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1 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, REGULAÇÃO ECONÔMICA E DEFESA DA CONCORRÊNCIA: REFLEXÕES SOBRE AS NOVAS FORMAS DE INTERVENÇÃO ECONÔMICA EM UMA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO (**) Luiz Carlos Delorme Prado ( ( (* * *) ) ) RESUMO Este ensaio pretende discutir o papel de um tipo particular de intervenção econômica, a regulação e a defesa da concorrência, para o processo recente de mudança estrutural de economias em desenvolvimento. O artigo sustenta a tese de que nos países em desenvolvimento as legislações de defesa da concorrência e as agências reguladoras têm papel distinto das que tinham em países desenvolvidos. Seu papel principal não é o de melhorar a alocação de recursos em uma economia que já alcançou elevado nível de eficiência produtiva e que já incorpora as tecnologias mais avançadas disponíveis. Nesse caso, seu principal papel é contribuir para aumentar o nível de investimento e maximizar o bem-estar da sociedade em um contexto dinâmico, ou seja, contribuir para a eficácia das políticas de desenvolvimento. PALAVRAS CHAVE Intervenção do Estado e Reforma Econômica Instituições, Desenvolvimento e Regulação Econômica. CLASSIFICAÇÃO NA JEL N40- General, International and Comparative. A14- Sociology of Economics L51- Economics of Regulation Considerações Iniciais Gerald Méier (1984, p.3), um dos primeiros professores de Desenvolvimento Econômico, afirmava que esta área é simultaneamente uma das mais antigas e atuais da Economia 1 . Lembrava esse autor que a principal questão tratada pelos economistas clássicos, as raízes do crescimento econômico e o processo de mudança (**) – Uma versão anterior desse trabalho foi apresentada no 32º Encontro Anual da Anpocs. Agradeço os comentários proferidos pelos participantes do Grupo de Trabalho: Dimensões Contemporâneas do Desenvolvimento. Agradeço em especial a professora Maria Antonieta Leopoldi por sua leitura atenta da primeira versão do paper e suas úteis considerações. As reflexões desse trabalho originaram-se de observações surgidas durante meus dois mandatos como conselheiro do CADE e o rico ambiente de debate teórico e institucional que desfrutei nesse período. Agradeço, em especial, a Elisabeth Farina; Paulo Furquim Azevedo; Ricardo Cueva, Abraham Sicsú; Luis Schartz, Fernando de Magalhães Furlan e Luis Fernando Rigatto. (*) - Professor do Instituto de Economia da UFRJ, E-Mail: [email protected] 1 - Gerald Meier iniciou sua carreira de professor como Rhodes Scholar na Universidade de Oxford, ensinando Economics of Poor Countries. Ele foi o autor, inicialmente com Robert E. Baldwin, e posteriormente em seu nome exclusivo do livro Leading Issues in Economic Development, considerado o primeiro livro texto de economia do desenvolvimento nos Estados Unidos, que teve várias edições e foi traduzido para muitas línguas. Durante a maior parte de sua carreira Gerald Méier foi professor em Stanford, onde ensinou por mais de trinta anos esse tema.

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DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, REGULAÇÃO ECONÔMICA E DEFESA DA CONCORRÊNCIA:

REFLEXÕES SOBRE AS NOVAS FORMAS DE INTERVENÇÃO ECONÔMICA EM UMA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO(**)

Luiz Carlos Delorme Prado((((∗∗∗∗))))

RESUMO

Este ensaio pretende discutir o papel de um tipo particular de intervenção

econômica, a regulação e a defesa da concorrência, para o processo

recente de mudança estrutural de economias em desenvolvimento. O artigo

sustenta a tese de que nos países em desenvolvimento as legislações de

defesa da concorrência e as agências reguladoras têm papel distinto das que

tinham em países desenvolvidos. Seu papel principal não é o de melhorar a

alocação de recursos em uma economia que já alcançou elevado nível de

eficiência produtiva e que já incorpora as tecnologias mais avançadas

disponíveis. Nesse caso, seu principal papel é contribuir para aumentar o nível

de investimento e maximizar o bem-estar da sociedade em um contexto

dinâmico, ou seja, contribuir para a eficácia das políticas de desenvolvimento.

PALAVRAS CHAVE Intervenção do Estado e Reforma Econômica Instituições, Desenvolvimento e Regulação Econômica. CLASSIFICAÇÃO NA JEL N40- General, International and Comparative. A14- Sociology of Economics L51- Economics of Regulation Considerações Iniciais Gerald Méier (1984, p.3), um dos primeiros professores de Desenvolvimento

Econômico, afirmava que esta área é simultaneamente uma das mais antigas e atuais

da Economia1. Lembrava esse autor que a principal questão tratada pelos

economistas clássicos, as raízes do crescimento econômico e o processo de mudança

(**) – Uma versão anterior desse trabalho foi apresentada no 32º Encontro Anual da Anpocs. Agradeço os comentários proferidos pelos participantes do Grupo de Trabalho: Dimensões Contemporâneas do

Desenvolvimento. Agradeço em especial a professora Maria Antonieta Leopoldi por sua leitura atenta da primeira versão do paper e suas úteis considerações. As reflexões desse trabalho originaram-se de observações surgidas durante meus dois mandatos como conselheiro do CADE e o rico ambiente de debate teórico e institucional que desfrutei nesse período. Agradeço, em especial, a Elisabeth Farina; Paulo Furquim Azevedo; Ricardo Cueva, Abraham Sicsú; Luis Schartz, Fernando de Magalhães Furlan e Luis Fernando Rigatto. (∗) - Professor do Instituto de Economia da UFRJ, E-Mail: [email protected] 1 - Gerald Meier iniciou sua carreira de professor como Rhodes Scholar na Universidade de Oxford, ensinando Economics of Poor Countries. Ele foi o autor, inicialmente com Robert E. Baldwin, e posteriormente em seu nome exclusivo do livro Leading Issues in Economic Development, considerado o primeiro livro texto de economia do desenvolvimento nos Estados Unidos, que teve várias edições e foi traduzido para muitas línguas. Durante a maior parte de sua carreira Gerald Méier foi professor em Stanford, onde ensinou por mais de trinta anos esse tema.

