diálogo com sahlins. ilhas de história

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SAHLINS, Marshall. Ilhas de História . Rio de Janeiro: Zahar, 1994. Introdução i!lo"o #o$ Sahlins %& 'ue os antro()lo"os #ha$a$ de estrutura * as relaç+es relaç+es si$ )li#as de orde$ #ultural * - u$ o eto hist)ri#o/ 0Sahlins, 19 23 A Hist)ria - ordenada #ultural$ente de di5erentes $odos nas di6ersas so#iedades, 0...3 es'ue$as #ulturais são ordenados histori#a$ente (or'ue, e$ $aior ou $enor "rau, os si"ni7#ados são rea6aliados 'uando reali8ados na (r!ti#a. 0...3 a #ultura - histori#a$ente re(rodu8ida na ação. 0Sahlins, 19 2. Introdução3 ntão, se a #ultura - histori#a$ente re(rodu8ida na ação, ela - ta$ -$ alterada histori#a$ente na ação. a'uilo 'ue se 6 0estrutura3 - ta$ -$ u$ o eto hist)ri#o. A #ultura "a;#ha, #o$(reendendo o "a;#ho #o$o u$ ti(o so#ial hu$ano, nas#e #o$ o (o6oa$ento do sul da A$-ri#a (elo ho$e$ ran#o des#endente de euro(eus. & $ito "a;#ho, ao 'ual $e re7ro, e 'ue (rodu8 re(resentaç+es do (assado, no (resente, e<istiu dentro de u$ te$(o deter$inado. Sua #onstituição se deu desde $eados do s-#ulo =>II, #o$ a #oloni8ação ran#a, at- $etade do s-#ulo == #o$ a $oderni8ação a"r!ria sul? rasileira, (ro$o6ida (ela industriali8ação e a ur ani8ação, #o$ todos os seus desdo ra$entos. ste inter6alo de te$(o 'ue #o$(reende (ou#o $ais de tr s s-#ulos sedi$entou a #ultura e a etni#idade do "a;#ho. So re este (assado se (rodu8iu u$a identidade e so re esta identidade se (rodu8, ho e e desde então, re(resentaç+es so re u$ (assado $iti7#ado, heroi#i8ado, e ideali8ado nu$ $ito de ori"e$. No entanto o "a;#ho não desa(are#eu do seu territ)rio. Não - u$ ser e<tinto. le (ossui u$a atualidade, u$ (resente. - so re este (resente 'ue 5undo $inha in6esti"ação, (es'uisando 'ue di!lo"os reali8a #o$ a'uele (assado ideali8ado. @u re(resentaç+es e uni6ersos si$ )li#os #onstr)i 'uando re(orta?se 'uele (assado. A(ontar as so#ia ilidades #riadas, no (resente, a (artir desta identidade. Marshall Sahlins, e$ Ilhas de Hist)ria 019 23, tra8 #ontri uiç+es i$(ortante (ara u$a (ro(osta interdis#i(linar entre a antro(olo"ia e a hist)ria, e$ 'ue $edida o #on#eito antro(ol)"i#o de #ultura - i$(ortante (ara o estudo da hist)ria e 6i#e?6ersa, ou se a, 'ual a i$(ortBn#ia da hist)ria (ara o estudo da #ultura. %o (ro le$a a"ora - de 5a8er e<(lodir o #on#eito de hist)ria (ela e<(eri n#ia antro(ol)"i#a da #ultura. As #onse'u n#ias, $ais u$a 6e8, não são unilateraisC #erta$ente u$a e<(eri n#ia hist)ri#a 5ar! e<(lodir o #on#eito antro(ol)"i#o de #ultura * in#luindo a estrutura./0Sahlins, 19 23 & autor dis#ute a relação entre estrutura e e6ento. Não se analisa a(enas o 5ato a#onte#ido $as si$ a $aneira #o$o ele a#onte#eu. Sendo assi$ a #ultura se so re(oria hist)ria. A #ultura seria, assi$, a #ha6e

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Diálogo com Sahlins. SAHLINS, Marshall. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Zahar, 1994. Introdução

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SAHLINS, Marshall. Ilhas de Histria. Rio de Janeiro: Zahar, 1994. Introduo

Dilogo com Sahlins

O que os antroplogos chamam de estrutura as relaes relaes simblicas de ordem cultural um objeto histrico (Sahlins, 1987)

"A Histria ordenada culturalmente de diferentes modos nas diversas sociedades, (...) esquemas culturais so ordenados historicamente porque, em maior ou menor grau, os significados so reavaliados quando realizados na prtica. (...) a cultura historicamente reproduzida na ao." (Sahlins, 1987. Introduo) Ento, se a cultura historicamente reproduzida na ao, ela tambm alterada historicamente na ao. E aquilo que se v (estrutura) tambm um objeto histrico.

