desenvolvimento rural

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Instituto Giramundo Mutuando R E N D O A S C 2 Desenvolvimento Rural Desenvolvimento Rural Sustentável Sustentável

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Desenvolvimento Sustentável

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Page 1: Desenvolvimento Rural

Instituto Giramundo Mutuando

RE ND OA SC

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Desenvolvimento RuralDesenvolvimento RuralSustentávelSustentável

Page 2: Desenvolvimento Rural
Page 3: Desenvolvimento Rural

Desenvolvimento RuralDesenvolvimento RuralSustentávelSustentável

Instituto Giramundo Mutuando

Page 4: Desenvolvimento Rural

OrganizaçãoBeatriz Stamato Rodrigo Machado Moreira

TextoJoão Carlos Canuto

Revisão TécnicaFernanda DiefenthaelerBeatriz StamatoRodrigo M. Moreira

Projeto Pedagógico Natividade Projetos em Agroecologia Ltda

Projeto EditorialMetalinguagem Comunicação

Jornalista ResponsávelGuto Almeida (MTB 22.460)

Arte FinalistaJoel Nogueira

Ilustração Luiz Ribeiro

Programação VisualPeagade Comunicação

RevisãoMetalinguagem Comunicação

Agroecologia

Agricultura Familiar

Segurança Alimentar e Nutricional

Comercialização na Agricultura Familiar

Pecuária Leiteira Ecológica

Desenvolvimento Rural Sustentável

Cadernos Agroecológicos

1

3

4

5

6

2

Instituto Giramundo Mutuando/Programa de Extensão Rural Agroecológica - PROGERA./ Desenvolvimento Rural Sustentável CANUTO, J. C.. Botucatu/SP:

Giramundo, 2009. 40p.:Il.; 19,5x26,5cm. (Cadernos Agroecológicos)

1. Desenvolvimento Rural Sustentável, Agricultura Familiar, Teorias econômicas e Ecologia

Ficha Catalográfica

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Índice

Apresentação

1. O que é Desenvolvimento Rural Sustentável (DRS)

2. Debate sobre sustentabilidade

a. Ampliação do debate

b. Avanço do movimento ambientalista

c. Legislação e políticas públicas

d. Exaustão dos recursos “naturais”

3. Sustentabilidade socioambiental

a. Toda atividade econômica gera desgastes

b. Relações entre teorias econômicas e Ecologia

4. Otimismo tecnológico ou princípio da precaução?

5. Desenvolvimento Rural Sustentável

a. Evolução recente da agricultura brasileira

b. Impactos ambientais

c. Impactos sociais

6. Como superar a crise?

7. Bibliografia

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Apresentação

Este Caderno reflete a grande contradição existente entre o atual modelo de desenvolvimento e o óbvio esgotamento dos recursos naturais, materializado pela crescente crise climática, ecológica, financeira e social da modernidade. Reflete, ainda, o esforço de intelectuais e profissionais de diversas áreas do conhecimento em desvendar os limites do desenvolvimento do meio rural brasileiro, tendo este como protagonista as grandes propriedades e um modelo agrícola excessivamente voltado para a exportação de commodities e muito dependente de energias não-renováveis, tendo como sistemática a deterioração das relações de trabalho no campo.

Fica claro aqui que qualquer política de desenvolvimento rural que queira se implementar numa época de grandes desafios políticos como a atual, não poderá mais fugir da busca incessante pela construção de condições básicas para que a agricultura familiar, inserida num novo modelo de agricultura com base ecológica, possa se reproduzir e distanciar-se dos modelos agrícolas que historicamente vêm emperrando o seu próprio desenvolvimento. Trata-se de reconhecer o importante papel de um setor da sociedade estratégico para o Brasil, como continua a revelar o Senso Agropecuário 2006.

Portanto, a conquista de padrões de desenvolvimento rural sustentável passará, necessariamente, pela re-afirmação da agricultura familiar e pelo avanço da Transição Agroecológica em seus territórios, o que implicará no desafio do reconhecimento da diversidade sócio-cultural e ambiental, num país de dimensões continentais e com grandes assimetrias regionais.

Apesar dos desafios que o ideário da sustentabilidade representa dentro de um modelo de desenvolvimento que ainda opõe economia e ecologia, seguimos na esperança de que fendas se abram pela participação conjunta da sociedade civil organizada e de seus movimentos sociais, em diálogo permanente com as políticas públicas e com a democratização crescente dos meios de produção no campo brasileiro. Esperamos, assim, que a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural – PNATER seja fortalecida e aprofundada e que, finalmente, o desenvolvimento seja cada vez menos encarado como crescimento econômico e cada vez mais visto como a co-evolução entre a sociedade e a natureza.

RODRIGO MACHADO MOREIRA

Instituto Giramundo Mutuando

Page 8: Desenvolvimento Rural

1

O primeiro capítulo deste Caderno de Desenvolvimento Rural Sustentável nos aproximará do debate entre economia e ecologia. Você vai entender por que este assunto é de extrema importância para nossa sociedade e para as futuras gerações.Apresentaremos uma definição sobre o que significa Desenvolvimento Rural Sustentável e o porquê deste tema ser tão complexo.

