atividade física de adultos nas capitais brasileiras e no ... · sangue pela insuficiência...

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DARTEL FERARI DE LIMA Atividade física de adultos nas capitais brasileiras e no Distrito Federal: um estudo transversal Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências Programa de Medicina Preventiva Orientadora: Profa. Dra. Olinda do Carmo Luiz Coorientadora: Profa. Dra. Renata Bertazzi Levy São Paulo, 2014

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  • DARTEL FERARI DE LIMA

    Atividade fsica de adultos nas capitais brasileiras e no

    Distrito Federal: um estudo transversal

    Tese apresentada Faculdade de Medicina

    da Universidade de So Paulo para obteno

    do ttulo de Doutor em Cincias

    Programa de Medicina Preventiva

    Orientadora: Profa. Dra. Olinda do Carmo Luiz

    Coorientadora: Profa. Dra. Renata Bertazzi Levy

    So Paulo, 2014

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Preparada pela Biblioteca da

    Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    reproduo autorizada pelo autor

    Lima, Dartel Ferrari de

    Atividade fsica de adultos nas capitais brasileiras e no Distrito Federal: um estudo

    transversal / Dartel Ferrari de Lima. -- So Paulo, 2014.

    Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. Programa de Medicina Preventiva.

    Orientador: Olinda do Carmo Luiz.

    Coorientador: Renata Bertazzi Levy.

    Descritores: 1.Estilo de vida sedentrio 2.Doena crnica 3.Vigilncia em sade

    pblica 4.Promoo da sade 5.Inquritos epidemiolgicos 6.Exerccio

    7.Condicionamento fsico humano 8.Atividade motora

    USP/FM/DBD-225/14

  • DEDICATRIA

    Dedico este Trabalho a Rene e Lohran Anguera Lima, meus amados filhos e a meus

    amados pais, Helena e Amlio (in memorian).

    .

  • AGRADECIMENTOS

    Incansavelmente, reforo minha gratido Profa. Dra. Olinda do Carmo Luiz, pela

    orientao deste trabalho, cuja beleza dos gestos amigveis representou o sim para

    este Jogo que insiste dizer no.

    Minha gratido Dra. Renata Bertazzi Levy, pela coorientao deste trabalho.

    Aos professores e funcionrios do Programa de Ps-Graduao do Departamento de

    Medicina Preventiva da USP, pela partilha das informaes, em especial, Lilian

    Santos de Godoy Prado, pela amizade e a Miriam Regina de Souza pela

    normatizao do texto.

    Ao professor Dr. Joo Carlos Catellan pelo retoque do texto e adequao lingustica.

    Universidade Estadual do Oeste do Paran, em especial ao campus de Marechal

    Cndido Rondon pela liberao de minhas atividades acadmicas.

    E a voc meu amado Golden Retriver, por todos nossos momentos. Eu sinto tanto a

    sua falta.

  • Este trabalho recebeu

    Bolsa do Programa de Demanda Social da

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) do

    Ministrio de Educao

  • Houzz! Houzz! Houzz!

  • LISTA DE DEFINIO DE TERMOS

    Angina pectoris dor torcica ocasionada por isquemia transitria do miocrdio.

    Aptido fsica capacidade de suportar de esforo fsico.

    Aterosclerose acmulo de material gorduroso nas paredes das artrias.

    Atividade moderada atividade fsica com gasto de energia > 6 MET.

    Atividade vigorosa atividade fsia com gasto de energia entre 3 a 6 MET

    Cinesioterapia terapia fsica realizada mediante a utilizao de movimentos

    corporais

    Diabete tipo 2 diabetes mellitus no insulino dependente ou diabetes tardia

    distrbio metablico caracterizado pelo elevado nvel de glicose no

    sangue pela insuficincia relativa de insulina.

    Dieta hipocalrica regime alimentar para emagrecimento.

    Dislipidemia alteraes metablicas lipdicas decorrentes de distrbios em

    qualquer fase do metabolismo lipdico, que ocasionem

    repercusses nos nveis sricos de lipoprotenas (LP).

    Ergoespirometria teste que possibilita determinar variveis respiratrias, metablicas

    e cardiovasculares pela medida das trocas gasosas pulmonares

    durante o exerccio.

    Esforo aerbio esforo sustentado pela oxidao (intramitocondral) dos

    combustveis, geralmente de baixa intensidade e longa durao e

    sem produo de cido ltico muscular.

    Esforo anaerbio esforo sustentado pela produo de energia por via no oxidativa

    (extramitocondral), geralmente de alta intensidade e curta durao

    com a produo de cido ltico (quando por via ltica).

    Frequncia semanal quantidade de vezes por semana que a atividade fsica realizada.

    Hipertenso arterial presso igual ou maior que 90/140 mmHg, exercida

    sistmica sistematicamente nas paredes das arterial.

    Insulinopnico p com capacidade secretria residual de insulina inadequada para

    suplantar a necessidade metablica.

    Intensidade reflete a grandeza do esforo (moderado ou vigoroso).

    Lipoprotenas composto orgnico constitudo por uma protena cuja molcula est

    associada a lipdeos.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Erro_metab%C3%B3lico_heredit%C3%A1riohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hiperglicemiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Insulinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Prote%C3%ADnahttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADpido

  • MET medida energtica que equivale ao consumo de 3,5 ml O2/kg/min

    em repouso.

    Osteoporose doena que reduz a densidade e a massa dos ossos, provocando

    aumento da fragilidade ssea e maior risco de fraturas.

    Pedometria contagem dos passos; indica a distncia percorrida.

    Quilocaloria (kcal) quantidade de energia necessria para elevar 1 grau Celsius a

    temperatura de 1 litro de gua.

    Supercompensao fase da teoria do princpio da sobrecarga que ocorre durante o

    perodo de recuperao ideal do esforo fsico, na qual a desgaste

    orgnico recomposto com um ganho adicional.

    Volume quantidade de AF resultante do produto da frequncia semanal pela

    durao do esforo.

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    ACSM Colgio Americano de Medicina Esportiva.

    AF atividade fsica.

    AHA Associao Americana de Cardiologia

    APS Ateno Primria em Sade.

    AVD Atividade de vida diria.

    BHF Fundao Inglesa do Corao.

    CDC Centro de Controle e Preveno de Doenas.

    DCNT doena crnica no transmissvel.

    DP desvio padro

    EU Unio Europeia.

    FC frequncia cardaca.

    HAS hipertenso arterial sistmica.

    HDL protenas de alta densidade

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.

    IF inatividade fsica.

    kcal quilocaloria.

    LDL protenas de baixa densidade

    MET equivalente metablico.

    NAF nvel de atividade fsica.

    NUPENS Ncleo de Pesquisas Epidemiolgicas em Nutrio e Sade.

    OMS Organizao Mundial da Sade.

    PAS presso arterial sistmica.

    PS Promoo da Sade.

    RR risco relativo.

    SUS Sistema nico de Sade.

    USDHHS Departamento de Sade e Servios Sociais dos Estados Unidos.

    USP Universidade de So Paulo.

    VIGITEL Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para Doenas Crnicas por Inqurito

    Telefnico.

    VS Vigilncia em Sade.

    WHA Assembleia Mundial da Sade.

    WHO Organizao Mundial da Sade.

  • LISTA DE QUADROS E FIGURAS

    Quadro 1. Principais benefcios atribudos atividade fsica ................................ 4

    Quadro 2. Classificao do nvel de atividade fsica ........................................... 47

    Figura 1. O continuum da atividade fsica ............................................................ 9

    Figura 2. Modelo de curva de dose-resposta para a intensidade do esforo e

    benefcios para a sade ........................................................................ 12

    Figura 3. Resposta linear inversa ao volume de AF e benefcios para a sade .. 12

    Figura 4. Modelo de curva de dose-resposta para a intensidade crescente de

    esforo e benefcios para a sade ........................................................ 13

    Figura 5. Princpio da sobrecarga ....................................................................... 22

    Figura 6. Classificao regional do nvel de AF por diferentes

    recomendaes .................................................................................... 62

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Nmero de linhas telefnicas sorteadas, linhas telefnicas elegveis e

    entrevistas realizadas nas capitais dos estados brasileiros e no Distrito

    Federal. VIGITEL, 2006 (MS, 2007) ......................................................... 39

    Tabela 2. Gasto energtico para cada modalidade de exerccio fsico ou esporte

    expresso em MET.min, obtido pelo produto da durao do esforo (em

    minutos) com a mdia do gasto energtico para cada modalidade,

    segundo o Compndio de Atividade Fsica proposto por Ainsworth

    et al. em 2000 ............................................................................................ 44

    Tabela 3. Distribuio da populao adulta e porcentagem segundo o nvel de

    AF e diferentes diretrizes de AF nas capitais brasileiras e Distrito

    Federal 2006. ........................................................................................... 50

    Tabela 4. Teste de Concordncia de Kappa para o cruzamento do nvel de AF

    mediante diferentes diretrizes para a populao adulta com idade 18

    anos nas capitais brasileiras e Distrito Federal 2006 ............................... 51

    Tabela 5. Frequncia da populao adulta com idade 18 anos segundo o

    nvel de AF coincidente para as recomendaes do UE, IOM, ACSM,

    OMS, IPAQ nas capitais brasileiras e Distrito Federal 2006 ................. 52

    Tabela 6. Percentual da populao adulta que alcanou a meta de AF segundo

    a diretriz da UE1, por sexo nas capitais brasileiras e Distrito Federal

    2006 ............................................................................................................ 53

    Tabela 7. Percentual da populao adulta que alcanou a meta de AF segundo

    diretriz do IOM, por sexo, nas capitais brasileiras e Distrito Federal

    2006 ............................................................................................................ 55

    Tabela 8. Percentual da populao adulta que alcanou a meta de AF segundo

    diretriz do ACSM, por sexo, nas capitais brasileiras e Distrito Federal

    2006 ............................................................................................................ 57

  • Tabela 9. Percentual da populao adulta que alcanou a meta de AF segundo a

    diretriz da OMS, por sexo, nas capitais brasileiras e Distrito Federal

    2006. ........................................................................................................... 59

    Tabela 10. Percentual da populao adulta que alcanou a meta de AF segundo a

    diretriz do IPAQ, por sexo, nas capitais brasileiras e Distrito Federal

    2006 ............................................................................................................ 61

