desenvolvimento local e desenvolvimento endógeno

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90 Ano VIII • Nº 14 • Julho de 2006 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Resumo Este artigo trata da questão do desenvolvimento sob a ótica da Eco- nomia Regional. Inicialmente pro- move uma revisão da evolução des- ta área de conhecimento e da sua formação micro e macroeconômica, destacando alguns aspectos pouco considerados na literatura que ver- sa sobre as raízes da teoria da loca- lização industrial. Aborda as novas contribuições relacionadas com o desenvolvimento local e endógeno. Palavras-chave: Economia Regio- nal, Desenvolvimento Regional, De- senvolvimento Local, Economia Es- pacial. Abstract This article deals with the deve- lopment issue under the Regional Economy approach. Initially it is made a review of the evolution of this analysis approach, as well as its macroeconomic and microeconomic concepts, highlighting some aspects that are less studied under the literature concerned with the roots of the industrial localization theory. It approaches new contributions related endogenous and local deve- lopment. Key words : Regional Economics, Regional Development, Local Deve- lopment, Spatial Economy. Introdução Este artigo, além desta introdu- ção e de uma conclusão, é composto por duas partes que no entendimen- to dos autores se complementam. A DESENVOLVIMENTO LOCAL E DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO: QUESTÕES CONCEITUAIS Areza Batista Gomes Barros 1 Norma Lúcia Oliveira da Silva 2 Noelio Dantaslé Spinola 3 primeira faz uma breve revisão his- tórica da evolução da “ciência regi- onal” como queria Walter Isard (1956,1971) fazendo o registro de diversas contribuições que normal- mente estão esquecidas nos compên- dios acadêmicos. A análise desta evolução histórica foi limitada pela disponibilidade de espaço para pu- blicação ficando de fora muito ma- terial de pesquisa que se imagina po- der publicar posteriormente. A inser- ção do tema neste texto tem o propó- sito de provocar outros pesquisado- res da história econômica e de esta- belecer um debate acadêmico, práti- ca que parece em extinção na vida universitária. Nesse sentido vale questionar se tem razão Masahisa, Krugman e Venables (2002, p.50) quando afir- mam que a ciência regional nunca assumiu realmente o papel que Isard havia imaginado e que a ciência regi- onal em momento algum conseguiu sequer se integrar à economia urba- na tradicional. 4 Não obstante tal descrendenciamento, para Richard- son (1975, p.16-20) a economia regio- nal reflete as vantagens de uma aborda- gem interdisciplinar no estudo dos pro- blemas locacionais e regionais. Muitos desses problemas não poderiam ser com- preendidos em função apenas da ciência econômica. Richardson acredita que o crescente interesse pela economia re- gional e as teorias locacionais devem- se a motivações de natureza política. Porém salienta a importância da in- vestigação das conseqüências deriva- das do onde as atividades econômi- cas se realizam. Segundo Richardson existem três formas de analisar as implicações econômicas da dimen- são espacial. A primeira supõe que a localização da população e dos de- mais recursos é fixa concebido o es- paço como um atrito no fluxo de bens entre dois pontos fixos (economia ur- bana); a segunda supõe trata o espa- ço como matriz para a localização das atividades econômicas, supondo a heterogeneidade espacial (localiza- ção empresarial); e a terceira concen- tra-se nas inter-relações entre as regi- ões e a economia nacional (economia regional) 5 . A segunda parte deste artigo tra- ta de questões conceituais em torno das idéias relacionadas com o de- senvolvimento local e o desenvolvi- mento endógeno. Também buscan- do polemizar, o texto critica as im- precisões de linguagem e a verdadei- ra “babel” que se forma quando di- ferentes autores tratam do assunto. 1 Economista. Mestranda em Análise Regional pela Universidade Salvador (Unifacs) 2 Administradora de Empresas. Mestranda em Análise Regional pela Universidade Salvador (Unifacs) 3 Economista. Doutor em Geografia pela Universidade de Barcelona – Es. Professor titular do Progra- ma de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador (Unifacs) 4 Realmente existe muita indefinição conceitual, como se verá a seguir no uso indistinto de categorias diferentes como desenvolvimento local e desenvolvimento endógeno. 5 A economia urbana fornece as bases econômicas para os estudos de desenvolvimento endógeno enquanto a teoria da localização e a economia regional referem-se ao desenvolvimento local.

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Questõs conceptuais

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  • 90 Ano VIII N 14 Julho de 2006 Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    ResumoEste artigo trata da questo do

    desenvolvimento sob a tica da Eco-nomia Regional. Inicialmente pro-move uma reviso da evoluo des-ta rea de conhecimento e da suaformao micro e macroeconmica,destacando alguns aspectos poucoconsiderados na literatura que ver-sa sobre as razes da teoria da loca-lizao industrial. Aborda as novascontribuies relacionadas com odesenvolvimento local e endgeno.

    Palavras-chave: Economia Regio-nal, Desenvolvimento Regional, De-senvolvimento Local, Economia Es-pacial.

    AbstractThis article deals with the deve-

    lopment issue under the RegionalEconomy approach. Initially it ismade a review of the evolution of thisanalysis approach, as well as itsmacroeconomic and microeconomicconcepts, highlighting some aspectsthat are less studied under theliterature concerned with the rootsof the industrial localization theory.It approaches new contributionsrelated endogenous and local deve-lopment.

    Key words: Regional Economics,Regional Development, Local Deve-lopment, Spatial Economy.

    IntroduoEste artigo, alm desta introdu-

    o e de uma concluso, compostopor duas partes que no entendimen-to dos autores se complementam. A

    DESENVOLVIMENTO LOCAL EDESENVOLVIMENTO ENDGENO: QUESTES

    CONCEITUAIS

    Areza Batista Gomes Barros 1

    Norma Lcia Oliveira da Silva2

    Noelio Dantasl Spinola3

    primeira faz uma breve reviso his-trica da evoluo da cincia regi-onal como queria Walter Isard(1956,1971) fazendo o registro dediversas contribuies que normal-mente esto esquecidas nos compn-dios acadmicos. A anlise destaevoluo histrica foi limitada peladisponibilidade de espao para pu-blicao ficando de fora muito ma-terial de pesquisa que se imagina po-der publicar posteriormente. A inser-o do tema neste texto tem o prop-sito de provocar outros pesquisado-res da histria econmica e de esta-belecer um debate acadmico, prti-ca que parece em extino na vidauniversitria.

