determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração - COPPEAD DETERMINANTES DA ESTRUTURA DE CAPITAIS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS COM AÇÕES NEGOCIADAS EM BOLSAS DE VALORES Gabriel Lourenço Gomes Dissertação de Mestrado Orientador: Prof. Ricardo Pereira Câmara Leal D. Sc. em Administração COPPEAD/UFRJ Rio de Janeiro Maio de 1999

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Page 1: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS

Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração - COPPEAD

DETERMINANTES DA ESTRUTURA DE CAPITAIS DAS

EMPRESAS BRASILEIRAS COM AÇÕES NEGOCIADAS

EM BOLSAS DE VALORES

Gabriel Lourenço Gomes

Dissertação de Mestrado

Orientador: Prof. Ricardo Pereira Câmara Leal

D. Sc. em Administração COPPEAD/UFRJ

Rio de Janeiro

Maio de 1999

Page 2: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

FOLHA DE APROVAÇÃO

DETERMINANTES DA ESTRUTURA DE CAPITAIS DAS

EMPRESAS BRASILEIRAS COM AÇOES NEGOCIADAS

EM BOLSAS DE VALORES

GABRIEL LOURENÇO GOMES

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-Graduação e

Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

Prof. _____________________________________ - OrientadorRicardo Pereira Câmara Leal - COPPEAD/UFRJ

Prof. _____________________________________Eduardo Facó Lemgruber - COPPEAD/UFRJ

Prof. _____________________________________Jairo Laser Procianoy - PPGA/UFRGS e FEA/USP

Rio de Janeiro

Maio de 1999

Page 3: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

AGRADECIMENTOS

Dedico essa dissertação de mestrado a algumas pessoas que deram importantes

contribuições para sua realização.

Gostaria de agradecer...

Aos meus pais, que sempre me incentivaram e, sobretudo, me ensinaram a

gostar de aprender.

À minha esposa, Simone, pelo apoio constante e pelo amor, carinho e

dedicação.

Ao Prof. Ricardo Leal, meu orientador, sem o qual este trabalho jamais teria

sido realizado.

Aos Professores Eduardo Facó Lemgruber e Jairo Procianoy, pelas importantes

contribuições a esta dissertação.

À CAPES, pelo suporte financeiro durante o curso de mestrado.

Aos professores e funcionários do COPPEAD/UFRJ, que fazem dessa

instituição um centro de excelência acadêmica.

Aos amigos do curso de mestrado, com quem compartilhei experiências

extraordinárias dentro e fora das salas de aula.

Page 4: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

SUMÁRIO

1 O PROBLEMA .................................................................................................................................. 1

1.1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 11.2 OBJETIVOS....................................................................................................................................... 21.3 QUESTÃO DE PESQUISA.................................................................................................................... 31.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ................................................................................................................ 41.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO............................................................................................................... 5

2 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................................................... 6

2.1 EVOLUÇÃO DAS TEORIAS SOBRE ESTRUTURA DE CAPITAL ............................................................... 72.1.1Nascimento da teoria moderna da estrutura de capital ........................................................... 72.1.2 Ponto ótimo de estrutura de capital ...................................................................................... 102.1.3 Teoria dos custos dos agentes ............................................................................................... 132.1.4 Informações assimétricas ...................................................................................................... 142.1.5 Fatores organizacionais ........................................................................................................ 152.1.6 Disputa pelo controle corporativo ........................................................................................ 16

2.2 ESTUDOS EMPÍRICOS SOBRE DETERMINANTES DA ESTRUTURA DE CAPITAL ................................... 182.3 CARACTERÍSTICAS DA ESTRUTURA DE CAPITAL NO BRASIL ........................................................... 30

3 METODOLOGIA............................................................................................................................. 39

3.1 OBJETIVOS..................................................................................................................................... 393.2 ELABORAÇÃO DAS HIPÓTESES ....................................................................................................... 40

3.2.1 Rentabilidade......................................................................................................................... 403.2.2 Risco ...................................................................................................................................... 413.2.3 Tamanho................................................................................................................................ 413.2.4 Composição dos ativos .......................................................................................................... 423.2.5 Oportunidades de crescimento .............................................................................................. 433.2.6 Classificação industrial ......................................................................................................... 44

3.3 SELEÇÃO DAS VARIÁVEIS............................................................................................................... 453.3.1 Variáveis dependentes ........................................................................................................... 453.3.2 Variáveis independentes ........................................................................................................ 45

3.4 DESCRIÇÃO DO MÉTODO................................................................................................................ 473.5 UNIVERSO E AMOSTRA .................................................................................................................. 483.6 LIMITAÇÕES DO MÉTODO............................................................................................................... 49

4 ANÁLISE DOS TESTES.................................................................................................................... 50

4.1 COMENTÁRIOS GERAIS................................................................................................................... 504.2 ANÁLISE DE REGRESSÃO DA AMOSTRA 95-97 ................................................................................ 534.3 ANÁLISE DE REGRESSÃO DA AMOSTRA 91-93 ................................................................................ 594.4 CONCLUSÕES................................................................................................................................. 64

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................. 66

6 BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................. 69

Page 5: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

1

1 O PROBLEMA

1.1 Introdução

Existem apenas 3 maneiras pelas quais as empresas podem se financiar: através de

dívidas (capital de terceiros), através da emissão de ações (capital próprio) e através

da absorção dos lucros gerados internamente (autofinanciamento). Desta forma, a

escolha do perfil de financiamento de uma empresa é função do custo e do risco

envolvidos em cada uma das alternativas mencionadas. A medida utilizada para

identificar a forma de financiamento de uma empresa é a estrutura de capital, obtida

através do cálculo da proporção existente em seu passivo entre o capital próprio e o de

terceiros.

A determinação da estrutura de capital das empresas é um dos principais

tópicos estudados pela teoria de finanças corporativas. Nesta linha, diversos autores

buscam explicações para o que ocorre no dia a dia das empresas com relação a

decisões de financiamento. Entre as questões que a teoria tenta responder estão as

seguintes: Quais os elementos que levam uma empresa a escolher um determinado

perfil de endividamento? Os determinantes da estrutura de capital variam conforme as

características da empresa e do ambiente? Existe um nível ideal de alavancagem

financeira?

A presente dissertação busca contribuir para o esclarecimento de algumas

questões referentes ao tema, analisando o comportamento das empresas brasileiras

com ações negociadas em bolsa de valores com relação aos determinantes da estrutura

de capital propostos pela teoria.

Page 6: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

2

1.2 Objetivos

O objetivo principal da dissertação é analisar características estáticas da estrutura de

capital das empresas brasileiras não-financeiras com ações negociadas em bolsa de

valores com relação a seus determinantes, propostos pela teoria.

Nesse contexto, serão testados indicadores selecionados que, de acordo com

hipóteses da teoria moderna de estrutura de capital, seriam variáveis sub-rogadas dos

elementos que determinam o grau de endividamento das empresas. A análise do

experimento pretende identificar se estes determinantes da estrutura de capital se

comportam conforme as hipóteses das principais teorias, em duas amostras de dados

em períodos distintos.

A utilização de duas amostras, compostas pela média dos anos entre 1995-97 e

1991-93, foi motivada por dois fatores. Em primeiro lugar, a queda da inflação após

1994 melhorou a qualidade das informações das demonstrações financeiras das

empresas, aumentando a confiabilidade dos dados da amostra 1995-97. Por outro lado,

a estabilidade econômica desse período promoveu uma retomada dos investimentos de

longo prazo por parte das empresas brasileiras, que pode ter ocorrido segundo lógicas

distintas de financiamento, em relação ao período anterior.

Page 7: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

3

1.3 Questão de pesquisa

A principal questão de pesquisa a ser respondida pela dissertação é apresentada a

seguir:

Quais são os determinantes da estrutura de capital das empresas brasileiras com ações

negociadas em bolsa de valores?

Segundo as teorias de estrutura de capital, existem diversos fatores que

influenciam na determinação da estrutura de capital. Iremos testar, em dois períodos

distintos, quais destes determinantes sugeridos pela literatura influenciam a estrutura

de capital de empresas brasileiras com ações negociadas em bolsa.

A resposta a pergunta acima será baseada na análise de testes estatísticos de

cross-section que têm o objetivo de verificar as relações existentes entre os

determinantes selecionados e a estrutura de capital das empresas analisadas.

Page 8: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

4

1.4 Relevância do Estudo

Apesar da contribuição de diversos autores, entre os quais destacam-se aqueles citados

na revisão teórica, para o entendimento das características do financiamento das

empresas brasileiras, o Brasil carece de estudos empíricos que expliquem a forma

como as empresas financiam suas atividades. Desta forma, apenas o estudo dos

determinantes da estrutura de capital das empresas brasileiras é um tópico de estudo

de relevância.

Essa dissertação pretende, ainda, testar hipóteses relacionadas à teoria de

estrutura de capital que, geralmente, são testadas no ambiente norte-americano ou em

outros países desenvolvidos. No caso do Brasil, existem fatores específicos ou

representativos de economias em desenvolvimento, que influenciam os resultados dos

testes realizados neste trabalho, e poderão contribuir para um questionamento mais

abrangente da teoria.

Somando-se a isso, a estabilização da economia aumentou o volume de

investimentos das empresas e é importante que se busque compreender os fatores que

influenciam os agentes na escolha das fontes de financiamento para esses

investimentos.

Finalmente, a queda da inflação permitiu a geração de informações financeiras

de melhor qualidade, o que deverá aumentar a confiabilidade das analises realizadas a

partir de amostras desses dados.

Page 9: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

5

1.5 Delimitação do Estudo

A dissertação proposta se limita ao estudo da estrutura de capital das empresas

brasileiras a partir de uma amostra formada por empresas listadas nas bolsas de

valores brasileiras e cujos indicadores estejam disponíveis na ECONOMÁTICA para

análise em cada um dos períodos analisados.

O tipo de análise realizada neste trabalho é exclusivamente estática, baseada

em um estudo de cross-section. Desta forma, não são considerados aspectos dinâmicos

do comportamento dos determinantes da estrutura de capital, que exigiriam a

utilização de séries temporais longas de dados não disponíveis nas fontes analisadas.

Não é objetivo desta dissertação aprofundar-se em questões relacionadas a

comparação dos resultados obtidos a partir das duas amostras, buscando identificar

diferenças entre os dois períodos. Para realizar esse tipo de análise, seria necessária

uma abordagem dinâmica, de períodos mais longos, incluindo outros fatores além

daqueles utilizados nessa dissertação.

Page 10: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Como ponto de partida da revisão bibliográfica proposta, é analisada a

evolução das teorias que se referem à estrutura de capital. Em primeiro lugar, é

destacado o artigo de Modigliani e Miller de 1958, considerado o pilar do

desenvolvimento da teoria moderna da estrutura de capital. Cada seção subseqüente

descreve uma linha de pesquisa que veio a complementar ou contrapor-se as

proposições fundamentais de MM. A questão principal que se estende até os dias de

hoje gira em torno da irrelevância da estrutura de capital, ou da existência de um

ponto ótimo de alavancagem financeira.

Em seguida, são destacados estudos empíricos sobre os determinantes da

estrutura de capital, que visam corroborar as teorias analisadas anteriormente. Com

base nesses estudos é escolhida a metodologia e as variáveis a serem utilizadas no

experimento estatístico da dissertação.

A terceira parte, volta a atenção para o ambiente brasileiro. Diversos estudos

empíricos elaborados no Brasil em torno do tema estrutura de capital são analisados, e

identificadas as principais contribuições dos autores para o entendimento do processo

de financiamento das empresas brasileiras.

Page 11: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

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2.1 Evolução das teorias sobre estrutura de capital

2.1.1Nascimento da teoria moderna da estrutura de capital

A teoria moderna da estrutura de capital teve início com a discussão em torno das

proposições I, II e III expostas em MODIGLIANI E MILLER (1958). A posição de

MM vem se contrapor à teoria tradicional que relacionava o valor de uma companhia

com a sua estrutura de capital.

Nesse contexto, a maximização do valor da empresa dependia, segundo a

teoria tradicional, da minimização do custo médio ponderado de capital, calculado

através do custo ponderado de cada uma das formas de financiamento da empresa. As

proposições de MM se opõem a esta visão, defendendo que o valor da empresa é

independente da forma como são financiados seus ativos, e está relacionado

exclusivamente com o retorno esperado dos projetos da companhia.

A proposição I em questão estabelece que “o valor de mercado de uma

empresa é independente da sua estrutura de capital e é dado pela capitalização de valor

esperado à taxa apropriada para a sua classe.”, MODIGLIANI E MILLER (1958 p.

460). Em outras palavras, o custo ponderado de capital é independente da estrutura de

capital, sendo igual ao de uma empresa da mesma classe de risco, financiada apenas

por capital próprio, que não utiliza recursos de terceiros. Os resultados obtidos pelos

autores sugerem, portanto, que a forma de financiamento de uma empresa é

irrelevante para a determinação de seu valor.

Proposição I

Page 12: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

8

KJJJJ XDSV ρ/)( =+=

onde,

Vj = valor de mercado da firma

Sj = valor de mercado das ações ordinárias

Dj = valor de mercado das dívidas

JX = retorno esperado dos ativos

ρk = taxa de desconto apropriada para empresas da classe k

A proposição II estabelece que o retorno esperado do capital próprio é igual ao

retorno esperado de uma empresa sem dívidas mais um prêmio pelo risco envolvido

na utilização de capital de terceiros. Ou seja, como existe uma vantagem para os

credores, que recebem sua remuneração antes dos acionistas, estes irão exigir um

retorno maior pelo maior risco a que estão expostos. Desta forma, os acionistas de

uma firma endividada irão exigir um retorno mais elevado do que os acionistas de

uma firma sem dívidas.

Proposição II

JJKKJ SDri /)( −+= ρρ

onde,

ij = rendimentos de uma ação

r = taxa de retorno livre de risco

A proposição III de MM consiste em uma regra para determinar a política de

investimento ótima da firma. Os autores afirmam que uma empresa de determinada

classe K deve aproveitar oportunidades de investimento apenas se a taxa de retorno do

projeto avaliado for maior do que a taxa de desconto da classe ρk. Ou seja, o ponto de

corte para investimentos na firma será sempre ρk, independente da forma de

financiamento do projeto. Mudanças na forma de financiamento de um projeto irão

afetar apenas a distribuição dos resultados do projeto entre acionistas antigos, credores

e novos acionistas.

Page 13: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

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Estas proposições estão sujeitas a três premissas básicas. Em primeiro lugar,

MM (1958) consideram as taxas de financiamento para pessoas jurídicas iguais às

taxas de financiamento de pessoas físicas. Isso permite que as pessoas simulem a

alavancagem feita pelas empresas e é a base da argumentação em torno da proposição

I.