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1O que é Desenvolvimento Rural Sustentável (DRS)

ara entendermos o que significa DRS é necessário primeiro debatermos o que é desenvolvimento. Este debate sempre foi muito importante para a teoria econômica e para a sociedade em geral. Apresentaremos a seguir as 2 concepções principais sobre o tema:

A primeira concepção consiste em identificar o desenvolvimento simplesmente como crescimento da economia. Nesta idéia, o mais importante é o aumento da produção por meio do avanço tecnológico não importando se os frutos do crescimento sejam ou não distribuídos entre todos na sociedade. Geralmente a exclusão social, que é resultado da má distribuição da riqueza, é tida pelos defensores deste modelo como uma conseqüência “natural” do processo. Esta idéia de desenvolvimento tornou-se a mais difundida e, muitas vezes, é considerada a mais correta ou mesmo a única possível.

Dentro desta idéia de desenvolvimento, costuma-se divulgar com muita ênfase o crescimento geral da riqueza de um país ou de uma região. Esquece-se, no entanto, que esta riqueza geralmente está muito mal distribuída. Os números do podem impressionar, mas muitas vezes escondem a pobreza, causada

pelo aumento da concentração de riqueza nas mãos de poucos, bem como danos ao meio ambiente, que têm origem na busca incessante de lucros.

PIB

A segunda concepção é a que propõe a inclusão do conceito de sustentabilidade ao desenvolvimento sustentável, pois reconhece os impactos sociais e ambientais negativos da economia atual. Nela são levadas em consideração as necessidades humanas e o respeito ao meio ambiente. Para haver Desenvolvimento Sustentável, é necessário rever o modelo de crescimento econômico hoje predominante, colocando limites na exploração da natureza e dos trabalhadores, prevendo uma participação mais equilibrada da sociedade sobre os resultados da economia. Isso é necessário não só para o bem-estar das populações atuais, mas também para assegurar o bem estar de nossos filhos e netos.

Produto Interno Bruto é definido como a medida do fluxo total de bens e serviços finais produzidos em uma região ou país.

1

2

Page 10: Desenvolvimento Rural

08 Desenvolvimento Rural Sustentável

Afinal, o que é desenvolvimento sustentável?Afinal, o que é desenvolvimento sustentável?

O conceito de desenvolvimento sustentável pode ser visto como um “grande guarda-chuva”, pois contempla uma enorme diversidade de interesses, vindos de diferentes grupos da sociedade. O conceito de desenvolvimento sustentável é construído socialmente, e, portanto, ainda está em discussão por vários setores da comunidade.

A visão tradicional, onde o mais importante é o aumento da produção e os resultados econômicos.

A idéia de desenvolvimento sustentável, que leva em conta as dimensões econômica, social e ambiental.

O desenvolvimento sustentável tem muita relação com o conceito de ecodesenvolvimento, que foi ganhando reconhecimento no início dos anos 70, a partir da Conferência de Estocolmo e do trabalho de Ignacy Sachs (1986). Os princípios do ecodesenvolvimento eram assim apresentados:

ECODESENVOLVIMENTOECODESENVOLVIMENTO

Como foi dito anteriormente, há diversas idéias sobre desenvolvimento:

Satisfazer as necessidades

humanas básicas

Garantir aparticipação popular

Assegurar umaestrutura social de

suporte ao empregoe à renda

Preservar omeio ambiente

Tornar-se solidáriopara com as

gerações futuras

SUSTENTABILIDADESUSTENTABILIDADE

ECONÔMICAECONÔMICA AMBIENTALAMBIENTAL SOCIALSOCIAL

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Para construirmos um desenvolvimento realmente sustentável, há a necessidade de exercitarmos uma nova forma de convívio humano, em que poder não signifique obrigatoriamente dominação ou disputa entre opostos, porque isto elimina a possibilidade de negociação, parcerias e cooperação. Existem outras formas de poder que podem levar ao desenvolvimento sustentável:

Para um desenvolvimento realmente sustentável

precisamos falar sobre o poder

Para um desenvolvimento realmente sustentável

precisamos falar sobre o poder

O poder da organização democrática

O poder da solidariedade

O poder da participação

O poder da capacitação

O poder da informação

O poder da identidade cultural

O poder do compromisso

O poder da gestão

O poder da consciência

O poder do diálogo

Fonte: JARA (1999)

O ponto alto para o conceito de desenvolvimento sustentável foi a apresentação em 1987 do documento chamado Nosso Futuro Comum, pela Comissão Mundial para o Desenvolvimento e Meio Ambiente da ONU. Daí se originou a idéia utilizada para as mais diversas situações:

Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem suas próprias necessidades (CMDMA, 1998).

Todavia, as propostas deste documento se caracterizam pelos métodos tecnocráticos no tratamento das questões ambientais. Ele recomenda soluções parecidas às da economia convencional: mais crescimento para a satisfação das necessidades humanas. Mas isso está em contradição com o respeito ao meio ambiente.

O que é Desenvolvimento Rural Sustentável (DRS)

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2

Neste segundo capítulo mostraremos o histórico do debate sobre os impactos da economia sobre o meio ambiente e a sociedade. Nele, será possível entender a relação direta entre a exploração dos recursos naturais e dos(as) trabalhadores(as) e a crise que vivemos atualmente.