    Nesse sentido vale questionar setem razo Masahisa, Krugman eVenables (2002, p.50) quando afir-mam que a cincia regional nuncaassumiu realmente o papel que Isardhavia imaginado e que a cincia regi-onal em momento algum conseguiusequer se integrar economia urba-na tradicional.4No obstante taldescrendenciamento, para Richard-son (1975, p.16-20) a economia regio-nal reflete as vantagens de uma aborda-gem interdisciplinar no estudo dos pro-blemas locacionais e regionais. Muitosdesses problemas no poderiam ser com-

    preendidos em funo apenas da cinciaeconmica. Richardson acredita que ocrescente interesse pela economia re-gional e as teorias locacionais devem-se a motivaes de natureza poltica.Porm salienta a importncia da in-vestigao das conseqncias deriva-das do onde as atividades econmi-cas se realizam. Segundo Richardsonexistem trs formas de analisar asimplicaes econmicas da dimen-so espacial. A primeira supe que alocalizao da populao e dos de-mais recursos fixa concebido o es-pao como um atrito no fluxo de bensentre dois pontos fixos (economia ur-bana); a segunda supe trata o espa-o como matriz para a localizao dasatividades econmicas, supondo aheterogeneidade espacial (localiza-o empresarial); e a terceira concen-tra-se nas inter-relaes entre as regi-es e a economia nacional (economiaregional)5.

    A segunda parte deste artigo tra-ta de questes conceituais em tornodas idias relacionadas com o de-senvolvimento local e o desenvolvi-mento endgeno. Tambm buscan-do polemizar, o texto critica as im-precises de linguagem e a verdadei-ra babel que se forma quando di-ferentes autores tratam do assunto.

    1 Economista. Mestranda em Anlise Regional pela Universidade Salvador (Unifacs)2 Administradora de Empresas. Mestranda em Anlise Regional pela Universidade Salvador (Unifacs)3 Economista. Doutor em Geografia pela Universidade de Barcelona Es. Professor titular do Progra-

    ma de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador (Unifacs)4 Realmente existe muita indefinio conceitual, como se ver a seguir no uso indistinto de categorias

    diferentes como desenvolvimento local e desenvolvimento endgeno.5 A economia urbana fornece as bases econmicas para os estudos de desenvolvimento endgeno

    enquanto a teoria da localizao e a economia regional referem-se ao desenvolvimento local.

  • 91Ano VIII N 14 Julho de 2006 Salvador, BARDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    Razes econmicas das teoriasda localizao

    As questes da concentrao e daaglomerao ocupam lugar centralnas teorias e nos modelos de locali-zao industrial, que dominaram acincia econmica regional, no s-culo passado. No mbito da teoriageral, tais questes se estabeleceram,basicamente, ao considerar-se ocomportamento dos consumidores eprodutores, por um lado, e o do Es-tado por outro, enquanto que, nocampo da teoria econmica espacialse determinaram a partir de consi-deraes setoriais. Esta diferencia-o importante, porque, deixandoa parte conexes inevitveis, ajudaa entender a delimitao dos cam-pos da micro e macroeconomia es-paciais, como a Teoria da Localiza-o Empresarial e a Economia Regio-nal, respectivamente.

    Para se chegar a um entendimen-to, desta natureza preciso ter pre-sente as sucessivas construes que,passo a passo, foram sendo elabora-das pelos chamados tericos da lo-calizao, as quais no so registra-das detalhadamente nos compndi-os de uso escolar e aparecem frag-mentados nas obras de vrios auto-res. nesta anlise evolutiva que aobservao da existncia de umamicroeconomia setorial frente a umamicroeconomia do comportamentoadquire toda relevncia, j que des-de o princpio das anlises locacio-nais todos os estudos se interessa-ram pela determinao de assenta-mentos timos para as produesagrrias e industriais.

    Segundo Ponsard (1958), a des-peito do mrito precursor de Cantil-lon6 foi Von Thnen o fundador daEconomia Espacial com a sua obraO Estado Isolado cuja teoria sobre aformao e estruturao do espaoagrcola constitui um paradigma damodernizao espacial. Posterior-mente, ainda de acordo com Pon-sard, os estudos da localizao in-dustrial agrcola foram substitudospelos relacionados com a localiza-o industrial, a partir da passagemda era da carruagem para a da es-trada de ferro.

    Seja qual for o motivo, a anliselocacional agrcola, segundo Arau

    (1971)7, s volta em 1922 com a obrade Brinkmann, seguidor das anli-ses thunesianas, traduzida para oingls em 1935, e, posteriormente, em1954, por Dunn no seu The Locationof Agricultural Production. As anli-ses de carter industrial assumiramo campo dos estudos espaciais quan-do Weber delimitou o mbito formaldesses estudos ao publicar em 1909sua obra Urber den Standort derIndustrien, onde elabora um modeloeconmico espacial destitudo detoda a casustica indutivista, empre-gando uma metodologia eminente-mente dedutiva. A contribuio deWeber, no s delimita o mbito es-pecfico da localizao industrialcomo provoca discusses posterio-res que garantiriam a sua continui-dade.

    Estas discusses compreendiam,em primeiro lugar, uma reflexo decarter geral que, segundo coloca-es de Schumpeter (1964) e outros,formulava a questo de que a teoriada localizao constitua uma teo-ria particular da microeconomiaconvencional ou se deveria compora microeconomia espacial, e, em se-gundo lugar, a inteno de defendere ampliar o modelo weberiano. Narealidade, ambos os questionamen-tos oferecem um tratamento concei-tual comum, no apenas porque ateoria de Weber foi estudada quaseque exclusivamente por tericos dalocalizao, mas a convergncia de-riva do fato de que em ambos os ca-sos o pretendido era a inter-relaoentre a incipiente teoria econmicaespacial e uma vigorosa microeco-nomia de base marginalista. im-portante destacar que sendo consi-derada a teoria espacial deve-se ajus-tar realidade as hipteses bsicasdo marco tradicional, e no caso damicroeconomia marginalista deve-se manter nas formulaes conven-

    cionais a contribuio weberiana,como algo essencial aos estudos es-paciais.

