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DIRECÇÃO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DO ALENTEJO
ÉVORA, JUNHO 2011
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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ficha técnica
Conselho de Redacção Editor:
José Verdasca
Conselho Editorial: Carlos Calhau, Alexandre Pires, António Alves, Elsa Teigão,
José Simão, Luís Orvalho, Margarida Félix, Sandra Santos, Manuel Cabeça, Inácio Santos,
Maria Davide, Fátima Leite, Lurdes Nico, Paulo Carreiro
Equipa de Redacção: M.ª Fátima Carvalho
Assessoria de Redacção: Ana Cristina Guerreiro
Maria Celeste Guerreiro
Design Gráfico: M.ª Fátima Carvalho
Colaboraram neste número: Ana Lampreia Ramos Ana Rute Sanguinho
Jorge Mangerona José L. C. Verdasca Lurdes Pratas Nico
M.ª da Conceição F.R. de Matos Maria Mário Murteira
Sílvia Ferreira DSAPOE
DSPGR EAE-Alentejo Norte
Escola Sec. Gabriel Pereira
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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Pág.
Ficha Técnica 01
Estatuto Editorial 03
Nota de Apresentação 04
Estudos e Reflexões 05
A Escola a Tempo Inteiro, José L. C. Verdasca
06
Por uma Escola Inclusiva, Sílvia Ferreira
08
Intervenção Precoce na Infância: Breve Caracterização da Eli de Portalegre, Ana Rute Sanguinho
14
Universalização da Educação Pré-Escolar, José L. C. Verdasca
27
Expansão do Ensino Secundário, José L. C. Verdasca
29
Funções e Tipologias da Avaliação das Aprendizagens - Análise no Ensino Secundário, Maria da Conceição F.R. de Matos
31
Avaliação Externa dos Alunos no Distrito de Portalegre, Equipa de Apoio às Escolas do Alentejo Norte & Jorge Mangerona
44
Literacia e Cidadania, Lurdes Pratas Nico
53
O Papel da Animação Sociocultural na Educação Artística, Ana Lampreia Ramos
59
Projectos e Intercâmbios Escolares
66
A Semente Lançada, Escola Secundária Gabriel Pereira
67
Kiitos - Projecto de Iniciação à Língua Inglesa e Orientação Musical no Pré-Escolar, Município de Ponte de Sor
69
Projecto Alcokart, GARE, Associação para a Promoção de uma Cultura de Segurança Rodoviária
71
Repositório de Notícias
75
Conferência Comenius Regio: “Creating European Networks Of Regions”, Bordéus, Maria Mário Murteira
76
Formação Co-Financiada na Área da Formação em Língua Portuguesa Para Estrangeiros: Anos Lectivos 2008-2009 e 2009-2010, DSPGR
79
Formação Co-Financiada na Área da Qualificação e Aperfeiçoamento Profissional, DSPGR
81
Dia da Escola Secundária Gabriel Pereira, Escola Secundária Gabriel Pereira
83
A ESGP na Futurália, Escola Secundária Gabriel Pereira
84
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REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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Estatuto Editorial
Alentejo Educação é uma revista sem periodicidade regular, propriedade da Direcção
Regional de Educação do Alentejo (DREA), e que prossegue os seguintes objectivos:
- Divulgar projectos pedagógicos, actividades e práticas escolares relevantes;
- Estimular o incremento de iniciativas de âmbito pedagógico e cultural tendentes à
melhoria e desenvolvimento das escolas;
- Promover a cooperação científica e pedagógica entre professores, investigadores,
técnicos da educação e demais actores escolares.
Alentejo Educação é um projecto editorial da DREA que reúne diferentes tipos de
colaboração:
- Artigos originais no âmbito da pesquisa e investigação realizada no domínio da
educação;
- Apresentação e divulgação de projectos pedagógicos das escolas e de práticas de
intervenção educativa;
- Sínteses de actividades desenvolvidas no âmbito das medidas de política educativa
em curso;
- Concursos e eventos científicos e pedagógico-didácticos.
Alentejo Educação está disponível em formato electrónico no sítio:
http://www.drealentejo.aledu.pt
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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Nota de Apresentação
Com a edição de mais um número da Revista Alentejo Educação dá-se continuidade ao
trabalho de divulgação de iniciativas de âmbito escolar e educacional e reforça-se o sentido
de partilha e cooperação pedagógica entre comunidades, instituições e actores escolares.
O presente número mantém, em termos de apresentação e organização, uma estrutura
semelhante aos anteriores, agrupando-se os diversos contributos em três grandes áreas
temáticas:
- estudos e reflexões, integrando apontamentos e breves ensaios em torno de
temáticas como serviço público de educação, avaliação das aprendizagens e avaliação
externa, intervenção precoce na infância, animação e educação artística;
- projectos e intercâmbios escolares, um espaço onde se dá voz às escolas e aos
professores para divulgação e partilha dos projectos e intercâmbios escolares desenvolvidos;
- repositório de notícias relativas a eventos e iniciativas pedagógicas e culturais
escolarmente significativas.
Por último, um agradecimento a todos os que tornaram possível a edição de mais um
número do Revista Alentejo Educação e, através dessa vontade e esforço, contribuem de
forma significativa para o desenvolvimento das nossas escolas e do serviço público de
educação.
DREA, 13 de Junho de 2011
José L.C. Verdasca
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Estudos e
Reflexões
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A ESCOLA A TEMPO INTEIRO José L.C. Verdasca*
A escola a tempo inteiro é, porventura, uma das medidas de política educativa de maior
alcance e profundidade dos últimos anos. O seu lançamento em 2005 e aprofundamento a
partir de 2006 foram carregados de intencionalidade mas também dos meios necessários
para assegurar que todas as crianças e famílias pudessem dispor de uma oferta educativa
gratuita de Inglês e de outras actividades educativas, bem como de refeições escolares em
escolas do 1º ciclo que passaram a estar abertas até às 17,30 horas e em funcionamento
durante pelo menos 8 horas por dia.
Com a escola a tempo inteiro deu-se um passo de gigante na criação das condições para
uma maior igualdade de oportunidades no acesso de todas as crianças ao bem público
educativo e a uma maior qualidade educativa. Na sua concretização associam-se Municípios,
mas também outros actores estratégicos como Associações de Pais e Instituições de
Solidariedade Social. Aos Agrupamentos de Escolas cabe a responsabilidade do
acompanhamento e supervisão e sempre que necessário a sua própria implementação em
caso de omissão e desinteresse de Municípios ou de outras entidades.
Nem sempre se tem a noção do alcance e do que pode representar a escola a tempo
inteiro na melhoria das condições educativas e das aprendizagens escolares das nossas
crianças, nem tão pouco do valor educativo acrescentado que dela decorre para as
comunidades locais em termos de equidade e qualidade escolar, apoio social e
oportunidades de trabalho e emprego. A escola a tempo inteiro veio proporcionar as
condições necessárias em todas as comunidades para que todas as crianças e não apenas
algumas possam ter gratuitamente, para além das actividades curriculares, Inglês, Apoio ao
Estudo, Música, Actividade Física e Desportiva, refeições escolares diárias.
A escola a tempo inteiro no 1º ciclo significa e concretiza um serviço público gratuito de
educação que se estende a todas e a cada uma das famílias. Mas a escola a tempo inteiro
concretiza também a oportunidade única para a construção de modernos e amplos
equipamentos escolares para o Pré-Escolar e 1º Ciclo com espaços e equipamentos
adequados e de grande qualidade face aos novos desafios da escola e da sociedade,
* José L.C. Verdasca, Director Regional de Educação do Alentejo
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colocando ao dispor dos Municípios uma linha de financiamento comunitário nos Programas
Operacionais Regionais.
Têm nascido e continuam a nascer um pouco por todo o Alentejo e pelo País Centros
Escolares ou, como gostamos de lhe chamar, Centros Escolares Nova Geração. Nas suas
cores, formas e volumes, encantam crianças e adultos e deixam cheios de orgulho Autarcas,
de todas as cores políticas, que cedo perceberam a importância e o alcance da medida na
melhoria das condições de aprendizagem das suas crianças, mas também das condições
pedagógicas e de trabalho dos professores e assistentes de educação.
Não era assim quando se iniciou o ano de 2005. Não havia oferta gratuita de Inglês no
1º ciclo, nem programas generalizados de refeições escolares. Tão pouco se vislumbrava o
surgimento em larga escala de Centros Escolares amplos e acolhedores, com salas de aula e
de actividades modernamente equipadas, biblioteca, refeitório, salas de apoio, gabinete
médico, sala de informática, espaços polivalentes, espaços de recreio. Centros Escolares
cheios de cor e de luz, com as condições físicas necessárias e adequadas à realização de um
trabalho pedagógico de grande qualidade. Centros Escolares onde as crianças podem
permanecer confortavelmente e em segurança durante todo o dia, libertando mães, pais e
avós de correrias para ATL e de mensalidades que só alguns podiam pagar.
A escola a tempo inteiro representa um passo gigantesco na construção de uma escola
de qualidade, mas também de uma escola mais justa e de uma sociedade mais cidadã e
democrática. Atingiu-se a perfeição? Não. Claro que não se atingiu a perfeição. Mas
melhorou-se a resposta educativa, e muitíssimo, nas condições escolares que as nossas
crianças podem agora usufruir e na oportunidade para os ainda hesitantes que continua a
estar disponível para ser por eles abraçada proporcionando às crianças e famílias das suas
comunidades e dos seus territórios semelhantes condições e oportunidades para usufruírem
de uma escola e educação de qualidade.
Esse é e será sempre o desafio. Um desafio que se concretiza mais solidamente quando
nele se envolvem todos os que têm a responsabilidade de o perseguir e construir. Fazendo
mais e melhor todos os dias. Mas esse trabalho e essa caminhada ficam mais perto de
alcançar quando realizados em parceria e em estreita colaboração, com confiança recíproca
e com a responsabilização de todos e de cada um na sua parte na construção desse destino.
Quando assim é, estamos a contribuir para um futuro melhor, do Alentejo e de Portugal.
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POR UMA ESCOLA INCLUSIVA
Sílvia Ferreira*
Resumo:
A promoção de uma escola democrática, onde incluir se torne um sinónimo real de envolver, é um desafio com o qual os profissionais de Educação se deparam actualmente. Colocar os nossos alunos no centro do processo de ensino/aprendizagem, pressupõe que as suas características e necessidades particulares são atendidas, o que implica a preparação de todo o sistema de ensino para o atendimento a essa mesma heterogeneidade. Este texto pretende ser um contributo para a reflexão, com vista ao atendimento à diferença de um modo verdadeiramente inclusivo, em que as necessidades educativas dos alunos não só são respeitadas mas servem de base à organização de todo o processo. Palavras-chave: Inclusão, Diferenciação curricular, Aprendizagem cooperativa.
O ponto um do artigo 74º da Constituição da República Portuguesa proclama que
todos têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso
e êxito escolar. Para Correia (2005), estando a escola ao dispor de todas as crianças, a
comunidade tem obrigação de proporcionar a todos os indivíduos um programa educativo
que se adeqúe às suas necessidades. Uma escola democrática será, então, uma escola para
todos (Almeida, 2005) e logo uma escola inclusiva, uma vez que “a inclusão diz respeito à
educação de todas as crianças e jovens” (Booth & Ainscow, 2002, p.5), “assente em
princípios de direito e não de caridade, igualdade de oportunidades e não discriminação”.
(Sanches, 2005, p.131).
Esta perspectiva de inclusão exigirá uma reestruturação da escola e do currículo, no
sentido de permitir a todos os alunos, com as mais diversas capacidades, interesses,
características e necessidades, uma aprendizagem em conjunto (Correia, 2005, p.13). Uma
escola inclusiva é uma escola capaz de acolher todas as crianças, quer estas possuam ou não
necessidades educativas especiais, desenvolvendo as suas capacidades ao limite (Correia,
2005).
Segundo Ainscow (1998) os alunos considerados com necessidades educativas
especiais deverão ser vistos como uma fonte de reflexão sobre o sistema e consequente
melhoria, beneficiando como tal, todos os alunos, “o trabalho de identificação e de
diminuição de dificuldades de determinado aluno pode beneficiar muitos outros em relação
* Sílvia Ferreira, Docente de QZP, Agrupamento de Escolas de Sousel, Grupo 910 – Educação Especial
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aos quais, inicialmente, não se colocavam problemas de aprendizagem” (Booth & Ainscow,
2002, p.9).
Reconhecer a heterogeneidade dos alunos como fonte de riqueza, requer modificações
estruturais importantes, quer a nível organizacional, quer metodológico (Sanches, 2005).
Para Porter (1998) a «filosofia organizacional» de uma abordagem inclusiva visará o
desenvolvimento estratégico e programático bem como a utilização dos recursos
disponíveis. Booth e Ainscow (2002) referem que há sempre mais recursos disponíveis do
que os que são utilizados, de entre os quais se destacam os próprios alunos (Ainscow, 1998).
Sanches (2006) reforça esta ideia, referindo que os alunos, que em determinado momento
não apresentam dificuldades, poderão permitir o desenvolvimento do potencial dos colegas,
ajudando a criar as condições necessárias para que tal aconteça. “ Com a escola inclusiva, os
alunos, todos os alunos estão na escola para aprender, participando” (p.71).
Torna-se visível o necessário envolvimento de todos numa escola para todos (Silva,
2004). A inclusão baseia-se num sentido comunitário em que todos os envolvidos formam
uma teia de ligações, fazendo com que os alunos aprendam mais com os professores e uns
com os outros, que os pais se envolvam mais e que a direcção partilhe as suas ideias
(Correia, 2005).
Exige-se então que os professores trabalhem em equipa, colaborando no sentido de se
tornarem “solucionadores de problemas” (Porter, 1998). “Um ideal social, educacional,
inclusivo, só pode ser alcançado se juntos enfrentarmos as adversidades, caso contrário
enfraquecemo-nos, isolamo-nos uns dos outros, cada qual com a sua maneira de ver,
entender falar e agir” (Almeida, 2005, p.13). Correia (2005) considera que todos os
envolvidos no processo (Professor titular, Professor de Educação Especial, Pais, etc.) deverão
trabalhar em colaboração no sentido de projectar estratégias promotoras do sucesso
escolar.
Segundo Ainscow (1998), é essencial o apoio aos docentes no sentido de se tornarem
mais reflexivos, críticos e confiantes, de forma a alterarem a sua prática com base nas
respostas dos seus alunos, e torná-la mais eficaz. Sanches (2006) reforça esta ideia
afirmando: “aprender a trabalhar com a diferença para que cada um possa viver com a sua
diferença é o grande desafio da escola e dos seus profissionais e é isso que vai fazer mudar
tudo” (p.79). Contudo ”tornar uma escola inclusiva não é tarefa fácil” (Ainscow, 1998, p.27),
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Rodrigues (2006) considera tratar-se de um processo, em que nuns momentos nos
aproximamos mais do que noutros.
Silva (2004) resume esta ideia, definindo a escola inclusiva como uma escola em
construção.
Diferenciação curricular
Sousa (2010) considera que ocorre diferenciação curricular “sempre que a actuação do
professor, partindo da análise do grau de aproximação entre as aprendizagens que vão
sendo realizadas por cada aluno e as aprendizagens que vão sendo consideradas
necessárias, vise reforçar essa aproximação da forma mais adequada a cada caso” (p.8).
Seguindo a mesma linha de pensamento, Heacox (2006) define diferenciação no
ensino, como a resposta às preferências de aprendizagem dos alunos e ao seu progresso no
processo de aprendizagem, isto é, ao que os alunos já sabem e ao que precisam de
aprender, afirmando a referida autora que “a diferenciação centra-se na aprendizagem
essencial” (p.10).
Tal como preconizado por Sousa (2010), aprofundar o conhecimento das diferenças
dos nossos alunos é essencial para a realização de um “trabalho sério de diferenciação”
(p.25), contemplando esta diferenciação como um “instrumento de promoção da inclusão e
da equidade face às diferenças existentes no seio da população estudantil” (p.25). Esta
diferenciação pressupõe a realização de “um diagnóstico consciencioso por parte do
professor sobre as necessidades de aprendizagem dos seus alunos” (Heacox, 2006, p.12).
Sousa (2010) afirma ser “indiscutível a importância de uma avaliação diagnóstica que
clarifique a experiência, os conhecimentos, as necessidades e os interesses dos alunos”
(p.69).
Desse diagnóstico, deverá resultar “a programação adequada ao contexto e ao aluno”
(Sanches, 2001, p.48), uma vez que, a diferenciação se baseia numa acção curricular
diferenciadora, realizada “em função de alunos concretos, cujas características diferenciadas
requerem, pela sua diversidade, respostas curriculares diferenciadas” (Sousa, 2010, p. 13).
Correia (2005) define o modelo de atendimento à diversidade, baseando-o em quatro
componentes que considera essenciais: o conhecimento do aluno; a planificação; a
intervenção e ainda a reavaliação. No que se refere ao conhecimento do aluno, o referido
autor considera que se trata de uma etapa crucial no atendimento à diversidade, e que
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deverá ter como finalidade a “observação/avaliação do aluno e dos seus ambientes de
aprendizagem, cujo objectivo seja o de identificar as suas competências, de forma a
aumentar-lhe a possibilidade de sucesso no decorrer das aprendizagens” (p.19).
