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DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA SUB-BACIA DO CÓRREGO TAQUA RAL, GOIÂNIA/GO 1.
Lorena Silva - Técnica Gerência de Contenção e Recuperação de Erosões e Afins – Agência Municipal de
Meio Ambiente de Goiânia - Goiás [email protected] Ana Paula Pereira Nunes - Técnica Gerência de Contenção e Recuperação de Erosões e Afins – Agência
Municipal de Meio Ambiente Goiânia - Goiás [email protected] Hérica Ozana da Silva - Técnica Gerência de Contenção e Recuperação de Erosões e Afins – Agência
Municipal de Meio Ambiente Goiânia - Goiás [email protected] Maurício José F. M. A. Nardini - Estagiário em Geografia - Gerência de Contenção e Recuperação de Erosões e Afins – Agência Municipal de Meio Ambiente Goiânia - Goiás [email protected] Karla Maria Silva de Faria – Doutoranda em Geografia – Universidade Federal de Goiás – Goiânia -
Goiás [email protected] RESUMO
Diante da necessidade de contribuir para a recuperação de áreas degradadas no município de Goiânia e fornecer subsídios para o planejamento da cidade a Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia através da Gerência de Contenção e Recuperação de Erosões e Afins propôs-se a realizar diagnósticos ambientais das bacias hidrográficas existentes no município. Os primeiros estudos foram realizados em sub-bacias que se encontram na área de expansão urbana, como a sub-bacia do córrego Taquaral, localizado na região sudoeste do município. O presente trabalho teve então como objetivo identificar os principais impactos ambientais presentes nesta área, além de propor medidas mitigatórias para tais impactos. A metodologia baseou-se em revisão bibliográfica sobre o tema proposto, levantamento e caracterização do meio físico da sub-bacia, elaboração de roteiros para as vistorias, após definição dos trechos de maior relevância através de imagem aérea, entre outros. As vistorias foram realizadas por equipe técnica multidisciplinar. Os impactos de maior relevância identificados no diagnóstico foram os processos erosivos fluviais e lineares, desde sulcos até voçorocas, assoreamento da calha do curso hídrico, ausência de vegetação ciliar e em muitos casos a sua substituição por produção de hortaliças, derivação de água do córrego sem devida outorga para fins particulares e diversos, e utilização das áreas marginais para atividades agropastoris. As principais causas que desencadearam os impactos foram relacionadas à ação da urbanização acelerada e desordenada que está ocorrendo na região, como a ocupação do solo, retirada da vegetação em áreas de preservação permanente, além da impermeabilização do solo e consequentemente aumento exagerado da vazão dos cursos hídricos acarretando em erosões fluviais. A identificação desses impactos foi de suma importância para a proposição de medidas de controle ambiental e de correção de obras de drenagem urbana. Palavras Chave: diagnóstico ambiental, sub-bacia do córrego Taquaral, efeitos da urbanização. ABSTRACT
Given the need to contribute to the recovery of degraded areas in the district of Goiânia and provide support for planning the city, the Municipal Agency for the Environment, through Contention Management and Recovery of Erosions and Allies, proposed to carry out environment diagnoses of the basins in the township. The first studies were conducted in sub-basins that are in the area of urban expansion, as the Taquaral stram’s sub-basin, located in the southwestern municipal district. This work was so, as subject, to identify the main environmental impacts in this area, and propose measures to soften these impacts. The methodology was based
1 Trabalho desenvolvido na Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia (GO), na Diretoria de Gestão Ambiental pela Gerência de Contenção e Recuperações de Erosões e Afins (GECRE).
on literature review on theme, characterization and mapping the sub-basin physical environment, development of routes for surveys, after defining the most relevant portions through satellite images, among others.The surveys were conducted by multidisciplinary technique team. The impacts of greatest relevance were identified in the diagnosis as linear and river erosions, since ridges until voçorocas, siltation of the course water pipeline, lack of riparian vegetation and in many cases, its replace by vegetables cultivation, derivation of the water stream without due sanction to private and others purposes, and use of marginal areas for agropastoris activities. The main causes that triggered off the impacts were related to the action of rapid and chaotic urbanization occurring in the region, as the occupation of land, remove of vegetation in areas of permanent preservation, and sealing of the soil and thus great increase of the flow of water leading to river erosion. The identification of these impacts was of great importance to the proposal of measures for environmental control and to repair works of urban drainage.