    Em termos histricos, Predhl(1927 apud PONSARD, 1958 p. 42)tenta reconsiderar os fundamentos daanlise locacional8. Contemporanea-mente, Engleander, em 1926, tenta-ria tratar, sob condies espaciais, amobilidade dos bens, especificamen-te a da oferta e da procura, conside-rando a vinculao que os gastos detransporte estabelecem entre neces-sidades e mercado. Hawttrey tam-bm em 1926, seguindo as idias deEngleander, aponta para a impor-tncia locacional dos centros comer-ciais e dos mercados bursteis eRitschel, em seu trabalho publicadoem 1927, destaca a importncia doconceito de circuito econmico eoferece um enfoque revelador porsuas perspectivas dinmicas, aindaque entendidas num sentido hist-rico (PONSARD, 1958).

    Como bvio, cada um dessesestudos fornecia um degrau adicio-nal num processo que tendia a con-duzir diretamente ao estabelecimen-to da teoria econmica espacial. Noobstante, todos estes intentos, pade-ciam de escassa formalizao. Poristo, segundo Arau (1971), Weig-man, em 1926, se interessou na cor-reo dessa deficincia o que reali-zou de forma complexa e abstrata.Ele pretendia assentar as bases parauma teoria econmica espacial rea-lista, destacando a necessidade dese abandonar o contexto inerente concorrncia perfeita e adotar umenfoque competitivo de carter res-trito, levando em conta a imobilida-de dos fatores que, por estarem numespao fsico determinado, motivamo aparecimento de inelasticidadesespaciais. Weigman destacou tam-bm, a necessidade de completar aaplicabilidade do enfoque do equi-

    6 Richard Cantillon (1680-1734) banqueiro francs de origem irlandesa foi redescoberto por W.S.Jevons o autor do Essay sur la nature du commerce em general escrito em torno de 1730.SegundoSchumpeter, Cantillon influenciou diversos economistas que inclusive plagiaram sua obra, estandoincludo entre estes o notvel Adam Smith. Discute-se at hoje os seus mritos como predecessor dacincia econmica e da economia espacial. (SCHUMPETER, 1964, p.313).

    7 As citaes a Arau no representam transcries literais. Foram traduzidas do espanhol por NoelioD. Spinola e incorporadas fragmentadamente e complementadas no texto de acordo com a interpre-tao e informaes adicionais agregadas pelo tradutor e autor deste artigo.

    8 Isard em seu Location and Space-Economy apresenta uma interessante anlise da concepo dePredohl (1971, p.31).

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    lbrio walrasiano base germnicade gestalt. Em toda a sua contribui-o, Weigman parte da considera-o da economia como um todo,pensando em torno das suas formasbsicas de unidades espaciais (re-gio, mercado, marco competitivo).Porm, se bem considere os proble-mas que podero advir para a anli-se, com a incluso de uma economiaaberta, tal fato no parecia preocu-p-lo significativamente. No entan-to Ohlin, que em 1933 no seu Co-mrcio inter-regional e internacional,procura demonstrar que a teoria docomrcio internacional somente umaparte da teoria geral da localizao. Es-tabelece, assim, um modelo de deter-minao dos preos no qual se defi-ne uma interdependncia geral emrelao com a variao dos mesmosnuma multiplicidade de mercados(ARAU, 1971).

    As investigaes tendentes a es-tabelecer os fundamentos da econo-mia espacial so reforadas, em1929, pelos trabalhos de Hotelling eseu modelo de economia de aglome-rao e, em 1935, por Palander, o pri-meiro economista fora da Alemanha atrabalhar nesta rea do conhecimento.A contribuio de Palander consis-tiu na tentativa de determinar umsistema de equilbrio para as anli-ses espaciais (PONSARD, 1958).

    Segundo Arau (1971) em 1948,Lsch com a sua Teoria EconmicaEspacial, constri uma teoria verda-deiramente geral do espao econ-mico, ao considerar uma teoria da loca-lizao, uma teoria das regies e umateoria de intercmbio. Esta teoria ela-borada por Lsch distingue-se radi-calmente da abordagem weberiana,

    na medida em que enfatiza a defini-o das reas de mercado e tomacomo motivo principal da localiza-o, a maximizao do lucro. Segun-do Losch as regies so espaos demercado rodeados por fronteiraseconmicas. Aparecem como umademarcao espacial originada dojogo das foras econmicas. Para seuestabelecimento, deve-se partir daanlise de fatores econmicos taiscomo as foras de aglomerao e aseconomias de escala.

    Ao se tratar de regio, no se podeolvidar a importncia de Boudeville(1965) com os conceitos de regiohomognea, regio polarizada e re-gio de planejamento que tanto in-fluenciaram o planejamento regio-nal brasileiro nas dcadas de 1960 e1970.

    Fechando a primeira metade dosculo XX, merece referncia aHoover com o seu The Location ofEconomic Activity de 1948, onde bus-ca aprofundar a abordagem dasquestes da localizao industrial,com os conceitos das economias deescala associadas eficincia tc-nica das empresas e as economiasurbanas decorrentes da disponibili-dade de infra-estrutura9.

    Por fim, h que se fazer dois re-gistros especiais. Primeiro, ao ge-grafo alemo Walter Christller e asua Teoria da Localidade Central, querepresenta uma das mais vigorosascontribuies para o desenvolvi-mento da economia urbana, notada-mente no que tange aos estudoslocacionais do comrcio e dos servi-os. Christaller est ausente de v-rios tratados de economia espacial,inclusive daqueles que tratam dahistria deste campo do saber, emque pese a inter-relao com Lsch10.

    O segundo registro refere-se Isard,cuja contribuio significativa paraa macroeconomia do espao e paraos mtodos de anlise regional, queso utilizados at os tempos atuais11.

    Na dcada de 1950, surgiram v-rias teses importantes para a teoriado desenvolvimento regional e paraos sistemas de planejamento desen-volvidos nos anos 1960. Destacam-se entre essas os conceitos: a deterio-rao dos termos de intercmbio eda industrializao como fator es-tratgico para ruptura do subdesen-volvimento de Raul Prebisch e daCepal12; de plo de crescimento, deFranois Perroux ; da base de ex-portao de Douglas North ; dacausao circular acumulativa,de Gunnar Myrdal ; do big push deRosenstein Rodan e o tricking downforces de Albert Hirschman . Todasestas idias-fora foram incorpora-das por Celso Furtado, em 1959, nodocumento mais famoso do planeja-mento regional do Brasil intituladoUma poltica de desenvolvimento eco-nmico para o Nordeste que cria asbases tericas da Superintendnciado Desenvolvimento do Nordeste(Sudene), tambm criada em 195913(SPINOLA, 2003).