    Tabela 11. Nvel de AF da populao adulta segundo variveis sociodemogrficas

    nas capitais brasileiras e Distrito Federal 2006 ....................................... 64

    Tabela 12. Nvel de AF da populao adulta segundo caractersticas de

    comportamento individual nas capitais brasileiras e Distrito Federal

    2006 ............................................................................................................ 66

    Tabela 13. Percentual da populao adulta com idade 18 anos com histrico de

    diagnstico mdico de DCNT, por sexo, segundo o nvel de AF

    determinado pela OMS, nas capitais dos estados brasileiros e Distrito

    Federal, 2006 .............................................................................................. 67

    Tabela 14. Percentual da populao adulta distribuda segundo modalidade de

    exerccio fsico ou esporte, e nvel de AF, nas capitais dos estados

    brasileiros e Distrito Federal, 2006 ............................................................ 69

    Tabela 15. Percentual da populao adulta com diagnstico mdico de hipertenso

    arterial sistmica segundo modalidade de exerccio fsico ou esporte, e

    nvel de AF, nas capitais dos estados brasileiros e Distrito

    Federal, 2006 .............................................................................................. 71

    Tabela 16. Percentual da populao adulta com diagnstico mdico de diabetes

    segundo modalidade de exerccio fsico ou esporte, e nvel de AF nas

    capitais dos estados brasileiros e Distrito Federal, 2006 ............................ 73

    Tabela 17. Percentual da populao adulta com IAM e/ou AVC segundo modalidade

    de exerccio fsico ou esporte e nvel de AF nas capitais dos estados

    brasileiros e Distrito Federal, 2006 ............................................................ 75

  • Tabela 18. Percentual da populao adulta com dislipidemia segundo modalidade

    de exerccio fsico ou esporte e nvel de AF, nas capitais dos estados

    brasileiros e Distrito Federal, 2006 ............................................................ 77

    Tabela 19. Percentual da populao adulta com osteoporose segundo modalidade

    de exerccio fsico ou esporte e nvel de AF, nas capitais dos estados

    brasileiros e Distrito Federal, 2006 ............................................................ 79

    Tabela 20. Percentual da populao adulta segundo periodicidade e nvel de AF,

    nas capitais dos estados brasileiros e Distrito Federal, 2006 ..................... 81

    Tabela 21. Percentual da populao adulta segundo durao do esforo (minutos)

    e nvel de AF, nas capitais dos estados brasileiros e Distrito

    Federal, 2006 .............................................................................................. 84

    Tabela 22. Distribuio da populao adulta insuficientemente ativa, antes e aps

    a simulao de aumento da frequncia semanal e da durao do esforo,

    nas capitais brasileiras e Distrito Federal 2006 ....................................... 86

    Tabela 23. Percentual da populao adulta com idade 18 anos e diagnstico

    mdico referido para DCNT, por sexo, para a periodicidade e durao

    da AF, segundo a recomendao de AF determinada pela OMS, nas

    capitais dos estados brasileiros e Distrito Federal, 2006 ............................ 88

  • SUMRIO

    LISTA DE DEFINIO DE TERMOS

    LISTA DE ABREVIATURAS

    LISTA DE QUADROS E FIGURAS

    LISTA DE TABELAS

    RESUMO

    ABSTRACT

    APRESENTAO

    1. INTRODUO .................................................................................................................... 1

    1.1 EFEITOS DA ATIVIDADE FSICA NA SADE ................................................. 2

    1.1.1 Doena cardiovascular................................................................................. 5

    1.1.2 Doena cerebrovascular. .............................................................................. 5

    1.1.3 Dislipidemia ................................................................................................ 6

    1.1.4 Hipertenso arterial sistmica ...................................................................... 6

    1.1.5 Diabetes tipo 2 ............................................................................................. 7

    1.1.6 Osteoporose ................................................................................................. 7

    1.2 DEFINIO E CARACTERSTICAS DA ATIVIDADE FSICA ......................... 8

    1.3 RELAO DOSE-RESPOSTA ............................................................................. 11

    1.4 EFEITOS ADVERSOS DA ATIVIDADE FSICA .............................................. 14

    1.5 CARACTERSTICAS SOCIODEMOGRFICAS DA ATIVIDADE FSICA .... 15

    1.6 DIRETRIZES E RECOMENDAES DE ATIVIDADE FSICA ....................... 16

    1.6.1. Recomendaes de atividade fsica pelo Colgio Americano de Medicina

    Esportiva .................................................................................................. 17

    1.6.2 Recomendaes de atividade fsica pelo Comit Executivo responsvel

    pelo Questionrio Internacional de Atividade Fsica IPAQ .................. 18

    1.6.3 Recomendaes de atividade fsica pelo Instituto de Medicina dos Estados

    Unidos ...................................................................................................... 19

    1.6.4 Recomendaes de atividade fsica pela Unio Europeia ......................... 19

    1.6.5 Recomendaes de atividade fsica pela Organizao Mundial da Sade 20

    1.7 CONTROVRSIAS E CONSENSOS NAS RECOMENDAES DE

    ATIVIDADE FSICA ........................................................................................... 21

    1.7.1 Frequencia semanal ................................................................................... 21

  • 1.7.2 Intensidade do esforo ............................................................................... 23

    1.7.3 Durao do esforo .................................................................................... 24

    1.7.4 Dose de atividade fsica ............................................................................ 24

    1.7.5 Minorias populacionais ............................................................................. 27

    1.7.6 Recomendaes crianas e jovens ............................................................. 28

    1.7.7 Exerccios especficos ............................................................................... 29

    1.7.7.1 Musculao .................................................................................. 29

    1.7.7.2 Flexionamento .............................................................................. 30

    1.7.7.3 Aquecimento e desaquecimento ................................................... 30

    1.7.8 Eventos adversos nas recomendaes ....................................................... 31

    1.7.9 Concordncias nas diretrizes ..................................................................... 31

    1.7.10 Adeso atividade fsica ......................................................................... 32

    1.8 PROMOO DA ATIVIDADE FSICA .............................................................. 33

    1.9 SISTEMA VIGITEL .............................................................................................. 35

    2. OBJETIVOS .................................................................................................................. 37

    3. METODOLOGIA ............................................................................................................... 38

    3.1 TIPO DE ESTUDO ................................................................................................ 38

    3.2 AMOSTRAGEM E COLETA DE DADOS ........................................................... 38

    3.3 DESCRIO DE VARIVEIS ............................................................................. 42

    3.3.1 Domnios da atividade fsica ..................................................................... 42

    3.3.2 Modalidades de exerccio fsico ou esporte ............................................... 42

    3.3.3 Deslocamento ativo ................................................................................... 42

    3.3.4 Durao e frequncia da atividade fsica ................................................... 43

    3.3.5 Intensidade do esforo ............................................................................... 43

    3.3.6 Variveis sociodemogrficas ..................................................................... 45

    3.3.7 Variveis de comportamento individual .................................................... 45

    3.3.8 Diagnstico de DCNT ............................................................................... 46

    3.3.9 Determinao do nvel da atividade fsica ................................................. 46

    3.3.10 Comparao entre as recomendaes ...................................................... 46

    3.4. ANLISE DOS DADOS ...................................................................................... 47

    3.5 QUESTES TICAS ............................................................................................. 48

    4. RESULTADOS .................................................................................................................. 49

    4.1 CARACTERSTICAS SOCIODEMOGRFICAS DA AMOSTRA .................... 49

  • 4.2 CLASSIFICAO DO NVEL DE ATIVIDADE FSICA ............................................. 49

    4.2.1 Atividade fsica segundo a diretriz da Unio Europeia ............................. 52

    4.2.2 Atividade fsica segundo a diretriz do Instituto de Medicina dos Estados

    Unidos ...................................................................................................... 54

    4.2.3 Atividade fsica segundo a diretriz do Colgio Americano de Medicina

    Esportiva .................................................................................................. 56

    4.2.4 Atividade fsica segundo a diretriz da Organizao Mundial da Sade .... 58

    4.2.5 Atividade fsica segundo a diretriz do Comit Executivo responsvel pelo

    Questionrio Internacional de Atividade Fsica ....................................... 60

    4.3 ATIVIDADE FSICA SEGUNDO VARIVEIS SOCIODEMOGRFICAS ...... 62

    4.4 ATIVIDADE FSICA SEGUNDO O COMPORTAMENTO INDIVIDUAL ...... 65

    4.5 ATIVIDADE FSICA SEGUNDO DIAGNSTICO DE DOENAS CRNICAS

    NO TRANSMISSVEIS .................................................................................... 66

    4.6 MODALIDADES PREFERIDAS PARA A PRTICA DE ATIVIDADE

    FSICA .................................................................................................................. 68

    4.7 PERIODICIDADE SEMANAL DA ATIVIDADE FSICA ................................. 80

    4.8 DURAO DA SESSO DE ATIVIDADE FSICA .......................................... 83

    5. DISCUSSO .................................................................................................................. 89

    5.1 SNTESE DOS RESULTADOS ............................................................................ 89

    5.2 LIMITAO DO ESTUDO .................................................................................. 90

    5.3 INTERPRETAO DOS RESULTADOS ............................................................ 92

    5.3.1. Eixo I Diferentes formas de recomendar atividade fsica ...................... 92

    5.3.2 Eixo II Variveis sociodemogrficas e comportamentais na prtica da

    atividade fsica ......................................................................................... 94

    5.3.2.1 Sexo .............................................................................................. 94

    5.3.2.2 - Idade .......................................................................................... 95

    5.3.2.3 Escolaridade ................................................................................. 97

    5.3.2.4 Etnia/cor ....................................................................................... 99

    5.3.2.5 Estado conjugal .......................................................................... 101

    5.3.2.6 Conhecimento sobre local para atividade fsica ......................... 102

    5.3.2.7 Variaes regionais .................................................................... 104

    5.3.2.8 Consumo de tabaco .................................................................... 105

    5.3.2.9 Consumo de bebida alcolica ..................................................... 106

    5.3.2.10 Estado de sade ........................................................................ 107

  • 5.3.3 Eixo III Componentes da atividade fsica ................................................................. 108

    5.3.3.1Durao do esforo ..................................................................... 109

    5.3.3.2 Frequncia da atividade fsica .................................................... 109

    5.3.3.3 Intensidade do esforo fsico ...................................................... 111

    5.3.4 Eixo IV Atividade Fsica em portadores de Doenas Crnicas no

    Transmissveis ........................................................................................ 113

    5.3.4.1 Hipertenso arterial sistmica .................................................... 113

    5.3.4.2 Dislipidemia ............................................................................... 115

    5.3.4.3 Diabetes ...................................................................................... 116

    5.3.4.4 Osteoporose ................................................................................ 119

    5.3.4.5 Infarto agudo do miocrdio e/ou acidente vascular cerebral ...... 121

    5.4 Consideraes finais ................................................................................... 122

    6. BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 124

  • RESUMO

    Lima DF. Atividade fsica de adultos nas capitais brasileiras e no Distrito Federal:

    um estudo transversal [tese]. So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de

    So Paulo; 2014.