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11

A

2Debate sobre sustentabilidade

s teorias sobre o desenvolvimento são muito antigas, mas o adjetivo "sustentável" é recente e traduz uma preocupação da sociedade com a questão ambiental. No entanto, o conceito de sustentabilidade abrange não só o meio ambiente, como também condições de vida dignas para os povos.

A sustentabilidade é vista de maneira diferente segundo os interesses de cada grupo, podendo mostrar-se como uma sustentabilidade de curto prazo (fraca) ou de longo prazo (forte).

A opção da economia e da tecnologia dominantes nos dias de hoje é a de manter uma sustentabilidade de curto prazo. Busca-se desenvolver formas mais suaves de explorar a natureza e tecnologias que tentem remediar os impactos causados. Entretanto, essas estratégias não atacam o problema central, o de que os recursos naturais estão se desgastando de forma irreversível. Essas formas mais suaves de exploração são insuficientes para vencer a acelerada degradação dos recursos naturais.

A sustentabilidade de longo prazo se preocupa com a geração de uma quantidade de recursos naturais suficientes para a manutenção das necessidades das futuras gerações. Para que isto possa ocorrer, é crucial que se encare os limites naturais e que se adeque sempre a economia a eles.

Sustentabilidade é um termo tomado da Ecologia e diz respeito à qualidade dos ecossistemas de sempre buscarem o equilíbrio e a estabilidade. Este equilíbrio está baseado na relação de interdependência, pela qual os seres vivos necessitam uns dos outros para sobreviver. Por isso a natureza é tão diversa e complementar (HERCULANO, 1992).

Porque a economia atual está gerando problemas ambientais e sociais de abrangência planetária. Essas desordens globais na começam a ser mais percebidas por todos: o aquecimento global, o aumento da temperatura, as secas, inundações e intempéries.

biosfera

Conjunto de todas as partes do planeta Terra onde existe ou pode existir vida (conjunto dos ecossistemas).

Isso colaborou para a construção de uma noção de "problema comum", percebido agora por grande parte dos cidadãos. Exemplo disso são a destruição da camada de ozônio, a poluição e degradação do ambiente e as

.

mudanças climáticas

São alterações do clima decorrentes da ação descontrolada do homem sobre os bens naturais da Terra. Os impactos negativos gerados pelas atividades humanas levaram a mudanças no clima do planeta, caracterizadas como efeito estufa (aumento da temperatura devido à retenção do calor da superfície da Terra e acúmulo de gases, emitidos pela combustão).

Por que a questão da sustentabilidade está na moda?

Page 14: Desenvolvimento Rural

12

Os impactos negativos do processo industrial e agrícola se estendem a todos os grupos e classes sociais (mesmo que eles sejam sentidos com maior peso pelas camadas mais pobres). Em conseqüência, há uma "ecologização dos discursos" entre os mais diferentes grupos da sociedade.

a Ampliação do debate

Desde os anos 60 se debate a questão ambiental. No início daquela década, um importante encontro de especialistas, que ficou conhecido como Clube de Roma, mostrou claramente que os

. Como resultado deste evento produziu-se

o primeiro “Relatório Meadows”, intitulado Limites do Crescimento (MEADOWS et al, 1972).

recursos naturais estão acabando

Os recursos água , so lo , biodiversidade, entre outros, não podem se r ex t ra ídos ou explorados inf in i tamente, porque, com o tempo:

•se reduz o estoque ou a sua reserva natural;

•são degradados além da sua capacidade de regenerar-se.

Desenvolvimento Rural Sustentável

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Debate sobre sustentabilidade

O debate foi ampliado, também, pela ação dos meios de comunicação de massa, que começava a dar cada vez mais ênfase à cobertura jornalística dos desastres ecológicos. Já se despertava para problemas específ icos de degradação ambiental, como o lixo, a poluição do ar nos centros urbanos e o problema da contaminação das águas.

Para o caso da agricultura, um dos temas que se repetia nos jornais era o impacto negativo dos agrotóxicos sobre o meio ambiente e à saúde humana.

nos anos 80

minhaverdura?

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Cronologia dos principais eventos mundiais

relacionados com a consciência ecológica

14

Criação da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).

Simpósio “O papel do homem nas mudanças do planeta Terra”, Princeton - Inglaterra.

Publicação de livros de impacto como os de R. Carson, Primaverasilenciosa (1963) e P. Ehrlich, A bomba populacional (1968).

Publicação do Informe Meadows – Limites do Crescimento, Clube de Roma; criação do Programa “O homem e a biosfera” da UNESCO.

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Humano, Estocolmo. Criação do Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA).

Primeira “crise energética”.

Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (Habitat I), Vancouver - Canadá.

Segunda “crise energética”.

Barateamento do petróleo e das matérias-primas em geral.

Publicação de Nosso Futuro Comum (Relatório Brundtland) da Comissão Mundial para o Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Final da “Guerra Fria”; publicação do Informe Meadows – Além dos Limites, do Clube de Roma.

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, Eco-92, Rio de Janeiro.

Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (Habitat II), Istambul – Turquia.

Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Kyoto – Japão.

Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Joanesburgo – África do Sul.

1948

1955

19601970

1971

1972

1973

1976

1979

1980

1987

1989

1992

1996

1997

2002

Adapta

do d

e N

are

do (

2006).