    Segundo Krugman (1991) os es-foros intelectuais na busca da pro-duo de idias que contribuam parao desenvolvimento regional prosse-guem a partir dos anos 1970, com oseconomistas considerados evolucio-nistas e institucionalistas, represen-tados por Becattini, Pyke, Sengen-berger, Stoper, etc. Esses utilizam oargumento das externalidades din-micas e redescobrem a teoria dos dis-tritos industriais, desenvolvida ori-ginalmente por Marshall. Porm, dis-tanciam-se dos autores antes citados

    Na dcada de 1950,

    surgiram vrias teses

    importantes para a

    teoria do desenvolvi-

    mento regional e para os

    sistemas de planeja-

    mento desenvolvidos

    nos anos 1960...

    9 Sobre Hoover comenta Isard : In the way he is able to synthesize the various theoretical contributionsof his predecessors that are of practical valueHoover writings are the best (1956,p.30).

    10 Quem estuda a histria deve sempre estar atento para os vieses ideolgicos e corporativos e asposturas nacionalistas. freqente economistas exclurem gegrafos em suas citaes e vice-versa.Tambm franceses e ingleses possuem uma longa rivalidade intelectual ignorando mutuamente emdiversas situaes.

    11 lamentvel que, depois de tantos anos, as obras seminais de Isard no tenham sido traduzidas parao portugus.

    12 Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe (Cepal).13 Em termos do planejamento regional a Bahia foi pioneira no Brasil com o Plano de Desenvolvimento

    da Bahia (Plandeb), elaborado por Rmulo de Almeida e equipe e concludo em 1958. A tese dedesenvolvimento de Rmulo era oposta a de Furtado em alguns aspectos bsicos, porm esta outrahistria.

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    uma vez que admitem o papel dosagentes locais (atores, protago-nistas) na organizao dos fatorese na coordenao do processo cumu-lativo.

    Levando-se em conta as teoriasdesenvolvidas nos anos 50 e as es-tratgias endgenas desenvolvidasmais recentemente, o elemento rele-vante a se destacar a inovao tec-nolgica. Esta se apresenta comouma aprendizagem contnua e acu-mulativa das empresas para melho-rar os produtos, os processos e a ges-to funcionando como um incre-mento produtividade e competiti-vidade. Antes de tudo, a tecnologiadeve ser observada no somentecomo um objeto que se oferece aomercado, mas, tambm, como umprocesso de aprendizagem socialque, em todo caso, uma contribui-o substancial aos processos deDesenvolvimento Local que seroexaminados a seguir.

    As novas denominaes doprocesso de desenvolvimento:a estratgia do desenvolvi-mento local

    A partir da dcada de 1970, quan-do se registra a crise do modelofordista de produo em massa; adescoberta dos distritos industri-ais marshalianos na Terceira Itlia14

    por Arnaldo Bagnasco, Carlos Tri-glia e Sebastiano Brusco; e o traba-lho seminal de Michael Piore eCharles Sobel, com a proposta de umnovo paradigma tecnolgico, o daespecializao flexvel cuja formaespecial seria o distrito industrial15 ,complementada por inmeras outrascontribuies importantes de Be-cattini , Scott , Storper e Walker,(BENKO, 1994 p.10) so lanadas asbases do que viria a ser conhecidocomo desenvolvimento local.

    Segundo Benko (1994 p. 10):Entre a industrializao clssica dotringulo Milo-Turim-Gnova e osubdesenvolvimento desesperada-mente persistente do Mezogiorno,emergiam cidades e vales que, ba-seando-se exclusivamente nas suasenergias, se integravam vitoriosa-mente ao mercado de trabalhomundial, atravs de uma indstriaespecfica. Enquanto os primeirosestudos insistiam nas caractersti-

    cas sociais dessas regies16de desen-volvimento endgeno (a construosocial do mercado) Becattini observouque o tipo de organizao industri-al dessas regies, mistura de con-corrncia-emulao-cooperao noseio de um sistema de pequenas emdias empresas, fazia lembrar umvelho conceito: o distrito industri-al de Alfred Marshall.

    Ainda sobre esses distritos indus-triais italianos, geradores das estra-tgias de desenvolvimento local ouendgeno, cabe destacar duas im-portantes colocaes formuladaspor Becattini visto contriburem deforma esclarecedora para algunsaspectos que sero tratados em se-guida neste artigo.

    Becattini afirma que:O distrito industrial uma entida-de socioterritorial caracterizadapela presena ativa de uma comu-nidade de pessoas e de uma po-pulao de empresas num deter-minado espao geogrfico e hist-rico. No distrito, ao invs do queacontece noutros tipos de meios,como por exemplo as cidade in-dustriais, tende a criar-se umaosmose perfeita entre a comunida-de local e as empresas..........................................................A sua caracterstica mais marcante o seu sistema de valores e de pen-samento relativamente homogneo expresso de uma certa tica dotrabalho e da atividade, da fam-lia, da reciprocidade e da mudan-a o qual, de alguma maneira,condiciona os principais aspectosda vida....Paralelamente a este sis-tema de valores, desenvolveu-seum corpo de instituies e de re-gras destinadas a propagar essesvalores a todo o distrito, estimu-lando a sua adoo e transmissode gerao em gerao..... Em ter-mos simples o distrito um casoconcreto de diviso do trabalholocalizada, no diluda num mer-cado geral nem concentrada no seio

    de uma ou vrias empresas. O ter-mo localizao no significa aqui aconcentrao acidental de vriosprocessos produtivos estabeleci-dos no mesmo local devido a atra-o de fatores prprios da regio.Pelo contrrio, as empresas enra-zam-se no territrio, e no poss-vel conceituar este fenmeno semter em conta a sua evoluohistrica.(BECATTINI apud BEN-KO, 1994 p.20).

    parte os aspectos eminentemen-te histricos e culturais que respon-dem pela existncia e sucesso dosdistritos industriais italianos, desta-que-se, por fim, que as estratgias dedesenvolvimento local tiveram gran-de sucesso em outros pases da Euro-pa (a Espanha o maior exemplo)graas aos macios investimentos afundo perdido efetuados pela UnioEuropia (UE) no bojo do ProgramaLeader17. Nos Estados Unidos, tam-bm foram citados como exemplo oaglomerado de indstrias do Vale doSilcio (SAXENIAN, 1980, BENKO,1991 apud BENKO 1994).

    importante observar que desen-volvimento local, endgeno, auto-sustentvel, integrado, comunitrioetc. constituem expresses que repre-sentam diferentes estratgias que,por isto mesmo, comportam diferen-tes definies.18 No se trata aqui de

    14 A denominada Terceira Itlia compreende a regio polarizada por Bolonha e Firenze.O conceito dedistrito industrial foi forjado por Alfred Marshall em 1900.