Heacox (2006) esclarece que o ensino diferenciado envolve diferenciação em três
áreas distintas: conteúdo, processo e produto. Sousa (2010) baseia a sua concepção de
diferenciação curricular, na que é proposta por Roldão (1999), defendendo que esta poderá
ocorrer ao nível de objectivos, conteúdos e actividades, com a menor amplitude possível no
primeiro nível referido – objectivos – e maior no último – actividades.
A concretização de práticas educativas diferenciadas implica também um
envolvimento dos responsáveis pela gestão escolar com vista à de promoção de “um
conjunto de regras administrativo-pedagógicas e de reestruturação de espaços e tempos
pedagógico-educativos” (Sanches, 2001, p. 24), considerando que a diferenciação curricular
“só será efectiva se for assumida pelos actores situados em todos os níveis de decisão”
(Sousa, 2010, p.14).
Aprendizagem Cooperativa
Para Wang (1998) o maior desafio que as escolas enfrentam consiste em “criar
ambientes de aprendizagem que fomentem a equidade em relação aos resultados
educativos de todos os alunos” (p.63). Segundo a autora, este processo deverá iniciar-se
pela distinção entre as práticas que facilitam e as que barram o acesso ao currículo.
Num contexto de diversidade, a qualidade educativa, ou seja, a possibilidade de a
escola dar resposta às necessidades diferenciadas de aprendizagem dos seus alunos, com
vista ao desenvolvimento pleno e harmonioso das suas capacidades, relaciona-se
estreitamente com a utilização pelo professor de uma variedade de métodos e técnicas que
possibilitem aos alunos ter uma maior responsabilidade e participação na sua
aprendizagem” (Lopes & Silva, 2009).
A aprendizagem em conjunto respeitando a diversidade é um dos pressupostos base
da inclusão (Correia, 2005). Ainscow (1998) considera que “as abordagens educativas com a
ênfase colocada na aprendizagem activa e no trabalho cooperativo de grupo podem ajudar a
criar ambientes mais adequados à aprendizagem” (p.20) para este autor a participação é
promovida através do trabalho de grupo. Booth e Ainscow (2002) esclarecem que
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“participação significa a aprendizagem em conjunto com os outros e a colaboração com eles
em experiências educativas partilhadas isto requer um envolvimento activo na
aprendizagem…. implica o reconhecimento, a aceitação e a valorização de si próprio” (p.7).
A metodologia de trabalho cooperativo, para Lopes e Silva (2009) define-se como
“uma metodologia com a qual os alunos se ajudam no processo de aprendizagem, actuando
como parceiros entre si e com o professor, visando adquirir conhecimentos sobre um dado
objecto” (p.4). Correia (2005) é conivente com esta perspectiva afirmando que a
aprendizagem em cooperação é “uma abordagem na qual um grupo heterogéneo de
crianças aprende em conjunto realizando uma série de actividades específicas” (p. 41).
Johnson, Johnson e Stanne (2000 citados por Lopes & Silva, 2009) esclarecem que
aprendizagem cooperativa engloba variadas metodologias de organização da sala de aula.
Para o estabelecimento de um processo cooperativo é essencial: “responsabilidade
individual por informações reunidas pelo esforço do grupo, interdependência positiva, de
forma que os alunos sintam que ninguém terá sucesso, a não ser que todos tenham sucesso;
e desenvolvimento da capacidade de analisar a dinâmica do grupo e trabalhar a partir dos
problemas” (Lopes & Silva, 2009, p.4).
Correia (2005) afirma que para o sucesso da aplicação desta metodologia o professor
deverá ter em especial atenção “a formação dos grupos, o esclarecimento do que é a
aprendizagem de aptidões de cooperação, os conteúdos curriculares a seleccionar e o tipo
de aprendizagem a implementar” (p. 41-42).
Ao planificar a intervenção deve considerar-se que qualquer tarefa, de qualquer matéria e
de qualquer programa de estudos, pode organizar-se de forma cooperativa e, da mesma
forma, qualquer conteúdo pode ser reformulado para se adequar à aprendizagem
cooperativa formal (Lopes & Silva, 2009).
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Referências Bibliográficas:
Ainscow, M. (1998). Educação para todos: torná-la uma realidade. In M. Ainscow, G. Porter, & M. Wang, Caminhos para as escolas inclusivas. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional. Porter, & Wang M. (1998). Caminhos para as escolas inclusivas. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional. Almeida, M. S. R. (2005). Caminhos para a inclusão humana. Porto: Edições Asa. Booth, T. & Ainscow, M. (2002). Índex para a inclusão. Bristol: CSIE. Correia, L. M. (2005). Inclusão e necessidades educativas especiais. Porto: Porto Editora. Heacox, D. (2006). Diferenciação curricular na sala de aula. Porto: Porto Editora. Lopes, J. & Silva, H. S. (2009). A aprendizagem cooperativa na sala de aula. Lisboa: Lidel. Porter, G. (1998). Organização das escolas: conseguir o acesso e a qualidade através da inclusão. In M. Ainscow, G. Porter, & M. Wang, Caminhos para as escolas inclusivas. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional. Rodrigues, D. (Ed) (2006). Educação inclusiva – Estamos a fazer progressos?. Cruz Quebrada: FMH Edições. Sanches, I. (2001). Comportamentos e estratégias de actuação na sala de aula. Porto: Porto Editora. Sanches, I. (2005). Compreender, agir, mudar, incluir. Da investigação-acção à educação inclusiva. Revista Lusófona de Educação, 5, 127-142. Sanches, I. (2006). Da integração à inclusão escolar: cruzando perspectivas e conceitos. Revista Lusófona de Educação, 8, 63-83. Silva, M. (2004). Reflectir para re(construir) práticas. Revista Lusófona de Educação, 4, 51-60. Sousa, F. (2010). Diferenciação curricular e deliberação docente. Porto: Porto Editora. Wang, M. (1998). Atendendo alunos com necessidades especiais: equidade e acesso. In M. Ainscow, G. Porter, & M. Wang, Caminhos para as escolas inclusivas. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional.
Legislação Consultada: Constituição da República Portuguesa (2004). Porto: Porto Editora.
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INTERVENÇÃO PRECOCE NA INFÂNCIA: BREVE CARACTERIZAÇÃO DA ELI DE PORTALEGRE
Ana Rute Sanguinho*
As famílias devem ser apoiadas “(…) de forma a que estas tomem decisões, procurem os seus recursos e se tornem independentes dos profissionais.”
(Wolery, Strain & Bailey, 1992, cit. por Serrano & Correia, 2000, p. 24) Resumo: A família é o primeiro contexto de desenvolvimento e aprendizagem da criança, sendo, portanto, de interesse central no âmbito da Intervenção Precoce na Infância (IPI). O artigo que se segue procura ser um pequeno contributo para clarificar o conceito de IPI. Apresentará, ainda, uma breve caracterização da Equipa Local de Intervenção (ELI) de Portalegre, no que concerne à sua dinâmica de funcionamento, constituição da equipa, população apoiada, motivo de apoio local onde o mesmo é prestado. Palavras-chave: Intervenção Precoce na Infância, Equipa Local de Intervenção (ELI), Família, Criança
Intervenção Precoce na Infância – O Conceito
Considerando que os primeiros anos de vida da criança e as experiências a que está
sujeita nesse período são condicionantes de todo o seu desenvolvimento posterior, torna-se
urgente intervir o mais precocemente possível, promovendo a Intervenção Precoce na
Infância.
* Ana Rute Sanguinho, Mestre em Educação, na variante Administração Escolar; Professora de QZP, Grupo de Recrutamento 910, Agrupamento de Escolas n.º 2 de Portalegre, a exercer funções na Equipa Local de Intervenção de Portalegre. E-mail: [email protected]
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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O conceito em causa resulta da evolução bastante relevante de ideias e teorias,
partindo-se de um modelo cuja intervenção era essencialmente centrada na criança (modelo
médico), para uma intervenção mais abrangente que envolve a criança, a família e o meio
ambiente (modelo social). Não existe um modelo único, visto que os serviços de saúde, da
segurança social e da educação estão envolvidos e partilham a responsabilidade na IPI.
Deste modo, “Ciências da Saúde, Ciências Humanas e Sociais inter-relacionam-se no que
respeita ao desenvolvimento da criança e ao impacto das interacções sociais no
desenvolvimento humano em geral e no da criança, em particular.” (European Agency for
Development in Special Needs Education, 2005, p. 5).
Intervenção Precoce, para Dunst e Bruder (2002, cit. em Pimentel, 2004, p. 43), diz
respeito ao “conjunto de serviços, apoios e recursos que são necessários para responder,
quer às necessidades específicas de cada criança, quer às necessidades das suas famílias no
que respeita à promoção do desenvolvimento da criança.”
O Decreto-Lei n.º 281/2009 cria o Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância
(SNIPI), o qual diz respeito a um “conjunto organizado de entidades institucionais e de
natureza familiar, com vista a garantir condições de desenvolvimento das crianças com
funções ou estruturas do corpo que limitam o crescimento pessoal, social, e a sua
participação nas actividades típicas para a idade, bem como das crianças com risco grave de
atraso de desenvolvimento.” Trata-se de uma medida de apoio integrado, centrada na
criança e na família, mediante acções de natureza preventiva e habilitativa, no âmbito da
educação, saúde e da acção social.
Um grupo de especialistas que participou no estudo da Intervenção Precoce na
Infância pela European Agency (2005, p. 17) sugere a seguinte definição:
IPI é o conjunto de serviços/recursos para crianças em idades precoces e suas famílias, que são
disponibilizados quando solicitados pela família, num certo período de vida da criança,
incluindo qualquer acção realizada quando a criança necessita de apoio especializado para:
- assegurar e incrementar o seu desenvolvimento pessoal,
- fortalecer as auto-competências da família, e
- promover a sua inclusão social.
Os autores Franco e Apolónio (2008, p. 20) referem que, na generalidade das
definições existentes sobre IPI, se podem destacar os seguintes aspectos fundamentais:
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- É dirigida a famílias com crianças: dos zero aos seis anos (com ênfase especial até aos 3
anos); com deficiência, perturbações do desenvolvimento ou em risco de virem a manifestar
essas perturbações; na sua globalidade e não apenas aos aspectos deficitários do
desenvolvimento;
- Visa assegurar as condições para o bom desenvolvimento;
- É uma medida integrada (ao nível da saúde, educação e protecção social).
De acordo com o Decreto-Lei atrás mencionado, são objectivos do SNIPI:
a) Assegurar às crianças a protecção dos seus direitos e o desenvolvimento das suas
capacidades, através de acções de IPI em todo o território nacional;
b) Detectar e sinalizar todas as crianças com risco de alterações ou alterações nas funções e
estruturas do corpo ou risco grave de atraso de desenvolvimento;
c) Intervir, após a detecção e sinalização nos termos da alínea anterior, em função das
necessidades do contexto familiar de cada criança elegível, de modo a prevenir ou
reduzir os riscos de atraso no desenvolvimento;
d) Apoiar as famílias no acesso a serviços e recursos dos sistemas da segurança social, da
saúde e da educação;
e) Envolver a comunidade através da criação de mecanismos articulados de suporte social.
Tendo em conta o mesmo Decreto-Lei, compete às Equipas Locais de Intervenção (ELI): a) Identificar as crianças e famílias imediatamente elegíveis para o SNIPI;
b) Assegurar a vigilância às crianças e famílias que, embora não imediatamente elegíveis,
requerem avaliação periódica, devido à natureza dos seus factores de risco e
probabilidades de evolução;
c) Encaminhar crianças e famílias não elegíveis, mas carenciadas de apoio social;
d) Elaborar e executar o PIIP (Plano Individual de Intervenção Precoce) em função do
diagnóstico da situação;
e) Identificar necessidades e recursos das comunidades da sua área de intervenção,
dinamizando redes formais e informais de apoio social;
f) Articular, sempre que se justifique, com as comissões de protecção de crianças e jovens e
com os núcleos da acção de saúde de crianças e jovens em risco ou outras entidades com
actividade na área da protecção infantil;
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g) Assegurar, para cada criança, processos de transição adequados para outros programas,
serviços ou contextos educativos;
h) Articular com os docentes das creches e jardins-de-infância em que se encontrem
colocadas as crianças integradas em IPI.
Intervenção Precoce na Infância – Uma Prática Centrada na Família
A IPI diz respeito a uma prática centrada na família. Entende-se por família “(…) duas
ou mais pessoas que se consideram como tal e que assumem obrigações, funções e
responsabilidades geralmente essenciais para a vida familiar” (Barker, 1991, p. 80 citado por
Derrano, 2007, p.20). A autora Winton (1996, citado por Pimentel, 2004, p. 44) considera a
participação dos pais fulcral no trabalho desenvolvido pela IPI, pelo que deverá existir uma
relação de parceria entre ambas as partes, desde os momentos de avaliação até ao
planeamento da intervenção e sua posterior avaliação. “A plena participação dos pais na
equipa requer que estes e os profissionais construam uma relação de confiança, baseada no
respeito pelas diferentes perspectivas e competências. A construção dessa relação requer
tempo e sensibilidade às diferenças de cada um (…).” (ibidem) A IPI deve dar às famílias um
sentimento de confiança e competência sobre a aprendizagem e o desenvolvimento actual e
futuro da sua criança. Os pais devem receber informações de forma que suportem as suas
capacidades parentais para com a sua criança e facilitem as aprendizagens desta.
A prática em causa implica dois conceitos importantes em IPI: o de capacitar
(enabling) famílias, que se traduz em criar oportunidades e meios para que elas possam
aplicar as suas capacidades e competências e adquirir outras, necessárias para ir ao encontro
das necessidades dos seus filhos; o de aumentar o poder (empowerment), que é
simultaneamente um processo e um objectivo. O que não significa dar o poder, pois, este é
delas por direito. Significará interagir com as famílias para que mantenham ou adquiram um
sentimento de controlo sobre a sua vida familiar, de modo a atribuírem as alterações
positivas que resultam da intervenção precoce às suas próprias capacidades, competências e
acções. Os técnicos de IPI devem ajudar as famílias a procurar e mobilizar recursos e
suportes sociais para que estas tomem as suas decisões e se tornem independentes dos
profissionais.
McWilliam (2003, p.11) na sua obra enuncia os princípios de uma abordagem centrada
na família: “Encarar a família como a unidade de prestação de serviços; reconhecer os
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pontos fortes da criança e da família; dar resposta às prioridades identificadas pela família;
individualizar a prestação de serviços; apoiar os valores e o modo de vida de cada família.”
Uma intervenção deve perspectivar a família, unidade de intervenção, como um todo e
a criança como parte integrante desse todo; privilegiando-se um currículo desenvolvimental
e funcional, que faça sentido à família, o qual deverá ser aplicado nos seus contextos
naturais de aprendizagem. Segundo Briker (2001), Dunst e Bruder (2002) os contextos em
causa “(…) são a casa, a comunidade, os contextos de creche e de jardim-de-infância e
quaisquer outros locais, cenários e actividades em que participam crianças sem deficiências
da mesma idade.” (Pimentel, 2004, p. 44)
Sendo assim, a intervenção baseia-se numa lógica de acção local cuja proximidade com
a população permite um melhor conhecimento das necessidades, dos problemas e dos
recursos comunitários, articulando com o conjunto de serviços de apoio à família e criança
(educação, saúde, serviço social e as outras redes de suporte comunitário), promovendo a
valorização e o fortalecimento das redes de apoio sociais (formais e informais) específicas de
cada família.
Entende-se por redes de apoio social formal aquelas que incluem profissionais
(médicos, terapeutas, técnicos do serviço social…) ou serviços (hospitais, centros de saúde,
programas de Intervenção Precoce na Infância...), formalmente organizados para prestar
apoio a pessoas com determinado tipo de necessidades. Por seu turno, as redes de apoio
social informal incluem indivíduos (familiares, amigos, vizinhos…) e grupos sociais (igreja,
associações culturais, clubes…), normalmente disponíveis para prestar apoio no dia-a-dia,
como resposta a acontecimentos normativos e não normativos.
Recomendações para os profissionais que trabalham em IPI1
1. Disponibilidade – abranger tão cedo quanto possível todas as crianças e famílias
que necessitem de apoio. Para tal, existem medidas de política para a IPI, a nível local,
regional e nacional que a garantem como um direito para essa população. A informação
deverá ser disponibilizada de forma clara, precisa e acessível a todos os intervenientes no
processo. Deverá haver uma definição clara de grupos-alvo, “cabe aos políticos decidir sobre
1 De acordo com o Relatório Síntese da European Agency for Development in Special Needs Education, 2005, pp. 45-51.
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os critérios de elegibilidade para a IPI, devendo, no entanto, os profissionais cooperar e ter
um papel consultivo.” (European Agency for Development in Special Needs Education, 2005,
p. 46). De ressaltar, neste âmbito, os Critérios de Elegibilidade aprovados a 16 de Junho de
2010 (p. 1), o qual menciona que:
De acordo com o Decreto-lei 281/09 de 6 de Outubro, são elegíveis para apoio no
âmbito do SNIPI, as crianças entre os 0 e os 6 anos e respectivas famílias, que apresentem
condições incluídas nos seguintes grupos: 1 - «Alterações nas funções ou estruturas do
corpo» (…); 2 - «Risco grave de atraso de desenvolvimento». (…) São elegíveis para acesso ao
SNIPI, todas as crianças do 1º grupo e as crianças do 2º, que acumulem 4 ou mais factores de
risco biológico e/ou ambiental.
