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SSN 2179-7374 ISSN 2179-7374 Ano 2016 - V.20 – N 0 . 02 DESIGN DA INFORMAÇÃO: FICHAS TÉCNICAS DE FERROS FUNDIDOS INFORMATION DESIGN: DATASHEET FOR CAST IRON Andresa Richetti 1 Liane Roldo 2 Resumo A estimativa atual é que há em torno de 320 mil tipos de materiais disponíveis para utilização em design e engenharias. As informações e especificidades para cada material são amplas e de difícil acesso para o usuário, dentre os motivos está o custo, a acessibilidade e a disponibilidade de conteúdo, tanto em plataformas virtuais quanto em meios físicos. Assim sendo, o objetivo deste estudo é fornecer dados técnicos em forma de ficha para o usuário que busca informações concisas e compreensíveis sobre materiais. Usando como estudo de caso os ferros fundidos, desenvolveu-se uma plataforma didática, com base na análise de sistemas informacionais sobre materiais similares e por linguagem gráfica baseada nos preceitos do design da informação. O conteúdo engloba as caraterísticas gerais, propriedades, aplicações, desempenho, microscopia óptica e ainda notas de projeto sobre o material. O projeto foi desenvolvido e aplicado em material físico, possível de ser aplicado em plataformas virtuais, uma ferramenta de fácil acesso para ser utilizada em ambientes distintos como salas de aula, escritórios, indústrias e outros. Palavras-chave: design da informação; ficha técnica; ferros fundidos. Abstract It is nowadays estimated that there are about 320 thousand types of materials available for use in design and engineering. The information and specification for each material are broad and difficult to access for the user, among the reasons there are: cost, accessibility and availability of content, both in virtual platforms as on physical media. Therefore, the aim of this study is to provide technical data in the form of sheet for the user that searches for concise and understandable information about materials. Using as a case study the Cast Iron, it was developed a teaching platform, based on the analysis of informational platforms on similar materials and graphic language based on the principles of design information. The content includes the general characteristics, properties, applications, performance, optical microscopy and still project notes on the material. The project was developed and implemented in a physical material, that can be applied to virtual platforms as easy access tool to be used in different environments such as classrooms, offices, industries and others. Keywords: information design; datasheet; cast iron. 1 Mestre, Departamento de Design e Expressão Gráfica – DEG – UFRGS, [email protected] 2 Professora Doutora, Departamento de Materiais – DEMAT – UFRGS, [email protected]

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SSN 2179-7374

ISSN 2179-7374

Ano 2016 - V.20 – N0. 02

DESIGN DA INFORMAÇÃO: FICHAS TÉCNICAS DE FERROS FUNDIDOS

INFORMATION DESIGN: DATASHEET FOR CAST IRON

Andresa Richetti1

Liane Roldo2

Resumo

A estimativa atual é que há em torno de 320 mil tipos de materiais disponíveis para utilização em design e engenharias. As informações e especificidades para cada material são amplas e de difícil acesso para o usuário, dentre os motivos está o custo, a acessibilidade e a disponibilidade de conteúdo, tanto em plataformas virtuais quanto em meios físicos. Assim sendo, o objetivo deste estudo é fornecer dados técnicos em forma de ficha para o usuário que busca informações concisas e compreensíveis sobre materiais. Usando como estudo de caso os ferros fundidos, desenvolveu-se uma plataforma didática, com base na análise de sistemas informacionais sobre materiais similares e por linguagem gráfica baseada nos preceitos do design da informação. O conteúdo engloba as caraterísticas gerais, propriedades, aplicações, desempenho, microscopia óptica e ainda notas de projeto sobre o material. O projeto foi desenvolvido e aplicado em material físico, possível de ser aplicado em plataformas virtuais, uma ferramenta de fácil acesso para ser utilizada em ambientes distintos como salas de aula, escritórios, indústrias e outros.

Palavras-chave: design da informação; ficha técnica; ferros fundidos.

Abstract

It is nowadays estimated that there are about 320 thousand types of materials available for use in design and engineering. The information and specification for each material are broad and difficult to access for the user, among the reasons there are: cost, accessibility and availability of content, both in virtual platforms as on physical media. Therefore, the aim of this study is to provide technical data in the form of sheet for the user that searches for concise and understandable information about materials. Using as a case study the Cast Iron, it was developed a teaching platform, based on the analysis of informational platforms on similar materials and graphic language based on the principles of design information. The content includes the general characteristics, properties, applications, performance, optical microscopy and still project notes on the material. The project was developed and implemented in a physical material, that can be applied to virtual platforms as easy access tool to be used in different environments such as classrooms, offices, industries and others.

Keywords: information design; datasheet; cast iron.