    INTRODUO: Existem dvidas em relao atividade fsica (AF) de adultos

    residentes nas capitais brasileiras e no Distrito Federal no que tange organizao e

    execuo desta prtica. Neste estudo avaliamos a prevalncia de AF segundo cada

    uma das principais diretrizes internacionais que recomendam a AF para a promoo

    da sade e exploramos as divergncias e consensos na classificao do nvel da AF.

    Avaliamos tambm a associao entre caractersticas sociodemogrficas e

    comportamentais com a prtica da AF, como os principais componentes da AF se

    relacionam na determinao do nvel da AF individual e descrevemos o padro nos

    portadores de doenas crnicas no transmissveis (DCNT). METODOLOGIA: Os

    participantes foram selecionados a partir de dados prvios do Sistema de Vigilncia

    de Fatores de Risco e Proteo para Doenas Crnicas por Inqurito Telefnico para

    as estimativas sobre frequncia e distribuio sociodemogrfica de fatores de risco e

    proteo para doenas crnicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito

    Federal em 2006. RESULTADOS: Foram elegveis 54.369 participantes sendo

    51,5% classificados como inativos. Houve divergncias importantes na graduao da

    AF pelas principais diretrizes entre os ativos (Kappa = 0,4). A frequncia das sesses

    de AF foi o aspecto que mais contribuiu para a determinao do grau de AF.

    Recomendao que orienta a frequncia diria resultou em uma prevalncia menor

    de AF suficiente. As que orientam volume semanal, sem determinar frequncia

    mnima tiveram as maiores prevalncias de AF suficiente. Como decorrncia dessa

    divergncia, a prevalncia de AF suficiente nas cidades abordadas variou,

    distinguindo diferentes rankings conforme a recomendao adotada. Cerca de 90%

    da populao ativa realizava sesses com durao entre 30 a 60 minutos e no houve

    diferena significante entre o grupo que alcanou e o que no alcanou a meta da

    recomendao. A quase totalidade (90%) dos participantes que alcanou a meta se

    exercitava trs ou mais vezes na semana e 80% dos que no alcanaram a meta se

    exercitavam entre 1 a 2 vezes na semana. A caminhada, o futebol e a musculao

    foram as modalidades de exerccio fsico ou esporte mais frequentes. Encontramos

    maior prevalncia de AF em homens. Negros e amarelos foram fisicamente mais

    ativos, e a AF diminuiu com a idade, com menor escolaridade e com viuvez.

    Aproximadamente 65% da populao consideraram a sua sade boa ou excelente e

    entre os que a consideraram ruim, a maioria estava inativa. O deslocamento ativo e a

    dieta hipocalrica so caractersticas predominantes dos participantes ativos. O

    tabagismo foi mais frequente entre os inativos e o maior consumo de bebidas

    alcolicas ocorreu entre os ativos. As pessoas fisicamente ativas mais

    frequentemente conheciam instalaes prprias para a prtica de AF nas

    proximidades de suas moradias. A inatividade fsica (62%) foi uma caracterstica

    destacada entre os participantes portadores de DCNT. No conjunto 70% dos

    portadores de alguma DCNT no alcanaram a recomendao mnima de AF.

  • CONCLUSES: O nvel de AF variou muito entre as diretrizes que recomendam a

    AF. Para uma boa parte desta populao, a resposta para a pergunta: "estou fazendo

    AF suficiente para a minha sade?" Pode ser simultaneamente sim e no,

    dependendo do critrio da recomendao escolhida. Dentre os insuficientemente

    ativos, a durao do esforo em cada sesso foi adequada na maioria dos relatos, o

    que tornou a AF insuficiente foi a baixa frequncia. Pensar estratgias que aumentem

    a frequncia semanal para 2 a 3 dias pode elevar o nvel de AF para 90% dos

    insuficientemente ativos.

    Descritores: estilo de vida sedentrio, doena crnica, vigilncia em sade pblica,

    promoo da sade, inquritos epidemiolgicos, exerccio, condicionamento fsico

    humano, atividade motora.

  • ABSTRACT

    Lima DF. Physical activity in adults in the brazilian capitals and in the Federal

    District: a cross-sectional study [these]. So Paulo: Faculdade de Medicina,

    Universidade de So Paulo; 2014.

    .

    INTRODUCTION: In regards to the organization and implementation of physical

    activity (PA), there are many doubts related to the PA in adults residing in the

    capitals of the federation and in the Federal District. This study evaluated the

    prevalence of PA according to each of the main international guidelines that

    recommends the practice of PA for good health, explores its divergences, and also

    the concordances of the PA level classification. We also evaluated the association

    between the sociodemographic and behavioral characteristics to the practice of PA.

    More specifically, we focused on how the main components of the PA relates to

    themselves to determine the level of individual PA and which patterns are present in

    patients with chronic non-communicable diseases (CNCD). METHODOLOGY:

    Participants were selected from previous data that the System of Risk Factors

    Surveillance and Chronic Diseases Protection Telephone Survey, which was used for

    the estimation of frequency and sociodemographic distribution of risk and protective

    factors for chronic diseases in the 26 Brazilian state capitals and in the Federal

    District in 2006. RESULTS: There were 54,369 eligible participants of which 51.5%

    classified as inactive. There were important divergences in the PA graduation by the

    main guidelines among the active participants (Kappa = 0.4). The PA session

    frequency was the main reason that most contributed to the determination of the PA

    degree. The recommendation, which guides the daily frequency, resulted in the

    lowest prevalence of enough PA. The recommendations that guide weekly volume

    without determining minimum frequency had the highest prevalence of enough PA.

    As a result of this divergence, the prevalence of enough PA in the addressed cities

    ranged in different distinguishing rankings according to the adopted

    recommendation. About 90% of the active population performed sessions which

    lasted between 30 to 60 minutes. From this data, it was evident that there was no

    significant difference between the group which achieved the recommended PA and

    the the group which did not achieve the goal of the recommended PA level. Almost

    all of the participants (90%) who achieved the goal of recommended PA levels

    exercised three or more times a week and 80% of those who did not reach the goal

    exercised between 1 to 2 times a week. Trekking, soccer and weightlifting were the

    most frequent physical exercise modalities or sports performed. We found a higher

    prevalence of PA in men than in women. Furthermore, the study showed that Blacks

    and Yellows were more physically active. The amount PA level decreased with age,

    decreased amongst those with less education and amongst those who were widowed.

    Approximately 65% of the population considered their health good or excellent and

    among those who considered it bad, the majority were inactive. Active commuting

    and hypocaloric diets are predominant characteristics of the active participants.

    Smoking was more common among the inactive participants but higher alcohol

    consumption occurred among those that were active. Physically active people

  • frequently knew more suitable facilities for the PA practice near their homes.

    Physical inactivity (62%) was a prominent characteristic among the participants

    suffering from CNCD. Overall, 70% of the participants suffering from any CNCD

    did not attain the minimum recommendations of PA. CONCLUSIONS: The PA

    levels varied widely among the guidelines that recommend PA. For a large portion of

    the population, the answer to the question of whether one is doing enough PA for

    ones health can simultaneously be "yes" and "no", depending on the criterion of the

    chosen recommendation. Among the insufficiently active population, the exercise

    duration in each session was adequate enough in most reports but what made the PA

    insufficient was the low frequency. Thinking about strategies to increase the weekly

    frequency for 2 to 3 days can raise the level of PA for 90% of the insufficiently

    active population.

    Descriptors: sedentary lifestyle, chronic disease, public health surveillance, health

    promotion, health surveys, exercise, physical conditioning human, motor activity.

  • APRESENTAO

    A definio do termo sade mudou consideravelmente no decorrer da

    histria. Hoje, seu entendimento mais do que somente ausncia de doena. A

    Organizao Mundial de Sade props, a partir de 1946, uma definio abrangente

    de sade, onde sade vista como um recurso para a vida e no como uma finalidade

    da vida (WHO, 2010). Em outras palavras, a promoo da sade o processo que d ao

    sujeito maneiras de garantir maior controle sobre sua prpria sade. Assim, este processo

    procura propor mudanas para estilos de vida na promoo do bem-estar. nesta forma

    de compreenso que a promoo dos nveis de atividade fsica (AF) e a diminuio das

    taxas de inatividade fsica assumem um relevante papel para que tal processo possa ser

    efetivado.

    Nesta pauta, observa-se que diferentes organizaes e agncias

    governamentais, muito embora persigam os mesmos objetivos, propem-se a

    recomendar a prtica de AF de modos diferentes, ou seja, recomendam uma

    quantidade mnima de AF que resulte em efeitos substanciais para a sade. Assim,

    observaes informais sobre dados existentes da prtica de AF de adultos residentes

    nas capitais dos Estados e no Distrito Federal despertaram o interesse de ampliar a

    explorao das informaes sobre como esta populao organiza a prtica de AF e de

    verificar indcios de causas que possam contribuir para o alcance ou no das metas

    recomendadas.

    com esta problemtica sendo transformada em objeto de estudo, ou

    seja, sendo usada para a construo de uma Tese, que este estudo se constri e se

    apresenta como um caminho a ser perseguido. Nela, a primeira seo desenvolve os

    conceitos e as definies bsicas do tema central, objetivando relacionar a prtica da

    AF com a sade pblica, destacar a promoo da AF e os riscos decorrentes da

    inatividade fsica, as estratgias brasileiras para a orientao e a superviso da prtica

    de AF e o sistema de monitoramento e acompanhamento destas estratgias. Em

    seguida, apresenta a seleo das organizaes e agncias governamentais destacadas

    e remete s suas recomendaes para a AF. Foram elas que serviram de base para a

  • concordncia (ou no) com a sua classificao do nvel de AF, para o destaque das

    suas diferenas e semelhanas e para a procura de identificao das suas lacunas e

    potencialidades.