2. Proximidade – deverá ocorrer em duas perspectivas, por um lado descentralizar os
serviços e recursos, para permitir que a população alvo beneficie dos apoios necessários; por
outro lado, ir ao encontro das necessidades das famílias e das crianças, havendo
compreensão e respeito pelas mesmas.
3.Viabilidade Financeira – os serviços são oferecidos gratuitamente ou a baixo preço,
uma vez que são garantidos através de fundos públicos assegurados por serviços de saúde,
da segurança social ou autoridades locais… de forma a preencher os padrões de qualidade
exigidos na respectiva legislação nacional para a IPI.
4. Interdisciplinaridade – os profissionais que prestam apoio directo às crianças e às
suas famílias pertencem a diferentes áreas, logo possuem diferentes experiências conforme
o serviço a que pertencem. Como tal, o trabalho interdisciplinar permite o intercâmbio de
informação e competências entre os diferentes elementos da ELI. Tal como definiram os
autores Golin e Ducanis (1981 cit. por European Agency for Development in Special Needs
Education, 2005, p. 28) “(…) uma equipa multidisciplinar partilha e coordena informação. As
tarefas são efectuadas individualmente conforme as competências dos membros da equipa
e a informação é partilhada e usada de forma a completar a tarefa de cada membro. (…) O
número de profissionais numa equipa não é crucial: ele deve depender das necessidades da
criança e da família.”
Como tal, a interdisciplinaridade implica a partilha de conceitos e de referências
teóricas, uma atitude aberta e de respeito para com as famílias e colegas. Assim sendo,
deverá haver cooperação com as famílias (trabalhar com a família como um parceiro
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essencial, a ser completamente implicado em todo o processo), uma construção do trabalho
em equipa (trabalhar com os outros membros da equipa e com outros serviços ou redes) e
estabilidade dos membros da equipa (para facilitar o processo de construção na ELI e a
qualidade dos resultados).
5. Diversidade – envolvimento dos três serviços: saúde, segurança social e educação;
devendo existir entre os mesmos uma coordenação adequada entre os sectores (na detecção
e referenciação precoce, de modo a evitar lacunas e atrasos significativos que possam
comprometer a intervenção futura) e os recursos (garantir um melhor uso dos recursos
comunitários e assegurar a continuidade do apoio prestado quando as crianças transitam de
uma resposta para outra ou de nível de ensino). “As estruturas pré-escolares devem
assegurar vaga para crianças que tenham beneficiado de serviços/respostas de IPI.”
(European Agency for Development in Special Needs Education, 2005, p. 51).
Intervenção Precoce na Infância: Breve Caracterização da Equipa Local de Intervenção (ELI) de Portalegre1
O Projecto de Intervenção Precoce na Infância do distrito de Portalegre é coordenado
pela Subcomissão de Coordenação Regional, pelo Núcleo de Supervisão e Apoio Técnico,
ao nível distrital e por várias Equipas Locais de Intervenção, que por seu turno desenvolvem
actividades ao nível municipal.
A ELI de Portalegre procura, diariamente, desenvolver uma intervenção centrada na
família, no respeito por todos os contextos naturais em que a criança interage, conforme o
definido no Decreto - Lei n.º 281/2009, de 6 de Outubro, e inspirando-se no Modelo
Ecológico do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner, assim como no Modelo de
Apoio Social de Dunst, entre outros.
A entidade de suporte da ELI de Portalegre diz respeito à APPACDM Portalegre –
Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (As ELI de Castelo de
Vide - Marvão e Crato possuem a mesma entidade de suporte). No que respeita às parcerias
no concelho de Portalegre, para além das entidades públicas e estabelecimentos educativos
particulares, articula com a CPCJ – Comissão de Protecção de Crianças e Jovens; a EMAT –
Equipa Multidisciplinar de Apoio aos Tribunais; a Rede Social; a Equipa do RSI – Rendimento
1 De acordo com o Relatório de Actividades de 2010.
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Social de Inserção; com os Agrupamentos de Escolas nº 1 e nº 2 de Portalegre; o Centro de
Saúde de Portalegre; o Hospital Distrital de Portalegre – Consulta de Desenvolvimento; a
Câmara Municipal de Portalegre; a REAPN – Rede Europeia Anti-Pobreza / Portugal; as Irmãs
Hospitaleiras do Sagrado Coração de Maria, o PPEETI – Programa para Prevenção e
Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil, entre outros.
A ELI de Portalegre teve a sua constituição em 8 de Março de 2002 e tem a sua sede
nas instalações da APPACDM de Portalegre. Como área de abrangência tem todo o concelho
de Portalegre. De acordo com o Relatório de Actividades de 2010 (até ao dia 31 de
Dezembro) fazia o acompanhamento de 63 famílias e 74 crianças (ver gráfico 1).
Gráfico 1 – Crianças Apoiadas por Idade e Género
Existe um maior número de crianças apoiadas do sexo masculino (46), relativamente
ao número de crianças apoiadas do sexo feminino (28). O grupo etário que apresenta maior
número de crianças apoiadas pela ELI de Portalegre é dos 36 aos 71 meses.
Do acompanhamento das famílias/crianças, destacam-se famílias com dinâmicas
disfuncionais e crianças portadoras de síndromes raros que exigem dos técnicos pesquisa e
investigação de modo a adequar a sua acção/intervenção. A ELI de Portalegre é composta
pelos seguintes elementos: Psicólogas (2), Terapeutas da Fala (2), Terapeuta Ocupacional,
Técnica Superior de Serviço Social, Fisioterapeuta, Educadora, Docentes (3) e Administrativa.
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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O apoio prestado pela ELI destina-se a famílias com crianças dos 0 aos 6 anos com
alterações nas funções ou estruturas do corpo, ou seja, atraso de desenvolvimento
resultante de causa conhecida ou não (deficiência, problemas de saúde, …) e/ou que se
encontrem em contextos que colocam em risco o seu desenvolvimento, quer seja familiar,
biológico ou ambiental (ver gráfico 2).
Gráfico 2 – Razão do Apoio na IPI - elegibilidade
No que concerne às problemáticas das crianças apoiadas, verifica-se uma maior
incidência na faixa etária dos 36 aos 71 meses, quanto à existência de alterações nas funções
ou estruturas do corpo, devido a atraso de desenvolvimento sem etiologia conhecida (25
crianças). Por seu turno, não se verificam condições específicas no grupo dos 0 aos 35
meses, existindo um total de 12 crianças nos restantes grupos nessa situação,
nomeadamente: Trissomia XXI (1), Autismo (2), Outras Perturbações do Espectro Autista (1),
Hidrocefalia (1), outras síndromes (1), outras situações (Ventricolanegótia, AVC,
Hiperactividade) (6).
No que diz respeito à existência de factores de risco, estes poder-se-ão ordenar do
seguinte modo: risco familiar (19), ambiental (10) e biológico (8); tendo em conta o maior
número de crianças apoiadas por esse motivo. As situações de risco por factores familiares
devem-se às características dos pais (toxicodependentes – 4; com idade inferior a 20 ou
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superior a 40 anos – 2; com diagnóstico de doença mental, deficiência mental ou sensorial –
2; com antecedentes de retirada de tutela, guarda ou custódia dos filhos – 2) e da família
(Ruptura familiar e/ou situação crítica – 6; Antecedentes ou situações de maltrato físico ou
psicológico – 5; Ambiente familiar gravemente alterado – 4; Famílias socialmente excluídas –
3; Família monoparental – 3), ao período pós-natal (Situação de maltrato físico ou
psicológico -1) e à existência de perturbações ao nível da família - interacção, relação
família-criança - 1).
As situação de risco por factores ambientais devem-se à exposição a:
. Contextos ambientais com factores de stress (exposição frequente a deficiente
estimulação perceptiva – 6; Carências da habitação, higiene e falta de adaptação às
necessidades da criança na residência – 1);
. Factores de exclusão social da família (condições de vida que facilitam o isolamento
social no próprio ambiente familiar e em relação aos outros contextos sociais – 2);
. Contextos sociais com factores de stress (Dificuldade do contexto para manter rotinas
de sono – 1; Exposição a relações instáveis/inadequadas – 1; Dificuldade de acesso
adequado a adultos cuidadores – 1; Exposição a práticas ou situações inadequadas – 1).
Por último, quanto a situações de risco por factores biológicos existem 8 crianças
incluídas nas categorias: pré-natais (4), pós-natais (6) e por outros factores biológicos (2).
Sendo que cada criança, de acordo com a sua situação, pode estar incluída em mais do que
uma categoria.
Gráfico 3 – Caracterização das Perturbações do Desenvolvimento
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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Na ELI de Portalegre, retomando-se as alterações nas funções ou estruturas do corpo,
existe um maior número de crianças apoiadas com perturbações do desenvolvimento ao
nível da comunicação e da linguagem (34), seguindo-se o desenvolvimento cognitivo (13) e
motor (8).
O programa de IPI tem como objectivos criar condições facilitadoras do
desenvolvimento global da criança; optimizar condições de interacção criança/família
reforçando as suas competências e capacidade; apoiar crianças e famílias de uma forma
sistemática, optimizando os recursos existentes na comunidade e criando redes formais e
informais de apoio. A equipa funciona mediante os responsáveis de caso, cuja intervenção é
centrada na família e nos recursos da comunidade. Estes responsáveis de caso intervêm
directamente com as crianças e famílias, em parceria com os vários serviços e organismos
que actuam na comunidade. É uma intervenção desenvolvida no contexto natural da criança
(familiar e comunitário) e assente em Planos de Desenvolvimento Individuais (PDI), que têm
em conta as características, recursos, necessidades e prioridades da família, para que assim
se obtenham maiores níveis de sucesso. De sublinhar que o envolvimento parental é a chave
para o desenvolvimento da criança, sendo que a família deverá participar em todas as fases
do processo de intervenção, focalizando-se nas competências dos seus filhos e criando
perspectivas de futuro. A ELI, no desempenho das suas funções e na interacção entre os
elementos que a constituem, pretende intervir com base num modelo de funcionamento
transdisciplinar. A ELI de Portalegre adopta as seguintes metodologias de intervenção:
1ª Etapa – Sinalização - pode ser realizada por qualquer indivíduo ou entidade,
nomeadamente familiares, vizinhos, estabelecimentos de ensino, autarquias, serviços de
saúde, serviços de atendimento local da Segurança Social, …
2ª Etapa – Recolha de informação – feita junto de quem sinaliza, da família e/ou de
outros técnicos e serviços envolvidos no caso.
3ª Etapa – Avaliação, verificar com instrumentos de avaliação se a criança entra ou não
para a Intervenção Precoce na Infância, ou seja se cumpre os critérios de elegibilidade:
perturbações de desenvolvimento (deficiência; atraso global de desenvolvimento) ou
existência de factores de risco (biológico, familiar, ambiental).
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
25
4ª Etapa - Atribuição do caso aos técnicos – consoante a avaliação da situação e as
necessidades específicas da criança. Decide-se também quem é o responsável de caso.
5ª Etapa – Intervenção – a família é parte integrante da ELI; articulação entre o
responsável de caso e a família; realização de reuniões de equipa e de estudo de caso, em
que é elaborado e (re)avaliado o PDI, é feita a passagem de competências entre técnicos e
entre técnicos e família, de modo a fortalecer as suas competências. Intervém-se, sempre
que possível, no ambiente natural de vida da criança (ver gráfico 4).
Gráfico 4 – Local de Prestação do Apoio
O local onde as crianças recebem o maior número de apoios é em contexto só de pré-
escolar (54). As crianças também são apoiadas só em domicílio (8), em domicílio e pré-
escolar (6), só em creche (6), em domicílio e creche (4) e na sede da ELI e só ama (3).
“Ter sucesso exige uma grande confiança nos outros. Ninguém pode ter sucesso sozinho. Os outros são os mil braços que ajudam a construir a vida de cada um.”
Dugpa Rimpoché
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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Referências Bibliográficas:
Correia, L. M., & Serrano, A. M. (Orgs.) (2000). Envolvimento Parental em Intervenção Precoce. Das Práticas Centradas na Criança às Práticas Centradas na Família. Porto: Porto Editora. European Agency for Development in Special Needs Education (2005). Intervenção Precoce na Infância. Análise de situações na europa. Aspectos-chave e recomendações. Relatório Síntese. Victoria Soriano. Franco, V., & Apolónio, A. M. (2008). Avaliação do Impacto da Intervenção Precoce no Alentejo: criança, família e comunidade. Évora: ARS do Alentejo. Mcwilliam, P.J., Winton, P. J., & Crais, E. R. (2003). Estratégias Práticas para a Intervenção Precoce Centrada na Família. Porto: Porto Editora. Pimentel, J. S. (2004). Avaliação de programas de intervenção precoce. Análise Psicológica, 1 (XXII), 43-54. Serrano, A. M. (2007). Redes Sociais de Apoio e Sua Relevância para a Intervenção Precoce. Porto: Porto Editora.
Legislação Consultada:
Decreto-Lei n.º 281/2009, de 6 de Outubro. Critérios de Elegibilidade aprovados na reunião da CC de 16 de Junho de 2010.
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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UNIVERSALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR José L.C. Verdasca*
Está instituída a obrigatoriedade dos jardins de infância da rede pública estarem
abertos pelo menos 8 horas por dia e no mínimo até às 17,30 horas. Uma educação pré-
escolar de qualidade implica, por outro lado, para além das actividades educativas
‘curriculares’, a cobertura integral do serviço de refeições escolares e de actividades de
animação educativa em prolongamento de horário.
Ao longo destes últimos anos deu-se um importante passo no alargamento da
frequência da educação pré-escolar, mas também na qualidade dessa realização. O número
de crianças abrangidas em refeições escolares e com prolongamento de horário cresceu,
entre 2004/05 e 2010/11 em todas as sub-regiões do Alentejo, mais de 40%. A taxa média
de cobertura no Alentejo é actualmente de cerca de 90%, quando em 2004/05 era apenas
de 62%. Este crescimento traduz um esforço considerável, realizado em parceria com os
Municípios.
Crianças com componente de apoio à família contratualizada (%)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Alentejo Norte Alentejo Central Baixo Alentejo Alentejo Litoral
2010/11
2004/05
A universalização da educação pré-escolar afigura-se decisiva na consolidação da
democratização educativa e da igualdade de oportunidades. São conhecidos os efeitos
positivos da pré-escolarização na qualidade dos resultados escolares e na vida escolar futura
* José L.C. Verdasca, Director Regional de Educação do Alentejo
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
28
dos alunos. A continuação do seu aprofundamento requer soluções versáteis e com
sustentabilidade. Esse desafio afigura-se ainda maior nos territórios do interior rural de
baixa densidade populacional e não poderá deixar indiferentes actores e entidades com
responsabilidades acrescidas no desenho das políticas de educação qualquer que seja o nível
de administração em que se encontrem.
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
29
EXPANSÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO José L.C. Verdasca*
Alargar a obrigatoriedade escolar até ao ensino secundário e à idade de 18 anos era
em 2005 um objectivo extremamente ambicioso. A história da educação mostrava que para
garantir a sua exequibilidade não bastava inscrevê-lo na lei. No nosso Alentejo, onde cerca
de um quarto dos municípios não dispõe de oferta de ensino secundário face ao reduzido
número de alunos e a distância média entre as cidades ou vilas sedes de concelho ronda os
30 km, uma tal tarefa afigurava-se acrescida de dificuldades.
3000
3500
4000
4500
5000
5500
2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11
Evolução do nº de alunos do 10º ano na região Alentejo(Cursos Científico-Humanísticos + Cursos Profissionais)
Passados 5 anos, podemos dizer que as escolas do Alentejo responderam a este grande
desafio. O traçado gráfico evidencia-o de forma clara. De 3700 alunos no 10º ano de
escolaridade em 2006/07 passou-se para mais de 5000 alunos em 2008/09 e anos seguintes.
Escolas e professores conseguiram-no com trabalho e empenho, mas também com sentido
de responsabilidade, capacidade de gestão, autonomia e liderança. Perante o crescendo da
heterogeneidade de alunos, responderam com ofertas formativas diversificadas, soluções
organizativas dinâmicas, instrumentos de ensino inovadores e estratégias pedagógicas
flexíveis.
* José L.C. Verdasca, Director Regional de Educação do Alentejo
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
30
Nesta caminhada foi decisiva a convicção de que aprender é um direito e um dever,
que o desafio da qualificação pertence a todos, que todos podem ser ensinados, que todos
podem aprender, que para tal aconteça é preciso confiança, em nós próprios e nos outros.
Agora olhamos para trás e parece-nos tudo normal. Não, não é tudo normal. Se o
fosse, o que aconteceu a partir de 2006/07 com o ensino secundário já teria acontecido há
20 ou 30 anos atrás.
O passo seguinte também já se iniciou. Está focado no imperativo da qualidade das
aprendizagens de todos os alunos e no desafio da consolidação da expansão e da frequência
universalmente sucedida do ensino secundário.
