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ÐÏࡱas onde coabitam tomadas de decisões com preocupações no domínio micro e m acros sociais, pode garantir eficácia social associado à eficiência econôm ica com a promoção de espaços e tempos para participação efetiva e corresp onsabilização dos parceiros em cada ação contratualizada, é essencial para a efetiva implementação de um processo de desenvolvimento integrado e sus tentável. Palavras-chave: Consciência Ecológica; Diálogo; Complexidade; Comunidade Sustentável; Desenvolvimento Integrado.Introdução Trata-se d e apresentar as análises que foram construídas a partir da pesquisa realiz ada em 2005, intitulada - a prática do assistente social em uma comunidade sustentável: desafios para uma sociedade contemporânea – e é com base nes tas análises que inicialmente será apresentado uma breve descrição do lócu s no qual se desenvolveu a investigação, para em seguida ser traçado, como eixo de orientação teórico, o conceito de comunidade. O texto abordará ai nda alguns desafios recorrentes a proposta denominada de construção da Com um Unidade e, por fim traçará nas considerações finais a retomada dos conc eitos de comunidade, analisando entre projeto e processo as estratégias de desenvolvimento integrado percebidas ao longo da pesquisa. “Ontem, eu f iquei horas esquecidas assistindo ao trabalho das formigas, indiferente a tudo, na sua meta de construir. E aprendi o quanto é importante fazer..... Fazer sempre e de tudo para alcançar os galhos mais altos da árvore da vid a e melhor se alimentar do fruto ali quase esquecido: a paz. Oh, Deus! Tor na-me indiferente a tudo que não seja construir com meu trabalho um mundo novo, onde só pessoas, bichos e coisas existam porque amam e entendem o am or como único sentido da vida.” [Djavan]I. Paradoxo global-localParadox o, quer dizer "o oposto do que alguém pensa ser a verdade", do grego é "o oposto do que alguém pensa ser a verdade". A palavra é composta do prefixo para-, que quer dizer "contrário a", "alterado" ou "oposto de", conjungad a com o sufixo nominal doxa, que quer dizer "opinião". Paradoxo, segundo o sociólog lo XX.A última década do século passado foi marcada por profundos parado xos, dentre estes se destaca: os inúmeros conflitos civis e a constante l uta pela paz; a descoberta dos códigos do DNA e as milhares de pessoas qu e morreram vítimas de doenças como a tuberculose, por exemplo, ou a varío la, ou ainda a dengue, doenças que em décadas anteriores haviam sido erra dicadas. Interessante é a afirmação de Sposati (2006) para quem a última década do século XX também foi considerada a década das Cúpulas, Os ano s 90 é período das Cúpulas Mundiais com temáticas universais: Mulheres na China, Pobreza na Dinamarca, Meio Ambiente no Brasil, entre outras. Em 2 000, por ocasião do novo milênio, após dez anos da vivência do IDH, um pa cto entre 189 nações estabelece a grande meta de reduzir à metade os índi ces de precariedade de condições de vida dos povos. (SPOSATI, 2006:3)Par

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ÐÏ�ࡱas onde coabitam tomadas de decisões com preocupações no domínio micro e macros sociais, pode garantir eficácia social associado à eficiência econômica com a promoção de espaços e tempos para participação efetiva e corresponsabilização dos parceiros em cada ação contratualizada, é essencial para a efetiva implementação de um processo de desenvolvimento integrado e sustentável. Palavras-chave: Consciência Ecológica; Diálogo; Complexidade; Comunidade Sustentável; Desenvolvimento Integrado. Introdução Trata-se de apresentar as análises que foram construídas a partir da pesquisa realizada em 2005, intitulada - a prática do assistente social em uma comunidade sustentável: desafios para uma sociedade contemporânea – e é com base nestas análises que inicialmente será apresentado uma breve descrição do lócus no qual se desenvolveu a investigação, para em seguida ser traçado, como eixo de orientação teórico, o conceito de comunidade. O texto abordará ainda alguns desafios recorrentes a proposta denominada de construção da Comum Unidade e, por fim traçará nas considerações finais a retomada dos conceitos de comunidade, analisando entre projeto e processo as estratégias de desenvolvimento integrado percebidas ao longo da pesquisa. “Ontem, eu fiquei horas esquecidas assistindo ao trabalho das formigas, indiferente a tudo, na sua meta de construir. E aprendi o quanto é importante fazer.....Fazer sempre e de tudo para alcançar os galhos mais altos da árvore da vida e melhor se alimentar do fruto ali quase esquecido: a paz. Oh, Deus! Torna-me indiferente a tudo que não seja construir com meu trabalho um mundo novo, onde só pessoas, bichos e coisas existam porque amam e entendem o amor como único sentido da vida.” [Djavan] I. Paradoxo global-local Paradoxo, quer dizer "o oposto do que alguém pensa ser a verdade", do grego é "o oposto do que alguém pensa ser a verdade". A palavra é composta do prefixo para-, que quer dizer "contrário a", "alterado" ou "oposto de", conjungada com o sufixo nominal doxa, que quer dizer "opinião". Paradoxo, segundo o sociólogo Istvan Mézaros foi o codinome do século XX. A última década do século passado foi marcada por profundos paradoxos, dentre estes se destaca: os inúmeros conflitos civis e a constante luta pela paz; a descoberta dos códigos do DNA e as milhares de pessoas que morreram vítimas de doenças como a tuberculose, por exemplo, ou a varíola, ou ainda a dengue, doenças que em décadas anteriores haviam sido erradicadas. Interessante é a afirmação de Sposati (2006) para quem a última década do século XX também foi considerada a década das Cúpulas, Os anos 90 é período das Cúpulas Mundiais com temáticas universais: Mulheres na China, Pobreza na Dinamarca, Meio Ambiente no Brasil, entre outras. Em 2000, por ocasião do novo milênio, após dez anos da vivência do IDH, um pacto entre 189 nações estabelece a grande meta de reduzir à metade os índices de precariedade de condições de vida dos povos. (SPOSATI, 2006:3) Par