Desenvolvimento Rural Sustentável

2007 Relatório – Painel Internacional de Mudanças Climáticas. IPCC

Este painel analisa e compila meticulosamente as pesquisas realizadas por centenas de cientistas em todo o mundo. Seus relatórios, resultado de delicadas negociações entre as delegações de diferentes Estados, representam uma base sólida de conhecimentos para as autoridades políticas. Entre suas principais conclusões, o IPCC previu um aumento de 1,8 a 4 graus centígrados na temperatura média do planeta antes de 2100, um aquecimento cuja origem está “muito provavelmente” ligada à atividade humana.

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b Avanço do movimento ambientalista

O bom desempenho da economia no período do "milagre econômico brasileiro" na década dos 70 e parte dos anos 80 ofuscou um pouco o debate ambiental no nosso país. Os impactos ambientais eram praticamente desconsiderados. Quando essa onda de euforia começou a dissipar-se e o crescimento, que já não era o mesmo, mostrava com mais nitidez os rastros de degradação social e ambiental, o movimento ambientalista apareceu com força.

A expansão do movimento ambientalista ajudou a “politizar” os debates ressaltando que tanto os impactos sociais como os ambientais são originários de um mesmo modelo político (VIOLA, 1991).

c Legislação e políticas públicas

Com a pressão por ações mais concretas, surgiram no país importantes leis e políticas públicas relacionadas à preservação ambiental: reservas florestais, controle à poluição industrial, regulamentações sobre o uso de recursos naturais, entre outras.

Debate sobre sustentabilidade

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Na agricultura destaca-se a profusão de leis estaduais de controle aos agrotóxicos, culminando com a promulgação da lei federal.

Infelizmente, apesar da grande quantidade de leis ambientais, muitas delas não são colocadas em prática.

d Exaustão dos recursos “naturais”

De modo geral, o contexto empresarial é muito resistente a desencadear ações de proteção ambiental. Então, como poderíamos explicar a incorporação de algumas “tecnologias suaves” pelas empresas privadas?

Isso ocorre em grande parte porque as empresas perceberam que os recursos, até hoje explorados indiscriminadamente, vêm mostrando sinais de esgotamento. Se não tratados com cuidado, podem comprometer a manutenção da produção. A preocupação, deste modo, é a de manter a atividade econômica, mesmo que para isto devam-se adotar meios menos insustentáveis (do ponto de vista econômico), como tecnologias ecológicas ou “boas práticas”.

Desenvolvimento Rural Sustentável

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3

Neste capítulo do caderno apresentamos as relações entre economia e ecologia e a evolução de um pensamento que seja realmente sustentável. Apresentamos o que significa a economia ecológica e como esta teoria pode nos ajudar.

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A

3 Sustentabilidade socioambiental

sustentabilidade não pode ser entendida apenas pela dimensão ecológica. Além do respeito aos limites físicos, a sustentabilidade deve cumprir também objetivos sociais, culturais e econômicos. Um conceito que dá esta idéia é o de sustentabilidade socioambiental, que se caracteriza pela união dos objetivos sociais e ambientais. Não faz sentido pensar na conservação ambiental em um mundo onde a pobreza aumenta. No nosso planeta, a maioria dos pobres vive em condições ecológicas desfavoráveis. Nas zonas rurais, os pobres são a grande maioria, vivendo em terras marginais, com solos fracos e falta de água e saneamento básico.

Para BOFF (1995), “o ser mais ameaçado da natureza é o pobre”, porque, além das deficiências econômicas, tem também que enfrentar as dificuldades impostas por um meio ambiente degradado e vulnerável.

Existe atualmente um movimento convergente (social + ambiental) que propõe, além do cuidado em relação ao uso dos recursos da natureza, a busca de soluções para a questão da desigualdade, da fome e da pobreza. Entendendo que o mesmo sistema que degrada a natureza também explora o trabalhador, este movimento não acredita ser possível alcançar a sustentabilidade apenas por meio de soluções parciais e reformistas que preservam as leis do mercado.

Apesar de todos os indicadores refletirem o contrário, o pensamento ainda dominante na nossa sociedade é o de que o crescimento da economia não tem limites, é infinito. Quando questionados sobre os impactos negativos da ação do homem sobre a natureza, a resposta é que a própria tecnologia vai encontrando soluções para cada impacto negativo. Entretanto, fazendo uma análise mais global, pode-se notar que a cada nova solução criam-se outros impactos, formando-se uma espiral crescente.

a Toda atividade econômica gera desgastes

Desenvolvimento Rural Sustentável

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Sustentabilidade socioambiental

Toda atividade econômica gera desgastes. Mas como sabemos até onde podemos ir? O grau aceitável de exploração da natureza é dado sempre pelo respeito à capacidade de regeneração de um determinado recurso. Quando a exploração vai além disso, podemos estar provocando sua degradação irreversível.

A economia dominante tem provocado níveis crescentes de degradação irreversível, que tendem a superar a capacidade de regeneração da natureza. A

esses impactos se atribui o conceito de . externalidades

Externalidades positivas também ocorrem. Um exemplo disto são os benefícios da aplicação de processos de produção agroecológica sobre a qualidade do solo, da água e sobre a saúde das pessoas.

