dezembro de 2005

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2 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005 DUAS PALAVRAS Propriedade, Redacção e Administração Federação Nacional dos Professores Rua Fialho de Almeida, 3 1070-128 LISBOA Tels.: 213819190 - Fax: 213819198 E-mail: [email protected] Home page: http://www.fenprof.pt Director: Paulo Sucena Chefe de Redacção: Luís Lobo Conselho de Redacção: António Avelãs e Manuel Grilo (SPGL), António Baldaia (SPN), Fernando Vicente (SPRA), Nélio de Sousa (SPM), Luís Lobo (SPRC), Manuel Nobre (SPZS) Coordenação: José Paulo Oliveira [email protected] | [email protected] Paginação e Grafismo: Tiago Madeira Composição: Idalina Martins e Lina Reis Revisão: Inês Carvalho Impressão: SOCTIP - Sociedade Tipográfica, S.A. Estrada Nacional, nº 10, km 108.3 - Porto Alto 2135-114 Samora Correia Tiragem média: 68 000 ex. Depósito Legal: 3062/88 ICS 109940 O “JF” está aberto à colaboração dos professores, mesmo quando não solicitada. A Redacção reserva- se, todavia, o direito de sintetizar ou não publicar quaisquer artigos, em função do espaço disponível. Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. SINDICATO DOS PROFESSORES DA GRANDE LISBOA R. Fialho de Almeida, 3 - 1070-128 Lisboa Tel.: 213819100 - Fax: 213819199 E-mail: [email protected] Home page: www.spgl.pt SINDICATO DOS PROFESSORES DO NORTE Edif. Cristal Park R. D. Manuel II, 51-3º - 4050-345 Porto Tel.: 226070500 - Fax: 226070595 E-mail: [email protected] Home page: www.spn.pt SINDICATO DOS PROFESSORES DA REGIÃO CENTRO R. Lourenço Almeida de Azevedo, 20 3000-250 Coimbra Tel.: 239851660 - Fax: 239851666 E-mail: [email protected] Home page: www.sprc.pt SINDICATO DOS PROFESSORES DA ZONA SUL Av. Condes de Vil’Alva, 257 7000-868 Évora Tel.: 266758270 - Fax: 266758274 E-mail: [email protected] SINDICATO DOS PROFESSORES DA REGIÃO AÇORES Av. D. João III, Bloco A, Nº 10 9500-310 Ponta Delgada Tel.: 296205960 - Fax: 296629698 Home page: www.spra.pt SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA Edifício Elias Garcia, R. Elias Garcia, Bloco V-1º A - 9054-525 Funchal Tel.: 291206360 - Fax: 291206369 E-mail: [email protected] Home page: www.smembers.netmadeira.com/spm/spm SINDICATO DOS PROFESSORES NO ESTRANGEIRO Sede Social: Rua Fialho de Almeida, 3 1070-128 Lisboa Tel.: 213833737 - Fax: 213865096 E-mail: [email protected] Membros da FENPROF Manuel Nobre Será que falar de direitos não é chic? [email protected] á dias, numa sala de professores de uma escola E.B. 2,3 e ao sair para uma reunião sindical, reparámos em dois grupos de professores que continuaram sentados em torno de uma mesa redonda mas distantes entre si. Tudo bem, mas num último impulso voltei atrás e perguntei – mas os colegas não estão mesmo a pensar ir à reunião sindical?. O grupo mais jovem argumentou amavel- mente que tinha muito trabalho e aulas para preparar e o outro lado da mesa, estes visi- velmente com muitos, muitos mais anos de serviço disseram que não estavam muito crentes que as políticas educativas fossem mudar - pois eles (o PS), têm a maioria e se a gente reclama ainda ficamos mais mal vistos. É a televisão, são os jornais, é tudo contra os professores, nãã... Um dos colegas referia mesmo que se devia fazer algo para acabar com as aulas de substituição que tanto o incomodavam. Ao perguntar-lhe se tem vindo a pedir o pagamento dessas horas como forma de protesto, respondeu - nãã..., como também parecia estar algo preocupado com o aumento da idade para a aposentação perguntei-lhe se tinha feito a greve ou se tinha ido a alguma manifestação, nãã..., parecendo-me estar perante uma pessoa consciente e informada, porque estaria tão conformado? talvez as manchetes dos jornais ou a programação televisiva condicione as opiniões e o interesse das conversas de corredor , enfim, ou será que falar de direitos não é chic? Talvez se queira passar a ideia de ser coisa do século XX isso de falar dos assuntos que dizem respeito à nossa profissão e ao serviço público? Realmente os órgãos de comunicação social só escolhem deter- minados experts em economia para co- mentar os temas da actualidade em geral, talvez sejam mais versáteis às tendências da moda, especialmente quando se trata de preparar o terreno ou até mesmo para justificar uma ou outra medida ministerial que por aí venha, normalmente retirando credibilidade à profissão docente ou atentando contra as práticas pedagógicas mas enfim, é em nome do déficit. Ahh! este sim..., moderno, com estilo, sibilante, a roçar o glamour, bem mais fácil de comentar e muito mais interessante e actual, está em todo o lado! Chic(érrimo)... Os candidatos à presidência pouco falam, os comentadores dos jornais e das televisões falam mas ao contrário, os nossos vizinhos também falam, e os professores? que fizeram os seus cursos, licenciaturas, pedagogias, metedologias, tudo em nome de uma escola justa e plural com o aluno e a qualidade de ensino como primeiro objectivo, falam? Ou será que não é chic! H

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Jornal da FENPROF - Dezembro de 2005

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Page 1: Dezembro de 2005

2 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

DUAS PALAVRAS

Propriedade, Redacção e AdministraçãoFederação Nacional dos ProfessoresRua Fialho de Almeida, 31070-128 LISBOATels.: 213819190 - Fax: 213819198E-mail: [email protected] page: http://www.fenprof.pt

Director: Paulo Sucena

Chefe de Redacção: Luís Lobo

Conselho de Redacção: António Avelãs e ManuelGrilo (SPGL), António Baldaia (SPN), FernandoVicente (SPRA), Nélio de Sousa (SPM), Luís Lobo(SPRC), Manuel Nobre (SPZS)

Coordenação: José Paulo [email protected] | [email protected]

Paginação e Grafismo: Tiago Madeira

Composição: Idalina Martins e Lina Reis

Revisão: Inês Carvalho

Impressão: SOCTIP - Sociedade Tipográfica, S.A.Estrada Nacional, nº 10, km 108.3 - Porto Alto2135-114 Samora CorreiaTiragem média: 68 000 ex.Depósito Legal: 3062/88ICS 109940

O “JF” está aberto à colaboração dos professores,mesmo quando não solicitada. A Redacção reserva-se, todavia, o direito de sintetizar ou não publicarquaisquer artigos, em função do espaço disponível.Os artigos assinados são da exclusivaresponsabilidade dos seus autores.

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Membrosda FENPROF

Manuel Nobre

Será que falar de direitosnão é chic?

[email protected]

á dias, numa sala de professores deuma escola E.B. 2,3 e ao sair parauma reunião sindical, reparámos emdois grupos de professores quecontinuaram sentados em torno de

uma mesa redonda mas distantes entre si.Tudo bem, mas num último impulso volteiatrás e perguntei – mas os colegas não estãomesmo a pensar ir à reunião sindical?. Ogrupo mais jovem argumentou amavel-mente que tinha muito trabalho e aulas parapreparar e o outro lado da mesa, estes visi-velmente com muitos, muitos mais anos deserviço disseram que não estavam muitocrentes que as políticas educativas fossemmudar - pois eles (o PS), têm a maioria e sea gente reclama ainda ficamos mais malvistos. É a televisão, são os jornais, é tudocontra os professores, nãã...

Um dos colegas referia mesmo que sedevia fazer algo para acabar com as aulasde substituição que tanto o incomodavam.Ao perguntar-lhe se tem vindo a pedir opagamento dessas horas como forma deprotesto, respondeu - nãã..., como tambémparecia estar algo preocupado com oaumento da idade para a aposentaçãoperguntei-lhe se tinha feito a greve ou setinha ido a alguma manifestação, nãã...,parecendo-me estar perante uma pessoaconsciente e informada, porqueestaria tão conformado?talvez as manchetes

dos jornais ou a programação televisivacondicione as opiniões e o interesse das conversasde corredor, enfim, ou será que falar de direitosnão é chic?

Talvez se queira passar a ideia de sercoisa do século XX isso de falar dos assuntosque dizem respeito à nossa profissão e aoserviço público? Realmente os órgãos decomunicação social só escolhem deter-minados experts em economia para co-mentar os temas da actualidade em geral,talvez sejam mais versáteis às tendênciasda moda, especialmente quando se trata depreparar o terreno ou até mesmo parajustificar uma ou outra medida ministerialque por aí venha, normalmente retirandocredibilidade à profissão docente ouatentando contra as práticas pedagógicasmas enfim, é em nome do déficit. Ahh! estesim..., moderno, com estilo, sibilante, a roçaro glamour, bem mais fácil de comentar emuito mais interessante e actual, está emtodo o lado! Chic(érrimo)...

Os candidatos à presidência poucofalam, os comentadores dos jornais e dastelevisões falam mas ao contrário, os nossosvizinhos também falam, e os professores?que fizeram os seus cursos, licenciaturas,pedagogias, metedologias, tudo em nomede uma escola justa e plural com o aluno e

a qualidade de ensino como primeiroobjectivo, falam? Ou será

que não é chic!

H

Page 2: Dezembro de 2005

JORNAL DA FENPROF 3DEZEMBRO 2005

SUMÁRIO

FÓRUM SOCIAL IBÉRICO PELA EDUCAÇÃOCarta de CórdovaAntónio Baldaia32

ACTUALIDADEA unidade afirmam-na os professores nas escolas418 de Novembro: uma Greve e uma Manifestaçãoque suscitaram o apoio solidário da opinião pública

11

19INTERNACIONALFENPROF desenvolve cooperação com professores angolanosMário Nogueira30

FENPROF exigenegociação sériados concursose responsabiliza M.E.pelo atraso no iníciodo processo negocialPROPOSTAS DA FENPROF

A considerar para uma eventual alteração pontualao regime de concursos previsto no D.L. 35/2003

FENPROF exigiu no dia 12 deDezembro, do Ministério daEducação, que o processo negocialde alteração do actual regime deconcursos de professoresrespeitasse o disposto na Lei 23/98, de 26 de Maio, que regula anegociação colectiva naAdministração Pública.

6 JORNADA HISTÓRICA DA LUTA DOS PROFESSORES

17Posição da FENPROF sobre os Despachos16795/2005 e 17387/2005

HORÁRIO DE TRABALHO DOS DOCENTES

Condições de aposentação e de exercício de funções docentesnos últimos anos da vida profissional

POSIÇÃO DA FENPROF

24Mário Nogueira

Page 3: Dezembro de 2005

4 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

ACTUALIDADE

A unidade afirmam-na os professoresnas escolas

O

Mário Nogueira (Membro do Secretariado Nacional da FENPROF)

s professores perceberam que asaída da FNE nada tinha a ver comresultados obtidos em sede ne-gocial, mas apenas com a neces-sidade de, naquele mo-

mento, por razões alheias aosinteresses dos professores, daruma “mãozinha” a uma mi-nistra e a um Governo que tão maltêm tratado os professores. E porquecompreenderam a “mão cheia de nada”que o protocolo ME/FNE lhes oferecia, osprofessores mantiveram a unidade quetinham construído nas escolas e fizeramuma grande Greve que teve, também,uma extraordinária expressão de ruatal a dimensão da Manifestação realizada emLisboa.

Tal como a FNE, também a FENPROFreuniu com a equipa ministerial, em 15 deNovembro, no sentido de para chegar a umacordo com o Ministério, mas exigindo queeste tivesse um conteúdo concreto não selimitando a enunciar princípios ou inten-ções. Só que a ministra não quis que o textode um eventual protocolo contivessedecisões sobre as matérias em discussão. AFENPROF não aceitou essa inflexibilidadedo M.E.! Os professores mostraram queestavam com a FENPROF.

É hoje cada vez mais claro que oprotocolo ME/FNE não responde aosproblemas que se colocam aos professores,sejam os que decorrem das substituições,sejam os relacionados com os prolon-gamentos de horário. Quem disso duvidavaficou esclarecido ao ler a Circular que,entretanto, chegou às escolas. O protocoloenuncia, apenas, um conjunto de medidasque já tinham sido anunciadas antes pelaministra da Educação; anuncia, ainda, emantecipação, o que pretende o ME com a

Porque compreenderam a

que o protocolo ME/FNElhes oferecia,

osprofessores mantiverama unidade que tinhamconstruído nas escolas

e fizeram uma grande Greveque teve, também, umaextraordinária expressãode rua tal a dimensão

da Manifestação realizadaem Lisboa.

Quando em 16 de Novembro a FNE anunciou que “saltava fora”, a dois dias apenas da data deuma Greve que foi das maiores de sempre de professores e educadores, houve quem temesseque a quebra da unidade orgânica provocasse um sério revés na luta do dia 18. Mas não!

“mão cheiade nada”

revisão do Estatuto da Carreira Docenteprevista para 2006; clarifica, por fim, nosentido pretendido pelo ME, o conteúdo dosdespachos publicados em 3 e 12 de Agosto.E nada mais!

Hoje, conhecida a carta enviada pelaministra aos conselhos executivos e a cir-cular enviada às escolas por um assessorde um secretário de estado, percebe-seainda melhor que a FNE mais não fez quelegitimar as decisões do ME que constavamnos despachos 16795 e 17387. Mas foi maislonge: disponibilizou-se para integrar umacomissão de fiscalização das escolas, emparceria com o ME, e a partir de Janeiroessa passará a ser uma das vocações.Lamentável!

Quanto ao futuro, à unidade dosprofessores e à das suas organizaçõessindicais nada se altera. Para a FENPROF aunidade constrói-se a partir da base”— ena base estão os professores — podendoestender-se às organizações sindicais. Ébom que tal aconteça, mas não é determi-nante para a luta dos professores.

O importante, o determinante são osobjectivos da luta. Esses sim, se foremjustos levam os professores a unir-se e,naturalmente, condicionam também assuas organizações sindicais. A partir daí,criada a unidade na base, estamos peranteuma questão de condução da luta. E essatomam-na os professores em mãos atravésdas organizações sindicais que se dis-ponham a estar ao seu lado. A FENPROFestará sempre. Não surpreende, pois, quequando alguém “salta fora” por razões maljustificadas, como fez a FNE, a luta semantenha, às vezes, até, com adesão eexpressão reforçadas. Um reforço que lheadvém da força que tem a unidade e adeterminação dos professores.

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JORNAL DA FENPROF 5DEZEMBRO 2005

Paulo Sucena (Secretário Geral da FENPROF)EDITORIAL

Saber Guardar a Confiança

O

JORNAL DA FENPROF 5DEZEMBRO 2005

obscuro Heraclito dizia que só quem espera,no sentido de quem tem esperança, verá oinesperado. Creio que esse horizonte deesperança tem contornos bem definidospara os educadores e professores portu-

gueses, neles se incluindo os docentes do ensinosuperior, contornos que se prendem com aestabilidade de emprego e profissional, com umacarreira revalorizada e estimulante, com condiçõesapropriadas ao melhor desempenho profissional,com a estabilidade do edifício educativo que exigeque os docentes não sejam figuras de um filme deanimação correndo de um lado para o outro aosabor do furor legislativo do Ministério da Educação,com o aprofundamento da identidade profissionaldos docentes e da sua profissionalidade, com odesenvolvimento de condições de natureza váriavisando uma eficiente e eficaz gestão democráticae o exercício de uma verdadeira autonomia,indispensável à melhoria da qualidade do processode ensino e de aprendizagem e ao aumento dosucesso educativo.

A luta da FENPROF e dos seus Sindicatos tem-se pautado, entre outros, por esses desígniosessenciais à construção de uma escola pública dequalidade para todos. Só uma visão estreita e

preconceituosa pode permitir afirmações tãoabsurdas como as que referem que os Sindicatos seorientam por estratégias que mais não cuidam doque paralisar o sistema educativo e travar oandamento do comboio ministerial cuja marcha semdefeitos, dizem, o levará a atingir o admirávelmundo novo da educação pelo qual o país há tantotempo anseia. Se os Sindicatos, fazendo-se eco davoz da imensa maioria dos docentes, contrariamessa perspectiva teleológica e pretendem racionale ponderadamente debater as grandes ou, emmuitos casos, pequenas linhas de orientaçãoestratégica, escoradas no seu direito à negociação,cai o Carmo e a Trindade e a FENPROF e os seusdirigentes vêem-se, de imediato, classificados comoos indesejáveis verdugos da qualidade do ensino edas escolas.

Porém, nós não somos de esmorecer. Sabemosguardar a confiança e mantemos viva a esperançade que com o contributo dos educadores eprofessores do país a dinâmica das escolas havemosde abrir caminhos novos que permitam que o anode 2006 seja melhor do que este que vai peno-samente chegando ao fim. Os professores merecem-no e os alunos também.

Votos de um BOM ANO!

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6 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

18 DE NOVEMBRO: GRANDE DIA NACIONAL DE LUTA

Professores exigem respeitoe resolução dos problemas!Os professores e educadores portugueses têm sido alvo de umfortíssimo ataque que se reflecte na perda ou diminuição de direitosinscritos no seu estatuto de carreira, na descaracterização de aspectosessenciais do seu perfil profissional e na sua desvalorização social,destaca a Resolução aprovada no dia 18 de Novembro.

s professores e educadores presenteshoje em Lisboa, na ManifestaçãoNacional convocada pelas suasorganizações sindicais, rejeitam odescrédito público que o Governo

vem lançando sobre o exercício da funçãodocente que põe em causa um bomexercício da actividade dos Professores eEducadores, bem como o factor educativodentro das escolas.

No que respeita a problemas concretosque urge serem solucionados de forma aserem respeitados os seus direitos, bemcomo o interesse das escolas, os professorese educadores exigem:

1. Que todas as matérias relativas àcarreira docente, concursos e colocação dedocentes, bem como condições de trabalhosejam submetidas a efectivos processosnegociais a desenvolver no âmbito do dispostona Lei 23/98, de 26 de Maio, e dos artigos 4.ºe 9.º do Decreto-Lei 1/98, de 2 de Janeiro;

2. A revisão e clarificação dos aspectosnegativos dos Despachos 16795/2005 e17387/2005 e já identificados pelasorganizações sindicais, relativamente aosquais apresentaram propostas concretas;

3. A garantia expressa de que nãocompetirá aos professores do 1.º ciclo eeducadores de infância permanecer oudesenvolver as actividades no âmbito dosdesignados “prolongamentos de horário”;

4. O respeito pela componente não lectivados docentes de Educação Especial nos termosem que a legislação específica a define;

5. A garantia de que aos docentesdispensados de componente lectiva porrazões de doença não serão atribuídasactividades de substituição ou outras adesenvolver em contexto grupo/turma, nemmesmo por necessidades residuais;

6. O respeito pelo disposto na legislaçãoem vigor relativamente às substituições deprofessores em falta, nomeadamente o aviso

O

Concentração no alto do Parque Eduardo VII

Uma grande greve e umacombativa manifestaçãonacional em Lisboa, commilhares de educadores eprofessores oriundos dediferentes regiões do País,fizeram do dia 18 deNovembro uma expressivaafirmação de unidade e lutapelo direito à dignidadesocial e profissional dosdocentes, que uma vez maisrejeitaram a política dedesastre e de desestabilizaçãoque marca o ritmo dagovernação no Ministério da5 de Outubro. Umaorientação que, comosalientou Paulo Sucena nestajornada, vai “conduzir aactual equipa ministerial parao abismo político”.A greve de elevada adesão,levou (confirmado pelo ME)ao encerramento de muitosestabelecimentos de ensino(quase de 50% da totalidadedas escolas do país).

Page 6: Dezembro de 2005

JORNAL DA FENPROF 7DEZEMBRO 2005

no alvo

“Revolta dos professores pára esco-las e enche as ruas da capital”

DN (título), 19/11/2005

“(...)O entusiasmo era partilhado pormuitos professores anónimos, vindosdos quatro cantos do País, que ento-avam palavras de ordem como “Pelanegociação, contra a imposição”, “Aluta continua, ministra para a rua” e“Aposentação muito antes do cai-xão”. Vestindo, como tantos outros,uma capa azul contra a chuva ondese podia ler “Exigimos respeito”, AnaFigueiredo, uma professora de Braga,confessava alguma surpresa com osucesso do protesto: “Fico muitocontente. E tenho esperança que agreve e a manifestação dêem frutos.Só não tenho esperança neste Go-verno”, confessou.”

DN, 19/11/2005

“Milhares de professores pediram ademissão da ministra da Educação,Maria de Lurdes Rodrigues, numamanifestação nacional em Lisboa,que superou as expectativas dossindicatos que convocaram o pro-testo.”

Lusa 18/11/2005

“ (...) Os alunos não querem as aulasde substituição, os professorestambém não gostam - é difícil que,assim, as coisas corram bem; háprofessores que têm de fazer substi-tuições em escolas diferentes da suae que não são na rua ao lado; há asreformas, há a extensão do horário eas reuniões e reuniõezinhas a que sãoobrigados para fazerem actas (...) Eao ver que o Ministério pôs na pri-meira página do ‘DN’ de ontem umestudo sobre faltas - como se amaioria dos professores o fizesse -por mim já era razão mais do quesuficiente para a greve. A ministra temque ter ‘fair-play’ e não provocar, ouachincalhar os professores. A maio-ria, creio, sentiu-se achincalhada.”