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adoxos como a desigualdade social, as dificuldades expressas por uma globalização excludente, por um capital financeirizado que vai eliminando postos de trabalho em escala planetária, além de elitizar a mão-de-obra, desencadeia com esse processo um desemprego em dimensões nunca antes visto na história, dado ao contexto em que iniciamos o século XXI, com a ‘eliminação’ de mais de uma centena de milhares de trabalhadores; que vão desde o ABC paulista no Brasil aos demitidos da noite para o dia da Metaleurop nord, em Noyelles-Godault na França. As brechas diante deste cenário se instalam em pequenos grupos que vão, na medida em que lutam por sobrevivência, criando e reinventando novos modos de viver menos extrativista mais solidário e humano. Ações até então considerados por muitos estudiosos que as analisam como alternativas de sobrevivência em um mundo que se apresenta tão paradoxal e desumano. Portanto, o paradoxo a enfrentar neste terceiro milênio é o de realizar escolhas de futuro. A análise deste texto repousa sobre uma destas iniciativas localizada ao sul de um país de economia periférica, situado na América Latina, considerado como sendo um dentre os dez países mais desiguais do mundo, o Brasil. Para aprofundar a analise é interessante observar os dados contidos na figura 1- O espelho do Brasil - sobre um país continental, síntese de alguns paradoxos. �� � � ��A Tabela 1 - Incidência de participação dos 20% mais ricos na renda total dos países - indica o Brasil como o oitavo país mais desigual do mundo, e o quinto país mais populoso do mundo. Os 10% mais ricos acumulam quase 47% da renda nacional, o país se encontra na mesma linha de concentração de riqueza como a Namíbia, o país com o pior coeficiente de desigualdade, onde os 10% mais ricos retém 64,7% da renda. ���� ����� � A análise da economista Sônia Rocha (2006) sobre a situação explicitada pela Tabela 1 revela que “[...] o Brasil se classifica no segundo grupo de países onde a pobreza absoluta ainda persiste: aqueles nos quais o produto nacional é suficientemente elevado para garantir o mínimo necessário a todos, de modo que a pobreza resulta da má distribuição de renda.” Neste Brasil paradoxal, que produz riqueza, mas que não distribui a riqueza socialmente produzida emerge diferentes movimentos que ao longo dos últimos anos - sobretudo a partir do Fórum Social Mundial realizado em Porto Alegre - e início deste milênio vão construindo a sua identidade e buscando alianças, são os considerados em certa medida excluídos de um sistema, porém incluídos numa outra via. Movimentos de base heterogênea, mas com um elemento que os vincula em alguma medida a estranha dialética exclusão/inclusão. Invisibilizados sim, porém não anônimos. A dialética perversa da exclusão/inclusão é um processo de caráter estrutural de fragilização e ruptura dos laços sociais. Sposati (2006) aprofunda o conceito exclusão/inclusão quando argumenta que a exclusão social se expandiu através de metástases de estigma, apartação, discriminação. Van Parijs (1997) a firma que viver como excluído pode

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ser uma forma de inclusão possível em um mundo desigual, ora diante da crise social que se instala neste início de milênio, “[...] mais crise social e menos resposta social foi o pleno espaço em cena de exclusão social. Sua lógica não é mais de visibilidade marginal como nos idos tempos do desenvolvimentismo. A exclusão ocupa lugar central.” (SPOSATI,2006:7). A globalização fez emergir a fragilidade dessa concepção que se tornou geradora de novas formas de exclusão social. Territórios, etnias, migração, cidadania vão ser os novos ingredientes das manifestações de exclusão social, a perversidade da exclusão social�. Nesse sentido ela rompe com valores da democracia, cidadania e igualdade social. A concepção de exclusão/inclusão social permite identificar manifestações multidimensionais das desigualdades econômicas e sociais. Nesse contexto o capitalismo não é um horizonte aberto, o capitalismo é um horizonte fechado. Confrontar a exclusão na sua relação com a inclusão é colocar o debate no patamar ético-político, como uma questão de justiça social. É este patamar ético-político que traz possibilidades de novas identidades em resposta às novas dinâmicas sociais. A comunidade Morada da Paz, situada na parte sul do país, uma instituição com características singulares, uma vez que as pessoas partilham o dinheiro, as decisões, os projetos de vida, os sonhos, os anseios e as angústias. Morar e trabalhar na comunidade, por si só, já é uma forma diferente de estabelecer uma relação interpessoal e profissional que interage em diferentes áreas do saber, cultura e histórias de vida. Paulo Freire escreve que: O risco de assumir a luta pelo inédito-viável é uma decorrência da natureza utópica, própria da consciência crítica, que faz do ato de sonhar coletivamente um movimento transformador, uma vez que quando os seres conscientes querem, refletem e agem para derrubar as situações-limites [...] o inédito-viável não é mais ele mesmo, mas a concretização dele no que ele tinha antes de inviável. (FREIRE, 2001: 29) Ao assumir um modo de vida onde há compartilhamento de tomadas de decisões, até aí não se configura nada de inédito. O inédito-viável a que Freire se refere é o fato talvez, de se constituir um código de conduta que orienta a vida em comunidade; a divisão de tarefas; o compartilhar dos elementos socioeconômico (como o dinheiro, as aplicações do mesmo); o planejamento de metas de curto e médio prazo; a constituição de uma tecnologia relacional que envolve saberes múltiplos, diversos e complementares. Numa comunidade existe a diversidade na unidade, pois existem histórias de vida diferentes que se encontram e reencontram o sentido de viver em comunidade, o ponto de vista não é necessariamente o mesmo, mas existe uma compreensão de que a comunidade carrega um sentimento de conforto e aconchego. “Aqui, na comunidade, podemos relaxar estamos seguros, não há perigos ocultos em cantos escuros (com certeza, dificilmente um ‘canto” aqui é escuro). Numa comunidade, todos nos entendemos bem, podemos confiar