A segunda premissa considera que os mercados são eficientes, permitindo que

o equilíbrio seja sempre restaurado rapidamente. A terceira premissa é a de que não há

impostos sobre os ganhos de capital. Essa última premissa foi lançada apenas para

facilitar a discussão acerca dos pontos básicos das proposições I, II e III e foi relaxada

posteriormente pelos próprios autores.

No caso de serem considerados os impostos cobrados sobre juros, dividendos e

ganhos de capital em ações, chega-se a uma situação bastante diferente da analisada

anteriormente. A estrutura de capital que maximiza o valor da empresa passa a ser

aquela que transfere ao governo o menor valor. Como os impostos sobre juros são

geralmente mais baixos do que os impostos sobre dividendos e ganhos de capital, uma

conclusão aparente seria a de que uma empresa deveria se financiar totalmente através

do capital de terceiros. No entanto, os autores afirmam que o capital próprio torna-se

mais arriscado na medida em que aumenta a proporção de dívidas. Desta forma, o

ganho com o menor custo do capital de terceiros é compensado pelo aumento da

remuneração exigida pelo capital próprio.

Os resultados obtidos por Modigliani e Miller (1958) podem ser sintetizados

através de um modelo estático, baseado em uma análise de equilíbrio parcial, utilizado

em um meio ambiente competitivo, os autores determinaram que a estrutura de capital

é irrelevante para a determinação do valor da empresa.

Em 1963, os próprios autores publicaram um artigo que se propunha uma

correção ao anterior e considerava a existência de imposto de renda de pessoa jurídica

em sua análise. Considerando esse fator, a conclusão a que chegam os autores é a de

Page 14: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

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que a vantagem fiscal existente na tomada de empréstimos favorece àquelas empresas

que se financiam através de dívidas. Portanto, as empresas deveriam ser altamente

alavancadas para usufruir deste benefício.

Segundo ROSS (1993), apesar da contribuição de MM ter sido essencial para o

entendimento da formação do valor de uma companhia, a evidência empírica

identifica estruturas de capital incompatíveis com as conclusões dos autores. Por

exemplo, são encontradas estruturas de capital específicas em determinados setores da

economia, níveis de alavancagem baixos na maioria das empresas, preferências dos

administradores por capital próprio, em detrimento de financiamentos, entre outras

evidências que não podem ser explicadas pelas proposições de MM. Esse fato, abriu

caminho para uma série de novos estudos que buscam relacionar a determinação da

estrutura de capital a diversos elementos.

2.1.2 Ponto ótimo de estrutura de capital

Entre as principais linhas de pesquisa que vieram a se contrapor ao trabalho

seminal de MM estão as teorias de equilíbrio, que retornam propondo a existência de

um ponto ótimo de estrutura de capital e a relevância da forma de financiamento da

empresa na determinação do valor da empresa.

Em seu artigo de 1984, Myers trata as teorias de equilíbrio pelo nome de static

trade-off. Segundo o autor, a hipótese principal da teoria baseia-se no equilíbrio

existente entre os benefícios fiscais e riscos de falência das empresas. Na medida em

que a dívida de uma empresa se eleva, os juros diminuem o lucro tributável,

diminuindo o valor dos impostos a serem pagos e aumentando o valor da empresa. Por

outro lado, quando a proporção de dívida aumenta, aumentam também os riscos de

falência, que diminuem o valor da empresa. Uma visualização deste trade-off pode ser

observada no gráfico a seguir.

GRÁFICO I - VALOR DA EMPRESA NA VISÃO DO STATIC TRADE-OFF

Page 15: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

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Valor da empresa (V)

Capital de terceiros (B)B*

Nível ótimo de capital de terceiros

Valor presente do benefício fiscal coma utilização do capital de terceiros

Valor presene dos custos dedificuldades financeiras VL = VU + TCB = Valor da empresa,

segundo MM, comimposto de renda depessoa jurídica e dívidas

V = Valor efetivo da empresa

VU = Valor da empresa sem dívidas

Alíquota de imposto derenda de pessoa jurídica

TC =

Fonte: ROSS, A., WESTERFIELD, R. e JAFFE, J., 1993

No gráfico acima, podemos observar que o ponto ótimo da estrutura de capital

é definido como aquele onde o incremento marginal dos benefícios fiscais no valor de

empresa é igual ao incremento marginal do valor presente dos custos de dificuldades

financeiras.

Segundo MYERS, 1984, empresas arriscadas tendem a tomar menos recursos

de terceiros emprestados, estando outros fatores constantes. Como os custos de

falência são causados por perdas esperadas ou reais, empresas estáveis devem ser

capazes de se endividar mais, antes de que estes custos anulem os benefícios fiscais do

endividamento.

SCOTT, J, 1976, apresenta um modelo temporal, baseado na teoria do static

trade-off , de avaliação das dívidas, do capital próprio e do valor da empresa. O

modelo considera que o valor da empresa é determinado não só pelo valor esperado

Page 16: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

12

dos retornos futuros (como proposto por MM), mas também pelo valor de liquidação

dos ativos da empresa.

Segundo o autor, o nível ótimo de dívidas seria positivamente relacionado ao

valor de liquidação dos ativos porque os credores preferem emprestar para empresas

que possuam maior valor no caso de liquidação. Além disso o autor propõe uma

relação também positiva entre alavancagem e o imposto de renda de pessoa jurídica e

o tamanho da empresa. No caso do tamanho, este representaria um menor risco para o

investidor, pelo fato das empresas grandes serem normalmente mais diversificadas.

Outro artigo que contribuiu substancialmente para o desenvolvimento da teoria

da estrutura de capital foi escrito por DeANGELO e MASULIS, em 1980. Sua

principal contribuição foi a de acrescentar nos modelos existentes benefícios fiscais

diferentes dos juros, chamados de escudos de impostos não-dívida. Entre os principais

elementos que geram benefícios fiscais estão a depreciação, a amortização e os

créditos fiscais.

Na medida em que diminuem o lucro tributável da empresa, mas não

constituem saída de caixa efetiva, esses escudos constituem benefícios fiscais

relevantes que elevam o valor da empresa. Desta forma, empresas que possuem esse

tipo de escudo de impostos devem apresentar uma alavancagem menos acentuada por

não aproveitarem os benefícios fiscais relacionados aos juros. Os créditos fiscais

obtidos pelas empresas em fase de crescimento acentuado são também exemplos de

escudos de impostos, o que sugere uma relação negativa entre oportunidades de

crescimento e alavancagem .

A teoria do stactic trade-off, ou dos custos de falência, suporta as hipóteses de

que a alvancagem financeira está positivamente relacionada com o tamanho e a

proporção de ativos fixos da empresa e negativamente relacionada com o risco, os

escudos de impostos e as oportunidades de crescimento.

Em torno da discussão central sobre a relevância da estrutura de capital,

HARRIS e RAVIV (1991), identificam 4 categorias principais de teorias sobre

Page 17: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

13

determinantes da alavancagem financeira, excluindo a questão dos benefícios fiscais,

que compõem a pesquisa atual em torno desse tema. Estas são baseadas na teoria dos

custos dos agentes, na existência informações assimétricas entre a empresa e o

mercado financeiro, na relação entre a estrutura de capital e fatores organizacionais e

na disputa pelo controle corporativo das empresas.

2.1.3 Teoria dos custos dos agentes

Essa linha de pesquisa afirma que a estrutura de capital pode ser determinada pela

diferença entre os interesses dos vários agentes que almejam os recursos da empresa,

entre eles, administradores, acionistas e credores. Os estudos nesta área buscam

identificar determinantes da estrutura de capital através de modelos baseados em

custos dos agentes. A pesquisa nesta área foi iniciada por JENSEN E MECKLING

(1976) , baseados no trabalho de FAMA e MILLER (1972) e seguida por diversos

autores. A teoria dos custos dos agentes se divide em duas, conforme os conflitos nos

quais se baseia para explicar a estrutura de capital, entre gerentes e acionistas e entre

credores e acionistas.

O conflito mais relevante para explicar o comportamento da estrutura de

capital é aquele existente entre credores e acionistas. Os autores afirmam que um nível

elevado de dívida incentiva os acionistas a procurarem projetos mais arriscados, que

tenham um retorno mais elevado. Nesse caso, se o projeto for rentável no futuro, os

acionistas irão dispor da maior parte do lucro, porque a parcela dos credores (os juros)

é fixa; por outro lado, se o projeto fracassar, os credores sofrerão penalidades elevadas

devido ao alto nível de endividamento. No entanto, cabe aos credores antecipar esta

atitude e cobrar mais caro dos acionistas pelo capital emprestado quando o grau de

endividamento da empresa for elevado. Desta forma, JENSEN E MECKLING

(1976) reafirmam que uma estrutura de capital ótima pode ser obtida através do trade

off entre os custos e benefícios da tomada de empréstimos.

Segundo a lógica dos custos dos agentes, os credores geralmente preferem

emprestar a empresas que possuem ativos fixos, com mercados secundários

Page 18: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

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desenvolvidos que, em caso de liquidação da empresa possam ser vendidos para o

pagamento das dívidas. Desta forma, os credores se protegem de estratégias arriscadas

por parte dos acionistas. A proporção de ativos fixos seria, nesse caso, um

determinante da estrutura de capital positivamente relacionado com a alavancagem

financeira da empresa.

2.1.4 Informações assimétricas

Uma segunda abordagem teórica busca explicar a estrutura de capital através da

assimetria existente entre as informações da empresa (insider information) e aquelas

disponíveis no mercado de capitais. A principal contribuição desta corrente consiste

na defesa do efeito de pecking order que representa a ordem de escolha das firmas

pela forma de financiamento. O pecking order afirma que as empresas apresentam

uma hierarquia de preferências pelas diversas formas de financiamento, conforme

descrito a seguir:

1) Em primeiro lugar as empresas preferem o financiamento com recursos

próprios.

2) Em seguida, elas tentam ajustar sua política de dividendos de acordo com as

oportunidades de investimento. Esta atitude, porém, é limitada porque o

mercado reage de forma negativa a mudanças bruscas na política de

dividendos.

3) Em terceiro lugar, a rigidez da política de dividendos e a volatilidade dos

lucros e das oportunidades de investimentos levam as empresas, por vezes, a

se desfazerem de recursos de caixa e venderem títulos que possuam.

4) Finalmente, se recursos externos forem necessários, as empresas emitem os

títulos mais seguros antes. Ou seja, preferem dívida e em seguida títulos

conversíveis, deixando a emissão de ações como um último recurso.

O pecking order não considera que exista uma relação determinada entre

dívida e capital próprio, porque considera dois tipos de capital próprio. O capital

próprio interno, representado pelos recursos gerados pela empresa, que está no início

Page 19: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

15

do pecking order, e o capital próprio externo, representado pela emissão de ações, que

é o último recurso do pecking order.

Segundo MYERS e MAJLUF (1984), a assimetria da informação entre

gerentes e novos acionistas, ou seja, a falta de informações no mercado sobre o que

ocorre dentro da empresa faz com que as emissões de ações sejam sub-avaliadas pelo

mercado. Por esse motivo, a teoria do pecking order afirma que as empresas preferem

financiar-se primeiramente através do autofinanciamento, em seguida por dívidas e,

em último caso, optam pela emissão de ações.

O pecking order suporta a hipótese de que a rentabilidade das empresas está

inversamente relacionada com a alavancagem financeira. Isso ocorre porque empresas

lucrativas que disponham de capital próprio para investir optariam preferencialmente

por utilizar esses recursos disponíveis ao invés de endividar-se. Ao contrário da teoria

do static trade-off, o pecking order sugere também que as oportunidades de

crescimento estariam positivamente relacionadas com o endividamento da empresa.

Isso porque empresas com crescimento elevado não disporiam de recursos suficientes

para se financiarem com recursos próprios, optando por uma alavancagem maior.

2.1.5 Fatores organizacionais

A terceira linha de pesquisa engloba fatores relacionados a área de organizações

relacionando indicadores operacionais das empresas ao seu grau de alavancagem

financeira. A seguir são destacados os principais autores que buscam explicar a

estrutura de capital através de indicadores industriais. BRANDER e LEWIS (1986)

afirmam que firmas situadas em mercados oligopolistas tendem a ter mais dívida do

que firmas monopolistas ou em ambiente de competição acirrada. Segundo

MAKSIMOVIV (1988), a capacidade de endividamento está relacionada com a

elasticidade da demanda dos produtos vendidos pela empresa. Outros autores também

relacionaram a estrutura de capital com preço, qualidade dos produtos e condições de

oferta e demanda.

Page 20: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

16

Segundo HARRIS, M. e RAVIV, A (1991), as pesquisas nesta área são ainda

pouco exploradas, mas tem se intensificado e novas variáveis estratégicas deverão ser

consideradas em estudos futuros. Os autores sugerem que novas pesquisas deveriam

tentar relacionar fatores como propaganda, pesquisa e desenvolvimento, capacidade de

produção, localização e características dos produtos. Eles argumentam ainda que essas

pesquisas poderiam ajudar a explicar as variações na estrutura de capital existentes

entre os diversos setores da economia.

Essa teoria suporta a hipótese de que firmas de um mesmo setor industrial

devem ter estruturas de capital semelhantes. Isso ocorre porque elas geralmente

compartilham os mesmos fatores organizacionais, ou seja, produzem produtos

semelhantes, para os mesmos mercados, com custos similares de materiais e trabalho

e confiam nas mesmas tecnologias.

2.1.6 Disputa pelo controle corporativo

Finalmente, a quarta categoria de estudos sobre estrutura de capital está relacionada a

eventos que ameaçam o controle corporativo da empresa. As teorias em consideração

cresceram com o aumento dos takeovers ocorrido ao longo da década de 80 e 90. Os

primeiros modelos que buscam explicar a relação entre o risco de takeover e a

estrutura de capital foram formulados por HARRIS e RAVIV (1988) e STULZ

(1988). Esses modelos lançam hipóteses sobre o comportamento da estrutura de

capital no curto prazo, em situações em que existe uma ameaça de takeover hostil.

Quando uma ameaça de takeover é iminente, a teoria sugere que a empresa irá

aumentar a participação das dívidas em sua estrutura de capital e o preço das ações irá

aumentar.

Ainda nesta linha de pesquisa, DE ANGELO (1985), DANN e DE ANGELO

(1988), e AMIHUD et al. (1990) afirmam que a estrutura de capital tem sido utilizada

como um instrumento anti-takeover. Segundo os autores, isso ocorre porque a

alavancagem está negativamente relacionada com o sucesso da oferta de takeover.

Vale ressaltar que os resultados obtidos pelos autores refletem apenas reações de curto

Page 21: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

17

prazo das empresas com relação à ameaça de takeover.