Manuel Queiroz, subdirector do “Correio da

Manhã”, peça intitulada “Provocar é feio”,

19/11/2005

prévio da necessidade, o carácter facultativoda actividade e a consideração do serviçodocente extraordinário;

7. O pagamento das deslocações efectu-adas em serviço a desenvolver em regimede itinerância devendo este ser de carácterfacultativo;

8. A adequação do regime de faltas dosprofessores às novas realidades, designa-damente ao registo de horas da componentenão lectiva e ao trabalho em blocos de 90minutos, embora em tempos de 45;

9. A contagem integral de todo o tempode serviço docente ou equiparado paraefeitos de carreira;

10. A aprovação de um regime deaposentação de professores que tenha emconta o elevado desgaste físico e psíquicocausado pelo exercício continuado daprofissão docente, o que é incompatível coma exigência dos 65 anos de idade;

11. A aprovação de um regime de con-

cursos e colocação de professores eeducadores que promova a efectiva esta-bilidade, sendo recusados quaisquermecanismos que impossibilitem a apresen-tação anual a concurso, eliminem osdestacamentos para aproximação à residên-cia familiar ou façam depender a renovaçãode contratos do aval expresso das escolas.

Este é o conjunto de reivindicaçõesapresentadas ao Ministério da Educação eao Governo neste dia nacional de luta dosprofessores e educadores portugueses, cujasatisfação não foi prevista no Protocolo deAcordo apresentado às organizaçõessindicais ao longo da semana.

A não serem dados passos no sentido dasatisfação destas exigências, os professorese educadores presentes manifestam desdejá a sua disponibilidade para continuarem asua acção e luta por uma profissão respeitadae dignificada, em defesa da escola pública epor um ensino da mais elevada qualidade.

Desfile pelas ruas de Lisboa

À porta do ME

JORNAL DA FENPROF 7

Page 7: Dezembro de 2005

8 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

18 DE NOVEMBRO: GRANDE DIA NACIONAL DE LUTA

A greve nacional dos professores levouao encerramento de 31 escolas do EnsinoBásico em várias ilhas açorianas, repre-sentando um sexto dos estabelecimentos dopré-escolar e primeiro ciclo da região, dissefonte sindical. O presidente do Sindicato dosProfessores da Região Açores adiantou àagência Lusa que estão encerrados 10estabelecimentos de ensino em São Miguel,13 na ilha Terceira e seis no Faial. “Na ilhado Corvo, a única escola do 1º Ciclo estáencerrada, o mesmo sucedendo com um dosestabelecimentos de ensino das Flores”,acrescentou Armando Dutra. Segundo odirigente sindical, ao nível do ensinosecundário, os dados disponíveis até aomomento apontam para adesões entre os70 e 80 por cento, nomeadamente nas ilhasTerceira, Graciosa, Faial e Corvo (...)”

Açoriano Oriental, 18/11/2005

Madeirainformação divulgada publicamentepelo Ministério da Educação, no diada Greve, “de que no ano lectivo2004/2005 teriam ficado por darentre 7,5 e 9 milhões de aulas

corresponde a uma tentativa da equipaministerial de continuar a degradar publica-mente a imagem dos professores e educa-dores, retaliando, pelo facto de terem feitouma grande Greve”, sublinha a Moçãoaprovada por unanimidade à porta doMinistério (foto), após o participado desfilede 18 de Novembro.

“Este procedimento do ME enquadra-se nacampanha de ataque aos professores que vemdesenvolvendo desde que tomou posse. Só quedesta vez foram ultrapassados todos os limites:o Ministério da Educação recorre a um estudoque ainda não terminou, avança números porestimativa, e não indica os motivos pelos quaisem 2004/2005 ficaram tantas aulas por dar”,realça a Moção, que acrescenta:

“Se houvesse seriedade e honestidadena divulgação da notícia, teriam de seracrescentados os motivos de não terem sidodadas as aulas. Só que assim concluir-se-iaque em 2004/2005, muitos milhões de aulasque ficaram por dar foram consequência dosmilhares de professores por colocar durantetodo o primeiro período devido às trapalha-das que marcaram o concurso e a colocação

de docentes nesse ano. Concluir-se-ia, ainda,que milhões de aulas que ficaram por darforam consequência da burocracia minis-terial que para colocar um professor emsubstituição de outro chega a demorar trêssemanas, colocando, por vezes o substitutoquando o titular já está para se apresentar”.

Mais adiante pode ler-se: “Estudosanteriores provam que, apesar das máscondições em que trabalham nas escolas ede estarem colocados em localidades muitodistantes da sua residência familiar, a taxade absentismo docente se situa entre os 4e os 5%. Ou seja, mais de 95% do trabalhoque é atribuído aos professores e educa-dores portugueses é cumprido por estescolocando-os num dos lugares de topo dosgrupos profissionais mais cumpridores”.

A divulgação destes dados pelo Minis-tério da Educação, precisamente no dia emque os professores assumem de formainequívoca o seu protesto contra as políticasdo Governo e as medidas do Ministério daEducação, prova que esta equipa ministe-rial não olha a meios para denegrir aimagem social dos professores e educadoresportugueses. Também por esse motivo aGreve teve a expressão que teve e os profes-sores, neste dia de luta, promoveram estagrande Manifestação e prometem que a lutacontinua, conclui a Moção.

As faltas dos professorese a demagogia do ME

Moção aprovada por unanimidade

A

Açores

Na Madeira, a greve ficou acima dos55%, em média, com destaque para oConcelho da Calheta, que registou um nívelde adesão acima de 80%.

Recorde-se que um dos aspectos quemais mobilizou os docentes do país foi aquestão da alteração do horário de trabalho.Na Região, embora a legislação esteja jáaprovada, as normas mais gravosas para asobrecarga e intensificação do horáriodocente apenas entram em vigor nopróximo ano lectivo. Se tivermos em contaeste factor, a adesão à greve neste arqui-pélago foi significativa.

A desistência do Sindicato Democráticode Professores da Madeira, membro da FNE,não colocou em causa a unidade dosprofessores, já que os números da greveforam superiores, por exemplo, à jornadade luta anterior, que juntou os dois maioressindicatos de professores da Madeira. Ouseja, os sócios dos sindicato da FNE aderiramà greve, independentemente da decisão defurar a greve tomada pelos seus dirigentessindicais, em troca de um acordo vazio como Ministério.

O fundamental é ter sido expressa aunidade e a determinação dos docentes.

Cerca de duas centenas de professores

Page 8: Dezembro de 2005

JORNAL DA FENPROF 9DEZEMBRO 2005

Numa recente conferência de imprensa em que

destacou a Semana de Convergência de Lutas,

realizada pela Central em todas as regiões entre 12 e

17 de Dezembro, envolvendo meia centena de acções,

o secretário-geral da CGTP- IN alertou para oaumento de contradições do Governo e a sucessãode políticas que não têm trazido desenvolvimentoeconómico ao País.Numa a l tu ra em que os t raba lhadores sãoresponsabilizados pela falta de produtividade ecompetitividade, Manuel Carvalho da Silva criticou a faltade fiscalização e de atitude crítica perante o PlanoTecnológico, já que não se sabe “se está ou nãoajustado”. Apesar de ser importante, “tem de serconjugado com respostas ao défice e a lacunas emcampos fundamentais”, salientou.Factor essencial para a Inter é a política de formaçãoprofissional ameaçada com o novo acordo financeiroda UE. “O País precisa de saber que está a perder osfundos que tinha até hoje”, observou o dirigente sindical.

juntaram-se numa caravana para mani-festar com buzinadelas e palavras de ordema sua indignação perante as medidasgravosas para a profissão docente e a

educação. A caravana percorreu as prin-cipais ruas do Funchal.

No encontro após a caravana, fez-se umbalanço da jornada de luta, realçando-se o

facto de professores filiados no sindicatoregional da FNE terem aderido à greve, àmanifestação e ao convívio organizado peloSindicato dos Professores da Madeira.

Carvalho da Silva revelou que a CGTP-IN tenciona“avançar um alerta ao Presidente da República”, porterem sido feitas alterações inconstitucionais - e lesivaspara os direitos dos trabalhadores - ao Código doTrabalho, nomeadamente em relação à sobrevigênciado contrato colectivo de trabalho.Os salários continuam a estar no centro do debate paraa central sindical, juntamente com o débil acesso àJustiça por parte dos trabalhadores e a destruição dovínculo laboral na administração pública. Por essa razão,defende a central sindical, é “fundamental criar umconjunto de iniciativas que tragam debate a estasmatérias”, mobilizando a opinião pública e criandocaminhos e alternativas a uma política errada, quehipoteca o futuro dos portugueses.Para a Intersindical, há que apostar numa política quedefesa o sector produtivo e a criação de emprego dequalidade, que possibilite o aumento real dos salários,que combata o aumento do custo de vida e que promovaa justiça no trabalho.

CGTP-IN : trazer para o centro da agenda políticaos problemas concretos do mundo do trabalho

O crescimento do desemprego, as falências, a rápida caducidade dos contratos colectivosde trabalho, os ataques ao emprego na Administração Pública e a insistência numa políticade baixos salários são alguns exemplos dos temas que a CGTP-IN quer trazer para “ocentro da agenda política”.

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10 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

ACÇÃO REIVINDICATIVA

mesmo documento da FENPROFrefere ainda que “a proposta apre-sentada pela AEEP“– Associaçãodos Estabelecimentos do EnsinoParticular retira o direito à pro-

gressão na carreira à maioria dos docentescom a introdução da avaliação do desem-penho; retira o direito às diuturnidades aostrabalhadores não docentes com funçõespedagógicas; reduz o subsídio de férias aostrabalhadores que aufiram outras retri-buições para além da retribuição base ediuturnidades; deixa de considerar ashabilitações de docentes para outrasfunções educativas para efeitos deposicionamento nas tabelas salariais; retiratempo de serviço docente para efeitos deprogressão na carreira; permite que aentidade patronal marque unilateralmenteférias aos trabalhadores nos períodos deinterrupção das actividades lectivas do Na-tal, Carnaval ou Páscoa; permite que aentidade patronal passe um contrato detrabalho a tempo completo para tempoparcial, com redução da retribuição, semo acordo do professor; reduz a retribuiçãodos trabalhadores ao actualizar as tabelas

salariais em valores inferiores à taxa deinflação; aumenta o horário de trabalhodos docentes ao permitir a marcação nohorário semanal da componente não lectivasem qualquer critério moralizador.”

Enfim um sem-número de questõeslesivas dos interesses profissionais dosprofessores e educadores em exercício defunções no ensino particular e cooperativoque urge impedir que se concretizem, sendoque, tal, só poderá acontecer caso ostrabalhadores e mobilizem e disponibilizempara lutar.

“Só a FENPROF não deu o seu acordo emantém a posição de resistir e organizar aacção para que os direitos dos docentes edos outros trabalhadores do ensino particu-lar e cooperativo sejam respeitados.” —refere o texto do abaixo-assinado.

Com esta acção a FENPROF pretendeque os professores manifestem a suaposição de rejeição das propostas da AEEP,apoiem as propostas apresentadas pelaFENPROF e levem a FNE e o SINAPE Arecuar nos seus intentos, não assinandoqualquer CCT que retire direitos e aumenteos deveres dos trabalhadores do sector.

Revisão do C.C.T. para 2005/2006retira direitos e aumenta deveres

Ensino Particular e Cooperativo

Decorre em todo o paísnas escolas privadas doensino particular ecooperativo, a recolha deum abaixo-assinado sobreo Contrato Colectivo deTrabalho. À semelhança deanos anteriores o SINAP ea FNE aceitaram as“propostas da AEEP,entregando às entidadespatronais direitos que osdocentes do ensino par-ticular e cooperativo fo-ram conquistando, mesmodesde antes de 25 de Abrilde 1974, como seja odireito às diuturnidades/carreira”, refere o texto dodocumento que recolheassinaturas a entregar aogoverno.

O

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JORNAL DA FENPROF 11DEZEMBRO 2005

ACÇÃO E NEGOCIAÇÃO

Posição da FENPROF sobre os Despachos16795/2005 e 17387/2005

Horário de trabalho dos docentes

1. Os despachos número 16795/2005,de 3 de Agosto, e número 17387/2005, de12 de Agosto, estão a causar uma profundaperturbação nas escolas, pois impõemmedidas que não são praticáveis, exceptose forem cometidos abusos, violações legaisou desrespeitado o conteúdo funcional daprofissão docente o que de todo é ina-ceitável.

2. Aqueles despachos, apesar de sereferirem a aspectos com clara incidênciasócio-profissional, não foram alvo dequalquer negociação com as organizaçõessindicais conforme impunha o disposto naLei 23/98, de 26 de Maio, e no Decreto-Lein.º 1/98, de 2 de Janeiro, designadamenteno disposto nos artigos 4.º, 5.º e 9.º doEstatuto da Carreira Docente.

A aprovação unilateral dos dois diplo-mas legais, a sua publicação em pleno mêsde Agosto e a desadequação de vários dosseus normativos não poderiam deixar de ter,como a FENPROF alertou, as consequênciasque agora se confirmam através das muitasirregularidades e ilegalidades que severificam nas escolas e das tensões quenelas foram criadas devido ao grandedescontentamento que perpassa em toda aclasse docente.

3. Para a FENPROF ainda é tempo decorrigir estas situações, sendo para talindispensável a já reclamada suspensãoimediata dos despachos 16795/2005 e17387/2005.

4. Para a FENPROF é inquestionável aexistência de duas vertentes na componentenão lectiva dos docentes, a de esta-belecimento e a individual.

5. A FENPROF não põe em causa umeventual reforço da presença dos professo-res nas escolas, bem como do trabalho adesenvolver entre professores, pais e outrosagentes educativos, mas entende ser derealçar o muito trabalho desenvolvido pelaesmagadora maioria dos professores eeducadores nas escolas, no âmbito da suacomponente não lectiva, sem que, noentanto, fosse necessário o registo de horasno seu horário de trabalho. Com essa

decisão, as escolas ficaram a perder, maisdo que a ganhar, dada a perturbação queesse procedimento introduziu no seufuncionamento.

6. A FENPROF reafirma, uma vez mais,que sempre se bateu pela qualidade deensino, não apenas afirmando essa posição,mas apresentando propostas concretasnesse sentido, designadamente visando amelhoria do funcionamento das escolas e oreforço da sua organização pedagógica.Também em relação à matéria em questão,a FENPROF já apresentou um documentono Ministério da Educação, em 12 deOutubro, p.p., que, infelizmente, nãomereceu a atenção ne-cessária.

7. As propostas daFENPROF, neste âmbito,referem-se essencial-mente a aspectos rela-cionados com o exercícioprofissional da docência.Pretendemos, desta forma,contribuir para a esta-bilidade do corpo docentenas escolas, sendo respei-tados não apenas os quadroslegais em vigor mas, sobre-tudo, o perfil profissional dosdocentes que tão descaracte-rizado tem sido pelas medidasaprovadas pelo Ministério daEducação e pelo Governo.

8. Em primeiro lugar, rea-firmamos a necessidade de seremdefinidas as funções dos profes-sores, na certeza de que estas não são decariz burocrático limitadas ao cumprimentode sucessivas circulares e ordens de serviço,nem meramente técnicas, pois os pro-fessores e educadores intervêm em con-textos sociais e educativos extremamentecomplexos que diferem de escola paraescola e mesmo dentro de cada uma delas.

Os professores e educadores são espe-cialistas em educação e o seu papel não seesgota na simples transmissão de conceitose conhecimentos, tendo importante inter-

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12 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

I. DESPACHO Nº 16795/2005,DE 3 AGOSTO

• Prolongamentos na Educação Pré--Escolar - Pontos 3 e 5

Apesar de se referir explicitamenteque a Lei Quadro de Educação Pré-Es-colar não pode ser prejudicada pelaaplicação destes novos normativos(ponto 3), a obrigatoriedade de manterabertos os estabelecimentos pelo menosaté às 17.30h (ponto 5) está a levar emdiversos jardins de infância à substi-tuição das actividades integradas naComponente de Apoio à Família, queestava devidamente organizada, porestes “prolongamentos de horário”. Emcasos em que existem respostas posi-tivas decorrentes, entre outros, doProtocolo estabelecido entre o Governoe a Associação Nacional de Municípiosem 1997, para uma situação em quefalta a qualidade e em que, inclu-sivamente, surgem situações de menorsegurança, dada a escassez de recursoshumanos para o número de criançasabrangido (muitas vezes, de diversassalas de actividade).

Por outro lado, a opção pela perma-nência dos educadores de infância nodesenvolvimento de actividades que,não sendo de enriquecimento curricu-lar ou extra-curriculares, só podem serde animação sócio-educativa e apoio àsfamílias (ponto 5 do despacho), o quefere gravemente o conteúdo funcionalda profissão docente aqui aplicado aoseducadores de infância.

venção noutros domínios. A visão funcio-narizada do Ministério da Educaçãopresente em declarações dos seus respon-sáveis e no conteúdo de diversos quadroslegais recentemente definidos, de que osdespachos 16795/2005 e 17387/2005 sãobons exemplos, peca por redutora e éinaceitável por atentar contra a dignidadee a profissionalidade docente.

9. Para a FENPROF, os direitos e asexigências dos professores não são contra-ditórios com os direitos e interesses dasescolas e dos alunos. Pelo contrário,convergem. E é no sentido dessa conver-gência que apresentamos propostas queprocuram responder satisfatoriamente aosproblemas que hoje se vivem nas escolas.

Permanecer mais horas nas escolas nãoimplica necessariamente a melhoria do seufuncionamento. Só se dessa permanênciaacrescida resultarem condições maisfavoráveis às aprendizagens dos alunos eao combate ao abandono escolar.

10. Não é, porém, o que está a acontecere essa é a razão por que a FENPROF propõea suspensão imediata dos despachos,permitindo que se realize uma avaliaçãorigorosa da situação e se corrijam todos osproblemas detectados.

11. Sublinhe-se, que a FENPROF não seopõe à existência de respostas sociais esócio-educativas garantidas pelas escolasaos alunos, ou à ocupação dos seus temposlivres. O que a FENPROF contesta é a formacomo o M.E. está a impor estas actividadese os claros abusos a que estão a ser sujeitosos professores. O contributo da FENPROFpara a correcção destas situações passa por,num primeiro momento, deixar esclarecidosos conceitos de componente lectiva e nãolectiva, uma vez que havendo consensosobre essas definições mais fácil será chegara acordo sobre quais são as actividades a

desenvolver pelos docentes em cada umadessas componentes.

É nesse sentido que a FENPROF, reto-mando as definições que já incluiu nodocumento entregue no Ministério daEducação em 12 de Outubro, reafirma:

- A componente lectiva compreendetodas as actividades docentes com os alunosna sua componente curricular, bem comoas que constituem reforço desta.

- A componente não lectiva compreende:i. as actividades integradas no trabalho

colectivo dos professores ao nível das váriasestruturas pedagógicas intermédias e dosórgãos de direcção e gestão em que participam;

ii. as actividades de atendimento aospais e encarregados de educação;

iii. as actividades integradas no ProjectoEducativo de Escola ou Agrupamento desdeque daí não decorra, nomeadamente atravésde actividades designadas de “enrique-cimento curricular”, a ocupação sistemáticae permanente dos professores em activi-dades que, efectivamente, são de ocupaçãode tempos livres ou de apoio pedagógico.

12. É a partir destas definições con-ceptuais, do disposto nos quadros legais emvigor (designadamente no Estatuto daCarreira Docente contido no Decreto-Leinúmero 1/98, de 2 de Janeiro) e daapreciação feita pela FENPROF sobre o queestá a acontecer nas escolas e das suascausas objectivas que se apresentam aspropostas que constam dos Capítulos I, II eIII do presente documento.

13. Procurar-se-á, num primeiro mo-mento, separar questões que decorrem doDespacho 16795/2005, de 3 de Agosto, deoutras que são do âmbito do Despacho17387/2005. Contudo, alguns aspectosestão ligados e decorrem da aplicação dosdois despachos, reservando-se para o finala sua análise.

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ACÇÃO E NEGOCIAÇÃO

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A FENPROF defende para a Educação Pré-Escolar a generalização da Componente So-cial de Apoio à Família, disponibilizando- -se para debater as condições em que já hojese desenvolvem com vista à sua melhoria esuperação de aspectos menos positivos.

• Prolongamentos no 1º Ciclo do EnsinoBásico - Ponto 5

O envolvimento dos professores nosprolongamentos de horário no 1º Ciclo deEnsino Básico consubstancia, na maior partedos casos, verdadeiros atentados aoconteúdo funcional da profissão docente,na medida em que, invariavelmente, sob acapa de “enriquecimento curricular”, asactividades desenvolvidas são, de facto, deanimação e apoio às famílias, sendo ao pro-fessor atribuídas funções não docentes.

A FENPROF considera que não competeaos professores assegurar o funcionamentodos “prolongamentos de horário”, sendoessa uma função a atribuir a outrostrabalhadores.

Quanto à existência de actividades ex-tra-curriculares ou de enriquecimento cur-ricular que, eventualmente, venham a terlugar, não devem ser organizadas com o in-tuito de preencher as horas disponíveis noprolongamento, mas por corresponderem anecessidades identificadas nas escolas e que,por essa razão, estão previstas no âmbito dosProjectos Educativos dos respectivosAgrupamentos e, consequentemente, inte-gram os seus Planos de Actividades.

Quanto às actividades de animação ede apoio às famílias a FENPROF propõe que

as mesmas se organizem para o 1º Ciclodo Ensino Básico em moldes semelhantesaos da Educação Pré-Escolar, devendo,para esse efeito, ser firmado um Protocoloentre o Governo e a Associação Nacionalde Municípios no qual se estabeleçam asresponsabilidades de cada parceiro nacriação de condições, designadamente aonível dos recursos, para responderfavoravelmente às necessidades.

