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CONTRA-ESPAÇO: CAMINHO TEÓRIO-METODOLÓGICO PARA A LEITURA DA TRAMA DE (RE) ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO DO SUDOESTE MATO- GROSSENSE ANDREIA PERERIA CALIXTO Mestranda do Curso de Pós Graduação em Geografia da Unemat. Email: [email protected] JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA SOARES Profº. Dr. do Curso de Geografia da Unemat. Email: [email protected] 1. INTRODUÇÃO O Espaço Organizado, também chamado de Espaço Geográfico, é o resultado da coabitação entre os vários elementos e práticas que compõem o corpo social, sendo assim, a coabitação é o conteúdo necessário da convivência espacial dos homens (MOREIRA , 2010). Neste sentido, conclui-se que as várias práticas sociais suscitadas a partir de condicionantes políticos, econômicos e culturais, entre outros, é que dão forma aos diversos arranjos que qualificam o espaço. Depreende-se que o Espaço é o resultado das atividades humanas ao longo do tempo e as regulações feitas através dos contextos infraestruturais e superestruturais, respectivamente, os econômicos, políticos e jurídicos-culturais dão sentido aos arranjos que são materializados na paisagem (MOREIRA, 2010). Assim, o Espaço é a realidade social vigente, ou seja, o Status quo das práticas espaciais num determinado período de tempo. Por outro lado, Moreira (2006) alude que, se o Espaço Organizado é a realidade social vigente, os movimentos que o contestam são assim chamado de “Contra-espaço”. Para este autor, o espaço disciplinar não é um consenso na sociedade civil burguesa, desta forma, os que não se identificam e o questionam respondem no e pelo Contra-espaço. Este é, portanto, uma insurreição de operários, uma ocupação de terra com fim de assentamento rural, uma favela como forma de movimento de ocupação-assentamento urbano, mas também um ritual

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CONTRA-ESPAÇO: CAMINHO TEÓRIO-METODOLÓGICO PARA A LEITURA

DA TRAMA DE (RE) ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO DO SUDOESTE MATO-

GROSSENSE

ANDREIA PERERIA CALIXTO

Mestranda do Curso de Pós Graduação em Geografia da Unemat.

Email: [email protected]

JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA SOARES

Profº. Dr. do Curso de Geografia da Unemat.

Email: [email protected]

1. INTRODUÇÃO

O Espaço Organizado, também chamado de Espaço Geográfico, é o resultado da

coabitação entre os vários elementos e práticas que compõem o corpo social, sendo assim, a

coabitação é o conteúdo necessário da convivência espacial dos homens (MOREIRA , 2010).

Neste sentido, conclui-se que as várias práticas sociais suscitadas a partir de condicionantes

políticos, econômicos e culturais, entre outros, é que dão forma aos diversos arranjos que

qualificam o espaço.

Depreende-se que o Espaço é o resultado das atividades humanas ao longo do tempo e

as regulações feitas através dos contextos infraestruturais e superestruturais, respectivamente,

os econômicos, políticos e jurídicos-culturais dão sentido aos arranjos que são materializados

na paisagem (MOREIRA, 2010). Assim, o Espaço é a realidade social vigente, ou seja, o

Status quo das práticas espaciais num determinado período de tempo.

Por outro lado, Moreira (2006) alude que, se o Espaço Organizado é a realidade social

vigente, os movimentos que o contestam são assim chamado de “Contra-espaço”. Para este

autor, o espaço disciplinar não é um consenso na sociedade civil burguesa, desta forma, os

que não se identificam e o questionam respondem no e pelo Contra-espaço. Este é, portanto,

uma insurreição de operários, uma ocupação de terra com fim de assentamento rural, uma

favela como forma de movimento de ocupação-assentamento urbano, mas também um ritual

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de capoeira ou de candomblé, como também um modo individualizado e recluso de morar,

entre outros.

