diana carneiro poder local, comunicação e protocolo … · diana carneiro poder local,...

77
Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de 2016 Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Minho | 2016 U

Upload: others

Post on 04-Aug-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

Diana Carneiro

Poder local, comunicação e protocolo

Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

outubro de 2016

Dia

na C

arn

eiro

Po

de

r lo

ca

l, c

om

un

ica

çã

o e

pro

toco

lo

Min

ho |

2016

U

Page 2: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de
Page 3: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

Diana Carneiro

Poder local, comunicação e protocolo

Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

outubro de 2016

Relatório de Estágio

Mestrado em Ciências da Comunicação

Especialização em Publicidade e Relações Públicas

Trabalho efetuado sob a orientação da

Professora Doutora Madalena Oliveira

Page 4: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

ii

DECLARAÇÃO

Nome: Diana Carneiro

Endereço Eletrónico: [email protected]

Número do Cartão de Cidadão: 14153304

Título da Dissertação: Poder local, comunicação e protocolo

Orientadora: Professora Doutora Madalena Oliveira

Ano de Conclusão: 2016

Designação do Mestrado: Mestrado em Ciências da Comunicação – especialização em

Publicidade e Relações Públicas

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO APENAS PARA EFEITOS DE

INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE

COMPROMETE.

Universidade do Minho, __/__/____

Assinatura: ______________________________________________________

Page 5: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

iii

Agradecimentos

Aos meus pais, por tudo.

À minha irmã.

Aos meus avós.

Ao Luís Lisboa.

Aos meus amigos.

À docente Madalena Oliveira que, apesar de não ter sido minha

professora inicialmente, a escolhi para orientadora e me

acompanhou e orientou nesta caminhada até ao fim.

Aos docentes com que me cruzei neste segundo ciclo.

“Põe quanto és no mínimo que fazes”, Ricardo Reis.

Page 6: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

iv

Page 7: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

v

Poder local, comunicação e protocolo

Resumo

A valorização da comunicação nas sociedades contemporâneas torna-se, cada vez mais,

crescente. Organizações públicas e privadas procuram, hoje em dia, obter uma imagem o mais positiva

possível. Com esse objetivo, são criadas estratégias e processos de comunicação que ampliam a sua

visibilidade, fortalecendo a confiança e a relação entre a organização e o seu público-alvo. Apesar de

terem um cariz público e administrativo, as autarquias não são exceção no que toca à procura da

transmissão de uma boa imagem e da criação de melhor relação com os seus públicos, sejam internos

ou externos. As Câmaras Municipais têm apostado, por isso, na implementação de gabinetes de

comunicação especializados em assessoria de imprensa ou relações públicas, através dos quais

procuram a notoriedade tão desejada. Mas será que esses gabinetes existem mesmo na prática ou

apenas na teoria? E os profissionais que desempenham as funções são formados na área ou não? Que

atividades desempenham estes profissionais? Que lugar ocupa o protocolo nas tarefas dos gabinetes

de comunicação? Que importância / centralidade deve ser reconhecida à gestão do protocolo no

quadro das relações interinstitucionais de uma autarquia?

Sendo uma atividade reconhecida há relativamente pouco tempo, a comunicação institucional

do poder local está ainda, muitas vezes, entregue a gabinetes e colaboradores pouco especializados.

Noutros casos, muitas das ações específicas de comunicação externa fazem-se com recurso a

gabinetes externos contratados para o efeito, ficando os colaboradores diretos das autarquias

encarregues quase só de questões protocolares.

Tendo por referência a experiência de estágio em Relações Públicas realizado na Câmara

Municipal de Braga entre setembro e dezembro de 2015, este relatório centra-se no papel dos

gabinetes de comunicação afetos às autarquias. Nesse sentido, para além de relatar as atividades

profissionalizantes realizadas no período referido, procura-se refletir sobre a importância da

comunicação profissional no quadro do poder local. Em detalhe, a reflexão desenvolvida nos termos

deste trabalho incide sobre a forma como se processa a comunicação numa autarquia, o

funcionamento dos gabinetes de comunicação (com particular enfoque na Câmara Municipal de

Braga), a forma como estas estruturas tentam chegar ao seu público e os procedimentos que

desenvolvem na organização de eventos e na promoção das relações interinstitucionais. Esta

abordagem tem como princípio a preocupação expressa pela Câmara Municipal de Braga de construir

e manter atualizada uma base de dados referente a todas as instituições e associações, internas e

externas ao município, tarefa a que este estágio foi em grande parte dedicado.

Palavras-chave: relações públicas; poder local; protocolo; comunicação; autarquia

Page 8: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

vi

Page 9: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

vii

Local political power, communication and protocol

Abstract

The valorization of communication in today’s society is growing more than ever. Today, public and private organizations are looking to get the most positive image that is possible. In order to achieve

that goal, strategies and communication processes are created with the purpose of expand their

visibility, reinforcing trust and the relation between the organization and their target audience. In spite

of having a public and administrative nature, the autarchies are no exception when looking to transmit

a good image and a better relationship with their audiences, internal or external. Because of that, the

city councils are implementing communication offices that are specialized in press advisory or public

relations through which they try to get the desired recognition. But, do those offices really exist or they

just exist theoretically? And the professionals doing those things have a degree in that area or not?

Which activities do they play? Which spot does protocol occupy in the communication offices’ tasks? What importance should be recognized to the protocol management in an autarchy’s interinstitutional relations board?

Most of the times, institutional communication, being an activity relatively new, is the

responsibility of offices and contributors who aren’t specialized on the matter. In other cases, many of the external communication’s specific actions are done using external offices hired for that purpose and the autarchies’ direct contributors are only responsible for questions related with protocol.

Having a probation in public relations on Braga’s city council between September and December of 2015 as reference, this report focus on the autarchies’ communication offices role. In that way, beyond reporting the professional activities conducted in the mentioned period, we look to

reflect on the importance of professional communication in the local political power’s board. In detail, the reflection developed in the terms of this work focus on the way that communication is processed

in an autarchy, the communication offices’ operation (with particular focus on Braga’s city council), the way these structures try to get to their audience and the procedures that they develop in the organization

of events and the promotion of interinstitutional relations. This approach has, as its principle, the

concern manifested by Braga’s city council in build and keep updated a database relative to all the institutions and associations, internal and external to the county, a task to what this probation was

mostly dedicated.

Keywords: public relations; local political power; protocol; communication; city hall

Page 10: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

viii

Page 11: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

ix

Sumário

Agradecimentos ..................................................................................................................................... iii

Resumo .................................................................................................................................................. v

Abstract ................................................................................................................................................ vii

Introdução .............................................................................................................................................. 1

Capítulo 1 ............................................................................................................................................... 5

Da teoria à prática. O estudo das Relações Públicas ................................................................................ 5

Estudar versus exercer Relações Públicas ........................................................................................... 5

O estágio no contexto de uma autarquia .............................................................................................. 8

Capítulo 2: ............................................................................................................................................13

Das singularidades do poder local à especificidade da comunicação autárquica .....................................13

Poder local .......................................................................................................................................13

Protocolo ..........................................................................................................................................17

Protocolo autárquico ..................................................................................................................19

Comunicação nas autarquias ............................................................................................................21

O Relações Públicas .........................................................................................................................25

Surgimento do Relações Públicas ou profissional de comunicação ..............................................25

O Relações Públicas em Portugal ...............................................................................................28

O papel do Relações Públicas .....................................................................................................30

Capítulo 3: ............................................................................................................................................35

Os gabinetes de comunicação das autarquias do Norte do país – um estudo exploratório ......................35

Auscultação às Câmaras Municipais do distrito de Braga ...................................................................39

Entrevista ao diretor do gabinete de comunicação da Câmara Municipal de Braga .............................44

Leitura e análise de dados ................................................................................................................48

Considerações finais .............................................................................................................................50

Referências bibliográficas ......................................................................................................................53

Anexos ..................................................................................................................................................56

Page 12: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

x

Page 13: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

1

Introdução

presente relatório de estágio é redigido com base na experiência de estágio na

Câmara Municipal de Braga (CMB) durante um trimestre, estágio esse que é parte

integrante do plano curricular do Mestrado em Ciências da Comunicação – área de

especialização em Publicidade e Relações Públicas, pela Universidade do Minho. Com início a 15

de setembro e término a 15 de dezembro de 2015, o estágio no Gabinete de Comunicação serviu

como forma de consolidar os conhecimentos adquiridos ao longo deste curso de segundo ciclo

através da prática e observação em contexto real de atuação.

A oportunidade de, não só observar, mas também desempenhar algumas tarefas permitiu,

além da experiência, entender as funções que um profissional de Relações Públicas desempenha

no contexto de uma autarquia. Neste contexto, foi prestada especial atenção ao modo como estes

profissionais promovem a comunicação com o público, quer interno, quer externo, à forma como

se desenvolvem as atividades da CMB seguindo um protocolo e ao modo como se age em

situações do quotidiano. Tudo isto se desenrolou com as limitações que um estagiário sabe que,

à partida, irá encontrar. Para além da inexperiência que os estudantes normalmente revelam, o

exercício de atividades práticas por estagiários é também inibido, no caso das autarquias, pelo

facto de se tratar de uma área de trabalho muitas vezes ligada a questões de sigilo profissional.

Apesar destes constrangimentos, o estágio revela-se uma mais-valia, pois permite ao

aluno, numa experiência de transição entre a academia e o mercado de trabalho, encarar o mundo

real de trabalho de forma bastante direta ainda que sem a total responsabilidade que isso implica.

É, por isso, uma importante etapa de formação que visa a preparação para um futuro profissional

nesta área de atuação.

A comunicação tornou-se imprescindível nos dias de hoje. As vantagens do seu bom uso

são inúmeras. Nenhuma empresa, organização ou instituição pode já prescindir dela. Neste caso,

O

Page 14: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

2

as autarquias não são exceção, já que cada vez mais têm interesse em trabalhar a sua imagem,

surgindo assim a comunicação autárquica.

Este relatório centra-se no funcionamento do gabinete de comunicação e nas suas

estratégias, bem como a sua preocupação com a necessidade da autarquia de ter uma boa relação

com os seus públicos. Este é um tema bastante atual, não só a nível autárquico, mas a nível geral.

Qualquer empresa, organização ou instituição aposta, cada vez mais, em gabinetes de

comunicação e profissionais da área em prol de um ambiente de trabalho agradável e uma

imagem externa favorável.

Tendo por base o tema Poder local, comunicação e protocolo, importa perceber de que

forma funciona a comunicação numa autarquia e o seu interesse em manter uma boa relação

com instituições quer do município, quer exteriores ao mesmo. O protocolo praticado em eventos

da responsabilidade da Câmara Municipal ou com parcerias é, também, um ponto-chave do

enunciado deste trabalho.

Sendo assim, este relatório tem um objetivo duplo: por um lado, relatar criticamente uma

experiência de aprendizagem profissional e, por outro, refletir sobre uma problemática de interesse

e relevância científico-profissional. Neste contexto, o relato das próximas páginas pretende dar

conta das seguintes ações: 1) uma reflexão crítica sobre a experiência do estágio na Câmara

Municipal de Braga, bem como das atividades desempenhadas e as suas problemáticas; 2) uma

análise teórica de conceitos como comunicação institucional, comunicação política, relações

institucionais, protocolo e poder local; 3) a problematização das relações entre comunicação,

poder local e comunidade; 4) uma reflexão sobre o papel dos gabinetes de comunicação no

contexto das autarquias; 5) um estudo alargado sobre o investimento das Câmaras Municipais do

distrito de Braga em gabinetes de comunicação especializados e a existência, ou não, de

colaboradores com formação específica em áreas da comunicação.

A opção por este tema deve-se ao facto de todo o estágio se ter centrado na construção,

de raiz, de uma base de dados que engloba todas as associações e instituições, bem como

personalidades, internas e externas ao município. Esta tarefa, que se revelou prioritária para o

gabinete de comunicação, permite perceber o interesse em manter contacto e uma boa relação

entre os agentes do poder local e os seus públicos.

Relativamente à estrutura do relatório, numa primeira parte relata-se a passagem da teoria

à prática. Sendo uma parte mais pessoal, aí se referem aspetos como o estudo das Relações

Públicas em contexto teórico ao longo do mestrado e a passagem para o mercado de trabalho

Page 15: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

3

propriamente dito. Cria-se, assim, um ponto de partida para falar do estágio em si, desde o local

onde foi realizado às tarefas desenvolvidas. De um modo geral, este primeiro capítulo é dedicado

a uma introdução ao estudo das Relações Públicas e a descrição das atividades desenvolvidas na

CMB.

A segunda parte foca-se num enquadramento teórico onde são abordadas várias questões

e conceitos que, no final da realização do estágio, se revelaram pertinentes e se enquadram no

trabalho desenvolvido. Assim, neste segundo capítulo é abordado o papel do profissional de

comunicação, com especial enfâse para o profissional de Relações Públicas. Torna-se importante

falar das funções deste profissional, até porque, ainda hoje, é bastante associado apenas a festas,

quando as suas funções ultrapassam em larga medida esta imagem supérflua que se tem da

atividade. Ainda neste ponto, aborda-se a comunicação nas autarquias explicando a sua origem,

bem como a do Relações Públicas e dos gabinetes de comunicação. O poder local e o protocolo

são também um tema desenvolvido neste capítulo, surgindo como mote para falar de comunicação

integrada associada ao poder local e do cumprimento protocolar em cerimónias/atividades da

autarquia. Toda esta abordagem serve como base para a parte prática que se apresenta na secção

seguinte do texto.

Na terceira e última parte, é então apresentado o resultado de um estudo empírico

realizado com o objetivo de responder a algumas questões que se tornam pertinentes, findo o

estágio e com a teoria estudada. Existem mesmo gabinetes de comunicação na prática ou a

designação de gabinete como lugar de trabalho coletivo é excessiva no contexto das pequenas

autarquias do Norte do país? E serão os profissionais que desempenham essas funções

especializados na área? Que lugar ocupa o protocolo nas tarefas dos gabinetes de comunicação?

Que importância/centralidade deve ser reconhecida à gestão do protocolo no quadro das relações

interinstitucionais de uma autarquia?

Sendo assim, tornou-se ponto fulcral perceber o papel dos gabinetes de comunicação

afetos às autarquias. Por isso, foi realizada uma entrevista em profundidade ao diretor do gabinete

de comunicação da CMB, de modo a perceber o funcionamento do gabinete e a conhecer o perfil

dos profissionais que lá trabalham. Com o objetivo de alargar esta abordagem à realidade de

outros municípios, foi também realizada uma recolha de informação junto das câmaras municipais

do distrito de Braga através de um formulário eletrónico. Este instrumento permitiu identificar a

existência, ou não, tanto de gabinetes de comunicação como de profissionais especializados afetos

Page 16: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

4

às diversas autarquias e analisar a importância conferida por estas organizações às ações de

comunicação.

Em síntese, para além de relatar uma experiência profissionalizante, este relatório está

também vinculado a um propósito de colocar em perspetiva a figura do Relações Públicas. Por

outro lado, atendendo ao facto de o período de formação em causa ter ocorrido numa Câmara

Municipal, procurou-se que este trabalho pudesse constituir ainda um contributo para a

compreensão dos sistemas de comunicação no contexto específico da esfera do poder local.

Page 17: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

5

Capítulo 1

Da teoria à prática. O estudo das Relações Públicas

epois de uma formação de base em comunicação, o segundo ciclo de estudos

constitui o momento para aprofundar uma área de especialização. O campo das

Relações Públicas surge assim neste contexto que é também, no quadro do Mestrado

em Ciências da Comunicação da Universidade do Minho, o de um caminho da aquisição de

conhecimentos teóricos e de competências profissionalizantes. Desde aulas teórico-práticas e

laboratoriais ao estágio prático, o mundo das Relações Públicas foi-se apresentando como uma

opção de iniciação no domínio profissional.

Neste capítulo, para além de uma reflexão sobre este percurso, que passou por uma

integração temporária na Câmara Municipal de Braga para a realização de um estágio curricular,

analisa-se a experiência de principiante na atividade com um enfoque particular nas características

peculiares que uma autarquia representa e exige.

Estudar versus exercer Relações Públicas

O estudo formal das Relações Públicas é uma etapa fundamental para o exercício instruído

da atividade. A teoria prepara a nível de conhecimentos sobre o campo de atuação, desde o que

realmente define a atividade até ao modo como se exerce e aos setores onde pode ser aplicada.

Estudam-se conceitos e estratégias que auxiliam na construção do perfil de um bom profissional.

Ainda assim, estudar a teoria pode não ser suficiente, quando não aplicada.

É no dia-a-dia que encontramos os verdadeiros desafios e onde pomos à prova tudo o que

vamos apreendendo ao longo da vida. Com as Relações Públicas acontece exatamente o mesmo.

Só com o contacto direto com a área é que podemos pôr em prática o que aprendemos, assim

D

Page 18: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

6

como pôr à prova as capacidades adquiridas, ou não. É aí que a experiência prática de estágio se

oferece como uma extensão complementar da sala de aula.

A realização do estágio é, na verdade, fundamental no percurso de qualquer estudante de

Relações Públicas, já que é aí que se dá o contacto real com os desafios da área. Podemos encarar

esta etapa como uma preparação para o mercado do trabalho, já que, por norma, será o passo

seguinte. Ainda assim, em grande parte dos casos não se consegue tirar o real proveito da

experiência, visto que o facto de se ser estagiário condiciona a realização de certas tarefas. Nessas

situações a observação torna-se a grande arma da qual devemos extrair maior rendimento para

que a experiência não seja em vão e consigamos tirar proveito da oportunidade de contacto com

enquadramentos reais e já não simulados como os que servem de exercício preparatório em

termos letivos.

O estágio curricular na Câmara Municipal de Braga, como complemento ao estudo teórico

das Relações Públicas, feito anteriormente, é uma das etapas finais do estudo da área, onde,

inicialmente, nos sentimos inseguros e achamos que não sabemos o suficiente afinal. É nesta

etapa que pomos em questão tudo o que estudámos e aprendemos. Ainda que, este seja um

sentimento normal de principiante, à medida que os dias vão passando, vai desaparecendo.