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
31
FUNÇÕES E TIPOLOGIAS DA AVALIAÇÃO DAS APRENDIZAGENS ANÁLISE NO ENSINO SECUNDÁRIO
Maria da Conceição F.R. de Matos* Resumo:
No âmbito da Unidade Curricular de Avaliação das Aprendizagens, do Mestrado em Ciências da Educação – Supervisão Pedagógica optámos por fazer uma análise das funções e tipologias da avaliação das aprendizagens, no Ensino Secundário, por considerarmos ser o nível de ensino que proporciona menos estudos empíricos e que, particularmente, desperta mais interesse. Após a escolha do tema e das leituras realizadas, questionámos: Será que as práticas da avaliação têm mudado? Será que os critérios de avaliação existentes na escola estão em consonância com as teorias e com as conclusões dos estudos empíricos? O que distingue a avaliação formativa da sumativa? O que se avalia, realmente, nas aprendizagens feitas na escola? Relativamente aos estudos empíricos e ao normativo legal que regulamenta o Ensino Secundário, o Decreto-Lei nº 74/2004, de 26 de Março, a avaliação formativa é aquela que é a mais defensável nos diferentes estudos. A nível da prática da escola, o enfoque centra-se na avaliação sumativa. Iniciámos este trabalho na perspectiva dicotómica de avaliar e educar, para percebermos o que distingue os dois termos. Tentámos perceber o que se avalia na prática, sem esquecer as funções da avaliação das aprendizagens, especificamente, as tipologias formativa e sumativa. Por fim, questionámos os bloqueios para a mudança da prática avaliativa na escola. Palavras-chave: Avaliação sumativa, Avaliação formativa, Funções, Aprendizagem e mudanças.
1. Avaliar e educar
Para entendermos as funções da avaliação devemos, em primeiro lugar, compreender
a visão de vários autores, reforçada por estudos empíricos, relativamente ao que se entende
por avaliar e o que tem de mudar para podermos avaliar, em consonância com o actual
paradigma de avaliação em educação. Estamos a falar de educar intencionalmente, como
referem Valadares & Graça (1998) a produzir actos educativos intencionais, consciente e
deliberadamente, orientados por objectivos que se pretendem alcançar. Mas, o sucesso do
acto de educar depende da educação não intencional, com influências não planificadas, de
factores imprevistos, sendo difícil garantir o sucesso educativo, por melhor que seja a escola.
Dito de outra forma, a educação intencional é influenciada pela não intencional.
Para os investigadores Leite e Fernandes (2002), educar exige mudança e, para isso, é
necessário saber a direcção da mudança e definir os caminhos para prosseguir na mudança.
* Maria da Conceição F.R. de Matos, Professora em Mobilidade na Equipa de Apoio às Escolas do Alentejo Norte (EAEAN) e Mestranda na Universidade de Évora. E-mail: [email protected]
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Na organização da mudança, para os processos de ensino e de aprendizagem, temos
que definir objectivos para alcançarmos os resultados pretendidos. De facto, uma orientação
curricular nesta perspectiva pressupõe o uso de objectivos específicos e comportamentais,
tanto para a organização, como para a regulação dos processos de ensino e de
aprendizagem.
A nível legal e dos responsáveis pela educação a nível nacional existe uma
preocupação com a direcção da mudança comprovada no preâmbulo do Decreto-Lei n.º
74/2004, de 26 de Março, que refere num dos seus parágrafos:
A par do combate ao insucesso e abandono escolares, fenómenos que assumem no nível secundário de educação elevada expressão no conjunto do sistema educativo, e da acção de superação das deficiências detectadas no campo do ensino das ciências e da matemática, constitui opção estratégica nacional promover o aumento da qualidade das aprendizagens, indispensável à melhoria dos níveis de desempenho e qualificação dos alunos e ao favorecimento da aprendizagem ao longo da vida.
O combate ao insucesso escolar e abandono escolares, a superação das deficiências
detectadas e a promoção da qualidade das aprendizagens são um conjunto de intenções que
se pretendem que sejam impulsionadoras da mudança. Esta não deverá ser apenas para a
aplicação de novos currículos, mas também no que respeita ao novo paradigma avaliativo,
constante no já citado diploma legal.
Continuando a analisar o diploma que regulamenta a avaliação do ensino secundário,
no seu artigo 4º, constatamos que:
A organização e a gestão do currículo do nível secundário de educação subordinam-se aos seguintes princípios orientadores: b) Flexibilidade na construção de percursos formativos; d) Integração do currículo e da avaliação, assegurando que esta constitua elemento regulador do ensino e da aprendizagem; e) Transversalidade da educação para a cidadania e da valorização da língua e da cultura portuguesas em todas as componentes curriculares; f) Valorização da aprendizagem das tecnologias da informação e comunicação; g) Favorecimento da integração das dimensões teórica e prática dos saberes, através da valorização das aprendizagens experimentais nas diferentes áreas e disciplinas e da criação de espaços curriculares de confluência e integração de saberes e competências adquiridos ao longo de cada curso;
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
33
h) Enriquecimento das aprendizagens, através do alargamento da oferta de disciplinas, em função do projecto educativo da escola, e da possibilidade de os alunos diversificarem e alargarem a sua formação, no respeito pela autonomia da escola.1
Estes princípios seriam preconizadores de uma mudança organizativa e avaliativa, de
acordo com os termos chave que aqui se salientam “flexibilidade”, “regulador”,
“transversalidade”, “valorização das aprendizagens”,“integração das dimensões teórica e
prática dos saberes” e “enriquecimento das aprendizagens”.
No referente à regulamentação da avaliação, o artigo 10º do citado Decreto-Lei,
regista:
1 - A avaliação consiste no processo regulador das aprendizagens, orientador do percurso escolar e certificador das diversas aquisições realizadas pelos alunos. 2 - A avaliação tem por objecto a aferição de conhecimentos, competências e capacidades dos alunos e a verificação do grau de cumprimento dos objectivos globalmente fixados para o nível secundário de educação, bem como para os cursos e disciplinas nele integrados.
Após a análise deste artigo apurámos que estamos perante duas funções diferentes de
avaliação, a função formativa com termos como “regulador”, “orientador” e a função
sumativa com termos como “certificador”, “aferição” e “verificação do grau de cumprimento
dos objectivos”.
Mas, será que a mudança acontece na prática efectiva da escola, quando os
professores avaliam? Para compreendermos, o que a escola faz no sentido de privilegiar a
avaliação formativa, analisámos os critérios de avaliação existentes numa escola com ensino
secundário e o constante do Projecto Curricular de Escola. Assim, no preâmbulo dos CRIA2,
temos:
VIII. Avaliação das aprendizagens dos alunos Na avaliação dos alunos deve ser tomado em consideração o desenvolvimento do processo de aprendizagem, o seu contexto, bem como a socialização e instrução obtida, sem esquecer a função de estímulo da avaliação. 1. Finalidades e objecto da avaliação 1.1. A avaliação é um elemento integrante e regulador da prática educativa, permitindo uma recolha sistemática de informações que, uma vez analisadas, apoiam a tomada de decisões adequadas à promoção da qualidade das aprendizagens.
Assim, a avaliação deve informar, valorizar e intervir de modo a realizar reajustamentos contínuos.
1 Apenas foram aqui indicadas as alíneas que se referem de alguma forma a questões de avaliação. 2 Denominação para os Critérios de Avaliação da Escola.
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Constatamos que nos CRIA se utilizam termos como “desenvolvimento do processo de
aprendizagem”, “contexto” e “função de estímulo” que não surgem no diploma legal, no que
refere aos princípios orientadores, mas que têm como intenção o crescimento integral dos
alunos, enfatizando o apoio, o incentivo e o reforço positivo necessários à aprendizagem.
Contudo, pode depreende-se que existe na elaboração dos CRIA profunda preocupação com
a função formativa, pois o enunciado valoriza, nomeadamente, as qualidades fundamentais
deste tipo de avaliação. Quanto à sumativa, existe pouca ênfase a esta tipologia da
avaliação, salientamos, no entanto, a referência a instrução, a tomada de decisão (se apenas
for tida para a classificação), mas que também não são indicadores exclusivos desta
avaliação.
2. Como se avalia
De uma forma simplista, avaliar é medir. Couvaneiro e Reis (2007) referem que avaliar
apenas como medição é uma visão redutora e até atrofiante, pois avaliar é também um
processo de aprendizagem. Rodrigues (1999), citando Lesne (1984), refere que avaliar é pôr
em relação, um referido (o que é aprendido) com um referente (o objectivo que se pretende
atingir). Por sua vez, Pacheco (1998) salienta a importância da construção do referente, isto
é, dos critérios de avaliação tidos como quadros de referência do avaliador e orientadores
da aprendizagem. Esta construção deveria ser uma questão central das práticas avaliativas
do professor. Em regra, servem-se da formulação dos objectivos programáticos das
disciplinas como meio para obter as aprendizagens. Esta forma de construção do referente,
tendo como base uma pedagogia por objectivos, torna-se especialmente uma avaliação de
verificação e de controlo dos resultados.
Também Rodrigues (1999) refere que avaliar implica as vertentes do controlo e até da
verificação, mas de uma outra forma, isto é “(…) como verificação ou medida de distâncias,
discrepâncias, desvios, conformidade ou coerência, quer seja entre planificação e realização,
regulamentação e aplicação, objectivos e resultados, quer como resultados e necessidades”
(p. 28). Nesta linha de pensamento, Fernandes (2004) considera que a avaliação deve ajudar
a motivar os alunos para aprenderem e para lhes indicar os progressos e os sucessos, assim
como os insucessos e as dificuldades.
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E a escola avalia o quê? Nos CRIA está referido que “A avaliação no ensino secundário
deve prosseguir as seguintes finalidades: estimular o sucesso educativo dos alunos; certificar
os saberes adquiridos; promover a qualidade do sistema educativo”. Podemos questionar
como é que a escola pode avaliar, tendo em vista as funções de controlo, de verificação, de
motivação para a aprendizagem, de indicador dos progressos, dos sucessos, dos insucessos e
das dificuldades.
Surgem, nas perspectivas empíricas referidas, duas funções distintas, mas
complementares da avaliação – a formativa e a sumativa que, no normativo legal já citado,
se encontram devidamente identificadas no artigo 11º:
2 - A avaliação formativa é contínua e sistemática e tem função diagnóstica, permitindo ao professor, ao aluno, ao encarregado de educação e a outras pessoas ou entidades legalmente autorizadas obter informação sobre o desenvolvimento das aprendizagens, com vista ao ajustamento de processos e estratégias. 3 - A avaliação sumativa consiste na formulação de um juízo globalizante, tem como objectivos a classificação e a certificação (…)
Como refere Fernandes (2004), tem surgido uma geração de investigadores que
olharam para a avaliação de outras formas. Para Scriven, citado em Nevo (1986) o conceito
de avaliação sumativa está mais ligado à prestação de contas, certificação e selecção e a
avaliação formativa está relacionada ao desenvolvimento, à melhoria das aprendizagens e à
regulação do processo. A avaliação deve levar à tomada de decisões, à recolha de
informação (não só dos testes), a envolver diversos intervenientes na avaliação (professores,
pais, alunos e outros), a valorizar os contextos e a definir critérios para se proceder a uma
apreciação valorativa. Seria mais como uma avaliação do processo, não havendo separação
entre a avaliação formativa e sumativa.
Na opinião de Perrenoud (1999), na avaliação das aprendizagens, subentende-se que o
aluno deve querer aprender e ter vontade de ser apoiado, isto é, o aluno é capaz de dizer
que tem dúvidas, mostrar a sua falta de pré-requisitos e até as suas dificuldades de
compreensão. Uma avaliação formativa exige cooperação entre todos os actores envolvidos
no processo de ensino e de aprendizagem. “Mudar a avaliação significa provavelmente
mudar a escola” (Perrenoud, 1999). Esta mudança seria essencial quando pensamos numa
avaliação formativa sem atribuição duma menção quantitativa, onde iríamos quebrar
equilíbrios estabelecidos, assim como desestabilizar a prática pedagógica e o funcionamento
da escola.
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Existem princípios que norteiam a avaliação educativa e que dependem do paradigma
que lhe é subjacente. Segundo Valadares e Graça (1998) existem três paradigmas que
influenciam o conceito de avaliação: o behaviorista, o psicométrico e o cognitivista.
Relativamente à função da avaliação estes paradigmas dão, respectivamente, ênfase ao
produto da aprendizagem, à medição e ao processo de aprendizagem.
Mager (1977), referido em Leite e Fernandes (2002), salienta e reforça o modelo
curricular de Tyler estruturado por etapas, nomeadamente, a definição de objectivos
terminais e comportamentais, através de actividades educativas apropriadas e com a
organização de meios adequados, que motiva a observação e leva à avaliação dos
resultados. Esta visão está associada à ideia de qualidade de educação, nas vertentes da
eficácia e eficiência. Para se poder avaliar devemos proceder à “recolha e interpretação
sistemática de informações que impliquem juízos de valor com vista a tomar decisões”
(Valadares & Graça, 1998). Outra concepção de avaliar é a de Rosales (1990) que não refere
apenas a recolha de informações, mas também a valoração das informações a partir de uma
actividade comparativa.
Podemos dizer que nos encontramos, a nível legal, situados no paradigma cognitivista,
quando o preâmbulo do Decreto-Lei n.º 74/2004,de 26 de Março, refere que “o objecto, as
modalidades e os efeitos da avaliação, enquanto processo regulador das aprendizagens,
orientador do percurso escolar e certificador das aquisições realizadas pelos alunos”.
Contudo, Valadares e Graça (1998) referem que, actualmente existe conflito entre os
defensores do paradigma psicométrico, em que a avaliação é defendida como a medição
rigorosa dos conhecimentos e capacidades dos alunos, e o paradigma cognitivista que pensa
o processo de avaliação no contexto em que a aprendizagem tem lugar, e com o objectivo
do conhecimento das tarefas de aprendizagem num processo de desenvolvimento cognitivo,
afectivo e psicomotor.
Neste conceito de avaliação são visíveis diferenças entre o legal e as práticas
existentes numa escola. Os CRIA referem:
9.2.1 Os testes de avaliação devem conter uma informação qualitativa e quantitativa (Ex. Suficiente – 12), podendo ser complementada com uma apreciação global e descritiva sobre o trabalho desenvolvido pelo aluno de acordo com os objectivos definidos para cada disciplina. 9.2.2 Nos restantes trabalhos escritos, como sejam os trabalhos individuais, de grupo, relatórios e outros, a informação aos alunos é qualitativa (Insuficiente, Suficiente, Bom,
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Muito Bom) e quantitativa. A avaliação destes trabalhos deve ser complementada com uma apreciação descritiva sobre o trabalho desenvolvido pelos alunos.
Verificamos a preocupação em valorizar os testes e os trabalhos escritos, isto é, de
uma avaliação quantitativa, apesar de ter a referência a uma avaliação qualitativa e até a
uma apreciação descritiva. Parece-nos que estes CRIA estão assentes, especialmente, no
paradigma psicométrico, com uma breve referência e tímida, a elementos do paradigma
cognitivista.
3. Funções da Avaliação
Função, palavra derivada do latim functio, significava cumprimento, execução,
trabalho, exercício (dicionário Priberam). Actualmente podemos entender a palavra função
como uso útil para algo. Assim, entendemos que a avaliação tem de ter uma função de
utilidade a nível da educação.
As duas modalidades de avaliação têm funções diferentes. A avaliação formativa é
contínua e sistemática e tem uma função diagnóstica, pois deve permitir informar sobre o
progresso das aprendizagens, todos os interessados no processo, com vista à adaptação do
mesmo e à redefinição das estratégias.
Em contraponto e de forma complementar, a avaliação sumativa permite a formulação
de um juízo globalizante e tem como objectivos a classificação e a certificação, isto é, a
tomada de decisão, no âmbito da aprovação e da classificação de cada disciplina e pode ser
interna, da responsabilidade dos professores e da escola, e externa, da responsabilidade do
Ministério da Educação, através dos exames externos.
Fernandes (2004) enfatiza a natureza psicométrica da avaliação sumativa, pela
formulação de juízos de valor sobre as aprendizagens, durante um período de ensino, na
realização de actividades que conduzam à aprendizagem. É o conceito de avaliação como
medida de produtos do ensino, através de instrumentos, normalmente testes, com funções
de classificação, de ordenação, de selecção ou de certificação, sem destaque para os
processos nem para os contextos em que as aprendizagens se desenvolvem.
A avaliação formativa, de acordo com Leite e Fernandes (2002) tem as funções de
controlo, porque assegura o cumprimento das etapas e dos procedimentos previstos no
processo, a nível de professores e de alunos, evitando desvios do que foi planificado e
caminhos distintos do determinado. Tem também a função de diagnóstico, quando se
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identificam os pré-requisitos dos alunos, situando-os relativamente aos objectivos definidos
e regular os caminhos da aprendizagem, perante o que se pretende ensinar e se deseja que
aprendam. Através da caracterização feita por Scriven (1964), Leite & Fernandes (2002)
descrevem a prática da avaliação formativa em três ideias chave: “regular (processos);
reforçar (êxitos); remediar (dificuldades)”.