1 Mestre, Departamento de Design e Expressão Gráfica – DEG – UFRGS, [email protected]

2 Professora Doutora, Departamento de Materiais – DEMAT – UFRGS, [email protected]

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1. Introdução

A relevância dessa pesquisa reside em fornecer aos usuários através de uma ficha técnica a informação adequada e momentânea sobre o material, priorizando informação concisa neste primeiro contato. Essa ferramenta serve, visto o suporte em que se encontra, de apoio técnico e científico durante a fase de seleção de materiais para um determinado projeto.

Dentre as maiores fontes de dados que oferecem informações sobre materiais e propriedades está a Total Materia, que apresenta em seu banco até 10 milhões de registros de propriedades para mais de 320 mil materiais de 69 países. Todo mês surgem mais de 40 novos materiais independentes na mais conhecida materioteca física e digital, a Material Conexion. Ainda pode-se citar a Material Property Data (Matweb) que engloba mais de 110 mil diferentes tipos de materiais entre metais, polímeros, cerâmicos, compósitos, naturais e outros. Demonstram a amplitude referente ao universo dos materiais e suas características, consequentemente a importância relativa desta área tanto para estudantes, educadores como para profissionais e pesquisadores do design ou das engenharias.

As plataformas que disponibilizam informações técnicas sobre materiais são úteis quando é necessária uma consulta durante o desenvolvimento de produto, em especial, durante a etapa de seleção de um material, seja por inspiração, similaridade ou análise. A seleção de um material durante o desenvolvimento de projeto é um processo minucioso e demorado, pois quase sempre mais de um material é adequado para uma aplicação específica, e existem muitos fatores ou limitações que devem ser considerados para determinar uma escolha (KARANA et al, 2007).

Para atender às exigências de um projeto, conhecimentos voltados à capacidade tecnológica do produto, sua fabricação e aplicação dos princípios de resistência dos materiais são necessários, e demais propriedades devem ser compreendidas. Segundo Ashby e Jones (2007) as propriedades de um material podem ser modificadas por meio da estrutura, assim elas mantêm uma relação de dependência com a estrutura interna do material. A observação e análise da microestrutura dos materiais facilita a comunicação entre profissionais de áreas interligadas, uma vez que o design de produto caracteriza-se por ser uma atividade interdisciplinar e, geralmente, trabalha em parceria com engenheiros, estabelecendo uma conexão entre as áreas. De acordo com Kindlein e Guanabara (2006), essa integração de conhecimento reforça a necessidade de instaurar uma organização da atividade de gestão e concepção. Esse trabalho trata justamente desse aspecto da seleção, fornecendo uma base de conhecimento sobre os conceitos, propriedades e tecnologias que permitem a materialização dos produtos.

O design da informação vem de encontro com a proposta, pois segundo Pettersson (2012) compreende análise, planejamento, apresentação e compreensão de uma mensagem, seu conteúdo, linguagem e forma. Segundo o autor, um conjunto de informações bem desenvolvido, satisfaz aspectos estéticos, econômicos, ergonômicos e atende aos requisitos dos usuários (receptores). O design da informação é o que determina a forma como a tal será transmitida para o usuário, definindo se essa informação será absorvida com sucesso (REDIG, 2004).

A acessibilidade às informações disponíveis é uma problemática frequente para profissionais e estudantes, mesmo quando disponíveis on-line, que demonstra ser uma tarefa onerosa em relação ao acesso, visto que, esses bancos de dados online, muitas vezes estão disponíveis somente para assinantes. Outras plataformas de acesso são os

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manuais e materiais publicitários de fornecedores (catálogos) ou bibliografias especializadas, que geralmente possuem informação ou muito vagas ou excessivas. Outra possibilidade se dá através da consulta a amostras de material físico associado a fichas técnicas em ambientes construídos, também conhecidos como “materiotecas”. Nesse caso, oferece a vantagem do material físico, onde se observa as qualidades perceptivas do material, atendendo melhor as necessidades do profissional. Por outro lado, as instalações físicas, de modo geral, exigem mobilidade do usuário, que perante curtos prazos e demandas de projeto não costumam sair do ambiente de trabalho ou estudo para deslocar-se até tais instalações na busca por informações (RICHETTI, 2014).

Os materiais metálicos apresentam diversas aplicações em variados produtos, apresentam uma série de propriedades que os distinguem dos demais materiais e também possuem um amplo espectro de utilização em processos de fabricação, o que amplia as opções de escolha e também eleva a complexidade da atividade de seleção de materiais no desenvolvimento de produto, exigindo atualização contínua do conhecimento.

Os ferros fundidos, materiais metálicos ferrosos, foram selecionados para estudo pela versatilidade desse material ser pouco explorada pelos designers de hoje e pela dispersão das informações técnicas sobre os FoFos. A Torre Eiffel em Paris, por exemplo, é um ícone mundial da França e acredita-se ser uma das estruturas mais reconhecidas no mundo, construída com treliças de ferro fundido no século XIX. Nesse período, as treliças de metais ferrosos foram incorporadas às edificações, sendo amplamente empregadas, atribuindo provisoriedade, transparência e “leveza”, representando o moderno da época (DAMETTO, 2009). No século XX, a Art Nouveau, movimento que intensificou a utilização do ferro fundido, a principal característica era retratar-se com linhas em movimento, dando valor às formas, um exemplo clássico é a entrada da estação Métropolitain em Paris. Essa possibilidade de se trabalhar formas complexas é um atributo que agrega valor aos ferros fundidos, o qual se enquadra também para o desenvolvimento de produto.