Relativamente ao conteúdo do estágio, numa primeira parte, tornou-se um pouco

complicado, por parte do diretor do Gabinete de Comunicação, definir tarefas e etapas. O Gabinete

de Comunicação na Câmara Municipal de Braga está muito direcionado para a redação de

conteúdos informativos, uma vez que existem três colaboradores que no início da semana

procuram saber quais serão as atividades do município (dia, horas e local) e definem entre eles

quem irá para onde. No final, escrevem textos, realçando sempre o facto de ter sido o Município

a organizar, ou então ter sido uma parceria do evento. Posteriormente, colocam nas ferramentas

comunicacionais da Câmara Municipal (site e facebook) e enviam para os meios de comunicação

considerados mais convenientes, sob a forma de press releases. Com esta e outras atividades,

principalmente, nota-se um grande entrave à integração de estagiários o que pode ter uma fácil

interpretação e justificação. O facto de se tratar de uma instituição onde muitas decisões são

tomadas em regime mais ou menos confidencial e onde muitos assuntos são tratados de forma

sigilosa traduz-se naturalmente na necessidade de as pessoas que ocupam esses lugares serem,

em princípio, da confiança máxima do Presidente e, consequentemente, do diretor do Gabinete

de Comunicação. Sendo assim, compreende-se que os estagiários não possam participar em

determinadas tarefas, o que pode ser visto como uma medida de proteção. Relativamente à

Page 19: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

7

redação de conteúdos informativos sobre os eventos, é do interesse do Gabinete que esses textos

sigam sempre o mesmo estilo, a que os leitores já se habituaram, sendo certo que uma nova

pessoa a escrever iria introduzir uma nova forma, diferente das habituais.

No início do estágio definem-se objetivos, ou seja, estabelece-se aquilo que será esperado

o estagiário fazer, atendendo aos conhecimentos adquiridos e à organização da instituição. Como

tarefa básica e perante a elevada quantidade de atividades que são realizadas pelo Município, a

elaboração de um plano de comunicação modelo, que fosse possível adaptar a todo o tipo de

eventos, foi traçado como um dos objetivos primeiros do estágio, dado que a Câmara Municipal

não dispunha de nenhum plano desse tipo. Hipótese, de imediato, excluída por parte do diretor

do gabinete de comunicação, pois a prática leva ao desenvolvimento espontâneo de atividades, ou

seja, apesar de se saber que um plano de comunicação é uma peça-chave da organização de

qualquer evento, o facto de se organizar um número considerável de eventos (por vezes, até mais

do que um por dia), faz com que tudo seja mecanizado e realizado de modo quase automático,

sem a necessidade de recurso a um documento para seguir as várias etapas que, em teoria,

seriam exigidas. Sabe-se de cor qual o tipo de público-alvo que interessa, quais os meios de

comunicação que se pretende que estejam presentes, entre outros aspetos.

Foi ponto assente desde o primeiro dia que era essencial, porque não existia, criar uma

base de dados completa com todos os contactos necessários ao Município (tarefa que será descrita

de modo mais aprofundado à frente). Esta tarefa viria a ocupar todo o estágio. Para além disso,

como forma de não restringir o estágio a uma atividade relativamente monótona, decidiu-se que o

período de estágio também deveria incluir o acompanhamento de alguns eventos, organizados

pela Câmara Municipal ou realizados em parceria com a autarquia, de forma a observar o

protocolo. Não sendo dado tanto valor a outras tarefas desempenhadas, por serem consideradas

mais quotidianas e, olhando a todo o contexto do estágio, é desta conjugação de tarefas que

emerge o tema para o relatório de estágio.

Com efeito, tendo sido realizado numa autarquia, o estágio relatado neste documento não

é indiferente ao seu enquadramento específico no âmbito do poder local. Por outro lado, atendendo

a que uma parte significativa das tarefas desenvolvidas reporta, direta ou indiretamente, à

realização de eventos, a experiência aqui analisada não pode ignorar o protocolo como área de

grande importância no exercício da comunicação institucional. É desta triangulação que nasce o

tema refletido neste estágio: Poder local, comunicação e protocolo.

Page 20: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

8

Neste caso, não se pode falar em questão de investigação nos termos em que o

recomenda a metodologia científica, dado que o trabalho reflexivo que se encerra neste documento

não visa resolver um problema. Ainda assim, há várias questões que se levantam no âmbito desta

temática, já referidas anteriormente, sobre os Gabinetes de Comunicação e o seu funcionamento,

pois há tarefas que se esperaria que fossem da sua responsabilidade e, na prática, ficam a cargo

de outros departamentos. É disso ilustrativo o facto de, no caso concreto da Câmara Municipal de

Braga, a secretária do Presidente ter a seu cargo o protocolo dos vários eventos que ocorrem na

Câmara Municipal, quando seria de esperar que fosse o Gabinete de Comunicação responsável

por tal tarefa. Importa por isso questionar a importância que se dá à gestão do protocolo no

contexto de uma autarquia e refletir sobre as funções desempenhadas pelos colaboradores deste

setor. São estas questões que dão o mote para a investigação exploratória que se apresenta no

capítulo terceiro do relatório.

O estágio no contexto de uma autarquia

O facto de o estágio ter sido realizado na Câmara Municipal de Braga, ou seja, numa

autarquia, circunscreve as tarefas a realizar, ou a forma como são realizadas, a um campo

específico de atuação dos profissionais de comunicação. É, ainda assim, também uma marca que

está a ser trabalhada, neste caso, a marca “Braga”.

Durante o trimestre passado no Gabinete de Comunicação, o processo de aprendizagem

decorreu menos do que foi feito e mais daquilo que foi possível observar. Na verdade, o facto de

assistirmos ao dia-a-dia do Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal daquela que é

considerada a terceira maior cidade do país ajuda-nos a perceber como funciona um Gabinete de

Comunicação e, de certa forma, elucida-nos do que lá é feito e como. A dimensão do Município e

o número de atividades realizadas proporcionaram uma experiência de situações que permitiram

ter uma perfeita noção do funcionamento deste departamento.

Do ponto de vista do tipo de trabalho desenvolvido, o estágio ao longo dos três meses não

foi muito diversificado. A dificuldade em encontrar tarefas adequadas ao perfil de estagiária não

facilitou o processo. Como tarefa principal concretizada identifica-se a construção de uma base de

dados, de raiz, com todos os contactos internos e externos ao Município que são ou poderão vir a

ser necessários às relações institucionais da autarquia. Esta atividade pode ser classificada como

a número um já que ocupou todo o estágio. Apesar de ter sido dedicado muito tempo a esta base

de dados, não foi possível concluí-la nos três meses, de tão extensa que se revelou. Aliás, este é

Page 21: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

9

um documento que estará sempre inacabado, pois há sempre novos contactos a surgir e

atualizações para fazer. Para a concretização do documento, além de uma folha Excel com divisões

por concelho, distrito, nacional, internacional, etc., com cargo, e-mail, morada, telefone e o grupo

ao qual pertence (previamente definidos e divididos com o responsável do Gabinete), foi necessária

toda uma rede de contactos para que de uns fosse possível chegar a outros, assim como foi

também necessário visitar os vários departamentos do Município para recolher o máximo de

informações possíveis. Este é um trabalho bastante extenso. Embora seja um trabalho importante

e necessário, no registo continuado em que foi feito revelou-se menos estimulante do que outras

ações que habitualmente são executadas pelo gabinete. Por essa razão e como forma de dinamizar

e diversificar os dias, estabeleceu-se como objetivo paralelo a realização de uma análise protocolar

de eventos da Câmara ou organizados em parceria com o Município. Já que o protocolo, a nível

do Gabinete de Comunicação, fica um pouco esquecido, achou-se por bem, em diversificados

eventos, fazer uma pequena observação de como estes decorriam. É dessa apreciação que dá

conta a Tabela 1.

Dia Local Evento Análise Protocolar

7/10/2015 GNRation Cerimónia final “Orçamento TU Decides”

- Cerimónia íntima com a presença do Presidente da Câmara, Vereadora do Desporto, Presidente do CMJ (Conselho Municipal da Juventude) e meios de comunicação; - Inicialmente foi feita uma breve apresentação sobre o orçamento e no final foram revelados os projetos vencedores e o seu respetivo orçamento. Neste evento não há grandes conclusões a reter sobre o protocolo, já que foi uma cerimónia bastante pequena, e nota-se que não é dada grande importância a esse aspeto.

17/11/2015 Avenida Central

Inauguração “Urban Algae Folly”- parceria com o INL (Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia)

- Bandeira do Município a tapar a placa identificativa do monumento; - Presença maioritária de órgãos de comunicação; - Abertura da cerimónia: companhia da música (hino da UE em saxofone); - Início da cerimónia: António Barroso (vereador), em substituição do Presidente da Câmara, apresentou o autor da obra;

Page 22: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

10

- Seguidamente interviram: Diretor INL (parceiro) e representante da Fundação Francisco Manuel dos Santos (parceiro) e, por fim, Dr. Ricardo Rio (Presidente da Câmara); - Encerramento da cerimónia: descerrar da placa com o autor da obra, parceiros e Presidente da Câmara. Nota: Toda a cerimónia teve tradução em Inglês, uma vez que se tratava de uma parceria com uma instituição internacional. Nota-se já um maior cuidado em seguir o protocolo. Deduz-se que o facto de não ser uma cerimónia tão intimista e de incluir parcerias faz com que haja uma maior preocupação com esses aspetos.

19/11/2015 Theatro Circo A Ciência em 3 atos- Fundação Francisco Manuel dos Santos com o apoio da Câmara

- Número limitado de entradas de cada vez, para não atrapalhar os oradores (ruído) e de forma a manter a ordem; - Cuidado ao sentar as pessoas para que não fiquem lugares vazios pelo meio da plateia; - Dois coffee breaks (a meio da manhã e de tarde). Este evento estava bastante bem organizado a nível protocolar. Nota-se que foi dada grande importância a essa questão.

23/11/2015 Salão Nobre Reunião de Câmara - Disposição correta dos lugares: Presidente da Câmara ao centro, à direita os seus Vereadores e à esquerda os Vereadores da oposição; - O Presidente da Câmara lê os pontos da ata para aprovação e anota as votações; - O facto de ser reunião aberta ao público (ocorre uma vez por mês) permite que no final de cada votação o Presidente questione se algum presente quer intervir – há um tempo para a intervenção do público com direito a reposta. Todo o protocolo foi cumprido durante a reunião camarária.

24/11/2015 Salão Nobre Conferência de Imprensa da UE CPLP (União de Exportadores da

- Decoração alusiva (cartaz do 2º Fórum de Exportadores da CPLP- promoção do evento futuro); - Mesa decorada;

Page 23: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

11

Comunicação dos Países de Língua Portuguesa)

- Presidente da Câmara o primeiro a falar, seguido do responsável pelo fórum; - Presença da comunicação social; - Apresentação de um vídeo promocional relativo ao 2º fórum e consequente apresentação da atividade; - Tempo final para questões. Volta a existir cuidado com questões protocolares.

03/12/2015 Monumentos da cidade Braga

Dia Internacional da Pessoa com Deficiência- Roteiro para tornar Braga mais acessível

- Roteiro preparado pelos alunos do curso de turismo da Profitecla denominado de “Profitecla na rua”: passagem pelos vários pontos turísticos da cidade; - Presença dos meios de comunicação; - Presença de um grupo de pessoas com dificuldades motoras que se inscreveram para participar. Não havendo grandes questões a apontar, conclui-se que se cumpriu o possível a nível das questões protocolares neste evento.

Tabela 1: Análise protocolar feita a eventos do Município de Braga, ou parcerias

Desta apreciação protocolar a alguns eventos do Município e também de parcerias, nota-

se que, quando estes são de cariz mais íntimo, não há grandes requisitos com o protocolo.

Contrariamente, quando incluem pessoas exteriores ao Município, já se nota alguma preocupação

em seguir regras de maior formalidade. Ainda assim, esta é uma área que não tem grande atenção

na CMB. Nota-se uma certa substimação relativamente ao protocolo, tal como o próprio diretor do

Gabinete de Comunicação, Ricardo Gomes, admitiu em entrevista realizada no âmbito deste

relatório (disponível em anexo). Aliás, pequenos pormenores que o protocolo exige eram grande

parte das vezes acertados pela secretária do Presidente, como já foi referido anteriormente, sem

especial articulação com os colaboradores da área da Comunicação.

As duas atividades já referidas, a construção da base de dados e a análise protocolar, são

as que se destacam desta experiência de estágio pelo tempo que ocuparam e pela sua dimensão.

Mas, além destas, há pequenas tarefas que foram sendo realizadas pelo meio, quando era

necessário auxiliar algum membro do Gabinete de Comunicação. Nomeando algumas delas, pode-

Page 24: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

12

se referir a tradução de uma parte de um documento de Português para Inglês. Tratava-se de uma

apresentação sobre a cidade de Braga que era necessária em Língua Inglesa para ser exibida no

estrangeiro. Uma outra tarefa foi a recolha de informação e declarações junto da Vereadora da

Educação, no Dia Mundial da Alimentação, numa atividade organizada pela Câmara de Braga em

parceria com as escolas, que decorreu na Avenida Central da cidade. Esta recolha de informação

no local do evento serviu para a posterior redação do press release enviado pelo Gabinete de

Comunicação aos órgãos de informação locais. Estas foram as atividades realizadas que merecem

destaque, já que as outras foram pequenas tarefas que, por vezes, nem eram realmente da área,

mas que se compreende que farão parte das solicitações diárias a que são chamados todos os

colaboradores dos diversos departamentos.

Neste estágio, e depois de analisadas as tarefas realizadas, reconhece-se que houve o

trabalho de cuidar da imagem do Município, com os eventos analisados, a recolha de informação

para a preparação de press releases e a tradução da apresentação sobre a cidade. Mas houve

também um empenho no campo das relações internas e externas do Município, com a construção

da base de dados. Sendo assim, foram trabalhadas duas partes que se tornam dependentes uma

da outra. A Câmara Municipal não é nada sem os seus públicos internos e externos, e precisa de

uma boa relação com ambos, sendo, portanto, essencial que a sua imagem seja cuidada.

Findo o estágio, e tal como já se fazia sentir no seu decurso, o sentimento de que podia

ser feito mais esteve sempre presente. Ao mesmo tempo, no entanto, reconhece-se nem todos os

trabalhos do dia-a-dia são adequados ao caráter transitório de um estagiário. Ainda assim, a

observação é grande aliada numa boa aprendizagem, permitindo constatar situações concretas e

reter mais informação do que aquela que seria possível apenas com as tarefas propostas e

executadas.

Page 25: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

13

Capítulo 2:

Das singularidades do poder local à especificidade da

comunicação autárquica

iferenciando-se do poder central, o poder local foca-se na proximidade com as

populações e no alcance de aptidões, fazendo com que os Municípios mantenham

um relacionamento estreito com os diversos públicos autárquicos. As Câmaras

Municipais são, assim, a ponte política para as dinâmicas locais.

É tema de interesse central a importância do papel das autarquias relativamente ao

desenvolvimento do local e à forma como o desempenham. A autarquia local usa realmente a

comunicação como estratégia para ser mais próxima da população?

Com esta interrogação, inicialmente neste capítulo, aborda-se o poder local, bem como o

protocolo que lhe é exigido, passando pela comunicação autárquica, e obrigando-nos, claramente,

a analisar o profissional de Relações Públicas, sendo ele a pedra basilar de todo o processo

comunicativo.

Poder local

Antes de entendermos todo o processo comunicativo à volta de uma autarquia, importa

perceber tudo o que está por detrás disso, ou seja, a própria autarquia. É, pois, de interesse

conhecer-se a sua constituição, o seu funcionamento e as suas regras, já que, com características

tão peculiares, a comunicação neste contexto terá especificidades que distinguem as

preocupações aqui experimentadas das de outros contextos profissionais.

D

Page 26: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

14

Comecemos por uma abordagem ao poder local. Entender a sua dinâmica vai fazer com

que vejamos a autarquia de dentro para fora e percebamos, mais à frente, a maneira como a

comunicação é feita nas instituições dirigidas pelo poder local.

Partindo do geral para o particular, também o poder político pode ser visto a partir de uma

esfera nacional e, mais especificamente, a partir de uma esfera regional (respeitante às regiões

administrativas das ilhas da Madeira e dos Açores) e local (referente às autarquias). O poder local

é visto como uma parcela do poder central, portanto, é natural que seja muitas vezes referido

como um segundo nível de atuação política, ainda que o poder central necessite do local para

chegar do centro às periferias e o poder local precise da influência política do central, sendo esta

uma questão que será abordada ao longo das próximas páginas.

O poder central, constituído pelo Presidente da República, Governo, Assembleia da

República e Tribunais, é visto como o maioral, ou seja, a governação do país está a seu cargo.

Compete ao Governo a gestão do país, ainda que o Presidente da República tenha toda a posse

em intervir, já que lhe é permitido demitir o Primeiro-Ministro, sendo também da sua competência

a promulgação e o veto de atos legislativos. Do poder local, aquele que nos interessa conhecer de

forma profunda, fazem parte as Freguesias, que se dividem em Juntas de Freguesia (organizações

executivas) e Assembleias de Freguesia (organizações deliberativas), e os Municípios, constituídos

pela Câmara Municipal (organização executiva) e pela Assembleia Municipal (organização

deliberativa). É função da Constituição da República Portuguesa definir os órgãos que integram os

Municípios e as suas competências (Fernandes, S/D). Contudo, os órgãos, tanto para o poder

central como local, são eleitos pelos cidadãos por um mandato máximo de quatro anos.

Dentro do poder local, compete à Assembleia Municipal estar sempre a par das atividades

do Município, pois deve dar o seu parecer sobre todos os assuntos de interesse. Para isso o

acompanhamento e a supervisão de todas as atividades é fundamental. Como funções do

Município, portanto da Câmara Municipal em si, podemos já tirar como conclusão óbvia, pelo que

se acaba de enunciar, a de que “obedecer”/pôr em prática as decisões da Assembleia Municipal

é uma delas. Mas, a Câmara Municipal, tem outras funções, como resolver problemas e

necessidades da sua população. Inicialmente, estes órgãos tinham a seu cargo questões como o

saneamento básico, a distribuição de água, a recolha de lixo, etc. Mais tarde, vieram a alargar os

seus exercícios para áreas de intervenção económica, tais como a saúde, a educação, o turismo,

a cultura, etc. No fundo, competem-lhe variados departamentos como o ordenamento do território,

Page 27: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

15

equipamento rural e urbano, energia, transportes, comunicações, habitação, proteção civil,

património, desporto, etc., tal como Fernandes (S/D) vem complementar. Os órgãos

representativos do poder local (eleitos democraticamente), responsáveis por todas estas funções,

são caracterizados por

serem representativos da comunidade local pela qual foram eleitos e perante a qual são responsáveis; submeterem a debate público e discussão os problemas e propostas de resolução; tomarem as decisões por maioria de votos mas procurando ter em conta a opinião da minoria. (Costa, S/D, p. 78).

