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Copyright 2010 by JMC Consultoria e Educação Corporativa Diagramação e Comunicação Visual: Claudinet Coltri Jr. Capa: Rodrigo Godoy Revisão: Suzette Reis de Castro Impressão: Gráficas Print, Cuiabá, MT

Todos os direitos reservados Proibida reprodução sem autorização Contatos: [email protected]

Castro, Jorge Mauricio Dicas e pensamentos de um consultor da vida: como administrar seus múltiplos patrimônios / Jorge Mauricio de Castro – Cuiabá, MT, JMC Pu-blicações, 2010. ISBN 978-85-910274-0-8 1. Patrimônios intangíveis / Organização da vida / Valores pessoais / Crônicas

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06 – Prefácio

08 – Sobre o autor

09 – Parte I – Harmonizando os múltiplos patrimônios

10 – Introdução

12 – Patrimônio familiar

16 – Patrimônio material

20 – Patrimônio espiritual

23 – Patrimônio cultural

26 – Patrimônio profissional e social

34 – Harmonizando os múltiplos patrimônios

36 – Parte II – Crônicas do caminho

37 – Empresário ou artista?

39 – A aventura de escolher o próprio destino

42 – Morte anunciada

44 – Liderança na crise

47 – O novo empresário rural brasileiro

48 – As moscas

50 – Criatividade no trabalho e na vida

52 – O PDV, muitos anos depois

54 – Parte III – Crônicas do cotidiano

55 – Simplificar

57 – Belém, again

59 – Nobres ou Bonito? Fique com as duas!

60 – O incorrigível chorão

61 – Caio Martins, sábado à noite

63 – Racionalizar a emoção

64 – O casamento do Magrinho

66 – Maricaliz

Índice

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68 – O pai do piloto

69 – O toque do celular

70 – Sejam todos bem vindos

72 – Privilégio ou merecimento?

73 – Férias na diversidade

75 – A alma carioca mora em Niterói

76 – Prazer pelo prazer

78 – Viver

79 – Um homem de quarenta e poucos

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“Meu grande aprendizado navegando pelo mundo foi conviver com os povos de

diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

A maior lição que recebi foi dos polinésios. De viver intensamente cada momento,

de uma maneira simples, sem complicar. De não sofrer antecipadamente com o

que virá e tampouco com o que passou”.

Vilfredo Schurmann em “Navegando com o sucesso”, Ed. Sextante.

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Eu fugi de casa. Foi na pré-adolescência e faz tanto tempo que já não me lem-

bro o motivo. O que, porém, ficou guardado na memória foi a volta ao lar, quando

meus pais me deram um abraço apertado e um presente de boas-vindas. A calorosa

recepção me surpreendeu porque esperava uma bronca e muito castigo. Mas ali, ro-

deada por pai, mãe e irmão encontrei o “amparo nas dificuldades”, assim como é des-

crita no primeiro capítulo, a construção de um feliz núcleo familiar.

Neste livro, de maneira muito pessoal, o autor mostra os múltiplos patrimônios

que a vida nos oferece e explica como a harmonia entre eles pode nos ajudar a encon-

trar o sucesso. Em seguida, expõe estórias em uma sessão de crônicas que deixam

transparecer as conquistas alcançadas ao longo de sua própria trajetória.

O acúmulo de bens materiais é apenas uma das fatias do bolo e, como a intro-

dução do livro conta, alguns destes patrimônios lhe custaram um grande investimento

financeiro. A família, por exemplo, é um deles. Mas, o autor afirma que vale a pena e

que também considera riqueza ver a prole realizando sonhos. Que bom, porque se

assim não fosse, eu provavelmente não estaria aqui escrevendo este prefácio.

Meu pai, o consultor, eterno viajante e bom amigo, é um exemplo de ser hu-

mano que, com arte, administra as mais diversas oportunidades que a vida oferece. E

aproveita para, nestas conquistas, seguir sua missão fazendo uma diferença positiva na

vida das pessoas que o cercam.

Foi assim, realizando mais um de seus projetos que ele me ofereceu a oportu-

nidade de realizar um dos meus: escrever. No primeiro capítulo, você lerá que é “na

família que encontramos o suporte dos sonhos”. Entretanto, no meu caso, posso dizer

que foi mais que suporte, foi um incentivo a dar o primeiro passo.

Prefácio

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Espero que o mesmo aconteça com você, leitor. Que o cinquentenário de expe-

riências deste sonhador possa servir de fonte de inspiração e de coragem para que

você escreva novas páginas na história de sua vida, começando um capítulo ou até

mesmo um novo livro.

Renata Assunção de Castro, jornalista e filha

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Jorge Mauricio de Castro fez 50 anos em 2009. Bem vividos, é bom

que se diga. Já escreveu outros 4 livros, cujos resumos estão disponíveis no

site www.jorgemauricio.com.br .

Tem uma família muito querida, e curte muito estar com eles. Dá es-

pecial valor às amizades e faz questão de cultivá-las sempre.

Adora viajar e já visitou mais de 30 países e 200 cidades no Brasil. Tra-

balha como consultor de empresas e professor universitário e é apaixonado

pelo que faz.

Gosta de escrever, ouvir música, ler, assar um bom churrasco e fazer

da vida uma viagem leve e divertida. Gosta de gente também.

Tem defeitos, claro. Um deles é continuar insistindo em torcer pelo

Botafogo, apesar das últimas decepções.

Escreve despretensiosamente sobre o que pensa. Como neste livro,

que você vai ler e ... gostar!

Sobre o autor

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Dedico a Voinha, mestre serena na arte de harmonizar a vida.

Parte I Harmonizando os múltiplos patrimônios

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Um interessante exercício de matemática realizado por minha filha, quando

cursava o ensino fundamental (hoje ela é uma feliz profissional de Jornalismo, atuando

no RJ), plantou a semente deste livro. Seu então professor, certamente buscando de-

senvolver o raciocínio lógico e a relação de causa e efeito, propôs o seguinte trabalho:

a partir de alguns parâmetros disponíveis (desde o custo da maternidade até a última

mensalidade do colégio), calcule quanto cada um de vocês custou até hoje para sua

família. Foi um alvoroço na classe. Eram muitos dados,

muitos cálculos e uma verdadeira incredulidade ao final

com os resultados: a grande maioria, incluindo Renata,

ficou assombrada com o vulto do valor calculado. Uma

exorbitância! Ao buscá-la no colégio, ouvi todo o deta-

lhamento do exercício no caminho de casa, que termi-

nou com a singela e definitiva sentença: “Pai, como você

seria rico se não me tivesse!” Na hora não pude deixar

de rir muito com sua franqueza e conclusão. Não me recordo dos valores numéricos,

mas eram relevantes. Mais tarde comecei a pensar mais seriamente em toda aquela

experiência e a refletir sobre a tal “riqueza perdida”. Concluí que faria tudo novamen-

te, pois minha percepção de riqueza estava muito mais ligada ao fato de vê-la se de-

senvolvendo, caminhando pela vida e realizando sonhos do que pelo possível tamanho

da minha conta poupança. Percebi que a verdadeira dimensão da palavra “patrimô-

nio”, geralmente tão vinculada às questões materiais, poderia ser reinterpretada e

expandida. Passei então a prestar mais atenção a tudo aquilo que muitos classificam

como custo e que prefiro contabilizar como investimento, como formação de patrimô-

nio, dentro deste particular conceito.

Entendo que ver meu filho, antes de completar 30 anos, cruzar os oceanos

pilotando um Airbus (e principalmente fazer isso com muito prazer) é um belo patri-

mônio; que participar de encontros festivos com amigos antigos e atuais é patrimônio;

que conviver numa família harmonizada e unida também é patrimônio. Assim como

trabalhar com prazer, viajar pelo mundo e ter tempo para a vida e o amor.

I - Introdução

“Percebi que a verda-deira dimensão da pa-lavra “patrimônio”, ge-ralmente tão vinculada às questões materiais, poderia ser reinterpre-

tada e expandida.”

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Administrar estes múltiplos patrimônios, inclusive o material, é uma arte que

exige vigilância ativa aos nossos mais verdadeiros valores pessoais. Quando consegui-

mos harmonizá-los e praticá-los atingimos a plenitude e aí, finalmente, somos ricos de

verdade.

Com carinho,

Jorge Mauricio de Castro

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Muitas pessoas gostam de dizer que “família só é bom no porta-retratos”.

Nada mais injusto e compreensível. Injusto pelo fato de ser na família que se tem mais

chance de buscar e dar apoio nas horas de necessidade. É na família que encontramos

o suporte dos sonhos (às vezes incompreendidos) e o amparo nas dificuldades. Imagi-

ne-se muito doente, sentindo dores e desconforto. Quem você quer por perto? A mai-

oria das pessoas pensa logo em alguém da família, principalmente na mãe ou cônjuge.

Nosso sentido de existência e de continuidade está muito ligado ao sentimento que

nutrimos pelos nossos familiares.

Por que então afirmo que a metáfora do porta-retratos é compreensível?

Basicamente porque não é nada fácil administrar conflitos e às vezes diferenças pesso-

ais tão grandes que, quase sempre, existem no ambien-

te familiar. Muitos desistem e “querem distância”. Ou-

tros radicalizam ainda mais e rompem relações. Não

creio serem estas as melhores soluções para nossas

vidas, mas respeito a decisão de quem as toma.

Não quero, nesta abordagem de família como patrimônio, deter-me em teo-

rias psicanalíticas ou descobertas freudianas a respeito das relações pais e filhos. Já

temos muita literatura completa e competente sobre o tema. Quero apenas lembrá-lo

que a relação construída entre pais e filhos traz embutida alguns “incentivadores” de

conflito que necessitam de atenção constante. Convivência diária é um deles. Acordar

e dormir sob o mesmo teto todos os dias, sem possibilidade de separação ou divórcio,

decididamente não é para qualquer um. As características do “outro” vão aos poucos

se transformando em defeitos ao nosso olhar e começam a nos incomodar. O som alto

no quarto do filho disputa espaço com “a mania da mãe de fazer sempre a comida que

eu não gosto”. A filha “pendurada” ao telefone acaba sendo repreendida pelo pai, sob

o infalível argumento da conta muito alta. “Puxa, ele não entende que eu preciso tanto

falar com a minha amiga” – e por aí vai. Convivência forçada (o termo é duro, mas ab-

II – Patrimônio familiar

Convivência forçada (o termo é duro, mas abso-

lutamente real) exige grande dose de paciên-cia, empatia e capacida-

de de perdão.

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solutamente real) exige grande dose de paciência, empatia e capacidade de perdão.

Geralmente os pais são mais exigidos, pois, por sua experiência, conseguem perceber

melhor as variáveis da situação.

Outro agravante de conflito é a relação de poder que claramente se estabe-

lece na família – uns mandam nos outros. Esta situação acaba sendo extremamente

desconfortável, pois os pais, responsáveis pela educação dos filhos, sentem-se muitas

vezes “obrigados” a dar ordens e a fazer exigências em nome da boa educação. E nin-

guém gosta de receber ordens e ter sua vontade cerceada por outrem.

Este caldeirão de conflitos muitas vezes se materializa em forma de surras memorá-

veis, castigos, limitações forçadas e, da parte mais fraca, tentativas “heróicas” de im-

por suas vontades, seja por meio de desafios abertos, chantagem emocional ou amea-

çando e muitas vezes cumprindo a promessa de fugir de casa.

E o conflito entre irmãos? Neste tenho muita experiência pessoal pois, ape-

sar de ter somente uma irmã, briguei tanto com ela no fim da infância e início da ado-

lescência que hoje só nos resta ser muito amigos. O psiquiatra gaúcho Paulo Gaudên-

cio explica muito bem a raiva que sentimos dos nossos irmãos mais novos, que de re-

pente, ao nascer, passam a ser o centro das atenções familiares, exigente de todos os

cuidados do mundo e que nos roubam supostamente o carinho e o amor dos pais e,

certamente, também sua atenção. E ainda por cima temos que achá-los lindos! Por

isso são absolutamente normais as pequenas maldades que os irmãos mais velhos ge-

ralmente fazem com os mais novos, quase sempre de forma sorrateira. É a vingança

pelo espaço perdido. E como este comportamento começa na infância, onde nosso

poder de abstração é mínimo, estes conflitos, caso não sejam bem administrados, po-

dem deixar mágoas por toda a vida.

Por enquanto estou me referindo aquele núcleo familiar tradicional, de pai e

mãe casados com filhos comuns e partindo sempre da idéia de que o amor e a delica-

deza podem estar acima das dificuldades do cotidiano. Mesmo em uma família que se

inicia no princípio da harmonia, fica claro que administrar estes conflitos é parte inte-

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grante da rotina. Eles podem se agravar nas novas e diversas formas e conceitos de

família que a sociedade hoje aceita e até incentiva.

O filho de um casamento desfeito que não aceita o novo marido da mãe –

“ele não é meu pai”! – e este novo marido, que realmente não é o pai biológico, mui-

tas vezes fica sem saber como agir: interfere ou não na educação do filho da sua mu-

lher? Ele não tem o chamado pátrio poder, mas convive na mesma casa. E agora? Cada

nova família constituída procura, dentro dos seus valores

e conveniências, a melhor solução possível para o ema-

ranhado de conflitos que normalmente vão surgir.

Portanto, se você se identificou em algumas

situações aqui narradas, fique certo que não é só com

você e sua família que ocorrem problemas, incompreensões, atritos, brigas, queixas e

mágoas. A própria forma de organização social da família acaba conspirando para isso:

pessoas com mais de 20 anos de diferença etária e que, portanto, foram criadas em

mundos diferentes, com apelos e lógicas diferentes, convivendo cotidianamente por

muitos anos em um ambiente com regras determinadas e uma forte relação de poder.

Por mais contraditório que possa parecer, toda essa relação conflituosa aca-

ba sendo o estofo necessário para que tenhamos na família o porto seguro que tantas

vezes almejamos. Ninguém nos conhece tão bem como nossos pais. São nos momen-

tos de incompreensão passageira que percebemos o quanto somos únicos e conse-

quentemente diferentes uns dos outros. E que essa individualidade precisa ser respei-

tada por todos, pois, como diz o Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de ser

o que é”. A base do respeito, do amor e do bem querer são condições fundamentais

para que as dificuldades de convivência sejam vistas como oportunidades de cresci-

mento pessoal. Salvo algum eventual desvio de comportamento, que pai ou mãe não

quer ver o sucesso e felicidade dos filhos? A alegria de nossos filhos, por mais terríveis

que tenham sido e preocupações nos tenham causado, passa a ser também a nossa

alegria. Que bom vê-los crescer e viver a vida, assumir nossos lugares e nos dar netos!

E esses netos terão muitos conflitos com nossos filhos, como nós tivemos com nossos

Fique certo que não é só com você e sua família que ocorrem problemas, incompreensões, atritos, brigas, queixas e má-goas.

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pais, na eterna e maravilhosa ciranda da vida, e tudo será tratado da melhor forma

possível e resolvido na magia do amor.

Contam que um presidiário é considerado irrecuperável quando até sua mãe

deixa de visitá-lo. Porque amor de mãe é incondicional, supera os maiores obstáculos.

A mesma mãe que o obrigou a comer legumes, tomar banho antes de dormir, desgru-

dar do computador e acordar na hora da escola é hoje a única com quem ele pode

contar. É seu único patrimônio.

Administrar o patrimônio familiar exige sobretudo o querer. Os caminhos são

os mais diversos e estão intimamente ligados à lógica e aos valores dos grupos familia-

res, sempre observando a importância da delicadeza dos relacionamentos. Não tenho

dúvida de que família deve ser um lugar de aconchego, compreensão e convivência.

