dinÂmica agropastoril em municÍpios do …6cieta.org/arquivos-anais/eixo1/diego tarley ferreira...

20
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 DINÂMICA AGROPASTORIL EM MUNICÍPIOS DO NORDESTE GOIANO PERANTE A IMPLANTAÇÃO DA RESERVA DA BIOSFERA GOYAZ Sara Alves da Silva Acadêmica do curso de Ciências Ambientais da Universidade Federal de Goiás [email protected] Diego Tarley Ferreira Nascimento Doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Goiáse Professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected] INTRODUÇÃO Considerada como a savana mais rica do mundo a ponto de ser tratado como um dos hotspots mundiais de biodiversidade (MYERS et al., 2002), o Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro (22% do território nacional) abrigando diversas populações que fazem parte de seu patrimônio histórico e cultural – como etnias indígenas, quilombolas e ribeirinhos que sobrevivem de seus recursos naturais e detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade (MMA, 2013). Devido sua localização geográfica, suas características físicas (existência de relevo plano) e climáticas (chuvas definidas e regulares), as áreas de cerrado, principalmente a partir dos anos 70, passaram a contar com iniciativas de financiamento público e privado para implantação de atividades agropastoris, com a introdução de tecnologias modernas para exploração capitalista (PIRES, 2000). Tanto é que atualmente as áreas de Cerrado são responsáveis pela criação de 43% do rebanho bovino brasileiro e produção de 63,5% da cultura de soja. Em fato, o bioma Cerrado possui um ritmo de desmatamento maior que o da Amazônia, visto que cerca de 66% de sua cobertura vegetal natural foi convertida em atividades antrópicas (KLINK; MACHADO, 2005) principalmente nas últimas cinco décadas. 3619

Upload: trannguyet

Post on 20-Sep-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

DINÂMICA AGROPASTORIL EM MUNICÍPIOS DONORDESTE GOIANO PERANTE A IMPLANTAÇÃO

DA RESERVA DA BIOSFERA GOYAZ

Sara Alves da Silva

Acadêmica do curso de Ciências Ambientais da Universidade Federal de Goiás

[email protected]

Diego Tarley Ferreira Nascimento

Doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Goiáse Professor da Pontifícia

Universidade Católica de Goiás

[email protected]

INTRODUÇÃO

Considerada como a savana mais rica do mundo a ponto de ser tratado como

um dos hotspots mundiais de biodiversidade (MYERS et al., 2002), o Cerrado é o segundo

maior bioma brasileiro (22% do território nacional) abrigando diversas populações que

fazem parte de seu patrimônio histórico e cultural – como etnias indígenas, quilombolas e

ribeirinhos que sobrevivem de seus recursos naturais e detêm um conhecimento tradicional

de sua biodiversidade (MMA, 2013).

Devido sua localização geográfica, suas características físicas (existência de

relevo plano) e climáticas (chuvas definidas e regulares), as áreas de cerrado, principalmente

a partir dos anos 70, passaram a contar com iniciativas de financiamento público e privado

para implantação de atividades agropastoris, com a introdução de tecnologias modernas

para exploração capitalista (PIRES, 2000). Tanto é que atualmente as áreas de Cerrado são

responsáveis pela criação de 43% do rebanho bovino brasileiro e produção de 63,5% da

cultura de soja.

Em fato, o bioma Cerrado possui um ritmo de desmatamento maior que o da

Amazônia, visto que cerca de 66% de sua cobertura vegetal natural foi convertida em

atividades antrópicas (KLINK; MACHADO, 2005) principalmente nas últimas cinco décadas.

3619

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Como tentativa de minimizar os impactos causados por esse ritmo acelerado de devastação

e manter algumas áreas conservadas surgem as Unidades de Conservação (MAZZETTO,

2009).

As Reservas da Biosfera (Resbio) são resultado de uma iniciativa da UNESCO

(Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) baseadas num modelo

adotado internacionalmente de gestão integrada, participativa e sustentável de áreas de

relevância socioambiental, cujo objetivo é “propiciar o planejamento multi-setorial

direcionado à conservação da biodiversidade, ao conhecimento científico e ao

desenvolvimento sustentável das regiões nelas inseridas” (LEI Nº 3.678, DE 13 DE OUTUBRO

DE 2005).