O ferro fundido também conhecido como FoFo, designa-se como ligas de ferro-carbono-silício, de teores de carbono, total acima de 2,14%, de modo a resultar sob certas condições, em carbono parcialmente livre, na forma de veios ou nódulos de grafita (CHIAVERINI, 2012). A composição química, o modo de resfriamento e a forma da grafita identificam o tipo de FoFo. Dessa forma tem-se a seguinte classificação geral:

Quanto a precipitação de grafita: o FoFo cinzento, de resfriamento lento, apresenta carbono (C) entre 2,5 a 4,0%, silício (Si) entre 1 e 3% e outros elementos de liga; o FoFo nodular ou dúctil (3 a 3,4 % C, 1 e 3% Si, e Mg da ordem de 0,04% e outros elementos de liga), geralmente apresentam as melhores propriedades mecânicas entre os ferros fundidos; ainda o FoFo de grafita compacta / vermicular ou semi dúctil (carbono entre 2,5 a 40 % o mesmo de Si (1 e 3%) e magnésio (Mg) da ordem de 0,015% e outros elementos de liga). As aplicações são amplas, desde utensílios domésticos, produtos sanitários, blocos de motor, a placas de suporte para grandes motores diesel, cárters, disco de freio entre outros. As principais propriedades dessas ligas são fácil fusão e moldagem, boa resistência mecânica a compressão, mas frágil em tração, excelente usinabilidade e boa capacidade de amortecimento de vibrações, além disso, estão entre os materiais metálicos mais baratos. (CHIAVERINI, 1996; CALLISTER, 2007, GUESSER, 2009 e COLPAERT, 2008).

Outro grupo de Ferros Fundidos é introduzido pelo FoFo branco, de

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resfriamento rápido em coquinha, possui teor de C entre 1,8 e 3,6%, Si entre 0,5 e 1,9%, outros elementos de liga; seguido pelo FoFo maleável, obtido a partir do FoFo Branco após tratamento térmico de maleabilização, que consiste de aquecimento prolongado em condições previamente estabelecidas de temperatura, tempo e meio (CHIAVERINI, 1996 e COLPAERT, 2008). Ainda o FoFo mesclado, segundo Colpaert (2008) apresenta um balanço entre a alta dureza e resistência ao desgaste de um FoFo branco, e melhor tenacidade e capacidade de amortecimento de vibrações provenientes do FoFo cinzento. Dentre as principais aplicações estão: equipamentos para manuseio da terra, mineração e moagem, rodas de vagões, acessórios diversos para equipamentos ferroviários, equipamento naval, peças de automóveis e compressores entre outros (CHIAVERINI, 1996; CALLISTER,2007; COLPAERT, 2008).

Dessa forma, o objetivo deste trabalho é mostrar a possibilidade de poder oferecer uma ficha técnica padrão que contenha as informações mais relevantes sobre um determinado material, no caso os ferros fundidos, em uma única plataforma organizada, com elementos ordenados de forma que a compreensão seja instantânea para o receptor. Para auxiliar na definição e delimitação dos dados utilizados, foi realizada uma análise de similares entre plataformas acadêmicas e comerciais, nacionais e internacionais. Em sequência, para o desenvolvimento da ficha gráfica, além das imagens de micrografia obtidas por processo de metalografia, coletaram-se imagens fotográficas a fim de representar o material e possíveis aplicações para o mesmo, complementando com o desenvolvimento de logogramas gráficos.

2. Design da Informação

O Design da informação compreende análise, planejamento, apresentação e compreensão de uma mensagem (conteúdo, linguagem e forma). Segundo Pettersson (2012) um sistema de informações bem desenvolvido satisfaz aspectos importantes como: estéticos, ergonômicos e cognitivos. Segundo a Sociedade Brasileira de Design da Informação, design da informação é uma área do Design Gráfico que objetiva equacionar os aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos que envolvem sistemas de informação através da contextualização, planejamento, produção e interface gráfica da informação.

A habilidade de comunicar visualmente vem se tornando uma atividade cada vez mais importante, já que mensagens visuais estimulam igualmente o lado emocional e o lado intelectual dos usuários, por meio de princípios e diretrizes, os quais orientam o designer na elaboração de um projeto para transmissão da informação (PETTERSSON, 2012). De acordo com Cavalcanti et al. (2004), a linguagem visual comunica seu significado através de mensagens verbais (caracteres alfanuméricos) e/ou mensagens pictóricas (ilustrações) e constitui-se no principal meio de transmissão de conhecimento. Cabe então transformar estas mensagens complexas e não estruturadas em informações que sejam facilmente captadas e compreendidas pelo usuário. Os elementos da mensagem, bem como a forma com que são apresentados, influenciam de maneira direta no processamento da informação (CAVALCANTI et al., 2004).