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no que ouvimos, estamos seguros a maior parte do tempo e raramente ficamos desconcertados ou somos surpreendidos. Nunca somos estranhos entre nós. Podemos discutir – mas são discussões amigáveis, pois todos estamos tentando tornar nosso estar juntos ainda melhor e mais agradável do que é até aqui e, embora levados pela mesma vontade de melhorar nossa vida em comum podemos discordar sobre como fazê-lo” (BAUMAN, 2003: 7 e 8) Morin (2002: 15) para quem “[...] o conhecimento progride não tanto por sofisticação, formalização e abstração, mas, principalmente, pela capacidade de contextualizar e englobar.” Analisa que este modo relacional com seus elementos inscritos no cotidiano da vida produz e reproduz modos de vida capazes de reeditar relações de confiança, solidariedade, cordialidade um ‘novo’ desenho, ou melhor, uma nova brecha. A proposta deste grupo foi paulatinamente tomando forma, do ponto de vista legal, emocional, profissional, pessoal. Os inúmeros desafios provocavam naquele momento e quase o tempo todo, a necessidade de não perder o foco, nem se deixar levar pelas dificuldades culturais, individuais de cada membro do grupo. Conforme Morin (2002a:19), especificamente no método I, a Vida da Vida, onde olhar direcionado para o objetivo construído pelo grupo foi um dos processos percebidos pela análise “[...] o enfraquecimento de uma percepção global leva ao enfraquecimento do senso de responsabilidade [...], bem como ao enfraquecimento da solidariedade [...]”. A estratégia do coletivo para manter firme o propósito recai sobre os diferentes conselhos que ao longo dos períodos semanais e mensais eram desenvolvidos: conselho de gestão; conselho dos povos e conselho da Comunidade. No desenvolvimento do texto se pretende desdobrar cada um destes conselhos. II. Notas sobre a Comum Unidade Ao estudar sobre comunidade foi interessante encontrar o conceito posto por Pascal� em meados do Séc. XVII onde a física e filosofia eram responsáveis por destruir duas noções medievais: noção de mundo e noção de comunidade. “Em seu lugar surgiu a de espaço infinito e a de individuo racional que se expressa pela concepção de um homem solitário e perdido em busca de apoio”. "Casta Diva" [...] Caminante son tus huellas el camino y nada más; caminante, no hay camino se hace camino al andar. Al andar se hace camino y al volver la vista atrás se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar. Caminante no hay camino sino estelas en la mar... Hace algún tiempo en ese lugar donde hoy los bosques se visten de espinos se oyó la voz de un poeta gritar Caminante no hay camino, se hace camino al andar...� A idéia de resgatar esta vida em comuna ressurgiu a partir dos socialistas utópicos, entre eles Robert Owen, no século XIX, que chegou a montar uma comunidade nos Estados Unidos. O movimento mundial das ecovilas também é mais uma tentativa dos sujeitos para resgatar as suas raízes e romper com a noção de vida individualizada da sociedade pós-industrial. Aos poucos, os movimentos que se desenhavam denunciavam a necessidade de uma convivência

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autêntica, no sentido de viverem juntos e não apenas de se justapor. Como os índios nativos norte americanos da tradição Sêneca, que através do relato de Jamie Sams descreve “cada membro do conselho deve ouvir com atenção as palavras que são ditas, de forma que, quando chegam sua vez, não repita informações desnecessárias nem faça perguntas pertinentes. As crianças indígenas aprendem a escutar desde os três anos de idade. Aprendem também a respeitar, mas estão obrigadas por sua honra pessoal a permitir que cada um expresse seu Sagrado Ponto de vista”pg.15 A construção coletiva nas tarefas a serem realizadas, pois os pontos de convergência não são impostos nem automáticos Os pontos de tensão não eram abafados ou negligenciados, mas foi no descobrimento mútuo e no diálogo que foram encontrando forças, respeito e entendimento, o que possibilitou buscarem elementos em comum e o que tinham de melhor. O dia-a-dia se configurando nas tarefas básicas, nas quais tudo é compartilhado, como: fazer comida, lavar a roupa, arrumar a casa, etc...Que também se assemelha a vivencia dos conselhos. Nicolescu (1999, p. 83) afirma que “[...] a transmissão de conhecimentos, de teorias, não se faz independente das condições concretas e históricas dos seus agentes profissionais [...]”. Nesta perspectiva, percebia-se que o grupo ia tecendo um contínuo diálogo, no qual as convergências ou divergências emergiam à medida que se estabeleciam relações, analisavam-se e se interpretavam pensamentos, teorias, práticas e ações. Surge na perspectiva de um conhecimento fático a noção de comunidade ancorada por elementos que interdependentes, como a confiabilidade, a autenticidade, a solidariedade ocupam no contexto das relações muito mais que componentes necessários para a consolidação da sustentabilidade e, sim fatores fundantes de uma relação integrada, que sem estes não há possibilidade de tornar-se inédito-viável. Moacir Gadotti considera que a, [...] a sustentabilidade tornou-se um tema preponderante neste início de milênio, um tema portador de um projeto social global e capaz de reeducar nosso olhar e todos os nossos sentidos, capaz de reacender a esperança em um futuro possível, com dignidade, para todos. A sustentabilidade não tem a ver apenas com a biologia, a economia e a ecologia; tem a ver com a relação que mantemos com nós mesmos, com os outros e com a natureza. (GADOTTI,1995: 10) A presença crescente de organizações marcadas pela imprevisibilidade, instabilidade e diversidade provoca inúmeras reações que perpassam vários níveis, desde o micro e singular até o macro plural. Entender esta multiplicidade de ações e dialogar com toda a gama de movimentos que isso demanda, faz com que se busque o olhar plural para o enfrentamento da dramática mudança de concepções e idéias que vêm ocorrendo durante os primeiros anos deste século. A cada instante a dimensão de complexidade da realidade exige um saber aplicável que se faz a partir de uma construção coletiva. Tendo a Comunidade suas ações totalmente voltadas para o campo do meio ambiente, cara

