direito civil

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Responsabilidade Civil 1) Conceito responsabilidade de jurídica: é uma obrigação derivada, ou seja, um dever jurídico sucessivo de assumir as consequências jurídicas de um fato, consequências essas que podem, separadas ou cumuladas, de reparação dos danos, punição pessoal do agente lesionante de acordo com os interesses lesados e necessidade pedagógica. A responsabilidade jurídica é ampla e recai ao Direito Tributário, Penal, Civil e etc. 2) Diferença de responsabilidade jurídica e moral: a diferença mais relevante é que não há coercitividade institucionalizada da norma moral, visto que utilização da força organizada para exigir o cumprimento de uma ação é monopólio do Estado, e relaciona-se com a responsabilidade jurídica. O indivíduo que comete lesão a norma moral é punido no campo psicológico, o que em alguns casos não o impede de responder na ceara jurídica. 3) Diferença de responsabilidade cívil da criminal: a responsabilidade penal visa estabelecer uma pena para quem violar um dispositivo da lei penal. É necessário haver uma previsão anterior da conduta proibida. Na responsabilidade civil, essa penalidade não requer um tipo específico, é necessário apenas que haja uma conduta dolosa ou culposa que cause dano a alguém. Obs.: A diferença de ambos não está propriamente na conduta que gera o ilícito cívil ou penal, mas na resposta sancionatória, observando que em uma mesma conduta pode haver os dois ilícitos. 4) Finalidade e pressuposto da responsabilidade civil: tem como finalidade a busca pela restauração e reequilíbrio do status quo ante, obrigação esta que, se não for mais possível, é convertida no pagamento de uma indenização na possibilidade de avaliação pecuniária do dano ou de uma compensação quando não se puder estimar patrimonialmente este dano. 5) Fato antijurídico: é o fato com relevância para o Direito e lesivo para alguém, podendo ser lícito, ilícito, natural ou humano. Na responsabilidade subjetiva, o fato antijurídico consiste no ato ilícito fundado na conduta culposa do agente que gera um dano a outrem e faz nascer o dever de reparar. Ao contrário da responsabilidade objetiva, que independe de culpa. 6) Conceito de Responsabilidade Civil: é uma obrigação de indenizar, compensar ou reparar imposta ao transgressor de uma norma pré-existente, contratual ou extracontratual, como consequência de uma conduta danosa a outrem. Obs.: A responsabilidade civil é o fundamento jurídico da ação de indenização. Deriva da agressão a um interesse eminentemente particular, sujeitando, assim, o infrator, ao pagamento de uma compensação pecuniária à vítima, caso não possa repor in natura o estado anterior da coisa. Elementos: conduta positiva ou negativa, dano ou prejuízo e nexo causal. SUPER OBSERVAÇÃO: Para João Adilson a estrutura da responsabilidade civil é o fato antijurídico (fato lesivo), o dano, a relação de causalidade (relação de causa e efeito do dano) e o nexo de imputação (identifica quem será responsabilisabilizado pela ocorrência do fato). 7) Espécies de responsabilidade civil: a.1) Subjetiva: decorre de dano causado em função de ato doloso ou culposo. Esta culpa (sentido amplo) se caracteriza quando o agente causador do dano atuar com negligência ou imprudência, conforme disciplina o art. 186 do CC/02: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Na responsabilidade subjetiva, só há responsabilidade para o agente, caso fique provado a sua culpa.

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Page 1: Direito Civil

Responsabilidade Civil

1) Conceito responsabilidade de jurídica: é uma obrigação derivada, ou seja, um dever jurídico sucessivo de assumir as consequências jurídicas de um fato, consequências essas que podem, separadas ou cumuladas, de reparação dos danos, punição pessoal do agente lesionante de acordo com os interesses lesados e necessidade pedagógica.

A responsabilidade jurídica é ampla e recai ao Direito Tributário, Penal, Civil e etc.

2) Diferença de responsabilidade jurídica e moral: a diferença mais relevante é que não há coercitividade institucionalizada da norma moral, visto que utilização da força organizada para exigir o cumprimento de uma ação é monopólio do Estado, e relaciona-se com a responsabilidade jurídica.

O indivíduo que comete lesão a norma moral é punido no campo psicológico, o que em alguns casos não o impede de responder na ceara jurídica.

3) Diferença de responsabilidade cívil da criminal: a responsabilidade penal visa estabelecer uma pena para quem violar um dispositivo da lei penal. É necessário haver uma previsão anterior da conduta proibida. Na responsabilidade civil, essa penalidade não requer um tipo específico, é necessário apenas que haja uma conduta dolosa ou culposa que cause dano a alguém.

Obs.: A diferença de ambos não está propriamente na conduta que gera o ilícito cívil ou penal, mas na resposta sancionatória, observando que em uma mesma conduta pode haver os dois ilícitos.

4) Finalidade e pressuposto da responsabilidade civil: tem como finalidade a busca pela restauração e reequilíbrio do status quo ante, obrigação esta que, se não for mais possível, é convertida no pagamento de uma indenização na possibilidade de avaliação pecuniária do dano ou de uma compensação quando não se puder estimar patrimonialmente este dano.

5) Fato antijurídico: é o fato com relevância para o Direito e lesivo para alguém, podendo ser lícito, ilícito, natural ou humano. Na responsabilidade subjetiva, o fato antijurídico consiste no ato ilícito fundado na conduta culposa do agente que gera um dano a outrem e faz nascer o dever de reparar. Ao contrário da responsabilidade objetiva, que independe de culpa.

6) Conceito de Responsabilidade Civil: é uma obrigação de indenizar, compensar ou reparar imposta ao transgressor de uma norma pré-existente, contratual ou extracontratual, como consequência de uma conduta danosa a outrem.

Obs.: A responsabilidade civil é o fundamento jurídico da ação de indenização.Deriva da agressão a um interesse eminentemente particular, sujeitando, assim, o infrator, ao pagamento de

uma compensação pecuniária à vítima, caso não possa repor in natura o estado anterior da coisa.Elementos: conduta positiva ou negativa, dano ou prejuízo e nexo causal.SUPER OBSERVAÇÃO: Para João Adilson a estrutura da responsabilidade civil é o fato antijurídico (fato

lesivo), o dano, a relação de causalidade (relação de causa e efeito do dano) e o nexo de imputação (identifica quem será responsabilisabilizado pela ocorrência do fato).

