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CHAPTER 9 Desinfeção dos ovos incubáveis Introdução Ao longo dos anos, várias práticas relacionadas ao manejo das aves produtoras de ovos férteis têm sido implantadas visando à melhoria do processo produtivo. Quanto maiores os cuidados com as aves, melhores serão os resultados alcançados na produção dos pintinhos. A qualidade de pintos de um dia depende da interação de múltiplos fatores, os quais precisam ser conhecidos e equacionados dentro de um sistema de controle de qualidade, que permita avaliá-los rotineiramente e modificando-os quando necessários, visando sempre à manutenção de qualidade do produto final. Uma prática comum relacionada à sanidade dos ovos incubáveis é o seu tratamento instantes após a postura com um agente fumigante ou outro tipo de desinfetante com o objetivo de reduzir o número de microorganismos na superfície da casca, o que deve ser feita de forma correta e com desinfetantes adequados (Wilson, 2003). A ineficiência desse processo certamente acarretará em perdas consideráveis na eclodibilidade, aumento da mortalidade embrionária, elevada mortalidade dos pintos no campo, aves com padrão sanitário e desempenho ruim e, conseqüentemente, aumento nos custos de produção. O ambiente onde o ovo é produzido também tem influência fundamental sobre sua qualidade, devendo a granja apresentar condições de biosseguridade adequadas para evitar possíveis contaminações. O isolamento, a ventilação, a distribuição de equipamentos e a condição da cama são fatores importantes na produção de um ovo com boa qualidade. Importância da cama e do ninho na contaminação dos ovos Dois pontos fundamentais no que se refere à sanidade do ovo são a sua produção em ninhos limpos, o que requer um cuidadoso e adequado sistema de manejo, e a qualidade da cama sobre a qual as aves são mantidas, que também tem grande influência na higiene do ovo. A cama úmida contamina o pé da galinha que leva a sujeira para dentro dos ninhos (Figura 1).

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CHAPTER 9

Desinfeção dos ovos incubáveis

Introdução Ao longo dos anos, várias práticas relacionadas ao manejo das aves produtoras de ovos férteis têm sido implantadas visando à melhoria do processo produtivo. Quanto maiores os cuidados com as aves, melhores serão os resultados alcançados na produção dos pintinhos. A qualidade de pintos de um dia depende da interação de múltiplos fatores, os quais precisam ser conhecidos e equacionados dentro de um sistema de controle de qualidade, que permita avaliá-los rotineiramente e modificando-os quando necessários, visando sempre à manutenção de qualidade do produto final. Uma prática comum relacionada à sanidade dos ovos incubáveis é o seu tratamento instantes após a postura com um agente fumigante ou outro tipo de desinfetante com o objetivo de reduzir o número de microorganismos na superfície da casca, o que deve ser feita de forma correta e com desinfetantes adequados (Wilson, 2003). A ineficiência desse processo certamente acarretará em perdas consideráveis na eclodibilidade, aumento da mortalidade embrionária, elevada mortalidade dos pintos no campo, aves com padrão sanitário e desempenho ruim e, conseqüentemente, aumento nos custos de produção. O ambiente onde o ovo é produzido também tem influência fundamental sobre sua qualidade, devendo a granja apresentar condições de biosseguridade adequadas para evitar possíveis contaminações. O isolamento, a ventilação, a distribuição de equipamentos e a condição da cama são fatores importantes na produção de um ovo com boa qualidade. Importância da cama e do ninho na contaminação dos ovos Dois pontos fundamentais no que se refere à sanidade do ovo são a sua produção em ninhos limpos, o que requer um cuidadoso e adequado sistema de manejo, e a qualidade da cama sobre a qual as aves são mantidas, que também tem grande influência na higiene do ovo. A cama úmida contamina o pé da galinha que leva a sujeira para dentro dos ninhos (Figura 1).

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CAMA

Tipo de bebedouro

Alimento

Temperatura ambiente

Ventilação

Doenças

Figura 1. Fatores que influenciam a qualidade da cama.