O poder local nem sempre foi assim definido, e nem sempre trabalhou para os cidadãos,

que percebemos pelas funções acima descritas. É “após a revolução do 25 de Abril de 1974 e

com a adesão de Portugal à Comunidade Europeia que o poder local emerge com uma estratégia

de dinamização e valorização da cultura regional” (Mapanzene, 2013, p.19). É nos anos 80 do

século XX que a definição de poder local ganha o sentido que tem hoje. A rotura da ditadura

conduziu à evolução do poder local que, consequentemente, desencadeou um aumento do poder

das Câmaras. A Revolução dos Cravos trouxe uma certa descentralização que permitiu aos

Municípios terem uma maior importância, pois a ação política deixou de se concentrar apenas nas

questões nacionais. Com esta evolução, surgiu então a necessidade de criar relações de

proximidade com os cidadãos e, também, de os satisfazer. Naturalmente, despontou uma relação

de interesse mútuo: os autarcas ganharam interesse em estabelecer contacto com os munícipes

e estes passaram a intervir e a participar nas atividades decisórias do Município, levando assim a

uma transformação social.

É nesta fase de revigoramento do poder local que a comunicação passa a ter outro valor,

uma vez que se torna essencial como atividade para garantir que há, realmente, diálogo com os

munícipes. Basicamente, após todas estas mudanças da organização política do país, podemos

admitir que começa aqui a surgir a comunicação municipal, sendo de grande importância para os

munícipes e os autarcas que, como nos diz Mapanzene (2013), anseiam por incluir o debate

público na agenda mediática local. Um debate que se debruça sobre temas que lhes interessam.

Podemos ainda falar de uma relação de dependência entre autarcas e munícipes que surge

igualmente, sendo importante para a caracterização do poder local, que é “o conceito de liberdade

e autonomia local, e a capacidade das populações para definirem o seu futuro e tomarem à sua

responsabilidade a gestão dos interesses que lhes são próprios (…)” (Costa, S/D, p. 79).

Como vemos e, de acordo com o portal poderlocal.transparencia.pt, nos últimos anos, o

poder local foi-se moldando e adaptando às alterações e desafios “que condicionam a qualidade

Page 28: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

16

e a integridade da governação municipal”, bem como aos efeitos da globalização em termos de

impacto social, económico e institucional. Esta evolução do poder local, segundo Rocha (1998)

passou por três fases: a fase administrativa, que se baseava em atos administrativos, ou seja, a

passagem de licenças e autorizações, a fase fordista, em que já se incluíam as infra-estruturas e

os planos de desenvolvimento urbano, e a fase pós-fordista, onde se dá a diferenciação entre

controlo e prestação de serviços públicos, onde ocorre uma mudança bastante visível dos padrões

de oferta e importância com a qualidade e bem-estar dos cidadãos, e onde surgem novas formas

de governação do território para pessoas/empresas não eleitas, ou seja, o poder local apenas

define os objetivos e trata dos recursos para as várias organizações. Há apenas uma coordenação

dos serviços por parte do Município.

O poder local, que integra as Freguesias, os Municípios e as Associações de Municípios,

constitui, de forma revigorada desde 1976, uma peça-chave da Democracia Portuguesa, pelo

papel fundamental que desempenha no desenvolvimento das comunidades locais e na formação

cívica dos cidadãos. Atualmente, enquanto autarquia local, os Municípios, com este papel de

desenvolvimento e formação, são caracterizados através de quatro elementos: o território, o

agregado populacional, os interesses comuns e os órgãos representativos da população (Camilo,

1998). A administração das autarquias e a gestão do poder local devem ter em conta estes

elementos que, aliados à prática de uma política de proximidade, resultam numa boa gestão da

autarquia. Quanto mais próximo o autarca for da população e quanto melhor conhecer o local que

governa, maior noção vai ter dos problemas e das necessidades dos seus munícipes, ou seja, uma

maior noção da realidade que ajuda numa gestão de qualidade. Importa, por isso, apostar em

estar com as pessoas e em dar-lhes a conhecer mais do Município.

Hoje em dia, as redes sociais são uma forte aposta dos Municípios de maior dimensão.

Temos como exemplo o Município de Braga que aposta fortemente no seu facebook e site,

aproveitando para divulgar atividades e assuntos da Câmara e, obtém sempre feedback das

pessoas que estão do outro lado, conseguindo assim uma forma de estarem mais próximo dos

seus munícipes, já que, nos dias de hoje, todos nós temos acesso à Internet a todo o instante.

Como referiu Ricardo Gomes, em entrevista realizada no dia 22 de setembro no âmbito deste

relatório, é estar “na carteira das pessoas”. Obviamente que se falarmos em meios mais

pequenos, menos desenvolvidos e com uma população mais envelhecida, importa continuar a

sustentar a política do porta-a-porta, ou seja, o estar fisicamente com as pessoas. Esta política de

proximidade e o facto de o autarca conhecer de uma forma bastante profunda o seu Município e

Page 29: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

17

os seus problemas mostra-nos que “a liderança a nível local deriva fundamentalmente do controlo

do solo urbano, o qual permite ter a última palavra na localização industrial, organização comercial,

construção civíl e criação de novos empregos” (Rocha, 1998, p. 6).

O facto de o poder local conseguir ser independente na resolução de assuntos municipais,

relativamente ao poder central, permite uma maior rapidez e uma melhor resolução desses

assuntos, voltando assim à questão da proximidade, que traz um outro conhecimento da realidade.

Isto faz com que “as elites que assumem a governação ao nível local mimetizem as práticas

burocráticas do aparelho central (…)” (Costa, 2006, p. 14). Por um lado, podemos reconhecer

esta autonomia ao poder local pelo facto de “as suas fontes de financiamento serem provenientes

de impostos municipais, o que se traduz no gozo de uma ampla liberdade para prosseguir as suas

políticas mais ou menos em sintonia com o Governo central” (Fernandes, S/D, p.22). Mas J. A.

Oliveira Rocha (1998) vem contrariar um pouco esta afirmação, dando-nos a ideia de que mesmo

com a burocratização do sistema político e com os governos locais a tornarem-se bastante

autónomos, as autarquias continuam a depender, a nível financeiro, do poder central, ou seja do

Governo, o que faz com que os processos decisivos sejam em grande parte administrativos.

No fundo, a conclusão que se tira desta relação do poder central e do poder local é a de

que as suas diferenças são notórias, mas há uma complementação, ou seja, “constituem dois

percursos com perfil próprio, mas impossíveis de dissociar e, por isso mesmo, enquadrados num

processo dinâmico do ponto de vista da sua inter-operacionalidade” (Costa, 2006, p. 13).

Tal como fomos vendo, o papel do poder local evoluiu bastante ao longo dos anos, mas

esta evolução vai sendo constante, já que os municípios têm de se adaptar à evolução da

sociedade, a qual eles próprios enquanto Município também influenciam e determinam. Seria

impensável, há uns anos atrás, os Municípios utilizarem redes sociais como ferramentas de

trabalho, por exemplo. Sendo assim, podemos afirmar que esta rede entre “poder local, Município

e Câmara Municipal” estão em constante devir (Fernandes, S/D).

Protocolo

A comunicação é comum a todos nós e a qualquer tipo de instituição, mas a forma de

comunicarmos altera-se mediante as circunstâncias e o meio em que estivermos inseridos. Ou

seja, a comunicação é uma atividade sempre presente, que apenas se ajusta em função das

circunstâncias. São inúmeros os eventos das mais variadas áreas que devem seguir uma lógica e

obedecer a um conjunto de regras, definidas propositadamente, para que ocorram da melhor

Page 30: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

18

forma e, também de igual modo, principalmente quando envolvem figuras de destaque e relevo.

Falamos, claramente, do protocolo.

O protocolo é uma área da qual ainda não existem grandes estudos nem trabalhos de

investigação acessíveis para que possam ser consultados por quem pretende estudar ou saber

mais sobre o assunto. Sendo assim, torna-se complicado conseguir aprofundar esta área e ir mais

além daquilo que já existe. Mas esta é uma questão que não surpreende, já que é uma área que

não tem a devida importância junto das instituições, como iremos ver ao longo do relatório pelo

caso da Câmara Municipal de Braga.

São algumas as perguntas que se colocam na sinopse do “Livro do Protocolo” de José de

Bouza Serrano, escritor que se dedicou à análise deste tema. Questões sobre a forma como se

deve cumprimentar o Presidente da República, quais as regras que devem ser seguidas numa

visita de Estado, etc., estando as respostas no protocolo elaborado para cada situação. Esse

conjunto de formalidades, definido como protocolo, tem as suas regras bem delimitadas e, não

deixa de ser uma forma de comunicação. Aliás, trata-se de uma linguagem universal. Este tipo de

comunicação surge como um facilitador das relações institucionais, pois faz com que todos “falem

a mesma língua”. Vejamos o exemplo do código da estrada, que nos faz circular da mesma forma

pelas regras que nos foram ensinadas, pois se assim não fosse, a circulação na estrada tornar-se-

ia impossível, acabando por acontecer sempre o pior. Com o protocolo passa-se exatamente o

mesmo: existe um conjunto de regras, que incluem as formas de tratamento, o vestuário, a

segurança, as condecorações, etc., definidas particularmente para cada área em que, seja qual

for a instituição, deverá segui-las de maneira a que haja uma igualdade dentro dessa área, por

isso existem vários protocolos, como por exemplo: protocolo militar, protocolo do Estado, protocolo

autárquico, protocolo empresarial, protocolo social ou de etiqueta, entre outros.

Relativamente ao poder local, que temos vindo a analisar até aqui, e a tudo o que o

envolve, a comunicação “de e para” também tem regras e etapas que devem ser tidas em conta.

Falamos, obviamente, do protocolo, ou seja, de um conjunto de formalidades que devem ser

seguidas para que a comunicação seja tanto correta como eficaz. Neste caso concreto, será

indicado analisar o protocolo autárquico, aquele que se adequa ao poder local e que, deve ser

aplicado.

Page 31: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

19

Protocolo autárquico

No contexto deste trabalho, como já foi referido, quando falamos em poder local devemos

pensar numa comunicação integrada associada a um protocolo: o protocolo autárquico. São vários

os pontos e questões que fazem parte desta formalidade específica.

Antes de analisarmos cada ponto, vejamos de forma geral o que constitui o protocolo

autárquico, aquele que diz respeito aos órgãos das autarquias locais, de que fazem parte a

Assembleia e a Junta de Freguesia, a Assembleia Municipal e a Câmara Municipal. É ao protocolo

que estão também associados os símbolos do Município, como o caso do brasão de armas (que

obedece a regras próprias), a bandeira, os hinos nacional e municipal e o selo (têm reflexos no

protocolo autárquico e oficial). Todos fazem parte da Lei Heráldica e dos Símbolos Municipais.

Fazem parte, ainda, do protocolo autárquico as precedências nas autarquias locais e a substituição

de autarcas nos órgãos municipais. As cerimónias nos Municípios decorrem, maioritariamente,

em sessão solene, no descerramento de uma placa toponímica, no lançamento da primeira pedra,

na inauguração de uma obra e geminações.

Numa Câmara Municipal, neste caso, é fulcral usar corretamente o protocolo na imagem

e comunicação oficial e institucional. Essa ação passa por planear, organizar e participar com

eficácia e qualidade em eventos e cerimónias oficiais e sociais.

Como regras concretas do protocolo, consultando a legislação, vemos através das

Precedências do Estado Português que, as autoridades eleitas têm prioridade sobre as designadas.

Então, relativamente ao poder local, o protocolo recomenda especificamente para a figura dos

Presidentes da Câmara que:

1- Os Presidentes das Câmaras Municipais, no respetivo concelho, gozam do estatuto

protocolar dos ministros.

2- Os Presidentes das Câmaras Municipais presidem a todos os atos nos paços do concelho

ou organizados pela respetiva câmara, exceto se estiverem presentes o Presidente da

República, o Presidente da Assembleia da República ou o Primeiro-ministro (…). 3- Em cerimónias nacionais realizadas no respetivo concelho, os Presidentes das Câmaras

Municipais seguem imediatamente a posição das entidades com estatuto de Ministro e, se

mesa houver, nela tomarão lugar, em termos apropriados (…). (Serrano, 2011, p. 386)

Estas regras são essenciais na organização de eventos protocolares. Um exemplo do ponto

número 2 são as reuniões de Câmara, onde o Presidente da Assembleia não está, por norma,

presente e é então o Presidente da Câmara quem preside à sessão, tal como vimos nas tarefas

Page 32: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

20

realizadas no estágio na Câmara Municipal de Braga, mais precisamente, na análise protocolar.

Já nas reuniões de Assembleia Municipal é o Presidente da Assembleia que tem esse papel a seu

cargo.

Relativamente aos Presidentes das Assembleias Municipais e aos Presidentes de Juntas

e Assembleias de Freguesia existe também uma hierarquia protocolar que nos diz que:

1- Os Presidentes das Assembleias Municipais, no respetivo concelho, seguem

imediatamente o Presidente da Câmara.

2- Os Presidentes das Assembleias Municipais presidem sempre às respetivas sessões,

exceto se estiverem presentes o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da

República ou o Primeiro-ministro (…). (Serrano, 2011, p. 387)

Estas são algumas das regras para o bom funcionamento de eventos nos Municípios,

relativamente aos órgãos autárquicos. Há também pormenores integrantes do protocolo,

considerados mais básicos, mas igualmente importantes, que no dia-a-dia são votados ao

esquecimento, ou por uma questão de prática, ficam de parte. Pequenos detalhes, decoração,

formas de comunicação escrita e falada, cumprimentos, vestuário, etc., são também questões

fundamentais na organização de eventos e cerimónias municipais. Sem conhecimento de causa

geral, mas com a observação de perto da Câmara Municipal, nota-se que estes pormenores são

tidos em conta, com grande preocupação no cumprimento, na presença de figuras de relevo.

Contrariamente ao que acontece quando os eventos são de caráter mais “familiar”, deixando o à

vontade para a liberalização de algumas questões protocolares.

Ainda assim, são várias as etapas que devem ser seguidas na preparação e realização de

um evento, para que seja cumprido o protocolo. José Bouza Serrano, no seu livro já referido

anteriormente, dá-nos um exemplo de como deve ser feita a organização para o cumprimento do

protocolo em eventos municipais. É-nos apresentado o procedimento habitual seguido pelo

protocolo de uma Câmara Municipal na receção de um Chefe de Estado estrangeiro nos Paços do

Concelho:

- O representante da Câmara está normalmente presente das reuniões preparatórias, onde é

revista em conjunto a inclusão da cerimónia no programa oficial (data, hora, comitivas, participantes);

- A Câmara é responsável pelo hastear da bandeira nacional e do país visitante;

- A cerimónia é, preferencialmente, realizada da parte da tarde (após a hora de almoço);

- O Presidente da Câmara recebe o Chefe de Estado visitante à entrada do edifício. Neste momento

são feitas as honras militares, prestadas por um batalhão da GNR, com banda de música que toca o Hino

Nacional do país visitante.

Page 33: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

21

- O Presidente da Câmara convida o Chefe de Estado a passar revista à Guarda de Honra,

terminando no mesmo pódio onde foram ouvidos os hinos.

- Forma-se um cortejo, juntamente com a comitiva do Chefe de Estado visitante, onde são

apresentados o Presidente da Assembleia Municipal e os Vereadores dispostos na entrada.

- O cortejo dirige-se para o Salão Nobre dos paços do concelho, onde decorre uma cerimónia de

boas vindas. Depois disso, podem suceder-se os seguintes momentos: discurso de boas vindas do

Presidente da Câmara Municipal; entrega da chave da cidade; resposta do Chefe de Estado visitante;

assinatura do Livro de Honra da cidade; troca de presentes;

- Apresentação de cumprimentos dos convidados para a cerimónia;

- Findos os cumprimentos, o cortejo sai do Salão Nobre pela escadaria (pela direita). O Presidente

da Câmara Municipal acompanha o Chefe de Estado visitante até à viatura, onde se despede.

No caso de não se tratar de Chefes de Estado, o Presidente da Câmara pode receber visitantes

ilustres no seu gabinete.

Adaptado do livro Livro do Protocolo de José Bouza Serrano

O cumprimento e a sequência lógica destas regras de protocolo autárquico faz com que o

evento se torne digno de cerimónia protocolar e atinja um maior sucesso.

Comunicação nas autarquias

Que a comunicação está presente e é essencial no nosso dia-a-dia já não é novidade. E o

facto de ser imprescindível em associações, instituições e organizações, nos dias de hoje, também

não o é. As autarquias não são exceção. E é certo que, a comunicação deve ser adaptada aos

diferentes tipos de organizações e se falamos em autarquias vamos direcionar para uma

comunicação municipal.

Segundo Fernandes, “a comunicação municipal assume-se como o meio de ligação entre

a autarquia e os demais agentes sociais, sejam munícipes, investidores, comunicação social,

instituições públicas ou organizações privadas” (2011, p. 15). Esta comunicação tem como

objetivo “produzir efeitos, focando aspetos fundamentais como a atenção (informar), a adesão

(sensibilizar), a ação e a repetição (transformar e confirmar comportamentos/fidelização)”

(Mapanzene, 2013, p. 38).

A comunicação municipal permite a troca de informações e opiniões, quer no interior da

organização quer entre a autarquia e o exterior. “A necessidade de pensar a comunicação de uma

forma estruturada”, diz Fernandes, “permite que os munícipes e os agentes locais possam criar

Page 34: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

22

uma imagem positiva e mais envolvente da autarquia” (Fernandes, 2011, p. 15). Neste tipo de

comunicação é importante ter em conta as particularidades de cada localidade. Ela define-se como

contínua e concreta. Contínua porque há sempe atividades a acontecerem na organização que é

preciso ir acompanhando sempre. Concreta porque conhece na perfeição a realidade local.