Redig (2004) apresenta as características do design da informação em três componentes – destinatário, tempo e forma da mensagem. O autor relaciona o destinatário com o foco no receptor (usuário), pois é para ele que a mensagem é direcionada e é ele que determina o conteúdo da mensagem com base em suas necessidades. Em relação ao tempo no processo de transmissão da mensagem, Redig

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(2004) relaciona como: - senso de oportunidade: é a informação a qual o usuário necessita que apareça em primeiro plano, informações desnecessárias são organizadas em segundo plano ou podem ser descartadas; - estabilidade: uma palavra deve ter sempre o mesmo sentido ou pode até ter uma mudança lenta com o tempo, portanto, quando isto acontece, deve-se mudar a palavra utilizada.

Quanto à Forma, Redig (2004) a subdivide em princípios de ergonomia da informação utilizados como ferramentas metodológicas:

analogia que visa primeiramente perceptibilidade e rapidez de leitura;

clareza para não haver a possibilidade de ocorrer ambiguidade;

concisão através da apresentação da mensagem com o mínimo de informação, isto é, contém apenas informações necessárias, em que são eliminados elementos supérfluos e dispensáveis;

ênfase nas informações mais importantes da mensagem e torna a superfície informativa “ondulada”, proporcionando legibilidade e identidade ao objeto informativo;

coloquialidade, é a utilização de palavras de uso comum do usuário;

consistência a qual cada signo deve corresponder sempre a um único significado dentro de seu contexto e vice-versa;

cordialidade que refere-se ao respeito ao próximo, ou seja, apresentar a mensagem de forma agradável.

O autor conclui que “não há cidadania sem informação, nem informação sem design” (REDIG, 2004). Com a evolução das tecnologias, a informação passou do ato de comunicação para algo mais representativo, de suporte, apoio e conhecimento (LARA e CONTI, 2003). Vale ressaltar que o design da informação se preocupa também em escolher o conteúdo certo e necessário ao seu usuário (REDISH, 2000). Materiais ou ferramentas desenvolvidos com o objetivo de transmitir informação e ou/ auxiliar em questões didáticas, devem, entre outros, incentivar a interatividade, ser atraentes e possuir linguagem adequada ao público a qual se destina, também despertar emoções e possuir originalidade (SANTO, 2013).

3. Desenvolvimento das Fichas Técnicas

Este artigo traz o recorte de pesquisa desenvolvida entre 2012-2014 e compreende a etapa de execução das tarefas para o desenvolvimento e concretização das fichas técnicas. As informações completas que estão no sistema informacional foram selecionadas através da análise crítica de sistemas informacionais similares ativos no Brasil e no exterior. Levou-se em consideração notas acerca de materiais e processos de seleção, incluindo o estudo de Karana et al (2007) e Ferrante e Walter (2010) disponíveis em Richetti (2014, pg. 42).

A pesquisa completa apoia-se também em procedimentos terminográficos, os quais são utilizados no processo de levantamento dos dados pela TCT (teoria comunicativa da terminologia) estipulada por Cabré (1999) e seguindo os conceitos de terminografia referenciados por Krieger e Finatto (2004), conforme ilustra os itens da pesquisa catalográfica no Quadro 1 (RICHETTI, 2014).

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Para auxiliar na compreensão dos dados técnicos selecionados, sugeriu-se um glossário de termos sobre FoFos, dessa forma, os termos selecionados foram organizados em ordem alfabética após sua definição. A apresentação em ordem alfabética, de acordo com a TCT, conforme Krieger e Finatto (2004) contribui na localização do termo, principalmente no caso de uma publicação especializada. Sugere-se que alguns termos devam estar presentes com seu significado e que este deve ser compreensível, ou seja, ser descrito de forma amigável para as áreas em questão. Caso haja a necessidade de consulta pelo usuário, este será alocado após a sexta ficha (RICHETTI, 2014). O procedimento para o estudo catalográfico e desenvolvimento do glossário está disposto no Quadro 1, itens (b), (d), (f), (h).

Quadro 1: Fluxograma referente ao processo utilizado para a realização das atividades de elaboração do sistema informacional incluindo o desenvolvimento das fichas técnicas.

Fonte: Elaborado pelos Autores

Paralelamente, para o desenvolvimento das fichas técnicas, foi realizado um levantamento de dados através da análise de informações catalográficas e técnicas de sistemas similares (a) para contribuir com o referencial teórico na seleção das propriedades que integrarão o sistema informacional. Os termos escolhidos para serem definidos e constarem no glossário foram extraídos do produto final do sistema informacional, a ficha técnica frente verso para cada tipo de FoFo (totalizando 6 fichas) – Figuras 3 e 4. Também foi efetivado o levantamento e seleção de dados técnicos (c), procedimento experimental e micrografias (e), registro de dados fotográficos (g) e elaboração de logogramas gráficos referenciando aplicações (i), conforme segue os itens dispostos no Quadro 1.