7) Espécies de responsabilidade civil:

a.1) Subjetiva: decorre de dano causado em função de ato doloso ou culposo. Esta culpa (sentido amplo) se caracteriza quando o agente causador do dano atuar com negligência ou imprudência, conforme disciplina o art. 186 do CC/02: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Na responsabilidade subjetiva, só há responsabilidade para o agente, caso fique provado a sua culpa.

Obs.: A relação existente entro o ato ilícito disciplinado pelo art. 186 do CC/02 provocado pela culpa do agente é requísito essencial para que se tenha a responsabilidade subjetiva.

A responsabilidade civil por se caracterizar em fato constitutivo do direito à pretensão reparatória, caberá ao autor, sempre, o ônus da prova de tal culpa do réu. Logo, em regra, cada um responde pela própria culpa. Porém, há a responsabilidade civil indireta, em que o elemento culpa não é desprezado, mas sim presumido, em função do dever geral de vigilância a que está obrigado o réu.

Na culpa presumida, ocorre a inversão do ônus da prova, pois presume-se o comportamento culposo do causador do dano, cabendo-lhe demonstrar a ausência de culpa, para se eximir do dever de indenizar.

Obs.: O sistema material civil brasileiro (CC/16) abraçou originalmente a teoria subjetivista.

a.2) Objetiva: não é necessário ser caracterizada a culpa ampla. O dolo ou a culpa na conduta do agente causador do dano é irrelevante juridicamente, haja vista que somente será necessária a existência do elo de causalidade entre o dano e a conduta do agente responsável para que surja o dever de indenizar.

Está relacionada a mera questão de reparação de danos, fundada diretamente na lei e no risco da atividade exercida pelo agente.

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Disciplina o art. 927 do CC/02: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.

b.1) Aquiliana ou extracontatual: o dano decorre diretamente da violação de um mandamento legal, por força da atuação ilícita do agente infrator. Exs.: arts. 186 e 187 e 927 e s. do CC/02. Decorre da violação de um dever geral de abstenção, dever negativo.

b.2) Contratual: o dano decorre do inadimplemento de obrigação fixada no contrato. Ex.: art. 398 e s. e 395 e s. do CC/02.

Poderá haver responsabilidade civil independentemente da aferição de culpa, em hipóteses especiais previstas de forma expressa em lei, ou quando a sua atividade normalmente desenvolvida pelo causador do dano importar em risco para os direitos de outrem.

Diferenças entre a responsabilidade aquiliana e contratual: I – Necessária pré- existência de uma relação jurídica entre lesionado e lesionante: na responsabilidade civil

contratual é necessário que a vítima e o autor do dano já tenham uma relação jurídica pré-existente vinculada para o cumprimento de uma ou mais prestações, sendo a culpa contratual a violação de um dever de adimplir, que constitui justamente o objeto do negócio jurídico, já na culpa aquiliana, viola-se um dever necessariamente negativo, ou seja, a obrigação de não causar dano a ninguém.

II – Ônus da prova quanto a culpa: na responsabilidade civil aquiliana, a culpa deve ser sempre provada pela vítima, enquanto na responsabilidade contratual, ela é, de regra, presumida, invertendo-se o ônus da prova, cabendo à vítima comprovar, apenas, que a obrigação não foi cumprida, restando ao devedor o onus probandi.

III - Quanto à capacidade: o menor púbere só se vincula contratualmente quando assistido por seu representante legal e, excepcionalmente, se com malícia declarou-se maior.

8) Pequenas considerações sobre o elemento acidental culpa em sentido lato: esta é expressa através das expressões trazidas pelo art. 186 do CC/02: “ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência”, não é pressuposto geral da responsabilidade civil, pois há a responsabilidade objetiva prescinde desse elemento subjetivo.

A culpa não é um elemento essencial, mas sim acidental, visto que os elementos básicos da responsabilidade civil são: a conduta humana (positiva ou negativa), o dano ou prejuízo, e o nexo de causalidade.

9) Conduta Humana: a ação (ou omissão) humana voluntária é pressuposto necessário para a configuração da responsabilidade civil. Sem o condão da voluntariedade não há que se falar em ação humana, e, muito menos, em responsabilidade civil.

Não insere, no contexto de ‘voluntariedade’ o propósito ou a consciência do resultado danoso, ou seja, a deliberação ou a consciência de causar o prejuízo. Este é um elemento definidor do dolo. A voluntariedade pressuposta na culpa ampla é tão somente a consciência daquilo que se faz, não se exigindo a consciência subjetiva da ilicitude do ato.

Está presente tanto na responsabilidade subjetiva, respaldada na culpa, quanto na objetiva, respaldada na ideia de risco.

9.1) Classificação da conduta humana: a) Positiva: prática de um comportamento ativo. Ex.: dano causado pelo sujeito que, embriagado, arremessa

o seu veículo contra o muro do vizinho.

b Negativa: atuação omissiva ou negativa, geradora de dano.

O CC/02, além de disciplinar a responsabilidade civil por ato próprio, reconhece também espécies de responsabilidade civil indireta, por ato de terceiro ou por fato do animal e da coisa, que decorrem de omissões ligadas a deveres jurídicos de custódia, vigilância ou má eleição de representantes, cuja responsabilização é imposta por norma legal.

Obs.: quando se trata de responsabilidade civil de uma pessoa jurídica, sempre haverá, na atividade que gerou uma responsabilização, uma conduta humana ensejadora do dano.

9.2) Conduta humana e a ilicitude: poderá haver responsabilidade civil decorrente de conduta voluntária humana sem necessariamente haver antijuridicidade, ainda que excepcionalmente, por força de norma legal. Por isso não se pode dizer que a ilicitude acompanha necessariamente a ação humana danosa ensejadora da responsabilização.

Obs.: A regra é que toda conduta humana que acarrete responsabilidade civil deva ser ilícita, e a responsabilização civil por ato lícito, que é exceção, depende sempre de norma legal que a preveja.

Page 3: Direito Civil

10) Dano: indispensável a existência de dano ou prejuízo para a configuração da responsabilidade civil. Sem a ocorrência deste elemento não haveria o que indenizar, e, consequentemente, responsabilidade, seja contratual ou extracontratual, objetiva ou subjetiva..