Uma boa gestão de um Município passa pela correta utilização da comunicação, que por

vezes, não é assim tão linear. López (2007) apresenta-nos sete mitos que comprometem a boa

gestão da comunicação autárquica, sendo eles: a ideia de que fazendo um bom trabalho, não é

necessário comunicar (concentração no interior da organização); investimento excessivo e único

em publicidade, descurando o papel do Relações Públicas (possibilidade de recorrer a ambos,

melhorando os resultados); tendência à valorização das notícias na comunicação social

(esquecem-se de trabalhar os canais de comunicação com os munícipes e a comunidade); não

ouvirem os intervenientes (perda de interesse por parte da audiência); falta de comunicação

(mostra desinteresse e distância); excesso de comunicação (afastamento da atenção do que é

realmente importante e tendência a maçar); culpar a comunicação pela má gestão da organização

(tentativa de esconder os problemas).

Cada vez mais, a comunicação ganha grande importância nas Câmaras Municipais, pois

é vista como uma forma de gestão para alcançar objetivos. Para isso, é necessária a criação de

estruturas municipais com a capacidade de gerarem conteúdos informativos para os vários canais

de comunicação, e também capazes de trabalharem a comunicação interna e externamente

(Cardoso, 2011). Falamos dos gabinetes de comunicação.

Como foi referido nos sete mitos anteriores, a autarquia não se pode limitar ao envio de

mensagens. Os gabinetes de comunicação deverão trabalhar no sentido oposto, ou seja, como

afirma Cardoso (2011), os munícipes também deverão ter meios disponíveis para expressar as

suas opiniões e, consequentemente, a autarquia deverá estar apta a processar e a tratar essas

informações. Este tipo de comunicação é complexo, ainda assim, fundamental para uma boa

gestão municipal. Merece toda a atenção dos responsáveis autárquicos e dos técnicos de

comunicação (gabinetes de comunicação).

A comunicação autárquica é “considerada como um fator de promoção da participação

cívica e democrática no poder local” (Fernandes, 2011, p. 17). Cardoso (2011) vem

complementar esta ideia com o facto de que os munícipes só poderão ter uma participação

democrática ativa se tiverem os elementos necessários para a construção de uma opinião

fundamentada e consistente. Esta comunicação não pode ser feita da mesma maneira que os

Page 35: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

23

outros tipos de comunicação. Tem de se olhar aos valores em que assenta e à sua dinâmica,

simultaneamente política e administrativa. O caráter político que envolve as autarquias é um

grande fator a ter em conta. A autarquia, baseada nesse caráter, sempre que se vê ameaçada por

algum motivo que pode resultar numa imagem menos boa da instituição, tem em seu benefício a

comunicação municipal que, sendo trabalhada e aplicada da melhor forma, prima por manter

sempre a melhor imagem do Município. Os órgãos políticos trabalham mediante os seus objetivos,

sempre cientes do facto de necessitarem da população para desempenharem funções, baseando-

se num sistema democrático. Esta comunicação tem, por isso, dupla face, já que as atividades e

ações desenvolvidas pelo município são baseadas em conceções políticas e ideológicas, sempre

com os objetivos políticos na linha da frente (Fernandes, 2011).

É possível distinguir três domínios de intervenção comunicacional relacionados com cada

um dos órgãos municipais: administrativo, político-administrativo e político (Camilo, citado em

Fernandes, 2011). Já têm vindo a ser falados ao longo do texto, mas sem uma explicação lógica

ainda. A comunicação administrativa “pretende notabilizar e potenciar o consumo das ofertas

municipais e a utilização sustentável dos recursos públicos” (Fernandes, 2011, p. 19).

A comunicação política e a comunicação político-administrativa “têm como objetivo principal informar e potenciar a participação pública. Porém, na comunicação político-administrativa,

a interação visa a identificação das necessidades e a satisfação das mesmas. A comunicação

político-administrativa vai, assim, facilitar e potenciar a participação pública na Autarquia e a

melhoria dos serviços municipais. Por outro lado, a comunicação política está mais

relacionada com a formulação das prioridades estratégicas e com as opções políticas do

município.” (Fernandes, 2011, p. 19)

As atividades municipais, vindo de um órgão político-administrativo, estão sempre

associadas ao “Princípio da Eficácia” ou ao “Princípio da Democracia” (Camilo, 2010). No

primeiro princípio, Fernandes (2011) define-o como sendo um uso privado da razão, relacionado

com a burocracia, trata-se da técnica para melhorar os serviços do município. No segundo, diz

tratar-se do exercício público da razão, que obriga à criação de canais para que a população

consiga participar ativamente com o Município.

Estes conceitos ganham forma quando relacionados com as funções dos órgãos municipais.

A Presidência da Câmara Municipal e a Assembleia Municipal, enquanto órgão políticos

eleitos diretamente pela população, regem-se pelo Princípio da Democracia e por uma

utilização pública da razão. Em contra partida, o Município, enquanto órgão administrativo,

faz uma utilização privada da razão e segue o Princípio da Eficácia. (Fernandes, 2011, p. 19)

Resumidamente, a Presidência da Câmara comunica com o seu público enquanto

usufruidores dos serviços que lhes são disponibilizados, os municipais. Já o Município, relacionado

Page 36: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

24

com o Princípio da Eficácia e a utilização privada da razão, rege-se pelo cumprimento das decisões

dos órgãos políticos eficaz e tecnicamente rigorosa.

Camilo, citado em Fernandes (2011) apresenta-nos uma proposta de modelo de

comunicação, definindo-o como sendo um modelo abstrato que

sistemiza os parâmetros mais importantes da comunicação municipal, a saber: as

especificidades corporativas, os planos de intervenção comunicacional, a instituição

municipal, os temas, os públicos-alvo, as circunstâncias e contextos, as produções

linguísticas, os quadros de experiência e cultura local, os canais de comunicação e os efeitos

na população local. (Fernandes, 2011, p. 20)

Esta proposta de modelo vem-nos explicar como se processa a comunicação municipal e,

ainda, expor as problemáticas que surgem com ela. Importa referir que o modelo não é suficiente

para retratar todos os fenómenos da comunicação que acontecem numa autarquia. Representa,

apenas, tudo o que é maioritariamente estrutural e generalizado. Serve como modelo orientador,

onde está expresso um padrão. As questões específicas e concretas dos Municípios,

particularmente, ficam, obviamente, por avaliar. Para isso seria necessária uma análise específica

e contextualizada (Fernandes, 2011).

Ao falarmos em comunicação e autarquias, é impossível não fazer referência à Auditoria

de Comunicação. Basicamente, é definida como “uma forma de monitorizar e avaliar os esforços

da comunicação e do marketing- neste caso, nas nossas organizações- para avaliar a eficácia.

Podemos depois fazer ajustes e revisões, mediante o que os indicadores nos dizem”1.

A comunicação nas autarquias, como já vimos anteriormente, é crucial para que se

desenvolvam e concretizem os objetivos. E, apesar de não haver dúvidas de que os responsáveis

das organizações reconhecem a importância da comunicação, até porque lidam diariamente com

situações que colocam esse reconhecimento à prova, estes tendem a seguir pelo caminho do

facilitismo, acabando por agir impulsivamente quando é mais necessário. É aqui que a auditoria

da comunicação entra, já que se trata de um processo de avaliação constante que, dá a

possibilidade de prevenir situações menos boas, que poderiam afetar a imagem e o bom

funcionamento da instituição. Este processo, ao ser executado, deve ter em atenção as

características dinâmicas da comunicação organizacional, assim como não deve descurar

pormenores referentes à instituição ou organização em causa. O objeto neste tipo específico de

1 Ver link:

https://charityvillage.com/Content.aspx?topic=communications_audits_how_effectively_are_you_communicating_#.V_1sU-ArLIU

Page 37: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

25

auditoria é o processo comunicacional. O seu resultado vai ditar o estado da comunicação em

determinada organização.

Como em tudo, há características a seguir para garantir um estudo fiável: “independência,

profissionalismo, diagnóstico rigoroso, avaliação qualificada, especificidade e enquadramento

temporal” (Fernandes, 2011, p. 25). Assim, “a auditoria de comunicação deve ser encarada com

o máximo de isenção e profissionalismo, para avaliar de forma rigorosa e mensurável a situação

da comunicação no momento atual da organização” (Fernandes, 2011, p. 27). Uma auditoria,

quando bem estruturada e realizada, pode ser responsável por uma grande melhoria e mudança

da comunicação numa autarquia, neste caso.

O Relações Públicas

Depois de falarmos de comunicação nas autarquias, é fulcral aprofundarmos o Relações

Públicas, já que este se tornou num dos grandes responsáveis, aliado ao Gabinete de

Comunicação, pela alteração e gestão da comunicação municipal. Importa sabermos de onde e

como surgiu a profissão, dentro e fora de Portugal e, ainda, mais sobre as suas verdadeiras

funções e contributos no mundo da comunicação, especialmente nas autarquias.

Surgimento do Relações Públicas ou profissional de comunicação

Sem uma data definida, através dos registos que há sobre a profissão de Relações Públicas, as

primeiras informações existentes fazem-nos recuar até ao segundo quartel do século XX. Este facto

torna-se bastante óbvio já que, anteriormente a essa data, a comunicação e a tecnologia ainda

não estavam desenvolvidas (Pato, 2009). Ainda assim, Pinheiro e Ruão (2016) defendem o

começo desta era por volta do início do século XIX, ainda que se praticasse por essa altura uma

comunicação unilateral e persuasiva, com interesse na influência da opinião pública, ou seja,

orientada para influenciar os públicos por razões empresariais. É notório um “crescimento

constante da sua importância e funcionalidade após esta época” (Pato, 2009, p. 15).

As Relações Públicas nascem nos Estados Unidos perante um imperativo empresarial, financeiro e político, em princípios de 1900. Todas estas organizações necessitavam que a Opinião Pública, em face da grande competitividade existente a nível de produtos, ideologias, conhecesse o muito que essas organizações podiam fazer por ela. (Cabrero e Cabrero, citado em Pato, 2009, p. 16)

Page 38: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

26

Portanto, é possível afirmar que a profissão de Relações Públicas foi “criada em resposta a uma

necessidade tanto sociológica como económica, em meio às exigências de um mundo em

constantes e aceleradas mudanças” (Pinheiro & Ruão, 2016, p. 177).

Ao falarmos no surgimento do Relações Públicas, é imperativo referirmos dois nomes: Ivy

Lee e Edward Louis Bernays. O primeiro é considerado, por muitos investigadores da área –

embora essa ideia não seja consensual –, o verdadeiro fundador da atividade. Esta classificação

deve-se ao facto de, no ano de 1906, ter criado o primeiro escritório de Relações Públicas, em

Nova Iorque. Já o segundo é definido, também a par de Ivy Lee, como um dos “pais” da atividade

do Relações Públicas. Escreveu o primeiro livro, em 1919, sobre a disciplina. Deu aulas, pela

primeira vez, da cadeira de Relações Públicas na Universidade de Nova Iorque (Pato, 2009).

Para entendermos de onde surgiu o termo “Relações Públicas”, é importante recuarmos

até ao ano de 1882, quando surge a citação bem conhecida “o público que se dane”, que foi

expelida pelo magnata William H. Vanderbilt (empresário e presidente da New York Central

Railroad, uma empresa do setor ferroviário), com o intuito de ser dirigida aos jornalistas que tinham

a seu cargo o caso de um novo comboio expresso que faria a ligação entre Nova Iorque e Chicago.

Mais tarde, o magnata Vanderbilt tentou desmentir tal citação. Esta atitude revelou a posição que

os dirigentes sociais tinham relativamente à opinião pública.

Contudo, como a questão dos caminhos-de-ferro continuava a ser o assunto da ordem do dia

nos Estados Unidos da América, em 1897, a Associação das Estradas de Ferro dos Estados

Unidos empregou, pela primeira vez, a expressão “Relações Públicas”, com o significado que

hoje se dá ao termo. (Gurgel, citado em Pato, 2009, p. 16)

Um exemplo, da época, de que a opinião pública começava a contar e a necessidade dos

Relações Públicas começaria a surgir era a falta de pagamentos que originava revoltas que

passavam para fora da empresa e, consequentemente, punham a sua imagem em risco. O

Relações Públicas aparece aqui como o moderador entre a organização e a população que viria a

criar uma opinião pública oposta à esperada. Para complementar esta função e necessidade do

Relações Públicas, Grunig e Hunt (2003), no modelo comunicacional simétrico, que será analisado

mais à frente, apresentam-nos este profissional como um promotor de relações de confiança entre

a instituição e o seu público que resulta numa compreensão e entendimento de ambas as partes,

continuamente (Pinheiro & Ruão, 2016).

Ivy Lee marcou, dizem vários autores, o surgimento do profissional de Relações Públicas,

com pequenos e grandes feitos que singularizaram a época e a área em questão. Em 1906 deu-

se o primeiro acontecimento relacionado com Lee e com o facto de ele ter sido o primeiro

Page 39: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

27

profissional: a sua intervenção numa greve, numa indústria de carvão. Aqui, Ivy Lee assumiu a

importância de o público dever ser e estar informado. Foi a partir daí que adquiriu o seu primeiro

modelo de atividade. Em 1909, começou a prestar serviços para a Pennsylvania Railroad (empresa

americana de locomotivas). Prestou serviços nesta empresa até 1914 e tornou-se responsável

pelo setor de “divulgação e propaganda” (Pato, 2009). A divulgação e a propaganda tornaram-se

na nova atividade profissional atribuída ao Relações Públicas e, neste contexto, surgem os

conceitos de “publicidade” e “propaganda”. Isto criou alguma confusão entre a atividade do

Relações Públicas e estas ações. Em 1914, teve início uma nova fase no seu trabalho. De acordo

com Pato, “a história de Ivy Lee como profissional de Relações Públicas está voltada para as

grandes empresas e para os magnatas deste período, tal como indicam dados históricos e a sua

experiência com Rockefeller” (p. 19). Por fim, e para terminar em grande, em 1916, criou a sua

própria empresa, uma empresa de consultoria de Relações Públicas, batizada de Lee & Harris &

Lee (Pato, 2009).

Edward Louis Bernays é considerado também um importante marco na história das

Relações Públicas pois foi quem definiu os princípios éticos da profissão. Outra característica que

marca Bernays é o facto de ele ter sido assessor de um grande número de Presidentes dos Estados

Unidos da América.

Com semelhanças a Ivy Lee, Edward Bernays também tem as suas raízes nos Estados

Unidos da América (1900).

Este profissional surge “com base na necessidade económico-empresarial, uma vez que, os

empresários sentiram necessidade de um especialista que, ao mesmo tempo,

compreendesse os públicos internos e percebesse e ouvisse os públicos externos. Ou seja,

um elemento de ligação entre a organização e a informação disponibilizada pela empresa

para a sociedade, potenciadora da criação de Opinião Pública. Assim, era mais fácil conduzir

à persuasão e transmissão de ideais de credibilidade empresarial necessários consoante o

contexto da época e as preocupações sociais do momento. (Pato, 2009, p. 21)

Semelhante a Ivy Lee, Bernays, em 1919, formou o seu primeiro gabinete profissional de

Relações Públicas, em Nova Iorque. Depois de a atividade se ter começado a definir realmente

nos Estados Unidos da América, grande parte graças a estes dois profissionais de Relações

Públicas, propagar-se-ia então, mais tarde, para a Europa (Pato, 2009).

Page 40: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

28

O Relações Públicas em Portugal

Depois de explorada a área de Relações Públicas nos Estados Unidos da América, foi a

vez de se expandir até à Europa e, Portugal não foi exceção, embora só 10 anos depois de ter

chegado à Europa, em 1960, é que a atividade foi iniciada no país. Quer isto dizer que a história

das Relações Públicas em Portugal se inicia cerca de meio século depois de terem nascido nos

Estados Unidos da América (Pato, 2009).

As Relações Públicas surgem, então, “no final dos anos 60 com a criação da Sociedade

Portuguesa de Relações Públicas que (…) receberia a Assembleia do Centro Europeu de Relações

Públicas (CERP) - esta redigiria o Código Europeu de Conduta Profissional de Relações Públicas,

também conhecido como o Código de Lisboa (1978)” (Sebastião, 2012, p. 6). Tudo isto vem

marcar a criação de empresas multinacionais em Portugal, assim como o departamento de

comunicação e relações públicas do Laboratório Nacional de Engenharia Civíl (LNEC) (Sebastião,

2012). De acordo com Sónia Sebastião, professora da Universidade de Lisboa, “estas

organizações necessitavam de serviços de consultoria nesta área e de comunicar com congéneres

estrangeiras” (Sebastião, 2012, p. 6). Segundo Pato, as Relações Públicas entram no nosso país

através de Avellar Soeiro.

A Mobil e a Shell são as empresas que recrutam os primeiros profissionais em território

nacional quando se instalaram em Lisboa e criaram nos seus escritórios os serviços de

Relações Públicas. Mas, como pioneiro individual, destaca-se nesse mesmo ano, Avellar

Soeiro considerado o pioneiro português de Relações Públicas. (Pato, 2009: 25).

A profissão de Relações Públicas surge no contexto empresarial, apesar de, mais tarde,

ter sido igualmente apropriada por diferentes entidades. As instituições privadas dificilmente

incluíram nos seus quadros elementos qualificados para a comunicação relacional (Cabrero e

Cabrero citado em Pato, 2009).

Em 1964, surgia em Lisboa a primeira escola de Relações Públicas, o Instituto de Novas

Profissões (INP). Nove anos depois da criação desta escola é que começaria a ser lecionada a

disciplina da área, nos 10º e 11º anos do ensino secundário, vindo a despertar o interesse dos

jovens por esta área, ainda relativamente recente (Pato, 2009).

Em 1968, Avellar Soeiro criaria a Sociedade Portuguesa de Relações Públicas (SOPREP).