No Brasil, não encontramos um ambiente tão competitivo na área de controle

corporativo quanto em outros países. Isso ocorre por diversos motivos, entre eles, a

menor dinâmica dos mercados de ações, a característica familiar da gestão das

empresas e a diferenciação entre capital votante e preferencial, que permite aos

controladores buscar novos recursos nos mercados acionários sem diluir sua

participação no controle. Além disso, a enorme dificuldade na obtenção de dados

sobre operações de restruturação do controle corporativo (fusões e aquisições) que

acontecem entre empresas de capital fechado dificulta uma análise mais consistente

desta teoria no ambiente brasileiro.

Os argumentos propostos pela teoria e revisados nessa seção irão suportar as

hipóteses dos testes realizados adiante. A seção seguinte analisa estudos empíricos

que buscaram corroborar essas teorias de estrutura de capital. A revisão desses artigos

e teses irá determinar a escolha dos determinantes a serem analisados e a metodologia

de análise desta dissertação, além de revelar os resultados encontrados pelos diversos

autores citados adiante.

Page 22: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

18

2.2 Estudos empíricos sobre determinantes da estrutura de capital

O estudo empírico realizado neste trabalho é baseado em uma análise de cross-section

que relaciona sub-rogadas das variáveis propostas pelas diversas linhas de pesquisa

com a alavancagem financeira das empresas, buscando identificar se estas variáveis

são determinantes da estrutura de capital de empresas brasileiras. A metodologia

utilizada, que está descrita de forma detalhada em uma seção específica do trabalho,

foi baseada em diversos estudos, listados a seguir: TOY et al. (1974), FERRI, M. e

JONES, W. (1979); MARSH, P. (1982); BRADLEY, M. et al. (1984); TITMAN, S. e

WESSELS, R. (1988); EL-KHOURI, R. (1989); CANDA, F. (1991); KLOCK, S. e

THIES F. (1992); CHUNG, K. (1993); RAJAN, R. e ZINGALES, L. (1995).

Ao longo da revisão bibliográfica, verificou-se que a variável dependente

analisada pela maioria dos autores é a mesma, definida como a estrutura de capital das

empresas. A forma de medir os componentes da estrutura de capital (dívida e ações),

no entanto, é diferente entre os estudos analisados. As diferenças se acentuam ainda

na escolha das variáveis independentes e de suas sub-rogadas.

Destacamos adiante contribuições de cada um dos trabalhos analisados ao

estudo dos determinantes da estrutura de capital, buscando encontrar uma metodologia

e indicadores adequados, que serão utilizados nos testes propostos nesta dissertação.

TOY et al. (1974) foi um dos primeiros estudos sobre determinantes da

estrutura de capital. Em sua análise, o autor utiliza a razão, em valores contábeis, entre

dívida total e ativos totais (DR) para medir a alavancagem financeira. O conceito de

dívida total considerado no artigo é amplo e engloba contas a pagar, provisões e outras

dívidas de curto prazo. Quanto aos determinantes da estrutura de capital, o autor testa

apenas três, são eles: crescimento, lucratividade e risco. O crescimento (g) é definido

como o logaritmo dos ativos totais. A Lucratividade (r) como o lucro operacional

sobre os ativos totais. Por último, o risco (v) é definido como o coeficiente de variação

da taxa do lucro (r). As três variáveis independentes são calculadas a partir de

amostras de indicadores de empresas em 5 países diferentes, analisadas ao longo de

Page 23: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

19

sete anos.

As hipótese propostas pelo autor são as seguintes: firmas com alta taxa de

crescimento dos ativos têm uma proporção maior de dívida; firmas com alta

lucratividade têm uma proporção menor de dívida; e firmas com alta variabilidade de

lucros têm menor proporção de dívidas. Os resultados dos testes são obtidos através

de uma regressão linear descrita como: DR = B0 + B1 g + B2 r + B3 v + e. De acordo

com o Teste F, o modelo mostra-se significativo em todos os países, exceto na França.

O Teste t, indica que a taxa de lucros é um determinante significativo nos outros

países, o crescimento é significativo apenas nos EUA e Japão e o risco é significativo

na Noruega, Japão e EUA. Os R2 ajustados, variam de um baixo (.024) na França até

um alto (.607) no Japão. Em resumo, os testes confirmam as hipóteses do autor para o

comportamento do crescimento e da lucratividade, mas negam a sua hipótese para os

riscos, que registram uma relação direta em relação a proporção de dívida.

Estudos subseqüentes de vários autores tratam da mesma questão central

utilizando metodologias distintas e inserindo novas variáveis independentes.

FERRI e JONES (1979) investigam uma amostra de empresas americanas

agrupadas por setor industrial, no período entre 1971 e 1976. A indústria - identificada

pelo “SIC code” e por um grupamento de indústrias afins é a principal variável

independente analisada. Além da classificação industrial, o autor avalia a influência de

mais três determinantes: o tamanho - representado pelas vendas totais, valor contábil

dos ativos totais e pela média de 5 anos dessas duas sub-rogadas; o risco - medido

pelo coeficiente de variação das vendas, coeficiente de variação do fluxo de caixa

bruto e pelos desvios padrão do crescimento das vendas e do fluxo de caixa; e a

alavancagem operacional - medida pela variação percentual de lucro em relação a

vendas, pela razão entre ativos fixos sobre ativos totais e pela média de ativos fixos (5

anos) sobre média de ativos totais.

Os resultados desse estudo levam à conclusão de que a classe industrial está

relacionada com a estrutura de capital, assim como o tamanho da empresa. Porém, o

Page 24: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

20

estudo não confirma associação de risco e alavancagem operacional à alavancagem

financeira, como proposto na teoria.

MARSH, P. (1982) utiliza uma amostra de empresas do Reino Unido, durante

o período de 1959 a 1974, para analisar a forma como as empresas escolhem entre o

financiamento através de dívida ou ações. O autor utiliza três tipos de variáveis

independentes. O primeiro tipo serve para avaliar os desvios da estrutura de capital

alvo (variável dependente) e consiste de médias históricas da estrutura de capital -

medida através da razão entre as dívidas de curto prazo e de longo prazo em relação

aos ativos totais. O segundo tipo de variáveis engloba os determinantes da estrutura de

capital tradicionais, semelhantes àqueles dos outros estudos anteriores. O terceiro tipo

de variáveis pretende acrescentar ao modelo a influência das condições do mercado de

ações e de dívida ao longo do tempo. Além destes três tipos, MARSH analisa duas

outras variáveis: Retorno sobre investimentos e payout, que medem a rentabilidade

das empresas.

Os determinantes da estrutura de capital tradicionais utilizados no teste são: A)

tamanho - medido pelo log do capital; B) risco - medido de 4 formas distintas: 1) risco

de falência (custos fixos - lucro antes do IR) / desvio padrão dos lucros em dez anos,

2) desvio padrão do EBIT (lucro operacional antes de juros e impostos), 3) Beta da

ação, 4) desvio padrão do retorno das ações; e C) composição dos ativos - medido

pela razão entre ativos fixos e ativos totais. Os resultados obtidos pelo modelo

confirmam as hipóteses de que o tamanho da empresa, o risco de falência e a

composição dos ativos estão relacionados com a determinação da estrutura de capital.

O artigo de BRADLEY, M. et al. (1984) baseia seu estudo em um modelo de

estrutura de capital ótima, inspirada no trade-off entre vantagens fiscais e custos de

falência, nos argumentos de custos dos agentes, nos escudos de impostos e nas

diferenças entre alíquota de impostos pessoais na compra de títulos e ações. Os dados

analisados pelo autor são uma média de vinte anos ente o período de 1962 a 1981 de

851 firmas em 25 setores da indústria. A alavancagem é estimada através da razão

entre a média do valor contábil da dívida de longo prazo e a mesma somada à média

do valor de mercado da ações no período de vinte anos. Para testar as diferenças entre

Page 25: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

21

a alavancagem observada nas diversas indústrias, o autor utiliza uma análise de

variância padrão (ANOVA), utilizando 24 variáveis dummy incluídas na regressão. O

resultado obtido identifica que 54% da variância de alavancagem pode ser explicada

pela classificação industrial.

Em seguida, o autor escolhe três determinantes da estrutura de capital ótima:

variação no valor da empresa, escudos de impostos não-dívida e custos de

dificuldades financeiras. As sub-rogadas escolhidas para medir os determinantes são:

1) o desvio padrão da diferença entre a rentabilidade anual; 2) a depreciação e créditos

de impostos são escolhidos como escudos de impostos; e 3) os gastos em propaganda

e P&D das empresas analisadas, também considerados escudos de impostos por serem

totalmente depreciados no ano de sua incorrência. Os resultados obtidos nos testes

confirmam as hipóteses da teoria da estrutura de capital ótima para as sub-rogadas 1 e

3, volatilidade e despesas de P&D e propaganda. No entanto, é encontrada uma

relação direta entre alavancagem e os escudos de impostos tradicionais, que se

contrapõe à teoria.

O artigo de TITMAN, S. ; WESSELS, R. (1988) também avalia o poder

explicativo de teorias de estrutura de capital ótima. Como em MARSH, P. (1982), os

autores utilizam medidas de alavancagem diferenciadas para o curto e longo prazos.

Além disso, TITMAN, S. e WESSELS, R. propõem uma nova metodologia,

utilizando uma técnica de fatores analíticos para testar o comportamento de uma

grande quantidade de determinantes teóricos da estrutura de capital: 1) estrutura dos

ativos; 2) escudos de impostos não-dívida; 3) crescimento; 4) unicidade de produtos;

5) classificação da indústria; 6) tamanho; 7) volatilidade dos lucros; 8) Lucratividade.

Cada um dos determinantes teóricos relacionados dá origem a indicadores específicos

recolhidos em uma amostra de 469 empresas no período entre 1974 e 1982. São

utilizadas médias de 3 anos para calcular os indicadores, exceto no caso da

volatilidade, onde são utilizados os nove anos disponíveis.

A metodologia utilizada no trabalho busca avaliar a relação existente entre os

determinantes teóricos, seus indicadores e a estrutura de capital. O modelo proposto é

um modelo de análise fatorial, dividido em duas partes: A) um modelo de medição e

Page 26: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

22

B) um modelo estrutural, calculados simultaneamente. O modelo de medição

relaciona os indicadores com os determinantes teóricos, enquanto o estrutural

relaciona os determinantes à estrutura de capital. Desta forma, as correlações entre os

indicadores são eliminadas do modelo. Os autores identificam uma analogia entre o

teste realizado e o processo de geração de retornos utilizado por ROLL e ROSS

(1980) para testar o modelo de Arbitrage Pricing Theory - APT.

Entre os resultados encontrados destacam-se os seguintes: a unicidade de

produtos está relacionada a baixos níveis de endividamento; firmas pequenas têm

níveis mais elevados de dívida de curto prazo; e firmas mais rentáveis têm menos

dívida em relação ao seu valor de mercado. Não são encontradas evidências de que

crescimento, escudos de impostos não-dívida, volatilidade ou composição dos ativos

estejam relacionados a determinação da estrutura de capital.

EL-KHOURI, R. (1989) e CANDA, F. (1991) elaboraram teses de doutorado

sobre determinantes da estrutura de capital. A detalhada descrição das análises

econométricas apresentadas por ambos os autores serve de base para a elaboração da

metodologia dos testes empíricos apresentados neste trabalho.

Além dos aspectos de cross-section, a tese de EL-KHOURI, R. (1989) analisa

também aspectos relacionados a séries temporais que existem entre os determinantes

da estrutura de capital e o grau de alavancagem financeira. Em suas conclusões, o

autor destaca a relação negativa entre risco e alavancagem e a relação positiva entre a

proporção de ativos fixos e alavancagem encontradas. Esses dois resultados são

coerentes com as hipóteses propostas pela teoria. Além disso, o autor verifica que os

escudos de impostos não dívida estão positivamente relacionados com alavancagem

em sua amostra, o que contradiz as hipóteses previstas. Os resultados encontrados

para oportunidades de crescimento e tamanho não apresentam significância estatística,

sendo, portanto, descartadas pelo autor.

A tese elaborada por CANDA F., (1991), por sua vez, utiliza uma metodologia

de cross-section para analisar o comportamento de seis determinantes da estrutura de

capital, além da classificação industrial. O autor encontra resultados compatíveis com

Page 27: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

23

as hipóteses previstas para as variáveis oportunidades de crescimento, escudos de

impostos não dívida e rentabilidade, que apresentam sinal negativo em seus

coeficientes, e para a proporção de ativos fixos, que está positivamente relacionada

com a alavancagem. As variáveis risco e tamanho não apresentam resultados

significativos nesse estudo.

KLOCK, S.; THIES F. (1992) contribuem para a discussão em torno do tema

da determinação da estrutura de capital de duas maneiras. Em primeiro lugar, é

utilizada em seu artigo uma amostra ajustada a efeitos inflacionários e a eventos

ocorridos durante o período de análise, que visa eliminar distorções presentes nos

estudos anteriores. Além disso, é identificada uma estrutura de capital complexa nas

empresas, composta não apenas de dívida e ações, mas de dívida de longo prazo,

dívida de curto prazo, dívida conversível, ações preferenciais e ações ordinárias.

Sendo assim, são utilizadas estas 5 variáveis dependentes no teste estatístico proposto.

As variáveis independentes escolhidas pelos autores são: lucratividade,

imobilizado / ativos, estoques / ativos, alavancagem operacional, volatilidade das

vendas, crescimento das vendas, imposto efetivo (IR / IR + lucro líquido), rating da

Mood’s Investors Service Inc. (representando o risco de falência).

Os resultados obtidos são bastante coerentes com a teoria. A lucratividade está

negativamente correlacionada com a alavancagem conforme seria previsto pelo

pecking order. O imobilizado encontra correlação positiva com a dívida de longo

prazo e os estoques com a dívida de curto prazo, o que parece demonstrar uma

compatibilidade entre os prazos de ativos e passivos e é coerente com a teoria dos

custos de falência. O crescimento apresenta correlação positiva com a alavancagem,

da mesma forma que as taxas efetivas de imposto e classificações de risco positivas da

Mood’s (expressas pelo rating AAA). No caso da volatilidade das vendas, é

encontrada uma correlação negativa com a dívida de longo prazo, mas uma correlação

positiva com a dívida de curto prazo. O autor atenta para o fato de que há um menor

endividamento total quando a empresa tem alta variabilidade nas vendas, porém a

diminuição de dívidas de longo prazo deve ser compensada por uma maior captação

no curto prazo. Apenas a alavancagem operacional não apresenta resultados

Page 28: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

24

significativos no teste.

O artigo de CHUNG, K. (1993), analisa a relação entre determinantes

selecionados da estrutura de capital e as relações de dívida de longo prazo e curto

prazo contratadas pelas empresas. O autor elabora testes estatísticos que relacionam 5

determinantes da estrutura de capital a alavancagem financeira. O risco é um dos

determinantes analisados. Ele é dividido em sistemático e não sistemático e medido

através do Beta das ações da empresa e das características dos controladores. Além do

risco, Chung avalia a influência das oportunidades de crescimento, da composição dos

ativos, do tamanho e da regulação das empresas.