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cterística que exige um conhecimento singular sobre a área, é possibilitado o entendimento de que a relação indivíduos/meio ambiente se estabelece por constantes trocas, e de que estas devem fazer-se pela harmonia emergindo desse processo uma nova consciência. A consciência ecológica tem sua epistemologia baseada no pensamento sistêmico, na teoria da auto-organização e no paradigma da complexidade, e, a partir dela, são trabalhadas as múltiplas formas de significar o mundo, com base no acolhimento, na valorização das diferenças. Para Morin, A consciência ecológica não é apenas a tomada de consciência da degradação da natureza. É a tomada de consciência, na esteira da ciência ecológica, do próprio caráter da nossa relação com a natureza viva: aparece na idéia de duas faces que a sociedade é vitalmente dependente da eco-organização natural e que está profundamente comprometida, trabalhada e degradada nos e pelos processos sociais.Desde aí, a consciência ecológica aprofunda-se em consciência eco-antropossocial; desenvolve-se em consciência política na tomada de consciência de que a desorganização da natureza suscita o problema da organização da sociedade. A consciência eco-política suscita um “movimento” de mil formas individuais (ética e diéticas), e coletivas, existenciais e militantes. (MORIN, 2002b: 111) À base desta nova percepção, sente-se a necessidade de uma utilização nova da ciência e da técnica com a natureza e não contra a natureza; impõe-se, desede então a tarefa de ecologizar tudo o que é realizado e pensado, rejeitar os conceitos fechados; desconfiar das causalidades unidirecionadas. Boff (1999: 32) em uma brilhante reflexão elaborada depois de sua vivência juntaos índios do Alto-Amazonas, constata que “[...] propor-se ser inclusivo contra todas as exclusões, conjuntivo contra todas as disjunções, holístico contra todos os reducionismos, complexo contra todas as simplificações” é uma via possível de se materializar se soubermos qualificar o modo como sentimos e agimos nesse mundo. O maior desafio deste novo século talvez seja justamente o de compatibilizar aquilo que é necessário para a subsistência com o que a natureza pode oferecer. III. As estratégias de construção da Comum Unidade Segundo Daly (1984) a sustentabilidade representa uma proposta em que os indivíduos como seres integrados à natureza, com ela troquem saberes e utilizem os recursos de uma forma racional, harmônica e equilibrada, visando garantir o seu proveito pelas gerações futuras. Dentro deste contexto, desempenham um papel central para uma forma de vida integrada, os princípios da permacultura. Permacultura pode ser definida como agricultura permanente, e seu conceito foi desenvolvido nos anos setenta do século passado por dois australianos, David Holmgren e Bill Mollison. Consistindo no desenho e manutenção de pequenos ecossistemas produtivos, junto com a integração harmônica do entorno, das pessoas e suas vidas, proporciona respostas a suas necessidades de uma maneira integrada. O princípio básico da Permacultura é o de trabalhar com, ou a favor de, e não

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contra a natureza. Os sistemas permaculturais são construídos para durar tanto quanto seja possível, com um mínimo de manutenção. Estes sistemas são tipicamente energizados pelo sol, o vento e a água, produzindo o suficiente, tanto para sua própria necessidade como para a dos humanos que os criam e controlam. Desta maneira, o sistema é integrado. As comunidades sustentáveis seguem o princípio do zoneamento ecológico-econômico, isto é, um plano estratégico para a ocupação do espaço geográfico segundo uma perspectiva de uso integrado da energia (solar, eólica, mecânica); procuram minimizar os impactos ambientais causados pela ocupação humana, no ambiente natural, aproveitando, por exemplo, matéria orgânica dos sanitários, em composteiras, para posterior uso na lavoura, a estocagem da água da chuva em cisternas, além de construções ecológicas com materiais que não exijam grande dispêndio de energia para a sua fabricação, como o plástico, ou o concreto. As casas são projetadas prevendo o uso de materiais e técnicas de construção alternativa. Alguns materiais utilizados são tijolos de barro, palha, juncos, além de madeira, naturalmente. Construções denominadas de bioconstrução. Segundo Reigota (1996), meio ambiente é um lugar determinado e/ou percebido onde estão, em relações dinâmicas e em constante interação, os aspectos naturais e sociais. É sob esta perspectiva que, neste texto, iremos referir-nos a meio ambiente. A estrutura organizacional da Comunidade Morada da Paz A idéia de estruturar uma comunidade integrada e sustentável foi maturada, ao longo de cinco anos, por um grupo de pessoas eminentemente urbanas, que vislumbraram na possibilidade de vida comunitária, a viabilidade de praticar cotidianamente uma filosofia de vida alternativa, mais integrada à natureza e à infinitude das formas de vida que a constituem. Bauman (2003) docemente nos apresenta uma belíssima definição de Comunidade a partir de seu estudo intitulado Comunidade – a busca por segurança no mundo atual, onde refere que somos todos seres interdependentes e devido a esta interdependência nenhum de nós pode ser senhor de seu destino por si mesmo, sobre as condições sob as quais enfrentamos os desafios da vida, o que para a maioria de nós esse controle só pode ser obtido coletivamente. Se vier a existir uma comunidade no mundo dos indivíduos só poderá ser (e precisa sê-lo) uma comunidade tecida em conjunto a partir do compartilhamento e do cuidado mútuo. Uma comunidade de interesses e responsabilidade em relação aos direitos iguais de sermos humanos e igual capacidade de agirmos em defesa desses direitos. (BAUMAN, 2003:134) As palavras tem significado, já afirmava Bauman e comunidade é uma dessas palavras: diz ele que o que quer que comunidade signifique, é bom ter uma comunidade, estar numa comunidade. Então, após a aquisição de uma área de 4,2 hectares na localidade de Lajeadinho, Distrito de Vendinha, em Triunfo/RS, no ano de 2002 teve início à constituição de uma forma de gestão para a comunidade, através da elaboração

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de seu estatuto social, que procurou fugir aos padrões comuns de hierarquia funcional, buscando estabelecer um equilíbrio de poderes para garantir o sucesso de uma gestão participativa. Foram constituídos dois conselhos, o curador para zelar pelos princípios filosóficos da comunidade, e o gestor para operacionalizar as demandas administrativas, com sete áreas operacionais. Os objetivos da Comunidade Morada da Paz são: Promoção e qualificação educacional; Desenvolvimento e valorização ambiental; Produção agroecológica de hortifrutigranjeiros para autoconsumo e comercialização do excedente; Promoção da saúde holística; Investigação da dinâmica social; A Comunidade Morada da Paz tem um estatuto social que compreende, na sua organização funcional, a seguinte estrutura: Um Conselho Curador; Um Conselho Gestor; Sete Áreas Organizacionais. Esta estrutura é resultante de uma série de discussões realizadas com o objetivo de legalizar a comunidade. Neste estatuto, não há alguém que detenha o poder de comando sobre o conjunto, havendo, isto sim, a presença de gestores com iguais atribuições, responsáveis pelas áreas organizacionais e com poder de representação legal da Morada da paz perante terceiros. As reuniões organizacionais acontecem semanalmente, e nelas são tratadas demandas específicas de cada área organizacional. Os eixos da Comunidade Morada da Paz incluem: Agricultura de autoconsumo, vislumbrando o estabelecimento de uma agroindústria familiar; Educação para a Nova Era através da formação de educadores para a paz, a realização de trabalhos de educação ambiental na Morada da Paz e construção do Centro Alternativo Educacional de Ecologia Humano Social (CEEHS); Universalismo, objetivando o respeito e a convivência harmônica com todas as formas de vida, em nível físico e metafísico, tendo a espiritualidade como caminho; Nossa história, tendo como meta o resgate da história do grupo e o registro das atividades desempenhadas cotidianamente na comunidade; Horizontes, procurando articular a construção de projetos para tecer uma rede solidária entre pessoas e instituições, tendo como eixo a paz. A proposta de uma vida em comum não é nova e remonta aos primórdios da civilização humana, quando os clãs e as tribos constituíam os agrupamentos nos quais estavam inseridas as famílias. Com o passar do tempo e o advento da propriedade privada, o individualismo tomou um espaço cada vez maior e acabou resultando na divisão social. Esta divisão social se intensificou e trouxe inúmeros problemas e desigualdades; algumas sociedades, ditas primitivas pelos colonizadores europeus que povoaram a América preservaram este modus vivendi. No dia-a-dia, há o envolvimento de cada um dos membros da comunidade com o todo, compreendendo as dimensões sociais, culturais, políticas e econômicas da vida coletiva. O processo decisório para encaminhamento operacional das metas e objetivos é realizado através de um conselho. O sentido é integrar cada ser humano no contexto da comunidade, criando uma identidade e fortalecendo a unidade. O sistema de rela