10.1) Conceito: lesão a um interesse jurídico tutelado, patrimonial ou não, causado por ação ou omissão do sujeito infrator.

10.2) Requisitos do dano indenizável: em regra, todos os danos devem ser ressarcíveis, eis que, mesmo impossibilitada a determinação judicial de retorno ao status quo ante, sempre se poderá fixar uma importância em pecúnia, a título de compensação.

a) A violação de um interesse jurídico patrimonial ou extrapatrimonial de uma pessoa física ou jurídica: o dano deve ser real.

b) Certeza do dano: somente o dano certo, efetivo, é indenizável. Obs.: O fato de não se poder apresentar um critério preciso para a sua mensuração econômica não significa

que o dano não seja certo. Ex.: A imputação falsa do fato criminoso (calúnia) gera um dano certo à honra da vítima, ainda que não se possa definir, em termos precisos, quanto vale este sentimento de dignidade. Logo, o dano tem que ser certo quanto a sua existência.

c) Subsistência do dano ou dano atual: se o dano já foi reparado, perde-se o interesse da responsabilidade civil, pois o dano deve subsistir no momento de sua exigibilidade em juízo e não pode ser futoro. Logo o dano não pode ser pretérito nem futuro, mas sim ser certo no presente.

10.3) Espécies de dano: a) Material: lesão aos bens e direitos economicamente apreciáveis do seu titular. Divide-se em:I – Dano emergente: corresponde ao efetivo prejuízo experimentado pela vítima, ou seja, prejuízo desde logo

calculável pela vítima.II – Lucos cessantes: corresponde àquilo que a vítima deixou razoavelmente de lucrar por força do dano.Obs.: A compensação devida à vítima só deverá incluir os danos emergentes e os lucros cessantes diretos e

imediatos, ou seja, só se deverá indenizar o prejuízo que decorra diretamente da conduta ilícita (infracional) do devedor (art. 403, CC/02), excluídos os danos remotos.

b) Moral ou não-patrimonial: prejuízo ou lesão de direitos, cujo conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente redutível a dinheiro Ex.: direitos da personalidade, o direito à vida, à integridade física, à integridade psíquica e à integridade moral (honra, imagem e identidade).

O CC/02, no art. 186, dispôs que a indenização por ato ilícito é devida, ainda que o dano seja exclusivamente moral.

Obs.: O dano moral é aquele que atinge atributos pessoais da vítima, como sua imagem e honra. Logo sua quantificação é mais difícil. Busca-se, nesse caso, uma compensação por todo o sofrimento, dor, humilhação ou trauma que a vítima tenha passado em decorrência do fato. Tal compensação deverá, portanto, consistir em um valor justo, sendo que, o seu piso não seja um valor tão ínfimo que em nada altere a situação da vítima e do ofensor e seu teto não não gere enriquecimento da vítima nem o empobrecimento daquele que deve pagar. E o valor é decidido por arbítrio do juiz.

10.4) Dano reflexo ou em ricochete: prejuízo que atinge reflexamente pessoa próxima, ligada à vítima direta da atuação ilícita (ex.: Pai de família que é assassinado e que deixa filhos dependentes; os filhos sofreram dano reflexo). O dano também deve ser certo, de existência comprovada, para que haja reparação civil.

Obs.: O dano direto ou indireto se refere ao interesse juridicamente tutelado que tenha sido violado. Assim, uma difamação gera, teoricamente, um dano direto sobre a moral da vítima, mas pode gerar, indiretamente, danos patrimoniais pelo abalo de crédito. Deve-se notar, portanto, que o dano indireto não é o mesmo que o dano reflexo (Pablo Stolze), mas, Carlos Roberto disciplina que é a mesma coisa.

10.5) Danos coletivos, difusos e a interesses individuais coletivos: o conceito desses direitos estão no CDC (Lei nº. 8.078/90), art. 81, em que dispõe:

a) Direitos difusos: são transindividuais de natureza indivisível, cujos títulares são pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

b) Direitos coletivos: são transindividuais de natureza indivisível, cujos titulares podem ser um grupo, uma categoria ou uma classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

c) Direitos individuais homogêneos: são decorrentes de origem comum. Ex.: quando uma empresa vende determinado produto adulterado a várias pessoas espalhadas pelo país, em que mesmo diversos os negócios jurídicos de compra e venda, caracterizada estará a igualdade jurídica entre os contratos

Interesses Difusos Coletivos Indivíduais homogêneosDestinatários Indeterminados Determináveis DetermináveisNatureza Indivisível Indivisível Divisível

Page 4: Direito Civil

Elemento de ligação Situação de fato Relação jurídica base Situação de fatoInstrumento de defesa Ação Civil e Ação

PopularAção Civil Pública e Mandado de Segurança Coletivo

Ação Civil Coletiva

10.6) Formas de reparação de danos:a) Reposição natural: o bem é restituído ao estado em que se encontrava antes do fato danoso, o que nem

sempre é possível.Obs.: A reposição natural é o modo próprio de reparação do dano, mas não pode ser imposta à vítima, que

pode preferir receber dinheiro. Uma coisa danificada, por mais perfeito que seja o conserto, dificilmente voltará ao estado primitivo, logo, a indenização pecuniária pode ser exigida, concomitantemente com a reposição natural, se esta não satisfizer suficientemente o interesse do credor.

Se o devedor reparar o dano mediante reposição, o credor não pode exigir a substituição de coisa velha, por nova, a menos que o reparo não restabeleça efetivamente o estado anterior. Por outro lado, o devedor não pode ser compelido à restituição in natura, se só for possível mediante gasto desproporcional.

b) Indenização: se o autor do dano não pode restabelecer o estado efetivo da coisa que danificou, paga indenização correspondente a seu valor. A prestação de indenização se apresenta sob a forma de prestação pecuniária, e, às vezes, como objeto com valor pecuniário.

c) Compensação: ocorre no dano moral com o objetivo de possibilitar ao lesado uma satisfação compensatória pelo dano sofrido, atenuando, em parte, as consequências da lesão.

11) Dano moral:

11.1) Conceito: lesão de direitos cujo conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente redutível a dinheiro. É aquele que lesiona a esfera personalíssima da pessoa, violando, por exemplo, sua intimidade, vida privada, honra e imagem.

