ou não registrar.

Mudança imotivada do nome: confirmando a na-tureza personalíssima do nome, o direito brasileiro permite ao titular, no primeiro ao após a aquisição da maioridade civil (ordinariamente dos 18 aos 19 anos, ou antes, por emancipação), imotivadamente, reque-rer a modificação do nome, com base na sua vontade. Neste caso, não poderá se afastar do sobrenome de sua família. No entanto, pode trocar um sobrenome por outro (que continue identificando a família). Grave-se que é o único caso de mudança imotivada do nome. Se não ajuizar a ação no primeiro ano de maioridade, sig-nifica que o titular omissivamente confirmou a escolha do nome pelos pais.

Princípio da imutabilidade relativa: é adotado no direito brasileiro no que diz respeito ao nome. Assim, é possível mudar o nome nos casos previstos em lei, ou por justificação judicial.

Exemplos de casos previstos em lei para mudança de nome: a) adoção (pode-se mudar nome e sobreno-me); b) casamento ou união estável; c) programa de proteção à testemunha (titular e sua família); d) aquisi-ção de cidadania brasileira; e) acréscimo de sobrenome de padrasto ou madrasta.

Exemplos de mudança de sobrenome não previstos em lei: a) abandono afetivo; b) negativa de registro; c) viuvez.

DIREITO À INTEGRIDADE FÍSICA E PSÍQUICA

A proteção da integridade física é a proteção do corpo, vivo ou morto (direito ao cadáver). Desta for-ma, sua proteção é autônoma, ou seja, não depende da violação da honra.

A manipulação e destruição de partes do corpo, bem como a adoção ou prescrição de medicamen-tos que alterem o funcionamento de qualquer órgão, ou ponham em risco o funcionamento de estrutura orgânico-psíquica do corpo humano, podem revelar prática que compromete a integridade física. Assim, o comando legal do art. 13 do Código Civil, se dirige ao resguardo integral da humanidade de cada pessoa e, com isso, a proteção de cada parte de seu corpo e de cada aspecto de sua estrutura físico-psíquica.

Não obstante, a disposição de partes do corpo para fins de transplante é aceita, desde que se dê de forma gratuita.

PESSOAS MORTAS

A lesão ou ameaça de lesão aos direitos da perso-nalidade de pessoa morta também são vedadas pelo Código Civil. Assim, nos termos do parágrafo único do art. 12, o cônjuge sobrevivente e os parentes em li-nha reta ou colateral até o quarto grau serão legitima-dos para propor as devidas demandas.

Disposição do próprio corpo: diz o art. 14 do CC, que desde que para fins científicos ou al-truísticos, e de forma gratuita, é permitida a dis-posição do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.

DIREITO À INTEGRIDADE INTELECTUAL

Diz a doutrina que se trata de um direito híbrido, pois é ao mesmo tempo um direito da personalidade e um direito da propriedade. É direito da personalidade no que tange ao invento, a criação; e direito real no que tange à sua exploração (propriedade intelectual). Materializa-se, principalmente, no direito autoral.

Trata-se de um bem móvel incorpóreo, que não ad-mite usucapião.

Veja alguns exemplos de proteção da propriedade intelectual na jurisprudência:

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POSSIBILIDADE DE CONFUSÃO. EMPRESAS QUE ATUAM NO MESMO SEGUIMENTO, SOB A MESMA BANDEIRA. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 129 E 189, I, DO CÓDIGO DE PRO-PRIEDADE INDUSTRIAL. Para a tutela da marca basta a possibilidade de confusão, não se exigindo prova de efe-tiva engano por parte de clientes ou consumidores es-pecíficos. (REsp 401.105/RJ, Rel. Ministro HONILDO AMA-RAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP), QUARTA TURMA, julgado em 20/10/2009, DJe 03/11/2009).

Direito civil. Recurso especial. Ação de conhecimento sob o rito ordinário. Programa de computador (software). Na-tureza jurídica. Direito autoral (propriedade intelectual). Regime jurídico aplicável. Contrafação e comercialização não autorizada. Indenização. Danos materiais. (...) Cons-tatada a contrafação e a comercialização não autorizada do software, é cabível a indenização por danos materiais conforme dispõe a lei especial, que a fixa em 3.000 exem-plares, somados aos que foram apreendidos, se não for possível conhecer a exata dimensão da edição fraudu-lenta. (...) Recurso especial parcialmente provido. (REsp 443.119/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/05/2003, DJ 30/06/2003, p. 240).

Função social da propriedade intelectual: pode ha-ver desapropriação de autor que não cumpre a função social do seu invento. Exemplo é a quebra de patentes em medicamentos.

OS DIREITOS DA PERSONALIDADE NO INQUÉRITO POLICIAL

Por fim, após a descrição dos direitos da persona-lidade e sua correlação com a atuação policial – feita através do estudo jurisprudencial -, cabe aqui a trans-crição de um trecho do artigo “Inquérito Policial: sigilo X mídia” de Thicianna da Costa Porto Araújo.

O texto analisa com maestria a relação que deve haver entre a o comportamento dos policiais na rea-lização das investigações e o respeito aos direitos dos investigados, sob o aspecto do sigilo.

“No instituto do sigilo, focaliza-se primordialmente a garantia da defesa da privacidade do individuo que se encontra sob investigação criminal, visando à proteção desse indivíduo diante de inúmeros contextos relacio-nados ao seu foro intimo, tais como: a interferência em sua vida privada, familiar e doméstica; a ingerência em sua integridade física e mental, ou em sua liberdade intelectual e moral; os ataques à sua honra e reputação; a comunicação de fatos relevantes e embaraçosos relativos à sua intimidade; o uso de seu nome, identidade e retrato; a espionagem e a espreita; a intervenção na correspon-dência; a má utilização de informações escritas e orais; a transmissão de informações dados ou recebidos em razão de segredo profissional”.

“(...) é fator primordial para o bom andamento do inqué-rito policial, objetivando a elucidação dos fatos sem com-prometer a integridade física e moral do indivíduo, res-guardando seus direitos fundamentais previstos na Carta Magna”.

“Para auxiliar o sigilo, nosso Estado Democrático utiliza o princípio da presunção de inocência como direito basilar

para se guiar as investigações criminais e a instrução crimi-nal, onde o Estado terá que comprovar a culpabilidade do indivíduo, pois este é considerado inocente até prolação de sentença com trânsito em julgado”.

“A veiculação da informação de forma inverídica e incom-pleta, como também a quebra do sigilo pelo sensaciona-lismo da imprensa faz com que os receptores da informa-ção veiculada erroneamente acabem criando um juízo de valor de determinado indivíduo indiciado, acarretando transtornos a este ser no que diz respeito à sua retomada de vida normal durante e até mesmo após os trâmites in-vestigatórios e processuais. Afinal, a mídia como um todo tem o poder de formar o senso crítico da coletividade, nos mais diversos setores da vida humana, por isso, é neces-sário que os operadores dos meios de comunicação ajam com mais ética e respeito aos direitos fundamentais, direi-to da personalidade”.

“Não se exige que os meios de comunicação deixem de noticiar os delitos que acontecem no meio social, mas que mostrem aos seus ouvintes, telespectadores e leitores que determinado fato delituoso aconteceu, mas o suposto res-ponsável tem que manter seus direitos à imagem, honra e intimidade íntegros”.

“Antes de tudo, cabe aos Delegados de Polícia, ao Poder Judiciário e ao Ministério Público o dever, de proteger os direitos da personalidade do indivíduo indiciado, não podendo permitir que a mídia se utilize de informações sigilosas em detrimentos de direitos basilares do ser hu-mano”.

8 PESSOAS JURÍDICAS

As pessoas jurídicas, através dos seus representan-tes, são capazes de adquirir direitos e contrair obri-gações. Nas palavras do professor Vilaça de Azevedo “pessoa jurídica é uma entidade de pessoas, individu-al ou coletiva, ou, ainda, de bens, fundacional, objeti-vando fins específicos, com personalidade jurídica, re-conhecido pelo ordenamento como sujeito de direitos e deveres”.