De acordo com Pato, “a SOPREP, como sociedade dedicada à actividade de Relações Públicas,

foi promotora de diversas ações, nomeadamente, reuniões, debates, palestras informativas, entre

outras iniciativas que visavam contribuir para o conhecimento, tão vasto quanto possível, das

Relações Públicas aplicadas” (p. 26).

Page 41: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

29

Ao nível da educação, nos anos 1980, “as matérias de Relações Públicas entram nos

currícula universitário e secundário portugueses” (Sebastião, 2012, p. 6). Na universidade, as

Relações Públicas vieram a ser incluídas na área de Ciências da Comunicação, juntando-se assim

ao jornalismo, à publicidade e ao audiovisual. Nos anos 1990, com a atratividade dos cursos de

comunicação a aumentar, surge uma maior oferta na área com cursos mais especializados, quer

no privado, quer no politécnico.

Ainda nos anos 90, mas já fora da educação, “é também nesta altura que o mercado

entra em crescimento, com a instalação de sucursais de empresas multinacionais e com a criação

de empresas de capital nacional” (Sebastião, 2012, p. 6). No ano letivo de 2007/2008, introduziu-

se o processo de Bolonha que trouxe consigo 40 cursos de comunicação, ainda que apenas nove

deles denominados de “Relações Públicas”. Em teses e doutoramentos, o uso da expressão era

mínimo, o que pode ser indicador de um certo pudor em relação à expressão “Relações Públicas”,

ainda que o preconceito não fosse um exclusivo das universidades.

Existem algumas teorias relativamente ao facto anteriormente relatado. A primeira é de

que a expressão mais utilizada seria Public Relations (anglo-saxónico). A segunda defende que a

tradução à letra de Public Relations é “relação com os públicos”, portanto “Relações Públicas”

não faria sentido. A última justifica-se dizendo que os profissionais de Relações Públicas são

“consultores de comunicação” (Sebastião, 2012).

Acontece no resto do mundo, mas em Portugal, ainda nos dias de hoje, a profissão vê

entraves ao seu reconhecimento nas empresas, sejam pequenas ou médias. Fala-se,

principalmente, destas pois em alturas de crise são as que optam por dispensar a área da

comunicação.

No fundo, “as Relações Públicas são a única ferramenta que trata da reputação global das

empresas e não apenas da dimensão de produtos e serviços, por isso, na última década tornaram-

se um serviço must have.” (Sebastião, 2012, p. 7). É objetivo do profissional criar relacionamentos

com diferentes e variados públicos, através dos vários canais.

O percurso da criação das Relações Públicas em Portugal foi longo e vasto e, atualmente,

é bastante ligado à área de Assessoria de Imprensa e às agências de comunicação que são um

dos domínios desta área profissional em que a taxa de empregabilidade é menos desoladora.

Page 42: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

30

O papel do Relações Públicas

Associada muitas vezes à imagem de promotores de festas e de porta-vozes de discotecas

e casas de diversão, a profissão de Relações Públicas padece de um grande desconhecimento,

por parte de muitos, daquelas que são, realmente, as suas funções. Ainda assim, a atividade tem-

se desenvolvido bastante nos últimos 10 anos. De forma bastante sucinta, cabe a este profissional

“empregar todos os meios para se estabelecer e manter relações baseadas em confiança mútua

com os públicos” (Pinheiro & Ruão, 2016, p. 185) internos e externos, sendo este o papel geral

que se espera que seja desenvolvido pelo RP.

Segundo Bruno Amaral (2009), na década de 1980, eram quatro os papéis associados a

este profissional: prescritor de soluções, facilitador de comunicação, facilitador de processos e

técnico de comunicação. Atualmente, o Relações Públicas “desempenha funções de 4 tipos: 1-

representação – inclui todo o tipo de mensagens (escritas, faladas e visuais) produzidas na

comunicação com os públicos; 2- negociação – procura dialógica do entendimento mútuo; 3-

pesquisa – diagnósticos da envolvente; e 4- aconselhamento ou assessoria estratégica” (Fawkes,

citado em Sebastião, 2012, p. 4). Como podemos verificar, há realmente um desenvolvimento da

profissão e das suas práticas, mas, para entendermos como se chegou ao que assistimos

atualmente, importa analisarmos a evolução do papel do RP. Segundo Pinheiro e Ruão (2016),

são quatro os modelos que, de acordo com James Grunig e Todd Hunt (1984), acompanham a

profissão que passou de uma comunicação unilateral para uma comunicação bilateral, como

podemos analisar pela Tabela 2:

Page 43: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

31

O quarto e último modelo (Simétrico bidirecional), é aquele que ainda hoje é mais aplicado

(Pinto, 2013) e o mais indicado para construir a imprescindível relação de confiança da instituição

com o público interno e externo, já que os interesses dos seus públicos são primordiais.

Para pôr em prática todas estas questões, é necessário recorrer ao profissional de

Relações Públicas, já que se trata do seu papel. Existem dois tipos de profissionais: o diretor (ou

gestor de comunicação) e o técnico de comunicação. O primeiro, diz Sónia Sebastião,

exerce funções de planeamento, assessoria e suporte decisório na área comunicativa,

supervisionando a implementação dos programas que elabora. Tendo em conta a predominância

de uma ou outra tarefa, pode ser visto como: um prescritor especialista, um facilitador

comunicativo ou um solucionador de problemas (Sebastião, 2012, p. 4).

Já o segundo “executa e produz elementos comunicativos” (Sebastião, 2012, p. 4).

Tabela 2: Quatro modelos da evolução do papel do Relações Públicas (James Grunig & Todd Hunt, 1984).

Fonte: Pinheiro & Ruão, 2016, p. 183.

Page 44: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

32

É do senso comum que se associa em demasia a assessoria de imprensa ao profissional

de Relações Públicas. Chega a ser vista como a sua única função, o contacto com a comunicação

social. Esta é, no entanto, uma ideia equivocada já que este é apenas um papel intermédio. Trata-

se de uma área das Relações Públicas, que, não correspondendo somente a técnicas de

desinformação, pretende que sejam criadas relações de transparência com os jornalistas, e sejam

usados eticamente os instrumentos de comunicação específicos: comunicados de imprensa,

dossiers de imprensa, press kits, conferências de imprensa, entrevistas, etc. (Amaral, 2009). Em

suma, o profissional de Relações Públicas “conhece e compreende os órgãos de comunicação

social e gere e implementa programas de comunicação com os mesmos” (Sebastião, 2012, p. 5).

A assessoria de imprensa é associada a spin político, um tipo de ação que Bruno Amaral (2009)

define como sendo uma forma de desinformação, onde o interesse é interpretar factos ou eventos

da forma que seja mais favorável à entidade representada. Outro papel intermédio de Relações

Públicas é o de porta-voz. Este “representa a organização em eventos públicos, cria oportunidades

de comunicação entre a direção e os públicos internos e externos” (Sebastião, 2012, p. 5).

Apesar de o serviço de assessoria ser um dos mais procurados, não podemos esquecer

os assuntos públicos, a comunicação de crise, a comunicação interna e a organização de eventos

que, também ficam a cargo do Relações Públicas. Com efeito, o profissional de Relações Públicas

deverá centrar-se em quatro áreas fundamentais:

1- Conhecimento de ciências da comunicação - princípios de comunicação; teorias e modelos da

comunicação; ética e deontologia (comunicação, marketing, relações públicas). 2- Técnicas de

trabalho (craftmanship) - relações com os media; instrumentos de relações públicas; medição e

avaliação de relações públicas. 3- Organização das relações públicas – metodologia, pesquisa,

planeamento e gestão. E, finalmente, 4- Ambiente circundante das relações públicas – variáveis

macroambientais; marketing; estruturas de custos; imagem; cultura: social, empresarial, global.

(Sebastião, 2012, p. 5)

As atividades exercidas por um Relações Públicas estão ligadas à gestão da

responsabilidade social, que corresponde à aplicação de princípios e valores a todas as práticas e

políticas da empresa. Pinheiro e Ruão, defendem que o papel do Relações Públicas é “empregar

todos os meios para se estabelecer e manter relações baseadas em confiança mútua com os

públicos” (2016, p. 185), quer internos quer externos. O Relações Públicas é visto como o

profissional que representa os públicos, portanto a sua função, como já vimos, é encontrar

harmonia e conciliar as relações entre os públicos e as organizações. Um dos seus focos é ter em

conta o equilíbrio de interesses, uma preocupação que implica uma preparação e comportamento

Page 45: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

33

do profissional para que seja capaz de desempenhar tais funções. Um bom profissional deve ter

sempre em conta a ética, respeito pelos direitos do homem e regras do bom senso.

Atualmente, “assistimos a um conflito ético pela difícil coincidência entre o que é ético e

o que é rentável” (Sebastião, 2012, p. 4). De um lado, há o interesse e a necessidade de as

organizações serem socialmente responsáveis. E, de outro lado, o profissional de Relações

Públicas deve ter habilidade para ser social e eticamente responsável e, ainda, para persuadir a

organização com a qual trabalha a sê-lo também. Tem deveres para consigo próprio, para com a

sua profissão, para com o empregador, para com o cliente e para com a sociedade (Sebastião,

2012). Distingue-se do jornalista e do publicitário pela sua forma de ver a comunicação. O

Relações Públicas vê a comunicação de forma global, como um todo. Os segundos têm uma visão

fragmentada.

O papel do Relações Públicas tem vindo a alterar-se ao longo dos tempos, acompanhando

as evoluções tecnológicas e comunicativas. Para Sónia Sebastião,

as alterações no ambiente comunicativo – tais como as novas tecnologias e formas de

comunicação, o aumento da importância do conhecimento na economia, a opacidade da

troca comercial, a globalização da economia e crescente complexificação da tomada de

decisão e a perceção crítica das empresas de comunicação- exigem novas qualificações (…). (Sebastião, 2012, p. 5)

A evolução da comunicação traz-nos as Relações Públicas online, que representam uma

das estratégias que a empresa ou marca utilizam nas redes sociais para melhorar as suas

relações. Considera Sónia Sebastião que “compete ao Relações Públicas interpretar os insights

recebidos dos públicos em velocidade real e considerar as redes sociais como um dos canais no

mix de comunicação da empresa e adequá-los aos objetivos, ao core business, aos targets, às

mensagens e ao posicionamento” (2012, p. 9). Como diz a autora, o profissional de Relações

Públicas tem à sua disposição variadas ferramentas online para exercer as suas funções: “fóruns

e grupos de especialistas, que analisam e comentam campanhas, inovações e tendências na área,

redes sociais, ferramentas analíticas de avaliação dos projetos que servem de base ao trabalho

dos analistas” (Sebastião, 2012, p. 9).

Interessa ainda, analisarmos quais os conceitos que se associam a Relações Públicas.

Anabela Pato (2009) refere a opinião pública como um dos principais núcleos de intervenção da

atividade do Relações Públicas. Este conceito teve origem no século XVIII. É essencial percebê-la.

A opinião pública é muito importante, pois, “em primeiro lugar, é uma das forças de influência

presentes no trabalho do Relações Públicas. Em segundo lugar, é o reflexo da sua atividade, uma

Page 46: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

34

vez que surge como reflexo da mesma, ou seja, a opinião pública é um objeto de observação do

Relações Públicas” (Pato, 2009, p. 11). Atualmente, a sua definição completa-se com os meios

de comunicação social (massivos), já que as notícias e informações divulgadas por estes órgãos

interferem na sociedade, diretamente. Outro conceito relevante neste domínio é o de esfera

pública, que é um sítio de debate de questões de interesse. Permite a exposição de ideias e

opiniões num debate livre, onde a definição do interesse coletivo é a finalização (Rodrigues, 2000).

A propaganda é outro conceito associado ao Relações Públicas. A propaganda “consiste numa

ação de persuasão através da disseminação de informação, nomeadamente, argumentos,

rumores ou mesmo boatos. É uma ação sistémica que visa influenciar opiniões e a opinião

pública” (Cascais, citado em Pato, 2009, p. 12). Quando começou a aparecer a atividade de

Relações Públicas, estes profissionais eram considerados propagandistas, acabando esta

perceção por se dissipar com o tempo. A publicidade é mais um conceito que, através do uso da

criatividade influencia os consumidores para um determinado produto ou até serviço. Em

penúltimo temos a comunicação organizacional que trabalha o miolo de uma organização, mas

que deve ter em atenção não só o interior, mas também o exterior da organização. Por fim, o

marketing que é o “conjunto de técnicas e atividades que procuram otimizar a relação entre a

oferta e a procura de bens e serviços” (Cascais, citado em Pato, 2009, p. 13). Neste conceito, é

ainda possível distinguir marketing social e marketing político.

Torna-se fundamental afastar a ideia de que os profissionais de Relações Públicas apenas

organizam festas e trabalham em discotecas. Tal como Sónia Pedro Sebastião nos diz, como em

qualquer profissão, numa organização deve ser reconhecido o seu papel para que possa ter o

apoio da administração. Se não ocupar um papel na gestão organizacional, a sua legitimação será

comprometida. Para a autora, “para além do respeito pela sua profissão, é importante

considerarmos que, acima de tudo, este profissional é um ser humano e, enquanto tal, merece

que as suas funções sociais e empresariais estejam devidamente definidas” (Sebastião, 2012, p.

6).

Page 47: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

35

Capítulo 3:

Os gabinetes de comunicação das autarquias do Norte do país

– um estudo exploratório

mbora sem a pretensão de desenvolver uma investigação de fôlego, depois da

experiência de estágio e do enquadramento da atividade de Relações Públicas feito no

capítulo 2, entendeu-se útil compreender como outros municípios para além de Braga

beneficiam ou não da atuação de profissionais de comunicação. Este último capítulo dá, então,

conta de um retrato panorâmico do distrito, explorando a existência de gabinetes especializados e

averiguando as funções adstritas a estes departamentos.

Questões de partida e método

Durante o período de estágio na Câmara Municipal de Braga, surgiram algumas questões

que se tornaram pertinentes e que merecem ser respondidas, de maneira a compreender mais

amplamente a relevância atribuída aos gabinetes de comunicação em contexto autárquico. Essas

questões, já referidas no início deste trabalho, são as seguintes: Existem mesmo gabinetes de

comunicação na prática ou a designação de gabinete como lugar de trabalho coletivo é excessiva

no contexto das pequenas autarquias do país? Serão os profissionais que desempenham essas

funções especializados na área? Que lugar ocupa o protocolo nas tarefas dos gabinetes de

comunicação? Que importância/centralidade deve ser reconhecida à gestão do protocolo no

quadro das relações interinstitucionais de uma autarquia?

Neste processo de investigação exploratória, para que seja possível obtermos as respostas

às perguntas acima colocadas, foi necessário desenvolver um percurso em etapas. Ou seja, depois

de questionada a realidade, especificamente em termos da estrutura que é o Gabinete de

E

Page 48: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

36

Comunicação, definiu-se um método considerado adequado para reunir algumas respostas que

ajudassem a traçar o retrato das Câmaras Municipais em matéria de atividades de comunicação.

Dentro da metodologia científica em Ciências Sociais, podemos distinguir a quantitativa e a

qualitativa. Tal como as próprias palavras já indicam, se optarmos pela primeira forma, vamos

restringir-nos a resultados numéricos, enquanto que, pela segunda hipótese, conseguimos obter

informação com mais conteúdo e mais aprofundada. Neste caso, optou-se por utilizar ambas.

Como forma de obter uma impressão ampla acerca dos Gabinetes de Comunicação,

utilizou-se um método quantitativo, na medida em que se procurou resumir quantitativamente um

conjunto de informações recolhidas através de um formulário eletrónico. Este método permite

reunir informação objetiva, embora não torne possível um aprofundado conhecimento da

realidade. Ainda assim, em alguns casos os dados quantificáveis podem ser vantajosos, na medida

em que ajudam a averiguar regularidades. Por essa razão, à semelhança de um inquérito, o

formulário de informação2 deve ser objetivo, sequencial, de leitura fácil e de rápida resposta.

Na sequência deste trabalho, definiu-se como amostra o conjunto das Câmaras Municipais

do distrito de Braga, já que, devido ao estágio no Município de Braga e à tarefa da construção da

base de dados, onde foi possível reunir todos os contactos de interesse para esta amostra, seria

mais fácil, rápido e possível aplicar o formulário e ficar assim com uma noção de como funciona

a estrutura no distrito. Aproveitou-se também para escapar à tentação de estudar os grandes

centros urbanos, Porto e Lisboa, e para realizar um estudo que permitisse conhecer uma realidade

sobre a qual não haverá tanta informação ou estudos prévios já realizados neste domínio.

O formulário de informação foi realizado no site www.surveymonkey.com3, uma plataforma

online que permite uma fácil e gratuita execução de inquéritos. Este sistema tem a particular

vantagem de gerar de imediato um link que permite o envio instantâneo para a amostra definida

e de realizar, também de modo automático, uma análise estatística básica dos resultados. O

formulário enviado neste contexto a todos Municípios do distrito de Braga teve como objetivo

identificar a existência, ou não, de Gabinetes de Comunicação nas estruturas já definidas, assim

como de profissionais especializados na área e, ainda, analisar a importância que estas

2 Designa-se aqui o instrumento utilizado de formulário de informação e não de inquérito, por se ter

dirigido este formulário a instituições e não a indivíduos particulares. Ou seja, o trabalho realizado não

tratou de inquirir pessoas, mas simplesmente de reunir informações na forma prática de um formulário. 3 Ver link do formulário de informação/inquérito por questionário aqui:

https://pt.surveymonkey.com/r/BFCXLVR

Page 49: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

37

organizações atribuem às ações de comunicação. Sendo assim, o formulário de informação (ver

anexo 1) foi constituído pelas seguintes questões:

1. Identificação do Município

2. Existe Gabinete de Comunicação?

3. Se a resposta anterior foi “Sim”, quantas pessoas trabalham nele?

4. Qual é a formação que os profissionais têm? (inclui as opções “Ensino

Secundário”, “Licenciatura” e “Mestrado”)

5. No caso de ter respondido “Licenciatura” ou “Mestrado” especifique qual/quais

(ex. Licenciatura em Ciências da Comunicação).

6. Que funções são desempenhadas pelo Gabinete de Comunicação? (podendo-se

assinalar mais do que uma resposta de um conjunto fornecido no formulário)

7. A Câmara Municipal contrata serviços de comunicação a outras empresas?

8. Se respondeu “Sim”, indique que tipo de serviços são, habitualmente,

executados por outras empresas.