De acorco com a UNESCO, existem 621 Reservas localizadas em 117 países. O

Brasil conta com sete: Mata Atlântica, Cinturão Verde de São Paulo, Cerrado, Pantanal,

Caatinga, Amazônia Central e Serra do Espinhaço. A Reserva da Biosfera Cerrado

compreende uma área de 296.500 km² e foi instituída em três fases: a primeira em 1993,

compreendendo a Resbio do Distrito Federal; a segunda em 2000, localizada no nordeste de

Goiás e representada pelo nome Reserva da Biosfera Goyaz; a terceira em 2001, referente à

Resbio que compreende os estados do Tocantins, Piauí e Maranhão.

A Resbio Goyaz representa uma área territorial de 54.393 km² econtempla 25

municípios do nordeste de Goiás (Figura 1), abrangendo uma zona núcleo referente às

Unidades de Conservação do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, do Parque Estadual

Terra Ronca e do Parque Municipal de Itiquira e uma zona de amortecimento representada

pelas Àreas de Preservação Ambiental do Pouso Alto, de Terra Ronca e das Nascentes do Rio

Vermelho.

3620

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Figura 1. Localização da Reserva da Biosfera Goyaz.

Fonte: elaborada pelos autores.

3621

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

A área em estudo ainda compreende o Sítio Histórico e Patrimônio Cultural

Kalunga, dentre os municípios de Monte Alegre de Goiás, Terezina de Goiás e Cavalcante,

ocupando uma área de 2.620 km². Almeida (2010a, 2010b) destaca que o território dos

Kalungas está entre as maiores áreas de quilombolas do país, com uma população estimada

de 3.752 habitantes.

A região onde esta localizada a Rebio Goyaz foi, durante muito tempo,

caracterizada como uma das menos desenvolvidas do estado de Goiás. Contudo, apresenta

um rico patrimomio ambiental, social e cultural que de certa forma encontra-se vulnerável

às alterações socio-econômicas ocasionadas pelo avanço de atividades agropecuárias.

Nesse sentido, este trabalho teve por objetivo realizar uma caracterização e

análise da dinâmica das atividades agrícolas e pastoris existentes nos municípios

compreendidos pela Resbio Goyaz antes e após sua implantação, com o intuito de averiguar

seu impacto às atividades agropastoris.

METODOLOGIA

Como procedimentos metodológicos, foi realizada a compilação de dados do

Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente a um

período anterior e posterior da implantação da Resbio Goyaz, conforme disponibilidade dos

dados. Sendo assim, foram compilados dados de área ocupada por pastagens, referentes

aos anos de 1995 e 2006, e de rebanho bovino e de vacas, produção de mel e leite, área

ocupada por lavoura temporária e produção agrícola de arroz, cana, soja e milho, referentes

aos períodos de 2004 e 2010. Os dados foram tratados estatísticamente e representados

cartográficamente para subsidiar a análise do padrão espacial e da dinâmica temporal.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

As áreas ocupadas por pastagens nos municípios compreendidos pela Resbio

Goyaz apresentaram redução de 8,7% entre 1995 e 2006, considerando a perda de 251 mil

ha no período analisado. Contudo esta utilização da terra continua sendo bem presente

sobre a região, correspondendo a 37,6% da área da Resbio Goyaz em 2006. Em 1995,

quando as áreas revestidas por pastagem ocupavam 42,3% da área em estudo, os

municípios com maior proporção de área ocupada por pastagens situavam no centro-sul e

noroeste da região, representados por Formosa (320.847ha), Flores de Goiás (212.016ha),

Cavalcante (198.900ha), São João da Aliança (159.670ha) e Padre Bernado (143.070ha) –

3622

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Figura 2.

Figura 2. Área ocupada por pastagem em 1995, 2006 e Dinâmica - Reserva da Biosfera Goyaz.

