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DIAGNÓSTICO DA DESCENTRALIZAÇÃO FISCAL EM ANGOLA Maria Cristina Mac Dowell (Coordenadora) Érika Amorim Araújo Alexandre Sobreira Cialdini Nicoletta Ferruglio Luanda, agosto de 2006

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DIAGNÓSTICO DA DESCENTRALIZAÇÃO

FISCAL EM ANGOLA

Maria Cristina Mac Dowell (Coordenadora)

Érika Amorim Araújo

Alexandre Sobreira Cialdini

Nicoletta Ferruglio

Luanda, agosto de 2006

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1. INTRODUÇÃO

O Governo de Angola tem ressaltado como uma de suas prioridades a criação de

autarquias locais, com seus representantes eleitos directamente. Esse processo deve

ocorrer tentativamente até o ano 2010, conforme tem sido referenciado por autoridades

governamentais. Na compreensão dessas autoridades, as actuais administrações

municipais constituir-se-ão nos futuros governos autónomos formados pelos poderes

executivo e legislativo.

A criação de autarquias locais, entretanto, não se encerra na realização de eleições. É

fundamental que essas autarquias, uma vez instituídas, gozem de um mínimo de

autonomia na gestão dos recursos públicos, que deve ser baseada na busca da eficiência

e eficácia dos gastos públicos, com vista à maximização dos resultados.

O problema é que, mesmo levando em consideração o processo de desconcentração em

curso no país, poucas funções são actualmente atribuídas às administrações municipais,

restritas principalmente à manutenção de algumas actividades governamentais já

existentes, mediante recursos limitados, que são definidos e geridos pelos governos

provinciais.

Sendo assim, as administrações municipais não exercem nenhuma função relativa à

elaboração e execução de um plano de desenvolvimento económico e social para sua

localidade, por exemplo, nem tampouco têm experiência na gestão dos recursos fiscais.

Percebe-se, então, que as administrações municipais, na sua grande maioria, não estão

aptas a exercer as funções que lhes serão atribuídas quando se tornarem governos

autónomos.

Aqueles que são resistentes à conversão das administrações municipais em governos

autónomos ou até mesmo à descentralização fiscal argumentam que a falta de

capacitação dos administradores locais em relação à gestão pública dificulta ou até

mesmo pode impedir a transferencia de recursos para as administrações locais. Segundo

os defensores desse argumento é necessário ter capacidade para se transferir

responsabilidades e, por sua vez, recursos. Dessa forma, como as administrações locais

não têm capacidade de gestão então não se lhes pode atribuir funções e recursos.

É necessário então quebrar esse ciclo vicioso capacitando as administrações locais na

gestão dos recursos fiscais por meio da transferencia de um mínimo de recursos que

permita aos gestores locais aprenderem a gerir com responsabilidade os recursos

públicos. Para tanto, são também transferidas às administrações locais responsabilidades

também mínimas, vinculadas principalmente ao desenvolvimento social, de tal modo

que ao mesmo tempo em que esse mecanismo permite a capacitação na gestão dos

recursos públicos também auxilia na redução da pobreza.

Nesse sentido, o Ministério da Administração Territorial – MAT, em conjunto com o

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, propõe a criação do

Fundo de Desenvolvimento Municipal – FDM que tem como objectivo transferir

recursos não afectados do governo central para as administrações municipais. A

proposta do FDM é exactamente de prover as administrações municipais desses

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recursos mínimos que permitam a capacitação das futuras autarquias locais tanto para a

gestão do ciclo fiscal quanto para a promoção do desenvolvimento social permitindo,

por conseqüência, a redução da pobreza.

Inicialmente, o FDM será implantado nas quatro Administrações municipais que são

objecto do Projecto de Descentralização Fiscal e Boa Governação do MAT e do PNUD.

Ao longo dos próximos anos até a realização das eleições locais, o MAT tem como meta

replicar a mesma experiência em mais 37 administrações municipais, entre as quais as

18 sedes das províncias. O objectivo é capacitar pelo menos um total de 41

administrações municipais de tal forma que as mesmas estejam preparadas para assumir

a sua gestão fiscal e ao mesmo tempo permitir a implementação de acções que

colaborem com o desenvolvimento social de suas localidades com vista à redução da

pobreza. O projecto prevê a implementação do FDM antes do advento das eleições

locais, com vista a preparar as administrações municipais – futuras autarquias locais –

para as novas funções que vão assumir com o advento das eleições.

Com vistas a obter uma visão geral do estado das artes das relações intergovernamentais

em Angola bem como dos obstáculos a serem superados para a implementação do

FDM, foi proposta a realização de um diagnóstico acerca do estágio em que se encontra

a descentralização fiscal no país. Este é justamente o objectivo deste relatório.

Na construção desse diagnóstico, buscamos inicialmente apresentar uma síntese das

características sócio-econômicas do país conforme apresentada na secção dois. Nas

cinco secções seguintes fornecemos uma avaliação dos pilares das relações fiscais

intergovernamental. Assim, na secção três apresentamos o contexto político e

institucional da descentralização fiscal e Angola, quando destacamos a estrutura do

sector governamental e as legislações pertinentes. A atribuição das responsabilidades e

das receitas entre o governo central e os governos locais bem como uma análise dos

indicadores fiscais estão descritas nas secções quatro e cinco, respectivamente. Na

secção seis, ressaltamos a inexistência de um sistema formal de transferências

intergovernamentais em Angola e descrevemos o mecanismo de transferencia de

recursos do governo central aos governos provinciais. A secção sete busca apresentar e

analisar os princípios e o ciclo orçamental em Angola. Por fim, na secção oito são

apresentados alguns desafios para a descentralização fiscal em Angola.

O último pilar das relações fiscais intergovernamentais, que são os empréstimos

subnacionais, ainda não foi desenvolvido em Angola. Os governos locais não são

autónomos e, portanto, não possuem autorização legal para contraírem dívidas.

Portanto, não tratamos deste tema neste relatório.

Este relatório foi elaborado com base nas entrevistas realizadas com autoridades

governamentais durante missão técnica à Angola durante o mês de Agosto deste 2006.

Além disso, foram analisadas as legislações relativas à descentralização e os relatórios

já existentes.

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2 – CARACTERÍSTICAS GERAIS DE ANGOLA

2.1 – Aspectos Sócio-Econômicos1

Angola é um país da costa ocidental de África, limitado a norte e a leste pela República

Democrática do Congo, a leste pela Zâmbia, a sul pela Namíbia e a oeste pelo Oceano

Atlântico. Angola inclui também o turbulento enclave de Cabinda, através do qual faz

fronteira com a República do Congo, a norte. O território é divido em 18 províncias e

163 administrações municipais. A capital do país é a cidade de Luanda localizada na

província de mesmo nome.

Seu território de aproximadamente 1,2 milhões de Km2 coloca Angola na posição de

22° maior país do mundo.

Segundo informações obtidas junto ao Ministério das Finanças, a população angolana

totalizou 17,7 milhões de habitantes em 2005. Este número pode variar tanto para mais

ou para menos uma vez que o último Censo Demográfico realizado pelo Governo de

Angola foi em 1974. De acordo com os relatos obtidos nas entrevistas que precederam a

elaboração deste relatório, a população do país pode variar entre 10 e 20 milhões.

Mais da metade da população de Angola tem idade menor ou igual a 20 anos e a

expectativa de vida média é estimada em 42 anos. Cerca de 63% da população vive

abaixo da linha da pobreza e 80% das pessoas estão desempregadas. Mais da metade da

população, cerca de 58%, é analfabeta e a taxa de matrícula no ensino primário atinge

apenas 74% das crianças em idade escolar2.

O acesso da população aos serviços básicos é muito precário: 59% das pessoas não têm

acesso à água potável, 60% ao saneamento e 76% aos cuidados médicos. A parcela da

população que necessita de algum grau de auxílio alimentar corresponde a mais de 22%

do total e 13% das pessoas sofrem de desnutrição.

De acordo com os dados oficiais do UNHCR as pessoas deslocadas internas (IDPs) são

estimadas em 3,5 milhões e mais de 350.000 angolanos estão refugiados nos países

estrangeiros vizinhos, na maior parte na República Democrática de Congo e na Zâmbia

(UNHCR, 2003).

Considerando que os 17,7 milhões seja uma boa estimativa da populacional, a densidade

populacional do país é de 14,2 habitantes por Km2. A Província de Luanda, cuja

extensão territorial é de apenas 2.257 Km2, reúne mais de ¼ da população do país, o que

resulta em uma imensa densidade populacional – cerca de 2.069 habitantes por Km2.

Luanda é também a Província de Angola mais industrializada e com o maior

crescimento económico, que se deveu ao facto de praticamente não ter sofrido

directamente os efeitos da guerra civil. Isto também explica a grande densidade

populacional.

1 Os indicadores sociais bem como as estatísticas macroeconômicas de Angola ainda são precários. O país

está em processo de organização dessas informações e, em razão disso, os dados apresentados a seguir

devem ser vistos como uma estimativa. As fontes de informações nem sempre são oficiais.

2 UNDP, 2003.

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A guerra comprometeu profundamente a estrutura produtiva do país: retirou forças de

trabalho das actividades produtivas e destruiu a maior parte da infra-estrutura básica e

do sistema do transporte (somente 10% das estradas existentes são asfaltadas - WB,

2004). Grande parte do território está inacessível devido às minas (há ainda 6-7.000.000

de minas em cerca de 35% da superfície do total do país, INAROE, 2002).

A economia de Angola apoia-se essencialmente nas exportações de petróleo cujas

jazidas estão localizadas principalmente em Cabinda3. A produção de petróleo

corresponde a 61% do PIB de Angola, enquanto 8% são provenientes da agricultura e

apenas 4% da indústria.

De acordo com informações prestadas pelo departamento de estudos do Ministério das

Finanças, o PIB do país totalizou 35,7 milhões de USD em 2005. A expectativa para

2006 é de forte crescimento real do produto – aproximadamente 27,9% - em razão da

elevação internacional dos preços do petróleo. Espera-se que apenas este sector

apresente um desempenho real de 37,2%.

O PIB per capita de 2005 foi da ordem de 2.018 USD, o que coloca o país na 104ª

posição no rank mundial. Segundo estimativas do FMI, essa posição é de 109°

colocado. Já no continente africano, Angola aparece como um dos países de maior PIB

per capita.

Classificação dos países por PIB per capita – 2005 (USD)

Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_GDP_%28nominal%29_per_capita.

Fonte Primária: FMI (2005).

Embora o PIB per capita angolano não seja tão baixo comparativamente aos demais

países da África, seu índice de desenvolvimento humano (0,381) é tão reduzido quanto

o desses países. No contexto mundial, o IDH de Angola ocupa a 161ª posição no rank.

3 Maiores detalhes sobre as características gerais de Angola podem ser encontradas na enciclopédia livre

Wikipédia no endereço: http://pt.wikipedia.org/wiki/Angola. Não há, contudo, garantias de que as

informações estejam atualizadas em razão da dificuldade de se obter estatísticas sócio-econômicas do

país.

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Classificação dos países por IDH

Disponível em:

http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_

countries_by_Human_Development

_Index. Fonte: United Nations

Development Programme Report

2005.

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3 – A DESCENTRALIZAÇÃO FISCAL EM ANGOLA: CONTEXTO POLÍTICO E

INSTITUCIONAL

3.1 – O tamanho de sector público em Angola e um retrato do grau de

descentralização

Em 2005, as despesas globais do governo angolano totalizaram 11.037 milhões de USD

ou 30,9% do PIB.

As receitas globais foram da ordem de 11.310 milhões de USD ou 31,7% do PIB. Já as

receitas fiscais – que excluem os recursos provenientes da amortização de empréstimos,

da venda de activos e dos financiamentos interno e externo, totalizaram cerca de 9.522

milhões de USD ou 26,7% do PIB.

A principal fonte de receitas foram os recursos obtidos a título de cobrança de impostos,

taxas e contribuições – ou seja, os recursos tributários que somaram aproximadamente

8.133 milhões de USD ou 22,9% do PIB.

Considerando a distribuição das despesas por nível de administração, constata-se um

baixo grau de descentralização fiscal em Angola: em tono de 84% dos gastos globais

foram executados directamente pelo governo central.

Tabela 3.1

Grau de Descentralização das Despesas em Angola: 2005

2004 2005

TOTAL 100 100

Estrutura Central 84,5 84,7

Províncias 15,5 15,3

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

A preponderância do governo central também é observada pelo lado das receitas. Do

total de receitas fiscais colectadas em Angola, apenas 13% couberam ao conjunto de

províncias e municípios que integram o país.

Outro ponto de destaque diz respeito à forte concentração da arrecadação de receitas

fiscais (sejam elas atribuídas aos governos central ou locais) na Província de Luanda.

Dos 26,7% do PIB gerados em 2005, apenas Luanda respondeu por cerca de 95,7%.

O mesmo fenômeno ocorre pelo lado dos gastos públicos. Há uma alta concentração das

despesas na Província de Luanda, que sozinha respondeu por mais de 25% do total dos

gastos realizados pelos governos locais.

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Tabela 3.2

Grau de Descentralização Regional das Despesas em Angola: 2005

2004 2005

TOTAL 100 100

Província de Luanda 28,7 26,0

Demais Províncias 71,3 74,0

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

3.2 – Ambiente político e administrativo para descentralização

Angola tornou-se independente em 1975. Em abril de 2002, o Governo de Angola e a

UNITA (União Nacional pela Libertação Total de Angola) assinaram o Protocolo de

Lusaka (acordo de paz) dando fim a 27 anos de guerra civil. O Protocolo de Lusaka

(Meijer, Ed, 2004:74) estabelece: “Reconciliação nacional significa que de acordo com

a Lei Constitucional da República de Angola a administração do país seja efectivamente

descentralizada e desconcentrada” e que “Autoridades provinciais devem ter autonomia

na matéria administrativa, financeira, tributária e econômica”.

A Constituição de 1992 estabelece (art. 145-7) que “A organização do Estado no nível

local compreende a existência de governos subnacionais (autarquias locais) e estrutura

administrativa local”. De acordo com a Lei Constitucional, as autarquias locais devem

ter órgãos representativos eleitos. Durante os anos 1990, apesar do conflito armado, o

Executivo introduziu uma importante legislação sobre a descentralização e

desconcentração: Decreto Lei 17/1999 e Decreto Executivo 80/19994.

Não obstante, devido à instabilidade política, diversidade étnica, e ideologia adoptada

pelo Governo, Angola tem demorado a implementar etapas substanciais para a

descentralização e governação local. Em conseqüência, desde a independência, Angola

construiu um governo altamente centralizado que inibe a governação participativa.

Grande parte dos serviços públicos básicos é prestada a partir de uma perspectiva

central, afastada das necessidades da população mais pobre.

Um compromisso visível do governo rumo à descentralização emergiu nos anos

recentes. No fim de 2001, o governo aprovou o Plano Estratégico para a

Desconcentração e Descentralização. Essencialmente, o plano prevê um processo

gradual de descentralização, que primeiro deve passar pela desconcentração, até

culminar na criação de autarquias locais autônomas5.

No ano de 2003, o conselho dos Ministros aprovou o Estudo sobre a Macro Estrutura do

Poder Local (MAT/UNDP, 2003). O estudo desenvolve um diagnóstico do governo

local em Angola de 1975 a 2002. O estudo também fez recomendações para uma

reforma sadia da descentralização no país, que foram aprovadas pelo Conselho de

4 A estrutura legislativa para descentralização e governação local está descrita em maiores detalhes na

seção 3.4.

5 Ver seção 3.5 para maiores detalhes.

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Ministros (Setembro 2003). As principais recomendações relacionam-se às funções dos

governos subnacionais, às relações funcionais entre os diferentes níveis do governo

local, à parceria local e aos recursos organizacionais, nomeadamente os humanos e

financeiros. As recomendações do estudo foram incluídas em algumas políticas

nacionais chaves: o Plano Estratégico para Redução da Pobreza (PRSP), a Estratégia

Nacional para o Desenvolvimento de Longo Prazo (2005-2025) e o Plano de

Desenvolvimento de Médio Prazo (2005-2011). Os programas de governo (2003-2004 e

2005-2006) propõem uma visão detalhada para reformas para a desconcentração e para

a descentralização.

O Primeiro Encontro Nacional sobre a Administração Local, aberto oficialmente pelo

Presidente da República, ocorreu de 30 de Agosto a 02 de Setembro de 2004, com a

participação de Ministros do Governo, Governadores Provinciais, Administradores

Municipais e Comunais. O governo consequentemente está envolvido com uma

devolução do poder às municipalidades, culminando em uma futura eleição municipal,

com uma revisão estrutura legal, administrativa e financeira para a descentralização.

Não obstante, falta ao Governo de Angola um documento formal da estratégia para

descentralização como também planos concretos e uma programação de tempo para

realização de eleições locais.

Há, no entanto, um amplo e contínuo apoio no Parlamento, no Governo e na sociedade

civil para as reformas da descentralização e para o desenvolvimento de autoridades

municipais autônomas, dentro de uma estrutura unitária do Estado. Uma nova

constituição já foi esboçada, mas ainda não foi aprovada. E, mesmo com a ausência de

Autarquias, há um Gabinete para Assuntos Autárquicos no Ministério da Administração

do Território, o que demonstra certo compromisso do Governo com a descentralização.

Na proposta da nova constituição prevê-se a criação de governos locais eleitos com

autonomia administrativa e financeira.

Entretanto, as perspectivas e o cronograma para a criação actual das autarquias locais

permanecem obscuros. Nada é esperado para acontecer antes da eleição presidencial que

deve ocorrer em 2009. Também, dependendo dos resultados dessa eleição, a agenda da

descentralização pode tornar-se mais lenta ou acelerada, de tal forma que ninguém pode

fazer previsão no actual estágio.

3.3 – Estrutura do sector governamental em Angola

O Decreto-Lei 17/99, também conhecido como Lei dos Governos Locais, define a

natureza, atribuições, composição e estrutura orgânica de cada um dos níveis de

administração local. De acordo com este decreto, a divisão político-administrativa dos

Governos Locais é a seguinte: 18 governos provinciais, 163 municípios e 532 comunas.

As três camadas dos governos locais são hierarquicamente relacionadas e integradas ao

governo central.

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Províncias

De acordo com o Decreto-Lei 17/99, os governos provinciais são órgãos

desconcentrados do poder central que tem como função “assegurar a realização das

atribuições específicas da Administração do Estado, orientar o desenvolvimento

econômico e social e assegurar a prestação dos serviços comunitários da respectiva

área geográfica”. Cabe aos governos provinciais, desta forma, executar a política do

governo central ao nível provincial, coordenar as agências do governo central no

território (Direcções Provinciais e Delegações Provinciais), bem como supervisionar as

administrações municipais e comunais e as autoridades tradicionais.

O Governador da Província, nomeado pelo Presidente da República, é o representante

do governo central na respectiva província. Os Vice-Governadores, também nomeados

pelo Presidente da República, podem receber do Governador a função de acompanhar,

tratar e decidir assuntos em determinadas áreas. No caso específico da Província de

Luanda existem três Vice-Governadores responsáveis pelas áreas técnica, social e

produtiva, respectivamente.

A estrutura orgânica dos governos provinciais compreende os serviços abaixo listados.

Serviço de Apoio Consultivo:

Conselho provincial

Serviço de Apoio Técnico:

Gabinete Jurídico

Gabinete de Inspecção e Fiscalização

Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística

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Secretária de Governo

Gabinete de Apoio e Controlo das Administrações Municipais e Comunais

Serviços Administrativos:

Gabinete do Governador

Gabinete dos Vice- Governadores

Centro de Documentação e Informação

Serviços Executivos:

Direções Provinciais

Delegações Provinciais

Serviços Tutelados:

Empresas locais

O Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatísticas – GEPE – é o principal gabinete da

estrutura provincial uma vez que é responsável pelo planeamento, programação e

coordenação das actividades da província no âmbito da Administração do Estado. O

Director do GEPE, nomeado pelo Governador, é quem, na realidade, tem o poder de

realizar, de acordo com as orientações do Governador, toda a gestão fiscal no âmbito

territorial. Neste sentido, cabe ao GEPE a preparação do orçamento, a elaboração da

programação financeira e a execução da despesa tanto de sua aplicação directa quanto

no que diz respeito aos seus órgãos subordinados, o que inclui as administrações

municipais6.