O estudo de RAJAN, R.; ZINGALES, L. (1995) analisa a relação entre a os

determinantes da estrutura de capital e a alavancagem financeira nos países que

compõem o G-7. Para que isso seja possível, o autor promove diversos ajustes

contábeis que permitem a comparação entre os dados da amostra.

Devido às diferenças contábeis e à falta de alguns dados, os autores utilizam

em sua análise apenas quatro determinantes: tangibilidade dos ativos (ativos fixos /

ativos totais); oportunidades de investimento [(ativo - patrimônio + valor de mercado

das ações) / ativo total]; tamanho (Log vendas); lucratividade (Lucro operacional/

ativo total). Os resultados obtidos no artigo indicam que nos outros países existem

relações entre determinantes e alavancagem semelhantes àquelas observadas nos

EUA, principalmente em uma análise agregada. O autor encontra, na maior parte dos

países, coeficientes de sinal negativo para oportunidades de crescimento e

rentabilidade e positivo para composição de ativos e tamanho. No entanto, o poder de

explicação das variáveis medido pelo R2 mostra-se fraco, com uma média de 19%

entre todos os países.

As tabelas a seguir traduzem de uma forma organizada as características e os

resultados dos testes de cada um dos estudos analisados nessa seção. O quadro I cita o

método utilizado pelo autor e lista as variáveis dependentes, independentes e suas sub-

rogadas, presentes nos estudos analisados. O quadro II lista as hipóteses e conclusões

de cada um dos autores. O quadro III compila as hipóteses e os resultados obtidos,

Page 29: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

25

identificando o número de estudos que propõem hipóteses e encontram resultados

específicos.

Page 30: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

QUADRO I - ESTUDOS EMPÍRICOS SOBRE DETERMINANTES DA ESTRUTURA DE CAPITAL

Variáveis Variáveis IndependentesAutores Ano Método Dependentes Selecionadas Subrogadas

TOY et al 1974 regressão linear dívida total / ativos oportunidades de crescimento Log(ativos) no temporentabilidade EBIT/ativosrisco coef. de variação da lucratividade

FERRI, M.; JONES, W. 1979 regressão linear dívida total / ativos indústria SIC code grupamento genéricotamanho vendas ativosrisco coef var vendas coef var fluxo de caixa antes IR desvpad do crescimento padronizado das vendas e do fluxo de caixacomposição dos ativos % var(EBIT)/%var(vendas) ativos fixos/ativos totais

MARSH, P. 1982 três tipos dívida total / ativos tamanho log(capital)desvios do alvo (CP eLP) composição dos ativos ativos fixos/ativos totaistradicionais risco risco de falência * desvpad do EBIT Beta da ação desvpad do retorno das açõescondições do mercado rentabilidade ROI payout

* (custos fixos -EBIT) / desvio padrão EBIT em dez anos

BRADLEY et al. 1984 ANOVA 24 dummy dívida LP / escudos de impostos não-dívida depreciação e créditos de impostos / EBITDAsimulação (dívida LP + valor de mercado das ações) oportunidades de crescimento gastos em P&D e propaganda / vendas

risco desvpad rentabilidade/ativos

TITMAN, S.; WESSELS, R. 1988 modelo de análise de fatores dívida LP / valor mercado ações oportunidades de crescimento gastos de capital / ativos variação % dos ativos P&D / vendasdívida CP / valor mercado ações escudos de impostos não-dívida créditos de impostos / ativos depreciação / ativos escudos de impostos* / ativosconversível / valor mercado ações composição dos ativos ativos intangíveis / ativos estoques e imobilizado / ativosdívida LP / valor contábil ações tamanho LN (vendas) taxas de demissão voluntáriadívida CP / valor contábil ações rentabilidade Lucro operacional / vendas lucro operacional / ativosconversível / valor contábil ações risco desvio padrão da % em lucro operacional

risco (unicidade dos produtos) P&D / vendas despesas de vendas / vendas taxas de demissão voluntáriaindústia SIC codes

* escudos de impostos = lucro operacional - juros - (IR / taxa de IR)

EL-KHOURI 1989 cross-section time series juros / EBIT escudos de impostos não-dívida depreciação e créditos de impostosdívida LP / capitalização risco desvio padrão do EBIT variância do EBITdívida CP / capitalização oportunidades de crescimento média do crescimento nos lucrosdívida total / capitalização tamanho LN (vendas)

Indústria SIC code

CANDA, F. 1991 regressão linear valor de mercado da dívida / oportunidades de crescimento despesas de propaganda reinvestimento de lucros despesas de P&Dvalor de mercado das ações rentabilidade fluxo de caixa operacional

escudos de impostos não-dívida depreciação e créditos de impostosrisco desvpad (retorno / ativos)composição dos ativos ativos fixos tamanho ativo totalIndústria SIC code

KLOCK, S.; THIES, F. 1992 regressão linear dívida LP / capitalização rentabilidade EBIT / ativosdívida CP / capitalização composição dos ativos imobilizado líquido / ativos estoques / ativosconversível / capitalização composição dos ativos % var(EBIT)/%var(vendas)ações preferenciais / capitalização risco volatilidade das vendas rating Mood's AAAações ordinárias / capitalização oportunidades de crescimento taxa de crescimento das vendas

escudos de impostos não-dívida IR / (IR + lucro líquido)

CHUNG, K. 1993 regressão linear dívida LP / capitalização risco Beta desalavancado Controle dos donos ou dos gerentesdívida total / capitalização oportunidades de crescimento P/L médio (valor de mercado das ações + dívida - ativos)/valor de mercado das ações + dívida

composição dos ativos ativos fixos / ativosTamanho ativos fixos / ativosIndústria regulação

RAJAN, R.; ZINGALES, L. 1995 regressão linear dívida total / composição dos ativos ativos fixos / ativos(dívida total + valor mercado ações) oportunidades de crescimento (ativo - PL + valor de mercado das ações) / ativodívida total / tamanho ln (vendas)(dívida + valor contábil ações) rentabilidade EBITDA / ativos

26

Page 31: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

QUADRO II - HIPÓTESES E RESULTADOS DOS ESTUDOS EMPÍRICOS

Hipóteses: Resultados:Autores Variáveis independentes selecionadas sinal do coeficiente sinal do coeficiente

TOY et al oportunidades de crescimento + +rentabilidade - +risco - +

FERRI, M.; JONES, W. risco - insignificantecomposição dos ativos - -tamanho + +Indústria

BRADLEY et al. oportunidades de crescimento - -escudos de impostos não-dívida - +risco - -Indústria

TITMAN, S.; WESSELS, R. oportunidades de crescimento - insignificanterentabilidade - -escudos de impostos não-dívida - insignificanterisco - insignificanterisco (unicidade) - -composição dos ativos + insignificantetamanho + -Indústria

EL-KHOURI oportunidades de crescimento - ou + insignificanteescudos de impostos não-dívida - +risco - -composição dos ativos + +tamanho + insignificanteIndústria

CANDA, F. oportunidades de crescimento - -rentabilidade - -escudos de impostos não-dívida - -risco - insignificantecomposição dos ativos + +tamanho + insignificanteIndústria

KLOCK, S.; THIES, F. oportunidades de crescimento + insignificanterentabilidade - -escudos de impostos não-dívida - -risco - -composição dos ativos + +

CHUNG, K. oportunidades de crescimento - -risco - -composição dos ativos + +tamanho + -Indústria

RAJAN, R.; ZINGALES, L. oportunidades de crescimento - -rentabilidade - -composição dos ativos + +tamanho + +

27

Page 32: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

28

QUADRO III - RESUMO DE HIPÓTESES E RESULTADOS DOS ESTUDOS EMPÍRICOS

Hipóteses Resultados Sinal do coeficiente + - + - ins.* Total

Oportunidades de crescimento ** 3 6 1 4 3 8

Rentabilidade 0 5 0 5 0 5

Escudos de impostos não-dívida 0 5 2 2 1 5

Risco 0 9 1 5 3 9

Composição dos ativos 6 1 5 1 1 7

Tamanho 6 0 1 3 2 6

* insignificante** o artigo de EL-KHOURI sugere duas hipóteses (+ ou -) propostas pela teoria

As hipóteses propostas nos estudos parecem estar bem definidas para as

variáveis rentabilidade, escudos de impostos não dívida, risco e tamanho. Por outro

lado, por outro lado as discussões teóricas existentes em torno da influência das

oportunidades de crescimento e da composição dos ativos sobre a alavancagem

financeira, sugerem mais de uma hipótese para o comportamento dessas variáveis.

A análise dos resultados encontradas, por sua vez, demonstra uma certa

fragilidade dos testes, na medida em que esses identificam resultados diversos para o

comportamento dos determinantes da estrutura de capital. Ainda assim, podemos

extrair do quadro acima algumas conclusões interessantes, a partir dos resultados

encontrados mais freqüentemente.

O resumo dos resultados sugere que as oportunidades de crescimento, a

rentabilidade e o risco estão negativamente relacionados com a alavancagem e a

proporção de ativos fixos está positivamente relacionada com a alavancagem,

conforme proposto na maior parte das hipóteses. No entanto, os escudos de impostos

não dívida apresentaram relação positiva com alavancagem em dois estudos e

negativa em outros dois. E os resultados obtidos para o tamanho das empresas parece

contradizer as hipóteses propostas, na medida em que apresenta um coeficiente

negativo na maioria dos estudos.

Page 33: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

29

A relação entre as hipóteses propostas e as teorias de estrutura de capital será

abordada na seção de metodologia desta dissertação. Em seguida serão analisados

artigos que discutem a estrutura de capital das empresas brasileiras e de países em

desenvolvimento, ressaltando características particulares dos mercados financeiros e

da economia que influenciam na determinação da alavancagem das empresas

nacionais.

Page 34: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

30

2.3 Características da estrutura de capital no Brasil

Os artigos de PROCIANOY, J.,1995 e POLI, B. e PROCIANOY, J., 1993 utilizam

modificações tributárias ocorridas no Brasil em 1989, que deixaram de tributar a

distribuição de dividendos e passaram a tributar ganhos de capital, para demonstrar a

existência de conflito entre os agentes na escolha da forma de financiamento.

Em seu artigo de 1995, PROCIANOY atenta para o fato de que, no caso

brasileiro, por haver semelhança entre o acionista majoritário e os gestores, o principal

conflito de agentes ocorre entre os gestores e os acionistas minoritários. A conclusão

do autor é de que os acionistas controladores preferem reter o capital a pagar

dividendos, prejudicando a maximização da riqueza do acionista. Isso ocorre devido à

possibilidade de emissão de até 2/3 de ações sem direito a voto, que permitem a

manutenção do controle com apenas 1/6 do capital total da empresa. No caso de

distribuição de dividendos, o controlador disporia apenas de 1/6 do valor distribuído,

mas retendo os lucros ao máximo o controlador tem o poder de gestão sobre a

totalidade dos recursos.

A existência de conflito entre agentes no Brasil também é tema de dois artigos

de KAYO, E.; FAMÁ, R., no ano de 1997. No entanto, o conflito principal analisado

neste caso é aquele existente entre acionistas e credores. Em KAYO, E.; FAMÁ, R.,

no ano de 1997(a), os autores comparam as leis de falência e concordata no Brasil e

nos EUA, identificando características específicas da lei brasileira que dificultam que

uma empresa com problemas financeiras recupere seu valor corporativo.

Entre as principais diferenças encontradas está a inexistência na lei brasileira

da obrigação de constituir comitês formados gerentes, acionistas e credores, que

diminuiriam das assimetrias de informação, melhorando a eficácia das soluções

propostas e evitando atitudes egoístas como o pagamento de dividendos e a promoção

de projetos muito arriscados pelos acionistas, ou a fuga de gerentes competentes para

outras empresas.

Page 35: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

31

Outra diferença relevante é a existência da concordata, na lei brasileira, que,

segundo os autores aumenta os conflitos entre a empresa e seus clientes e

fornecedores. Isso ocorre porque a concordata interrompe o fluxo de pagamentos e

mercadorias entre as partes, gerando atitudes defensivas que são prejudiciais à

empresa. Além das diferenças da lei americana, os autores analisam também uma

proposta do governo de alteração da lei brasileira.

O segundo artigo de KAYO, E.; FAMÁ, R. 1997(b) testa evidências empíricas

dos efeitos positivos e negativos do endividamento em uma amostra de empresas

brasileiras de capital aberto. Os autores encontram evidências de que o uso de dívidas

pode exercer efeitos positivos ou negativos sobre o valor da empresa, dependendo da

existência de oportunidades de crescimento.

O efeito negativo da dívida ocorre na fase de crescimento acelerado da

empresa, quando é grave o problema do sub-investimento. Nessa fase, a utilização de

dívida diminui a capacidade da empresa de financiar projetos com VPL positivo, pois

ela tem de retornar ao mercado de empréstimos a cada novo projeto, sendo penalizada

por essa atitude. Na fase de maturidade das empresas o maior problema é o de sobre-

investimento porque os gerentes tendem a investir em projetos com VPL negativo

para aumentar o tamanho da empresa, mais com isso, prejudicam o retorno ao

acionista. Nesse caso, a utilização de dívida inibe essa atitude egoísta, contribuindo

para aumentar a eficiência da empresa.

KRÄMER, R.; PROCIANOY, J., 1996 verificam, através de um teste de

diferença de médias, qual indicador financeiro melhor sinaliza que uma empresa está

empregando recursos financeiros em excesso. Os resultados encontrados apontam para

o passivo circulante / (exigível a LP + Patrimônio Líquido ) como o melhor dentre os

cinco indicadores pesquisados para indicar aos gestores que o limite de utilização de

capital de terceiros foi ultrapassado.

Os artigos de PROCIANOY, J. e CASELANI, C., 1997 e CASELANI, C. e

PROCIANOY, J., 1996, verificam o destino dado aos recursos captados via emissão

de ações. Os resultados obtidos testando uma amostra agregada de dados

Page 36: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

32

demonstraram que, de modo geral, os recursos captados foram utilizados

principalmente no investimento em ativo permanente, em detrimento do investimento

em ativo não-permanente e da redução do passivo. No entanto, os resultados obtidos

através da segmentação da amostra por tipo de controle acionário, tamanho da

empresa, setor e período da análise revelaram resultados ainda mais significativos.

Através da segmentação da amostra por tipo de controle acionário, os autores

encontraram em empresas com controle definido, um nível menor de investimento em

ativo permanente e maior em redução de passivo. Essa atitude sugere que a emissão

está sendo utilizada como fator de redução de risco, influenciada pela aversão ao risco

do gestor-acionista. Além disso, a segmentação da amostra por períodos demonstrou

uma forte variação nas estratégias de aplicação dos recursos, de acordo com aspectos

conjunturais. Finalmente, a segmentação da amostra pelo tamanho da empresa e pelo

setor de atividade também indicaram que esses fatores também interferem na

determinação da estrutura de capital das empresas.