Que superar dificuldades é sempre um desafio com grandes possibilidades de final

feliz. E que o melhor caminho para nossa segurança pessoal é ter uma família harmo-

niosa e companheira e não apenas no porta-retratos.

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Em um livro escrito no início deste século, intitulado “Como Planejar seu Su-

cesso Pessoal”, há um capítulo que ficou sob a responsabilidade de uma amiga, Karina,

na época exercendo a função de gerente de contas do Banco do Brasil. Tal convite de-

veu-se à minha completa ignorância nos aspectos relativos à administração financeira,

cálculo de juros, investimentos mais rentáveis, aqueles mais ou menos taxados e ou-

tros pormenores que, na verdade, ficam à margem do entendimento da maioria dos

brasileiros. Até hoje me percebo extremamente conser-

vador nos investimentos financeiros, preferindo sempre

o binômio garantia e simplicidade ao risco e rentabili-

dade. Não recomendo que façam como eu – cada um

de nós tem seu perfil como investidor e isso deve ser

respeitado. Também não tenho a pretensão de ensinar

a ninguém como lidar com suas finanças – neste campo sou um eterno aprendiz. Há

bons livros sobre o assunto e recomendo especialmente “Pai Rico Pai Pobre”, dos au-

tores Kiyosaki e Lechter, e “Mais Tempo, Mais Dinheiro”, dos brasileiros Gustavo Cer-

basi e Christian Barbosa. São excelentes fontes de conhecimento nesta área tão espe-

cífica.

Mesmo não sendo especialista na área, me atrevo (sou meio atrevido mesmo) a

refletir com o leitor sobre algumas questões que certamente influenciam a formação

do nosso patrimônio material e a consequente possibilidade de viabilização da criação

de outros patrimônios.

Nós, brasileiros, temos algumas características de consumo que nos afastam da

acumulação de riquezas materiais, tema este muito bem explorado pelo economista

Eduardo Gianetti no seu livro “O Valor do Amanhã”. Uma delas é a falta de paciência e,

consequentemente, o alto custo desta impaciência num país que pratica uma das mais

altas taxas de juros nominais do mundo. Vou exemplificar: você já reparou como diver-

sas lojas de eletrodomésticos ou mesmo revendedoras de automóvel dão ênfase ao

valor da prestação nas suas peças publicitárias? Geralmente o preço final fica em se-

III – Patrimônio material

Nós, brasileiros, temos algumas características de consumo que nos afastam da acumulação de riquezas materiais.

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gundo plano e o destaque maior vai para a parcela a ser paga. Sabe por quê? Porque a

linha de raciocínio padrão do brasileiro é a seguinte: se a prestação “cabe no meu bol-

so”, eu compro. Importa mais a capacidade de pagamento mensal que o valor final do

bem e esta prática acaba afetando negativamente a formação do nosso patrimônio

material.

Tive uma copeira na empresa que certa vez chegou absolutamente feliz ao

trabalho, pois havia, juntamente com seu marido, realizado um sonho: a compra de

um automóvel. Percebendo sua necessidade de dar

vazão àquela alegria, incentivei-a a contar os deta-

lhes da aquisição enquanto servia o café. Ela e o ma-

rido haviam comprado um Fiat Palio 97, 2 portas,

parece que em bom estado e haviam pago R$

24.700, pelo bem. Na mesma hora questionei a

compra: devia haver algo errado, pois é muito di-

nheiro para um bem que não vale, provavelmente,

nem a metade. Pedi que verificasse com o marido naquela noite se era este mesmo o

valor acertado. No dia seguinte ela retorna com a confirmação: foi isso mesmo! Eles

deram R$ 700,00 de entrada e financiaram o restante em 48 parcelas de R$ 500,00 - e

aí eu entendi como você pode pagar por 2 carros e só levar um para casa quando cai

na armadilha da ansiedade + financiamento fácil. Ainda ponderei sobre a possibilidade

de irem colocando os R$ 500,00 na poupança todos os meses até conseguirem com-

prar o Palio à vista, mas fui interrompido com a afirmação de que “aí nós não poderí-

amos fazer de carro o supermercado deste mês” e desisti da lógica matemática.

É preciso muito cuidado com estas pretensas ofertas maravilhosas, tipo “o

mundo a seu alcance” e outras formas que o mercado lhe propõe para que você se

desestimule a fazer poupança. Guardar dinheiro é importante para você, sua família,

seus sonhos e até para o país. Ter a calma suficiente para esperar o momento certo de

adquirir produtos e serviços é fundamental para sua estrutura financeira. E esqueça o

cartão de crédito, a não ser que você tenha a certeza de que poderá pagar 100% da

fatura no próximo vencimento.

É preciso muito cuidado com estas pretensas ofer-tas maravilhosas, tipo “o mundo a seu alcance” e outras formas que o mer-cado lhe propõe para que você se desestimule a fazer poupança.

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Outra característica que conspira contra a formação de um patrimônio mate-

rial é o consumismo desenfreado, essa necessidade artificial, incentivada pelo merca-

do através da mídia, de que precisamos possuir tudo e, de preferência, na versão mais

moderna. Deviam proibir os “polishops da vida”! Quanta coisa adquirimos sem de fato

precisar? Olhe para o seu guarda-roupa! Olhe na estante os livros comprados e nunca

lidos (ao menos este você está lendo)! Os aparelhos descartados ainda em bom estado

com a desculpa de que “surgiu um mais moderno”! É claro que estar atualizado é fun-

damental e que as inovações tecnológicas devem ser entendidas e incorporadas. Não

quero que você se transforme em um profissional ou cidadão “jurássico”, mas cuidado

com os exageros! Muita gente direciona sua vida para os tais “objetos do desejo” e

perde a noção de possibilidade e utilidade, tão necessárias no processo de tomada de

decisão.

A primeira pergunta que devemos nos fazer antes da decisão de compra é: eu

posso adquirir este bem? Poder significa estar dentro do seu orçamento sem prejudi-

car suas prioridades. Outro dia vi o anúncio de um “car-

ro dos sonhos” – uma caminhonete linda, automática,

design moderno, um luxo e que custava em torno de R$

120 mil. Apesar da vontade de colocar uma daquelas na

minha garagem, reconheci minha impossibilidade. As-

sumir esta prestação, mesmo que sem juros, me impediriam de honrar outros com-

promissos já firmados dentro das minhas prioridades. Então, adiei o sonho da cami-

nhonete.

A outra pergunta que deve ser feita, agora para se comprovar o princípio da

utilidade é: eu preciso mesmo disso? Lembro-me de uma antiga secretária que apare-

ceu no escritório de celular novo, moderno, apesar de nem saber utilizar todos os re-

cursos disponíveis no aparelho. Na verdade, ela dava ao novo celular o mesmo uso que

dava ao antigo (que funcionava perfeitamente): fazer e receber ligações, enviar men-

sagens, utilizar o relógio e o despertador. E pagou por ele o equivalente a 2 meses de

salário. Claro que não resisti e perguntei a razão da troca. Depois de algumas evasivas,

A primeira pergunta que devemos nos fazer antes da decisão de compra é: eu posso adquirir este bem?

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ela acabou confessando que não poderia deixar de comprar, pois todas as suas amigas

já tinham um como aquele...

Planeje melhor suas aquisições. Quando for ao supermercado, leve uma lista,

não vá com fome nem leve criança. Quando for passear no shopping, deixe o cartão de

crédito em casa. Anote e controle todas as suas despesas. Cuidado com as ofertas.

Pense nos princípios da possibilidade e da utilidade. São dicas simples para que seu

patrimônio financeiro possa ser construído sem sobressaltos. E quando começar a so-

brar aquele dinheirinho para aplicar, leia os livros que indiquei, crie novos hábitos de

consumo e utilize o dinheiro a seu favor. Você estará a caminho da verdadeira harmo-

nia!

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Não se trata de ter ou não ter uma religião, praticá-la ou não, até mesmo da

crença em um deus todo poderoso. É algo que tem a ver com a sua relação com você

mesmo, a integração de corpo, mente e espírito. É também a forma como você se re-

laciona com o outro e com o universo. Como você enxerga sua trajetória por esta vida?

É apenas um acordar-trabalhar-comer-ver TV-dormir ou existe uma algo mais?

Alguns chamam de “missão terrena”, outros de “fazer a diferença”. Vamos tratá-

la aqui de missão pessoal, que pode ser entendida como

“a razão de minha existência”. Garanto que vale a pena

pensar sobre tão delicado tema e minha experiência

com missão pessoal pode ajudar você nesta reflexão.

Há alguns anos, quando comecei a refletir seriamente sobre o assunto, decidi

fazer uma viagem ao interior do meu ser para tentar encontrar a melhor resposta à

pergunta que muitas vezes me inquietava: qual a razão da vida? Confesso que me in-

comodava a possibilidade da resposta banal, relacionada apenas às questões mais bá-

sicas de sobrevivência e desejo. “Será que é só isso?” pensava. Nascer, estudar, traba-

lhar, casar, procriar, ganhar dinheiro, viajar e morrer, não necessariamente nesta or-

dem e lutando o tempo todo com as frustrações dos sonhos não realizados? Eu queria

mais. Quem sabe encontrar um guia que pudesse harmonizar todos estes atos, que

gerasse um fio condutor nas atitudes do dia-a-dia. Eu queria mesmo era encontrar a

minha missão pessoal e só o processo de autoconhecimento me levaria a esta desco-

berta.

Nesta viagem, descobri que quero estar neste mundo para “fazer diferença posi-

tiva na vida das pessoas”. Esta é minha missão. Todos os relacionamentos, dos mais

simples aos mais complexos, devem passar pelo crivo da missão: estou fazendo dife-

rença positiva para esta pessoa?

IV – Patrimônio espiritual

“Fazer diferença positiva na vida das pessoas”. Esta é minha missão.

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E o que é fazer diferença positiva? É basicamente deixar sua marca pessoal no

outro, gerando a sensação ou a certeza de que conseguiu, de alguma forma, enrique-

cer sua vida, nem que seja só por um pequeno momento. Que o seu dia foi influencia-

do positivamente por um ato praticado ou palavra proferida. Das coisas mais simples,

como elogiar o trabalho da operadora de caixa do supermercado e deixar seu dia mais

leve, às mais complexas, como nas relações afetivas mais intensas – casamento, pais,

filhos, família em geral.

Ousado, não? Nem sempre é fácil a prática cotidiana da sua missão pessoal.

Afinal, seres humanos são ciclotímicos, mudam e erram. Mas tê-la sempre em mente

gera um sentimento de plenitude e de sentido de vida que é único e ajuda na busca

incessante da coerência entre seus atos e pensamen-

tos. É muito bom quando encontro alguém que, volun-

tariamente, exprime uma lembrança positiva: “até hoje

me lembro daquele seu curso – como foi bom para

mim” ou “pedi a meu marido para ler seu livro e ele

passou a me entender melhor”. Sinto-me pleno ao ou-

vir estas manifestações espontâneas. São os conceitos, essencialmente abstratos, se

transformando em atitudes concretas. É o tangível da minha missão pessoal.

Patrimônio espiritual é entender-se plenamente. É também ter o que chamo de

“consciência de mundo”, saber que você faz parte de um todo e, portanto, ter com o

outro ser uma relação ética, justa e transparente.

Cada vez que vou fazer compras no supermercado tenho consciência do privilé-

gio que é ter trabalho e renda que me permitem colocar no carrinho de compras quase

tudo que quero consumir (certamente tudo o que preciso para sobreviver). Faço as

compras sem culpa, até porque culpar-se não ajuda. Mas não esqueço que a maior

parte da população deste planeta não pode tomar decisões como as minhas quando

fazem compras em supermercados. Muitos nem sabem o que é isso. Posso resolver

sozinho este grave problema mundial, onde poucos têm muito e muitos não têm qua-

se nada? Certamente que não. Mas ter a consciência que o problema existe e incomo-

Corremos o risco de “comprar” nossa consci-ência por achar que “fiz o que podia ter feito”.

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dar-se com ele pode ser combustível para ajudarmos a encontrar formas de, se não

resolver, ao menos amenizar o problema. E ter esta consciência passa pela atitude

humilde de não olhar só para si, considerando-se o centro do universo, mas entender

que fazemos parte dele, juntamente com outros seres vivos. E dar mais quando se po-

de mais.

Os valores cultuados pela sociedade hipócrita que construímos estão nos dei-

xando cada vez mais egoístas, preocupados apenas com o que nos afeta, sem a visão

sistêmica das interfaces. Coisas do tipo “se resolver o meu problema está ótimo, o res-

to que se vire”. Prevalecendo esta lógica, fica difícil agir com responsabilidade pessoal.

Muitas pessoas limitam sua responsabilidade para com a sociedade em dar ao outro

aquilo que não querem mais e provavelmente está ocupando espaço na sala de visitas

ou no armário do quarto. Sou a favor desta atitude, claro. É muito melhor dar a quem

de alguma forma poderá se beneficiar do seu uso do que preservar a inutilidade da

roupa que saiu de moda ou do computador que ficou defasado. Façamos isto, mas sem

nos considerarmos magnânimos e benfeitores do planeta. Corremos o risco de “com-

prar” nossa consciência por achar que “fiz o que podia ter feito”. É preciso ir além.

Responsabilidade pessoal não é dar, é doar-se. É ser voluntário numa verdadeira cru-

zada do amor. É o compromisso inabalável por uma sociedade mais justa e um planeta

mais harmônico.

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Aconteceu em 1990, mas lembro-me como se fosse ontem. Estava em Muni-

que, Alemanha, na minha primeira viagem à Europa. Foi um belo despertar na “carrei-

ra de viajante” – hoje já são 35 viagens para fora do Brasil e um número “indecente”

de viagens nacionais. Passeava pelo centro histórico num domingo de manhã, curtin-

do céu azul, sol e um improvável calor. Claro que uma “parada técnica” num beer gar-

den era inevitável para uma germânica cerveja gelada. Neste momento descobri que

estava próximo a um momento histórico: naquela tarde o Bayern, time local, faria a

decisão do campeonato, a poucas horas e quilômetros

de onde estava. Claro que fui! Comprei um boné verme-

lho e branco, cores do time da casa, e fui para o estádio,

torcendo pelo Bayern como se seu escudo fosse a estre-

la solitária, símbolo maior do meu querido Botafogo.

Curti os 3 x 0 sobre o Borussia Dortmund e voltei ao

hotel mais alemão que nunca. Lembrei-me de Fernando Pessoa: “Viajar, viver países.

Ser outro constantemente, pois a alma não tem raízes.” Não me imagino sem ter vivi-

do esta experiência que hoje faz parte do meu patrimônio cultural.

Assim como estar em Sousse, bela cidade da Tunísia à beira do Mediterrâneo,

com minha esposa Carol e um grupo de espanhóis justamente numa noite de Barcelo-

na x Real Madrid. Fomos para um bar acompanhar o jogo num telão e beber ... chá de

menta. Claro, estávamos num país muçulmano e entender a forma de pensar dos se-

guidores de Maomé também é patrimônio cultural. Como nos chega distorcida a ima-

gem deste povo, como temos dificuldades de entender sua lógica! Voltei apaixonado

pela Tunísia e pelo povo tunisiano.

Nosso Brasil tão diverso também tem um lindo patrimônio cultural do qual po-

demos nos apropriar. De preferência, viajando. Conheci mais de 200 municípios em

todos os estados brasileiros, literalmente do Oiapoque ao Arroio Chuí. Aliás, quando

você for ao Oiapoque, não deixe de pegar um barquinho e viajar à França, do outro

lado do rio. Ou melhor: torça para a ANAC interditar a cia. aérea local e volte à Macapá

V – Patrimônio cultural

Nosso Brasil tão diverso também tem um lindo patrimônio cultural do qual podemos nos apro-priar. De preferência, viajando.

