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Dezembro - Ano VII/02 INFORME EPIDEMIOLÓGICO Núcleo de Estudos Epidemiológicos Secretaria Municipal de Saúde - Divinópolis - MG SUS Sistema Único de Saúde PERFIL DA MORTALIDADE INFANTIL NO MUNICÍPIO DE DIVINÓPOLIS/MG DE 2010 a 2016

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Dezembro - Ano VII/02

INFORME EPIDEMIOLÓGICO

Núcleo de Estudos Epidemiológicos

Secretaria Municipal de Saúde

-

Divinópolis -

MG

SUS

Sistema

Único

de Saúde

PERFIL DA MORTALIDADE INFANTILNO MUNICÍPIO DE DIVINÓPOLIS/MG DE 2010 a 2016

INTRODUÇÃO

A taxa de mortalidade infantil (TMI), definida como o número de óbitos de menores de um ano pormil nascidos vivos, estima o risco de um recém-nascido evoluir para o óbito durante o seu primeiroano de vida. Além da sua forma habitual, total ou inteira de expressão, a taxa de mortalidade infantilpode ser desdobrada em três componentes: neonatal precoce (óbitos de 0 a 6 dias por mil nascidosvivos), neonatal tardia (óbitos de 7 a 27 dias de vida por mil nascidos vivos) e pós-neonatal(óbitos de 28 aos 364 dias de vida). As taxas de mortalidade neonatal estão associadas, em geral,às condições socioeconômicas e de saúde da mãe, bem como à inadequada assistência pré-natal,ao parto e ao recém-nascido. Já a mortalidade pós-neonatal reflete o desenvolvimento socioeconômicoe a infra-estrutura ambiental, bem como o acesso e a qualidade dos recursos disponíveis para a atenção

1materno-infantil .

O conceito de morte evitável diz respeito à ocorrência desse evento quando poderia sertotalmente evitado pela adequada atenção à saúde, qualificando-o como indicador sensível à

1qualidade da assistência em saúde . A necessidade de aprofundamento na temática de evitabilidade do óbito levou autores em diversos países a desenvolverem listas para classificaçãode causas de mortes evitáveis como ferramentas na prevenção e detecção de falhas na assistência

2, 3, 4à saúde . No contexto brasileiro, pesquisadores, sob supervisão do Ministério daSaúde, construíram uma lista de causas de mortes evitáveis em menores de cinco

5anos por intervenções do Sistema Único de Saúde (SUS) .

Diversas experiências no mundo apontam a estruturação de comitês de mortalidade e investigaçãode óbitos como uma estratégia importante para a compreensão das circunstâncias de ocorrência dosóbitos, identificação de fatores de risco e definição das políticas de saúde dirigidas à redução damortalidade materna e infantil. Nesse sentido, o Ministério da Saúde deu início, em meados da décadade 90, às primeiras iniciativas de implantação dos comitês no país e em 2004 à elaboração do Manualdos Comitês de Prevenção do Óbito Infantil e Fetal como referência para a estruturação dos referidoscomitês.

Em Divinópolis, o Comitê Municipal de Prevenção do Óbito Materno, Infantil e Fetal (CMPOMIF)foi criado em 2004 com o objetivo de analisar os óbitos infantis e sua oficialização se deu em 13de junho de 2016 através da Portaria nº 025/2016. O Comitê realiza seu processo de trabalhobaseado nas investigações ambulatorial, domiciliar e hospitalar realizada pelos profissionais dasunidades de saúde e pelos membros do Grupo Técnico de Investigação de Óbitos (GTIO), quefoi criado pela Secretaria Municipal de Saúde de Divinópolis para auxiliar tecnicamente o Comitê.O CMPOMIF utiliza principalmente, para definição da evitabilidade, a Lista Brasileira de Causasde Mortes Evitáveis por Intervenções do Sistema Único de Saúde em menores de 05 anos publicadapor Malta e colaboradores, atualizada em 2010. O propósito do Comitê é dar visibilidade às questõesrelacionadas à assistência de saúde e possibilitar a proposição de medidas que possam apoiar

6as ações de redução da mortalidade infantil , constituindo-se, portanto, como instrumentode gestão.

