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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UFSC CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE FITOTECNIA Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais DESENVOLVIMENTO ESTRUTURAL ASSOCIADO À BIOLOGIA REPRODUTIVA DE Campomanesia xanthocarpa O. Berg (MYRTACEAE) Florianópolis - SC 2013

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DESENVOLVIMENTO ESTRUTURAL ASSOCIADO À BIOLOGIA REPRODUTIVA DE MYRTACEAE.pdf

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UFSC

    CENTRO DE CINCIAS AGRRIAS

    DEPARTAMENTO DE FITOTECNIA

    Programa de Ps-Graduao em Recursos Genticos Vegetais

    DESENVOLVIMENTO ESTRUTURAL ASSOCIADO

    BIOLOGIA REPRODUTIVA DE Campomanesia xanthocarpa O.

    Berg (MYRTACEAE)

    Florianpolis - SC

    2013

  • CRISTINA MAGALHES RIBAS DOS SANTOS

    DESENVOLVIMENTO ESTRUTURAL ASSOCIADO

    BIOLOGIA REPRODUTIVA DE Campomanesia xanthocarpa O.

    Berg (MYRTACEAE).

    Programa de Ps-graduao em

    Recursos Genticos Vegetais, rea de

    Concentrao em Recursos Genticos

    Vegetais: Doutorado, no Centro de

    Cincias Agrrias da Universidade

    Federal de Santa Catarina (UFSC).

    Orientador: Prof. Dr. Miguel Pedro

    Guerra

    Co-orientadora: Profa. Dr

    a. Marisa

    Santos

    Florianpolis - SC

    2013

  • Hoje me dou conta de que todas as coisas tm seu prprio momento

    e que todo momento chega ao fim. Hoje me dou conta de que todas

    as coisas desempenham um papel divino em nossas vidas e nos

    enriquecem. Hoje me dou conta de que existe um novo agora,

    com novos momentos, com outros objetivos. Nesse

    momento encho-me de luz e alegria e agradeo

    por tudo o que vivi! (Iyanla Vanzant)

  • Para Carlos Fernando e Ana Laura,

    fiis e valentes companheiros

    nesta caminhada.

    Com todo meu amor!

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Programa de Ps-Graduao em Recursos Genticos

    Vegetais, da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Ao Professor Dr. Miguel Pedro Guerra por ter acolhido e

    orientado este trabalho, oportunizando meu crescimento profissional.

    Professora Dra. Marisa Santos pela pacincia e orientao

    competente neste processo de aprendizagem.

    Familia Agapito, proprietria do stio onde esto as plantas de

    Campomanesia xanthocarpa. Sem a oportunidade para as coletas, seria

    muito difcil desenvolver todas as etapas deste trabalho.

    Para Cres A. Ribas Hubner, porque sempre est presente nos

    momentos importantes da minha vida.

  • RESUMO

    Os recursos genticos de um pas, com rica diversidade biolgica como

    o Brasil, possuem expressivo potencial de uso para a alimentao

    humana e animal, obteno de fibras, pigmentos, condimentos, energia,

    princpios ativos para produo de medicamentos, alm de

    representarem um reservatrio de adaptabilidade gentica frente s

    mudanas ambientais. As Mirtceas nativas destacam-se como fonte

    potencial para diversos usos, por isso, existe a necessidade de melhor

    estudar esses recursos. Neste sentido, o presente trabalho buscou

    elucidar aspectos ligados biologia reprodutiva da Guabirobeira

    (Campomanesia xanthocarpa O. Berg.) associados ao desenvolvimento

    estrutural dos botes florais, elucidar os aspectos estruturais da

    fecundao cruzada e de um possvel mecanismo de

    autoincompatibilidade atuante, bem como estudar o desenvolvimento de

    frutos, sementes e embries. Os resultados mostraram que a etapa de

    florescimento dura, em mdia, 18 dias podendo-se dividir os estdios de

    desenvolvimento dos botes florais em B, C, D1, D2, E (estdio balo) e

    F (antese). O desenvolvimento dos andrfitos mostrou que os mesmos

    so capazes de emitir o tubo polnico a partir do estdio D1. Em relao

    ao desenvolvimento dos rudimentos seminais, a partir do estdio D1

    ocorreu a intensificao da formao das estruturas de proteo e a

    formao do saco embrionrio, embora este se complete somente no

    estdio E. A espcie investe em estruturas de proteo nas spalas

    (cutcula, glndulas de leo e tricomas) e em mecanismos ligados rota

    transpiratria estomtica e fotossntese (abundncia de complexos

    estomticos e cloroplastos). As ptalas servem de mecanismo de

    proteo ao androceu e ao gineceu at a antese, devido presena de

    glndulas de leo e ao formato convexo das clulas. O androceu

    polistmone provavelmente assume papel de atrao aos polinizadores

    pela abundncia de plen e material proteico que produz, alm de

    desenvolver as anteras que garantem a produo de gametas funcionais

    e facilitam a sua disperso no momento da antese, favorecendo a

    polinizao cruzada. O gineceu estrutura-se de forma a facilitar a adeso

    e a germinao dos gros de plen compatveis, o crescimento dirigido

    dos tubos polnicos, a cpula e a descarga dos gametas nos rudimentos

    seminais, com a consequente singamia, promovendo, assim a

    fecundao. As glndulas de leo e os tricomas secretores so

    estratgias extras adotadas pela espcie, no sentido de preservar as

    partes florais dos estresses ambientais, biticos e abiticos, a fim de

    garantir a perpetuao e a ocupao de novos espaos em seu hbitat

  • natural. O plen coletado na fase balo de desenvolvimento dos botes

    florais pode ser utilizado em polinizaes controladas e esta espcie

    apresenta alta eficincia reprodutiva, pois os tubos polnicos germinam

    duas horas aps a polinizao cruzada, crescendo rapidamente e de

    forma organizada, do estigma ao ovrio, com a penetrao nos

    rudimentos seminais trs dias depois. Devido ao comportamento dos

    tubos polnicos depois da polinizao geitonogmica pode-se concluir

    que existe barreira autofecundao, sendo a Incompatibilidade

    Homomrfica Gametoftica o mecanismo que melhor explica este

    comportamento. Os frutos levam, cerca de, 42 dias para se

    desenvolverem num padro sigmoidal que pode ser dividido em 5

    estdios. Devido s estruturas ovarianas formadoras do fruto j estarem

    presentes na pr-antese, esta fase de desenvolvimento da flor foi

    includa como estdio I. O estdio II o mais longo (30 dias) e abrange

    eventos como a fecundao e a embriognese (proembries, embries

    globulares, embries nos estdios cordiforme e de torpedo, at sua

    forma mirtide definitiva). O estdio III marca o incio do

    amadurecimento perceptvel dos frutos atravs da mudana de colorao

    e aumento em dimetro. O estdio IV um perodo de 2 dias com

    amadurecimento pleno dos frutos e aprimoramento de padres

    sensoriais. O estdio V o incio da rpida senescncia dos frutos da

    espcie. Os frutos apresentam estruturas de proteo desde a epiderme

    (tricomas e glndulas de leo) at as regies mais internas. Para garantir

    a disperso das sementes, a espcie investiu na regio mediana do

    pericarpo, formada por tecido parenquimtico rico em substncias

    nutritivas que garantem a recompensa para os dispersores. As sementes

    esto estruturadas de modo a proteger o embrio (cobertura com

    mucilagem e substncias oriundas das glndulas de leo, reserva

    alimentar no eixo hipoctilo-radicular e na hipstase), mas a

    caracterstica recalcitrante e o curto perodo de viabilidade dificultam

    sua utilizao.

    Palavras-chave: Campomanesia xanthocarpa, biologia reprodutiva,

    desenvolvimento estrutural, polinizao cruzada, autoincompatibilidade.

  • ABSTRACT

    Genetic resources of a rich biodiversity country such as Brazil, have

    high use potential for human and animal consumption, obtaining fibers,

    pigments, spices, active principles for drug production, and represent a

    pool of genetic adaptability in relation to environmental changes. Native

    Mirtaceae species stand out as a potential source for several uses.

    Taking this into account the present work seeks to elucidate aspects of

    the reproductive biology of Guabirobeira (Campomanesia xanthocarpa

    O. Berg) associated to the structural development of the flower buds, as

    well as to elucidate the structural aspects of cross-fertilization and a

    possible mechanism of self-incompatibility active and to follow the

    development of fruits, seeds and embryos. The results showed that the

    flowering stage takes about 18 days, dividing the development of floral

    buds in B, C, D1, D2, E (balloon stage) and F (total opening of the

    flower) stages. The pollen grains are able to emit the pollen tube starting

    from D1 stage. After the stage D1 it takes place the intensification of

    protective structures and the formation of the embryo sac, although this

    is complete only in E stage. The species invests in protective structures

    on the sepals (cuticle, oil glands and trichomes) and mechanisms related

    to transpiratory, photosynthetic and stomatal routes (stomatal complexes

    and chloroplasts). The petals are protection mechanisms for the

    androecium and the gynoecium until the complete flower opening, due

    to the presence of the oil glands and the convex shape of the cells that

    form a barrier around the reproductive organs. The androecium poly-

    staminate probably assumes the role of pollinator attraction due to the

    abundance of pollen and protein material, in addition to developing

    anthers which guarantee the production of functional gametes and

    facilitate their dispersion at the anthesis, favoring cross pollination. The

    gynoecium is structured to facilitate the adhesion and the germination of

    the compatible pollen grains, directing the growth of pollen tubes, thus

    facilitating coupling and the discharge of the gametes in the seminal

    rudiments with consequent syngamy and fertilization. Oil glands and

    trichomes are other strategies adopted by the C. xanthocarpa in order to preserve the flowers of environmental, biotic and abiotic stresses, to

    ensure the perpetuation of this species and the occupation of new spaces

    in their natural habitat. The pollen collected in the balloon stage of

    flower buds can be used in controlled pollinations. This species shows

    high reproductive efficiency because the pollen tubes germinate two

    hours after cross-pollination, growing rapidly and in an organized

    manner, the stigma to the ovary with penetration, three days later, in the

  • seminal rudiments. Due to the behavior of pollen tubes after self-

    pollination, it can be concluded that there is a barrier to self-fertilization

    and homomorphic gametophytic incompatibility is the mechanism that

    best explains this behavior. The fruits take approximately 42 days to

    develop, following a sigmoid pattern that can be divided into 5 stages.