Além da diferenciação entre ações ordinárias e preferenciais, PROCIANOY, J

e CASELANI, C, 1997 ressaltam outras 3 características próprias do mercado

brasileiro que influenciam na determinação da estrutura de capital das empresas. São

elas: a instabilidade econômica, a escassez de fontes de financiamento de longo prazo

e a aversão ao risco do gestor-proprietário. Todas contribuem para um menor grau de

alavancagem financeira das empresas.

Uma série de artigos examina as diversas alternativas de que dispõem as

empresas para se financiarem. RODRIGUES, D., 1984, discrimina essas alternativas

em termos de recursos gerados internamente, emissão de ações, empréstimos e

financiamentos de longo prazo, alienação do ativo permanente e redução no realizável

a longo prazo, e redução no capital circulante líquido. O autor destaca a geração

interna como principal fonte de recursos de que dispõem as empresas brasileiras e

analisa a evolução dos seus diversos componentes: lucro líquido, depreciação, saldo

de correção monetária, variação monetária e cambial, dívidas de coligadas e outros

recursos operacionais; entre 1978 e 1982.

Page 37: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

33

MELO, A., 1993 também afirma que as empresas optam preferencialmente

pelo autofinanciamento como forma de capitalização. O autor identifica variáveis

externas à empresa que interferem na sua forma de financiamento e levam a empresa a

evitar o endividamento excessivo. São elas: 1) taxas de juros mais elevadas que a

média internacional, 2) concorrência do governo na captação de fundos, 3) anemia

crônica do mercado de capitais , incapaz de mobilizar recursos de longo prazo devido

a fatores como a inflação persistente, altas taxas de juros, concentração de renda,

reduzida pulverização de ações, instabilidade das normas fiscais e tributárias e herança

da cultura fundiária portuguesa, 4) captação de fundos no mercado externo disponível

apenas para grandes empresas e 5) inexistência de financiamento de longo prazo no

sistema financeiro privado nacional.

A teoria do pecking order é testada também em FERREIRA, L., e BRASIL,

H., 1997. Os autores utilizam uma pequena amostra de empresas têxteis, encontrando

resultados semelhantes a MELO, A., 1993. Através de uma análise das demonstrações

de origens e aplicações de recursos é verificada a preferência das empresas da amostra

pelo autofinanciamento, e, em seguida pelas dívidas em relação a emissão de ações.

LEMOS, M., 1999, propõe um modelo para determinar a estrutura de capital

em empresas de alimentos e bebidas no Brasil e, através de sucessivas análises de

regressão, adiciona as variáveis inflação, taxas de juros e desembolsos do BNDES, ao

modelo tradicional de determinantes da estrutura de capital, formado por variáveis

como, rentabilidade, risco, tamanho, crescimento e composição dos ativos. Dentre os

determinantes tradicionais, o autor encontra resultado significante apenas para a

variável lucratividade, que se apresenta negativamente relacionada com a

alavancagem.

Em seu estudo, o autor ressalta que as características próprias do mercado

brasileiro são mais relevantes do que as variáveis tradicionais propostas pela teoria

para explicar a determinação da estrutura de capital das empresas nesse setor.

Segundo o autor, o fator risco provocado pela instabilidade econômica, que gera

elevadas taxas de juros e faz com que o autofinanciamento seja uma fonte prioritária

de fundos, as falhas no mercado de capitais e a relevância do financiamento estatal,

Page 38: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

34

administrado pelo BNDES, são os principais determinantes das escolhas de

financiamento das empresas de alimentos e bebidas.

Antes de ser iniciada a análise dos testes empíricos realizados, é importante

citar alguns artigos que descrevem características específicas da economia nacional e

de países em desenvolvimento, que interferem no padrão de financiamento das

empresas brasileiras.

GLEN, J.; PINTO, B., 1994, acreditam que o ambiente determinado pelas

características singulares de uma economia em desenvolvimento interfere na decisão

de financiamento das empresas. Os autores ressaltam que apenas a partir dos anos 90

os mercados de capitais estão atendendo às necessidades dos emissores. Bancos

estatais e agencias de desenvolvimento têm sido tradicionalmente os maiores

emprestadores e o acesso aos mercados internacionais tem sido limitado por restrições

e pelo custo alto causado pelo risco soberano elevado do país, ofuscando o potencial

do setor privado. O custo elevado das alternativas é um dos elementos chave na

escolha de instrumentos financeiros em países em desenvolvimento.

Além da avaliação do custo das alternativas, as decisões financeiras em países

em desenvolvimento também são afetadas pelas questões relativas ao controle

corporativo e problemas de disclosure. Porém, na medida em que os mercados se

desenvolvem e os preços das ações se elevam, mais empresas estão emitindo ações,

apesar dos problemas potenciais gerados sobre o controle e o disclosure.

Com a liberalização em andamento em diversos países, as empresas estão

reexaminando suas estruturas de capital. Elas possuem atualmente à disposição um

portfólio de instrumentos financeiros mais rico e com menos restrito (em termos de

preços), incluindo acesso ao mercado internacional que oferecem capital mais barato

do que aquele disponível anteriormente.

Os estudos de DEMIRGUC-KUNT, A.; MAKSIMOVIC, 1995 e SINGH, A.,

1994 também estudam a forma como as empresas se financiam em países em

desenvolvimento. Através da observação de indicadores contábeis e informações do

Page 39: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

35

mercado de capitais, nos anos 80, os autores analisam a estrutura de capital em 10

países em desenvolvimento: Índia, Coréia, Jordânia, Paquistão, Tailândia, Malásia,

Turquia, Brasil, México e Zimbabue.

DEMIRGUC-KUNT, A.; MAKSIMOVIC, 1995 testam em seu artigo diversos

determinantes da estrutura de capital sugeridos pela teoria e encontram resultados

compatíveis com aqueles encontrados em países desenvolvidos. Apesar dos mercados

financeiros nos países analisados serem menos desenvolvidos e mais regulamentados,

os resultados encontrados indicam que variáveis como a composição dos ativos, a

liquidez e a classificação industrial tem forte influência sobre a estrutura de capital.

Em menor grau, foram encontrados relacionamentos entre o tamanho da empresa, as

oportunidades de crescimento e os efeitos de impostos com a estrutura de capital.

Os resultados encontrados por SINGH, A., 1994 sugerem que, apesar de

existirem variações entre os padrões de financiamento das empresas nos diversos

países em desenvolvimento, elas tendem a se financiar fortemente através de fontes

externas de capital e emissões de ações. O resultado encontrado contraria as

expectativas da teoria do pecking order, e os argumentos de estudos anteriores que

atentavam para a ineficiência dos mercados de capitais e para o controle familiar das

empresas nesses países, que desencorajariam as empresas a emitir ações.

Por sua vez, ZONENSCHAIN, C., 1998 examina o padrão de financiamento

das empresas brasileiras no período recente (1989/1996). Esse artigo utiliza uma

metodologia baseada em SINGH A., 1995 e SINGH A. e HAMID J., 1992, que

estudam os padrões de financiamento em países em desenvolvimento.

Surpreendentemente, esses três estudos indicam uma preferência das empresas pela

emissão de ações, em detrimento do endividamento de longo prazo, tanto no Brasil,

como em outros países analisados.

Em SINGH A., 1995, o autor argumenta que tem havido um grande

crescimento do mercado acionário nos países em desenvolvimento desde os anos 80,

fortemente relacionado a políticas governamentais e não a forças de mercado. Entre os

aspectos que contribuíram nesse processo estão os programas de privatização, a crise

Page 40: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

36

da dívida, que levou à busca de alternativas de financiamento que não criassem dívida

externa, a necessidade das empresas públicas procurarem capitais privados para

investimento, a tendência geral de desregulamentação e globalização dos mercados

financeiros e as dificuldades das agências internacionais de desenvolvimento.

Os padrões de financiamento encontrados por esses dois estudos são retratados

nas tabelas a seguir. Como podemos observar, apesar das empresas brasileiras

apresentarem um percentual de emissões bastante superior ao de endividamento no

período 1985/91, a partir de 1994, os recursos obtidos através do endividamento

superaram aqueles captados através de emissões. Além disso, essa tendência de

crescimento do endividamento em relação às emissões se confirmou até 1996, quando

o endividamento representou 38% do financiamento das empresas e as emissões

apenas 4%. Essa alteração substancial na alavancagem financeira das empresas

brasileiras sugere a ocorrência de modificações substanciais nas características dos

mercados financeiros e no comportamento dos agentes.

QUADRO IV - PADRÃO DE FINANCIAMENTO DAS EMPRESAS NO BRASIL – 1989/96

(em %)ANO AUTOFINANCIAMENTO ENDIVIDAMENTO EMISSÕES AMOSTRA

(N.º de Empresas)1989/96 25 27 48 971989 42 20 38 1111990 10 13 78 941991 14 18 68 92

Page 41: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

37

1992 21 15 64 851993 55 22 23 1281994 58 23 19 1351995 53 28 19 1041996 58 38 4 88Fonte: Zonenschain, C., 1998

QUADRO V - PADRÕES DE FINANCIAMENTO EM PAÍSES SELECIONADOS

(Em %)PAÍS AUTOFINANCIA-

MENTOENDIVIDA-

MENTOEMISSÕES AMOSTRA PERÍODO

Brasil 46 6 37 100 1985/91Coréia 16 30 47 100 1980/90Paquistão 68 24 5 100 1980/88Jordânia 55 6 26 38 1980/90Tailândia 15 Nd Nd 67 1983/90México 23 1 65 100 1984/90Índia 38 39 16 100 1980/90Turquia 13 17 67 45 1982/90Malásia 30 12 48 100 1983/90Zimbabue 57 0 43 48 1980/88Total 32 16 41 - -Fonte: Singh (1995).

A revisão dos textos que discutem sobre a estrutura de capital no Brasil

introduz algumas características específicas dos mercados financeiros e da economia

nacional que podem interferir nos resultados dos testes econométricos. Uma

característica ressaltada pela maior parte dos artigos analisados é a forte propensão ao

autofinanciamento identificada nas empresas brasileiras.

PROCIANOY, 1995, POLI e PROCIANOY, 1994 e CASELANI e

PROCIANOY, 1996, explicam essa preferência pelo autofinanciamento através do

conflito existente entre controladores e acionistas minoritários na disputa pelos

recursos gerados na empresa, somado à forte aversão ao risco do gestor-acionista, que

concentra a maior parte de seu patrimônio em sua empresa.

KAYO e FAMÁ, 1997, alertam para as deficiências das leis de concordata e

falência no país, que dificultam a recuperação de empresas com dificuldades

financeiras, fazendo com que em geral as empresas se tornem mais conservadoras e

Page 42: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

38

menos alavancadas, preferindo se financiar com recursos próprios.

Outros autores diversos sugerem que as empresas brasileiras preferem o

autofinanciamento devido à instabilidade econômica e das normas fiscais e tributárias,

devido à escassez de fontes de financiamento de longo prazo pelas quais o governo

concorre com as empresas, devido às elevadas taxas de juros e às deficiências do

mercado de capitais. Todos esses fatores parecem influenciar na determinação da

estrutura de capital das empresas brasileiras.

No entanto, o país parece estar caminhando no sentido de solucionar alguns

desses problemas a partir da queda da inflação, da abertura da economia, da entrada de

capitais externos no mercado de capitais e das reformas do Estado. Diante desse

cenário evolutivo, que aproxima as condições de financiamento das empresas

brasileiras daquelas obtidas em países desenvolvidos, cada vez mais, a escolha da

estrutura de capital das empresas brasileiras deverá ser determinada pelos fatores

tradicionais propostos pela teoria.

Em seguida será descrita a metodologia dos testes realizados nessa dissertação,

que pretendem verificar a relação existente entre os determinantes propostos pela

teoria e a estrutura de capital de uma amostra de empresas brasileiras com ações

negociadas em bolsa de valores.

Page 43: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

39

3 METODOLOGIA

3.1 Objetivos

O principal objetivo dos testes propostos é verificar a influência das variáveis

propostas pela teoria na determinação da estrutura de capital das empresas brasileiras

com ações negociadas em bolsa de valores. Nesse sentido, a metodologia de trabalho é

definida com base nos estudos empíricos sobre determinantes da estrutura de capital

citados na revisão teórica.

Visando atender ao objetivo principal dessa dissertação, são definidas na

próxima seção (3.2) as hipóteses testadas, que se referem ao comportamento da

alavancagem financeira, diante da alteração de variáveis sub-rogadas dos

determinantes da estrutura de capital propostos pela teoria. As variáveis sub-rogadas

escolhidas estão listadas na seção 3.3., seguidas da descrição da análise de regressão,

na seção 3.4. Finalmente, nas duas últimas seções da metodologia são feitas

considerações sobre o universo e amostra da pesquisa e sobre as limitações do método

de pesquisa.

Page 44: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

40

3.2 Elaboração das hipóteses

As hipóteses propostas visam relacionar os determinantes da estrutura de capital

selecionados à alavancagem financeira das empresas. Conforme descrito na revisão

teórica, a existência de determinantes da estrutura de capital nega as proposições de

MODIGLIANI e MILLER (1958), e reforça as teorias que propõem um ponto ótimo

de estrutura de capital. As hipóteses propostas nessa dissertação são baseadas nas

indicações dessas teorias sobre os comportamentos da estrutura de capital das

empresas expostas a certos determinantes.

Com base nos estudos empíricos sobre determinantes da estrutura de capital e

na disponibilidade de dados existente, foram selecionados 5 determinantes a serem

testados: RENTABILIDADE, RISCO, TAMANHO, COMPOSIÇÃO DOS ATIVOS e

OPORTUNIDADES DE CRESCIMENTO. Entre os principais determinantes

sugeridos pela teoria e testados nos estudos empíricos citados anteriormente, apenas

os escudos de impostos não dívida foram excluídos dos testes. Isso foi feito pela

dificuldade de serem obtidos dados confiáveis sobre a depreciação e os créditos de

impostos das empresas da amostra.

As teorias de estrutura de capital prevêem comportamentos específicos para

cada um destes determinantes, conforme descrito a seguir:

3.2.1 Rentabilidade

De acordo com o pecking order as empresas preferem financiar-se através de capital

próprio, ao invés de utilizarem capital de terceiros. Desta forma a lucratividade da

empresa, fonte principal do capital próprio disponível para o reinvestimento, deve

influenciar a estrutura de capital das empresas. Empresas lucrativas, que disponham

de recursos próprios para se autofinanciar deverão ter menos dívidas em sua estrutura

de capital.