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econômica de longo prazo, é hoje investigada pela disciplina que chamamos

Desenvolvimento Econômico.2

Durante um longo período o tema foi abandonado. Até a década de 1930, tanto a

teoria neoclássica como a economia keynesiana preocupavam-se com outras

questões. Na década de 1940, no entanto, surgiu uma literatura que discutia as

implicações da crescente divergência nos níveis de renda entre um grupo de países

que tinham passado por rápidas transformações estruturais e o resto do mundo.

Esses autores observaram que, embora esses países economicamente atrasados

mantinham-se presos na armadilha da estagnação maltusiana, isto não implicava que

não tinham sido afetados pelas mudanças nas economias centrais. Ao contrário,

esses teriam sido integrados como periferia do núcleo dinâmico da economia

mundial. Percebiam, portanto, que a produção acadêmica existente não tratava das

questões enfrentadas por essas economias, as quais Rosestein-Rodin chamou em um

artigo seminal, no Economic Journal em 1944, de subdesenvolvidas.

Nas décadas seguintes, até a crise da Teoria do Desenvolvimento nos anos 70,

as razões do atraso econômico e as estratégias para superá-las foram intensamente

discutidas. Por duas décadas o tema perdeu parte de seu glamour, ou seja, deixou de

ser considerado high theory, nos principais centros de produção teórica. Até mesmo

um autor progressista, como Krugman considerou os programas de pesquisa de

desenvolvimento como difusos, não formando um corpo teórico consistente, e,

ainda, carecendo do uso do instrumental analítico para comunicar suas idéias aos

economistas contemporâneos.3 Na década de 1990, contudo o tema voltou a adquirir

prestígio, sendo agora também disputado pelas novas correntes econômicas críticas

do keynesianismo e, ainda, pelos novos institucionalistas e as diversas correntes

econômicas heterodoxas.

Olhando o passado a partir de nosso mirante na primeira década do século XXI,

algumas das percepções da década da 1940, como a persistência de trajetórias

divergentes e convergentes (em diferentes grupos de países) nos níveis de

2 - Nas palavras de Méier; “ Begining with Adam Smith´s Inquiry into the Nature and Causes of the

Wealth of Nations, classical economists sought to discover the sources of economic progress and to

analyze the long-run process of economic change. As Nobel laureate Arthur Lewis reminds us, what

Smith called “the natural progress of opulence” is what we today call “development economics”. (1984, p.3) 3 - Para ele contudo, várias das idéias prevalecentes na high theory of Development anteciparam transformações cruciais na moderna teoria de crescimento e de comércio exterior. Sendo, que ele considerava que a essência desses argumentos pode ser recuperado usando o instrumental analítico atual. Ver Krugman, 1973.

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crescimento do produto, da renda e da incorporação do progresso técnico, mudaram

muito pouco. Mas há certas perspectivas que alteraram-se substancialmente desde

meados do século passado.

Hoje já existe instrumental teórico para compreender as raízes históricas do

atraso econômico. E mais importante, a experiência de sessenta anos de estudos

sobre o desenvolvimento econômico, mostrou, ainda, que há não apenas caminhos,

mas atalhos para a superação do subdesenvolvimento: ou seja, a história desse

período mostrou que alguns países considerados periféricos estão hoje, seis décadas

após o fim da Segunda Guerra Mundial, no centro dinâmico da economia

internacional. Portanto, desenvolvimento econômico é possível, tal como pudemos

observar ao longo do século passado. Esta constatação renova a importância de

estudar os mecanismos que viabilizaram a radical transformação de alguns países.

Há alguns pontos que estão estabelecidos solidamente no debate econômico,

como elementos fundamentais no processo de convergência econômica que permitiu

que alguns países, antes periféricos, tivessem alcançado nível de produtividade do

trabalho, renda per capita e avanço tecnológico que os põem, nos dias de hoje, no

mesmo patamar dos países industriais avançados mais antigos.

Entre esses pontos há três que são premissas de especial interesse para este

artigo:

Em primeiro lugar, não há desenvolvimento (ou convergência para o nível de

renda dos países industriais avançados) sem intervenção do Estado. Políticas

públicas foram essenciais para produzir crescimento com mudança estrutural que

caracteriza o processo de desenvolvimento4.

Em segundo lugar, o papel das instituições é central na dinâmica das

transformações econômicas que explicam o processo de desenvolvimento.

Mudanças estruturais interferem e são influenciadas pela trajetória das mudanças

institucionais. Ou seja, não apenas a história importa, mas também importa o

funcionamento de instituições, a resposta dos empresários às transformações

econômicas, o funcionamento das burocracias do setor público e a forma de tomada

de decisão no sistema político. Ou seja este artigo trabalha usando o instrumental

4 - Esse ponto foi discutido por mim em dois trabalhos, Prado, 1993e 2003. Mas há uma extensa literatura sobre esse tema, desde textos recentes, como Chang, 2004 e Rodrik, 1997, até textos que já podem ser considerados clássicos como Johnson, 1982; Aubrey 1951 e Gerschenkron,1965 que mostrou que o Estado foi importante no caso de países mais atrasados, como a Rússia, embora não tenha sido no caso da Inglaterra.

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teórico evolucionário que considera que as ciências sociais devem ser estudadas em

uma perspectiva histórica, uma vez que os fenômenos sociais estão sujeitos à “path

dependence”. 5

Em terceiro lugar, mas não menos importante, o processo de desenvolvimento

econômico depende da ação de forças de mercado que são influenciadas e

influenciam a ação do Estado e as mudanças institucionais. Ou seja, se não há

desenvolvimento sem a ação do estado, ou se o desenvolvimento depende do

funcionamento das instituições, ele também depende de como esses dois elementos

interagem com as forças de mercado em cada momento histórico. Ou seja, no

mundo contemporâneo a ação do Estado e o funcionamento das instituições

nacionais dão-se em uma economia mundial onde as forças de mercado têm um

papel fundamental. Portanto, as políticas públicas domésticas têm de levar em conta

que o estado nacional opera em uma economia mundial fortemente influenciado por

forças de mercado que agem globalmente.

Este ensaio pretende discutir qual o papel de um tipo particular de intervenção

econômica, a regulação e a defesa da concorrência, para o processo recente de

mudança estrutural de economias em desenvolvimento. Acessoriamente pretende

discutir como esta política interage com a trajetória de mudança institucional dessas

economias, que por sua vez são elementos importantes do processo de

desenvolvimento econômico.