    A segunda seo apresenta os aspectos metodolgicos, destacando o uso

    do banco de dados do Sistema de Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para

    Doenas Crnicas por Inqurito Telefnico VIGITEL, de 2006, cuja anlise

    permitiu verificar o padro de organizao da prtica de AF de uma amostra

    probabilstica representativa da populao brasileira de adultos de 26 capitais e do

    Distrito Federal.

    A terceira seo apresenta a descrio dos resultados organizados em

    tabelas. A quarta seo discute os resultados em quatro eixos: 1) variveis

    sociodemogrficas e comportamentais; 2) componentes da atividade fsica; 3)

    diferentes formas de recomendar AF e; 4) AF em portadores de doenas crnicas no

    transmissveis (DCNT). Na quinta e ltima seo, apresentam-se as concluses e as

    consideraes finais do estudo, com o objetivo de produzir mais informaes que

    possam, de alguma forma, aumentar o dilogo em direo do crescimento dos nveis

    de AF e da diminuio da inatividade fsica.

    A verso apresentada nesta Tese no inclui as modificaes sugeridas

    pela Banca Examinadora.

  • 1

    1. INTRODUO

    As ltimas dcadas apresentaram uma inverso no perfil da

    morbimortalidade global, com diminuio da prevalncia das doenas infecciosas e

    aumento das doenas crnicas. Este novo perfil da sade fez crescer o interesse pelos

    fatores associados s doenas crnicas. O baixo nvel populacional de atividade

    fsica (AF) um desafio atual em sade pblica, considerando que: a inatividade

    fsica um fator modificvel que tem se mostrado associado a uma maior frequncia

    de doenas crnicas e degenerativas; a prtica regular de AF recomendada na

    preveno e tratamento destas doenas e que a prevalncia da prtica de AF baixa

    tanto em pases de economia central quanto naqueles de economia perifrica (Hallal,

    2012).

    Assim, numerosos estudos epidemiolgicos tm demonstrado que a

    atividade fsica (AF) regular benfica para a promoo da sade (Morimoto et al.,

    2006; USDHHS, 2008a; Boyle et al., 2010). Os dados que comprovam os seus

    benefcios foram produzidos principalmente a partir de estudos independentes que

    apresentam ndices consistentes e com pouca ou nenhuma evidncia contrria,

    estabelecendo uma robusta solidez em termos de dose-resposta e reforando a

    concluso de um nexo de causalidade convincente (CDC, 2008) entre os dois

    campos, embora a natureza dessa associao no seja completamente compreendida

    (McAuley et al., 2006; White, Warren et al., 2009).

    Neste sentido, esta tese foi conduzida com o objetivo de identificar o

    perfil da AF no cotidiano de brasileiros adultos residentes em grandes centros

    urbanos e de responder a algumas questes: Qual o padro da AF na organizao

    dos exerccios fsicos ou dos esportes praticados? Diferentes diretrizes podem

    recomendar a prtica de AF e classificar diferentemente o nvel de um mesmo

    participante diante das mesmas informaes? Quais so as caractersticas

    sociodemogrficas da populao que ainda no alcanou a meta mnima de AF

    recomendada? Onde residem os brasileiros mais e menos ativos? Quais so as

    propriedades que diferenciam os praticantes de AF que alcanam a meta e os que no

  • 2

    alcanam? Como os portadores de doenas crnicas estruturam os exerccios fsicos

    e qual o seu nvel de AF?

    1.1 EFEITOS DA ATIVIDADE FSICA NA SADE

    Ao mdico ingls Jeremy Morris, em 1953 creditado s primeiras

    investigaes sobre os perigos de sade associados ao estilo de vida pouco ativo cujo

    resultado foi o maior risco de doenas coronrias em profissionais que trabalhavam

    em servios fisicamente menos exigentes, ao comparar motoristas com cobradores de

    nibus no Reino Unido e escriturrios com carteiros nos Estados Unidos (Blair,

    Monte e Nichaman, 2004). Desde ento, considervel volume de pesquisa confirmou

    e ampliou a teoria de que a AF reduz significativamente o risco de doenas

    cardiovasculares. Cite-se, por exemplo, o estudo de Kohl et al.,(2012).

    Estes primeiros estudos foram importantes por levantarem trs questes

    fundamentais: a primeira trata do desempenho fsico e da reduo da incidncia de

    doenas cardiovasculares como eventos associados; a segunda indica a necessidade

    de investigar a relao da prtica de AF como agente promotor de sade; e a terceira

    busca determinar se os diferentes modos de organizar a AF afetam as respostas

    encontradas. Como resultado desse movimento, os estudos tm demonstrado que as

    oportunidades e as condies para ser fisicamente ativo tendem a diminuir a partir da

    vida adulta. Em mbito mundial, trs explicaes justificam essa tendncia: o

    envelhecimento da populao, a urbanizao no planejada e as mudanas sociais;

    cada uma delas contribui com comportamentos que criam caminhos para a

    inatividade fsica.

    Segundo a Organizao Mundial da Sade, a inatividade fsica o quarto

    fator de risco mais importante para a mortalidade por todas as causas (WHO, 2010).

    Estima-se que a inatividade fsica seja responsvel por 6% da carga de doena de

    doena cardaca coronria, 7% de diabetes do tipo 2; 10% de cncer de mama e 10%

    de cncer de clon. A inatividade provocou 9% da mortalidade prematura (mais de

    5,3 milhes) das 57 milhes de mortes ocorridas no mundo em 2008. Se inatividade

  • 3

    fsica fosse diminuda em 25%, mais de 1,3 milhes de mortes, poderiam ser evitadas

    a cada ano no mundo.

    No Brasil, cerca de 60 a 70% da populao se encontra abaixo das

    recomendaes globais de AF. A prevalncia elevada da inatividade fsica ou da

    prtica insuficiente de AF foi considerada responsvel por 53.673 mortes em 2008,

    por 3 a 5% das principais doenas crnicas no transmissveis e por 5,31% das

    mortes por todas as causas (Rezende et al., 2014).

    A OMS e outras agncias governamentais, como exemplo, a Unio

    Europeia, recomendam em suas diretrizes que a AF seja tratada com prioridade pelas

    polticas de sade pblica, com abordagens amplas e sustentveis que garantam

    maior visibilidade AF (Idesporto, 2009).

    Por outro lado, os estudos tambm tm tematizado a inatividade fsica e

    mostram seu impacto em algumas alteraes fisiolgicas, particularmente as de

    natureza circulatria, como reduo do volume de sangue, hipotenso ortosttica e

    reduo da absoro mxima de oxignio, dentre outras. A falta de AF provoca,

    tambm, alteraes metablicas significativas, como a reduo da capacidade

    oxidativa, a tolerncia diminuda da glicose, o desenvolvimento de lipidemias e o

    aumento da excreo urinria de clcio. A atrofia muscular, por fim, detectvel

    com certa facilidade. As mudanas relacionadas a ela so reprodutveis e podem ser

    revertidas com a prtica de exerccios fsicos (CDC, 2010).

    Outra influncia da AF muito tematizada na literatura cientfica sobre

    as doenas crnicas no transmissveis (DCNT). As DCNT ameaam a qualidade de

    vida de milhes de pessoas e apresentam grande impacto no financiamento da sade

    pblica, principalmente nos pases de economia perifrica. A Organizao Mundial

    da Sade (OMS) estima que o nmero total de mortes por doenas crnicas tender a

    aumentar 17% na prxima dcada e que a taxa de mortalidade por DCNT ser duas

    vezes maior (ou mais) que a taxa de mortalidade por doenas infecciosas (WHO,

    2009).

    Dado este cenrio, a OMS props aos Estados-Membros compromissos

    para a reduo das taxas de morbimortalidade por DCNT, partindo da premissa de

    que essas afeces so potencialmente evitveis. A 57 Assembleia Mundial da

  • 4

    Sade props, entre outras medidas, a adoo de estilo de vida ativo, por meio da

    Resoluo WHA 57.17 Estratgia Global para a alimentao, atividade fsica e

    sade (OMS, 2009).

    No Quadro 1, apresentada uma sntese dos principais benefcios da AF

    para a sade, juntamente com a respectiva fora das evidncias que os comprovam

    (USDHHS, 2008b; Aoyagi et al., 2010).

    Quadro 1. Principais benefcios atribudos atividade fsica

    Doena / Condio Evidncias

    Menor risco de doena cardiovascular

    Menor risco de AVC

    Menor risco de morte prematura

    Menor risco de lipidemias

    Controle do excesso de peso/obesidade (sem dieta

    hipocalrica)

    Perda de peso associada dieta hipocalrica

    Menor risco de diabetes tipo 2

    Menor risco de hipertenso arterial sistmica

    Menor risco de cncer de clon

    Menor risco de cncer de mama

    Menor risco de cncer de pulmo

    Menor risco de cncer endometrial

    Menor risco de quedas nos idosos

    Aumento da densidade ssea (idosos)

    Preveno da osteoporose

    Melhor funcionamento cardiopulmonar

    Melhor bem-estar geral

    Estado de sade (sensao subjetiva)

    Digesto e regulao do trnsito intestinal

    Manuteno das funes motoras

    Melhora das funes cognitivas

    Reduo da depresso e da demncia

    Absentismo laboral (baixas por doena)

    Nvel de estresse

    Qualidade do sono, autoimagem e autoestima

    Forte

    Forte

    Forte

    Forte

    Moderada

    Forte

    Forte

    Forte

    Forte

    Forte

    Moderada

    Moderada

    Forte

    Moderada

    Forte

    Forte

    Moderada a forte

    Moderada a forte

    Forte

    Forte

    Forte

    Forte

    Moderada

    Moderada a forte

    Moderada a forte

    FONTE: USDHHS,1 2008b.

    1 O Departamento Nacional de Sade e Servios Humanos dos EUA (USDHHS) a

    principal agncia de sade do governo dos Estados Unidos. Em 2008 renovou as

    orientaes e recomendaes sobre a importncia de ser fisicamente ativo, promover

    a sade e reduzir o risco de doenas crnicas.