Características:

a) Personalidade jurídica autônoma: distinta das pessoas que à constituíram;

b) Estrutura organizacional própria;

c) Patrimônio distinto das pessoas que à cons-tituíram;

d) Publicidade dos atos de constituição.

Classificações:

As pessoas jurídicas classificam-se em: pessoas ju-rídicas de direito público interno, de direito público externo e, de direito privado.

São consideradas pessoas jurídicas de direito público interno: a União, os Estados-membros, os Municípios, o Distrito Federal. Também pertencem a esse grupo as autarquias, as fundações públicas e as

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demais entidades de caráter público, criadas por lei, com personalidade jurídica própria. Note-se que as empresas públicas e as sociedades de economia mista são regidas pelo regime jurídico de direito privado.

Nos termos do art. 42 do Código Civil “são pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estran-geiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direi-to internacional público”.

Por fim, são consideradas pessoas jurídicas de di-reito privado, além das já citadas empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 44 do Código Civil, as associações, as sociedades, as fun-dações, as organizações religiosas e os partidos políti-cos, sendo que, os dois últimos, submetem-se à regras específicas que serão oportunamente estudadas.

ASSOCIAÇÕES

“As associações são sociedades civis sem fito de lu-cro, em que há somatório de esforços e/ou recursos dos associados para obtenção de fins comuns. (...) são criadas, geralmente, com finalidades filantrópi-cas, literárias, pias, morais, culturais, educacionais, científicas, profissionais, convivenciais, esportivas, entre outras, como as associações de antigos alunos, de bairros, de pais e mestres, revestidas, às vezes, sob forma de institutos. Sempre, é certo, sem finali-dades lucrativas” (Vilaça Azevedo).

Nota-se, que embora não possuam fins lucrativos, as associações podem realizar atividades que produ-zam rendimentos, desde que tais rendimentos sejam empregados na própria associação, ou seja, que não sejam revertidos lucros para os seus associados ou di-retores.

As associações são constituídas por documento es-crito – estatuto ou contrato -, onde devem estar pelo menos os seguintes requisitos:

I - a denominação, os fins e a sede da associação;

II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;

III - os direitos e deveres dos associados;

IV - as fontes de recursos para sua manutenção;

V - o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos;

VI - as condições para a alteração das disposi-ções estatutárias e para a dissolução;

VII - a forma de gestão administrativa e de apro-vação das respectivas contas.

Na forma do art. 55 do CC, vale anotar que em uma associação poderá haver categorias diferentes de asso-ciados (exemplo, sócio fundador), mas na mesma cate-goria não poderá haver diferença de tratamento entre eles.

FUNDAÇÕES

“São bens arrecadados e personificados, em aten-ção a um determinado fim, que por uma ficção legal lhe dá unidade parcial. Nos termos do art. 62 do CC, as fundações são criadas a partir de escritura públi-ca ou testamento. Para a sua criação pressupõe-se a existência dos seguintes elementos: a) afetação de bens livres; b) especificação dos fins; c) previsão do modo de administrá-las; d) elaboração de estatutos com base em seus objetivos e submetidos à aprecia-ção do Ministério Público que os fiscalizará.” (Flávio Tartuce).

Grave-se que a sua finalidade não poderá jamais ser lucrativa, tendo como objetivo perseguir algum ideal, de cunho religioso, moral, cultural ou de assistência.

SOCIEDADES

Nos termos do Código Civil “celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resul-tados”. Tal atividade “pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados”. Na doutrina, conceitua-se sociedade como uma espécie de corpora-ção, dotada de personalidade jurídica própria, e insti-tuída por meio de um contrato social, com o precípuo escopo de exercer atividade econômica e partilhar lu-cros.

Sociedade simples: visam o lucro, através do exer-cício de atividades não empresárias. Significa dizer que as atividades não são realizadas por empresários. Exemplos clássicos são as sociedades de profissionais liberais, como os médicos e advogados. As cooperati-vas são sociedades simples, sujeitas à inscrição na jun-ta comercial.

Sociedade empresária: “são as organizações econô-micas, dotadas de personalidade jurídica e patrimônio próprio, constituídas ordinariamente por mais de uma pessoa, que têm como objetivo a produção ou a tro-ca de bens ou serviços com fins lucrativos” (Marcelo Bertoldi).

Nas lições de Fábio Ulhoa Coelho, confirmando as conceituações acima explicitadas, “o que irá, de ver-dade, caracterizar a pessoa jurídica de direito privado não estatal como sociedade simples ou empresária será o modo de explorar seu objeto. O objeto social explo-rado em sem empresarialidade (isto é, sem profissio-nalmente organizar os fatores de produção) confere à sociedade o caráter de simples, enquanto a exploração empresarial do objeto social caracterizará a sociedade como empresária”.

PARTIDOS POLÍTICOS

São entidades integradas por pessoas com ideias comuns, visando à conquista do poder para a realiza-ção de um programa de governo. São associações ci-

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vis que buscam assegurar, no interesse do regime de-mocrático, a autenticidade do sistema representativo e defender os direitos fundamentais estabelecidos na Constituição.

Além do registro civil na capital federal, devem possuir registro junto ao Tribunal Superior Eleitoral.

ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

São as entidades de direito privado, estabelecidas por meio de doutrinas e rituais próprios. O art. 44 do CC estabelece que “são livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das orga-nizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos consti-tutivos e necessários ao seu funcionamento”.

Essa liberdade de organização religiosa é uma ga-rantia constitucional, que permite a liberdade de ex-pressão religiosa, coexistindo com a liberdade de cren-ça e de culto.

Vale ressaltar que a liberdade de funcionamento das organizações religiosas não afasta o controle de le-galidade e legitimidade constitucional de seu registro, nem a possibilidade de avaliação da compatibilidade de seus atos com a lei e seus estatutos, realizada pelo Poder Judiciário.

DOMICÍLIOS DA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO

Nos termos do art. 75 do Código Civil, o domicílio das pessoas jurídicas será:

I - da União, o Distrito Federal;

II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;

III - do Município, o lugar onde funcione a adminis-tração municipal;

IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde fun-cionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.

P Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimen-tos em lugares diferentes, cada um deles será con-siderado domicílio para os atos nele praticados.P Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabeleci-mento, sito no Brasil, a que ela corresponder.

EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO

Assim como toda pessoa natural, a pessoa jurídi-ca completa o seu ciclo existencial, extinguindo-se. A doutrina classifica as modalidades de dissolução em:

Estatutária: quando as condições extintivas esti-veram previstas no próprio estatuto constituti-vo ou nas suas alterações.

Convencional: é aquela deliberada entre os pró-prios integrantes da pessoa jurídica, respeitado o estatuto ou o contrato social.

Administrativa: resulta da cassação da autoriza-ção de funcionamento, exigida para determina-das sociedades se constituírem e funcionarem.

Legal: pelos motivos determinados na lei.

Judicial: ocorre por determinação judicial, a re-querimento de qualquer dos interessados, nos casos previstos em lei ou no contrato social.

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

A doutrina da desconsideração pretende o afasta-mento temporário da personalidade da pessoa jurídica para permitir que o credor satisfaça o seu direito no patrimônio pessoal do sócio ou do administrador que cometeu um ato abusivo. A teoria tem mais aplicação para as sociedades empresárias, porém pode ser utili-zada em qualquer pessoa jurídica.

O art. 50 do Código Civil preconiza que “em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no pro-cesso, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica”.

Já o Enunciado 7 da I Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal, ao interpretar o instituto aponta que “só se aplica a desconsideração da perso-nalidade da pessoa jurídica quando houver a prática de ato irregular e, limitadamente, aos administradores ou sócios que nela hajam incorrido”.

Teoria Maior: exige o abuso da personalidade (desvio de finalidade ou confusão patrimonial) e o prejuízo do credor. Foi a teoria adotada no Código Civil.

Teoria Menor: é a teoria adotada nas relações de consumo, consagrada no art. 28 do CDC. Exige apenas o prejuízo do credor para responsabili-zação pessoal do sócio.