II – Desenvolvimento Econômico e Mudança Estrutural

No último século observamos diversos casos de sucesso e fracasso no processo

de convergência econômica entre os países que se industrializaram no século XIX e

os retardatários do século XX. Em especial, pode-se destacar o imenso sucesso de

alguns países asiáticos (por exemplo a China e a Coréia) e o sucesso, menos

evidente, de alguns países latino-americanos (por exemplo, o Brasil e do México).

Nos dois casos foram importantes a ação do Estado e o papel do mercado.

Em uma perspectiva de longo prazo, desenvolvimento econômico está associado

a transição de uma estagnação maltusiana, ou seja, de uma período em que aumento

da capacidade produtiva é consumido em aumento da densidade demográfica, para

5 - Path dependence refere-se a propriedade dos processos dinâmicos de serem não reversíveis, contigentes, não ergódigos ou seja, estarem sujeitos a um conjunto de processos evolucionários. Há uma vasta literatura sobre path depedence em economia, ver, e.g., David (2001) e o artigo clássico de 1985.

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um período de crescimento sustentado. 6 Este processo é datado historicamente. Por

um longo período houve pouca diferenciação entre os níveis de renda per capita das

diversas regiões do mundo, embora pudesse haver expressivas diferenças nas

densidades demográficas.

A partir do fim do século XVIII, um grupo de países passou a incorporar de

forma acelerada progresso técnico em seus processos produtivos, passando por uma

profunda transformação econômica e social, que levou a um crescimento sustentado

de longo prazo da renda per capita, dos padrões de consumo e dos indicadores

sociais. Esse processo, que foi interpretado de várias formas, recebeu distintos

nomes na historiografia, mas ficou conhecido como Revolução Industrial.

Desde esse período o processo de criação de uma economia mundial implicou na

impossibilidade de economias nacionais viverem independente da nova realidade

mundial. Progressivamente sociedades tradicionais foram afetadas, ou moviam-se,

aproveitando as oportunidades abertas pelas transformações da economia mundial,

ou eram crescentemente marginalizadas, integrando-se nesse processso como

periferia.

Quanto maior a defasagem tecnológica e temporal entre as sociedades

tradicionais e as que tinham tido suas economias transformadas por uma revolução

industrial, as dificuldades para seguir o caminho trilhado pelas sociedades modernas

aumentavam. Nesse sentido os países bem sucedidos seriam aqueles capazes de

responder a esses desafios com soluções domésticas criativas.7

Esse fenômeno, portanto, não foi caracterizado apenas pelo crescimento

sustentado, não era uma questão exclusivamente de aumento de renda per capita,

embora ela fosse um elemento essencial nesse processo. Desenvolvimento

implicava em aumento sustentado de renda per capita, com mudança estrutural.

Este último elemento é essencial, para o entendimento do conceito de

desenvolvimento. Crescimento da renda per capita, obtido apenas através de algum

acaso histórico, como a disponibilidade de uma matéria prima de grande demanda

na economia mundial, mas que não tivesse efeitos de encadeamento doméstico, ou

seja, não gerasse mudança estrutural nessa economia, não produzia

desenvolvimento8.

6 - Ver Galor, 2005.

7 - Ver Gerschenkron, 1965 e 1968. 8 -Esta é a situação chamada de doença holandesa.

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Em um artigo recentemente descoberto, escrito pouco antes de emigrar para os

EUA, Schumpeter levanta vários insights instigantes sobre o processo de

desenvolvimento.9 Para ele desenvolvimento está relacionado à inovação, a

capacidade de resposta de um agente inovador que dá um salto para o futuro, ou

seja, realiza uma mudança, que pode ser descrita, mas não pode ser determinada a

priori. Em suas palavras:

“Without further ado, a continous increase in population and wealth explains an

equally continous improvement of roads and an increase of the mail coaches in

circulation in a step-wiese adapting manner. But add as many mail coaches as

you please, you will never get a railroad by so doing. This kind of “novelty”

constitutes what we here understand as “development”, which can now be

exactly defined as: transition from one norm of the economic system to another

norm in such a way that this transition cannot be decomposed into infinitesimal

steps.”10

Mas se inovação está na essência do processo de desenvolvimento, não apenas

segundo a definição de Schumpeter, mas também na forma definida neste trabalho11,

é necessário, para melhor compreender esse processo, investigar alguns mecanismos

de sua dinâmica.

III- Reforma do Estado: A dinâmica da mudança econômica

Nas últimas décadas do século XX consolidou-se no meio acadêmico e em

formuladores de política de algumas agencias internacionais a idéia de que o

relativo fracasso de algumas experiências econômicas, tanto na América Latina

como no Leste Europeu, poderiam ser relacionadas ao papel do Estado nessas

economias. No debate sobre globalização, na década de 1980, muitas

recomendações feitas para as economias de mercado, com intervenção estatal,

latino-americanas, foram posteriormente consideradas adequadas para a transição

das economias de comando européias. Tais abordagens, consolidadas no famoso

Consenso de Washington eram, em sua maioria, recomendações de política

macroeconômica, mas implicavam, também, em uma agenda de reformas market

friendly.

9 Schumpeter, 1932. 10 Schumpeter, J.S, p.10 11 Ou seja, crescimento com mudança estrutural

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O tema de reformas institucionais entrou na agenda dos grandes países latino-

americanos como resposta às crises econômicas produzidas pelo endividamento

externo, depois do default Mexicano de 1982. Essas foram na sua origem propostas

como contrapartida para as negociações do Plano Brady, anunciado em 1989. As

mudanças nas políticas econômicas latino-americanas foram usadas para legitimar

domesticamente nos EUA as alterações legais que permitiriam a renegociação da

dívida dos bancos norte-americanos com governos e/ou organizações públicas

estrangeiras, segundo o modelo defendido pelo secretário de Estado Brady.12

Em sua origem eram essencialmente medidas macroeconômicas, tais como,

disciplina fiscal, controle e redirecionamento do gasto público, reforma tributária,