3.1. Análise de Similares

A análise de similares é uma ferramenta utilizada para identificar aspectos positivos e possíveis falhas em alguns sistemas informacionais sobre materiais em geral e gratuitos. Leva-se em consideração itens como facilidade de acesso às informações, quantidade de informações disponíveis, riqueza das mesmas e a linguagem visual. Esta análise visa auxiliar na seleção dos dados técnicos, a fim de definir aspectos de maior relevância para que possam constituir a ficha. Foram selecionados para a pesquisa sites disponíveis

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via internet, nacionais e internacionais, bibliografias especializadas e ainda uma ferramenta de seleção de materiais via Software.

No intuito de identificar aspectos gerais de sistemas similares que disponibilizem informações sobre materiais, foram selecionados para a pesquisa sites disponíveis via internet, tanto nacionais como internacionais. Levando em consideração itens como facilidade de acesso às informações, quantidade de informações disponíveis, riqueza das mesmas e linguagem visual, os seguintes sites foram escolhidos: LdSM - Laboratório de Design e Seleção de Materiais de Porto Alegre/Brasil (acadêmico e on-line), FEEVALE de Novo Hamburgo/Brasil (acadêmico e on-line), MATERIABRASIL de Rio de Janeiro/Brasil (acadêmico, comercial e on-line), MATERIA de Naarden/ Holanda (comercial e on-line). Ferramentas disponíveis via meio bibliográfico: TRANSMATERIAL (BROWNELL, 2010), MADEIRAS BRASILEIRAS (PEREIRA, 2013). E foram feitas considerações sobre a Ferramenta via software: Cambridge Materials Selector – CMS 2.0, com o apoio de desenvolvedores da Granta Design.

O Quadro 2 foi elaborado para relacionar a natureza das informações que estão sendo disponibilizadas e sua importância relativa entre os sistemas.

Quadro 2: Análise de Similares Demonstrando um Comparativo Entre os Sistemas Informacionais com Base nas Informações Disponíveis.

Fonte: Elaborado pelos Autores

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Essa análise de similares distribuídas em meios distintos, porém com a mesma finalidade: a de informar o projetista sobre materiais serviu de base informacional para o desenvolvimento da ficha técnica, segundo o layout e organização das informações.

Dentre os sistemas informacionais sobre materiais disponíveis online, destaca-se o laboratório de materiais virtual da Universidade FEEVALE de Novo Hamburgo/Brasil. Esta ferramenta possui um perfil acadêmico e vínculo direto com a Universidade, já que também possui instalações físicas. O acesso às informações nesse portal é de difícil acesso e algumas vezes incompletas, por exemplo, não se encontra informações sobre ferros fundidos, também não há opção de busca pelo termo FoFo. A maneira mais fácil e rápida de conhecer e identificar um material através desse sistema é utilizando a ferramenta de código de barras que a materioteca disponibiliza, mas o usuário precisa estar na materioteca física e fica restrito aos materiais catalogados (RICHETTI, 2014, pg. 94).

Pode-se notar no Quadro 2 que o Laboratório de Design e Seleção de Materiais -LdSM de Porto Alegre/Brasil (acadêmico) mostra-se adequado quanto a quantidade de informações e mais completo em relação a particularizações de um material. Por exemplo, sobre ferros fundidos encontram-se cinco diferentes categorias para propriedades e cinco categorias para processos, além de composição química, aplicação e imagem de produtos acabados (RICHETTI, 2014, pg. 102). No entanto, muitas vezes o site não está disponível, em manutenção ou simplesmente não é possível acessá-lo. Além de que, o usuário deve ter um prévio conhecimento sobre materiais para chegar a um material específico já que não possui um sistema de busca, por palavras-chave, por exemplo. Esse sistema seria mais eficiente se fosse adicionado um glossário sobre termos específicos para cada classe de materiais.

Na sequência, o sistema on-line de nível acadêmico e comercial MateriaBrasil de Rio de Janeiro/Brasil, disponibiliza informações através de um questionário fornecido pelos fabricantes. A forma com que as informações são expostas, de maneira simples e objetiva, mostra que não é necessário acrescentar uma infinidade de dados para obter informações importantes, mas sim, apresentá-las através de uma linguagem acessível e compreensível para o usuário. Apresenta um item chamado direcionadores de sustentabilidade, um conteúdo exclusivo e relevante, mas não esta disponível para todos os materiais, alguns possuem informações somente sobre o item energia, por exemplo (RICHETTI, 2014, pg. 98).