Para Fernandes (2006) a avaliação formativa apresenta duas visões distintas, a
primeira e mais antiga, limitada, centrada em objectivos comportamentais e nos resultados
escolares, pouco interactiva e realizada em determinado período do processo; a segunda
visão, a mais recente, é mais interactiva, centrada nos conhecimentos e nos processos de
feedback, de regulação, de auto-avaliação e de auto-regulação das aprendizagens, mas
também mais complexa. A escola, pela análise feita aos CRIA, valorou esta primeira vertente
limitada, centrada nos resultados escolares, pouco interactiva e realizada através dos testes
e dos trabalhos escritos. Fernandes (2006) refere ainda que é esta forma a que está ainda
mais presente nas práticas docentes e pode ocorrer após a leccionação de uma unidade
curricular, a anteceder um momento de avaliação sumativa formal, tomando a designação
de revisões da matéria dada ou de um teste formativo. Neste documento existe a
preocupação com a avaliação formativa, mas que pela leitura feita, sob forma de revisão da
matéria dada e de teste de avaliação. Existe a formulação da avaliação descritiva em todos
os elementos de trabalho, de registo escrito que pode ser considerada como formativa, por
poder fornecer informação das aprendizagens aos alunos e seus encarregados de educação,
isto é, segundo Fernandes (2008), um processo pedagógico, orientado e controlado pelos
professores, para melhorar as aprendizagens dos alunos. Considerando esta forma de
avaliação formativa, é através do feedback que os professores comunicam aos alunos o
estado das suas aprendizagens e as orientações que os ajudarão a ultrapassar eventuais
dificuldades (Sadler, 1989, 1998) citado em Fernandes (2008). De acordo com Leite e
Fernandes (2002) “a avaliação formativa pressupõe sempre uma avaliação diagnóstica, quer
dos pontos de partida dos alunos, quer das situações relativas aos processos que conduzem
à aprendizagem”. A este respeito os CRIA nada referem relativamente à forma de se realizar
esta avaliação diagnóstica. A avaliação formativa será usada como diagnóstica, quando se
recolhem dados para conhecer o estado das aprendizagens dos alunos e tendo como
objectivo organizar actividades de remediação e de reforço das aprendizagens.
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Fernandes (2008) refere a importância de compreender os processos cognitivos e
metacognitivos dos alunos para os ajudarmos a regular as suas aprendizagens. Aqui a
avaliação formativa desempenha o papel da auto-avaliação, com pouco ou nenhuma
intervenção do professor. Tem uma perspectiva de regulação interactiva, cabendo aos
alunos a tarefa da responsabilização das suas aprendizagens, com a auto – avaliação e o
conhecimento dos objectivos a atingir.
Recentemente têm surgido outras expressões para designar a avaliação formativa,
como avaliação alternativa, onde tudo pode ser formativo, desde que não seja em testes de
papel e lápis e esteja integrado no processo de ensino e de aprendizagem. Esta designação,
que apresenta as características da avaliação formativa, está assente nos paradigmas
cognitivista e construtivista, mas os estudos empíricos ainda não clarificaram,
suficientemente, este conceito.
Vários investigadores citados em Fernandes (2008) referem que esta seria a avaliação
formativa capaz de melhorar significativamente as aprendizagens dos alunos.
Actualmente são vários os autores que utilizam as designações “avaliação das
aprendizagens” e “avaliação para as aprendizagens” com o mesmo significado das
designações “avaliação sumativa” e “avaliação formativa”, respectivamente.
Na avaliação das aprendizagens, os objectos de avaliação são os resultados da
aprendizagem dos alunos e ocorre após o desenvolvimento de uma ou mais unidades
curriculares. Avaliação sumativa faz uma súmula do que os alunos sabem e são capazes de
fazer num dado momento. As evidências, para esta avaliação, devem ser interpretadas com
normas, iguais para todos os alunos, tendo como referente as classificações finais que
devem ser válidas e fiáveis, não tendo em consideração o aluno enquanto indivíduo.
Procedendo a uma análise da relação entre a avaliação formativa e a avaliação
sumativa, Fernandes (2008) considerou três probabilidades:
Relação dicotómica, oposta, com relações muito distintas entre os intervenientes e
com objectos, finalidades e funções de avaliação também diferentes.
Dimensões de avaliação situadas entre dois pólos extremos: a avaliação formativa
informal e a avaliação sumativa formal. Entre estes dois extremos temos a avaliação
formativa formal e a avaliação sumativa informal, cujas finalidades e práticas
apresentam semelhanças.
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Complementaridade entre avaliação para as aprendizagens e a avaliação das
aprendizagens.
“A avaliação sumativa é o andaime que suporta todo edifício escolar, sobretudo no
campo da comprovação e hierarquização da aprendizagem, e a nota é um valor intrínseco às
práticas escolares, medindo unicamente a prestação dos alunos numa perspectiva de
sucesso ou insucesso” (Pacheco, 1998). Parece-nos que é esta a vertente existente na escola,
com evidências nos CRIA:
9.2. Avaliação Formativa: Na classificação dos testes de avaliação devem utilizar-se as seguintes notações:
Notação Qualitativa Notação Quantitativa Insuficiente 0 a 9,4 valores Suficiente 9,5 a 13,4 valores
Bom 13,5 a 17,4 valores
Muito Bom 17,5 a 20 valores
9.3. Os critérios de ponderação dos parâmetros da avaliação final de período no Ensino Secundário devem obedecer aos seguintes valores: 10º Ano – Cursos científico-humanísticos e tecnológicos Competências e conhecimentos - 85 % Atitudes e valores - 15 %
Este ponto regista confusão conceptual, pois fala em avaliação formativa e ao mesmo
tempo em classificação, parâmetros da avaliação final de período e valores, termos que se
encontram alicerçados na avaliação sumativa.
5. Bloqueios para as mudanças da prática avaliativa
Esta questão continua em aberto, pois temos a função formativa devidamente
legislada, aparentemente mais vantajosa para a aprendizagem que a sumativa, então o que
falta para que seja, efectivamente, esta a prática avaliativa dos professores e da escola?
Pelos CRIA constata-se que existe intenção de valorizar a avaliação formativa no Ensino
Secundário, mas que na essência confunde-se com a avaliação sumativa. Falta, talvez,
considerar a regulação dos processos, o reforço das aprendizagens e até a utilização das
estratégias para remediar as dificuldades de aprendizagem. Existe uma mistura de conceitos,
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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qualitativos e descritivos, que podem ser considerados formativos, com aqueles que na
realidade são aplicáveis numa avaliação quantitativa, isto é, sumativa.
São exigidas mudanças no paradigma aplicado na escola e pelos professores, que na
opinião de Perrenoud (1999) significa questionar os equilíbrios existentes e desestabilizar o
funcionamento pedagógico da escola. Existem mudanças que são fáceis de fazer – as escalas
utilizadas, as médias, entre outras, porque não afectam as práticas didácticas. Nem todas as
mudanças são difíceis mas esta, respeitante à avaliação formativa, tem sido particularmente
difícil, apesar de Perrenoud referir que esta é a “avaliação que ajuda o aluno a aprender e o
professor a ensinar” (1999). Mas não podemos esquecer a tradição e a sociedade, onde de
alguma forma todos fomos e somos avaliados quantitativamente, pelo que este é um
esquema familiar, perceptível por todos, pela sua imagem corrente. Mudar este sistema
seria retirar os pontos de referência da avaliação aos pais, o que criava dúvidas e angústias.
De acordo com Perrenoud (1999) no ensino secundário, a “avaliação formativa se
encontra em ruptura com as estratégias habituais dos alunos e exige uma espécie de
revolução cultural, fundada numa confiança recíproca e numa cultura comum que tornam a
transparência possível”.
Ainda a respeito de bloqueios da avaliação formativa, Fernandes (2006) refere que “a
avaliação formativa, não sendo a panaceia para os males dos sistemas educativos, é com
certeza um processo pedagógico essencial para apoiar milhões de crianças e jovens que, ano
após ano, experimentam a frustração, o desânimo, o abandono escolar e mesmo a exclusão
social”.
6. Conclusão
Terminamos como começámos, sem ter conhecimento do que se avalia
concretamente na escola. Sabemos que existe um conjunto de intenções formalizadas, os
CRIA, que procuram respeitar o normativo em vigor, mas que fica longe de fomentar a
mudança prática da avaliação. Utiliza-se a avaliação formativa, mas esta entra em campos da
sumativa. Não enfatizam ou valoram a avaliação formativa, de modo a que os professores no
processo de ensino e de aprendizagem possam controlar a aprendizagem, verificar
concretamente o estado da aprendizagem, regular as acções do processo, diagnosticar o que
está mal para poder melhorar…. Na prática, falamos frequentemente em avaliação
formativa, mas são poucos os que utilizam, convenientemente, este meio ao seu alcance
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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para promover o sucesso educativo. Apesar dos inúmeros estudos empíricos nesta área,
pensamos que ainda é um território, difícil, senão quase impossível de investigar. Inquirir
práticas docentes, com esta implicação é quase tarefa impossível e todos os estudos nesta
área não têm grandes avanços. Dão pistas, retratam algumas opiniões e evidências, mas não
garantem que a prática de um tipo de avaliação é melhor do que a outra.
A avaliação sumativa tem um papel essencial quando procuramos certificar, comparar
e medir o sucesso e o insucesso.
Existem, ainda, muitas questões em aberto que Fernandes (2006) refere como
centradas na sala de aula e na escola e que, por concordarmos com elas, as deixaremos aqui
em aberto:
1. De que formas é que professores e alunos integram os processos de ensino, de aprendizagem e de avaliação formativa? 2. Como se poderão relacionar e caracterizar as concepções e as práticas dos professores no âmbito das disciplinas, do seu ensino e da avaliação formativa? 3. Que critérios de avaliação utilizam os professores e como os articulam com o desenvolvimento das aprendizagens estruturantes que os alunos têm que realizar? 4. Como se poderão caracterizar os papéis dos alunos e dos professores nos processos de ensino, de aprendizagem e de avaliação? 5. Como é que o feedback é utilizado por professores e alunos? Qual a sua natureza? De que formas é distribuído pelos alunos? 6. Como é que alunos e professores regulam os processos de ensino e de aprendizagem? Que estratégias são mais utilizadas? Qual a sua natureza?
Em conclusão, Perrenoud (1999) refere “a avaliação formativa dá prioridade ao
domínio dos conhecimentos e das capacidades, considerando que a selecção é, quando
muito, um mal necessário, nunca um fim em si ou uma vantagem”.
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Referências Bibliográficas:
Couvaneiro, C.S. & Reis, M. A. D. (2007). Avaliar Reflectir Melhorar. Lisboa: Instituto Piaget. Fernandes, D. (2004). Avaliação das aprendizagens: Uma agenda, muitos desafios. Disponível em http://www.projectos.te.pt/projectos_te/area_exclusiva/pdf/doc_aval.pdf Fernandes, D. (2006). Para uma teoria da avaliação formativa. Revista Portuguesa de Educação. 19(2). (pp. 21-50). CIEd - Universidade do Minho. Disponível em http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/rpe/v19n2/v19n2a03.pdf Fernandes, D. (2008). Para uma teoria da avaliação no domínio das aprendizagens. Estudos em Avaliação Educacional. Universidade de Lisboa. v. 19. n. 41. (pp. 347-372). Disponível em http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1454/1454pdf Leite, C. & Fernandes, P. (2002). Avaliação das aprendizagens dos alunos -Novos contextos, novas práticas. Porto: ASA Editores II, S.A. Pacheco, J. (1998). Avaliação da aprendizagem. In L. Almeida e J. Tavares (org.). Conhecer, aprender e avaliar. (pp. 111-132). Porto: Porto Editora. Perrenoud, P. (1999). Não mexam na minha avaliação! Para uma abordagem sistémica da mudança pedagógica. In A. Estrela e A. Nóvoa (orgs). Avaliações em educação: Novas perspectivas. (p.171-206). Porto: Porto Editora, Lda Rodrigues, P. (1999). A avaliação curricular. In A. Estrela e A. Nóvoa (orgs). Avaliações em educação: Novas perspectivas. (pp.15-76). Porto: Porto Editora, Lda. Rosales, C. (1990). Avaliar é reflectir sobre o ensino. Rio Tinto: Edições ASA
Legislação Consultada: Decreto-Lei nº 74/2004, de 26 de Março Projecto Curricular de Escola, da Escola Secundária com 3º CEB de Ponte de Sôr. Disponível em http://www.esps.edu.pt
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AVALIAÇÃO EXTERNA DOS ALUNOS NO DISTRITO DE PORTALEGRE Equipa de Apoio às Escolas do Alentejo Norte e Jorge Mangerona*
Resumo: Com a necessidade de estabelecer metas nacionais a atingir a médio prazo, cada escola foi
confrontada com o imperativo de repensar o seu desempenho. A publicação dos resultados da avaliação externa dos alunos tem vindo a ser considerada um dos indicadores a utilizar, uma vez que a mesma influencia o modo como a sociedade olha a Escola e cada escola em particular. Através desta publicação de resultados, procurou-se verificar o desempenho dos alunos do distrito perante os testes de exame nacionais em 4 disciplinas, comparando os resultados nas sete unidades de ensino secundário e ainda perceber se a influência da condição socioeconómica se verifica de forma notória nessas mesmas unidades. Partilhando este estudo com os Directores e Presidentes dos Conselhos Gerais, solicitou-se a cada unidade a selecção de uma medida pedagógica a partir dos respectivos Projectos Educativos, que, ao longo do ano, servisse a melhoria de resultados fornecidos por este indicador em análise.
Estudaram-se ainda os resultados no ensino básico, aqui não apresentados, cooptados para a definição de tendências em agrupamentos ou escolas secundárias com 3º ciclo. Palavras-chave: Resultados escolares, Agrupamentos/escolas, Ensino Secundário e condição socioeconómica.
Metodologia
Foram utilizados os valores publicados pelo jornal Público nos anos 2006 a 2010 e os
relatórios anuais do JNE. As escolas forneceram os dados do SASE relativos aos escalões de
subsídios para a sua correlação com os resultados escolares.
Para comparação, estudaram-se as disciplinas comuns às sete unidades orgânicas:
Português, Matemática A, Física e Química A e Biologia e Geologia. As restantes disciplinas
foram alvo de apreciação isoladamente, na medida em que atingem valores bastante altos
ou bastante baixos.
Não foram considerados outros indicadores que permitam concluir acerca da eficácia
do trabalho realizado por cada uma das escolas como, por exemplo, taxas de repetência ou
capacidade de manter alunos no sistema educativo.
Neste artigo não estão publicados os dados que permitiram as leituras aqui
evidenciadas, sendo disponibilizados pela EAE Alentejo Norte.
* Equipa de Apoio às Escolas do Alentejo Norte, com a colaboração do professor aposentado Dr. Jorge Mangerona E-mail : [email protected]
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45
Numa segunda fase, centrada no ensino básico, seguiu-se uma metodologia
semelhante. Dada a sua relevância para o distrito, foram estudados, com maior grau de
aprofundamento os resultados no concelho de Elvas, incluindo os resultados de provas de
aferição e exames de 9º ano.
Apresentação dos resultados
Nos últimos anos, quer as escolas quer a comunicação social têm evidenciado uma
maior preocupação com o tratamento dos dados estatísticos fornecidos pelo Ministério da
Educação. Por um lado, torna-se evidente a escassez de dados complementares que
permitam uma análise mais localizada e focalizada dos referidos resultado; por outro lado, o
histórico dos últimos cinco anos começa a permitir definir tendências que merecem ser
analisadas.
Relativamente ao distrito de Portalegre, a primeira constatação evidente foi a de que,
nos anos e conjunto de provas considerado, a média das classificações do distrito foi sempre
inferior à média nacional.
Média Nacional/Média distrito
0
2
4
6
8
10
12
2006 2007 2008 2009 2010
Clas
sific
açõe
s
Média Nacional
Média Distrito
Da análise por unidade, foi possível verificar que o Agrupamento de Escolas de Alter do
Chão e o Agrupamento de Escolas de Nisa atingem sempre valores globais muito baixos
(abaixo dos 8 valores). Olhando a curva desenhada parece que, a não haver alterações nos
quotidianos escolares, tendencialmente, se manterão os resultados. Considerando a
diferença nota máxima/mínima de cada uma das disciplinas consideradas por escola, nos 5
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
46
anos estudados, tendo em conta que se trata de alunos internos, este aspecto merece ser
aprofundado.
Alter do Chão / Distrito
0
2
4
6
8
10
12
2006 2007 2008 2009 2010
Clas
sifica
ções
Alter doChão
Média doDistrito
D. Sancho II/Distrito
0
2
4
6
8
10
12
2006 2007 2008 2009 2010
Clas
sific
açõe
s
Média Distrito
D. SanchoII
Nisa/Distrito
0 2
4 6
8 10
12
2006 2007 2008 2009 2010
Clas
sific
açõe
s
Nisa
Média distrito
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47
ESPS/Distrito
0
2
4
6
8
10
12
2006 2007 2008 2009 2010
Clas
sifica
ções
ESPS
Média distrito
ESSL/ Distrito
0
2
4
6
8
10
12
2006 2007 2008 2009 2010
Clas
sifica
ções
ESSL
Média Distrito
ESMS/Distrito
0
2
4
6
8
10
12
2006 2007 2008 2009 2010
Clas
sific
açõe
s
MédiaESMS
MédiaDistri
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48
ESCM/Distrito
0
2
4
6
8
10
12
2006 2007 2008 2009 2010
Clas
sifica
ções
ESCM
Médiadistrito
A análise destes resultados, escola a escola, revelou ainda algumas situações
interessantes que merecem destaque e que evidenciam não só algumas das fragilidades dos
rankings permitindo, por exemplo, grandes oscilações na posição ordenada de uma dada
escola, como também a necessidade de dar publicidade às boas práticas. Constatou-se, por
exemplo, que os alunos da Escola Secundária de Campo Maior, no ano de 2008, atingiram a
média de dezasseis valores na disciplina de Matemática, facto que não mereceu a devida
atenção da comunicação social local, nem sequer da comunidade escolar regional. Saliente-
se ainda que muitos alunos obtêm classificações/ médias elevadas ingressando em cursos
superiores que, não sendo de medicina, são desvalorizados pela sociedade. Nos anos em
estudo, no distrito, houve alunos que atingiram classificações elevadas / máximas em
diversas disciplinas, como podemos observar no quadro abaixo:
Ano Classificação Máxima em Exame Disciplina
2006
18,9
Biologia Psicologia
2007
19,3
Matemática
2008
20
Matemática
2009
20
Matemática
2010
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Matemática
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O senso comum e as dificuldades da região levam a que os baixos resultados globais
sejam encarados como uma consequência e quase como uma fatalidade. Um dos aspectos
significativos deste estudo foi a análise da correlação entre resultados escolares e condição
sócio-económica dos alunos. Não havendo outro indicador, mais fiável, foi considerado
como representativo dessa realidade a percentagem, por escola, de alunos subsidiados.