liberalização da taxa de juros, liberalização da política comercial. Mas havia

algumas reformas que implicava alterações importantes de natureza jurídica, tais

como liberalização do investimento externo, privatização, desregulação e aumento

da proteção dos direitos de propriedade.13

Os efeito dessas políticas nos países latino-americanos foi decepcionante. A

década de 1990 foi marcada na América Latina (como em outras regiões do mundo)

por um conjunto de crises econômicas, em grande parte produto da rápida

mobilidade de capitais, em um mundo com grande liquidez em dólar. Entretanto, os

grupos políticos, assim como os autores que apoiaram esse conjunto de reformas,

consideraram que a razão desse desempenho provinha da insuficiência das reformas,

e não da natureza do diagnóstico. Portanto, a resposta a esse desempenho deveria ser

aprofundar a política, implementando uma nova geração de reformas. Essas, no

entanto, diferente daquelas, deveriam ser essencialmente voltadas para reformar as

instituições desses países, para torná-las mais adequadas a operar nas condições

12 - Os EUA nunca reconheceram que suas decisões de abandono unilateral dos Acordos de Bretton Woods, e sua resposta aos aumentos do preço do Petróleo em 1973 e 1979, assim como a política monetária de Paul Volcker tinham tido papel fundamental para eclosão da crise da dívida latino-americana. A alteração da legislação que permitia transformar as dívidas registradas nas contabilidades dos bancos em títulos securitizados viabilizaram a renegociação das dívidas latino-americanas. Foram realizados, dessa forma, distintos acordos com os credores, que tiveram a possibilidade de escolher entre redução do principal e diferimento dos pagamentos das dívidas, assim como novas garantias (colateriais) e o surgimento de um mercado secundário para os títulos securitizados. Uma interesse evidência desse fato é o relato de John Williamson (2004) que contou como seu testemunho em apoio ao Plano Brady levou a formulação do conceito de Consenso de Washington. 13 - Ver Williamson (1990).

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dadas pela forma de organização econômica e social do capitalismo contemporâneo,

ou seja, pela globalização. Nas palavras de dois economistas do Banco Mundial14:

“The Expectation, however, was not only that globalization and the “first-

generation” reforms would raise economic growth rates, but that they also

would significantly reduce poverty and inequality. Indeed, capital inflows and

export growth were expected to promote the development of labor-intensive

sectors. This has not occurred.” (….)

“The Long March concluded, then, that further reforms were needed to achieve

higher sustained rates of growth and to make a more significant dent in poverty

reduction.”

Portanto, ao contrário das medidas propostas pelo Consenso de Washington,

essas chamadas reformas de segunda geração destinavam-se a alterar as condições

institucionais desses países. Entre as mais importantes alterações propostas estavam

as alterações no sistema legal e regulatório e no aumento da eficiência do setor

público, inclusive no judiciário. (Burki & Perry,1998, p.4). Essa nova agenda trouxe

ao debate o tema da relação entre Instituições e Desenvolvimento, que implicava

em discutir em que medida as instituições domésticas e a ordem jurídica vigente nos

grandes países latino-americanos eram disfuncionais ao bom funcionamento da

ordem econômica, com insuficiente proteção aos direitos de propriedade, à execução

dos contratos, a defesa dos direitos de propriedade intelectual, a defesa da ordem

econômica, à execução (enforcement) das decisões judiciais, ao bom

funcionamento do sistema educacional e da gestão pública.

O argumento era que o fracasso das reformas recomendadas pelo Consenso de

Washington não era devida a problemas de diagnóstico, mas a insuficiência do

remédio. Recomendava-se, portanto, doses mais elevadas do mesmo remédio, isto é

uma nova rodada de reformas, e não alteração do rumo.

Os resultados do desempenho econômico da América Latina teriam sido

decepcionantes, mesmo tendo sido realizada as reformas de primeira geração pelos

seguintes argumentos15.

14 - Ver Burki & Perry (1998), p.3. Os autores estão, também, referindo-se ao documento The Long

March, preparado para conferência patrocinada do Banco Mundial em Montevidéu. Ver Burki & Perry, 1997. 15 - ver Shahid Javed Burki e Guillermo E.Perry,1998.

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A globalização das economias nacionais e a implementação das reformas de

primeira-geração, assim como o processo de democratização na AL contribuíram para

aumentar a premência das reformas institucionais por três razões:

(i) Elas aumentaram a demanda por reformas instituicionais por

parte do setor privado, que compete no mercado global e

percebeu que a lucratividade e competitividade foi afetada pela

qualidade e eficiência na oferta de serviços financeiros e serviços

públicos, qualidade da educação e a efetividade do sistema

judiciário;

(ii) O rápido crescimento da volatilidade dos fluxos de capitais

aumentaram a demanda por reformas institucionais que

contribuíssem para reduzir os riscos a ela associados. Ou seja,

não obstante os benefícios da globalização, ela aumentou a

vulnerabilidade dos países á acontecimentos em outras regiões, e

há crescente percepção que instituições financeiras mais efetivas

(no plano doméstico e internacional) são necessárias para reduzir

essa vulnerabilidade.

(iii) A globalização aumentou a demanda por instituições que

contribuam para reduzir a desigualdade e oferecer redes de

proteção para os grupos mais vulneráveis no ambiente

competitivo.

Em síntese , em um mundo de integração financeira global, instituições financeiras

sólidas e governança corporativa eficiente (além de sólida política macroeconômica)

seriam essenciais para promover uma intermediação financeira segura e o uso adequado

dos fluxos de capitais. Sem eles as economias integradas ficariam altamente

vulneráveis às mudanças nos sentimentos dos investidores e, portanto, à crises

financeiras e cambiais, expondo os agentes privados a riscos financeiros, cambiais e

altas taxas de juros, que teriam efeitos nefastos sobre a economia real. Portanto,

reformas institucionais seriam essenciais para a estabilidade macroeconômica e para a

integração financeira mundial.

Ou seja, o diagnóstico feito para essas economias é que essas eram sujeitas a

excesso de intervenção estatal, pouca exposição ao mercado e instituições pouco

funcionais às necessidades do capitalismo moderno. Portanto, a agenda deveria ser a

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continuidade das reformas liberalizantes, mudança institucional e redução do papel do

Estado nessas economias.