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ções na comunidade não é cada um ter a sua casa e reproduzir o modus vivendi da civilização moderna, ou seja, cada família fazer as suas próprias compras, preparar apenas para si os alimentos e ter os seus projetos de vida individuais. A proposta da Morada da Paz vai, além disso, pois constroem a perspectiva de um projeto coletivo de existência com base nos seguintes princípios seguidos por cada componente da comunidade: Determinação para superar suas limitações e reconhecer-se como possibilidade; Respeito para compreender as diferentes verdades que existem em diferentes mundos; Receptividade para perceber-se e perceber os mundos e as diferentes formas de vida que o cercam; Compreensão para ser generoso com os diferentes movimentos, para evitar julgamentos apressados e para não pensar que seu próprio movimento é único; Humildade que lhe dará a condição de continuar caminhando, aprendendo e compartilhando sempre. Aprender com quem já sabe, compartilhar com quem sabe como você e ensinar pelo exemplo a quem não sabe o tanto que você já aprendeu; Solidariedade, pois só sobreviverá o espírito que estiver em direção a outro. Ser solidário representa a síntese dos seis últimos itens, visto que, para ser solidário, é preciso determinação, respeito, compreensão, receptividade, humildade e amor; Amor, pois só ama aquele que se permite amar, procurando sempre o significado desta frase. Aquele que atingir estes sete itens básicos construirá a transformação, pois começará a transformar o seu próprio mundo; A Morada da Paz procura estabelecer com o meio ambiente, no qual se insere, uma relação de sustentabilidade, através do uso racional dos recursos naturais (terra, água, ar, fauna, flora), da reciclagem de resíduos orgânicos gerados pelas atividades humanas e da preservação da biodiversidade. Estes princípios visam salvaguardar o patrimônio natural com vistas ao seu aproveitamento pela geração atual e pelas futuras gerações. A Comunidade Morada da Paz vislumbra a perspectiva de uma vida humana integrada com a natureza, de um constante compartilhar, da troca de experiências entre as pessoas, do diálogo sincero e aberto para a construção e da articulação de redes solidárias, já em execução. No ano de 2003, foi iniciada a estruturação da rede de envolvimento solidário, a qual visa fomentar a troca de saberes, serviços, produtos, a partir de três seminários temáticos, duas oficinas de permacultura e uma reunião técnica de trabalho, objetivando a disseminação do propósito de construção de um eixo de paz para a sustentabilidade planetária. Sendo o diálogo instrumento e estratégia de legitimação entre os componentes da Comunidade Morada da Paz, é interessante abordar a construção do filósofo alemão Martim Buber em sua asserção sobre o diálogo onde desenvolve importante conceito sobre os três tipos de diálogos e os analisa como meio de homens e mulheres se colocarem no mundo�, Conheço três espécies de diálogos: o autêntico - não importa se falado ou silencioso-onde cada um dos participantes tem de fato em mente o outro [...]; o diálog

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o técnico, que é movido unicamente pela necessidade de um entendimento objetivo, e o monólogo disfarçado de diálogo, onde dois ou mais homens, reunidos num local falam, cada um consigo mesmo, por caminhos tortuosos estranhamente entrelaçados e crêem ter escapado, contudo, ao tormento de ter que contar apenas com os próprios recursos. (BUBER, 1982: 53-54). A ecologia como uma via estratégica do processo de construção da comum Unidade A modernidade data do século XVI e se constitui oposição a todos os níveis da ordem vigente: o sistema feudal. O antropocentrismo, uma ordem mundial hegemônica daquele tempo, ao substituir o teocentrismo, compreende o homem e a mulher como centro do mundo, e a natureza estava ali para lhes proporcionar recursos para sanar as suas necessidades. Deste modo de viver, que duraram muitos anos, o ser humano extraiu da natureza tudo o que pôde, e o que não pôde a poluiu. Anualmente doenças como diarréia, levam à morte mais de 2 milhões de pessoas, dos quais 40% são crianças; a concentração de desempregados e excluídos é caracterizada por desigualdades extremas, marginalidade, narcotráfico, delinqüência, insegurança, guerra�. Chega-se, então, à contemporaneidade, com escassez de recursos para a manutenção da vida no planeta e do planeta, e, com isso, a necessidade de repensar o modus vivedi, que levou todos ao caos em que atualmente estamos mergulhados. Tornou-se necessário resgatar e ressignificar conceitos. Ante este contexto, a ecologia se torna um dos caminhos a contribuir com a necessária mudança de ordem bio-psico-antropo-espiritual-eco-social. A consciência de que não há separatividade entre problemáticas ambientais e sociais ganha força através da organização da sociedade civil e das instituições políticas mundiais, resultando em um processo de amplas discussões. Urge a compreensão desta interatividade, Morin (2002b: 63), afirma que é chegado o momento onde “[...] não podemos mais considerar como entidades claramente separadas, impermeáveis umas às outras, homem, natureza, vida, cosmos” pois somos causa/conseqüência, os mais graves desequilíbrios ambientais provocam os mais intensos desequilíbrios sociais. Não é só a miséria material que põe em risco a manutenção da vida biológica, mas também aquela que afeta a constituição do ser humano e de outras espécies habitantes do nosso planeta. A ecologia atualmente diz respeito, desde o modo como são constituídas as culturas, ao modo como se estabelecem as relações entre os domínios físicos, humanos e naturais. Giovennatti Filho (2004: 14) considera que, no tempo presente, a ecologia, “[...] pode ser vista em todos os meios de comunicação e difundida nas mais diversas redes de relação interpessoal, pois, hoje em dia, o termo ecologia aparece como sinônimo de vida saudável e ações corretas com o ambiente.” Este conceito, ou melhor, este entendimento avança em relação à concepção inicial do termo, e percebo que adotar uma força para remeter a uma mudança de atitude, instiga para uma necessidade de repensar o modo de viver. Porém o termo não surgiu com esta pulsão.