9. O Gabinete de Comunicação tem rotinas de contacto frequentes com os

jornalistas da imprensa local?

10. Se respondeu “Sim”, explicite por favor o tipo de rotinas.

Todas as questões se definem por resposta fechada, onde, no geral, as opções variam

entre o “Sim” e “Não” e respostas já definidas e apresentadas a título opcional, para facilitar a

escolha e o assinalamento. Procurou-se assim alguma eficácia na aplicação do formulário, por se

saber que instrumentos de investigação longos, que tomem muito tempo aos respondentes

tendem a não ser respondidos.

Para além desta ferramenta, que visou coletar dados relevantes à compreensão do papel

dos Gabinetes de Comunicação ligados às autarquias, foi também utilizada uma metodologia

qualitativa: a entrevista. Como, neste caso, o interesse era compreender em detalhe, junto do

diretor do Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Gomes, o

funcionamento do gabinete atido à autarquia de Braga, a entrevista em profundidade seria o

método ideal a aplicar, já que, apesar de ser preparada com perguntas padrão e semi-

estruturadas, a conversa presencial permite abordar outros temas que surjam e até registar

pormenores importantes que essa interação torna mais evidentes. Sendo assim, é óbvio que a

Page 50: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

38

entrevista enquanto instrumento de investigação permite recolher informação muito mais rica,

ainda que também dependa sempre do à vontade do entrevistado e das suas próprias

competências comunicativas. Um fator a ter em conta com este método é a gravação da entrevista.

É essencial para que nenhuma informação se perca e haja a garantia de que fica tudo registado.

Confirmada a entrevista com Ricardo Gomes, agendada para meados de setembro no

salão nobre da Câmara de Braga, criou-se então um guião que viria a servir para conduzir a

conversa. Guião esse, constituído pelas seguintes perguntas orientadoras:

Como é ser diretor do Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal daquela

que é considerada a terceira maior cidade do país?

Que papel estratégico tem, do seu ponto de vista, o Gabinete de Comunicação

para a promoção da autarquia?

Quando é, realmente, importante a intervenção do Gabinete de Comunicação,

neste contexto de autarquia?

Qual é a sensibilidade do Presidente da Câmara e do Executivo Municipal como

um todo para estas questões de comunicação?

Numa Câmara desta dimensão, a promoção deve passar muitas vezes de local a

nacional. De que maneira trabalham isso?

Abordando a questão da relação da Câmara Municipal com os públicos e as

freguesias, como é que essa relação é trabalhada?

Relativamente a questões protocolares, do protocolo autárquico, a nível da

organização de eventos, dos cuidados a ter, etc., é o gabinete de comunicação

que fica responsável por essas formalidades?

Com estas questões, previamente, estruturadas, conhecimento sobre o tema, e uma

posterior conversa fluente, reúnem-se as condições para que a entrevista seja um sucesso e a

qualidade da informação recolhida no final permita responder às variadas questões e permita,

ainda, retirar boas conclusões sobre o tema.

Nos pontos seguintes, apresentam-se os resultados encontrados a partir do formulário e

faz-se uma leitura da entrevista realizada.

Page 51: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

39

Auscultação às Câmaras Municipais do distrito de Braga

O formulário de informação foi aplicado, através dos e-mails recolhidos para a realização

da base de dados no período de estágio, às 14 Câmaras Municipais do distrito de Braga, sendo

elas: Amares, Barcelos, Braga, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Esposende, Fafe,

Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão, Vila

Verde e Vizela. Ao contrário do que se esperava – porque se imaginava encontrar mais dificuldades

neste processo –, 13 dos 14 Municípios responderam apenas com o envio de um e-mail com o

link do inquérito, enviado no máximo por duas vezes, num período de cerca de duas semanas.

Ainda assim, após esse mesmo envio e, posterior contacto telefónico, não se conseguiu obter

resposta do Município de Guimarães, por falta de tempo, justificaram, ainda que o preenchimento

demorasse cerca de um minuto. Posto isto, a análise dos resultados centrar-se-á em 13

Municípios, ao invés dos 14 que fazem parte do distrito de Braga.

Sintetizando então os resultados encontrados e pondo de parte a primeira pergunta que,

simplesmente pedia a identificação do Município, constata-se, no âmbito da segunda questão que

tratava de identificar a existência ou não de Gabinete de Comunicação, que 12 Municípios afirmam

ter um Gabinete de Comunicação integrado na estrutura organizativa da Câmara Municipal

(Gráfico 1).

Gráfico 1- Número de Câmaras Municipais do distrito de Braga com existência, ou não, de Gabinete de Gomunicação

Fonte: Elaboração própria

Sim- 12

Não- 1

Page 52: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

40

Portanto apenas um não tem, que é o de Cabeceiras de Basto. E realça-se o facto de Fafe

ter criado um gabinete apenas durante o atual mandato executivo, o que corrobora a ideia de que

a comunicação tem, cada vez mais, um papel importante e imprescindível para as autarquias.

Dado que a maioria das questões é direcionada para a Câmaras Municipais que declaram ter

Gabinete, a pergunta em causa condicionou necessariamente o restante formulário. Assim, até à

questão número seis, os resultados cingem-se apenas a 12 Câmaras Municipais.

Na terceira questão, o interesse foi saber qual o número de pessoas que trabalham nos

gabinetes (Gráfico 2).

Gráfico 2- Número de colaboradores nos gabinetes de comunicação nas Câmras Municipais do distrito de Braga

Fonte: Elaboração própria

Aqui as respostas variaram entre o número um, dois, três, cinco e seis, sendo que o mais

usual são duas pessoas no gabinete, já que quatro em 12 Câmaras Municipais (Fafe, Póvoa de

Lanhoso, Vila Verde e Vizela) responderam esse número. Menos frequente foi cinco e seis pessoas,

sendo casos exclusivos os dos Municípios de Barcelos e Vila Nova de Famalicão, respetivamente.

Com um (Amares, Celorico de Basto e Vieira do Minho) e três (Braga, Esposende e Terras de

Bouro) funcionários, as respostas empataram em três municípios.

Relativamente à sua formação (quarta questão), as 12 Câmaras assumiram que os

profissionais são licenciados, ainda que o Município de Famalicão tenha também funcionários com

0

1

2

3

4

5

6

7

Número de colaboradores

Page 53: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

41

o ensino secundário no gabinete. Já com o Mestrado, não existe nenhum. Na quarta questão,

ainda sobre os profissionais do gabinete, pretendeu saber-se que licenciatura têm os profissionais

que integram os gabinetes (referimo-nos apenas ao grau de licenciado por se ter constatado não

haver ninguém nesta amostra com o grau de mestre). Sendo assim, vejamos o Gráfico 3:

Gráfico 3- Licenciatura dos profissionais que trabalham nos gabinetes de comunicação das Câmaras Municipais do distrito de Braga

Fonte: Elaboração própria

Pela análise do gráfico conseguimos perceber, de imediato, que a Licenciatura em

Ciências da Comunicação é a predominante, com sete respostas. Esta seria a resposta mais

esperada, pois quando pensamos num gabinete de comunicação, associamos que as pessoas

que lá trabalham são formadas nessa área. A esta licenciatura, pode ainda juntar-se a Licenciatura

em Comunicação Social, que obteve duas respostas, já que se trata em ambas da mesma matéria.

O que acontece é que o nome do curso foi alterado, em muitos casos, para Ciências da

Comunicação, no âmbito do processo de Bolonha, portanto pode também intuir-se mediante este

facto que estas duas pessoas teriam terminado o curso já há algum tempo, relativamente aos

outros sete. A par de Comunicação Social, estão também a licenciatura em Jornalismo, Relações

Públicas, Relações Internacionais e Design Gráfico com duas respostas também. De suscitar

alguma curiosidade são as licenciaturas em Filosofia, Geografia e Estudos Portugueses e

Espanhóis, ainda que indicadas apenas pela Câmara de Vila Nova de Famalicão, as duas

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Licenciatura dos profissionais

dos Gabinetes de Comunicação

Page 54: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

42

primeiras, e pela Câmara de Terras de Bouro, a última. Estas não seriam especialidades que se

esperaria encontrar na ocupação de cargos num gabinete de comunicação. Pensar-se-ia, e seria

sempre mais lógico, em alguém do Jornalismo, das Relações Públicas, basicamente, da

comunicação em geral.

Relativamente à sexta questão, procurou-se identificar as funções do gabinete de

comunicação, dando algumas hipóteses, ainda que com a possibilidade de se acrescentarem

outras. Analisemos o Gráfico 4:

Gráfico 4: Funções dos Gabinetes de Comunicação

Fonte: Realização própria

Antes de analisarmos este gráfico, importa referir que o Município de Terras de Bouro

selecionou apenas a opção “Outros”, onde especificou que realizavam todas as funções descritas,

portanto esta posterior análise incluirá mais um número relativamente aos representados no

gráfico. Das 12 Câmaras, 12 assumiram então que a redação de press releases, o clipping e a

gestão do site/portal/notícias são funções dos seus gabinetes de comunicação. Abaixo encontra-

se a organização de eventos, selecionada por nove Municípios e o protocolo selecionado por oito.

Ainda assim, cinco Câmaras optaram também pela opção “Outros” e especificaram que também

realizam a ponte com o designer para materiais gráficos, assessoria de imprensa, gestão das redes

sociais, auditoria e criação gráfica. Nesta possibilidade de acrescentarem outras funções, é notória

0

2

4

6

8

10

12

Funções dos Gabinetes de

Comunicação

Page 55: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

43

a referência às redes sociais, sendo um sinal de que é um meio já utilizado pela grande parte dos

Municípios para fazerem a ponte de comunicação entre o Município e os cidadãos.

Na sétima questão, voltamos a ter em conta os 13 Municípios do distrito de Braga, já que

esta é direcionada para a Câmara Municipal e não para o gabinete de comunicação. Aqui quisemos

saber se a Câmara Municipal contrata serviços de comunicação a outras empresas. Das 13

autarquias respondentes, oito confirmaram essa contratação e cinco responderam que não.

Avançando para a questão seguinte, que se dirige aos oito Municípios anteriores, os que contratam

serviços externos de comunicação, importa saber que serviços contratam. Vejamos o Gráfico 5:

Gráfico 5: Serviços de comunicação que a Câmara Municipal contrata a outras empresas

Fonte: Realização própria

Dos oito Municípios que assumiram contratar serviços a empresas externas, todos referem

a produção de cartazes. Lado a lado está o clipping e a gestão do site/portal/notícias com 3

seleções. E, por fim, com duas escolhas encontra-se a redação de press releases.

Na penúltima questão, a número nove, voltamos a considerar apenas 12 Câmaras

Municipais, pois volta a ser sobre os gabinetes de comunicação. Nesta pergunta foi questionado

o facto de o gabinete de comunicação ter, ou não, rotinas de contacto frequentes com os jornalistas

da imprensa local, onde os 12 municípios assumiram que sim. E, por fim, na décima questão,

ficámos a saber que tipo de rotinas são essas. Vejamos (Gráfico 6):

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Serviços de comunicação

contratados a outras empresas

Page 56: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

44

Gráfico 6: Tipo de rotinas estabelecidas frequentemente, pelos gabinetes de comunicação, com os jornalistas da imprensa local

Fonte: Elaboração própria

Nesta análise voltamos a ter a situação da seleção da opção “Outra”, por parte do Município de

Terras de Bouro, onde a sua intenção é afirmar que praticam todas as rotinas de contacto, sendo assim,

além dos valores do gráfico, será acrescentado mais um número nesta análise. Portanto, no comunicação

com o exterior, ou seja com a imprensa local, o contacto feito pelos gabinetes de comunicação rege-se,

maioritariamente pelo envio de comunicados e pelos contactos telefónicos, já que, em 12 Câmaras

Municipais, 12 e 11 selecionaram essas opções, respetivamente. Com um número de seleções bem

inferior, estão os encontros pessoais para transmissão de informações, com três seleções e, por fim a

opção de que “só há contacto quando os jornalistas procuram alguma informação ou reacção”, com duas

seleções.

Esta recolha de dados permite-nos ter já uma noção sobre os gabinetes de comunicação na

amostra definida. Sobre a sua existência, ou não, sobre quem são os profissionais que os ocupam e ainda

sobre as suas tarefas.

Entrevista ao diretor do gabinete de comunicação da Câmara Municipal de Braga

Com uma visão mais generalista sobre os gabinetes de comunicação, conseguida através

dos formulários de informação, agora é tempo de aprofundar o funcionamento desta estrutura que

0

2

4

6

8

10

12

Envio de

Comunicados

Encontros

pessoais para

transmissão

de

informações

Contactos

telefónicos

Só há

contacto

quando os

jornalistas

procuram

alguma

informação ou

reação

Outra

Tipo de rotinas estabelecidas

com os jornalistas da imprensa

local

Page 57: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

45

já é parte integrante dos Municípios, como vimos, não todos, mas de quase todos. Do conjunto

dos municípios do distrito de Braga volta-se de novo ao Município de Braga propriamente dito,

aqui tomado como exemplo por aí ter sido realizado o estágio de que este relatório é objeto.

Para falar em detalhe das especificidades do trabalho realizado num Gabinete de

Comunicação, entendeu-se que seria adequado ouvir o chefe do gabinete de comunicação da

Câmara Municipal de Braga, que é também a terceira maior cidade do país. Realizou-se assim

uma entrevista com Ricardo Gomes, com o objetivo de conhecer melhor a estrutura que dirige. A

entrevista em causa realizou-se presencialmente no emblemático Salão Nobre da Câmara

Municipal de Braga. Foi uma conversa de cerca de 23 minutos, gravada, em que foi possível

abordar questões como o papel do gabinete na promoção da autarquia, a construção da relação

com os públicos, a visão do Presidente da Câmara relativamente à comunicação, a questão do

protocolo, entre outros aspetos.

Desta entrevista (ver anexo 2) são vários os pontos a ressaltar, já que o seu conteúdo é

bastante rico no que diz respeito ao funcionamento do gabinete de comunicação da Câmara

Municipal de Braga. Neste caso, estaremos sempre a referirmo-nos a este Município, mas será,

certamente, o espelho de muitos outros. No fundo, Braga, apesar das suas idiossincrasias, pode

ser tomada como exemplo para retratar as funções e o papel que esta estrutura ocupa nas

autarquias em geral.

Como já vimos sabendo da teoria, estas estruturas trabalham a informação para o público-

alvo mas, obviamente, não a trabalham da mesma forma que outras organizações,

nomeadamente de âmbito comercial, pois os públicos-alvo são diferentes. O tipo de informação

que interessa a uns não irá interessar a outros, por isso mesmo, este diretor de comunicação

assume que toda a informação no Município tem de ser trabalhada de forma muito cuidada e

bastante direcionada, sendo esta uma ginástica diária e bastante exigente que tem a seu cargo.

Além disso, o caráter dinâmico da informação, que varia de dia para dia em função da atividade

própria do Município, dificulta toda a gestão. Para ajudar todo este processo, Ricardo Gomes

assume que as plataformas e os canais existentes hoje em dia são uma mais-valia para chegarem

às pessoas. Afirma que a maior parte do trabalho é feito através das redes sociais, ainda assim

não se descuram os meios mais tradicionais (jornais, rádio, televisão, etc.).

A informação dos cidadãos é um dos pontos-chave da autarquia, já que, para o diretor do

gabinete de comunicação, mais do que promover a autarquia, a obrigação é informar os munícipes

sobre os produtos e projetos que têm à sua disposição, chegando mesmo a compará-los a clientes.

Page 58: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

46

Em todo o caso, não só do público externo se faz a autarquia, por isso inclui também o

público interno nesta rede de informação, já que, no caso do Município de Braga são mais de mil

pessoas que o constituem. Neste caso, a comunicação é vista como uma ferramenta de gestão,

quer do gabinete de comunicação, quer do autarca, do político, etc., comunicação essa que sofreu

uma grande reviravolta e uma grande evolução. O caso da Câmara de Braga é um exemplo disso

pois, segundo Ricardo Gomes, há uns anos o Município não comunicava e, por isso, deu-se uma

mudança nas políticas e nas decisões. Pode considerar-se que a Câmara, quer em Braga, quer

noutros locais, era uma instituição bastante fechada, onde a informação era pública apenas

praticamente quando fosse obrigatório. Portanto, esta questão da comunicação, diz, “é um

fenómeno relativamente recente, em Portugal… com uma década ou pouco mais do que isso”.

Relativamente à intervenção do gabinete na autarquia, Ricardo Gomes assume que a

atuação dos profissionais de comunicação faz parte do processo de gestão diária do Município. E,

ao contrário do que muitas vezes é pensado, a comunicação não é um gabinete de fim de linha,

em que depois de tudo decidido e já pronto a ser anunciado é que intervêm. Hoje em dia, o

gabinete acompanha todo o processo, desde o planeamento até à divulgação, a nível político e

técnico. Sendo assim, os colaboradores do gabinete já não se limitam à preparação de

comunicados, notas de imprensa, etc. Hoje têm um papel bem mais ativo, fazendo o

“acompanhamento de todos os processos, logo desde o início até ao final, até porque [o gabinete]

também contribui para que processos e decisões se possam tornar mais ricos”.

Na questão da sensibilidade do Presidente da Câmara e do seu executivo nas questões

da comunicação, Ricardo Gomes garante que “o sucesso do trabalho de um gabinete de

comunicação depende, exclusivamente, da vontade e da forma com um autarca encara estes

processos”. No caso da Câmara Municipal de Braga, essa relação funciona bastante bem, até

porque esta é uma ferramenta que o Presidente e restantes membros têm à sua disposição para

trabalhar.

Partindo da comunicação local, faz também sentido abordar a comunicação nacional, já

que se trata da uma cidade em constante crescimento. Neste ponto, o diretor do gabinete chama

a atenção para uma comunicação, além de nacional, também internacional, dando o exemplo de

que o Presidente da Câmara estaria, por exemplo, em Roterdão a representar o Município. Ainda

assim, essa comunicação exterior faz-se, claramente, a partir da que é implementada a nível local,

porque só com uma boa base é que se consegue expandir a sua comunicação para outros pontos.