Faziam parte das recomendações a criação de novas agencias estatais, que deveriam

regular serviços privatizados. Mas um dos pilares desse modelo seria uma legislação de

defesa da concorrência que deveria atuar preventivamente avaliando atos de

concentração que pudessem alterar o ambiente concorrencial, e controlando infrações a

ordem econômica, com a punição de condutas anticompetitivas, garantindo, portanto, o

adequado funcionamento do mercado.

IV- Mercado, Concorrência e Ação do Estado

Qual é o papel do mercado em uma economia contemporânea? A resposta a esta

questão pode ser melhor entendida a partir da recuperação do debate sobre o conceito

de concorrência realizada por gerações de economistas, desde o século XVIII. Os

economistas clássicos partiam da premissa de que os mercados competitivos eram

similares e o monopólio uma exceção relativamente rara. Portanto, toda a literatura

clássica contrapunha livre mercado a monopólio produzido pela intervenção do Estado.

Embora alguns economistas matemáticos, como Cournot, já vislumbravam a

possibilidade de mercados operando em condições de oligopólio, a idéia de que

mercados diferenciam entre si e, em muitas ocasiões, formas de concorrência

monopolista e oligopólio estrutural eram comuns dependeu do desenvolvimento da

teoria neoclássica, em especial, economistas de tradição marshaliana.

Uma das contribuições importantes do debate neoclássico foi o estudo da relação

entre mercado e concorrência. Em um trabalho clássico, George J. Stigler distingue os

conceitos de mercado perfeito e competição perfeita. Segundo este autor, mercado é

uma instituição para a realização de transações. Ele realiza sua função de forma

eficiente quando todo comprador consegue obter o produto se estiver disposto a pagar

pelo menos um infinitesimal superior ao preço mínimo encontrado e todo vendedor

conseguir vender o produto por um preço infinitesimal abaixo do máximo encontrado.

Um mercado funciona de forma eficiente se os compradores e vendedores estão

perfeitamente informados e as propriedades e preços dos produtos perfeitamente

especificados.

Competição é uma forma de rivalidade que trata de contratos. Ou seja, da

disposição e capacidade que tem um agente econômico de contratar e recontratar com

um número indefinido de pessoas, independentemente e sem o consentimento de

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qualquer outra parte, com objetivo de maximizar seu bem-estar. Competição perfeita

tem alguns requisitos:

a. Existência de completa “racionalidade”. Para isso, assume-se

características ordinárias dos indivíduos, ou seja,

i. “Saber o que se quer, e procurar alcançar seus desejos de forma

inteligente”.

ii. Saber de forma absoluta a conseqüência de seus atos quando

forem realizados;

iii. Realizar esses atos a luz dessas conseqüências.

b. Assume-se ausência de obstáculos físicos para fazer, executar e mudar os

planos segundo a vontade dos agentes econômicos.

i. Isto pressupõe perfeita mobilidade em todos os ajustamentos, sem

custos para os movimentos e trocas;

ii. Todos os elementos dos cálculos devem ser continuamente

variáveis, divisíveis sem limite e a negociação das mercadorias

instantânea e sem custos.

c. Deve haver, como corolário do item anterior, perfeita, contínua, e sem

custo, intercomunicação entre todos os membros individuais da

sociedade. Todo comprador potencial conhece todo vendedor potencial e

viceversa. Toda mercadoria é divisível em um número indefinido de

unidades que devem ser separadamente usufruída e de propriedade de um

dono.

d. Cada membro da sociedade age como indivíduo e é inteiramente

independente de todas as outras pessoas. E nas relações mercantis entre

os indivíduos nenhuma consideração que não o interesse individual

prevalecerá. Essa independência individual exclui colusão, graus de

monopólio ou tendência ao monopólio.

Ou seja, segundo Stigler um mercado pode ser perfeito e monopolista ou

imperfeito e competitivo16. Portanto, para esse autor é um erro tratar o mercado

como um conceito subsidiário à competição. A literatura econômica neoclássica já

conseguiu demonstrar adequadamente que quando ocorre concorrência perfeita em

um mercado perfeito, alcança-se as condições de eficiência associadas ao conceito

16 - Ver Stigler, 1957.

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de ótimo de pareto, ou seja, eficiência alocativa, eficiência produtiva e eficiência

distributiva. Nesta situação há um ótimo social relativo a uma dada distribuição de

recursos (ou renda) entre diferentes indivíduos quando os recursos disponíveis por

cada agente econômico estiver de tal forma distribuído entre os diversos bens que

desejam que sua satisfação total não possa ser aumentada por qualquer transferência

de recursos para uma combinação distinta na distribuição desses bens.

Alfred Marshall foi o autor que isoladamente mais contribuiu para a difusão da

economia neoclássica com o primeiro livro-texto com essa abordagem em língua

inglesa que dominou por décadas o ensino de economia17. Marshall foi o primeiro

economista que levantou o problema de que em certas circunstâncias os agentes

econômicos ao maximizarem o seu bem-estar não produzirem simultaneamente um

resultado ótimo para o conjunto da sociedade. Isto ocorre quando os custos privados

são diferentes dos custos públicos, ou seja, quando há externalidades.

Em mercados com externalidades, a concorrência isoladamente não é capaz de

produzir os resultados esperados, ou seja, há falhas de mercado que só podem ser

resolvidas com regulação. Portanto, mesmo considerando-se que o livre mercado

leva ao resultado de bem-estar econômico previsto nos modelos neoclássicos, há

situações em que, dada a existência de externalidades, a atuação do Estado se

justificava.

A principal contribuição de Marshall para a teoria da competição foi a discussão

da relação entre competição e organização econômica ótima. Marshall fez a

conhecida qualificação que a distribuição de recursos pode ser considerada como

dado e afirmou que apenas um entre os múltiplos equilíbrios estáveis para ser

considerado máximo. Finalmente, Marshall chamou atenção para a questão das

economias externas.

O fato de que, com externalidades, as decisões dos indivíduos consideram

apenas parte das conseqüências, abre espaço para várias formas de equilíbrio

competitivo que difere dos conceitos tradicionais de ótimo. Estas questões, no

entanto, só foram tratadas com profundidade posteriormente por autores como Pigou

(1920) e Coase (1960).