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A palavra ecologia, etimologicamente deriva do grego [OIKOS = casa] e do latim [LOGOS = estudo]. Assim, ecologia etimologicamente significa o estudo da casa. É importante demarcar que o sentido do termo foi amadurecendo ao longo do passar dos tempos, em virtude, creio, de uma necessidade premente de repensar os saberes sobre a noção de meio ambiente e o papel da espécie humana neste contexto. Ecologia é entendida como o estudo da casa e como a necessidade de se perceber a forma de se relacionar com esta casa, pensando-a como o local onde determinado ser vivo manteria uma relação de sobrevivência e de interdependência. Boff (1999) refere à ecologia como o estudo das relações que constituem o conjunto do habitat [oikos = casa] e de cada um dos seres relacionados com a natureza. Moraes (2004) reitera que a ecologia seria, então, a ciência que trata da dinâmica das relações existentes entre todas as coisas e trabalha com o conceito de ecossistema, que, por sua vez, cuida da articulação entre todos os elementos constituintes do sistema. De outro modo, significa entender que, para compreendermos o nosso lar maior, temos que incorporar conhecimentos mais abrangentes. A ecologia, então, mais do que uma subdivisão da Biologia torna-se uma disciplina que integra organismos, ambiente e a espécie humana. Ora, o estudo da casa ou lar não se esgota no estudo de seus habitantes, mas se incorpora num conjunto de conhecimentos diversos que se complementam, propiciam uma visão integradora, relacional e interdependente deste lar/casa. Segundo Moraes, A palavra ecologia tem um sentido mais amplo que envolve a ecologia natural, a sociedade, a mente e o individuo. Daí deriva os conceitos - ecologia da mente, ecologia social, ecologia cognitiva, ecotecnologia e outras ecologias mais. Aprofundando um pouco mais, compreendemos a ecologia como a ciência que estuda as relações dos seres vivos com o seu meio, indicando a interdependência entre todos os fenômenos da natureza, as relações existentes entre seres viventes, aprendizes e aprendentes, indivíduos e contexto, sinalizando que tudo que existe, na realidade co-existe, e que nada existe fora de suas conexões ou de suas relações. (MORAES, 2004: 133) A ecologia profunda foi proposta pelo filósofo norueguês Arne Naess, em 1973, em resposta à visão dominante sobre o uso dos recursos naturais, e seu pensamento recebe a influêcia da concepção ecológico-filosófico de Henry Thoreau.� Em uma entrevista� publicada em 1982, Naess afirma que , [...] a essência da ecologia profunda é fazer indagações. O adjetivo profundo realça o fato de que perguntamos por que e como, quando outros não o fazem. Por exemplo, a ecologia como ciência não pergunta que tipo de sociedade seria a mais adequada para manter um ecossistema especifico, esta é considerada uma pergunta para a ciência política, ou para a ética. Enquanto a ecologia se mantiver estreitamente nos limites de sua ciência, não faz estas indagações. Na ecologia profunda, perguntamos se a presente sociedade preenche as necessid

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ades humanas básicas como amor e segurança e acesso à natureza, e ao fazer isso, questionamos os pressupostos básicos de nossa sociedade.(Zen Center, 1982) Para Lutzemberger (1990), a ecologia profunda vai além das abordagens superficiais das questões ambientais, que visam apenas garantir que certos regulamentos mínimos sejam cumpridos. Ela propõe uma mudança radical na cultura, nas formas de pensar, nos valores e nas práticas humanas, não só na dimensão organizacional, mas em todas as áreas de atuação humana. Neste sentido, a ecologia profunda propõe uma nova ética de pertinência e de co-responsabilidade de vivência. Para Naess, esta ecologia surge do reconhecimento interior da nossa unidade com a natureza. Devido a isso, o discurso tende sempre a uma mudança de atitude e não só de pensar, de intenções. A ecologia profunda traz a idéia de uma cisão com o paradigma antropocentrista do mundo moderno - Homem versus Natureza. Boff (2002: 68) diz que “o antropocentrismo teria feito com que o ser humano rompesse a solidariedade para com os demais seres, dominasse a terra, ameaçasse outros seres.” Ele precisa de uma reconversão de sua mente para despertar dimensões de sua interioridade que o façam mais cooperativo que competitivo, mais sensível que dominador, mais compassivo com os seres que sofrem e menos explorador. A ecologia profunda apresenta oito princípios que nos oferecem uma melhor idéia desta nova visão sobre a relação entre o ser humano e a natureza, como veremos agora: - O bem-estar da vida humana e da vida não-humana tem valores intrínsecos, separados dos usos e propósitos humanos; - A diversidade, a riqueza de todas as formas de vida contribui para a realização destes valores intrínsecos; - Os seres humanos não têm o direito de reduzir tal riqueza e diversidade; - A equidade no fortalecimento das espécies humanas e não-humanas; - A intervenção humana no mundo não-humano é excessiva e carece de ser equacionada com equilíbrio e preservação das espécies ameaçadas; - A cultura política do ter necessita suplantar a concepção de exploração e progresso a qualquer custo para um modo de vida mais eqüitativo, afim de que as estruturas econômicas, ideológicas e tecnológicas sejam transformadas em uma direção muito diferente da presente; - A espécie humana deve considerar e conceber para seu viver a valorização de uma qualidade de vida que não signifique altos padrões de consumo material; Aqueles que subscreverem estes pontos têm uma obrigação, direta ou indireta, de tentar implementar as mudanças necessárias. Unger escreve que, [...] o termo ecologia profunda visa também distinguir o que foi chamado de o “ambientalismo superficial” voltado para um controle mais eficiente do meio ambiente em beneficio do status quo, da perspectiva que reconhece que o equilíbrio ecológico exigirá mudanças de fundo com implicações para as estruturas sociais as expressões culturais, a saúde, a espiritualidade. (UNGER 2000:72) Santos (2000: 34) escreve que “[...] em uma perspectiva ecológica e profunda o ponto de mutação é o despertar pa

