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TEXTO DE APOIO DIDÁTICO - UNIDADE 2 DIREITO AMBIENTAL E ÉTICA PROFISSIONAL DIREITO AMBIENTAL 1. CONCEITOS DE MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL 1.1. Conceito de Meio Ambiente: a) O termo Meio Ambiente envolve todas as coisas vivas e não vivas que ocorrem na Terra ou em alguma região dela, e que afetam os ecossistemas e a vida dos humanos. O meio ambiente pode ter diversos conceitos, que são identificados por seus componentes. Na Ecologia, o meio ambiente é o panorama animado ou inanimado onde se desenvolve a vida de um organismo. No meio ambiente existem vários fatores externos que têm uma influência no organismo. A Ecologia tem como objeto de estudo as relações entre os organismos e o ambiente envolvente. Meio ambiente é um conjunto de unidades ecológicas que funcionam como um sistema natural, e incluem toda a vegetação, animais, microrganismos, solo, rochas, atmosfera e fenômenos naturais que podem ocorrer em seus limites. Meio ambiente também compreende recursos e fenômenos físicos como ar, água e clima, assim como energia, radiação, descarga elétrica, e magnetismo. b) Para a Organização das Nações Unidas (ONU), Meio Ambiente é o conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas. c) Meio Ambiente: circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo-se ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter- relações. Neste contexto, circunvizinhança estende-se do interior de uma organização para o sistema global. Entende-se por organização a empresa, corporação, firma, empreendimento, autoridade ou instituição, bem como parte ou combinação desses, incorporada ou não, pública ou privada, que tenha funções e administração próprias. d) Meio ambiente: conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. 1.2. Conceito de Direito Ambiental: a) Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute as questões e os problemas ambientais e sua relação com o ser humano, tendo por

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CONCEITOS DE MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL

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Page 1: Direito Ambiental

TEXTO DE APOIO DIDÁTICO - UNIDADE 2

DIREITO AMBIENTAL E ÉTICA PROFISSIONAL

DIREITO AMBIENTAL

1. CONCEITOS DE MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL

1.1. Conceito de Meio Ambiente:

a) O termo Meio Ambiente envolve todas as coisas vivas e não vivas que ocorrem na Terra ou em alguma região dela, e que afetam os ecossistemas e a vida dos humanos. O meio ambiente pode ter diversos conceitos, que são identificados por seus componentes.

Na Ecologia, o meio ambiente é o panorama animado ou inanimado onde se desenvolve a vida de um organismo. No meio ambiente existem vários fatores externos que têm uma influência no organismo. A Ecologia tem como objeto de estudo as relações entre os organismos e o ambiente envolvente.

Meio ambiente é um conjunto de unidades ecológicas que funcionam como um sistema natural, e incluem toda a vegetação, animais, microrganismos, solo, rochas, atmosfera e fenômenos naturais que podem ocorrer em seus limites. Meio ambiente também compreende recursos e fenômenos físicos  como ar, água e clima, assim como energia, radiação, descarga elétrica, e magnetismo.

b) Para a Organização das Nações Unidas (ONU), Meio Ambiente é o conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas.

c) Meio Ambiente: circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo-se ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações. Neste contexto, circunvizinhança estende-se do interior de uma organização para o sistema global.

Entende-se por organização a empresa, corporação, firma, empreendimento, autoridade ou instituição, bem como parte ou combinação desses, incorporada ou não, pública ou privada, que tenha funções e administração próprias.

d) Meio ambiente: conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

1.2. Conceito de Direito Ambiental:

a) Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute as questões e os problemas ambientais e sua relação com o ser humano, tendo por finalidade a proteção do meio ambiente e a melhoria das condições de vida no planeta.

b) O Direito Ambiental é o complexo de princípios e normas coercitivas reguladoras das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando à sua sustentabilidade para as presentes e futuras gerações.

c) O Direito Ambiental vem a ser um ramo do direito difuso, ou de terceira geração, já que os interesses defendidos por esse ramo do Direito não pertencem à categoria de interesse público (Direito Público) nem de interesse (Direito Privado). Daí os interesses difusos, cuja proteção não cabe a um titular exclusivo, mas à toda a coletividade e a cada um de seus membros.

d) Direito Ambiental é um ramo do Direito que estuda as relações jurídicas ambientais, observando a natureza constitucional, difusa e transindividual dos direitos e interesses ambientais, buscando a sua proteção e efetividade.