    The pre anthesis already had ovarian structures formative of the fruit

    and thus this phase of flower development was adopted as stage I. The

    stage II is the longest (30 days) and encompasses events like as

    fertilization and embryogenesis (pro embryos, globular embryos, the

    embryos in the cordate and torpedo stages, until its final form mirtide).

    The III stage marks the beginning of the perceptible ripening of fruits by

    changing color and increase in diameter. The stage IV is a rapid period

    (2 days) for full ripening of fruits with enhancement of sensory patterns.

    The V is the beginning stadium of rapid senescence of the fruits of this

    species. The fruits have protective structures from the epidermis

    (trichomes and oil glands) to the more internal regions of the pericarp.

    In order to ensure seed dispersion, this species has invested in the

    median region of the pericarp, through the presence of the parenchymal

    tissue rich in nutrients, ensuring rewards for dispersers. The seeds are

    structured to protect the embryo (covering it with mucilage and

    substances contained in the oil glands and through the food reserves in

    the root-hypocotyl axis and hypostasis) but the recalcitrant characteristic

    and short viability of the seeds, hinders its use.

    Keywords: Campomanesia xanthocarpa, reproductive biology,

    structural development, cross-pollination, self-incompatibility.

  • SUMRIO

    INTRODUO ................................................................................... 19

    1- JUSTIFICATIVA ........................................................................... 21

    2 - REVISO BIBLIOGRFICA...................................................... 25

    2.1 FAMLIA MYRTACEAE: .......................................................... 25 2.2 CAMPOMANESIA XANTHOCARPA O. BERG .......................... 25 2.3 RGOS REPRODUTIVOS DAS ANGIOSPERMAS ............. 27 2.3.1 - Flores ......................................................................................... 27 2.3.1.1 Perianto (spalas e ptalas) ..................................................... 27 2.3.1.2 Androceu (estames) ................................................................ 28 2.3.1.3 Gineceu (carpelos) .................................................................. 28 2.3.2 Frutos ....................................................................................... 29 2.3.3 Sementes ................................................................................... 29 2.4 - CICLO BIOLGICO DAS ANGIOSPERMAS ........................... 30

    2.5 FECUNDAO........................................................................... 30 2.6 - AUTOINCOMPATIBILIDADE (AI) ........................................... 31

    2.6.1 - Autoincompatibilidade homomrfica gametoftica (AIG) ... 31

    2.6.2 - Autoincompatibilidade homomrfica esporoftica (AIE) ..... 32

    2.6.3 - Autoincompatibilidade heteromrfica (AIH) ........................ 32

    2.6.4 - Autoincompatibilidade crptica (AIC) ................................... 33

    2.6.5 - Autoincompatibilidade de ao tardia (AIT) ........................ 33 2.7 POLINIZAO CRUZADA ....................................................... 34 2.8 AUTOINCOMPATIBILIDADE EM C. XANTHOCARPA ......... 34 2.9 BIODIVERSIDADE .................................................................... 35 2.10 DOMESTICAO DE PLANTAS ........................................... 35 2.11 CULTIVO DE PLANTAS ......................................................... 36 2.12 CONSERVAO DE RECURSOS GENTICOS ................... 36

    3 OBJETIVOS DA TESE ................................................................ 37 3.1 - OBJETIVO GERAL ..................................................................... 37

    3.2 - OBJETIVOS ESPECFICOS ........................................................ 37

    4 - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................... 39

    SEO I

    DESENVOLVIMENTO DO PERIANTO, DO ANDROCEU E DO

    GINECEU DE Campomanesia xanthocarpa O. Berg

    (MYRTACEAE) .................................................................................. 45

  • RESUMO ............................................................................................. 51

    INTRODUO ................................................................................... 53

    1. METODOLOGIA ........................................................................... 55 1.1. LOCAL DE REALIZAO DAS ATIVIDADES: ...................... 55

    1.2 COLETA DOS RAMOS FLORAIS DE C. XANTHOCARPA .... 55 1.3 - ANLISE MORFOLGICA DO DESENVOLVIMENTO DO

    PERIANTO, DO ANDROCEU E DO GINECEU DE C.

    XANTHOCARPA................................................................................... 56 1.4 ANLISES ESTRUTURAIS DO DESENVOLVIMENTO DO ANDROCEU E DO GINECEU DE C. XANTHOCARPA .................. 56

    2 RESULTADOS E DISCUSSO .................................................. 61 2.1 ANLISES MORFOLGICAS DO DESENVOLVIMENTO DO PERIANTO, DO ANDROCEU E DO GINECEU DE C.

    XANTHOCARPA................................................................................... 61

    2.2 ANLISES ESTRUTURAIS DO DESENVOLVIMENTO DO ANDROCEU E DOS GROS DE PLEN DE C. XANTHOCARPA .. 67

    2.2.1 Desenvolvimento do androceu ............................................... 67 2.2.2 Desenvolvimento dos andrfitos (gros de plen) ................ 70 2.3 ANLISES ESTRUTURAIS DO DESENVOLVIMENTO DO GINECEU E DOS RUDIMENTOS SEMINAIS (VULOS) DE C. XANTHOCARPA................................................................................... 73

    2.3.1 Desenvolvimento do gineceu .................................................. 73 2.3.2 Desenvolvimento dos rudimentos seminais (vulos) ............ 76

    3- CONCLUSO ................................................................................. 81

    4 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................ 83

    SEO II

    ANLISE ESTRUTURAL DAS PARTES FLORAIS DE

    Campomanesia xanthocarpa O. Berg. (MYRTACEAE) .................. 87

    RESUMO ............................................................................................. 91

    INTRODUO ................................................................................... 93

    1. METODOLOGIA ........................................................................... 95 1.1. LOCAL DE REALIZAO DAS ATIVIDADES ....................... 95

  • 1.2 COLETA DOS RAMOS FLORAIS DE C. XANTHOCARPA ..... 95 1.3 - ANLISES ESTRUTURAIS DO PERIANTO, DO ANDROCEU,

    DO GINECEU E DAS ESTRUTURAS SECRETORAS DE C. XANTHOCARPA ................................................................................... 95

    2 RESULTADOS E DISCUSSO .................................................. 99 2.1 FLOR DE CAMPOMANESIA XANTHOCARPA ..................... 99 2.2 PERIANTO (CLICE E COROLA) DE C. XANTHOCARPA.... 99 2.3 ANDROCEU DE C. XANTHOCARPA ...................................... 104 2.4 GINECEU DE C. XANTHOCARPA .......................................... 108 2.5 ESTRUTURAS SECRETORAS EM C. XANTHOCARPA ....... 113

    3- CONCLUSO ............................................................................... 117

    4 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................... 119

    SEO III

    ANLISE DO PLEN, DA POLINIZAO CRUZADA E DA

    POLINIZAO GEITONOGMICA EM Campomanesia

    xanthocarpa O. Berg. (MYRTACEAE): IMPLICAES PARA A

    CONSERVAO E A DOMESTICAO .................................... 123

    Abstract .............................................................................................. 131

    INTRODUCTION ............................................................................. 133

    MATERIAL AND METHODS ........................................................ 134

    RESULTS AND DISCUSSION ........................................................ 136

    CONCLUSIONS ............................................................................... 151

    REFERENCES .................................................................................. 153

    SEO IV

    DESENVOLVIMENTO ESTRUTURAL DE EMBRIES,

    SEMENTES E FRUTOS DE Campomanesia xanthocarpa O. Berg.

    (MYRTACEAE) ................................................................................ 159

    RESUMO ........................................................................................... 165

  • INTRODUO ................................................................................. 167

    1. METODOLOGIA ......................................................................... 169 1.1. LOCAL DE REALIZAO DAS ATIVIDADES ..................... 169

    1.2 COLETA DE RAMOS E DE BOTES FLORAIS DE C. XANTHOCARPA................................................................................. 169 1.3 POLINIZAO CRUZADA CONTROLADA EM C. XANTHOCARPA................................................................................. 169 1.4 - COLETA DE FRUTOS E EXTRAO DE SEMENTES E

    EMBRIES ORIUNDOS DA POLINIZAO CRUZADA

    CONTROLADA EM C. XANTHOCARPA......................................... 171 1.5 - ANLISE ESTRUTURAL DE EMBRIES, SEMENTES E

    FRUTOS DE C. XANTHOCARPA ..................................................... 171

    2 RESULTADOS E DISCUSSO ................................................ 175 2.1 ESTDIOS DE DESENVOLVIMENTO DOS FRUTOS DE C. XANTHOCARPA................................................................................. 175

    2.2 DESENVOLVIMENTO MORFOLGICO DE EMBRIES E SEMENTES CORRELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO

    DOS FRUTOS DE C. XANTHOCARPA ............................................ 178

    2.3 ANLISE ESTRUTURAL DO DESENVOLVIMENTO DE EMBRIES E SEMENTES CORRELACIONADOS AO

    DESENVOLVIMENTO DOS FRUTOS DE C. XANTHOCARPA .... 182

    2.3.1 Anlise estrutural aos cinco dias aps a polinizao cruzada ............................................................................................... 182

    2.3.2 Anlise estrutural aos dez dias aps a polinizao cruzada ............................................................................................... 184

    2.3.3 Anlise estrutural aos trinta e sete dias aps a polinizao cruzada ............................................................................................... 187

    2.3.4 Anlise estrutural do fruto maduro de C. xanthocarpa ..... 189 2.4 ANLISE MORFOLGICA DA SEMENTE E DO EMBRIO MADURO DE C. XANTHOCARPA ................................................... 194

    3 CONCLUSO ............................................................................. 199

    4 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................... 201

  • 19

    INTRODUO

    Esta tese contm o trabalho desenvolvido com a espcie nativa

    Campomanesia xanthocarpa O. Berg. que buscou elucidar aspectos do

    desenvolvimento estrutural associado biologia reprodutiva da planta.

    Atravs de coletas em reas remanescentes de mata nativa de altitude,

    no interior do municpio de Alfredo Wagner/Santa Catarina e utilizando

    diferentes tcnicas disponveis em laboratrios da Universidade Federal

    de Santa Catarina, foi analisado o desenvolvimento do perianto, do

    androceu, dos andrfitos, do gineceu e dos rudimentos seminais desta

    espcie. Procurou-se determinar o comportamento reprodutivo atravs

    das polinizaes cruzada e geitonogmica controladas, alm de

    acompanhar o desenvolvimento estrutural de frutos, sementes e

    embries. Este documento foi dividido em uma parte introdutria

    contendo uma reviso bibliogrfica e em sees que abordam de forma

    detalhada o trabalho conduzido durante a realizao do Curso de

    Doutorado em Cincias no Programa de Ps-Graduao em Recursos

    Genticos Vegetais da Universidade Federal de Santa Catarina, no

    estado de Santa Catarina, Florianpolis, Brasil.

  • 20

  • 21

    1- JUSTIFICATIVA

    Os recursos genticos de um pas, com rica diversidade biolgica

    como o Brasil, possuem alto potencial de uso, especialmente no que diz

    respeito criao de novas opes voltadas alimentao humana e

    animal, obteno de fibras, madeira, pigmentos, condimentos, energia e

    fornecimento de princpios ativos para produo de medicamentos.

    Representam tambm, o reservatrio de adaptabilidade gentica, o qual

    permite s espcies adaptaes s mudanas ambientais que se

    manifestam de forma crescente em todo o planeta (RIDGEN &

    CAVALCANTI, 2002).

    Reconhece-se a importncia da grande variabilidade morfolgica

    e fisiolgica das espcies nativas, no que se refere tolerncia s

    condies edafoclimticas adversas, pois a flora nativa, milhares de

    anos interagindo com o ambiente, passou por um rigoroso processo de

    seleo natural que gerou espcies geneticamente resistentes e adaptadas

    ao nosso meio (LORENZI, 1992).

    Na lista da flora do Brasil publicada recentemente, esto

    relacionadas 40.989 espcies (FORZZA et al., 2010). A despeito desta riqueza de espcies vegetais nativas, a agricultura brasileira est apoiada

    na explorao de poucas espcies exticas domesticadas (LEITE &

    CORADIN, 2011). O setor agrcola um dos mais competitivos da

    economia brasileira, produzindo em torno de 40% do produto interno

    bruto do pas. Este segmento compreende todas as atividades e inter-

    relacionamentos que ocorrem neste complexo de negcios, do qual

    participam desde o consumidor final dos produtos agropecurios e seus

    derivados at chegar s instituies de pesquisa e universidades que so

    as bases de apoio desta cadeia. Quando se fala em complexo de

    negcios, no se refere somente produo de alimentos, mas a outras

    reas, como produo de ornamentais, reflorestamento, produo de

    sementes, arborizao urbana, bem como ao novo Mercado Ecolgico, que engloba os produtos verdes, como os fitoterpicos, a conservao de germoplasma, a recuperao de reas degradadas, os

    bioinseticidas, os cosmticos e os corantes (ALMEIDA, 1998).

    Uma tendncia bsica, na sociedade moderna, a de explorar a

    natureza, destruindo as riquezas naturais. O conceito de Agronegcio

    remete a esta tendncia exploratria da natureza humana. Nos ltimos

    anos, contudo, observa-se uma mudana neste conceito, quando se v a

    modificao do pensamento humano na direo de uma melhor

    qualidade de vida, sade e segurana alimentar, baseadas na

    conservao e respeito natureza (MAIA, 2000). Para que o potencial

  • 22

    dos recursos genticos nativos seja efetivamente utilizado, necessrio

    aprofundar o conhecimento das espcies e de seus usos, bem como

    adotar estratgias apropriadas e iniciativas voltadas valorizao e ao

    estmulo do uso dos componentes da flora nativa brasileira, por parte de

    outros segmentos da sociedade, incluindo a indstria, o comrcio e as

    populaes urbanas em geral (LEITE & CORADIN, 2011).

    Ainda, segundo Leite & Coradin (2011), na Regio Sul do Brasil,

    o uso dos recursos genticos vegetais nativos foi muito influenciado

    pelo processo histrico de ocupao territorial. Os migrantes europeus

    tiveram papel importante na introduo e disseminao de cultivos

    comuns nos seus pases de origem, tais como centeio, cevada, aveia,

    uva, ma, pra, ameixa e pssego, entre outras. No final do sculo XIX

    e incio do sculo XX, a utilizao de recursos florestais nativos

    alavancou o desenvolvimento dos trs estados do sul (Paran, Santa

    Catarina e Rio Grande do Sul).

    A despeito das constantes perdas nas reas de matas e campos, a

    vegetao caracterstica da regio sul ainda persiste, bem como, ainda

    persiste certa diversidade de espcies com potencial de uso pela

    populao. Espcies frutferas como ing-banana (Inga uruguensis Hook. & Arn.), buti (Butia capitata (Mart.) Becc.), araticum (Annona

    sp.), amora (Rubus sp.), so utilizadas localmente, fazendo parte da dieta

    das comunidades locais, especialmente da zona rural (RIZZINI &

    MORS, 1995). O caraguat (Bromelia antiacantha Bertol.), a

    guaatonga (Casearia sylvestris Sw.), a espinheira-santa (Maytenus ilicifolia Mart. Ex Reissek), o pau-andrade (Persea major (Nees)

    L.E.Kopp), a cataia (Drimys brasiliensis Miers), o jeriv (Syagrus

    romanzoffiana (Cham.) Glassman), a bracatinga (Mimosa scabrella Benth.), o catigu (Trichilia catigua A.Juss.), a taquara (Merostachys

    multiramea Hack.), o cincho (Sorocea bonplandii (Baill.)W.C.Burger, Lanj. & Wess Boer) e o bacupari (Garcinia gardneriana (Planch. &

    Triana) Zappi) so exemplos de plantas nativas associadas a diversos

    usos nas propriedades rurais da regio (LEITE & CORADIN, 2011).

    As Mirtceas nativas destacam-se como fonte potencial para

    diversos usos, especialmente alimentar, medicinal, ornamental,

    reflorestamento, recuperao de reas degradadas e arborizao urbana,

    podendo ser citadas a goiabeira-serrana (Acca sellowiana (O.Berg)

    Burret), o sete-capotes (Campomanesia guazumifolia (Cambess.) O. Berg), a guabirobeira (C. xanthocarpa O. Berg), a cerejeira-do-mato

    (Eugenia involucrata DC.), a batinga (E. rostrifolia D. Legrand), a

    pitangueira (E. uniflora L.), o araazeiro-do-mato (Myrcianthes gigantea (D. Legrand) D. Legrand), o guabij (M. pungens (O. Berg) D.

  • 23

    Legrand), o araazeiro-vermelho (Psidium cattleyanum Sabine), dentre

    outros (SANTOS, 2003). Atualmente, o uso das mirtceas nativas da

    Regio Sul est fortemente associado s comunidades locais, sobretudo

    em pequenas propriedades agrcolas, e s comunidades caiaras,

    quilombolas e indgenas, especialmente no que se refere ao uso desses

    recursos para fins energticos (lenha), para o consumo espordico de

    frutas, alm do uso para fins medicinais (LEITE & CORADIN, 2011).

    Por isso, existe a necessidade de gerar e disponibilizar tecnologia

    de uso sustentvel, de forma a viabilizar a utilizao comercial desses

    recursos. Para tal, necessrio o desenvolvimento de ferramentas

    biotecnolgicas, para a conservao de germoplasma, a facilitao de

    intercmbio de material vegetal e a multiplicao massal das espcies,

    com o objetivo de valorizar e reintroduzir os recursos vegetais nativos

    nos sistemas produtivos da regio, tais como as espcies nativas de

    Myrtaceae. Neste sentido, o presente trabalho busca elucidar aspectos

    ligados biologia reprodutiva de Campomanesia xanthocarpa, espcie negligenciada da famlia Myrtaceae, classificada como prioritria e

    apontada com uma Planta para o Futuro pelo projeto do Ministrio do Meio Ambiente.

  • 24

  • 25

    2 - REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 FAMLIA MYRTACEAE:

    Os sistemas de classificao botnica vm sofrendo mudanas ao

    longo do tempo. No presente estudo, adotou-se o sistema Angiosperm

    Phylogeny Group III (APG III, 2009). Desta forma, a famlia Myrtaceae

    pertence Angiosperma, Eudicotiledoneas Nucleares, Rosideae, clado

    das Malvdeas, ordem Myrtales. A famlia compreende cerca de 100

    gneros e 3.000 espcies de rvores e arbustos, com distribuio por

    todos os continentes, exceo da Antrtida, mas com ntida

    predominncia nas regies tropicais e subtropicais do mundo

    (MARCHIORI & SOBRAL, 1997). Constitui-se numa das famlias de

    melhor representatividade nas diferentes formaes vegetacionais do

    Brasil. Diversos autores (MORI et al., 1983; KLEIN, 1984; LEITO-

    FILHO, 1993; BARROSO & PERON, 1994; SOARES-SILVA, 2000)

    tm ressaltado a elevada riqueza especfica da famlia e a importncia

    fitossociolgica de suas espcies para as florestas do Sul e Sudeste do

    Brasil.

    Os representantes das mirtceas esto distribudos em duas

    subfamlias, Myrtoideae e Psiloxyloideae (WILSON et al, 2005).

    Myrtoideae inclue todas as espcies americanas e brasileiras, sendo que

    na vegetao do nosso Pas, elas abrangem 24 gneros: Acca O. Berg,

    Blepharocalyx O. Berg, Calyptranthes SW, Campomanesia Ruiz & Pav., Eugenia L., Gomidesia O. Berg, Hexachlamys O. Berg, Marlierea

    Cambess, Myrceugenia O. Berg, Myrcia DC., Myrcianthes O. Berg,

    Myrciaria O. Berg, Myrrhinium Schott, Neomitranthes D. Legrand, Paramyrciaria Kausel, Plinia L., Psidium L. e Siphoneugena O. Berg).

    As mirtceas nativas ocupam uma posio de destaque na fisionomia

    das florestas sul-riograndenses, estando melhores representadas nas

    Florestas Ombrfila Mista, Pluvial da Encosta Atlntica e, com menor

    freqncia, nas Florestas Estacionais do Alto Uruguai ou da Serra Geral

    (MARCHIORI & SOBRAL, 1997).

    2.2 CAMPOMANESIA XANTHOCARPA O. BERG

    Sinonmia: Campomanesia malifolia O. Berg Nomes Comuns: Guavirova, guabiroba, gabiroba, guabirobeira-

    do-mato.

  • 26

    A guabirobeira uma rvore de 10 a 25m de altura, com tronco

    provido de caneluras, copa arredondada em indivduos isolados, com

    densa folhagem verde-clara, semidecidual e ramos glabros. Folhas

    opostas, simples, inteiras, longamente peciolodas e com odor

    caracterstico. Flores solitrias ou em grupos, brancas, axilares,

    hermafroditas, pentmeras. Frutos amarelos, globosos e coroados de

    spalas, contendo numerosas sementes oval-achatadas com embries

    mirtoides. Possui ampla rea de distribuio natural, que se estende

    desde Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, at o norte do Uruguai e

    Provncia de Corrientes (Argentina). Habita, preferencialmente, stios

    midos, na Floresta Estacional Caduciflia e Floresta Ombrfila Densa

    (MARCHIORI & SOBRAL, 1997). planta decdua, mesfita e at

    helifita e seletiva higrfita. Abundante nas partes midas das matas de

    altitude (semidecduas e de pinhais), comum na floresta latifoliada

    semidecdua da bacia do Paran e rara na mata pluvial da encosta

    atlntica. Amplamente disseminada pela avifauna que ingere seus frutos

    (LORENZI, 1992).

    A madeira empregada para tabuado em geral, para confeco de

    instrumentos musicais e cabos de ferramentas. A rvore apresenta copa

    piramidal densa bastante decorativa podendo ser empregada no

    paisagismo em geral. tima para o plantio em reas degradadas de

    preservao permanente (LORENZI, 1992). A lenha apreciada para

    sapecagem e torrefao da erva mate, pois desprende um aroma

    agradvel durante a combusto (CORRA, 1984).

    Em termos de morfologia e anatomia, a maioria dos trabalhos

    aborda estudos das partes vegetativas adultas (ramos e folhas), da

    germinao, das diferentes partes das plntulas da guabiroba ou

    relacionados ao gnero Campomanesia. Neste sentido, salientam-se os

    trabalhos de Gogosz et al. (2010), investigando a germinao e a estrutura das plntulas de C. xanthocarpa crescendo em solo

    contaminado com petrleo e solo bioremediado, e os de Slis (2000),

    com estudos morfolgicos e anatmicos de folhas com domcias em C. guaviroba (DC.) Kiaersk, entre outros.

    A maioria dos estudos de composio bioqumica, em C. xanthocarpa, concentra as anlises nos frutos, tanto em termos de

    composio nutricional, como de potencial tecnolgico, e nas folhas,

    relacionando o potencial medicinal da guabiroba. Como exemplos,

    temos os trabalhos de Vallilo (2008), tratando da composio qumica

    dos frutos, e os de Klafke (2009), abordando os efeitos em parmetros

    bioqumicos, hematolgicos e de estresse oxidativo em pacientes

    hipercolesterolmicos.

  • 27

    2.3 RGOS REPRODUTIVOS DAS ANGIOSPERMAS

    2.3.1 - Flores

    A flor um ramo altamente modificado constitudo de uma haste

    (pedicelo) e de um receptculo, de onde emergem os apndices

    modificados: spalas, ptalas, estames e carpelos. Pode apresentar-se

    solitria ou agrupada em inflorescncias. composta por trs conjuntos

    de rgos apendiculares: o perianto (apndices externos de proteo

    e/ou atrao de polinizadores), o androceu e o gineceu. O perianto pode

    ser diferenciado em clice (spalas) e corola (ptalas). O androceu

    compreende o conjunto de estames (antera e filete) e o gineceu

    compreende os carpelos (estigma, estilete e ovrio) (MARIATH et al., 2006).

    O crescimento da flor determinado, pois o meristema apical

    cessa a atividade aps produzir todas as partes florais (ESAU, 1976).

    Como estrutura, na qual a reproduo ocorre nas Angiospermas, a flor

    sofreu vrias modificaes, durante a coevoluo com polinizadores

    como insetos e pssaros. Estas modificaes envolvem estruturas como

    o perianto e os nectrios (BECK, 2009). As flores tm sido estudadas

    principalmente como fonte de caracteres de importncia taxonmica e

    com relao a filogenia e a evoluo, porm, ressaltam Cutler et al.

    (2007), sua funo primordial na reproduo tambm tem sido objeto de

    muitas investigaes morfolgicas e fisiolgicas. Esses autores

    acrescentam que os estudos combinados de microscopia eletrnica de

    varredura e ptica contribuem para esclarecer a evoluo das flores e de

    outras caractersticas, como s relacionadas aos nectrios florais.

    2.3.1.1 Perianto (spalas e ptalas)

    As spalas so denominadas coletivamente de clice. Em muitas

    flores so verdes e fotossintetizantes (BECK, 2009). Lembram folhas

    quanto estrutura interna (parnquima fundamental, sistema vascular

    mais ou menos ramificado e epiderme). Clulas portadoras de cristais,

    laticferos, clulas taninferas e outros idioblastos podem estar presentes.

    As spalas verdes contm cloroplastos, mas raras vezes mostram

    diferenciao em parnquima palidico e esponjoso (ESAU, 1976).

    As ptalas so denominadas coletivamente de corola e, junto com

    o clice, formam o perianto. No so fotossinteticamente ativas, mas na

    forma e na vascularizao so muito semelhantes s folhas.

  • 28

    Frequentemente contm pigmentos e fragrncias que atraem os

    polinizadores (BECK, 2009). A cor das ptalas resulta de pigmentos

    contidos em cromoplastos (carotenoides) e no suco vacuolar

    (antocianinas) e de diversos outros fatores, como acidez do suco celular.

    As paredes externas das clulas epidrmicas das ptalas podem ser

    convexas ou papilosas, especialmente na face adaxial. Tanto spalas

    quanto ptalas podem apresentar estmatos e tricomas na epiderme

    (ESAU, 1976).

    2.3.1.2 Androceu (estames)

    O estame consiste em um filamento longo e frequentemente fino,

    o filete, que termina numa antera a qual contm, normalmente, quatro

    microesporngios. Sua principal funo a produo de gros de plen,

    que aps a germinao, produzem tubos polnicos que contm dois

    gametas (BECK, 2009).

    O filete, haste delgada, provido de um nico feixe vascular, que

    pode ser anficrival, sendo envolvido por parnquima. Este feixe vascular

    termina no conetivo, regio localizada entre as duas tecas da antera. A

    epiderme destas estruturas cutinizada e pode ter tricomas e estmatos.

    A antera contm os microesporngios (sacos polnicos) e outras

    camadas relacionadas com o desenvolvimento e liberao dos gros de

    plen (ESAU, 1976).

    2.3.1.3 Gineceu (carpelos)

    Os carpelos constituem o gineceu que forma o ovrio, estilete e

    estigma. O estigma o receptor do plen e a estrutura sobre a qual o

    plen germina. O estilete ou estilo uma extenso fina que une o

    estigma ao ovrio. uma estrutura especializada na conduo dos tubos

    polnicos em crescimento (MARIATH et al., 2006). Estes autores ainda

    acrescentam que o estigma e o estilete exercem frequentemente

    importantes funes no processo de reconhecimento e seleo dos

    andrfitos nos sistemas de incompatibilidade. O ovrio, poro basal,

    contm os vulos que, aps fecundados, se desenvolvem formando as

    sementes (BECK, 2009).

    No ovrio distinguimos a parede e o lculo (cavidade), um ou

    vrios, neste caso os ovrios multiloculados so separados por septos.

    Os vulos originam-se na face interna ou adaxial da parede do ovrio,

    regio que constitui a placenta, a qual pode ser uma excrescncia

  • 29

    conspcua e, em alguns casos, chega quase a obstruir o lume da cavidade

    ovariana (ESAU, 1976).

    Do ponto de vista histolgico, j na fase de antese, o ovrio e o

    estilete apresentam epiderme, tecido fundamental parenquimtico e

    feixes vasculares. A epiderme externa cutinizada, podendo apresentar

    estmatos. Os vulos so formados pelo nucelo envolvendo o tecido

    esporgeno, um ou dois tegumentos de origem epidrmica e um

    pednculo, denominado funculo. Na antese, so formados por

    parnquima, contendo um sistema vascular (ESAU, 1976). O nucelo o

    esporngio, onde ocorre a esporognese, processo seguido pela

    transformao do esporo vivel em gametfito feminino, que, aps

    fecundado origina o embrio e o endosperma (MARIATH et al., 2006).

    2.3.2 Frutos

    As angiospermas apresentam grande variao na natureza e na

    origem de seus frutos. H frutos carnosos e secos quando maduros, que

    provm somente do ovrio da flor. Outros envolvem na sua formao

    partes florais, como o receptculo, spalas, ptalas, estames e o eixo das

    inflorescncias. Porm, o termo fruto o resultado do desenvolvimento

    ou amadurecimento do ovrio. composto por duas partes: o pericarpo

    e a semente. Existe entre o pericarpo e a semente uma relao de

    dependncia fisiolgica, estrutural e ecolgica (SOUZA et al., 2006).

    2.3.3 Sementes

    O termo semente usado para designar o conjunto formado por

    um esporfito jovem (embrio), um tecido de reserva alimentar

    (endosperma) e um envoltrio protetor (BELTRATI et al., 2006). Constitui a unidade reprodutiva das espermatfitas, cuja funo

    relaciona-se com a disperso e a sobrevivncia das espcies. Nas

    angiospermas, segundo os mesmos autores, a semente provm do vulo

    como resultado de um processo conhecido como dupla fecundao, em

    que um dos gametas masculinos une-se ao ncleo da oosfera dando

    origem ao zigoto diploide e, posteriormente, ao embrio (novo

    esporfito), enquanto o outro se funde com os dois ncleos polares do

    saco embrionrio dando origem ao endosperma triploide.

  • 30

    2.4 - CICLO BIOLGICO DAS ANGIOSPERMAS

    Na maioria das plantas, o ciclo biolgico envolve duas fases ou

    geraes: a esporoftica (diploide) e a gametoftica (haploide), com

    caractersticas alternantes (MARIATH et al., 2006). Nas Angiospermas,

    a gerao assexuada, chamada de esporfito, esclarecem os autores,

    desenvolve-se a partir de uma oosfera fecundada (zigoto) culminando

    com a formao de uma flor ou inflorescncia, produzindo dois tipos de

    esporos: andrsporos (micrsporos, andrfito= gro de plen) e

    ginsporos (megsporos, saco embrionrio), em seus respectivos

    esporngios androsporngio (microsporngios, saco polnico) e ginosporngios (megasporngio, nucelo). A gerao sexuada,

    denominada gametfito, pode ser masculina ou feminina. Os

    gametfitos masculinos so os andrfitos (gros de plen) e os

    femininos so os ginfitos (sacos embrionrios). Nas plantas com

    sementes, complementam os autores, os gametfitos so plantas

    sexuadas que dependem nutricionalmente do esporfito e que produzem

    apenas gametas masculinos ou apenas femininos.

    A evoluo das plantas vasculares em direo heterosporia

    estabelece o carter unissexual dos gametfitos para todas as plantas

    com sementes. As geraes gametofticas passam a ser nutricionalmente

    esporfito-dependentes, isto , adquirem a condio parastica

    (COCUCCI & MARIATH, 1995).

    2.5 FECUNDAO

    A aproximao dos dois gametas do andrfito aos dois gametas

    do ginfito efetiva-se em cinco etapas: polinizao, acoplamento,

    cpula, descarga dos gametas e singamia (MARIATH et al., 2006). A polinizao consiste no transporte dos andrfitos (gros de plen) das

    anteras at o gineceu da flor. O acoplamento a fase de aproximao

    dos gametfitos, desde o estigma, atravs do tecido transmissor do

    estilete, at o contato do tubo polnico com o aparelho filiforme das

    sinrgides. A cpula consiste na penetrao de uma sinrgide, mediante

    o desenvolvimento de um tubo copulador na extremidade do tubo

    polnico. A descarga dos gametas ocorre aps a liberao do contedo

    do tubo polnico no interior da sinrgide. Finalmente, esclarecem os

    autores, a singamia compreende a fuso de um gameta com a oosfera

    para formar o zigoto esporoftico (diploide), enquanto o outro gameta

    fecunda as duas clulas mdias para formar o endosperma (geralmente

    triploide).

  • 31

    2.6 - AUTOINCOMPATIBILIDADE (AI)

    A autoincompatibilidade um dos mais importantes fenmenos

    observados em angiospermas e sua ocorrncia evita a autofecundao e

    possibilita manter uma alta diversidade intraespecfica

    (BARRETT,1988).

    Brewbaker (1959) registrou a ocorrncia da

    autoincompatibilidade em, pelo menos, 71 famlias e em 250 de 600

    gneros estudados. Estudos, realizados em cinco diferentes tipos de

    florestas neotropicais, indicam uma percentagem variando entre 76 a

    86% de espcies autoincompatveis (GIBBS, 1990).

    Em casos extremos, plantas fortemente autoincompatveis no

    formam frutos e sementes a partir de flores autopolinizadas, porm, na

    maioria dos casos, a autoincompatibilidade se expressa por uma baixa

    produtividade de frutos e sementes em resposta autopolinizao,

    quando comparado ao nmero de sementes e frutos formados em

    resposta polinizao cruzada (BITTENCOURT JR, 2003).

    Entre os sistemas de autoincompatibilidade, mais frequentemente

    estudados nas diversas espcies vegetais, destacam-se: a

    autoincompatibilidade homomrfica gametoftica (AIG), a homomrfica

    esporoftica (AIE) e a heteromrfica (AIH). Estes sistemas so

    geneticamente controlados por mecanismos que previnem a germinao

    do prprio plen sobre o estigma, ou impedem o desenvolvimento do

    tubo polnico at o ovrio, caracterizando, neste caso, sistemas de

    autoincompatibilidade pr-zigtica (GIBBS & BIANCHI, 1999). No

    entanto, existe um sistema diferenciado de autoincompatibilidade no

    qual, frutos provenientes de flores autopolinizadas so abortados,

    determinando um sistema de autoincompatibilidade tardia ou ps-

    zigtica (SEAVEY & BAWA, 1986).

    2.6.1 - Autoincompatibilidade homomrfica gametoftica (AIG)

    O termo homomrfico refere-se s flores das espcies que

    apresentam tal sistema de AI, as quais so morfologicamente

    homogneas, ou seja, no variam quanto altura das anteras e do

    estigma. Na AIG, os tubos polnicos s iro crescer e s ir ocorrer

    fecundao se o alelo presente no gro de plen no estiver presente no

    tecido diploide do estilete. Nesse processo, o gro de plen germina e a

    reao de incompatibilidade ocorre entre o tubo polnico e o estilete

    (BITTENCOURT JR, 2003). Newbigin et al. (1993) supem que a ao

  • 32

    dos genes S seja ativada aps a meiose, havendo envolvimento de

    RNAses e glicoprotenas. Os tubos polnicos compatveis apresentam

    estrutura normal, com deposio reticulada de calose, e os

    autoincompatveis desenvolvem um depsito irregular de calose (DE

    NETTANCOURT, 2000). Existe uma relao entre RNAses e S-

    glicoprotenas e, portanto, com a reao de incompatibilidade. As

    RNAses esto presentes desde a superfcie das papilas estigmticas,

    tecido condutor do estilete, at o ovrio, o que coincide com o trajeto do

    tubo polnico. Supe-se que as RNAses suspendam o crescimento do

    tubo polnico por meio da degradao do RNA, mas os processos

    celulares que levam ao reconhecimento e eliminao dos tubos

    incompatveis ainda no esto claros (HARING et al., 1990; DE

    NETTANCOURT, 2000). Um gradiente de Ca+2

    tambm est associado

    reao de AI (WHEELER et al., 1999).

    2.6.2 - Autoincompatibilidade homomrfica esporoftica (AIE)

    Neste sistema de autoincompatibilidade, a especificidade do

    plen determinada pelo gentipo diploide do esporfito, isto , do

    genitor materno do gro de plen. Portanto, o que determinar a

    ocorrncia ou no de autoincompatibilidade no ser o alelo que o plen

    carrega, mas sim os alelos presentes no tecido diplide da planta

    (SHIFINO-WITTMANN & DALLAGNOL, 2002). Assim como no sistema homomrfico gametoftico (AIG), o controle gentico da

    incompatibilidade em plantas com AIE exercido por apenas um lcus

    S, com alelismo mltiplo em uma populao e as hibridaes resultam

    em autoincompatibilidade total ou compatibilidade total, no existindo

    cruzamentos semicompatveis (RICHARDS, 1997).

    2.6.3 - Autoincompatibilidade heteromrfica (AIH)

    Este sistema de autoincompatibilidade est frequentemente

    associado heterostilia, a qual se caracteriza pelas flores apresentarem

    diferenas quanto ao comprimento dos estames. Assim, na distilia, os

    indivduos de uma populao esto divididos em dois grupos, conforme

    apresentem flores com estilete longo ou curto. Na tristilia os indivduos

    de uma populao so enquadrados em trs diferentes grupos, uma vez

    que suas flores podem apresentar trs diferentes comprimentos do

    estilete (RICHARDS, 1986).

    A heterostilia interpretada como um mecanismo que reduz a

    geitonogamia (polinizao entre flores de um mesmo indivduo),

  • 33

    interferncia sexual e desperdcio de plen em plantas zofilas (WEBB

    & LLOYD, 1986), alm de promover a transferncia mais precisa de

    plen entre formas florais (BARRETT, 2002). Espcies heterostlicas

    muito frequentemente apresentam autoincompatibilidade entre flores de

    um mesmo indivduo e entre formas florais semelhantes (BARRETT &

    CRUZAN, 1994). O dimorfismo floral, associado aos mecanismos de

    autoincompatibilidade, potencializaria os nveis de polinizao cruzada

    entre formas florais, em espcies heterostlicas (CHARLESWORTH,

    1979). Devido associao entre heterostilia e a AIH, este sistema

    mais facilmente reconhecido na natureza.

    2.6.4 - Autoincompatibilidade crptica (AIC)

    Este tipo de autoincompatibilidade ocorre quando observada

    competio de plen, ou seja, a presena simultnea do auto e alo-plen,

    no mesmo estigma/estilete, e resulta na produo de elevado nmero de

    sementes provenientes do alo-plen em detrimento do auto-plen

    (BATEMAN, 1956).

    A autoincompatibilidade crptica geralmente ocorre no estdio de

    alongamento do tubo polnico, no estilete, ocasionando um

    desenvolvimento mais rpido dos tubos polnicos provenientes do alo-

    plen (BATEMAN, 1956). No entanto, acrescenta o autor, quando as

    flores so autopolinizadas, na ausncia da competio com o alo-plen,

    as plantas que apresentam AIC tem sucesso na fertilizao e formao

    de sementes.

    2.6.5 - Autoincompatibilidade de ao tardia (AIT)

    Neste tipo de autoincompatibilidade os tubos polnicos penetram

    nos vulos autopolinizados, mas estes no formam sementes. Este tipo

    de autoincompatibilidade tambm chamado autoincompatibilidade

    ovariana (AIO) e foi observada pela primeira vez por Crowe (1971), em

    Borago officinalis L. (Boraginaceae). Seavey e Bawa (1986)

    comprovaram a existncia de barreiras do sistema de incompatibilidade

    operando no ovrio de muitas espcies vegetais e denominaram este

    sistema de autoincompatibilidade de ao tardia (AIT). Segundo estes

    autores, existem quatro diferentes categorias de AIT: i) quando a

    inibio dos tubos polnicos incompatveis processa-se no ovrio, porm

    antes dos mesmos alcanarem os vulos; ii) quando a inibio dos tubos

    incompatveis tem lugar aps a penetrao dos vulos, mas sem que

    ocorra a singamia; iii) quando a rejeio dos tubos polnicos

  • 34

    incompatveis processa-se aps a formao do zigoto; iv) quando se

    sabe que a reao de auto-incompatibilidade ovariana, mas se

    desconhece os detalhes histolgicos do processo de rejeio.

    Stephenson et al. (2003) sugeriram que a plasticidade dos

    sistemas de AI visto como um mecanismo que promove a fecundao

    cruzada, flexibilizando a intensidade com a qual impede o

    desenvolvimento do auto-plen.

    2.7 POLINIZAO CRUZADA

    A polinizao ocorre com a chegada do plen ao estigma das

    flores, a qual pode ocorrer por contato direto da antera com o estigma,

    ou por agentes polinizadores, como o vento (anemofilia), a gua

    (hidrofilia), aves (ornitofilia) e insetos (entomofilia) (JOHRI et al., 2001). Esta ltima a forma mais comum em fruteiras, realizada,

    principalmente, por abelhas (RODRIGO & HERRER0, 2000).

    No estigma, os gros de plen encontram um substrato adequado

    para a germinao (JOHRI et al., 2001). Aps a hidratao, ocorre a

    germinao do gro de plen. O tubo polnico cresce atravs do estigma

    em direo ao tecido transmissor do estilete e dependente destas

    estruturas. Estas estruturas produzem secrees que tem funo de guiar

    e nutrir os tubos polnicos durante o seu trajeto at o ovrio (RODRIGO

    & HERRER0, 2000). Quando chega ao ovrio, o tubo polnico encontra

    o vulo e entra pela micrpila, penetrando no nucelo e atingindo o saco

    embrionrio (HERRERO, 2003).

    2.8 AUTOINCOMPATIBILIDADE EM C. XANTHOCARPA

    Estudos com espcies de Campomanesia (no incluindo C. xanthocarpa) mostraram presena de autoincompatibilidade.

    Campomanesia velutina apresentou evidncias de mecanismos de

    autoincompatibilidade de ao tardia (AIT), sendo que as plantas com

    fecundao cruzada alcanaram uma produo de frutos de cerca de

    75%, enquanto, nas plantas auto-polinizadas, a produo no passou de

    7% (PROENA & GIBBS, 1994). Almeida et al. (2000), trabalhando

    com outras espcies do gnero, constataram a importncia da presena

    das abelhas (Apis mellifera) para a produo de frutos, indicando a necessidade da polinizao cruzada e a presena de possvel mecanismo

    de autoincompatibilidade.

    Bruckner et al. (2005) referem a inexistncia de trabalhos abordando a ocorrncia de autoincompatibilidade em C. xanthocarpa, e

  • 35

    salientam que este aspecto de extrema relevncia para a melhor

    compreenso da biologia reprodutiva e viabilizao da produo

    comercial da espcie. Os autores complementam que a presena de

    autoincompatibilidade, em espcies frutferas cultivadas, implica na

    constituio dos pomares, onde as cultivares devem conter suficiente

    diversidade gentica para que exista maior eficincia na polinizao, e

    consequentemente, seja obtida elevada produo de frutos .

    2.9 BIODIVERSIDADE

    Diversidade biolgica refere-se variedade de vida no planeta

    Terra, incluindo: a variedade gentica dentro das populaes e espcies

    da flora, fauna, e dos microrganismos; a variedade de interaes e

    funes ecolgicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas;

    a variedade de comunidades, hbitats e ecossistemas formados pelos

    organismos (DIAS, 1996). Para os propsitos da Conveno sobre

    Biodiversidade Biolgica (UNCED, 1992) diversidade biolgica significa a variabilidade de organismos vivos de todas as origens,

    compreendendo, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros

    ecossistemas aquticos e os complexos ecolgicos de que fazem parte;

    compreendendo ainda a diversidade dentro de espcies, entre espcies e

    de ecossistemas.

    2.10 DOMESTICAO DE PLANTAS

    A domesticao das plantas tem um relacionamento direto de

    interao com o homem, pois um processo que envolve mudanas

    mtuas entre os dois grupos e foi decisiva na mudana do

    comportamento humano, sendo considerado um pr-requisito para o

    surgimento das civilizaes (SERENO et al., 2008). Pode ser

    conceituada como um processo de seleo gentica que, por alterar traos chaves, transforma formas silvestres em variedades

    domesticadas (SALAMINI et al., 2002). um processo de modificao do gentipo de maneira contnua, evolutiva, efetuado

    inconscientemente pelo homem (EVANS, 1993).

    Ainda segundo Evans (1993), a sndrome da domesticao pode

    ser definida como o resultado do processo de domesticao das plantas,

    resultando em modificaes das caractersticas originais. As principais

    caractersticas envolvidas so: a supresso de mecanismos de disperso

    das sementes; mudanas de forma e condensao, formando estruturas

    mais compactas; germinao mais rpida e eficiente das sementes;

  • 36

    sincronismo no florescimento e na maturao; perda de substncias

    amargas e txicas; gigantismo de rgos; ciclo de vida perene, que se

    torna anual; e a troca da fecundao cruzada pela autofecundao.

    2.11 CULTIVO DE PLANTAS

    O cultivo das plantas considerado o hbito de desenvolver plantas para o prprio uso ou o particular e persistente interesse por uma cultura, implicando em maior desenvolvimento humano (EVANS, 1993). Os termos, domesticao e cultivo, no so sinnimos, pois a

    domesticao envolve mudanas na resposta gentica, enquanto o

    cultivo relaciona-se com a atividade humana de plantio e colheita, tanto

    na forma silvestre quanto na domesticada (SALAMINI et al. , 2002).

    2.12 CONSERVAO DE RECURSOS GENTICOS

    Os recursos genticos so definidos como espcies de plantas, animais e microrganismos de valor atual ou potencial. Constituem-se na parte essencial da biodiversidade, que usada pelo homem para a

    promoo do desenvolvimento sustentvel da agricultura e produo de

    alimentos (GOEDERT, 2007). O artigo 2o da Conveno sobre

    Diversidade Biolgica CDB (UNCED, 1992) define duas estratgias para a conservao dos recursos genticos: ex situ e in situ. A

    conservao ex situ que adotaria diferentes tcnicas de conservao dos componentes da diversidade biolgica fora de seus hbitats naturais e a

    conservao in situ, que significa a conservao dos ecossistemas e

    hbitats naturais e a manuteno e recuperao de populaes viveis de

    espcies em seus ambientes naturais e, no caso de espcies domesticadas

    ou cultivadas, nos ambientes onde elas desenvolveram suas

    propriedades distintas. Nenhuma estratgia sozinha pode responder pela

    adequada conservao e, como ambas so complementares, devem ser

    utilizadas em conjunto para o sucesso da conservao.

  • 37

    3 OBJETIVOS DA TESE

    3.1 - OBJETIVO GERAL

    O projeto de tese teve como objetivo geral elucidar aspectos do

    desenvolvimento estrutural associado biologia reprodutiva de

    Campomanesia xanthocarpa O. Berg (Myrtaceae).

    3.2 - OBJETIVOS ESPECFICOS

    Acompanhar o desenvolvimento estrutural dos botes florais. Aprofundar os conhecimentos anatmicos acerca da estrutura das

    partes florais.

    Elucidar os aspectos estruturais da fecundao cruzada e de um possvel mecanismo de autoincompatibilidade atuante.

    Acompanhar o desenvolvimento de frutos, sementes e embries a partir da fecundao cruzada controlada.

  • 38

  • 39

    4 - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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  • 45

    SEO I

    DESENVOLVIMENTO DO PERIANTO, DO ANDROCEU E DO

    GINECEU DE Campomanesia xanthocarpa O. Berg

    (MYRTACEAE)

    CRISTINA MAGALHES RIBAS DOS SANTOS

  • 46

  • 47

    LISTA DE QUADROS SEO I

    Quadro 1 - Estdios de desenvolvimento das flores de C. xanthocarpa (Adaptado de Ducroquet & Hickel, 1991) ............................................ 56

    Quadro 2 - Etapas da androsporognese e da androgametognese,

    segundo os critrios de Rodrigues et al. (2007) .................................... 57

  • 48

  • 49

    LISTA DE FIGURAS SEO I

    Figura 1 - Metodologias utilizadas para as anlises dos botes florais de

    C. xanthocarpa ...................................................................................... 59 Figura 2 - Perodo de desenvolvimento dos botes florais de C.

    xanthocarpa ........................................................................................... 64 Figura 3 - Estdios de desenvolvimento do perianto de C. xanthocarpa.

    ............................................................................................................... 65 Figura 4 - Relao entre os estdios de desenvolvimento do perianto, do

    androceu e gineceu de C. xanthocarpa. ................................................ 66 Figura 5 - Estdios de desenvolvimento do androceu de C. xanthocarpa. .......................................................................................... 69 Figura 6 - Relao entre os estdios de desenvolvimento das anteras e

    dos andrfitos de C. xanthocarpa.......................................................... 72 Figura 7 - Relao entre os estdios de desenvolvimento dos botes

    florais e do gineceu de C. xanthocarpa. ................................................ 75 Figura 8 - Relao entre os estdios de desenvolvimento dos botes

    florais e dos rudimentos seminais de C. xanthocarpa. .......................... 78

  • 50

  • 51

    RESUMO

    Botes florais de Campomanesia xanthocarpa foram analisados at a fase de antese. Foram realizadas anlises estruturais no perianto,

    androceu e gineceu, acompanhando o processo de maturao do

    andrfito, ovrio e rudimentos seminais. Seis estdios de desenvolvimento B, C, D1, D2, E e F foram caracterizados. Os botes florais, nesta espcie, levam cerca de 18 dias a partir do estdio B

    at a completa abertura da flor. O acompanhamento da

    androsporognese e androgametognese revela a presena de ttrades,

    andrsporos e andrfitos. No estdio D1, os andrfitos j esto aptos

    desenvolver os tubos polnicos e os rudimentos seminais intensificam a

    diferenciao das estruturas de proteo e esporognicas. Entretanto, o

    saco embrionrio s completa sua constituio no estdio E (fase balo).

    O detalhamento de como se desenvolvem os rgos reprodutivos, os

    estdios de desenvolvimento dos gros de plen e dos rudimentos

    seminais, relacionados ao tamanho dos botes florais, so de grande

    relevncia para embasar os programas de melhoramento e conservao

    desta espcie subutilizada, mas com grande potencial agrcola,

    nutricional e medicinal.

  • 52

  • 53

    INTRODUO

    Campomanesia xanthocarpa considerada uma das plantas para o futuro da regio sul do pas, havendo a recomendao do incentivo pesquisa, especialmente por serem os frutos uma opo promissora no

    mercado de bebidas artesanais e industriais, alm do potencial para

    produo de polpa concentrada e congelada sendo tambm considerada

    espcie medicinal (BIAVATTI et al., 2004; KINUPP, 2007). H carncia de informao sobre plantios comerciais desta espcie, que

    vem sendo explorada por meio de extrativismo por comunidades locais.

    A sua conservao depende, exclusivamente, da manuteno de seus

    hbitats naturais (LISBOA et al., 2011).

    Para que essa espcie possa entrar em sistemas de produo

    agrcola, muitos aspectos estruturais de sua biologia reprodutiva

    precisam ser elucidados. Neste sentido, h poucos trabalhos sobre

    espcies de Campomanesia, sendo a maioria com abordagens sobre as partes vegetativas adultas (SOLS, 2000), germinao das sementes e a

    estrutura das plntulas em desenvolvimento (GOGOSZ, 2008, 2010).

    Em relao biologia reprodutiva, em especial aos rgos reprodutivos,

    no existem registros mais detalhados na literatura. Por este motivo, o

    presente trabalho busca aprofundar os estudos caracterizando o

    desenvolvimento estrutural do perianto, do androceu e do gineceu, uma

    vez que este conhecimento de fundamental importncia para o manejo,

    bem como em programas de melhoramento e conservao desta espcie

    nativa.

  • 54

  • 55

    1. METODOLOGIA

    1.1. LOCAL DE REALIZAO DAS ATIVIDADES:

    Acompanhamento e Coleta de Material Vegetal: A coleta de ramos florais foi realizada em plantas de reas

    remanescentes de mata nativa do Estado de Santa Catarina, no interior

    do municpio de Alfredo Wagner, latitude 27o4201, longitude

    49o2001, altitude 480m, distante 111Km de Florianpolis (capital do

    estado).

    Anlises Laboratoriais: Foram realizadas no Laboratrio de Fisiologia do

    Desenvolvimento e Gentica Vegetal (LFDGV), do Departamento de

    Fitotecnia, integrado ao Centro de Cincias Agrrias; no Laboratrio

    Central de Microscopia Eletrnica (LCME) e no Laboratrio de

    Anatomia Vegetal (LAVEG) do Departamento de Botnica, Centro de

    Cincias Biolgicas da Universidade Federal de Santa Catarina, em

    Florianpolis, Santa Catarina, Brasil.

    1.2 COLETA DOS RAMOS FLORAIS DE C. XANTHOCARPA

    Foram coletados 6 ramos florais de 1,5m de comprimento, de

    uma rvore adulta de C. xanthocarpa (matriz S1), com botes florais em

    diferentes estdios de desenvolvimento. O material vegetal foi

    acondicionado em baldes plsticos contendo gua, para transporte e

    manuteno no laboratrio, sendo deixados em ambiente protegido

    durante 10 dias, seguindo metodologia proposta por Franzon (2008).

    Para as anlises do desenvolvimento morfolgico e estrutural

    (morfohistodiferenciao) foram retirados os botes florais diretamente

    dos ramos, para identificao dos estdios de desenvolvimento (Tabela

    1), conforme os critrios estabelecidos por (DUCROQUET & HICKEL,

    1991).

    Amostras de material retiradas do indivduo S1 foram depositadas

    no herbrio Flor da Universidade Federal de Santa Catarina, nmero

    FLOR 40926 e identificados por Cristina Magalhes Ribas dos Santos.

  • 56

    Quadro 1 - Estdios de desenvolvimento das flores de C. xanthocarpa

    (Adaptado de Ducroquet & Hickel, 1991) Estdios de

    desenvolvimento Critrios morfolgicos

    B Botes globosos envoltos por brcteas

    C Primeiro par de spalas comea a se afastar, mas no

    aparecem as ptalas. Botes com o dobro de tamanho.

    D Comeam a aparecer as ptalas e ocorre maior afastamento

    das spalas.

    E Estdio balo. Ptalas descompactadas e prestes a abrir

    para expor as anteras e o estigma.

    F1 Flor com pistilo exposto e afastamento parcial das ptalas.

    F2 Flor completamente aberta, com ptalas na posio

    horizontal, expondo anteras e estigma. Liberao de plen.

    1.3 - ANLISE MORFOLGICA DO DESENVOLVIMENTO DO

    PERIANTO, DO ANDROCEU E DO GINECEU DE C.

    XANTHOCARPA

    Para estas anlises, 200 botes florais, de diferentes tamanhos,

    foram retirados dos ramos vegetais, aleatoriamente. Os botes florais

    foram colocados sobre papel milimetrado e analisados sob o

    microscpio estereoscpio Olympus SZH10 com a unidade de controle

    DP, Control 71 da Olympus e a cmara fotogrfica acoplada. Com base

    em critrios visuais relativos aos aspectos morfolgicos, as amostras

    foram classificadas nos diferentes estdios de desenvolvimento referidos

    na Tabela 1. A seguir amostras de botes florais de cada fase foram

    analisadas para descrio morfolgica do androceu e do gineceu. Vinte

    botes florais foram mantidos nos ramos, no laboratrio, sendo

    marcados com fitas coloridas, para acompanhar os intervalos de tempo

    (em horas) entre os diferentes estdios.

    1.4 ANLISES ESTRUTURAIS DO DESENVOLVIMENTO DO ANDROCEU E DO GINECEU DE C. XANTHOCARPA

    Para a caracterizao estrutural do androceu e do gineceu, nas

    diferentes fases de desenvolvimento, 20 botes florais de cada estdio

  • 57

    foram analisados por meio de diferentes tcnicas, sendo analisados em

    microscopia ptica e eletrnica de varredura.

    Cinco botes florais foram seccionados transversal e

    longitudinalmente, mo livre. As seces foram colocadas sobre

    lminas histolgicas, hidratadas e cobertas por lamnula. Outros cinco

    botes florais, de cada estdio, foram separados para anlise do

    desenvolvimento dos gros de plen. Nestes botes florais, a anteras

    foram removidas, esmagadas sobre lmina histolgica, coradas com

    carmim actico 0,5% e cobertas por lamnula. As anlises foram

    realizadas em quatro campos de observao escolhidos de forma

    aleatria. As categorias relativas androsporognese e

    androgametognese (Tabela 2) foram registradas em planilha e imagens,

    sendo relacionadas aos tamanhos dos botes florais, conforme os

    critrios de Rodrigues et al. (2007). Estes dois procedimentos foram

    analisados em microscpio ptico Olympus DP40F, com a unidade de

    controle DP Control 71 da Olympus e a cmara fotogrfica acoplada.

    Quadro 2 - Etapas da androsporognese e da androgametognese,

    segundo os critrios de Rodrigues et al. (2007) Etapa Critrios

    CMM Clulas-me dos andrsporos ou clulas arquesporiais

    Meicitos Clulas em qualquer fase da meiose

    Ttrades Quatro esporos revestidos por calose

    Andrsporos Esporos livres com um ncleo no polarizado

    Andrfitos I Gametfitos com um ncleo polarizado, antes da primeira mitose

    Andrfitos II

    Gametfitos com duas clulas, generativa e vegetativa, aps a

    primeira mitose incluindo os diversos estdios de

    desenvolvimento dos ncleos

    Nota: Andrfitos apresentam citoplasma denso, com depsitos de amido, e

    desenvolvimento completo da exina e da intina.

    Outros cinco botes florais de cada estdio foram fixados em

    glutaraldedo (1%) + formaldedo (4%) (MCDOWELL & TRUMP,

    1976), infiltrados com historesina (Leica), sendo colocados em

    soluo de pr-infiltrao (historesina: etanol 95%, 1:1, v/v), durante 24

    horas, sob vcuo, e, em seguida, transferidos para a soluo de

    infiltrao (historesina pura), por quatro horas, sob vcuo. A seguir,

    foram colocados em moldes que continham a soluo de incluso

  • 58

    (historesina adicionada de endurecedor). A seces foram feitas em

    micrtomo de rotao, distendidas em lminas histolgicas e submetidas

    colorao com azul de toluidina (OBRIEN et al. 1964). Os registros fotogrficos e as anlises foram realizados em microscpio ptico

    Olympus DP40F, com a unidade de controle DP, Control 71 da

    Olympus e a cmara fotogrfica acoplada.

    A anlise ultraestrutural de superfcie, em microscopia eletrnica

    de varredura (MEV) foi realizada em amostras retiradas de cinco botes

    florais, de cada estdio de desenvolvimento, que haviam sido fixadas em

    glutaraldedo e desidratadas em srie etlica crescente (at lcool 100%

    PA) para a obteno das seces transversais e longitudinais. As seces

    foram colocadas em tubos eppendorfs contendo lcool 100%, por 30

    minutos, e, posteriormente, foram submetidas ao ponto crtico de CO2

    Leica EM CPD 030, seguindo procedimento de Horrige & Tamm

    (1969). Depois da secagem, o material foi aderido sobre suportes de

    alumnio, com auxlio de uma fita carbono dupla-face e numerado

    conforme planejamento prvio. Estes suportes foram postos sobre

    isopor, numa caixa plstica transparente contendo slica gel. A caixa foi

    vedada com PVC e colocada dentro de um desumidificador at ser

    coberto com 20nm de ouro, em metalizador Leica EM CPD 030, modelo

    CPD 030. A anlise e documentao foram efetuadas em microscpio

    eletrnico de varredura JEOL JSM-6390LV.

  • 59

    Figura 1 - Metodologias utilizadas para as anlises dos botes florais de

    C. xanthocarpa A) Indivduo S1 (seta). B) Ramos com botes florais retirados de S1. C e D) Transporte e acondicionamento dos ramos florais em baldes

    contendo gua. E) Botes florais retirados dos ramos no laboratrio. F)

    Microscpio eletrnico de varredura (seta) JEOL JSM-6390LV (LCME/UFSC).

    G) Microscpio estereoscpio Olympus SZH10 (seta) com a unidade de

    controle DP. Control 71 da Olympus e a cmara fotogrfica acoplada

    (LFDGV/UFSC).

  • 60

  • 61

    2 RESULTADOS E DISCUSSO

    2.1 ANLISES MORFOLGICAS DO DESENVOLVIMENTO DO PERIANTO, DO ANDROCEU E DO GINECEU DE C.

    XANTHOCARPA

    Nesta espcie o perianto, o androceu e o gineceu passaram por

    modificaes de fcil visualizao durante o desenvolvimento dos

    botes florais, com formao de estruturas, tais como os gros de plen,

    ovrios e rudimentos seminais, diretamente ligados formao de frutos

    e sementes. Para garantir que as estruturas de disperso (frutos e

    sementes) e os novos indivduos (embries) se formem C. xanthocarpa

    investiu na arquitetura floral. Foram detectados os estdios B, C, D1,

    D2, E e F de desenvolvimento (Figuras 3A e 4A).

    Nos estdios B e C, as estruturas reprodutivas (androceu e

    gineceu) mostraram-se protegidas pela cpsula floral formada por

    spalas e ptalas (perianto) e apresentavam modificaes discretas de

    volume e forma, especialmente do androceu. No estdio B de

    desenvolvimento, o perianto apresentou um par de brcteas verde claras,

    na base de um boto floral globoso, com spalas bem compactadas de

    cor verde escura (Figura 3B). O androceu mostrou estames com anteras

    de aspecto translcido, agrupadas em torno e abaixo do estilete, e com

    estigma esverdeado (Figura 4B). O estdio C caracterizou-se pela

    ausncia do par de brcteas, apresentando um afastamento do primeiro

    par de spalas, sem mostrar as ptalas (Figura 3C). Os estames cobriam

    parcialmente o estigma e as anteras perderam o aspecto translcido

    (Figura 4C).

    Em D1 e D2, foram detectadas as maiores mudanas nos botes

    florais ao longo do desenvolvimento. O pleno desenvolvimento das

    ptalas comeou a ser visualizado a partir do estdio D1, alm do

    androceu e do gineceu mostrarem expressivas diferenas de volume e

    forma. No estdio D1, foi possvel identificar as ptalas devido

    colorao branca contrastante com a cor verde das spalas, estas

    ligeiramente afastadas (Figura 3D). Assim, estas flores podem ser

    classificadas como heteroclamdeas, com clice e corola de coloraes

    diferenciadas. Os estames apresentaram anteras agrupadas ao redor do

    estilete, na altura das spalas, permitindo a visualizao do estigma

    (Figura 4D). O estdio D2 mostrou a presena de ptalas bem

    desenvolvidas, mas ainda dobradas umas sobre as outras, evidentes

    acima das spalas (Figura 3E). Nos estames, os filetes exibiram

    crescimento livre e acima das spalas, com cerca de 4mm de

  • 62

    comprimento, sustentando as anteras. O estilete e o estigma mostraram-

    se evidentes acima dos estames (Figura 4E). At o estdio D2 foi

    possvel perceber indcios de cuidado da espcie com relao s

    estruturas reprodutivas, tendo em vista que estas se desenvolvem

    protegidas pelo perianto, cujas partes constituintes foram sendo,

    gradativamente, flexibilizadas.

    No estdio E, o perianto mostrou a presena de ptalas bem

    desenvolvidas, descompactadas e prestes a se abrir (Figura 3F). Os

    estames dispuseram-se afastados e ao redor do pistilo exibindo a poro

    superior do ovrio (Figuras 4F e 4G). O estdio F mostrou o perianto

    formado por cinco ptalas de colorao branca completamente abertas e

    livres entre si (corola dialiptala) rodeadas por cinco spalas de cor

    verde, parcialmente unidas entre si (clice gamosspalo). Os numerosos

    estames (flores polistmones) encontravam-se estendidos, posicionando-

    se afastados do estigma e do estilete (Figuras 3G e 3H). O estdio E

    (fase balo) e o estdio F constituram o perodo em que C. xanthocarpa exps as estruturas reprodutivas. Nestes estdios a abertura das ptalas e

    a expanso dos estames, posicionando-se de forma a permitir o acesso

    ao estigma das flores, so indicativos de facilitao polinizao e s

    subsequentes cpula e singamia.

    Em relao ao tempo de desenvolvimento dos botes florais, nas

    condies deste experimento, a passagem do estdio B para C levou

    cerca de setenta e duas horas (3 dias). A transio do estdio C para o

    D1 foi o perodo mais prolongado, levando cerca de duzentas e

    dezesseis horas (9 dias). Considerando as modificaes ocorridas no

    androceu e gineceu, o intervalo D, originalmente estabelecido por

    Ducroquet e Hickel (1991), neste estudo, foi dividido em D1 e D2,

    levando, em mdia, noventa e seis horas (4 dias). A passagem de D2

    para E foi de apenas vinte e quatro horas (1 dia). Para passar da fase

    balo para a completa abertura da flor, o intervalo foi de cerca de oito

    horas, o que possibilitou a classificao como estdio F. Estes resultados

    diferiram de Ducroquet & Hickel (1991) que observaram em Feijoa sellowiana uma antese gradual, ao longo de dois dias, levando a

    subdiviso da antese em F1 e F2 (Tabela 1). Os autores definiram F1

    como sendo o estdio em que o boto floral estava entreaberto, com

    emergncia do estigma e anteras visveis; e F2 como sendo o estdio em

    que o boto floral estava completamente aberto, com as ptalas na

    posio horizontal. A Figura 2 mostra os intervalos de tempo entre os

    estdios de desenvolvimento da flor de C. xanthocarpa. Os botes

    florais despenderam 18 2 dias para passarem do estdio B at o F

    (Figuras 3A e 4A).

  • 63

    Para outras mirtceas sul americanas, como Acca sellowiana (O.

    Berg.) Burret foram estabelecidos os estdios B, C, D, E, F1 e F2 de

    desenvolvimento, levando cerca de 30 dias para a completa abertura da

    flor (STEWART, 1987; DUCROQUET & HICKEL, 1991; FRANZON,

    2004). Eugenia uniflora L. apresentou os estdios B, C, D, E e F de