    15 Conceito forjado por Alfred Marshall em 1900.16 Um aspecto extremamente importante que no observado pelos pases que buscam importar esse

    modelo.17 Nas dcadas de 1990, principalmente, foram executados diversos programas de investimento na Espanha

    e Portugal objetivando fomentar o desenvolvimento destes pases e criar condies para a sua integraono bloco econmico da Unio Europia. Parte desses investimentos foram realizados no financiamento, afundo perdido, de empreendimentos empresariais agrcolas, industriais e de turismo.

    18 Neste artigo sero considerados apenas os aspectos relacionados com o desenvolvimento local e oendgeno.

    ... a tecnologia deve

    ser observada no

    somente como um objeto

    que se oferece ao

    mercado, mas, tambm,

    como um processo de

    aprendizagem...

  • 94 Ano VIII N 14 Julho de 2006 Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    uma simples questo de hermenu-tica (aos olhos dos mais pragmti-cos), mas de um problema metodol-gico19 que no s compromete o ri-gor cientfico exigido de quem tra-balha com as cincias sociais comodistorce, confunde e dificulta, em ter-mos universais, o sentido de polti-cas pblicas adotadas sob o rtulodessas denominaes.20

    Gonzlez (1998) considera mui-to importante diferenciar o desen-volvimento local, do que chama delocalizado. Para ele,

    el desarrollo localizado se tratade un desarrollo econmico y soci-al, localizado en un espacio con-creto dentro de una dinmica ge-neral cambiante. Es un procesogeneral que afecta a todas lasestructuras productivas y socialesy que se distribuye por todos losterritorios afectados por el mismo(GONZALEZ, 1998, p.6).

    No entendimento deste autor odesenvolvimento local correspondeao que aqui no Brasil denomina-mos de endgeno. Ou seja: um pro-cesso diferente no sentido de que voluntrio e combinado, ou pelomenos conhecido, pelo conjunto deuma coletividade concreta na que serealiza um processo diferenciadodaquele que ocorre em seu entornoprximo, mediante a introduo deinovaes que geram valor adiciona-do a suas atividades produtivas ecotidianas (GONZALEZ, 1998, p.6).Neste sentido quando o desenvolvi-mento de um determinado espaoocorre como conseqncia de fato-res exgenos dever-se-ia denomi-

    n-lo simplesmente de desenvolvi-mento regional. Neste caso a expres-so desenvolvimento local e end-geno seriam sinnimas.

    O desenvolvimento endgenoobedece a uma viso territorial (e nofuncional) dos processos de cresci-mento e mudana estrutural, queparte de uma hiptese de que o terri-trio no apenas um mero suportefsico dos objetos, atividades e pro-cessos econmicos, mas tambm que um agente de transformao terri-torial, segundo Agnew & Ducan(1989), Giddens (1991) e Albagli(1999) apud Lastres e Cassiolato(2000).

    Por seu turno Barquero (2002)considera que os processos de de-senvolvimento endgeno ocorremgraas utilizao produtiva dopotencial de desenvolvimento pos-sibilitado quando as instituies emecanismos de regulao do terri-trio funcionam eficientemente. Aforma de organizao da produo,a estrutura familiar, a estrutura so-cial e cultural e os cdigos de con-duta da populao condicionam osprocessos de desenvolvimento favo-recendo ou limitando a dinmicaeconmica e, em definitivo, determi-nam o rumo especfico do desenvol-vimento das cidades e das regies.

    O desenvolvimento endgeno um processo que passa por diversasfases, Baquero (1999) e Mal (2001),identificam trs dimenses impor-tantes desse processo: a primeira decarter econmico, que permite aosempresrios e agentes econmicoslocais usar eficientemente os fatoresprodutivos e alcanar os nveis deprodutividade que lhes permitem sercompetitivos nos mercados; a segun-da, de cunho sociocultural, na qualos atores econmicos e sociais se in-tegram com as instituies locais for-mando um sistema denso de rela-es que incorporam os valores dasociedade no processo de desenvol-vimento local endgeno; e, a terceirae ltima, de carter poltico, que ins-

    trumentaliza, mediante as iniciati-vas locais, permitindo criar um en-torno local que estimule a produoe favorea o desenvolvimento.

    importante observar que o au-mento da eficincia do sistema deproduo nas regies, no umacondio suficiente para que se sa-tisfaam melhor as necessidades ele-mentares da populao local, inclu-sive observa-se que a degradaodas condies da vida de algumaspopulaes conseqncia da intro-duo de tcnicas mais avanadas(FURTADO 1979).

    Isto decorre da prpria naturezaconcentradora do sistema capitalis-ta. Como Nurkse (1957) afirmava,nos pases pobres as prprias for-as do mercado perpetuam a pobre-za, dado que, para sair dela, so ne-cessrios investimentos para au-mentar a produtividade. Nurkse ad-mite que a dificuldade desta situa-o fruto no somente da escassapoupana dos pobres, mas, tambm,pela falta de incentivo e benefciospara a construo de indstrias dealta produtividade, uma vez que omercado local existente demasiadopequeno. Complementando Nurksedestacaramos tambm a necessida-de de substanciais investimentos naeducao bsica e tecnolgica, desti-nada fundamentalmente para as ca-madas mais pobres da populao,nico caminho vivel para a promo-o da desconcentrao da renda.

    A inexistncia de poupana lo-cal constitui realmente um entravepara qualquer estratgia de desen-volvimento que se objetive. Este pa-rece ser um fato pouco consideradopelos adeptos do desenvolvimentolocal. Vale lembrar que os exemploscitados: distritos industriais marsha-lianos, Vale do Silcio e experinciaespanhola, que geraram toda a eu-foria em torno do paradigma da es-pecializao flexvel e do desenvol-vimento local, no possuem identi-ficao com a realidade brasileira.O que ocorreu no Vale do Silcio foi

    ... o aumento da

    eficincia do sistema

    de produo nas regies,

    no uma condio

    suficiente para que se

    satisfaam melhor as

    necessidades

    elementares da

    populao local...