O material do ninho é a primeira superfície que entra em contato com o ovo recém-posto e a umidade da casca e a temperatura do ovo (42ºC) no momento da postura favorecem a penetração bacteriana. Não importa o tipo de material do ninho (maravalha ou material artificial), ele deve ser limpo, seco e livre de matéria fecal. As condições em que se encontram as aves no aviário determinarão o grau de higiene no ninho. Camas úmidas, ripado de pequeno espaço e pobre ventilação no aviário favorecem a ocorrência de contaminações que a galinha levará para o ninho e, conseqüentemente, o ovo posto limpo por uma galinha poderá ficar sujo pelas patas ou penas sujas de outra ave. Ovos postos sobre a cama são contaminados e exigem cuidados especiais na coleta e higiene. Devem ser coletados antes dos ovos de ninho e separado destes.

Tabela 1. Porcentagem de eclosão de ovos postos sobre a cama.

Dias de

estocagem

Eclosão Ecl. padrão

1 - 4 60,8% 78%

1 - 8 54% 78%

6 - 13 42,1% 78%

Fonte: Manejo da Incubação FACTA – 2003

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Quando os ovos postos sobre a cama são destinados à incubação, serão higienizados imediatamente. Não usar palha de aço para evitar ranhuras e não facilitar a penetração das bactérias e fungos para o interior do ovo. A coleta, a armazenagem e a incubação desses ovos devem ser sempre em separado dos ovos procedentes do ninho, pois eclodem menos e explodem mais que os ovos de ninho, conforme a tabela 1. Contaminação em relação aos tipos de ovos Durante o momento da coleta dos ovos ou logo após, é realizada a classificação, separando os ovos incubáveis e os não-incubáveis (descarte). Para essa atividade são considerados o grau de sujeira na superfície do ovo, tamanho, integridade (trincas, rachaduras, etc) formato (rugosidades, cintura, etc) e coloração da casca (Figura 2).

Figura 2 A grande pressão que hoje existe nas empresas para reduzir custos leva à necessidade de realizar um maior aproveitamento dos ovos com uma menor desclassificação. Assim, é de suma importância ter um claro conhecimento do potencial de produtividade desses tipos de ovos e dos riscos que cada um deles pode provocar.

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Os ovos podem ser classificados por suas características nas seguintes categorias: • Ovos limpos (bons): são os ovos coletados do ninho, com manchas sem

relevo, inferior à ponta de um lápis e que, imediatamente após a coleta, receberão somente processo de desinfecção.

• Ovos sujos do ninho: como o próprio nome diz, esses ovos têm sujeira em alto relevo, com tamanho superior à ponta de um lápis. Podem ser mecanicamente contaminados pelo riscado da unha da própria galinha ou da próxima em ocupar o ninho. Esse ovo deve ser lavado (exceto aqueles riscados de unha), de preferência em água corrente, com temperatura de 35°C e, posteriormente, desinfetado.

• Ovos de cama: são todos os ovos produzidos no chão do aviário, que devem ser classificados em duas categorias:

Limpos: esses são os que geralmente são recolhidos logo após a postura e ainda estão quentes, sem nenhuma sujeira e devem ser desinfetados logo após a coleta.

Sujos: devem ser lavados e desinfetados igualmente como se faz com os sujos de ninho.

Uma quarta categoria agrupa os ovos pelas características de cor, formato e integridade da casca. Incluem-se aqui os ovos de casca fina, deformados e hiperpigmentados, duas gemas, enfim todos os ovos não-incubáveis. NORTH (1984) classifica os níveis de contaminação do ovo em: • Limpo: com 3.000 a 4.000 microorganismos; • Sujos: com 5.000 a 28.000 microorganismos; • Muito sujo: com 390.000 a 430.000 microorganismos. A contaminação inicial do ovo tem apenas algumas colônias de microorganismos e estes se multiplicam dez vezes em apenas 60 minutos. Qualidade e espessura da casca A qualidade e a espessura da casca são dois importantes fatores que afetam a penetração microbiana no ovo. A qualidade da casca influencia o grau de contaminação dos ovos junto com grau de desafio dos contaminantes a que o ovo é exposto. A casca dos ovos fornece uma barreira contra a penetração bacteriana, mas não é totalmente impenetrável. Altos índices de contaminação do ambiente podem vencer as barreiras de defesa dos ovos. A