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pela estrada, cortando a Amazônia – na hora dá medo, depois vira aventura. E já que

aventura pouca é bobagem, vá de Macapá a Belém de barco, de preferência balançan-

do numa rede e tentando contar as estrelas da imensi-

dão amazônica. São 20 horas de puro deleite. No livro

“Viagens da vida e outros pensares” você pode ler uma

crônica onde relato os detalhes desta viagem. E tam-

bém das andanças pelos interiores do nosso país, de São Raimundo Nonato, no Piauí a

Santa Rosa, nos pampas do sul.

Viajar é, sem dúvida, uma rica e divertida forma de expandir seu patrimônio cul-

tural. Ainda quero viajar muito e conhecer muitos lugares e sua gente interessante.

Este é um requisito básico para transformarmos uma viagem, por mais simples que

seja, em patrimônio cultural: interagir com o lugar e seus moradores. Frequentar luga-

res que os turistas não frequentam. Andar a pé, de ônibus e de metrô. Comunicar-se

do jeito que for possível, mesmo que você esteja na linda Budapeste e, como eu, não

fale uma palavra de húngaro. Ou em Atenas e só conheça “parakalo”. Converse com os

porteiros de hotéis, motoristas de táxi (em Buenos Aires você vai se surpreender) e

garçons. Hospede-se em casa de família, como a Carol fez em Cuba. Sinta o cheiro do

lugar, entenda a forma de pensar do povo que você visita, tente colocar-se no lugar

deles. Saia do conforto do ônibus envidraçado cercado de segurança e arrisque-se pe-

las ruas e ruelas, em Roma ou Barcelona. Amsterdã é museus e canais, mas também é

um bar onde a maconha é permitida e um bairro boêmio cheio de vitrines, digamos,

diferentes das que conhecemos.

Conheça e deixe-se conhecer. E não precisa atravessar o oceano para aumentar

seu patrimônio cultural. Itabaiana, em Sergipe, também é cultura: são as histórias da

vida contada na feira, logo cedinho, comendo doce de espécie ou beiju de amendoim.

Na sua cidade e proximidades tem muito lugar e muita gente a ser conhecida. Você vai

se enriquecer na conversa com o pescador ribeirinho, com o catador de latinhas, com

a sua empregada doméstica. Entenda sua forma de pensar e seus valores. Conhecer

sua história de vida vai ajudá-lo a conectar-se com o Universo. Perceber e respeitar as

Viajar é, sem dúvida, uma rica e divertida forma de expandir seu patrimônio cultural.

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diferenças que existem entre os bilhões de seres humanos deste planeta nos faz sentir

parte desta História.

Você pode também aumentar seu patrimônio cultural sem sair de casa. Como?

Lendo, como faz agora. Ao ler as páginas anteriores você viajou comigo nas asas da

imaginação. Leia e estude sempre. Quanto mais aprendemos, mais percebemos como

falta coisa a ser conhecida!

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Estes patrimônios poderiam ser estudados de forma separada e confesso que no

início pensei em fazê-lo. Desisti ao perceber o quanto, ultimamente, nosso lado social

tem andado de mãos dadas com o profissional – uma característica do novo mundo do

trabalho. Pesquisas mostram que aumentou na última década a quantidade de parce-

rias afetivas (namoro, casamento e afins) a partir de uma relação profissional. É o re-

sultado de muito tempo dedicado ao trabalho e da tendência de procurarmos “des-

comprimir” a pressão dos ambientes profissionais com

o já famoso “chopinho com os colegas”. Há ainda outro

aspecto que nos estimula a analisar estes dois patrimô-

nios de forma associada: a cultura brasileira que interli-

ga o social e o profissional. Temos o hábito de transferir

para as relações profissionais nossa situação pessoal

com aquela pessoa. Quando somos amigo do nosso

chefe, esperamos, às vezes inconscientemente, que ele

aja sempre como amigo, nunca como chefe. E se um dia somos punidos por um erro

no trabalho, colocamos em risco esta amizade. Esperamos uma complacência maior

por parte daqueles que se relacionam socialmente conosco. Por isso é tão difícil a im-

plantação da meritocracia nas empresas brasileiras. Na meritocracia, as relações pes-

soais não entram no ranking da avaliação de desempenho, gerando muitas vezes o

boicote por parte das pessoas envolvidas.

Hoje boa parte das recolocações de pessoas no trabalho, principalmente nos es-

calões gerenciais e superiores, é feita por indicação pessoal. Não me refiro àquela indi-

cação política, ao apadrinhamento, infelizmente tão comum no Brasil. Refiro-me ao

empresário que abdica dos meios convencionais de recrutamento de pessoas e solicita

de alguém em quem confia uma indicação para ocupar um cargo em sua empresa. Eu

recebo, com certa constância, esta incumbência. Empresários e gestores que me co-

nhecem como profissional e solicitam a indicação de alguém. É claro que só indico

quem realmente se encaixa no perfil desejado e isto é importante para gerar novas

solicitações.

VI – Patrimônio profissional e social

Hoje boa parte das reco-locações de pessoas no trabalho, principalmente nos escalões gerenciais e superiores, é feita por indicação pessoal.

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Já citamos uma palavrinha mágica quando nos referimos a patrimônio social e

profissional: relacionamentos. Mantê-los, fazendo network, é fundamental para sua

ascensão profissional. Colocar os amigos na “rede”, mantendo-os atualizados em rela-

ção a você e também manter-se atualizado em relação a eles é uma atitude de extre-

ma importância para a consolidação de uma carreira de sucesso. Assim como também

é importante fazer marketing pessoal.

Marketing pessoal é a sua embalagem, é tudo aquilo que vai gerar “desejo de

compra” por parte de seus “compradores”: clientes, possíveis empregadores, diretoria

da empresa e demais possibilidades de sua área de a-

ção. Em workshops que ministro sobre este tema, cos-

tumo fazer uma dinâmica que ilustra bem a importância

desta embalagem: desde o início do evento, sem fazer

nenhum tipo de referência ao fato, deixo 2 caixas de

mesmo tamanho sobre a mesa. Uma ricamente emba-

lada, com papel brilhante e laços de fita. Outra embalada com papel pardo e fita crepe,

sem nenhum glamour. Durante os trabalhos, faço uma pergunta ao grupo e informo

que, quem acertar a resposta, terá direito a um prêmio. Alguém acerta, vem à frente e

peço que escolha uma das duas caixas para levar de presente. Até hoje sempre a esco-

lhida foi a bem embrulhada, com papel brilhante. Ao abri-la, o contemplado descobre

que é uma caixa de bombons e invariavelmente tem que dividi-la com a turma. Passa-

das algumas horas, faço outra pergunta com direito a prêmio, e o vencedor vem bus-

car seu presente com certo ar de frustração, pois só restava a “caixa pior”, mal emba-

lada. Ao recebê-la e abri-la, descobre que se trata exatamente da mesma caixa de

bombons que havia no outro prêmio. E neste momento o grupo entende o quanto a

embalagem influencia nas escolhas de cada um de nós. É claro que nenhuma embala-

gem, sozinha, é geradora de qualidade. É preciso ter conteúdo, competência técnica,

conhecimentos, habilidades e atitudes compatíveis com o que se pretende. Mas para

que o mercado enxergue você e resolva comprar esta sua competência, é preciso fazer

marketing pessoal, mostrar ao mundo que você é bom em algumas coisas e que você

tem diferenciais competitivos. Só tome cuidado para não exagerar: marketing pessoal

. Ao recebê-la e abri-la, descobre que se trata exatamente da mesma caixa de bombons que havia no outro prêmio.

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superdimensionado vira arrogância, presunção, e aí, como se diz popularmente, o fei-

tiço vira contra o feiticeiro.

Auto estima elevada também ajuda no desenvolvimento do patrimônio profis-

sional e social. Existem pessoas que pensam assim: se eu não gosto de mim, quem vai

gostar? Ou ainda: se eu não gosto nem de mim, de quem vou gostar? E aí entram na

espiral da desilusão, da depressão, e passam a ter muita dificuldade de relacionamento

consigo e com o outro. Acreditar nos seus potenciais e saber tirar proveito deles é fun-

damental. Afinal, se você não acredita e confia em si mesmo, como esperar que os

outros o façam?

A presidente mundial da Xerox é uma persona-

gem única no mundo corporativo americano. Ela é mu-

lher, negra e nasceu pobre, muito pobre, no que um dia

foi uma área “barra pesada” em Nova York. Seu nome é

Úrsula Burns e hoje, aos 48 anos e salário de quase seis

milhões de dólares anuais, alcançou um patamar que

poucas pessoas conseguem. Ela diz que sempre ouve perguntas a respeito da surpresa

que poderia sentir por ser uma pessoa tão bem sucedida, em comparação com sua

infância quase miserável. E sempre responde que não, já que sua mãe nunca deixou

que ela e seus irmãos se sentissem inferiores a alguém. Neste exemplo nós vemos o

quanto a educação que recebemos em casa é importante para o desenvolvimento de

nossa autoestima. Estudos mostram que os pais dizem normalmente 10 “nãos” para

cada “sim” aos seus filhos. Ou seja: dez reprimendas para cada elogio. Criticamos o

erro, mas muitas vezes nos esquecemos de elogiar os acertos. E todo ser humano pre-

cisa de validação para fortalecer sua autoestima.

Outra questão que deve ser respeitada por você na administração deste patri-

mônio é a sua vocação. Esta palavra pode gerar inúmeras interpretações diferentes,

mas particularmente gosto daquela que associa vocação a saber fazer + gostar de fa-

zer. Ganhar dinheiro trabalhando naquilo que você faz com maestria e te dá prazer é o

paraíso na Terra. Tem muita gente que desperdiça sua verdadeira vocação (quando

Criticamos o erro, mas muitas vezes nos esque-cemos de elogiar os a-certos. E todo ser hu-mano precisa de valida-ção para fortalecer sua autoestima.

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tem a felicidade de descobri-la) trocando-a por uma pseudo segurança profissional ou

um pouco mais de dinheiro no fim do mês. A vida é muito curta para desperdícios e o

de talento é um dos principais. Se você sabe fazer bem alguma coisa e gosta do que

faz, procure um meio de transformar isto em profissão, trabalho e renda.

Para manter em alta seu patrimônio profissional, não se esqueça da atualização

constante. Mantenha-se atualizado com leituras, participação em eventos, e não só no

que diz respeito ao seu trabalho ou profissão, mas em relação ao mundo em geral. Boa

parte dos processos seletivos para contratação de

profissionais das mais diversas áreas inclui pergun-

tas sobre conhecimentos gerais aos candidatos. Se

você não está “por dentro” do que está acontecen-

do no Brasil e no mundo, isto certamente atrapalha-

rá seu desempenho em uma entrevista de seleção.

Existem muitas dicas sobre carreira e patri-

mônio profissional nos inúmeros livros que já foram escritos sobre o assunto. Na inter-

net você também poderá encontrar textos interessantes sobre este tema. O importan-

te é estar consciente de que este patrimônio merece atenção e cuidados especiais e

você não pode se descuidar dele. Mas não se esqueça também da harmonia com os

demais patrimônios. Já escrevi em outro livro sobre o quanto devemos tomar cuidado

com os exageros, principalmente quando se trata de trabalho e profissão. Soube de

inúmeros profissionais que “surtaram” por não administrar o tempo que deveriam

dedicar ao trabalho e à carreira. Estouraram seus limites físicos e psicológicos, deses-

truturaram a família e tiveram enormes prejuízos de ordem pessoal por não saber a

hora de parar, de rever rotinas, de harmonizar patrimônios. Eu próprio passei por isso

e aprendi pela experiência. Certa vez, no início deste século, estava imbuído do projeto

pessoal de me tornar um profissional conhecido e respeitado em todo território nacio-

nal. Esta determinação me fez abraçar mais projetos do que deveria e minha rotina

ficou de pernas para o ar. A vida era emendar um trabalho no outro, com longas via-

gens, noites em hotel, vida social quase nula. Atingi meus objetivos e cheguei a traba-

lhar em 17 estados num mesmo ano. Até o dia em que ocorreu algo que me fez perce-

O importante é estar cons-ciente de que este patrimô-nio merece atenção e cui-dados especiais e você não pode se descuidar dele. Mas não se esqueça também da harmonia com os demais patrimônios.

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ber que aquela correria tinha que ter um fim. Terminei um treinamento às seis da tar-

de de uma sexta-feira em Maceió e, apesar do desejo pessoal de ficar por ali no fim de

semana (o que hoje faço sem culpa), fui direto ao aeroporto embarcar para São Paulo,

onde teria um compromisso no sábado a partir das 8h da manhã. Cheguei ao hotel na

capital paulista depois das 23h e “desmaiei”, de tão cansado que estava, colocando o

relógio para despertar às seis e meia de sábado.

Dormi profundamente até ser despertado pelo

som do relógio e, neste momento, tomei um sus-

to: onde estou? Olhei em volta e não reconheci

nada. Comecei a me preocupar. Abri a cortina do

apartamento e reconheci o rio Pinheiros – ufa,

estou em São Paulo, pensei. Ato seguinte: fazendo

o que? Novo susto até folhear a agenda e identifi-

car meu objetivo naquele dia. À noite, no caminho de volta pra casa, depois de mais de

dez dias fora, decidi que era preciso mudar, sob pena de adoecer, física e psicologica-

mente, e deixar de lado as outras coisas igualmente importantes na vida.

Finalmente, antes de falar dos amigos, uma última dica: seja objetivo na ges-

tão de seu patrimônio profissional, mas não deixe de lado a sua sensibilidade. A sensi-

bilidade para com o outro, seus sentimentos, necessidades e peculiaridades. Desde o

mais simples cuidado em saber se, de algum modo, não o está incomodando, desde as

pequenas delicadezas fundamentais para o bem viver, das regras de comportamento e

etiqueta, até a preocupação sincera com seus problemas e dificuldades. Não se pode

considerar como educado, por mais títulos universitários que possua, aquele que não

tem sensibilidade para com o próximo e que passa pela vida como um trator, desres-

peitando direitos, ferindo e esmagando o outro com uma postura de “dono do mun-

do”.

Não posso terminar este capítulo sem refletir sobre o grande patrimônio social

que temos: nossos amigos! Cuido com especial carinho de cada um deles, espalhados

pelo Brasil, fruto do meu jeito meio nômade de ser. Agrupo-os considerando as variá-

veis tempo e espaço. Os da adolescência bem vivida no Colégio Santo Inácio, no Rio de

Não posso terminar este capí-tulo sem refletir sobre o gran-de patrimônio social que te-mos: nossos amigos! Cuido com especial carinho de cada um deles, espalhados pelo Brasil, fruto do meu jeito meio nômade de ser.

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Janeiro, os de Viçosa, MG, onde passei cinco anos em uma das melhores Universidades

do país, os de diferentes trabalhos que realizei ao longo da vida, que começaram cole-

gas e se tornaram amigos, os que surgiram espontaneamente, do nada, e estão aí, fir-

mes para o que der e vier. Faço esforços no sentido de não perder uma chance de es-

tar com eles, como, por exemplo, nos aniversários de

formatura do Santo Inácio. Na última festa, dos 30 anos

de formado, aconteceu um fato engraçado. Fiz de tudo

para ir, manejando de toda forma minha agenda de

trabalho, e no dia marcado lá estava eu no Clube Caiça-

ras, à beira da Lagoa, pronto para brindar o reencontro.

Reconheci alguns, outros só pelo crachá, muito papo,

saudade, “onde você anda, o que está fazendo, e esta

careca?, tá barrigudo, hein!” Tudo numa noite que deveria ser muito mais longa. Ao

conversar com o Mascarenhas, um dos que passei 30 anos sem ver, disse todo orgu-

lhoso que havia saído de Cuiabá especialmente para a festa e voltaria já no dia seguin-

te. E ele, rindo, me disse que tinha feito a mesma coisa, saído de sua casa só para a

festa e que voltaria também no dia seguinte. A única diferença é que ele mora na Suí-

ça! Percebi que tem mais gente cuidando deste patrimônio social que são nossos ami-

gos...