• Actividade de Estudo Acompanhado -Ponto 8

A consideração do estudo acompanhadocomo actividade de enriquecimento curricu-lar e, nos termos do disposto no ponto 5deste diploma legal, de frequência facul-tativa contraria o que se estabelece noDecreto-Lei 6/2001, que considera o estudoacompanhado como área curricular nãodisciplinar, logo de frequência obrigatória.Exige-se que nesta matéria seja respeitadoo disposto no DL 6/2001.

• Dispensa de componente lectiva– Ponto 12

A atribuição de actividades a pessoaldocente “sem horário lectivo atribuído” nocumprimento do ponto 11 deste despachonão pode incluir trabalho directo comalunos quando os docentes em referênciaestiverem dispensados da componentelectiva, por motivo de doença, nos termosprevistos no artigo 81.º do ECD. Háinúmeras situações deste tipo que deverãoser corrigidas, dando assim cumprimento acompromissos assumidos pelo Ministério daEducação em reunião com a FENPROF.

II. DESPACHO Nº 17387/2005,DE 12 AGOSTO

• Artigo 2º, pontos 1 e 2

A FENPROF considera que as horas decomponente não lectiva a prestar noestabelecimento, e obrigatoriamenteregistadas no horário do pessoal docente,não deverão ir além das que, nos termosdo artigo 79º do ECD, lhe são reduzidas.Já no 1º Ciclo do Ensino Básico e naEducação Pré-Escolar, dado o regime demonodocência não viabilizar essas reduções,deverá ser apenas registada a hora semanaldestinada ao atendimento de pais eencarregados de educação.

Não pretendemos, com isto, afirmar que

os professores não têm outras activi-dades, no âmbito da componente nãolectiva a prestar no estabelecimento.Contudo, o carácter específico doexercício profissional da docência e asactividades a prestar na escola invia-bilizam, na prática, registos rígidos dehorários que normalmente não seadequam à realidade escolar.

• Artigo 2º, ponto 3

A FENPROF considera que as actividadesa desenvolver pelos docentes sem horáriolectivo atribuído ou pelos que se encontramintegrados nos serviços de psicologia eorientação não podem ter um registo de 35horas no horário. Muitas das actividadesdesenvolvidas por estes docentes exigem umtrabalho individual complexo e prolongado quedeve ser considerado no âmbito do seu horárioglobal de trabalho. A FENPROF propõe queos horários destes professores sejamelaborados de acordo com o disposto no ECD.

• Artigo 2º, ponto 5

O previsto na alínea d) “acompanha-mento de alunos em caso de ausênciado respectivo docente”, depreendendo-se que em actividades educativas,encontra-se previsto no artigo 82.º, ponto3, alínea e) do ECD,”devendo ser consi-derada no âmbito da componente nãolectiva dos professores e educadores.

• Artigo 2º, ponto 7

A FENPROF rejeita esta medida queatenta contra direitos fundamentais dosprofessores e também dos alunos. Se asfaltas são referenciadas a períodos de 45minutos, como refere o ponto 7, nãopode a ausência apenas a um de doistempos de uma aula de 90 minutostraduzir-se na marcação de duas faltas.

• Artigo 4º, pontos 1 e 2

A FENPROF considera que as restri-ções impostas por este despacho e quejá constavam no artigo 1.º do Decreto--Lei 121/2005, de 26 de Julho, nãocontribuem para o melhor desempenhodos cargos que os professores assumemnas escolas. De facto, estas restriçõesimpostas aos professores e às escolasdegradam as condições necessárias aobom desempenho dos cargos, pelo que a

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FENPROF propõe que se retome o dispostonos quadros legais revogados pelo járeferido D.L. 121/2005.

• Artigo 4º, ponto 4

A atribuição às escolas de horas decrédito de acordo com a tabela que constadeste ponto inviabiliza, até, o cumprimentodo próprio Despacho 17387/2005, além delimitar as possibilidades de atribuição decargos a todos os professores, dado que ocrédito horário impede a eleição, na prática,de docentes sem redução de componentelectiva nos termos do artigo 79.º do ECD. Emdiversas escolas foram atribuídos cargos aprofessores que, nos termos da lei, deveriamter redução de componente lectiva para osassumir, mas, por falta de horas de crédito,não lhes foram atribuídas quaisquer reduções.

A FENPROF propõe a substituição destatabela de horas por uma fórmula que tenhaem consideração a necessidade efectiva dehoras de crédito tendo em conta todas asreduções necessárias para o desempenho decargos e também para outras actividades,o número de turmas, as horas de apoionecessárias e os projectos específicos adesenvolver em cada escola.

• Artigo 4º, ponto 8

O número de horas previsto para asescolas do 1.º Ciclo ou agrupamentos daEducação Pré-Escolar com estabeleci-mentos do 1.º Ciclo — quatro horas semanais— é manifestamente insuficiente.

• Artigo 5º

As actividades educativas a desenvolverna situação de ausência imprevista de umdocente deverão respeitar escrupulosa-mente o disposto nos artigos 10.º, 82.º e83.º do ECD. Isto é:

a) são um dever profissional dosdocentes;

b) destinam-se a suprir a ausênciaimprevista e de curta duração do docenteem falta (até 5 dias lectivos na educaçãopré-escolar e 1.º ciclo do ensino básico e10 dias lectivos nos 2.º e 3.º ciclos do ensinobásico);

c) não se encontram previstas para oensino secundário;

d) o docente incumbido de realizar asactividades educativas de substituição deveser avisado, pelo menos, no dia anterior;

e) as actividades educativas podem serou não aulas de substituição;

f) independentemente das actividadeseducativas que venham a ser desenvolvidasnaqueles períodos, a substituição deve serconsiderada serviço docente extraordinário,como se encontra determinado no ponto 2do artigo 83.º do ECD. A limitação, comopretende o ME, ao disposto na alínea a), doponto 2, do artigo 5º do Despacho 17387/2005, corresponderia a uma inaceitávelmanipulação do quadro legal vigente.

III. OUTRAS SITUAÇÕES A CORRIGIROU ESCLARECER JUNTO

DAS ESCOLAS, DECORRENTESDA APLICAÇÃO DOS DESPACHOS

16795/2005 E 17387/2005

Decorrente do conteúdo e aplicação dosdois despachos há um conjunto de outrassituações que exigem urgente correcção ouesclarecimento com vista a evitar as gravesdistorções que estão a acontecer na suaaplicação, quase sempre por pressão daadministração educativa regional que impõea aplicação dos normativos ainda que,objectivamente, não se verifiquem ascondições indispensáveis à sua concre-tização. Assim:

• Substituição de professores em falta

É ilegal a substituição de professores oueducadores em falta por docentes que seencontrem dispensados da componentelectiva, por razões de doença, nos termosconsagrados no artigo 81.º do ECD. Damesma forma, é ilegal o recurso a docentesde educação especial, colocados nas escolasao abrigo do Despacho 105/97, de 1 deJulho, para este efeito. Neste caso, asituação tem ainda reflexos nos alunos comnecessidades educativas especiais quedeixam de ter o apoio que era supostoreceberem daquele educador ou professor.

• Professores e Educadores de EducaçãoEspecial

A estes docentes estão a ser atribuídastarefas no âmbito da componente nãolectiva a prestar nos estabelecimentos,exactamente iguais às dos seus colegas dosector de origem. Releva, por exemplo, no1.º Ciclo do Ensino Básico e Educação Pré--Escolar, a atribuição de actividades noâmbito dos “prolongamentos de horário”,durante um número de horas que é igualao dos restantes professores, com oagravamento de 5 horas (que decorre dofacto do seu horário lectivo, nos termos do

disposto no artigo 77.º do ECD, ser de 20horas). A FENPROF considera inaceitáveleste procedimento e considera ainda que acomponente não lectiva dos docentes deeducação especial não pode ser preenchida comquaisquer outras actividades que não sejam asque já se encontram definidas nos seguintesquadros legais: Decreto-Lei 319/91, de 23 deAgosto; Despacho 105/97, de 1 de Julho, coma nova redacção que lhe foi conferida peloDespacho 10856/2005, de 13 de Maio;regulamentações constantes no DespachoNormativo 173/91, de 24 de Outubro e naPortaria número 611/93, de 15 de Julho.

• Actividades atribuídas aos professoresno âmbito da sua componente não lectivaa prestar no estabelecimento

Por violar gravemente o conteúdofuncional da profissão docente deveexplicitamente ser impedida a atribuiçãoaos professores ou educadores de tarefasde vigilância em refeitórios e recreios oude animação de actividades de temposlivres, como acontece em diversas escolas.

• Itinerância dentro do Agrupamento deEscolas

A fim de garantir o prolongamento dehorário em escolas do 1.º Ciclo ou naEducação Pré-Escolar há professores que sãodeslocados de estabelecimento, por vezespara garantirem actividades com alunos desectores de ensino ou educação que não sãoaqueles para os quais se encontram habi-litados científica e profissionalmente.

A FENPROF contesta este regime deitinerância e considera que, nos casos emque não há condições para garantir, naescola, o designado prolongamento este nãodeve ter lugar, como, aliás, se afirma no ponto6 do Despacho 16795/2005 quando se referea “comprovada carência de recursos”.

Acresce ao problema o facto de não

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ACÇÃO E NEGOCIAÇÃO

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serem colocados meios de transporte àdisposição dos professores, sendo-lhesexigida a utilização das suas própriasviaturas sem qualquer compensaçãopecuniária para o efeito. Recorda-se que osdocentes pertencem aos quadros dasescolas ou por estas são contratados. Sendodo quadro de zona pedagógica, encontram--se colocados por afectação numa deter-minada escola. Assim, é um claro abuso, quese rejeita, a exigência de itinerância porvários estabelecimentos ainda que inte-grados no mesmo agrupamento.

• Interrupção das actividades lectivas paraque tenham lugar actividades extra-curriculares

É inaceitável que, para benefício deentidades exteriores à escola, seja posta emcausa a autonomia da actividade docentee contrariada a organização estabelecidanas escolas para o decurso das actividadescurriculares a que todos os alunos estãoobrigados. Interrompem-se as actividadesescolares para, nessas interrupções, teremlugar actividades extra-curriculares como,por exemplo, o Inglês. Estamos perante umabuso que, na prática, tem como conse-quência o desenvolvimento de actividadesintegradas nas áreas curriculares duranteos períodos que era suposto destinarem-seaos prolongamentos de horário. A FENPROFentende que este tipo de situação deveráser corrigido, sendo respeitados os inte-resses dos alunos, a autonomia das escolase a organização da actividade docente.

• Apoio Pedagógico

Apesar do ponto 5, do artigo 2.º, doDespacho 17387/2005 apontar para aconsideração de actividades e medidas deapoio educativo, complemento curricular ereforço de aprendizagens no âmbito do n.º1 do Despacho 13781/2001, de 3 de Julho,o número de horas aí consagrado, ainda queacrescido pelas de crédito de horas previstasno artigo 4.º do Despacho 17387/2005, éinsuficiente. A alternativa, em muitasescolas, tem sido incluir os apoios peda-gógicos na componente não lectiva aprestar pelos professores nos estabele-cimentos. Estamos perante uma evidenteilegalidade que deverá ser corrigida,contribuindo para esse efeito o indispen-sável aumento do número de horas aatribuir às escolas no âmbito do seu créditoglobal, como anteriormente se propõe.

• Formação Contínua de Professores

A participação em acções de formaçãocontínua, congressos, conferências, semi-nários e reuniões de estudo e debate dequestões e problemas relacionados com aactividade docente faz parte da componentenão lectiva a nível de estabelecimento,conforme consta no artigo 82.º do ECD,ponto 3, alínea d). Nesse sentido, énecessário que aos professores e educadoresque frequentam este tipo de acções, ouparticipam em iniciativas como as iden-tificadas neste quadro legal, seja deduzido,na sua componente não lectiva semanal, onúmero de horas correspondente às defrequência devidamente comprovada.

• Reuniões convocadas nos termos legais

Com a realização, em determinadassemanas, de um número de horas de reuniãoque supera, em muito, o estabelecido no horáriodos docentes, os professores e educadoresultrapassam, nessas semanas, as 35 horas deserviço. Assim, para que tal não aconteça,deverão ser deduzidas da componente nãolectiva de estabelecimento, nas referidassemanas, o número de horas correspondenteao das reuniões que vão para além das previstase registadas no horário semanal.

• Faltas de professores a tempos registadosna sua componente não lectiva

O conceito de falta estabelecido no ECD,designadamente no artigo 94.º, abrangeapenas o serviço lectivo. Nos termos donúmero 2 daquele artigo considera-se umdia de falta a ausência a um número dehoras igual ao quociente da divisão porcinco do número de horas de serviço lectivosemanal ou equiparado distribuído aodocente. Não pode, depois, na conta-bilização para este efeito, serem consi-deradas horas de ausência a actividades nãolectivas. Por absurdo, a um docente com 20horas lectivas semanais que num deter-minado dia faltasse a 4 horas não lectivas,ainda que, de seguida, comparecesse àsactividades lectivas, poder-lhe-ia sermarcado um dia de falta.

A FENPROF entende que esta situaçãotem necessariamente, de ser corrigida,disponibilizando-se para negociar umasolução para o problema de forma a nãopenalizar os professores.

Lisboa, 11 de Novembro de 2005O Secretariado Nacional

da FENPROF

O Presidente da República, JorgeSampaio, criticou (12/12/05) os su-cessivos governos pela falta de “polí-ticas consistentes” na educação eformação de adultos. Uma lacuna graveno País que tem um milhão de analfa-betos e ocupa os piores lugares da UEna escolarização.Maior articulação entre as organi-zações, estabilidade no financiamentodos projectos e a criação de umaestrutura semelhante à Agência Nacio-nal de Educação e Formação de Adultos- extinta em 2002 - foram algumas dasreivindicações apresentadas ontem naGulbenkian, em Lisboa, no primeiroEncontro Nacional de Educação eFormação de Adultos.Na abertura do encontro, organizadopela Associação Direito de Aprender(ADA), Jorge Sampaio sublinhou a“relevância da educação ao longo davida para o “progresso da democracia”e o “desenvolvimento da sociedade”.“Como entender que, apesar de termosos níveis mais baixos de escolarizaçãoe qualificação de adultos da UE, incluindoos jovens da faixa etária 25-34, aeducação e a formação de adultos nãotenham sido erigidas em prioridadespolíticas?”, questionou-se Sampaio.Preocupações partilhadas por LicínioLima, da Universidade do Minho, paraquem o sector da educação de adultosé hoje “o mais crítico”, marcado por“políticas intermitentes e fortes recuos”.Segundo Rui Seguro, presidente daADA, “estão a fazer-se coisas interes-santes” nesta área, mas “muito mais háa fazer”. Sublinhando que a “apren-dizagem ao longo da vida deve sercomum a todos nós, o dirigente contaque às vezes se vivem situaçõesdramáticas para quem trabalha noterreno. “Vivemos asfixiados comquestões económicas, num regime devoluntarismo”, lamentou ao DN, lem-brando que as actividades dependemdos fundos comunitários. (…)

DN, 13/12/2005

PR critica falta de políticasna educação de adultos

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OPINIÃO

iziam as notícias dos jornais que asescolas iriam poder contratar maispessoal. E se este era o título, oconteúdo explicava-o melhor:“Os educadores de infância e do-

centes do 1.º Ciclo com horário lectivoatribuído deverão deixar de assegurar asactividades de animação que estão a serchamados a fazer nalguns agrupamentos”,podia ler-se. Segundo a comunicação so-cial, era este o conteúdo de uma cartaenviada pela ministra da Educação aosPresidentes dos Conselhos Executivos.

A carta, contudo, só chegou alguns diasdepois aos seus destinatários, que apenassabiam da sua existência pelos jornais, e, sobreesta matéria, refere exactamente o seguinte:

“Em alguns agrupamentos, está a serposto em causa o prolongamento do horário

das escolas do 1.º Ciclo por dificuldadesrelacionadas com a escassez de recursoshumanos e uma eventual sobrecarga deprofessores titulares de turma. O Ministério,a partir de Janeiro, através das direcçõesregionais de educação, apoiará as escolasque o solicitem justificadamente, disponibi-lizando meios adicionais para uma melhorconcretização do prolongamento do horário,permitindo que a componente não lectivados professores titulares de turma sejasobretudo utilizada na supervisão eacompanhamento das actividades extra-curriculares”.

Não é claro o conteúdo da carta. Não éclaro e, principalmente, está longe decorresponder à objectividade das notíciasque, dias antes, a assessoria de imprensado ME pusera a correr. E era fácil ser claro.

Carta da Ministra esclarece poucoProlongamentos de horário nas escolas do 1.º Ciclo:

Mário Nogueira (Secretariado Nacional da FENPROF)

Bastava que o texto ministerial referisse:“Não compete aos professores — sejam

titulares de turma, dispensados de compo-nente lectiva ou colocados nos apoioseducativos — realizar actividades directascom crianças, designadamente de ani-mação, nos períodos de prolongamento dohorário das escolas do 1.º Ciclo. Assim, eporque os recursos humanos disponíveis nasescolas, para essa actividade, são prati-camente nulos, as escolas podem recrutar,a partir de Janeiro, os meios humanosindispensáveis à boa concretização doprolongamento do horário”.

Ora, do texto divulgado ao textodesejado vai um passo de gigante, ainda queo departamento de propaganda do MEquisesse que parecesse um passo de anão.Só que, neste caso, nem a aparência ilude.

D

Questões fundamentais quemarcam a actual situação noEnsino Superior e na Investi-gação em Portugal estão emdestaque na última edição dosuplemento do JF dedicado aosector.

Concurso Nacionalde Jornais Escolares2005/06 Combatente destacado pela liberdade e

a democracia, autor de muitos trabalhos deinvestigação científica, Ruy Luís Gomes foirecentemente homenageado pela Univer-sidade do Porto, que lhe dedicou um oportuno“Seminário de Comemoração do Centenário

de Nascimento” (5 de Dezembro).À vocação de cientista, o matemático

Ruy Luís Gomes acrescentou sempre,além da predisposição de lutar pelademocracia, uma tendência natural paratentar transformar a burocracia do ensinoem magistério autêntico e em diligenteinvestigação, destacava o “JN” de 5/12.

LembrarRuy Luís Gomes

Selo paraa recolhade fundosda campanhapresidencialde Ruy LuísGomes,9 de Junhode 1951

31 de Marçopróximo é a da-ta limite para ainscrição noConcurso Na-cional de Jor-nais Escolares/edição 2005-2006, iniciativa do Projecto “Públicona Escola”. São convidadas a participartodas as escolas e agrupamentos dos1º, 2º e 3º Ciclos do ensino básico esecundário do continente, das regiõesautónomas e das comunidades portu-guesas no estrangeiro.Podem ser apresentadas a concursopublicações em papel (jornais ourevistas) que elaborem três ediçõesao longo do presente ano lectivo etambém jornais electrónicos quetenham pelo menos três actualiza-ções de fundo. A data limite paraenvio dos materiais é 7 de Julho.Estão previstos quatro escalões deprémios. No próximo “JF” voltaremosao assunto.

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JORNAL DA FENPROF 17DEZEMBRO 2005

POSIÇÃO DA FENPROF

Condições de aposentaçãoe de exercício de funçõesdocentes nos últimos anosda vida profissional

Federação Nacional dos Professoresreafirma a sua total oposição àsnovas condições exigidas para aaposentação dos trabalhadores daAdministração Pública a partir de 1 de

Janeiro de 2006 – 65 anos de idade e 40 deserviço – e, uma vez mais, contesta o factodestas terem sido impostas sem que fossemrespeitadas as regras negociais consagradas naLei 23/98, de 26 de Maio.

A Federação recorda que o Governo an-terior já agravara os requisitos em vigor,tornando cumulativa a obrigatoriedade de36 anos de serviço e 60 anos de idade. Essaobrigatoriedade, por ser injusta, mereceuuma forte contestação dos trabalhadores edas suas organizações sindicais.

Relativamente ao pessoal docente, aFENPROF reafirma que as profissões não sãotodas iguais, seja no âmbito da Adminis-tração Pública ou no sector privado. Comomostram vários estudos, nacionais einternacionais, realizados nesta área, oexercício continuado da docência provocaum elevado desgaste físico e psicológico noseducadores e professores, que se reflectena qualidade das práticas pedagógicas e,por consequência, na própria qualidade doensino. A designada ‘uniformização’ dosregimes de aposentação consubstancia,efectivamente, uma profunda iniquidade:não é justo tratar da mesma forma situaçõesque são de natureza diferente e obrigar osprofessores a trabalhar até aos 60 ou, agora,65 anos de idade (o que, para muitos,significa exercer a actividade docente du-rante mais de 45 anos), retirando aprofessores e alunos o direito a condiçõescondignas de ensino e de aprendizagem.

Sobre a aposentação, as posições daFENPROF encontram-se bem definidas,constando dos documentos aprovados noseu oitavo Congresso, realizado na Figueirada Foz, em Março de 2004. Nele se aprovou,por unanimidade, uma posição em que seafirma a exigência de “negociação e

aprovação de um regime específico quepermita a aposentação de todos os edu-cadores e professores quando completam os30 anos de serviço”, precisamente comoforma de responder positivamente ao“elevado desgaste físico e psicológico que éprovocado nos profissionais pelo exercíciocontinuado da actividade docente”, permi-tindo que os professores trabalhem emcondições de elevada qualidade até aos últimosanos da sua vida profissional. Não se encontramrazões para que se altere esta posição daFENPROF, bem pelo contrário. As crescentesexigências que se colocam aos professores, nasescolas e na sociedade, reforçam as posiçõesda Federação Nacional dos Professoresaprovadas no seu oitavo Congresso.