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casca de um ovo de 57g de peso contém aproximadamente de 7.000 a 17000 poros (Sander, 2003), a maioria pequenos demais para permitir a entrada das bactérias, porém existe uma percentagem de poros grandes ou mal formados com diâmetro superior ao das bactérias e, através deles, podem penetrar os microorganismos. À medida que a ave vai envelhecendo o tamanho do ovo aumenta e a espessura da casca diminui, ou seja, a qualidade da casca piora. Isso é devido ao fato de que a deposição de cálcio para a formação da casca no útero permanece praticamente a mesma durante toda a vida da ave, enquanto que o ovo vai aumentando de tamanho com a idade da ave; por isso vão produzindo ovos com espessura da casca cada vez mais fina. O diâmetro do poro é determinado pela espessura da casca; assim, cascas finas são mais susceptíveis à contaminação bacteriana causada pelo aumento da penetração da bactéria através da superfície do ovo (Mayes et al., 1983) A espessura da casca é fator determinante no sucesso da incubação. Ovos com espessura de casca inferior a 0,27mm dificilmente manterão o embrião vivo até o final do ciclo de incubação. Os melhores resultados se obtêm com casca de espessura entre 0,33 e 0,35mm. Uma indicação da qualidade da espessura da casca se obtém medindo a gravidade específica ou densidade dos ovos. Quando envelhecem, as reprodutoras produzem ovos com cascas mais finas e com densidades específicas inferior a 1.085 (considerada boa densidade) variando de 19,8% nas 52ª semana e atingindo 35% nas 64ª semana. Segundo Sauter e Petersen (1979), existe uma correlação entre a qualidade da casca e a penetração de bactérias no interior do ovo; quanto menor a densidade, maior é a facilidade das bactérias para introduzir-se no ovo, como se observa na tabela 2. Alguns autores demonstraram que a penetração dos microorganismos através da casca do ovo é maior nos ovos produzidos por matrizes pesadas do

Tabela 2. Qualidade da casca e penetração bacteriana.

Peso específico

do ovo

Qualidade da

casca

% de penetração de bactérias após

tempo de

30 min 60 min 24h

1.070 Ruim 34 41 54

1.080 Normal 18 25 27

1.090 Boa 11 16 21

Fonte: Sauter and Petersen (1979)

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Tabela 3. Penetração de bactérias em ovos de piso e de ninho.

Linha % de Penetração

Ovos de ninho Ovos de piso

Rep. Comerciais/leves 9,2% 10,2%

Rep. Carne/pesadas 11,9% 20,4%

Fonte: Manejo da Incubação FACTA – 2003 que aqueles produzidos por poedeiras de ovos comerciais. Isso se deve à maior porosidade da casca do ovo das matrizes pesadas (tabela 3). Baseando nesses conhecimentos é que se recomenda a higienização do ovo fértil no momento da coleta, no máximo 30 minutos após a postura, antes que os microorganismos atravessem a casca e contaminem a clara e a gema. Para prevenir a penetração das bactérias, os ovos devem ser recolhidos com freqüência dos ninhos (Tabela 1), pois a temperatura interna dos ovos é um condicionador da contaminação, quando estão expostos ou em contato com materiais carregados de micróbios. O número de coletas diárias pode ser determinado pela rapidez com que os ovos perdem sua temperatura interna. Os ovos devem ser rapidamente desinfetados após recolhidos, seja por pulverização, fumigação ou imersão; e a eficácia desse procedimento depende, em muito, da sua temperatura interna. Se o ovo for coletado ou desinfetado quando sua temperatura interna é inferior a 28°C, muitos micróbios presentes na casca podem já ter penetrado antes, introduzidos passivamente nesse fenômeno de vácuo que se provoca com a perda da temperatura que o ovo tinha no interior da galinha. Freqüentemente os maiores índices de contaminação sucedem no início e final do dia de trabalho, pois, nas primeiras horas da manhã, os funcionários têm o costume de coletar junto com ovos bons de ninho, os ovos

Tabela 4. Distribuição da postura durante o dia.