11.2) Espécies de dano moral:a) Direto: refere-se a uma lesão específica de um direito extrapatrimonial. Ex.: direito de imagem.b) Indireto: ocorre quando há uma lesão específica a um bem ou interesse de natureza patrimonial, mas que,

de modo reflexo, produz um prejuízo na esfera extrapatrimonial. Ex.: o furto de um bem com valor afetivo ou, no âmbito do direito do trabalho, o rebaixamento funcional ilícito do empregado, que, além do prejuízo financeiro, traz efeitos morais lesivos ao trabalhador.

Obs.: O dano moral indireto difere-se do dano moral em ricochete. No primeiro, tem-se uma violação a um direito da personalidade de um sujeito, em função de um dano material por ele mesmo sofrido; no segundo, tem-se um dano moral sofrido por um sujeito, em função de um dano material ou moral de que foi vítima um outro indivíduo, ligado a ele.

11.3) Reparabilidade do dano moral: apenas com o advento da CF/88, no art. 5º, incisos V e X, que o dano moral ficou expressamente devido. Ambos os incisos disciplinam respectivamente que é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem e são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo plano material ou moral decorrente de sua violação.

O lesado pode pleitear uma indenização pecuniária em razão de dano moral, sem pedir um preço para sua dor, mas um lenitivo que atenue, em parte, as consequências do prejuízo sofrido, melhorando seu futuro, superando o déficit acarretado pelo dano.

Obs.: Segundo Maria Helena Diniz, a prova da existência do dano moral não é impossível ou difícil, visto que, caso se trate de pessoas ligadas à vítima por vínculo de parentesco ou de amizade, há presunção juris tantum da existência de dano moral.

O ato, tomado como desonroso pelo ofendido, deve ser revestido de gravidade (ilicitude) capaz de gerar presunção de prejuízo e pequenos atos insignificantes e incapazes de ofender os bens jurídicos não podem ser motivo de processo judicial (Indústria do Dano Moral).

11.4) Natureza jurídica da reparação do dano moral: é sancionadora (como consequência de um ato ilícito), mas não se materializa através de uma “pena civil”, e sim por meio de uma compensação material ao lesado, sem prejuízo, obviamente, das outras funções acessórias da reparação civil. O dinheiro não desempenha função de equivalência, como no dano material, mas, sim, função satisfatória à vítima e desestímulo ao lesante.

11.5) Cumulatividade de reparações (danos morais, materiais e estéticos): reparação do dano patrimonial não exclui ou substitui a indenização pelos danos morais e vice-versa, mesmo que ambos decorram do mesmo fato. Disciplina a Súmula 37 do STJ que são cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato. E ainda, conforme a Súmula 387 do STJ que é lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

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Obs.: Dano estético é aquele que viola a imagem retrato do indivíduo, havendo respaldo constitucional para esta afirmação na previsão da garantia do “direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem” (art. 5º, V, CF/88).

Obs.: Parte da doutrina disciplina que o dano estético deve ser permanente, logo, se a vítima poder reparar o dano através de meios cirurgicos, etc, não é cabível. O que se difere do dano moral que deve ser temporário.

11.6) Dano moral e pessoa jurídica: a CF/88, no art. 5º, incisos V e X, não não apresentou qualquer restrição, devendo o direito abranger a todos, indistintamente, ou seja, o dano moral deve abarcar as pessoas naturais e pessoas jurídicas de direito público e privado.

11.7) Dano moral e Direitos difusos e coletivos: a Lei da Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85) estabelece expressamente a possibilidade de reparação por danos morais e patrimoniais a direitos difusos, ao preceituar em seu art. 1º, a responsabilização de ações que afetem negativamente ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer outro interesse difuso ou coletivo e por infração da ordem econômica.

Porém, Pablo Stolze, disciplina que o dano moral difuso tutelado pela previsão legal somente pode ser caracterizado como uma lesão ao direito de toda e qualquer pessoa, e que o dano moral em si só é cabível nas lesões na esfera extrapatrimonial de um indivíduo.

Obs.: Os danos morais disciplinados pela Lei da Ação Civil Pública são convertidos para fundos específicos de defesa de direitos difusos.

12) Nexo de causalidade: somente se pode responsabilizar alguém cujo comportamento deu causa ao prejuízo, ou seja, relação entre o fato e o dano, relação causa-efeito entre o fato lesivo (causa) e o dano (efeito).

12.1) Teorias explicativas do nexo de causalidade: a) Teoria da equivalência das condições (“conditio sine qua non”): não diferencia os antecedentes do

resultado danoso, de forma que tudo aquilo que concorra para o evento será considerado causa. É a teoria adotada pelo Código Penal brasileiro, no art. 13 do CP, que disciplina: “o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se a causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”.

Obs.: A crítica defende que considerar causa todo o antecedente que contribua para o desfecho danoso, a cadeia causal, poderia levar a sua investigação ao infinito.

b) Teoria da casualidade adequada: causa é o antecedente, não só necessário, mas, também adequado à produção do resultado. Logo, nem todas as condições serão causa, mas apenas aquela que for mais apropriada para produzir o evento. Percebe-se que é uma teoria limitada.

c) Teoria da causalidade direta ou imediata (teoria da interrupção do nexo causal ou teoria da causalidade necessária): causa é apenas o antecedente fático que, ligado por um vínculo de necessariedade ao resultado danoso, determina este último como uma consequência sua, direta e imediata.

12.2) Teoria adotada pelo CC/02: há dúvida doutrinária quanto ao assunto, mas as teorias que prevalecem são a letra “B” e “C” do tópico 10.1.

12.3) Causas concorrentes ou concorrências de culpa: ocorre quando a atuação da vítima também favorece a ocorrência do dano, somando-se ao comportamento causal do agente. A indenização deverá ser reduzida, na proporção da contribuição da vítima.

Obs.: Neste caso de culpa concorrente, cada um responderá pelo dano na proporção em que concorreu para o evento danoso, o que tem de ser pesado pelo órgão julgador quando da fixação da reparação, uma vez que somente há condenação pela existência da desproporcionalidade da culpa.

Discipiplina o art. 945 do CC/02 que “se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano”.

Obs.: Tal teoria não possui essa amplitude no CDC, visto que, de acordo com o seu art. 12, §3º, somente a culpa exclusiva da vítima tem o condão de excluir a responsabilidade do fornecedor.