Utilizou-se o coeficiente de correlação de Pearson.
Escolas Nº de alunos Nº de alunos subsidiados
% de alunos subsidiados
Média
Alter do Chão 191 89 46,60% 7,96
Nisa 357 158 44,26% 8
D. Sancho II 672 197 29,32% 9,32
ESPS 783 296 37,80% 8,75
ESSL 675 156 23,11% 10,67
ESMS 612 127 20,75% 10,15
ESCM 562 179 31,85% 9,11
Correlação entre a percentagem de alunos subsidiados e as médias dos exames nacionais
12/11/2010 EAE-AN
Coeficiente de correlação
12/11/2010 EAE-AN
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Como se depreende do valor encontrado (p= -0,97 < 0,05), há uma forte correlação
entre as médias dos exames nacionais e a percentagem de alunos subsidiados. No entanto, a
confirmação desta realidade não explica tudo, pois, comparado o distrito de Portalegre com
outros distritos do interior com características que parecem ser semelhantes, verifica-se que
a prestação global dos nossos alunos é a mais fraca a nível nacional. Sendo necessário
ultrapassar esta situação e encontrar soluções, os Directores das Escolas acordaram, em
sessão de trabalho conjunta, a definição de uma medida de melhoria, cujo resultado será
aferido após a próxima época de exames, em 2011.
Dada a relevância do concelho de Elvas, no contexto do distrito, foi este analisado em
particular, envolvendo, para isso as escolas básicas e a escola secundária, de modo a
consciencializar acerca da necessidade de articulação vertical entre ciclos. A análise relativa
aos resultados das escolas do concelho de Elvas mereceu as mesmas considerações
anteriormente apresentadas e seguiu-se a mesma metodologia. Apresenta-se, a seguir, o
gráfico que compara a média obtida pelas escolas do distrito e a média obtida pelas escolas
do concelho de Elvas no 3º CEB, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática:
3º CEB
Trabalho realizado pela EAE AN 9/12/2010
Da análise do gráfico podemos concluir que, no 3º CEB, o concelho de Elvas apresenta,
ao longo dos anos em análise, uma média sempre inferior à média do distrito, acontecendo
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o mesmo no 1º CEB e no 2º CEB, no que respeita às provas de aferição, como se mostra nos
quadros seguintes:
Língua Portuguesa
4º Ano 6º Ano
2009 2010 2009 2010
1 2,79 3,21 2,77 2,77 2 3,38 3,26 3,34 3,07 3 2,88 3,04 2,97 3,17
Distrito 3,19 3,17 3,18 3,18 Nacional 3,39 3,47 3,36 3,22
Matemática
4º Ano 6º Ano
2009 2010 2009 2010
1 2,58 3,16 2,42 2,26 2 3,09 3,13 3,01 2,91 3 2,98 3,41 3,13 2,69
Distrito 3,06 3,17 2,97 2,97 Nacional 3,5 3,54 3,1 3,14
Constata-se o facto dos resultados obtidos no 1º CEB serem melhores do que no 2º
CEB, numa tendência que parece ter características nacionais. Também os resultados
obtidos em Língua Portuguesa estão mais próximos das médias do distrito e nacional.
Conclusões
É evidente que os rankings, por si só, como já referido anteriormente, não são
suficientes para avaliar da qualidade do processo de ensino e de aprendizagem, mas
poderão indiciar tendências. Não aferem as boas práticas que muitas escolas /
agrupamentos do distrito implementam no seu quotidiano, nem são indicador de diferenças
e assimetrias entre as escolas. Contudo, não podem ser menosprezados, atendendo ao
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impacto que têm na sociedade em geral e à difusão que lhe é dada pela comunicação social,
nacional e regional, o que tem implicações na tomada de decisão dos diversos actores da
comunidade educativa.
Fontes:
Escolas/ Agrupamentos do Distrito.
Jornal Público, edições de 21 de Outubro de 2006; 2 de Novembro de 2007; 3 de Novembro
de 2008; 17 de Outubro de 2009 e 15 de Outubro de 2010.
Estatística do JNE respeitante ao 1º CEB, 2º CEB e 3º CEB
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LITERACIA E CIDADANIA
Lurdes Pratas Nico*
1. Do conceito de analfabetismo funcional ao conceito de Literacia
Tradicionalmente, utiliza-se a palavra analfabeto para designar uma pessoa iletrada e
que, literalmente, designa uma pessoa que não conhece o alfabeto, e por isso, não sabe ler
e escrever (Nico, 2009:72).
No nosso país, os valores reflectem bem a dimensão do problema do analfabetismo.
No início do século XX, a taxa de analfabetismo era superior a 60% e, na década de 70
(1974), atingia os 40% (Melo, 2005:37). Em 1991, essa taxa atingia os 11% e, em 2001,
reduziu 2% (9,1%) (INE, 2002).
A análise do problema do analfabetismo está, sempre, ancorada numa determinada
estrutura económica, social e política e poderá decorrer de um conjunto de factores, que
poderão contribuir, para uma maior ou menor prevalência desse problema. Esteves (1995:8-
9) aponta alguns desses factores:
(i) o índice de desenvolvimento económico dos países, o que é verificável
comparando as taxas de analfabetismo por região;
(ii) as políticas assumidas em matéria de educação de adultos;
(iii) a ausência de motivação das pessoas para a educação;
* Coordenadora da Equipa de Projecto Novas Oportunidades de Adultos – Direcção Regional de Educação do Alentejo. [email protected]
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(iv) as questões religiosas e culturais, tomando os países nórdicos, como exemplo,
que, desde cedo, assumiram o protestantismo, o que exigia que as pessoas soubessem
ler a Bíblia. Logo, no século XVI, começou-se a ensinar a ler e a escrever à população.
No final do século XVII, quase todas as pessoas, na Suécia, sabiam ler e escrever. Isto já
era uma manifestação de uma postura séria e de uma política de forte incentivo à Educação
de Adultos.
Em oposição ao analfabetismo coloca-se o conceito de alfabetização que,
tradicionalmente, traduz “…o acto de ensinar e de aprender a leitura, a escrita e o cálculo”
(Benavente et al, 1996:4). Melo (2006; 2007:8) refere, acerca do conceito de alfabetização,
que ela deve ser entendida como “um meio de participação social e política na nova
sociedade em construção, e não como um fim em si, uma técnica de ligar letras”.
Actualmente, toda essa realidade conceptual é associada a novos conceitos (Benavente et al,
1996:4; Simões, 1990:459).
Desde os anos 80, que os países industrializados (mais desenvolvidos) constatam a
existência de uma nova concepção de analfabetismo. Algo que era apenas conotado com os
países menos desenvolvidos, chegava agora a sociedades que se deparam com indivíduos
que, tendo aprendido a ler e a escrever, não são capazes de traduzir e aplicar essas
capacidades nas situações que a sociedade, agora mais exigente sob o ponto de vista técnico
e profissional, lhes exige (analfabetismo funcional). Sendo as condições laborais mais
exigentes, torna-se necessário dotar os indivíduos de competências nos diferentes domínios
da literacia (científica, digital, económica, tecnológica, numérica, linguística,…), para que
estes se possam adaptar às alterações constantes do mercado de trabalho (Nico, 2009:77).
A partir da década de 70, do século XX, há, também, estudos sobre a Alfabetização que
vêm confirmar esta realidade. Apontamos aquele que foi realizado em 1985 (EUA) designado
“Young Adult Literacy Survey” que serviu de base para o “National Adult Literacy Survey”
(NALS), em 1992 (EUA), onde se desenvolveram estudos de alfabetização funcional. Assim, o
conceito de alfabetização funcional passa a constar no discurso de teóricos de vários
contextos geográficos e científicos. Mais tarde, em 1996, doze países seguiram o exemplo
dos EUA, desenvolvendo, nos respectivos países, contextos de estudos de avaliação do
alfabetismo funcional. Portugal também viria a participar, em 1997 e 1998 (Nico, 2009:77).
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Na perspectiva de Lima (1990, citado por Nogueira, 1996:67), o analfabetismo
funcional:
“(…) exigirá um exame atento. Ou se reconhece que todos nós somos de alguma forma
analfabetos funcionais em alguma coisa – na utilização das novas tecnologias de informação
ou na compreensão dos complexos mecanismos de economia - por exemplo, ou nos arriscamos
a generalizar um rótulo, a produzir um estereótipo e mais um estigma que penalizará, mais
uma vez como quase sempre, determinados estratos sociais.”
O analfabetismo funcional (e o regressivo, também1), conduzem à introdução do
conceito de literacia. Este conceito, segundo Benavente et al (1996:4) “traduz a capacidade
de usar as competências (ensinadas e aprendidas) de leitura, de escrita e de cálculo”. Deixa
de haver uma conotação negativa, como outrora, e passa-se a falar em níveis de literacia. É o
continuum de competências que passa a ser considerado, ou seja, uma pessoa pode ter
mais ou menos competências, maiores ou menores níveis de literacia. O conceito de
literacia centra-se no uso das competências e não na sua obtenção ou posse (Nico, 2009:79).
Em Portugal, no campo da Literacia, destacam-se os estudos da autoria de Sim-Sim e
Ramalho (1993) e de Benavente et al (1996). No que respeita à população adulta
portuguesa, no estudo de 1996, quase 50% dos inquiridos revelou sérias dificuldades em
utilizar a informação escrita em situações do quotidiano, sendo reduzida a percentagem
daqueles que foram capazes de efectuar tarefas mais exigentes, situadas nos Níveis 3 e 4
(Ávila, 2008:157).
No contexto internacional, destacamos o estudo PISA, lançado pela OCDE (Organização
para o Desenvolvimento e Cooperação Económico), em 1997. O PISA procura “medir a
capacidade dos jovens de 15 anos para usarem os conhecimentos que têm de forma a
enfrentarem os desafios da vida real, em vez de simplesmente avaliar o domínio que detêm
sobre o conteúdo do seu currículo escolar específico” (http://www.gave.min-
edu.pt/np3/157.html), onde se destaca, entre outros, conhecer o grau de literacia dos
alunos.
1 Fernandes (1998:117) acrescenta que esse fenómeno pode decorrer de uma situação de não escolarização ou
de uma situação de “escolarização deficiente”.
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Em Abril de 2011, foi divulgado pela Comissão Europeia um relatório
(http://ec.europa.eu/education/news/news2900_en.htm), que revela assinaláveis
progressos, realizados por Portugal, em matéria de educação e formação. Destacamos, entre
outros, três pontos, desse relatório:
i) a referência ao PISA: no âmbito das competências dos alunos nos domínios da
leitura, matemática e ciências, Portugal foi um dos países que mais progrediu, entre 2000 e
2009, no domínio da leitura, pois a percentagem de alunos que registaram fracos resultados
regrediu 33,1%;
ii) a referência à Iniciativa Novas Oportunidades e o envolvimento da população adulta
em medidas de qualificação e de aquisição/ actualização de competências;
iii) a referência à implementação do Plano Nacional de Leitura e do Plano Tecnológico
da Educação.
No ponto seguinte, incidiremos, particularmente, sobre o referido nas alíneas ii) e iii).
2. A valorização da Literacia no Novas Oportunidades a Ler+
Com a Iniciativa Novas Oportunidades, criada em 2005, foram implementadas medidas
que visam, não apenas reconhecer, validar e certificar as competências adquiridas ao longo
da vida (os adquiridos experienciais, através de um processo designado Reconhecimento,
Validação e Certificação de Competências), como também promover a aquisição e/ou
actualização de competências em áreas fundamentais como a leitura, a escrita, o cálculo e as
tecnologias de informação e comunicação, concretizadas através de acções como: a
Formação Modular Certificada, o Programa de Formação em Competências Básicas, os
Cursos de Educação e Formação de Adultos, entre outras, enquanto respostas flexíveis,
integradas e mobilizadoras do princípio de aprendizagem ao longo da vida (ALV).
Tendo por base a necessidade de elevar as competências de leitura dos adultos, foi
criado o Novas Oportunidades a Ler +, que consiste num projecto do Plano Nacional de
Leitura (PNL), em parceria com a Agência Nacional para a Qualificação (ANQ, I.P.) e “destina-
se a apoiar o desenvolvimento do gosto pela leitura, junto do público da Iniciativa Novas
Oportunidades” (http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt), pois os adultos têm um papel
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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fundamental na promoção dos hábitos de leitura junto dos mais novos, incutindo-lhes o
prazer de ler, para conhecer e melhor intervir na sociedade em geral. A promoção dos
hábitos de leitura é uma responsabilidade de todos nós, dos diferentes agentes de educação
e formação e dos contextos de aprendizagem, quer sejam formais, não formais ou informais,
como sejam a escola, a família, a sociedade civil, que integram o percurso vital dos
indivíduos.
A importância da literacia na construção da cidadania é o tema de um encontro que
a DREAlentejo, através da Equipa de Projecto Novas Oportunidades de Adultos, irá
organizar, no próximo dia 28 de Junho, no Auditório da Direcção Regional de Educação do
Alentejo (http://novasoportunidades.drealentejo.pt).
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Referências Bibliográficas:
Ávila, P. (2008). A Literacia dos Adultos. Competências-Chave na Sociedade do Conhecimento. Lisboa: Celta Editora.
Benavente, A., Rosa, A. et al (1996). A Literacia em Portugal. Resultados de uma pesquisa extensiva e monográfica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Esteves, M. (1995). Os Novos Contornos do Analfabetismo. Analfabetismo ou Iletrismo: O que é? Quem são? Onde estão? Lisboa: Ministério da Educação/Departamento da Educação Básica - Núcleo da Educação Recorrente e Extra Escolar.
Fernandes, J. (1998). “Da alfabetização/educação de adultos à educação popular/comunitária: relevância do contributo de Paulo Freire”. In Michael Apple & António Nóvoa (orgs.). Paulo Freire: Política e Pedagogia. N.º 28. Porto: Porto Editora. pp. 113-150.
INE (2002). Censos 2001. Resultados Definitivos: XIV Recenseamento Geral da População: IV Recenseamento Geral da Habitação. Lisboa: INE.
Melo, A. (2005). “A ausência de uma política de educação de adultos é uma forma de controle social”. In Revista Aprender ao Longo da Vida. N.º 4. Lisboa: Associação O Direito de Aprender. pp.36-38.
Melo, A. (2006). “Da Serra Algarvia à Secretária do Ministro”. In Sessão Comemorativa do 30.º aniversário da Unidade de Educação de Adultos da Universidade do Minho, em 10 de Outubro (texto cedido pelo próprio).
Melo, A. (2007). “Apresentação e contextualização do estudo”. In ESDIME (Org.). O Impacto da Certificação de competências na vida das pessoas”. Camarate: IEFP. pp. 7-30.
Nico, L. (2009). Avaliação do(s) Impacto(s) do Processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC), no Alentejo (período 2001-2005) [Tese apresentada à Universidade de Évora tendo em vista a obtenção do Grau de Doutor em Ciências da Educação]. Évora: Universidade de Évora (policopiada).
Nogueira, A. (1996). Para uma Educação Permanente à Roda da Vida. Coimbra: Instituto de Inovação Educacional.
Sim-Sim, I. & Ramalho, G. (1993). Como Lêem as Nossas Crianças? Lisboa: Ministério da Educação – GEP.
Simões, A. (1990). “Alfabetização de Adultos”. In Revista Portuguesa de Pedagogia. Ano XXIV. Coimbra: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. pp.457-476.
Sítios de Internet consultados:
http://www.gave.min-edu.pt/np3/157.html
http://ec.europa.eu/education/news/news2900_en.htm
http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt
http://novasoportunidades.drealentejo.pt Évora, 03 de Junho de 2011
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O PAPEL DA ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL NA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
Ana Lampreia Ramos*
“Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem “tratar” sua própria presença no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem musicar, sem pintar, sem cuidar da terra, das águas, sem usar as mãos, sem esculpir, sem filosofar, sem pontos de vista sobre o mundo, sem fazer ciência, ou teologia, sem assombro em face do mistério, sem aprender, sem ensinar, sem ideias de formação, sem politizar não é possível”. (Paulo Freire, 1997, p. 64)
Resumo
Pretende-se com este texto realçar o contributo da Animação Sociocultural como veículo facilitador na promoção e na inovação das artes com vista ao desenvolvimento biopsicossocial e cultural do aluno, tendo em conta que, como estratégia de intervenção planificada, trabalha para um determinado modelo de desenvolvimento comunitário.