A formulação de uma teoria econômica que tratasse de questões relevantes para

o tema da defesa da concorrência, cuja aplicação nos EUA, era originalmente quase

17 - Com o famoso “Principles...”, ver Marshall, 1890.

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que exclusivamente um problema da literatura jurídica, dependeu da chamada

escola estruturalista norte-americana. Esta corrente desenvolveu a teoria que

associava a estrutura do mercado com a conduta e o desempenho das empresas.

Para chegar a esse modelo, no entanto, foi necessário discutir os efeitos

econômicos de um ambiente concorrencial, onde não era possível obter-se todas as

condições de um mercado com concorrência perfeita.

Nesse debate um dos mais influentes economistas foi J.M. Clark que formulou a

hipótese conhecida como “workable competition.18 J.M. Clark sustentava a idéia de

que os mercados eram o suficiente robustos e que a intervenção ocasional do

governo através do antitruste se justificava, mais que formas mais agressivas de

regulação ou a simples aceitação do monopólio. Esse autor considerava que se as

premissas de concorrência perfeita eram difíceis de serem obtidas era necessário

identificar os fatores que levavam a mais próxima aproximação da concorrência

perfeita, nas condições reais da economia. Portanto se a concorrência perfeita não

era passível de ser obtida, a questão era como obter uma concorrência que fosse

operacional (workable).

Diferenciação de produtos e custos fixos implicavam que as firmas tinham

capacidade de influenciar preços, e a forma e nível da produção. Ou seja os modelos

econômicos deveriam considerar o comportamento estratégico das empresas de uma

maneira que não era considerado nos modelos clássicos.

As principais variáveis que diferenciavam os mercados eram

(i) O número de firmas e o a extensão de suas diferenças;

(ii) O montante de custos fixos ou as economias de escala;

(iii) O grau de diferenciação do produto e a mobilidade entre as

diferenciações;

(iv) As barreiras a entrada

Em mercados com muita competição, produtos homogêneos e grande número de

firmas, a competição era capaz de disciplinar mesmo variações modestas do

comportamento competitivo. Nesse caso ou as empresas produziam ao nível

máximo ou organizavam cartéis.

As duas outras estruturas de mercado eram a competição monopolista e

oligopólio estrutural, muito mais difíceis de tratar. A competição monopolista

18 - Ver Clark, J.M, 1939.

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caracterizada por diferenciação de produto e facilidade de entrada era relativamente

mais fácil de obter resultados similares aos de mercado competitivo. Nos mercados

com oligopólio, caracterizados por um pequeno número de firmas, elevadas

barreiras a entrada e vários graus de diferenciação de produto, havia maior risco ao

ambiente concorrencial e as correções necessárias eram mais difíceis de serem

realizadas.

Uma vez que o conceito de workable competition é normativo, os elementos

estruturais das diferentes indústrias passaram a te grande importância. A discussão

originada por Clark foi posteriormente refinada por autores como Edward Manson e

John Bain. Essa abordagem passou a ser conhecida como Escola de Harvard e

tratava essencialmente dos mercados. Atributos dos mercados, ou seja a estrutura

dos mercados, a conduta das empresas e o resultado dos mercados são elementos

que combinados formam o paradigma conhecido como estrutura-conduta-

performance.

Bain (o mais importante nome da escola de Harvard) chamou atenção que a

workable competition em mercados com oligopólio do setor industrial era mais

difíceis de obter. Portanto, a influência de Bain levou, no período entre a década de

1940 a década de 1970 a uma certa desconfiança dos mercados oligopolizados na

indústria. Para Bain em indústrias com Oligopólio Concentrado as taxas de lucro

eram maiores do que as razoáveis, havia excesso de capacidade crônica e atraso na

introdução de tecnologia redutora de custo.

Para Bain havia uma relação sistemática entre estrutura do mercado, conduta e

performance. O modelo de Mason/Bain era relativamente simples. Usando análise

estilo Cournot de maximização de lucros em mercados concentrados podia-se

relacionar mercado a estrutura, em particular ao número de firmas e barreiras a

entrada.

Este modelo consolidado na década de 1950 tornou-se o mais elegante e muito

influente. Conduta era difícil de ser analisada: um modelo relacionando conduta

com estrutura facilitava a política das autoridades antitrustes. A idéia era de que

quando uma empresa tinha crescido de tal maneira a ter se beneficiado de todas as

vantagens da economia de escala ela não podia mais fazer economias pela redução

de custo. Portanto, toda sua economia seria através do aumento de preço. Bain

acreditava que havia uma tendência nos EUA ao aumento de concentração na

indústria e a política antitruste tenderia a reduzir essa tendência.

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Essa formulação, conhecida como modelo SCP, (Estrutura- Conduta-

Performance) ou modelo de Harvard influenciou a aplicação da legislação antitruste

nos EUA e é até hoje influente em algumas abordagens da Política de Defesa da

Concorrência.

O maior ataque à doutrina da concentração veio de um conjunto de economistas

e advogados que compartilhavam a tradição associada aos departamentos de

economia e direito da Universidade de Chicago que viam com desconfiança a ação

do Estado, e com preocupação o excesso de intervencionismo atribuído a Escola de

Harvard. Esses teóricos enfatizavam seu compromisso com os valores econômicos,

políticos e sociais do livre mercado e consideravam excessiva a intervenção feita em

seu funcionamento pelas decisões das cortes norte-americanas na área de

antitruste.19

A tese da Escola de Chicago é que os remédios estruturais aplicados pelas

autoridades de Defesa da Concorrência eram inadequados, uma vez que a

concentração foi o resultado das condições de custo das empresas, ou seja, de sua

eficiência. Barreiras eram vistas como baixas e competidores potenciais tinham

perfeita informação das oportunidades e custos envolvidos. Portanto, a estrutura da

industria é o resultado das diferentes eficiências das firmas no tempo, uma vez que o

objetivo final da política de competição é promover o bem-estar do consumidor,

expresso pela eficiência, a intervenção do Estado podia ser contraprodutiva. Ou seja,

a Escola de Harvard considerava que a concentração do mercado podia ser indício

de colusão, a Escola de Chicago afirmava que era indício de eficiência. Ou seja,

caso a colusão fosse provada as autoridades poderiam processar a empresa, mas não

seria possível inferir colusão da estrutura dos mercados.