Período Total de ovos dia = 4100

6 -8 h 35% = 1435 ovos 1ª coleta

9 -10 h 25% = 1025 ovos 2ª coleta

11 -12 h 20% = 820 ovos 3ª coleta

13 – 15 h 12% = 492 ovos 4ª coleta

16 -17 h 08% = 328 ovos 5ª coleta

Lote de 5000 fêmeas com 82% de produção ave/dia

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amanhecidos, que passam a noite no ninho e, obviamente, estão frios; também nesses casos a contaminação das mãos dos operadores contribui para a contaminação superficial dos ovos. No final da jornada, os ovos das últimas posturas geralmente são coletados e não imediatamente higienizados, permanecendo durante a noite no galpão. Desinfetantes A desinfecção química da superfície da casca dos ovos naturalmente limpos é, até o momento, a melhor forma de controle de contaminação por fungos e bactérias. Considerando que cada substância química apresenta propriedades que lhe são peculiares, a utilização das mesmas, entretanto, não deve ser feita sem o conhecimento prévio de seus efeitos. Nas granjas e incubatórios comerciais, formol e paraformol são amplamente utilizados como agentes de desinfecção, devido à grande eficácia dos mesmos no controle de microorganismos, especialmente bactérias. Os ovos são expostos aos mesmos no ninho e no processo de desinfecção na granja e no incubatório. Embora as desinfecções a seco ou úmidas, utilizando estes produtos, não tenham sido registradas como tóxicas para o embrião de aves domésticas, é bem documentada em literatura a ação mutagênica e carcinogênica sobre os mamíferos. Considerando que os primeiros dias de incubação correspondem ao período de maior sensibilidade embrionária, não se pode descartar a possibilidade desse agente químico ser um dos agentes envolvidos nos 5 a 10% de mortalidade precoce que ocorrem usualmente. O formaldeído, uma substância química produzida em larga escala, foi considerado cancerígeno por especialistas da OMS (Organização Mundial da Saúde). Depois de uma nova avaliação, o CIRC (Centro Internacional de Pesquisas sobre o Câncer) - órgão para estudos sobre o câncer da OMS - concluiu que o potencial cancerígeno do formaldeído não deixa dúvidas. Um grupo de especialistas de dez países do CIRC disse que agora há indícios suficientes que demonstram que o formaldeído causa câncer na parte da faringe situada atrás do nariz. O grupo encontrou ainda "indícios limitados" de sua implicação no câncer das fossas nasais e seios faciais e "fortes, mas não suficientes" indícios relacionados à leucemia. Amônia Quaternária: Os compostos de amônio quaternário possuem boa ação sobre bactérias tanto Gram-positivas como Gram-negativas não agindo contra vírus, fungos e esporos. Esses compostos se combinam facilmente com proteínas, gorduras e fosfatos e tem sua ação reduzida na presença de matéria orgânica. São muito utilizados na desinfecção de ovos por imersão,