12.4) Concausa: causa posterior que se junta à principal. A concausa não inicia nem interrompe o nexo causal, apenas o reforça concorrendo para o resultado junto com a causa principal.

Se esta segunda causa for absolutamente independente em relação à conduta do agente, quer seja preexistente, concomitante ou superveniente, o nexo causal originário estará rompido e o agente não poderá ser responsabilizado.

13) Causas excludentes de Responsabilidade Civil: são todas as circunstâncias que, por atacar um dos elementos ou pressupostos gerais da responsabilidade civil, rompem o nexo causal e terminam por extingir qualquer pretensão indenizatória.

Page 6: Direito Civil

Obs.: Também se aplica a responsabilidade objetiva, nos casos em que a excludente afasta os elementos essenciais da responsabilidade civil. Ex.: caso fortuito externo, evento de força maior, fato exclusivo da vítima,

a) Estado de necessidade: está previsto no art. 188 do CC/02, que o aduz como a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Logo, consiste na situação de agressão a um direito alheio, de valor jurídico igual ou inferior àquele que se pretende proteger, para remover perigo iminente, quando as circunstâncias do fato não autorizarem outra forma de atuação, portanto, não é um ato ilícito.

Além do mais, somente será considerado legítimo quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

Obs.: Difere-se da legítima defesa, pois no estado de necessidade, o agente não reage a uma situação injusta, mas atua para subtrair um direito seu ou de outrem de uma situação de perigo concreto.

Lê-se no art. 929 do CC/02, que se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso da ocorrência de estado de necessidade, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram. E ainda disciplina o art. 930, que se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado. Logo, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.

b) Legítima defesa: não é um ato ilícito e ocorre quando o indivíduo encontra-se diante de uma situação atual ou iminente de injusta agressão, dirigida a si ou a terceiro, que não é obrigado a suportar.

A legítima defesa real (art. 188, I, primeira parte, do NCC) pressupõe a reação proporcional a uma injusta agressão, atual ou iminente, utilizando-se moderadamente dos meios de defesa postos à disposição do ofendido. Mas, se o agente, exercendo a legítima defesa, atinge terceiro inocente, terá de indenizá-lo, cabendo-lhe, também, ação regressiva contra o verdadeiro agressor.

O art. 930 do CC/02 disciplina que se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado, também cabe a mesma ação em defesa de quem causou o dano.

A legítima defesa putativa não isenta o seu autor da obrigação de indenizar, pois essa espécie de legítima defesa não exclui o caráter ilícito da conduta, interferindo apenas na culpabilidade penal.

Obs.: Na legítima defesa putativa, o indivíduo imagina estar em legítima defesa, reagindo contra uma agressão inexistente.

c) Exercício regular de direito e estrito cumprimento do dever legal (art. 188, I, segunda parte): também não são ilícitos civis.

Se o agente atuar no exercício regular de um direito reconhecido, não poderá ser responsabilizado. Ex.: jogador que faz falta em outro, desde que não haja excesso. Bem como, se uma policial arrobar casa para cumprimento de uma ordem judicial, que é um caso de cumprimento de dever legal.

Obs.: A passagem forçada (art. 1285 do CC/02) é um exemplo de cumprimento do dever legal que gera responsabilização de indenizar.

Por outro lado, se o sujeito extrapola os limites racionais do lídimo exercício do seu direito, fala-se em abuso de direito, situação desautorizada pela ordem jurídica, que poderá repercutir inclusive na seara criminal (excesso punível). O abuso de direito está expresso no art. 187 do CC/02 que disciplina que “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestadamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.

Obs.: O Abuso de direito independe de culpa, logo, segue o critério objetivo-finalístico.

d) Caso fortuito e força maior: o CC/02 condensou o significado de ambos, conforme se depreende do art. 393, que disciplina: O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou de força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. E o caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não eram possível evitar ou impedir.

Na força maior, que pode ser caracterizado por uma atividade humana, conhece-se o motivo ou a causa que dá origem ao acontecimento, pois se trata de um fato de natureza previsível e inevitável (ex.: terremoto), já no caso fortuito, o acidente que acarreta o dano advém de causa imprevisível e evitável.

Obs.: O caso fortuíto se subdivide em externo, em que a responsabilidade é excluída porque a imprevisibilidade é absoluta, e o interno, em que a responsabilidade não é excluída porque a imprevisibilidade é relativa.

e) Culpa exclusiva da vítima: também quebra o nexo de causalidade, eximindo o agente da responsabilidade civil.

Mas note-se que somente se houver atuação exclusiva da vítima haverá quebra do nexo causal. Como vimos linhas acima, havendo concorrência de culpas (ou causas) a indenização deverá, como regra geral, ser mitigada, na proporção da atuação de cada sujeito.

f) Fato de terceiro: comportamento de um terceiro, por óbvio que não seja do agente do dano e da vítima, do qual rompa o nexo causal, excluindo a responsabilidade civil.

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Porém, a Súmula 187 do Supremo Tribunal Federal disciplina que a responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é ilidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva. O fundamento desse entendimento sumulado é claro na medida em que a obrigação do transportador é de resultado, compreensiva de inafastável cláusula de segurança, mesmo que esta não esteja expressamente prevista no contrato. Por isso, deverá indenizar a vítima, sem prejuízo de eventual direito de regresso.

Obs.: O agente causador do dano é apenas um instrumento da ação culposa de terceiro.

14) Cláusula de não indenizar: é uma excludente de responsabilidade que somente se aplica a responsabilidade civil contratual, logo, trata-se de convenção por meio da qual as partes excluem o dever de indenizar, em caso de inadimplemento da obrigação.

Não é aplicada nas cláusulas que impossibilite, exonere ou atenue a responsabilidade civil do fornecedor, devido à vulnerabilidade do consumidor.

Essa cláusula só deve ser admitida quando as partes envolvidas guardarem entre si uma relação de igualdade, de forma que a exclusão do direito à reparação não traduza renúncia da parte economicamente mais fraca.

Obs.: Exige a bilateralidade e não pode ofnder a lei e os bons costumes.