Por outro lado, a ferramenta on-line a Materia Exposições em Naarden, na Holanda (comercial) é considerada uma rede global na área de materiais inovadores. As informações são apresentadas de maneira sucinta e as propriedades técnicas estão identificadas através de um método simples como bom/moderado/médio ou não se aplica, facilitando quando o usuário não possui conhecimentos específicos (RICHETTI, 2014, pg. 100). No entanto, faltaram as propriedades técnicas básicas, como propriedades mecânicas e processos de fabricação conforme ilustra o Quadro 2, essenciais para a seleção de um material. O aspecto visual da página é similar ao sistema da MateriaBrasil. Ambos possuem o conteúdo completo em uma única página, não havendo a necessidade de se procurar ou clicar diversas vezes.

Uma ferramenta disponível via meio bibliográfico, desenvolvido por Pereira (2013) é o livro Madeiras Brasileiras: guia de combinação e substituição - disponível em bibliografia acoplada a noventa fichas mostruário sobre madeiras brasileiras. Observa-se riqueza de informações e também a relevância das mesmas, porém em alguns casos, o

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espaço destinado para a informação está em branco, ou seja, há informações insuficientes o que dificulta a comparação entre uma madeira e outra. Mesmo com escalara reduzida, consideram-se os ícones um ponto positivo e aplicável para a compreensão do designer, uma vez que designam de forma gráfica e simplificada as aplicações típicas. Apresenta a imagem macroscópica (material bruto) e o mais interessante imagem microscópica, sendo o único sistema informacional trazendo imagem da microestrutura do material. Ainda em relação ao conteúdo, disponibiliza características sensoriais, no verso, aplicação em forma de ícones, cor, propriedades físicas e mecânicas, durabilidade, secagem, processo de fabricação, e por fim observações. Convém ressaltar que o tamanho da ficha é limitado (RICHETTI, 2014, pg. 104).

Outra bibliografia é o Transmaterial, uma coleção composta por três volumes, editado por Blaine Brownell (2010), a qual reúne uma série de materiais inovadores, devidamente separado por classes, como: concreto, mineral, metal, madeira, polímeros e borracha, tecido, iluminação e digital. Apresenta as informações de forma simples, concisa, padronizada e prática, principalmente por ser um material físico (RICHETTI, 2014, pg. 106). O foco do Transmaterial é informar sobre o produto, mais do que sobre o material, apesar de as informações estarem distribuídas por classes de materiais. Ele informa o designer que desenvolveu o produto, o tamanho do produto e não do material, aplicações e características também sobre o produto. Outra bibliografia que utiliza princípios de disseminação de informações semelhantes é o Materials For Inspiration Design de Chris Lefteri (2006).

Ainda o Quadro 2 indica as considerações sobre a ferramenta via software: Cambridge Materials Selector – CMS 2.0, com o apoio de desenvolvedores da Granta Design. Estes procuram agrupar todas as famílias dos materiais em gráficos cujas coordenadas compõem, sempre que possível, as propriedades. O software, em primeira análise, requer um entendimento prévio do usuário e algum treino. Esse sistema gera uma ficha técnica contendo informações que dentre os sistemas analisados demonstrou-se mais completa, principalmente no que tange as propriedades gerais de um material. É o único sistema que informa o diagrama de fases, no caso, dos materiais metálicos, elencando esse item como uma informação importante para seleção de materiais metálicos, principalmente os FoFos.

3.2. Seleção de Dados e Registro Gráfico

As fichas técnicas foram desenvolvidas como um dispositivo de informação, o qual constitui a parte do sistema que fornece informações ao usuário, para que este possa tomar decisões. Segundo Iida (2005) a visão e a audição do ser humano são células sensíveis e importantes no contexto do trabalho, a visão, em particular, se destaca como principal órgão para recepção de informações. Assim, no tocante ao desenvolvimento do projeto optou-se por explorar imagens que pudessem informar o receptor da mensagem.

As fichas técnicas foram desenvolvidas como um dispositivo de informação, o qual constitui a parte do sistema que fornece informações ao usuário, para que este possa tomar decisões. Segundo Iida (2005) a visão e a audição do ser humano são células sensíveis e importantes no contexto do trabalho, a visão, em particular, se destaca como principal órgão para recepção de informações. Assim, no tocante ao desenvolvimento do projeto optou-se por explorar imagens que pudessem informar o

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receptor da mensagem.

Figura 1: Imagens obtidas para compor a ficha técnica. para (a) e (d) mobiliário urbano, (c) e (e) utilitários domésticos, (b) arquitetura.

Fonte: Elaborado pelos Autores

A Figura 1 (d) demonstra a possibilidade de usar o material em produtos em ambientes externos sujeitos a intempéries. Na Figura 1 (a) nota-se também a elegância na utilização do ferro fundido em conjunto com outros materiais, nesse caso, um banco, peça de mobiliário urbano com base em ferro fundido e assento em madeira. Outra característica são as aplicações em utensílios domésticos com revestimentos esmaltados (c) ou sem (e), devido sua propriedade de alta condutividade térmica.

Os logogramas, sinais gráficos com significados e notação matemática e literária, similares aqueles usados em sinalização de trânsito (GOMES e BROD, 2007), ou signos, são apresentados na Figura 2.