Fonte: elaborada pelos autores.

3623

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Por sua vez, os municípios com menores proporções de áreas de pastagens se

enconntravam na região leste, com destaque para os municípios de Mambaí (9.798ha),

Buritinópolis (11.124ha), Damianópolis (25.148ha) e Simolândia (25.335ha). A dinâmica

existente entre 1995 e 2006 indica que os municípios do sul e leste mostraram tendência de

diminuição de áreas de pastagens, ao passo que alguns municípios do sudeste, centro e

noroeste mostraram aumento de tais áreas. Apesar da redução, Formosa continua sendo o

município com maior área de pastagens (266.206ha), seguido por Flores de Goiás

(220.498ha) e Cavalcante (201.587ha). Grande destaque deve ser dado a diminuição das

áreas de pastagens vista nos municípios concentrados no entorno do Distrito Federal, o que

pode sugerir a influência da capital federal à dinâmica do uso das terras nos municípios

vizinhos, assim como aqueles situados no nordeste da Resbio Goyaz, onde existe o Vão do

Paranã, uma depressão que, em sentido leste (divisa com a Bahia), apresenta um abrupto

aumento da altitude, apresentando elevadas declividades ao encontro das Chapadas do Rio

São Francisco, fato esse que dificulta a criação de rebanhos.

Há uma tendência de diminuição da área de pastagens para implantação de

lavouras não apenas na Resbio, mas também no estado de Goiás, conforme visto pelos

dados apresentados na Tabela 1, que demonstram que entre 1995 e 2006 houve

decréscimo de 3.879.997ha de áreas de pastagens e aumento de 1.415.726ha de áreas

revestidas por lavouras. Contudo, vale destaca que apesar da conversão, as áreas de

pastagens continuam sendo predominantes. Essa mesma tendência certamente deve se

estender para a Região Centro Oeste e até mesmo ao Brasil.

Tabela 1. Utilização das terras por lavouras e pastagens no Estado de Goiás (em ha).

1995 2006 Dinâmica 1995/2006Lavouras 2.174.853 3.590.579 1.415.726Pastagens 19.404.696 15.524.699 -3.879.997

Fonte: Censo Agropecuário do IBGE de 1995 e 2006.

Com relação o rebanho bovino e de vacas (Figura 3), houve um aumento de

104.019 cabeças de gado entre 2004 e 2010 em toda região compreendida pela Resbio

Goyaz. Tanto em 2004 quanto em 2010 é possível perceber que os municípios com maior

rebanho de bois e vacas concentraram-se num segmento que acompanham a BR-020 e

GO-110, certamente pelo fato da malha viária facilitar o escoamento da carne e leite

produzidos.

3624

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Figura 3. Rebanho bovino e de vacas - Reserva da Biosfera Goyaz.

Fonte: elaborada pelos autores.

3625

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

O grande destaque é para os municípios de Formosa (248.600), Flores de Goiás

(147.600) e Padre Bernado (131.000), com a maior quantidade de cabeças de gado em 2004,

exatamente os mesmos municípios com maiores proporções de áreas revestidas por

pastagem. Mas também valem menção os municípios de São Domingos (123.200), Minaçu

(115.900) e Monte Alegre (115.000). Com relação ao ano de 2010, o que se vê é o aumento

do rebanho de gado e vacas em quase todos os municípios da Resbio Goyaz, aumento esse

mais tímido nos municípios do entorno do Distrito Federal (exceto Planaltina que apresenta

aumento mais elevado) e na porção leste e mais intenso nos municípios do nordeste, com

destaque para Posse, São Domingos e Monte Alegre. Os únicos municípios que

apresentaram maior diminuição das cabeças de gado foram São João da Aliança (-30.400),

Minaçu (-9.900) e Flores de Goiás (-5.878).

O aumento do rebanho de bois e vacas, apesar da diminuição da área ocupada

por pastagens sugere que a criação de gados esteja sendo realizada de forma mais

intensiva, como reflexo da atuação para exploração capitalista.