Na jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná e do Superior Tribunal de Justiça, podemos observar a aplicação da Teoria Maior, nos casos onde não há relação de consumo:

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EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL DESCONSIDERA-ÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. DESVIO DE FINALI-DADE E/OU CONFUSÃO PATRIMONIAL - REQUISITOS AU-SENTES INEXISTÊNCIA DE BENS DO DEVEDOR PARA SAL-DAR A DÍVIDA CIRCUNSTÂNCIA QUE, POR SI SÓ, NÃO DÁ ENSEJO À PROVIDÊNCIA. RECURSO CONHECIDO E PROVI-DO PARA AFASTAR A DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JU-RÍDICA DO AGRAVANTE. (TJPR - 13ª C.Cível - AI 922650-2 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Lenice Bodstein - Unânime - J. 15.08.2012).

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO. RECURSO ESPECIAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. ENCERRAMENTO IRREGULAR. INSUFICIÊNCIA. A mera demonstração de insolvência da pessoa jurídica ou de dissolução irregular da empresa sem a devida baixa na junta comercial, por si sós, não ensejam a desconsideração da personalidade jurídica. (AgRg no REsp 1173067/RS, Rel. Ministra NANCY AN-DRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/06/2012, DJe 19/06/2012).

Por outro lado, a aplicação da Teoria Menor – apli-cada nas relações de consumo -, também pode ser ob-servada na jurisprudência do STJ:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RESOLUÇÃO DE CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL PRO-POSTA CONTRA A CONSTRUTORA E SEUS SÓCIOS. DES-CONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. ART. 28, CAPUT E § 5º, DO CDC. PREJUÍZO A CONSUMIDORES. INATIVIDADE DA EMPRESA POR MÁ ADMINISTRAÇÃO. (...) No contexto das relações de consumo, em atenção ao art. 28, § 5º, do CDC, os credores não negociais da pessoa jurídica podem ter acesso ao patrimônio dos sócios, mediante a aplicação da disregard doctrine, bas-tando a caracterização da dificuldade de reparação dos prejuízos sofridos em face da insolvência da sociedade empresária (...) (REsp 737.000/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/09/2011, DJe 12/09/2011).

P DESCONSIDERAÇÃO INVERSA: A desconside-ração inversa, consagrada no Enunciado 283 da Quarta Jornada, consiste em atingir o patrimônio da pessoa jurídica para a qual o sócio ou adminis-trador indevidamente desviou bens particulares, em prejuízo a terceiro de boa-fé.

9 BENSO estudo dos bens na doutrina brasileira sempre

se inicia pela distinção entres “coisas” e ”bens”, o que gera grande divergência entre os teóricos. Alguns dis-sertam que coisa é gênero, do qual bem é espécie, ou-tros afirmam o contrário. Certo é que no Código Civil de 1916 as duas palavras eram tratadas como sinôni-mas e o mesmo não ocorre no atual Código Civil .

Ficaremos, aqui, com as lições de Álvaro Vilaça Azevedo ao afirmar que “na parte geral, o Código Civil cuida dos bens e, na Parte Especial, das coisas, entendendo-se essas palavras como sinônimas. (...) Mas, tecnicamente, têm sentido diverso; coisa com-preende tudo o que existe na natureza com exclusão

da pessoa humana, como o ar atmosférico, as águas do oceano, etc.; já o vocábulo bem significa que a coisa pode ser apropriada pela pessoa, por ser útil ou inte-ressar a esta, que manifesta o desejo de tê-la em seu pa-trimônio, como, por exemplo, o ar comprimido, uma coleção de conchas ou de borboletas”.

PATRIMÔNIO JURÍDICO

“Esboçando um conceito jurídico de patrimônio, aceito pela maioria dos juristas, posso dizer que ele é o complexo das relações jurídicas pertencentes a uma pessoa e de natureza econômica, só podendo ser transmitido causa mortis (a título universal). (...) Só os bens integrantes do patrimônio podem ser transferidos a outra pessoa, mas o patrimônio, em si, só em razão da morte do seu titular”(Vilaça Aze-vedo).

PATRIMÔNIO MÍNIMO

O estudo dos bens passa pela referida “constitucio-nalização do Direito Civil”. Assim, em respeito à digni-dade da pessoa humana, deve-se levar em conta que as pessoas necessitam de um mínimo para viver. É o que o festejado jurista paranaense Luiz Edson Fachin chamou de “patrimônio mínimo”. Nesse passo, entre outros exemplos, o Código veda a doação universal de todos os bens sem a reserva de domínio para a sobrevivência do doador e a Lei 8.009/90 prevê o “bem de família”.

Nas palavras do próprio Fachin, em sua obra Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo, “a elevação pro-tetiva conferida pela Constituição à propriedade pri-vada pode, também, comportar tutela do patrimônio mínimo, vale dizer, sendo regra de base desse sistema a garantia ao direito de propriedade não é incoeren-te, pois, que nele se garanta um mínimo patrimonial. Sob o estatuto da propriedade agasalha-se, também, a defesa dos bens indispensáveis à subsistência. Sendo a opção eleita assegurá-lo, a congruência sistemáti-ca não permite abolir os meios que, na titularidade, podem garantir a subsistência”. Tais ideias são am-plamente aceitas pela jurisprudência pátria nos mais variados tipos de lides, como podemos observar nos seguintes julgados:

EMPRÉSTIMO CONSIGNADO EM PROVENTOS DE APO-SENTADORIA DE OCTOGENÁRIO (...) - Inadmissibilidade de sacrifício do patrimônio mínimo do trabalhador apo-sentado por invalidez, competindo ao banco, após provar boa-fé e finalidade social do contrato interligado, exercer seu direito de crédito pelos meios convencionais e não por intermédio de descontos (...) (994081384478 SP , Relator: Enio Zuliani, Data de Julgamento: 25/02/2010, 4ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 18/03/2010).

ACIDENTE DE VEÍCULO - EMBARGOS A EXECUÇÃO- Pe-nhora de bens móveis que guarnecem a residência do executado: (a) 1 tanquinho; (b) 1 forno de microondas, e; (c) 1 bebedor de água elétrico – Impenhorabilidade (...) Incidência do (super) princípio da dignidade da pessoa humana, à luz do “estatuto jurídico do patrimônio míni-mo” (...) (981164006 SP , Relator: Antonio Benedito Ribei-ro Pinto, Data de Julgamento: 30/01/2009, 25ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 17/02/2009).

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. IMPENHORABILI-DADE DE VENCIMENTOS E SALÁRIOS. NATUREZA ALIMEN-TAR. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA. Justifica-se a vedação de penhora nas situações elencadas no art. 649, do CPC, pela necessidade de proteção a certos valores que, por sua natureza e relevância universal, buscam an-tes servir como garantia fundamental do patrimônio mí-nimo, em homenagem ao princípio maior da dignidade da pessoa humana (...) (20080020037316 df , relator: CAR-LOS RODRIGUES, Data de Julgamento: 04/06/2008, 1ª Tur-ma Cível, Data de Publicação: DJU 15/09/2008 Pág. : 48).

Por fim, vale destacar que o art. 649 do CPC traz um pequeno rol constante do patrimônio mínimo das pes-soas. Embora a doutrina e a jurisprudência apontem inúmeros outros direitos para exemplificar a aplicação da teoria do professor Fachin, o estudo do referido ar-tigo é de grande valia para o concurso de Delegado, razão pela qual colocamos aqui a sua integralidade. Note-se, porém, que os incisos grifados são os que tra-zem exemplos do instituto em estudo.

Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:

I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato vo-luntário, não sujeitos à execução;

II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessida-des comuns correspondentes a um médio padrão de vida;

III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor;

IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pen-sões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao susten-to do devedor e sua família, os ganhos de traba-lhador autônomo e os honorários de profissional liberal.

V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os uten-sílios, os instrumentos ou outros bens móveis ne-cessários ou úteis ao exercício de qualquer profis-são;

VI - o seguro de vida;

VII - os materiais necessários para obras em anda-mento, salvo se essas forem penhoradas;

VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família;

IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;

X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança.

XI - os recursos públicos do fundo partidário recebi-dos, nos termos da lei, por partido político.

§ 1° A impenhorabilidade não é oponível à cobran-ça do crédito concedido para a aquisição do próprio bem.