As externalidades são impactos, geralmente não esperados, da ação de um agente econômico sobre o meio ambiental e social externo ao empreendimento. Podem afetar positiva ou negativamente outros agentes ou grupos sociais externos. Um exemplo de externalidade negativa é a contaminação das águas de uma bacia hidrográfica por agrotóxicos usados na agricultura.

b Relações entre teorias econômicas e Ecologia

As relações entre as teorias econômicas e a Ecologia podem ser entendidas através de três linhas principais: a Economia Convencional, a Economia Ambiental e a Economia Ecológica.

Economia Convencional

A visão dos economistas clássicos convencionais ignora a questão ecológica. Para eles, o meio ambiente é um celeiro infinito de “bens livres” a serem apropriados e transformados em valor econômico, com o amparo das leis do mercado. Não considera a exaustão dos recursos, parecendo que o sistema natural tem um poder infinito de regeneração.

a nossa produção

é sustentável e

respeita as futuras

gerações!

a nossa produção

é sustentável,

custe o que custar!

Page 22: Desenvolvimento Rural

Economia Ambiental

Esta linha leva em consideração os aspectos ecológicos de forma a sempre procurar encaixá-los em um enfoque muito próximo à economia convencional. Podemos dizer que a Economia Ambiental buscou contornar as críticas que sofreu por meio da incorporação de elementos ambientais. Na economia ambiental são definidos pelo mercado preços para os recursos naturais antes “livres” ou comuns. Nesta economia são atribuídos os valores à degradação dos recursos e da poluição do meio ambiente. Para a Economia Ambiental, a natureza estaria, então, dentro da economia.

Economia Ecológica

A terceira forma de ver a relação entre economia e ecologia é completamente nova: considerar a economia como parte do sistema maior, que é a natureza. Em conseqüência, considera que não é atribuindo preço aos recursos que se evitará sua degradação ou exaustão.

A economia é vista como integrante do “sistema natureza”, com ele tendo relações diretas. Assim, o mau uso dos recursos irá, em médio ou longo prazo, afetar a própria economia. Leva-se em conta que alguns dos processos econômicos podem causar danos irreversíveis aos recursos naturais, que deverão tornar-se mais escassos no futuro. Esta é a visão da Economia Ecológica.

Na Economia Ecológica, além da preocupação com a destinação eficiente de recursos, outras duas características são fundamentais: a justiça na distribuição dos recursos naturais e da riqueza e o respeito à capacidade de suporte do meio ambiente.

20 Desenvolvimento Rural Sustentável

A EVOLUÇÃO DO

ECONOMISTA

A EVOLUÇÃO DO

ECONOMISTA

A EVOLUÇÃO DO

AMBIENTALISTA

A EVOLUÇÃO DO

AMBIENTALISTA

Page 23: Desenvolvimento Rural

4

No capítulo 4 discutiremos os impactos da exploração econômica sobre os recursos naturais do ponto de vista do uso das tecnologias. Falaremos sobre o princípio da precaução e sobre nossas responsabilidades como moradores do planeta Terra.

Page 24: Desenvolvimento Rural

22

4 Otimismo tecnológico ou princípio da precaução?

tecnologia é capaz de resolver o problema ou devemos nos precaver?

É freqüente ouvirmos falar que não há porque nos preocuparmos com a degradação do meio ambiente, pois o avanço tecnológico sempre irá encontrar novas soluções para restaurar os danos causados pela exploração econômica. A crença de que podemos substituir os recursos naturais por novo capital ou conhecimento (produto da ciência e da tecnologia) não leva em conta o desgaste da natureza e sua incapacidade de regenerar-se sempre.

A

Ignorando os limites naturais, o homem tem excedido cada vez mais o grau de exploração dos recursos, acreditando (ou

desejando que a sociedade acredite) que os recursos podem ser extraídos indefinidamente e que os impactos poderão sempre ser remediados com mais avanço científico e tecnológico. Este comportamento irracional é chamado por alguns autores de “religião do otimismo tecnológico”, visto que se baseia em uma fé cega na tecnologia, sem relação com a realidade. Seguindo nesta velocidade, poderemos presenciar mais breve do que se acreditava, uma devastação que coloca em risco a própria sobrevivência do homem no planeta.

A maior parte dos problemas ecológicos não tem sequer efeitos bem conhecidos. Isto deveria levar a uma atitude de precaução, tomando como exemplo o aquecimento global, já que não podemos ter certeza sobre o funcionamento futuro dos ecossistemas (MARTINEZ-ALIER 1993).

Desse modo, para as atividades econômicas onde ainda não temos respostas (o que parece constituir a maioria deles), deveríamos atuar segundo o princípio da precaução. A falta de uma certeza sobre as reais conseqüências das nossas ações sobre o meio ambiente, especialmente onde existem ameaças sérias de efeitos irreversíveis, deveria levar a medidas de prevenção.

Desenvolvimento Rural Sustentável

Page 25: Desenvolvimento Rural

• Ecologicamente de risco

• Dependentes de elevados recursos energéticos

• Parcialmente recicláveis

• Possuem alto grau de contaminação

• Têm caráter intensivo

• Preocupam-se com o crescimento quantitativo

• Respondem às demandas do mercado externo

• Seguem padrões próprios da cultura urbana

• São homogêneas, não considerando as características locais

• Demandam especialização

• Requerem o manejo de especialistas

• Operam mediante processos complicados

• Geralmente revelam um custo muito elevado

• Incrementam a dependência

• Não consideram as características do agricultor familiar

Principais problemas das tecnologias usadasde acordo com o modelo econômico atual

23

Fonte

: A

dapta

do d

e JA

RA

(1

99

9).