Sinto falta de reencontrar alguns. É como diz a música “já choramos juntos e

muitos se perderam no caminho...”. Um exemplo são os amigos do remo, parceiros do

improvável despertar às quatro e meia da manhã para, ainda escuro, dar as primeiras

remadas na Lagoa Rodrigo de Freitas. Onde estão vocês, companheiros da exaustão,

do orgulho de vestir a estrela solitária no peito, do choro convulsivo ao perder, por

meio barco, para um Flamengo nitidamente pior? Cadê o Duda, o Vinícius, o Vareta?

Até pouco tempo atrás também lamentava o distanciamento dos amigos de

Viçosa, parceiros das noites em claro, ora estudando, ora bebendo. A intimidade de

morarmos juntos, na República Solidão, nos tornou cúmplices por toda a vida. As difi-

culdades da distância da família, do rigor das provas, da predominância masculina no

Campus, dos finais de semana que se arrastavam, tão graves na época, hoje são com-

E ele, rindo, me disse que tinha feito a mesma coisa, saído de sua casa só para a festa e que voltaria também no dia seguinte. A única dife-rença é que ele mora na Suíça!

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bustível da saudade. A vida nos levou para novas experiências, novos caminhos, e nos

afastamos. Um ou outro contato casual, nada mais que isso. Mas a proximidade dos 50

anos de vida, associada à facilidade de comunicação no mundo moderno, começaram

a operar o reencontro. Descobri minha tão querida professora de Estatística, a Regina,

através do Orkut. Que alegria revê-la virtualmente, com a marca registrada do sorriso,

ladeada pelos netos. Que bom o Mário Balducci usar o Google para encontrar cada um

da “Solidão” e começarmos a pensar num reencontro de verdade, olho no olho, cerve-

ja no copo. Quantas estórias teremos? Uma infinidade, certamente. Outro dia me ligou

o Geraldo Madureira, próspero empresário rural de Montes Claros, MG, pai de quatro

filhos, querendo arranjar um jeito de apressar este encontro. Não sei se vou reconhe-

cê-lo, pois o Gerô da minha memória tem 19 anos e me levou para conhecer as fazen-

das do pai em Janaúba, depois dele próprio ter curtido,

boquiaberto, as praias do Rio de Janeiro ao meu lado e

de minha irmã Angela, por quem ele tinha, digamos,

certo interesse. Vamos todos nos encontrar e será logo.

A certeza de nossa finitude apressa este encontro.

Os amigos da adolescência continuam presentes, há mais de 30 anos. Graças à

disposição do Raul Araripe, patrono da “Confraria”, e também ao desejo de todos, nos

encontramos sempre para falar do passado, do presente e, pasmem, do futuro. Seja

nos aniversários, no play do Benjamim na festa de fim de ano, nos botecos da vida, nas

pousadas de Visconde de Mauá, lugar a gente arranja, o importante é estar junto. E aí

vale relembrar o desempenho do Aymoré Futebol Clube no Aterro do Flamengo, o

show do Gênesis no Maracanazinho, as viagens acampando pelo litoral do Espírito San-

to ou Cabo Frio, a Festa do Chope no Country de Friburgo, e tantas, tantas coisas que

fizemos juntos.

Poderia escrever diversas páginas sobre as delícias de ter e curtir amigos.

Certamente faltaria papel. Teria que falar do Geraldo, grande Gêca, amigo há mais de

20 anos que fica bravo se eu for à Brasília e não passar ao menos uma noite de papo,

escolhendo o vinho na sua adega. Da Renira em Natal, que me ajudou tanto no difícil

momento do fim do casamento e, nas voltas que o mundo dá, alguns anos depois nos

Poderia escrever diver-sas páginas sobre as delícias de ter e curtir amigos. Certamente faltaria papel.

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vemos invertendo os papéis. De Sandra Coêlho, esta alcoviteira de primeira que me

apresentou sua ex-nora, como quem não quer nada, e hoje assiste de camarote nossa

caminhada para 10 anos juntos. Albi Militão, esse irmão cearense que conheci em Ma-

capá, gerando imediata identificação profissional e pessoal. Gilmar e Denise, das noi-

tadas no Zopapa ao reencontro em Cascavel, PR. Ana Rita, sempre disposta a uma pa-

lavra amiga e a me receber com requinte em Campo Grande, MS. Tem também a Bet

Aguirre, o Augusto Amaral, a Ana Boni, a Márcia Casali, o Claudinet Coltri, Elvira, essa

grande companheira de esqui em Bariloche, Bárbara, Marcelo e Naná, ufa, desculpem,

não vou conseguir citar todas essas criaturas tão especiais que são meus amigos e a-

migas – o que seria de mim sem eles? Amigos de verdade sabem que podem não estar

no livro, mas certamente estão dentro do coração.

Encerro com uma homenagem póstuma ao amigo, parceiro e sócio, tão brutal-

mente assassinado, e que deixou muita saudade. Que Nossa Senhora do Pantanal con-

tinue te protegendo aí nesta sua nova dimensão. E pode estar certo que nossas risadas

ainda ecoam pelas estradas de Mato Grosso. Continuamos por aqui, “amano” a vida.

Valeu Raul!

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Existem muitos outros patrimônios pessoais para você administrar. O nome já

diz: é pessoal, cada um tem os seus. O primeiro passo é identificá-los, para então ali-

nhá-los aos valores e cuidar com carinho de cada um deles. Procurei nos capítulos an-

teriores dividir com você, leitor, alguns daqueles que considero importantes na minha

vida. Agora busque os seus e trabalhe para harmonizá-los.

Harmonizar é diferente de equilibrar. Equilíbrio pressupõe igualdade das par-

tes, o mesmo peso nos dois pratos da balança. Harmonia é menos cartesiana, depende

de outros fatores, das interações, do momento.

Portanto, haverá situações da sua vida onde um

de seus patrimônios merecerá maior atenção que outro.

Um familiar sofrendo ou doente nos faz focar, neste

momento com mais intensidade, no patrimônio familiar.

Já a perda do emprego e respectiva renda nos levarão a dar maior atenção aos patri-

mônios material e profissional. E assim, com atenção aos “requerimentos da vida”,

vamos buscando esta harmonia.

Quer um exemplo? Vou dividir com você um bem pessoal. Quando perdi meu

pai, no início de 2008, percebi que aquele seria um ano difícil para nossa família, prin-

cipalmente para minha mãe, de repente privada do companheiro de quase 50 anos,

passando a morar sozinha, com os filhos distantes e tendo que assumir responsabili-

dades práticas e cotidianas que lhes eram inéditas. Tudo isso em meio à dor da perda.

Foi então o ano que mais procurei estar a seu lado desde que saí do Rio de Janeiro

para viver em lugares mais tranquilos. Abri mão voluntariamente de alguns trabalhos e

de outras viagens porque meu foco naquele momento era tentar dar o suporte que ela

certamente precisava. Minha irmã Angela, meus filhos Rafael e Renata com sua mãe

Regina me ajudaram muito neste objetivo.

VII – Harmonizando os múltiplos patrimônios

Ao harmonizar os dife-rentes instrumentos, é possível compor uma melodia rica e complexa.

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Hoje sua vida se reorganizou. Permanece a saudade, mas a cada dia é um novo

“olhar a frente” com projetos pessoais e sonhos que se tornam realidade. Perdemos o

pai, o marido e o avô, mas não perdemos nosso patrimônio familiar.

Professor de Wharton, uma das melhores escolas de negócio dos Estados Uni-

dos, Stewart Friedman tem levado estas reflexões para a sala de aula, em cursos bas-

tante concorridos. Em seu último livro (“Liderança total – seja um líder melhor, tenha

uma vida mais completa”, ainda não lançado no Brasil), ele sintetiza o método que

desenvolveu para auxiliar as pessoas a alinhar os diferentes objetivos de vida e buscar

resultados significativos e realização pessoal. Ele utiliza com maestria a metáfora da

orquestra. Ao harmonizar os diferentes instrumentos, é possível compor uma melodia

rica e complexa. “Talvez, em determinado momento da partitura, haja um solo de sa-

xofone, mas as participações do trompete, do piano e da bateria é que adicionam ri-

queza à música. Um não precisa ficar em silêncio para que o outro possa tocar”, con-

cluiu o autor.

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Dedico a Edson Jacintho, mestre na arte de harmonizar competência empresarial com

valorização do Ser Humano.

Parte II Crônicas do caminho

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O mercado é muito acolhedor. Basta ver o número de novos negócios que sur-

ge diariamente. Mas o mercado é também implacável. É só verificar o número de ne-

gócios que também desaparece a cada dia.

Muitos empreendedores acreditam que basta produzir ou vender algum bem

ou serviço para estar diante de uma possibilidade de negócio. Isso é apenas “meia ver-

dade”. Negócios concebidos desta forma possuem ciclos de vida curtos e agonizam

enquanto apenas sobrevivem. O mercado é generoso,

ainda mais num país em construção como o Brasil, aco-

lhendo e permitindo a participação de quase todos, até

dos pouco competentes. Mas este mesmo mercado, tão

real e intangível, só presta homenagens aos que dão o

toque do artista aos seus negócios. Entenda por toque

do artista ao alinhamento inteligente entre as três principais definições estratégicas de

um empreendimento: a escolha do foco de atuação, dos diferenciais competitivos e

das competências internas.

“Todo mundo é cliente!” Essa é a afirmação mais infeliz que um empreendedor

pode fazer. Todo mundo e ninguém é quase a mesma coisa. Quando uma empresa

está se propondo a atender a todos, acaba implicitamente decidindo não dedicar-se a

ninguém, ao menos com a atenção e competência que este ser tão especial – o cliente

– tem exigido. Decidir por um foco sempre foi um exercício difícil para muitos empre-

endedores, que enxergam o mercado como um imenso e inesgotável manancial de

faturamento. Ainda mais que a focalização realmente gera redução de mercado, po-

dendo sugerir um faturamento inexpressivo. Mas focar uma determinada parcela do

mercado funciona como a poda das plantas.

Podar significa deixar determinada planta com três ramos de botões de flores,

por exemplo. Com isso, a planta canaliza os seus recursos para um número relativa-

mente pequeno de brotos. Embora pareça mutilada na época da poda, ela ressurge

Empresário ou artista?

Centrar foco é também a escolha para onde deverão ser canalizados a atenção, os esforços e as idéias de todos na empresa moderna.

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viçosa no tempo certo. Confúcio nos dizia que “o homem que caça dois coelhos não

pega nenhum”. Centrar foco é também a escolha para onde deverão ser canalizados a

atenção, os esforços e as idéias de todos na empresa moderna. Significa pensar sem-

pre no cliente, nas suas necessidades, nas soluções para seus problemas, nas possibili-

dades de surpreendê-lo através de inovação e da criatividade.

No século passado, não tão distante assim, ser o primeiro ou ter o maior peda-

ço da pizza que representava o mercado era a meta de muitas empresas. No atual

momento, ser líder em um determinado segmento é o grande desafio. Mais que ser

um pedaço maior da pizza, o importante é posicionar-se na mente do cliente e ser

sempre lembrado por ele. E essas lembranças devem dar água na boca, e não uma

desagradável sensação de indigestão.

Para ser lembrado é preciso conquistar a liderança em alguma categoria, em

determinado foco, mas para isso é preciso acreditar que a demanda não é uniforme.

Nenhum produto ou serviço consegue agradar a todo mundo. Quando se conquista a

liderança, isto por si só é um diferencial competitivo. Mas, para atuar com arte no

mercado, é preciso pensar em outros diferenciais competitivos e desenvolver as com-

petências adequadas.

O toque do artista está justamente em conseguir alinhar o foco escolhido, os

diferenciais competitivos e as competências internas. Será que você consegue?

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Estamos vivendo uma das maiores mudanças filosóficas que a sociedade já ex-

perimentou nos últimos tempos. Pode parecer uma constatação por demais óbvia. E é

mesmo. Mas não consigo me calar ao ver, feliz, pessoas com coragem de tomar deci-

sões que contrariam o status quo mas fortalecem a prática dos seus valores, e, por

consequência , sua razão de viver. Falo de projeto de vida, de coerência entre valores e

atitudes, da percepção de que ao menos esta vida é única.

Desde a Revolução Industrial, talvez até

desde bem antes, já que existem algumas cita-

ções bíblicas assim interpretadas, o ser humano

passou a cultivar o trabalho e suas obrigações

decorrentes como principal foco de sua vida. Daí

até o culto aos workaholics da década de 80 foi

um pulo. E num planeta eminentemente capitalis-

ta, fica difícil dissociar trabalho de dinheiro. Assim, forma-se o círculo vicioso de mais

trabalho para mais dinheiro que exige mais trabalho e por aí se caminha. A sociedade

de consumo, feliz, aprova e apóia este sistema, sem se dar conta que ele, entre outros

males, gera um enorme contingente de excluídos, tanto do trabalho como do dinheiro.

Além dos excluídos de si mesmo.

Hoje, apesar das máquinas terem absorvido boa parte do trabalho humano de

séculos e décadas passadas, tem-se a nítida sensação de que há menos tempo disponí-

vel. Há quantas semanas você não tem tempo para si e seus amigos? Qual a última vez

que se permitiu “jogar conversa fora”? Bem diz Oswaldo Montenegro na sua A Lista:

“faça uma lista dos grandes amigos que você mais via há 10 anos atrás. Quantos você

ainda vê todo dia, quantos você já não encontra mais?” Ou Domenico De Masi, em A

Economia do Ócio, editora Sextante: “As máquinas absorveram de forma crescente o

trabalho humano, mas não liberaram o homem do trabalho. Não lhe restituíram o

tempo. Quanto mais o homem delega à maquinaria o esforço físico, mais se vê tentado

a preencher o tempo que lhe sobra multiplicando suas preocupações intelectuais. E

A aventura de escolher o próprio destino

A sociedade de consumo, feliz, aprova e apóia este sistema, sem se dar conta que ele, entre outros males, gera um enorme contingente de excluídos, tan-to do trabalho como do dinhei-ro. Além dos excluídos de si mesmo.

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como estas preocupações são todas reguladas por normas, acordos, contratos, contro-

les e prazos, enquadram-se muito mais na natureza do trabalho que na do tempo li-

vre.”

Esquecemos que igual a hoje, só mesmo hoje. E que nossos filhos não voltarão

a ser crianças, que nunca mais poderemos buscá-los no colégio ou nas festinhas e que,

daqui a pouco, eles é que vão querer nos ensinar as artimanhas da vida sexual.

Em trabalhos de aconselhamento que realizo com profissionais quase sempre

bem sucedidos na carreira e financeiramente, consigo notar um elo comum: a falta da

expectativa da felicidade. Um duro golpe para quem

tem muito. São pessoas que, em certo momento de

suas vidas, passam a questionar o porquê de tudo. E

muitas vezes chegam à conclusão de que suas atitudes

ao longo da vida foram dissociadas de seus valores

mais pessoais. Construíram um império mas esquece-

ram-se de construir a si próprios, a família, o amor, as paixões pessoais. E ficam tristes

com isso. E procuram mudar enquanto é tempo. E sempre há o tempo de começar.