§ 2° O disposto no inciso IV do caput deste artigo não se aplica no caso de penhora para pagamento de prestação alimentícia.

PATRIMÔNIO MÍNIMO DA PESSOA JURÍDICA

Nos termos do art. 52 do CC, “aplica-se às pesso-as jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”. Assim, pode-se entender que tais pes-soas também possuem um núcleo mínimo do seu pa-trimônio resguardado, ou seja, um patrimônio mínimo para a sua existência.

Exemplo típico desse entendimento é o art. 649, V do CPC, que prevê a impenhorabilidade absoluta dos livros, das máquinas, dos equipamentos, dos utensí-lios, dos instrumentos ou de outros bens móveis ne-cessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão.

A jurisprudência abraça a teoria do professor Fachin também em relação às empresas, especialmen-te quando se trata de empresa de economia familiar, como se pode observar no julgado:

AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FIS-CAL. PENHORA ON LINE. BACENJUD. DEPÓSITOS BANCÁ-RIOS. CONSTRIÇÃO EFETIVADA APÓS A LEI Nº 11.382/06. ITR. IMÓVEL RURAL. PENHORA EM DINHEIRO. PRIORITÁ-RIA. (...) Ademais, em última análise, caberá ao juízo da execução o conhecimento de hipóteses concretas, em que a execução se verifique extremada e altamente da-nosa, a ponto de sonegar do devedor o mínimo existen-cial para sua sobrevivência, como a paralisação da ativi-dade empresarial, no caso particular da pessoa jurídica. (...) (AgRg no REsp 1217839/DF, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/02/2011, DJe 28/02/2011).

BEM DE FAMÍLIA

Certamente o direito à moradia está presente no rol de direitos intimamente ligados ao patrimônio míni-mo. Nesta toada, destaca-se agora o estudo dos bens de família.

O bem de família é aquele imóvel utilizado para a moradia da entidade familiar protegido pelo orde-namento jurídico. A família merecedora de proteção pode decorrer de casamento, união estável, etc. Aliás, hoje, reconhece-se inclusive o bem de família de pes-soa solteira, vez que a proteção de um imóvel para moradia possui como objetivo principal garantir o patrimônio mínimo do indivíduo, e não a instituição familiar em si.

No regramento brasileiro estão presentes duas mo-dalidades de bem de família: a) voluntário (convencio-nal), regido pelos arts. 1.711 a 1.722 do CC; e, b) bem de família legal, nos termos da lei 8.009/90.

Bem de família voluntário (convencional):

O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, des-tinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.

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Tem-se que os cônjuges (ou a entidade familiar) mediante escritura pública ou testamento, podem des-tinar parte de seu patrimônio para instituir bem de fa-mília, desde que não ultrapasse um terço do patrimô-nio líquido existente ao tempo da instituição.

O terceiro também poderá instituir bem de família por testamento ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os cônjuges benefi-ciados ou da entidade familiar beneficiada.

Pelo art. 1.175 do CC “o bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua instituição, sal-vo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio”.

Comprovada a impossibilidade da manutenção do bem de família nas condições em que foi instituído, poderá o juiz, a requerimento dos interessados, extin-gui-lo ou autorizar a sub-rogação dos bens que o cons-tituem em outros, ouvidos o instituidor e o Ministério Público.

Bem de família legal:

O imóvel residencial próprio do casal (ou da enti-dade familiar) é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previ-denciária ou de outra natureza, contraída pelos cônju-ges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietá-rios e nele residam.

A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as ben-feitorias de qualquer natureza e todos os equipamen-tos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.

Quando a residência familiar constituir-se em imó-vel rural, a impenhorabilidade restringir-se-á à sede de moradia, com os respectivos bens móveis, em área considerada como pequena propriedade rural.

Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, pos-suir vários imóveis utilizados como residência, a impe-nhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis.

O bem de família perde a impenhorabilidade nos processos judiciais movidos: a) em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respecti-vas contribuições previdenciárias; b) pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à cons-trução ou à aquisição do imóvel, no limite dos crédi-tos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; c) pelo credor de pensão alimentícia; d) para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar e) para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade fami-liar; f) por ter sido adquirido como produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a

ressarcimento, indenização ou perdimento de bens; ou g) por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.

Os veículos, obras de arte e adornos suntuosos da residência não gozam de impenhorabilidade.

A jurisprudência do STJ aplica tal instituto de for-ma ainda mais ampla, como podemos observar no se-guinte julgado:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. EXECUÇÃO FISCAL MOVIDA EM FACE DE BEM SERVIL À RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA. PRETENSÃO DA ENTIDADE FAMILIAR DE EX-CLUSÃO DO BEM DA EXECUÇÃO FISCAL. POSSIBILIDADE JURÍDICA E LEGITIMIDADE PARA O OFERECIMENTO DE EMBARGOS DE TERCEIRO. É BEM DE FAMÍLIA O IMÓVEL PERTENCENTE À SOCIEDADE, DÊS QUE O ÚNICO SER-VIL À RESIDÊNCIA DA MESMA. RATIO ESSENDI DA LEI Nº 8.009/90. A lei deve ser aplicada tendo em vista os fins sociais a que ela se destina. Sob esse enfoque a impenho-rabilidade do bem de família visa a preservar o devedor do constrangimento do despejo que o relegue ao desa-brigo. (...) Aferida à saciedade que a família reside no imó-vel sede de pequena empresa familiar, impõe-se exegese humanizada, à luz do fundamento da república voltado à proteção da dignidade da pessoa humana, por isso que, expropriar em execução por quantia certa esse imóvel, significa o mesmo que alienar bem de família, posto que, muitas vezes, lex dixit minus quam voluit. (...) É assente em vertical sede doutrinária que “A impenhorabilidade da Lei nº 8.009/90, ainda que tenha como destinatários as pessoas físicas, merece ser aplicada a certas pessoas ju-rídicas, às firmas individuais, às pequenas empresas com conotação familiar, por exemplo, por haver identidade de patrimônios.» (FACHIN, Luiz Edson “Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo”, Rio de Janeiro, Renovar, 2001, p. 154). (...) (REsp 621.399/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRI-MEIRA TURMA, julgado em 19/04/2005, DJ 20/02/2006, p. 207).

BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS

Imóveis: são aqueles que não podem ser transpor-tados sem a alteração da sua essência. Os bens imóveis dividem-se em:

a) Imóveis por natureza: nesta subdivisão apa-rece o solo e suas adjacências, ou seja, o espaço aéreo e o subsolo, bem como tudo aquilo que for ao solo incorporado naturalmente, como as ár-vores e seus frutos. Note-se, porém, que apesar do dono do solo ser o proprietário do subsolo, essa previsão poderá sofrer algumas limitações, como, por exemplo, o disposto no art. 176 da CF, onde os recursos hídricos e minerais consti-tuirão propriedade distinta do solo, ficando sob o domínio da União.

b) Imóveis por acessão física, industrial ou arti-ficial: são as coisas incorporadas pelo homem ao solo em caráter permanente, com a impossibili-dade de remoção sem destruição, modificação ou dano. Edifícios, pontes e viadutos são exem-plos de imóveis por acessão física.

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c) Imóveis por acessão intelectual: são os utiliza-dos para a exploração industrial, comodidade e aformoseamento. São os bens móveis que, atra-vés de uma ficção jurídica foram imobilizados pelo proprietário. Exemplos: máquinas, trato-res, veículos, animais, etc. Grave-se que a imobi-lização não é definitiva, pois poderá voltar a ser móvel, a depender da vontade do proprietário. * IMPORTANTE: o CC de 2002 excluiu essa divi-são, no entanto, existe grande discussão doutri-nária a respeito do tema. Alguns entendem que a categoria ainda existe, outros consideram que os bens imóveis por acessão intelectual são hoje as pertenças (que ainda será estudada nesse ma-terial). Neste ponto, destaca-se o Enunciado 11 do CJF/STJ: “Não persiste no novo sistema legis-lativo a categoria dos bens imóveis por acessão intelectual (...)”.

d) Imóveis por disposição legal: os direitos são imateriais, razão pela qual não são classificados como móveis ou imóveis. No entanto, por de-terminação do art. 80, I do CC, os direitos reais sobre imóveis são tratados como se imóveis fos-sem. Assim, a propriedade, a superfície, as ser-vidões, o usufruto, o uso, a habitação, o direito do promitente comprador de imóvel, o penhor, a anticrese, a hipoteca, a concessão de uso espe-cial para fins de moradia e a concessão de direi-to real de uso, são considerados bens imóveis. O direito à sucessão aberta também é conside-rado bem imóvel, por previsão legal (art. 80, II do CC).