  • 5

    1.1.1 Doena cardiovascular

    Os benefcios para a sade cardiovascular, mediante a realizao de AF

    regular, tm sido documentados por vrios estudos. Resultados de metanlises

    indicam que o risco de doenas cardaco-coronrias dobra em participantes menos

    ativos, quando eles so comparados com participantes mais ativos. Os estudos

    disponveis indicam que h uma relao dose-resposta inversa entre a prtica de AF

    regular e o risco de morte e de eventos cardiovasculares em geral e, em particular,

    daqueles causados por insuficincia coronria. O estudo de Schuler et al. (1992)

    analisou aproximadamente 3 mil pacientes com relato de angina pectori duranter 12

    meses. Em relao ao grupo de interveno, alm do tratamento clnico de rotina, foi

    introduzido AF moderada de 30 minutos por dia. O controle angiogrfico mostrou

    que, neste, houve a diminuio mdia de 32% no grau da insuficincia coronria,

    quando comparado ao grupo de controle, que s recebeu o tratamento clnico.

    Outro estudo, ainda, mostrou que os pacientes que realizaram AF

    moderada apresentaram um risco 11% menor de desenvolver eventos cardacos

    adversos, ao ser cotizado com grupo com AF de alta intensidade (Swain e Franklin,

    2006).

    Homens e mulheres japoneses fisicamente ativos que residiam no Japo e

    homens mais velhos (japoneses) residentes no Hava apresentaram menores taxas de

    mortalidade por doena cardiovascular do que as suas contrapartes menos ativas.

    Resultados semelhantes foram relatados para mulheres chinesas que vivem em

    Xangai e homens e mulheres chineses que vivem em Hong Kong (CDC, 2010).

    1.1.2 Doena cerebrovascular

    Os dados sobre doenas cerebrovasculares (AVC) e a sua associao com

    a prtica de AF so menos numerosos e conclusivos, quando comparados s doenas

    cardiovasculares. H, no entanto, evidncias que mostram o efeito protetor da AF

    para as leses vasculares no crebro. Haskell et al. (2009) evidenciaram uma relao

    inversa entre o grau do condicionamento fsico e a incidncia de AVC. A mesma

    relao pode ser observada entre um grupo de interveno que se exercitava em um

  • 6

    nvel de esforo moderado em comparao com um grupo de pessoas sedentrias . A

    AF com esforo de maior intensidade parece no trazer benefcios adicionais de

    proteo quando comparado ao esforo moderado. A regularidade da AF moderada

    parece ser o fator de maior proteo em relao ao risco de ocorrncia de AVC (Liao

    et al., 2009).

    1.1.3 Dislipidemia

    A aterosclerose um dos principais fatores da mecnica obstrutiva dos

    vasos coronarianos ao longo do tempo. Os nveis de colesterol e triglicerdios esto

    fortemente associados gnese do ateroma na parede arterial. Nesta perspectiva, h

    fortes evidncias de que a AF com gasto de energia entre 1.200 e 2.200 quilocalorias

    (kcal) por semana pode contribuir para reduzir a taxa total de colesterol e o colesterol

    de baixa densidade (LDL), assim como para aumentar a taxa de colesterol de alta

    densidade (HDL) e diminuir a taxa srica de triglicerdios (Leon e Sanches, 2001).

    1.1.4 Hipertenso arterial sistmica

    A presso arterial sistmica, quando est elevada, representa um fator de

    impacto fisiolgico sobre o sistema hemodinmico arterial. Durante o esforo

    intenso, a presso arterial sistmica tende a aumentar, paralelamente ao aumento de

    resultados adversos agudos por causas circulatrias (Churilla e Ford, 2010). De modo

    contrrio, a AF regular, moderada e de longa durao parece se associar de modo

    positivo reduo da presso arterial sistmica e, quase sempre, indicada como

    terapia coadjuvante no controle da presso arterial sistmica. Estas concluses so

    apoiadas por vrios estudos (Rafferty et al., 2002; Tully et al., 2007; Caban-Martinez

    et al., 2010). No obstante, a metanlise realizada por Fagard (2001) (que reuniu

    somente ensaios clnicos) mostrou uma diminuio significativa da presso arterial

    sistlica e diastlica (3,4 e 2,4 mmHg, respectivamente, (p

  • 7

    1.1.5 Diabetes tipo 2

    O exerccio fsico tem efeito hipoglicmico agudo devido

    potencializao da concentrao de insulina no plasma. Cauza et al. (2006)

    mostraram que o exerccio fsico diminui a glicemia sangunea em jejum e aumenta a

    sensibilidade insulina perifrica e heptica entre 12 e 16 horas aps o esforo.

    Assim, o exerccio fsico pode ajudar no controle dos nveis de acar no sangue. O

    mecanismo fisiolgico que suporta esta tese indica o aumento da sntese do

    glicognio e o aumento e ativao do nmero de transportadores de glicose (Sigal et

    al., 2007). No entanto, o tipo da diabete deve ser considerado. Os insulinopnicos

    no respondem em proporo igual aos benefcios especficos da AF, postos em

    contraste com os portadores de hiperglicemia moderada e com a fase inicial da

    intolerncia aos carboidratos (Eriksson et al., 1997).

    Outro fator a considerar a resposta intensidade do esforo. Exerccios

    anaerbios produzem um efeito mnimo na melhora da tolerncia glicose. Parece

    que os efeitos benficos da AF so atribudos essencialmente ao esforo aerbio e a

    maior eficcia no controle glicmico enfatiza a necessidade de sesses repetidas pelo

    menos 3 vezes por semana (Riddel e Burr, 2011).

    Recentemente, Bull et al., (2010) mostraram que programas que

    envolvem resistncia (pesos) ao esforo muscular reduzem significativamente os

    nveis de glicose sangunea, desde que os processos oxidativos do metabolismo

    energtico sejam tambm fortemente ativados.

    1.1.6 Osteoporose

    A osteoporose se caracteriza pela diminuio do clcio sseo e

    deteriorao da massa estrutural do tecido sseo, levando fragilidade dos ossos e ao

    aumento da susceptibilidade s fraturas. Ela afeta principalmente as pessoas idosas e

    mais comum entre as mulheres, principalmente aps o climatrio (Vainionpaa,

    2006).

    A AF pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento da

    massa ssea durante a infncia e a adolescncia, na manuteno da massa esqueltica

  • 8

    na idade adulta e na desacelerao da reduo na densidade mineral ssea que

    aparecem com o envelhecimento, o repouso ou a imobilidade (Koike, 2005;

    Suominen, 2006).

    De particular interesse para a sade pblica, a prtica de AF pode

    prevenir ou retardar a perda de massa ssea ao longo da vida. A resistncia externa

    imposta aos msculos e o grau do impacto sseo parecem ser fatores cruciais e

    determinantes para estimular e manter a massa ssea saudvel. Assim, provvel

    que exerccio com estas caractersticas possam ter efeitos mais pronunciados do que

    outros. Porm, embora este princpio mostre uma forte aceitao pela comunidade

    cientfica, ele ainda no est inequivocamente estabelecido (OMS, 2004; Pattersen e

    Warburton, 2009).

    Os principais benefcios da AF para a sade esto claramente delineados

    pela literatura cientfica, no entanto, importante sublinhar que, muitas vezes, usa-se

    a noo de AF como sinnimo de prtica de exerccios fsicos, assim como comum

    usar a inatividade fsica para definir comportamento sedentrio. Embora estes

    conceitos mantenham relaes de semelhana entre si, h nuances em suas

    definies.

    1.2 DEFINIO E CARACTERSTICAS DA ATIVIDADE FSICA

    A AF um comportamento complexo e multidimensional que pode ser

    entendido como "todo movimento corporal produzido pelo acionamento dos

    msculos esquelticos resultando em aumento substancial do gasto energtico acima

    do metabolismo de repouso" (Kenneth e Christenson, 1985).12

    A AF pode ser dividida em diferentes domnios(USDHHS, 2010a):

    1) Atividade desportiva (performance);

    2) Atividade no tempo de lazer (tempo livre);

    3) Atividades laborais (no trabalho formal e no lar);

    4) Atividade no transporte ativo (deslocamento a p ou de bicicleta);

    5) Atividade fsica para reabilitao (cinesioterapia).

    1Esta definio de AF atualmente adotada pela Organizao Mundial da Sade.

  • 9

    O exerccio fsico um subconjunto da AF, especializado e organizado

    de forma planejada, repetida e executada com objetivos especficos. Assim, embora

    todo o exerccio fsico seja uma AF, nem toda AF necessariamente um exerccio

    fsico (USDHHS, 2008b).

    O exerccio fsico, de um modo geral, apresenta trs componentes que

    descrevem a sua estrutura (Matvev, 2001):

    a) Durao do esforo (minutos);

    b) Frequncia semanal (dias);

    c) Intensidade do esforo (expressa o gasto energtico).

    A Intensidade do esforo costuma ser separada em trs categorias:

    1) Leve (1,6 a 2,9 MET23);

    2) Moderada (3 a 6 MET);

    3) Vigorosa (> 6 MET).

    O comportamento sedentrio, por seu turno, definido como uma

    atividade que no aumenta substancialmente as despesas de energia acima do nvel

    de repouso (equivalente a 1 MET x minuto).

    Assim, a AF e o sedentarismo constituem duas dimenses

    completamente opostas do comportamento do movimento.

    Em sntese, a AF o avano continuado do aumento de despesas de

    energia, que parte do comportamento sedentrio e ruma em direo AF vigorosa

    (Figura 1).

    FONTE: Blair SN, Monte MJ; Nichaman MZ, 2004.

    Figura 1 - O continuum da atividade fsica

    Outra dimenso da intensidade da AF medida pelo gasto de energia

    (kcal). No entanto, o gasto demandado pela prtica de uma determinada AF como

    reflexo da intensidade do esforo influenciado por determinantes como sexo, idade,

    21 MET equivalente ao consumo de 3,5 ml de O2.kg.min.

  • 10

    composio corporal, gravidez e nvel de aptido fsica do praticante, aspectos no

    relacionados ao tipo de exerccio fsico ou esporte, durao do esforo ou eficincia

    mecnica (Ainsworth et al., 2000).

    A mensurao do volume do esforo ainda um aspecto desafiador na

    avaliao da AF. Um estudo clssico de LaPorte et al. (1985) apud Hallal (2005)

    mostrou que - na metade dos anos 80 - existiam mais de 30 mtodos sendo utilizados

    para avaliar a AF, onde no se define um ser superior ao outro. Habitualmente, os

    mtodos so classificados como objetivos e subjetivos.