Otimismo tecnológico ou princípio da precaução?

Page 26: Desenvolvimento Rural

24

“(...) A infraestrutura já estava pronta quando nós chegamos. Apesar de tentativas elogiáveis, como a do deputado que queria emendar a lei da gravidade para atenuar os gastos da aviação com combustível, não há como alterar as regras do seu funcionamento. Cabe a nós, isto sim, cuidar da manutenção da Terra. Todos os argumentos conservacionistas teriam mais força se conseguissem nos convencer de que somos inquilinos do mundo, obrigados a prestar contas de cada arranhão no fim do contrato. A escatologia cristã deveria substituir o Salvador que voltará para nos julgar por um Proprietário que virá retomar seu imóvel. O Juízo Final seria um minucioso inventário em que todos os estragos que fizemos na Terra seriam contabilizados – e cobrados.– Cadê a floresta que estava aqui? Valia uma fortuna.

Este rio não está como o deixei...Estão faltando 117 espécies de animais...

A humanidade poderia tentar negociar e apontar as benfeitorias – monumentos, praças, jardins, áreas férteis onde outrora havia desertos – para compensar a devastação. O Proprietário não se impressionaria (...).

Fiquem com todas as suas catedrais, represas, cidades e shoppings, quero o mundo de volta como o entreguei!Não precisamos de uma mentalidade ecológica. Precisamos de uma mentalidade de locadores com medo de ter que pagar indenização.”

– –

Luís Fernando Veríssimo

INQUILINOS

Desenvolvimento Rural Sustentável

Page 27: Desenvolvimento Rural

5

A partir de agora conheceremos outro aspecto importante do debate sobre o desenvolvimento sustentável: a agricultura. Apresentaremos um breve histórico sobre o desenvolvimento no meio rural e o impacto das políticas econômicas de crescimento e exploração socioambiental sobre o campo.

Page 28: Desenvolvimento Rural

26

D

5 Desenvolvimento Rural Sustentável

entro do debate sobre desenvolvimento sustentável surge sempre com destaque a preocupação com a agricultura, buscando uma agricultura sustentável. Do ponto de vista ecológico, a agricultura sustentável centra suas preocupações, fato de que os recursos sejam utilizados em um ritmo compatível ao tempo em que levam para se regenerar. Dá muita importância à utilização de recursos locais e aos conhecimentos tradicionais. Toma como base o desenvolvimento de tecnologias que procurem manter os processos ecológicos essenciais, como a reciclagem de nutrientes, a proteção e regeneração dos solos e da água e a conservação da diversidade biológica. Para além desses aspectos técnicos, procura garantir a inclusão social e criar alternativas de trabalho e renda para os agricultores.

a Evolução recente da agricultura brasileira

A agricultura brasileira tem como característica central a produção para satisfazer os mercados dos países ricos. Esta herança da época colonial perdura até hoje, quando há a exploração de forma indiscriminada dos recursos naturais e deixando de lado a conservação ou uso sustentável dos mesmos.

No fim do século XIX e início do século XX houve uma grande evolução da química agrícola e da mecânica, que se tornaram as bases das novas tecnologias agrícolas. A química agrícola, por exemplo, tornou-se a base de desenvolvimento dos fertilizantes sintéticos e dos agrotóxicos. No Brasil, a partir dos anos 1950-60, se iniciava a aplicação destas tecnologias em larga escala.

O problema fundiário no Brasil também tem raízes longínquas e a opção feita naquela época foi a de buscar o aumento de produção por meio da modernização tecnológica, sem nenhuma reforma na distribuição da terra. A perspectiva da política dominante em relação à agricultura foi assim chamada de modernização conservadora, pois seu objetivo consistia na transformação da agricultura convencional em “moderna”, mediante a incorporação de tecnologias, sem mudanças na estrutura de propriedade da terra.

Desenvolvimento Rural Sustentável

Page 29: Desenvolvimento Rural

27

Desenvolvimento Rural Sustentável

Estrutura fundiária no BrasilNúmero de estabelecimentos e área total (%) - 2003.

As tecnologias geralmente vinham na forma de pacotes tecnológicos, ou seja, um conjunto de recomendações e calendários para o uso de insumos e equipamentos, que substituía os processos convencionais. Uma vasta rede de interesses comerciais se formou ao redor do novo negócio e a propaganda foi empregada fortemente.

No Brasil, a década de 70 apresentou um crescimento econômico sem precedentes, em termos de Produto Interno Bruto (PIB). Este processo foi denominado de “milagre econômico brasileiro”. Tivemos como conseqüência, ao mesmo tempo, a concentração dos capitais, da terra e da renda. Nessa época, a contribuição da agricultura ao chamado “milagre” consistia em aumento de produtividade, associado à expansão da exploração das fronteiras agrícolas. Os enormes impactos sociais e ambientais causados pelo avanço da agricultura empresarial (agronegócio) praticamente não recebiam destaque maior. A euforia em torno do milagre e o autoritarismo político não permitiam que a voz dos movimentos sociais e ecológicos fosse ouvida. Posteriormente, com um grau maior de democratização e a evidência crescente dos impactos sociais e ambientais, foi possível o aparecimento de uma crítica ao modelo econômico dominante. Assim, ficou mais claro que tanto a degradação ambiental como a exclusão social eram produtos do mesmo modelo econômico, em que a natureza era vista como fonte infindável de recursos.