Nesse Congresso foi ainda decidido que“até à aprovação desse regime específico [30anos de serviço], a consagrar no quadro dacarreira docente, a FENPROF defende aconsagração de uma situação excepcionalque permita aos docentes, nos últimos anosdo seu exercício, o desempenho de funçõesdiferentes das que, de forma continuada,desempenharam ao longo de todo o seupercurso profissional”. Tal significa que aFENPROF é favorável à possibilidade dosprofessores e educadores poderem optar,nos últimos anos de actividade profissional,pela realização de outras tarefas, tais como:o acompanhamento de docentes em iníciode carreira, o acompanhamento individualde alunos com ritmos diferentes deaprendizagem, a concepção e produção demateriais pedagógico-didácticos ou aconstituição de grupos de trabalho noâmbito da avaliação da consecução dosProjectos Educativos das Escolas, tendo emvista a elaboração de propostas parasuperação dos problemas existentes.

Por fim, relativamente a eventuaiscompensações dos docentes da EducaçãoPré-Escolar e do 1º Ciclo do Ensino Básicoque leccionam em regime de mono-docência, pela revogação dos Artigos 120º

e 127º do ECD, entende a FENPROF queelas devem somente ser consideradas noâmbito da revisão global do ECD.

Sobre essa matéria, FENPROF reafirmao que desde a aprovação do ECD defende eé consensualmente aceite: as reduções decomponente lectiva previstas no artigo 79ºdo ECD visam “compensar o desgaste físicoe psíquico resultante da actividade docentee das especiais condições em que é exercida”(Lemos, J.; Carvalho, L. G. Estatuto daCarreira Docente, anotado, revisão de 1998.Livraria Arco-Íris, Edições Cosmos. Lisboa,1998). Assim, para a FENPROF, sempre quepossível, este regime compensatório deveráaplicar-se a todos os educadores de infânciae professores do 1º ciclo do ensino básico.Nos casos em que não for possível aaplicação do disposto no artigo 79ª do ECD,devido às características do regime demonodocência, deverá prever-se a possibi-lidade destes beneficiarem de um deter-minado número de licenças ou dispensas,ao longo da sua vida profissional, a partirdo momento em que, nos restantes sectores,os professores começam a usufruir dereduções da componente lectiva porantiguidade de serviço e idade.

No âmbito da revisão do ECD, a FENPROFapresentará propostas concretas sobre estamatéria.

A

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A nova Lei estabelece uma novafórmula de cálculo que determina que:

a) A taxa de formação da pensão até2005 vai ser alterada com efeitos retroacti-vos. Assim, cada ano cumprido na adminis-tração pública valia 2,5% do tempo detrabalho e irá diminuindo até 2,25%, paraquem se aposente depois de 2012;

b) O tempo de serviço realizado depoisde 2005, para quem se aposente até 2015,terá uma taxa de formação aplicada àaposentação de 2%, enquanto para quemtrabalha no regime geral da SegurançaSocial terá uma taxa de formação su-perior, até 2,3%;

c) As carreiras passem a ser extre-mamente longas e com o carácter cumulativode tempo de serviço e idade (40 e 65 anos,respectivamente) para que um trabalhadorpossa aposentar-se, o que contraria mesmocompromissos públicos de José Sócrates;

d) 57,5% dos trabalhadores da admi-nistração pública terão de trabalhar maisde 40 anos para terem direito à pensãocompleta; 27,6% terão de trabalhar paraalém dos 65 anos de idade; e 14,9%trabalharão até aos 70 anos de idade (limitede idade) sem que, mesmo assim, venham aauferir a pensão por completo.

A Frente Comum e os seus Sindicatosaprovaram e apresentaram diversos pare-ceres no sentido de que estas alterações aoEstatuto de Aposentação não viessem a serconsagradas, nomeadamente junto dosPartidos com assento parlamentar. Noentanto, do debate realizado, e perante aimpossibilidade de mudar as intenções doGoverno, sustentado pela actual maioriaabsoluta, foram feitas propostas de alte-ração em sede de Comissão Parlamentar, das

quais importa dar conhecimento público.Assim, quer o grupo parlamentar do PCP

quer o grupo parlamentar do PS apresen-taram propostas de alteração.

Proposta apresentada pelo grupoparlamentar do PS (aprovada pelopróprio grupo parlamentar com a

abstenção do PSD e do PP):

Substituição do art.º 56.º do Estatuto deAposentação, sobre a Aposentação Com-pulsiva - (…) a aposentação é calculada nostermos gerais e reduzida em 4,5% do seuvalor de antecipação em relação à idadelegalmente exigida para a aposentação,com limite de 25%.

Esta proposta configura mais umapenalização dos trabalhadores com oargumento de que algumas das apo-sentações compulsivas são fraudulentas, oque a ser verdade deveria ser tratado a nívelcriminal e não ser integrado nas mudançasao Estatuto de Aposentação já que imprimeum novo prejuízo à maioria dos trabalha-

APROVADA NA A.R.

Proposta de Lei do Governo sobre Aposentaçãodores abrangidos e que não cometemqualquer fraude nesta matéria.

Propostas apresentadas pelo grupoparlamentar do PCP (recusadas sem

qualquer debate pelos gruposparlamentares do PS, PSD e PP):

1 - Substituição do art.º 5.º da propostado governo, para criação de um regime detransição que evite carreiras extre-mamente longas e para combater o

estabelecimento de um regime deaposentação mais desfavorável que oRegime Geral de Segurança Social ;2 - Garantir o prolongamento da

bonificação prevista no n.º 2 do art.º 4.º daproposta do governo, que estabelece atroca de um ano de serviço a mais pelaredução de um ano na idade exigida, paraalém de 31 de Dezembro de 2014;

3 - Eliminação do n.º 5 do art.º 7.º daproposta do governo que estabelece anão aplicação da bonificação referidaantes, sempre que esta situação for maisfavorável ao trabalhador do que a situa-ção verificada até 2005;

4 - Alteração da proposta do governoem relação à cumulatividade do tempo deserviço e da idade, para que o trabalhadorpossa optar ou pelo limite estabelecidopara o tempo de serviço ou para a idade.

Notas finais• A proposta de lei do governo teve os

votos favoráveis do PS, a abstenção do PSDe PP e os votos contra do PCP, BE.

• O Governo recusou apresentar umestudo de impacto das consequências dotexto aprovado nos trabalhadores a quemessas medidas se aplicam.

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CONCURSOS

Sobre esta matéria, a FENPROFreafirma que a estabilidade docorpo docente é condiçãoindispensável para o bomfuncionamento das escolas e aelevação da qualidade doensino. Essa verdadeira esta-bilidade passa decisivamentepelo alargamento dos lugaresdos quadros das escolas, ade-quando-os às efectivas neces-sidades daquelas.

a verdade, são inúmeros os profes-sores que, há muitos anos, asse-guram necessidades permanentesdas escolas, apesar de não inte-grarem os seus quadros em clara

contradição com o disposto no ponto 1, doartigo 26º do ECD. Também o disposto noponto 2 do Artigo 28º do ECD, que refereque “o recurso sistemático a docentescontratados, por períodos sucessivos dequatro anos, constitui indicador da necessi-dade de proceder à revisão prevista nonúmero anterior [abertura de lugares nosquadros]” tem sido permanentementeignorado, recorrendo o M.E. à contratação dedocentes para que se assegurem necessidadesque era suposto serem satisfeitas porprofessores dos quadros de zona pedagógicaou mesmo dos quadros de escola.

Para a FENPROF esta é, efectivamente,a questão fundamental que urge resolverno sentido de garantir a verdadeiraestabilidade do funcionamento dos estabe-

lecimentos de ensino, bem como a dosprofessores e educadores. Daí que aFENPROF rejeite medidas que, aparente-mente, promoveriam a estabilidade do corpodocente, mas, na verdade, estão imbuídasde sinal contrário.

É por isso que, uma eventual fixaçãoforçada de professores em estabelecimentosde ensino pela via do impedimento deapresentação de nova candidatura duranteum determinado número de anos, ou pelarealização de concursos plurianuais, nãomerece o acordo da FENPROF. Serátambém rejeitada pela FENPROF uma even-tual imposição de “desincentivos” oupenalizações aplicáveis a professores oueducadores como forma de os desencorajarde concorrer anualmente. A defesa demedidas deste tipo revela uma visãocontrária, não apenas do disposto na lei em

A considerar para umaeventual alteração pontualao regime de concursosprevisto no D.L. 35/2003

Propostas da FENPROF

Mais uma vez Maria de LurdesRodrigues, a ministra da Educação,optou por fugir ao confronto deopinião, ao julgamento dos profes-sores e à negociação séria, em climade diálogo aberto.

À semelhança do Verão passado,com o Inverno chegaram as propostasapresentadas em cima dos períodosde interrupção lectiva, numa altura emque os professores ou estão muitoenvolvidos no difícil e responsáveltrabalho de avaliação do final doperíodo e procuram, como os outrosportugueses, o aconchego do encon-tro de família.

A crer nas palavras do primeiroministro, Maria de Lurdes Rodriguesjá tinha a proposta para rever o di-ploma de concursos, à mais de 3meses. Optou por guardá-la para,num texto fechado sem margem denegociação, a impor.

A ministra preferiu não dar espaçoà negociação. Decidiu, com o poderque a maioria parlamentar lhe dá,introduzir alterações ao modelo deconcursos que agravam a situaçãosocio-profissional dos docentes.

Optou por fazer um discurso dema-gógico e mentiroso, para passar a ideiade que todos os anos mais de 70% dosprofessores mudariam de escola, e aseguir satisfazer as suas intenções deimpedir concursos anuais.

Uma medida que agravará asinjustiças, nomeadamente através dasubversão do princípio da colocaçãode professores de acordo com agraduação profissional (o que acon-tecerá durante o tempo de fixaçãoobrigatória dos docentes — em cada3 ou 4 anos).

A FENPROF apresentou pro-postas concretas que não criariam umsistema perfeito (não os há!) masreduziriam os impactos negativos dalegislação em vigor. Como respondeuMaria de Lurdes Rodrigues? Emsentido exactamente oposto.

Continuar-se-á, assim, a contrairos quadros de escola até à consa–gração de um modelo flexível derecrutamento que mais não fará doque consagrar as políticas neo--liberais que os sucessivos governostêm conduzido?

LL

Com o Inverno chegoumais autoritarismo

N

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0. QUESTÃO PRÉVIA SOBREA NEGOCIAÇÃO

Em primeiro lugar, a FENPROF pretendedeixar claro que a entrega de um parecerrelativo ao Memorando apresentado peloMinistério da Educação não substitui aindispensável negociação do projecto dediploma legal que vier a ser elaborado, comvista à construção do consenso que a Lei23/98, de 26 de Maio, refere.

I. POSIÇÃO E PROPOSTAS DA FENPROFFACE À REVISÃO PONTUALDO DECRETO-LEI 35/2003

Em relação a alterações a introduzir noactual regime de concursos e colocações deprofessores dos ensinos básico e secundárioe educadores de infância constante doDecreto-Lei 35/2003, de 27 de Fevereiro, coma redacção que lhe é conferida pelo Decreto--Lei número 20/2005, de 19 de Janeiro, aFENPROF, sem prejuízo de uma revisão glo-bal daquele diploma legal no sentido deserem criadas condições que promovam aefectiva estabilidade do corpo docente dasescolas, reafirma as seguintes propostasrelativas ao concurso a realizar em 2006:

vigor, designadamente no Estatuto daCarreira Docente, mas também do quedeverão ser as medidas incentivadoras àpromoção da fixação dos docentes e, dessaforma, à criação de condições de esta-bilidade do sistema educativo.

A FENPROF admite a aprovação de umregime de colocações plurianuais, comligação estreita ao regime de incentivos àfixação de docentes em zonas desfavo-recidas e/ou isoladas, nos termos previstos(e ainda por regulamentar) no artigo 63ºdo ECD, disponibilizando-se para encetarnegociações sobre essa matéria. Contudo,um regime de “colocações plurianuais” nãopode ser confundido com “concursosplurianuais”, e mesmo aquelas não deverãoapresentar carácter compulsivo, como nãodeverá existir qualquer penalização dos quepretendam, anualmente, procurar umacolocação em escola mais próxima da áreade residência das respectivas famílias.

No sentido, ainda, de se garantiremcondições de maior estabilidade nas escolas,é indispensável a abertura de vagas nos seusquadros para o grupo de docência daEducação Especial. O arrastamento da ac-tual situação na colocação de professoresde Educação Especial, através de desta-camento anual, não favorece a indispen-sável estabilidade dos docentes, ao mesmotempo que não permite que se libertem asvagas que ocupam nos seus sectores deorigem, inviabilizando que nelas se fixemprofessores integrados nos quadros dasrespectivas escolas ou jardins de infância.

Relativamente a eventuais alterações,a introduzir ainda este ano, ao regime deconcursos previsto no Decreto-Lei 35/2003,a FENPROF defende uma alteração à sua 2ªParte, de forma a possibilitar a candidaturados professores portadores de doençaincapacitante ou outra prevista nos termoslegais, rigorosamente comprovada, designa-damente por junta médica reunida para oefeito, devendo estes ser colocados emprimeira prioridade. Em segunda prioridadedeverão ser colocados todos os restantesopositores à segunda parte do concurso(docentes para afectação nos QZP ecandidatos a destacamento) ordenados porgraduação profissional.

A FENPROF propõe ainda, para este ano,que seja revogado o disposto no artigo 62ºdo DL 35/2003, que impede progressiva-mente a apresentação de candidatura aoconcurso por parte de docentes portadoresde habilitação própria.

A FENPROF defende por fim, tambémpara este ano, a redução da área geográficados quadros de zona pedagógica o quecontribuirá para a fixação de professoresnas escolas que integram esses quadros.

Lisboa, 11 de Novembro de 2005O Secretariado Nacional

Parecer da FENPROFrelativo ao memorandoapresentado pelo M.E. sobre“recrutamento e colocaçãode professores”

1- Redução da área geográfica dosquadros de zona pedagógica, de acordo coma proposta que se anexa (pág. 26);

2- Revogação do artigo 62º do D.L. 35/2003, que impede a candidatura dedocentes com habilitação própria a partirde 2007;

3- Revisão das prioridades a considerarna “segunda parte do concurso”, sendorespeitados os seguintes critérios: a)destacamentos por condições específicas –situações de doença devidamente compro-vada por junta médica, nos termos legal-mente definidos; b) candidatos ordenadospor graduação profissional, independente-mente de integrarem quadros de zonapedagógica (candidatura para afectação) oude se candidatarem a destacamento paraaproximação.

II. POSIÇÃO, NA GENERALIDADE, SOBREO MEMORANDO APRESENTADO PELO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃORelativamente ao Memorando elabo-

rado pelo Ministério da Educação, háquestões de fundo, de relevante importânciapara a FENPROF, assentes em princípios de

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CONCURSOS

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que esta Federação discorda. São cinco asquestões:

i. o impedimento dos professores seapresentarem anualmente a concurso;

ii. a dependência de concordânciaexpressa da escola relativamente a umaeventual renovação automática dos contra-tos dos docentes;

iii. o desrespeito pelo disposto no ECDno que respeita à abertura de vagas nosquadros, fazendo depender essa abertura daexistência de uma excessiva percentagemde contratados, e, também, no tipo dequadro apresentado para a educação espe-cial (por agrupamento);

iv. a eliminação dos destacamentos porconcurso para efeitos de aproximação dosdocentes às respectivas famílias;

v. a transferência para as escolas daresponsabilidade de contratar docentes parahorários iguais ou superiores a 50% dohorário completo.

III. APRECIAÇÃO, NA ESPECIALIDADE,DO MEMORANDO APRESENTADO PELO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

1 – Plurianualidade da colocaçãoA FENPROF defende a possibilidade dos

professores se apresentarem anualmente aconcurso. O impedimento de apresentaçãoanual a concurso poderá traduzir-se emgraves prejuízos para professores que serãoultrapassados por outros menos graduadosno acesso a lugares de quadro.

A FENPROF admite a possibilidade de,voluntariamente, professores do Quadro deEscola se declararem disponíveis parapermanecerem em determinado lugar porperíodos de três anos, excepcionalmentequatro no 1º Ciclo caso ao docente tenhasido atribuída, no ano da colocação, umaturma de 1º ano. Esta colocação plurianualvoluntária deverá ser acompanhada deincentivos sempre que tenha lugar emescola ou zona desfavorecida ou isolada, emtermos a regulamentar desde já e de acordocom o disposto no Artigo 63º do Estatutoda Carreira Docente. Apesar do carácterplurianual da colocação, tal como se admitenesta posição, o professor deverá podercandidatar-se anualmente ao concurso,sendo transferido para a sua nova escola,caso tenha obtido transferência, logo quetermine o período de colocação plurianual.

Relativamente aos docentes integradosem Quadros de Zona Pedagógica, admite--se a plurianualidade entre QZP nos exactostermos em que antes se refere para os QE,porém, se o docente obtiver colocação em

Quadro de Escola durante aquele períododeverá poder ocupar aquele lugar deimediato, ainda que não tenha decorridotodo o período da plurianualidade.

No que respeita à afectação de docentesdos QZP a escolas, a FENPROF considera queo Decreto-Lei 35/2003 já consagra ummecanismo de colocação plurianual, arecondução. Por essa razão, e apesar doposicionamento crítico face a esse meca-nismo, a FENPROF considera-o menosgravoso do que o agora proposto pelo ME,que se rejeita.

A FENPROF concorda com a possibi-lidade de renovação automática de con-tratos, mas:

a) manifesta a sua discordância quantoà renovação depender da concordânciaexpressa da escola. Desde que se mantenhaa existência do horário, deve o docente, sepretender, beneficiar desse mecanismo;

b) A FENPROF defende que, passados ostrês anos de contrato,independentemente deser por renovação ou porcelebração de novos con-tratos, ao docente con-tratado deverá ser ga-rantido o ingresso numquadro;

c) A renovação auto-mática dos contratos nãopode impedir o direito dosprofessores contratadosapresentarem anualmen-te a sua candidatura paraingresso em quadro.

2 – Revisão de vagasde QZP

A FENPROF consideraque a manutenção de umcorpo de contratados su-perior a 1/3 do conjuntode docentes que não se encontra integradoem QE é uma forte e inaceitável aposta nainstabilidade.

A FENPROF considera que na aberturade vagas nos Quadros, designadamente nosde Escola, deverá ser respeitado o dispostono Artigo 28º do ECD, ponto 2: “O recursosistemático a docentes contratados, porperíodos superiores a quatro anos, constituiindicador da necessidade de proceder àrevisão prevista no número anterior”.

3 – DestacamentosRelativamente aos destacamentos a

FENPROF reafirma a posição referida acima,no ponto três das suas propostas. Face ao

bloqueamento em que actualmente seencontram os Quadros de Escola, a FENPROFdiscorda em absoluto que seja revogada apossibilidade dos docentes se candidatarema destacamentos para aproximação, inde-pendentemente da modalidade.

4.1 – Educação EspecialNo entender da FENPROF, as necessi-

dades dos serviços de Educação Especialtornaram-se permanentes e, por isso, anecessidade da criação deste grupo dedocência e da dotação de vagas nos quadrosde escola e, para as necessidades residuais,a dotação de uma bolsa de docentes deEducação Especial nos Quadros de ZonaPedagógica.

Não é clara a intenção do ME ao referi--lo como “grupo de recrutamento”. AFENPROF discorda que as vagas para estegrupo de docência seja por quadros deagrupamento e considera que, nesta

matéria, não deverá ser criada uma situaçãode excepção, relativamente ao disposto noECD.

4.2 - Apoios EducativosO crédito horário acrescido a conceder

para o apoio pedagógico acrescido deverábeneficiar os agrupamentos, mas tambémas escolas não integradas em agrupa-mentos. A FENPROF considera indispensávelclarificar o que se entende, neste contexto,por “apoio educativo”.

6 – Preferências para contrataçãoA FENPROF defende a atribuição de um

horário mínimo de trabalho para efeitos de

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contratação. Nesse sentido, considera queaté às cinco horas não deverá ser necessáriaa contratação de qualquer professor,devendo a situação ser solucionada pelasescolas com os recursos humanos que têmdisponíveis. Entre as 6 e as 12 horas, todosos horários deverão ser considerados pelonúmero máximo de horas do intervalo (12horas), sendo para esse efeito acrescentadosna escola com actividade lectiva a desen-volver pelo professor contratado. O preen-chimento desses horários deverá serassegurado centralmente, pela DEGRHE.

7. Duração das colocações cíclicas pelaDEGRHE

Deverá prolongar-se até final do 1ºperíodo lectivo.

8. Grupos de RecrutamentoA forma como se apresentam estas

fusões e desdobramentos traduz mais umaalteração avulsa de um quadro legal quedeveria ser considerado da maior impor-tância e, por esse facto, merecedor de umarevisão global, reflectida e negociada.Estamos perante mais um remendo de en-tre muitos que nada têm beneficiado ainstitucionalização de um quadro global dehabilitações para a docência.

A FENPROF entende ser indispensável,de uma vez por todas, a negociação edefinição desse quadro global de habi-litações e respectivos grupos de docência.

É necessário clarificar a organizaçãofutura dos Quadros de Escola e dos Quadrosde Zona Pedagógica em função das fusõese desdobramentos previstos e a conse-quente redistribuição dos docentes que jáhoje se encontram integrados nos quadros.Esta situação é muito importante emqualquer das circunstâncias, mas particu-larmente relevante no desdobramentoproposto para os grupos 20, 21 e 22.

A FENPROF reafirma que a estabilidadedos professores, bem como a do corpodocente das escolas só se alcançarámediante a abertura de vagas nos quadrosde escola, não apenas de acordo com as suasreais necessidades, mas também em funçãode novos critérios que contribuam para quese eleve a qualidade do ensino.