    Mtodos objetivos: Eles se referem a medidas relativas ao resultado do

    trabalho propriamente dito. Apresentam nveis considerados satisfatrios de validade

    e reprodutibilidade, mas possuem limitaes em termos de logstica e custo. Podem

    ser realizados por via direta p.ex. ergoespirometria, gasometria, acelermetria, etc.

    ou por via indireta, utilizando tabelas de converso p.ex. pedometria,

    monitoramento da frequncia cardaca e teste de corrida.

    Mtodos subjetivos: Oriundos de inquritos, entrevistas ou

    questionrios, em geral, eles so medidas que dependem da memria do avaliado.

    Eles so prticas de baixo custo, prprias para avaliar populaes de grandes

    magnitudes e permitem, com algumas variaes, mensurar a AF em mais de um

    domnio e por diferentes perodos de tempo. A interpretao e a resposta do

    entrevistado, no entanto, podem ser influenciadas por questes subjetivas (Shephard

    e Vuillemin, 2003). Entretanto, Hallal et al. (2010) verificaram, em uma particular

    situao, que apesar de no existir concordncia entre os escores contnuos oriundos

    de questionrios e aqueles obtidos por medidas de acelermetro, a categorizao dos

    participantes em grupos de atividade fsica apresenta concordncia entre moderada e

    elevada, o que justifica a utilizao de questionrios em pesquisas representativas de

    grandes populaes.

    A mensurao da AF est diretamente relacionada a questo da

    quantidade de AF (dose) e a sua consequncia para a sade (resposta), um dos

    aspectos mais desafiadores no que se refere discusso da AF e sade.

  • 11

    1.3 RELAO DOSE-RESPOSTA

    A relao entre a quantidade e a consequencia para a sade da AF pode

    assumir muitas formas, sendo a mais comum a no-linear (Dietz, 1996; Kesaniemi et

    al., 2010).

    A questo crucial que se coloca quanta AF necessria para alcanar

    benefcios substanciais para a sade? Esta a pergunta mais comum feita no

    contexto da interrelao entre AF e sade e remete diretamente questo da dosagem

    correta. fundamental que um estmulo de estresse fsico proporcione adaptaes

    orgnicas com a menor agresso possvel (por segurana) e obtenha o maior efeito

    possvel.

    A influncia positiva da AF foi detectada em estudos epidemiolgicos

    devido ocorrncia de menores taxas de morbidade ou mortalidade, tendo resultados

    mistos em termos de dosagem. Dependendo do determinante da sade, o resultado

    poder ser influenciado, num caso, por efeitos de esforo moderado e, no outro, s

    ter sucesso com cargas mais vigorosas. Desta perspectiva, um modelo com trs

    diferentes curvas resume as respectivas relaes de dose-resposta (Neilson e Lynch,

    2010).

    Um efeito positivo da carga de leve a moderada, comparada carga

    elevada, ocorre, por exemplo, em relao presso arterial. Vrios estudos

    evidenciam redues iguais ou at mesmo mais elevadas de presso arterial em

    exerccios de intensidade moderada, quando comparados com os de alta intensidade

    (que tendem a aumentar a tenso arterial). Isto de particular importncia, porque o

    exerccio de alta intensidade aumenta ainda mais a tenso vascular arterial. Eles

    tambm mostram que a curva o resultado das investigaes que sugerem que ganho

    de sade so alcanados at mesmo com AF de baixa intensidade (Figura 2).

  • 12

    FONTE: Neilson e Lynch (2010).

    Figura 2. Modelo de curva de dose-resposta para a intensidade do esforo e

    benefcios para a sade

    O grfico a seguir mostra os efeitos de proteo com relao linear

    inversa entre o volume total de AF e os efeitos esperados, como a diminuio das

    taxas de risco para mortalidade total e de doenas cardiovasculares, diabetes do tipo

    2 e cnceres.

    FONTE: Neilson e Lynch (2010)

    Figura 3. Resposta linear inversa ao volume de AF e benefcios para a sade

  • 13

    A adaptao do sistema locomotor passivo (sistema sseo), por exemplo,

    evidenciada em exerccios resistidos com intensidade elevada. Assim, presume-se

    que uma possvel proteo contra a osteoporose conseguida com exerccio de

    intensidade mais elevada (Figura 4).

    FONTE: Neilson e Lynch (2010).

    Figura 4. Modelo de curva de dose-resposta para a intensidade crescente de

    esforo e benefcios para a sade

    Nessa linha, ainda no h uma resposta conclusiva a respeito da

    quantidade mnima necessria para alcanar benefcios substanciais para a sade

    geral. No entanto, estudos mostram que participantes com gasto adicional de energia

    de 73 - 143 kcal/dia em AF regular apresentam menores taxas de mortalidade

    cardiovascular, se comparados com os participantes fisicamente inativos (Yoo e

    Franke, 2010). Leon e colaboradores mostraram que o gasto de energia de 150

    kcal/dia reduziu em 36% o risco de morrer de doena cardiovascular e em 27% o

    risco de morte por qualquer causa (Leon et al., 2001). Alm disso, a AF moderada,

    com gasto de energia entre 140 - 215 kcal/dia, foi associada reduo de 13% na

    incidncia de diabetes de tipo 2. Quando a AF foi modificada de moderada para

    vigorosa (mantendo o mesmo gasto energtico), a reduo da incidncia quase

    dobrou (21%) (Helmrich et al., 1991).

  • 14

    Parece claro na literatura que os benefcios para a sade aumentam com o

    aumento da quantidade de AF, a despeito da falta de consenso sobre o mnimo

    necessrio. Mas ao mesmo tempo em que a prtica de AF promove benefcios para a

    sade, alguns efeitos indesejveis podem ocorrer, especialmente como resultado do

    esforo de alta intensidade.

    1.4 EFEITOS ADVERSOS DA ATIVIDADE FSICA

    De modo geral, o risco de ser envolvido em qualquer complicao fsico-

    funcional pequeno para a maioria dos tipos de exerccios de baixa a moderada

    intensidade e, de modo geral, os benefcios normalmente suplantam os riscos dos

    efeitos adversos (Blair et al., 1989; Lee et al., 2000).

    Os efeitos adversos mais comuns decorrentes da AF so as leses

    msculo-esquelticas, principalmente as de origem inflamatria e degenerativa

    causadas por esforo fsico demasiado (USDHHS, 2008a). Menos comuns so os

    riscos de transtornos metablicos agudos (hipoglicemia, desidratao e

    superaquecimento) e as alteraes hemodinmicas. O risco de uma pessoa sofrer

    disfuno cardaca durante ou imediatamente aps o esforo deve ser considerado

    nas pessoas com comprometimento cardaco prvio. Estudos conduzidos por Talbot e

    colaboradores mostraram que a incidncia de morte sbita em corredores de 30 a 65

    anos de idade, do sexo masculino, no perodo de um ano, foi de 13 mortes por

    100.000 corredores. Metade dos corredores que morreram tinha doena

    cardiovascular conhecida e, entre os mais jovens, os casos de morte sbita foram

    quase sempre relacionados a anormalidades congnitas ou que tenham sido

    adquiridas (Talbot et al., 2007).

    Os benefcios da AF, portanto, superam marcadamente os efeitos

    adversos na sade e no h dvida nos textos cientficos sobre a necessidade de

    medidas de incentivo de sua prtica. Para tanto, um primeiro passo conhecer as

    caractersticas da AF na populao.

  • 15

    1.5 CARACTERSTICAS SOCIODEMOGRFICAS DA ATIVIDADE

    FSICA

    A influncia de determinantes sociais diferentes, provavelmente, afeta a

    escolha de estilos de vida distintos. Assim, a renda, a categoria profissional e o nvel

    de educao, dentre outras caractersticas, so variveis frequentemente utilizadas

    para definir o status econmico e a sua associao com a AF. Esta associao tem

    apresentado resultados controversos. Por um lado, estudos como o de Nelson et al.

    (2006) apontaram que adolescentes de reas rurais com menor condio

    socioeconmica so mais ativos do que seus pares com maior condio. No outro

    polo da controvrsia, estudo conduzido por Guedes et al. (2001) envolvendo

    escolares adolescentes de um municpio do interior do Estado do Paran mostrou que

    crianas de baixo nvel socioeconmico so menos ativas e mais sedentrias. Para

    Lindstrom, Hanson e Ostergren (2001), famlias de renda baixa se envolvem menos

    em esportes recreativos do que famlias com renda alta. Estudo transversal avaliou a

    taxa de sedentarismo urbano em Portugal e mostrou que, de modo geral, o dispndio

    de energia no tempo livre tendia a ser maior entre aqueles com maior renda anual

    (Gal, Santos e Barros, 2005). O estudo conduzido por Burton e Turrell (2000)

    associou, entre trabalhadores ativos dos Estados Unidos, as horas trabalhadas com o

    tempo dedicado AF no lazer. Concluram que trabalhadores de maior renda

    tenderam a ser mais ativos nas horas de lazer. Assim, o debate continua inconclusivo

    no tocante temtica.

    A associao da idade, do sexo, da etnia, da cor e do local da residncia

    com a prtica de AF habitualmente apresenta menor discordncia. A maior parte dos

    estudos aponta maior nvel de AF em habitantes de cidades de pequeno porte,

    quando comparados com residentes de cidades de mdio e grande porte (Baretta,

    Baretta e Peres, 2007). A prevalncia da AF maior entre homens e decresce com o

    aumento da idade em ambos os sexos (Hallal et al., 2011).

    So poucos os estudos que investigam a associao entre raa e cor com

    o nvel de AF e seus resultados no apontam diferenas significativas entre as

    categorias (USDHHS, 2008c).

  • 16

    A literatura cientfica mostra que existem quantidades e formas diferentes

    de praticar AF de acordo com as caractersticas sociodemogrficas, mas para a

    proposta de aes de promoo da AF, ainda se faz necessrio compreender a

    discusso sobre a quantidade mnima necessria para alcanar benefcios substanciais

    para a sade geral.

    1.6 DIRETRIZES E RECOMENDAES DE ATIVIDADE FSICA

    Recomendaes para a prtica de AF na dcada de 60 foram associadas,

    em grande parte, com o esporte de desempenho. As recomendaes da poca

    destacavam a necessidade de cumprir um alto nvel de esforo para obter resultados

    substanciais de aptido fsica. Dados crescentes de informaes apoiaram o valor de

    ser fisicamente ativo, mas no havia consenso sobre quais seriam os programas mais

    eficazes e seguros. Foi a combinao da necessidade de promover a prtica de AF e

    de minimizar os riscos de eventos adversos que precipitou a elaborao das primeiras

    recomendaes de AF para os profissionais da rea da sade e para o pblico em

    geral.