Este raciocínio teórico à luz do conceito de Contra-espaço é que sinaliza para o

empreendimento desta pesquisa, no contexto das lutas observadas no cenário agrícola do

Sudoeste de Mato Grosso, onde as variáveis da questão da política e da economia são

determinantes da organização e dinâmica do Espaço regional.

Á partir da década de 1970 a porção da região Sudoeste de Mato Grosso passou por

um intenso processo de ocupação. Segundo Soares (2014), esse processo teve como

característica a inserção no campo de famílias oriundas do Sul e Sudeste do Brasil que se

dedicaram a atividade econômica de base familiar em pequenas propriedades. Entretanto, com

a abertura de novas fronteiras agrícolas no Estado de Rondônia e ainda a expansão das

atividades agroexportadoras no chamado “Chapadão dos Parecis” no Estado de Mato Grosso,

serviram como elementos de atração para essa população que aqui tinha se radicado nas

décadas de 1970 e 1980. Esse processo veio acompanhado do avanço da pecuária extensiva e

da cultura da cana-de açúcar que também se instalou na região por ocasião do Programa

PROALCOOL, que visava expandir a produção de etanol no País (SOARES, 2009).

Com o advento da expansão das atividades monocultoras no cerrado e também nas

grandes fazendas de gado, passou-se a observar a expulsão do pequeno produtor de suas

terras. No contexto desse novo cenário sobre a distribuição e uso da terra em Mato Grosso e

na região, observa-se pressões sociais que aparecem como formas de contestação à aquelas

até então articuladas e vigentes no espaço regional. Esse processo forjou uma nova demanda

social pela terra, caracterizada por invasões e violência no campo. Assim, o movimento dos

trabalhadores rurais sem terra (MST) surge como o reclame de uma parcela da população que

fora anteriormente desterritorializada pelo capital usurpador em algum canto do país

(MORENO e HIGA, 2005). Desse contexto, surgem diversos programas de assentamentos

rurais e, muitos deles, localizar-se-ão na Região da chamada Grande Cáceres.

Na Região Sudoeste de Mato Grosso, na chamada Região da Grande Cáceres, esta

relação entre prática da pecuária extensiva e avanço da atividade canavieira com os reclames

da agricultura familiar são bastante notáveis. São demandas diferentes que se coabitam no

espaço regional e se contrastam. Escrevendo sobre esse assunto em trabalho desenvolvido na

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região, Soares (2014) menciona que se trata de conflitos entre sujeitos do capital da pecuária

de corte, da cana monocultora e também o pequeno produtor de leite.

A questão que se põem em debate é que, inseridos no contexto da pressão do capital os

Assentamentos localizados na região de Cáceres-MT aparecem como forças de resistência à

hegemonia desse capital. São, portanto, forças de contra-Espaço na região.

2. OBJETIVO GERAL

Avaliar e reconhecer os assentamentos rurais localizados no sudoeste do estado de

Mato Grosso como movimentos de contra-espaço no contexto da pecuarizaçao e da

monocultura canavieira na Região da grande Cáceres-MT, caracterizando as estratégias de

ação dos seus sujeitos e os reflexos provocados por estes no arranjo do espaço agrário e na

dinâmica socioeconômica da região.

2.1 Objetivos Específicos

a) Contextualizar o processo de ocupação do espaço regional, identificando os fatores

políticos e econômicos que a deram causa a esse processo.

b) Analisar o contexto histórico e político em que se insere o surgimento dos

assentamentos como movimentos de contra espaço no contexto do sudoeste de Mato Grosso.

c) Ter conhecimento das principais pautas de reivindicação dos assentados e

compreender as dificuldades encontradas por estes no contexto do embate politico local e

regional, bem como as estratégias estabelecidas.

d) Verificar os processos de arranjo e rearranjo do espaço agrário no tocante a

distribuição e uso da terra, mobilizados pelos assentamentos rurais.

e) Identificar os sujeitos constituintes deste campo de forças (espaço/ contra-espaço) e

os arranjos espaciais produzidos a partir deste embate.

f) Apontar as características do atual arranjo espacial percebido em torno da pecuária e

da monocultura canavieira no tocante ao uso da terra, bem como seus reflexos nos aspectos

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socioeconômicos do município, evidenciando as estruturas presentes na paisagem com seus

respectivos significados.

g) Demonstrar a influência dos assentamentos no PIB, geração de empregos e

dinâmica populacional no município estudado.