Móveis: nos termos do art. 82 do Código Civil, são suscetíveis de movimento próprio ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou destinação econômica.

a) Por natureza: são os bens que podem ser transportados de um local para outro, mediante força alheia, sem a deterioração da sua substân-cia. Exemplos clássicos são os objetos pessoais (canetas, bolsas, relógios, etc).

b) Por antecipação: tratam-se de bens móveis (naturalmente incorporados ao solo), mas que são mobilizados por vontade humana. As pe-dras e metais preciosos destinados à decoração das casas, e as árvores cortadas para fabricação de móveis, são exemplos típicos.

c) Por determinação legal: são bens imateriais que adquirem essa qualidade por determinação legal. Exemplos: energia elétrica, direitos auto-rais, ações, etc.

Bens corpóreos X incorpóreos: Sílvio Venosa ensi-na que bens corpóreos são aqueles que nossos sentidos podem perceber: um automóvel, um animal, um livro. Os bens incorpóreos não possuem existência tangível. São os direitos das pessoas sobre as coisas, sobre o produto de seu intelecto, ou em relação a outra pes-

soa, com valor econômico: direitos autorais, créditos, invenções. As coisas corpóreas são objeto de compra e venda, enquanto as incorpóreas prestam-se à cessão.

Bens consumíveis X inconsumíveis: consumíveis são aqueles cujo uso importa destruição imediata da sua própria substância, como, por exemplo, os ali-mentos. Por outro lado, inconsumíveis são os bens que comportam uso continuado, sem prejuízo de seu perecimento progressivo e natural. Exemplos: moto, geladeira, etc.

Bens divisíveis X indivisíveis: bens divisíveis são aqueles fracionáveis sem a alteração na sua substân-cia, diminuição considerável de valor ou prejuízo do uso a que se destina (exemplo: saca de milho). Já os bens indivisíveis são os que não podem ser partidos em porções, pois deixariam de formar um todo per-feito (exemplo: um copo). A indivisibilidade pode se dar: a) pela natureza do objeto (exemplo: um boi); b) por determinação legal (exemplo: herança); ou, c) pela vontade das partes (coisa que se torna indivisível por contrato).

Bens fungíveis X infungíveis: “bens fungíveis são aqueles que podem ser substituídos por outros do mesmo gênero, qualidade e quantidade, tais como ce-reais, peças de máquinas, gato, etc. Bens infungíveis são aqueles corpos certos, que não admitem substitui-ção por outro do mesmo gênero, quantidade e quali-dade, como um quadro de Portinari, uma escultura ou qualquer outra obra de arte” (Venosa).

Bens singulares (individuais) X coletivos (univer-sais): são bens singulares as coisas que se consideram per si na sua individualidade. Em regra todos os bens são singulares, tornam-se coletivos por vontade das partes ou determinação da lei. Assim, “os bens cole-tivos são constituídos por várias coisas singulares, consideradas em conjunto e formando um todo indi-vidualizado” (Tartuce). Os bens universais decorrem de uma união fática ou de uma união jurídica, como veremos abaixo:

a) Universalidade de fato: “trata-se de um com-plexo de coisas homogêneas, que e apartam da mesma pessoa. A unificação é dada pela desti-nação unitária, em vista de uma função comum. (…) Exemplos típicos: um rebanho, uma biblio-teca, uma escuderia de automóveis, que se jun-tam como complexos autônomos. (…) Na uni-versalidade de fato todo elemento conserva sua essência de coisa simples e pode ser objeto de atos jurídicos singulares; pode-se vender uma ovelha, um livro, um quadro etc. Para certos fins a universalidade de fato é tratada como coisa imóvel” (Nelson Nery Jr. & Rosa Nery).

b) Universalidade de direito: aqui, temos um conjunto de bens singulares, corpóreos e hete-rogêneos - e algumas vezes até incorpóreos -, ao qual é atribuída unidade em razão de deter-minação legal. Exemplos: espólio, massa falida, patrimônio pessoal, etc.

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BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS

Principais: são os bens que possuem autonomia es-trutural, ou seja, que existem em si mesmos, abstrata ou concretamente, sem depender de outros. Exemplos: solo, um relógio, um carro, etc.

Acessórios: trata-se de bem em que pressupõe a existência de um outro bem, considerado principal. São bens acessórios: os frutos, os produtos, os rendi-mentos, as pertenças, as benfeitorias e as partes inte-grantes.

Frutos: a) Naturais: produzidos espontaneamente pelo bem principal, sem a atuação do ho-mem sobre a natureza. Exemplos: os frutos das árvores e crias dos animais.

b) Industriais: dependem da atividade hu-mana. Exemplo: material produzido por uma fábrica.

c) Civis: são rendimentos produzidos por bens cedidos para o uso de terceiros. Exem-plos: aluguel, juros, etc.

d) Colhidos: aqueles que já foram separados do bem principal.

e) Pendentes: aqueles que ainda não foram colhidos. Permanecem ligados à coisa prin-cipal. Exemplo: bananas que ainda estão na bananeira.

f) Percipiendos: já deveriam ter sido colhi-dos, mas ainda não foram. Exemplo: bana-nas maduras que estão na bananeira.

g) Estantes: aqueles que foram colhidos e se encontram armazenados.

h) Consumidos: foram colhidos e já não exis-tem mais.

Produtos: são as utilidades extraídas do bem principal. Essa extração acaba por alterar a subs-tância do bem , causando sua diminuição ou até mesmo o seu esgotamento, pois não se reprodu-zem. Exemplos: petróleo de uma reserva, pedra de uma pedreira, minerais de uma jazida, etc.

Rendimentos: são os chamados “frutos civis”, como por exemplo, o aluguel, os juros e os di-videndos. A maioria dos doutrinadores aponta os rendimentos apenas quando falam dos frutos civis, no entanto, grave-se que parte da doutrina adota essa classificação.

Pertenças: nos termos do CC, art. 93, são os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao ser-viço, ou ao aformoseamento de outro. Em ou-tras palavras, são coisas acessórias destinadas a conservar ou a facilitar o uso das principais. Exemplos: um aparelho de ar condicionado, em relação à uma casa; a gasolina, em relação ao

carro; o aparelho de som, também em relação ao carro; as máquinas de uma fábrica; etc.

Benfeitorias: “são bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel, visando a sua conservação ou a melhora da sua utilidade. En-quanto os frutos e produtos decorrem do bem principal, as benfeitorias são nele introduzidas” (Tartuce). Dividem-se em:

a) Necessárias: a finalidade da benfeitoria é conservar ou evitar a deterioração do bem. Exemplo: arrumar as rachaduras de um edi-fício.

b) Úteis: aumentam ou facilitam o uso da coisa. Exemplo: instalação de um sistema de segurança na residência, como por exemplo, grades eletrizadas.

c) Voluptuárias: são benfeitorias de mero deleite, de mero embelezamento. Exemplo: construção de uma quadra de tênis na resi-dência.

Partes integrantes: “embora não disciplinadas expressamente pela legislação civil, entendem--se por partes integrantes os bens que, unidos a um principal, formam com ele um todo, sendo desprovidos de existência material própria, em-bora mantenham sua identidade. (…) É o caso, por exemplo, de uma lâmpada em relação ao lustre, pois, mesmo admitindo-se a sua identi-dade autônoma, carece a lâmpada de qualquer utilidade individual” (Stolze e Pamplona).

BENS PARTICULARES

O conceito de bem particular é dado por exclusão, ou seja, são aqueles bens que não pertencem ao domí-nio público, mas sim à iniciativa privada. Estão disci-plinados pelo Direito Civil.