Figura 2: Logogramas gráficos desenvolvidos para representar as aplicações do fofo. da esquerda para a direita (a) mobiliário urbano (b) virabrequins (c) engrenagens (d)

utilidades domésticas.

Fonte: Richetti, A (2014).

A Figura 2 apresenta os logogramas desenvolvidos, a fim de identificar de maneira gráfica e sucinta as diferentes formas de aplicação para o FoFo. Foram inclusos

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na lista de requisitos após a análise de similares, mais precisamente a ficha sobre madeiras brasileiras (PEREIRA, 2013). Com base em Gomes e Brod (2007) logogramas são resultado da aplicação de elementos básicos da linguagem gráfico-visual como ponto, linha, superfície e volume, também seguindo princípios de percepção visual (luz, contraste) e de analogias (semelhanças). As opções são (a) representação de mobiliário urbano, (b) e (c) equipamentos para e indústria mecânica e (d) utilidades domésticas.

Na avaliação, entendeu-se que essa forma de representar a aplicação facilita a compreensão do usuário por ser um meio amigável e de rápida compreensão, conforme os princípios citados por Redig (2004) no item 2 deste artigo. No sistema aqui proposto, pretende-se utilizar os logogramas em escala maior para que o usuário possa captar e processar o conteúdo com mais eficiência.

4. Discussão

Com base na análise de similares, as informações tidas como requisitos, as quais se encontram ordenadas na coluna da esquerda no Quadro 2, foram selecionadas a fim de serem avaliadas. A primeira opção considerada para compor a ficha é a imagem da microestrutura, seguido de classe (tipo) de FoFo, aplicação e processo de fabricação. Itens essenciais para que o profissional possa realizar a seleção do material, completando com os dados de fabricação.

A primeira página de apresentação identificada na Figura 3 traz conteúdos como notas de projeto (1), um resumo sobre especificações básicas de propriedades e microestrutura do FoFo em questão, no exemplo o FoFo cinzento. Evitou-se a presença de texto extenso, acreditando que o usuário necessita de informações específicas. Em (2) imagem de aplicação do produto acabado, como visto, faz com que o usuário possa captar e processar o conteúdo com mais eficiência.

As imagens da microestrutura da Figura 3 (3) aparecem como um diferencial, tendo em vista que os sistemas analisados não possuíam essa informação. Para justificar cabe citar o tetraedro da engenharia de materiais, o qual indica o desenvolvimento da correlação composição – microestrutura – processamento – desempenho por Askeland (2008). Esse tetraedro demonstra que todos os aspectos estão interligados e não devem ser tratados separadamente, além de possuírem o mesmo grau de relevância. A intervenção gráfica indicada por setas vermelhas para identificar a classificação dos veios de grafita simplifica a compreensão de informações relevantes para profissionais e estudantes do design e engenharia, informações estas, normalmente distribuídas em textos extensos nas bibliografias especializadas.

O item (4) na Figura 3 ilustra informações científicas e técnicas se tratando da nomenclatura utilizada, em ordem hierárquica: classe no caso material metálico, a subclasse Ferroso e o nome técnico ferro fundido, também foi acrescentado a sigla FC definida pela ABNT/NBR 6589 para FoFo Cinzento, já que algumas bibliografias especializadas em materiais ferrosos, catálogos de materiais e indústrias sugerem a inclusão de siglas. Optou-se por não utilizar nomenclaturas comerciais, mesmo que alguns materiais não a possuem, oferecendo assim uma padronização. Os dados são expostos os lados frente e verso da ficha técnica, já que é a primeira informação procurada, que deve consequentemente ser visualizada pelo usuário em primeiro impacto no processo de localização do conteúdo propriamente dito.

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Figura 3: Ficha técnica sobre fofos, frente da ficha identificando a disposição das informações. para exemplo foi selecionada a ficha desenvolvida para o fofo cinzento (FC).

Fonte: Richetti, A (2014).

A Figura 4 ilustra o verso da ficha técnica. A maneira de informar o usuário por meio dos termos Alto, Médio e Baixo (7) e (6) dispensa o uso de legenda e auxilia na compreensão, oferecendo informações qualitativas relativas aos Ferros Fundidos. Segundo Silva e Kindlein (2006), o conhecimento dos materiais, por muito tempo, esteve voltado à área de engenharia de materiais, no entanto, têm-se ampliado os estudos sobre seleção de materiais e processos de fabricação aplicados ao design, envolvendo, assim, uma participação conjunta entre esses profissionais.

Busca-se apresentar, nesse sistema, uma quebra de paradigma sobre essa questão, com o viés de melhorar a sinergia entre as áreas, mostrando que um único dispositivo de informação pode suprir ambos os profissionais, disponibilizando um conteúdo com uma linguagem adequada e amigável.