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de equipamentos e superfícies livres de matéria orgânica. Como regra geral são substâncias de baixa toxicidade. O uso de água sem desinfetante para sanitizar mecanicamente e arrastar a sujeira aderida na casca dos ovos é uma prática não recomendável, pois somente aumentará a contaminação. Higienização do ovo incubável Existem vários métodos de higienização do ovo. A maioria bastante eficazes quando bem aplicados. Os mais comuns na indústria avícola são: • Higienização seca: fumigação • Higienização úmida: imersão, lavagem em água corrente, diferencial de

pressão e pulverização. • Higienização pelo calor. Higienização Seca (Fumigação) Os vapores de formol já são usados desde há muito tempo para a desinfecção dos ovos e dos equipamentos do incubatório. Usados como fumígenos, esses vapores são muito eficazes na destruição de microorganismos e de vírus presentes nas cascas dos ovos, nas caixas de ovos e de pintos, nas câmaras de eclosão e de qualquer outro material do incubatório. Mas eles devem ser previamente limpos. Jaenish (2005) evidenciou que o processo de fumigação dos ovos pode ser feito com formaldeído em pó, ou com o mesmo produto em estado líquido associado a permanganato de potássio. Segundo North (1972) e Mauldin (2002), recomenda-se na fumigação, duas partes de formaldeído para uma de permanganato de potássio, sendo indicado para cada m³, 42 mL de formol a 37% e 21 g de permanganato. No caso da utilização de formaldeído em pó, é recomendada a dosagem de 7,7 g/m³ diretamente sobre uma chapa aquecida por resistência elétrica que deve atingir a temperatura de 232°C. • Método 1 A fumigação dos ovos incubáveis deve ser efetuada numa câmara especial, construída ou revestida de material impermeável e hermeticamente fechado. É necessário o uso de um exaustor para fazer o gás circular durante a operação de fumigação; e também expulsá-lo depois de terminada a operação.

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Colocar no centro do piso da câmara vários recipientes em metal, ou argila, ou esmaltado ou qualquer outro material não inflamável. Não usar recipientes plásticos ou em polietileno, porque a reação química desprende calor e poderá provocar um incêndio. Os recipientes devem ser grandes o suficiente para serem ocupados em apenas ¼ do seu volume pelos dois produtos químicos (formol e permanganato de potássio). Sua capacidade deve ser, preferencialmente, dez vezes superior ao volume dos produtos. A capacidade interna do cômodo usado para fumigação deve ser medida com precisão. Não deve ser levado em conta o espaço ocupado pelos ovos e pelos materiais a serem fumigados. As quantidades dos produtos necessários são medidas segundo a capacidade total do volume da câmara. Os ovos devem ser dispostos em bandejas alveolares, empilhadas de maneira tal que a circulação do ar e a exposição aos vapores de formol não encontrem obstáculos. A temperatura deve ser mantida entre 25 a 33°C e uma umidade variando de 75 a 95%. Os ventiladores internos devem ser postos em funcionamento para que os vapores de formol possam circular entre os ovos durante 20 minutos. Então os gases devem ser expulsos por uma chaminé, liberando-os para o exterior do prédio. • Método 2 Ele consiste em empregar o paraformaldeído diretamente sobre uma chapa aquecida por uma resistência elétrica, atingindo a temperatura de 232°C. Para cada m3 de volume da câmara, usa-se 7,7 gramas de paraformaldeído. Este método exige as mesmas recomendações citadas acima quanto à temperatura, umidade e tempo de fumigação. SHELDON & BRAKE (1987), citados por PATRICIO (2003), compararam a eficiência da fumigação usando formol e ozônio no controle da E. coli, S. typhimurium e Aspergillus fumigatus e concluíram que o formol é mais eficiente. Higienização úmida (Imersão) A imersão dos ovos em solução de desinfetantes ou antibióticos é usada para a eliminação dos microorganismos sobre a casca do ovo. Esse método é pouco usado na indústria avícola por ser menos eficiente, uma vez que, a cada imersão, a solução vai se saturando com resíduos orgânicos e reduzindo a ação do desinfetante.