15) Responsabilidade Civil Subjetiva e a Noção de Culpa: a responsabilidade subjetiva existe a partir do momento que um ilícito decorrer da conduta, causar dano, for estabelecido o nexo causal e for caracterizada a culpa (em sentido amplo), que deriva da inobservância de um dever de conduta, previamente imposto pela ordem jurídica, em atenção à paz social. Se esta violação é proposital, atuou o agente com dolo; se decorreu de negligência, imprudência ou imperícia, a sua atuação é apenas culposa, em sentido estrito.

15.1) Elementos da culpa em sentido amplo: a) Voluntariedade do comportamento do agente: a atuação do sujeito causador do dano deve ser voluntária,

para que se possa reconhecer a culpabilidade.Se houver vontade direcionada à consecução do resultado proposto, a situação reveste-se de maior gravidade,

caracterizando o dolo. Na culpa em sentido estrito, por sua vez, sob qualquer das suas três formas de manifestação (negligência, imprudência ou imperícia), o dano resulta da violação de um dever de cuidado, sem que o agente tenha a vontade posicionada no sentido da realização do dano.

b) Previsibilidade: só se pode apontar a culpa se o prejuízo causado, vedado pelo direito, era previsível. Escapando-se do campo da previsibilidade, ingressamos na seara do fortuito que pode interferir no nexo de causalidade, eximindo o agente da obrigação de indenizar.

c) Violação de um dever de cuidado: a culpa implica a violação de um dever de cuidado. Se esta inobservância é intencional, como visto, temos o dolo.

15.2) Graus e formas de manifestação da culpa em sentido estrito (negligência, imprudência e imperícia): a) Culpa grave: embora não intencional, o comportamento do agente demonstra que o mesmo atuou como se

tivesse querido o prejuízo causado à vítima.

b) Culpa leve: é a falta de diligência média que um homem normal observa em sua conduta.

c) Culpa levíssima: trata-se da falta cometida por força de uma conduta que escaparia ao padrão médio, mas que um diligentíssimo pai de família, especialmente cuidadoso e atento, guardaria.

Obs.: No Direito Civil, a sanção não está adstrita ou condicionada ao elemento psicológico da ação, mas, sim, à extensão do dano. Para efeito de indenizar, portanto, não se distingue o dolo da culpa leve, por exemplo.

15.2.1) Manifestação da culpa estrita:a) Negligência: é a falta de observância do dever de cuidado, por omissão.b) Imprudência: é a falta de observância do dever de cuidado, por ação, afoiteza.c) Imperícia: decorre da falta de aptidão ou habilidade específica para a realização de uma atividade técnica

ou científica.

15.3) Espécies de culpa quanto ao modo em que se apresentam:a) Culpa in vigilando: é a que decorre da falta de vigilância, de fiscalização, em face da conduta de terceiro

por quem nos responsabilizamos. b) Culpa in eligendo: decorre da má escolha. Ex.: a culpa atribuída ao patrão por ato danoso do empregado

ou do comitente. c) Culpa in custodiendo: decorre da guarda de coisas ou animais, sob custódia.d) Culpa in comittendo ou culpa in faciendo: quando o agente realiza um ato positivo, violando um dever

jurídico.e) Culpa in omittendo, culpa in negligendo ou culpa in non faciendo: quando o agente realiza uma abstenção

culposa, negligenciando um dever de cuidado.

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f) Culpa in contrahendo: incorre o agente na fase anterior à elaboração de um contrato (fase de pontuação ou de puntação).

obs.: Essas espécies de culpa perderam força, tendo em vista a ampliação da responsabilidade objetiva.

16) Responsabilidade Civil Objetiva: para que haja a responsabilização objetiva, é necessário a conduta humana voluntária, o dano e o nexo causal. Conforme se depreende do art. 927 do CC/02, pu, a culpa é dispensável.

Hipóteses de responsabilidade objetiva:a) Quando houver abuso de direito (art. 187 do CC/02).b) Nos casos especificados em lei (art. 927, pu).c) Casos descritos no art. 932 e seus incisos.d) Quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para

os direitos de outrem (art. 927, pu): o conceito de atividade de risco é um termo amplo, logo, somente poderá ser balizado jurisprudencialmente, com a análise dos casos concretos submetidos à apreciação judicial.

Obs.: A teoria do risco se justifica desde que haja proveito para o agente causador do dano. Por isso que o motorista comum não se aplica a essa regra.

17) Responsabilidade Civil decorrente de crime:

17.1) Jurisdição civil X Jurisdição penal: conforme disciplina o art. 935 do CC/02, a responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. Logo, apenas estes dois fundamentos da sentença penal absolutória têm o condão de prejudicar definitivamente a reparação civil ou fazer coisa julgada no esfera cívil, que é a inexistência material do fato e a negativa de autoria.

Obs.: Não faz coisa julgada no cível, a sentença penal absolutória que afirmar que o réu não concorreu para a infração penal, que concluir pela inexistência de prova da autoria e se tal sentença tiver por fundamento a atipicidade da conduta.

Observa-se então a relativa independência entre os juízos civil e criminal, na medida em que se proíbe a rediscussão da materialidade do fato ou de sua autoria, se tais questões já estiverem decididas no juízo criminal. No mesmo sentido, o CPP, no seu art. 64, disciplina que a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for o caso, contra o responsável civil. Já o art. 65 do mesmo diploma aduz que faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito.

Outras causas de absolvição no Juízo Criminal, todavia, como a falta de provas ou a prescrição, não têm o condão de prejudicar o trâmite da demanda cível.

17.2) Efeitos civis da sentença penal condenatória - a execução civil da sentença penal e ação civil “ex delicto”: estabelece o art. 91, I, do CP, que o efeito da sentença penal condenatória torna certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime. A vítima ou seus sucessores buscam esse ressarcimento por meio da ação civil ex delicto. Tal ação está disciplinada no art. 63 do CPP, que aduz ainda que transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.

Obs.: O reflexo da sentença condenatória faz coisa julgada no juízo cível quando já se decidiu sobre a existência do fato e do autor, sendo que a senteça é um título executivo judicial líquido, certo e exigível, logo cria a obrigação de indenizar.

Não só a ação ex delicto que visa a responsabilização civil do réu, visto que também é possível intentar diretamente a execução da sentença penal já transitada em julgado.