Palavras-chave: Animação Sociocultural; Arte; Educação; Criatividade, Desenvolvimento Humano e Educação pela arte, Cultura.
Numa sociedade moderna a arte não pode ser vista como exclusividade de uma
determinada cultura ou grupo social. As políticas educativas centradas num modelo mais
tradicional valorizam ainda a componente técnico-científica em detrimento da artística,
posicionando a arte como forma complementar aos processos de ensino mais
convencionais. Actualmente, o ensino das artes, da prática inerente à expressão e
manifestação artística, ainda apresenta um défice no tecido sociocultural português. A
limitação da oferta cultural no currículo de ensino em Portugal, faz com que as que as
chamadas elites procurem fora da escola alternativas que lhes garantam um
desenvolvimento equilibrado na sua formação; democratizar o acesso e o ensino da arte, ao
alcance de todos e como fonte de educação, socialização e humanização torna-se
fundamental para o desenvolvimento biopsicossocial infanto-juvenil.
Considerando que e o equilíbrio entre os dois hemisférios cerebrais, hemisfério
esquerdo e hemisfério direito é fundamental para o equilíbrio do cérebro; como menciona
Gardner “(…) el hemisfério izquierdo domina las operaciones lógicas y linguísticas, mientras
que el derecho lo hace de los conceptos especiales y creativos” (Marco Tello, 1996, p. 53),
todas as manifestações e formas diversificadas de aprender e fazer Arte, nas mais variadas
*Ana Lampreia Ramos, DSPGR - Direcção de Serviços de Planeamento e Gestão da Rede, DREAlentejo.
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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formas de expressão artística, são fundamentais para o pleno desenvolvimento das crianças
e dos jovens.
Entendendo-se que a “criatividade é a capacidade que o ser humano possui de
produzir um pensamento ou um produto novo (…) os quais podem assumir diversas formas
(artísticas), literária, científica de realização técnica, entre outros(…)” (Silva e Moinhos, 2010,
p. 25), poder-se-á dizer que o ensino das práticas artísticas são fundamentais para o
desenvolvimento da criatividade e da capacidade de reflexão crítica. Tal como referem Silva
e Moinhos (2010, p. 25), “tradicionalmente a criatividade estava associada ao talento
(inato), contudo se o talento não for desenvolvido e trabalhado, este pode não chegar a
manifestar-se ” (idem), como é o caso das novas profissões na área criativa, assim como, dos
designers, pintores ou escultores, que “precisam de conhecer e aperfeiçoar as suas técnicas
de criatividade, caso contrário limitar-se-ão a reproduzir as mesmas invenções” (idem).
Neste sentido e seguindo estas linhas de pensamento mais actuais, que defendem a
integração das artes na educação, bem como a importância de um modelo escolar mais
holístico no sentido de favorecer a plena formação do indivíduo, considera-se que o ensino,
bem como as práticas de educação pela Arte, podem ser um veículo facilitador do
desenvolvimento da criatividade e das capacidades de expressão e comunicação de cada
um, contribuindo para o seu pleno equilíbrio.
Os conceitos de educação pela arte – educação para a arte datam de 1978 pela
primeira vez entre nós no projecto do Plano Nacional de Educação Artística. “Nele se
considera que a educação pela arte propõe o desenvolvimento harmonioso da
personalidade, através de actividades de expressão artística, e que a educação para a arte
visa a formação de artistas profissionais e processa-se através do ensino artístico” (Santos,
1989, p. 42). Dentro duma abordagem ou uma pesquisa acerca do que se entende
actualmente por “educação pela arte”, verifica-se, antes de mais, a dificuldade em delimitá-
la num conceito mais ou menos definitório” (Santos, 1989, p. 39). Consideremo-la como uma
concepção que garante um processo educativo que se vai fazendo ao longo da vida. Neste
sentido, “a educação pela arte processar-se-á como via contínua e ascendente ao longo da
vida, e, dela decorrendo, a certa altura, mais ou menos intensamente, a do ensino artístico”
(Santos, 1989, p. 42).
A Educação Artística desenvolve novos modos de expressão, comunicação, integração,
compreensão e conhecimento do mundo, de “nós” e dos “outros”. Como diz Raposo (2004,
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p. 16), “quando se trata da educação artística, devemos manter presente que é importante
aprender a apreciar (ver, ouvir, sentir, tocar, é essencial) é igualmente importante facilitar o
contacto com a arte e educar os sentidos, tal como a sensibilidade, sendo que a
sensibilidade implica o nosso pensar sobre as nossas próprias sensações, sobre nós mesmos,
sobre os outros e o que nos rodeia, questionando a nossa relação com o mundo.”
Neste contexto, a Animação Sociocultural surge como forma de dar resposta a
determinadas questões sociais das sociedades modernas. “la animación sociocultural exige
que el hombre conozca la realidad en la que vive, no de una forma parcializada, sino desde
los distintos ángulos y vertientes que ésta presenta...(...)...con la finalidad de construir entre
todos una sociedad más humana y solidaria” Sánchez, 1997, p.17).
O termo “Animação” foi utilizado pela primeira vez em 1995 na Áustria, no decorrer de
uma reunião organizada pela UNESCO. Mas foi em França, na década de sessenta, que
indubitavelmente adquire a verdadeira identificação como instrumento precioso para dar
respostas aos problemas ligados a uma fracção social, económica e culturalmente pouco
favorecida, a chamada cultura popular.
São três os níveis de actuação em Animação: social, cultural e educativo. A Animação
Sociocultural parte de um desenvolvimento, entendido como “integral e endógeno, visto
que é capaz de unir entre si os progressos económicos, sociais, culturais, morais, reforçando-
-os na sua relação mútua. Endógeno, como a passagem de si mesmo a um nível superior, em
relações de soma positiva com outros” (Trilla, 2004, p.301). Considera-se, portanto, a
conjugação das três modalidades essenciais para envolver a participação de todos os
cidadãos e alcançar o desenvolvimento harmonioso numa sociedade.
A Animação Sociocultural, enquanto instrumento de acção é entendida como um
veículo facilitador da promoção e inovação dos indivíduos. De acordo com Palma “estimula o
sentido da iniciativa, a criatividade dos mesmo no seu próprio desenvolvimento ( … )
favorecendo formas de comunicação e expressão entre todos ( … ) visa transformar as
condições de participação dos indivíduos e dos grupos na comunidade, estimulando o
sentido de iniciativa ( … ). Quando a Animação Sociocultural toma a forma de uma
intervenção planificada, então podemos dizer que estamos em presença de uma tecnologia
social e cultural, que utiliza estratégias e planos de actuação e metodologias operativas de
intervenção, como estratégia de intervenção, que trabalha para um determinado modelo de
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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desenvolvimento comunitário que favorece formas de comunicação e expressão entre
todos” (Palma, 2000, p. 14).
Face ao exposto, considera-se que a Educação Artística tem, nos métodos e técnicas
de Animação Sociocultural, um preciso contributo no sentido de gerar respostas criativas e
inovadoras, com vista a um perfeito desenvolvimento biopsicossocial e cultural do aluno no
meio escolar. Perante isto, o domínio das artes é uma área essencial de formação que a
educação formal deve considerar.
Terminamos com um pensamento de João de Barros:
“Sem ensino artístico não há educação da sensibilidade e não há cultura geral que
valha”.
Pequenas notícias do Centro de Documentação Março/Abril
Longe da finalidade de criar artistas, a programação do Centro de Documentação da
DREALE, visa incluir aspectos de crucial importância, no sentido de proporcionar aos alunos a
vivência e a experiência no mundo das artes dentro do contexto escolar e, em simultâneo,
consciencializar os professores e os monitores de educação para a importância da Artes e
das expressões artísticas, no processo de desenvolvimento global infanto-juvenil. Neste
sentido, as actividades desenvolvidas para o período de Março/Abril foram as a seguir
enunciadas.
Book Trailer de Poesia Integrado nas Comemorações do Dia Mundial da Poesia do Centro Cultural de Belém
A Direcção Regional de Educação do Alentejo (DREALE), no início do ano lectivo
2010/2011 lançou o Concurso de Poesia “ Em Portugal, Sê Poeta”, direccionado a todos os
Agrupamentos de Escolas e Escolas não Agrupadas da sua área geográfica. O objectivo deste concurso visou promover e fomentar nos alunos o gosto por um
género literário específico, a poesia, num contexto interdisciplinar e interescolar.
A versão digital destes poemas – Book Trailer –, elaborado pelos alunos e professores
do Curso Profissional de Multimédia da Escola Secundária de Castro Verde, surge neste
contexto como resultado da compilação e ilustração dos poemas.
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1º Festival de Teatro Escolar do Alentejo
No âmbito das Comemorações do Dia Mundial do Teatro, a Direcção Regional de
Educação do Alentejo realizou o primeiro Festival de Teatro Escolar. Nos dias 24, 25 e 28 de
Março, o Auditório da DREALE, foi palco de uma programação repleta de temas, métodos e
técnicas de actuação diversificadas. Estas pequenas actuações teatrais envolveram toda a
comunidade educativa da sua área geográfica.
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Comemorações da Páscoa
O concurso e as exposições da Páscoa tiveram o objectivo de festejar a Páscoa e
contribuir para a divulgação das boas práticas culturais das escolas pertencentes à DREALE.
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Referências Bibliográficas:
Palma, A. N. (2000). Filhos da madrugada. Dissertação de Mestrado em Relações Interculturais. Universidade Aberta: Lisboa. Freire, P. (1997). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Editora Paz e Terra. Marco Tello, P. (1996) Motivación y creatividad en la preadolescencia. Secretariado de Publicaciones e Intercambio Científico, Universidad de Valladolid: Valladolid. Raposo, M. E. (2004). A construção da pessoa – Educação artística e competências transversais. Dissertação apresentada para obtenção do grau de Doutor em Ciências da Educação/Educação e Desenvolvimento, Universidade Nova de Lisboa: Lisboa. Sánchez, A. S. (1997). La animación hoy. Una respuesta a la realidad social. Madrid: Editorial CCS.
Santos, A. (1989). Mediações artísco-pedagógicas. Lisboa: Livros Horizonte.
Santos, A. (2000). Perspectivas psicológicas. Lisboa: Livros Horizonte. Silva, E. & Moinhos, R. (2010). Animação sociocultural – módulos opcionais. Lisboa: Plátano Editora. Trilla, J. (2004). Animação sociocultural – teorias, programas e âmbitos. Lisboa: Instituto Piaget.
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Projectos e
Intercâmbios Escolares
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A SEMENTE LANÇADA Escola Secundária Gabriel Pereira*
Lighting up the Darkness é o projecto europeu em que a Escola Secundária Gabriel
Pereira tem estado envolvida desde 2009 e que agora chega ao fim. Para o apuramento de
produtos finais e seu encerramento, decorreu em Esmirna, na Turquia mais um encontro
das escolas de oito países envolvidas neste projecto, Alemanha, Espanha, França, Itália,
Lituânia, Polónia, Portugal e Turquia.
A diferença horária, os cenários coloridos e ruidosos, a tez morena, a gastronomia e as
músicas nacionais foram mostras culturais que embalaram esta união de oito países. Por
entre actos formais, visitas oficiais, sessões de trabalho e actividades de carácter cultural,
lúdico ou simplesmente de promoção de relações interpessoais, sedimentaram-se os
princípios básicos do projecto: a entreajuda entre pares.
* Escola Secundária Gabriel Pereira
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Terminado o ano lectivo, e encerrado todo o processo, é intenção da escola manter os
princípios e o espírito de trabalho desenvolvidos durante estes dois anos. A experiência
adquirida e os materiais criados terão outros destinatários, mas a intenção e objectivos
serão os de sempre: tornar mais capazes e felizes os alunos que incluem no seu percurso a
passagem pela Gabriel Pereira.
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PROJECTO DE INICIAÇÃO À LÍNGUA INGLESA E ORIENTAÇÃO MUSICAL
NO PRÉ- ESCOLAR Município de Ponte de Sor*
Entidade Promotora
LOCAIS DE REALIZAÇÃO: JARDINS DE INFÂNCIA DOS AGRUPAMENTOS DE PONTE DE SOR E MONTARGIL
ENQUADRAMENTO
O Projecto de Iniciação à Língua Inglesa e Orientação Musical no Pré-escolar, constitui
uma aposta do Município no enriquecimento curricular deste nível de ensino através da
introdução destas áreas em articulação com as orientações curriculares definidas pelo
Ministério da Educação no Pré-escolar.
Este projecto tem como público-alvo, as crianças que frequentam os jardins-de-infância da
rede pública do ensino pré-escolar dos agrupamentos de escolas de Ponte de Sor e
Montargil, envolvendo cerca de 14 salas de jardim-de-infância.
Sendo a educação pré-escolar a primeira etapa da educação básica no processo de
educação ao longo da vida, a qual favorece a formação e o desenvolvimento equilibrado da
criança, tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e
solidário, consideramos que é neste nível que devem incidir as aprendizagens que se
* Entidade Promotora: Município de Ponte de Sor, Largo 25 de Abril, 7400-228 - Ponte de Sor Telf: 242 291 580 - Fax: 242 291 589 E-mail: [email protected]
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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constituem como basilares da educação/formação do cidadão de amanhã, o qual se depara
com uma sociedade global, cada vez mais exigente ao nível de competências de
comunicação e de competências relacionais que o tornem adaptado à convivência social.
Assim, este projecto valoriza, para além das competências de comunicação verbal numa
língua estrangeira, o desenvolvimento da expressão e a comunicação através da utilização
de linguagens múltiplas como meios de relação, de informação, de sensibilização estética e
de compreensão do mundo.
POPULAÇÃO ALVO
Crianças dos 3 aos 5/6 anos inseridos nas 14 salas de Jardins de infância dos
Agrupamentos de Escolas de Ponte de Sor e Montargil.
OBJECTIVOS DO PROJECTO
1. Levar as crianças a comunicar espontaneamente e de uma forma natural numa
língua estrangeira.
2. Habilitar as crianças a utilizar o Inglês em situações reais ou de brincadeira e de
entrar em contacto com a língua inglesa, desenvolvendo uma relação viva com a língua e a
capacidade de comunicar através da mesma;
3. Guiar as crianças a ultrapassar o balbucio tonal e rítmico, criando as bases para a
aprendizagem formal da música e para a autonomia musical.
4. Contribuir para o desenvolvimento de capacidades cognitivas, psicomotoras e sócio
relacionais nas crianças, promovendo assim o seu desenvolvimento global.
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PROJECTO ALCOKART DSAPOE*
1. Descrição sumária e objectivos
O presente projecto pretende contribuir de forma decisiva para ajudar os jovens na
adopção de comportamentos seguros especialmente em relação ao uso de substâncias
nocivas, como o álcool e as drogas, enquanto conduzem.
Assim, propôs-se em sede de projecto promover a aquisição de uma unidade móvel
constituída por um Kart e restante equipamento complementar, preparar materiais
adequados à divulgação e sensibilização para os riscos da condução sob o efeito do álcool e
outras substâncias psicotrópicas, organizar e treinar equipas de trabalho com jovens
colaboradores GARE e promover acções em todos os distritos e escolas do Continente.
O projecto será desenvolvido tendo em conta a experiência adquirida com a parceria
que a GARE tem mantido com os “Responsible Young Drivers” e a “Top 25” que nos tem
permitido trazer a Portugal o SIDNE 6.0,
denominado Alcokart no projecto europeu
desenvolvido por estas instituições.
O Alcokart é um veículo com
características próprias de um KART de
propulsão a baterias eléctricas, produzido
nos Estados Unidos da América, que simula
os efeitos do álcool ou outras drogas sobre
as capacidades de condução do motorista.
* DSAPOE - Direcção de Serviços de Apoio de Apoio Pedagógico e Organização Escolar, DREAlentejo
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As acções que pretendemos desenvolver, em cada local, terão a designação de “Dia da
Estrada” e serão desenhadas de acordo com os parceiros locais, com as escolas e outras
entidades que desejarem colaborar e poderão ter a duração de um ou vários dias.
Para a realização efectiva das acções nas escolas necessitamos de um espaço outdoor, onde
realizaremos um circuito rodoviário, 4 a 6 voluntários que servirão de suporte aos técnicos
da Gare.
De uma forma geral os alunos
são convidados a fazer as
primeiras voltas de kart a fim
de reco-nhecerem o terreno e
até para ganharem al-guma
confiança, nestas primeiras
voltas o técni-co apenas
acciona o modo “normal”.
Posteriormente a estas voltas
o técnico acciona o modo
alterado com o objectivo de
proporcionar ao aluno a sensação de conduzir sob o efeito de álcool e/ou outras
substâncias. Aqui o aluno pode realmente verificar que todos os tempos de reacção ficam
desfasados e que a coordenação também fica afectada.
Caberá ao técnico da GARE, desde que o aluno entra no kart até que finaliza o
percurso, experienciando os dois modos, abordar de forma lúdica e pedagógica aspectos
relacionados com os comportamentos de risco associados à condução sob o efeito de álcool
e/ou outras substâncias.