    O Colgio Americano de Medicina Esportiva (ACSM) foi um dos

    pioneiros nas recomendaes de exerccios para a populao. A publicao em 1975

    das Diretrizes para Teste de Esforo e Prescrio Graduada de Exerccio (Guidelines

    for Graded Exercise Testing and Exercise Prescription) e as suas revises

    posteriores tiveram grande influncia na prescrio de exerccios fsicos (Haskell et

    al., 2007).

    Em 1992, a Associao Americana de Cardiologia (AHA) sugeriu a

    mudana de classificao do risco da inatividade fsica, passando-o de fator

    secundrio para primrio1.4Isto reforou a mobilizao de outras organizaes que

    tambm modificaram as suas recomendaes de AF para promover a sade

    (USDHHS, 2008b).

    1 Os fatores de risco primrios (presso arterial sistmica, tabagismo,

    hipercolisteremia, sedentarismo) so potencialmente mais perigosos para

    desenvolver doenas do que os secundrios (estresse, idade, hereditariedade, diabete

    tipo II, obesidade e sexo) (AHA, 2010).

  • 17

    Neste sentido, as recomendaes foram projetadas para informar e

    orientar os profissionais que aconselham e prescrevem a prtica da AF e o pblico

    em geral sobre os tipos e a quantidade mnima de exerccios que proporcionam

    benefcios substanciais sade. O objetivo principal por detrs das orientaes que

    a AF regular ao longo do tempo pode produzir benefcios para a sade ao longo da

    vida e que eles suplantam os riscos.

    Existem vrias recomendaes e primeira vista parece haver forte

    semelhana entre elas. Inspeo mais acurada, no entanto, revela ambiguidades que

    culminam na possibilidade de mais de um entendimento para um mesmo propsito.

    Procurar-se-a a seguir comparar as principais diretrizes, destacando diferenas e

    semelhanas e identificando suas lacunas e potencialidades.

    1.6.1. Recomendaes de atividade fsica pelo Colgio Americano de Medicina

    Esportiva.

    O ACSM, fundado em 1954, com sede em Indianpolis (EUA) uma

    organizao de medicina esportiva e de cincia do exerccio dedicada a incentivar

    uma maior AF dos americanos de todas as idades, valendo-se, para tanto, da emisso

    de uma recomendao de sade pblica sobre os tipos e quantidades de AF

    necessrios para a promoo da sade e preveno de doenas.

    O ACSM, acompanhado pela AHA, na ltima reviso, no ano de 2007,

    passou a recomendar que adultos saudveis e em condies crnicas no

    relacionadas AF acumulem 30 minutos ou mais de AF de intensidade moderada

    (em geral, equivalente a uma caminhada rpida e com visvel acelerao do ritmo

    cardaco), repetindo-a, pelo menos, em 5 dias da semana, ou 20 minutos de AF de

    intensidade vigorosa, em pelo menos em 3 dias da semana, mantendo, alm disso, as

    atividades de vida diria. Combinaes de atividades moderadas e vigorosas podem

    ser realizadas para atender recomendao. O esforo pode, ainda, ser acumulado

    minuto a minuto com sesses de, no mnimo, 10 minutos de durao (Haskell et al.,

    2007).

  • 18

    A incluso desta recomendao para esta anlise levou em conta o fato

    de o ACSM ser uma das organizaes pioneiras no fornecimento de recomendaes

    de exerccios especficos. A publicao em 1975 das Diretrizes para Teste de Esforo

    e Prescrio de Exerccio e suas subsequentes edies revistas tiveram grande

    influncia sobre os campos da cincia do exerccio, da clnica mdica e da medicina

    de reabilitao no mbito global e avalizado pela Associao Americana de

    Cardiologia (AHA, 2011).

    1.6.2 Recomendaes de atividade fsica pelo Comit Executivo responsvel pelo

    Questionrio Internacional de Atividade Fsica IPAQ.

    Em face das dificuldades para obter medidas de AF internacionalmente

    comparveis, a OMS, o CDC dos Estados Unidos e o Instituto Karolinska da Sucia

    reuniram um Comit Executivo, com o objetivo de desenvolver e testar um

    instrumento de medidas da AF para uso internacional. O comit props o IPAQ,

    Questionrio Internacional de Atividades Fsicas (em diferentes verses), e, em 2005,

    recomendou que, para atender classificao de ativa, a pessoa deve cumprir um dos

    trs critrios: a) realizar, em 3 ou mais dias da semana, atividade de intensidade

    vigorosa de, pelo menos, 20 minutos por dia; b) fazer, em 5 ou mais dias por semana,

    atividade de intensidade moderada por, pelo menos, 30 minutos por dia; c) em 5 ou

    mais dias por semana, efetuar qualquer combinao de intensidade de esforo, desde

    que atinja o mnimo de 600 MET x minutos/semana. Os valores acima ou abaixo

    desses critrios so classificados como muito ativo e pouco ativo,

    respectivamente (IPAQ, 2005).

    A incluso dessa recomendao na anlise levou em conta a sua

    importncia no cenrio mundial, j que a referncia adotada pelo Observatrio de

    Sade Global da OMS para a avaliao do nvel de AF da populao mundial (GHO,

    2008).

  • 19

    1.6.3 Recomendaes de atividade fsica pelo Instituto de Medicina dos Estados

    Unidos

    O Instituto de Medicina dos EUA (IOM) uma organizao no

    governamental e independente que trabalha para aconselhar mdicos e gestores de

    sade pblica. Fundado em 1970, o IOM uma das extenses da Academia Nacional

    de Cincias dos Estados Unidos e, portanto, as suas recomendaes no constituem a

    diretriz federal dos Estados Unidos.

    A incluso desta recomendao na anlise levou em conta a sua

    influncia no aconselhamento para a tomada de decises da comunidade mdica nos

    pases da Amrica do Norte. Alm disso, foi o Comit Executivo do IOM que

    preconizou a realizao de 60 minutos de AF moderada todos os dias da semana para

    ambos os sexos e se posicionou contra recomendaes vigentes na poca (30 minutos

    por dia). Esta posio contrria motivou a publicao de vrios estudos comparativos

    entre as recomendaes vigentes e as do Instituto (IOM, 2005; CDC, 2010; AHA,

    2010).

    1.6.4 Recomendaes de atividade fsica pela Unio Europeia

    Estabelecida em 1993, a Unio Europeia (UE) opera atravs de um

    sistema de decises intergovernamentais feitas e negociadas pelos Estados-Membros

    e abrange diversas reas, dentre elas, a sade. Nesta perspectiva, em 2007, foi criado

    o Programa Juntos para a sade. Neste programa, uma das metas estabelecidas

    foram as aes recomendadas para apoiar a prtica de AF visando promoo da

    sade.

    Em conformidade com o Comit de especialistas (22 membros)

    constitudo pela Unidade do Desporto da Direo-Geral da Educao e da Cultura da

    Comisso Europeia, em outubro de 2008, ficou estabelecido que os Estados-

    Membros da UE devem recomendar, respectivamente, para as crianas e jovens de

    ambos os sexos e para os adultos (incluindo os idosos) um mnimo de 60 e de 30

    minutos dirios de AF de intensidade moderada (Idesporto, 2009).

  • 20

    A incluso dessa recomendao na anlise considerou que a organizao

    congrega 27 estados europeus independentes e abrange diretamente uma populao

    de mais de 500 milhes de habitantes, o que representa 7,3% da populao mundial.

    O documento se tornou a base para as diretrizes do Centro Nacional de Atividade

    Fsica e Sade da Fundao Britnica do Corao (Bull, 2010) e para as diretrizes

    para os pases Nrdicos (Kallings, 2010).

    1.6.5 Recomendaes de atividade fsica da Organizao Mundial da Sade.

    A Organizao Mundial da Sade (OMS), agncia internacional, foi

    fundada em 1948, sendo subordinada Organizao das Naes Unidas, sediada em

    Genebra, na Sua, e tem como principal objetivo desenvolver a sade no mbito

    global.

    As recomendaes da OMS para a promoo da AF foram atualizadas

    em 2010 e tm reviso prevista para o ano de 2015. Elas indicam para os adultos

    ainda jovens (18 a 64 anos de idade) a prtica de, pelo menos, 150 minutos por

    semana de AF moderada ou 75 minutos por semana de AF vigorosa, em sesses de,

    pelo menos, 10 minutos de durao. Para benefcios adicionais, os adultos devem

    aumentar a durao das atividades moderadas para 300 minutos por semana ou das

    atividades vigorosas para 150 minutos por semana ou, ainda, efetuarem uma

    combinao equivalente de atividade moderada e vigorosa (WHO, 2010). Para

    crianas e jovens (menores de 18 anos), a recomendao prev o dobro da

    quantidade de tempo dos adultos.

    A incluso dessa recomendao na anlise levou em conta a sua

    influncia sobre 193 Estados-Membros filiados Organizao das Naes Unidas, a

    consonncia com as atuais recomendaes do Departamento Nacional de Sade e

    Servios Humanos dos Estados Unidos (USDHHS, 2008), o endosso do Centro de

    Controle e Preveno de Doenas (CDC) dos Estados Unidos (CDC, 2008) e a sua

    adoo pelo Ministrio da Sade do Brasil (MS, 2012).

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrutura_da_Organiza%C3%A7%C3%A3o_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidashttp://pt.wikipedia.org/wiki/1948http://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Genebrahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Su%C3%AD%C3%A7ahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAde

  • 21

    1.7 CONTROVRSIAS E CONSENSOS NAS RECOMENDAES DE

    ATIVIDADE FSICA

    No conjunto, as diretrizes concordam que a AF componente importante

    para uma vida saudvel e buscam mudanas para as altas taxas de inatividade fsica.

    Assim, entendem que essencial informar os profissionais da sade e o pblico em

    geral sobre a quantidade mnima de AF necessria para a obteno de efeitos

    substanciais para a sade geral.