    19 Aqui tambm se reflete a dificuldade dos economistas em lidar com o espao e os desencontrosconceituais entre a economia regional e a urbana.

    20 Entendemos que estas expresses representam estratgias de polticas pblicas, no constituindo,de per si, teorias. Esto, de modo geral, integradas teoria do desenvolvimento econmico com basekeynesiana ou neo-schumpeteriana.

  • 95Ano VIII N 14 Julho de 2006 Salvador, BARDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    um fenmeno que Hirschman (1958)definiria como forward effects a par-tir da massa crtica de conhecimen-tos gerados pela vizinha Universi-dade Stanford e outras similares noestado mais rico do pas mais rico eavanado tecnologicamente do mun-do. Os distritos industriais italianosconstituem um fenmeno estrutural-mente histrico (de uma regio onde,segundo vrios estudiosos do assun-to, a solidariedade uma caracters-tica poltica formada ao longo de s-culos, da ser tambm conhecidacomo Itlia Vermelha pelo predom-nio do partido comunista italiano naadministrao comunal o que, alis,fez com que a regio fosse excludados benefcios do Plano Marshallpara a Europa) e, sobretudo, um pro-duto da cultura mediterrnea, algopeculiar, sui generis, e intransmis-svel.. J o ocorrido na Espanha de-veu-se principalmente ao estmulodecorrente da injeo macia de re-cursos no exigveis pela Unio Eu-ropia atravs do Programa Leader.

    Diante do exposto e segundo umenfoque pessimista, porm realista,existe uma iluso desenvolvimen-tista que esquece o quadro econmi-co predominante, (que sempre foi econtinua sendo cada vez mais acen-tuado com o processo de globa-lizao), baseado em trocas desi-guais entre os pases, estados ou re-gies industrializados (ou primeiromundo) e os pases, estados ou regi-es perifricos e semiperifricos (di-tos emergentes ou subdesenvolvi-dos) (ARRIGHI, 1997) o que, segun-do Walerstein (1998), essencialpara a estabilidade da economia ca-pitalista mundial.

    Desta forma, pode-se identificar,a nvel internacional, os pases doNorte e os pases do Sul; a nvel naci-onal (Brasil), o Sudeste e o Nordeste;e, a nvel baiano, o Litoral e o Interiorsendo que, os primeiros esto sem-pre se apropriando de uma parceladesproporcional dos benefcios dadiviso internacional do trabalho,enquanto que os segundos colhemapenas os benefcios que so neces-srios para conserv-los na relaode troca desigual (ARRIGHI, 1997).

    O termo periferia descreve umasituao geral, mas que tem sentido

    estrito, decorrente do desenvolvi-mento desigual da economia capi-talista. O argumento chave do desen-volvimento desigual, de acordo comas teorias desenvolvidas por Myrdal(1957) e Hirschman (1958) deve-seao fato de que as foras econmicasde atrao e repulso atuam no es-pao, de forma desequilibrada, atra-vs de um processo circular cumu-lativo. Uma vez que as foras de atra-o favoream uma regio, em detri-mento de outra, estabelece-se umprocesso de concentrao de fatoresde produo de bens no espao ocentro , cujas relaes de troca coma regio desfavorecida a periferia reproduzem a dinmica centro-periferia.

    O fator escala da produo aglome-rada, ao nvel do territrio, o fatorchave desta dinmica, pois cria re-tornos crescentes localizados. Mesmoque a teoria vislumbre uma eventualreverso deste movimento de polari-zao espacial, favorecendo a atra-o de fatores e de produo de bensnas regies perifricas, nada indicauma convergncia inter-regional donvel de desenvolvimento. Ao contr-rio, a dinmica de reverso da pola-rizao geograficamente restrita alocalidades prximas ao centro, ca-racterizando o que Richardson (1975)denominou de disperso concen-trada.

    ConclusoDiante do exposto, fica claro que,

    se por um lado, existem aqueles quedefendem a inexistncia de espaopara o surgimento espontneo dosprocessos de desenvolvimento dascidades, regies e pases perifricos,outros sustentam que, em determi-nadas condies, seriam possveisformas especficas de desenvolvi-mento dependente, mesmo que noseja generalizada para toda a peri-feria.

    Para Schumpeter (1963), o desen-volvimento no um fenmeno quepossa ser explicado economicamen-te. O processo de inovao assume,em sua viso, um carter dinmico,marcado pela reproduo de conhe-cimentos de indivduos e agentescoletivos. O conceito de sistema deinovao emerge dessa percepo da

    importncia de elementos como ainterao e a cooperao de atores.

    Como a economia afetada pelasmudanas do mundo que a rodeia,as causas e a explicao do desen-volvimento devem ser buscadas,tambm, fora dos estudos da teoriaeconmica. Para Barquero (2002) umdos pilares da poltica de desenvol-vimento local so aquelas iniciati-vas que favorecem a difuso das ino-vaes no tecido produtivo da loca-lidade ou do territrio e a melhoriade qualificao dos recursos huma-nos por meio da adequao da ofer-ta de capacitao s necessidadesdos diferentes sistemas produtivoslocais.

    A diferena entre aglomeraesprodutivas (baseadas em externali-dades marshalianas) e inovativas(baseadas em externalidades schum-peterianas) , principalmente, a ca-pacidade de criao de um ambien-te inovativo, caracterizado peloengajamento das pessoas de boaqualificao nas causas de inovaoe design, as trocas entre fornecedo-res e usurios e seus efeitos de enca-deamento, a presena de programasde qualificao seja de pessoal, sejadas atividades tcnicas e produtivase, principalmente, a cooperao en-tre os atores envolvidos, seja entrefirmas competidores ou entre usu-rios e produtores.

    Assim, relevante a formao decentros regionais de atividade eco-nmicas (ou aglomeraes geogrfi-cas de empresas) para a ocorrnciade inovaes (RESENDE, 2003). Essaaglomerao geogrfica estaria nabase de ganhos de produtividade naatividade de pesquisa que visa ino-vaes e que assegura crescenteseconomias de escala (KRUGMAN,1991), estimulando o investimento.As aglomeraes geogrficas de ati-vidades econmicas propiciam gan-hos de produtividade, favorecem aproduo de pesquisas que, por seu

    ... desenvolvimento

    no um fenmeno que

    possa ser explicado

    economicamente...