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ra a transcendência da vida presente em cada um de nós” é a essência que nos distingue dos demais seres vivos. O que nos torna como afirma Morin (2002b: 17), “[...] homo sapiens e demens [...].” Este despertar depende daquilo que Paulo Freire denomina de ‘conscientização’, a consciência da profundidade de si mesmo (o ‘self ’ junguiano) conscientização do mundo, da vida. Como diz Morin (2002b: 11), “a nova ecologia reclama uma práxis que se opõe à avalanche tecno-manipuladora [...] tende por si mesma a proteger a vida e a qualidade da vida”. Para a teoria da complexidade, a ecologia é tratada como consciência ecológica, requer conhecimento e responsabilidade na formulação de uma consciência coletiva e planetária. A consciência ecológica� não é apenas a tomada de consciência da degradação da natureza, ela é eco-antropo-bio-espirutal. Para Morin, (2002b: 166) “A noção de ecologia [...] institui um campo novo nas ciências biológicas, o das relações entre seres vivos e os meios onde vivem”. Portanto, a consciência ecológica é a que prescinde de uma reforma do pensamento e do agir. De uma religação de saberes, de um saber prudente para uma vida mais digna e decente, como defende Santos (1989), ou seja, é pensar a ecologia no patamar de uma práxis humanadora que traz em si a configuração de outro nível existencial. V. Considerações finais O mundo em que vivemos é o que construímos a partir de nossas percepções, [...] Nosso mundo é a nossa visão de mundo. Mariotti A natureza cíclica dos processos ecológicos é um importante princípio da ecologia. Percebe-se isso no movimento próprio da história da humanidade. Nosso modo de vida ainda é decorrente de duas grandes revoluções ocorridas na humanidade: de um lado a revolução agrícola e, de outro, a industrial. Nos últimos dez mil anos, o homem caçador-coletor passou a praticar a agricultura, a domesticar e a criar animais. A partir deste tempo, a vida sobre a Terra vem-se modificando numa velocidade cada vez mais galopante. � Todo o movimento da humanidade, em cada era, evoca nossa porção sapiens enquanto animais capazes de desejos e de ânsias por saberes diversos e pela capacidade de nos maravilharmos diante do mundo em que vivemos, mas também evoca nossa parte demens, pela qual somos capazes de, por acomodação e acumulação, destruir, desprezar, desrespeitar. Esse movimento cíclico também já foi anunciado por Galileu Galilei, há milhões de anos atrás, quando dizia que a terra era redonda, Heráclito de Éfeso, mais ou menos 550 a 480 a.Csustentava que tudo no mundo se encontra em permanente transformação, que nada tem consistência, e, quase contemporaneamente a ele Demócrito, em 480 a 370 a.C. já afirmava que toda a matéria era composta de pequeníssimas partículas, originando uma das mais complexas descobertas de todos os tempos, o átomo. A partir destas descobertas, é possível perceber a unicidade em afetividade, comunhão, amor: é a porção sapiens manifestando-se. Mas, também, foram construídas as piores armas da humanidade, a bomba atômica: é a manifestação da porção deme

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ns, que também se expressa. Diante de tudo, o que se sustenta é a urgência de resgatar alguns valores há muito perdidos ou adormecidos. Olhar para a História não significa saudosismo, tão-somente desejar trazê-la de volta, entretanto, é necessário um movimento de retorno para podermos avançar com mais sensibilidade, arregimentar forças para romper com a cultura do ter e para investir em saberes múltiplos que contribuam para um ser humano com mais humanidade, que se invista no saber enquanto conhecimento, mas que seja complementado por um saber ser, por um saber compartilhar associado a um saber fazer/realizar, comprometido com o tempo presente. Morin (2002b: 111) provoca um olhar diferente sobre a relação pessoa/natureza e, neste ponto, “[...] a nova ecologia [...] tende por si mesma a proteger a vida e a qualidade de vida”. Quando tive oportunidade de conhecer este conceito a partir da teoria da complexidade, detectei em mim uma felicidade há muito não sentida, em relação a uma teoria. Sei perfeitamente que ela não se propõe a oferecer respostas às minhas inquietações, mas me provocou um desassossego fecundo, que: Tende mesmo a suscitar, em cada um, através da consciência ecológica, um exame de si e uma ação sobre si. Não foi por acaso que a consciência ecológica pôde adquirir muitas vezes um caráter existencial, incitando a comer, beber, deslocar-se, habitar, trabalhar de modo diferente. É que ela suscita por si mesma a aspiração a mudar de rumo, mudar de vida. (MORIN, 2002b: 111) O cartesianismo nos fez crer que éramos metade. Metade natureza, metade cultura, ou seja, seres de ‘pequenas gavetas’, seres engavetados e, como se não bastasse, de engavetamento. Não somos metade, somos 100% natureza, 100% cultura; o homem e a mulher não se reduzem a um conjunto de partes, mas são concomitantemente parte e todo. Moraes escreve que, Complexidade está compreendida como um princípio articulador que une diferentes modos de pensar, que permite a tessitura comum entre sujeito e objeto, ordem e desordem, estabilidade e movimento, [...] e todos os tecidos que regem os acontecimentos, as ações e interações que tecem a realidade. (MORAES, 2004:21) O tempo em que nos tornamos homo faber, por uma necessidade de evolução, de superação das adversidades naturais impostas por uma luta contra a natureza, � o tempo que precisamos buscar enquanto homo ludens, a fim de nos reencontrarmos com nosso sonho, com nossa ingenuidade, com a necessidade de confiar antes de desconfiar, de ceder se for o caso, porque não tememos avançar. Tempo de equilibrar nossa porção demens com a sapiens. Tempo de amadurecermos e andarmos na direção de uma consciência que supere a racionalidade maquínica da preocupação exclusiva com o bem-estar pessoal, mas que vá em direção a uma consciência planetária, para uma preocupação com o bem-estar coletivo garantindo, com esta preocupação, a diversidade, o multiculturalismo. Os índios Kamayurá do Alto Xingu têm uma estória interessante, que explica como o dia foi conquistado que diz assi