Uma segunda justificativa para a relação negativa entre rentabilidade e

Page 45: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

41

alavancagem se baseia na associação existente entre rentabilidade e risco. Na medida

em que a teoria dos custos de falência sugere que risco é negativamente associado à

alavancagem, a rentabilidade também deve ser negativamente relacionada ao

endividamento. Espera-se, portanto, que haja uma relação negativa entre lucratividade

e alavancagem financeira.

Hipótese 1: Há uma relação negativa entre rentabilidade e alavancagem financeira

3.2.2 Risco

A teoria dos custos de falência indica que a volatilidade do valor da empresa está

inversamente relacionada ao ponto ótimo de alavancagem financeira. Isso ocorre

porque quanto maior é a volatilidade do valor da empresa, maior a probabilidade da

empresa tornar-se insolvente e ir à falência, incorrendo nos custos relacionados. Desta

forma, empresas mais arriscadas deverão ter menos dívida, enquanto empresas menos

arriscadas deverão optar por um nível mais elevado de endividamento.

Hipótese 2: Há uma relação negativa entre risco e alavancagem financeira

3.2.3 Tamanho

A teoria dos custos de falência propõe que empresas grandes, mais diversificadas que

empresas pequenas, teriam uma menor probabilidade de falência. Além disso,

empresas grandes geralmente recebem melhores classificações de crédito e pagam

taxas de juros menores, aumentando os benefícios da dívida. Desta forma, empresas

grandes devem ser mais alavancadas do que empresas pequenas.

Por outro lado, empresas pequenas podem ter dificuldade de acesso aos

mercados de dívida de longo prazo e aos mercados de ações, devido aos altos custos

de emissão, podendo optar pelo financiamento através do mercado de dívida de curto

prazo. Acredita-se, portanto, que exista uma relação positiva entre o tamanho da

Page 46: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

42

empresa e as dívidas de longo prazo, e uma relação negativa entre tamanho e dívidas

de curto prazo. Como, no Brasil, o mercado de dívidas de curto prazo opera com taxas

extremamente elevadas, impedindo que as empresas disponham dessa fonte para

financiar projetos de longo prazo, a hipótese testada nesta dissertação será a de que

tamanho e alavancagem estão positivamente relacionados.

Hipótese 3: Há uma relação positiva entre tamanho e alavancagem financeira

3.2.4 Composição dos ativos

Conforme a teoria de informações assimétricas, quando as empresas emitem dívidas,

elas incorrem em custos por deter informações mais precisas do que aquelas

disponíveis para os credores. Devido a essa assimetria de informações, os credores

preferem emprestar para empresas que detenham ativos fixos que, no caso de

liquidação da empresa, garantam os empréstimos concedidos.

Além disso, de acordo com a teoria dos custos dos agentes, os acionistas de

empresas muito alavancadas são incentivados a investir em projetos arriscados ótimo

para expropriar valor dos credores. Desta forma, os credores deverão emprestar a um

custo mais baixo para empresas que possuam ativos fixos, que funcionam como

garantia no caso de liquidação da empresa e funcionam como proteção dos credores

contra estratégias arriscadas promovidas pelos acionistas.

A teoria dos custos de falência também sugere uma relação positiva entre a

composição dos ativos e a alavancagem. Isso ocorre porque o custo de falência é

menor quando a empresa dispõe de ativos fixos, com mercados secundários ativos,

que podem ser vendidos em caso de liquidação.

Baseados nesses aspectos podemos afirmar que deve haver um relação positiva

entre a proporção de ativos fixos que as empresas possuem e a sua alavancagem

financeira.

Page 47: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

43

Hipótese 4: Há uma relação positiva entre a proporção de ativos fixos e a

alavancagem financeira

3.2.5 Oportunidades de crescimento

A teoria dos custos de falência argumenta que as empresas preferem não emitir dívida

para financiar oportunidades de crescimento intangíveis. Isso ocorre por diversas

razões. Em primeiro lugar, o crescimento acelerado gera créditos fiscais que

funcionam como escudos de impostos e diminuem os benefícios fiscais do

endividamento. Em segundo lugar, o custo de falência de empresas que possuem um

crescimento acelerado é mais elevado porque seu valor é determinado por ativos

intangíveis e pelas expectativas de retornos futuros, que não têm valor no caso de

liquidação.

Além disso, em empresas de crescimento acelerado existe uma necessidade

constante de realização de novos investimentos e o custo do sub-investimento pela

falta de recursos disponíveis é elevado neste caso. Por esse motivo, as empresas

mantêm uma alavancagem menor para poderem captar recursos no caso de

aparecerem novas oportunidades de investimento. Somando-se a esse fato, o mercado

de dívida em geral penaliza empresas que retornam freqüentemente ao mercado para

obter recursos. Todos esses argumentos levam à conclusão de que empresas com

maiores oportunidades de crescimento devem possuir menos dívida em sua estrutura

de capital.

Por outro lado, de acordo com o pecking order deveria existir uma relação

positiva entre as oportunidades de crescimento e a alavancagem. Isso ocorre porque a

preferência pelo auto financiamento proposto pela teoria levaria firmas com baixo

potencial de crescimento a não deter dívidas. Apenas aquelas firmas com alto

potencial de crescimento, que não possuem recursos próprios suficientes para se

financiar optariam por uma maior alavancagem financeira.

Os argumentos da teoria dos custos de falência parecem mais consistentes e

Page 48: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

44

são mais utilizados em trabalhos anteriores para testar a relação entre as oportunidades

de crescimento e a alavancagem. Por esses dois motivos, nesta dissertação será testada

a hipótese de que existe uma relação negativa entre alavancagem financeira e

oportunidades de crescimento.

Hipótese 5: Há uma relação negativa entre oportunidades de crescimento e

alavancagem financeira

3.2.6 Classificação industrial

A classificação industrial aparece como um determinante da estrutura de capital em

diversos dos estudos empíricos analisados. Sua utilização têm por objetivo medir a

influência do segmento da empresa na determinação da estrutura de capital.. A

classificação industrial engloba um conjunto de características únicas para cada setor

que, conforme a teoria de fatores organizacionais, interferem de forma efetiva na

forma de financiamento das empresas. Por isso, serão acrescentadas ao modelo

variáveis dummy de setor industrial com o objetivo de mensurar a influência desse

determinante no nível de alavancagem financeira das empresas da amostra.

Page 49: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

45

3.3 Seleção das variáveis

A escolha das variáveis é baseadas em três fatores principais: (1) suporte da teoria, (2)

utilização em pesquisas anteriores e (3) disponibilidade dos dados, sendo o terceiro

fator o mais restritivo. A seleção foi feita a partir do quadro I apresentado

anteriormente, que descreve as variáveis sub-rogadas utilizadas nos estudos empíricos

relacionadas a cada um dos determinantes da estrutura de capital.

O resultado da seleção indicou 6 variáveis dependentes sub-rogadas que

medem a alavancagem financeira da empresa e 5 variáveis independentes sub-rogadas

dos determinantes selecionados da estrutura de capital, analisados nesta dissertação,

RENTABILIDADE, RISCO, TAMANHO, COMPOSIÇÃO DOS ATIVOS e

OPORTUNIDADES DE CRESCIMENTO, são elas:

3.3.1 Variáveis dependentes

• Dívida de LP + CP / (dívida de LP + CP + valor de mercado das ações)

• Dívida de LP / (dívida de LP + valor de mercado das ações)

• Dívida de CP / (dívida de CP + valor de mercado das ações)

• Dívida de LP + CP / ativo total

• Dívida de LP / ativo total

• Dívida de CP / ativo total

3.3.2 Variáveis independentes

• EBITDA* / ativo total (Rentabilidade)

• Desvio padrão do (EBITDA* / ativo total) (Risco)

• Log vendas (Tamanho)

• Ativos fixos / ativo total (Composição dos ativos)

• (Ativo - patrimônio líquido + valor de mercado)/ativo (Oportunidades de

crescimento)

* EBITDA = lucro operacional antes de juros, impostos, depreciação e amortização

Page 50: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

46

A operacionalização das variáveis foi feita da seguinte forma. Foram selecionados os

indicadores das demonstrações financeiras das empresas listadas no software

ECONOMÁTICA que apresentassem dados disponíveis nos três anos de cada

amostra. Em seguida foi obtida a média dos três valores correspondentes a cada um

dos anos.

Vale ressaltar que os indicadores retirados do Balanço, como por exemplo o ativo e o

patrimônio líquido, refletem uma posição de final de período, enquanto os indicadores

de resultado, como o EBITDA e as vendas, refletem o ocorrido ao longo do respectivo

ano. A utilização de médias visa minimizar distorções decorrentes desse fato. No

entanto, os testes realizados, bem como quaisquer outros testes baseados em

indicadores contábeis, estão sujeitos a desvios em função dessas diferenças entre as

variáveis calculadas a partir de dados de Balanço e Resultado.

Page 51: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

47

3.4 Descrição do método

O experimento utiliza a análise de regressão múltipla de duas amostras de indicadores

de empresas brasileiras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo, nos períodos entre

1995-97 e 1991-93, baseada nas equações a seguir:

Alavancagem [firma i] = α + β1 Rentabilidade + β2 Risco + β3 Tamanho +

β4 Composição dos ativos + β5 Oportunidades de crescimento + εi

Alavancagem [firma i] = α + β1 Rentabilidade + β2 Risco + β3 Tamanho +

β4 Composição dos ativos + β5 Oportunidades de crescimento + Di + εi

Di = variável dummy de setor industrial

3.4.1 Resumo das Hipóteses

H1: β1 < 0

H2: β2 < 0

H3: β3 > 0

H4: β4 > 0

H5: β5 < 0

Page 52: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

48

3.5 Universo e amostra

O universo da pesquisa encerra todas as empresas brasileiras de capital aberto não

financeiras. As empresas financeiras (bancos, financeiras, corretoras, entre outras) são

excluídas da análise por que sua estrutura de capital é determinada por fatores

diferentes daqueles que determinam a estrutura de capital de empresas não financeiras.

Quanto ao tipo de amostragem utilizada na pesquisa, esta é estratificada e não

proporcional, pelo fato de que só são utilizadas empresas cujos dados estejam

disponíveis na ECONOMÁTICA. Ou seja, cada setor está representado pelas

empresas listadas neste banco de dados independente da proporção real existente entre

os setores no universo brasileiro.

Os dados utilizados nas regressões são a média dos indicadores em dois

períodos, de 1991 a 1993 e de 1995 a 1997, daquelas empresas cujos dados estejam

disponíveis e completos. Dessa forma, podemos testar as hipóteses em dois períodos

distintos.

Page 53: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

49

3.6 Limitações do método

A principal limitação do método está na quantidade de dados da amostra. Isso porque

o mercado brasileiro é limitado em termos de dados disponíveis para análise e em

termos do número de empresas de capital aberto listadas em bolsas de valores. Apesar

de acreditarmos que exista um número suficiente de empresas para alcançarmos

resultados agregados significativos, a análise do efeito dos setores industriais

específicos pode apresentar resultados não significativos pelo pequeno número de

empresas nestes setores.

A exclusão de empresas não listadas em bolsas da amostra pode ter gerado

também um viés significativo para a interpretação do comportamento das empresas

brasileiras em geral, motivo pelo qual essa dissertação se propõe a analisar apenas o

comportamento das empresas com ações negociadas em bolsa de valores.

Outros problemas encontrados estão relacionados à utilização de

demonstrações financeiras das empresas em diferentes períodos. Esses balanços foram

sujeitos a diversas modificações na legislação fiscal, motivadas principalmente pela

necessidade de ajustar-se aos efeitos da inflação.

Finalmente, não é possível analisar através da metodologia adotada de cross-

section os efeitos dinâmicos dos determinantes da estrutura de capital. A opção de

excluir esses efeitos da análise foi adotada devido à pequena base de dados confiáveis

disponível para os períodos 1991-93 e 1995-97. Uma análise temporal dos efeitos de

outros determinantes como juros e inflação seria um tema relevante para estudos

subseqüentes, mas exigiria uma base de dados mais extensa.

Page 54: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

50

4 ANÁLISE DOS TESTES

4.1 Comentários gerais

Os testes econométricos realizados utilizaram duas amostras de dados, formadas pela

média de três anos das sub-rogadas descritas na seção anterior. O uso da médias dos

indicadores visa minimizar os efeitos de aspectos conjunturais como variações nas

taxas de juros e inflação, sobre as variáveis do modelo. A primeira amostra é

composta dos indicadores calculados a partir das demonstrações financeiras de 144

empresas, correspondentes aos anos de 1995, 1996 e 1997, enquanto a segunda

amostra foi formada a partir das demonstrações de 110 empresas nos de 1991, 1992 e

1993.

Em cada período foi testada a regressão das variáveis sub-rogadas dos

determinantes propostos pela teoria, em relação às seis medidas de alavancagem

sugeridas nesse trabalho:

• Dívida de LP + CP / (dívida de LP + CP + valor de mercado das ações)

• Dívida de LP / (dívida de LP + valor de mercado das ações)

• Dívida de CP / (dívida de CP + valor de mercado das ações)

• Dívida de LP + CP / ativo total

• Dívida de LP / ativo total

• Dívida de CP / ativo total

As regressões utilizando os três primeiros indicadores, que medem o capital

próprio através de seu valor de mercado, obtiveram resultados semelhantes, em termos

de significância e sinais dos coeficientes das variáveis independentes. Do mesmo

modo, os outros três indicadores, que medem o capital próprio através do seu valor de

livro (patrimônio líquido), também obtiveram resultados semelhantes nas regressões

sobre os determinantes propostos.

Por esse motivo, serão apresentados apenas os resultados das regressões

obtidos para uma variável de cada grupo, nas duas amostras. Foram selecionadas as

Page 55: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

51

variáveis [Dívida de LP + CP / (dívida de LP + CP + valor de mercado das ações)],

que chamaremos ALAVMERC, e [Dívida de LP + CP / ativo total], que chamaremos

ALAVPAT. Os gráficos a seguir comparam o comportamento dessas variáveis nas

duas amostras.

GRÁFICO II - VARIÁVEIS DEPENDENTES - AMOSTRA 95-97

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

20 40 60 80 100 120 140ALAVPAT ALAVMERC

coeficiente de correlação = 0,770337

GRÁFICO III - VARIÁVEIS DEPENDENTES - AMOSTRA 91-93

0 .0

0 .2

0 .4

0 .6

0 .8

1 .0

20 40 60 80 100A LA V P A T A LA V M E R C

coeficiente de correlação = 0,682685

Page 56: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

52

Os resultados dos testes realizados serão descritos a seguir para cada uma das

amostras. Em alguns quadros serão utilizadas abreviações das variáveis Rentabilidade,

Composição dos ativos e Oportunidades de crescimento, conforme listadas a seguir:

• RENTAB = Rentabilidade

• COMPATIV = Composição dos ativos

• OPCRESC = Oportunidades de crescimento

Page 57: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

53

4.2 Análise de regressão da amostra 95-97

O quadro a seguir mostra os resultados das estatísticas descritivas das variáveis do

modelo. As distribuições das variáveis apresentam um comportamento que não é

próximo ao de uma distribuição normal, exceto no caso da variável tamanho. O teste

Jarque-Bera, que mede o afastamento da “skewenes” e da “kurtosis” (3º e 4º

momentos) de uma distribuição normal padronizada indicou 63,25% de probabilidade

da distribuição da variável tamanho analisada ser normal. As outras variáveis

apresentam valores máximo, mínimo mediano adequados, que não indicam a

existência de outliers ou de incoerências nos dados da amostra.