Nessa linha Bork em livro de grande influência (The Antitrust Paradox)

afirmou20:

“Today, I would add only tow thoughts. First, I doubt that there is any

significant output restriction problem arising from the concentration of any

industry. Second, there is no coherent theory based on consumer welfare that

supports a policy of industrial deconcentration when concentration has been

19 - Ver Hildebreand, 2002, p.143. Entre outros faziam parte dessa corrente Robert H. Bork, Ward S.Bowman, Harold Demsetz, John S. McGee, Stanley I. Ornstein, Sam Peltzman, Richard A. Posner, George J. Stigler e Lester G. Telser. 20 - Ver Bork, 1978.

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created either by the internal growth of the firms or by merger more than ten or

fifteen years old.”

Ou seja, a escola de Chicago defendia que o único objetivo das leis de defesa da

concorrência era o aumento da eficiência. Há dois tipos de eficiência que determina

o bem-estar do consumidor: eficiência alocativa (a alocação ótima de recursos no

conjunto da economia) e eficiência produtiva (uso eficiente dos recursos pela firma

individual através de economia de escala, escopo ou redução dos custos de

transação). Portanto, o objetivo da legislação antitruste seria melhorar a eficiência

alocativa sem afetar a eficiência produtiva de tal forma que o resultado final de bem-

estar agregado da economia fosse positivo ou neutro.

Observe-se, portanto, que a recomendação de reformas feita para os países em

desenvolvimento na década de 1990 ocorre em uma situação em que há um amplo

debate sobre a natureza das próprias intervenções de defesa da concorrência. Da

mesma forma a defesa da Escola de Chicago de redução da regulação em mercados

onde havia tradicionalmente intervenção do Estado, como no caso de monopólios

naturais, implicava que recomendava-se um modelo em plena transição, sendo que o

único ponto que parecia consensual era de que deveria substituir-se a propriedade

estatal por alguma forma de propriedade privada, com algum grau de regulação do

Estado. Em áreas em que a regulação não era necessária, bastava leis de defesa da

concorrência, que seriam capazes de produzir eficiência econômica e preços

competitivos, com mínima intervenção do Estado.

Observe-se que essa discussão que era nos países desenvolvidos, em especial

nos EUA, um debate sobre bem-estar do consumidor, foi transformada pelos

defensores de uma agenda de reforma de Segunda Geração em elementos de uma

estratégia de desenvolvimento. Ou seja, bastava adotar-se alguns aspectos das

instituições que promoviam um ambiente concorrencial nas economias industriais

avançadas para produzir resultados similares em termos de eficiência econômica e

bem-estar dos consumidores.

Nesse mesmo período, no entanto, uma nova linha de pesquisa viria a questionar

a validade do teoremas de bem-estar em sua forma mais sofisticada, ou seja, os

Teoremas Fundamentais da Economia do Bem-Estar formulados por Arrow-Debreu,

trazendo uma nova perspectiva para a ação do Estado. Essa abordagem, que tem um

dos seus mais importantes formuladores, Joseph Stiglitz vai ser chamada de

Economia da Informação.

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V - Economia da Informação e o Papel do Estado

A essência do modelo de equilíbrio foi formulada por Hayek de uma

maneira extremamente simples. Este resolve o problema de alocação de recursos

através de um único mecanismo de informação: o sistema de preços. Ou seja, um

sistema de preços descentralizado levaria uma alocação eficiente de recursos

escassos. Ninguém precisa saber as preferências de todos os indivíduos e a

tecnologia de todas as firmas para assegurar que alocação de recursos é pareto-

eficiente. Preços trazem todas as informações e são, de fato, estatísticas

suficientes.21 Hayek apresenta seus argumentos de forma literária, mas o modelo

Arrow-Debreu, de forma mais sofisticada, resolve através de um modelo

matemático, problema similar e ou seja, soluciona de forma rigorosa, na data 0, o

problema completo de alocação de recursos.

Stiglitz desafia todo este edifício fenomenal com uma proposição simples: a

existência de custos de informação, mesmo que pequenos, podem ter graves

conseqüências, e muitos dos resultados tradicionais da microeconomia não mais se

sustentam, inclusive os teoremas de Bem-Estar formulados por Arrow e Debreu.22

Ou seja:

“While one of the Standard informal arguments for decentralization using the

price system is its information economy, information economics showed that, in

general, efficient decentralization through the price system, whithout extensive

government intervention, does not result in a constrained Pareto Optimum, that

is, even taking into account the costs of information.”23

Vamos, a partir dessa proposição considerar dois pontos enfatizados pelos

defensores das reformas institucionais, como parte de uma estratégia de

desenvolvimento: a questão da efetividade dos contratos (contract enforcement) e a

questão do financiamento do investimento em Bolsa de Valores, através do IPO

(Initial Public Offers), o que é chamado no jargão do mercado de Equity

Financing.

Se as informações fossem perfeitas, a efetividade dos contratos seria fácil de ser

obtida e haveria pouca imprevisibilidade nas decisões judiciais. Além disso, a

natureza dos conflitos seria enormemente reduzida, uma vez que as partes

21 - Ver Hayek (1945) e Stiglitz (2000). 22 -Stiglitz, 2000, p.1443. 23 Idem, 2000, p. 1444.

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contratantes saberiam dos riscos que assumiam com exatidão, seriam capazes de

precificá-los e o resultado do negócio jurídico teria uma elevado grau de

previsibilidade. Justamente porque as informações são imperfeitas, há custos de

obtê-las, e elevada assimetria na interpretação e na valoração das informações

disponíveis uma vez que há percepções diferentes para os custos e os resultados das

obrigações assumidas. Nesse sentido, o fato de que os tribunais, como os indivíduos

estão sujeitos a informações incompletas, em muitos casos há grande

imprevisibilidade nas decisões judiciais. Tal fato ocorre, mesmo nas condições

ideais recomendadas pelos que sustentam que o risco jurisdicional deve-se a pouca

consideração aos direitos de propriedade de sistemas jurídicos de tradição romano-

germânico, como os latino-americanos. Ou seja, dado que as informações são

incompletas, e podem inclusive ser mais assimétricas em economias em

desenvolvimento, a efetividade dos contratos é necessariamente relativa, não devido

a características institucionais, mas pela própria natureza das relações contratuais.

Em nosso segundo exemplo, usamos a explicação de Stiglitz de porque, mesmo

em economias industriais avançadas, relativamente pouco capital é financiado pelo

lançamento de novas ações (equity financing), mesmo que essas sejam melhores

em termos de divisão de risco do que financiamento através de títulos (bonds) de

diversos tipos. Segundo esse autor, quando uma empresa resolve vender novas

ações, há sempre o risco de que a percepção dos gestores da empresa (que têm mais

informação do que os outsiders) , é que o preço das ações está sobrevalorizado, e

portanto uma reação normal do mercado é reduzir o preço das ações em decorrência

das emissões. Isto limita a capacidade de uma empresa de lançar novas ações.

Para reduzir esse problema é necessário que o custo de acesso às informações

seja reduzido pela regulação das autoridades e pela ação de auditores independentes.

Ou seja, sem o Estado o custo de obter as informações faria com que o

funcionamento desse mercado fosse extremamente ineficiente.

O argumento da Economia da Informação é que os problemas de assimetria de

acesso às informações e, ainda, do custo de obter as informações implicam que o

funcionamento dos mercados depende da ação do Estado. Mas, se isto é verdade

para a alocação de recursos em um contexto de estática comparativa, questões

intertemporais, como decisões de investimento, e outras políticas de alocação

intertemporais de recursos dependem, ainda mais, do Estado. Ou seja, as políticas de

desenvolvimento são parte de um conjunto de ações do Estado, necessárias em uma

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economia de mercado para que muitos mercados funcionem adequadamente. Isto é

particularmente importante em países que dado a história (e a história importa),

parte dos mercados são inexistentes, e há incerteza e riscos elevados associados a

alocação intertemporal de recursos.

A Economia da Informação, portanto, reconcilia a ação do Estado com o papel

dos mercados e abre caminho para uma interessante síntese da relação Estado-

Mercado nos países em desenvolvimento. O Estado passa a ter um papel

fundamental para resolver problemas que são impossíveis de serem tratados pelos

mercados, sendo que a questão informacional é um dos mais importantes problemas.

Mas Stiglitz traz também interessantes insights sobre o papel do Estado em duas

publicações , The Economic Role of the State (1989) e Wither Socialism (1994).

Para ele a importância do Estado é baseada em duas propriedades básicas:

participação universal e compulsão24; e deriva de quatro características exclusivas

que possui: (i) o poder de taxar; (ii) o poder de prescrever; (iii) o poder de punir; e

(iv) custos de transação mais baixos para certos efeitos externos, tais como o

problema do free rider, mercados incompletos e seleção adversa.

Portanto, o Estado está em posição excepcional para tratar de falhas de mercado

e de problemas de informação imperfeita e outros problemas de uma economia de

mercado. Para Stiglitz, o erro fundamental da economia de vários países do Leste

Europeu é acreditar na eficácia das proposições normativas de modelos como o

Lange-Lerner-Taylor sobre a equivalência da economia de mercado e do socialismo

de mercado. Ou seja, a idéia de que da mesma maneira que a alocação de recursos

pode ser resolvida pelo sistema de preços, pode igualmente ser resolvida por uma

autoridade com poderes de planejamento que é capaz de solucionar o problema

matemático de alocação de recursos em uma economia de comando. Nesse caso o

governo seria capaz de solucionar questões como o investimento de longo prazo e

fazer suas apostas quanto ao futuro.

Para Stiglitz o problema desse modelo é que não há incentivos para corrigir

ineficiências potenciais. Tentativas de resolver esse dilema levam a um outro

problema, o de Principal-Agente, ou seja, como equalizar os interesses de um

“principal” que atua através de um “agente”, com os interesses desse último. Isto é,

a descentralização é motivada pela capacidade limitada das firmas e dos indivíduos

24 - Um cientista político e/ou um jurista diriam: soberania e monopólio da violência.

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de processar e transmitir informações. A eficiência do sistema econômico depende,

portanto, de um equilíbrio entre centralização e descentralização.

Esse debate traz novamente a questão sobre para que servem os mercados e o

papel da concorrência. O papel principal dessa forma de rivalidade chamada

concorrência não é alocativa, mas sua função como indutor de inovação. Ou seja,

finalmente, voltamos para a essência do processo de desenvolvimento, tal como

visto por Schumpeter. As empresas inovam porque são obrigadas a fazê-lo pelo

mecanismo da concorrência. Se as empresas fossem sujeitas às condições restritivas

de um mercado perfeito com concorrência perfeita não sobreviveriam. É a

necessidade de obter lucros superiores ao custo marginal, possível para existência de

poder de mercado que viabiliza o capitalismo, que faz esse sistema tão eficiente e

tão dinâmico.

VI- Conclusão

Finalmente, pode-se concluir que não há desenvolvimento econômico sem

Estado. Mas da discussão realizada pode-se também concluir que sem mercado e

sem um ambiente concorrencial não há mecanismos para induzir a inovação e,

portanto, para produzir crescimento com mudança estrutural. As instituições

importam porque o custo de intervenção do Estado depende do funcionamento das

instituições. Ou seja, em sociedades com instituições que têm alto grau de

legitimidade e funcionam adequadamente, tanto as ações do governo como

funcionamento do mercado (que é uma instituição) podem produzir resultados

melhores a custos mais baixos de tributação e de fiscalização.

Nos países em desenvolvimento as legislações de defesa da concorrência e as

agências reguladoras têm papel distinto das que tinham em países desenvolvidos, e

em especial, nos EUA. Seu papel principal não é o de melhorar a alocação de

recursos em uma economia que já alcançou elevado nível de eficiência produtiva e

que já incorpora as tecnologias mais avançadas disponíveis. Nesse caso, seu

principal papel é contribuir para aumentar o nível de investimento e maximizar o

bem-estar da sociedade em um contexto dinâmico, ou seja, contribuir pára

efetividade das políticas de desenvolvimento. Nesse sentido mercado e concorrência

têm um papel fundamental, dada as características indutoras de progresso técnico.

Portanto, as eficiências relevantes não são as tradicionais eficiência alocativa ou

produtiva, mas a eficiência dinâmica schumperiana.

VII- Bibliografia

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