Lisboa, 15 de Novembro de 2005O Secretariado Nacional

A ser aprovado este novo regime:• Os educadores de infância, os profes-

sores do 3º Ciclo do Ensino Básico e doEnsino Secundário, dos Quadros de Escola,só podem concorrer de 3 em 3 anos;

• Os professores dos 1º e 2º Ciclos doensino Básico e do Ensino Especial, dosQuadros de escola, só podem concorrer de4 em 4 anos;

• As afectações nos QZP, exceptoquando os lugares não se mantiverem vagos,serão pelos mesmos períodos de tempo;

• Os destacamentos para aproximaçãoà área de residência familiar são eliminados;

• Os horários até 12 horas serãopreenchidos por oferta de escola;

• Permite a recondução por 3 ou 4 anosdos docentes dos QZP nos estabelecimentosonde já estão afectos este ano.

Eis algumas propostas de alteração aoactual regime de concursos que o MEpretende introduzir:

Artº2 (Âmbito pessoal)2- O diploma irá abranger pela primeira

vez os docentes com habilitação para aeducação especial, havendo lugar à criaçãode lugares de quadro para a educação es-pecial nas escolas sede de agrupamento.

Artº10 (Educação especial)2- Os lugares de quadro de Educação

Especial subdividem-se em 3 grupos dedocência:

a) E1 – graves problemas cognitivos emultideficiência;

b) E2 – deficiências auditivas;c) E3 – deficiências visuais.

ME impede professoresde concorrer e eliminaformas de mobilidade!

Projecto de novo regimede concursos e colocação

O projecto que o Ministério da Educação apresentou em 5de Dezembro torna ainda mais negativa e instável a formade colocação dos professores nas escolas!

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CONCURSOS

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Artº11 (Limitações à apresentação decandidaturas)

4- Os candidatos aos concursos internoe externo que obtenham provimento emlugares de quadro (…) apenas podem seropositores ao concurso interno de acordocom a periodicidade seguinte:

a) Docentes vinculados aos 1º e 2º ciclosdo ensino básico, decorridos quatro anos;

b) Docentes vinculados à educação pré--escolar, ao 3º ciclo do ensino básico e aoensino secundário, decorridos três anos;

c) Docentes providos na educação es-pecial, decorridos quatro anos;

5- A afectação dos docentes vinculadosaos quadros de zona pedagógica, a partirde 2006/07 e seguintes, obedece à mesmaperiodicidade prevista no número anterior.

Artº13 (Preferências)4- A colocação por concelho faz-se por

ordem crescente de código de escola.5- Para efeitos de contratação, a

colocação por QZP faz-se por ordemcrescente de código de escola.

6- Para efeitos de contratação sãoabolidos os intervalos de horários entre 8e 11 horas e até 7 horas.

Artº15 (Graduação dos candidatosdetentores de qualificação profissionalpara a docência)

1. c) Os candidatos dos quadros titularesde formação inicial de grau académico debacharelato e que, complementarmente àformação profissional inicial, tenhamconcluído um complemento de formação,são obrigados a candidatar-se com aclassificação profissional relativa àclassificação conjunta da formação iniciale do complemento;

1.d) É possibilitado aos candidatos aoconcurso externo com formação inicial, dograu de bacharelato e que, complemen-tarmente à formação profissional inicial,tenham concluído um complemento deformação, optar, para efeitos de graduação,entre a classificação inicial ou a classi-ficação conjunta.

Artº17 (Ordenação de candidatos)3- Em caso de igualdade na graduação

são acrescidos dois elementos:- tempo de serviço após a profissio-

nalização;- tempo de serviço antes da profissio-

nalização.

Artº25 (Dotação de quadros)São retirados da dotação de lugares de

quadro de escola os lugares correspondentesa horários completos em novas escolas, aentrar na rede no ano escolar a que respeitao concurso e a abertura de vagas pordestacamento e afectação por mais de 4anos seguidos.

Artº46 (Recondução)1- A recondução da afectação de um

quadro de zona pedagógica a uma deter-minada escola é possível, no final do períodode afectação respectivo, de acordo com osnºs 5 e 6 do artigo 11º do presente diploma.

2- Os docentes podem assinalar noformulário para manifestação de prefe-rências para afectação, previsto no nº1 doartigo 43º a intenção de continuidade defunções na escola a que foram afectos noperíodo anterior.

(…)4- A recondução poderá ser efectuada

para 2006/07, a partir das colocaçõesobtidas no concurso de 2005/06. (por umperíodo igual ao previsto no art.º11).

Em documento entregue no ME, aFENPROF referiu, como reafirmou nareunião que teve lugar em 15 de Novembro,uma clara e frontal oposição a quaisquermedidas que, como estas, impossibilitassemos professores de concorrer anualmente ouque eliminassem os destacamentos por con-curso como mecanismo transitório deaproximação anual à área de residência fa-miliar.

Uma matéria tão importante e complexacomo esta exige um processo negocial sérioe efectivo. Ao apresentar este projecto em5 de Dezembro e pretender encerrar oprocesso de aprovação até ao final do mês,o M.E. inviabiliza uma discussão alargada eindicia indisponibilidade para uma verda-deira negociação.

A FENPROF defende a revisão dalegislação de concursos no sentido de seremcriadas condições efectivas de estabilidadedo corpo docente. Por essa razão considerainaceitável uma revisão apressada, nãonegociada e feita em período de interru-pção lectiva. Recorda-se que a FENPROF,tendo em conta o curto período disponívelpara uma efectiva negociação, propôsapenas três alterações:

- a redução da área geográfica dosQZP;

- a revogação do artigo 62º do actualDecreto-Lei que impede a candidatura dosdocentes com habilitação própria a partirde 2007;

- a revisão das propriedades a considerarna “segunda parte do concurso”.

DEZEMBRO 2005

Em que medida é que os espa-

ços de ensino que frequentou

influíram no estabelecimento

dos seus afectos?

Este é o ponto de partida parauma cartografia de alguns estabe-lecimentos de educação/ensinodo Porto. O resultado é «Eco-grafias do Porto» – um belíssimoprojecto editorial (Areal) que seafirma pela palavra (Fátima Pom-bo), pelo design (Francisco Provi-dência) e pela fotografia (JoséManuel Soares), numa reflexãotripartida “sobre a determinaçãodo lugar na construção de singu-laridades operativas, contami-nadas e contaminantes da perti-nência que se reconhece nadesignação Porto, menos comodestino do que como origem;menos como hegemonia do quecomo multiplicidade”.

Referem os autores que sendoeco um elemento de formação depalavras, quando associado agrafia (“ecografia”) ganha umadimensão de registo gráfico. Éassim que, através da inquiriçãode nove personalidades públicas,estas ecografias, no plural, traçamuma multiplicidade de repre-sentações da cidade, com ascoordenadas definidas por Au-gusto Santos Silva, Belmiro deAzevedo, Isabel Azevedo, JúlioMachado Vaz, Júlio Resende,Madalena Sá e Costa, Manoel deOliveira, Mário Cláudio e RuiReininho.

Um outro olharsobre a escola

Page 23: Dezembro de 2005

24 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

FENPROF exigiu no dia 12 de Dezembro, do Ministério da Educação, que o processonegocial de alteração do actual regime de concursos de professores respeitasse odisposto na Lei 23/98, de 26 de Maio, que regula a negociação colectiva na Adminis-tração Pública. Isto é, que sejam considerados os prazos, métodos e trâmites legaisestabelecidos, não admitindo que por razões de uma eventual eficácia do novo

diploma legal, no sentido da sua aplicação já no próximo concurso, o M.E. precipite a suaaprovação ainda que sem contar com o acordo das organizações sindicais.

A reacção da equipa ministerial a esta exigência da FENPROF foi extremamente negativapois, nas palavras do Secretário de Estado Adjunto e da Educação, o M.E. não estarádisponível para o que designou por “chicana” ou “expedientes” para fazer “resvalar” oprocesso negocial para além do designado limite temporal aceitável, sublinha uma notadivulgada na altura aos órgãos de comunicação social.

É curiosa e ofensiva esta reacção do M.E. quando se sabe que desde Setembro os seusresponsáveis vêm anunciando uma revisão do diploma de concursos, sendo da exclusivaresponsabilidade da equipa ministerial a entrega do anteprojecto de decreto-lei apenasem 5 de Dezembro. Ou seja, entre o anúncio da medida e o desencadear do processo negocialdecorreram 3 meses, sendo agora a entidade responsável por este atraso – o Ministério daEducação – que pretende impor prazos de negociação que desrespeitam aqueles que a própriaLei consagra.

Nesta reunião a FENPROF solicitou por escrito (ver ao lado) um conjunto de informaçõesque considera importantes para a elaboração do parecer sindical que será enviado ao M.E.dentro dos prazos legais estabelecidos na Lei 23/98, de 26 de Maio.

Nos termos do disposto noponto 3, do Artigo 3º, da Lei23/98, de 26 de Maio, queregula as condições doexercício dos direitos denegociação colectiva e departicipação dos trabalha-dores da AdministraçãoPública em regime de direitopúblico, a FENPROF solicitaao Ministério da Educaçãoas seguintes informaçõesque se consideram indispen-sáveis à fundamentação donosso parecer e das nossascontrapropostas:

1. Qual o número e com base em quecritérios serão criados lugares de quadrode escola para os três grupos da EducaçãoEspecial?

2. As categorias “Multideficiência” e“Intervenção Precoce na Infância” estãocriadas no grupo de docência E1. Por querazão(ões) estas categorias não seencontram previstas nos outros doisgrupos de docência, E2 e E3?

3. Tendo em consideração as escolasdo 1º Ciclo do Ensino Básico que deverãoencerrar já no próximo ano lectivo, qualo número de professores que, por estarazão, se prevê sejam abrangidos pelo

Projecto de do Ministério da Educação para recrutamentoe colocação de professores.

Descarregar documento (PDF) em http://www.fenprof.pt

FENPROF exige negociação sériados concursos e responsabilizaM.E. pelo atraso no iníciodo processo negocial

Nota à Comunicação Social

Processo de negde decreto que ado pessoal doce

Documento entregue pela

A

Solicitação de informações da Lei 23/98, de 26 de Maio

24 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

CONCURSOS

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JORNAL DA FENPROF 25DEZEMBRO 2005

mecanismo de transferência de lugar dequadro por ausência de componentelectiva?

4. Os estudos realizados pelo Ministérioda Educação permitem concluir qual apercentagem de docentes que, a partir dopróximo concurso, ficará abrangida pelaplurianualidade de colocação, designa-damente:

a) Obtida em resultado da entrada nosquadros por concurso externo?

b) Obtida em resultado de mudança dequadro por concurso interno?

5. Qual o número de horários quepoderão vir a ser objecto de reconduçãoplurianual na afectação dentro dos quadrosde zona pedagógica?

6. Qual o número de horários commenos de 12 horas lectivas foram preen-chidos este ano, até à data, no âmbito das

gociação sectorial do projectoaltera o regime dos concursosente

FENPROF em reunião com o ME de 12 de Dezembro no alvo

Ronda negocial com Ministério daEducação sem avanços. Plurianuali-dade e colocações sem lista graduadano centro dos protestos

As três federações sindicais representativasdos professores recusaram ontem aceitaras propostas do Ministério da Educação(ME) com vista a alterações a introduzir nalegislação sobre concursos. O braço deferro parece estar já instalado, com as trêsorganizações a denunciarem um clima “anti-negocial”.

José Manuel Costa, dirigente da FederaçãoNacional dos Professores, disse ao JN quea reunião, realizada no ME (12/12), “foi curtae improdutiva”. “Entregámos um documentoem que apresentávamos uma série dequestões e acabámos sendo insultados pelaequipa ministerial de usarmos expedientespouco sérios com o intuito de protelar oprocesso”, realçou.

O dirigente sindical referia-se ao facto de aFENPROF exigir por parte do ME a exis-tência de um prazo nunca inferior a 20 diaspara apreciação escrita sobre o conteúdodos projectos de diploma. Caso isto não sejacumprido, a FENPROF admite apresentarqueixa contra o Governo ao provedor deJustiça e director-geral da OrganizaçãoInternacional do Trabalho. (…)

Outra das novidades que está a gerar umapolémica acesa prende-se com a transfe-rência da responsabilidade do preenchi-mento dos horários inferiores a 12 horaslectivas para a esfera da competência dasescolas, sem o recurso à lista graduadanacional. De igual forma, o ME pretende queas colocações cíclicas deixem de ser da suaresponsabilidade a partir do início deNovembro. O processo seria, então,entregue às escolas, que não teriam derecorrer à lista graduada nacional.

As organizações sindicais não aceitamestas alterações, pois no seu entenderapenas tornam o processo pouco trans-parente, facilitando o compadrio.

JN, 13/12/2005

Concursos de professores

longe de um consenso

nos termos do disposto no ponto 3, do artigo 3º,

colocações cíclicas?

7. No “Memorando” entregue às orga-nizações sindicais em 12 de Novembro, oMinistério da Educação previa um critério paraa criação de vagas de QZP. Contudo, noanteprojecto enviado à FENPROF não se referequalquer critério, sabendo-se apenas que arevisão da dotação dos QZP se fará por despachoconjunto. Qual será o critério de referência aconsiderar no sentido dessa revisão?

A FENPROF aguarda que lhe sejamenviadas por escrito as informaçõessolicitadas para, nos termos e nos prazosprevistos nos pontos 12 e 13, do Artigo 10º,da Lei 23/98, de 26 de Maio, enviar a suaposição escrita sobre o projecto de diplomaque lhe foi enviado pelo Ministério daEducação.

Lisboa, 12 de Dezembro de 2005O Secretariado Nacional da FENPROF

DEZEMBRO 2005

Page 25: Dezembro de 2005

26 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

Direcção Regional do Norte

1. Alto Minho Norte: Melgaço, Monção,Paredes de Coura e Valença.

2. Alto Minho Litoral: Caminha, Pontedo Lima, Viana do Castelo e V. N. de Cerveira.

3. Alto Minho Interior: Arcos deValdevez e Ponte da Barca.

4. Braga Central: Braga, Vila Verde,Amares, Terras do Bouro, Póvoa de Lanhoso.

5. Braga Litoral: Esposende, Barcelos.6. Braga Interior: Fafe, Vieira do Minho,

Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto.7. Braga Médio-Ave: Guimarães, Vila

Nova de Famalicão, Vizela.8. Alto Tâmega: Montalegre, Boticas,

Ribeira de Pena, Chaves, Valpaços, VilaPouca de Aguiar.

9. Douro Norte: Vila Real, Peso da Régua,Murça, Alijó, Sabrosa, Mesão Frio, SantaMarta de Penaguião, Mondim de Basto.

10. Bragança Norte: Bragança, Macedode Cavaleiros, Miranda do Douro, Moga-douro, Vimioso e Vinhais.

11. Bragança Sul: Alfandega da Fé, Carrazedade Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Mirandela,Torre de Moncorvo e Vila Flor.

12. Douro Sul Oriental: Vila Nova de Foz Côa,S. João da Pesqueira, Tabuaço, Penedono,Sernancelhe e Moimenta da Beira.

13. Douro Sul Ocidental: Lamego, Armamar,Tarouca, Cinfães e Resende.

14. Entre Douro e Vouga Norte: Santa Mariada Feira, Castelo de Paiva, Espinho.

15. Entre Douro e Vouga Sul: S. João da Ma-deira, Oliveira de Azeméis, Arouca, V. de Cambra.

Tâmega

16. Baixo Tâmega: Amarante, Baião eMarco de Canaveses.

17. Vale do Sousa: Penafiel, Paredes,Lousada, Felgueiras, Paços de Ferreira.

Porto

18. Porto Norte: Santo Tirso, Trofa, Maia,Vila de Conde e Póvoa de Varzim.

19. Porto Central: Porto e Matosinhos.20. Porto Sul: Vila Nova de Gaia,

Gondomar e Valongo.

Direcção Regional do Centro

1. Aveiro: Ovar, Murtosa, Estarreja, Severdo Vouga, Albergaria-a-Velha, Aveiro,Ílhavo, Águeda, Vagos, Oliveira do Bairro,Anadia, Mealhada.

2. Viseu Norte: Vouzela, Oliveira deFrades, São Pedro do Sul, Castro D’Aire

3. Viseu Centro: Viseu, Nelas, Sátão,Mangualde, Penalva do Castelo, V. Nova de Paiva.

4. Viseu Sul: Mortágua, Santa CombaDão, Carregal do Sal, Tondela

5. Guarda: Guarda, Sabugal, Almeida,Pinhel, Figueira de Castelo Rodrigo, Meda,Trancoso, Aguiar da Beira, F. de Algodres,Celorico da Beira, Gouveia, Seia, Manteigas.

6 . Castelo Branco Norte: Covilhã,Fundão, Penamacor e Belmonte.

7. Castelo Branco Sul: Castelo Branco,Idanha-a-Nova, Vila Velha do Ródão,Oleiros, Sertã, Vila de Rei, Proença-a-Nova.

8. Coimbra Interior: Oliveira do Hospi-tal, Tábua, Penacova, Vila Nova de Poiares,Arganil, Lousã, Miranda do Corvo, Góis,Pampilhosa da Serra, Penela.

9. Coimbra Litoral: Mira, Cantanhede,Figueira da Foz, Montemor-o-Velho,Coimbra, Condeixa-a-Nova, Soure.

10. Leiria Norte: Pombal, Ansião,Figueiró dos Vinhos, Alvaiázere, Castanheirade Pêra, Pedrógão Grande.

11. Leiria Sul: Leiria, Marinha Grande,Batalha, Porto de Mós, Nazaré, Alcobaça.

Direcção Regional de Lisboa

1. Lezíria Norte: Vila Nova de Ourém,Ferreira do Zêzere, Tomar, Alcanena, TorresNovas, Entroncamento.

2. Lezíria Ocidental: Rio Maior, San-tarém, Cartaxo, Azambuja.

3. Lezíria Oriental: Mação, Sardoal,Abrantes, Constância, Golegã, Vila Nova daBarquinha, Chamusca.

4. Lezíria Sul: Alpiarça, Almeirim,Salvaterra de Magos, Coruche, Benavente.

5. Lisboa Cidade: Lisboa.6. Lisboa Norte: Vila Franca de Xira,

Loures, Odivelas.7. Lisboa Ocidental: Amadora, Sintra,

Oeiras, Cascais.

8. Oeste Norte: Caldas da Rainha,Óbidos, Peniche, Bombarral, Lourinhã,Cadaval.

9. Oeste Sul: Torres Vedras, Alenquer,Sobral de Monte Agraço, Arruda dos Vinhos,Mafra.

10. Península de Setúbal: Montijo,Alcochete, Moita, Palmela, Barreiro, Seixal,Almada, Sesimbra, Setúbal.

Direcção Regionalde Educação do Alentejo

1. Alentejo Central I: Vendas Novas,Montemor-o-Novo, Alcácer do Sal.

2. Alentejo Central II: Mora, Arraiolos,Évora, Viana do Alentejo, Portel.

3. Alentejo Central III: Estremoz, Borba,Vila Viçosa, Redondo, Alandroal, Reguengosde Monsaraz, Mourão.

4. Alto Alentejo I: Nisa, Castelo de Vide,Gavião, Marvão, Crato, Portalegre.

5. Alto Alentejo II: Ponte de Sor, Alterdo Chão, Avis, Fronteira, Sousel.

6. Alto Alentejo III: Arronches, Mon-forte, Campo Maior, Elvas.

7. Baixo Alentejo e Alentejo Litoral I:Grândola, Santiago do Cacém, Sines.

8. Baixo Alentejo e Alentejo Litoral II:Odemira.

9. Baixo Alentejo e Alentejo Litoral III:Alvito, Cuba, Vidigueira, Ferreira do Alentejo,Aljustrel, Beja.

10. Baixo Alentejo e Alentejo LitoralIV: Ourique, Castro Verde, Mértola, Almo-dôvar.

11. Baixo Alentejo e Alentejo LitoralV: Serpa, Moura, Barrancos.

Direcção Regionalde Educação do Algarve

1. Barlavento: Aljezur, Vila do Bispo,Lagos, Monchique, Portimão, Lagoa, Silves.

2. Centro I: Albufeira, Loulé, Faro.3. Sotavento: Olhão, São Brás de

Alportel, Tavira, Alcoutim, Castro Marim,Vila Real de Santo António.

Proposta da FENPROF de reduçãodo âmbito geográfico dos QZP’s

26 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

CONCURSOS

Page 26: Dezembro de 2005

JORNAL DA FENPROF 27DEZEMBRO 2005

Na sequência da greve convocada pelaFENPROF e SINDEP para o dia 18 deNovembro, a direcção do SPE/FENPROF,reunida em Paris, em 13/11/2005, para de-bater assuntos relacionados com osproblemas decorrentes das políticasanunciadas pelo Governo relativamente aoEnsino Português no Estrangeiro (EPE), vemapresentar a V.Exa. algumas dessas preocu-pações e pedir a sua intervenção, no âmbitodas competências que lhe são próprias,enquanto representante de Portugal nestepaís, de forma a que, no respeito daConstituição portuguesa, se proteja o direitoà educação dos filhos dos cidadãosportugueses que trabalham e vivem noestrangeiro, tendo em conta os acordoscelebrados com os países de acolhimento.

As medidas anunciadas pelo actualGoverno relativamente ao ensino da línguae cultura portuguesas no estrangeiro põemem causa esse direito.

Preocupa-nos a gravidade dessasmedidas e a forma como as mesmas sãodivulgadas pelo Governo, à margem do queé habitual num Estado de direito, ou seja,sem recurso à via negocial.

A alteração do regime jurídico dosprofessores de português no estrangeiro ea introdução de novas modalidades deensino são, entre outras, algumas dasmedidas anunciadas, sem a prévia consultados sindicatos representativos dos pro-fessores.