METODOLOGIA E FONTE DOS DADOS

Este estudo tem como objetivo analisar as taxas de mortalidade, as causas básicas e ascausas evitáveis dos óbitos em menores de um ano em Divinópolis - MG, entre 2010 e 2016.

OBJETIVO

No período 2010-2016 o número de óbitos neonatais (0-27 dias) foi maior do que o docomponente pós neonatal. Observa-se que, em quatro dos sete anos analisados, mais dametade dos óbitos infantis ocorreu na primeira semana de vida (gráfico 1).

RESULTADOS

Os dados sobre mortalidade e nascidos vivos foram obtidos no Departamento de Informáticado SUS – DATASUS e no TABNET MG. Após a seleção das informações de interesse, foramgeradas tabelas que, posteriormente, foram exportadas para planilhas do Microsoft Excel 2010.Já nas planilhas, foram calculados os indicadores e montados os gráficos e figuras com a síntesedos resultados.

A classificação dos óbitos em causas evitáveis seguiu os códigos da Classificação Internacional deDoenças – CID 10, definidos pela versão atualizada da Lista de causas de mortes evitáveis por

4intervenções do Sistema Único de Saúde do Brasil, para crianças menores de cinco anos .

A classificação dos casos pelo CMPOMIF foi realizada pela análise dos dados dos formulários7

padronizados pelo Ministério da Saúde encaminhados pelo GTIO após completar as investigaçõeshospitalar, ambulatorial e domiciliar. A nova classificação da evitabilidade feita pelo CMPOMIF foientão tabulada.

Trata-se de estudo com uso de dados secundários provenientes de sistemas de informaçãoem saúde. Foram considerados os óbitos em crianças menores de um ano de idade residentesem Divinópolis, entre 2010 e 2016.

A TMI em Divinópolis passou de 14,4 por mil nascidos vivos em 2010 para 10,3 por mil nascidosvivos em 2016, obtendo uma redução de 28,5% no período. Essa redução ocorreu especialmentegraças ao componente neonatal precoce, cuja taxa diminuiu 43,2% (gráfico 2). Observa-se ainda pelográfico 2 uma tendência de aumento da TMI a partir de 2014, que passa de 8,0 para 10,3 por milnascidos vivos. No entanto essa tendência não se confirma quando são considerados os dados de2017, onde, de janeiro a outubro ocorreram 2241 nascimentos e 16 óbitos infantis, resultando numaTMI de 7,1 por mil nascidos vivos.

A proporção dos óbitos infantis considerados evitáveis pelo SUS em Divinópolis oscilouentre 72,2% em 2010 e 63,0% em 2016 (gráfico 3).

A análise do tipo de redutibilidade (gráfico 4) evidencia que as causas relacionadas à atençãoa mulher na gestação e à assistência ao recém nascido destacam-se em toda a série histórica, eque houve uma diminuição de 69,5% nos óbitos por causas redutíveis por adequada atenção aorecém-nascido no período.

Ao se analisar a mortalidade infantil segundo a lista de mortalidade da CID 10 em 2016, observa-seque do total de 27 óbitos, 13 (48,1%) foram devidos às afecções perinatais, sendo estas as principaiscausas responsáveis pelos óbitos de menores de 28 dias. Dentre esses 13 óbitos, 6 foram devidos afatores maternos. Entre as causas de óbitos pós-neonatais, chamam a atenção à ocorrência de mortespor doenças infecciosas, do aparelho circulatório e por causas externas que são consideradas causasevitáveis (tabela 1).

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Em relação à redutibilidade em 2016, 17 dos 27 óbitos foram considerados evitáveis. Destes,10 (58,8%) foram óbitos redutíveis por adequada atenção à mulher na gestação (tabela 2).