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m: - “No começo de tudo está à noite. Em seu mistério, ela esconde todos os seres. Quando eles surgem, trazem junto à luz, tornando-os visíveis. Como surgiu o dia, se, antes, tudo era noite? […]” � “Sonhar é imaginar horizontes de possibilidades, [...] é assumir a luta pela construção das condições de possibilidade”. (Freire, 2001: 29). Capra (2002), no epílogo de seu livro “Conexões Ocultas”, no qual fala sobre o sentido das coisas, faz uma citação de um dramaturgo tcheco, Havel, que teria dito: “[...] a esperança não é a convicção de que as coisas vão dar certo, mas a certeza de que as coisas têm sentido, como quer que venha a terminar.” A necessidade, portanto de organização para se chegar a alcançar um objetivo; uma liderança compartilhada em contraposição a uma liderança autoritária e centralizadora problematizando o jogo de forças; os diferentes tipos de liderança; o planejamento evocando a necessidade de se ter estratégias de ação, denotam uma chamada reflexiva que remete para um exercício de pensar sobre: as relações; o cuidado com o meio; políticas includentes e uma econômia mais justa. O que pude apreender com os movimentos presenciados junto a Comunidade Morada da Paz, que em sua singeleza vai a cada desafio construindo e consolidando o inédito-viável de um desenvolvimento integrado e sustentável, foi que no tempo presente as brechas são a medida do possível em mundo tão paradoxal. Guattari (2000), em seu livro “Revoluções Moleculares”, escreve que a transformação se dará no cotidiano, ali onde se desencadeiam nossas micro-ações. Por isso, é que não deveríamos ficar esperando pela grande revolução. E sem que se considerem os conhecimentos implicitos nessa jornada, como escreve Santos, cujos sinais necessitam de serem notados. Diz ele que, Estamos vivendo um período de transição entre o paradigma da ciência moderna e um paradigma emergente, cujos sinais vão configurando uma possibilidade a ser construída, qual seja, o paradigma de um conhecimento prudente para uma vida decente. (SANTOS, 2000: 37) Grifo aditado. De um lado, o desafio, e de outro a incerteza. Tanto um quanto o outro, auxiliam a forjar um caminhante que não sabe onde irá chegar, mas que carrega em si a certeza do desejo de aprender com o modo de caminhar. Considera-se, portanto que as experiências aqui relatadas podem ser compreendidas como uma estratégia de consolidação do desenvolvimento integrado. Referências Bibliográficas A CARTA DA TERRA. (2004) valores e princípios para um futuro sustentável. Petrópolis: Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis. ABBAGNANO, Nicola. (1982). Dicionário de filosofia. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou. ACOT, Pascal. (1990). História da ecologia. Rio de Janeiro: Campos. ARRIGHI, G., (1996). O longo século XX: dinheiro, poder e as origens do

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iva" da Ópera Norma de Bellini que é uma ode à Lua, à caça da deusa Lua. � O que Buber chama de Diálogo não é apenas relacionamento das pessoas entre si, mas é o seu comportamento, a sua atitude um-para-com-o-outro, cujo elemento mais importante é a reciprocidade da ação interior. Ver mais no Livro (Do diálogo e do dialógico, BUBER, 1982). � Henry Thoreau viveu nos EUA - no bosque de Walden há mais de duzentos anos e desencadeou um movimento de combate à destruição da mata e dos animais da floresta pela caça predatória. Foi uma grande cientista que lutou por um foco da ecologia que contemplasse a relação espécie humana/meio ambiente/planeta Terra/Gaia. Sua publicação mais conhecida foi A vida nos Bosques, cuja primeira edição saiu em 1854. Duzentos anos depois, a obra foi reeditada pela editora Aquarius, em São Paulo em 2001. � Esta entrevista foi dada ao jornal “Tem Directions” do Zen Center, em Los Angeles, em 1982. Ela pode ser encontrada na íntegra e traduzida em: UNGER, 2000. � Ilya Prigogine mostrou que os sistemas abertos questionam a linearidade do tempo, e o sentido não se encontra mais nas horas que passam, mas no quantum de emoção que cada atividade provoca em nós uma hora pode significar quatro ou mais horas assim como pode também significar minutos e/ou segundos depende do que estamos sentindo. � Esse modo de se relacionar com a natureza foi hegemônico em nossa sociedade, desde a nossa descoberta pelos portugueses Atualmente a natureza tem dito quanto essa relação a prejudicou. � A reconquista do Dia, um conto retirado do livro o - Casamento entre o Céu e a Terra - Contos dos Povos Indígenas do Brasil, 2000. � � � � � PAGE \* MERGEFORMAT �19� � O relatório de 2003 mostra que 60% dos rios do planeta já sofreram algum tipo de intervenção, 10% das terras estão gravemente degradadas fragilizando a produção alimentar; 70% da superfície do planeta poderão ser ameaçadas pelos impactos advindos do desenvolvimento através da extração mineral, desmatamento, construção e ampliação de cidades e estradas; 80% do que se produz no planeta e da utilização dos recursos naturais, somente 20% da população do globo terrestre tem acesso; aproximadamente, um milhão de pessoas em todo o planeta não tem acesso a água potável, sofrendo com a escassez e a ausência de saneamento básico. � Pela importância que teve, devemos lembrar, por exemplo, da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD/UNCED) que foi realizada na cidade do Rio de Janeiro (Brasil), de 3 a 14 de junho de 1992. A única vez em que os países haviam se reunido para discutir a sobrevivência do planeta tinha sido em 1972, em Estocolmo (Suécia). Figura � SEQ Figura \* ARABIC �1�- O Espelho do Brasil População: 184 milhões Área: 8,5 milhões km² País federado, com 27 estados e 5.564 municípios População pobre:

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11,1 milhões de famílias (21,% da população) População extremamente pobre: 4,2 milhões de famílias (8,2% da população) Coeficiente de Gini em 2004 = 0,547 Fonte: MDS/PBS –Rosani Cunha 1. Namíbia 2. Botswana 3. Lesotho 4. República Central Africana 5. Swazilândia 6. Guatemala 7. Serra Leoa 8. Brasil Tabela ~’�¡:�h•X �h~�w&&&&

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