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A imersão consiste em mergulhar os ovos numa solução de amônia quaternária à base de 200ppm ou de dióxido de cloro à base de 80ppm logo após a coleta. Os dados encontrados na literatura divergem sobre qual deve ser a temperatura e o tempo ideais, podendo se encontrar trabalhos feitos com imersão em soluções com temperatura entre 39 e 42º C (Proudfoot et al., 1985), a 35º C por 10 segundos (Donassolo, 2004), 30º C (Soncini & Bittencourt, 2003), 25 3 43º C por 3 minutos (Barros et al, 2001) e 45º C por 30 segundos (Oliveira & Silva, 2000). Segundo Mauldin (2002), a imersão deve ser feita por 5 minutos citando que quando a imersão é feita em período de tempos excessivamente longos a temperatura do embrião pode elevar-se resultando em mortalidade embrionária. Por outro lado, se o processo é feito em curto espaço de tempo não irá promover a desinfecção adequada. Tabela 5. Fumigação com ozônio e foramldeído. Contagem de microorganismos/ovos. Valores expressos em log10.

Microorganismo

e tratamento

População

inicial

Tempo de exposição em ninutos

2 4 6 8

E. coli

Ozônio 9,91 0,72 0,30 0,45 0

Formaldeído 6,68 0 0 0 0

S. typhimurium

Ozônio 6,92 1,33 1,28 1,07 0,15

Formaldeído 4,95 0 0 0 0

Asp. fumigatus

Ozônio 5,88 1,97 1,66 1,15 1,24

Formaldeído 5,20 0 0 0 0

Sheldon e Brake (1987)

Higienização úmida (lavagem manual ou com máquina) A lavagem direta pode ser manual, usando-se uma solução de amônia quaternária 80%, à base de 2%, e formol 37%, a 1%. Essa técnica é usada para higiene de ovos sujos. Existe o inconveniente de reduzir a eclosão e estourar os ovos durante o processo de incubação. Na lavagem com máquina os ovos são lavados com uma solução desinfetante aquecida à uma temperatura de 38 a 40°C. A eficiência desse método é baixa, conforme mostra a tabela 6.

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Tabela 6. Porcentagem de ovos explodidos usando-se máquina de lavagem Grupos de ovos explodidos.

Grupos de ovos explodidos %

Limpos 0,0

Contaminados/Lavados 4h após 0,6

Contaminados/Lavados 8h após 4,0

Contaminados/Lavados 10h após 6,6

Fonte: Manejo da Incubação FACTA – 2003 Higienização úmida (diferencial de pressão) Esse processo de higienização requer uma bomba a vácuo e uma câmara hermeticamente fechada para suportar uma pressão abaixo da pressão atmosférica. Os ovos são colocados num recipiente contendo uma solução de antibióticos ou desinfetantes, ou combinação de ambos, por cinco minutos. Em seguida, os ovos são colocados na câmara onde suportam uma pressão abaixo da atmosférica. Após cinco minutos, a pressão é liberada lentamente até atingir a pressão atmosférica. O produto bactericida é introduzido no interior do ovo pelo diferencial de pressão. É um método complexo, de pouco uso e indicado no controle das micoplasmoses. A desvantagem desse método é a penetração, para o interior do ovo, de bactérias resistentes ao antibiótico utilizado no processo. Higienização úmida (pulverização) A pulverização foi introduzida no Brasil, em 1980, pela equipe da empresa Big Birds S/A com a finalidade de substituir o formol. É uma técnica simples, econômica e eficaz. Quando bem aplicada, reduz a contaminação dos ovos e não afeta a eclosão. Entre os produtos mais usados na avicultura brasileira, estão a amônia quaternária e o formol ou a combinação desses. Os ovos devem ser pulverizados, no máximo, 30 minutos após a coleta, antes que sejam penetrados pelos microorganismos. As bandejas também são pulverizadas com a mesma solução antes de receberem os ovos. Um simples pulverizador é suficiente para essa operação. Em seguida, os ovos são guardados num armário livre de poeira. Ao chegarem ao incubatório, novamente são fumigados com uma concentração dupla ou tripla de formol. Uma nova higienização poderá ser feita na máquina incubadora no caso de ovos procedentes de fornecedores