“Começar de novo e contar comigo, vai valer a pena ter amanhecido” como nos ensina

o Ivan Lins. Muitos são levados à forçosa reflexão após receber pancadas da vida: uma

separação, filhos sem afetividade, um enfarte e outras mazelas. Mas vejo, exultante,

que hoje cresceu a preocupação da sociedade como um todo com a qualidade de vida

e, principalmente, a coerência entre os valores e as atitudes. Várias são as reportagens

sobre o tema, os “cases” que ouvimos dos amigos e a procura por ajuda. Treinamentos

alternativos também estão acontecendo aos montes. Num deles, nos Estados Unidos,

executivos são colocados em frente a bandidos de todo tipo. O objetivo é fazer com

que os executivos ouçam atentamente o que os bandidos têm a dizer. Invariavelmente

eles falam de seus valores: liberdade, família, sentido de vida, amores vividos. Enfim,

das coisas de que foram privados. A conclusão a que os executivos chegam é que tam-

bém estão presos. São escravos do tempo, dos compromissos, das viagens de negó-

cios, das “necessidades” financeiras. E saem dali bem diferentes.

Muitos são levados à for-çosa reflexão após receber pancadas da vida: uma separação, filhos sem afe-tividade, um enfarte e outras mazelas.

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Pare um pouco para pensar. Faça uma lista das coisas que você não precisa e

veja quanto está pagando por elas. Faça sua cotação em moeda emocional que, afinal,

é a que mais vale. Descubra onde estão os maiores desperdícios de tempo. É mesmo

preciso trabalhar tanto? Será necessário ganhar mais dinheiro do que realmente ne-

cessitamos? Por que postergar o hoje e viver só no amanhã?

Tente descobrir o quanto você se escravizou ao estereótipo do corpo malhado,

da roupa de griffe ou dos valores da moda? Será que você não anda meio afastado de

si próprio? Onde está sua felicidade: no porta malas do carro do ano ou naquelas coi-

sas que você gostaria de ser e não é, de fazer e não faz?

Abasteça-se de amor e pegue a estrada da mudança. Não tenha medo da esta-

ção de chegada. Lá certamente tem alguém muito especial à sua espera: você!

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Já fui Auditor-Fiscal do Trabalho. Como aqueles três ex-colegas que, acompa-

nhados do motorista, foram cruelmente assassinados em Minas Gerais. Senti muito

esta perda, pois, apesar de não conhecê-los pessoalmente, era, de alguma forma, toda

uma categoria profissional que ali estava representada. E, em meio às imagens da cha-

cina divulgada pela imprensa, recordei-me das inúmeras viagens que realizei ao interi-

or do Brasil a procura do trabalho escravo e do aviltante desrespeito ao ser humano,

muito mais atingido que apenas o trabalhador.

Era, sem dúvida, um trabalho árduo e arriscado, como ainda o é, mesmo que qua-

se sempre sob a proteção da Polícia Federal.

Dormimos várias vezes em alojamentos precá-

rios, facilmente visados. Andávamos por estradas

que poderiam ser bloqueadas a qualquer mo-

mento com troncos de madeira, gerando situa-

ções que me recusava sequer a imaginar. Apesar

de adulto, não informava aos meus pais algumas

destas viagens, com medo de impedir-lhes as

boas noites de sono que merecem.

Eu sabia que, além dos riscos, era um trabalho de formiguinha, tentando remediar

o ranço de escravidão que ainda persiste neste Brasil tão moderno e tão precário. A

relação capital-trabalho ainda é muito permeada pela disputa, pelo medo e pela mais-

valia. Nossos trabalhadores, mormente os da zona rural, na maioria das vezes desco-

nhecem até seus mais elementares direitos, como água potável ou jornada de traba-

lho. E mesmo quando conhecem, sentem no cotidiano o que é não ter voz ativa, o que

é submissão ou até o que é não ser livre e protagonista da própria vida.

Imaginando o sofrimento das famílias dos quatro funcionários públicos tão covar-

demente atingidos, comecei a me indagar sobre os motivos que levaram pessoas a

cometer tal barbaridade. E as possibilidades são inúmeras, além da antiga rivalidade já

Morte anunciada

Do guarda de trânsito ao auditor de tributos conhecemos inúme-ros casos de verdadeiro abuso de autoridade, de gente despre-parada para o exercício da fun-ção pública, de frustrações pes-soais resolvidas na base da “te-rapia da carteirada”.

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mencionada. Dinheiro, interesses escusos, poder pessoal e tantas outras que, infeliz-

mente, muitas vezes são molas propulsoras de pessoas e sociedades. Uma das possibi-

lidades não pode ser desprezada: a arrogância, o autoritarismo e a soberba que algu-

mas de nossas autoridades públicas constantemente praticam no desempenho do seu

ofício. Não posso julgar o caso em questão, já que me faltam subsídios para tal, mas é

inconteste que muitos de nossos empresários têm uma raiva, quase sempre contida,

dos absurdos que muitas vezes permeiam a atividade de fiscalização pública no país.

Do guarda de trânsito ao auditor de tributos conhecemos inúmeros casos de verdadei-

ro abuso de autoridade, de gente despreparada para o exercício da função pública, de

frustrações pessoais resolvidas na base da “terapia da carteirada”. Isto sem falar em

corrupção.

Infelizmente já presenciei diversas situações de ex-colegas que, considerando-se

acima do bem e do mal, humilharam publicamente empresários e gerentes, extrapo-

lando, em muito, sua função de orientar e punir àqueles que infringem a lei. Assisti a

coisas que envergonham muito mais que uma categoria profissional: envergonham

nossa suprema condição de seres humanos.

Atitudes arrogantes deixam um rastro de ódio, rancor e impotência. Os mesmos

sentimentos que muitas vezes o trabalhador nutre pelo seu patrão. E o medo de de-

nunciar e ser eternamente perseguido pelo corporativismo deixa a raiva adormecida

até o dia em que ela vira úlcera, infarto ou uma rajada de metralhadora, matando pes-

soas sérias e competentes, que, Deus permita, compõe a maioria das nossas autorida-

des constituídas.

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Negócios previsíveis já não são mais comuns. Que o digam as crises que invari-

avelmente assolam os mercados mundiais e nos deixam inseguros diante do futuro

incerto. Além da crise, ou por causa dela, fusões e aquisições, reduções de custo e re-

estruturações constantes ocupam as manchetes. A internet e outros meios de comuni-

cação recentes estão modificando as expectativas do consumidor. Custos e mercados

globais passam por altos e baixos de hora em hora. Stephen Covey, autor de “Os 7 Há-

bitos das Pessoas Altamente Eficazes”, chama esse novo clima nos negócios de “turbu-

lência permanente”, e quem não conseguir se manter neste ritmo será tragado por

ele.

Os métodos de ontem simplesmente não funcionam num mundo em turbulên-

cia. Tradicionalmente, os gerentes administram de dentro do sistema e se concentram

em fazer as coisas da forma correta. Os líderes, con-

tudo, trabalham sobre o sistema e se concentram em

fazer as coisas certas. O papel gerencial ainda é es-

sencial e desempenha uma função vital nas Organiza-

ções, mas a liderança de vanguarda é indispensável

para tornar o gerenciamento mais eficaz.

O líder deste novo milênio precisa desenvolver, significativamente, seu pensa-

mento estratégico e com isso incorporar ao cotidiano algumas atitudes potencializado-

ras da liderança, como descobrir caminhos, alinhá-los, fortalecer pessoas e gerar con-

fiança.

Descobrir caminhos consiste na habilidade de apontar o caminho que conecta o

que sua empresa deseja ardentemente oferecer com o que seus clientes desejam ar-

dentemente receber. Para fazer isso, você e sua equipe precisam definir a missão e os

valores da empresa e criar uma visão e uma estratégia que unam os desejos de ambas

as partes envolvidas.

Liderança na crise

Líderes fortalecedores trazem à tona o talento, a energia e a contribuição das pessoas, criando con-dições que promovam a criatividade, a habilidade e o potencial que existe nelas.

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Se descobrir caminhos identifica uma trilha, alinhar a pavimenta. As empresas

devem estar perfeitamente alinhadas com os resultados que querem obter. Pense nis-

so. Se sua empresa não está obtendo os resultados que deseja, é provavelmente devi-

do a um desalinhamento em alguma parte da Organização. E não há pressão, exigência

ou insistência que possa mudar um desalinhamento. Assim sendo, como líderes, você

e seu pessoal devem trabalhar para modificar seus sistemas, processos e estruturas a

fim de alinhá-los com os resultados desejados e que foram identificados na descoberta

dos caminhos.

Líderes fortalecedores trazem à tona o talento, a energia e a contribuição das

pessoas, criando condições que promovam a criatividade, a habilidade e o potencial

que existe nelas. Paulo Freire certa vez disse que “Não há saber mais ou saber menos.

Há saberes diferentes.” Respeitando e utilizando “os saberes” das pessoas, estas se

sentirão mais capazes de agir pela empresa, que se alinhou e está seguindo os cami-

nhos que todos ajudaram a criar.

O coração da liderança de vanguarda é gerar confiança nas pessoas. Um líder

não vale só pelo que ele faz, mas também pelo que ele é. Em outras palavras, é impor-

tante estar atento ao equilíbrio essencial entre a competência e o caráter. Um indiví-

duo de grandes habilidades jamais será um grande líder se o seu caráter for questioná-

vel.

Aí está o desafio. Você percebeu que, em tempos de crise e de tanta transformação de

conceitos, valores e atitudes, tanto nas empresas como na sociedade, é cada vez mais

difícil ser um líder realmente de vanguarda. Mas não há outro caminho. Empresas e

países precisam urgentemente desta nova liderança. Sem ela, correm o risco perma-

nente de deixar passar o “bonde da história” e perder espaço no mundo cada vez mais

competitivo. Ao invés de reclamar do que o futuro nos reserva, que tal criá-lo?

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Trabalhar nas áreas de treinamento e consultoria tem feito de mim um via-

jante contumaz, pelos mais diversos rincões de nosso país. Mais que uma opção profis-

sional, é a vida que escolhi viver, com saldo, na minha avaliação, bastante positivo.

Não quero falar do preço que pago por esta opção, mas das inúmeras oportunidades

que ela me proporciona. Uma delas, sem dúvida, é conhecer nosso país e nossa gente.

Não me refiro à urbanidade das 27 capitais onde já estive, mas ao Brasil ru-

ral produtivo, interiorano, de botina e canivete. Do Brasil que hoje mistura o cheiro da

terra com o laptop, a saca de semente com o GPS. Como cresce, pulsa e empolga este

Brasil.

Há pouco estive em Balsas, MA, cidade nova construída com o dinheiro da

soja e que, orgulhosa, te oferece restaurantes dignos de capital. Também em Campo

Verde, MT, onde você encontra uma das melhores fibras de algodão produzidas no

mundo, tratadas com a mais alta tecnologia. Ou

ainda em Luiz Eduardo Magalhães, interior da Bahi-

a, onde o hotel tem até elevador panorâmico. Posso

falar da criação de búfalos do Iraçu Colares, no A-

mapá, da produção de frutas em Petrolina ou ainda

das inúmeras propriedades mecanizadas do Tocan-

tins, nosso mais novo Estado.

Por onde ando vejo uma nova “safra” de empresários rurais altamente

comprometidos com práticas gerenciais modernas, com o planejamento estratégico, a

inovação tecnológica e também com o investimento no seu capital intelectual. Pessoas

que não se contentam mais apenas em rezar para São Pedro ou reclamar do Governo,

mas que percebem a importância de conhecer a cotação de seus produtos na Bolsa de

Chicago, que aprenderam a negociar em bloco, fortalecem sua representação política

O novo empresário rural brasileiro

E numa rápida análise, per-cebemos que o Governo Federal, apesar de alguns louváveis esforços, ainda não conseguiu uma atuação moderna e ágil em relação às políticas agrícola e agrá-ria.

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junto ao poder público e atuam de forma decisiva e coerente na administração de seus

custos de produção.

Esta parcela tão importante do Brasil está fazendo a sua parte e espera que

os outros coadjuvantes do processo produtivo também façam o “dever de casa”. E

numa rápida análise, percebemos que o Governo Federal, apesar de alguns louváveis

esforços, ainda não conseguiu uma atuação moderna e ágil em relação às políticas

agrícola e agrária. Regras mudam ao sabor do vento e planejamento de longo prazo

torna-se miragem. Vide o problema do desmando nas ocupações de terras produtivas

que estamos vivendo. Isto sem falar na política de financiamentos a juros altos para

quem precisa e subsidiados para quem não vai construir absolutamente nada.

O produtor rural brasileiro está amadurecendo na sua condição de empre-

sário. Moderniza-se, investe e acredita no enorme potencial agropecuário deste nosso

Brasil. É preciso que o Governo, de forma urgente e independente da cor partidária,

preocupe-se com a sua contrapartida, dando condições de “produzibilidade” adequa-

das e direcionadas às reais necessidades do novo homem do campo. Só assim seremos

destaque num mercado mundial cada vez mais competitivo.

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Certa vez, duas moscas caíram num copo de leite. A primeira era forte e valen-

te. Assim, logo ao cair, nadou até a borda do copo. Como a superfície era muito lisa e

suas asas estavam molhadas, não conseguiu escapar. Acreditando que não havia saída,

a mosca desanimou-se, parou de se debater e afundou. Sua companheira de infortú-

nio, apesar de não ser tão forte, era tenaz e, por isso, continuou a se debater e a lutar.

Aos poucos, com tanta agitação, o leite ao seu redor formou um pequeno nódulo de

manteiga no qual ela subiu. Dali levantou vôo para longe.

Tempos depois, a mosca tenaz, por descuido, novamente caiu num copo, desta

vez cheio de água. Como pensou que já conhecia

a solução daquele problema, começou a se de-

bater na esperança de que, no devido tempo, se

salvasse, como da vez anterior. Outra mosca,

passando por ali e vendo a aflição da compa-

nheira, ofereceu ajuda. A mosca tenaz respon-

deu:

- “Pode deixar que eu sei como resolver este problema.”

E continuou a se debater mais e mais até que, exausta, afundou na água e mor-

reu.

Quantas empresas você conhece que se enquadram na situação acima? Lembra

da Mesbla, do Banco Nacional, das Casas Buri, da Brastel e de tantas outras que eram

cases de excelência no passado? Onde estão agora?

O ser humano (lembre-se que empresário também é ser humano...) infelizmen-

te é escravo da memória. Tende a repetir as atitudes e comportamentos que geraram

sucesso e a bloquear aquelas que, na época, não deram certo. Pergunte a quem está

saindo de um casamento conturbado quando será a próxima “experiência nupcial”. As

respostas invariavelmente são: -“Nunca mais me caso, Deus me livre”. Este é um e-

As moscas

O ser humano (lembre-se que empresário também é ser hu-mano...) infelizmente é escravo da memória. Tende a repetir as atitudes e comportamentos que geraram sucesso e a bloquear aquelas que, na época, não de-ram certo.

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xemplo claro de escravidão da memória. As experiências ruins de certa forma bloquei-

am a possibilidade das novas. Assim se passa na empresa. Muitas vezes um planeja-

mento estratégico mal elaborado, uma consultoria que não atingiu seus objetivos ou

qualquer fato que deixe marcas negativas na sua memória é suficiente para a perigosa

generalização. Coisas do tipo: “planejar é besteira”, “consultor não ajuda em nada” e

outras barbaridades que geralmente ouço pelo Brasil afora.

Outro dia estava fazendo uma Palestra em Campina Grande, na Convenção Lo-

jista da Paraíba, e contei uma estória que ilustrou este tema. Aos 6 anos de idade, em

almoço familiar, fui obrigado a comer quiabo. Naquela época era assim, não havia essa

mordomia de escolher a comida que a garotada tem hoje. Comi e detestei. E prometi

que não o faria nunca mais na vida. Passei os 30 anos seguintes sem comer o bendito

quiabo, até que um dia, visitando amigos no nordeste, fui homenageado com um jan-

tar onde o prato principal era caruru – camarão com quiabo. Sem querer ser desele-

gante, comi o quiabo e, pasmem, gostei. Concluí que foram 30 anos preso a uma expe-

riência negativa, sem me permitir experimentar o novo e o renovado.