3. MATERIAL E MÉTODO

3.1 Localização da área de estudo (Figura nº 01).

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FONTE: FERREIRA, 2014.

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Estudos indicam que a Região de Cáceres é formada por municípios, cuja ocupação

oficial ocorreu em épocas distintas: no século XVII por ocasião da consolidação da fronteira

portuguesa frente aos espanhóis surgiu Cáceres e, nesse contexto, os primeiros sinais de

ocupação de Porto Esperidião; e nas décadas de 1950 a 1970 quando surgiram municípios

decorrentes da ocupação de terras devolutas no sudoeste mato-grossense, sendo este o caso

dos municípios do Vale do Jauru e que hoje compõem a microrregião geográfica de mesmo

nome como Mirassol D’ Oeste, São José dos Quatro Marcos, Glória D’ Oeste, Araputanga,

Indiavaí, Figueirópolis D’Oeste, Jauru, Vale do São Domingos, Curvelândia, Lambari D’

Oeste, Rio Branco, Salto do Céu e Reserva do Cabaçal (Figura 1).

3.2 Sobre os procedimentos técnicos da pesquisa

Para realização da pesquisa será necessário utilizar os seguintes procedimentos

operacionais:

1ª etapa: Levantamento bibliográfico e análise em demais materiais acadêmicos sobre

a região estudada;

2ª etapa: Pesquisa documental e em dados oficiais.

3ª etapa: Em complemento às etapas anteriores, se processará trabalho de campo para

empiria e coleta de dados primários. Nesta etapa far-se-á também entrevistas.

Aqui, no trabalho de pesquisa será procedida empiria tanto no ambiente rural quanto

no ambiente urbano. No espaço urbano buscara levantar as estruturas que se encontram

instaladas e que guardam relações intrínsecas com a produção do espaço rural do município,

tais como frigoríficos, cerealistas, feiras livres, entre outros. Buscará verificar os personagens

dessas estruturas e como estes atuam nas relações econômicas e politicas estabelecidas no

espaço municipal e regional. As entrevistas compor-se-ão de questionários semiabertos onde

se buscará compreender as principais pautas de reivindicação dos assentados e as dificuldades

encontradas no contexto do embate politico local e regional, bem como as estratégias

estabelecidas. Proceder-se-ão ainda entrevistas através de relatos orais.

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4. RESULTADOS PRELIMINARES

4.1 ESPAÇO E CONTRA-ESPAÇO: A ORIENTAÇÃO DO MÉTODO

O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório,

de sistema de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o

quadro único no qual a história se dá. (Santos, 1997, p. 51).

Assim, é através dos sistemas de objetos e sistemas de ações que o homem vai

produzir condições materiais e culturais para se organizar em sociedade produzindo e

reproduzindo o seu espaço. Cada espaço produzido contém características intrínsecas ao

modo de produção pelo qual foi produzido, relacionado às formas de organização social,

econômica, politica, intelectual, cultural e religiosa.

Sobre o assunto, Santos (1997) assevera que sistemas de objetos e sistemas de ações

interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e,

de outro lado, o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos

preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma.

Em outra alusão sobre o Espaço como realidade dinâmica sobre o qual o ser humano

organiza-se em sociedade, Santos (1997, p.83) enfatiza que este, o Espaço, é uno e múltiplo.

Sobre esse assunto o autor esclarece que é uno por que por diversas parcelas, e através do seu

uso, é um conjunto de mercadorias, cujo valor individual é função do valor que a sociedade,

em um dado momento, atribui a cada pedaço de matéria, isto é, cada fração da paisagem.