Aliás, a preocupação com o sujeito passivo do crime é verificada na própria Carta da República, quando determina, em seu art. 245, que a legislação ordinária deverá dispor sobre as hipóteses e condições em que o Poder Público dará assistência aos herdeiros e dependentes carentes de pessoas vitimadas por crime doloso, sem prejuízo da responsabilidade civil do autor do ilícito.

No aspecto passivo, tem legitimidade para figurar como réu na ação civil apenas o autor do crime ou o seu responsável civil, lembrando-se que, por princípio constitucional, os seus herdeiros não poderão ser compelidos a indenizar a vítima (“a pena não poderá passar da pessoa do criminoso”).

Quanto à prescrição da ação civil ex delicto, disciplina o art. 200, do CC/02, que quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.

18) Responsabilidade Civil por Ato de Terceiro (responsabilidade civil indireta): o CC/02 adotou a responsabilidade objetiva quanto a responsabilidade de terceiro, logo, independe da presunção de culpa. É isso que se depreende do art. 933, que disciplina: as pessoas indicadas nos incisos do art. 932, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

Obs.: A responsabilidade por fato de terceiro é excepcional.A responsabilidade existente entre as pessoas descritas no art. 932 é solidaria passiva, visto que permite à

vítima exigir a reparação civil diretamente do responsável legal. Cumprida a obrigação, caberá ao pagador direito

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de regresso contra a pessoa por quem se responsabilizou, ressalvada a hipótese de ser seu descendente, absoluta ou relativamente incapaz (art. 934 do CC-02). Logo, observa-se que não há direito de regresso por fato próprio.

SUPER OBSERVAÇÂO: João Adilson e parte da doutrina que ainda vive no mundo do CC/16 pensam que a responsabilidade por fato de terceiro pode ser justificada sob o fundamento da culpa presumida, que recai sobre algumas pessoas ainda que estas não tenham concorrido diretamente para a ocorrência do resultado. Ex.: responsabilidade dos pais pelos filhos sob sua autoridade em companhia que são responsabilizados devido aos seus deveres de prestar assistência materia, moral e vigilância.

Na culpa presumida não é necessário produzir provas, visto que a presunção é uma forma de prova. Ex.: o art. 932 do CC/02 ao impor a responsabilidade dos pais, presume a culpa deles, visto que não vigiaram ou não cuidaram direito do filho.

18.1) Responsabilidade civil dos pais pelos filhos menores: são responsáveis pela reparação civil, os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. Disciplina o enunciado 450 da Jornada de Direito Civil que a responsabilidade dos pais pelos atos danosos dos filhos é objetiva e solidária, ainda que estejam separados, ressalvado o direito de regresso em caso de culpa exclusiva de um dos genitores.

Obs.: Parte da jurisprudência disciplina que os pais são solidariamente responsáveis pela reparação civil de ato ilícito praticado pelo filho menor. No entanto, estando este sob a guarda materna, por exemplo, o pai é parte ilegítima para responder à ação. Para que subsista a responsabilidade dos pais pelos atos lesivos dos filhos, é indispensável que os tenham sob seu poder e em sua companhia.

Porém, o art. 928 aduz que o incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes, sendo que a indenização deve ser equitativa, e não será cabível se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

Obs.: Ainda que o filho menor púbere seja emancipado, o pai, não obstante, é responsável pela reparação.

18.2) Responsabilidade civil dos tutores e curadores pelos tutelados e curatelados: o tutor é um múnus público que atua como representante legal do menor cujos pais sejam falecidos, declarados ausentes ou destituídos do poder familiar.

A curatela também é um múnus público que se dirige à proteção de enfermos ou deficientes mentais, que não tenham o necessário discernimento para a prática de atos da vida civil, a pessoas que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade (a surdo-mudez completa, por exemplo), aos deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos, aos excepcionais sem desenvolvimento mental completo e aos pródigos.

Obs.: A curatela não apenas visa à proteção de maiores, mas, também, poderá ser deferida para a salvaguarda de interesses do nascituro.

Também aplica o disposto no art. 928 do CC/02 a responsabilidade de tutores e curadores. Assim, causado o dano, se o curador não tiver a obrigação de ressarcir (imagine uma situação em que o louco tenha causado danos antes da designação formal do curador) ou não dispuser de condições para fazê-lo (for pobre), o patrimônio do amental poderá ser atingido para a satisfação da vítima, preservada uma renda mínima para a sua própria mantença ou das pessoas que de si dependam economicamente (sua filhinha, por exemplo).

Portanto, tanto o tutor quanto o curador, nos termos do art. 933, responderão pelo dano independentemente da existência de culpa (responsabilidade civil objetiva), resguardado o direito de regresso, nos termos do art. 934.

18.3) Responsabilidade civil do empregador ou comitente pelos atos dos seus empregados, serviçais ou prepostos, praticados no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele: tal responsabilidade se justifica pelo poder diretivo e pelo vínculo de subordinação.

Para que haja responsabilização do empregador ou comitente, é necessário que o ato ilícito feito pelo empregado ou pelo preposto tenha sido executado ou praticado no exercício do trabalho subordinado, caso em que o patrão responderá em regra, mesmo que não tenha ordenado ou até mesmo proibido o ato.

Obs.: Preposto é todo indivíduo que pratica atos materiais por conta e sob a direção do comitente, que é beneficiário da atividade executada pelo preposto.

Disciplina a Súmula 341 do STF que é presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto.

Para que haja responsabilidade do empregador por ato do preposto, é necessário que concorram três requisitos, cuja prova incumbe ao lesado: qualidade de empregado, serviçal ou preposto, do causador do dano, conduta culposa e que o ato lesivo tenha sido praticado no exercício da função que lhe competia, ou em razão dela.

Se o ato ilícito foi praticado fora do exercício das funções e em horário incompatível com o trabalho, não acarreta a responsabilidade do empregador, além disso, este também não é responsável pelo dano se a vítima sabia que o preposto procedia fora de suas funções. Da mesma forma, se o lesado age de forma precipitada, sem observar as cautelas normais no seu relacionamento com o preposto.

18.4) Responsabilidade civil dos donos de hotéis, hospedarias e estabelecimentos educacionais por ato dos seus hóspedes, moradores e educandos: é necessário a análise do caso concreto para se averiguar a atuação do dono de hotel, por exemplo, em relação a dano causado por outro hóspede.