Page 59: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

47

Já no patamar do protocolo, quando questionado sobre o facto de essa parte passar ou

não pelo gabinete de comunicação, se seria trabalhado por colaboradores específicos da área da

comunicação, Ricardo Gomes respondeu prontamente que “por definição do organograma passa”,

e que pela experiência que tem nesta autarquia e por outras instituições por onde já passou, o

protocolo deveria ter um gabinete específico, pelo simples motivo de que qualquer instituição

representa uma marca – neste caso falamos da marca “Braga” –, à qual as pessoas vão atribuir

uma relação, que é a de gostar ou não gostar ou identificar-se ou não se identificar. Sendo assim,

os pormenores não podem ser descurados, quer na comunicação, quer no protocolo, pois “é toda

esta conjugação de fatores que faz uma marca, que faz um registo, que faz um presidente, que

faz uma autarquia e que faz, inclusive, os seus cidadãos sentirem-se orgulhosos, ou então não”.

Ricardo Gomes considera fundamental o cuidado com o protocolo, com a imagem, como recebem

quem os visita, entre outros aspetos, que parecem pormenores, por vezes, exagerados, mas que

ajudam na construção da marca e na questão do orgulho por parte dos cidadãos e por parte de

quem visita. Ainda assim, é importante que esta construção tenha conteúdo e não seja apenas

show off, pois como refere o diretor do gabinete, “nós não podemos, efetivamente, estar a querer

vender, no bom sentido, a marca “Braga” a nível nacional e a nível internacional dizendo que

somos os melhores, que aqui se fazem coisas extraordinárias e quando, efetivamente, as pessoas

nos visitam encontrarem uma realidade que não é essa”.

Em suma, e tentando explicar a situação concreta da Câmara Municipal de Braga, Ricardo

Gomes assume que não é o gabinete de comunicação que trabalha a questão do protocolo e que

o Município deveria ter essa questão mais bem trabalhada, apesar de, no fundo, tudo estar

interligado. Enfatiza dizendo que “uma coisa não vive sem a outra, como, com toda a certeza, a

comunicação não viveria sem a Presidência, sem os vereadores, sem as empresas municipais e

vice-versa”.

Em jeito de conclusão da entrevista, Ricardo Gomes pretende que fiquemos com a ideia

de que, nos dias de hoje, é impossível que qualquer empresa municipal viva sem comunicação.

E, mostrando todo o seu agrado, diz ver hoje, na Câmara Municipal de Braga, “um executivo

municipal que compreende as políticas de comunicação como sendo efetivamente ferramentas de

gestão para o futuro”. Ao terminar a entrevista, apelou ainda a que todas as instituições públicas,

autarquias locais, governo, apostem em processos de comunicação inovadores e permanentes

para que consigam ter cidadão informados, que, consequentemente, serão cidadãos decisores e

com sentido de opinião.

Page 60: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

48

Leitura e análise de dados

Depois de recolhidos e organizados os dados obtidos através do formulário de informação

e da entrevista, o primeiro sobre a existência dos gabinetes de comunicação, os seus profissionais

e as funções no geral, e a segunda sobre o funcionamento e funções específicas do gabinete da

autarquia de Braga, faz-se neste último ponto uma leitura integrada dos dados e a sua análise,

para que seja possível responder às questões que surgiram durante o período de estágio.

Ainda que a amostra seja delimitada a um distrito, o distrito de Braga, e o gabinete de

comunicação aprofundado tenha sido apenas o da Câmara Municipal de Braga, é possível retirar

boas conclusões e estender à generalidade. Sendo assim, e começando já por responder às

questões que deram origem a esta análise, confirmamos que a realidade do gabinete de

comunicação é já extensível à maioria dos Municípios. Não podemos dizer a todos porque, como

vimos, ainda havia uma autarquia que não possuía. Portanto, podemos verificar que esta estrutura

começa a deixar de fazer parte apenas da teoria, para ser parte integrante na prática. Este facto

deve-se, certamente, a uma questão falada por Ricardo Gomes na entrevista, que é a reviravolta

e evolução que a comunicação sofreu, passando a ser imprescindível na gestão de qualquer

autarquia, nos mais variados aspetos. Consequentemente, essa evolução gera uma dependência

que obriga à criação de uma estrutura organizada, com pessoas competentes, para a gestão deste

fenómeno que é a comunicação.

Relativamente aos profissionais que desempenham funções nos gabinetes de

comunicação, surgia a dúvida se seriam especializados na área ou não. Tirando, porém, um ou

outro caso mais, digamos, estranho, com profissionais licenciados em áreas bastante deslocadas

da comunicação, todos os profissionais que integravam a amostra eram especializados em

comunicação, fosse relações públicas, jornalismo, comunicação em geral, a maioria encontrava-

se dentro da área. Este pormenor é bastante relevante, já que as pessoas que integram os

gabinetes têm, no fundo, como responsabilidade a gestão diária da autarquia, a nível informativo,

portanto convém que sejam capazes e tenham conhecimentos da área, para que desempenhem

com sucesso as suas funções e cuidem da imagem do Município.

À penúltima questão, pelo que foi observado no trimestre de estágio, quase seria possível

responder sem recolha de informação, mas, e apesar de no formulário um reduzido número de

Municípios ter selecionado a opção “Protocolo” nas funções desempenhadas pelo gabinete, esta

é uma questão ainda relativamente incipiente para as autarquias. E, tal como o diretor do gabinete

Page 61: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

49

de comunicação da Câmara Municipal de Braga veio confirmar aquilo que se expectava, a questão

do protocolo ainda não é muito trabalhado nem pelo gabinete de comunicação, nem pela autarquia

no geral. Apesar de saber da sua importância e de defender um gabinete específico para o

protocolo, esta questão passa ainda muito ao lado das prioridades das autarquias, especificamente

da autarquia de Braga. Ainda assim, e respondendo à última questão, com o auxílio das

orientações e experiência de Ricardo Gomes, deve ser, claramente, reconhecida uma importância

à gestão do protocolo no quadro das relações interinstitucionais de uma autarquia. Tomando o

exemplo que o diretor do gabinete utilizou, devemos considerar que, neste caso, a autarquia tem

um rosto, um perfil e uma marca, ou seja a marca “Braga”. Marca essa que desperta sentimentos

nos cidadãos, ou seja, faz com que as pessoas ganhem uma relação também afetiva com a cidade.

E é não descurando os pormenores, quer comunicativos, quer protocolares, que a relação

construída se pode tornar melhor, já que são esses pormenores que fazem a marca. Ricardo

Gomes reconhece que deve existir um “cuidado com o protocolo, com a imagem, como estamos,

como recebemos quem nos visita… É de todo fundamental”, pois são esses cuidados que vão

auxiliar na gestão das relações interinstitucionais.

Analisados os dados recolhidos por métodos quantitativos e qualitativos e, respondidas as

perguntas que emergiram ao longo do período de estágio, reconhece-se uma grande importância

à estrutura do gabinete de comunicação na gestão de uma autarquia. A gradual evolução da

comunicação e o facto de esta atividade se ter tornado um pilar destas organizações públicas tem

vindo a recomendar a criação de gabinetes próprios dedicados ao fenómeno comunicativo. É a

estes organismos que compete ser ponte de ligação entre o Município e os seus públicos externos

e internos.

Page 62: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

50

Considerações finais

m jeito de conclusão do presente relatório será feita uma breve abordagem de tudo

aquilo que foi realizado, desde o lançamento para o estágio até às reflexões dele

resultantes, como forma de consolidação. É com estas considerações que se encerra

o percurso do Mestrado em Ciências da Comunicação, na vertente de Publicidade e Relações

Públicas.

Para a elaboração deste relatório, todo o processo de estudo académico, tanto da

licenciatura como do mestrado, foi fundamental para consolidar conhecimentos e estar apta a

enfrentar as etapas que viriam a seguir. Este trabalho representa, mais do que o final de mais

uma etapa, o final de um ciclo: o 2º ciclo académico. É a concretização de um objetivo pessoal

em caminho para o profissional.

O presente documento, além de uma abordagem teórica sobre as Relações Públicas, que

retoma o estudo das Ciências da Comunicação desde a licenciatura, vem no seguimento da

realização do estágio curricular trimestral na Câmara Municipal de Braga que serviu de mote para

todo o conteúdo aqui presente e, ainda, como uma preparação para o mercado de trabalho, dando-

nos a hipótese de contactar diretamente com esta área de atuação profissional. A definição do

tema, que viria a ser estudado e aprofundado, e o estudo empírico exploratório advêm de toda a

matéria adquirida e observada durante os três meses, tornando-os assim únicos. Será certo que

a temática não se reveste de total originalidade, uma vez que a questão dos gabinetes de

comunicação.

Do tema deste relatório, “Poder local, comunicação e protocolo”, tornou-se essencial, num

enquadramento teórico, abordar os conceitos de “poder local”, “protocolo”, “comunicação

autárquica” e ainda aprofundar conhecimentos sobre o profissional e a profissão das Relações

Públicas, aspetos que viriam a preparar para o estudo empírico de caráter exploratório realizado

E

Page 63: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

51

na última parte. Estudo esse que serviu para dar respostas às questões que surgiram durante o

período de estágio, relativas aos gabinetes de comunicação (local de estágio), desde a sua

existência ao funcionamento, aos profissionais que lá trabalham e ainda questões referentes ao

protocolo. Estas questões surgiram no âmbito das tarefas desempenhadas e ainda, pelo ponto

fulcral desta aprendizagem, que foi a observação diária. O facto de verificar que nem tudo o que

se aprende na teoria se passava realmente no gabinete e na autarquia em si despertou para as

questões que viriam a dar origem à investigação. O estágio na Câmara Municipal de Braga e o

estudo feito para a conclusão deste relatório mostraram que da teoria à prática vai um grande

passo, ou seja, na realidade do dia-a-dia não é tudo tão linear como sugerem os manuais da

profissão. É nesta constatação que se funda a preocupação enunciada neste trabalho de conhecer

as verdadeiras funções do gabinete de comunicação e quem são afinal as pessoas que lá

trabalham ou como são vistas as questões protocolares, questões que deram o mote para uma

abordagem que visou realizar um retrato panorâmico original do distrito de Braga.

O processo de investigação empírica, ao contrário do que se esperava inicialmente, correu

muito bem. Houve uma colaboração bastante boa e rápida por parte quer dos responsáveis que

forneceram as informações através do formulário quer do entrevistado, o que permitiu cumprir os

prazos e recolher bom conteúdo para a análise final, com o auxílio das considerações teóricas

feitas no início. Sendo Câmaras Municipais, e conhecendo minimamente a realidade dessas

organizações, seria esperado que fosse necessária uma grande insistência para conseguir obter

respostas. Portanto este aspeto acabou por surpreender bastante pela positiva.

Enquanto estudante da área, foi muito interessante e cativante realizar todo um estudo de

raiz e conseguir fazer uma análise original e singular, apesar de modesta, e obter as posteriores

conclusões. É cativante ver que a comunicação ocupa um lugar importantíssimo nas organizações.

Ou mais do que importante, realmente imprescindível. E que essa imprescindibilidade e a evolução

constante a que está sujeita está a levar à criação real de estruturas próprias para que seja

trabalhada: os gabinetes de comunicação. Ter a noção de que num distrito já de tamanho

considerável e ainda com meios mais rurais, o distrito de Braga, só um Município ainda não terá

gabinete é de facto surpreendente.

A entrevista ao diretor do gabinete de comunicação da Câmara Municipal de Braga foi

também um instrumento relevante para conseguirmos ter uma noção da realidade dos Municípios,

de como é trabalhada a imagem e a comunicação, quer da figura central, o Presidente, quer da

Page 64: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

52

marca “Braga”, como referiu. No fundo, deu para entender uma boa parte do papel do gabinete

de comunicação em contexto de autarquia.

Relativamente ao protocolo, questão que se levantou devido às tarefas que foram

analisadas e à dinâmica observada, as conclusões são as já esperadas. O protocolo tem ainda

uma importância reduzida nos Municípios, apesar de a sua necessidade e mais valia ser

reconhecida. Mas é, ainda, uma questão a ser trabalhada. Bastante trabalhada.

O caminho até este último parágrafo foi moroso e, como em tudo, teve as suas

adversidades. Mas, findo o trabalho, a sensação é a de que, realmente valeu a pena. Desde o

desenvolvimento da capacidade de sintetização na abordagem a um tema, ao conhecimento que

me proporcionou e ainda à capacidade de ter desenvolvido de raiz uma investigação empírica que,

poderá constituir um ponto de partida para futuras investigações sobre a área e até mesmo sobre

o Município de Braga, neste relatório se cristaliza um processo de crescimento profissional,

correspondendo ao objetivo da vertente profissionalizante do curso em que se inscreve.

Page 65: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

53

Referências bibliográficas

Amaral, B. (2009, 13 de maio). Relações Públicas não são apenas assessoria ou spin [Post em

blogue]. Acedido em http://brunoamaral.com/relacoes-publicas-nao-sao-apenas-assessoria-ou-

spin/.

Amaral, B. (2009, 14 de maio). O papel do Relações Públicas [Post em blogue]. Acedido em

http://brunoamaral.com/o-papel-do-relacoes-publicas/.

Camilo, E. (2006). Para uma planificação do trabalho comunicacional nos municípios. Acedido

em http://www.bocc.ubi.pt/pag/camilo-planificacao-trabalho-comunicacional-municipios.pdf.

Camilo, E. (2010). Ensaios de Comunicação Estratégica, Covilhã: LabCom Books.

Camilo, E. (2011). Estratégias de Comunicação Municipal: Uma reflexão sobre as modalidades

de comunicação nos municipios. Acedido em http://www.labcom-ifp.ubi.pt/ficheiros/20110826-

camilo_eduardo_estrategias.pdf.

Cardoso, C. (2011). Como Gerir a Comunicação in Oliveira, C. (Ed.) (2011). Como Gerir Bem a

Sua Autarquia (pp. 179-191). Porto: OmniSinal.

Costa, P. (2006). Poderes: A dimensão central e local [Vol. 7], 9-18. Acedido em

http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3400.pdf.

Page 66: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

54

Costa, V. (S/D). O Poder Local e a Lei das Autarquias. Acedido em

https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/2947/1/NeD05_VascoAlmeidaeCosta.pdf.

Fernandes, M. (2011). Comunicação Autárquica: contributos para as Auditorias de

Comunicação. Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho, Braga, Portugal. Acedido em

http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/16067/1/Marcos%20Christi%20Silva%20

Fernandes.pdf.

Fernandes, S. (S/D). A autarquía local, o estado e a sociedade cívil: uma abordagem baseada

em Mafra. Acedido em

https://run.unl.pt/bitstream/10362/9245/2/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20de%20Mestrado%20

Final.pdf.

Lopes, G. (2012). A Comunicação Municipal: O Distrito de Viana do Castelo. Acedido em

https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/75050/2/69196.pdf.

Lopez, S. (2007) Como Gestionar la Comunicacion em Organizaciones Publicas y no Lucrativas,

Madrid: Narcea.

Mapanzene, S. (2013). A comunicação ao serviço do poder político: O caso da Câmara

Municipal da Covilhã. Acedido em http://www.bocc.ubi.pt/pag/m-comunicacao-estrat-2013-

stelia-mapanzene.pdf.

Pato, A. (2009). O Papel do Relações Públicas na Sociedade Contemporânea: Nascimento,

percurso e futuro da atividade. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade

de Coimbra, Coimbra, Portugal. Acedido em

https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/13490/1/Tese_mestrado_%20Anabela%20Pato

.pdf.

Pinheiro, C. & Ruão, T. (2016). As Relações de Confiança como Estratégia das Relações

Públicas. Comunicação, Culturas e Estratégia, 176-194. Acedido em

http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/40268/1/CB_TR_2016_ivjornadas.pdf.

Page 67: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

55

Pinto, S. (2013). Comunicação Autárquica: A democracia e as relações públicas. Acedido em

http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/29265/1/Susana%20Filipa%20Moreira%2

0Pinto.pdf.

Praça, F. (2015). Metodologia da pesquica científica: organização estrutural e os desafíos para

redigir o trabalho de conclusão. Revista Eletrónica “Diálogos Académicos”, 1, 72-87.

Reis, H. (2010). O gerenciamento da comunicação organizacional. Acedido em

http://www.bocc.ubi.pt/pag/reis-hilbert-o-gerenciamento-da-comunicacao-organizacional.pdf.

Rodrigues, D. (2000). Dicionário Breve da Informação e da comunicação. Lisboa: Editorial

Presença.

Ruão, T. & Kunsch, M. (2014). Tendências da Comunicação Organizacional e Estratégica,

Comunicação e Sociedade, 26, 7-14.

Sebastião, S. (2012). Relações Públicas: a comunicação, as organizações e a sociedade [Vol.7,

nº12], 23-42. Acedido em http://cp.revues.org/112.

Serrano, J. (2011). Livro do Protocolo (pp. 386-391). Lisboa: A Esfera dos Livros.

Scott, S. (2007, 27 de agosto). Communications Audits: How effectively are you communicating?

Charity Village. Acedido em

https://charityvillage.com/Content.aspx?topic=communications_audits_how_effectively_are_you

_communicating_#.WA5Uf-ArLIV.

Page 68: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

56

Anexos

Page 69: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

57

ANEXO 1- Estrutura do formulário de informação aplicado às Câmaras Municipais do

distrito de Braga

Page 70: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

58

ANEXO 2- Transcrição integral da entrevista ao diretor do Gabinete de Comunicação

da Câmara Municipal de Braga, Dr. Ricardo Gomes4

RG- Ricardo Gomes

DC- Diana Carneiro

DC: Primeiro de tudo, como é ser diretor do Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal

daquela que é considerada a terceira cidade maior do país? Não deve ser igual como se fosse de

uma vila…

RG: Hmmm… Bom. É cliché dizer que não é fácil e, de facto, não é fácil porque, essencialmente

o volume de informação que nós temos que gerir diariamente é muito, portanto, é muito

significativo e essa mesma informação não pode, de forma alguma, ser trabalhada da mesma

forma porque os públicos-alvo são diferentes, a informação que porventura possa interessar a um

determinado tipo de público pode não interessar a outro e, portanto, a informação tem de ser

trabalhada de forma muito cuidada e até muito dirigida, direcionada. Hoje em dia, existem um

conjunto de plataformas e de canais que nos permitem e que nos ajudam, precisamente, nesta

seriação ou nesta forma de fazer chegar a informação às pessoas. Para além das redes sociais,

com as quais nós trabalhamos com muita intensidade, porque é obrigatório de facto não é? É a

forma que temos e com as quais garantimos que estamos junto das pessoas não é?