Sendo assim, o espaço é único, é um só contendo múltiplas parcelas pelos quais se tornam

valor de uso quando a sociedade se apropria do mesmo para criar as estruturas necessárias

para se organizar e transformar o mesmo. O espaço é dinâmico, pois é movido pelas ações

humanas através do trabalho, das relações sociais que por fim irão produzir diversos outros

espaços, que sempre estarão em transformação.

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Nas concepções de Corrêa (1991) a organização espacial, ou espaço geográfico, é a

segunda natureza, ou seja, a natureza primitiva transformada pelo trabalho social... Expressão

da produção material do homem, resultado de seu trabalho social. Os sujeitos sociais

constituintes do espaço lançam através da sua práxis intenções estimulando ao mesmo tempo

a produção e reprodução de outros espaços.

As ações sociais por vezes fragmentam o espaço através das contradições, dos

embates, dos conflitos, um campo de forças atuantes que se manifestam contraditoriamente a

esse espaço social produzido, mas que não atende de forma igualitária os seus agentes

modeladores, Fernandes (2005).

Sobre esse assunto, Castro (2005) enfatiza que,

é possível então afirmar que as questões e os conflitos de interesse surgem das

relações sociais e se territorializam, ou seja, materializam-se em disputas entre

grupos e classes sociais para organizar o território da maneira mais adequada aos

objetivos de cada um, ou seja, do modo mais adequado aos seus interesses. Essas

disputas no interior da sociedade criam tensões e formas de organização do espaço

que definem um campo importante da análise geográfica (p. 41).

De acordo com Moreira (2009), o espaço é, pois, tensão. Sendo assim, a de se

considerar que toda evolução observada na paisagem dos espaços, a mesma se tornou uma

marca evidente das tensões ocorridas no tempo e no espaço, através das manifestações

culturais e politicas da sociedade, forças contraditórias que coabitam o mesmo espaço. São

essas tensões, que proveniente de conflitos, lutas sociais e diversos interesses cometidos pelos

sujeitos modeladores deste espaço através de suas ações, o contra-espaço como uma forma de

expressão ao espaço desigual e fragmentado produzido.

De acordo com Moreira (2010), o espaço atual expressa na sua materialidade os

interesses da lógica de reprodução do capital, dessa forma, os espaços são selecionados para

obedecer aos interesses dos sujeitos que detém o seu comando numa lógica de mercado; ainda

que essa lógica signifique a exclusão das pessoas.

Depreende-se que o Espaço é o resultado das atividades humanas ao longo do tempo e

as regulações feitas através dos contextos infraestruturais e superestruturais, respectivamente,

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os econômicos, políticos e jurídicos-culturais dão sentido aos arranjos que são materializados

na paisagem (MOREIRA, 2010). Assim, o Espaço é a realidade social vigente, ou seja, o

Status quo das práticas espaciais num determinado período de tempo.

Por outro lado, Moreira (2006) alude que, se o Espaço Organizado é a realidade social

vigente, os movimentos que o contestam são assim chamado de “Contra-espaço”. Para

Moreira (2006) o espaço disciplinar não é um consenso na sociedade civil burguesa, desta

forma, os que não se identificam e o questionam respondem no e pelo Contra-espaço. Este é,

portanto, uma insurreição de operários, uma ocupação de terra com fim de assentamento rural,

uma favela como forma de movimento de ocupação-assentamento urbano, mas também um

ritual de capoeira ou de candomblé, como também um modo individualizado e recluso de

morar, entre outros.

4.2 O espaço regional: leituras preliminares

Assim como em outras porções da região Centro-Oeste, a ocupação e povoamento dos

municípios da Grande Cáceres se caracterizam por terem seus surgimentos vinculados a um

dos ciclos econômicos experimentados no território brasileiros e, mais precisamente àqueles

vivenciados no Estado de Mato Grosso ao longo da sua história.

O surgimento de grande parte dos municípios da Região da grande Cáceres se

fundamenta nas estratégias geopolíticas estabelecidas pelo governo Getúlio Vargas para

ocupar a Amazônia Ocidental. Houve nesse período grande incentivo para se ocupar as terras

devolutas localizadas no Oeste brasileiro. Nesse contexto da ocupação e povoamento, as

terras devolutas foram vendidas e ocupadas nas décadas de 1950 e 1960.