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Vale dizer que Direito difuso ou transindividual é todo aquele que protege interesses que vão além dos individuais e atingem um número indeterminado ou indeterminável de indivíduos. Tais interesses tocam os indivíduos sem, necessariamente, exigir que os mesmos pertençam a grupos ou categoria determinada. Trata-se, por isso mesmo, de um direito difuso, espalhado pela sociedade, do qual todos são titulares.

e) O Direito ao meio ambiente saudável é também considerado como um direito constitucional fundamental. “O direito do meio ambiente é um direito a que correspondem obrigações, mas, sendo direito de terceira geração e não um direito social, diferencia-se deste no momento em que as obrigações que lhe são correspondentes não são apenas deveres públicos de fazer (ou deveres do Estado), mas também deveres dos próprios particulares, titulares do direito”.

f) “Esse Direito-dever, da categoria Direito difuso, difere ainda dos direitos de gerações anteriores, na medida em que não nasce de uma relação contratual nem de um status, como o de ser cidadão de determinado Estado. Nasce da valorização do ser humano neste final de século XX, através da evolução dos direitos diante da ampliação da proteção de âmbitos de vivência (condições de vida) da pessoa, anteriormente não protegidos ou não privilegiados pelo Direito”.

2. ALCANCE DO DIREITO AMBIENTAL

a) O Direito Ambiental atua na esfera preventiva (administrativa), reparatória (civil) e repressiva (penal). Compete ao Poder Executivo, na esfera preventiva, estabelecer medidas preventivas de controle das atividades causadoras de significativa poluição, conceder o licenciamento ambiental, exigir o estudo prévio de impacto ambiental e seu respectivo relatório (EIA/RIMA), fiscalizar essas atividades poluidoras, dentre outras responsabilidades.

b) Compete ao Poder Legislativo, ainda na esfera preventiva, elaborar normas ambientais, exercer o controle dos atos administrativos do Poder Executivo, aprovar o orçamento das agências ambientais, dentre outras atribuições.

c) Compete ao Poder Judiciário, na esfera reparatória e repressiva, julgar as ações civis públicas e as ações penais públicas ambientais, exercer o controle da constitucionalidade das normas elaboradas pelos demais poderes, dentre outras obrigações.

d) Compete ao Ministério Público, por fim, na esfera reparatória e repressiva, firmar Termo de Ajuste de Condutas (TAC), instaurar inquérito civil e propor ações civis públicas e ações penais públicas ambientais. Note-se que o Ministério Público não é o único ente institucional legitimado a propor ação civil pública.

3. BEM COMUM E BEM AMBIENTAL

3.1. Conceito de Bem Comum

a) Uma imagem clássica e clara para a compreensão do conceito de bem comum pode ser encontrada na antiguidade, na obra do filósofo grego Parmênides, que viveu entre o V e o IV século a.C. Parmênides afirma que o “Ser” se apresenta ao mesmo tempo Uno (Todo ou Universal) e Múltiplo (Partes ou Particulares). Por exemplo, em qualquer organismo vivo uma célula é um todo em si mesma, mas contém partes menores que a integram. Um órgão vital é um todo em si, mas parte de um ser maior: o corpo humano.

O próprio homem, dotado de vida física, psíquica e espiritual, é um ser completo, uma unidade ou individualidade que não está só, mas convive com outros homens e mulheres e com eles forma outras entidades ou unidades, que podem ser uma comunidade (singular) ou uma coletividade (a sociedade em geral). É um ser para outros seres. Portanto, as células, os órgãos e os seres são partes inseridas num todo mais amplo, num Universo, como as sociedades dos povos (o universo político) e o conjunto de planetas (o universo planetário ou galáctico).

Entre o Uno e o Múltiplo subsiste uma relação de complementaridade, uma dialética de vida, pela qual as duas entidades convivem em estado natural – e não podem deixar de conviver, sob pena de perecimento do ser (a falência de um órgão faz o corpo perecer). Assim, o todo tem deveres para com as partes (justiça

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distributiva), e as partes em relação ao todo (justiça social), bem como as partes têm deveres entre si (justiça comutativa), e ambas têm, reciprocamente, direitos, conforme a teoria aristotélica sobre a Justiça.