Da mesma forma acontece com as experiências positivas. Gostamos de repetí-

las sem antes analisar os ambientes interno e externo e sua viabilidade, o que é ex-

tremamente perigoso. Frases como “time que está ganhando não se mexe” e “aqui na

empresa sempre fizemos assim” têm cada vez mais atrapalhado a luta das Organiza-

ções pela inovação e pela excelência. Empresários e profissionais acomodados, espe-

rando um primeiro fracasso para só então tomar as atitudes de mudança necessárias

são situações infelizmente ainda comuns. Caso você, leitor, não se enquadre nestes

exemplos, esteja certo de que já possui parte do tão cobiçado diferencial competitivo,

essencial para seu sucesso profissional e pessoal.

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A cada ano que passa cresce o interesse de Pessoas e Organizações pelo tema

"criatividade". Fala-se em empresas inovadoras e pessoas criativas da mesma forma

que se falava em organograma, hierarquia e rol de atividades há pouco tempo atrás.

Cresce a demanda por treinamento e workshops nesta área e criatividade torna-se

parte integrante dos cursos de liderança, relações interpessoais, motivação, planeja-

mento estratégico, e outros mais. Será o inicio de uma nova era, o despertar do milê-

nio? Ou será que a "caixa preta" da criatividade foi aberta e descobriu-se que não era

tão assustadora assim? Quem sabe mais um modismo inventado para arrancar dinhei-

ro das empresas?

Passaríamos muito tempo analisando todas estas

hipóteses. O fato concreto é que o desenvolvimento de

comportamentos criativos, menos vinculados a proce-

dimentos pré-determinados, tornou-se prática obrigató-

ria na empresa que, por demandas de mercado, precisa

estar sempre se reinventando. Pode parecer até meio

antagônico falar de criatividade e padronização de pro-

dutos, serviços e processos, mas é isso mesmo que está acontecendo: padronização e

criatividade podem e devem andar juntas. Afinal, com a facilidade de acesso à infor-

mação e à tecnologia que existe hoje, nada mais diferenciador do que a marca, reflexo

da imagem da empresa. E marca se faz com a inovação constante dentro de um pa-

drão estabelecido a partir do foco, do mercado, do nicho, da cultura e tantos outros

componentes.

E as Pessoas, como ficam nesta estória? Fazendo ou pensando? Obedecendo ou

se rebelando? Acomodadas ou inquietas? Um pouco de cada, a meu ver, dependendo

da situação vivida e, principalmente, dela mesma, com seus valores, sua natureza, seu

jeito de ser feliz.

Às vezes tenho a impressão de que tentam vender a idéia do "ser criativo" co-

Criatividade no trabalho e na vida

Às vezes tenho a im-pressão de que tentam vender a idéia do "ser criativo" como um chip que você pode colocar dentro do seu cérebro e acessar sempre que ne-cessário.

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mo um chip que você pode colocar dentro do seu cérebro e acessar sempre que ne-

cessário. Coisas do tipo: agora eu vou ser criativo, daqui a meia hora eu desligo, ama-

nhã religo novamente... Ser criativo tem óbvia relação direta com os ambientes inter-

no e externo, ambos nem sempre favoráveis. Inovar, reinventar, e outros "ar" são sau-

dáveis, sem dúvida. Ajudam-nos na formulação de novas perspectivas. Mas muitas

vezes podemos estar tramando contra nossa própria natureza, mudando aquilo que

não precisa ser mudado.

O processo criativo, nas Pessoas e Organizações, deve ocorrer de forma espon-

tânea, natural e, principalmente, com respeito às individualidades. Ou você ainda a-

credita naquele chefe rígido da empresa inflexível que, num belo dia, anuncia que a

partir daquela data todos podem ter idéias novas e que elas serão testadas e respeita-

das pela empresa?

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O ano de 1997 parece estar muito mais distante do que a cronologia nos indica.

Foi lá que tomei a decisão de trocar salário certo e estabilidade pelo sonho de viver e

ganhar dinheiro fazendo o que me fascina. Apesar de consciente, garanto que não foi

uma decisão fácil. Pressões externas e internas, ambas veladas, me faziam pensar nas

dificuldades de enfrentar o mercado. Filhos adolescen-

tes, ainda casado, histórico de funcionários públicos na

família, quase tudo era contra. Restava, “do outro la-

do”, o sonho, grande impulsionador da vida! E este se

mostrou imbatível. Aderi ao primeiro PDV do Governo

Federal, decisão que inclusive foi tema de um artigo

meu publicado na Revista Exame.

Passaram-se muitos anos e muita coisa mudou na minha vida. A maioria delas

para melhor, muito melhor. Mas foi grande o aprendizado, com erros e acertos, e gos-

taria de dividi-los com o leitor de VOCÊ S.A., já que Programas de Desligamento Incen-

tivado tornaram-se praxe corporativa.

As principais atitudes que, a meu ver, devem ser tomadas antes da decisão são:

- Conversar, conversar e conversar com amigos, familiares, dependentes, colegas

de trabalho e todos que possam mostrar outros pontos de vista;

- Reavaliar seus valores e projetos pessoais e profissionais;

- Checar se suas qualificações na nova ocupação estão coerentes com as expec-

tativas de mercado;

- Certificar-se de todas as regras e direitos embutidos no Programa;

- Lembrar-se sempre que a vida é sua, que você é o protagonista da sua história

e que coragem é um atributo dos vencedores.

Digamos que você, como eu, tenha resolvido dar adeus ao trabalho anterior. O

que fazer agora?

O PDV, muitos anos depois

Uma das melhores coi-sas da vida é o fato das experiências serem úni-cas e, talvez por isso, tão

fascinantes de serem vividas. Ninguém ama-

durece só com vivências alheias.

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- Cuidado, você não está rico! A sua indenização deve rapidamente transformar-

se em investimento financeiro e não, por enquanto, em qualidade de vida (via-

gens, troca de carro etc.);

- Se você já vem tendo uma carreira paralela, entenda que o “bico” de antes a-

gora é sua principal fonte de renda; em caso contrário, prepare-se para uma

provável queda no padrão de vida nos primeiros tempos;

- Trabalhe muito mais do que você trabalhava antes; não permita que a falta do

“cartão de ponto” deixe a falsa impressão de ociosidade;

- Participe de Associações de Classe, produza material de divulgação e utilize sua

rede de relacionamentos para alardear seu novo momento profissional;

- Não se descuide do constante preparo: leia, ouça, participe de eventos, esteja

“plugado”.

Uma das melhores coisas da vida é o fato das experiências serem únicas e, tal-

vez por isso, tão fascinantes de serem vividas. Ninguém amadurece só com vivên-

cias alheias. Mas temos que considerar o fato de que, no mercado cada vez mais

competitivo que vivemos, aprender com o erro dos outros vai gerar, ao menos,

uma boa economia de tempo. Boa sorte!

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Dedico aos queridos amigos e amigas, parceiros na caminhada pela vida.

Parte III Crônicas do cotidiano

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Temos complicado mais que o necessário. Gastamos o tempo livre com com-

promissos evitáveis. Buscamos ansiosamente um tempo futuro de paz e tranquilidade

que podíamos ter hoje. Lutamos bravamente por mais dinheiro do que realmente pre-

cisamos.

São tempos de paradoxos. Uns trabalham demais, outros de menos. Muitos

comem pouco, e gostariam de comer mais e melhor, enquanto outros fazem regime

para emagrecer. São tempos de contrastes.

Em tempos assim, precisamos nos cuidar mais, pensar mais, buscar a coerência

necessária com a coragem de quem pratica seus valores. O sociólogo italiano Domeni-

co De Masi, um pensador contemporâneo que nos

instiga à reflexão, coloca com muita propriedade

que a revolução tecnológica tem escravizado o ser

humano, ao invés de libertá-lo para investir seu

tempo naquilo que realmente pode valer a pena. O

telefone celular, esta engenhoca maravilhosa que

reinventou o tempo, tem gerado em alguns tama-

nha dependência que virou peça obrigatória do

vestuário. A mesma coisa é com a internet e o correio eletrônico, que reinventou dis-

tâncias, encurtando o mundo. Uma tecnologia aliada, desde que não gere a angústia

do compromisso de verificar a caixa de mensagens 10 vezes ao dia...

E assim vamos destrinchando todas essas coisas boas que o progresso tecnoló-

gico tem gerado e que, se utilizadas com parcimônia e inteligência, vêm agregar e não

subtrair o mais precioso dos bens: o tempo. E como fazer?

Diminuindo o peso da mala que carregamos vida afora, quase sempre repleta

de tralhas desnecessárias. Desfazendo-se de costumes que mais atrapalham que aju-

Simplificar

E assim vamos destrinchan-do todas essas coisas boas que o progresso tecnológico tem gerado e que, se utiliza-das com parcimônia e inteli-gência, vêm agregar e não subtrair o mais precioso dos bens: o tempo.

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dam. Revendo rotinas. Criando o hábito de perguntar, sempre: precisa ser assim? Pos-

so simplificar? Quase sempre podemos.

Invariavelmente complicamos demais, “compromissamos” demais e nos abor-

recemos muito mais que deveríamos com situações que realmente não merecem o

investimento de nosso tempo e de nossas emoções. É preciso resgatar o tempo, pre-

cioso tempo de vida. Para andar descalço, olhar o céu, namorar e amar como se não

houvesse amanhã. É possível. Basta simplificar. E querer!

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Não sei o que tem Belém, no Pará. Nada na minha história de vida me remete a

tais paragens (a não ser um longínquo bisavô português, numa improvável associação

com as inúmeras lembranças de Portugal que Belém me inspira), mas na verdade cada

vez que vou à Belém fico mais fascinado com seu astral. Sinto-me absolutamente em

casa.

Na verdade, o norte do Brasil, com todos os seus contrastes, sempre me encan-

tou. O jeito cantado dos inúmeros sotaques, a comida recheada de peixes e temperos,

a gostosa desorganização de suas cidades, a sexualidade aflorada desde cedo, o prazer

de receber bem.

Meu ofício de consultor de empresas e facilitador de grupos possibilitou conhe-

cer bem todos os seus estados, com exceção de Roraima, onde só fui à Boa Vista. Já

vasculhei Rondônia, Acre, Tocantins, Amazonas, Pará e

Amapá, estes dois últimos de maneira muito especial. O

Amapá é um caso de amor antigo, diferente de tudo o

que já vi e experimentei. Macapá mora no meu cora-

ção, mas isto é tema para outra crônica. Nesta eu quero mesmo é refletir com você,

leitor, sobre as razões do fascínio pelo Pará e, especificamente, por Belém. Andei a

pensar: gosto do clima, do povo, da comida, até do carimbó. Mas estes “gostares” es-

tão presentes em inúmeras outras cidades do Brasil. Curto muito o forró de Caruaru, o

vento em Fortaleza ou o sorvete em Aracaju. E também a amizade tão divertida da

Renira, lá em Natal. Então por que esta sensação de “especialidade” que sinto em Be-

lém? Procuro pelas especificidades: viajei muito pelo interior do Pará e sempre fui

muito bem recebido; conheci a Ilha de Marajó, única, num momento muito especial,

pois foi lá que vivi três dias (que valeram por três meses) de tórrido romance com uma

jornalista local, hoje bem casada. Será que foi alguma destas experiências tão marcan-

tes? Será que foram todas elas juntas? Sinceramente não sei.

Belém, again

Então por que esta sen-sação de “especialida-de” que sinto em Be-lém?

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O que realmente sei é que estou num Airbus da Tam na rota Belém-Brasília. Sei

que fiz ontem uma palestra sobre a Energia da Motivação Pessoal para 600 pessoas e,

pelas demonstrações explícitas da platéia, creio ter agradado. Sei que à noite fui às

Docas, na beira da Baía de Guajará, beber cerveja e ouvir Lucinha Bastos. Sei que no

café da manhã do Hilton, que começa a ser servido às quatro e meia da manhã, tinha

tapioca e cuscus. E também sei que gostaria muito de pedir ao piloto para fazer meia

volta.

Ah, Belém, Belém, vamos sempre nos dar bem.

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O editor me pediu para escrever algo sobre estas duas cidades e a princípio

relutei. Imaginei que o tom da reportagem fosse o de disputa, do tipo “qual é o me-

lhor”. Todo lugar tem seu charme, sua graça, e merece

ser visitado, curtido, fotografado e lembrado. Ao perce-

ber que não era escolher a melhor o objetivo da revista,

mas sim informar a seus leitores as principais caracterís-

ticas de cada uma, quase topei. Faltava saber: por que

eu? A resposta me convenceu: “queremos alguém que

conheça as duas cidades e tenha um bom currículo de viajante.”.

Capitulei. Afinal, viajar para mim é mais que trabalho e estudo. É “muito prazer

em conhecer”. Por isso troquei uma vida de mais consumo pelas minhas viagens pelo

Brasil e o mundo.

Tudo valeu a pena e ainda quero muito mais. A cada nova edição desta revista

viajo em sonho pelas reportagens. Sonhos que, algumas vezes, são concretizados. E lá

vou eu para a Patagônia, Tunísia, Praga, Oiapoque, Lavras Novas, Canindé de São Fran-

cisco e as parecidas Bonito, no Mato Grosso do Sul e Nobres, em Mato Grosso.

Bonito é organizada, rigorosa na preservação de suas belezas, com excelentes hotéis,

guias preparados e boas opções de vida noturna.

Nobres é improviso, simpatia, expectativa, pousadas familiares, noite olhando o

céu, belezas a descobrir.

Não dá pra dizer qual é a melhor. Quer uma sugestão? Conheça a duas e depois

escolha. Se conseguir.

Nobres ou Bonito? Fiquem com as duas!

Não dá pra dizer qual é a melhor. Quer uma sugestão? Conheça a duas e depois escolha. Se conseguir.

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Começou com a entrada “triunfal”, em dia de decisão, no Estádio Olímpico de

Munique, bem no comecinho dos anos 90. Chorei, por que não? O momento valia.

Outros inexplicáveis aconteceram. Talvez Freud explique, mas não estou muito inte-

ressado. A entrada do Magic Kingdom na Disney World ou a Basílica de São Pedro, no

Vaticano. “Um homem também chora...”.

Achei que o “fenômeno” se repetiria na Acrópole, em Atenas. É absolutamen-

te espetacular, ainda mais quando nos lembramos do contexto histórico envolvido.

Mas as razões do coração são misteriosas e guardei

tudo para Rhodes. Ao ver o navio se aproximando da

ilha, com o sol nascendo, corri para o terraço no pretex-

to de fotografar. E o fiz. Mas ao me perceber ao largo

da colossal Rhodes – com trocadilho, por favor – com

todas aquelas muralhas costeando o mar absolutamente azul, constatei o inevitável.

Lágrimas por estar vivo na história até então restrita aos livros? Pela beleza do lugar?

Talvez...

Mas provavelmente por outros motivos também. Alguns andares abaixo ainda

dormiam pessoas que amo. E, nestes dias, estávamos fazendo história, a nossa delicio-

sa história de vida.

Louvei e agradeci aos deuses. Gregos.

O incorrigível chorão

Lágrimas por estar vivo na história até então restrita aos livros? Pela beleza do lugar? Tal-vez...

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Caio Martins (ou Mestre Ziza), situado na acolhedora “Nikiti” (Niterói, RJ, para

quem ainda não conhece o apelido) é o antigo estádio do Botafogo. Palco de algumas

alegrias e grandes decepções. E digo isso com a autoridade que me conferem os mais

de 40 anos de saudável, às vezes nem tanto, torcida pelo alvinegro.