DC: Até porque, hoje em dia, toda a gente tem acesso às redes socias todo o dia…

RG: É estar no bolso das pessoas não é? Na carteira das pessoas. Eu acho que é por aí que

fazemos a maior parte do nosso trabalho, não descurando, contudo, todos os outros canais,

nomeadamente a imprensa e os canais mais tradicionais: a imprensa, os jornais, rádio, a televisão,

para além dos online, etc. E, portanto, é, no fundo, uma tarefa que exige muito esforço no dia-a-

dia no sentido de articular a informação, produzi-la com vista no público-alvo desta mesma

informação, enfim, depois fazer uma opção correta dos canais que nós dispomos para que essa

informação saia.

DC: Já tocamos um bocadinho nesse ponto, mas qual é o papel estratégico, do seu ponto vista,

que o Gabinete de Comunicação utiliza para promover a autarquia?

4 Algumas expressões foram suprimidas ao longo da transcrição da entrevista, de maneira a facilitar a

leitura da mesma.

Page 71: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

59

RG: Mais do que promover, eu acho que todas as autarquias e instituições públicas têm uma

obrigação que é informar os seus cidadãos, os seus clientes, que nós no fundo temos clientes, os

nossos munícipes são nossos clientes. Informar as pessoas, o mais e o melhor possível para que

elas saibam, permanentemente, aquilo que nós estamos a fazer, em que é que estamos a

trabalhar e, essencialmente, quais são os projetos e os produtos que temos à disposição destas

mesmas pessoas. Historicamente, o poder público, o autárquico, governativo ou institucional,

sempre esteve um pouco alheado desta realidade da comunicação, portanto tudo o que eram

instituições públicas não comunicavam, tínhamos isto por tradição.

DC: Só recentemente é que a comunicação tem sido vista como, realmente, importante…

RG: Verdade, verdade. Uma ferramenta de gestão. E ela é, efetivamente. A comunicação é hoje,

efetivamente, uma ferramenta de gestão, de um autarca, de um político, de um empresário, enfim,

de um artista, nas mais variadas áreas e setores de atividade, a comunicação tem de ser,

efetivamente, encarada como uma ferramenta de gestão. Não só para o público externo, como o

caso que estávamos agora a falar, mas também para o público interno. Porque num universo

como o da Câmara Municipal de Braga, nós temos um público interno, mais de mil pessoas e,

portanto isso também é uma das partes de todo este processo. Efetivamente, sobre o ponto de

vista do que é a evolução da comunicação, ou dos processos de comunicação nas autarquias

locais, nomeadamente na de Braga, há uma reviravolta, um revés nestas políticas, nestas

decisões, porque, efetivamente, a Câmara Municipal de Braga, há dez anos atrás, há vinte anos

atrás, não comunicava. As pessoas liam uma notícia no jornal uma vez por mês sobre uma

Assembleia Municipal, sobre uma reunião de Câmara, sobre uma decisão…

DC: Basicamente, antigamente não se dava grande importância à comunicação…

RG: Não, efetivamente, vias os cidadãos, as pessoas e, nomeadamente, os eleitores viam, os

bracarenses viam, a Câmara Municipal, de longe a longe, com algumas notícias, com alguma

informação pública quase quando ela era obrigatória, por edital ou por algum tipo de projeto mais

significativo. Era, no fundo, uma instituição muito fechada a Câmara Municipal e as empresas

municipais, portanto, todo o universo municipal. E como falo em Braga, também falo noutros

pontos do país, quer dizer, outras Câmaras Municipais no país que também acordaram para a

realidade da comunicação.

DC: Basicamente, até mesmo as pequenas empresas, quanto mais as ditas grandes…

RG: Verdade. Verdade, verdade. Portanto, isso é um fenómeno relativamente recente, em

Portugal. Portanto, um acontecimento recente, com uma década ou pouco mais do que isso. E,

Page 72: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

60

portanto, também as autarquias e as instituições públicas têm de se adaptar a este paradigma,

não é?

DC: E quando é que é, realmente, importante a intervenção do Gabinete de Comunicação neste

contexto de autarquia? Quando é que importa, realmente, intervirem?

RG: Bom… Nós fazemos parte do processo da gestão diária do município. O que acontece são

decisões políticas superiores provindas do Gabinete da Presidência, do gabinete dos senhores

Vereadores, dos vários departamentos municipais, ou até empresas municipais, e o Gabinete de

Comunicação é… de facto, não é um gabinete de fim de linha, é o gabinete que acompanha todos

estes processos ao longo da sua existência, a partir do momento em que o processo começa a

ser analisado, estando a par do evoluir deste processo, a nível político e a nível técnico e, depois,

efetivamente, quando estrategicamente se decidir que estes projetos ou que estas decisões devam

ser divulgadas. Aí entra já a parte final do trabalho do Gabinete de Comunicação também e,

portanto, também isto vem rasgar um bocadinho o conceito inicial do que seria um Gabinete de

Comunicação, que era um gabinete de intervenção mas já de fim de linha. Quando o processo

estiver decidido, definido e pronto a ser anunciado. O Gabinete de Comunicação apenas se limitava

a fazer um comunicado formal, uma nota à imprensa ou o agendamento de uma conferência de

imprensa, enfim, estas coisas tradicionais. Hoje em dia, o papel do Gabinete de Comunicação é,

e deve ser, muito mais do que isto. Portanto, deve ter um papel ativo no acompanhamento de

todos estes processos, logo desde o início até ao final, até porque também contribui para que

processos e decisões se possam tornar mais ricas, no fundo.

DC: Qual é a sensibilidade do Presidente da Câmara e do executivo, como um todo, para estas

questões da comunicação?

RG: Bom, o sucesso do trabalho de um Gabinete de Comunicação com esta formatação que nós

estamos aqui a falar, depende, exclusivamente, ou quase exclusivamente, da vontade e da forma

como um autarca encara estes processos. Portanto, essencialmente, se tivermos um autarca com

um perfil mais low profile, ou se tivermos um autarca com um perfil mais de trabalho de gabinete,

menos disposicionado, provavelmente todo este processo de trabalho de um Gabinete de

Comunicação tem de ser redirecionado e revisto. Portanto, esta é a realidade que lhe estou a

explicar que ocorre em Braga e que conhece, porque até esteve cá connosco. Mas, isto é,

efetivamente, possível porque se definiu desde o início, portanto, isto faz parte de uma decisão

política também, que é a comunicação, precisamente uma ferramenta que, quer o Presidente da

Câmara, quer os Vereadores, em cada um dos seus pelouros, têm à sua disposição para trabalhar.

Page 73: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

61

E isto, essencialmente, é muito importante porque se nós, efetivamente, temos a presença e o

trabalho diário e permanente de um conjunto de quadros técnicos de um universo municipal que,

diariamente, trabalham nas mais diversas áreas: do urbanismo ao trânsito, à educação, à cultura,

ao desporto, à saúde, enfim… e uma imensidão de outras áreas. É nossa obrigação, é obrigação

do município informar as pessoas, informar sobre os bracarenses… o que é que nós estamos a

fazer.

DC: E como é que vocês trabalham essa relação com os públicos e mesmo com as freguesias,

com todo o público que vocês têm? Como é que vocês trabalham isso, enquanto relação

Presidente-Públicos?

RG: Bem, foi essencialmente, aquilo que eu disse na resposta, julgo que à primeira pergunta ou

segunda pergunta. Nós temos de selecionar muito bem o tipo de públicos a quem vamos expor

uma determinada mensagem…

DC: E cada público vai ter uma maneira diferente…

RG: De a ler e de a interpretar. Obviamente que se nós estamos a divulgar um processo ou um

projeto como a “Start Up Braga” ou a “Invest Braga” e sabemos que, porventura, isso não… o

público para esse tipo de informação ou de mensagem não há-de ser o público sénior ou,

provavelmente, uma reduzida parte do público sénior terá interesse neste tipo de informação. Se,

porventura, estivermos a trabalhar num projeto ou na informação de um produto como… de um

produto de caráter social ou de um produto… enfim, a informação de caráter cultural para o

mercado sénior, secalhar o público-alvo do GNRation ou da Start Up, da Start Up Braga ou da

Invest Braga também não é o mais adequado e, portanto, é precisamente esta a ginástica diária

que é exigente e às vezes, e por vezes, é complexa, que nós tentamos fazer ao máximo. É

precisamente direcionar e com isto estarmos a facilitar o processo, portanto, sabermos que

chegámos ao nosso público-alvo com esta mensagem. Pode não ser a mesma do dia seguinte, e

aqui está a dificuldade de gestão.

DC: E agora, saindo um bocadinho da comunicação local, uma Câmara desta dimensão também,

de certeza, que pratica uma comunicação a nível nacional. De que forma é que vocês já trabalham

essa parte? Certamente que é diferente…

RG: É muito diferente sim e, essencialmente, essa comunicação a nível nacional Diana, nacional

e não só, até internacional, advém muito das políticas implementadas e que, de alguma forma,

devemos demonstrar como as fazemos cá. Vou-lhe dar um exemplo claro: o senhor Presidente da

Câmara, neste momento, está fora do país, está em Roterdão. Foi, precisamente apresentar à

Page 74: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

62

Eurocities, ao comité Eurocities, portanto, da Comissão Europeia, as boas práticas de gestão,

nomeadamente, em termos de captação de investimento e criação de postos de trabalho. Como

é que Braga implementou ao longo dos últimos três anos este tipo de políticas autárquicas. Foi

considerado pela Comissão Europeia um exemplo a seguir por outros municípios na Europa e,

portanto, foi convidado a deslocar-se a Roterdão e a apresentar o caso de Braga: como se fez, que

políticas se implementaram, que decisões foram assumidas, etc. Isto são momentos de

comunicação, não propriamente mais locais, mas a nível nacional e até internacional. E, portanto,

acabam por também ser referências de comunicação para nós, mas que têm de ser trabalhadas

de outra forma e numa componente mais política e institucional.

DC: Mas começa sempre aqui da comunicação local se repararmos… a base…

RG: Sim, parte sempre da comunicação local. A base é sempre essa. É por isso que nós também

cá estamos. A essência está aí.

DC: Passando agora às questões protocolares, ao protocolo autárquico, os cuidados a ter nos

eventos, essa questão passa pelo Gabinete de Comunicação? São vocês que trabalham essa parte?

RG: Bom… Por definição de organograma passa mas, confesso que pela experiência que tenho

nesta profissão, para além da Câmara Municipal de Braga, de outras instituições onde estive,

nomeadamente públicas, efetivamente, é importante que o protocolo tenha um gabinete

específico… muito importante. As instituições públicas, como as empresas privadas, têm um rosto,

e um perfil e uma marca… essa são uma das coisas muito importantes a abordar-se. A marca

“Braga” tem um valor comercial, tem uma conotação em cada pessoa. Nós não podemos

controlar, obviamente, os sentimentos das pessoas, nem é essa a nossa pretensão, mas quando

somos expostos a uma determinada marca, temos sentimentos: ou gostamos ou não gostamos,

ou achamos que aquela marca é, enfim, vulgar ou achamos que aquela marca tem um

posicionamento…

DC: Ganhamos uma relação basicamente.

RG: Ganhamos uma relação com a marca e, portanto, nós não podemos descurar os pormenores,

seja sob o ponto de vista da comunicação, seja sob o ponto de vista do protocolo, como diz. É

toda esta conjugação de fatores que fazem uma marca, que fazem um registo, que fazem um

Presidente, que fazem uma autarquia e que fazem, inclusive, os seus cidadãos sentirem-se

orgulhosos ou não sentirem. Eu vou-lhe dar um exemplo: trabalhei em Vila Nova de Gaia alguns

anos, na Câmara Municipal e, uns anos antes de eu abraçar um projeto de comunicação na

Câmara Municipal de Gaia, se perguntassem aos Gaienses onde é que eles viviam, ninguém dizia

Page 75: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

63

que vivia em Vila Nova de Gaia. Um vivia em Miramar. “Onde é que vive?” “Ah eu vivo em Serzedo”,

“Eu vivo em Vilar do Paraíso”, “Eu vivo…” bom, e portanto, ninguém era de Gaia. Isto advém muito

daquilo que, mentalmente, as pessoas assumem como querendo ser seu ou não. Para a época,

Vila Nova de Gaia era mal conotada, era uma cidade que era conhecida como um dormitório do

Porto, estaleiro de barcos. Não era orgulho para as pessoas dizerem “Eu sou de Vila Nova de

Gaia” ou “Eu sou de Gaia”. Em Braga, isto aconteceu. Portanto, em Braga este fenómeno

aconteceu. E é isso que nós não queremos que aconteça. As pessoas têm de ter orgulho em dizer:

“Eu sou de Braga”, “Eu sou de Braga”, em Lisboa, no Algarve, em Londres, em Pequim, em

Tóquio, em Nova Iorque, não interessa. E, efetivamente, tudo isto é um processo que se constrói

e todos estes pormenores que nós estamos a falar da comunicação, que às vezes podem ate

parecer um pouco exagerados, podemos achar que estamos a gerir uma autarquia com base na

figura do Presidente, isto é a questão de marca e de orgulho de uma cidade e este é o aspeto

mais importante de tudo isto. É podermos de alguma forma encontrar um bracarense que diga:

“Não! Eu sou de Braga porque nós em Braga somos do caraças.” (pede desculpa pelo termo). E,

felizmente, acho que há desde, pelo menos três, quatro, cinco anos há esta parte. E, sobretudo

agora mais recentemente eu começo a ouvir estas coisas, como também me apercebo de algumas

pessoas que nos visitam, os empresários que vêm de fora dizem “Eh pá de facto Braga está cada

vez mais no mapa nacional e internacional”, “Eu, em Nova Iorque conheci este projeto que vocês

fizeram em Braga”, “Vocês em Braga são inovadores”, “Vocês em Braga têm projetos do caraças,

são muito à frente”. Há dias disseram-me isto “Em Braga o pessoal é muito à frente”. Portanto,

não somos só a Capital da Juventude…

DC: E lá está a parte da Comunicação! Conheceu esse projeto em Nova Iorque…

RG: Obviamente! Obviamente, porque se não fossem estes passos quase grão por grão, quase

nota por nota, informação por informação, nada disto seria possível. E, portanto, também o

cuidado com o protocolo, com a imagem, como estamos, como recebemos quem nos visita… É

de todo fundamental. Porque também há uma ou outra parte também muito importante no meio

disto Diana, nós não… isto não se pode tornar um balão de oxigénio que depois de rebentar não

tem nada lá dentro. Nós não podemos, efetivamente, estar a querer vender, no bom sentido, a

marca “Braga” a nível nacional e a nível internacional dizendo que somos os melhores, que aqui

se fazem coisas extraordinárias e quando, efetivamente, as pessoas nos visitam encontrarem uma

realidade que não é essa. Portanto, também aqui todos estes pormenores contam. Desde projetos

Page 76: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

64

de reabilitação urbana, nós não podemos vender a cidade se quando as pessoas chegarem aqui

e virem uma cidade feia, cinzenta, velha, suja, desde de…

DC: Vocês vendem o que têm basicamente… e o que constroem…

RG: Essencialmente. E tentamos dar o nosso contributo até sob a comunicação, até sob o ponto

de vista da comunicação tentamos dar o nosso contributo, também político, para as políticas

públicas da cidade e, portanto isso também é uma parte muito importante.

DC: Então, basicamente, não é o Gabinete de Comunicação que trabalha a questão protocolar,

têm outro gabinete à parte, mas, no fundo…

RG: Deveríamos… E confesso que deveríamos ter isso melhor trabalhado ainda, digamos.

DC: Mas no fundo está tudo interligado…

RG: Está tudo interligado. Uma coisa não vive sem a outra, como, com toda a certeza, a

comunicação não viveria sem a Presidência, sem os Vereadores, sem as empresas municipais e

vice-versa. Portanto, já foi tempo, já foram décadas em que…

DC: Hoje em dia, era impossível o Presidente viver, construir isto tudo sem a comunicação…

RG: Era impossível viver sem a comunicação. Essa é a parte fundamental. É impossível que uma

empresa municipal hoje viva sem comunicação. É impossível que hoje, qualquer vereador,

qualquer técnico do município, seja um arquiteto, um engenheiro, viva sem comunicação. O que

nós estamos a fazer aqui nesta nossa conversa é comunicação. Não temos outro meio, outra

forma. Há um… escritor… pensador que dizia que “é impossível não comunicar”…

DC: Exatamente. Nós comunicamos até calados…

RG: Logo no momento em que nascemos estamos a comunicar, não é? Ou porque temos fome,

ou porque é preciso mudar a fralda, ou porque nos dói alguma coisa. Portanto, isto são processos

de comunicação básicos e elementares. A comunicação é fundamental em tudo. E, portanto, é

com muito orgulho e agrado que percebo que temos, hoje, HOJE, um executivo municipal que

compreende as políticas de comunicação como sendo efetivamente ferramentas de gestão para o

futuro. E acho que todas as instituições públicas, autarquias locais, governo, devem, efetivamente,

apostar, as que ainda não têm, obviamente, em processos de comunicação inovadores e

permanentes, inovadores e permanentes (salienta), essencialmente porque se nós tivermos

cidadãos informados, vamos ter cidadãos decisores e com sentido de opinião crítica. É isso que

torna rico, rica, uma cidade, uma sociedade, como a nossa. Portanto, se nós somos os primeiros

a não contribuir para isto, não vamos ter massa crítica na nossa sociedade. Vamos ter os

estudantes a saírem da Universidade do Minho nos finais de curso e a seguirem novamente para

Page 77: Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo … · Diana Carneiro Poder local, comunicação e protocolo Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais outubro de

65

as suas terras. É importantíssimo afirmarmo-nos, cada vez mais, como um centro de atração, um

polo de atração, um íman…

DC: Onde as pessoas que visitam querem ficar, e as que cá estão querem continuar.

RG: Exatamente. Exatamente. Isso é fundamental.