Keywords: environmental diagnosis, Taquaral stream sub-basin, urbanization effects.
INTRODUÇÃO
Uma das primeiras cidades planejadas no Brasil, Goiânia apresentou desde sua fundação,
na década de 1930, crescimento acelerado que ocorreu de maneira desordenada e contribuiu de
forma definitiva para a descaracterização do projeto inicial da capital. Tal expansão ocasionou
reflexos que se expressam em vários problemas de ordem socioeconômica e ambiental
especialmente aos cursos de água do município.
O crescimento trouxe consigo as irregularidades que acarretaram à capital problemas
típicos de cidades originalmente não planejadas, com inúmeras transformações, no meio natural.
A ocupação de localidades marginais aos cursos d’água, na maioria das vezes com
completa degradação da área é um fato comum verificado no uso da terra na capital goiana. O
desenvolvimento de atividades humanas nos pontos marginais dos leitos de drenagens altera a
dinâmica natural do ciclo hidrológico causando desequilíbrio no sistema fluvial.
Dentre os inúmeros problemas ambientais enfrentados no município de Goiânia, os
processos erosivos podem ser considerados como um dos principais impactos negativos em
ambientes urbanos, e contribuem para a evolução de outros problemas como assoreamento dos
leitos e desvios nos cursos naturais. Geralmente os processos erosivos ocorrem em áreas
periféricas, onde normalmente faltam sistemas de drenagem pluvial eficiente ou mesmo
inexistem; e a ocupação é feita em áreas instáveis do ponto de vista geotécnico.
Diante tais fatos constatados a respeito do uso e ocupação do solo em Goiânia, e devido à
demanda por estudos que possam subsidiar o planejamento para a ocupação das áreas em
expansão no município e direcionar as medidas mitigadoras necessárias à recuperação das áreas
já degradadas pela ocupação irregular, propõe-se neste trabalho diagnosticar o Córrego Taquaral
visando contribuir para uma cidade que priorize o desenvolvimento humano associado à
sustentabilidade ambiental.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os procedimentos metodológicos para elaboração deste trabalho partiram da identificação
da área drenada pela sub-bacia do córrego Taquaral em mapas e imagens digitais, seguida da sua
divisão em trechos de maior relevância; caracterização ambiental do local com base em
informações do Diagnóstico Hidrogeológico de Goiânia, Carta de Risco de Goiânia de 2006 –
Revisão e Detalhamento, Ortofoto digital 2006 e base geomorfológica proposta por CASSETI,
1992; realização de vistorias por equipe multidisciplinar; desenvolvimento de mapas de
localização e temáticos (solos, geologia, geomorfologia e vegetação remanescente) utilizando o
software arcview 3.2. e sugestões de mitigação dos impactos.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A ocupação urbana na área da sub-bacia situada na região sudoeste do município de
Goiânia (Figura 01), iniciou-se na década de 1950 de forma bastante pontual, a maioria dos
setores inseridos total ou parcialmente na sub-bacia originou nas décadas de 1980 e 1990.
Figura 01: Localização da sub-bacia do córrego Taquaral.
Alguns loteamentos, especialmente ao sul e sudeste da sub-bacia, ainda não contam com
infra-estrutura instalada, como pavimentação, rede de esgoto, água tratada e drenagem pluvial.
Em muitos casos utilizam-se poços de captação e cisternas para abastecimento de água e fossas,
nem sempre adequadas para despejo de efluentes. Trata-se de uma área urbanizada com infra-
estrutura precária coexistindo com pequenas propriedades rurais que exercem atividades
agropastoris de subsistência, e fazem o uso da APP.
Os principais impactos identificados podem ser atribuídos à ocupação desordenada do
solo, dentre as quais se destacam ao longo da sub-bacia córrego Taquaral: descaracterização e
ocupação da APP, solo exposto (erosões lineares e fluviais), derivação clandestina de água,
escoamento concentrado e ausência ou subdimensionamento da rede de drenagem.