    Os Estados Unidos lideraram o caminho para fornecer recomendaes

    atualizadas. Antes, pelo ACSM, em 2007 (Haskell et al., 2007), e, mais

    recentemente, pelo Departamento de Sade dos EUA (USDHHS, 2008). Ambos

    foram posteriormente seguidos por outras organizaes, como a Organizao

    Mundial da Sade (WHO, 2010), o Departamento de Sade do Reino Unido (Bull,

    2010) e o Departamento Nacional de Sade do Canad (Kesaniemi et al., 2010),

    dentre outras.

    Destaca-se o fato de o Comit Consultivo do USDHHS, em 2008, ter

    mudado o foco da instruo do volume total de AF,15

    sem determinar a frequncia

    semanal. Como resultado, essas novas orientaes permitem que uma pessoa alcance

    a mesma meta de vrias maneiras.

    A seguir ser apresentada a comparao segundo as categorias analticas

    que emergiram na apreciao das recomendaes e que representam suas principais

    caractersticas: elementos da AF (frequencia semanal, intensidade, durao e dose);

    exerccios especficos; eventos adversos; populaes especficas, consideraes por

    idade (crianas e jovens).

    1.7.1 Frequencia semanal

    Sobre este ponto, importante salientar que a maioria das mudanas

    morfofuncionais do organismo ocorre mediada pelos processos de adaptao

    1Recomendao atual: acumulao de 150 minutos de AF moderada ou 75 minutos

    de AF vigorosa. por semana. Recomendao anterior: 30 minutos em 5 vezes por

    semana de AF moderada ou 20 minutos em 3 vezes por semana para AF vigorosa.

  • 22

    funcional em resposta ao exerccio fsico e a sua magnitude diminui ou se desfaz

    medida que aumenta o intervalo entre os estmulos (cada sesso de esforo fsico)

    (Aoyagi et al., 2010). A figura 5 esboa o princpio terico da sobrecarga. O seu

    principal objetivo obter um ganho extra na compensao do esforo fsico

    (supercompensao), para que se elevem os nveis de pr-esforo. O ideal para a

    realizao de um novo esforo ocorre no pico mximo da supercompensao. Nota-

    se que, quando o segmento B C alongado, ou seja, medida que um estmulo

    (sesso de esforo) se distancia do outro, perde-se progressivamente o efeito da

    supercompensao (Matvev, 2001).

    A diretriz oficial dos EUA de 2008 fornece declarao sobre espalhar as

    atividades por toda a semana sem especificar ou determinar um padro. Mesmo

    aceitando grande parte dos estudos tendem a obterem melhor resultados com a

    prtica de AF em trs dias na semana, aceita como alcance da meta a realizao de

    uma nica sesso por semana, desde que se atinja a durao recomendada. Isto pode

    induzir pessoas a se esforarem demasiadamente para alcanar a meta em uma nica

    sesso, o que pode aumentar o risco de eventos adversos (USDHHS, 2008).

    FONTE: Adaptado de Bompa TO e Haff G, (2009).

    Figura 5. Princpio da sobrecarga

  • 23

    1.7.2 Intensidade do esforo

    Algumas atualizaes passam a recomendar tambm AF com intensidade

    vigorosa. Isso contrasta com muitas diretrizes que at ento haviam indicado, na sua

    mensagem principal, recomendao somente para esforo de intensidade moderada.

    Esta atualizao foi seguida por diretrizes oficiais de diversos pases como as da

    Rssia, Reino Unido, Canad, entre outros e adotada como recomendao pela

    Organizao Mundial da Sade. Outras organizaes profissionais e agncias

    governamentais, como a da Unio Europeia, Noruega, Dinamarca, Holanda,

    Finlndia e Sucia, dentre outras se mantiveram conservadoras, mantendo a

    orientao anterior (AF com intensidade moderada).

    Vrias diretrizes dedicaram espao para definir a intensidade do esforo.

    O USDHHS de 2008, por exemplo, utilizou escala subjetiva de esforo de 0 a 10, em

    que 0 corresponde ausncia de atividade e 10 corresponde ao maior esforo

    possvel de ser alcanado. Por seu turno, as atividades de intensidade moderada

    equivalem escala entre o nvel 5 a 6 e as atividades de intensidade vigorosa, de 7 a

    8. A este respeito, deve haver cuidado na interpretao dessa premissa, diante da

    possibilidade de considerar (incorretamente) que atividade vigorosa tem o mesmo

    significado de atividade anaerbia. Na diretriz, a intensidade vigorosa se refere s

    atividades mais intensas ms que se conserve o predomno do metabolismo aerbio,

    uma vez que, a maior parte dos benefcios para a sade so resultantes dos precessos

    metablicos oxidativos (Riddell e Burr, 2011).

    A atividade vigorosa tem a metade da durao da moderada, porque,

    aproximadamente, produz o dobro do gasto de energia. Por isso, atividades vigorosas

    e moderadas foram tomadas como equivalentes e a combinao entre as intensidades

    podem ser somadas tendo em vista a meta. A maioria das diretrizes no aponta a

    superioridade da combinao entre a AF vigorosa e a moderada. Tambm fica

    subentendido que o aumento do esforo pela durao ou pela intensidade tem

    significado equivalente (CDC, 2010).

    Se, por um lado, as atividades de intensidade vigorosa representam

    desafios de difcil alcance e adeso, principalmente entre pessoas de menor aptido

    fsica, por outro, parte da populao pode preferir esta proposta por necessitar menor

  • 24

    tempo de execuo. Deve-se destacar que o aumento progressivo da intensidade do

    esforo (o vigor) est associado ao aumento progressivo de riscos de eventos

    adversos (Murphy, Blair e Murtagh, 2009). Isto deveria estar explcito em todas as

    recomendaes, para objetivar a segurana e mediar a escolha do tipo de modalidade

    de exerccio ou esporte praticado.

    1.7.3 Durao do esforo

    As diretrizes para AF mostraram maior ateno sobre os benefcios para

    sesses de curta durao. Sesses curtas so mais fceis para muitas pessoas, que

    podem, assim, com o acumulo de esforo, ajudar a alcanar as metas estabelecidas. A

    princpio, houve incertezas a respeito de quo curto os episdios poderiam ser.

    Agora, de modo consistente e claro, estabeleceu-se o tempo mnimo de durao de

    10 minutos (Haskell et al., 2007). Muito embora as diretrizes apresentem evidncias

    para fundamentar esta posio, o conceito de acumulao de esforo ainda um tema

    em debate.

    Sobre isto, o Conselho Consultivo do IOM ps em dvida a eficincia de

    sesses com 10 minutos de durao para promover alteraes morfofuncionais

    substanciais e declarou, ainda, como inadequada a recomendao de 30 minutos de

    AF por dia para atingir todos os benefcios de sade. O IOM recomenda como meta

    mnima a realizao de 60 minutos de AF diria (IOM, 2005). Nestas

    recomendaes, no explicitou tratamento diferenciado para esforo moderado e

    vigoroso.

    1.7.4 Dose de atividade fsica

    Apesar do empenho das diretrizes para estipular a quantidade mnima de

    AF substancial sade, a recomendao de doses ideais ou mximas carece de maior

    detalhamento. Normalmente, elas se restringem a informar que efeitos adicionais

    sade se incorporam com o aumento da dose mnima.

    O ACSM de 2007 se adiantou neste sentido e props uma faixa ideal de

    AF. Estabeleceu, para alm do gasto energtico cotidiano, como limite inferior, o

  • 25

    gasto de 450 MET.min/sem e, superior, de 750 MET.min/sem, (Pollock et al., 1998).

    Esta comunicao do ACSM no se apresentou de modo prtico ao pblico em geral,

    devido necessidade do uso de tabelas de converso para conhecer o equivalente

    metablico do tipo de esforo fsico realizado.

    Para efetuar o clculo do equivalente metablico, a converso dos valores

    normalmente reportada ao compndio de Ainsworth e colaboradores, elaborado no

    ano 2000 (Ainsworth et al., 2000). O compndio tem sido muito til na atribuio

    padronizada das despensas de energia e para nortear a intensidade (vigorosa e

    moderada) do esforo, mas carece ser atualizado e expandido para ambos os sexos,

    para as extremidades da faixa etria e para os portadores de limitaes crnicas.

    A dose da AF recomendada pelas diretrizes sempre adicional quela

    das atividades de vida diria (AVD). A no clareza do termo adicional pode

    conduzir interpretao (equivocada) de que as diretrizes indicam um montante de

    esforo a ser cumprido durante a semana. O engano pode levar indivduos com

    funes laborais ativas a no praticarem AF adicional, por entenderem que j fazem

    AF suficiente no trabalho. Para evitar essa consequncia (no intencional), as

    diretrizes deveriam deixar claro como os critrios (tipo, durao, intensidade e

    frequncia) atribudos ao trabalho formal e s atividades domsticas devem ser

    somados para a obteno do cumprimento da meta mnima de AF. A converso do

    esforo desempenhado no tempo livre (lazer) e no deslocamento ativo

    (trabalho/estudo) j est estabelecido (USDHHS, 2008).

    De modo geral, a desarmonia entre diferentes diretrizes de como a dose

    de AF deve ser desenvolvida pode, em algum momento, gerar dbio entendimento e

    afetar a interpretao do que efetivamente necessrio. Alguns pases so

    submetidos a diversas recomendaes simultneas de AF. Como exemplo, os pases

    que compem o Reino Unido (Inglaterra, Gales, Irlanda do Norte e Esccia) so

    informados pelas recomendaes globais da OMS, pelas recomendaes da UE,

    pelas recomendaes do Centro Nacional para Atividade Fsica e Sade da Fundao

    Britnica do Corao (BHFNC) e pelas recomendaes nacionais de cada pas. Para

    ilustrar, a diretriz da OMS no estipula frequncia semanal, a diretriz da UE

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    recomenda AF diariamente, a diretriz do BHFNC recomenda 5 dias na semana e as

    recomendaes nacionais da Esccia estipulam frequncia de 4 dias por semana.

    Ainda sobre este aspecto, um dos fatores limitantes para a determinao

    da dose-resposta repousa na quantidade e na qualidade das informaes disponveis.

    Os Comits Cientficos das organizaes apontam escassez de estudos experimentais

    que possuam dimenso global com amostra relativamente grande. A maior parte dos

    estudos tem utilizado intervenes com doses iguais s recomendadas pelas atuais

    diretrizes, limitando informaes que podem ser criadas pela variao do tipo,

    intensidade, f