A direcção do SPE/FENPROF, considerafundamental:

1 – A defesa do ensino da língua ecultura portuguesas a que tem direito acomunidade portuguesa residente na Suíça,como forma de preservar a sua identidadecultural e de fortalecer os laços que a ligama Portugal;

2 – Que Portugal assuma a sua respon-sabilidade nesta matéria, pois remetê-lapara as autoridades locais, sem qualquer

garantia de futuro, ou abandoná-la nasmãos de associações não vocacionadas paraesse fim, equivale a uma situação defracasso e ao desaparecimento progressivodo ensino da LCP na Suíça.

3 – Que a rentabilização dos recursoshumanos e as falsas economias não sirvamde pretexto para que o Governo passe ainvestir cada vez menos no ensino doportuguês no estrangeiro, com evidentesprejuízos para a sua qualidade;

4 – Que o Governo respeite os direitosdos professores de ensino português noestrangeiro, adoptando uma política decoerência e assumindo, em tempo útil, osseus compromissos, pois são várias asquestões que se encontram há muito temposem resposta:

a) Sistema de protecção social, quefindará em 31/12/2005 sem que se tenhaacordado um sistema de substituição;

b) Desde Janeiro de 2000 que os saláriosdos professores de ensino português noestrangeiro não sofreram alterações;

c) Desde 2002, o Ministério da Educaçãopromete, mas não cumpre, enquadrar osprofessores de ensino português no estran-geiro na legislação existente sobre osubsídio de desemprego, de forma a que osprofessores contratados possam a ele teracesso, nas mesmas condições que os seuscolegas contratados em Portugal;

A direcção do SPE/FENPROF, terá inteiradisponibilidade para iniciar e desenvolveruma colaboração activa e leal com oGoverno, na definição das políticas educa-tivas, em que, inclusive, seja tida em contaa rentabilização dos recursos, desde que nãoseja posta em causa a qualidade do ensinoe o sucesso escolar dos alunos.

Finalmente, a direcção do SPE reitera opedido de intervenção de V.Exa. junto doGoverno, de maneira a encontrar asmelhores soluções para os problemas queafectam o ensino português na Suíça.

ENSINO PORTUGUÊS NO ESTRANGEIRO

Carta do SPE ao Embaixadorde Portugal na Suíça

no alvo

Está ameaçado “o direito à educação dos filhos dos cidadãos portuguesesque trabalham e vivem no estrangeiro, tendo em conta os acordoscelebrados com os países de acolhimento”. O alerta é dado pelo Sindicatodos Professores no Estrangeiro (SPE/FENPROF), numa carta recentementeenviada ao Embaixador Português na Suíça. Esclarece o SPE:

“O Governo, numa posição de maioriaabsoluta, despreza o diálogo e aconcertação social, tem uma arrogânciamuito clara em relação aos seusinterlocutores legítimos da educação -e os sindicatos são historicamenteagentes e actores legítimos no sectorda educação e quando se queixam,queixam-se com razão”.

“Não há um pensamento único sobreEducação. Qualquer caminho tem queser concertado e acordado se quiser teralguma viabilidade. Ninguém no seuperfeito juízo pode dizer: o caminho ésó este...”

“Há valores como o colectivo, a solida-riedade, a justiça social que são cadavez mais pertinentes, num mundo cadavez mais desigual”.

“Grande parte dos problemas com que osprofessores se defrontam hoje nas escolassão a tradução das desigualdades”

“Os rankings, as avaliações, os exames,os PISAS, o que avaliam cada vez maisé o desempenho cognitivo dos alunos,obrigando os professores a sereminstrutores”

“A sociedade devia reconhecer mais asdificuldades que surgem nas escolas, notrabalho quotidiano dos professores, ostress, as angústias, a instabilidade, aansiedade. Refiro-me a dificuldades edesafios para os quais é muito difícil quea Escola encontre respostas”

“Hoje há muita gente a fazer discursossobre o que é ensinar, o que é a escola,o que é um professor, desconhecendocompletamente os quotidianos daescola e da profissão”

Destaques da en-trevista concedidapelo Professor Al-merindo JanelaAfonso, da Univer-sidade do Minho,ao jornalista JoséPaulo Oliveira (edi-ção de Dezembroda “Intervir”, SPZS).

O prestigiado docente e investigador integrao Departamento de Sociologia da Educaçãoe Administração Educacional do Instituto deEducação e Psicologia daquela Univer-sidade.

JORNAL DA FENPROF 27

Page 27: Dezembro de 2005

28 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

m Portugal há cerca de 1800 cursosdo ensino superior com quase 900designações diferentes. Tal nãosignifica, porém, que o número delicenciados tenha atingido o valor

ideal (11% da população entre os 25 e 64anos contra 22,5% da EU25) ou que haja umnúmero tão variado de conteúdos a seremleccionados e ao mesmo tempo a ser objectode investigação. Esta diferenciação resultade uma engenharia de sobrevivência daspróprias instituições, com o apoio explícitodos diversos governos e dos ministérios datutela, nomeadamente dos que tiveram comoprincipal responsável o actual ministro daCiência, Tecnologia e Ensino Superior, MarianoGago.

Existe hoje legislação aprovada pelo governoPSD/PP que prevê a extinção de cursos commenos de 10 novas entradas num ano, para alémde outros aspectos, legislação essa que foiassumida pelo actual ministro, o qual admitemesmo vir a encerrar os cursos com menos de20 alunos inscritos no 1.º ano, até 2009.

É, pois, com base nesta notícia que oExpresso de 12 de Novembro refere que, aser efectivamente executada, esta medidalevará ao recrudescimento do desemprego noensino superior. Porém, se é verdade que emalguns cursos tal poderá acontecer, noutrostal não constitui qualquer perigo. Porém, osgraves prejuízos para os potenciais públicosserão evidentes. Existe mercado de trabalhopara os jovens licenciados que ingressam emcursos que o Governo quer abolir, apesar de

não trazerem qualquer acréscimo deencargos para o Estado. O exemplo do cursode Engenharia de Materiais da Universidadede Coimbra é um caso em que o corpodocente pertence a diversos departamentosdesta instituição (Engenharia Mecânica,Matemática, Física ou Química, por exem-plo). Muitos destes professores/investiga-dores pertencem a unidades de investigaçãocom contratos de I&D internacionais emunidades de investigação com classificaçãode Excelente. Uma significativa parte dosseus alunos já trabalha e os recém licen-ciados encontram colocação em poucosmeses. No entanto, estão na lista dospotencialmente a extinguir uma vez que esteano o Ministério de Mariano Gago já lheimpôs zero de numerus clausus.

Outros cursos há, que, criados em nomeda necessária sobrevivência de instituições ouem nome de interesses que seria interessanteapurar, com designações diferentes, fazempraticamente o mesmo o que é insustentável(veja-se o caso de “Electrotecnia e Com-putadores” ou “Informática e Telecomuni-cações” que, sendo de áreas cientificas etecnológicas próximas, poderiam fundir-se eestabelecer ramos diversos). Ou ”Design eTecnologias de Desenvolvimento do Produto”que deixa qualquer candidato ao ensino su-perior sem saber se se trata de um curso deDesign ou de, por exemplo, EngenhariaMecânica ou Industrial.

Muitos destes cursos foram homologadospor Mariano Gago e há até governantes na

Tendo em conta a situação preocupante que se está a viver nosDepartamentos das Faculdades de Letras em que se ensinamlínguas estrangeiras, com a redução drástica do número dealunos e consequente pressão das instituições no sentido de“libertarem pessoal excedente”, a FENPROF lançou um inquéritoa realizar junto dos leitores, de forma a encontrar formas deintervenção em defesa da sua situação profissional e da procura

ENSINO SUPERIOR

Encerramentode cursos:talvez, mas…

Opinião

Luís Lobo* (Secretariado Nacional da FENPROF)

Área da Educação que ajudaram a criá-los,como é o caso de Valter Lemos. O actualSecretário de Estado da Educação, enquantodirigiu um Politécnico, permitiu que seduplicassem Departamentos (Departamentode Engenharia Informática e o Departamentode Engenharia das Tecnologias da Informação)e cursos (Curso de Engenharia Informática, Cursode Engenharia Informática e das Tecnologias daInformação e o Curso de Informática para aSaúde).

O problema principal não é, então, o darazão de existir de alguns cursos, mas sim oda sua necessária reestruturação e inevitávelenquadramento legal.

É por isso que o bom senso e o sentido deresponsabilidade aconselhariam, em primeirolugar, a suspender quaisquer criações eencerramentos de cursos, para, depois, avaliaras designações comparativamente com osseus currículos e fazer uma classificação doscursos mais limitada, de forma a criarem-seregras comuns de acesso e conteúdos comunsno percurso da sua frequência como condição,até, de maior mobilidade.

Qualquer opção que não passe por isto,envolvendo o CRUP, o CCISP e as organi-zações sindicais, até pelas implicações sócio-profissionais que comporta, será obviamentesuicidária, por ser cega perante a lei, a qual,como se vê, é negativa e por isso deve serrevogada.

* Com Nuno Rilo (docente da FCTUC edirigente sindical do ensino superior)

de soluções para o seu enquadramento contratual satisfatório.Os resultados deste inquérito constituirão a base de trabalhopara a preparação de um Encontro Nacional de Leitores,organizado pela FENPROF e a promover com outrasorganizações sindicais, que se realizará na primeira quinzenade Fevereiro de 2006, em Coimbra.

LL

Encontro nacional de leitores das universidades portuguesas

E

Page 28: Dezembro de 2005

JORNAL DA FENPROF 29DEZEMBRO 2005

Assembleia da República negou (30/11/2005) aos docentes do ensino su-perior público e aos investigadoreso direito constitucional a teremsubsídio em situação de desemprego

involuntário. Em comunicado de imprensadivulgado no próprio dia da decisão tomadapela maioria governamental em S. Bento, aFENPROF, através do seu Departamento doEnsino Superior e Investigação, sublinha:

“Rompendo com promessas feitas, amaioria do Partido Socialista chumbou umprojecto de lei (apresentado pelo PCP) paraatribuição do subsídio de desemprego aosdocentes e investigadores contratados porinstituições do ensino superior e de inves-tigação públicas. Foi acompanhada na votaçãopelo PSD e pelo PP. Augusto Santos Silva,Ministro dos Assuntos Parlamentares argu-mentou na A.R. que a questão do subsídio dedesemprego estava a ser negociada peloGoverno com as estruturas sindicais”.

“Com todo o rigor se pode dizer queAugusto Santos Silva, Ministro e Académico,faltou à verdade! As declarações públicasdo Ministro da Ciência, Tecnologia e EnsinoSuperior desmentem-no”, observa a Fede-ração, que recorda a dado passo:

“Instado pela FENPROF, na reunião dopassado dia 4 de Novembro, o que oMinistro Mariano Gago claramente expri-miu foi:

1º - estar o assunto na esfera daAssembleia da República;

2º - manter-se a intenção de “o Governovir a legislar sobre o subsídio de desempregodos docentes do ensino superior público,caso a Assembleia da República não ofizesse durante a aprovação do Orçamentode Estado”.

“O mesmo referiu em entrevistas aosórgãos de comunicação nos dias seguintes.Ninguém poderá de boa fé chamar a istonegociação. Antes poderá ver já uma formavelada de dizer que o PS não deixariaaprovar o diploma”, acrescenta a nota deimprensa da Federação Nacional dosProfessores, que lembra em seguida:

“Já em 1994, no seguimento de umaqueixa que lhe fora apresentada pelaFENPROF, o Provedor de Justiça pediu aintervenção do Tribunal Constitucional queem 2002 “dá por verificado o não cumpri-mento da Constituição por omissão dasmedidas legislativas necessárias para tornarexequível o direito previsto na alínea e) donº 1 do seu artigo 59º relativamente aostrabalhadores da Administração Pública”.

“Insistiu também o Provedor de Justiçajunto do actual Governo, a pedido daFENPROF, para que fosse encontrada umasolução para esta falta de apoio em situaçãode desemprego, julgada inconstitucional,informando ainda a FENPROF dos seusesforços infrutíferos junto dos XV e XVIGovernos”, regista o Departamento do Su-perior.

Partido do Governorasga compromissos

“Recorda-se ainda”, prossegue o docu-mento da FENPROF, “que há precisamenteum ano e nas mesmas circunstâncias (emsede de discussão do OE 2005) o grupoParlamentar do PS afirmava perante osdocentes do ensino superior que:

- considerava “legítimo e da maiselementar justiça social o reconhecimento dodireito à protecção na eventualidade dedesemprego por parte dos docentes do ensinosuperior público, pondo-se termo, deste modo,a uma desigualdade relativa face aos demaisdocentes do ensino público e privado.”

- assumia “o compromisso de que afinalização da discussão e votação dareferida iniciativa legislativa deverá ocorreraté ao final da discussão do Orçamento deEstado para 2005, sem o que o PartidoSocialista de imediato forçará a discussãoe votação independentemente do PSD terou não na sua posse os elementos que aleganecessitar”,

- responsabilizava “os Partidos da(então) maioria por inviabilizarem aaprovação atempada de um regime jurídicoque, repetimos, consideramos legítimo efundamental para a salvaguarda dos direitosdos docentes do ensino superior público.”

“O Grupo Parlamentar do PS rasgou oscompromissos assumidos!”, alerta o comu-nicado sindical, que conclui:

“A FENPROF mantém a exigência aoGoverno e ao Ministro da Ciência, Tecnolo-gia e Ensino Superior, de negociação epublicação urgentes de um diploma quepermita atribuir já em 2006 o subsídio dedesemprego aos docentes do ensino supe-rior e aos investigadores do sector público.

“O subsídio de desemprego é um direitode subsistência que a todos assiste. É, nãosó um direito social, como também, no casode algumas situações mais complexas (queexistem), uma questão de direitos humanos.Por essa razão, a FENPROF se tem batido ebaterá fortemente pela sua consagração.

A FENPROF exige agora do MinistroMariano Gago e do Governo a assumpçãodas suas responsabilidades! É uma questãode credibilidade.”

FENPROF exige início urgente de processo negocialMaioria do PS na Assembleia da República chumba projecto de lei paraatribuição do subsídio de desemprego aos docentes e investigadores dasinstituições públicas do ensino superior e de investigação

“O subsídio de desemprego é um direito de subsistência que a todos assiste. É nãosó um direito social, como também, no caso de algumas situações mais complexas(que existem), uma questão de direitos humanos. Por essa razão, a FENPROF setem batido e baterá fortemente pela sua consagração.A FENPROF exige agora do Ministro Mariano Gago e do Governo a assumpçãodas suas responsabilidades! É uma questão de credibilidade”, salienta oDepartamento do Ensino Superior e Investigação da FENPROF.

Uma questão de Direitos Humanos

A

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30 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

Uma delegação da FENPROF,chefiada pelo Secretário--Geral, Paulo Sucena, visitouAngola a convite da Federaçãodos Trabalhadores da Edu-cação e da União Nacional dosTrabalhadores Angolanos(UNTA).

insistência dos colegas e cama-radas angolanos tinha o intuito demostrar aos seus companheirosportugueses a realidade de Angolaem matéria de Educação, para além

de permitir o contacto dos dirigentesportugueses com professores e governantesangolanos contribuindo para o estreita-mento de laços no sentido de, no futuro,poderem ser desenvolvidas formas decooperação e trabalho conjunto.

Foram vários dias de muito trabalho emuitos quilómetros mas que valeram apena. Em Lobito, Benguela, Bocoio, Huambo,e Luanda foram inúmeras as actividadesdesenvolvidas. Reuniões com professores,com a direcção da Federação e dos seusSindicatos provinciais foram diárias. AFENPROF reuniu ainda com o Secretário--Geral da UNTA e outros membros do seuSecretariado, e também com o vice-ministroda Educação, o administrador de Bocoio eo vice-governador de Huambo. Houve aindatempo para visitar escolas e contactar comas respectivas direcções e os seus profes-sores tornando possível conhecer asprincipais carências do país no domínio daEducação. Mas não apenas neste domínio,pois 27 anos de guerra deixam sequelas quese tornaram visíveis em cada esquina, emcada rua, em cada edifício, em cada rosto...e que estão ainda longe de se encontrarcompletamente superadas.

Conhecida a realidade, virá agora aconsequência natural: o desenvolvimento.

Chegar a Angola poderá ser verdadeira-mente traumatizante, principalmente se asaída do aeroporto 4 de Fevereiro se der pelaala mais próxima da que, depois de uma curtaviagem de táxi, dá acesso aos voos domésticos.

O primeiro contacto é do pior: gente quese pendura, que agarra na bagagem, que pedeeuros ou dólares (a repartir pelo próprio e pelofiscal da alfândega) para que a mala não sejaaberta, gente que insiste até à exaustão eanuência quase forçada do visitante.

Cá fora, o que se vê também não éanimador. Para além de um forte calorhúmido, o caos é representado peladesordenada arrumação dos automóveis sósuperada pela confusão dos que circulam ebuzinam desenfreadamente. À medida quea estrada avança o pó parece tomar contade tudo o que sobre ela se levanta sejamcasas, árvores ou pessoas. Algumas cons-truções em chapa e tijolo, muitas transfor-madas em bares e lojas, trazem-nos àmemória velhas imagens dos “bidonvilles”de Paris, notando-se um frenético eininterrupto vai-vem de corpos negros quecirculam num vazio que não é visível masfaz arrepiar. Os que passam, de tãohabituais, já nem perdem tempo a cumpri-mentar os que se sentam em bancosimprovisados fazendo guarda a pequenosbalcões instáveis onde se exibem gasosas,cucas, calças, galinhas, chinelos de enfiar odedo, ventoinhas, dólares... e tudo o que nãose vê mas qualquer um adivinha que, sepedir, vai aparecer.

Sair de Luanda e visitar outras locali-dades - seja Benguela, Catumbela ou Lobito,Bocoio ou Huambo - tem sempre de comume muito visível o que resulta de uma guerrade quase três décadas, fratricida e parti-cularmente violenta: as casas perderam acor, as paredes ganharam buracos, muitosburacos das balas, as ruas encheram-se como pó que substituiu o alcatrão, nas árvorese nos jardins há muito verde que continuaa não pintar a paisagem. Os mercados(praças) e os vendedores de rua enchem ochão de sacos e de papéis que rapidamente

se espalham levados pelo vento quente doestio, quebrados apenas quando atropeladospela mota guiada habilmente pelo jovemtaxista.

Aqui e além, fruto do esforço dereconstrução nacional, despontam já novasescolas que germinam sobre os escombrosdas que a guerra engoliu, mas, ainda assim,insuficientes para colmatarem as sequelasde um longo período em que o fogo faloumais alto do que os professores. Paradig-mático é o velho liceu de Benguela, commilhares de alunos, que funciona sem umúnico vidro nas janelas do imponenteedifício em que está instalado.

“A nossa prioridade é quase tudo!”

Mas Angola é rica. Muito rica por baixo,com os seus diamantes e o seu petróleo, etambém por cima onde uma luxuriantevegetação, ornada de frutos suculentos edebruada a mar e areia, não deixa que nosenganemos. Porém, a riqueza de Angola re-side principalmente no seu povo. O povo que,diz-se, nunca deixou que o sorriso aban-donasse os seus lábios ou o semba os seusmovimentos, mesmo nos momentos maisdifíceis de uma guerra que dividiu irmãos.

É esse povo, de pele negra apenasesbranquiçada pelo pó da estrada ou pelaareia da Baía Azul, que nunca deixou ou secansa de sonhar com o futuro. E é por sonhartão alto e de forma tão nobre que o povocontinua a rir e a dizer, com profundaconvicção, que dentro de alguns anos a suaterra estará irreconhecível e deixará todasas outras a grande distância.

Apesar das feridas que, sente-se, aindanão estão completamente saradas, percebe--se que Angola encontrou e percorre, deforma determinada, o caminho da recons-trução. Um rumo que Angola segue comosó Angola sabe: ao som do quisomba doHandanga e ao ritmo acelerado dos miúdosque, de cara feliz, voltaram a correr atrásda bola, na rua, sem medo dos tiros.

De olhos e ouvidos nos Palancas Negras

INTERNACIONAL

FENPROF desenvolve cooperaçãocom professores angolanos

A

Mário Nogueira (Secretariado Nacional da FENPROF)

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JORNAL DA FENPROF 31DEZEMBRO 2005

que estarão no “Alemanha 2006”, os coraçõesangolanos explodem ainda com os golos dosseus irmãos portugueses, tanto na vertenteselecção, como na dos gloriosos Sporting,Benfica e Porto. Mas logo depois do jogo, quetudo pára, é a reconstrução que avança de novo.E não volta a parar mesmo que no ar paire afragrância dos sabores da terra e das gentes,da jinguinga ao calulu, da cabidela à muamba.Pelo contrário, o ritmo da reconstrução é fortee certo como o da velha cozinheira que, de pésdescalços sobre o fogo, enrola o funge debombó, ou o do velho soba que marca, de apito,o ritmo dos pés descalços que fazem soar oschocalhos presos às pernas das mais velhas daaldeia. Apesar de frenética, a reconstrução ésegura, tão segura como a que releva dapreocupação dos hotéis que, em cada mesa decabeceira, colocam o candeeiro ao lado da Bíbliae, sobre esta, o “pack” de camisinhas.

Aqui e além, há portugueses que seencontram. Alguns nunca deixaram a terra oua ela regressaram logo que foi possível. Outroshá que ali chegaram à procura de melhor vida,mas logo se renderam e da terra se fizeramfilhos contribuindo hoje também, com o seutrabalho, para a reconstrução nacional.

Nós, visitantes que entrámos desconfiados,saímos felizes. Uma felicidade que nos foitransmitida por um povo que diz “ A nossaprioridade é quase tudo!”, mas nem por issodeixa que lhe fuja o sorriso dos lábios apesarda ciclópica tarefa que tem pela frente.

E é por isso, por sentirmos a grandeza daquelepovo e daquela terra, que não conseguimos evitaruma lágrima na hora de partir. Não de tristeza,mas já de uma saudade que não teve tempo parase instalar. É então que compreendemos melhoro que terão sentido os que dali partiram semque fosse essa a sua vontade...