Nos governos provinciais há uma reprodução da estrutura ministerial para cada área

específica, denominadas Direcções Provinciais, que são responsáveis pela execução das

políticas definidas centralmente. Os Directores Provinciais são nomeados pelo

Governador, mediante parecer favorável do Ministério da Administração do Território,

ouvido o Ministério da especialidade. As Direcções Provinciais dependem orgânica,

administrativa e funcionalmente do governo da província e metodologicamente do

órgão central de sua especialidade. Isso significa que há uma forte ligação entre os

Directores Provinciais e os respectivos Ministérios especializados uma vez que são estes

que definem a política, supervisionam e acompanham a execução das acções. No caso

da Província de Luanda, a Direcção Provincial de Saúde também faz a gestão fiscal da

sua área.

Os Ministérios das Finanças, Interior e Justiça, no entanto, permanecem com suas

representações nas províncias, denominadas Delegações Provinciais, que dirigem e

executam as atribuições e competências dos órgãos centrais de especialidade que

representam na Província. Seus representantes são nomeados por despacho conjunto do

Ministro da Administração do Território e do Ministro do órgão central de

especialidade, sob proposta do Governador da Província.

A Delegação Provincial de Finanças, por meio das repartições fiscais, tem como

responsabilidade arrecadar os denominados impostos locais que constam do Decreto

6 Nas Províncias que ainda não estão interligadas ao Sistema de Gestão Financeira do Estado – SIGFE, a

execução das despesas é de responsabilidade da Delegação Provincial de Finanças do Ministério das

Finanças.

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Executivo 80/997 bem como funcionar como órgão consultivo dos governos provinciais

no que diz respeito à elaboração do orçamento e execução dos gastos. Importante

ressaltar que o produto dos impostos locais é depositado na Conta Única do Tesouro, e

os governos provinciais só podem utilizá-lo mediante a autorização do Ministério das

Finanças. Na Secção 5 encontra-se descrito com mais detalhes este processo.

O governo provincial é uma unidade orçamental do Estado e como tal tem direito a uma

parte do Orçamento Geral do Estado (OGE). Todo o recurso gerido pelos governos

provinciais, como já foi mencionado acima, é proveniente do Governo Central por meio

das quotas financeiras definidas pelo Ministério das Finanças. Essas transferências

financeiras do OGE às províncias são realizadas sem base em critérios técnicos e

objectivos (como, por exemplo, população, indicadores do desenvolvimento e

desempenho do rendimento).

O quadro de pessoal das províncias tem um baixo nível de formação e perfil inadequado

para as funções que lhes são atribuídas. Os funcionários dos governos provinciais são

seleccionados e contratados pelo Ministério da Administração Pública e Segurança

Social – MAPESS que o distribui entre as províncias. No entanto, há uma assimetria

evidente na distribuição dos recursos humanos entre os governos provinciais, estando o

escasso corpo funcional mais qualificado concentrado principalmente em Luanda,

seguida do Bengo, Benguela e Huila, onde a guerra teve menos impacto.

Administrações Municipais

As administrações municipais são órgãos desconcentrados do governo central,

respondendo por sua atividade directamente ao governo da província. Suas funções, de

acordo com o Decreto-Lei 17/99, são as mesmas descritas para as províncias sendo que

restrita ao território do respectivo município. A administração municipal tem como

atribuição executar as deliberações do governo da província e as decisões do

Governador em seu território. Além da tradicional área de serviços relacionados à vida

das comunidades, prevê-se também a intervenção nas áreas econômica e social.

O Administrador do Município é nomeado pelo Governador ao qual está subordinado,

mediante parecer favorável do Ministério da Administração do Território. O mesmo

processo também ocorre com o Administrador Adjunto do Município.

A estrutura orgânica das administrações municipais compreende os serviços abaixo

listados.

Serviço de Apoio Consultivo:

Conselho Municipal

Serviço de Apoio Técnico:

Secretaria de Administração

7 O Decreto Executivo 80/99 definiu alguns impostos como sendo locais, mas na verdade a sua

arrecadação é realizada pelo Ministério das Finanças por meio das suas Delegações Provinciais.

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Seção de Estudos, Planeamento e Estatística

Serviços Administrativos:

Gabinete do Administrador

Gabinete do Administrador Adjunto

Centro de Documentação e Informação

Serviços Executivos:

Secção de Assuntos Econômicos e Sociais

Secção de Organização, Serviços Comunitários e Fiscalização

Seção Municipal dos Ministérios

O Conselho do Município é formado pelo Administrador Municipal, que o preside, o

Administrador Adjunto e os Chefes de Seções. Também podem integrar o Conselho

pessoas singulares ou colectivas quando convidadas pelo Administrador do Município,

mas seus integrantes não são remunerados. No caso do Município de Kilamba Kiaxi,

situado na Província de Luanda, o Conselho reúne-se ordinariamente a cada três meses e

sua principal função é aprovar o plano de necessidades elaborado pela administração

municipal. Esse conselho pode funcionar como o embrião de um futuro conselho

autárquico quando do advento das eleições municipais (ver Box 3.1 para um exemplo

do papel exercido pelo Conselho Municipal em Kilamba Kiaxi).

Da forma similar ao governo provincial, na estrutura das administrações municipais

consta a Secção de Estudos, Planeamento e Estatística, dirigida por um Chefe de Seção,

que formalmente tem como função elaborar estudos e análise sobre matérias

compreendidas nas atribuições da administração municipal. No entanto, na prática a sua

função resume-se meramente a apresentar mensalmente ao GEPE do governo provincial

suas necessidades de bens e serviços, ou seja, despesas para a manutenção da

administração municipal. Nessa rubrica de despesa inclui-se o pagamento de

electricidade, água, telefone, material para escritório, taxa de antena parabólica, entre

outros gastos do gênero. Em geral, esse plano de necessidades é apresentado

mensalmente ao GEPE e reflecte o do mês anterior.

Esta secção também tem como responsabilidade preparar e apresentar ao GEPE

provincial um plano de necessidades no que diz respeito aos serviços prestados à

comunidade. Também nesse caso, em muitos municípios, o plano de necessidades é em

grande medida uma réplica daquele apresentado no ano anterior. Desta forma, o chefe

desta secção não actua directamente em nenhuma das etapas do ciclo de gestão fiscal,

excepto minimamente na fase de levantamento das necessidades do município.

Há também nas administrações municipais a reprodução da estrutura ministerial. A

Secção Municipal dos Ministérios, como ela é denominada, deveria ser o serviço que

dirige e executa as atribuições e competências do órgão provincial de especialidade que

representa no Município. Na realidade, o papel da Secção Municipal é bastante reduzido

devido à falta de capacidade institucional e a reduzida quantidade de técnicos. Existem

municípios em que a secção é composta apenas pelo seu chefe.

A atribuição dos papéis/funções às municipalidades não é acompanhada por uma

alocação adequada de recursos financeiros e do capital humano

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Box 3.1 - Um exemplo do orçamento participativo: o relacionamento de

Kilamba Kiaxi e a província de Luanda

Na elaboração de seu plano bienal de investimento, também chamado de plano

de necessidades, o município de Kilamba Kiaxi define uma série de prioridades

a partir de discussões prévias com sua comunidade. Tais discussões seguem uma

hierarquia vertical dentro das comissões de moradores que integram o

município: quarteirão → bairro → comuna → municipal.

Sempre que se passa de um nível para outro as prioridades vão sendo

consolidadas e compatibilizadas. Esse processo se encerra na comissão de

moradores do município que reúne um conjunto de necessidades a ser apreciada

pelo Conselho Municipal do qual fazem parte os representantes dessa comissão,

os Chefes das Comunas, os Chefes de Seção, bem como outros membros da

sociedade civil considerados relevantes.

Após as discussões realizadas no âmbito do Conselho Municipal, que é

presidido pelo administrador do município, finalmente é elaborado o plano de

necessidades a ser remetido ao governo da província. Este, por seu turno, irá

elaborar seu próprio plano de necessidades levando em conta as reivindicações

de todos os municípios que integram seu território.

O processo de elaboração do plano de investimentos acima descrito está

previsto nas normas que regulam o funcionamento do Estado angolano, mas

segundo relatos obtidos nas entrevistas com membros da administração de

Kilamba Kiaxi e da província de Luanda, nem todos os municípios e províncias

seguem todos os passos de negociação previstos. Esse processo depende da

vontade política dos poderes locais, mas segundo os entrevistados, as

negociações têm sido realizadas com sucesso em Luanda.

Vale, no entanto, mencionar que a existência de um plano de necessidades nem

sempre garante seu atendimento. Os governos locais dependem da definição dos

limites orçamentais que é elaborada pelo governo central. Este por sua vez nem

sempre leva em conta as reais necessidades dos níveis inferiores de

administração.

Novamente segundo as entrevistas, o governo da província de Luanda relatou

que atualmente elabora dois planos de investimento: um de acordo com os

valores definidos centralmente no plano de melhorias, e outro de acordo com o

que a província e seus respectivos municípios realmente necessitam.

Ao contrário das províncias, as municipalidades não têm o status de unidades

orçamentais do Estado e não têm nenhuma autonomia para controlar seus próprios

recursos. As administrações municipais são Órgãos Dependentes dos governos

provinciais, ou seja, o que significa que não constituem parte do Orçamento Geral do

Estado. Os governos provinciais são quem mensalmente determinam o valor dos

recursos à disposição das administrações municipais. Essas dotações são realizadas de

forma discricionária e ad hoc pelos governadores e os recursos são destinados apenas a

compra de bens e serviços para a manutenção da administração municipal.

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Uma vez que as administrações municipais não constituem Unidades Orçamentais, elas

não podem gerir directamente os recursos que lhes são colocados à disposição pelos

governos provinciais. Sendo assim, toda a execução financeira dos gastos municipais é

realizada pelos governos provinciais de acordo com as necessidades indicadas pelas

administrações municipais.

O quadro de funcionários das administrações municipais é bastante reduzido e, além

disso, são penalizadas por uma dramática escassez de pessoal administrativo e técnico.

Comunas

As comunas são órgãos desconcentrados do poder administrativo central na sua área

geográfica que respondem pela sua actividade perante a administração municipal e

correspondem ao nível mais baixo da estrutura subnacional. A comuna é dirigida pelo

Administrador Comunal que é nomeado pelo Governador, ouvido o Ministério da

Administração do Território.

As principais responsabilidades das comunas relacionam-se à organização e à

manutenção dos serviços públicos básicos: colecta do lixo, manutenção da estrada,

parques, cemitérios e lugares de mercado. Practicamente, os administradores comunais

têm que “acompanhar e apoiar” a organização e o trabalho das vilas da comunidade

tanto quanto as autoridades tradicionais. Na realidade, os Administradores Comunais

funcionam como porta-vozes dos problemas quotidianos da comunidade.

3.4 – Estrutura legislativa para a descentralização e governação local

Angola dispõe de uma estrutura legislativa incompleta para o governo local e existem

contradições entre os princípios constitucionais e a legislação ordinária.

Constituição

A Constituição de 1992, especialmente nos artigos 145 e 147 do capítulo VII, fornece o

contexto para a estrutura descentralizada de governação em Angola. Optando pela

conciliação da presença centralizada do Estado com a participação democrática na

escolha dos líderes locais, a Constituição classifica os órgãos territoriais em duas

categorias:

Órgãos autônomos, os governos subnacionais (autarquias locais), definidos como as

pessoas colectivas que visam a realização de interesses peculiares da população

envolvida com os órgãos representativos eleitos e;

Órgãos administrativos locais, definidos como as unidades administrativas locais

desconcentradas da autoridade central que visam garantir que uma função específica

da administração de Estado esteja sendo executada no nível local, orientar o

desenvolvimento econômico e social e assegurar que os serviços básicos da

comunidade estejam sendo prestados na área geográfica respectiva.

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O Governador da Província é discutido no mesmo capítulo e definido como o

representante do governo central na respectiva província, com a função de governar a

província e garantir o normal funcionamento dos órgãos locais.

Uma nova constituição que está em fase de elaboração reforça o pacto para a

descentralização.

A proposta de constituição inclui uma secção sobre o governo local. De acordo com a

proposta, autarquias locais serão estabelecidas de forma gradual. A proposta de

constituição define os governos locais (autarquias locais) como pessoas colectivas cujo

objectivo é representar e atender os interesses dos residentes em uma área territorial

específica através das estruturas apropriadas. A estrutura dos governos locais

(autarquias locais) compreende a Assembleia, o Poder Executivo e o Presidente. A

Assembléia é eleita periodicamente por meio de eleições livres, secreta e por sufrágio

universal para um mandato de quatro anos. Os governos locais (autarquias locais) tem a

autonomia administrativa e financeira.

De acordo com a proposta de Constituição, os Governadores Provinciais são propostos

pelo partido maioritário na província e nomeados pelo Presidente da República. Nas

áreas não escolhidas para a descentralização piloto na primeira fase, os Administradores

Municipais e Comunais são propostos pelo governador provincial e nomeados pelo

Ministro da Administração do Território. A proposta de Constituição estabelece que as

autoridades tradicionais sejam tratadas por legislação específica futura. Reconhece a

participação do cidadão na definição das resoluções locais, mas não identifica os

instrumentos específicos para assegurar essa participação. Uma outra inovação

importante da proposta de Constituição é a previsão de criação de uma Comissão de

Alto Nível Contra a Corrupção.

Legislação Ordinária (ordem cronológica)

Desconcentração Financeira. Decreto-Lei 6/95 e despachos subsequentes: 29/96,

38/96 e Decreto Executivo 80/99.

De acordo com o Decreto-Lei 6/95, o Ministro das Finanças deve fixar uma

percentagem global das receitas fiscais8 e atribuí-la aos orçamentos das administrações

provinciais e locais. O governo provincial pode sugerir a percentagem de compartilha

na base de critérios que serão tratados em legislação adicional.

Os Despachos 29/96 e 38/96 atribuem, respectivamente, às Províncias de Zaire e de

Cabinda a porcentagem de 10% do rendimento do petróleo.

O Decreto Executivo 80/99 do Ministro das Finanças é concebido como medida

transitória até a aprovação de uma lei sobre finanças locais. O Decreto Executivo 80/99

atribui o rendimento de impostos seleccionados9 para as províncias. As províncias

8 O Decreto-Lei 17/99 refere-se as “receitas provenientes quer dos Impostos Directos, como sejam o

Imposto industrial Grupo C, Imposto Predial Urbano, Imposto sobre as Sucessões e Doações e Taxa” 9 Na Secção 5, referente às receitas, encontra-se a descrição dos impostos considerados locais..

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podem reter “na fonte” o produto de alguns impostos nacionais previstos no Decreto

Executivo 80/99, que serão descontados das transferências mensais fixadas centralmente

que as províncias recebem de acordo com a dotação do orçamento anual. Além disso, o

Decreto Executivo 80/99 estabelece que os recursos transferidos aos governos

provinciais devem ser gasto em rubricas específicas com vistas ao desenvolvimento pré-

definidos pelo governo central (35% serviços administrativos, 60% infra-estrutura e 5%

emergências).

Estrutura Organizacional e Funcional dos Governos Provinciais e das

Administrações Municipais e Comunais. Decreto Lei 17/99.

O Decreto-Lei 17/99 é considerado a “cara” do início do processo de desconcentração

em Angola. Além disso, o Decreto-Lei introduz alguns elementos chaves para a

desconcentração:

Reconhecimento da legitimidade dos governos provinciais como também das

administrações municipais e comunais para desempenhar o papel e as

responsabilidades inerentes aos governos subnacionais até a sua criação;

Reforço às autoridades dos governos provinciais com a transformação da maioria

das delegações provincial em direcções provinciais;

Reconhecimento da extensão da organização formal do Estado para as comunas.

Regulação dos Governos Provinciais e das Administrações Municipais e Comunais. Decreto-Lei 17/99 seguido do Decreto 27/00.

Este último Decreto tem como objectivo eliminar as estruturas e serviços nos níveis

municipal e comunal que eram de responsabilidade do governo central e estabelecer

mecanismos para melhorar a eficiência e a eficácia dos recursos humanos, materiais e

financeiros.

Lei da terra. Aprovada em Agosto 2004 (9/04) e em seu “regulamento complementar”

de 23 de agosto de 2006.

Esta legislação deposita grande parte da responsabilidade pela gestão do solo nos

governos locais (autarquias locais).

Legislação sobre Planeamento Urbano e Rural – 2005.

A legislação estabelece os papéis do Estado e dos governos locais autónomos

(autarquias locais) no planeamento. As secções municipais devem elaborar, com o apoio

técnico do nível provincial, o planeamento adequado de suas funções. No nível

municipal, a planta de desenvolvimento municipal (Plano Director Municipal) serve

como a base para o planeamento territorial. Apesar de não estabelecer a forma de

participação cidadã no desenvolvimento de tais instrumentos, a Lei, em seu artigo 21,

refere-se à necessidade de participação do cidadão no planeamento, execução e revisão

das plantas territoriais.

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3.5 – Iniciativas de Reforma da Legislação10

O Plano Estratégico para a Desconcentração e Descentralização prevê a revisão das

principais leis para a descentralização como o Decreto-Lei 17/99 e o Decreto Executivo

80/99. O Governo de Angola está actualmente dedicando-se à revisão do Decreto-Lei

17/99 tendo sua proposta já aprovada pela Assembleia Nacional, aguardando, no

momento, aprovação do Conselho de Ministros.

A revisão está concentrada na estrutura financeira, funcional e organizacional do

sistema local de administração. As principais modificações propostas são:

Financeira. Transformação da administração municipal em unidades orçamentais do

Orçamento Geral do Estado;

Papel e funções. Atribuição de funções específicas aos Vice-Governadores;

transferência de algumas funções provinciais (por exemplo, água e saneamento)

para as administrações municipais;

Organização. Criação de um “Conselho de Concertação Social” que compreende a

sociedade civil, as ONGs, o CSOs e o sector privado além dos órgãos normais do

Estado, no nível provincial e municipal; transformação das Delegações Provinciais

restantes (Finanças, Justiça e Interior) em Direcções Provinciais; criação “portador

da administração municipal”.

10

Esta secção do relatório deverá ser revista após a aprovação da revisão do Decreto-Lei 17/99.

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4 – Atribuições das funções e responsabilidades de despesa em Angola

4.1 – Descrição e diagnóstico da atribuição de responsabilidades

Responsabilidades dos governos locais

Os governos locais actuam basicamente como órgãos desconcentrados do poder central,

sendo sua principal responsabilidade a execução das políticas definidas pelos

ministérios setoriais. O modelo adoptado é, portanto, de funções delegadas do governo

central aos governos locais.

As actividades executadas pelas administrações locais estão consolidadas no Orçamento

Geral do Estado (OGE), conforme práctica corrente nos países soviéticos. Há apenas

uma única peça orçamental no país que consolida todos os programas e actividades

desenvolvidas tanto pela estrutura central do governo quanto pelos governos locais.

O Decreto-Lei 17/99 é a legislação que estabelece as funções de cada nível de

administração local. De acordo com este Decreto, os governos provinciais têm as

seguintes atribuições:

Segurança pública;

Cultura;

Assistência social, educacional e de saúde;

Preservação património histórico nacional e local;

Bibliotecas municipais e comunais;

Urbanização;

Desenvolvimento económico.

Já as administrações municipais têm como atribuições:

Segurança pública;

Assistência social, educacional e sanitária;

Limpeza pública, saneamento;

Urbanismo, colecta e tratamento do lixo, iluminação, sinalização rodoviária,

toponímia e cadastros;

Parques, jardins, zonas verdes;

Mercados públicos, cemitérios e feiras; e.

Desenvolvimento local.

As comunas, por sua vez, têm funções semelhantes as das administrações municipais,

apenas se diferenciando devido à área de actuação territorial ser mais restrita:

Limpeza pública, saneamento;

Urbanismo, colecta e tratamento do lixo, iluminação, sinalização rodoviária,

toponímia e cadastros;

Parques, jardins, zonas verdes;

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Desenvolvimento local; e.

Mercados públicos e cemitérios.

Percebe-se que não há uma clara divisão legal das competências entre os níveis de

administração local bem como entre estes e o governo central. De forma geral, os

ministérios sectoriais são responsáveis pelo planeamento, regulação, avaliação e

fiscalização das políticas e os governos provinciais são executores de alguns programas

elaborados centralmente. O desenvolvimento desse modelo tem como base a existência

das Direcções Provinciais dos ministérios (excepto dos Ministérios das Finanças,

Interior e Justiça) que são uma espécie de “braço” dos ministérios nos governos

provinciais.