Conforme visto pelo mapa da Figura 4, a grande maioria dos municípios não

produzem mel, geralmente concentrados na região norte e nordeste, o que destaca a pouca

representatividade de sua produção nos municípios compreendidos pela Resbio Goyaz.

Contudo, pelo fato das Resbios serem um modelo de conservação e de

exploração sustentável, vale destacar que houve aumento na produção de mel entre os

anos de 2004 e 2010 na região como um tudo, passando a produção de 7.670 kg em 2004

para 10.310 kg em 2010 (um aumento de 2.640 kg – 25,6%).

Em 2004, apenas oito municípios eram responsáveis pela produção de mel, com

destaque para Flores de Goiás (2.300 kg), Formosa (2.050kg) e Minaçu (1.300 kg). No ano de

2010, Padre Bernado deixou de produzir mel, passando a ser sete a quantidade de

municípios que produziam esse produto. No que se refere à dinâmica, os municípios de

Minaçu e Formosa foram aqueles que apresentaram maior aumento na produção, com

1.700 e 650 kg produzidos a mais com relação a 2004, respectivamente

3626

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Figura 4. Produção de mel em 2004, 2010 e Dinâmica - Reserva da Biosfera Goyaz.

Fonte: elaborada pelos autores.

3627

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Com relação à produção de leite (Figura 5), no período compreendido entre 2004

e 2010 houve um aumento de 16,5% em toda região da Resbio Goyaz, passando de uma

produção de 63.874 mil litros de leite em 2004 para 76.562 mil litros. Os municípios que

respondem pela maior produção de leite são Formosa e Minaçu. Vale destacar que os

municípios que possuiam menor produção de leite em 2004, concentrados à leste e

nordeste, apresentaram aumento na produção em 2010, correspondendo à região onde

concentraram os municípios com aumento do rebanho bovino e de vacas. Praticamente

todos os municípios apresentaram aumento da produção de leite, exceto Minaçu,

Cabeceiras, Formosa e Planaltina.

No que se refere à lavoura temporária, entre 2004 e 2010 houve um pequeno

aumento da área total, de cerca de 39.358ha, o que correspondeu a um aumento de 0,7%.

Conforme visto pela Figura 6, os municípios da porção centro e sul da Resbio Goyaz são

aqueles com maior proporção, principalmente em Cabeceiras, São João da Alinça e Padre

Bernado, que apresentaram as maiores áreas de lavouras temporárias tanto em 2004

quanto em 2010. Na dinâmica entre 2004/2010, os municípios de São João da Aliança, Padre

Bernado e Planaltina foram aqueles que apresentaram os maiores elevações das áreas

ocupadas por lavouras temporárias, com incremento de 13.117, 8.995 e 6.560ha,

respectivamente. Por outro lado, alguns municípios concentrados no nordeste

apresentaram recuo de áreas de lavouras temporárias, com destaque para São Domingos,

que apresentou diminuição de 3.220ha. Situado no noroeste, Minaçu também apresentou

considerável diminuição, de 1.295ha.

Vale destacar que justamente nos municípios situados na região sul da Resbio

Goyaz que apresentaram aumento das áreas de lavouras permantes que houve também a

diminuição das áreas de pastagem, o que corrobora a conversão de áreas pastoris para uso

agrícola.

3628

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Figura 5. Produção de Leite em 2004, 2010 e Dinâmica - Reserva da Biosfera Goyaz.

Fonte: elaborada pelos autores.

3629

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Figura 6. Área ocupada por Lavoura Temporária - Reserva da Biosfera Goyaz.

Fonte: elaborada pelos autores.

3630

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Contudo, ao analisar a produção agrícola das principais culturas na região

(Figuras 7, 8, 9 e 10) é possível perceber diferentes padrões e dinâmicas, como é o caso da

produção de arroz e cana-de-açucar se concentrarem nos municípios localizados ao norte e

nordeste da região ao passo que a produção de milho e soja se concentram naqueles

municípios situados na região sul, o que sugere que a conversão das áreas de pastagens

para atividade agrícola nos municípios ao sul da região esteja ocorrendo para a implantação

dessas duas últimas culturas.