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externos, contaminados por Salmonella enteritidis, ovos de matrizes velhas ou estocados por mais de quatro dias. Muitos desinfetantes têm sido usados na desinfecção úmida (pulverização) como: • Amônia quaternária: 1.000 a 4.800 ppm; • Formalina, solução: 1 a 1,5%; • Água oxigenda, solução: 1,0 a 5,0%; • Bióxido de cloro, solução: 30 a 40ppm; • Fenólicos, solução: 1.600ppm; • Glutaraldeído, solução: 1.000ppm; • Clohexidina,solução: 0,08 a 0,10ppm; • Proxitane, solução: 200ppm; • Combinações de amônia com: formalina, glutaraldeído, água oxigenada,

ácido acético; • Combinações da água oxigenada com: ácido acético, ácido paracético. Todos esses produtos podem combater os microorganismos contaminantes da casca do ovo, porém só serão eficazes se forem considerados os fatores interferentes, como: • Incompatibilidade; • Dosagem; • pH; • Concentração do princípio ativo; • Presença de matéria orgânica; • Perfumes de azeites componentes do desinfetante; • Excesso de minerais na água; • Temperatura da água. Higienização do ovo pelo calor Yoder (1970) desenvolveu este método visando ao tratamento de ovos produzidos por reprodutoras positivas para Mycoplasma synoviae. Os ovos saem da temperatura ambiente e são colocados numa incubadora com a temperatura aumentada para 46°C. Eles permanecem nessa incubadora por 11 a 14 horas. Após esse tempo, são transferidos para outra incubadora com a temperatura regulada para 37,5°C. Esse método provoca uma redução na eclosão de 5 a 8% e um atraso no nascimento de até oito horas.

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Armazenagem do ovo no galpão e transporte Os ovos devem permanecer o menor tempo possível nos galpões. Uma vez por dia serão transportados para o incubatório. O ambiente onde são armazenados deve ser mantido limpo e desinfetado. O furgão de transporte de ovos deve ser higienizado diariamente e fumigado no mínimo duas vezes por semana. Os ovos transportados à longa distância por mais de 12 horas exigem um veículo especial, com furgão climatizado com temperatura entre 20 a 22°C e umidade entre 70 a 75%. Ovos bem higienizados podem se recontaminar durante uma curta armazenagem de três a quatro dias ou durante o transporte em apenas uma hora de viagem. Recebimento dos ovos no incubatório O período ideal de recebimento dos ovos é aquele em que os funcionários possam executar corretamente os procedimentos de fumigação, evitando-se problemas, como morte embrionária causada por temperatura, concentração de fumigantes ou tempo de exposição inadequados. Quando os ovos são estocados no incubatório em salas climatizadas, eles devem receber atenção especial antes da fumigação, pois caso ocorram condensações na casca o resultado será um aumento da ação do formol nos pontos condensados, levando a uma elevação na mortalidade embrionária. Para que a fumigação seja eficiente, três fatores são fundamentais: temperatura ao redor de 25 a 33°C, umidade relativa entre 75 e 95% e tempo de exposição ao agente fumigante em torno de 20 minutos. A concentração de formol não deve ultrapassar a dose tríplice nos casos de ovos não fumigados nas granjas. Para os ovos previamente fumigados, uma fumigação simples já é o suficiente (tabela 7). Tabela 7. Agentes fumigantes e dosagens por m3 utilizadas nos diferentes tipos de fumigação.