Box 4.1 – O Sector de Saúde em Angola

O Sistema Nacional de Saúde é composto pelo Ministério da Saúde e pela rede

nacional pública e privada de prestação de cuidados de saúde. O Ministério da

Saúde é responsável pela regulamentação, planeamento, definição das políticas

sectoriais, avaliação e fiscalização do Sistema Nacional de Saúde. Já os

governos provinciais tem como atribuição garantir o funcionamento das

unidades de saúde sob sua responsabilidade.

O sistema de saúde está dividido em três níveis:

- Nível primário, referente aos serviços de baixa complexidade e composto por

aproximadamente 228 hospitais municipais e centros de saúde de referência,

cerca de 1.450 postos de saúde e promotores comunitários;

- Nível secundário, referente aos serviços de média complexidade, composto por

32 hospitais gerais, incluindo os hospitais provinciais;

- Nível terciário, referente aos serviços de alta complexidade, composto por 8

hospitais centrais e especializados.

O Governo Central, por meio do Ministério da Saúde, é responsável por

acompanhar directamente os hospitais nacionais ou centrais, a Junta Nacional

de Saúde e os institutos públicos. O hospitais provinciais são subordinados

administrativamente às Direcções Provinciais de Saúde dos Governos

Pronvinciais e financeiramente ao Ministério das Finanças já que são Unidades

Orçamentais do OGE. Os postos e centros de saúde e os hospitais municipais

são subordinados administrativa e financeiramente aos governos provinciais

meio das administrações municipais.

4.2 – Grau de descentralização das despesas

A realização das despesas em Angola está fortemente concentrada na estrutura central

do governo. Apesar da participação da estrutura central no total das despesas ter-se

reduzido nos anos 2004 e 2005, relativamente aos dois anos anteriores, o percentual dos

gastos por este nível de governo ainda é muito elevado. Nos últimos dois anos da série

disponível, a estrutura central foi responsável 84,5% e 84,7%, respectivamente, das

despesas realizadas restando aos governos provinciais pouco mais de 15%. Cabe

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ressaltar que se incluem na estrutura central os ministérios e seus órgãos dependentes,

os institutos públicos e os gastos com o legislativo e o judiciário.

A forte participação do nível central de governo pode ser parcialmente explicada pelos

gastos com investimentos que permanecem sendo realizados directamente pelos órgãos

dependentes da estrutura central.

Outra explicação reside no facto de que os recursos destinados aos governos locais nem

sempre são compatíveis com suas necessidades. Conforme já mencionado, o governo

central não define as quotas financeiras aos quais os níveis inferiores de governo têm

direito com base em critérios técnicos e/ou de acordo com as responsabilidades

atribuídas aos mesmos. Em decorrência disso, o nível central termina executando

directamente gastos que, em princípio, deveriam ser efectuados pelas províncias e

administrações municipais.

Tabela 4.1

Distribuição das Despesas por Local: 2001 a 200511

Localidade 2001 2002 2003 2004 2005

TOTAL 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Estrutura Central 84,28 86,91 89,25 84,46 84,75

Luanda 4,84 3,37 2,47 4,46 3,96

Bengo 0,29 0,35 0,29 0,40 0,50

Benguela 1,54 1,39 1,11 1,73 1,71

Bié 0,51 0,51 0,47 0,61 0,73

Cabinda 2,22 1,35 1,03 0,69 1,33

Huambo 0,73 0,87 0,79 1,16 1,10

Huíla 0,97 0,95 0,89 1,46 1,14

Kuando-Kubango 0,31 0,41 0,31 0,27 0,39

Kunene 0,39 0,25 0,28 0,43 0,42

Kwanza-Norte 0,35 0,28 0,30 0,48 0,37

Kwanza-Sul 0,57 0,57 0,47 0,80 0,80

Lunda-Norte 0,39 0,40 0,33 0,32 0,35

Lunda-Sul 0,29 0,28 0,25 0,44 0,35

Malanje 0,34 0,33 0,28 0,35 0,36

Moxico 0,42 0,37 0,44 0,54 0,45

Namibe 0,46 0,36 0,29 0,41 0,34

Uige 0,40 0,48 0,34 0,64 0,65

Zaire 0,69 0,56 0,42 0,34 0,31

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

Estrutura e Distribuição Regional das Despesas

A distribuição regional das despesas também é bastante concentrada. Como pode se

verificar na Tabela 4.2, a Província de Luanda é responsável por mais de ¼ das despesas

realizadas pelas províncias.

11

Dados referentes às despesas realizadas.

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Comparando-se a distribuição provincial das despesas com a participação de cada

localidade no total da população do país verifica-se um descolamento entre os

percentuais obtidos. Os dados ressaltam mais uma vez a falta de critérios técnicos no

cálculo das quotas financeiras que são transferidas mensalmente às províncias.

Cabinda, Bengo, Lunda-Sul, Namibe e Zaire foram as principais províncias que

realizaram despesas no ano de 2005 em percentagens superiores a sua participação no

total da população. No caso de Cabinda, principal reserva petrolífera do país, esse

resultado deve reflectir sua maior arrecadação fiscal, como vai ser visto na secção 5.

Tabela 4.2

Distribuição das Despesas por Província: 2004 e 200512

2004 2005 População

TOTAL 100,00 100,00 100,0

Luanda 28,67 25,95 26,40

Bengo 2,59 3,26 1,32

Benguela 11,16 11,22 15,40

Bié 3,91 4,80 6,59

Cabinda 4,41 8,74 2,89

Huambo 7,48 7,20 7,35

Huíla 9,41 7,46 8,44

Kuando-Kubango 1,74 2,52 2,10

Kunene 2,76 2,74 2,14

Kwanza-Norte 3,07 2,44 2,12

Kwanza-Sul 5,17 5,26 5,81

Lunda-Norte 2,07 2,30 3,28

Lunda-Sul 2,85 2,27 1,53

Malanje 2,23 2,34 2,83

Moxico 3,50 2,93 2,79

Namibe 2,66 2,26 1,19

Uige 4,13 4,26 6,50

Zaire 2,17 2,06 1,32

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

Estrutura e Distribuição Regional das Despesas por Função

Além de analisar a distribuição regional das despesas é também importante conhecer o

grau de descentralização por funções económicas e por localidade. Os dados utilizados

nesta análise são provenientes da proposta para o Orçamento Geral do Estado para

2005, ou seja, referem-se às despesas previstas devido à falta de disponibilidade de

informações da execução orçamental e não às despesas realizadas como nas tabelas

anteriores.

Nota-se que nas funções relativas à educação, segurança e assistência social, saúde,

cultura e desporto e habitação e serviços comunitários a participação prevista no OGE

para a estrutura central é inferior à média para o total das despesas. Mesmo assim a

12

Dados referentes às despesas realizadas.

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participação da estrutura central ainda é bastante elevada quando se considera que essas

são funções tipicamente providas por governos locais.

Tabela 4.3

Distribuição das Despesas13

por Função e por Local: 2005

TOTAL Estrutura Central

Província de Luanda

Demais Províncias

TOTAL 100,00 82,53 6,30 11,17

Agricultura, Pescas e Ambiente 100,00 94,97 2,32 2,71

Combustíveis e Energia 100,00 94,94 0,44 4,63

Comércio e Serviços 100,00 96,77 0,00 3,23

Cultura e Desporto 100,00 59,06 33,62 7,32

Defesa Nacional 100,00 96,45 3,55 0,0

Educação 100,00 39,63 17,11 43,26

Encargos Financeiros 100,00 100,00 0,0 0,0

Habitação e Serviços Comunitários 100,00 68,43 19,23 12,34

Indústria e Mineração 100,00 99,05 0,00 0,95

Outros Serviços Económicos 100,00 99,90 0,03 0,06

Saúde 100,00 50,43 7,11 42,46

Segurança e Assistência Social 100,00 49,15 40,31 10,54

Segurança e Ordem Pública 100,00 98,83 0,16 1,01

Serviços Públicos Gerais 100,00 79,44 2,32 18,23

Transportes e Comunicações 100,00 92,22 3,39 4,39

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

A educação foi a função que apresentou a menor participação da estrutura central.

Mesmo assim esta previsto que quase 40% das despesas previstas sejam realizadas pela

estrutura central. Considerando que a estrutura central foi a que apresentou um dos mais

altos graus de execução das despesas no OGE 2005, mais de 82% das despesas

realizadas, enquanto a média das províncias foi de 68%, pode ser que o resultado final

apresente um grau de concentração ainda mais alto. O mesmo raciocínio pode ser

realizado para as demais funções.

Outro ponto importante da Tabela 4.3 é a forte participação de Luanda, com relação às

demais províncias, nas despesas com segurança e assistência social e cultura desporto.

Nessas funções a participação de Luanda é mais de quatro vezes maior do que as demais

províncias.

A Tabela 4.4 apresenta as despesas previstas no OGE 2005 por função económica para

cada uma das províncias onde é possível verificar o peso de Luanda nos gastos públicos

descentralizados em Angola

13

Dados referentes às despesas previstas no Orçamento Geral do Estado, 2005, devido à falta de

informações das despesas realizadas por localidade e por função econômica.

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Tabela 4.4

Distribuição das Despesas por Função e por Província: 2005

TOTAL Agricultura,

Pescas e Ambiente

Combus-tíveis e Energia

Comércio e

Serviços

Cultura e Desporto

Educação

Habitação e

Serviços Comunit

á-rios

Indústria e

Mineração

Outros Serviços

Económicos

Saúde

Segurança e

Assistência Social

Segurança e

Ordem Pública

Serviços Públicos Gerais

Transportes e

Comunica-ções

TOTAL 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

Luanda 46,15 8,62 0 82,12 28,35 60,91 0 34,52 14,35 79,27 13,47 11,30 43,61

Bengo 2,92 4,50 23,37 0,60 1,61 2,47 0 0 2,06 2,53 4,08 3,06 0,72

Benguela 16,55 6,48 0 1,81 17,06 3,47 47,88 0 15,66 1,49 7,14 6,62 1,09

Bié 2,00 0,77 0 0 3,66 0,27 0 0 7,55 0,86 6,19 5,15 0

Cabinda 13,77 53,07 41,86 8,73 5,72 14,52 52,12 0 9,31 0,74 5,59 7,79 34,84

Huambo 2,28 0 0 2,05 8,38 3,62 0 0 9,60 1,24 5,79 6,22 0,46

Huíla 3,95 5,96 34,77 0,78 8,15 1,22 0 0 7,32 1,26 7,13 6,96 1,63

Kuando Kubango 0 0 0 0 0,13 0,20 0 0 2,25 1,71 3,75 5,83 0

Kunene 5,80 0,70 0 0,29 1,90 0,76 0 0 2,33 0,26 4,75 3,78 0

Kwanza Norte 0,55 6,33 0 1,25 2,78 1,69 0 0 2,52 0,45 4,40 3,40 3,30 Kwanza Sul 1,10 0 0 2,39 6,92 0,27 0 0 5,41 1,92 5,92 5,08 0,62

Lunda Norte 0 0 0 0 0,77 1,18 0 0 2,65 1,45 4,68 4,06 0,35

Lunda Sul 0 0 0 0 1,59 0,51 0 0 1,64 1,90 4,62 4,02 4,39

Malanje 1,78 0 0 0 2,62 0,26 0 0 3,08 0,87 3,66 4,27 0,34

Moxico 0 1,48 0 0 0,56 1,30 0 65,48 3,73 3,10 5,79 8,34 0

Namibe 0,11 0 0 0 2,09 1,26 0 0 2,47 0,07 4,61 3,55 1,44

Uíge 0 1,12 0 0 6,32 1,25 0 0 5,19 0,58 3,86 5,86 3,05

Zaire 3,05 10,97 0 0 1,39 4,85 0 0 2,89 0,31 4,57 4,71 4,17

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

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5 – ESTRUTURA DAS RECEITAS EM ANGOLA

5.1 – Descrição e diagnóstico da atribuição de receita

Receitas Fiscais Totais

Em 2005, o Governo de Angola arrecadou 9.522,2 milhões de USD e a maior parte

deste montante teve origem nas receitas tributárias.

Cabe salientar a forte dependência do país em relação às receitas do petróleo. Do total

arrecadado no ano passado, cerca de 75% foram provenientes dos impostos e outros

pagamentos incidentes sobre as actividades petrolíferas.

Tabela 5.1

Receitas Fiscais de Angola: 2005

Milhões de

USD Em % do

Total

TOTAL 9.522,2 100,0

Receita Tributária 8.183,4 85,9

Petrolíferas 5.915,9 62,1

Não-Petrolíferas 2.267,5 23,8

Demais Receitas 1.338,7 14,1

Petrolíferas 1.268,9 13,3

Não-Petrolíferas 69,9 0,7

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

Outro ponto de destaque diz respeito à grande concentração da arrecadação na Província

de Luanda que, sozinha, respondeu por quase a totalidade dos recursos fiscais do país –

sejam eles de origem tributária ou não (Tabela 5.2).

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Tabela 5.2

Distribuição das Receitas Fiscais por Província: 2005

TOTAL Receitas

Tributárias Demais Receitas

TOTAL 100,00 100,00 100,00

Luanda 95,67 95,31 97,88

Bengo 0,08 0,09 0,02

Benguela 1,01 1,11 0,37

Bié 0,06 0,04 0,16

Cabinda 1,12 1,16 0,90

Huambo 0,07 0,07 0,11

Huíla 0,22 0,24 0,13

Kuando-Kubango 0,04 0,04 0,03

Kunene 0,21 0,23 0,07

Kwanza-Norte 0,08 0,09 0,01

Kwanza-Sul 0,06 0,06 0,09

Lunda-Norte 0,08 0,09 0,01

Lunda-Sul 0,08 0,09 0,04

Malanje 0,03 0,03 0,03

Moxico 0,03 0,03 0,02

Namibe 0,30 0,33 0,08

Uige 0,02 0,02 0,02

Zaire 0,85 0,98 0,04

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

A importância de Luanda está intimamente relacionada com o facto de que nessa

província se localiza a capital do país e se desenvolvem as principais actividades

económicas. Ainda que Luanda não responda pela produção do petróleo (Cabinda é a

principal produtora), as sedes das empresas que exploram o sector estão situadas em seu

território.

Cabe lembrar que a distribuição apresentada na Tabela 5.2 não reflecte a repartição de

recursos entre os níveis de administração, mas apenas a origem dos recursos globais do

Estado por província.

Receita Tributária

A maior parte da receita tributária de Angola foi proveniente dos impostos sobre

rendimentos, o que chama à atenção relativamente a outros países em desenvolvimento

onde os tributos incidentes sobre bens e serviços costumam predominar14

.

Um quadro mais detalhado é fornecido pelo Ministério das Finanças que

disponibiliza na Internet uma síntese do sistema tributário. O documento pode

ser encontrado no endereço: http://www.minfin.gv.ao/dni/sintese.pdf.

Acedendo ao síte do Ministério (http://www.minfin.gv.ao/) e clicando no botão

“fiscalidade” (que fica ao lado esquerdo da página principal), também é

possível encontrar a legislação referente a cada imposto.

14

Os impostos sobre rendimentos reúnem uma série de incidências sobre a renda das pessoas físicas e

sobre a renda e lucros das pessoas jurídicas. Maiores detalhes sobre a legislação relativa a tais impostos

estão disponíveis na Internet no endereço: http://www.minfin.gv.ao/dni/imposto/rend.htm.

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No anexo deste relatório há um quadro que resume os principais tributos

cobrados em Angola.

A explicação para esse fenómeno está na tributação do petróleo. Se essas receitas

fossem excluídas da análise, os impostos sobre rendimentos continuariam relevantes,

mas em proporção menor. Além disso, os impostos sobre consumo e sobre comércio

exterior ganhariam lugar de destaque (ver Tabela 5.3).

Tabela 5.3

Composição da Receita Tributária

por Principais Modalidades de Incidência: 2005 Em % do Total

Com

Petróleo Sem

Petróleo

TOTAL 100,00 100,00

Rendimentos 66,37 32,50

Património 0,16 0,57

Produção 15,38 1,64

Consumo 7,66 27,64

Comércio Externo 5,06 18,28

Diversos 3,46 12,49

Taxas 1,91 6,90

Contribuições para Segurança Social 0,00 0,00

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

Segundo informações obtidas junto ao Departamento de Impostos do Ministério das

Finanças, está prevista a realização de uma reforma tributária cujo objectivo é reduzir o

número de impostos recolhidos sobre as tradicionais bases de tributação. Nessa reforma,

os impostos que actualmente recaem sobre os bens e serviços seriam convertidos em um

imposto sobre valor adicionado.

A observação da distribuição das principais modalidades de incidência por província,

apresentada na Tabela 5.4, mais uma vez relevou a importância de Luanda na geração

das receitas tributárias.

Note que em apenas duas modalidades de incidência – diversos e contribuições sociais –

verificou-se menor concentração da arrecadação em Luanda. Na rubrica diversos – que

incluem impostos sobre património, imposto de selo e taxa de circulação de veículos

automóveis (ver Anexo 1) –, além de Luanda, também foram relevantes as Províncias

do Zaire e Cabinda. Na rubrica contribuições para segurança social, quase todas as

receitas foram colectadas em Huíla. Não obstante, cabe ressaltar que os recursos

provenientes dessa modalidade tiveram uma representatividade quase nula no total de

receitas tributárias do país.

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Tabela 5.4

Distribuição da Receita Tributária por Província

Principais Modalidades de Incidência: 2005

TOTAL Rendi-mentos

Património

Produção

Consumo

Comércio

Externo

Diversos

Taxas

Contribuições

Segurança Social

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Luanda 95,31 98,16 85,30 100,00 89,09 88,41 53,44 78,30 9,19

Bengo 0,09 0,02 0,02 0,00 0,84 0,15 0,02 0,05 0,00

Benguela 1,11 0,32 7,40 0,00 4,42 4,23 4,84 9,00 0,00

Bié 0,04 0,05 0,33 0,00 0,00 0,00 0,18 0,09 0,00

Cabinda 1,16 0,57 0,39 0,00 0,91 2,67 13,42 5,84 0,00

Huambo 0,07 0,08 1,08 0,00 0,05 0,00 0,22 0,10 0,00

Huíla 0,24 0,17 3,33 0,00 0,98 0,01 1,06 0,33 90,81

Kuando-Kubango 0,04 0,02 0,09 0,00 0,14 0,22 0,06 0,12 0,00

Kunene 0,23 0,03 0,01 0,00 1,16 1,53 0,21 1,62 0,00

Kwanza-Norte 0,09 0,06 0,07 0,00 0,66 0,00 0,10 0,09 0,00

Kwanza-Sul 0,06 0,06 0,79 0,00 0,03 0,00 0,25 0,17 0,00

Lunda-Norte 0,09 0,13 0,01 0,00 0,00 0,00 0,03 0,01 0,00

Lunda-Sul 0,09 0,12 0,21 0,00 0,00 0,00 0,12 0,07 0,00

Malanje 0,03 0,03 0,18 0,00 0,01 0,00 0,22 0,13 0,00

Moxico 0,03 0,03 0,09 0,00 0,01 0,00 0,04 0,11 0,00

Namibe 0,33 0,06 0,59 0,00 1,34 2,32 0,75 2,33 0,00

Uige 0,02 0,03 0,06 0,00 0,00 0,00 0,04 0,06 0,00

Zaire 0,98 0,05 0,05 0,00 0,35 0,44 25,01 1,57 0,00

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

A distribuição apresentada na Tabela 5.4 não significa que as receitas colectadas em

cada província sejam direccionadas às mesmas. Tal como já foi observado em relação à

Tabela 5.2, os resultados acima indicam apenas a origem dos recursos.

Receitas Locais

O Decreto Executivo n° 80/99 (DE 80/99) determinou uma série de impostos e outras

receitas que devem ser atribuídos aos governos locais – províncias e administrações

municipais. A Tabela 5.5 apresenta um sumário desses recursos.

Embora o Decreto Executivo n° 80/99 trate da definição das receitas locais, o mais

correcto seria considerar que este Decreto, na verdade, legisla sobre a atribuição de

recursos aos governos provinciais.

Os municípios são órgãos dependentes das províncias e, como tal, actuam

essencialmente como agências de administração do nível intermediário. Não possuem

recursos próprios e quem determina sua fatia nas receitas locais são as províncias.