BENS PÚBLICOS

Bens públicos são aqueles que pertencem a uma pessoa jurídica interno (União, Estados, Municípios, Distrito Federal, autarquias, etc). Subdividem-se em:

Bens de uso comum do povo: são utilizados por to-dos, sem necessidade de permissão especial. Exemplos: praias, praças, ruas, estradas, etc.

Bens de uso especial: são os imóveis utilizados pelo próprio Poder Público para a realização dos seus fins. Exemplo: prédio onde funciona a Prefeitura, o Tribunal de Justiça, a Delegacia de Polícia, etc.

Bens dominicais: são os bens que constituem o pa-trimônio disponível das pessoas jurídicas de direito público interno, ou seja, são bens que podem ser alie-nados. Tais bens não estão afetados à utilização direta e imediata pelo Administração Pública ou pelo povo. Exemplos: terras devolutas, terrenos de marinha, etc.

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10 FATOS JURÍDICOS

“Todo acontecimento, natural ou humano, que de-termine a ocorrência de efeitos constitutivos, mo-dificativos ou extintivos de direitos e obrigações, na órbita do direito, denomina-se fato jurídico. (…) Fora da noção de fato jurídico, pouca coisa existe ou im-porta para o direito” (Stolze & Pamplona).

FATO JURÍDICO NATURAL (FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO)

Os acontecimentos naturais que geram efeitos na órbita jurídica são chamados de fatos jurídicos em sentido estrito. Porém, nem todos os acontecimentos alheios à vontade humana são assim classificados.

“Uma chuva em alto-mar, por exemplo, é fato da na-tureza estranho para o Direito. Todavia, se a precipi-tação ocorre em zona urbana, causando graves pre-juízos a determinada construção, objeto de um con-trato de seguro, deixa de ser simples fato natural, e passa a ser um fato jurídico, qualificado pelo Direito. Isto porque determinará a ocorrência de importan-tes efeitos obrigacionais (...)” (Stolze & Pamplona).

Os fatos jurídicos naturais se dividem em ordiná-rios e extraordinários. Ordinários são os fatos da na-tureza com características comuns, como por exemplo, o nascimento, a morte, o decurso do tempo, etc. Já os extraordinários são os fatos inesperados ou imprevisí-veis, como as enchentes e terremotos, que configuram caso fortuito ou força maior.

“A título de observação, vale registrar a profunda divergência na diferenciação entre o caso fortuito e a força maior. Isso porque o caso fortuito também pode ser decorrente de um ato humano (um acidente de ve-ículo, por exemplo), o que faz extrapolar os limites do fato jurídico stricto sensu”(Stolze & Pamplona).

ATO-FATO JURÍDICO

Trata-se de categoria intermediária entre as ações humanas e ações da natureza. Não está expressa no CC, mas é descrita pela doutrina. Consiste em um comportamento posto, que embora derive do homem, é desprovido de voluntariedade e consciência em face do resultado pretendido. Exemplo: um deficiente men-tal que pinta um quadro. É ato-fato porque deriva de ser humano, gera efeitos patrimoniais, mas não existiu consciência no ato.

FATOS JURÍDICOS HUMANOS

São os acontecimentos que dependem da ação hu-mana. Abrangem os atos ilícitos e os atos jurídicos em sentido amplo (atos jurídicos lícitos), estes, por sua vez, desmembram-se em atos jurídicos em sentido es-trito e negócios jurídicos.

Ato ilícito:

“Se o agente dos negócios e atos jurídicos, por ação ou omissão, pratica ato contra o Direito, com ou sem intenção manifesta de prejudicar, mas ocasiona pre-juízo, dano a outrem, estamos no campo dos atos ilícitos. O ato ilícito pode constituir-se de ato único, ou de série de atos, ou de conduta ilícita. (…) A ação ou omissão ilícita pode acarretar dano indenizável” (Venosa).

Ato jurídico em sentido estrito:

São os atos que geram consequências jurídicas previstas em lei, independentemente da vontade da pessoa que os realizou, ou seja, não há espaço para a autonomia privada. Exemplo de ato jurídico em sen-tido estrito é o do homem que teve um filho fora do casamento. Neste caso, comprovada a paternidade, surgirão várias obrigações para o homem, como por exemplo, o pagamento de pensão alimentícia, mesmo que ele não deseje isso.

11 NEGÓCIO JURÍDICO

Nos negócios jurídicos as partes interessadas mani-festam suas vontades e, por consequência, vinculam--se através de normas regulamentadoras dos seus próprios interesses. Diferenciam-se dos atos jurídicos em sentido estrito exatamente por haver autonomia privada.

Doutrinariamente o negócio jurídico é estudado através de três planos: da existência, da validade e da eficácia – os quais passamos a estudar.

PLANO DA EXISTÊNCIA

Para que um negócio exista no mundo jurídico, devem estar presentes quatro elementos essenciais: a) manifestação de vontade; b) agente emissor da von-tade; c) objeto; e, d) forma. Na falta de qualquer um desses elementos o negócio será inexistente, podendo ser assim declarado até mesmo de ofício pelo juiz.

a) Manifestação da vontade: ausente este ele-mento, que deve se dar de forma livre, o negócio não existe.

b) Agente: o emissor da vontade deve ser uma pessoa, que pode ser física ou jurídica.

c) Objeto: negócio jurídico sem objeto é conside-rado inexistente.

d) Forma: pode se dar através de contrato escri-to, oral, por linguagem de sinais, etc. O impor-tante é que a vontade se manifeste de alguma forma.

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PLANO DA VALIDADE

Os pressupostos de validade dos negócios jurídicos estão presentes no art. 104 do CC. São eles:

1. Capacidade: é a aptidão pessoal para a aquisi-ção e exercício de direitos. Em alguns negócios, além da capacidade será necessária a legitimi-dade. A legitimidade significa a compatibilida-de entre o interesse de uma das partes e a prote-ção e tutela de certos interesses em determina-dos negócios jurídicos. A capacidade é inerente à pessoa, e a legitimidade se refere à relação jurídica posta no caso concreto. * Quando existe incapacidade o negócio jurídico pode ser cele-brado através do representante.

2. Objeto lícito, possível, determinado ou deter-minável: objeto lícito diz respeito à conformida-de com a lei. A possibilidade do negócio jurídico diz respeito à possibilidade material de existên-cia do negócio. A impossibilidade inicial do ob-jeto não invalida o negócio jurídico se for rela-tiva, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. * Não é possível contrato sem objeto pelo menos determinável.

3. Forma prescrita ou não defesa em lei: vige o princípio da inexigibilidade das formas. Em regra está presente a liberdade das formas, no entanto, em alguns casos há forma prescrita em lei. Em alguns casos o instrumento público é essencial à validade do negócio jurídico, como por exemplo, na alienação de imóveis com valor superior aos 30 salários mínimos.

4. Vontade livre: embora o art. 104 do CC não coloque a “vontade livre” entre os elementos de validade, a grande maioria da doutrina discorre sobre o tema quando da explicação do plano de validade do negócio jurídico.

Teoria da declaração: pelo art. 112 do CC “nas de-clarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciadas do que ao sentido literal da lingua-gem”. Entende-se dessa previsão que o Brasil adotou a teoria da declaração no que diz respeito à vontade do agente que realiza o negócio jurídico, não cabendo a reserva mental (intenção interna) se o destinatário da declaração não foi previamente informado desta reser-va. Tal ideia é vista mais especificamente no art. 110 do CC, onde “a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não que-rer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento”.

PLANO DA EFICÁCIA

Nas palavras de Stolze & Pamplona, “neste plano, verifica-se se o negócio jurídico é eficaz, ou seja, se repercute juridicamente no plano social, imprimindo movimento dinâmico ao comércio jurídico a às rela-ções de direito privado em geral. (…) Assim, a título de

ilustração, celebrado um contrato de compra e venda existente e válido, será também juridicamente eficaz se não estiver subordinado a um acontecimento futuro a partir do qual passa a ser exigível”.

Tais acontecimentos futuros que repercutam na efi-cácia dos negócios jurídicos são chamados de elemen-tos acidentais do negócio jurídico. Estes, dividem-se em: condição, termo e encargo.