Tudo começou em 1967, nas minhas primeiras idas ao Maracanã com meu avô.

Ele era ex-diretor e ferrenho torcedor do hoje quase extinto América e eu estava a

procura de um time para torcer. Bem que ele tentou,

mas não deu. O Botafogo tinha um timaço na época e

ganhava todas. Um menino de oito anos quer sempre

torcer pelo que ganha e aí começou meu “calvário”.

Hoje sou incapaz de citar um terço do time atual e tal-

vez me lembre da metade dos gloriosos campeões bra-

sileiros de 95. Mas aquele time de 67 (tá bom, vai lá:

Manga, Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir; Carlos

Roberto e Gérson; Zequinha, Roberto, Jairzinho e Paulo

César) ficou, evidentemente, na memória.

Até aos 18 anos frequentei muito o Maracanã. Viajei com a torcida para São

Paulo e outros cantos, enfrentava chuva, tinha carteirinha da Torcida Jovem. Outros

interesses foram surgindo, estudo, trabalho e passei a acompanhar de longe, sem fa-

natismo e às vezes nem mesmo de longe. Interrompo este distanciamento voluntário

muito de vez em quando, naqueles momentos de possibilidade da conquista. Aí volto a

ser o adolescente que acompanha o noticiário, discute na esquina, veste a camisa e

põe adesivo no carro. Nesses raros momentos o racional dá lugar à emoção de ser al-

vinegro.

Comparo meu amor ao Botafogo com aquele que nutro pelos amigos distantes,

como o Raul, Magrinho ou Jorge Augusto : por estarem longe, às vezes ficamos muito

Caio Martins, sábado à noite

Acho que é assim que vou me sentir hoje à noite, quando, após muitos anos, voltarei ao Caio Martins para torcer pelo retorno do “Fogão” à primeira divisão do futebol brasileiro. O lado racional vai perder para a emoção do torcedor.

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tempo sem nos falarmos. Quando nos encontramos é uma festa, uma troca, um re-

lembrar e sonhar juntos.

Acho que é assim que vou me sentir hoje à noite, quando, após muitos anos,

voltarei ao Caio Martins para torcer pelo retorno do “Fogão” à primeira divisão do fu-

tebol brasileiro. O lado racional vai perder para a emoção do torcedor. E aquele ado-

lescente longínquo que ainda vive dentro de mim vai certamente entrar no estádio

sorrindo, com olhos cheios d’água, gritando Foooogo! Fooogo! com toda sua força,

como se nada tivesse acontecido nos últimos 40 anos, como se Jairzinho ainda estives-

se em campo para fazer mais um gol de letra no Flamengo.

Definitivamente, não é só o futebol que me leva hoje ao estádio.

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Nos nossos tempos casa-se por amor, geralmente quando é possível. Algumas

conveniências ajudam, mesmo mascaradas, mas a base da relação é a atração pessoal

que se transforma em amor.

Em tempos remotos foi diferente. O amor era conquistado na convivência. Ou

não. Outros interesses sobrepujavam o desejo pessoal de viver junto.

A vida é vivida em ciclos e ouso supor que estamos ensaiando o início de uma

nova era nas relações afetivas, mais individualista e egocêntrica, onde se constata,

para sobressalto de alguns, que o homem apaixonado é um ser absolutamente passio-

nal e ridículo. Fica indefeso e cai facilmente em armadilhas. Perde a vontade própria e

vive em função do objeto de sua paixão. Não enxerga o óbvio e facilmente se frustra.

Esquece de si e está sempre a um passo do abismo e de

tomar atitudes das quais, certamente, um dia vai se ar-

repender. Um ser apaixonado é certamente mais capaz

de ferir e ser ferido.

Caminhamos para o meio termo. O amor maduro é mais companheirismo e

menos paixão, mesmo no seu início. Não é só conveniência, mas também o é. O gostar

de estarem juntos, os valores compartilhados, interesses complementares, afinidades,

tudo é importante. Mas a individualidade consentida, o respeito aos momentos de

introspecção, o estabelecimento de limites claros e a convicção de que duas vidas não

se tornam uma fazem a vida a dois mais amena e estável.

Talvez perca um pouco a graça, mas nada é perfeito, principalmente quando

se trata de gente.

Racionalizar a emoção

O amor maduro é mais companheirismo e me-nos paixão, mesmo no seu início.

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Na minha “tenra” idade, começa a ser mais comum ir a casamentos dos filhos

dos amigos do que dos próprios. Por isso imediatamente bloqueei minha agenda de

trabalho quando recebi a notícia e o convite do casamento do Magrinho.

Aos quarenta e quatro anos, apaixonado pela Márcia, resolveu tomar a sábia

decisão. É claro que a “encomenda” da Carolina, gerada, como ele mesmo disse, “nu-

ma noite especial de amor pleno e sem controle”, facilitou a decisão que, no seu inte-

rior, já estava tomada. Lembrei-me na mesma hora da minha encomenda precoce, há

24 anos, que hoje se transformou num bem sucedido piloto da aviação comercial. Vale

a pena, Magrinho!

Trabalhei até o fim da tarde do dia 14, peguei um avião e dia 15 estava lá, às

10 em ponto, na igrejinha do Alto da Boa Vista. O cara estava nervoso, sem dúvida. E

ficou ainda mais com o exagerado atraso da noiva, cau-

sado involuntariamente por várias incertezas do Ford 37

que a trazia ao altar. Por trás do nervosismo, uma e-

norme felicidade. Dele e minha. A dele, por motivos

óbvios. A minha, pelo prazer de estar ali, compartilhan-

do aquele momento.

Enquanto a noiva não chegava, vivíamos de amenidades. O doce relembrar

do Colégio Santo Inácio com o Costinha e a Rosana e das tardes de trabalho em grupo

na casa do noivo, sempre um grande pretexto para vermos a Silvana, sua irmã, musa

eterna escolhida por todos os colegas e que hoje, tal qual os bons vinhos, continua a

nos encantar.

A noiva finalmente chega. Os violinos dão ao ar a sua graça. O ambiente troca

a descontração pela emoção, cada um trazendo consigo sua carga, nem sempre pesa-

da, de lembranças e sentimentos. A noiva, grande estrela da manhã, não foi meu foco.

Acabei concentrando minhas atenções no pai da Márcia e no Magrinho. Impossível não

O casamento do Magrinho

Os mais próximos sabem que eu choro fácil. Com o Hino Nacional, com o do Botafogo também,

com a medalha do atleta vencedor e o pampam-

pam do Senna.

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me imaginar entrando na igreja com a Renata. Talvez este dia nunca chegue, pois as

escolhas serão dela. Mas a minha imaginação transcende às convenções e modismos e

me vi, emocionado, no papel de pai da noiva.

Os mais próximos sabem que eu choro fácil. Com o Hino Nacional, com o do

Botafogo também, com a medalha do atleta vencedor e o pampampam do Senna. Por-

tanto, nessa hora começou o morde lábio-olha-pra-cima-sorri amarelo. Inútil resistir.

Ao olhar o amigo no altar, olhos igualmente marejados esperando pela sua amada,

desisti de resistir. Lembranças de quase 30 anos, quando ajudamos o Magrinho a con-

quistar a Giovanna, sua primeira musa, misturaram-se ao presente, ao fim de um ciclo

e início de outro na minha vida amorosa. Deixei as lágrimas verterem. Que se dane!

Homem chora e eu mais ainda. O motivo é nobre. Magrinho estava feliz e eu também.

Um brinde com espumante selou este momento de paz e felicidade.

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Chove lá fora. Não importa. Gostar de estar aqui transcende o tempo... e o

tempo. Não sei o dia, talvez quarta ou quinta. Algo em torno das 11 da manhã. E con-

tinua chovendo lá fora. O cheiro da terra molhada misturado ao da maresia e ao baru-

lho do mar constrói o cenário de paz e tranquilidade. O ócio permitido e necessário

começa a gerar resultados, como a vontade de escrever, de arrumar o quarto, de pen-

durar novos quadros e velhas lembranças. Aqui celular não pega, o estresse também

não. A prontidão ativa do cotidiano é trocada pelo ritmo mais lento, mais reflexivo. A

correria perde a rotina e ganha um lugar na rede, quase sempre depois do almoço.

O mundo pode parar. Senti essa gostosa sensação ontem à noite, ouvindo

música ao lado da Carol. Algumas taças de um bom cabernet e a sensação de plenitude

tomando conta de mim. Talvez até mesmo a tão falada

felicidade estivesse escondida ali, nas pequenas coisas

da vida. Que se tornam grandes quando se ama e é a-

mado. A alma inundada por uma sensação de que nada

pode ser melhor.

Lembrei-me de alguns momentos parecidos,

apesar da natureza diversa. Um deles foi em Conceição do Araguaia, no sul do Pará.

Um resgate emocional de um grupo de pessoas que parecia perdido. Alunos insatisfei-

tos com a proposta do curso e com os desempenhos anteriores e eu ali, com 8 horas

para reverter o quadro. Um baita desafio, que exigiu o melhor de mim. Entrei de cabe-

ça no resgate e às 10 da noite, ao final dos trabalhos, exausto e feliz, percebi o resulta-

do no brilho dos olhos de cada um do grupo. Estava feito. E bem feito.

Todos se foram, coloquei uma música que não me lembro qual e, olhando a

imensidão do Rio Araguaia cortejado pela lua, me senti absolutamente feliz. Queria

perenizar, eternizar aquele momento. O mundo poderia parar que eu ficaria ali, vendo,

ouvindo, lembrando e sentindo.

Maricaliz

Todos se foram, colo-quei uma música que não me lembro qual e, olhando a imensidão do Rio Araguaia cortejado pela lua, me senti abso-lutamente feliz.

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É muito bom sentir-se assim. Como naquele dia no Pará, como ontem à noite

em Maricá. É combustível puro para achar graça na vida, mesmo nos momentos nem

tão especiais assim. Para entender que, com altos, médios e baixos, a vida flui e vale a

pena viver.

Ainda bem que estou aqui. Com chuva, vento, mar, vinho e amor. Ainda bem

que estou aqui, comigo. E estar mais aqui talvez um dia seja possível. Ou inevitável.

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Meu filho é piloto da TAM. E de Airbus 330, igualzinho ao da Air France. Prati-

camente toda semana viaja para alguma capital européia, passando pela tal “zona de

convergência”. Ao coração do pai angustiado só resta pedir a Deus que ilumine seu

caminho e dos passageiros que ele conduz.

Logo após o acidente ainda inexplicado da Air France, conversamos longamente

ao telefone. No dia seguinte ele decolou para Londres e, segundo seu relato, foi um

vôo tranquilo e sem sobressaltos. Nesta longa conversa

acalmou meu espírito com 2 argumentos irrefutáveis,

um bem racional e outro resultado da emoção e do

autoconhecimento.

O primeiro: “Pai, morrem por ano mais pessoas assassinadas no Rio de Janeiro

que em acidentes aeronáuticos.” O segundo, definitivo: “A morte não nos pertence. A

vida sim. E eu sou apaixonado por fazer essas máquinas voarem.”

Diante de tanta sabedoria, meu coração se acalmou. É vivendo intensamente,

fazendo o que se gosta e amando as pessoas que estão à nossa volta que pavimenta-

mos a vida e justificamos esta dádiva. Até quando Deus quiser.

O pai do piloto

“Pai, morrem por ano mais pessoas assassina-das no Rio de Janeiro que em acidentes aero-náuticos.”

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Por mais que eu leia e conheça novas idéias, algumas até fascinantes, Do-

menico de Masi continua sendo meu “guru”. Volta e meia me vejo as voltas com suas

idéias povoando meus pensamentos. Principalmente aqui e agora - terça-feira, 11 de

outubro dos 46, sozinho na noite calma de Chapada dos Guimarães. O vento fresco em

contraste ao calor cuiabano, o silêncio invadido pela MPB e pelo crepitar do carvão no

inevitável churrasco e também pelo...êpa.... toque do celular.

Confesso minha dificuldade de compartilhar deste pensamento do escritor

italiano - trabalho e lazer vivendo em promiscuidade. Identifico-me com o ócio criati-

vo, a necessidade de ter tempo para o que realmente

importa e a “desescravização” do trabalho. Até com o

verso: divertir-me enquanto trabalho – quantas vezes

fiz isso! Difícil é o reverso: estar no mais absoluto con-

tato comigo e com o universo, num velho calção de

banho com o dia (ou à noite) pra vadiar e permitir ao

trabalho a invasão desta minha essencial privacidade.

Vou precisar treinar, me esforçar, já que a mudez vo-

luntária do celular já chegou aos mais de 10 dias segui-

dos. Será possível?

Estou treinando. Meu projeto de vida me cobra este esforço – quero em

breve (que breve é este?) viver mais integrado comigo mesmo, pé no chão, na areia,

louvando diariamente o Deus Sol e a Deusa Água. E trabalhando. Menos, sem dúvida,

mas trabalhando. E o modelo que eu enxergo hoje me exige esta prontidão: fechar um

negócio enquanto caminho na praia, marcar uma palestra entre um e outro banho de

cachoeira, atender um cliente sob um céu estrelado.

É o mais próximo que consigo imaginar como paraíso terreno.

O toque do celular

E o modelo que eu en-xergo hoje me exige esta prontidão: fechar um negócio enquanto cami-nho na praia, marcar uma palestra entre um e outro banho de cachoei-ra, atender um cliente sob um céu estrelado.

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Ano que vem completo 25 anos de formado. Às vezes parece que foi há uma e-

ternidade. Outras vezes parece que foi ontem. Mas uma coisa é certa: que saudade

tenho deste tempo e dos amigos que cultivei! Alguns permanecem amigos e outros se

perderam no tempo. Agora com o Orkut, quem sabe consigo reencontrá-los. Aliás,

outro dia a Regina, minha tão querida professora de Estatística do segundo ano me

encontrou na “rede”. Foi muito bom sabermos um do outro – ela se encantou ao saber

que meu filho mais velho, que ela conheceu ainda bebê, hoje é piloto da TAM! Quan-

tas lembranças e quantas mudanças na vida!

Passei por alguns momentos difíceis na minha trajetória acadêmica. Um deles foi

a distância da família e da namorada, pois resolvi estudar numa Universidade em outro

estado. Acostumar-me com o frio de Viçosa (MG) tam-

bém não foi fácil, como para muitos agora será “uma

barra” encarar o calorão cuiabano. A semana de provas

até hoje me traz arrepios: era muito café com coca cola

pra estudar, vencer o sono e “fazer bonito” no dia seguinte. Do bandejão sem a menor

criatividade nem se fala – quase todo dia serviam uma almôndega de carne “tão sabo-

rosa” que logo foi apelidada de granada...

Vivi muitos bons momentos também. Professores inesquecíveis, que certamente

exerceram enorme influência sobre mim. Colegas e amigos solidários, como o Leo, o

Gero, o Fabiano, o Ricardo e tantos outros. As farras dos fins de semana e a emoção

suprema que era...entrar de férias! O orgulho de saber que estava me preparando com

qualidade para o exercício de uma profissão e a expectativa da chegada do dia da for-

matura.

Trago no meu coração alguns arrependimentos. Quem não os tem na vida? Tal-

vez pudesse ter aproveitado melhor as aulas e a competência dos docentes. Certamen-

te poderia ter utilizado mais a tão rica biblioteca. Ou começado a estagiar mais cedo.

Sejam todos bem vindos

Trago no meu coração alguns arrependimentos. Quem não os tem na vi-da?

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Mas estes arrependimentos não me angustiam: fiz o melhor que podia ter feito naque-

la época.