Conforme está descrito no próprio Decreto Executivo n° 80/99: “8. É de

responsabilidade dos Governos Provinciais a afectação e disponibilização das dotações

orçamentais e dos recursos ali arrecadados aos municípios, bem como o

acompanhamento da realização das despesas e da apresentação dos correspondentes

relatórios de execução.”.

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O quadro de dependência dos municípios em relação às províncias no que tange à

distribuição das receitas locais é, em grande medida, reproduzido na relação entre os

governos provinciais e o governo central, conforme será visto adiante. Não obstante, as

províncias gozam de uma situação um pouco mais confortável que as administrações

municipais em razão de representarem unidades orçamentais no Orçamento Geral do

Estado.

Feitas essas considerações, vejamos os principais aspectos relativos às determinações do

Decreto Executivo n° 80/99. Antes, porém, cabe destacar a pouca representatividade

que as receitas locais possuem no orçamento do governo angolano.

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Tabela 5.5

Síntese dos Impostos e Outras Receitas Atribuídos aos Governos Locais Natureza Económica da Receita

Tipo de Receita Comentários

I. Receita Tributária

1. Rendimentos

a) Imposto sobre o Rendimento do Trabalho por Conta Própria

Incide sobre os rendimentos provenientes do exercício de conta própria de profissão predominantemente cientifica, artística ou técnica, ou da prestação de serviços não tributados por outro imposto.

b) Imposto sobre o Rendimento do Trabalho por Conta de Outrém

Imposto sobre todas as remunerações percebidas por empregados por conta de outrém, inclusive subsídios e prémios. Rendimentos de sócios de sociedades, membros de conselhos de administração ou outros órgão de gestão de sociedades, conselhos fiscais, mesas de assembleias gerais de accionistas e outros órgãos sociais.

c) Imposto Industrial do Grupo C

Imposto sobre os lucros em potencial estimados de pessoas que preencham simultaneamente as seguintes condições: a) exerçam de conta própria actividade comercial e industrial; b) trabalhem a sós ou com ajuda de até 3 pessoas; c) não disponham de escrita confiável; d) possuam não mais de 2 veículos automóveis; e e) tenham facturamento.

d) Imposto sobre Aplicação de Capitais

Imposto anual sobre rendimentos de aplicações financeiras.

2. Património

e) Imposto Predial Urbano

Incide sobre prédios urbanos. A base de cálculo é o locativo, efectivo ou potencial, e o sujeito passivo é a pessoa que tem direito ao aluguer.

f) Imposto sobre Sucessões e Doações

Imposto progressivo sobre as transmissões a título não oneroso e as sucessões em dinheiro, título do Estado, acções títulos de crédito de sociedades e bancos e qualquer bem móvel ou imóvel bem como de direitos de habitação ou de água direito de servidão perpétua e dispensa unilateral de anuidades.

g) Imposto de SISA Imposto sobre a transmissão de propriedades imóveis.

3. Bens e Serviços h) Imposto de Consumo

Conjunto de impostos específicos e ad valorem sobre a fabricação e importação de determinados produtos, tais como cerveja , gás liquefeito, álcool industrial, jóias, bens duráveis de uso domestico, bebidas, artigos electrónicos, automóveis etc.

4. Demais Incidências

i) Imposto de Selo Imposto sobre os documentos, actos e operações indicados na Tabela geral do Imposto do Selo.

j) Taxa de Circulação Incide sobre todos os veículos automóveis que se encontrem ou venham a entrar em circulação no

país.

II. Receita Patrimonial

k) Rendas de Casa

III. Receita de Serviços

l) Serviços Comunitários

Cobrança para concessão de licenças para utilização e/ou modificação do espaço. Inclui taxas de marcado, licença para construção, reforma, publicidade etc.

IV. Receitas Diversas

m) Multas 10% do valor de todas das multas aplicadas pelo Estado nos termos do art. 2° do Decreto n° 17/96.

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

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Como se vê no Gráfico 5.1, do total de recursos colectados em 2005 apenas 13% foram

designados para todas as províncias e administrações municipais que integram o país, o

que reflecte o fato do governo central ter a competência exclusiva sobre a maior parte

das receitas fiscais de Angola.

Gráfico 5.1

Participação das Receitas Locais no Total Colectado

pelo Governo de Angola: 2005

Receita Total 2005 = 9.522,2 milhões de USD

Petrolíferas

75%

Demais

12%

Governos

Locais

13%

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

A concentração da arrecadação resulta do facto de que o DE 80/99 não atribuiu aos

governos locais nenhuma participação nas receitas provenientes das actividades

petrolíferas que, segundo visto, são preponderantes no orçamento de Angola.

Quer dizer, à medida que o governo central goza do direito exclusivo de cobrar receitas

sobre o sector de petróleo é inevitável que o país seja marcado pela presença de

desequilíbrios verticais no que tange à distribuição de recursos entre os distintos níveis

de administração.

Além das receitas serem concentradas nas mãos do governo central, as unidades locais

tem pouca autonomia em relação aos recursos que lhes são atribuídos.

Toda a legislação que regula as receitas listadas no DE 80/99 é definida centralmente.

Por exemplo, não é reservado aos poderes locais o direito de alterar alíquotas e bases de

cálculo dos impostos de modo a adequar suas receitas às necessidades de gasto.

De acordo com as normas estabelecidas, os governadores e os administradores

municipais não têm sequer autonomia para arrecadar e recolher directamente aos seus

respectivos “caixas” os recursos aos quais têm direito.

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Por determinação legal, as receitas locais devem ser arrecadadas pelas Delegações

Provinciais de Finanças – que representam um departamento do Ministério das Finanças

em cada província – e depositadas na conta única do Tesouro. Este órgão, por seu turno,

é quem vai determinar os valores que devem ser atribuídos para cada província com

base nas respectivas quotas financeiras mensais, que também são definidas

centralmente. Conforme está descrito no próprio DE 80/99: “6. A Direcção Nacional do

Tesouro deve manter o controlo sobre as receitas arrecadadas em cada província, de

forma a compensar estes valores na altura da afectação das quotas financeiras mensais

constantes do Orçamento Geral do Estado, aos Governos Provinciais” e “7. A

utilização dos recursos financeiros arrecadados nos termos do n.° 1 [que lista as

receitas locais] do presente decreto executivo, será através da emissão da

correspondente ordem de saque, respeitando os limites dos créditos orçamentais

concedidos na fonte de recurso específica”.

Embora os governos provinciais não tenham autonomia para arrecadar e recolher as

receitas locais, o DE 80/99 quando relaciona essas receitas parece definir que a sua

distribuição entre as províncias será processada segundo critérios devolutivos. Diz o

Decreto em seu item n° 1: “Os recursos financeiros provenientes de impostos e outras

receitas que a seguir se indicam são arrecadados e afectados directamente a cada uma

das províncias onde sua cobrança se verificar...”.

Quer dizer, em razão do exposto acima tem se a impressão de que as receitas destinadas

a cada província seriam equivalentes ao montante que esse nível de administração

recolhesse caso tivesse o direito de arrecadar directamente seus próprios recursos.

Entretanto, não é exactamente isto que se verifica.

O próprio Decreto define que, em certos casos, apenas uma parcela das receitas será

atribuída às províncias. Benguela, Cabinda, Kunene, Luanda e Namibe somente terão

direito a 50% do Imposto de Consumo e do Imposto de Selo recolhidos em seus

respectivos territórios. Além disso, é determinado que apenas metade dos recursos

relativos à Taxa de Circulação serão destinados às províncias; a outra metade deve ser

atribuída para um Fundo Rodoviário.

Em princípio, a arrecadação de cada província deveria servir de parâmetro para

definição dos limites de créditos orçamentais. O problema é que, na prática, conforme

foi relatado em várias entrevistas que precederam a elaboração deste relatório, a

definição desses limites é efectuada pelo Ministério das Finanças numa base ad-hoc. O

governo central tem enorme poder para arbitrar os limites e as quotas financeiras das

províncias sem que, para tanto, precise considerar aspectos técnicos.

De acordo com o DE 80/99, a arrecadação de cada província que for superior aos limites

orçamentais de um determinado exercício deverá transitar para o período seguinte. Ou

seja, em princípio, o que não foi possível ser utilizado em um exercício continuaria

pertencendo à província e poderia ser utilizado no futuro mediante a revisão do tecto

orçamental. O problema é que, se esses tectos não são definidos com base em critérios

técnicos, nada garante que as províncias poderão, de fato, lançar mão dos seus recursos

excedentes.

Além de todos os aspectos até aqui mencionados no que tange ao baixo grau de

autonomia local sobre os recursos que lhes são atribuídos, há ainda um outro elemento

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que torna essa autonomia ainda mais reduzida: a fixação de percentuais para aplicação

das receitas em determinadas áreas. As regras são rígidas e os administradores que as

não cumprirem são sujeitos a sanções. Diz o DE 80/99: “2. Dos recursos financeiros

afectados a cada província, 35% destinam-se a despesas de manutenção e

funcionamento dos serviços administrativos, 60% devem ser programados para

cobertura de despesas com infra-estruturas sociais e económicas locais, sendo os

restantes 5% reservados para intervenções de emergência, à ordem do respectivo

Governo Provincial”; “9. Sem prejuízo do cumprimento das demais formalidades

legais, quanto a prestação de contas, os Governadores Provinciais devem apresentar

(...) os relatórios trimestrais sobre a aplicação de recursos financeiros atribuídos para

a execução dos programas de investimentos locais” ; e “Aos Governos Provinciais que

não prestarem contas da utilização dos recursos referidos no n° 1 (...) será suspensa,

pelo Ministro das Finanças, a disponibilização das quotas financeiras mensais pela

Direcção Nacional do Tesouro, até a sua apresentação”.

Feitas essas considerações, a seguir, é apresentada uma síntese do modelo angolano de

atribuição de receitas aos governos locais.

Na literatura de finanças públicas, existem várias alternativas para repartição de

recursos entre distintos níveis de governo como, por exemplo, o modelo de partilha

tributária ou tax sharing. Dito de uma maneira bem simplificada, a partilha tributária

corresponde a um arranjo onde o governo central tem a responsabilidade pela

determinação das alíquotas, da base de cálculo, bem como pela arrecadação,

administração e distribuição da receita dos impostos atribuídos aos governos locais.

Embora esse modelo, por definição, implique em um certo grau de comprometimento da

autonomia local, é defendido por vários especialistas devido às vantagens que oferece

em termos de harmonização dos procedimentos administrativos e legislativos que

regulam o sistema tributário nacional.

Argumenta-se que o sacrifício da autonomia local pode ser amenizado quando

determinadas medidas são adoptadas, por exemplo: participação dos níveis inferiores de

governo na definição das regras de distribuição das receitas que lhes são atribuídas,

utilização de critérios estáveis e transparentes de partilha, regularidade das

transferencias e liberdade sobre a utilização dos recursos transferidos.

A solução adoptada em Angola para dotar suas províncias e municípios de recursos

financeiros é parecida com o que foi descrito nos últimos parágrafos apenas no que

tange à centralização dos vários aspectos que regulam as receitas definidas pelo DE

80/99. Como na prática não se verifica a adopção de expedientes que tenham como

objectivo atenuar o comprometimento da autonomia decorrente da centralização, não se

pode dizer que o modelo angolano de atribuição de receitas aos governos locais se

assemelhe a uma situação onde os níveis inferiores de administração tivessem, eles

próprios, arrecadado seus tributos.

Os poderes locais para influenciar os critérios da partilha são bastante limitados, as

regras de distribuição de recursos, via de regra, não são pautadas por aspectos técnicos e

muitas vezes atendem a objectivos políticos, as províncias e, em particular, os

municípios não tem controle sobre o volume de recursos transferidos, e, finalmente, é

reduzida a liberdade para a aplicação desses recursos.

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Isto posto, se considerarmos que uma das medidas do grau de descentralização fiscal de

um país reside na capacidade dos governos locais de arrecadar e gerir recursos próprios,

constata-se que esse processo ainda é incipiente em Angola. Além da participação dos

recursos locais ser baixa no total de receitas fiscais do país, não se pode dizer que o DE

80/99 tenha sido bem sucedido em dotar as províncias e os municípios de maior

autonomia financeira por meio de um sistema de tax sharing conforme parece estar

descrito no primeiro dispositivo do Decreto.

Diante desse quadro, o que os administradores locais têm procurado fazer é, na medida

do possível, furtar-se as regras que regulam a aplicação dos recursos aos quais têm

direito e/ou encontrar caminhos para obter receitas fora do OGE – ou seja, receitas

extra-orçamentais que não são passíveis de controle por parte do governo central. Esse

último aspecto será comentado a seguir.

Receitas Locais Extra-Orçamentais15

A possibilidade dos governos locais de obter directamente os recursos que o DE 80/99

lhes atribui, em princípio, é nula, pois, conforme já foi mencionado, a lei determina que

todas as receitas locais devem ser colectadas pelas representações do Ministério das

Finanças nas províncias – isto é, pelas Delegações Provinciais de Finanças através das

Repartições Fiscais. Além da função arrecadatória, as Delegações também têm a

obrigação de garantir que as receitas locais sejam depositadas na conta única do

Tesouro Nacional para posterior repartição entre as províncias.

O DE 80/99 deixa claro que as Delegações e Repartições Fiscais têm a obrigação de

informar ao Tesouro o montante das receitas arrecadadas de modo a assegurar o

controle central sobre tais receitas. Diz o Decreto: “4. As Repartições Fiscais devem

elaborar e enviar à Delegação Provincial de Finanças, até o dia 5, de cada mês, o

mapa mensal das receitas, constantes do n° 1 deste decreto executivo, arrecadadas na

província no mês anterior” e “5. As Delegações Provinciais de Finanças devem, após a

conciliação dos valores registrados pelas Repartições Fiscais com os da conta

bancária, comunicar ao Governo Provincial e à Direcção Nacional do Tesouro, até ao

dia 10 do mês seguinte, o valor consolidado das receitas arrecadadas na província”.

Apesar das determinações anteriores, na prática, alguns governadores e mesmos

administradores municipais tem conseguido arrecadar directamente receitas

provenientes de serviços comunitários. Segundo informações fornecidas por

representantes do governo angolano, este é particularmente o caso da Província de

Luanda.

O procedimento não é legal, mas é possível porque os administradores locais se valem

de certos poderes que lhes foram atribuídos pelo Decreto-Lei n° 17/99 (DL 17/99) que

trata da orgânica dos governos provinciais e das administrações dos municípios e das

comunas. Dentre outras atribuições, o DL 17/99 determina que o governo da província

tem competência para licenciar terras para diversos fins bem como acompanhar e apoiar

15

O relato sobre a obtenção de receitas extra-orçamentais por parte dos governos locais não é pautado em

documentos oficiais e, portanto, pode não ser exactamente fiel à realidade. As considerações que se

seguem tem como referência as entrevistas efectuadas com representantes do Governo de Angola.

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a auto-construção dirigida. Em relação aos municípios, é estabelecido que os mesmos

têm como atribuição promover a construção, manutenção e controle de mercados e

cemitérios.

A recolha directa das receitas relativas aos serviços comunitários se dá no momento em

que os governos locais são chamados a exercer as competências acima citadas. Por

exemplo, sem autorização do poder local não é possível alterar a planta de uma dada

edificação. Assim, qualquer um que deseje efectuar essa alteração deve solicitar uma

licença para a realização da obra que, dentre outros factores, só será concedida mediante

o pagamento de uma taxa ao órgão local competente.

Por força da lei, as receitas comunitárias deveriam ser entregues às Repartições Fiscais

e, consequentemente, depositadas na conta única do Tesouro Nacional. A questão é que

os administradores locais tem poucos incentivos para proceder conforme determina a lei

uma vez que sabem que os recursos que arrecadam nem sempre retornam, através das

quotas financeiras as quais tem direito, na proporção desejada.

À excepção das receitas comunitárias, as Delegações Provinciais continuam tendo um

papel importante na arrecadação das demais receitas locais que o DE 80/99 descrimina.

Estrutura e Distribuição Regional das Receitas Locais

A seguir, é apresentada a composição das receitas locais por fonte de recurso bem como

sua distribuição por província. Os dados são oficiais e, por isso, não levam em

consideração a possível ocorrência de receitas extra-orçamentais.

Como se vê na Tabela 5.6, a principal fonte de recursos locais foi o imposto de consumo

que, sozinho respondeu por mais da metade das receitas atribuídas às províncias e

governos locais. Também mereceram destaque os recursos provenientes do imposto de

selo e o incidente sobre os rendimentos do trabalho por conta de outrém. Os demais

impostos e receitas locais tiveram uma representação muita pequena na arrecadação

total16

.

16

No computo dos recursos locais, foram considerados todos os impostos e practicamente a totalidade das

outras receitas definidas no DE 80/99. A única excepção foi os 10% provenientes das receitas de multas.

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Tabela 5.6

Composição das Receitas Locais por Fonte de Recurso: 2005 Milhões

de USD % do Total

TOTAL 1.199,2 100,00

Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho por Conta Própria 3,0 0,25

Imposto sobre os Rendimentos Trabalho por Conta de Outrém 246,9 20,59

Imposto Industrial do Grupo C 0,1 0,01

Imposto sobre Aplicação de Capitais 15,6 1,30

Imposto Predial Urbano 6,5 0,55

Imposto sobre Sucessões e Doações 0,3 0,02

Imposto sobre Transmissão Imobiliária (SISA) 6,1 0,51

Imposto sobre Consumo 626,6 52,25

Imposto de Selo 281,5 23,47

Taxa de Circulação 9,1 0,76

Renda das Casas 1,4 0,12

Serviços Comunitários 1,9 0,16

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

No que tange à distribuição regional das receitas locais, a Província de Luanda foi

predominante nas arrecadacoes totais, acompanhando o movimento que já havia sido

observado em relação ao montante global de receitas fiscais recolhidas em Angola.

Além de Luanda, poucas províncias se mostraram-se relevantes em termos de

arrecadação: Zaire, Cabinda e Benguela (vide Tabela 5.7).

A distribuição das receitas só se mostrou um pouco menos concentrada quando

ponderada pelo tamanho da população de cada província. Luanda apareceu entre as

províncias de maior receita per capita, mas foi superada pelo Zaire. Este fenómeno

explica-se pelo facto de que, embora Luanda detenha mais de 70% das receitas locais, a

sua população também é alta em relação ao número total de habitantes em Angola.

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Tabela 5.7

Receitas Locais (2005) e População por Província (estimada) Receitas Locais População

Receitas per capita (USD)

USD Milhões

Em % do Total

N° de habitantes

Em % do Total

TOTAL 1.199,2 100,0 17.681.600 100,0 67,8

Luanda 912,25 76,07 4.668.708 26,40 195,4

Bengo 6,45 0,54 233.682 1,32 27,6

Benguela 54,64 4,56 2.723.136 15,40 20,1

Bié 3,18 0,27 1.165.836 6,59 2,7

Cabinda 72,68 6,06 510.161 2,89 142,5

Huambo 4,83 0,40 1.299.835 7,35 3,7

Huíla 16,16 1,35 1.491.998 8,44 10,8

Kuando-Kubango 2,15 0,18 370.618 2,10 5,8

Kunene 9,48 0,79 378.753 2,14 25,0

Kwanza-Norte 5,97 0,50 374.645 2,12 15,9

Kwanza-Sul 3,71 0,31 1.026.910 5,81 3,6

Lunda-Norte 6,86 0,57 579.824 3,28 11,8

Lunda-Sul 6,69 0,56 270.919 1,53 24,7

Malanje 2,42 0,20 500.685 2,83 4,8

Moxico 1,82 0,15 494.128 2,79 3,7

Namibe 13,23 1,10 210.637 1,19 62,8

Uige 1,59 0,13 1.148.564 6,50 1,4

Zaire 75,15 6,27 232.561 1,32 323,1

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

Vale lembrar que os resultados apresentados na Tabela 5.7 não significam que os

recursos colectados em cada província sejam a elas devolvidos na mesma proporção,

pois, dentre outras razões, a repartição das receitas é regulada por critérios pouco

precisos e transparentes.

Em relação à distribuição provincial das receitas por origem dos recursos, as únicas

fontes onde Luanda não predominou foram o imposto industrial incidente sobre

pequenas actividades (Grupo C) e as receitas relativas às rendas das casas. Alguma

desconcentração também foi observada em relação à receita de serviços comunitários,

mas nesse caso, é bom lembrar que as informações podem ter sido omitidas em razão da

sua arrecadação se processar por via extra-orçamental (vide Tabela 5.8).