Por sermos solidários deixamos que alágrima nos desça a face e somos levados a jurar,quando o salgado nos beija os lábios, quemesmo longe, “lá no Portugal”, vamos estar nareconstrução porque Angola precisa e mereceo nosso apoio solidário.

Bem-haja, povo angolano, pela grande liçãoque permites que nós, simples visitantes, de tirecebamos. Uma lição de confiança, determi-nação e esperança num futuro melhor que épreciso construir porque, como disse o ZéLaurindo no Bocoio, nada vem do céu!

Do fundo de um coração solidário é commuito carinho que, desta terra também ela degente boa, vos grito: “i kuvana moko mambutankati ntchi yeto ya Angola!”.

“Um Abraço do tamanho de Angola!” -tradução em kicongo, língua nacional do nortede Angola (Uíge).

Reunião de Professores de Bocoio (Distrito de Benguela),com a presença da delegação da FENPROF

Reunião da delegação da FENPROF com o Secretário Geral da UNTA- União Nacional dos Trabalhadores Angolanos

Angola segue um rumo como só Angola sabe: ao som do quisombado Handanga e ao ritmo acelerado dos miúdos que, de cara feliz,voltaram a correr atrás da bola, na rua, sem medo dos tiros.

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FÓRUM SOCIAL IBÉRICO PELA EDUCAÇÃO

ivemos uma situação mundial emque uma racionalidade instrumen-tal dominante, ao nível da cons-trução da ciência e da técnica, dácobertura e legitimidade à merca-

dorização da educação, dos nossos sonhose das nossas vidas.

Mas, se um “outro mundo é possível”,uma “outra educação é necessária”.

Inscrito na orientação da Carta dePrincípios do Fórum Social Mundial e doFórum Mundial de Educação, o Fórum So-cial Ibérico Para a Educação configura-sena preocupação contra-hegemónica deconvocar a centralidade de uma educaçãoemancipadora, como determinante nareinterpretação da actual conjunturahistórica, em favor da justiça social, daigualdade e da solidariedade. Em respostaà mundialização da investida neo-liberal, aacção local no campo educativo, emoposição a todas as formas de alienação,não pode perder o sentido planetário.

O Fórum Social Ibérico Para a Educaçãoafirma-se:

Pelo direito universal a uma educaçãopública, gratuita e laica, da mais altaqualidade, comprometida com um projectoemancipatório, desestabilizador de umaordem mundial que, no local, actualiza aopressão e a injustiça.

Por uma educação que resgate oconceito de “educação ao longo da vida”da apropriação e recuperação capitalistaque o vem tornando funcional aos desígniosneoliberais.

Por uma educação que não se conformecom as desigualdades sociais, que não são

de raiz natural mas uma construção social,portanto, elimináveis.

Por uma educação formal e não formalque se afirme contra todas as formas deexclusão e se reveja na singularidade dossujeitos e das comunidades, na consideraçãoda diversidade de género, de etnia, decultura e de orientação sexual.

Por uma escola pública que não seja umlugar de aprendizagem da sujeição mas daemergência de sujeitos solidários e reabiliteo direito ao inconformismo e à indignação.

Por uma formação dos agentes educativosque se reconheça na sua influência deter-minante nas políticas educativas e na políticaem geral, questionante da trivialização e danaturalização de relações humanas decompetição exacerbada e de violência mate-rial e simbólica que uma educação, tornadamercadoria, desenvolve dentro de si.

Por uma educação que elucide o sentidode uma cidadania global como um campode luta pela justiça e pela paz.

Em consequência, a primeira edição doFSIPE propõe, na sua declaração final:

Encontrar e articular formas de lutacolectiva consequente contra a privatizaçãode todos os serviços públicos ligados àeducação.

Denunciar o efeito de currículos que nãoincluam a todos e a todas e transformamas diferenças em desigualdade.

Exigir que os governos do EstadoEspanhol e de Portugal retirem a suaassinatura do Acordo Geral sobre Comércioem Serviços, nas alíneas que se referem àprivatização dos serviços públicos daeducação e da saúde.

Carta de Córdova

V

Na sequência donúmero anterior, o«JF» continua a

dar conta, nesta edição, do que foio Fórum Social Ibérico para aEducação (FSIPE), que decorreuem Córdova, (Espanha) entre osdias 29 de Outubro e 1 de No-vembro, e no qual participaramdiversos dirigentes dos sindicatosda Fenprof.

“Educação e Globalização” foio tema enquadrador do primeirodia, com uma conferência protago-nizada por Luísa Cortesão (InstituoPaulo Freire, Portugal), JurjoTorres (Universidade da Corunha,França) e Régine Tassi (ATTAC,França) e dois debates temáticos:“Mercantilização e Privatização daEducação” e “Educação comoinstrumento de resistência aoneoliberalismo”. No segundo dia,Esteban Tabares e OusseinonuDieng (Projecto Sevilha Acolhe,Espanha) e Sérgio Niza (Movi-mento da Escola Moderna, Portu-gal) dividiram a conferência “Edu-cação e Cidadania Global”, à qualse seguiram dois debates (“Demo-cratização da educação” e Cida-dania e diversidade”) e duas me-sas de diálogos: “Escola laica” e“Situação e desafios dos sistemaseducativos em Portugal e noEstado espanhol”. Paulo Sucena(Fenprof, Portugal) Marta Mata(Movimento Rosa Sensat, Es-panha) e Roberto Silva (InstitutoLatino-Americano das NaçõesUnidas, Brasil) proferiram a con-ferência da derradeira jornada”––“Educação Pública como DireitoUniversal”. Seguiram-se os de-bates “Educação como base dejustiça social” e “Educação epoliticas públicas” e uma mesa-redonda que destacou o “Papeldos diferentes membros da comu-nidade educativa na vida doscentros escolares”.

António Baldaia

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JORNAL DA FENPROF 33DEZEMBRO 2005

ntes de tudo, pretendo afirmar comtotal clareza que os trinta anos dedemocracia proporcionaram, ape-sar de políticas de sinal contrário,evidentes progressos na área da

educação. Devem ser assinaladas, entreoutras, melhorias como o notável aumentoda escolarização, principalmente no EnsinoBásico, com o alargamento da escolaridadeobrigatória para nove anos, o enorme saltona frequência do Ensino Superior, ocrescimento do número de licenciados,mestres e doutores – pese embora odesemprego que atinge muita gente comaquelas qualificações académicas –, agestão democrática das escolas, o aumentodo parque escolar, desde os jardins-de--infância às universidades, etc., etc.

Portugal está inequivocamente longedos países do Terceiro Mundo, mas constatarisso e, por essa razão, sentarmo-nosplacidamente na cadeira dessa tão precáriasatisfação é hipotecar o futuro e o desenvol-vimento do país, porque ambos implicamum esforço inteligente e consistente deaproximação aos padrões dos países doPrimeiro Mundo. Não ser, na Europa, um paísdo Terceiro Mundo não pode ser nunca arazão suficiente para a alegria de um povo.

Na verdade, o país tem-se confrontadocom uma política educativa que vemasfixiando o modelo de crescimentoeconómico português, assente numapopulação com um nível de escolaridadebastante baixo. Os dados do censo de 2001,publicados pelo Instituto Nacional deEstatística, comprovam o que acabo de dizer.

Verifica-se que, em pleno século XXI,continua a persistir uma triste realidade:31% da população empregada continua apossuir apenas o 1º Ciclo do Ensino Básico,ou ainda menos; 62,6% têm o 3º ciclo, ounem isso; se tivermos em conta a populaçãoempregada com o 3º ciclo completo, elarepresenta apenas 7,3%.

A integração de Portugal num espaçoeconómico muito amplo e fortementecompetitivo, sujeito a frequentes e acele-rados processos de transformação, exige que

a população activa do país esteja emcondições de responder aos desafios queeste século lhe vai colocar no decurso dosanos.

Essa preocupação política deve sercolocada nos primeiros lugares dos progra-mas dos governos, porque Portugal apre-senta um fraco grau de qualificação damão-de-obra e um número de participantesem acções de educação e formação muitoinferior à média europeia, a que acresce umapreocupante percentagem de jovens entreos 18 e 24 anos que deixa prematuramenteo sistema escolar.

Por tal razão a Comissão Europeiainforma, para Portugal, ser necessário“conceber e aplicar uma estratégia globalde educação e formação ao longo da vidaque vise igualmente o problema das saídasprecoces do sistema escolar, fixe objectivos

claros e atribua meios para agir. Em par-ticular, deve ser dada uma atenção espe-cial à qualidade do ensino e da formação afim de evitar insuficiências na qualificação”.

Estes são dados extremamente nega-tivos, que nos afastam seriamente dosoutros parceiros da União Europeia. É, pois,urgente e prioritário encontrar respostasarticuladas entre a qualidade de ensino dosistema público e um amplo e democráticosucesso dos seus alunos e o que se faz nodomínio da educação ao longo da vida e naformação profissional contínua. Estamos,portanto, perante a necessidade de sepromoverem diferentes políticas públicasque conduzam ao aumento das qualifica-ções académicas e profissionais dostrabalhadores, com vista à redução dasdesigualdades sociais e também visandoevitar a expansão de camadas sociais sem

Uma cidadania responsávelpassa por uma Escola Pública de Qualidade

Intervenção de Paulo Sucena

A

Os sistemas educativos devem ter a flexibilidade suficiente para permitiremuma resposta eficaz em diversos contextos, mas sempre de modo a que aconstrução de uma democracia plena, a paz e o desenvolvimento sejam ofundamento dos processos educativos, qualquer que seja a sua renovação.

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34 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

qualquer perspectiva de uma verdadeira esólida inserção social e laboral.

Esses grandes desígnios obrigam a quese ponha termo às profundas tensões queabalam o sistema educativo e o mergulha-ram numa inequívoca crise estrutural e sec-torial. A necessária superação do “statu quo”educativo passa pela expansão de umaEscola Pública de Qualidade para todoscomo uma opção política indispensável àstransformações sociais que permitam aconstrução de uma sociedade em que amaioria dos trabalhadores estejam munidosdas capacidades e conhecimentos queimpulsionem a sua participação activa, querno domínio do pensamento, quer no daacção, tendo como objectivo a edificação edinamização de uma democracia política,social, económica e cultural.

Sabemos que ainda estamos longe dessedesígnio, mas tudo passa por não desistirde lutar e por saber reforçar a confiança nofuturo. Nesse sentido, tenha o país a certezade que, mesmo no mar de incertezas donosso presente, nós, professores e educa-dores, assumimos a responsabilidade socialde educar e não delegamos nem nomercado, nem na tecnocracia, nem nos“iluminados” dos gabinetes ministeriais, opoder de definir o nosso projecto educativo,nem tão pouco permitimos que, pelo factode todos nós termos responsabilidades naeducação pública, se esfume a incontornávelresponsabilidade do Estado neste campo,porque o Estado é quem melhor pode garantiruma escola de qualidade para todos.

Os professores estão conscientes de quesão necessárias mudanças e transfor-mações. O próprio mundo muda de umaforma cada vez mais acelerada, ainda quenem sempre para melhor. É por isso quetodos nós nos empenhamos para que adirecção das mudanças seja em benefícioda humanidade. Por isso, não seremosespectadores passivos de injustiças, dedesigualdades, de violências, de corrupções,ainda que alguns gostassem de nos vercomo meros técnicos processando adminis-trativamente os resultados do insucessoescolar – fermento desse flagelo modernodesignado por exclusão social.

Papel que recusamos porque, hoje emdia, toda a gente reconhece que a demo-cracia, a paz e o desenvolvimento setransformaram em componentes imprescin-díveis da evolução das sociedades. Porém,não há desenvolvimento sustentável sempaz, do mesmo modo que não há paz semdesenvolvimento, e não há ambas as coisas

sem democracia e nada disto se alcançaplenamente se não se assegurar o direitode todas as crianças e jovens a umaeducação de qualidade.

A vida dos cidadãos depende da dinâ-mica que se estabelecer entre estesdiferentes aspectos. Por sua vez, os sistemaseducativos devem ter a flexibilidadesuficiente para permitirem uma respostaeficaz em diversos contextos, mas semprede modo a que a construção de umademocracia plena, a paz e o desenvol-vimento sejam o fundamento dos processoseducativos, qualquer que seja a suarenovação. No processo educativo, énecessário ter em conta que os alunosdevem, mediante a pratica democrática, seros sujeitos principais do seu própriodesenvolvimento e os promotores deatitudes e de modos de acção solidários.

A paz não pode ser definida apenascomo a ausência de guerra. A paz adquireverdadeiro sentido quando resulta da justiçasocial, da participação dos cidadãos naconstrução das decisões políticas e napartilha dos frutos do crescimento econó-mico. Daí a importância que as políticaseducativas, o sistema e a Escola têm nocrescimento das crianças, dos adolescentese dos jovens, que pretendemos ver devida-mente apetrechados para poderem contri-buir para o desenvolvimento, o reforço e oaprofundamento da democracia nas suasdiversas vertentes.

Para que a Escola cumpra esse papel, épreciso aceitar que o processo de desenvol-vimento social deve repousar, também,numa concepção humanista que ponha emprática três princípios: primeiro, o acesso àcidadania e à sua pratica quotidiana detodos os cidadãos, sem excepções; segundo,

o uso dos códigos da modernidade (lin-guagens, competências) de forma suficien-temente satisfatória, de modo a permitir atodos a participação na vida pública eprodutiva; terceiro, a instituição de umaatitude ética e moral, assente no respeito porsi mesmo e pelo outro, olhado como um sercujos direitos são tão legítimos como os seus.

Deste modo, e nada tendo contra oensino particular e cooperativo de qualida-de, não podemos deixar de verberar aorientação neoliberal de sucessivos gover-nos que tem conduzido à desrespon-sabilização cada vez maior do Estado nasquestões educacionais, e ao fomento daexpansão do sector privado em detrimentode uma escola pública, democrática e dequalidade.

Esta política é tanto mais reprovávelquanto se choca com o proclamado desígniode diversos ministérios da Educação depromoverem a descentralização. Ora, numpaís pejado de assimetrias, um sistemaeducativo descentralizado exige, parasalvaguarda da qualidade e da equidade, oreforço das funções próprias do Estado, no

FÓRUM SOCIAL IBÉRICO PELA EDUCAÇÃO

“A integração de Portugalnum espaço económicomuito amplo e fortementecompetitivo, sujeito afrequentes e aceleradosprocessos de transformação,exige que a população activado País esteja em condições deresponder aos desafios queeste século lhe vai colocar nodecurso dos anos.”

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JORNAL DA FENPROF 35DEZEMBRO 2005

sentido de proporcionar as condições e osrecursos necessários à prossecução ecumprimento de objectivos básicos portodos os alunos, ao incremento da igualdadede oportunidades de acesso e sucessoeducativo em todos os segmentos dosistema, combatendo, assim, o abandonoescolar precoce, e ao efectivo desenvol-vimento da autonomia e direcção e gestãodemocráticas das escolas.

Não foi por acaso que o VIII CongressoNacional dos Professores (Março de 2004),na esteira do anterior, retomou a defesa deuma Escola Pública de Qualidade e demo-crática, capaz de proporcionar as apren-dizagens que contribuam para a integraçãosocial e não para a exclusão.

Hoje em dia, perfila-se como condiçãode sobrevivência e de desenvolvimentopessoal e social, num mundo de grandeinformação, mudança e fluidez, a cons-trução de capacidades imbuídas de umprofundo sentido ético. Isto pressupõeefectivas capacidades para o acesso,organização, produção, interpretação eanálise da informação; uso correcto eadequado da língua materna; acesso edomínio das tecnologias da informação;domínio de conhecimentos científicos ehumanísticos básicos e de capacidadessolidamente provadas no domínio relacional.

Acresce, ainda, a necessidade decomplementar aquelas aprendizagens como desenvolvimento de uma cultura científicae tecnológica fundamental, desde o EnsinoBásico, e com o estabelecimento deobjectivos transversais no processo educa-tivo que desenvolvam a capacidade dojovem se conhecer a si mesmo, de se relacionarsolidariamente com os outros e de agir,respeitando os contextos natural e cultural.

Esta é a Escola pela qual os professoresprogressistas portugueses lutam, irmanadosna sua mais representativa organizaçãosindical – a FENPROF e os seus sindicatos.

Esta Escola exige uma urgente e pro-funda mudança das políticas educativas.Mudança que deve ser capaz de promoveruma eficaz educação ao longo da vida,propiciadora de uma aprendizagem contí-nua; mudança que deve incrementar aintegração da educação permanente e deadultos; mudança que deve formularestratégias nacionais de combate aoanalfabetismo; mudança que precisa decriar as condições indispensáveis ao cum-primento da escolaridade básica por todosos alunos, investindo seriamente a AcçãoSocial Escolar naqueles que provêm de

meios sócio-económico-culturais desfavorecidos;mudança que deve propiciaros meios necessários àrápida expansão da redepública da Educação Pré--Escolar, de modo a que, abreve prazo, esta educaçãoseja obrigatória e universalno ano que imediatamenteprecede a entrada da crian-ça no sistema de ensino;mudança favorecedora depolíticas que reforcem acapacidade das escolas doEnsino Superior para atin-girem os mais altos padrõesde qualidade, a fim de lhespermitirem cumprir cabal-mente a sua missão deformadores de recursoshumanos e de lhes aumentarem as possi-bilidades de se tornarem centros deinvestigação científica e tecnológica cadavez melhores; mudança que promova umaefectiva valorização da profissão docente,para a qual lutaram coerente e tenazmenteos educadores de infância e os professoresdos ensinos Básico e secundário, sob abandeira da FENPROF, com significativasconquistas; mudança que contribua para amelhoria das condições de trabalho e paraa transformação das escolas em espaçoshumanizados, onde dê gosto aprender eensinar, porque toda a educação, comoescreveu Elise Freinet, deve principiar pelaabordagem da alegria.

Uma educação para a democracia

O que temos vindo a enunciar comoreivindicações imprescindíveis à melhoria daEducação são tanto mais imperiosas quantoa realidade sobre que escrevemos ou émodificada ou o país e o sistema educativocondenarão à morte laboral e cultural maisde 3 milhões de portugueses, como seescreveu na Carta Magna elaborada pelainsuspeita Comissão Nacional para o Anoda Educação e Formação ao Longo da Vida.

É por isso que os professores e as suasorganizações sindicais mais representativasolham a realidade com o desejo de atransformar e a vontade de construir umaeducação para a democracia política,económica, social e cultural e para osvalores do pensamento humanista. Umaeducação que recupere o valor do trabalhohumano e reconstrua o plano sócio-afectivo

– se é certo que o século XX produziu umaformidável revolução científica, técnica etecnológica, não é menos verdade que nosdeixou suspensos da necessidade depromover a revolução da sensibilidade, daética e da solidariedade.

Por isso, não pretendemos, apenas,questionar o neoliberalismo, porque talposicionamento limitaria as nossas ambi-ções, que têm de ir obrigatoriamente nosentido da construção de um projectoalternativo ao das forças transnacionaisque, operando efectivamente no mercado– esse deus anónimo, sem rosto e semconsciência –, exercem uma verdadeiraditadura mundial “de facto” (como disseChomsky), que dilui a soberania dos povose manipula os governos dos países.

O empenhamento solidário de todos ostrabalhadores permite-nos alimentar aesperança de que seremos capazes deconstruir um novo paradigma – aberto, hori-zontal, plural, cujos nexos permitam atecitura de uma rede de solidariedade –,paradigma capaz de confrontar a metáforavertical do neoliberalismo, em que a “elite”do capital se considera legitimada paraexplorar os trabalhadores e exclui-lossocialmente de acordo com os seus inte-resses, cujo único objectivo é o lucro.

Porém, guardo a esperança e a confiançade que os educadores e professores, emaliança com os outros trabalhadores, serãocapazes de construir uma sociedadedemocrática em que a Escola Pública deQualidade, gratuita e para todos, seja ummotor efectivo e eficaz na construção deum mundo sem exploradores e explorados.

“Guardo a esperança e a confiança de que os educadores eprofessores, em aliança com os outros trabalhadores, serão capazesde construir uma sociedade democrática em que a Escola Públicade Qualidade, gratuita e para todos, seja um motor efectivo e eficazna construção de um mundo sem exploradores e explorados”(Paulo Sucena em Córdova)

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36 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

alo-vos de uma instituição de culturacapaz de viver a democracia emdirecto, na acção compartilhada dosalunos com os seus professores e coma activa participação das suas comu-nidades de origem. Porque uma escola

outra é possível.Essa outra escola já hoje desponta aqui e

além, na Ibéria em que vivemos, como emoutros lugares da Terra. Professores e alunos,famílias e outros cidadãos empenhados vãodesenvolvendo novas formas de relação e deorganização do trabalho de aprendizagem ede intervenção na sociedade.

É testemunho disso a minha experiênciade mais de 40 anos em cooperação com algunsmilhares de professores. O esforço destesgrupos de trabalho cooperativo entre profes-sores dos vários graus de ensino diz-nos que épossível ir instituindo outras formas maisacolhedoras e solidárias de viver na escola.Apoiados num sistema de auto-formaçãocooperada que criamos autonomamente, oMovimento da Escola Moderna de Portugal,para construir e desenvolver a nossa profissãocomo cidadania militante, comprometidapoliticamente com a educação escolar.

Pensámos, antes de mais, que para aDemocracia em construção é necessárioassegurar uma educação democrática que teráde ser desenvolvida paritariamente pelosprofessores com os seus alunos, posto quetodos se estão igualmente a formar para osvalores da vida democrática em devir.

Por isso, assumimos, como rumo ético-político do nosso trabalho nas escolas, que osmeios pedagógicos que utilizarmos devempassar sempre pela evidência crítica de quecada um deles veicula já, com a mais elevadacoerência, os fins democráticos da educaçãoque em cooperação vamos construindo. Istoé, que cada procedimento na escola se devesujeitar aos valores da justiça, do respeitomútuo, da livre expressão, da inter-ajudasolidária e da reciprocidade nas relações detrabalho e de vida.

A estrutura de organização que concretizaeste projecto de vida em comum é o trabalhocooperativo, onde se procura assegurar que cadaum atinja a mais elevada consciência de que cadaqual só pode alcançar os seus objectivos deaprendizagem para o seu desenvolvimento cul-tural e social na escola se, e só se, todos os outrosconseguirem alcançar os seus.

Com efeito, quanto mais cooperativo foro contexto, melhores serão os efeitos produ-

zidos pela cooperação democrática naaprendizagem do curriculum escolar.

Acrescente-se ao contexto democrático eà estrutura de trabalho cooperativo, umdispositivo instrumental de gestão cooperadado currículo e da vida social das turmas,enquanto comunidades de produção e apren-dizagem cultural.

Trata-se do Conselho de CooperaçãoEducativa onde se planeia, avalia e reflectecriticamente sobre as produções culturais e odesenvolvimento democrático (ou sócio moral,de orientação democrática).

Finalmente, lembrarei o nosso entendi-mento comum de que o saber tem um valorsocial e é socialmente construído. Por issomesmo a inter-ajuda é uma força integrantedo trabalho de aprendizagem e os conheci-mentos pesquisados e apropriados, individual-mente ou em grupo, têm de ser difundidos portodos, através de circuitos de comunicação dossaberes e dos produtos culturais, de formapresencial ou virtual: o conhecimento e asobras de cada um devem ser partilhadossocialmente para que possam ganhar signi-ficância social e ética. Daí decorre a mais fundamotivação para o trabalho intelectual.

O trabalho de aprendizagem do currículoé, neste contexto, assumido como um contratosocial e educativo estabelecido entre alunos eos respectivos professores, para que possamambas as partes alcançar o maior êxito nesseprograma de trabalho a que têm que corres-ponder em cooperação.

Os alunos têm, assim, que conhecer eplanificar com os professores os programascurriculares que os vinculam no trabalho. É apartir da clarificação deste compromisso quedecorre a gestão cooperada do currículo.

Organizamo-nos para tal em cinco tem-pos diferenciados de actividade:

1. O tempo de reunião do Conselho deCooperação Educativa que referi anterior-mente, pela sua importância instrumental noplaneamento, na avaliação, na análisepartilhada e clarificadora das ocorrênciassignificativas nas relações entre os coope-rantes e na construção de regras de vida – asleis que regulam o grupo e por eles instituídas,em democracia directa.

2. O tempo de trabalho em projectostemáticos de estudo, de produção artística, depesquisa científica ou de intervenção social,decorrentes do planeamento que fazemos docurrículo, onde os professores orientam,rotativamente, os grupos de trabalho

FÓRUM SOCIAL IBÉRICO PELA EDUCAÇÃO

Uma Democracia Participada na EscolaA gestão cooperada do currículoSérgio Niza (Movimento da Escola Moderna)

(geralmente a pares).3. O tempo de comunicação e difusão dos

projectos, onde os autores se sujeitam àreflexão crítica dos seus pares e onde seavaliam os efeitos da informação apropriadapor cada um dos participantes na sessão.

4. O tempo de estudo autónomo na salade aula destinado ao estudo dos conteúdosdisciplinares, ao treino e produção intelectualdos alunos guiados por um plano individualde trabalho periódico. É um tempo forte detrabalho de aprendizagem durante o qual e,paralelamente, os professores em rotação,ensinam interactivamente os alunos queprecisam de apoios individualizados paraprogredirem nas aprendizagens.

5. Finalmente, o tempo de trabalho emcolectivo, onde, com a colaboração activa dosprofessores e de forma plenamente compar-ticipada por todos, se constroem ou sereconstroem conceitos e saberes a mobilizarno domínio das respectivas disciplinas ou seprocede à revisão ou reescrita compartilhadade textos que sirvam as diversas áreas docurrículo, para construção das competênciasrespectivas.

É assim, que os professores procuram,afincadamente, que os processos de trabalhona escola possam reproduzir os processossociais autênticos, em qualquer dos domíniosde actividade para que a escola se mobiliza,num combate duro contra os simulacros da“escolarização” abusiva do trabalho intelectual.

Acresce ainda que, neste tipo de concepçãode uma outra vida na escola, os alunosinterpelam e intervêm regularmente nascomunidades locais e solicitam para as suasaulas actores comunitários como fontes decolaboração e de conhecimento, para enri-quecerem os seus projectos e a suas apren-dizagens culturais.

Trata-se, portanto, de construir umsistema de organização cooperada dotrabalho de aprendizagem, em permanenteaperfeiçoamento, que se propõe, simul-taneamente, promover a formação demo-crática dos professores e dos alunos demodo a fazer de cada um dos nossos alunos,como diria Thelen (1960), e de nós próprios,“um homem ou uma mulher que constróicom outros homens e mulheres as regrasou os acordos que constituem a realidadesocial”, e, acrescento eu, a caminho dasmelhores formas de democracia directa, apartir, sempre, dos nossos contextos devida.

F

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JORNAL DA FENPROF 37DEZEMBRO 2005

DIVULGAÇÃO

Anunciadas pela Escola Superior de Biotecno-logia, da Universidade Católica do Porto, as XIOlimpíadas do Ambiente (OA) são um concursode problemas e questões dirigido aos estudantesdo 3º ciclo do Ensino Básico e do EnsinoSecundário de todo o território nacional, incluindoas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.As inscrições estão abertas até ao próximo dia31 de Dezembro.As OA têm como objectivos fundamentais:incentivar o interesse pela temática ambiental;desenvolver e aprofundar o conhecimento sobrea situação ambiental portuguesa; promover ocontacto com situações experimentais concretase resolução de problemas específicos; estimulara capacidade de expressão oral e escrita;recompensar o espírito científico; e estimular adinâmica de grupo e o espírito de equipa.As Olimpíadas do Ambiente englobam duascategorias distintas (A e B) dirigidas a estudantesdos seguintes níveis:

Subordinado ao tema Dimensões da ProfissionalidadeDocente na Educação de Infância e 1º Ciclo do Ensino Básico,o VI Simpósio Internacional promovido pelo Grupo de Estudospara o Desenvolvimento da Educação de Infância (GEDEI)vai decorrer de 26 a 28 de Janeiro próximo, com acolaboração da Escola Superior de Educação (ESE) deSantarém.Este Simpósio, essencialmente destinado a profissionais deeducação, formadora/es e investigadora/es na área da

educação de infância e 1º ciclo do ensino básico, visa reflectir a profissionalidadedocente nestes níveis de ensino considerando as suas dimensões pessoal,pedagógica, institucional e política.O GEDEI é uma Associação que integra instituições, investigadores e formadoresque desenvolvem actividades relevantes no domínio da Educação e Infância.Elegendo como uma das suas principais finalidades a partilha de investigação epráticas de formação, o GEDEI procura desenvolver parcerias a nível nacional einternacional em vários campos de pesquisa no âmbito da infância. Das váriasactividades que desenvolve, é de destacar a publicação da revista Infância eEducação. Investigação e Práticas.A iniciativa conta com o apoio do Centro de Recursos Audiovisuais (CRAV) e doCentro de Informática (CI) da ESE de Santarém.Programa e todos os pormenores em: http://www.eses.pt/gedei/index.htm

O Museu de Ciência da Universidade de Lisboaapresenta a exposição “Química Viva! - QuímicaSegura!”, no âmbito de um projecto europeu sobresegurança em laboratórios químicos escolares e deinvestigação. O certame pode ser visitado na sala deexposições temporárias do Museu, de segunda asexta-feira das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às17h00 e aos sábados, das 15h00 às 18h00.Mais informações: telefone 213 921 808; e-mail:[email protected]

XI Olimpíadas do Ambiente

Categoria A - do 7º ao 9º ano de escolaridade.Categoria B - do 10º ao 12º ano de escolaridade.As OA incluem duas eliminatórias locais e umafinal nacional. As provas escritas são individuaise sem consulta.As questões abrangem sete grandes áreastemáticas: conservação da Natureza, recursosnaturais, poluição, estilos de vida, ameaçasglobais, política ambiental e realidade portuguesa.Todos os alunos inscritos nos anos escolaresabrangidos são convidados a participar nas OA,através da sua escola, e nenhum pode serdiscriminado com base na idade, sexo, crençasreligiosas, deficiências mentais ou motoras,competências específicas ou área de ensino,salientam os organizadores.Cada eliminatória desenrola-se, em simultâneo,nos vários locais onde é realizada.A inscrição de qualquer estabelecimento deensino é gratuita.

Informações: Olimpíadas do AmbienteSecretariado de Organização(A/C de Pedro Pereira)Escola Superior de BiotecnologiaRua Dr António Bernardino de Almeida, 4200 -072 PORTOTelf: 22 558 0048, Fax: 22 509 0351E-mail: [email protected]

Simpósio Internacional do Grupo de Estudospara o Desenvolvimento da Educação de Infância

Exposição “Química Viva! Química Segura”

XIV Colóquio: para um balanço da investigaçãoem Educação de 1960 a 2005

A Secção Portuguesa da AFIRSE (AssociationFrancophone Internationale de RechercheScientifique en Education) vai realizar o XIV Colóquiosubordinado ao tema Para um Balanço da

Investigação em Educação de 1960 a 2005.

Teorias e Práticas, em colaboração com a Faculdade de Psicologia e de Ciênciasda Educação da Universidade de Lisboa, a EDUCA e a Sociedade Portuguesa deCiências da Educação.Este encontro decorrerá nos dias 16, 17 e 18 de Fevereiro de 2006, na Faculdadede Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa e tem comoobjectivo central a produção de um estado da arte da investigação em Educaçãonas quatro últimas décadas. Trata-se, com efeito, de fazer um primeiro balançointegrado, sector a sector, de saberes que emergiram e se consolidaram em váriospaíses - nomeadamente em Portugal e em França -, reflectindo sobre um períodoque tem coincidido com o renascimento e a progressiva afirmação científica dosestudos educacionais, referem os organizadores.Neste sentido, o Colóquio pretende também contribuir para uma reflexão sobreos modos de construção, de difusão e de apropriação dos conhecimentos geradospela pesquisa.Para informações mais detalhadas poderá consultar o site do encontro disponívelem http://www.fpce.ul.pt/conferencias/afirse2006/

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38 JORNAL DA FENPROF DEZEMBRO 2005

Teatro

“Profundo”, do venezuelanoJosé Ignacio Cabrujas pela Escola da Noite

CULTURAIS

“Fábrica de Nada”,uma produção ArtistasUnidos em Guimarães,Aveiro, Estarreja e Faro

Livros

“Os Primos e o MagoEnvergonhado”

June Tabor

Celso Fonseca

Teatro nas noites de Coimbra

Escola da Noite apresenta “Pro-fundo”, de José Ignacio Cabrujas, comencenação de Sílvia Brito, na OficinaMunicipal do Teatro, em Coimbra, até21 de Janeiro de 2006.

Figura destacada da cultura venezuelana,Cabrujas, nascido em Caracas a 17 de Julhode 1937 e falecido em Porlamar, a 21 deOutubro de 1995, trabalhou em teatro, cine-ma, televisão, rádio e imprensa escrita.Encenador e actor, guionista de televisão e decinema, cronista e ensaísta, professor e autorde telenovelas, obteve em vida o reconhe-cimento generalizado tanto da críticaespecializada como do grande público, comosublinha Isabel Campante, da “Escola daNoite”, numa nota de apresentação do novoespectáculo teatral de Coimbra.

“Considerado um dos três grandes nomesdo teatro venezuelano (juntamente com IsaacChocrón e Roman Chalbaud), começou o seu

percurso no Teatro da Universidade Centralda Venezuela onde estudava Direito, curso queviria a abandonar. Depois de uma deslocaçãoa Itália, onde contacta com o Piccolo Teatrode Milano, cria o Teatro de Artes de Caracas,que terá curta duração, e, em 1967, comChocrón e Chalbaud, funda El Nuevo Grupo,que funcionará até 1988, companhia com umimportante trabalho no relevo atribuído àprodução dramatúrgica latino-americana”,observa a representante da “Escola da Noite”,que acrescenta noutra passagem:

“Desde muito cedo é possível identificarna sua obra a que será uma das suas imagensde marca: uma intensa preocupação com atemática da História da Venezuela, optandoA

A peça “Fábrica de Nada”, da holandesa JudithHerzberg, numa produção Artistas Unidos, con-tinua a sua digressão pelo País em Janeiro/2006,apresentando-se em Guimarães (dia 13),Aveiro/Teatro Aveirense (18 e 19), Estarreja/Cine-Teatro (21) e Faro/Teatro Municipal (26).Com encenação de Jorge Silva Melo, assistênciade encenação de Joana Bárcia e João Meireles,direcção musical de Rui Rebelo, tradução deDavid Bracke e Miguel Castro Caldas, cenografiade José Manuel Reis e coordenação pedagógicade Paula Bárcia, “Fábrica do Nada” tem em cenaAntónio Filipe, António Simão, Carla Galvão,Hugo Samora, João Meireles, João MiguelRodrigues, Miguel Telmo, Mílton Lopes, PauloPinto, Pedro Carraca, Pedro Gil, Sérgio Grilo, VítorCorreia e os músicos Gonçalo Lopes, João Ma-deira, Miguel Fevereiro, Paulo Curado, Rini Luykse Rui Faustino.

Por iniciativa da UNICEF,dos Correios de Portugal eda Editorial Caminho foilançado recentemente umnovo livro para crianças -“Os Primos e o Mago En-

vergonhado” - das autoras Ana MariaMagalhães e Isabel Alçada.O livro destas conhecidas autoras conta umahistória de Natal muito original, marcada pelafantasia, pela surpresa, pelo inesperado e comaquilo a que se pode chamar um toquemágico. Proporciona às crianças momentosrisonhos e em simultâneo apela à amizade, àsolidariedade, à entreajuda. O livro é ilustradopor Helena Simas.A venda do livro insere-se nas campanhasde recolha de fundos da UNICEF para acompra de vacinas para crianças. Por cadaexemplar vendido, a Editorial Caminhooferece 1 euro, e as escritoras os respectivosdireitos de autor, à UNICEF para esse fim.Os Correios de Portugal associaram-se a estacampanha colocando o livro à venda emestações de correio em todo o país.Preço: 7,50 Euros • 36 páginas1.ª edição, Novembro 2005.

Pintura

Está patente no átrio superior dos Paços doConcelho, da cidade de Angra do Heroísmo,na Ilha terceira, uma exposição de pinturado angrense José João Dutra, subordinada aotema “Poesia do tempo”.A exposição apresenta, até 10 de Janeiro, ostrabalhos mais recentes do autor.José João Dutra nasceu em 1970 em Angrado Heroísmo - Ilha Terceira. Reside nafreguesia do Porto Judeu, onde tem o seu ate-lier e é aí que desenvolve todo o seu trabalho.É um autodidacta.Conta já no seu curriculum com inúmerostrabalhos na vertente plástica, tais comocarros alegóricos para festividades, desta-cando-se o cortejo das Sanjoaninas 2005“Angra Baía de Encanto”. A escultura é umadas suas paixões, transportando-a para essesmesmos eventos.Tem também trabalhado em cenografia.

Trabalhos de José João Dutraem Angra do Heroísmo

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JORNAL DA FENPROF 39DEZEMBRO 2005

Exposições

O Museu Nacional da Imprensa apre-senta na cidade do Barreiro a exposição"Bordallo Pinheiro: um génio semfronteiras", patente ao público noConvento da Madre de Deus da Verde-rena até 28 de Fevereiro.Organizada em colaboração com oMunicípio local, a mostra evoca ocentenário da morte de BordalloPinheiro (1846-1905) e homenageia asua genialidade fixada em múltiplosjornais e livros, em Portugal e noestrangeiro.A exposição é constituída por cerca desetenta peças designadamente publi-

cações periódicas das quais, Bordallo foi fundador, ou colaborador. Podemser vistas autocaricaturas publicadas em jornais e revistas como o"António Maria", "A Paródia", "Pontos nos ii", "Lanterna Mágica","Ocidente", "Brasil-Portugal", "Ilustração Portuguesa" entre outras. Vários"Almanaques de caricatura" com capas e ilustrações de Bordallo Pinheirotambém integram a mostra.Para além das autocaricaturas, os jornais expostos abordam vários temas,privilegiando as "eleições" e as homenagens de que o caricaturista foialvo em 1903 e 1905.A montagem desta exposição no Barreiro, integra-se na evocação docentenário da morte de Rafael Bordallo Pinheiro que se assinala esteano e que o Museu Nacional da Imprensa (Porto) tem vindo a promoverdesde Janeiro.O certame pode ser visitado nos seguintes horários: 2ª a 5ª feira: 9.30h-12h e 14.30h-17h; 6ª feira e Sábado 9.30h-12h, 14.30h-17h e 20h-23h. Dom:15h-19h.

"Um génio sem fronteiras" :Museu da Imprensa leva Bordallo ao Barreiro

muitas vezes por recuperar episódios e mitoshistóricos como pretexto para levar os seuscontemporâneos a reflectir sobre a situaçãosocial e humana actuais.

A obra cabrujiana não é desconhecida emPortugal, em particular para os espectadoresd’A Escola da Noite que tiveram a ocasião deassistir a “Acto Cultural” - 24ª produção dacompanhia, com encenação de AntónioAugusto Barros, e apresentação em Coimbra,no Pátio da Inquisição, em Novembro de 2001.E já então era a dimensão de grande homemdo teatro que sublinhávamos.”

Compreende-se e aplaude-se o regresso...Desta vez a Escola da Noite - Grupo de Teatrode Coimbra (associação cultural reconhecidacomo instituição de utilidade pública desde1998) apresenta “Profundo”, um texto de1971, que o próprio autor dirigiu no El NuevoGrupo. “Sobre a peça, as palavras do críticoRubén Monasterios: “tem o melhor deCabrujas dramaturgo: o mistério, a ambigui-dade, o sarcasmo”, conclui Isabel Campante.

“Profundo” tem tradução e encenação de

Sílvia Brito, cenografia e adereços de AntónioJorge, figurinos de Ana Rosa Assunção e luzde Rui Simão Em palco estão: António Jorge,Carlos Marques, Cleia Almeida, Maria JoãoRobalo, Ricardo Correia e Sofia Lobo.

Espectáculos: de terça-feira a sábado, às21h30.

A Oficina Municipal de Teatro localiza-sena Rua Pedro Nunes, Quinta da Nora

Estacionamento privativo. Autocarros: 5F,11, 11C, 11T, 24, 24T, 33, 34 e 38. Horário: abilheteira abre ao público no foyer da OMTàs 20:30h nos dias dos espectáculos. Duranteas horas normais de expediente é possíveladquirir bilhetes com antecedência juntoda administração d’A Escola da Noite (1ºpiso). Dadas as características da sala( lotação l imitada) é aconselhável amarcação antecipada de lugar. Infor-mações e reservas: durante as horasnormais de expediente, pelo telefone239.718238. Os bilhetes reservados serãomantidos até 20 minutos antes da horado espectáculo.| JPO

O lirismo satírico e erótico de Bocage, sobretudo o da clandestinidade, é otema central da exposição «Eis Bocage», patente, na Biblioteca Nacional,em Lisboa, até 28 de Janeiro. Em simultâneo, o visitante encontra umaexposição de pintura de Ana Rosmaninho, inspirada no poeta setubalense.Em declarações à agência Lusa , o comissário da mostra, Daniel Pires,disse tratar-se de uma iniciativa integrada num conjunto mais vasto paraassinalar o bicentenário da morte de Elmano Sadino (1765/1805),pseudónimo arcádico com que o poeta setubalense ficou conhecido eque lhe valeu seguidores e detractores.Elaborada a partir de manuscritos e edições que integram o espólio daBiblioteca Nacional, a mostra centra-se na obra do «grande poeta queBocage foi e na sua figura cívica, que sempre lutou por ideias novas numpaís periférico onde a liberdade era mínima», disse.Presença assídua no café Nicola e noutros botequins lisboetas, o ladoboémio do poeta, patente na poesia burlesca, erótica e satírica, são tambémenfoques da mostra, até porque, referiu Daniel Pires, foram estas «que lhegranjearam notoriedade mas ao mesmo tempo o votaram à exclusão emesmo à fome».Em simultâneo com «Eis Bocage» - patente até 28 de Janeiro de 2006 -estará a exposição de pintura «Também Cupido de ser vário gosta», deAna Rosmaninho, inspirada no poeta setubalense.«Bocagomania» é outro dos espaços da exposição,onde o público poderá visualizar variados objectosem torno da figura do poeta que vão de «selos,chávenas o vulgar pacote de açúcar para a bicaou mesmo uma marca de preservativos brasileirosintitulada Bocage», concluiu Daniel Pires.TSF, 13/11/2005

“Eis Bocage”:na Biblioteca Nacional

A Galeria Mário Sequeira,em Braga, apresenta umaexposição com trabalhosrecentes em escultura,pintura, instalação, vídeoe animação computoriza-da do artista londrino Julian Opie.Nascido em 1958 em Londres, o artista estudouna Goldsmith’s School of Art e começou a exporregularmente a partir de 1982.O certame estará patente até 19 de Feve-reiro próximo, de segunda a sexta-feira das10h00 às 13h00 e das 15h00 às 19h00 eaos sábados só das 15h00 às 19h00.A Galeria Mário Sequeira localiza-se naQuinta da Igreja, Parada de Tibães, Braga.Informações pelo telefone 253602550 .

Trabalhos de Julian Opieem Braga