Fumigação Formol líquido Permang. de K Paraformaldeído

Simples 14ml 7g 2g

Dupla 28ml 14g 4g

Tríplice 42ml 21g 6g

Fonte: Manejo da Incubação FACTA – 2003

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Após a fumigação os ovos são levados para a sala de ovos, onde serão separados por lote de matrizes e data de produção. Nesse momento, deve-se conferir a quantidade de ovos recebida. Depois da realização desses procedimentos, os ovos devem aguardar o momento da classificação. O programa de fumigações nas incubadoras deve ter como objetivo permitir um bom controle sanitário sem provocar mortalidade embrionária. O melhor horário para realizar a fumigação é entre 12 e 18 horas após a primeira carga da semana (para máquinas com estágio múltiplos de 6, com duas cargas na semana) ou 12 a 18 horas após a carga dos ovos, quando a incubadora recebe apenas uma carga na semana. Os ovos devem ser desinfetados após serem transferidos da incubadora para os nascedouros, e antes que 10% dos pintos tenham começado a quebrar a casca. Mortalidade embrionária precoce O sucesso para a produção de pintos de um dia depende de ótimas condições de eclodibilidade. Ovos férteis precisam receber correta ventilação, temperatura, umidade, desinfecção, viragem para que o embrião desenvolva-se adequadamente. Falhas nas condições ideais provocam queda na eclodibilidade e variações nos padrões de mortalidade embrionária. A fumigação com gás formaldeído tem sido utilizada como um método eficiente de desinfecção de ovos, tanto no recebimento dos ovos no incubatório, como após a incubação. Os cuidados que devem ser tomadas para fumigar os ovos são: • Medir a área em metros cúbicos do fumigador ou incubadora, para

estabelecer a dosagem de paraformaldeído a ser utilizado; • A temperatura do fumigador deve ser de 25 a 33°C e umidade relativa de

75%, para recebimento de ovos no incubatório; • tempo de fumigação não deve ser inferior a 15 minutos e nem maior que

30 minutos. Menor tempo não há desinfecção e maior que 30 minutos a ação do formaldeído destrói a cutícula da casca;

• A fumigação não deve ser realizada em ovos com 24 a 96 horas de incubação.

A fumigação excessiva ou demorada pode provocar mortalidade entre 3º e 4º dia de incubação. O período de desenvolvimento embrionário de 3 a 5 dias é considerado um período crítico de incubação, pois inicia-se o crescimento das alantóides,

Page 15: Desinfeção dos ovos incubáveis - trnres.com Araujo.pdf · CHAPTER 9 Desinfeção dos ovos incubáveis Introdução Ao longo dos anos, várias práticas relacionadas ao manejo das

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órgão respiratório que sobressai do embrião e cobre a membrana interna da casca do ovo com uma rede de vasos capilares, pelas quais o embrião recebe o oxigênio e elimina o dióxido de carbono e vapor de água. Em geral, os embriões que morrem nessa fase estão evidentemente contaminados. Considerações finais A utilização de desinfetantes na avicultura industrial faz parte dos programas de biossegurança das empresas avícolas, sendo que vários compostos em diferentes diluições são utilizados com múltiplas finalidades. O programa de desinfecção dos ovos é de extrema importância na prevenção de doenças e manutenção do equilíbrio microbiológico do sistema produtivo. Os desinfetantes utilizados na avicultura industrial são seguros, contudo, todos eles apresentam riscos toxicológicos, portanto, um treinamento intensivo do pessoal desde o galpão até o incubatório se faz necessário. Referências bibliogáficas 1. Cony, H.C.; Vieira, S.L; Berres, J. et all. Técnicas de pulverização e imersão

com distintos desinfetantes sobre ovos incubáveis. Ciência Rural, v.38, n.5, p.1407-1412. 2008.

2. Cotta, t. Produção de pintinhos. Editora Aprenda Fácil, 2002. 3. Cox, N.A; Bailey, J.S.; Berrang, M.E. Bactecidal treatment of hatching eggs:

chemical immersion treatments and Salmonella. Apllied Poultry Science. 1998.

4. Ernst, R.A. Hatching egg sanitation: the key step in successful storage and production.2004. University of California.http://anrcatalog.ucdavis.edu.

5. Freitas, A.G. Efeito da fumigação em nascedouros com formaldeíldo sobre o trato respiratório e desempenho de frangos de corte. 2007. 47p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG.

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7. Sander, E.J.; Wilson, J.L; Cheng, I.H.; Gibbs, P.S. Influence of slat material on hatching egg sanitation am slat disinfection. Poul. Sc. Associat. 2003.

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9. Wilson, H.R. Hatching egg sanitation. 2003. University of California. http://anrcatalog.ucdavis.edu.