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Tabela 5.8

Distribuição Provincial das Receitas Locais por origem dos Recursos: 2005

Receitas de Origem Tributária Demais Receitas

Impostos Taxas

Rendimentos Trabalho por

Conta Própria

Rendimentos Trabalho Conta de Outrém

Industrial do Grupo

C

Aplicação de

Capitais

Predial Urbano

Sucessões e

Doações

Transmissão Imobiliária

(SISA) Consumo Selo Circulação

Renda das

Casas

Serviços Comunitários

TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Luanda 85,52 67,52 0,22 94,70 89,27 63,79 82,01 89,09 53,74 74,62 8,51 32,55

Bengo 0,00 0,45 17,20 0,00 0,01 0,00 0,04 0,84 0,02 0,05 1,48 0,28

Benguela 3,78 4,04 7,07 4,59 5,76 15,03 8,82 4,42 4,84 4,00 49,63 24,54

Bié 0,00 1,00 0,00 0,00 0,07 0,00 0,62 0,00 0,18 0,94 3,45 0,10

Cabinda 0,01 11,86 1,61 0,00 0,10 1,01 0,68 0,91 13,25 2,70 3,88 1,51

Huambo 0,00 1,27 25,98 0,00 0,22 2,06 1,96 0,05 0,22 1,50 0,29 20,94

Huíla 0,21 2,39 29,97 0,16 2,22 18,01 3,86 0,98 1,06 4,12 6,98 8,32

Kuando-Kubango 0,00 0,43 0,00 0,00 0,07 0,01 0,12 0,14 0,05 0,10 0,86 0,16

Kunene 0,00 0,61 0,03 0,03 0,00 0,00 0,02 1,16 0,21 0,60 0,44 0,29

Kwanza-Norte 0,00 0,55 0,00 0,52 0,09 0,00 0,06 0,66 0,10 1,24 0,02 0,21

Kwanza-Sul 0,00 0,96 10,44 0,00 1,11 0,00 0,47 0,03 0,25 2,08 7,58 0,83

Lunda-Norte 0,00 2,74 0,40 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,03 0,01 0,50 0,00

Lunda-Sul 3,15 2,47 3,13 0,00 0,03 0,02 0,41 0,00 0,12 0,80 1,80 1,24

Malanje 0,00 0,56 0,82 0,00 0,16 0,00 0,21 0,01 0,22 2,13 9,90 0,12

Moxico 0,00 0,61 2,11 0,00 0,04 0,05 0,15 0,01 0,04 1,29 0,52 1,62

Namibe 0,09 0,92 0,72 0,00 0,76 0,01 0,42 1,34 0,75 1,96 3,58 6,37

Uige 0,00 0,57 0,00 0,00 0,03 0,00 0,09 0,00 0,04 0,11 0,35 0,17

Zaire 7,24 1,03 0,30 0,00 0,06 0,01 0,03 0,35 24,86 1,76 0,24 0,74

Elaboração Própria. Fonte Primária: Ministério das Finanças.

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Incentivos para Arrecadação de Receitas Locais

As unidades locais, conforme foi mencionado, não têm poder para arrecadar suas receitas.

O papel das províncias, segundo o DL 17/99 (artigo 2°, item 2, letra j), é de “supervisionar

a arrecadação dos recursos financeiros provenientes dos impostos e outras receitas

devidas ao Estado que são afectadas, nos termos da legislação em vigor”.

Segundo argumento dos dirigentes centrais, os governos provinciais que, no exercício de

sua actividade de supervisão, auxiliarem as Delegações Provinciais a aumentar as receitas

que são colectadas em seu território seriam beneficiados pela revisão dos limites

orçamentais aos quais têm direito.

Quer dizer, segundo esses dirigentes, embora os governos locais não tenham autonomia

para recolher directamente os recursos que lhes são atribuídos, há incentivos para que os

mesmos colaborem com o esforço de arrecadação à medida que esse comportamento lhes

confere maior poder de barganha na negociação de suas quotas com o Ministério das

Finanças.

Na prática, porém, os incentivos são muito pequenos. Como os governadores e, sobretudo,

os municípios sabem que os limites orçamentais e a liberação das quotas financeiras não

guardam muita relação com o esforço de arrecadação que implementarem, não encontram

motivos para cooperar com as Delegações Provinciais.

Só há incentivos para aumentar o esforço arrecadatório quando as unidades locais

encontram brechas que as permite apropriar-se directamente dos recursos que são

recolhidos nas suas respectivas jurisdições. A colecta de receitas de serviços comunitários,

segundo visto, é um caso ilustrativo nesse sentido.

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40

6 – TRANSFERÊNCIAS FISCAIS INTERGOVERNAMENTAIS

6.1 – Descrição e diagnóstico sobre as transferências fiscais intergovernamentais

Não há um sistema formal de transferências fiscais intergovernamentais em Angola. Os

Governos Provinciais recebem dotações orçamentais ad hoc do Governo Central para

executar de acordo com as políticas definidas centralmente. Essas dotações orçamentais são

denominadas de quotas financeiras. Esse instrumento de passagem de recursos é o que mais

se aproxima de uma transferência fiscal em Angola.

Quotas financeiras

A definição das quotas financeiras das Unidades Orçamentais é de responsabilidade da

Direcção do Tesouro do Ministério das Finanças. Não há uma legislação específica sobre a

metodologia empregada nem tampouco foi apresentado pelas autoridades governamentais

angolanas um manual de procedimentos para a definição de tais quotas financeiras.

As quotas financeiras são os limites mensais que cada Unidade Orçamental dispõe para

gastar, ou seja, as quotas financeiras não são um instrumento de transferencia de recursos

apenas para os governos provinciais, mas sim para todas as unidades que compõem o

Orçamento Geral do Estado.

De acordo com o que foi relatado nas entrevistas, o processo inicia-se na programação

financeira, realizada trimestralmente pela Direcção do Tesouro, que define o limite de

cabimentação para o período disponível para cada província.

A partir do limite de cabimentação trimestral e tendo como base o plano de caixa do

tesouro é definido o valor total das quotas financeiras a serem distribuídas às Unidade

Orçamental. A distribuição entre as Unidades Orçamentais é realizada de acordo com (i)

suas necessidades financeiras por categoria económica (custo, pessoal e investimentos) e

(ii) o limite de cada unidade estabelecido no Orçamento Geral do Estado para aquele ano.

Nos casos em que as Unidades Orçamentais não apresentarem suas necessidades de

recursos financeiros, a Direcção do Tesouro define sua quota financeira de acordo com o

duodécimo a que aquela unidade tem direito no Orçamento Geral do Estado.

Segundo a Direcção do Tesouro, não há grande volatilidade das quotas financeiras em cada

Unidade Orçamental ao longo do ano, o que significa que provavelmente o método de

divisão pelo duodécimo é o que prevalece.

Não há uso de critérios técnicos ou de indicadores sócio-economicos na definição das

quotas financeiras de cada Unidade Orçamental. Sendo assim, esse instrumento de

transferencia de recursos às províncias não atende a um dos requisitos básicos de um

sistema de transferências intergovernamentais que é o da redistribuição regional de

recursos.

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41

Da mesma forma, as quotas financeiras também não podem ser compreendidas como um

mecanismo de redistribuição vertical de recursos uma vez que seu objectivo nada mais é do

que dividir o total de recursos disponíveis no Tesouro entre todas as Unidades Orçamentais,

que incluem também àquelas ligadas directamente aos órgãos da estrutura central de

governo.

Tampouco as quotas financeiras atendem a outros princípios básicos de um sistema de

transferências fiscais, quais sejam: adequação das receitas às responsabilidades, autonomia

fiscal, equidade, previsibilidade, eficiência e sensibilidade.

O FDM como embrião do sistema de transferência intergovernamentais

O pilar das relações fiscais intergovernamentais mais frágil actualmente em Angola é o das

transferências fiscais. Nesse sentido, a implantação do Fundo de Desenvolvimento

Municipal é de extrema importância e urgência para que o país continue avançando no

processo de descentralização. Na verdade, torna-se necessário que, também se desenvolva

algum mecanismo de transferência que atenda aos princípios para os governos provinciais,

já que os mesmos correspondem ao mais baixo nível de administração com capacidade de

gestão de recursos.

Box 6.1 - O papel do FDM: uma sugestão do Departamento Nacional de Impostos

O primeiro passo para que os municípios possam receber recursos do FDM é

declarar que essas unidades têm autonomia para gastar e gerir recursos, e

determinar que o órgão que fará o controle desses gastos. Tais medidas podem ser

tomadas antes mesmo dos municípios se tornarem autarquias, para tanto, basta

instituir uma disposição transitória. Também não é preciso que os municípios

integrem o SIGFE; é necessário apenas que os mesmos configurem no sistema como

unidades receptoras de recursos. O FDM entraria no OGE como um fundo

autónomo.

Tomadas essas medidas, o FDM poderia funcionar como um fundo de equalização.

Vejamos.

Os municípios devem fazer sua previsão de receitas e necessidade de gasto para

manter em funcionamento as estruturas que estão sob sua jurisdição. Tais

necessidades de gasto devem ser entendidas como despesas mínimas que o

administradores precisam incorrer para manter a limpeza das ruas, os centros e

postos de saúde, unidades educacionais etc. Quer dizer, tratam-se de despesas

mínimas de custeio das actividades municipais que não computam as necessidades

de investimento.

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42

Para aquelas municipalidades onde as receitas que lhes forem atribuídas não se

mostrarem suficientes para o financiamento das despesas mínimas, o FDM seria

transferido de tal sorte a complementar a diferença.

Para financiar os gastos com investimento, os municípios seriam incentivados a

incrementar sua arrecadação própria.

Poderia ser criado um dispositivo nas regras que vão regular o FDM que institua

uma espécie de prémio para os municípios que se esforçarem em aumentar sua

arrecadação. No caso em que for constatado que esse esforço foi feito, ao invés do

município receber menos FDM em razão da diferença entre as receitas próprias e

as necessidades mínimas de gasto ter diminuído, o FDM seria mantido e o excesso

de recursos sobre as despesas mínimas poderia ser aplicado em gastos com

investimento.

Nesse modelo, o orçamento municipal não precisaria ser submetido aos órgãos

centrais. O papel de controle e fiscalização caberia às províncias.

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43

7 - O ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO

7.1 – Princípios e Caracterizações

O orçamento é o acto pelo qual o Poder Legislativo prevê e autoriza ao Poder Executivo,

por certo período e em pormenor, as despesas destinadas ao funcionamento dos serviços

públicos e outros fins adoptados pela política económica ou geral do país, assim como a

arrecadação das receitas já criadas em lei.

Existem inúmeras definições que procuram explicar o que vem a ser orçamento na esfera

pública, uma vez que a utilização tem um carácter abrangente e representam os aspectos

administrativos, economico-financeiros, jurídicos, técnicos e políticos da gestão

governamental.

Nesse contexto e, considerando a criação do Fundo de Desenvolvimento Municipal - FDM,

faz-se necessário conhecer a estrutura, o ciclo e o processo orçamental de Angola para uma

compreensão administrativa, económica, jurídica, técnica e política do planeamento

orçamental num contexto de descentralização fiscal.

Aspecto Administrativo do Orçamento

O orçamento é visto como importante peça de planeamento na medida em que o Estado

busca saber o quanto disporá em termos de recursos financeiros para aplicar em prol das

necessidades colectivas. Sob este aspecto, o orçamento auxilia os responsáveis pelas

finanças públicas na consecução das diversas etapas do processo administrativo:

programação, execução e controle.

Em Angola, esse processo é extremamente centralizado na estrutura central, que concentra

a origem e aplicação dos recursos financeiros.

Por exemplo, de acordo com relatório elaborado para o sector da saúde, o processo de

descentralização da administração do Estado afectou qualitativamente e quantitativamente

o modelo de gestão desse sector. Na actualidade, existem 234 orçamentos no sector da

saúde, definido como afectação directa de recursos com possibilidade de diferenciá-la

dentro do Orçamento Geral do Estado - OGE, frente a 82 no ano 2000. Contudo, o peso do

volume de recursos do sector da saúde geridos pelas províncias, actualmente em torno de

45%, é o mesmo que existia em 2002 e a aplicação no ano de 2005 no sector da saúde é de

4,4% do total do OGE, o que representa metade da média do continente africano.

Aspecto Económico do Orçamento

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O orçamento consiste em decisão de gasto, materializa as funções económicas traduzindo

em alocação, (re)distribuição e é um potente instrumento de estabilização da economia de

um país. Isto quer dizer: o gestor público poderá decidir se investirá em uma coisa ou em

outra. A representatividade conferida aos membros do Legislativo em matéria orçamental

impõe esta conotação, uma vez que os membros do Poder Legislativo podem intervir no

processo de alocação da despesa pública. E não é só em termos de distribuição de despesas,

mas também sobre quem recairá o sacrifício pela geração dos recursos necessários ao

desenvolvimento de acções propostas como, por exemplo, aumentar a carga tributária de

determinado tributo.

No aspecto económico o orçamento deverá passar por um processo de redesenho para

absorver o Fundo de Desenvolvimento Municipal - FDM, considerando que o fundo será

uma simulação de um sistema de transferências intergovernamentais, que considere

mecanismos de eficiência e equidade na sua gestão.

Aspecto Jurídico do Orçamento

As medidas contidas no Orçamento precisam ser aprovadas, isto é, carecem de

configuração jurídica, de modo a produzir direitos e obrigações para os agentes públicos e

para os governados. Desta necessidade, surge à transformação do Orçamento em lei, bem

como sua compatibilização com as normas que estabelecem o formato da sua elaboração,

execução e controle.

Considerando que o Orçamento é considerado a “lei de meios”, o repasse de recursos às

administrações municipais por meio do FDM deverá ser submetido à Assembleia Nacional.

Aspecto Técnico do Orçamento

Sob a óptica técnica tem-se o estabelecimento de regras metodológicas para a realização

dos fins indicados nos aspectos político, económico, administrativo e jurídico. Para atender

a este dispositivo foram estabelecidos inúmeros mandamentos que visam a disciplinar e dar

uniformidade à estrutura da lei orçamental no país, por meio da apresentação de

demonstrativos, estimativa da receita, demonstração de resultados e contabilização da

execução orçamental, dentre outros.

Em princípio, tecnicamente é fundamental estabelecer mecanismos de predição da receita e

meta fiscal para elaboração do processo orçamental e no caso das despesas correntes e de

capital.

Aspecto Político do Orçamento

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As decisões relacionadas com a dimensão do Orçamento, principalmente a distribuição das

despesas, são decisões políticas que reflectem a detenção do poder por grupos económicos

e classes sociais. As decisões surgem, chamadas de “política de governo”, são, geralmente,

influenciadas pela interacção do conjunto de forças que podem ser chamadas, de “grupos de

interesse”. Este fenómeno recebe a denominação na literatura de rent seeking, ou seja, os

agentes organizam-se para usufruir de ganhos e defender seus interesses legítimos e, às

vezes, não tão legítimos, tem tido um destaque especial na análise desse aspecto no

contexto das finanças públicas. As acções nocivas podem ser minimizadas quando se abrem

espaços para uma discussão mais abrangente do processo orçamental, não apenas na fase de

elaboração, mas, sobretudo, em toda sua execução. Portanto, torna-se fundamental a

estruturação de processos de participação da sociedade.

Princípios do Orçamento

O orçamento vem evoluindo ao longo dos tempos. Passou de instrumento usado para

minorar as exigências tributárias do Estado, frente às instituições feudais da Idade Média,

para o quadro de técnica contábil no qual são apresentadas receitas e despesas públicas, de

forma a evidenciar a política economico-financeira e o programa do Governo.

Depois o Orçamento passou a ser visto também como instrumento materializador da função

alocativa de governo, ao identificar as fontes dos recursos, bem como sua aplicação, de

forma a apresentar à sociedade as políticas públicas. Percebe-se também que, a partir do

Orçamento, as políticas redistributivas e compensatórias são previstas na sua concepção,

visando a reduzir as disparidades regionais de renda e de riqueza.

Assim, desde sua origem, até os dias actuais, o Orçamento pode ser compreendido sob

diversas vertentes, mas deve ser visto, essencialmente, como peça do processo de

planeamento, ou seja, o Orçamento é um instrumento do planeamento governamental.

Nesse contexto, o Orçamento Geral do Estado - OGE - é o único documento, definido em

lei, que materializa as acções que caracterizam a alocação de recursos para execução do

planeamento do Governo de Angola. É o instrumento que reflecte o carácter de anualidade,

tendo como objectivo de gerir os recursos públicos, seguindo ainda os princípios de

universalidade e anualidade, estabelecidos na Lei n.º 9, de 17 de outubro.

A Lei Orçamental de Angola normatiza e concentra o processo de elaboração, discussão,

aprovação e execução orçamental, a programação financeira e o registo contabilístico dos

recursos do Estado estabelecendo logo em seu Artigo 1º os princípios de anualidade,

universalidade e unidade, que visam garantir basicamente alguns procedimentos basilares

para programação e execução orçamentária.

À semelhança de qualquer ciência, os princípios orçamentais funcionam como o núcleo

sobre o qual se sustentam às condições aceites como verdadeiras para o objecto da ciência

em estudo. Os princípios são enunciações normativas de valor genérico, que condicionam

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46

e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para a aplicação e interpretação,

quer para a elaboração de novas normas.

Os princípios não têm carácter absoluto ou dogmático, antes constituem categorias

históricas e, como tais, estão sujeitos às transformações e às modificações no seu conceito e

significação. Entretanto, devem servir como referência para implantação do processo de

descentralização da gestão fiscal, financeira e contábil dos níveis subnacionais.

A literatura internacional consagra vários princípios orçamentais. Todavia, no diagnóstico

realizado da legislação angolana identificamos apenas alguns deles que estão especificados

no Quadro 7.1.

Nesse caso, fizemos um diagnóstico dos princípios com base na legislação e analisamos os

mesmos, considerando a necessidade de descentralização fiscal-financeira do país. Assim,

introduzimos o significado que deveria nortear o processo e ciclo orçamentais para o êxito

da descentralização fiscal das instituições governamentais.

Com efeito, é importante ressaltar que a descentralização perseguida deverá fundamentar-se

em princípios que solidifiquem um pacto de relacionamento entre os níveis de governo

central, provinciais e municipais. E isto deve ocorrer mesmo em economias altamente

centralizadas como a de Angola, que na execução orçamental de 2005 a estrutura central de

governo foi responsável por 84,7% dos gastos e, de acordo com o Orçamento Geral do

Estado de 2006, o Governo Central detém 91,75% das despesas previstas.

A Lei 9/97 de Angola está fundamentada nos seguintes princípios orçamentais universais,

tais como:

Quadro 7.1

Princípios Orçamentais e Fundamentação Legal Princípios Significado Fundamentação Legal

Unidade ou

Totalidade

Esse princípio foi reconceituado, com objectivo

de demonstrar a importância da consolidação das

finanças públicas Administração deve possuir

somente uma única peça orçamental, ou seja, essa

totalidade deve respeitar as separações orgânicas

que resultam da descentralização administrativa e

financeira, por território ou localidade.

Art. 1º da Lei 9/97

Universalidade O Orçamento deve conter todas as receitas e

despesas de todos os poderes e entidades da

Administração Pública. Tem-se como objectivo

na descentralização garantir que todas as receitas

e despesas sejam conhecidas a priori e sejam

autorizadas previamente. Consignar que

quaisquer operações de receita e despesa tenham

autorização parlamentar

Art. 1º da Lei 9/97

Anualidade ou O Orçamento deve ser elaborado para o período

de um ano, que em Angola coincide com o ano

Art. 1º da Lei 9/97

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Periodicidade económico (Art.3 º, Lei 9/97).

Deve haver um processo integrado entre todos os

entes governamentais, governo central,

províncias e municípios, mesmo com as

restrições de cumprir programações de maior

prazo a anualidade é uma regra de aceitação

unânime entre as nações modernas e não

inviabiliza os Programas de Melhoria, Programa

de Investimento Público e Plano Bianual de

Angola.

Equilíbrio

Estabelece que as despesas não devem

ultrapassar as receitas previstas. Assim, o

Orçamento deve ser estabelecido em termos de

receitas existentes e despesas compatíveis aos

ingressos. Esse princípio estabelece actualmente

outros desafios, quando se tem mais de um nível

de governo ou quando se tem autonomia relativa,

pois o objectivo é a manutenção de uma situação

de equilíbrio fiscal, com desenvolvimento

económico.