A área total drenada pela sub-bacia em questão é de 29,4 Km². O córrego Taquaral e seus
afluentes são os destinos de lançamentos de águas pluviais dos setores adjacentes as suas áreas,
mas possuem estrutura de dissipação inadequada e subdimensionamento, além de, em diversos
casos apresentarem indícios de má conservação e ausência de manutenções.
Foram contabilizados expressivos processos erosivos fluviais provocados principalmente
em decorrência da falta de adequação das atividades humanas, como ocupação de APP,
lançamentos pluviais inadequados, e desvio do leito e o depósito de sedimentos, acarretando
assoreamentos que se apresentam em toda a extensão do manancial.
Constatou-se ainda presença considerável de chacareiros nas margens dos córregos sendo
identificadas atividades agropastoris e práticas de represamento de águas do córrego para usos
particulares como abastecimento doméstico, de piscinas, e para formação de tanques de
piscicultura, além de cultura de hortaliças em um número considerável destas chácaras.
Ao longo da drenagem a Área de Preservação Permanente encontra-se descaracterizada e
por vezes ocupada. A vegetação remanescente apresenta-se de forma esparsa e fragmentada, com
presença de várias espécies exóticas e oportunistas.
Figura 02 - Processo erosivo às margens da BR-060, com comprometimento da galeria pluvial. NARDINI, 2008.
Figura 03 - Acúmulo de sedimentos e erosão fluvial na margem esquerda. RIBEIRO, 2008.
CONCLUSÕES
O processo de urbanização é a transformação irreversível de um meio natural para a
ocupação urbana, são inseridos nesse espaço elementos da infra-estrutura considerados
importantes para a população local, tais como pavimentação, rede coletora de água pluvial e rede
de esgoto, entre outros. A ocupação inadequada conforme tem ocorrido nas proximidades da
sub-bacia em tela, com ocupação das cotas de inundação dos cursos d’água, é o fator mais
comum e grave na área, pois é responsável por desencadear diversos impactos.
Os processos erosivos fluviais apresentam-se em estágio evolutivo avançado em vários
pontos, especialmente nas áreas onde a APP não apresenta vegetação, configurando, então áreas
de risco de deslizamento de terras. A calha do manancial encontra-se com assoreamentos
provocados por depósito de sedimentos oriundos do deslizamento dos taludes marginais além
dos sedimentos urbanos trazidos pela água de chuva. O sistema de micro-drenagem do município
está comprometido pela falta de manutenção e subdimensionamento da rede.
Como medidas de correção e mitigação dos impactos foram sugeridas a revegetação da
mata ciliar; a suavização dos taludes e o retaludamento das margens erodidas, a aplicação de
técnicas de bioengenharia como estacas vivas, muro arrimo vegetado ao longo da encosta, para
a recuperação das margens erodidas; adequação do sistema de galerias pluviais com
redimensionamento e construção de dissipadores de energia adequados e a devida manutenção
das áreas recuperadas.
A sub-bacia do córrego Taquaral requer, além de amplos estudos, o monitoramento da
ocupação e uso do solo por parte dos órgãos municipais.
O presente estudo foi desenvolvido com o intuito de contribuir para a melhoria dos
aspectos identificados e listados anteriormente, embora em estágio preliminar configura como o
primeiro passo para amenizar os impactos gerados pela urbanização da área, pois se faz
necessário obter maiores estudos em escala de detalhe sobre o processo de sedimentação do leito
do córrego; caracterização do meio físico da sub-bacia em que se encontra inserido; análise
geotécnica dos processos erosivos, dentre outros.
REFERÊNCIAS
CASSETI. V. Geomorfologia do município de Goiânia. In: Boletim Goiano de Geografia, UFG,
Goiânia, v. 12, n. 1, p.64-85, 1992.
SGM/SIC. SUPERINTENDÊNCIA DE GEOLOGIA E MINERAÇÃO. Diagnóstico
Hidrogeológico da Região de Goiânia. Goiânia, 2003.
AMMA. AGÊNCIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE. Diagnóstico Ambiental Preliminar
do Córrego Baliza Goiânia – Goiás, 2008.