QUADRO VI - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DAS VARIÁVEIS - AMOSTRA 95-97

ALAVMERC ALAVPAT RENTAB RISCO TAMANHO COMPATIV OPCRESC

Média 0.398798 0.184678 0.061637 0.040818 19.41851 43.28307 0.940536 Mediana 0.359470 0.156019 0.059658 0.033601 19.29964 40.22497 0.791879 Máximo 0.970796 0.672882 0.317703 0.190225 23.60071 90.76732 4.560432 Mínimo 0.008135 0.009436 -0.102820 0.003602 16.15972 0.044065 0.298912 Desv. Pad. 0.271047 0.129545 0.064125 0.030573 1.346893 21.97792 0.590790 Skewness 0.388599 1.254182 0.535236 1.871962 0.186993 0.305442 3.396919 Kurtosis 1.943578 4.749892 4.764935 7.729430 2.886745 2.346034 17.98185

Jarque-Bera 10.32040 56.12408 25.56544 218.3069 0.916154 4.805109 1623.672 robabilidade 0.005741 0.000000 0.000003 0.000000 0.632499 0.090487 0.000000

observações 144 144 144 144 144 144 144

A matriz de correlação abaixo não indica a existência de correlações elevadas

entre as variáveis independentes. O maior valor encontrado é de 0,28, entre tamanho e

rentabilidade. O baixo nível de correlação entre as variáveis independentes indica a

existência de baixa multicolinearidade no modelo.

QUADRO VII - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS - AMOSTRA 95-97

RENTAB TAMANHO COMPATIV OPCRESC RISCORENTAB 1.000000 0.288344 0.206493 0.114234 0.024461RISCO 0.288344 1.000000 0.262499 0.088909 -0.115481TAMANHO 0.206493 0.262499 1.000000 0.015259 -0.054650COMPATIV 0.114234 0.088909 0.015259 1.000000 0.235929OPCRESC 0.024461 -0.115481 -0.054650 0.235929 1.000000

Page 58: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

54

A análise de regressão descrita no quadro a seguir foi realizada com a média

dos indicadores de 144 empresas, no período 95-97. A variável independente é

ALAVMERC [Financiamentos LP + CP / (Financiamentos LP + CP + valor de

mercado das ações)].

Os resultados descritos no Quadro VIII indicam um R2 de 0,31 e R2 ajustado

de 0,28, acima das regressões simples para cada uma das variáveis independentes,

cujos R2 situaram-se entre 0,15 e 0,00. Apesar do R2 ser relativamente baixo,

indicando um fraco poder de explicação da variável dependente pelo modelo, ele é

consistente com o valor encontrado em diversos estudos empíricos anteriores citados

na revisão teórica.

Por outro lado, a estatística F obtida, de valor = 12,42, indica uma

probabilidade muito baixa de que o valor dos coeficientes das variáveis dependentes

sejam todos zero. Desta forma, podemos concluir que essas variáveis independentes

contribuem de forma significativa para a explicação da variável ALAVMERC.

As estatísticas t indicam resultados significativos para todas as variáveis

independentes. A regressão indica que a alavancagem é positivamente relacionada

com a proporção de ativos fixos na empresa (t = 2,22) e negativamente relacionada

com a rentabilidade das firmas (t = -4.51) e com as oportunidades de crescimento (t =

-3,64), resultados coerentes com as hipóteses lançadas. Os resultados das variáveis

tamanho (t = -2,61), negativamente relacionada com alavancagem, e risco (t = 3,24),

positivamente relacionada com a alavancagem, confrontam as hipóteses propostas.

QUADRO VIII - ANÁLISE DE REGRESSÃO - AMOSTRA 95-97 - ALAVMERC

Page 59: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

55

Variável dependente - ALAVMERC

Variável Coeficiente Erro padrão Estatística t Prob. (teste t)

RENTABILIDADE -1.428337 0.316961 -4.506344 0.0000TAMANHO -0.040312 0.015392 -2.619038 0.0098COMPATIV 0.002027 0.000913 2.218959 0.0281OPCRESC -0.122942 0.033732 -3.644675 0.0004RISCO 2.113840 0.652223 3.240976 0.0015C 1.211268 0.291963 4.148711 0.0001

R-quadrado 0.310353 Média var. dependente 0.398798R-quadrado ajustado 0.285366 Desv. Pad. var. dependente 0.271047Erro Pad. da regressão 0.229133 Estatística F 12.42046Soma do resíduo quadrado 7.245256 Prob. (Estatística F) 0.000000

Com o objetivo de aumentar o poder de explicação da variável dependente

pelo modelo, foram acrescentadas variáveis dummy referentes aos setores das

empresas da amostra, conforme a classificação da ECONOMÁTICA. O resultado

obtido foi bastante satisfatório em termos de R2 (= 0,52) , R2 ajustado (= 0,43) e

estatística F (= 5,71). No entanto, apenas cinco, dentre dezoito variáveis setoriais,

apresentaram significância em termos de estatística t e os resultados das outras

variáveis independentes se mostraram menos significativos do que nas regressão

anteriores da variável alavancagem. Nesse caso, apenas as variáveis Rentabilidade (t =

-4,17) e Composição dos ativos (t = -4,14) apresentaram resultados significativos. Os

resultados da regressão são mostrados no Quadro IX, a seguir.

QUADRO IX - ANÁLISE DE REGRESSÃO - ALAVMERC COM DUMMIES - AMOSTRA 95-97

Page 60: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

56

Variável dependente - ALAVMERC

Variável Coeficiente Erro padrão Estatística t Prob.(teste t)

RENTABILIDADE -1.442579 0.346037 -4.168857 0.0001TAMANHO -0.026325 0.017409 -1.512140 0.1331COMPATIVOS 0.004404 0.001063 4.141409 0.0001OPCRESC -0.053486 0.034245 -1.561876 0.1210RISCO 0.811952 0.769155 1.055642 0.2933ALIMENTO -0.048459 0.093502 -0.518269 0.6052AUTOPECAS 0.111269 0.098560 1.128948 0.2612BEBIDAS -0.233779 0.100336 -2.329958 0.0215CONSTRUTORAS 0.139943 0.135008 1.036550 0.3020ELETRO-ELETRONICO -0.114056 0.093296 -1.222513 0.2239ENERGIA -0.247796 0.088958 -2.785532 0.0062FERTILIZANTES 0.239532 0.087555 2.735782 0.0072MADEIRA 0.048736 0.133144 0.366039 0.7150MAT. DE TRANSPORTE 0.172203 0.138710 1.241462 0.2169METALURGIA 0.006457 0.084566 0.076359 0.9393MINERACAO -0.251615 0.134896 -1.865260 0.0646PAPEL E CELULOSE 0.001159 0.120508 0.009614 0.9923PETROQUIMICO -0.014152 0.079320 -0.178418 0.8587QUIMICA -0.036101 0.131747 -0.274020 0.7845SIDERURGIA -0.015811 0.096261 -0.164252 0.8698TELECOMUNICACOES -0.311279 0.132068 -2.356964 0.0200TRANSPORTE AEREO 0.307754 0.140090 2.196829 0.0300OUTROS -0.085434 0.089408 -0.955553 0.3412C 0.857297 0.341113 2.513238 0.0133

R-quadrado 0.522640 Média var. dependente 0.398798R-quadrado ajustado 0.431146 Desv. Pad. var. dependente 0.271047Erro Pad. da regressão 0.204431 Estatística F 5.712291Soma do resíduo quadrado 5.015020 Prob. (Estatística F) 0.000000

A pequena significância das variáveis dummy deve estar relacionada com o

pequeno número de empresas em cada setor analisado. A distribuição das empresas

por setor pode ser observada no quadro abaixo.

QUADRO X - DISTRIBUIÇÃO DAS EMPRESAS POR SETOR - AMOSTRA 95-97

Page 61: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

57

Setor n.º de empresas

Alimento 8Auto Pecas 7Bebidas 7Cimento 1Comércio 2Construtoras 3Eletro- Eletrônico 4Eletrodomésticos 5Energia 14Fertilizantes 10Indústria Mecânica 2Informática 1Madeira 3Material de Transporte 3Metalurgia 14Mineração 2Outros 4Papel e Celulose 4Petroquímica 16Química 3Siderurgia 9Telecomunicações 5Têxtil 13Transporte Aéreo 4

Os resultados obtidos utilizando-se a variável ALAVPAT (Dívidas de CP + LP

/ Ativo total) foram bem menos consistentes, apresentando um R2 de apenas 0,10, R2

ajustado = 0,06, estatística F = 3,07 e t significativo apenas para as variáveis

rentabilidade (t = -2,58) e risco (t = 2,84). Novamente, a variável rentabilidade

confirmou as hipóteses proposta e a variável risco teve comportamento diferente do

esperado. A regressão em relação à variável ALAVPAT, sem a inclusão de variáveis

dummy, é mostrada no quadro XI, a seguir.

QUADRO XI - ANÁLISE DE REGRESSÃO - ALAVPAT - AMOSTRA 95-97

Page 62: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

58

Variável dependente - ALAVPAT

Variável Coeficiente Erro padrão Estatística t Prob. (teste t)

RENTABILIDADE -0.446460 0.173020 -2.580396 0.0109TAMANHO 0.005643 0.008402 0.671668 0.5029COMPATIVOS 0.000680 0.000499 1.364716 0.1746OPCRESC -0.018906 0.018413 -1.026749 0.3063RISCO 1.013685 0.356030 2.847190 0.0051C 0.049565 0.159374 0.311000 0.7563

R-quadrado 0.100388 Média var. dependente 0.184678R-quadrado ajustado 0.067793 Desv. Pad. var. dependente 0.129545Erro Pad. da regressão 0.125077 Estatística F 3.079892Soma do resíduo quadrado 2.158909 Prob. (Estatística F) 0.011458

Os resultados dos testes da amostra de indicadores do período 91-93 é

analisada na seção seguinte. Como era esperado, os resultados das regressões dessa

amostra foram menos significativos do que aqueles obtidos com dados de 95-97.

Page 63: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

59

4.3 Análise de regressão da amostra 91-93

O quadro seguinte mostra as estatísticas descritivas das variáveis analisadas. Os dados

apresentam resultados semelhantes aos da amostra anterior, com valores máximos,

mínimos e medianos coerentes. Novamente, o teste Jarque-Bera de normalidade das

distribuições não rejeita a hipótese de normalidade para as variáveis tamanho e

composição dos ativos.

QUADRO XII - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DAS VARIÁVEIS - AMOSTRA 91-93

ALAVMERC ALAVPAT RENTAB RISCO TAMANHO COMPATIV OPCRESC Média 0.449483 0.150269 0.070025 0.059510 18.83606 42.40699 0.717084 Mediana 0.488632 0.125600 0.048350 0.038478 18.85800 42.14645 0.571750 Máximo 0.958899 0.703000 0.421500 0.318302 23.63550 85.35540 3.549900 Mínimo 0.000912 0.002000 -0.183900 0.004006 14.79020 0.106900 0.189600 Desv. Pad. 0.300590 0.115987 0.084259 0.058874 1.372893 19.82064 0.481778 Skewness 0.055959 1.701401 1.337257 1.975858 0.245984 0.116088 3.028864 Kurtosis 1.611673 7.918028 6.884177 7.585113 3.855818 2.636428 14.99353

Jarque-Bera 8.891565 163.9278 101.9327 167.9302 4.466261 0.852913 827.4791Probabilidade 0.011728 0.000000 0.000000 0.000000 0.107192 0.652818 0.000000

Observações 110 110 110 110 110 110 110

A análise das correlações entre as variáveis independentes aponta para a

inexistência de multicolinearidade significativa no modelo. Os baixos valores

encontrados encontram-se entre 0,39 e -0,01. A maior correlação ocorre entre as

variáveis Rentabilidade e Risco.

QUADRO XIII - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS - AMOSTRA 91-93

RENTAB TAMANHO COMPATIVOS OPCRESC RISCORENTABILIDADE 1.000000 0.105987 -0.012514 0.208300 0.389547TAMANHO 0.105987 1.000000 0.088288 0.321343 -0.010790COMPATIVOS -0.012514 0.088288 1.000000 -0.143298 -0.091389OPCRESC 0.208300 0.321343 -0.143298 1.000000 0.025141RISCO 0.389547 -0.010790 -0.091389 0.025141 1.000000

A análise de regressão descrita a seguir foi realizada com a média dos

indicadores de 110 empresas no período 91-93. A variável independente é

ALAVMERC, conforme descrita anteriormente.

Page 64: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

60

Os resultados obtidos foram, em geral, menos significativos do que aqueles

obtidos com a amostra anterior. O R2 e o R2 ajustado apresentaram valores mais

baixos de 0,21 e 0,17, respectivamente.

O teste F teve valor de 5,56 significativo, mas as estatísticas t apresentaram

significância apenas para as variáveis independentes Composição dos ativos e

Oportunidades de crescimento. Nestes dois casos os resultados dos sinais corroboram

as hipóteses previstas pela teoria, de relação positiva entre a proporção de ativos fixos

e alavancagem e de relação negativa entre as oportunidades de crescimento e

alavancagem.

QUADRO XIV - ANÁLISE DE REGRESSÃO - ALAVMERC - AMOSTRA 91-93

Variável dependente - ALAVMERC

Variável Coeficiente Erro padrão Estatística t Prob. (teste t)

RENTABILIDADE

0.176001 0.346448 0.508015 0.6125

TAMANHO -0.009835 0.020371 -0.482804 0.6302COMPATIVOS 0.003082 0.001355 2.274034 0.0250OPCRESC -0.233132 0.059500 -3.918197 0.0002RISCO 0.330488 0.486570 0.679220 0.4985C 0.639211 0.371120 1.722384 0.0880

R-quadrado 0.211040 Média var. dependente 0.449483R-quadrado ajustado 0.173110 Desv. Pad. var. dependente 0.300590Erro Pad. da regressão0.273337 Estatística F 5.563830Soma do resíduo quadrado 7.770157 Prob. (Estatística F) 0.000139

Como ocorreu na regressão baseada na amostra 95-97, a inclusão de variáveis

dummy de setor aumentou o poder de explicação do modelo, que teve um R2 de 0,35 e

um R2 ajustado de 0,19.