Condição:

Trata-se de cláusula que subordina o efeito do ne-gócio jurídico a um evento futuro e incerto. Tal cláusu-la advém exclusivamente da vontade das partes.

Grave-se que o evento deve ser futuro e incerto, fato passado não poderá dar ensejo à condição. O fato certo também retira o caráter de condição, pois nesse caso ele será um “termo”.

Enquanto a condição não se realizar, o ato não po-derá ser exigido. Exemplo clássico é o pai que promete ao filho um carro se ele passar no vestibular. O carro somente será devido após a aprovação no exame, que é um evento futuro e incerto.

“Apesar do ordenamento referir-se a partes, há ne-gócios unilaterais, como testamento e a promessa de recompensa, cuja participação é de uma única parte e também admitem condições” (Venosa).

Condição resolutiva: enquanto a condição não se realiza o negócio manterá os seus efeitos. Exemplo: promessa de pagamento de uma quantia ao filho en-quanto ele estudar.

Condição suspensiva: enquanto pendente a condi-ção o negócio ficará suspenso. Exemplo: pai que pro-mete carro ao filho que passar no vestibular.

Pelo art. 122 do CC são lícitas todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons cos-tumes. No entanto, existem condições que não podem ser impostas, como, por exemplo, as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.

Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subor-dinados às condições:

a) Física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;

b) Ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;

c) Incompreensíveis ou contraditórias.

Termo:

“A eficácia de um negócio jurídico pode ser fixa-da no tempo. Determinam as partes ou fixa o agente quando a eficácia do ato começará e terminará. Esse dia do início e do fim da eficácia do negócio chama-se

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termo, que pode ser inicial ou final” (Venosa). Note-se que o evento deve ser futuro, como ocorre na condi-ção, mas, aqui, o evento deve ser certo. Se fosse incerto seria condição. Exemplo: alguém promete pagar a ou-trem, certa quantia, no dia 26 de outubro de 2022.

Termo inicial: é aquele a partir do qual se pode exercer o direito.

Termo final: aquele no qual os efeitos jurídicos do negócio deixam de existir.

Encargo (modo):

“O encargo ou modo é a restrição oposta ao benefi-ciário de liberalidade. Trata-se de ônus que diminui a extensão da liberalidade. Assim, faço doação a ins-tituição, impondo-lhe o encargo de prestar determi-nada assistência a necessitados; doo casa a alguém, impondo ao donatário obrigação de residir no imó-vel; faço legado de determinada quantia a alguém, impondo-lhe o dever de construir monumento em minha homenagem; faço doação de área a determi-nada Prefeitura, com o encargo de ela colocar, em uma das vias públicas, meu nome etc. Os exemplos multiplicam-se” (Venosa).

Assim como ocorre nas condições, os encargos de-vem trazer obrigações lícitas e possíveis.

DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

Existem vícios de duas naturezas: vícios da vonta-de e vícios sociais.

Nos vícios sociais a declaração da vontade é feita conscientemente, mas a intenção é contrária ao siste-ma jurídico. São exemplos: a fraude contra credores e a simulação.

Já nos vícios da vontade as declarações não cor-respondem às verdadeiras intenções do agente. Dolo, coação, erro, estado de perigo e lesão são as hipóte-ses deste tipo de vício. Os vícios da vontade geram a “anulabilidade” do negócio jurídico, assim como a incapacidade relativa e a fraude contra credores, já a simulação gera nulidade.

Erro ou ignorância:

Erro é uma falsa noção quanto a um elemento do negócio, já a ignorância é o desconhecimento total de um elemento. Em ambos os casos a pessoa se engana sozinha (engano solitário). O engano é relacionado ao objeto do negócio (coisa), a pessoa com que se negocia, ou, erro de direito (desconhecimento da lei).

O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.

Dolo:

Trata-se de artifício malicioso utilizado pelo ne-gociante ou por terceiro em face do outro negociante. Para anular o negócio jurídico o dolo deve ser a sua causa, o chamado “dolo essencial”. O dolo acidental (que não é causa) não anula o negócio jurídico, apenas gera perdas e danos.

Dolo bom X dolo mau: dolo mau é a ação ilícita, para enganar a outra parte. Não pode ser con-fundido com o “dolo bom”, que é técnica possí-vel de publicidade, desde que não se desvirtue como propaganda enganosa ou abusiva. O dolo que anula o negócio jurídico é o “dolo mau”.

Dolo bilateral ou recíproco: ocorre quando as duas partes agem com dolo. Não anula o negó-cio jurídico (art. 150 do CC), pois ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.

Dolo de terceiro: está no art. 148 do CC. O negó-cio só será anulado se o beneficiário soubesse ou tivesse como saber do dolo.

Coação:

Trata-se de coação fundada na pressão psicológica exercida sobre a pessoa que realiza o negócio.

Nos termos do art. 151 do CC “a coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. (...) Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação”.

Ainda segundo o CC, no seu art. 153 “não se consi-dera coação a ameaça do exercício normal de um direi-to, nem o simples temor reverencial”.

Estado de perigo:

Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Exemplo: cheque caução no hospital.

Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.

Dolo de aproveitamento: a lei exige que exista dolo do destinatário da declaração da vontade, ou seja, o destinatário deve saber da situação perigosa e aprovei-tar-se da situação para auferir proveito material.

Princípio da conversão dos negócios jurídicos: diz o Enunciado 148 do CJF/STJ que “ao estado de perigo aplica-se, por analogia, o disposto no parágrafo 2º do art. 157” (possibilidade de revisão do negócio ao invés da anulação).

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Lesão:

Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a presta-ção manifestamente desproporcional ao valor da pres-tação oposta. É uma soma de dois requisitos: uma pre-mente necessidade ou uma experiência negocial soma-da à onerosidade excessiva. Exemplo: administrador inexperiente contrata um serviço para sua empresa por valor muito acima do de mercado.

Fraude contra credores:

Ocorre quando alguém, por intermédio de negó-cios jurídicos gratuitos ou onerosos, aliena o seu pa-trimônio, podendo se reduzir a uma situação de insol-vência. Elemento subjetivo: deve haver a consciência de fraude por parte dos negociantes (concilium fraudis).

A fraude contra credores não se confunde com a fraude à execução. Esta última é mais grave, uma vez que já existe demanda instaurada contra o devedor.

Fraude presumida: serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. Neste caso é dispen-sado o concilio fraudulento. Não se exige a completa insolvência, mas apenas possibilidade de garantia in-suficiente.

Simulação:

Trata-se de vício social gravíssimo, previsto como causa de nulidade no art. 167. Ocorre quando a mani-festação de vontade não corresponde com a verdadeira intenção dos declarantes. O negócio foi firmado para obtenção de vantagem ilícita ou prejuízo à terceiro.

Há simulação quando:

I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem.

II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira.

III - os instrumentos particulares forem anteda-tados, ou pós-datados.

Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.

Simulação absoluta: as partes criam o negócio jurídico, destinado a não gerar efeito algum. O negócio é nulo.

Simulação relativa (dissimulação): nesta, as par-tes criam um negócio destinado a encobrir um outro negócio de efeitos jurídicos proibidos por lei. O negócio também é nulo.

Simulação inocente: é aquela que determina a celebração de um determinado negócio simu-

lado quando os declarantes imaginam uma proibição legal, que de fato inexiste. Neste caso, mesmo sem prejuízo, o negócio jurídico é nulo.

Invalidade do negócio jurídico:

“De acordo com a melhor doutrina, a expressão in-validade em sentido amplo é empregada para desig-nar o negócio que não produz os efeitos desejados pelas partes envolvidas. O Código Civil de 2002 fez a opção de utilizar a expressão, tratada entre os seus arts. 166 a 184, os quais consubstanciam a chamada teoria das nulidades do negócio jurídico” (Tartuce).

A invalidade do negócio jurídico abrange: a) a ine-xistência; b) a nulidade absoluta (negócio nulo) e, c) a nulidade relativa (negócio anulável).