A actividade do “Alcovision Googles” também está
contemplada neste circuito, ou seja, enquanto alguns
jovens experimentam o Alcokart outros podem, através da
actividade dos Alcovision, verificar, enquanto sóbrios, qual
o efeito que o álcool tem na nossa visão.
No final o aluno será convidado a fazer uma pequena
avaliação daquilo que acabou de experienciar.
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Criámos um site (www.alcokart.pt) onde iremos manter um fórum de discussão com os
participantes. Através do site todos terão conhecimento das actividades e das escolas onde
realizaremos acções.
2 - Justificação
Este projecto surge exactamente da observação e diagnóstico da nossa comunidade
local e nacional, ou seja, embora as questões de segurança rodoviária e nomeadamente a
condução sob o efeito do álcool e outras drogas sejam de enorme importância na
sinistralidade nas nossas estradas, elas assumem um relevo especial nas faixas etárias jovens
e por essa razão a GARE entende que há muito trabalho a fazer e que poderemos dar uma
contribuição importante, usando meios apelativos e já testados.
Acreditamos que com este projecto e com uma intervenção concertada em escolas,
autarquias e outras entidades públicas e privadas, estaremos a contribuir decisivamente
para o combate à sinistralidade rodoviária na linha das orientações das Nações Unidas,
quando estabelece como a década de 2011-2020 como sendo a Década de Acção dedicada à
segurança rodoviária com o objectivo global de estabilizar e se possível diminuir o número
de mortes e de traumatizados das nossas estradas.
Esta luta tem que ser feita através do envolvimento conjunto do Estado e da Sociedade
Civil, pelo poder legislativo, judicial e autárquico, pela Educação e pela Saúde, pela Justiça,
pela Administração Interna, bem como pelos cidadãos organizados ou não e pela
Comunicação Social.
Face à necessidade que se impõe assumimos este projecto como um verdadeiro
exercício de cidadania solidária, pois através dele podemos chegar a várias camadas da
nossa sociedade, podemos envolver toda a comunidade, autarquias e todas as outras
instituições sejam elas IPSS ou ONG.
Ao longo de todo o trabalho que esta associação tem vindo a desenvolver temos
notado grande solicitação para actividades de sensibilização como esta a que nos propomos.
2. Público alvo
Como destinatários directos contamos atingir com as sessões de sensibilização 5 000
jovens entre os 12 e 18 anos, 500 professores, técnicos de educação e saúde, pais e agentes
sociais.
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Destinatários indirectos, a atingir com a divulgação junto dos órgãos de comunicação
social, com a distribuição de materiais informativos e com a consulta do website serão: 20
000 jovens e 2500 professores, técnicos de educação e saúde, pais e agentes sociais.
3. Implementação da acção: Recursos humanos e materiais
A implementação da acção pressupõe a criação de uma equipa dinâmica e coesa
constituída por:
♦ 1 Coordenador do projecto (Ana Rita Lavado)
♦ 1 Técnico no terreno
♦ 1 Técnico de apoio
Esta equipa terá que gerir os equipamentos fundamentais para este projecto:
♦ Alcokart (Dimensões aproximadas (122x193x76 cm)
♦ Viatura de transporte de pessoas, Alcokart e restante material e equipamento
pedagógico e de apoio
♦ Computador portátil
♦ Projector de vídeo
♦ Tela de projecção
♦ Televisor LCD
♦ Máquina fotográfica
♦ Telemóvel
♦ Tenda para exposição de material
informativo
♦ Material informativo
♦ Material pedagógico
♦ Material de apoio ao Alcokart (cones e fitas de sinalização, sinais de trânsito,
baterias, capacetes, óculos, extensões, etc.)
♦ Material publicitário
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Repositório de
Notícias
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CONFERÊNCIA COMENIUS REGIO: “CREATING EUROPEAN
NETWORKS OF REGIONS, BORDÉUS Maria Mário Murteira - DSAPOE*
Nos dias 11 e 12 de Maio de 2011 realizou-se em Bordéus a Conferência Comenius
Regio, reunindo todos os parceiros envolvidos com o objectivo de reflectir sobre o
desenvolvimento do Programa nos últimos dois anos.
Reforçar o papel das instituições locais e regionais na educação através da
responsabilidade directa e do poder que exerce na educação escolar, fomentar a interacção
política e administrativa entre todos os níveis governamentais através da efectiva
implementação de políticas educativas, estabelecer elos de ligação de educação para outras
áreas educativas como o emprego, desenvolvimento económico, migração, língua, inclusão
social, negócios, pesquisa e inovação, foram algumas das temáticas centradas nesta
Conferência. Foi também uma oportunidade de reflectir sobre a sustentabilidade do
Programa, estabelecendo futuras redes de trabalho das instituições regionais e locais com
papel activo na educação escolar.
Aspecto Geral da Conferência Workshop
*Maria Mário Murteira, Direcção de Serviços de Apoio de Apoio Pedagógico e Organização Escolar (DSAPOE) - DREAlentejo
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Estiveram presentes 280 participantes de todos os países da Europa e diversas
individualidades da Comissão Europeia e da Agência Nacional Francesa, como parceira de
organização, e de outras Agências Europeias, entre as quais Portugal. O programa de dois
dias, incluía, para além das comunicações, workshops temáticos, permitindo aos
participantes trabalharem em pequenos fóruns de discussão nas diferentes áreas em que
cooperam. Foi também uma oportunidade para dar visibilidade aos projectos a terminarem
este ano e para os outros que estão em desenvolvimento, exibindo-os, partilhando saberes,
criando novos conhecimentos e ambientes de trabalho para futuras parcerias.
A Direcção Regional de Educação do Alentejo deu visibilidade ao Projecto Comenius
Regio “Bibliotecas Sem Fronteiras”, estabelecido com a Consejería de Educación de
Extremadura, instituições que lideram o projecto em parceria com as seguintes escolas:
Agrupamento de Escolas de Campo Maior, Agrupamento Escolas n.º1 de Elvas e
Agrupamento de Escolas n.º 4 de Évora; com o apoio de parceiros como a Rede de
Bibliotecas Escolares, Delta Cafés, Biblioteca Pública de Évora e Centro de Formação de
Professores do Norte Alentejano. Do lado de lá da fronteira contamos com o CEIP "Manuel
Pacheco" de Badajoz, "José María Calatrava" de Mérida; Os IES "El Brocense" de Cáceres e
"Jálama" de Moraleja, CRA "Maestro Victoriano Mateos" de La Cumbre e ainda os Centros
de Profesores y Recursos (CPR) de Badajoz e Cáceres, a Biblioteca Pública Municipal "Juan
Pablo Forner" de Mérida e a Asociación Cultural Extremeño-Alentejana.
Conferência Comenius Regio
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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Exposição “Bibliotecas Sem Fronteiras”
A nossa presença na Conferência permitiu partilhar a experiência da parceria
portuguesa, cooperar em conjunto com todos os presentes e reflectir sobre os novos
desafios e futuro do Programa Comenius Regio.
Márcia Mendes e Andrés Ajo – Coordenadores de Projectos Agência Nacional de Portugal e Espanha
Esta actividade foi financiada no âmbito do Projecto Comenius Regio.
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FORMAÇÃO CO-FINANCIADA NA ÁREA DA FORMAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA
PARA ESTRANGEIROS ANOS LECTIVOS 2008-2009 E 2009-2010
DSPGR*
A migração de pessoas, na esmagadora maioria dos casos por razões que se prendem com
a procura de trabalho e de melhores condições de vida, é um elemento construtivo das
sociedades contemporâneas, fruto de um fenómeno que deixou de ser provisório para, ao invés,
se intensificar e diversificar, quer quanto às proveniências étnicas, culturais e linguísticas dos
cidadãos imigrantes, quer quanto ao modo como é perspectivado pelos próprios e, sobretudo,
pelas sociedades que os acolhem. Para a sua integração eles têm, o direito à língua do país de
acolhimento. Esta impõe-se como prioritária, de modo a que, em lugar de funcionar como
instrumento de discriminação, a língua se institua como meio de acesso à cidadania, como um
direito cuja aprendizagem viabilizará o usufruto dos outros direitos, assim como o conhecimento
e a promoção do cumprimento dos deveres que assistem a qualquer cidadão.
Em síntese, é preciso aprender o português para agir, ser um actor social, exercer uma
cidadania plena e consciente. Em conformidade, e na sequência da recente Lei da
Nacionalidade, fazer prova de um conhecimento suficiente da língua portuguesa (nível A2 do
quadro Europeu comum de referência para as Línguas) é também um dos requisitos para a
aquisição da nacionalidade portuguesa.
Para dar resposta a nível da aprendizagem do português aos imigrantes residentes em
Portugal, surgiu a formação em Língua Portuguesa para Estrangeiros, co-financiada pelo FSE,
através dos cursos aprovados no âmbito da Tipologia de Intervenção 6.6 do Eixo 6 (Cidadania,
Inclusão e Desenvolvimento Social) do POPH (Programa Operacional do Potencial Humano),
realizada no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional.
A Direcção Regional de Educação do Alentejo, no papel de entidade beneficiária do apoio,
está a promover formação no âmbito do projecto apresentado ao ACIDI. I.P (Alto Comissariado
para a Imigração e Diálogo Intercultura), enquanto Organismo Intermédio do POPH/QREN.
Esta formação faz parte do Programa “Português Para Todos” (PPT) sendo co-financiada
pelo FSE através da Tipologia de Intervenção 6.6 “Formação em Língua Portuguesa para
* DSPGR - Direcção de Serviços de Planeamento e Gestão da Rede, DREAlentejo
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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Estrangeiros”, do Eixo 6 “Cidadania, Inclusão e Desenvolvimento Social” do Programa
Operacional do Potencial Humano. A formação decorreu em algumas Escolas/Agrupamentos da
área da jurisdição desta Direcção Regional de Educação do Alentejo.
Os cursos são dirigidos aos cidadãos imigrantes e seus descendentes, dando-lhes a
possibilidade de aprendizagem da língua portuguesa, favorecendo uma inclusão social e
profissional. O perfil linguístico-comunicativo de saída deste referencial de formação
corresponde ao nível A2 do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas. Estes cursos
de formação de Português certificados auxiliarão nos processos de acesso à nacionalidade, à
autorização de residência permanente e/ou ao estatuto de residente de longa duração.
A DREALE, em parceria com as Escolas da área de abrangência, realizou formação co-
financiada pelo POPH no âmbito do projecto apresentada na Tipologia de Intervenção 6.6 do
Eixo 6 (Cidadania, Inclusão e Desenvolvimento) nos anos 2008 a 2010. Assim, no ano lectivo
2008/2009 foi realizada formação na Escola Secundária c/ 3º Ciclo de Moura, Escola Secundária
Gabriel Pereira/Évora e a Escola Secundária de Alcácer do Sal, com 53 formandos. No ano lectivo
2009/2010 foi realizada formação na Escola Secundária S. Lourenço/Portalegre, Escola
Secundária Gabriel Pereira/Évora e a Escola Secundária c/ 3º Ciclo Poeta Al Berto/Sines, tendo
esta abrangido 59 formandos.
O público-alvo nestes dois anos foi extremamente heterogéneo, resultando essa
heterogeneidade não apenas de diferentes proveniências linguísticas e culturais dos indivíduos,
mas também ao nível do conhecimento da nossa língua. Nestas formações os formandos que
frequentaram a formação eram de várias nacionalidades. A maior parte dos formandos eram
oriundos da Ucrânia, Holanda, Roménia, China e Rússia.
Conseguimos proporcionar a estes grupos de imigrantes conhecimentos que lhes
permitiram uma melhor inserção na comunidade, a nível cultural e profissional.
Como conclusão, podemos fazer um balanço positivo do Projecto de formação “Formação
em Língua Portuguesa Para Estrangeiros”. Os cursos realizados foram sem dúvida, neste
momento, já um promotor de mudança. Uma mudança silenciosa, mas determinante, para que
se valorize a aprendizagem, o acto de aprender.
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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FORMAÇÃO CO-FINANCIADA NA ÁREA DA QUALIFICAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO
PROFISSIONAL DSPGR*
No ano 2009 a DREALE desenvolveu um plano de formação no âmbito da candidatura
apresentada ao POPH (Programa Operacional do Potencial), através da Tipologia de
Intervenção 3.3 (Qualificação dos Profissionais da Administração Pública Central) do Eixo 3
(Qualificação e Aperfeiçoamento Profissional). O projecto foi financiado em 79,08% pelo FSE
(Fundo Social Europeu) e em 20,92% pelo Estado Português.
O plano de formação desenvolvido pela DREALE foi realizado no período de 02 de
Fevereiro a 9 de Dezembro de 2009 e teve como destinatários os Funcionários que
trabalhavam nos Serviços da DREALE e nos Estabelecimentos de Educação e Ensino da sua
área de abrangência (Direcções e Serviços Administrativos). A Direcção Regional tentou dar
resposta aos 166 formandos dos seus Serviços e aos formandos dos 540 Estabelecimentos
de Educação e Ensino da sua área de jurisdição distribuídos por distrito da seguinte forma:
Portalegre (111), Évora (171), Beja (184) e Setúbal (74).
O plano de formação teve como objectivos dotar os formandos de competências
técnicas e comportamentais necessárias a um desempenho profissional compatível com as
exigências decorrentes da modernização dos serviços, contribuindo em simultâneo para a
sua valorização pessoal e profissional. Com a formação tentou-se sensibilizar os Dirigentes
para uma gestão inovadora e mais eficaz para que seja possível atingir os objectivos
definidos na Missão da DREALE e dos Estabelecimentos de Educação e Ensino. Neste
momento impõe-se proceder à divulgação dos resultados da análise do plano de formação
de 2009, sendo de salientar o número de acções e turmas realizadas, o número de
formandos que concluíram a formação e as horas de formação ministradas/ recebidas. Da
análise do plano verificou-se que foram realizados 8 dos 9 cursos aprovados e 14 das 15
acções aprovadas. O projecto foi efectuado com 631 formandos. A taxa de execução quanto
* DSPGR - Direcção de Serviços de Planeamento e Gestão da Rede, DREAlentejo
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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ao número de formandos que concluíram a formação foi de 106,95% sendo a taxa de
execução do volume de formação de 103,75%.
A informação relativa aos 631 formandos que assistiram à formação foi trabalhada nas
seguintes categorias: Estabelecimentos de Educação e Ensino de origem, Distritos de
Origem, Categorias Profissionais, Grupo Etário, Situação do Formando no Final do Curso. Da
análise dos dados verificou-se que a maioria dos formandos teve origem nos seguintes
Estabelecimento de Educação Ensino: EB2,3 (156 formandos), ES/3 (96 formandos) e nos
Serviços da DREALE (112 formandos).
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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DIA DA ESCOLA SECUNDÁRIA GABRIEL PEREIRA Escola Secundária Gabriel Pereira*
No passado dia 28 de Março de 2011 o Conselho Geral, reunido extraordinariamente,
aprovou por unanimidade uma proposta do Director da Escola, para que o dia 27 de Março
passe a ser comemorado como “ O Dia da Escola Secundária Gabriel Pereira”.
Foi o Decreto nº 5334, de 27 de Março de 1919 que integrou a até então Escola
Industrial da Casa Pia, criada em 1914, na rede oficial de escolas de ensino técnico,
alcançando-se a autonomia pela qual lutaram professores, director e até pais de alunos.
Considerando que a Escola possui uma identidade própria e uma história rica e
estreitamente ligada a grandes momentos históricos e a figuras maiores da cultura da nossa
cidade (de que é apenas um exemplo o patrono, Gabriel Pereira), considerando que para
toda a comunidade educativa é importante criar momentos em que o convívio e o sentido
de pertença seja reforçado deve, neste dia, ser relembrada a história da Gabriel Pereira e
homenageados todos os alunos, professores e pessoal não docente que, ao longo de quase
um século, muito contribuíram para criar a forte identidade desta escola.
Este ano, sendo o dia 27 ao domingo, o acto foi assinalado no dia 28 com uma reunião
extraordinária do Conselho Geral e o descerrar de placa evocativa da data.
* Escola Secundária Gabriel Pereira
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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A ESGP NA FUTURÁLIA
Escola Secundária Gabriel Pereira*
Decorreu de 16 a 19 de Março, a 4ª edição da Futurália, na FIL, Parque das Nações.
Neste salão, que contou com a presença de 450 empresas e organismos públicos e privados,
os visitantes encontraram uma vasta oferta de informação e oportunidades na área da
educação, formação e empregabilidade que os ajudará a decidir o seu caminho académico e
profissional.
A Futurália – Salão de Oferta Educativa, Formação e Empregabilidade, deu a conhecer
a jovens estudantes (desde do 9º ano ao ensino universitário), recém-licenciados, pais e
* Escola Secundária Gabriel Pereira
REVISTA ALENTEJO EDUCAÇÃO – N.º3 (2011)
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encarregados de educação, professores e outros profissionais da área, as opções de
formação existentes a nível nacional e internacional.
A Escola Secundária Gabriel Pereira esteve representada pelo Curso Profissional
Técnico de Manutenção Industrial – AERONAVES, a convite da DREA.
Durante os quatro dias de duração da Futurália, os alunos do 12º - J, simularam
actividades relacionadas com o seu curso.
Durante todo o evento o espaço da Gabriel Pereira foi visitado por alguns milhares de
visitantes e muitos demonstraram um grande interesse pelos vários cursos propostos, para a
escola, no próximo ano lectivo.