  • 96 Ano VIII N 14 Julho de 2006 Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    turno, podem ter xito na gerao deinovaes. Havendo maior produ-o de pesquisa, a probabilidade deocorrerem inovaes aumenta. Porfim, este modelo expressa a existn-cia de um ciclo virtuoso de cresci-mento: cada inovao que ocorre emdeterminada regio estimula o au-mento da renda nessa regio. Con-forme Krugman (1991), assumindoretornos crescentes de escala o au-mento da renda estimula o investi-mento que, segundo Porter (1990), seexpressa no incremento da aglome-rao geogrfica.

    No Brasil, a partir da dcada de1990, realizam-se programas de de-senvolvimento local sob a lideranado Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econmico e Social (BNDES),do Servio Brasileiro de Apoio sMicro e Pequenas Empresas (SE-BRAE) com a ativa participao deoutros organismos de fomento regi-onal federais e estaduais.21

    Os programas em execuo foramconceitualmente influenciados pelaexperincia aglomerativa dos distri-tos industriais italianos e do Vale doSilcio, na Califrnia, no mbito doparadigma da especializao flex-vel. No pas vasta e diversificada aproduo terica sobre este assun-to, sobretudo na rea acadmica,onde se destaca a contribuio doInstituto de Economia da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ) que vem, h muitos anos, como apoio de organismos internacio-nais, desenvolvendo projetos de pes-quisa na rea da inovao. O IE/UFRJ opera a Rede de Pesquisa emSistemas Produtivos e InovativosLocais (RedeSist) interdisciplinar,

    com a participao de vrias univer-sidades e institutos de pesquisa doBrasil e do exterior.

    Um dos primeiros conceitos rela-cionados com aglomeraes empre-sarias, surgidos no pas, foi o decluster. Segundo define a RedeSisteste termo associa-se tradioanglo-americana e, genericamente,refere-se a aglomerados de empre-sas, desenvolvendo atividades simi-lares. Ao longo do tempo o conceitoganhou nuances de interpretaosendo bastante utilizado no pas,notadamente pelo apelo que repre-senta para os nativos as expressesna lngua inglesa. Posteriormentesurgiu o conceito de arranjos produ-tivos locais, conhecidos pela siglaAPL, uma verso brasileira22. Em2003 a RedeSist assim o definia: soaglomeraes territoriais de agenteseconmicos, polticos e sociais - comfoco em um conjunto especfico deatividades econmicas - que apre-sentam vnculos mesmo que inci-pientes. Geralmente envolvem a par-ticipao e a interao de empresas- que podem ser desde produtoras debens e servios finais at fornecedo-ras de insumos e equipamentos,prestadoras de consultoria e servios,comercializadoras, clientes, entreoutros - e suas variadas formas derepresentao e associao. Incluemtambm diversas outras instituiespblicas e privadas voltadas para:formao e capacitao de recursoshumanos, como escolas tcnicas euniversidades; pesquisa, desenvolvi-mento e engenharia; poltica, promo-o e financiamento. O argumentobsico do enfoque conceitual e anal-tico adotado pela RedeSist era que:

    ...onde houver produo de qual-quer bem ou servio haver sem-pre um arranjo em torno da mes-ma23, envolvendo atividades e ato-res relacionados aquisio dematrias-primas, mquinas e de-mais insumos, alm de outros. Taisarranjos variaro desde aqueles

    mais rudimentares queles maiscomplexos e articulados (siste-mas). A formao de arranjos esistemas produtivos locais encon-tra-se geralmente associada a tra-jetrias histricas de construo deidentidades e de formao de vn-culos territoriais (regionais e lo-cais), a partir de uma base social,cultural, poltica e econmica co-mum. Sistemas so mais propci-os a desenvolverem-se em ambien-tes favorveis interao, coope-rao e confiana entre os atores.A ao de polticas, tanto pbli-cas como privadas, pode contri-buir para fomentar e estimular (eat mesmo destroar)24 tais proces-sos histricos de longo prazo.(REDESIST, 2005).

    J em 2004, fruto da evoluo dosestudos, surge o conceito dos Arran-jos e Sistemas Produtivos e InovativosLocais (ASPILS). Segundo a RedeSistconstitui esta uma abordagem maisadequada, pois nos ASPILs, geral-mente verificam-se processos de ge-rao, compartilhamento e socializa-o de conhecimentos, por parte de em-presas, organizaes e indivduos.Particularmente de conhecimentos t-citos, ou seja, aqueles que no estocodificados, mas que esto implci-tos e incorporados em indivduos, or-ganizaes e at regies. O conheci-mento tcito apresenta forte especifici-dade local, decorrendo da proximi-dade territorial e/ou de identidadesculturais, sociais e empresariais, tor-nando-se elemento de vantagem com-petitiva de quem o detm (REDESIST,2004). A partir desse momento osAPLS passam a ser considerados noglosrio da RedeSist apenas como ca-sos fragmentados e que no apresentamsignificativa articulao entre os atores.

    O fato que, como no existe umapadronizao de linguagem entre ospesquisadores e instituies dedica-das ao assunto, os termos cluster,APL e ASPILS, so usados como si-nnimos.

    Na tradio luso-brasileira desoluo dos problemas por decreto,

    21 Os programa de fomento s micro, pequenas e mdias empresas no Brasil datam da dcada de 1960porm utilizando metodologias e enfoques diferentes.

    22 Emocional e patrioticamente defendida em documento do BNDES [2004?].23 Esta interpretao ajusta-se como uma luva aos projetos de fomento as APLs nas regies menos

    desenvolvidas do pas. O grifo nosso.24 Uma marca tpica da corrente neo-schumpeteriana que domina esta rea.

    Os programas em

    execuo foram

    conceitualmente

    influenciados pela

    experincia aglomerativa

    dos distritos industriais

    italianos e do Vale

    do Silcio...

  • 97Ano VIII N 14 Julho de 2006 Salvador, BARDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    ou seja, formalmente no papel, exis-te, muito entusiasmo em torno deprojetos desta natureza e sob esteescopo. A exemplo do que j ocorreucom outros termos (plo, por exem-plo) estas so as palavras totmi-cas da vez. E todos administrado-res de projetos, notadamente no se-tor pblico, correm atrs dos seusclusters, apls, aspils, sem importa-rem-se muito com os fundamentostericos da questo. Aspectos cultu-rais, sociolgicos, tecnolgicos etc.so ignorados e numa perspectivaorwerliana reescreve-se a histria ajus-tando a realidade necessidademiditica e poltica dos protagonis-tas, sem qualquer considerao pelafragilidade, inadequao e at ainexistncia dos atores principais.