A cultura gacha, compreendendo o gacho como um tipo social humano, nasce com o povoamento do sul da Amrica pelo homem branco descendente de europeus. O mito gacho, ao qual me refiro, e que produz representaes do passado, no presente, existiu dentro de um tempo determinado. Sua constituio se deu desde meados do sculo XVII, com a colonizao branca, at metade do sculo XX com a modernizao agrria sul-brasileira, promovida pela industrializao e a urbanizao, com todos os seus desdobramentos. Este intervalo de tempo que compreende pouco mais de trs sculos sedimentou a cultura e a etnicidade do gacho. Sobre este passado se produziu uma identidade e sobre esta identidade se produz, hoje e desde ento, representaes sobre um passado mitificado, heroicizado, e idealizado num mito de origem. No entanto o gacho no desapareceu do seu territrio. No um ser extinto. Ele possui uma atualidade, um presente. E sobre este presente que fundo minha investigao, pesquisando que dilogos realiza com aquele passado idealizado. Qu representaes e universos simblicos constri quando reporta-se quele passado. Apontar as sociabilidades criadas, no presente, a partir desta identidade.Marshall Sahlins, em Ilhas de Histria (1987), traz contribuies importantes para uma proposta interdisciplinar entre a antropologia e a histria, em que medida o conceito antropolgico de cultura importante para o estudo da histria e vice-versa, ou seja, qual a importncia da histria para o estudo da cultura.o problema agora de fazer explodir o conceito de histria pela experincia antropolgica da cultura. As consequncias, mais uma vez, no so unilaterais; certamente uma experincia histrica far explodir o conceito antropolgico de cultura incluindo a estrutura.(Sahlins, 1987)

O autor discute a relao entre estrutura e evento. No se analisa apenas o fato acontecido mas sim a maneira como ele aconteceu. Sendo assim a cultura se sobreporia histria. A cultura seria, assim, a chave metodolgica para interpretar a histria. A cultura o uso do passado histrico como meio de produzir um presente (Sahlins, 1987. pp192) exatamente como se d com a cultura gacha acionada. O evento passa para a historiografia filtrado pelos esquemas culturais. ...a cultura funciona como uma sntese de estabilidade e mudana, de passado e presente, de diacronia e sincronia. (Sahlins, 1987. p180). E este adapta as mudanas em seu prprio benefcio.O mito gacho repleto de heris e guerras. So vultos e fatos revisitados na histria e revistos no presente pela cultura tradicionalista. Significa dizer que em um primeiro momento, o evento apreendido pelos olhos da tradio, j que o esquema cultural enquanto referencial simblico compartilhado que lhe d inteligibilidade; a tradio como uma lente a olhar para estpensar e agir como um tradicionalistaes fatos. Contudo, no desenrolar dos acontecimentos, ao interpretar o passado, os homens repensam suas categorias, submetendo-as a riscos empricos, do cotidiano, a fim de dar conta da contingncia do evento. O evento a interpretao do acontecimento, e interpretaes variam. (Sahlins, 1987). Desse modo, o sentido original das categorias culturais remodelado pela introduo de novos significados, de novos smbolos, acarretando alteraes na maneira de pensar e agir de toda a sociedade.Entendo que quando olhamos para trs, atravs da narrativa histrica, o fazemos dentro de uma lgica cultural na qual estamos inseridos. Em contrapartida, a cultura vivida, revivida e ressignificada por ns e pelos grupos que estudamos est impregnada de histria. Aos acontecimentos que iluminamos no tempo passado damos o nome de evento. Esse evento, atravs do tempo, ressemantizado pelas trocas culturais, inerentes prpria dinmica da cultura e pelas relaes sociais das interaes humanas, alterando as estruturas de percepes de tempo e espao do tempo presente. Sep Tiaraj, ao morrer, se que um dia verdadeiramente viveu, era apenas um soldado guerreiro. O mito de Sep (Brum, 2006), nasceu de uma sequncia de eventos histricos que concorreram para sua elaborao. E as representaes criadas no presente, a partir deste personagem histrico (heroicizado e mitificado), do conta de estruturar, num tempo e espao atuais as relaes das pessoas com este fato histrico.