Embasada em documentos oficiais do Arquivo Público do Estado de Mato Grosso e no

Jornal O Estado de Mato Grosso, Heinst (2003) menciona que as terras devolutas de Mato

Grosso, durante as décadas de 1950 e 1960, recebem especial atenção nos discursos oficiais –

Mensagens de governadores à Assembleia Legislativa e Relatórios do Departamento de

Terras e Colonização - no que se refere à distribuição das mesmas. Observa-se assim a

preocupação por parte do Estado em povoar essas terras e assim desenvolver a região e como

integra-la a outras, promovendo a construção de estradas e ouros meio de comunicação.

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O surgimento do espaço regional, através da formação de núcleos urbanos na

hinterlândia de Cáceres iniciou-se na década de 1970, por ocasião da ocupação da fronteira

Ocidental da Amazônia, no contexto do Programa Marcha para o Oeste do Governo Federal

que estimulou colonizações públicas e privadas na região. Nos seus primórdios, a forma de

ocupação deste espaço se caracterizou pela pequena propriedade onde se praticava a

agricultura familiar e, neste caso, a maioria das propriedades não ultrapassava a área de 10

hectares (SOARES, 2014).

Especificamente na região Sudoeste de Mato Grosso, no final da década de 1980

ocorrem mudanças na forma de distribuição da terra e tamanho das propriedades. Entra em

cena a pecuária extensiva e a monocultura da cana. Ocorre diminuição do numero de

propriedades e os grandes pecuaristas de corte com o industrial do álcool tornam-se

protagonistas.

Dados do IBGE (IBGE, 1996) indicam alguns exemplos dessa realidade nos

município da região e, nesse sentido, apontam que em Araputanga o número dessas

propriedades caiu de 2.506, em 1980, para menos de 400 no ano de 1995. No mesmo período,

em Jauru há a redução de 1.834 para menos de 990 estabelecimentos. Em Rio Branco a

diminuição é de 1.724 para cerca de 350 e Salto do Céu de 1.508 para 665 propriedades

(SOARES, 2014).

Os pequenos produtores passam a ter menos espaço no campo, os mesmos passam a

ser marginalizados e expulsos de suas terras com mais intensidade. O crescimento das

atividades econômicas no espaço agrário e inserção de novas culturas transformam e

reestruturam as formas de organização espacial e socioeconômica na região.

A diminuição no número de propriedades indica a concentração fundiária e a

substituição da prática da agricultura com base familiar para a pecuarização da região. Estes

fatos sinalizam para um rearranjo muito significativo na estrutura produtiva e atuam como

variáveis explicativas para entendermos o espaço socioeconômico regional nas suas

desigualdades internas e caracterizado pelo fraco dinamismo econômico. É neste contexto que

começam a aturar as forças de contra espaço, aqui expressados pelo Movimento dos

Trabalhadores rurais sem terra (MST) que se materializaram nos assentamentos rurais

surgidos na região.

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Neste sentido, o fundamento teórico perpassado pelo conceito de contra-espaço,

imprime uma grande questão: Sendo os movimentos de trabalhadores rurais sem terra um dos

exemplos de forças de contra espaço, quais são suas expressões na Região sudoeste de Mato

Grosso? Como se articulam e como se mobilizam para organizar suas práticas econômicas e

políticas que se materializam na (re) organização do espaço regional?

Assim, a questão mobilizada á partir do conceito de contra-espaço remete-nos

imediatamente para a hipótese de que os assentamentos rurais através dos seus sujeitos e

representantes políticos atuam como forças de mobilização e reorganização do espaço rural

nos municípios do sudoeste de Mato Grosso. Assim sendo, podem ser considerados como

forças de contra-espaço na região.

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SOARES, José Carlos de Oliveira. Estudo de nascentes: subsídio às políticas de gestão da

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