Art. 5º, da Lei 9/97

Especificação ou

Discriminação da

Despesa

Estatui que as receitas e as despesas devem

aparecer no Orçamento de forma discriminada,

não sendo permitido que as despesas sejam

autorizadas por meio de dotações globais. É

importante salientar que também essa regra deve

ser aplicada aos governos subnacionais,

considerando também a necessidade de se ter

uma leitura contábil unificada das categorias

económicas de receita e despesa, bem como a

uniformidade dos balanços.

Art. 11º, da Lei 9/97

Programação

A programação financeira é o principal

instrumento de gestão dos recursos financeiros

públicos, que será elaborada com base no OGE.

A linguagem moderna deve também ser

absorvida pelos governos subnacionais, com

objectivo de se estabelecer uma avaliação

adequada das políticas públicas descentralizadas.

A programação deve ser uniformizada, com o

objectivo de melhorar a consolidação da despesa.

Por práxis, até o nível de função e subfunção,

deixando os municípios para definir seus

programas que podem ser orientados pelo

governo central.

Art. 6 º, do Decreto 73/01

Vale mencionar a importância de se consolidar e ratificar outros princípios que vão

influenciar um processo consistente de descentralização, tais como: exclusividade,

programação, clareza, transparência, publicidade, compatibilidade, etc. (Veja Quadro 7.2).

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Quadro 7.2

Princípios Orçamentais e o Contexto da Descentralização

Princípios Significado Correlação dos Princípios

com a Descentralização

Exclusividade O Orçamento deve conter apenas matéria

financeira, não contendo assuntos estranhos à

previsão da receita e à fixação da despesa.

É fundamental constitucionalizar esse princípio,

pois se exclui a possibilidade legal de

interferência das relações privadas que não se

constituam em matéria de orçamento público.

Os municípios devem

estabelecer estas regras com o

objectivo de evitar

interferências em matéria não-

financeira.

Clareza

O orçamento público deve conter uma linguagem

clara, simples e compreensível para todos os

agentes económicos e para conhecimento da

população.

Considerando um processo de

descentralização, a linguagem

orçamental deve ter uma

tradução concisa e

exemplificativa para

compreensão dos angolanos.

Transparência Possui o mesmo significado do Princípio da

Publicidade.

É fundamental, independente da

forma da estrutura de governo,

inclusive para consolidar e

aperfeiçoar a descentralização

fiscal, estabelecer mecanismos

de transparência na alocação do

gasto público.

Compatibilidade

Reza que deve haver compatibilidade de

objectivos dos planos de longo, médio e curto

prazos.

Constatou-se no diagnóstico que

a legislação é bastante

fragmentada, não havendo um

fio condutor entre os

instrumentos de planeamento e

o Orçamento Geral do Estado.

Explicitamente, a Lei Orçamental cita os princípios de unidade, anualidade, universalidade,

mas também consolidada no texto os princípios de equilíbrio e especificação ou

discriminação da despesa, tornando o orçamento público semelhante em seu processo aos

países latinos.

É importante analisar que no caso da implantação do processo de descentralização, através

de fundos orçamentais, estes princípios devem também orientar os procedimentos dos

governos subnacionais, considerando que são princípios universais e fundamentam os

procedimentos em todos os níveis de governo. Portanto, considerando a consolidação do

processo orçamental, estes princípios devem compor os fundamentos da legislação contábil

e financeira que instituir o fundo financeiro.

No que concerne ao princípio do equilíbrio a Lei Orçamental, no seu Art. 5º, estabelece que

o Orçamento do Estado deve prever os recursos necessários para cobrir todas as despesas e

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que as despesas correntes não devem em nenhuma situação ultrapassar as receitas

correntes.

Não há menção aqui sobre as relações com o orçamento de capital, ou seja, a lei não

menciona a possibilidade das receitas de capital financiarem as despesas correntes ou as

receitas correntes financiarem despesas de capital.

A lei também “flexibiliza o equilíbrio” orçamental ao permitir a possibilidade de déficit no

orçamento corrente, mas este não pode ser financiado via emissão de moeda, ou seja, o

déficit é equalizado através do excesso de arrecadação, de operações de crédito por

antecipação de receitas (Item 4º, Art.6º) ou da emissão de títulos.

Constata-se também que a estrutura e o processo orçamentais seguem o orçamento por

programas, disseminado pelas Nações Unidas a partir do final da década de 50 para os

países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento e define uma classificação

tridimensional da despesa.

A linguagem orçamental é essencialmente contábil. Assim, o elemento básico do

orçamento é a conta que, através dela é possível realizar procedimentos, tais como:

Antecipar as situações patrimoniais (no orçamento propriamente dito);

Registrar a movimentação patrimonial (na execução do orçamento); e

Demonstrar resultados patrimoniais (nos balanços).

A conta, como instrumento de análise e síntese, possibilita a representação de toda e

qualquer variação nos elementos patrimoniais e de síntese, pois o agrupamento das contas

permite o conhecimento dos resultados globais da gestão. Portanto, é fundamental o

cumprimento e consolidação dos princípios orçamentais aqui citados, quando da

implantação de procedimentos de descentralização para governos subnacionais de Angola.

As despesas orçamentais obedecem a uma classificação tridimensional da despesa,

seguindo a seguinte estrutura:

i) Classificação Institucional

A Classificação Institucional, também denominada departamental é a mais antiga das

classificações da despesa orçamental. A sua finalidade é evidenciar as unidades

administrativas e orçamentais, identificar os responsáveis pela execução da despesa. Essa

classificação vai permitir distinguir, por exemplo, os gastos da Província de Cabinda, dos

gastos da Província de Malanje, ou dos gastos destas com a capital Luanda, pois cada umas

delas terá uma codificação que as identifique, bem como distintas por códigos de contas

diferenciadas os Municípios destas províncias.

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A Classificação Institucional tem a vantagem de comparar imediatamente vários

municípios ou províncias em termos de dotações orçamentais recebidas ou despesas

cabimentadas e permitirá também identificar os ordenadores das despesas de forma

descentralizada. É possível dizer-se também que essa classificação servirá como ponto de

partida para estabelecimento de um programa de contabilização de custos e o mapeamento

geoespacial dos gastos governamentais.

ii) Classificação Funcional-Programática

A finalidade principal da classificação funcional é fornecer as bases para apresentação de

dados estatísticos sobre os gastos públicos nos principais segmentos em que actuam as

organizações do Estado angolano. Assim, vincular a despesa orçamental às acções e aos

objectivos e metas governamentais, com foco no Plano Nacional, que podemos entender

que seja actualmente o Programa de Melhoria para o biénio 2005/2006 e o Programa de

Investimentos Públicos.

Em Angola, a classificação funcional-programática compreende ainda três níveis de

agregação, quais sejam: funções, programas, actividades ou projectos.

Esta classificação apresenta uma riqueza bastante significativa, pois, com a

descentralização fiscal e financeira ao nível municipal, será possível conhecer as funções,

os programas a execução orçamental ao nível dos municípios, consorciando com a

Classificação Institucional, que identificará os municípios e suas funções.

iii) Classificação Económica

A Classificação Económica tem por fim definir as categorias das despesas, universalmente

estabelecidas em corrente e capital. Será possível investigar a composição do gasto corrente

ou de capital por Município, que tenha recursos provenientes do Fundo de

Desenvolvimento Municipal, caso estes recursos sejam incondicionais, sem vinculação ao

objecto do gasto. Será possível aqui identificar o nível de investimento e compará-lo entre

os Municípios.

O princípio da programação só foi definido a partir da criação do Sistema Integrado de

Gestão Financeira do Estado, estabelecido pelo Decreto n.º 73, de 12 de outubro de 2001. O

referido sistema tem como objectivo definir os procedimentos da execução descentralizada

do OGE e descreve uma série de normatizações para execução orçamental e,

consequentemente, a programação da despesa.

7.2 – O Processo e Ciclo Orçamental

O processo de preparação do orçamento em Angola decorre em paralelo para as despesas

correntes e os investimentos, este último realizado através do Programa de Investimento

Público - PIP. A elaboração das propostas orçamentais carece de linhas estratégicas dos

sectores, bem como de uma conexão e correlação entre os instrumentos actuais de

planeamento. Nos últimos anos, o exercício de orçamentação dos bens e serviços é liderado

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pelo Ministério das Finanças, o qual estabelece os tempos e os procedimentos, estes últimos

baseados, pelo menos na teoria, na metodologia de orçamento-programa. Em termos

práticos, o exercício de preparação dos orçamentos correntes resume-se no custeio de

recursos, dentro de um tecto orçamental e sem nenhuma ligação com os resultados

esperados, não havendo também indicadores para monitorar o desempenho. No relativo à

orçamentação dos investimentos, a listagem de intervenções não conta com um plano de

investimento nacional ou provincial, que defina o modelo sectoriais adequados para o país.

Directrizes Gerais

As Propostas de Orçamento devem ser elaboradas seguindo um conjunto de directrizes

previstas no Manual de Elaboração da Proposta Orçamental. Com intuito de fundamentar

esse diagnóstico e acenando para construção do Fundo de Desenvolvimento Municipal,

reproduziu-se os princípios do referido manual acrescido de algumas observações

pertinentes, considerando-se o contexto de descentralização:

1. A proposta orçamental é elaborada a partir dos formulários anexos ao Manual de

Elaboração do Orçamento, que anualmente vem sendo editado (ver, a propósito, o site

http://www.minfin.gv.ao/).

2. Os valores, tanto das receitas como das despesas, devem ser propostos em Kwanzas

(Kz), inclusive para as despesas a serem realizadas em divisas. Ressalta-se que os valores

reais realizados e a realizar no corrente exercício, devem servir como base de partida para a

elaboração da Proposta Orçamental do próximo exercício.

Essa premissa aqui é importante, considerando a criação do Fundo de Desenvolvimento

Municipal, pois o saldo financeiro deve ser apurado no Balanço Patrimonial do Fundo e

registado como saldo de caixa para o próximo exercício.

3. As receitas devem ser estimadas de forma a abranger todas as fontes, nomeadamente as

próprias, as consignadas e as provenientes de doações e financiamentos, inclusive aquelas

decorrentes de contrapartidas.

Ressaltamos aqui a importância da sedimentação dos princípios orçamentais para esse

diagnóstico. É importante ratificar o princípio da universalidade e unidade de receitas e

despesas. Constata-se aqui que, com a instituição do FDM, faz-se necessário estabelecer

fortes mecanismos para efectividade desses princípios universais instituídos em ambiente

de descentralização fiscal.

4. As despesas a realizar por conta de doações já recebidas ou a receber, devem ser inscritas

no OGE com a sua correspondente fonte de recursos, de modo a assegurar o princípio da

universalidade orçamental.

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5. As despesas a realizar devem ocorrer prioritariamente por conta dos Recursos Próprios e

dos Recursos Consignados, em detrimento dos Recursos Ordinários do Tesouro.

6. As despesas com os Projectos do Programa de Investimentos Públicos – PIP devem

explicitar claramente as fontes de recursos que irão custeá-los, em especial os Recursos

Próprios, os Recursos Consignados, os Recursos de Financiamentos e, por último, os

Recursos Ordinários do Tesouro.

7. Devem ser obedecidas as prioridades do Governo quando forem propostas as despesas

relativas ao próximo exercício económico, de modo a estarem de acordo com o Programa

do Governo, nomeadamente a Estratégia de Combate à Pobreza. Assim, os programas,

projectos e actividades a realizar devem contribuir para alcançar os objectivos

programáticos do Governo, tendo em conta o formato de “orçamento de desempenho” do

OGE, permitindo a avaliação de resultados com base em indicadores dos gastos realizados

previamente definidos.

Essa directriz precisará de um “ajuste fino”, tendo em vista que se identificou grande

desarticulação entre os instrumentos de planeamento orçamental e muita fragilidade na

avaliação e controle das políticas públicas para servir de parâmetro para elaboração da

proposta orçamentária do ano subsequente.

8. A proposta orçamental consolidada de cada Unidade Orçamental (somatório das

propostas de todos os seus Órgãos Dependentes) deve respeitar o limite máximo (tecto)

estabelecido para o seu conjunto de actividades e para o conjunto de projectos.

Aqui merece um comentário nesse diagnóstico, pois esse fundamento deverá estender-se

para os Municípios que tiverem transferências de recursos, ou seja, estabelecer tectos,

vinculando princípios de eficiência e equidade na alocação do gasto público.

9. As despesas com o pessoal devem estar de acordo com as instruções sobre os quadros de

pessoal da função pública e limite atribuído. Deve ainda, apresentar claramente as

necessidades de enquadramento de novos funcionários, de forma a permitir a sua avaliação

e autorização de admissão, nos termos do Decreto-Lei n.º 5/02, de 1 de Fevereiro.

10. Deve ser efectuada uma revisão rigorosa dos gastos realizados nos dois últimos

exercícios em relação aos propostos para o próximo exercício económico, tendo em conta a

supressão consistente dos gastos supérfluos ou aqueles adiáveis e o impacto que isto

ocasionará, sobre os benefícios que eles irão proporcionar à sociedade.

11. Os Serviços e Fundos Autónomos e os Institutos Públicos, ao proporem despesas a

serem custeadas com transferências do Tesouro, deverão considerar o limite máximo de

75% (setenta e cinco por cento) do valor total da respectiva proposta orçamental, devendo

os restantes 25% (vinte e cinco por cento) serem cobertos com recursos próprios, conforme

o estabelece o Decreto-Lei n.º 9/03, de 28 de Outubro.

12. Nos termos do Decreto n.º 120/03, de 14 de Novembro, os limites de despesas do

Programa de Investimentos Públicos são fixados pelo Ministério do Planeamento, pelo que

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não constam no Manual de Elaboração da Proposta Orçamental, instruções sobre os

projectos de investimentos públicos.

A seguir, apresentamos um cronograma do OGE, desde a identificação das acções

principais dos programas prioritários até sua aprovação na Assembleia Nacional, que

demonstra o ciclo orçamental em cumprimento com o princípio da anualidade, que no caso

de Angola, obedece ao ano civil para a execução orçamental.

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Quadro 7.3

Cronograma de Elaboração do Orçamento Geral do estado

Calendário de Elaboração do OGE

Acções a Desenvolver Período (meses/semanas) Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

1. Identificações das acções a desenvolver (programas,

projectos, actividades)

a) Órgãos Centrais do Estado a)

b) Órgãos Locais do Estado

2. Preparação do Quadro Macro-económico de

Referência

3. Preparação dos Cenários Macro-económicos

4. Preparação do Orçamento Geral do Estado

a) Emissão de Instrutivos às Unidades Orçamentais

b) Aprovação dos Limites de Despesas pelo Conselho de

Ministros

c) Elaboração das Propostas pelas Unidades

Orçamentais

d) Recepção e Tratamento do PIP

e) Recolha e Processamento das Propostas das

Unidades Orçamentais

f) Preparação do Projecto do OGE

g) Discussão do Projecto do OGE com as Unidades

Orçamentais

h) Reunião com os Membros do Governo e

Governadores Provinciais

5. Aprovação do OGE pela Equipa Económica

6. Discussão e Aprovação do OGE pelo Conselho de

Ministros

7. Prazos Legais

a) Envio da Proposta do OGE ao Conselho de Ministros

b) Envio da Proposta do OGE à Assembleia Nacional

c) Aprovação do OGE pela Assembleia Nacional

Fonte : Manual de Elaboração da Proposta Orçamental de Angola 2006

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O processo de preparação do OGE inicia no mês de Julho e finaliza em Setembro. O

processo é liderado pelo Ministério das Finanças, o qual tem competência em proceder

ao controle da execução orçamental, com base no Decreto n.º 73/2001. A proposta

orçamental deve ser submetida pelo Ministro das Finanças ao Conselho de Ministros

para exame e aprovação até o dia 30 de Setembro do ano anterior a que o orçamento diz

respeito.

A proposta orçamental de 2006 passou por uma revisão em decorrência da produção de

preço médio do petróleo bruto e a estimativa da taxa de câmbio média cujo impacto

para economia nacional e, para o OGE é bastante relevante.

Quadro 7.4

Quadro Macro-económico da Revisão do OGE 2006

Indicador Premissas, Metas, Objectivos

Inicial Revisto

Inflação anual (%) 10,0 10,0

Produção Petrolífera anual (milhões de barris) 597,1 523,3

Preço médio de exportação do petróleo bruto (US$) 45,0 56,0

Produto Interno Bruto

Valor nominal (mil milhões de Kwanzas) 3.389,1 3.287,1

Taxa de crescimento real (%) 27,9 15,5

Sector petrolífero 37,2 15,0

Sector não-petrolífero 11,9 16,2

Taxa de Câmbio 94,20 80,47

Fonte: Orçamento Geral do Estado para o ano de 2006 - Revisto. República de Angola

Conforme se pode perceber a alteração do quadro macro-económico ocorre pela

redução na produção de 12,4% na produção diária de barril e o governo ainda reduz a

produção para evitar o comportamento pró-cíclico das despesas influenciadas pelo

comportamento das receitas petrolíferas. Assim, assumindo um volume de produção

mais conservador, o volume estabelecido foi de 498,1 milhão de barris.

Por outro lado o preço médio do barril de petróleo angolano subiu 24,4%, considerando

o primeiro semestre do ano de 2006 e a expectativa de se manter estável no decorrer do

exercício orçamentário.

Visando manter o equilibro orçamental, as receitas fiscais tiveram uma redução de

8,7%, considerando o efeito combinado líquido entre aumento do preço, redução da

produção e efeito cambial.

Como consequência desse ajuste, as despesas tiveram uma redução de Kz 87,8 mil

milhões, como resultado final o déficit fiscal subiu de 6,6 % do PIB para 7,8% do PIB

angolano.

Estes ajustes, que ocorrem pela forte dependência dos preços do petróleo no comércio

internacional, geram alterações dos tectos estabelecidos para províncias e os sectores.

Nesse sentido, a revisão acaba estabelecendo definições de gastos baseados no

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incrementalismo e em critérios políticos que não são conhecidos pelos ministérios,

províncias e, muito menos, pelos municípios.

7.3 – Descrição da Orçamentação dos Investimentos

A planificação e orçamentação dos investimentos são realizadas em paralelo. Este

processo é liderado pelo Ministério do Planeamento que lida directamente com o

Gabinete de Estudos Planeamento e Estatística - GEPEs dos Ministérios e das

províncias.

Na análise sobre o processo de afectação de recursos do OGE é importante separar as

três categorias de despesas, nomeadamente o pessoal, os bens e serviços e os

investimentos. Na primeira categoria, a afectação de recursos no curto prazo é semi-

automática, atribuindo os recursos onde os funcionários são efectivos.

A Figura 7.1 apresenta para o caso do sector saúde um macrofluxo17

que descreve a

gestação do planeamento orçamental a partir da avaliação do quadro macoecnómico do

país. Todavia, pode-se entender que esse macrofluxo serve para todos os sectores da

Administração Pública Angolana.

Apesar de não estar no macrofluxo, nesse momento também se elabora a predição da

receita, considerando que está explícito na legislação orçamental angolana (Vide

Quadro 7.1), o equilíbrio orçamental entre a projecção e a fixação de despesas para

compor a proposta orçamental. É importante ressaltar a carência de modelo para

projecção da receita, procedimento que não seria muito complexo, considerando que o

país tem no petróleo, cerca de 75% de sua receita fiscal.

A referida avaliação é de responsabilidade do Ministério do Planeamento, mas com

forte influência do Ministério das Finanças que é órgão da administração central do

Estado responsável pelo controle e execução do Orçamento Geral do Estado. Esta

responsabilidade do Ministério das Finanças está estabelecida no Decreto-Lei nº 4/98,

que define no seu Estatuto Orgânico, responsabilidades na elaboração, execução,

supervisão e controlo do Orçamento Geral do Estado, e foi ratificada pelo Decreto n.º

73/01, que estatuiu o Sistema Integrado de Gestão Financeira do Estado - SIGFE.

17

Esse macrofluxo encontra-se em “Angola: Despesa pública no Sector da Saúde”. Ministério da Saúde.

Governo de Angola.