Disciplina ainda Venosa que enquanto o aluno se encontra no estabelecimento de ensino e sob sua responsabilidade, este é responsável não somente pela incolumidade física do educando, como também pelos atos

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ilícitos praticados por este a terceiros. Há um dever de vigilância e incolumidade inerente ao estabelecimento de educação que decorre da responsabilidade objetiva do Código de Defesa do Consumidor. O aluno é consumidor do fornecedor de serviços, que é a instituição educacional. Se o agente sofre prejuízo físico ou moral decorrente da atividade no interior do estabelecimento ou em razão dele, este é responsável.

Tal responsabilidade civil, portanto, poderá decorrer de danos causados a terceiros ou, até mesmo, aos outros alunos, devendo-se registrar que, em se tratando de escola pública, a obrigação de indenizar é do Estado.

Em se tratando de educandos maiores, nenhuma responsabilidade cabe ao educador ou professor, pois é natural pensar que somente ao menor é que se dirige essa responsabilidade, porquanto o maior não pode estar sujeito à mesma vigilância que se faz necessária a uma pessoa menor.

18.5) Responsabilidade civil pelo produto de crime: disciplina o art. 932, V, do CC/02, que os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia são responsabilizados a reparar civilmente.

Tem como princípio tal inciso a repetição de indevido, pois não é admitido o enriquecimento espúrio decorrente da prática de crime.

Obs.: A responsabilidade é solidária aos beneficiários.

18.6) Responsabilidade civil de pessoas jurídicas de direito público e de direito privado: as pessoas jurídicas respondem, com seu patrimônio, por todos os atos ilícitos que praticados através de seus representantes.

Obs.: Do ponto de vista da responsabilidade civil, inexiste, inclusive, qualquer distinção efetiva entre os entes de existência física para os de existência ideal. Assim, independentemente da natureza da pessoa jurídica (direito público ou privado), estabelecido um negócio jurídico com a observância dos limites determinados pela lei ou estatuto, com deliberação do órgão competente e/ou realização pelo legítimo representante, deve ela cumprir o quanto pactuado, respondendo, com seu patrimônio, pelo eventual inadimplemento contratual.

Para as pessoas jurídicas de direito privado, disciplina o art. 931 que ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação. Logo, depreende-se que há responsabilidade objetiva.

Obs.:Conforme o enunciado 378 da Jornada de Direito Civil, o art. 931 se aplica tanto nas relações de consumo quanto nas relações econômicas civis.

19) Responsabilidade civil pelo fato da coisa e do animal: o responsável pela reparação do dano proveniente da coisa ou do animal é o seu “guardião”, que pode ser o proprietário (guardião presuntivo), o possuidor ou o mero detentor do bem, desde que, no momento do fato, detivesse o seu poder de comando ou direção intelectual.

Obs.: Essa responsabilidade não exige necessariamente perquirição de culpa, visto que o guardião poderá ser chamado à responsabilidade, mesmo que não atuou com culpa ou dolo, mas pelo simples fato de ter exposto a vítima a uma situação de risco.

19.1) Tratamento legal:

19.1.1) Responsabilidade civil pela guarda do animal: a responsabilidade do guardião é objetiva, logo, independe da aferição de culpa.

Disciplina o art. 936 que o dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. Partindo da teoria do risco, o guardião somente se eximirá se provar quebra do nexo causal em decorrência da culpa exclusiva da vítima ou evento de força maior, não importando a investigação de sua culpa.

19.1.2) Responsabilidade civil pela ruína de edifício ou construção: disciplina o art. 937 do CC/02 que o dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.

Para Stolze, tal responsabilidade é objetiva para o dono do edifício ou construção. Logo, se, por exemplo, a construção do imóvel alugado desmorona, óbvio que responderá o seu proprietário, podendo assistir-lhe uma eventual ação regressiva, no caso de culpa do locatário.

Obs.: A “ruína” do edifício ou construção pode significar a sua destruição tanto total quanto parcial. A jurisprudência, aliás, tem sido maleável ao interpretar esse conceito, admitindo a subsunção nessa categoria de hipóteses tais como: desprendimento de revestimentos de parede, queda de telhas e de vidros, soltura de placas de concreto etc.

O proprietário somente se eximirá se provar a quebra do nexo causal por uma das excludentes de responsabilidade, como, por exemplo, evento fortuito ou de força maior ou, ainda, culpa exclusiva da vítima.

A doutrina disciplina que o dono do edifício ou construção responde pelos danos provenientes da falta de reparos necessários, não se considerando isenção de responsabilidade a demonstração de haver atuado com a diligência e o cuidado devidos.

SUPER OBSERVAÇÃO: João Adilson e sua doutrina única disciplina que é subjetiva a responsabilidade do proprietário.

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19.1.3) Responsabilidade civil pelas coisas caídas de edifícios: disciplina o art. 938 que aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. A responsabilidade pelas coisas caídas ou lançadas não é necessariamente do proprietário da construção, mas sim do seu habitante, atingindo, dessa forma, também, o mero possuidor (locatário, comodatário, usufrutuário etc.).

É uma responsabilidade objetiva, visto que independe da comprovação de culpa.

19.1.4) Colocações importantes: a) A alienação do veículo, sem que a imediata regularização da transferência no respectivo DETRAN, não

responsabiliza o antigo proprietário por eventuais danos causados a terceiros pelo novo condutor.b) Conforme claramente de vê na Súmula 132 do STJ, a ausência de registro da transferência não implica a

responsabilidade do antigo proprietário por dano resultante de acidente que envolva o veículo alienado.c) O proprietário não é responsável em caso de dano proveniente de veículo furtado ou roubado, salve se

facilitou para que isso ocorresse.d) O dono do automóvel responde pelo dano causado a terceiro, em colisão culposa, mesmo quando o carro

tenha sido utilizado por preposto fora de seu trabalho.e) No contrato de ‘leasing’ inexiste responsabilidade solidária da empresa arrendante pela má utilização do

objeto pela arrendatária ou seu preposto. Em se tratando de acidente automobilístico, não é o domínio que enseja a responsabilidade civil, mas sim a posse do veículo, mesmo porque em termos de ato ilícito, o que tem relevo é a conduta do agente; posicionamento diferente, quanto às empresas que alugam automóveis.