Após a análise pelo CMPOMIF, 19 (70,4%) dos 27 óbitos infantis foram classificados comoevitáveis e entre os 19 evitáveis, 9 foram classificados como óbitos reduzíveis ou evitáveis poradequada atenção à mulher na gestação (gráfico 5).

O predomínio do componente neonatal na mortalidade infantil resulta de uma estreita e complexarelação entre variáveis biológicas, sociais e de assistência à saúde, o que faz com que a sua reduçãoseja mais difícil e lenta. Assim, apontam a importância de se investir na melhoria da assistência de saúdeprestada à gestante e ao recém-nascido durante o trabalho de parto e também na UTI neonatal. Aorganização de uma rede regional hierarquizada e integrada entre o pré-natal e a assistência ao partoe a qualificação do cuidado ao pré-natal, à gravidez e ao recém-nascido devem, portanto, ser

8priorizadas .

DISCUSSÃO

CONCLUSÃO

Os altos percentuais de mortes evitáveis sugerem problemas de acesso aos serviços de saúde,9cobertura e qualidade da assistência prestada . A redução dos óbitos por adequada assistência ao

recém-nascido é resultado do aumento dos cuidados intensivos neonatais e com os recém-nascidos10logo após o parto . Já o aumento de óbitos evitáveis por adequada atenção à mulher na gestação e

parto sugere obstáculos na assistência materno-infantil. Avaliação incompleta na admissão da gestante,dificuldade de acesso à maternidade e demora em iniciar a reanimação neonatal na sala de parto sãofalhas registradas na assistência à gestante e ao recém-nascido.

A importância crescente do componente neonatal na mortalidade infantil repercutiu tambémno perfil de causas de óbito. Os fatores maternos e relacionados à gravidez representaram umgrupo importante em 2016, provavelmente pela melhoria da qualidade da informação sobre ascausas de óbito, pois este grupamento recebe maior atenção principalmente após

11investigação dos óbitos registrados .

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A qualificação da causa básica de óbito é um dos propósitos dos comitês de investigação deóbitos fetal e infantil, uma vez que ainda persistem problemas quanto à fidedignidade da informação

15sobre a causa da morte declarada pelo médico no atestado de óbito.

A necessidade de qualificação do pré-natal e parto, formação profissional, valorização doplanejamento reprodutivo e fortalecimento da atenção básica em saúde são primordiais nos

10, 12, 13,14investimentos em saúde .

Os resultados do estudo evidenciam que no município houve redução da mortalidade infantil porcausas evitáveis, porém ainda são altos os índices de óbitos reduzíveis por adequada assistênciaao recém-nascido e por adequada atenção à mulher na gestação.

Tendo em vista esse cenário, os esforços e investimentos para diminuir a TMI devem continuaratravés de uma melhor qualidade na assistência à saúde materno-infantil e fortalecimento dasestratégias de investigação dos óbitos infantis. Aponta-se também a necessidade de continuardesenvolvendo ações preventivas como o planejamento reprodutivo e buscar o máximo dequalidade e resolutividade nos serviços de pré-natal, parto e puerpério.

É importante melhorar a organização dos comitês em cada hospital para avaliar todos os óbitosinfantis que neles ocorrem, analisando as rotinas e atividades desenvolvidas nas salas de parto e UTI.Ainda, ampliar a participação multiprofissional e interinstitucional no CMPOMIF garantindo maior agilidadedo seu trabalho e obtenção de maior qualidade nos dados. Divulgar periódica e oportunamente asinformações relativas à mortalidade infantil, subsidiando o gestor no processo de informação-decisão-açãoe envolvendo as equipes de saúde dos níveis locais para que as análises sejam efetuadas cada vez maispróximas da comunidade e para que sejam articuladas ações eficazes de intervenção para redução dos

16óbitos em menores de um ano .

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1. Rede Interagencial de Informação para a Saúde. Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações/RedeInteragencial de Informação para a Saúde – RIPSA. 2ª ed.- Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2008.

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REFERÊNCIAS

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Secretaria Municipal de Saúde de DivinópolisRua Minas Gerais, 900 CEP: 35.500-007 Fone: (37) 3229-6800