Além disso, o bem comum se identifica com o bem supremo, bem geral, bem de todos, interesse público e expressões correlatas. Está contraposto aos bens das partes, ou seja, bens ou interesses particulares, sem os anular, pois um dos fins últimos do bem comum é garantir a cada um a sua perfeição para servir a comunidade.

b) Bem comum e bens particulares: O bem comum, antes de tudo, contempla o bem supremo das comunidades, o fim mais elevado para o qual tendem as ações sociais do homem, tornando-se critério de elaboração de leis justas. Outra questão muito importante a ser considerada é a de que o bem comum não é a soma dos bens particulares.

Segundo Jacques Maritain em: “A pessoa e o bem comum”, ele não é sequer “a simples coleção dos bens privados, nem o bem próprio de um todo, que somente diz respeito a si próprio e sacrifica as partes em seu proveito. O bem comum da cidade é sua comunhão no bem-viver; é, pois, comum ao todo e às partes, sobre as quais ele transborda e as quais devem tirar proveito dele”.

c) Bem comum é uma expressão que possui conceitos em muitas áreas do conhecimento humano, mas que se assemelham entre si. De um modo geral, define os benefícios que podem ser compartilhados por várias pessoas, pertencentes a um determinado grupo ou comunidade. 

d) O bem comum na Filosofia está relacionado com o ideal de progresso que todas as sociedades e nações do mundo devem alcançar: a igualdade social e econômica, onde todos possam ter melhores condições de vida. 

Assim como na ideia filosófica, que aliás é usada como base para empregar o conceito em outros ramos do conhecimento, o bem comum é definido a partir dos interesses públicos, ou seja, tudo que seja pertinente ao usufruto ou que beneficie uma sociedade como um todo. 

e) O bem comum busca a felicidade natural, sendo portanto, o valor político por excelência, sempre, porém, subordinado à moral. O bem comum se distingue do bem individual e do bem público. Enquanto o bem público é um bem de todos por estarem unidos, o bem comum é dos indivíduos por serem membros de um Estado; trata-se de um valor comum que os indivíduos podem perseguir somente em conjunto, na concórdia.

Além disso, com relação ao bem individual, o bem comum não é um simples somatório destes bens; não é tampouco a negação deles; ele coloca-se unicamente como sua própria verdade ou síntese harmoniosa, tendo como ponto de partida a distinção entre indivíduo, subordinado à comunidade, e a pessoa que permanece o verdadeiro e último fim.  

3.2. Conceito de Bem Ambiental

a) Os bens jurídicos ocupam um lugar central tanto no Direito Privado, como no Direito Público. No primeiro temos os bens existentes no patrimônio de pessoa física ou pessoa jurídica de Direito Privado, regulados pelo Direito Civil. De outro lado, temos os bens públicos que tem como titulares pessoas jurídicas de direito público e que são regulados pelo Direito Administrativo. Os bens civis atendem ao interesse privado e os bens públicos orientam-se pelo interesse público. Há espécies de bens, como a vida, que são tutelados pelo Direito Penal, que é um Direito Público.

b) O bem ambiental é aquele de interesse difuso, indispensável à manutenção da qualidade ambiental. Sobrepõe-se à natureza jurídica pública ou privada que um bem possa ter. Os titulares da posse ou propriedade do bem ambiental devem ser ao mesmo tempo o poder público e a sociedade civil. Na verdade, pode-se ter bem privado de interesse difuso e bem público de interesse difuso. Segue abaixo um quadro com os diversos tipos de bens e as áreas do Direito a eles relacionadas.

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Geração de Direitos Características Ramos do Direito

Aplicáveis Exemplos

1ª Geração Individuais, civis, políticos e penais

Direito Constitucional, Civil

e Penal

Habeas corpus, direito ao nome, direito ao voto

2ª Geração Coletivos, sociais e econômicos

Direito do Trabalho e Previdenciário

Direito ao salário, férias, 13º salário e demais direitos

trabalhistas

3ª Geração Transindividuais e difusos

Direito Ambiental e do Consumidor

Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e a produtos de qualidade