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terça-feira, 6 de outubro de 2015

DESPOLITIZAÇÃO DOS CONFLITOS

O lugar e as possibilidades da política: da ditadura à “governança” neoliberal

Do Le Monde Diplom atique, 6 de outubro, 2015

Por Henri Acselrad

Verificam-se mudanças nos próprios sentidos e conteúdos da palavra política. Ela foi

deixando de designar o domínio da ação do poder legítimo de organizar a vida coletiva e

passou a ser associada à função de gerir as condições para o exercício de um poder que

lhe é superior, o poder financeiro – como vimos na Grécia.

Num documento redigido no exílio, em 1972, Betinho discutia as dificuldades da ação

política em condições de clandestinidade: “Ao se restringirem as possibilidades de viver

direta e amplamente as situações onde as lutas, as reivindicações, a prática social se

manifestavam, operou-se um distanciamento, às vezes até um desligamento da sociedade

enquanto objeto de conhecimento, daí originando-se situações de refração, de distorção

onde aparecem ‘substitutos’ dessa realidade”.1 Isolamento e dessintonia foram imagens

frequentemente mencionadas para descrever, no Brasil, a dificuldade de a militância

contra a ditadura fazer “a realidade política aparecer” ou torná-la transparente,

permitindo à sociedade entrar na “cena política real”. Essas imagens procuravam

exprimir a perda de sentido do real por parte dos militantes: “faltava a realidade, faltava

Aby a Yala: "Terra em sua plena

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No entanto, se as organizações que combatiam a ditadura dispunham de

conhecimentos limitados para formular suas estratégias, é importante não esquecer

que essa situação afetava, à época, a sociedade em seu conjunto. A censura à

imprensa e o empobrecimento do debate público geravam um manto de obscuridade

sobre esse “real”. Todos foram então, de algum modo, obrigados a conviver com

“substitutos do real”. É que toda fala crítica ao regime de exceção, quando expressa

em lugar público, era considerada suspeita: um comentário questionador efetuado

diante de uma banca de jornal podia ser visto como provocação policial. O

silenciamento da vida política foi sendo internalizado – “não se falava de política com

desconhecidos”. A própria militância, por sua vez, devia vigiar-se para, ao evocar

questões políticas em espaços públicos, não ser confundida com policiais

provocadores. Eis o que podemos chamar de “paradoxo da clandestinidade”: se, por

um lado, o povo silenciava sua fala política, referindo-se apenas a “como a vida estava

difícil”, os próprios opositores ao regime viam-se levados a restringir sua fala,

prevenindo-se de serem confundidos com agentes provocadores.

Foi assim que a grande política transformadora, aquela investida no questionamento

das estruturas orgânicas econômico-sociais vigentes,teve de se abrigar na

clandestinidade, tornando-se pouco visível. A “pequena política” – aquela que se

restringia à administração cotidiana de estruturas já estabelecidas –, por sua vez,

apequenou-se ainda mais, submetida ao poder de exceção. Com a destruição das

instituições da democracia formal, no âmbito do sistema político controlado pelo

aparato burocrático do autoritarismo, a política “encolheu”. A palavra transformadora

não pôde mais se fazer audível na esfera pública, passando a ser sussurrada em

espaços privados e semipúblicos ou, então, buscando sua audiência por meio das

irrupções violentas e episódicas, mediadas pelas ações armadas de oposição ao

regime.

O espaço do exercício da política, nas condições excepcionais do arbítrio, desviou-se

para as margens, ao custo de ter de fazer-se por “sinais de fumaça”, metáfora utilizada

pelo militante Herbert Daniel para descrever a prática corrente a que os clandestinos

se viam obrigados – de, por razões de segurança, queimar papéis contendo anotações

e ideias. A fala política fora, pelo poder do arbítrio, substancialmente emudecida,

ainda que a força crítica da militância subterrânea não deixasse de emitir seus sinais.

A política passava a se exercer em espaços frágeis, lugares onde as conversas

poderiam veladamente introduzir e exercitar alguma reflexão crítica no seio da vida

cotidiana. Isso porque, em regimes autoritários, a circulação do debate político é

obrigada a restringir-se a enclaves que operam como micropúblicos, contraespaços,

esferas de autonomia e interstícios da vida social que podem propiciar atividades de

resistência, formação e mobilização de redes de apoio à luta contra o arbítrio.

Em contexto de liberdade de expressão, as arenas públicas são os espaços onde atores

sociais definem e discutem situações percebidas como problemáticas. A restrição à

constituição de tais arenas é constante nas sociedades que vivem sob o autoritarismo.

A forma “comício relâmpago”, por exemplo, realizada com frequência por

organizações clandestinas nos “anos de chumbo”, fazia o que não podia ser objeto de

contestação no espaço público oficial e vigiado ser, de algum modo, debatido. O

movimento em direção a uma microarena pública emergente, porém, era com

frequência abortado, deixando de se constituir. As ditaduras operam um movimento

permanente de destruição de tais arenas públicas emergentes, seja pela censura à

imprensa, a dissolução de organizações populares, o encarceramento de críticos e

oponentes, a exposição exibicionista do poder arbitrário da máquina repressiva ou a

a política”; “a realidade política desapareceu”. Hannah Arendt já assinalara como ser

privado da liberdade de expressão e de meios de discussão significa “ser privado da

realidade”.2

apoderado de él con elmismo título queAlemania anexó alimperio la Alsacia y laLorena, con e...

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internalização do medo em larga escala na população.

O poder arbitrário, ao mesmo tempo que estreitava o espaço do debate público,

promovia uma degradação do sentido das palavras: a quebra da legalidade

democrática foi feita em nome da democracia; a censura foi justificada como requisito

da proteção da liberdade; a produção cultural foi cerceada a pretexto da defesade

valores; a justiça era encenada em tribunais militares de exceção que pretendiam

encarnar uma supostalegalidade; um simulacro de Congresso operava sob a ameaça

permanente de cassações de mandato.

Foi ao longo dessa escalada obscurantista que se lançou na ilegalidade o contingente

mais substantivo de opositores que procuravam reinventar espaços para a política,

redefinindo suas identidades, pertencimentos e modos de ação. As organizações

clandestinas constituíram formas políticas que experimentaram dramaticamente os

efeitos da “política antipolítica” do regime. A questão que então se colocava era: como

investir na conquista da palavra quando esta estava restrita em sua capacidade crítica

e se via emudecida pelo terror de Estado?

Cinquenta anos após o golpe de 1964 e trinta após o fim da ditadura, voltou-se a

discutir o que dela restou: a violência de Estado; a militarização das polícias; a

impunidade dos torturadores; a Lei da Anistia, pela qual os responsáveis pela

ditadura perdoaram a si próprios; as evidências de que grandes interesses econômicos

lucraram com o golpe, além de terem se envolvido no apoio à sua realização, à

continuidade do regime que dele decorreu, e, em certos casos, no financiamento

direto à repressão e à tortura. Mas restou também, sob novas formas, a degradação da

política, mergulhada em um tipo de realismo que parece negar a possibilidade de o

povo mobilizar sua inteligência coletiva para pensar sua própria condição, seu devir e

os meios de construí-lo. É que a partir dos anos 1990 novas modalidades de restrição

ao exercício da grande política foram se apresentando. Verificaram-se mudanças nos

próprios sentidos e conteúdos da palavra política. Ela foi deixando de designar o

domínio da ação do poder legítimo de organizar a vida coletiva e passou a ser

associada à função de gerir as condições para o exercício de um poder que lhe é

superior, o poder financeiro – como mostrou a recente usurpação da soberania grega.

Vale a pena, neste contexto, tentar observar, com um mesmo olhar, essas duas

décadas que vão do autoritarismo até a vigência do neoliberalismo, sem perder de

vista que, sob a ditadura ou sob a governança neoliberal, os meios de restrição à

reflexão e ao debate são, sem dúvida, de ordens completamente distintas. É que, em

lugar da antipolítica repressiva, exercida pelo regime de exceção até meados dos anos

1980, entraram em ação, desde os anos 1990, os mecanismos de uma antipolítica de

mercado.

A operação de uma esfera pública, em que se garanta a livre expressão da fala política,

significa a possiblidade de construir diferentes tipos de redes, relações e fóruns de

elaboração de pontos de vista e crenças partilhadas a respeito do mundo. Mas esses

espaços são sempre objeto de disputa – de ações políticas de caráter inventivo, em

condições de litígio sobre o objeto dos litígios, sobre a existência de litígio e sobre as

partes que nele se defrontam. No contexto da “governança” neoliberal, porém, passou

a vigorar o que Bourdieu chamou de “políticas de despolitização”,3 ações que

procuram destruir a ideia da política como modo de exercício da inteligência coletiva

na tentativa de superação da desigualdade.

O esforço em oferecer vantagens para os capitais internacionais – consenso social,

segurança, sustentabilidade ecológica – passou a justificar que todos os projetos em

disputa, nos diferentes espaços sociais, viessem a se anular em favor de uma

competição entre as localidades por investimento. O empresariado, por sua vez,

começou a adotar, com muito mais frequência, a tática da ameaça de fechar o negócio

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(civ ilização que se desenv olv eu em

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próximo à cidade de La Paz)

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Cultura andina pré-incaica

La Chakana

Imagem-símbolorelacionado a la Chakana

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como forma de desmobilizar as reivindicações dos trabalhadores. Com a aquisição de

maior mobilidade do capital – da capacidade de as empresas se deslocarem, a baixo

custo, entre diferentes pontos do espaço –, aumentaram os efeitos da ameaça

empresarial de saída, reduzindo a disposição dos trabalhadores de exercerem seus

direitos de associação e de pressão sobre os acordos salariais.4

O economista polonês Michael Kalecki5 já havia caracterizado, nos anos 1940, as

razões pelas quais o estado de laissez-faire é o preferido do empresariado: por meio da

retração ou relocalização de seus próprios investimentos, os empresários podem gerar

desemprego e disciplinar os trabalhadores. E, para impor suas regras aos governos,

manejam o clima dos negócios, seu “estado de confiança”, acenando com as

possibilidades de instabilidade social para constranger os governantes a adotar

políticas que os favoreçam. Com as reformas neoliberais, as grandes corporações

tornaram-se quase sujeitos das políticas governamentais, pressionando pela

flexibilização de regulações políticas e impondo as condições mais desejáveis para a

realização de seus negócios.

Eis, pois, que o período em que a política havia sido fortemente constrangida pela

violência da ação repressiva foi seguido por uma conjuntura em que a política passou

a ser esvaziada, dado o poder excepcional adquirido pelos capitais em detrimento dos

demais atores. Esse poder reside na possibilidade de ameaçar retirar os investimentos

dos espaços sociais onde vigora maior respeito a direitos e regulações para localizar-se

em áreas onde esses direitos se encontram menos assegurados. Por meio dessa

“chantagem locacional”, as grandes corporações colocam todos os trabalhadores do

mundo em competição, favorecendo, com a criação de empregos, aqueles – menos

organizados e menos protegidos por leis – que aceitem menores salários e menos

direitos. O mesmo ocorre no que diz respeito às normas ambientais e urbanísticas –

aquelas que deveriam, em princípio, estabelecer limites aos impactos destrutivos de

grandes projetos sobre o espaço de vida de trabalhadores, de grupos étnicos, assim

como de moradores de cidades hipertrofiadas pela chegada maciça de habitantes

atraídos por promessas de emprego.

Durante a ditadura, a questão foi como, em condições de risco, politizar as conversas,

dar densidade política a relações e situações, sob a vigilância e a violência do aparato

repressivo. No caso presente, processos de despolitização foram se configurando por

meio de dispositivos que previnem a politização dos conflitos. Uma naturalização da

desigualdade alimenta as ilusões de que o mercado premia os que trabalham. O

consumismo promove a organização maciça de indivíduos atomizados, que não

percebem as estruturas de reprodução da desigualdade no acesso a recursos

econômicos, territoriais, ambientais, judiciais e educacionais, de proteção social, de

saúde, saneamento e urbanidade, assim como a apropriação privada e oligárquica dos

meios políticos e dos espaços de informação e discussão públicas. A esfera de

deliberação, no âmbito do sistema político formal, viu-se crescentemente absorvida

pelo realismo de um debate entre o que “nós podemos” e o que “nós não podemos”.

Isso sem falar do pragmatismo, que, em nome da “governabilidade”, favorece a

privatização do Estado em mãos de cartéis empresariais, organizações religiosas ou

oligárquicas.

Pouco resta da política quando a ordem das coisas é apresentada como inelutável.

Como é possível fazer política usando palavras que pretendem, ao mesmo tempo,

dizer tudo e seu contrário, quando se trata de definir que tipo de sociedade convém

melhor a seus membros e como chegar lá? Diante das manipulações do

marketinggovernamental e da mídia comercial, movimentos como os ocorridos em

junho de 2013 nas grandes cidades do Brasil deram mostras, ao menos no que diz

respeito a uma parte dos que protestaram, de pretender recusar a instalação do

cinismo como forma de racionalização das interações sociais e políticas. Em meio à

diversidade de manifestantes, havia os que mostravam ter perdido a crença no valor

Pov os originários dos Andes

Representação da

Terra-mãe dos

Indígenas

ay maras

habitantes da

região andina da

Bolív ia

Pachamama

Pachamama (costas)

Pov os originários

habitantes do Mato

Grosso, Brasil

Arte Bakairi

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da fala política, assim como outros que nunca a haviam valorizado em seu poder

transformador. Mas estavam presentes também aqueles que procuraram fazer das

ruas um território para a reivindicação de igualdade. Ou, como nos termos que

Betinho usou para descrever os dilemas da clandestinidade, fazer “a realidade política

aparecer” ou torná-la transparente, permitindo à sociedade entrar na “cena política

real”.

Coloca-se assim, como em outras circunstâncias históricas se havia colocado para a

militância clandestina contra a ditadura, a questão da busca desse espaço movente

que precisa ser reinventado constantemente, no qual se definem identidades,

pertencimentos e modos de ação. Só que essa reinvenção concerne aos próprios

sujeitos políticos que procuram liberdades públicas e bens coletivos para todos, sem

discriminação de classe ou raça, de modo que todos possam participar, em igualdade

de condições, do debate sobre a construção de futuros.

Henri Acselrad é professor do Ippur/UFRJ e pesquisador do CNPq. O presente artigo

retoma questões debatidas no recém-lançado livro Sinais de fumaça na cidade: uma

sociologia da clandestinidade na luta contra a ditadura no Brasil, Editora Lamparina,

Rio de Janeiro, 2015.

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