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57

Figura 7.1

Processo de orçamentação para as instituições do sector da Saúde

Os objectivos estabelecidos no escopo da normatização do SIGFE definem a

importância da responsabilização hierárquica dos titulares das Unidades Orçamentárias

1. Avaliação

do quadro

macro

-económico

2. Cálculo dos

tectos

orçamentais

4. Preparação

Directrizes e

informação

das UO

5. Informam

OD*

MA

CR

O

6. Bases de

Cálculo

8.Consolidação

orçamento OD

7. Preparação

do Projecto

9. Consolidação

OGE

11. Assembleia

Nacional

10. Conselho

de Ministros

UN

IDA

DE

OR

ÇA

ME

NT

AL

MIN

FIN

Ausência de: Política

Nacional de Saúde,

Plano de investimento

público, Planos

estratégicos

Planificaçao

Estratégica

Planificaçao

Operativa

Instrumentos de

planificação em

desenvolvimento

A metodologia da

orçamentaçao programa

não é explorada

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na execução descentralizada da despesa e o dinamismo e operacionalização relativos à

arrecadação das receitas e ao pagamento das despesas públicas através de Sistema de

Conta Única do Tesouro, mantido junto ao Banco Nacional de Angola.

O Programa de Investimento Público

A partir de 2003, o Governo de Angola estabeleceu, por Decreto, o Regulamento do

Programa de Investimento Público, que passou a integrar o Plano Nacional e o

Orçamento Geral do Estado, tendo como objectivo regulamentar a preparação, execução

e acompanhamento dos investimentos, como vista a eficiência e eficácia dos

procedimentos dos investimentos públicos.

A disciplina está focada nos seguintes aspectos:

a) definição de procedimentos, métodos e critérios a utilizar no processo de

elaboração e aprovação de projectos de investimento público;

b) caracterização e definição de tarefas a realizar e em cada fase do processo de

investimento público;

c) delimitação dos diferentes níveis de competência, responsabilidade e decisão, em

matéria de investimento público, no processo de sua programação, aprovação e

execução.

A amplitude da aplicação envolve investimentos nas seguintes áreas:

a) reabilitação ou construção de infra-estrutura económicas e sociais;

b) criação, reabilitação ou reconstituição das capacidades produtivas das empresas

públicas, qualquer que seja a natureza desses gastos;

c) valorização dos recursos humanos nacionais, em particular nos domínios da

educação, formação profissional, saúde e segurança alimentar;

d) a investigação científica e tecnológica, a aquisição e a adaptação de tecnologia e a

construção de redes de troca de informação, quando de responsabilidade pública,

relevante para o desenvolvimento económico e social.

Constata-se que são apenas excluídos os gastos correntes relativos à manutenção da

administração pública.

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59

8 – DESAFIOS PARA REFORMA DA DESCENTRALIZAÇÃO FISCAL EM

ANGOLA

Caso se queira avançar com o processo de descentralização fiscal em Angola, o

primeiro desafio consiste em corrigir os enormes desequilíbrios verticais presentes na

repartição de recursos entre o nível central e os governos locais. Tais governos não

poderão assumir maiores responsabilidades se a sua participação nas receitas fiscais do

país continuar no actual patamar – cerca de 13%.

Uma vez que as receitas do petróleo constituem a principal fonte de arrecadação do

país, a correcção dos mencionados desequilíbrios torna inevitável a instituição de

mecanismos que permitam aos governos locais ter alguma participação nessas receitas.

Apesar do facto do processo de a descentralização fiscal em Angola requerer melhor

distribuição das receitas de petróleo entre os distintos níveis de administração, a forte

dependência do país em relação a essas receitas é uma situação preocupante. Como é de

conhecimento geral, o petróleo é um recurso não-renovável e seu preço depende das

cotações internacionais.

A redução da dependência e a promoção de um aumento sustentável das receitas fiscais

não provenientes do petróleo passam pela ampliação e aprofundamento da base

económica do país por meio da exploração do potencial desenvolvimento

provincial/municipal. Esse é um argumento forte para a opção por um modelo de

administração mais descentralizado. As reformas para a descentralização, além

tornarem essencial a redistribuição da receita fiscal do governo central, também devem

ser compreendidas como um elemento essencial para diversificação das bases tributárias

angolanas.

No que tange às receitas que já são atribuídas aos governos locais por meio do DE

80/99, é preciso reformar o actual sistema com o intuito de conferir maior autonomia a

esses governos.

No processo de reforma, o melhor seria que fosse concedida a competência para que as

províncias e os municípios pudessem cobrar directamente e gerir seus recursos. Em tal

situação, aumenta a capacidade dessas unidades para adequar suas receitas às

necessidades locais. Esse procedimento também é positivo em termos de capacidade de

planeamento, definição de prioridades e controle social.

Para que o modelo acima seja bem sucedido com o objectivo de aumentar o grau de

descentralização fiscal em Angola, alguns requisitos são necessários.

Primeiro, é preciso que os municípios se tornem unidades autónomas ou autarquias

conforme já está em discussão no país. Sem isto, não será possível atribuir a esse nível

de administração competência para cobrar seus próprios tributos. Atribuir essa

competência às províncias já seria um avanço em relação ao quadro vigente

actualmente. A questão é que, se os municípios também não forem incluídos no

processo e continuarem sendo órgãos dependentes dos governos provinciais, os

benefícios decorrentes da descentralização serão limitados.

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60

A descentralização não pode ser entendida como um movimento que se encerra na

devolução dos poderes fiscais às unidades locais. De acordo com o que foi visto na

Tabela 5.7, a arrecadação das receitas locais é concentrada em algumas províncias.

Infelizmente, não há informações disponíveis sobre o montante colectado em cada

município, mas é provável que, nesse caso, a concentração seja ainda maior.

As considerações anteriores remetem para um segundo requisito. Para que a

descentralização se torne uma realidade é preciso que seja realizado um duplo

movimento: de um lado, a já comentada atribuição de competência às unidades locais

para cobrar seus próprios tributos e, de outro lado, a necessidade de que se implemente

um sistema de transferências que vise a equalização da capacidade de gasto dos

governos locais. Ou seja, o processo de descentralização fiscal deve ser desenhado de

forma tal que permita a desconcentração das receitas actualmente em poder do governo

central (para corrigir os desequilíbrios verticais) e ao mesmo tempo promova alguma

redistribuição de recursos entre as unidades locais (para corrigir os desequilíbrios

horizontais).

Nas entrevistas realizadas com representantes do governo angolano, foi dito que os

municípios, caso se tornem autarquias, poderiam ter competência sobre as os impostos

imobiliários, registro de automóveis, rendas das casas e uma parcela da receita de

serviços comunitários. Tais receitas são, de facto, aquelas que em qualquer país do

mundo se costumar atribuir a esse nível de administração. O problema em Angola é que

esses recursos são pouco explorados conforme demonstram os resultados apresentados

na Tabela 5.6. Isto significa que a mera permissão para que os municípios tenham

direito de cobrá-los não garante, por si só, que essas unidades contarão com um volume

adequado de receitas.

O quadro acima sugere um terceiro requisito. Além da já ressaltada necessidade de

fortalecer as economias locais, é preciso capacitar administrativamente os municípios

para que os mesmos sejam capazes de explorar seu potencial tributário.

Na reforma do sistema de atribuição de receitas aos governos locais, a instituição de um

modelo de tax sharing pode ser uma alternativa à atribuição de competência para que

essas unidades cobrem seus próprios tributos.

Em relação ao sistema vigente, a maior parte dos aspectos relativos às receitas locais –

como definição de alíquotas e bases de cálculo, arrecadação e partilha das receitas entre

províncias e municípios – permaneceria sob a responsabilidade de governo central. Não

obstante, para que os governos locais gozem de alguma autonomia sobre os recursos

que lhes são transferidos, é preciso alterar o quadro actual com o intuito de fazer com

que o modelo de partilha se assemelhe a uma situação onde esses governos tivessem,

eles próprios, arrecadados seus tributos.

Este modelo, assim como aquele no qual as unidades locais têm competência para

cobrar e gerir directamente suas receitas, também precisaria ser complementado pela

instituição de um sistema de transferências fiscais que vise a redistribuição de recursos

entre essas unidades.

No entanto, é importante ressaltar que os dois modelos aqui descritos não são

equivalentes. Em que pesem as vantagens de um sistema de partilha no que tange à

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harmonização dos procedimentos administrativos e legislativos do conjunto de impostos

praticados num país, esse sistema traz menores benefícios em termos de eficiência e

eficácia do gasto, e de monitoramento das contas públicas por parte dos contribuintes.

Isto porque a população local tende a posicionar-se diante de sua província e município

de forma diferente quando essas unidades se sustentam predominantemente através de

recursos de transferências e quando uma parcela dos seus respectivos orçamentos é

extraída da comunidade local.

Cobrar impostos da comunidade local, por menor que seja o seu peso relativo no

orçamento do município e mesmo da província, estimula maior atenção e fiscalização

dos contribuintes sobre o orçamento das suas jurisdições, o que implica o chamado

controle social.

A descentralização fiscal é saudável quando os níveis inferiores de governo são

responsáveis por financiar, com recursos próprios, uma parte dos seus gastos, e quando

aquelas unidades cujas economias não geram bases tributárias significativas financiam

seus gastos mediante transferências compensatórias que obedecem a princípios de

equalização fiscal e a regras transparentes de transferência. Na construção de um

modelo administrativo mais descentralizado, o exercício da competência tributária é um

dos passos mais simples e mais importantes para aumentar a qualidade da gestão

pública.

Além dessa questão de accountability (como é mais conhecida na literatura

internacional os benefícios acima descritos), em países marcados por profundas

disparidades regionais – como é o caso de Angola – a adopção de um modelo mais

descentralizado exerce um papel-chave para soldar os interesses divergentes dos níveis

locais. Apesar da necessidade e o maior peso financeiro das transferências centrais de

carácter redistributivo, a capacidade de gerar recursos próprios contribui para fortalecer

a identidade dos municípios e províncias como partes autónomas da República.

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ANEXO 1

Quadro

Resumo dos Impostos cobrados em Angola Impostos Natureza dos Impostos

1. Imposto sobre rendimentos (renda líquida e lucros)

1.1 - De pessoas físicas

1.1.1 - Rendimento do Trabalho Imposto sobre as remunerações do trabalho, contratuais ou não pagáveis em dinheiro ou em espécie, fixas ou variáveis, periódicas ou ocasionais, qualquer que seja a proveniência ou local, a moeda e a forma de cálculo e pagamento.

1.1.1.1 - Trabalhadores por conta de outrem Imposto sobre todas as remunerações percebidas por empregados por conta de ourem, inclusive subsídios e prémios.

Rendimentos de sócios de sociedades, membros de conselhos de administração ou outros órgão de gestão de sociedades, conselhos fiscais, mesas de assembleias gerais de accionistas e outros órgãos sociais.

1.1.1.2 -Trabalhadores por conta própria Imposto sobre rendimentos percebidos durante o ano-base do exercício de conta própria de profissão predominantemente cientifica, artística ou técnica, ou da prestação de serviços não tributados por outro imposto.

1.1.2 - Aplicação de Capitais Imposto anual sobre rendimentos de aplicações financeiras indicadas as secções A e B.

A Secção A abrange juros de empréstimos, taxas de contratos de crédito e multas e indemnizações por atraso de pagamento.

A secção B abrange (à taxa normal) juros pagos por sociedades a seus sócios, indemnizações pagas a sociedade pela suspensão de actividade e outros rendimentos diversos da aplicação de capitais; e (à taxa reduzida) lucros distribuídos por sociedades por quotas ou por acções, rendimentos de capital de cooperativas juros de suprimentos, lucros de sociedades em regime de conta em participação e de acções emitidas com direito de preferência de subscrição; rendimentos de qualquer natureza provenientes da concessão de direitos de propriedade intelectual literária, artística ou científica, incluindo filmes, patentes, equipamentos ou informações obtidas da experiência no sector industrial, comercial ou cientifico; e quaisquer outros rendimentos provenientes do simples investimento de capitais e não incluídos na secção A.

1.2 - De pessoas jurídicas

1.2.1 - Imposto Industrial

Imposto sobre os lucros, acidentais ou periódicos, imputáveis ao exercício de qualquer actividade de natureza comercial ou industrial não sujeito ao imposto sobre rendimento do trabalho à actividade agrícola, silvicultura e pecuária a mediação ou representação na execução de contratos de qualquer espécie; e aos agentes empreendimentos industriais ou comerciais que exerçam actividades em Angola ou no estrangeiro e tenham domicilio, sede ou poder de gestão efectivo em Angola e estabelecimento estável situado em Angola.

Grupo A – Lucros apurados em contabilidade regular; empresas estatais; sociedades; sociedades por acções; sociedades comercias com capital superior a 35 UCFs; instituições de crédito instituições de seguros; pessoas singulares ou colectivas com domicilio, sede ou poder de gestão efectivo em Angola, ou no estrangeiro e com estabelecimento estável situado em Angola contribuintes com facturamento médio superior a 1 538 UCFs no triénio

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Impostos Natureza dos Impostos

anterior, a contribuintes do grupo B que optarem por inclusão no grupo A.

Grupo B – Lucros presumidos contribuintes não abrangidos nos grupos A e C e que pratiquem acto isolado de natureza comercial e industrial.

Grupo C – Lucros em potencial estimados; pessoas naturais contribuintes que preencham simultaneamente as Seguintes condições: a) exerçam de conta própria actividade comercial e industrial incluída na tabela; b) trabalhem a sós ou com ajuda de até 3 pessoas (sejam familiares ou não); c) não disponham de escrita confiável; d) possuam não mais de 2 veículos automóveis; e e) tenham facturamento.

1.2.2 - Regime Fiscal para a Indústria Mineira

A industria mineira está sujeita a:

a)Imposto sobre o rendimento

b) Imposto sobre o valor dos recursos mineiros “Royalties”

c) Taxas de superfície

O imposto de rendimento é o imposto industrial.

1.2.3 - Regime Tributário especial da Indústria Petrolífera

1.2.3.1. - Imposto de produção de petróleo

(Direitos de Concessão)

Imposto sobre o valor do petróleo, pago pelas empresas petrolíferas que actuam no regime de operação conjunta com a Sonangol.

1.2.3.2 - Imposto do rendimento de petróleo Imposto sobre os lucros das empresas petrolíferas.

1.2.3.3 - Imposto de transações sobre o petróleo. Imposto sobre o lucro, decorrente da produção na província de Cabinda em regime exploração conjunta com a Sonangol. Atribui incentivos a produção e ao investimento. Constitui custo fiscal para efeitos de pagamento do imposto do rendimento petrolífero.

2. Contribuições à Providência Social

Contribuições à previdência social, destinada a garantir a subsistência física dos cidadãos total ou parcialmente incapacitados para trabalhar, bem como a sua morte, a dos seus familiares sobreviventes.

3. Imposto de Consumo

Conjunto de impostos específicos e ad valorem sobre a fabricação e importação de determinados produtos, tais como cerveja , gás liquefeito, álcool industrial, jóias, bens duráveis de uso Domestico, bebidas, artigos electrónicos automóveis, etc.

4. Imposto sobre as transacções internacionais

4.1- Direitos de importação

4.2 - Direitos de exportação

Código pautal com taxa ad valorem média de cerca de 12%, além de algumas taxas especificas

Diversos impostos específicos e ad valorem sobre produtos exportados

5. Outros impostos

5.1- Imposto predial urbano

Imposto sobre prédios urbanos. A base de cálculo é o locativo, efectivo ou potencial, e o sujeito passivo é a pessoa que tem direito ao aluguer.

5.2- Imposto sobre as sucessões e doações Imposto progressivo sobre as transmissões a título não oneroso e as sucessões em dinheiro, título do Estado, acções títulos de crédito de sociedades e bancos e qualquer bem móvel ou imóvel bem como de direitos de habitação ou de água direito de servidão perpétua e dispensa unilateral de anuidades.

5.3 - Sisa sobre a transmissão de imobiliários por título oneroso

Imposto sobre a transmissão de propriedades imóveis por venda troca extinção de direito, etc.(as doações estão sujeitas ao imposto sobre as sucessões e doações---5.2), e sobre o património direito de sucessão, arrendamento a longo prazo (20 anos ou mais), direito de água, direito de exploração, ou direito de servidão perpétua.

5.4 - Imposto do selo Imposto sobre os documentos, actos e operações indicados na Tabela geral do Imposto do Selo

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Impostos Natureza dos Impostos

5.5. Taxa de Circulação Incide sobre todos os veículos automóveis que se encontrem ou venham a entrar em circulação no País.

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ANEXO 2

Quadro

Relação das Unidades Orçamentais do Orçamento Geral do Estado

CÓD. DESIGNAÇÃO

001 Secretaria Geral da Presidência da República

002 Casa Militar

003 Inspecção Geral da Administração do Estado

004 Serviço Nacional das Alfândegas

005 Gabinete do Primeiro Ministro

006 Secretariado do Conselho de Ministro

007 Ministério da Defesa

008 Ministério do Interior

009 Ministério das Relações Exteriores

010 Ministério da Justiça

011 Ministério da Administração do Território

012 Ministério do Planeamento

013 Ministério das Finanças

014 Ministério dos Petróleo

015 Ministério das Pescas e Ambiente

016 Ministério da Indústria

017 Ministério da Agricultura e Desenvol. Rural

018 Ministério da Geologia e Minas

019 Ministério da Admin. Pub. Emp. Segurança Social

020 Ministério da Saúde

021 Ministério da Educação e Cultura

022 Ministério da Ciencia e Tecnologia

023 Ministério dos Transportes

024 Ministério dos Correios e Telecomunicação

025 Ministério da Familia e Promoção da Mulher

026 Ministério dos Antig. Comb. e Veter. Guerra

027 Ministério da Juventude e Desportos

028 Ministério das Obras Publicas e Urbanismo

029 Ministério da Hotelaria e Turismo

030 Ministério da Assistência e Reinserção

031 Ministério da Comunicação Social

032 Ministério da Energia e Aguas

033 Ministério do Comércio

034 Serviço de Inteligência Externa

035 Universidade Agostinho Neto

036 Tribunal Supremo

037 Procuradoria Geral da Republica

038 Tribunal de Contas

039 Conselho Nacional de Comunicação Social

040 Hospital de Especialidade Multiperfil

041 Hospital Medicina e Reabilitação Fisica

042 Hospital Psiquiátrico de Luanda

043 Hospital Américo Boavida

044 Hospital Josina Machel

045 Hospital do Prenda

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046 Hospital Sanatório

047 Hospital Neves Bendinha

048 Hospital Augusto N´Gangula

049 Hospital Pediátrico de Luanda

050 Maternidade Lucrecia Paim

051 Província do Bengo

052 Província de Benguela

053 Província do Bie

054 Província de Cabinda

055 Provincia do Huambo

056 Província da Huila

057 Província do Kuando Kubango

058 Província do Cunene

059 Província do Kwanza-norte

060 Província do Kwanza-Sul

061 Província de Luanda

062 Província da Lunda-norte

063 Província da Lunda-Sul

064 Província de Malange

065 Província do Moxico

066 Província do Namibe

067 Província do Uige

068 Província do Zaire

069 Hospital Provincial de Cabinda

070 Hospital Provincial do Zaire

071 Hospital Provincial do Uige

072 Hospital Provincial do Bengo

073 Hospital Provincial de Ndalatando/K. norte

074 Hospital Provincial de Malange

075 Hospital Provincial da Lunda-norte

076 Hospital Provincial da Lunda-Sul

077 Hospital Provincial do Kwanza-Sul

078 Hospital Provincial de Benguela

079 Hospital Provincial do Huambo

080 Hospital Provincial do Bie

081 Hospital Provincial do Moxico

082 Hospital Provincial do Namibe

083 Hospital Provincial da Huila

084 Hospital Provincial do Cunene

085 Hospital Provincial do Kuando Kubango

086 Estado Maior General

087 Comando Geral da Policia

088 Serviços de Informação Interna

089 Instituto Médio Comercial de Luanda

090 Encargos Financeiros do Estado

091 Encargos Centrais do estado

092 Instituto Médio de Economia de Luanda

093 Instituto Médio Industrial

094 Instituto de Ensino Superior de Enfermagem

095 Instituto Nacional de Telecomunicações

097 Delegação Prov. de Finanças de Cabinda

098 Delegação Provincial do Interior de Cabinda

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099 Delegação Provincial da Justiça de Cabinda