Inexistência do negócio jurídico:

Negócios jurídicos inexistentes são os que não preencheram os requisitos mínimos do plano da existência (partes, vontade, objeto e forma), razão pela qual não produzem efeitos no mundo jurídico.

A inexistência do negócio jurídico não está prevista no Código Civil – que trata somente do ato jurídico nulo e anulável. Na prática, para que um negócio seja considerado inexistente não há necessidade de inter-pelação judicial, vez que tais negócios são verdadei-ros “nada jurídicos”. No entanto, mostra-se comum o ajuizamento de ações para desfazer alguns efeitos que advém desses negócios que não respeitam os requisi-tos do plano da existência.

Na jurisprudência:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE NULIDADE DE ESCRITURA E CANCELAMENTO DE REGISTRO. (...) A declaração de inefi-cácia de negócio jurídico inexistente não convalesce pelo decurso do tempo. Demonstrada, por perícia judicial grafotécnica, a falsificação da assinatura do preposto do vendedor, em contrato de compra e venda de imóvel, tem-se que o negócio jurídico não chegou a existir, pois não há, na espécie, o consentimento de uma das partes para a sua formação. (Apelação Cível n. 2011.103161-5, da Capital, rel. Des. Luiz Carlos Freyesleben).

Nulidade absoluta – negócio jurídico nulo:

“A nulidade é a consequência prevista em lei, nas hi-póteses em que não estão preenchidos os requisitos básicos para existência válida do ato negocial. (...) A nulidade absoluta ofende regramentos ou normas de ordem pública, sendo o negócio absolutamente inválido, cabendo ação correspondente para decla-rar a ocorrência do vício”.

As nulidades absolutas podem ser arguidas por qualquer das partes ou de ofício pelo juiz. Frise-se que o negócio eivado de nulidade absoluta não pode ser confirmado por vontade das partes.

A ação declaratória de nulidade é o instrumento hábil para reconhecer a nulidade absoluta. Tal ação é

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imprescritível e a decisão judicial tem efeitos retroati-vos (ex tunc) e contra todos (erga omnes).

O art. 166 do Código Civil diz que é nulo o negócio jurídico quando:

I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu ob-jeto;

III - o motivo determinante, comum a ambas as par-tes, for ilícito;

IV - não revestir a forma prescrita em lei;

V - for preterida alguma solenidade que a lei consi-dere essencial para a sua validade;

VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;

VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir--lhe a prática, sem cominar sanção.

P Simulação: Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.

Nulidade relativa – negocia jurídico anulável:

“A nulidade relativa envolve preceitos de ordem privada, de interesse das partes, o que altera totalmen-te o seu tratamento legal, se confronta com a nulidade absoluta antes estudada. (...) Nos casos de anulabili-dade, o seu reconhecimento deverá ser pleiteado por meio da denominada ação anulatória, que também se-gue, regra geral, o rito ordinário. Tal ação tem natureza constitutiva negativa, estando relacionada com direi-tos potestativos, o que justifica os prazos decadenciais a elas referidos”.

A anulabilidade pode ser arguida apenas pelas parte prejudica. O juiz não poderá agir de ofício.Pode convalescer-se pelo decurso do tempo.

Nos termos do art. 171 do CC, são anuláveis os ne-gócios jurídicos:

I - por incapacidade relativa do agente;

II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.

PROVAS

Provas são os meios empregados para demonstrar a existência de um ato ou negócio jurídico. Para que sejam válidas dessem ser admissíveis, pertinentes e concludentes. Admissíveis porque não serão aceitas as provas proibidas na lei. Pertinentes e concludentes porque devem ser adequadas e esclarecedores em re-lação ao fatos debatidos no processo.

Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser provado mediante:

I - confissão;

II - documento;

III - testemunha;

IV - presunção;

V - perícia.

12 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

PRESCRIÇÃO

A prescrição extintiva ocorre quando o titular de um direito sobre certo bem não exerce sua pretensão jurídica no lapso temporal prescrito na lei.

Causas impeditivas, suspensivas e interruptivas da prescrição:

Impeditivas são as causas que impedem o início da contagem do prazo. As suspensivas são as que parali-sam o prazo já iniciado. Já as interruptivas são as que fazem o prazo retornar ao início, voltando a contar por inteiro novamente.

No CC tais causas estão dispostas da seguinte ma-neira:

Causas impeditivas ou suspensivas:

Art. 197. Não corre a prescrição:

I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;

II - entre ascendentes e descendentes, durante o po-der familiar;

III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.

Art. 198. Também não corre a prescrição:

I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;

II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;

III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.

Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:

I - pendendo condição suspensiva;

II - não estando vencido o prazo;

III - pendendo ação de evicção.

Causas interruptivas:

Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:

I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;

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II - por protesto, nas condições do inciso anteceden-te;

III - por protesto cambial;

IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;

V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;

VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extraju-dicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.

Parágrafo único. A prescrição interrompida recome-ça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.

P Quando o credor interrompe a prescrição, o prazo começa a contar do início. No entanto, para evitar o abuso do credor, o Código Civil de 2002 previu o caput do art. 202 que a interrupção so-mente poderá ocorrer uma vez. Diz também, no parágrafo único que o prazo prescricional inter-rompido começa a correr da data do ato que o interrompeu ou do último ato do processo para o interromper.

Prazos prescricionais:

Em regra a prescrição ocorre em dez anos. Esse é o prazo máximo, no entanto, a lei pode prescrever me-nor prazo, como vemos na leitura dos seguintes arti-gos do Código Civil:

Art. 206. Prescreve:

§ 1o Em um ano:

I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabele-cimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos;

II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:

a) para o segurado, no caso de seguro de respon-sabilidade civil, da data em que é citado para res-ponder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador;

b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;

III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela per-cepção de emolumentos, custas e honorários;

IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do capital de so-ciedade anônima, contado da publicação da ata da assembleia que aprovar o laudo;

V - a pretensão dos credores não pagos contra os só-

cios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade.

§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.

§ 3o Em três anos:

I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;

II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias;

III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em perí-odos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;

IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimen-to sem causa;

V - a pretensão de reparação civil;

VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividen-dos recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição;

VII - a pretensão contra as pessoas em seguida in-dicadas por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo:

a) para os fundadores, da publicação dos atos cons-titutivos da sociedade anônima;

b) para os administradores, ou fiscais, da apresen-tação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reu-nião ou assembleia geral que dela deva tomar co-nhecimento;

c) para os liquidantes, da primeira assembleia se-mestral posterior à violação;

VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;

IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.

§ 4o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.

§ 5o Em cinco anos:

I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas cons-tantes de instrumento público ou particular;

II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pe-los seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato;

III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.

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P STJ, SÚMULA 106 - proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescri-ção ou decadência.

DECADÊNCIA

Também chamada de “caducidade”, a decadência não se refere aos direitos com conteúdo prestacional, mas sim aos direitos potestativos. Dessa forma, sem-pre que um direito potestativo possuir prazo para o seu exercício, este prazo será decadencial.

“Há, praticamente, duas espécies de decadência: a convencional, criada pela vontade das partes em sua convenção ou contrato; e a legal determinada no ordenamento jurídico, por norma de ordem pú-blica, que não pode ser alterada pela vontade dos interessados. (...) Em regra, os prazos decadências são fatais, não se interrompendo nem suspenden-do, existindo algumas exceções que interrompem ou suspendem o prazo decadencial, em raras hipó-teses” (Vilaça).

Os prazos decadenciais estão dispersos na legisla-ção.

BIBLIOGRAFIAAZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2012.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro (co-leção completa). São Paulo: Saraiva, 2012.

FIUZA, Cesar. Direito civil: curso completo. Belo Horizon-te: Del Rey, 2011.

FIUZA, Ricardo. Código Civil Comentado. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil - coleção completa. São Paulo: Saraiva, 2011.

NERY JÚNIOR, Nelson & NERY, Rosa Maia de Andrade. Có-digo Civil Comentado. São Paulo: RT, 2009.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil - coleção completa. 19 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. São Paulo: Mé-todo, 2011.

VENOZA, Silvio de Salvo. Direito civil. (coleção completa). São Paulo: Atlas, 2012.

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