Conforme pode ser visto pelos mapas da Figura 7 e 8, em alguns municípios da

região sul da Resbio Goayz não há produção de arroz e cana, ocorrendo o oposto com

relação à produção de soja, que inexiste em alguns municípios da norte e nordeste – vide

Figura 10. Por sua vez, a produção de milho está presente em todos municípios da área em

estudo (Figura 9).

Entre 2004 e 2010 houve aumento de apenas 2.905t de arroz, tendo

apresentado uma dinâmica bastante amena, com vários municípios apresentando branda

redução da produção entre o período analisado, com exceção de São Domingos, Minaçu e

Alto Paraíso que mostraram diminuição mais acentuada, e poucos municípios apresentando

um aumento considerável da produção agrícola dessa cultura (Figura 7).

Por sua vez, a produção de cana-de-açúcar (Figura 8) apresentou diminuição de

19.731t entre os anos de 2004 e 2010, com elevado recúo da produção dessa cultura

principalmente em Formosa (- 12.000t), São João da Aliança (- 3.000t) e Guarani de Goiás (-

2.640t). A diminuição da produção de cana pode ser vista em praticamente todos os

municípios da Resbio Goyaz, com exceção de sete municípios, todos situados na região

nordeste, dentre os quais se destacam São Domingos (+ 860t) e Nova Roma (+ 530t).

A produção de milho apresentou um aumento de 72.275 toneladas entre 2004 e

2010, tendo aumentado nos municípios da região sul (principalmente em Flores de Goiás,

com 23.650t, Planaltina, com 18.600t, e Formosa, com 16.112t) e norte, com diminuição em

municípios situados na nordeste.

Fato que merece ser destacado é que apesar de apenas nove municípios

responderem pela produção agrícola de soja, ela foi a cultura que apresentou maior

aumento entre os dois períodos analisados: com incremento de 754.526 toneladas de sua

produção. O que indica a concentração, especialização e intensificação dessa produção na

região em apreço.

3631

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Figura 7. Produção de Arroz em 2004, 2010 e Dinâmica - Reserva da Biosfera Goyaz.

Fonte: elaborada pelos autores.

3632

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Figura 8. Produção de Cana em 2004, 2010 e Dinâmica - Reserva da Biosfera Goyaz.

Fonte: elaborada pelos autores.

3633

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Figura 9. Produção de Milho em 2004, 2010 e Dinâmica - Reserva da Biosfera Goyaz.

Fonte: elaborada pelos autores.

3634

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Figura 10. Produção de Soja em 2004, 2010 e Dinâmica - Reserva da Biosfera Goyaz.

Fonte: elaborada pelos autores.

3635

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados e produtos cartográficos apresentados demonstram importantes

dinâmicas das atividades agropastoris nos municípios compreendidos pela Reserva da

Biosfera Goyaz, entre 1994/2004 e o ano de 2010 – período considerado nesse trabalho

como antecessor e sucessos à implantação da Resbio, que se deu no ano de 2000. O que

mais se destaca foi a conversão de áreas de pastagem para implantação de lavouras

temporárias, com destaque para as culturas de soja e milho, ocorrendo principalmente nos

municípios ao sul da Resbio, onde é vista a produção agrícola concentrada e ampliada

dessas culturas. Ainda, é presente na região a produção agrícola de subsistência, como é o

caso da produção de mel e leite, inclusive com aumento no período analisado, o que

corrobora o potencial da região em desenvolver a exploração sustentável. Contudo, os

dados apresentados apenas apresentam dinâmicas que sugerem terem sido provocadas

pela implantação da Resbio Goyaz, que necessitam de estudos mais detalhados e de caso

para comprovação da real atuação desse modelo de conservação e exploração sustentável

no contexto local do nordeste goiano.

3636

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. G. Dilemas territoriais e identitáriosem sítios patrimonializados: os Kalunga deGoiás. In: PELÁ, M.C.H; CASTILHO,D. (Org.).Cerrados: perspectivas e olhares. Goiânia:Editora Vieira, 2010a, v, p. 113-129.