57,6% das propriedades rurais brasileiras(com até 25 ha) ocupam 6,3% do território brasileiro

0,8% das propriedades rurais brasileiras(com mais de 1000 ha)

ocupam 43,7% do território brasileiro

Médiosproprietários

Grandes proprietários

Pequenos proprietários

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.

Page 30: Desenvolvimento Rural

28 Desenvolvimento Rural Sustentável

A modernização conservadora utilizou o modelo do monocultivo intensivo, que é a causa de redução de biodiversidade, poluição química dos solos, águas, alimentos e conseqüente contaminação dos seres humanos. Alguns exemplos são apontados a seguir:

A ocupação dos diversos biomas brasileiros pela agropecuária moderna se inicia pela derrubada sem critérios da vegetação original. Dessa forma, espécies vegetais foram retiradas, e, conseqüentemente, os animais que se alimentam desses vegetais, incluindo por vezes espécies , podem ser literalmente extintos com toda a sua diversidade, que muitas vezes não foram estudadas.

endêmicas

Este modelo de agricultura pode também levar, com o tempo, a mudança do ciclo da água e da chuva, contribuindo para o aquecimento global. Também estamos perdendo espécies importantes, e esta perda de agrobiodiversidade põe em risco a própria segurança alimentar.

b Impactos ambientais

Espécies que ocorrem somente em determinada região geográfica restrita.

Pela chuva, irrigação e correntes naturais (riachos, rios), os resíduos de agrotóxicos e de fertilizantes usados pela agricultura moderna são transportados, tanto para grandes distâncias quanto para profundidades cada vez maiores nos horizontes dos solos, atingindo os .

Cultivos que dependem de grandes quantidades de água de irrigação podem provocar desequilíbrio na distribuição de água entre agricultores, escassez e comprometimento da produção e até a extinção de fontes. Por outro lado, o descuido com a proteção de nascentes e das margens de cursos d’água é igualmente preocupante. A simples retirada da proteção vegetal das margens, prática comum para aproveitamento econômico total da terra, prejudica os cursos d’água por retirar uma proteção natural contra a erosão.

lençóis freáticos

ÁGUA

Lençol freático é o nome dado à água subterrânea que preenche todos os espaços porosos e permeáveis das rochas ou dos solos ou ainda de ambos ao mesmo tempo.

BIODIVERSIDADE

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ALIMENTOS

Os alimentos produzidos em massa recebem uma dose pesada de agrotóxicos. Os mais diversos produtos químicos são encontrados em uma grande variedade de alimentos. Muitos desses resíduos têm efeitos negativos sobre a saúde humana, levando a diversos tipos de câncer, danos nas funções reprodutivas e no sistema nervoso.

É importante destacar que, além da contaminação indireta por meio dos alimentos, os agricultores estão sujeitos aos efeitos diretos dos agrotóxicos, pelo seu manuseio quase diário.

SOLOS

Desenvolvimento Rural Sustentável

O sistema adotado pela agricultura moderna simplifica ao máximo a produção. Os solos são revirados ou remexidos e, sofrendo o impacto das águas, se desagregam e são levados para os rios. A erosão de toneladas de solo por hectare leva à perda irreparável de toda a sua evolução. O uso dos adubos químicos e agrotóxicos comprometem a vida dos microorganismos, matando a vida no solo.

Como resultado da simplificação e da falta de manejo adequado, os solos sofrem os efeitos da compactação e das dificuldades de drenagem natural, a perda de matéria orgânica e de outros nutrientes e a redução da atividade biológica. Por fim, a redução de sua fertilidade leva à necessidade de ainda mais insumos.

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A modernização da agricultura, nas condições em que se realiza, introduz um elemento de grande instabilidade também em relação à segurança e soberania alimentar nos países latino-americanos. A opção por produtos de exportação em lugar de alimentos básicos reduziu a agrobiodiversidade. Assim, a modernização, que teria vindo para acabar com o problema da fome, agrava-o ainda mais. A agricultura brasileira sempre desempenhou um papel importante dentro da lógica econômica agroexportadora, a qual visou prioritariamente ampliar a exportação de produtos, tais como a soja, a cana-de-açúcar, o café ou a laranja, enquanto se reduziu o cultivo de alimentos como o arroz, o feijão, a mandioca, o milho, o trigo, entre outros.

30 Desenvolvimento Rural Sustentável

c Impactos sociais

A modernização agropecuária trouxe exclusão social, porque aumentou ainda mais a concentração das terras, destruiu parte da agricultura tradicional e provocou um enorme êxodo rural. Um grande número de agricultores que não puderam adotar os padrões técnicos e econômicos da modernização agrícola, foram excluídos do processo, o que resultou em uma das maiores migrações de todos os tempos. Em aproximadamente 25 anos, a população rural que consistia em ¾ do total, reduziu-se a ¼.

êxodo

rural

= = Latifúndios e

monocultivosinchaco

nas cidades

destruicão

da natureza

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No último capítulo do Caderno de Desenvolvimento Rural Sustentável vamos nos aproximar das soluções possíveis para recuperarmos a crise socioambiental que vivemos e descobrir o papel da ATER neste contexto.