O teste F foi de 2,24, rejeitando a hipótese de nulidade dos coeficientes da

regressão. No entanto, apenas uma das variáveis dummy analisadas apresentou

significância em termos da estatística t, ao nível de 95% de significância, e duas, ao

Page 65: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

61

nível de 90%, dentre as dezesseis dummy do modelo. As outras variáveis

apresentaram resultados semelhantes aos resultados da regressão sem as dummy. As

variáveis independentes Composição dos ativos (t = 2,8) e Oportunidades de

crescimento (t= -2,42) mostraram-se significativas e corroboraram as hipóteses

previstas pela teoria. O resumo da análise de regressão incluindo as variáveis dummy

é mostrado a seguir, no entanto, a fraca significância verificada nos testes exige que os

resultados obtidos sejam descartados.

QUADRO XV - ANÁLISE DE REGRESSÃO - ALAVMERC COM DUMMIES - AMOSTRA 91-93

Variável dependente - ALAVMERC

Variável Coeficiente Erropadrão

Estatística t Prob.(teste t)

RENTABILIDADE 0.203778 0.354097 0.575485 0.5664TAMANHO 0.013808 0.026247 0.526081 0.6002COMPATIVOS 0.004136 0.001477 2.800100 0.0063OPCRESC -0.197732 0.081598 -2.423244 0.0174RISCO 0.659349 0.609402 1.081960 0.2822ALIMENTO 0.071724 0.176206 0.407049 0.6850AUTOPECAS 0.022814 0.185014 0.123311 0.9021BEBIDAS 0.058870 0.224995 0.261652 0.7942CONSTRUTORAS 0.400976 0.203244 1.972879 0.0516ELETROELETRONICA 0.143852 0.188724 0.762235 0.4480ENERGIA 0.097771 0.179022 0.546140 0.5864FERTILIZANTES 0.349308 0.189664 1.841726 0.0689INDUSTRIAMECANICA 0.138414 0.196701 0.703675 0.4835MADEIRA 0.274343 0.213832 1.282988 0.2029MATERIALTRANSPORTE 0.088258 0.207292 0.425768 0.6713METALURGIA 0.362514 0.162072 2.236743 0.0278PETROQUIMICA 0.160003 0.167091 0.957579 0.3409QUIMICA 0.127886 0.217925 0.586834 0.5588SIDERURGIA 0.118207 0.192179 0.615086 0.5401TEXTIL 0.030475 0.162085 0.188015 0.8513OUTROS 0.147133 0.166826 0.881955 0.3802C -0.057234 0.517308 -0.110639 0.9122

R-quadrado 0.348725 Média var. dependente 0.449483R-quadrado ajustado 0.193308 Desv. Pad. var. dependente 0.300590Erro Pad. da regressão 0.269978 Estatística F 2.243793Soma do resíduo quadrado 6.414149 Prob. (Estatística F) 0.004743

Page 66: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

62

A distribuição das empresas da amostra por setor pode ser observada no

quadro a seguir.

QUADRO XVI - DISTRIBUIÇÃO DAS EMPRESAS POR SETOR - AMOSTRA 91-93

Setor n.º de empresasAlimento 8Auto Pecas 5Bebidas 4Brinquedos 1Cimento 1Comércio 1Construtoras 4Couro 2Eletro-eletrônicos 2Eletrodomésticos 4Energia 6Fertilizantes 5Indústria Mecânica 5Madeira 3Material de Transporte 5Metalurgia 15Outros 4Papel e Celulose 4Petroquímica 9Química 3Siderurgia 4Telecomunicações 1Têxtil 12Transporte Aéreo 2

Os resultados encontrados na análise de regressão da variável independente

ALAVPAT foram mais significativos do que aqueles da regressão dessa variável

utilizando a amostra 95-97. O R2 e o R2 ajustado encontrados foram de 0,14 e 0,10,

respectivamente. O estatística F apresentou valor de 3,31 e os testes t indicaram

significância para as variáveis Tamanho ( t = 2,11) e Composição de ativos (t = 2,37).

Os resultados encontrados em termos de relação das variáveis independentes

com a alavancagem mostraram-se coerentes com as hipóteses lançadas nos dois casos.

A variável Composição dos ativos apresentou-se positivamente relacionada com

Page 67: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

63

alavancagem, assim como a variável Tamanho que também mostrou-se positivamente

relacionada com ALAVPAT, ao contrário do que ocorreu nas outras regressões

analisadas. Os resultados da análise de regressão são mostradas no quadro XVII, a

seguir.

QUADRO XVII - ANÁLISE DE REGRESSÃO - ALAVPAT - AMOSTRA 95-97

Variável dependente - ALAVPAT

Variável Coeficiente Erro padrão Estatística t Prob. (teste t)

RENTABILIDADE

0.242513 0.139804 1.734666 0.0858

TAMANHO 0.017376 0.008220 2.113771 0.0369COMPATIVOS 0.001294 0.000547 2.365652 0.0199OPCRESC -0.026917 0.024010 -1.121042 0.2649RISCO 0.059792 0.196348 0.304522 0.7613C -0.233137 0.149760 -1.556731 0.1226

R-quadrado 0.137123 Média var. dependente 0.150269R-quadrado ajustado 0.095638 Desv. Pad. var. dependente 0.115987Erro Pad. da regressão 0.110301 Estatística F 3.305394Soma do resíduo quadrado 1.265302 Prob. (Estatística F) 0.008235

Page 68: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

64

4.4 Conclusões

Em geral, as regressões apresentaram R2 relativamente baixos, entre 0,31 e 0,07, o que

indica um fraco poder de explicação da variável dependente pelo modelo como um

todo. Esse fato pode estar ocorrendo por diversos fatores, entre eles, destaca-se a

influência do setor da empresa para a determinação da estrutura de capital, que não

apresentou resultados significativos nos testes efetuados com variáveis dummy,

provavelmente, em virtude do pequeno número de empresas por setor da amostra.

Os testes F e t realizados, sugerem resultados significativos para cada um dos

determinantes analisados. De forma que, podemos aceitar a significância dos testes

realizados, que previam sinais específicos para os coeficientes da regressão e, em

grande parte, revelaram resultados coerentes com as hipóteses previstas na teoria de

estrutura de capital.

O quadro a seguir resume as hipóteses propostas e os resultados encontrados,

em termos dos sinais dos coeficientes, para as duas amostras:

QUADRO XVIII - RESUMO DAS HIPÓTESES E RESULTADOS DOS TESTES

Hipótese Amostra 95-97 Amostra 91-93Determinantes Sinal ALAVMERC ALAVPAT ALAVMERC ALAVPAT

Rentabilidade (-) (-) (-) (+) ñ sig. (+) ñ sig.Tamanho (+) (-) (+) ñ sig. (-) ñ sig. (+)Compativos (+) (+) (+) ñ sig. (+) (+)Opcresc (-) (-) (-) ñ sig. (-) (-) ñ sig.Risco (-) (+) (+) (+) ñ sig. (+) ñ sig.ñ sig = resultado não significativo

Dentre os resultados significativos apresentados no quadro XVIII, três

variáveis apresentaram sinais dos coeficientes que corroboram as hipóteses previstas

em todos os casos. São elas: Rentabilidade e Oportunidades de crescimento,

negativamente relacionadas com a variável dependente, e Composição dos ativos,

positivamente relacionada com a alavancagem. A variável Tamanho obteve

Page 69: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

65

coeficiente negativo na amostra 95-97 e coeficiente positivo na amostra 91-93, e os

coeficientes da variável Risco apresentaram sinal positivo, confrontando a hipótese

prevista para o comportamento dessa variável.

Como podemos observar no quadro anterior, os testes realizados com a

amostra 95-97 apresentaram, em geral, resultados mais significativos do que aqueles

realizados com a amostra 91-93. Esse resultado já era esperado devido ao fato de que

a alta inflação, anterior ao ano de 1994, gerava distorções nas demonstrações

financeiras das empresas, diminuindo a qualidade das informações obtidas através

desses dados. A partir do ano de 1995, com queda da inflação, os balanços das

empresas passaram a gerar informações mais próximas de suas realidades econômicas.

A regressão múltipla em relação a variável ALAVMERC com dados da amostra 95-97

obteve resultados significativos para todos os coeficientes das variáveis independentes

testadas. Enquanto isso, os testes realizados com dados da amostra 91-93

apresentaram apenas dois resultados significativos em cada regressão.

Cabe ressaltar, ainda, que a variável dependente ALAVMERC, que representa

a alavancagem em relação capital próprio medido em termos do valor de mercado das

ações, apresentou em geral resultados mais significativos do que a variável

ALAVPAT, que utiliza o valor patrimonial das ações como a participação do capital

próprio nas fontes de financiamento da empresa.

Page 70: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

66

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As teorias de estrutura de capital revisadas em seção específica desta dissertação

parecem explicar de forma bastante coerente o relacionamento entre a alavancagem

das empresas brasileiras com ações negociadas em bolsa e as variáveis Rentabilidade,

Composição dos ativos e Oportunidades de crescimento.

A relação negativa verificada entre Rentabilidade e alavancagem está de

acordo com o pecking order, proposto por MYERS, S. 1984, que sugere uma

hierarquia de preferências das empresas pelas fontes de financiamento disponíveis.

Segundo a teoria, as empresas preferem se financiar através de capital próprio, em

detrimento da emissão de ações e do endividamento. Portanto, empresas rentáveis,

que dispõem de capital próprio para reinvestimento, deverão deverão optar por uma

alavancagem mais baixa.

Os testes realizados apontam para uma relação positiva entre alavancagem e a

proporção de ativos fixos na empresa. Esse resultado também é coerente com aquele

previsto pelas teorias de informações assimétricas e custos de falência. Segundo

MYERS, S; MAJLUF, N., 1984, empresas que dispõem de ativos fixos com valor de

mercado no caso de liquidação, compensam os efeitos da assimetria de informações

existente e dificultam a adoção de estratégias arriscadas pelos acionistas que visem

extrair riqueza dos credores.

A teoria de custos de falência explica a relação negativa observada nos testes

entre as Oportunidades de crescimento e a alavancagem da empresa. Segundo

DeANGELO, H. e MASULIS, R., 1980, empresas de crescimento acelerado geram

créditos fiscais que diminuem os benefícios fiscais do endividamentos. SCOTT, J.,

1976, argumenta, ainda, que essas empresas têm um custo elevado de falência para os

credores, no caso de liquidação, porque seu valor é baseado em ativos intangíveis, sem

valor de mercado. Em terceiro lugar, o custo do sub-investimento pela falta de

recursos disponíveis é elevado nesse caso, fazendo com que as empresas mantenham

um nível de alavancagem relativamente baixo, para poderem captar recursos no caso

Page 71: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

67

de aparecerem novas oportunidades de crescimento. Portanto, empresas com muitas

oportunidades de crescimento devem ser pouco endividadas.

O comportamento das variáveis tamanho e risco, por sua vez, parece ser

determinado por características específicas do mercado brasileiro, ao invés de seguir

as previsões da teoria de estrutura de capital.

Segundo a teoria de custos de falência, o risco deveria ser negativamente

relacionado com alavancagem porque quanto maior a volatilidade do valor da

empresa, maior a probabilidade da empresa tornar-se insolvente e ir à falência,

incorrendo nos custos relacionados. Como a implementação de volatilidade do valor

da empresa foi através da volatilidade da rentabilidade da empresa, é possível que

nossa variável operacional fosse inadequada.

Também houve a tentativa de operacionalizar o risco através do beta da

empresa, que apresentou resultados sem significância estatística. Fica para trabalhos

futuros a sugestão de se imaginar outras medidas de risco que possam ser utilzadas,

tais como a volatilidade dos preços das ações no mercado no período analisado.

Quanto ao tamanho, empresas grandes, mais diversificadas, deveriam possuir

uma menor probabilidade de falência e, portanto, deveriam ser mais alavancadas do

que empresas pequenas. A variável Tamanho apresentou relação positiva com

alavancagem, coerente com a hipótese prevista, na regressão da amostra 91-93, porém

apresentou relação negativa com alavancagem na regressão da amostra 95-97.

A relação negativa verificada na regressão entre a variável Tamanho e

alavancagem, com dados da amostra 95-97, pode estar relacionada ao custo elevado

das dívidas no mercado brasileiro. Segundo GLEN, J. e PINTO, B., 1994, o custo

elevado das alternativas é um dos elementos chave na escolha de instrumentos

financeiros em países em desenvolvimento. Os juros elevados praticados no Brasil

podem explicar porque empresas grandes, que têm acesso a outras fontes de

financiamento, preferem optar por uma menor alavancagem financeira.

Page 72: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

68

Em geral, a análise dos testes empíricos, baseada na revisão teórica dos

estudos dos diversos autores citados, apresentou resultados significativos que

contribuem para o esclarecimento da questão de pesquisa proposta sobre os

determinantes da estrutura de capital das empresas brasileiras com ações negociadas

em bolsa de valores.

Finalmente, vale ressaltar que esta dissertação abre caminho para que estudos

subseqüentes sejam realizados com o objetivo estender os testes realizados a outras

amostras de empresas, em diversos períodos de tempo. Uma amostra mais extensa

revelaria, provavelmente, a influência dos setores industriais sobre a determinação da

estrutura de capital. Além disso, seria interessante testar as hipóteses propostas através

de uma metodologia de fatores analíticos, conforme descrita em TITMAN, S. e

WESSELS, R., 1988, que exclui do modelo analítico a correlação entre as variáveis

independentes, aumentando a confiabilidade dos testes econométricos realizados. O

estudo dos efeitos dinâmicos dos determinantes sobre a estrutura de capital, que não

foram abordados nesta dissertação, seria também um tópico de relevância que viria a

contribuir para o entendimento do processo de escolha de fontes de financiamento por

parte das empresas brasileiras.

A partir da estabilização da economia e da abertura do mercados nacionais, o

comportamento dos agentes tende a se modificar, aproximando-se daquele proposto

pelas teorias de estrutura de capital. Na medida em que as empresas brasileiras passem

a ter maior acesso aos mercados financeiros internacionais, que os mercados de

capitais domésticos se desenvolvam e que diminuam as taxas de juros, as escolhas

dessas empresas em relação a sua alavancagem financeira deverão tornar-se cada vez

mais próxima daquelas verificadas nos estudos empíricos realizados em países

desenvolvidos. O fato de terem sido encontrados resultados mais significativos para a

amostra 95-97 foi certamente causado pela melhor qualidade dos dados nesse período,

mas também pode indicar que pequenos avanços já estão sendo conduzidos na direção

de aproximar as condições de financiamento das empresas brasileiras daquelas obtidas

em países em desenvolvimento.

Page 73: determinantes da estrutura de capitais das empresas brasileiras

69

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