___________. Território de Quilombolas: pelos vãos eserras dos Kalunga de Goiás – patrimônio ebiodiversidade de sujeitos do Cerrado. RevistaAteliê Geográfico – Edição Especial. V. 1, n. 9,fev. 2010b, p. 36-63

IBGE. Manual técnico de pedologia - 2a edição.Rio de Janeiro, 2007. 316 p.

KLINK, C. A.; MACHADO, R. B. Conservation of theBrazilian Cerrado.ConservationBiology, 2005,vol. 19, n. 3, p. 707-713.

MAZZETTO, C. E. Ordenamento Territorial noCerrado brasileiro: da fronteira monocultora amodelos baseados na sociobiodiversidade.

Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 19, p.89-109, jan./jun. 2009. Editora UFPR. Disponívelem: ˂ http://revistas.ufg.br/index.php/atelie/article/view/9387 . Acesso em: 18˃

Jun. 2013

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em<http://www.mma.gov.br > (Acessado em13/08/2013).

MYERS, N. et al. Biodiversity hotspots forconservation priorities. Nature. 2000, n. 403,p. 853-858.

PIRES, M. O.Programas Agrícolas Na OcupaçãoDo Cerrado. Sociedade e cultura, Vol. 3,Núm. 1-2, enero-diciembre, 2000, pp. 111-131.Universidade Federal de Goiás Brasil.Disponívelem:<http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed. jsp?iCve=70312129007 . Acesso em: 03dez. 2013.

3637

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

DINÂMICA AGROPASTORIL EM MUNICÍPIOS DO NORDESTE GOIANO PERANTE A IMPLANTAÇÃO DA RESERVA DA BIOSFERA GOYAZ

EIXO 1 – Transformações territoriais em perspectiva histórica: processos, escalas e contradições

RESUMO

As Reservas da Biosfera (Resbio) se baseiam num modelo adotado internacionalmente de gestão

integrada, participativa e sustentável de áreas de relevância socioambiental iniciado em 1968 pela

Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Atualmente existem

sete Reservas da Biosfera no Brasil: Mata Atlântica, Cinturão Verde de São Paulo, Cerrado,

Pantanal, Caatinga, Amazônia Central e Serra do Espinhaço – sendo a intenção de haver pelo

menos uma reserva em cada um dos biomas brasileiros. A Reserva da Biosfera no bioma Cerrado

foi instituída em três fases, sendo a primeira em 1993 (Resbio do Distrito Federal), a segunda em

2000 (resultando na Resbio de Goiás, também chamada Reserva da Biosfera Goyaz) e a terceira

em 2001 (resultando na Resbio que compreende os estados do Tocantins, Piauí e Maranhão). A

Resbio Goyaz abrange 25 municípios do Nordeste de Goiás, região de elevado potencial

ambiental merecedor de maiores atenções, já que esta localizada em uma área de avanço de

fronteira agrícola, cenário de rápidas e profundas alterações. Nesse sentido, este trabalho tem por

objetivo realizar uma caracterização e análise da dinâmica agropastoril da Resbio Goyaz,

realizando comparações entre os períodos anterior e posterior à implantação da Resbio. Para

tanto, foram coletados, tabulados, tratados e espacializados em ambiente de Sistemas de

Informações Geográficas (SIG) dados agropecuários do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística referentes à àreas plantadas por lavouras temporária e permanente, áreas ocupadas

por mata e pastagem natural, áreas planatadas e produção das principais culturas agrícolas da

região, cabeças de rebanhos e a quantidade comercializada dos principais produtos locais (leite,

ovos e mel). Os dados foram então cotejados e identificada a dinâmica entre os dois recortes

amostrais (anterior e posterior à implantação da Resbio Goyaz) com o intuito de demonstrar sua

dinâmica. Resultados preliminares indicam uma tendência de aumento das áreas de agricultura e

diminuição das de pastagem, mesmo elas continuarem representando maior predominância na

região.

Palavras-chave: Resbio; dinâmica; Goiás.

3638