100 Delegação Provincial de Finanças do Zaire

101 Delegação Provincial do Interior do Zaire

102 Delegação Provincial da Justiça do Zaire

103 Delegação Provincial de Finanças do Uige

104 Delegação Provincial do Interior do Uige

105 Delegação Provincial da Justiça do Uige

106 Delegação Provincial de Finanças do Bengo

107 Delegação Provincial do Interior do Bengo

108 Delegação Provincial da Justiça do Bengo

109 Delegação Provincial de Finanças de Luanda

110 Comando Geral da Policia de Luanda

111 Delegação Provincial de Finanças do K. norte

112 Delegação Provincial do Interior do K. norte

113 Delegação Provincial de Justiça do K. norte

114 Delegação Provincial de Finanças de Malange

115 Delegação Provincial do Interior de Malange

116 Delegação Provincial de Justiça de Malange

117 Delegação Provincial de Finanças da L. norte

118 Delegação Provincial do Interior da L. norte

119 Delegação Provincial de Justiça da L. norte

120 Delegação Provincial de Finanças da L. Sul

121 Delegação Provincial do Interior da L. Sul

122 Delegação Provincial de Justiça da L. Sul

123 Delegação Provincial de Finanças da K. Sul

124 Delegação Provincial do Interior da K. Sul

125 Delegação Provincial de Justiça da K. Sul

126 Delegação Provincial de Finanças de Benguela

127 Delegação Provincial do Interior de Benguela

128 Delegação Provincial de Justiça de Benguela

129 Delegação Provincial de Finanças do Huambo

130 Delegação Provincial do Interior do Huambo

131 Delegação Provincial de Justiça do Huambo

132 Delegação Provincial de Finanças do Bie

133 Delegação Provincial do Interior do Bie

134 Delegação Provincial de Justiça do Bie

135 Delegação Provincial de Finanças do Moxico

136 Delegação Provincial do Interior do Moxico

137 Delegação Provincial de Justiça do Moxico

138 Delegação Provincial de Finanças do Namibe

139 Delegação Provincial do Interior do Namibe

140 Delegação Provincial de Justiça do Namibe

141 Delegação Provincial de Finanças da Huila

142 Delegação Provincial do Interior da Huila

143 Delegação Provincial de Justiça da Huila

144 Delegação Provincial de Finanças do Cunene

145 Delegação Provincial do Interior do Cunene

146 Delegação Provincial de Justiça do Cunene

147 Delegação Provincial de Finanças da Kuando Kubango

148 Delegação Provincial do Interior do Kuando Kubango

149 Delegação Provincial de Justiça do Kuando Kubango

150 Hospital Kilamba Kiaxi

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151 Hospital dos Cajueiros do Cazenga

152 Centro Nacional de Oncologia

153 Centro Nacional de Sangue

154 Centro Ortopedico de Viana

155 Instituto Médio de Saude de Cabinda

156 Instituto Med. normal Educação Cabinda

157 Centro Pre-Universitario Cabinda

158 Instituto Meio normal do Zaire

159 Instituto Médio Agrário de Caconda Uige

160 Instituto Médio normal Puniv Uige

161 Instituto Médio Polivalente Bengo

162 Instituto Médio de Saude do Bengo

163 Instituto normal e F./Major Saydi Mingas

164 Instituto Médio Educação Garcia Neto

165 Centro de Cursos Pre-Universitario/Lda

166 Instituto Médio normal Educação Cacuaco

167 Instituto Médio Industrial do Prenda Cmt

168 Centro Pre-Universitario do Cazenga/Lda

169 Instituto normal de Educação Antonio Jac

170 Instituto Médio de Contabilid. K. Kiaxi

171 Instituto Médio de Gestão do Kikolo/Lda

172 Instituto normal de Educação de Viana

173 Instituto Médio de Saude de Luanda

174 Instituto Médio normal Educação 28 Agosto

175 Instituto Polivalente do Kilamba Kiaxi

176 Centro Pre-Universitario do Kapolo Ii

177 Instituto Médio de Saude de Malange

178 Instituto Médio normal Educação Malange

179 Instituto Politecnico do nordeste/L. norte

180 Instituto Médio normal Educação L. Sul

181 Instituto Nacional de Petroleos K. Sul

182 Instituto Médio normal Educação K. Sul

183 Centro Pre-Universitario do Seles K. Sul

184 Centrto Pre-Universitario do Libolo-Calul

185 Centro Pre-Universitario da Gabela/K.S.

186 Centro Pre-Universitario de P. Amboim/K.S.

187 Centro Pre-Universitario do Sumbe/K. Sul

188 Instituto Médio norm. Educ. Cmdt Kwenha/Be

189 Centro Pre-Universitario Benguela

190 Instituto Médio Industrial Benguela

191 Instituto Médio Cdt Kwenha Lobito

192 Instituto Médio Saude Benguela

193 Instituto normal de Educ. 22 novembro/Ld

194 Centro Pre-Universitario do Lobito

195 Instituto Médio Agrário do Huambo

196 Instituto normal Educação Huambo

197 Instituto Superior Ciências educ/Huambo

198 Instituto Médio de Saude Huambo

199 Instituto Médio Agrário Indust./Huambo

200 Instituto Nacional Educação F. Bomboco/Huambo

201 Instituto Médio normal/Puniv Huambo

202 Instituto Médio de Saude Cmdt Matady/Bie

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203 Instituto normal de Educação do Bie

204 Instituto Médio de Saude do Moxico

205 Instituto Médio normal Educação/Namibe

206 Instituto Superior de Ciencias/Huila

207 Complexo Escolar Agrario Tchivinguiro/Huambo

208 Instituto normal de Educação da Huila

209 Instituto Médio de Economia do Lubango

210 Instituto Médio Politecnico de Ondjiva/K

211 Centro Universitário de Cabinda

212 Centro Universitário do Uige

213 Centro Universitário do Kwanza-Sul

214 Centro Universitário de Benguela

215 Centro Universitário do Huambo

216 Instituto Politecnico de Cabinda

217 Serviço Nacional das Alfândegas

218 Faculdade de Ciências Agrarias-Huambo

220 Centro Universitário da Huila

221 Representação Diplomática Argelia

222 Representação Diplomática Belgica

223 Representação Diplomática Brasil

224 Representação Diplomática Checoslovaquia

225 Representação Diplomática Congo/Brazav.

226 Representação Diplomática Cuba

227 Representação Diplomática Egípto

228 Representação Diplomática Espanha

229 Representação Diplomática França

230 Representação Diplomática Gabão

231 Representação Diplomática Italia

232 Representação Diplomática Servia e Mont

233 Representação Diplomática Nigeria

234 Representação Diplomática Gra-Bretanha

235 Representação Diplomática ONU

236 Representação Diplomática Portugal

237 Representação Diplomática Alemanha

238 Representação Diplomática S. Tome

239 Representação Diplomática Suecia

240 Representação Diplomática Unesco

241 Representação Diplomática Tanzania

242 Representação Diplomática Russia

243 Representação Diplomática Zambia

244 Representação Diplomática Congo/democ.

245 Representação Diplomática Zimbabwe

246 Representação Diplomática etiopia

247 Representação Diplomática Namibia

248 Representação Diplomática Botswana

249 Representação Diplomática Cote D´Ivoire

250 Representação Diplomática Washington-eu

251 Representação Diplomática Africa do Sul

252 Representação Diplomática India

253 Representação Diplomática Marrocos

254 Representação Diplomática Moçambique

255 Representação Diplomática Suiça-Geneve

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70

256 Representação Diplomática China

257 Representação Diplomática Vaticano

258 Representação Diplomática Austria

259 Representação Diplomática Cabo Verde

260 Representação Diplomática Mexico

261 Representação Diplomática Canada

262 Representação Diplomática Polonia

263 Representação Diplomática Japão

264 Representação Diplomática Israel

265 Consulado de Angola no Rio de Janeiro

266 Consulado de Angola em Ponta Negra

267 Consulado de Angola no Shaba

268 Consulado de Angola no Mongu

269 Consulado de Angola no Solwezi

270 Consulado de Angola em Matadi

271 Consulado de Angola em Oshakaty

272 Consulado de Angola em Vindhoek

273 Consulado de Angola no Porto

274 Consulado de Angola no Rundu

275 Consulado de Angola em Joanesburgo

276 Consulado de Angola em nova York

277 Consulado de Angola em Lisboa

278 Consulado de Angola em Cabo Verde

279 Consulado de Angola em Houston

280 Consulado de Angola no Cabo

281 Hospital Regional norte Buco-Zau/Cabinda

282 Clinica de Cabassango/Cabinda

284 Hospital da Catumbela/Benguela

285 Hospital Sanatorio do Huambo

286 Sanatorio do Kuito/Bie

287 Hospital Regional Martires do Kuito/Bie

288 Sanatorio do Moxico

289 Maternidade do Tombua

294 Hospital do Soyo/Zaire

295 Hospital do Nzeto/Zaire

296 Hospital de Caluquembe/Huila

297 Hospital Sanatorio de Menongue

298 Hospital Pediatrico de Menongue

299 Maternidade do Sumbe/K. Sul

300 Hospital de Porto Amboim/K. Sul

302 Hospital da Cela/K. Sul

303 Hospitaldo Seles/K. Sul

304 Hospital de Calulo/K. Sul

305 Hospital do Bailundo/Huambo

306 Hospital da Cahala/Huambo

307 Hospital do Andulo/Bie

308 Hospital do dondo/K. norte

309 Hospital do Negace/Uige

310 Hospital de Xangongo/Cunene

311 Hospital da Cahama/Cunene

312 Hospital do Kuito Kuanavale/K. Kubango

313 Hospital Regional do Lobito

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71

314 Hospital Municipal do Cubal

316 Hospital Municipal de Caimbambo

317 Hospital Municipal de Chongoroi

318 Hospital Municipal da Baia Farta

319 Hospital Municipal do Balongo

320 Hospital Municipal da Ganda

321 Hospital Municipal de Catete

322 Centro de For. Profissional de Cuacra/ K

323 Centro de Forma. Quadros elect.Cdte.Kass

324 Centro de Formação Profissional do Cazenga

325 Magisterio Primario de Luanda

326 Hospital do Tombwa\ Namibe

327 Centro Materno Infantil / Namibe

328 Hospital Municipal de Kalandula

329 Inst. Sup.de Ciencias de Educação de Sa

330 Centro de Formação Profis. Fadario Muteca

331 Hospital da Entrada Cada/ Kwanza Su

332 Centro Pre-Universitario do Waco -Kungo

332 Hospital da Gabela/K. Sul

333 Instituto Superior Agrario do Kuanza Sul

334 Hospital da Conda / Kuanza Sul

335 Hospital da Kibala / Kuanza Sul

336 Hospital Municipal de Cacuso / Malanje

337 Maternidade Provincial de Malanje

338 Hospital Sanatorio de Malanje

339 Centro Ortopedico de Bomba Alta Huambo

340 Hospital Municipal de Katchiungo/ Huambo

341 Hospital Municipal do Ukuma/ Huambo

342 Maternidade de Caxito / Bengo

343 Instituto Politecnico de Landana / Cabind

344 Hospital Municipal de Cacongo / Cabinda

345 Instituto Médio de Educação de Belize /C

346 Instituto Médio Politecnico de Buco-Zau

347 Hospital Municipal do Cuchi / K.Kubango

348 Sanatorio de Sacavula / Lunda norte

349 Centro Pre-Universitario / Moxico

350 Escola Pre- Universtaria do Uige

351 Maternidade Provincial do Moxico

352 Inst. Médio de Saude " Arminda Faria" K / N

353 Inst. Médio normal de Educação / Moxico

354 Inst. Médio de Saude / Uige

355 Hospital Municipal de Saude do dala / L.S

356 Hospital Municipal de Saude de Cacolo / L

357 Hospital Municipal do Mukonda / Lunda - Sul

358 Centro Pre-Universitario 4 de Junho / Pir

359 Hospital Municipal do Chinguar / Bie

360 Hospital Municipal de Kamacupa / Bie

361 Dispensario Anti -Tuberculose e Lepra / Lu

362 Hospital Municipal de Lucapa

363 Hospital Municipal do Nzagi / L.norte

364 Hospital Municipal de Cafunfo / L. norte

365 Maternidade de Menongue / K. Kubango

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366 Centro Ortopedico Neves Bendinha

367 Inst. Med. nor. Edu. " Muene Vunongue" - K. Kub

368 Centro Pre-Universitario 22 de novembro

369 Hospital Municipal do Kuangar / K. Kubango

370 Hospital Municipal do Kalay / K. Kubango

371 Hospital Municipal do Dirico / K. Kubango

372 Hospital Regional do Belize / Cabinda

373 Hospital Municipal de Calonda / L. norte

374 Hospital Municipal Maquela do Zombo / Uige

375 Hospital Municipal de Sanza Pombo / Uige

376 Hospital Municipal da damba / Uige

377 Hospital Municipal do Ambriz / Bengo

378 Hospital Municipal da Muxima / Bengo

379 Hospital Municipal do Bocoio

380 Hospital Municipal de Golungo Alto / K. no

381 Instituto normal de Educação / K. norte

382 Instituto Politecnico do dondo / K. norte

383 Maternidade do Dundu / Lunda norte

384 Hospital Municipal do Xa Muteba / L. norte

385 Hospital de Kassaguide / L. norte

386 Hospital Municipal da Kilenda / K. Sul

387 Hospital Municipal do Ebo / K. Sul

388 Hospital Municipal de Kassongue / K. Sul

389 Hospital Municipal do Kunhinga / Bie

390 Hospital Municipal de Katabola / Bie

391 Hospital Municipal do Tchitembo / Bie

392 Hospital Municipal do Leua/ Moxico

393 Hospital Municipal de Kamanongue / Moxico

394 Hospital Municipal de Kameia / Moxico

395 Hospital Municipal do Luacano / Moxico

396 Hospital Municipal do Luau / Moxico

397 Hospital Municipal do Alto -Zambeze/Moxi

398 Martenidade Irene Neto / Huila

399 Hospital Pediatrico / Huila

400 Hospital Sanatorio / Huila

401 Hospital Psiquiatrico / Huila

402 Instituto Médio Polivalente Alda Lara

403 Delegação Prov. Procurad. Geral Repub. Cabinda

404 Delegação Prov. Procurad. Geral Repub. Zaire

405 Delegação Prov.Procurad.Geral Repub. Uige

406 Delegação Prov. Procurad. Geral Repub. Bengo

407 Delegação Prov. Procurad. Geral Repub. K.Norte

408 Delegação Prov. Procurad. Geral Rep. Malange

409 Delegação Prov. Procurad. Geral Repub. L. Norte

410 Delegação Prov. Procurad. Geral Repub. L. Sul

411 Delegação Prov. Procurad. Geral Repub. K.Sul

412 Delegação Prov. Procurad. Geral Repub. Benguela

413 Delegação Prov. Procurad. Geral Repub. Huambo

414 Delegação Prov. Procurad. Geral Rep.Bie

415 Delegação Prov. Procurad. Geral Rep.Moxico

416 Delegação Prov. Procurad. Geral Rep.Namibe

417 Delegação Prov. Procurad. Geral Rep.Huila

Formatado: Inglês (EUA)

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418 Delegação Prov. Procurad. Geral Rep.Kunene

419 Delegação Prov. Procurad. Geral Rep.K.Kubango

420 Representação Comercial Africa do Sul

421 Representação Comercial Suiça-Geneva

422 Representação Comercial China

423 Representação Comercial Portugal

424 Representação Comercial Congo Brazavile

425 Representação Diplomat. em Singap. e Ind

426 Representação Comercial Brasil

427 Representação Comercial Belgica

428 Representação Comercial Washington-eua

429 Gabinete de Obras especiais

430 Instituto Médio normal Educ. Kamacupa/ Bi

431 Hospital Regional do Kuemba / Bie

432 Instituto Médio Comerc. Industrial / Bie

433 Centro Pre-Universitario do Kuito/ Bie

434 Centro Pre-Universitario do Andulo/ Bie

435 Centro Materno Infantil do Kuito / Bie

436 Instituto Médio de Educação Catanbola

437 Instituto Médio norm. de Educ.Andulo / Bie

438 Hospital Municipal de Nharea/ Bie

439 Hospital Sanatorio do de Kuinga / Bie

440 Instituto Médio norm. de Educ.Chiguari / Bi

441 Centro Ortopedico de Menongue / K. Kubango

442 Hospital Municipal de Mavinga Kuando Kubango

443 Hospital Municipal do Rivungo K. Kubango

444 Instituto Superior de Ciencias de Educação

445 Faculdade de Ciencias de Luanda

446 Faculdade de Engenharia de Luanda

447 Faculdade de Medicina de Luanda

448 Faculdade de Economia de Luanda

449 Faculdade de Direito de Luanda

450 Instituto Médio Tecn.17 Dezembro / Lda

451 Procurad. Ger. Republica J / Tribunal Prov.

452 Representação Diplomáticada Rep. Angola Na Argentina

453 Representação Diplomáticada Rep. Angola Na Hungria

454 Representação Diplomáticada Rep. Angola Na Gr

455 Consulado G. Rep. Angola em Rotterdao / Holand

456 Consulado G. Rep. Angola em Toulouse / F

457 Centro Materno Infantil da Lunda Sul

458 Hospital Municipal de Saurimo Lunda Sul

459 Hospital Municipal do Mussende Kuanza Sul

460 Comite Nacional da SADC / Secretariado Naci

461 Hospital do Chilesso-Bie

462 Hospital do Chicumbi-Bie

463 Hospital de Chissamba-Bie

464 Faculdade de Letras e Ciencias Sociais

465 Hospital Divina Providencia

466 Ministério da Cultura

467 Ministério do Urbanismo e Ambiente

468 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / Bengo

469 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / Benguela

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470 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / Bie

471 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / Cabinda

472 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / Huambo

473 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / Huila

474 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / Kuando Kubango

475 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / Kunene

476 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / K. Norte

477 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / K. Sul

479 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / L. Norte

480 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / L. Sul

481 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / Malange

482 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / Moxico

483 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / Namibe

484 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / Uige

485 Delegação Prov.do Serviço de Inform. / Zaire

486 Agência Nacional de Investimento Privado

487 Assembleia Nacional

488 Centro de Cursos Pre-Universitarios-Ingombota

489 Centro de Formação Profissional das Pescas

490 Comissão Interministerial para o Processo Eleitoral

491 Comissão Nac. Inter-Sec. de Desmin. e Assist. Humanitária

492 Comissão Nacional Eleitoral

493 Complexo Escolar Marítimo Helder Neto

494 Conselho Nacional de Carregadores

495 Delegação Prov. Procurad. Geral Repub. de Luanda

496 Delegação Prov.do Serviço de Inform. de Luanda

497 Delegação Provincial da Justiça de Luanda

498 Delegação Provincial de Finanças de Cabinda

499 Delegação Provincial do Interior de Luanda

500 Direcção Provincial de Educação de Luanda

501 Direcção Provincial de Saúde de Luanda

502 Escola Superior de Ciência e Tecnologia da Lunda Sul

503 Escola Superior de Ciência e Tecnologia de Benguela

504 Escola Superior de Ciência e Tecnologia do Huambo

505 Escola Superior de Ciência e Tecnologia do Namibe

506 Escola Superior de Ciência e Tecnologia do Uige

507 Escola Superior Pedagógica da Lunda Norte

508 Fundo de Apoio a Juventude e ao Desporto

509 Fundo de Apoio ao Desenvolv. da Indústria Pesqueira

510 Fundo de Apoio Social

511 Fundo de Desenvolvimento Agrário

512 Fundo de Desenvolvimento do Café

513 Fundo de Desenvolvimento Económico e Social

514 Fundo Rodoviário

515 Gabinete de Reconstrução Nacional

516 Gabinete de Redimensionamento Empresarial

517 Gabinete do Ministro Adjunto do Primeiro Ministro

518 Instituto Angolano das Comunicações

519 Instituto Angolano de Normatização e Qualidade

520 Instituto Angolano de Propriedade Industrial

521 Instituto de Desenvolvimento Industrial de Angola

522 Instituto de Fomento Turístico

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523 Instituto de Investigação Alimentar de Malange

524 Instituto de supervisão de Seguros

525 Instituto Médio Agrario do Tchivinguiro

526 Instituto Médio de Petróleos do Kwanza Sul

527 Instituto Nacional de Estatística

528 Instituto Nacional de Estudos Judiciários

529 Instituto Nacional de Segurança Social

530 Instituto Superior de Relações Internacionais

531 Laboratório de Engenharia de Angola

532 Maternidade Augusto Ngangula

533 Missões Diplomáticas, Consulares e Rep. Comerciais

534 Operações Centrais do Tesouro

535 Provedoria da Justiça

536 Reservas Orçamentais

537 Serviço de Informações