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O

6 Como superar a crise?

modelo de agricultura que foi estabelecido no Brasil e no mundo provocou uma grave crise socioambiental e o aumento de produção teve como conseqüência um alto grau de degradação ecológica e exclusão social.

Deste modo, temos hoje a necessidade de alterar com urgência o conflito entre economia e ecologia, buscando a sustentabilidade na agricultura. Para tanto, já temos alternativas concretas, especialmente através da perspectiva agroecológica e dos processos participativos de desenvolvimento. São listados no quadro abaixo algumas das maneiras de responder à crise social e ambiental da agricultura.

•Reciclagem de matéria orgânica, em um circuito quase fechado.•Uso de fontes renováveis de energia em lugar do petróleo.•Baixa exigência de insumos externos: produção baseada no manejo da biodiversidade.•Possibilidade de recuperar os danos ambientais: conservação dos recursos de uso comum.•Utilização de recursos locais e redução da dependência financeira externa.•Potencial de promoção do aumento da biodiversidade geral e da base genética alimentar.•Redução dos custos de produção.•Geração de novas alternativas de trabalho e renda.•Alternativas alimentares saudáveis para os consumidores.•Fortalecimento das economias locais e regionais, geralmente estagnadas e importadoras.•Permanência da família agricultora no campo, tendo como objetivo a construção de um “meio rural vivo”, .

(solar, biomassa, eólica)

como elemento de inclusão social

Alternativas agroecológicas e participativas para enfrentara crise socioambiental na agricultura

Extraído de Von der Weid, 1997.

Desenvolvimento Rural Sustentável

Será que é essetipo de desenvolvimento

sustentável que queremos?

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Como superar a crise?

O papel dos técnicos é muito importante para alcançar a sustentabilidade

agroecológica, e deve estar na base do trabalho do profissional de ATER.

Atualmente existe uma grande imprecisão conceitual sobre a

Agroecologia. Por exemplo, confunde-se a Agroecologia com algumas das

correntes de agricultura ecológica, especialmente com a agricultura orgânica. É também, muitas vezes, entendida como um novo “pacote tecnológico” ou mesmo como apenas mais um nicho de mercado.

Uma das tendências atuais mais fortes é a grande evolução da agricultura orgânica em termos de mercado. Isto tem levado a uma grande simplificação de processos, reduzindo o potencial amplo oferecido pela Agroecologia, para uma simples produção sem agrotóxicos. Hoje algumas das correntes de agricultura orgânica se assemelham muito ao monocultivo convencional. Novamente aqui

Muitas das correntes da produção de base ecológica na agricultura, embora nascida do movimento da chamada agricultura alternativa, enveredaram para o puro e simples agronegócio ecológico, desconsiderando os princípios socioambientais que inspiraram aquele movimento.

O papel do técnico para alcançar a sustentabilidade na agricultura

Uma questão freqüentemente levantada hoje é a possibilidade de se desenvolver uma agricultura sustentável em explorações empresariais de grande escala. Acerca disso, pode-se dizer que, embora a agricultura comercial possa sofrer algumas adequações ecológicas específicas, é a diversidade e o manejo cuidadoso que proporcionam a estabilidade ao sistema agrícola. Deste modo, cabe também a pergunta:

Pode uma agricultura sustentável existir sem a agricultura familiar?

Acreditamos que não. A lógica de uma agricultura empresarial é tirar o lucro máximo do seu investimento o mais rapidamente possível, ocupando grandes extensões de terra e explorando os recursos naturais de forma indiscriminada.Para o agricultor familiar, a agricultura não é só uma fonte de lucro, mas é também um modo de vida. Deriva daí a certeza de que o agricultor familiar cuidará de manter seu patrimônio natural e legá-lo para as gerações futuras (princípio essencial da sustentabilidade).

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O papel dos técnicos é muito importante para alcançar a sustentabilidade agroecológica, e deve estar na base do trabalho do profissional de ATER. Atualmente existe uma grande imprecisão conceitual sobre a Agroecologia. Por exemplo, confunde-se a Agroecologia com algumas das correntes de agricultura ecológica, especialmente com a agricultura orgânica. É também, muitas vezes, entendida como um novo “pacote tecnológico” ou mesmo como apenas mais um nicho de mercado.

Uma das tendências atuais mais fortes é a grande evolução da agricultura orgânica em termos de mercado. Isto tem levado a uma grande simplificação de processos, reduzindo o potencial amplo oferecido pela Agroecologia, para uma simples produção sem agrotóxicos. Hoje algumas das correntes de agricultura orgânica se assemelham muito ao monocultivo convencional. Novamente aqui temos uma faceta do desenvolvimento baseado na sustentabilidade fraca, em que

Muitas das correntes da produção de base ecológica na agricultura, embora nascida do movimento da chamada agricultura alternativa, enveredaram para o puro e simples agronegócio ecológico, desconsiderando os princípios socioambientais que inspiraram aquele movimento.

Desenvolvimento Rural Sustentável

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PROGRAMA DE EXTENSÃO RURAL AGROECOLÓGICA DE BOTUCATU E REGIÃO

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Secretaria da Agricultura Familiar

SECRETARIA DEAGRICULTURA E ABASTECIMENTO Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico