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Dinâmica da mineração industrial na Amazônia Gilberto Marques [email protected] Bandeira do Brasil em barco que conduz pessoas a Juruti-PA, onde está instalada a Alcoa

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Dinâmica da mineração industrial na Amazônia

Gilberto [email protected]

Bandeira do Brasil em barco que conduz pessoas a Juruti-PA, onde está instalada a Alcoa

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Dinâmica da mineração industrial na AmazôniaGilberto Marques

Primeira grande pergunta

Mineração: desenvolvimento para quem?

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Os primeiros anos da década de 1970 foram marcados pelo choque do petróleo, crise da economia internacional e fim do milagre econômico brasileiro. Neste cenário, o II PND priorizou o setor produtor de bens de produção, substituindo importações, e determinou à Amazônia (em particular a porção oriental), por meio do II PDA (1975-79), a função de ser exportadora de produtos minerais (“fronteira de recursos naturais”).

Primeira grande pergunta

Ou: quem fica com o enorme montante de riqueza natural

extraído da Amazônia?

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MANGANÊS-AP (Serra do Navio) - 1ª experiência da grande mineração industrial na Amazônia. Associação da ICOMI com Bethlehem Steel. Interesses estratégicos dos EUA. O minério de alto teor esgotou-se no final dos anos 1970, mas a empresa manteve-se no Amapá até a década de 1990.PROJETO JARI - Daniel Ludwig adquiriu 3,7 milhões de hectares de terras (rio Jari, 1967): plantação de arroz, pinus/gmelina (celulose), pecuária e ainda uma mineradora para a extração de bauxita refratária. A fábrica de celulose foi construída no Japão (avalizada pelo BNDE). Também passou a explorar caulim.

Novas descobertas minerais: em 1966, a Codim, subsidiária da Union Carbide, descobriu reservas de manganês na serra do Sereno (Marabá) e em 1967 a United States Steel detectou as reservas de ferro da serra Arqueada (Carajás) e de manganês em Buritama. Em 1967 foram descobertas as reservas de bauxita (matéria-prima do alumínio) em Oriximiná, com 1,1 bilhão de toneladas.

Operação Amazônia (1966), novo Código Mineral (1967), Estatuto da Terra, Doutrina de Segurança Nacional (“espaço vazio”).

Delineou-se assim um processo de ocupação na Amazônia por meio de grandes projetos governamentais e privados. Com eles (desde meados dos anos 1970) a região foi efetivamente inserida na estratégia econômica imperialista.

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BAUXITA – MRN. Em 1967 a Alcan descobriu as reservas de bauxita no rio Trombetas (município de Oriximiná/PA) e criou uma subsidiária: a Mineração Rio do Norte (MRN), que em 1973/74 foi reorganizada a partir de um acordo entre Alcan/CVRD, o que levou à incorporação de várias empresas como acionistas - sendo que apenas três eram nacionais, as demais eram estrangeiras.

BAUXITA-ALBRÁS/ALUNORTE (Barcarena-PA) - decidiu-se beneficiar a bauxita (transformar em alumínio, o que interessava aos japoneses). Em 1976 empresários japoneses da indústria de alumínio fecharam um acordo com os governos do Pará e do Brasil, criando o Complexo Industrial de Barcarena/PA: Projeto Albrás (alumínio primário) e Alunorte (alumina – matéria-prima para o alumínio primário).

O governo brasileiro encarregou-se de oferecer a infra-estrutura necessária ao projeto, ficando o governo do Japão responsável pela tecnologia e parcela do financiamento. Para o funcionamento das duas fábricas o governo militar construiu a mega-hidrelétrica de Tucuruí (fundando a estatal Eletronorte para tal), assumindo os custos para si e fornecendo a energia ao empreendimento com uma tarifa subsidiada.

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FERRO-CARAJÁS/PGC - A CVRD adquiriu as ações da US Steel em 1977, com “apoio” do Banco Mundial e do Tesouro Nacional. As reservas, assim como o complexo mina-ferrovia-porto, formaram a espinha dorsal de um programa mais amplo: o Programa Grande Carajás (PGC) em 1980. Essa decisão foi influenciada pela busca de saldos positivos na balança comercial brasileira, como forma de responder à crise econômica. A área de influência direta do PGC alcançou 10,6% do território brasileiro e mais de 240 municípios do Maranhão, Pará e Tocantins. A província mineral de Carajás e outras áreas do PGC registram grande incidência de ferro, bauxita, ouro, níquel, cobre, manganês, cassiterita e minerais não-metálicos.

O PGC representou não apenas a perda de controle sobre a área por parte dos governos estaduais da Amazônia, mas também a redução do poder de intervenção das instituições tradicionais. SUDAM, SUFRAMA e BASA não tinham poder de decisão sobre o Programa.

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Foi nos anos 1970, aparentemente no auge da SUDAM, que se consolidou um projeto no qual a Amazônia integrou-se ao processo de acumulação capitalista brasileira (em suas associações com a divisão internacional do trabalho) como fornecedora de produtos naturais, principalmente minerais.

Do ponto de vista da economia regional, com os grandes projetos ocorreu uma reconfiguração produtiva e relação com o exterior, mas confirmando sua condição de região semi-colonial. Na Amazônia oriental a pauta de exportação foi dominada pelos produtos minerais.

Grandes Projetos Minerais: reestruturação do espaço e da economia amazônica

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NEOLIBERALISMOa Companhia Vale do Rio Doce foi privatizada em 1997, pelo preço de R$ 3,3 bilhões. Somente em reservas de ferro em Minas Gerais e na Serra dos Carajás (Sudeste do Pará) a empresa contava com 12,9 bilhões de toneladas, cujo valor não entrou no cálculo da privatização. O minério foi repassado a custo zero. A empresa dispunha ainda de R$ 700 milhões em caixa e já dava um lucro anual superior a R$ 500 milhões – valor que cresceria exponencialmente em decorrência do enorme investimento que havia sido feito na companhia pouco antes da privatização. Em condições normais, o preço pago pela empresa representa atualmente pouco mais que o lucro de um mês da mesma.

A própria companhia anuncia que 40% de seu capital total está em mãos estrangeiras.

Lula/Dilma nada fizeram para reestatizar a Vale. Ao contrário.Em 2011 foi a empresa com maior lucratividade na América Latina

Lei Kandir: isenção de ICMS para baratear o minério para as economias imperialistas.

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Composição acionária da Mineração Rio do Norte - bauxita

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Complexo de Hidrelétricas do Tapajós

INTERESSES ASSOCIADOS: HIDRELÉTRICAS

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Se somarmos as potências de hidrelétricas de Tucuruí (8.370 MW), Marabá (2.000 MW), Belo Monte (11.233 MW), Altamira (6.600 MW) e do Complexo Tapajós o Pará produzirá mais da metade de toda a energia atualmente produzida pelo Brasil (72.000 MW).

A construção das hidrelétricas responde a interesses diversos, inclusive dos produtores e das multinacionais de grãos (eclusas – hidrovias).

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SOJA, MADEIRA, DENDÊ E GADO

INTERESSES ASSOCIADOS: AGRONEGÓCIO

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Amazônia: uma “moderna” colônia energético-mineral (e do agronegócio)!

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Principais produtos exportados pela indústria extrativa mineral da Amazônia Legal, 2008/2009Fonte: MDIC/SECEX – IBRAM

Diversidade mineral X concentração produtiva

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Principais minérios exportados pelo Pará em 2011Fonte: MDIC/SECEX – Simineral

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Participação da indústria mineral no total das exportações paraenses em 2011Fonte: MDIC/SECEX – Simineral

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Principais destinos da exportação mineral do Pará em 2011Fonte: MDIC/SECEX, Simineral-PA, 2012.

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Previsão de investimentos da indústria mineral no Pará até 2015Fonte: Simineral-PA, 2011.

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Proporção dos investimentos minerais planejados no Pará até 2015Fonte: Simineral (2011).

O objetivo da multinacionais (brasileiras e estrangeiras) é extrair (pilhar) riqueza bruta. Beneficiamento? Só quando o Estado der grandes favores (por exemplo, energia elétrica – essa é uma das razões da construção de hidrelétricas na Amazônia).

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Riqueza X passivo social e ambientalEm 2011 foram exportados US$ 15,79 bilhões na forma produtos básicos e US$ 4,99 bi como industrializados, o que significa que para cada U$S 100,00 exportado US$ 76,00 foram em mercadorias sem beneficiamento, ou seja, riqueza bruta.No caso do Pará, a presença do extrativismo mineral é ainda maior que no restante da Amazônia. Em 2010, de tudo que este estado exportou 86% decorreu da produção mineral. Em 2011 as exportações paraenses totalizaram US$ 18,34 bilhões, destes 78,33% foram vendas de produtos não-industrializados (básicos).

Toda essa massa de riqueza produzida poderia ser muito maior se tivesse outra destinação, social, e não apenas o lucro e interesse das multinacionais monopolistas. Como não é assim, ela reforça gritantemente a contradição que opõe riqueza para poucos e miséria para muitos. Sem incluir algumas de suas participações em outras empresas, a Vale sozinha respondeu por 62% de tudo que o Norte exportou em 2011 e 70,25% das vendas externas do Pará. A cada dia ela exportou 266,3 mil toneladas de ferro retiradas de Carajás.

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Enquanto isso, estimava-se que metade da população do Pará vivesse tão somente com uma renda mensal de até R$ 100,00. Com aproximadamente 24 milhões de habitantes a Amazônia brasileira conta com 42% da população na condição de pobreza e mais de 10 milhões vivendo com até meio salário mínimo. Além dos interesses eleitorais imediatos da oligarquia local e de outros setores, como os latifundiários, a proposta de divisão territorial do Pará, criando outros dois estados (Carajás e Tapajós), interessava diretamente às grandes mineradoras (assim como às multinacionais dos grãos), que teriam controle mais imediato e amplo das riquezas naturais, negociando com uma burguesia regional ainda mais frágil e vendida.

Lixão do Aurá – Grande Belém

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O CASO DO AMAPÁEike Batista montou duas mineradoras no Amapá. A primeira foi a MMX Amapá, explorando o ferro. O projeto foi orçado em R$ 800 milhões, sendo R$ 580 milhões originários do BNDES. O empreendimento foi instalado irregularmente, sem um estudo de impacto ambiental. Logo depois, foi “vendido” para a multinacional Anglo American. O que o Estado do Amapá ganhou? Nada. A segunda mineradora foi a MPBA, que, segundo suspeitas (inclusive sendo investigada pela polícia federal), teria extraído ouro e o retirado da região de helicóptero para não pagar impostos. Reproduz-te atualmente o caso da ICOMI, que foi instalada no Estado nos anos 1950, esgotou a mina de manganês e deixou tão somente um rastro de miséria e danos ambientais.

Em 2011 a Anglo Ferrous Amapá Mineração LTDA, com US$ 494.836.033 respondeu por 82,09% de tudo que o estado exportou.

Segunda grande e mais importante pergunta:

O que fazer??

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Obrigado!Gilberto [email protected]