As propriedades apresentadas de forma quantitativa (8) selecionadas na Figura 4 foram definidas com base no corpus elencado para a análise de similares, de literatura apoiada nas bibliografias: Chiaverini (2012), Callister (2007), Askeland (2008), Colpaert (2008) e Ashby e Jones (2007), e com apontamentos de especialista na área de materiais e metalurgia, sendo estas informações consideradas relevantes para o material em questão.

A imagem e aplicação são requisitos utilizados por todos os sistemas elencados como similares, a diferença é que parte deles apresenta o material bruto, outros o

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produto acabado, outros ainda utilizam ambas as imagens. Os itens característica e descrição são confusos, por que cada sistema utiliza informações distintas, percebe-se isso se procurarmos na lista do Quadro 2 o item propriedades técnicas, não será encontrado, essas propriedades estão inseridas em categorias distintas, ora em características ora em descrição, para esse fim utilizam outros termos como propriedades gerais e observações (RICHETTI, 2014).

Figura 4: Ficha Técnica sobre fofos, verso da ficha identificando a disposição das informações. para exemplo foi selecionada a ficha desenvolvida para o fofo cinzento (FC).

Fonte: Richetti, A (2014).

Outro aspecto que deve ser incluído é a questão ecológica, sendo que, atualmente, seria inadmissível o desenvolvimento de um projeto de produto sem a preocupação com essa problemática, esse item deve acompanhar os demais, em todas as fases de projeto. Assim, apresenta-se a informação na Figura 4 item (6) em desempenho informando o nível de reciclabilidade.

Na Figura 5 observa-se o sistema informacional proposto, o qual compreende seis fichas técnicas frente e verso: uma ficha para cada classe de FoFo e uma ficha contendo o glossário de termos. Ainda foram desenvolvidas quatro fichas resultado do estudo terminológico, as quais não cabem no escopo deste artigo. Essas constituem a representação temática contendo informações para projetos de três grupos principais dentro do escopo do ferro fundido: materiais, propriedades, processos de fabricação e aplicação.

A Figura 4 traz esse exemplo no item (9), nota-se a informação VER: Processos de Fabricação. Utilizou-se essa solução para quando o usuário necessite de informação aprofundada sobre o tema. Nessas fichas, o usuário encontra todos os processos de

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fabricação e aplicações possíveis para o ferro fundido, ainda as prováveis propriedades atribuídas ao material. Outra justificativa, por que em muitos casos, o usuário busca por informações básicas, assim evita-se excesso de informação na ficha principal.

Figura 5: Modelo da ficha técnica sobre fofos sendo consultada pelo usuário.

Fonte: Richetti, A (2014).

O diferencial da ficha técnica física (FIGURA 5) é que não há o deslocamento e o usuário pode acessar na comodidade do ambiente que se encontra, seja acadêmico ou profissional, no entanto, convém ressaltar que esse sistema funciona melhor quando o intuito é compartilhar informações técnicas sobre os materiais, sendo as informações sensoriais difíceis de transmitir através desses métodos sem o contato físico com o material. Aperfeiçoar o processo de aquisição da informação nos sistemas de comunicação e transmitir conteúdo claro, preciso e eficiente.

5. Considerações Finais

Por tratar-se de um sistema, com o viés de transmitir informações sobre material e design, a pesquisa contribui com a disseminação do conhecimento técnico específico, o qual permitirá o envolvimento do estudante, educador, profissional e pesquisador para com o desenvolvimento de produtos via seleção de materiais, oportunizando a coleta de informações através da ficha técnica física e possível de ser implantado em bibliotecas de materiais.

A partir dos similares elencados no Brasil, não há um sistema metodológico exclusivo, tão pouco uma forma mais utilizada pelos profissionais na busca por materiais, ou seja, cada profissional trabalha de uma maneira diferente, levando em conta seus próprios conhecimentos. Assim, a proposta de pesquisa, é fornecer informações técnicas concisas, tendo em vista a versatilidade de ter um conteúdo a mãos, contendo subsídios técnicos sintetizados para auxiliar na decisão de quais materiais devem ser usados no desenvolvimento de um projeto, também as fichas são uma ferramenta útil para fins didáticos em salas de aula. Dessa forma, usando como estudo de caso os Ferros Fundidos.

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As fontes citadas, que contam com acesso virtual, apresentam na maioria, dados técnicos sobre materiais, muitas vezes incompletos, com pouco cruzamento de dados, o que dificulta a comparação entre materiais similares, mesmo que a busca seja por informações simples sobre materiais tradicionais, como por exemplo, o ferro fundido.

Ainda, este sistema atinge um aprimoramento no design através da informação, comunicação e também educação, pois o conceito de portabilidade permite que a ficha possa ser conduzida facilmente por um profissional e utilizada para fins didáticos em sala de aula, no escritório, em indústrias ou até mesmo em casa. Essas fichas podem ser expandidas para as demais classes de materiais, além da possiblidade do desenvolvimento de uma linguagem de programação, utilizando os dados aqui adquiridos para serem disponibilizados via ferramenta web.

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