    Porm, quando efetivamente exis-tem25, os sistemas produtivos locaistm se mostrado, com disposioespecial para introduzir e adotarinovaes e, sobretudo, adaptar astecnologias mediante pequenas mu-danas e transformaes que permi-tem s empresas melhorar sua posi-o competitiva nos mercados Asexternalidades que surgem dos sis-temas locais de empresas podem ge-rar rendimentos crescentes e resul-tar, assim, no crescimento da econo-mia territorial. Alm do mais, quan-do a tecnologia disponvel permites empresas especializar-se em par-tes do processo produtivo, propor-cionam vantagens competitivas sempresas locais nos mercados naci-onais e internacionais.

    O principal condicionante terri-torial para o surgimento de sistemasprodutivos locais a capacidade deatrao de atividades correlatas ecomplementares, capazes de estabe-lecerem uma cadeia produtiva loca-lizada, de tal forma que o poder deinduo intersetorial seja internali-zado na aglomerao.

    Em outro nvel encontram-se aschamadas aglomeraes produtivas in-formais, que so compostas, geral-mente, por micros e pequenas empre-sas, cujo grau tecnolgico baixo emrelao fronteira da indstria e cujacapacidade de gesto precria. Afora de trabalho possui baixa quali-ficao, sem sistema contnuo deaprendizado. As dificuldades de

    verticalizao intersetorial local po-dem resultar em sistemas produtivosque so um aglomerado de empresasmono-produto, com baixo nvel detroca intra-arranjo. Ou seja, a fontemais tangvel de externalidades lo-calizadas comprometida pelo bai-xo desenvolvimento da cadeia local.

    No entanto, possvel reproduzircadeias relativamente completas emlocalidades perifricas, que se bene-ficiam de externalidades perrou-xianas, desde que puxadas por umcentro industrial nacional ou regio-nal de grande porte, capaz de aden-sar o espao regional. O desenvolvi-mento da diviso intra-regional dotrabalho possibilita, neste caso, umaespecializao local em atividadesindustriais tradicionais e a inter-nalizao substantiva da cadeia pro-dutiva, inclusive os segmentos demquinas e equipamentos. Assim, opoder de induo intersetorial potencializado e o mercado de traba-lho capaz de acumular, ao longo dotempo, capacitaes especficas, noreproduzveis em outras localidades.

    De toda a discusso o fato irre-futvel que todos os esforos paraa promoo do desenvolvimento soindispensveis, sobretudo porque acada dia se agrava mais o quadro deestagnao econmica e da deterio-rao das condies sociais de vas-tas regies da periferia capitalistanesse contexto de globalizao. Ogrande desafio consiste em pensar odesenvolvimento levando em consi-derao abordagens realmente efica-zes e ajustadas s nossas peculiari-dades culturais.

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    25 E com certeza existem, notadamente nas regies mais desenvolvidas do pas.

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    [email protected]

    Tel.: (71) 3273-8528

    1. Desenvolvimento Regional2. Desenvolvimento Urbano3. Turismo e Meio Ambiente

    MESTRADORECOMENDADO

    PELA CAPES

    REAS DE CONCENTRAO

    1. Adequar a formao dos profissionais demanda de um mercado detrabalho em que mais intensa a renovao do conhecimento cientficoe tecnolgico.

    2. Desenvolver a capacidade do profissional para apropriar-se de novosconhecimentos.

    3. Desenvolver a capacidade destes profissionais para contribuir em umasoluo de problemas scio-econmicos organizacionais locais, regio-nais e nacionais.

    4. Formar e atualizar professores, capacitando-os para o desempenho qua-lificado do ensino de graduao e ps-graduao.

    5. Formar uma massa crtica capaz de desenvolver trabalhos cientficosque contribuam para o desenvolvimento local, regional e nacional.

    6. Desenvolver a integrao Universidade/Empresa incentivando a realiza-o da pesquisa aplicada.

    7. Promover o aprimoramento do processo ensino/aprendizagem atravsdo incentivo realizao de pesquisas institucionais e o aperfeioamen-to do ensino de graduao.

    OBJETIVOS

    MESTRADOEM ANLISEREGIONAL

    /ColorImageDict > /JPEG2000ColorACSImageDict > /JPEG2000ColorImageDict > /AntiAliasGrayImages false /CropGrayImages true /GrayImageMinResolution 300 /GrayImageMinResolutionPolicy /OK /DownsampleGrayImages true /GrayImageDownsampleType /Bicubic /GrayImageResolution 100 /GrayImageDepth -1 /GrayImageMinDownsampleDepth 2 /GrayImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeGrayImages true /GrayImageFilter /DCTEncode /AutoFilterGrayImages true /GrayImageAutoFilterStrategy /JPEG /GrayACSImageDict > /GrayImageDict > /JPEG2000GrayACSImageDict > /JPEG2000GrayImageDict > /AntiAliasMonoImages false /CropMonoImages true /MonoImageMinResolution 1200 /MonoImageMinResolutionPolicy /OK /DownsampleMonoImages true /MonoImageDownsampleType /Bicubic /MonoImageResolution 300 /MonoImageDepth -1 /MonoImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeMonoImages true /MonoImageFilter /CCITTFaxEncode /MonoImageDict > /AllowPSXObjects false /CheckCompliance [ /None ] /PDFX1aCheck false /PDFX3Check false /PDFXCompliantPDFOnly false /PDFXNoTrimBoxError true /PDFXTrimBoxToMediaBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXSetBleedBoxToMediaBox true /PDFXBleedBoxToTrimBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXOutputIntentProfile (None) /PDFXOutputConditionIdentifier () /PDFXOutputCondition () /PDFXRegistryName () /PDFXTrapped /False

    /Description > /Namespace [ (Adobe) (Common) (1.0) ] /OtherNamespaces [ > /FormElements false /GenerateStructure true /IncludeBookmarks false /IncludeHyperlinks false /IncludeInteractive false /IncludeLayers false /IncludeProfiles true /MultimediaHandling /UseObjectSettings /Namespace [ (Adobe) (CreativeSuite) (2.0) ] /PDFXOutputIntentProfileSelector /NA /PreserveEditing true /UntaggedCMYKHandling /LeaveUntagged /UntaggedRGBHandling /LeaveUntagged /UseDocumentBleed false >> ]>> setdistillerparams> setpagedevice