Esta é a principal mensagem que quero passar a vocês, calouros deste semestre:

aproveitem! Façam o melhor que puderem, porque um dia vocês certamente percebe-

rão que o tempo passa muito mais rápido que a gente imagina. Cada um de vocês terá

uma trajetória própria, como eu tive a minha, e ela deve ser motivo de orgulho. Vivam

intensamente estes seus “momentos universitários”. Façam história para mais tarde,

muito mais tarde, contá-la aos netos. Carpe Diem!

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Há muito se discute a aplicação prática da palavra privilégio. Privilégio é o que

merecemos? Ou o que conseguimos obter e viver sem considerar o merecimento? É

algo que recebemos à margem da maioria? Bônus ou direito? Confesso que não sei e

também não vou buscar no Aurélio a definição preten-

samente correta. Afinal, hoje é quinta-feira, estou em

Maricá, e neste exato instante contemplo a tarde, o

mar, o sol. Por alguma razão, ou pela falta dela, comecei

a pensar sobre privilégios...

Há poucos meses, conversando com o Gilberto

Dimenstein, perguntei sobre, afinal de contas, onde ele

morava. A resposta foi cristalina: “metade do tempo na

Bahia, pois, como bem disse o Caribé, eu mereço.” Merecimento ou privilégio? Ah,

gostaria de merecer morar metade do meu tempo em Maricá, como hoje, ouvindo

música, vento, mar, amando até acima das minhas forças, sempre tão renovadas

quando aqui estou.

Não sei se mereço. No fundo acho que sim. Cumpro direitinho meu papel soci-

al e não me sinto irresponsável. No trabalho as coisas caminham sem a minha presen-

ça. Sinto-me bom pai, bom filho, talvez até bom irmão e ex-marido. Quem sabe, numa

avaliação não muito rigorosa, bom ser humano. Feliz, sobretudo. Querendo viver cada

vez mais, no eterno recomeçar. Ansioso pelo Natal, talvez o mais diferente entre todos

que tive na vida. Também pelo fim do século, agora de verdade, tão mais leve que no

do ano passado. Renascido, revivido, novamente de pé, olhando a vida de frente, me

permitindo o eterno refazer de planos e soluções. Não é privilégio. Acho que mereço.

Privilégio ou merecimento?

Ah, gostaria de merecer morar metade do meu tempo em Maricá, como hoje, ouvindo música, vento, mar, amando até acima das minhas for-ças, sempre tão renova-das quando aqui estou.

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As férias começaram e terminaram de forma parecida mas também diferente:

com um almoço. A diferença foi na forma: o do início, comemorando o aniversário do

Rafa, levou mais de 2h. Teve entrada, chope e até bolo no final. O do fim foi rápido, 15

minutos, pois o avião não iria nos esperar. Acho que por isso vim matutando sobre o

tema “Unidade na Diversidade” e acabei percebendo que as férias foram assim. Será

que a vida também não o é?

Na “Babel Maricaense” experimentamos isso. A

diversidade saltava aos olhos. Uns preferindo vinho,

outros uísque, até coca cola. MPB ou pagode? Bacalhau

ou carne moída? Praia ou piscina? Acordar cedo ou tar-

de? Novela ou livro? Planejar as horas seguintes ou a

ceia do ano que vem? Acho que a única unaminidade

era mesmo o sol...

Mais diversidade no futebol, nas viagens escolhidas, na gestão das relações, até em

relação à espécie canina: uns venerando e outros preferindo vê-los na lista dos animais

em extinção...

Onde está a Unidade então? Creio que no respeito mútuo, no aceitar o outro

como ele é, até mesmo no curtir esta salada mista de tantas variedades e perceber

que seria muito monótono se todos fossem iguais.

Que bom ver Maria se esmerando por uma feijoada cada vez melhor, Flávio

trocando o saco cheio pelo saco solto, Lucas ganhando sempre no Perfil e os olhos de

deslumbramento da Marina ao ser apresentada a uma das mais lindas cidades do

mundo.

Férias na diversidade

Creio que no respeito mútuo, no aceitar o ou-tro como ele é, até mesmo no curtir esta salada mista de tantas variedades e perceber que seria muito monó-tono se todos fossem iguais.

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Que bom ver Dona Suzette com sua planilha Excel registrando a opinião de to-

dos, o que sobrou, faltou, o que será repetido ou inovado no reveillon 2009 (sim, por-

que o de 2008 já está planejado há muito tempo...). Dr. Jorge sempre ilustrando os

papos com algum caso pitoresco e interessante, qualquer que seja o assunto. Renata e

Mau mau tão juntinhos, as Carolinas tão presentes, a família Disney deixando claro

que, mesmo abrindo mão de maior conforto, curtem o Ano Novo em Maricá.

Cada um do seu jeito, cada um levando a vida como lhe convém ou lhe é pos-

sível. E interagindo, buscando interfaces e identidades. E, mesmo quando se encontra

poucas, curtindo o momento, sempre mágico!

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Carioca da gema, nascido e criado na zona sul, fui aos poucos me desiludindo

com a Cidade Maravilhosa e suas mazelas até resolver abandoná-la, há alguns anos.

Como não podia fazer algo radical, do tipo Trancoso ou Jericoacoara, optei por Niterói,

que oferece os confortos profissionais que preciso mas mantém a alma de cidade pe-

quena, onde as pessoas ainda se falam.

Foi uma acertada decisão e já trouxe amigos comigo. Apesar de viajar bastante

a trabalho, consigo sempre arranjar um tempinho para

curtir as coisas boas da Nikiti. E são muitas.

Uma delas aconteceu há poucos dias, numa se-

quência de fatos que me fizeram pensar na tão falada

alma carioca da década de 60.

Cheguei à noite no Santos Dumont e quando me encaminhava ao ponto de ô-

nibus, vi passando o 740. Ainda estava longe da parada, mas arrisquei fazer sinal. E ele

parou! Como é o último ponto antes da Ponte, o cobrador fechou o caixa e saltou ali

mesmo, já que era sua última viagem do dia. Logo uma senhora se ofereceu para segu-

rar minha maleta. O ônibus estava cheio e um rapaz se aboletou na cadeira vaga do

cobrador e começou a puxar um sambinha. Vários cantavam e a cena que se via era

digna de Fellini: um bando de desconhecidos cantando sobre a Ponte Rio Niterói...

Um jovem fez sinal em frente à rodoviária de Niterói (ia para Charitas) e o jeito

foi levá-lo de carona. Aquele que estava no lugar do cobrador ainda tentou, de farra,

cobrar a passagem, mas a risada de todos mostrou ao rapaz que realmente não seria

preciso. Em frente ao terminal muita gente saltou, quase todos dando boa noite ao

motorista e passageiros. Parecíamos amigos de longa data.

Saltei logo em seguida agradecendo a idéia de ter vindo morar em Niterói. Foi

para cá que veio aquela alma carioca esquecida na saudade do Rio de outrora.

A alma carioca mora em Niterói

Vários cantavam e a cena que se via era dig-na de Fellini: um bando de desconhecidos can-tando sobre a Ponte Rio Niterói...

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Certa vez li em algum lugar que melhor que unir o útil ao agradável é unir o

agradável ao agradável. Uma verdadeira exaltação do desfrute, uma ode ao prazer. Há

tempos venho pensando sobre isso. Conheço pessoas que vão ao cinema, ao teatro, a

boates e restaurantes e parecem estar eternamente insatisfeitas, numa sociedade on-

de há muito lazer e pouco prazer.

Lazer e prazer são palavras que rimam e se assemelham no significado, mas

não se substituem. É muito mais fácil conquistar o lazer que o prazer. Lazer é assistir a

um show, cuidar do jardim, ouvir música, namorar, ba-

ter papo. Lazer é desopilação, é tudo que não é dever.

Automaticamente, associamos isso com o prazer: se não

estamos trabalhando, estamos nos divertindo. Simples

assim.

Em primeiro lugar, podemos ter muito prazer trabalhando – é só redefinir

seu conceito de prazer. Ou de trabalho. O prazer não está em dedicar um tempo pro-

gramado para o ócio. O prazer é residente, está dentro de nós e na maneira como a

gente se relaciona com o mundo.

Muitas vezes o próprio turismo, um dos ícones do lazer no século 21, pode

estar sendo mais imposição cultural que prazer. Pessoas aglomeram-se em filas de

museus e fazem reservas com meses de antecedência para comer no lugar da moda,

pouco desfrutando desses momentos. O importante é ir e, principalmente, dizer que

foi. É quase uma obrigação consumir o que está em evidência, ler o livro mais lido, ver

o filme mais visto, idolatrar a modelo mais cobiçada.

Algumas pessoas também têm feito turismo inclusive pelos sentimentos, pas-

sando rápido demais pelas experiências amorosas. Querem provar um pouquinho de

tudo, querem ser felizes mediante uma novidade. O ritmo é determinado pelas ten-

dências de comportamento, que exigem uma apreensão veloz do universo. Aquiete-se.

Prazer pelo prazer

Em primeiro lugar, po-demos ter muito prazer trabalhando – é só rede-finir seu conceito de prazer. Ou de trabalho.

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O prazer é mais baiano. O prazer não está em ler uma revista, mas na sensação de es-

tar aprendendo algo. Não está em ver o filme que ganhou o Oscar, mas na emoção que

ele pode lhe trazer. Não está em “ficar” com alguém, mas no encontro de almas.

O prazer está em tudo o que fazemos sem estar atendendo a pedidos. Está

no silêncio, no espírito, está menos na mão única e mais na contramão. O prazer está

em sentir. Uma obviedade que merece ser resgatada antes que a gente comece a unir

o útil ao útil, deixando de vez o agradável pra lá.

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Andar, correr

Pular e não cair

Abraçar sem doer

Sorrir

Energia prá trabalhar

Estudar, amar

Viver cada momento

E o momento saber valorizar

Viver são

Corpo livre, mente serena

Pura condição

Para a vida plena

No sofrimento e na dor

Das horas que quero esquecer

Aproveitei a chance

De reaprender a viver

Viver

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Parte I

Outono no Rio. Ed Mota tem razão, parece ser esta a melhor estação. Dias en-

solarados e frios. Bom para a praia, bom para o vinho. Calção e biquíni de dia, mole-

tom à noite.

Vivo dias de reclusão permitida, de um hiato na vida trabalhadora. Vida essa

que tem me proporcionado muito retorno positivo e

realização pessoal, mas vez por outra um desgaste físico

e emocional que acaba levando a uma revisão geral de

motor, carroceria e, principalmente, comandos. Talvez

até de conceitos. Sem e-mail e sem celular. Tentando

retomar velhos e novos pensamentos e desejos. Sem

pressa de chegar ou sair da praia, caminhando vagarosamente pelas ruas de Búzios,

onde o maior dilema é a escolha do restaurante. Carol está comigo e aos poucos va-

mos reconstruindo nossos sonhos e vivendo bons momentos após a derrapagem numa

das inúmeras curvas da vida.

No meio destes sonhos, que se confundem com projetos, um especial: em ple-

na segunda feira de manhã caminhar pela praia deserta, sentindo o cheiro e o barulho

do mar...

A possibilidade de ocupar por uma semana a casa de um amigo gerou este ca-

minhar tão necessário, onde voltar a escrever ganha destaque especial. Preciso produ-

zir mais, quero produzir mais. Quem sabe mais um livro ou uma coleção de crônicas e

artigos ainda não escritos ou guardados na gaveta e na alma. Só de pensar já me em-

polgo, volta a adrenalina.

Um homem de quarenta e poucos

Carol está comigo e aos poucos vamos recons-truindo nossos sonhos e vivendo bons momentos após a derrapagem nu-ma das inúmeras curvas da vida.

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As reflexões sobre mim mesmo, ora no silêncio essencial, como agora, ora em

voz alta, caminhando na orla Bardot, me ajudam a chegar a conclusões e, a partir de-

las, encontrar soluções.

Parte II

Sol morno da tarde. Escrevo agora ao ar livre, com uma cervejinha, esperando

os bolinhos de aipim com camarão que precedem, não necessariamente, o almoço.

Aqui se almoça tarde e se vive tarde, contrariando as normas urbanas. Também por

isso o relaxamento é evidente. Salta aos olhos. A música, sempre presente, entremeia

jazz, MPB e até Tribalistas. Todos bem vindos. Vêm à mente as questões pétreas da

vida, os grandes e pequenos projetos, aquilo que se realmente quer. Ajudando na re-

flexão, leio Lya Luft: “Carregamos muito peso inútil. Largamos no caminho objetos que

poderiam ser preciosos e recolhemos inutilidades. Corremos sem parar até aquele fim

temido e raramente nos sentamos para olhar em torno, avaliar o caminho e modificar

ou manter nosso projeto pessoal. Ou nem tínhamos desejos pessoais. Diluímos-nos

nas águas da sorte ou da vontade alheia. Ficamos tênues demais para reagir. Somos os

que se encolhem nos cantos ou sentam na beirada da poltrona dos salões da vida”.

Epílogo

Após os 40, que simbolicamente representam a

maturidade, a serenidade e o poder de escolha, nem

sempre nesta ordem, algumas coisas ficam óbvias. Unir

o agradável ao útil, como estou fazendo, é imperativo.

Na pior das hipóteses, mantendo o ditado no original, já

que vivemos em sociedade e, gostemos ou não, o ter

não pode ser solenemente desprezado ou ignorado.

Podemos é não dar tanta importância a ele tenho procurado transformar estes concei-

tos pessoais em atitudes concretas, o que invariavelmente me coloca angustiado dian-

te de Fernando Pessoa e sua idéia do valer a pena sem alma pequena. Às vezes vence

o poeta, às vezes o pragmatismo. Muitas vezes também surge a angústia de não saber

Percebo que cada vez mais os questionamen-tos da qualidade de vida ficam intensos e que quero ter sempre tempo para o que vale a pena. Como agora.

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exatamente que preço estou pagando para realizar sonhos e desejos que nem sei se

são reais. Que valores tenho praticado: os essencialmente meus ou os emprestados da

sociedade hipócrita?

Percebo que cada vez mais os questionamentos da qualidade de vida ficam

intensos e que quero ter sempre tempo para o que vale a pena. Como agora. Tempo

para mim, para a família, para o amor, os amigos, o trabalho, onde realizar leva à reali-

zação, e esses pequenos presentes que a vida nos dá todos os dias e que não deviam

passar despercebidos.

Nossa vida é plena. Somos seres plenos. Essenciais para o equilíbrio do planeta.

Importantes de fato para muitas pessoas, além de nós próprios. Não podemos nos

desperdiçar. Viver e não ter a vergonha de ser feliz.

O tempo passou e o sol já arrefece. As primeiras estrelas surgem me dizendo

que este é mais um dia bem vivido, entre tantos que insistimos em jogar fora. É bom

pensar na vida, mas vou parar por aqui. Um bom banho, uma roupa confortável e a

Rua das Pedras me aguardam. Preciso conhecer aquele restaurante argentino que o

Pecly recomendou. Parece que tem um bife de chorizo divino.

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Este livro é dividido em três partes distintas, cada uma com características bem

próprias. A primeira, chamada de “Harmonizando os Múltiplos Patrimônios”, é uma

reflexão sobre os principais valores da vida e a forma como os praticamos. Quando se

fala em “patrimônio”, geralmente remetemos nosso pensamento para as questões

materiais e financeiras. Por vezes nos esquecemos dos inúmeros outros patrimônios

que temos a administrar...

A segunda parte, chamada de “Crônicas do Caminho”, são artigos inéditos ou já

publicados e que tratam de temas da atualidade, de interesse pessoal ou profissional.

Para uma leitura mais rápida, mas igualmente reflexiva.

Já a terceira parte é a do relax e da diversão. São pequenas estórias, chamadas

de “Crônicas do Cotidiano”, que vão fazer você rir um pouco e, claro, também pensar

na vida.

Boa leitura!

Apoio Cultural:

www.jmcconsult.com.br