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Desenvolvimento Econômico, Moradia e Emprego
Bruno Sobral
Especialista em Economia Fluminense
e Professor da FCE / UERJ
Comitê Técnico de Acompanhamento do Plano Diretor (CTPD):
Quais os limites e potencialidades do Plano Diretor para promover o
desenvolvimento econômico equilibrado?
Como pensar políticas na esfera subnacional?
• Ir na raiz da questão, logo, além do aparente para buscar um sentido próprio e estratégico
O que significa federação no Brasil atual?
Qual sua relação com a formação territorial e o que isso diz para um projeto
de futuro?
• Não se pautar em repetir generalizações nem copiar modismos
Qual o lugar da economia fluminense e carioca na federação e no projeto de país?
Avaliar formação e consolidação de sistemas econômicos regionais (complexos)
O que pode o poder local? (1)
• Nenhuma escala é pior ou melhor a priori, pois cada problema tem uma escala específica para ser enfrentado.
• É preciso uma abordagem articulada em múltiplas escalas a respeito dos limites à capacidade de decisão.
• O poder local pode agir sobre aglomerações produtivas.
• Porém, não possui instrumentos básicos de uma política de desenvolvimento: comando sobre taxa de juros, de câmbio, do crédito e da fiscalidade suficiente.
• Quanto à fiscalidade, muitas iniciativas superam as possibilidades de um orçamento e capacidade de endividamento. Ou pior, põe em risco demandas sociais.
Cabe reconhecer que o poder local não é substituto de um Estado nacional, mas cabe se voltar a um projeto soberano de país.
• O território não é um conjunto de áreas de economia pungente e áreas de economia fragilizada, no qual estas últimas carecem de ganhar atratividade.
• Inversamente, o território é uma totalidade problematicamente (des)articulada diante de fatores de inércia resistentes à mudança.
• Logo, o desafio não é um “reequilíbrio espacial”, mas uma ação coordenada para desencadear sinergias profundas que aumentem a integração socioeconômica.
• Em um abordagem sistêmica, isso significa visar o acionamento de recursos ociosos que se acham ocultos, dispersos ou mal empregados em prol de consolidar complexos logístico-produtivos.
O que pode o poder local? (2)
Não cabe apostar em “cidades competitivas” e endossar uma falsa ideia de desenvolvimento local endógeno.
Como envolver a RM para promover uma política de desenvolvimento
econômico integrada?
Falta de lógica integrada de desenvolvimento da economia do ERJ diante
da falta de planejamento territorial
• Processo de metropolização não consolidou complexo regional polinucleado capaz de reduzir suas disparidades socioeconômicas gritantes.
• Há relativo “vazio produtivo” na periferia da RMRJ apesar de conjunto de grandes unidades produtivas.
• Essencial priorizar geração de emprego e renda buscando densidade produtiva. Caso contrário:
– Risco de piorar a degradação de centros urbanos tradicionais.
– Pressão sobre áreas com déficit de infraestrutura
– Problemas de mobilidade renovados.
Relação entre o número de empregos no total de atividades e o número de habitantes , 2016
• Dificuldade em ser lugar de trabalho, ao invés de conjunto de cidades dormitório.
• A periferia da RMRJ apresentou média de 14,4% no indicador, enquanto resultados para periferia da RMSP foi 24,2% e para periferia da RMBH foi 19,6%.
• A maioria dos municípios da BF tiveram as piores colocações no ranking.
Estrutura segundo participação no total de empregos formais, 2016
• Dinamismo tende a depender da própria circulação de renda na região.
• Considera-se o setor de serviços local como atividade pouco indutora. Segmentos que se destacam se referem a ativ. tradicionais como alojamento e alimentação
• Somente os setores de comércio e serviços tiveram pesos maiores que média nacional (juntos significam mais de 2/3 dos empregos formais).
• Comparando com periferias da RMSP e da RMBH, a adm. pública tem maior peso na BF, enquanto a ind. de transformação tem menor peso.
Ranking (%) empregos gerados pela ind. de transformação em relação ao emprego total, 2016
• Nenhum município é economia industrial. Potencial produtivo muito concentrado, e, onde está, tem peso insatisfatório na economia local.
• Só Nova Iguaçú e Duque de Caxias tem empregos formais na ind. de transformação superior a 10 mil ocupados (30.645 e 10.116), os demais tem abaixo dos 5 mil ocupados.
• Contudo, em ambos, participação da indústria de transformação no emprego total é inferior a 20%, ou seja, não possuem essa atividade como setor-líder.
• Para BF, essa participação é em torno da metade daquelas para periferias da RMSP e da RMBH (respectivamente, 12,8%, 22,6% e 24,4%).
DOIS CENÁRIOS: SIM, HÁ ALTERNATIVAS!
1) Aprofundar lógica belicista/improdutiva de “território em guerra”:
• Aceita-se financiamento deficitário para controle coercitivo da população.
• Segue moral do orçamento equilibrado e austeridade máxima para limitar ações voltada para recuperar o desenvolvimento socioeconômico.
• Considera menos rígida a restrição orçamentária para gastos armamentistas.
2) Reorientar para solução federativa de “territórios produtivos”:
• Socorrer financeiramente o governo subnacionais junto a planejamento estruturado de políticas territoriais de desenvolvimento.
• Reorganizar financiamento de políticas indutoras sobre a economia regional.
Como estimular o adensamento econômico e a diversidade de usos e
atividades nas centralidades municipais?
O desafio do planejamento indutor
• O que interessa discutir não é o mercado em abstrato, mas como se recriar mercados específicos, mercados estratégicos.
• O mercado real não é dado (não é predefinido por certos “fundamentos”)
• Trata-se de algo em processo e portanto dinâmico, passível de inúmeras especificidades histórico-geográficas e sujeito à revisão no tempo.
• Economia e mercado não são sinônimos de modo que quando o Estado entra, ele não "intervém" na economia. O Estado é um agente econômico.
• A ação governamental deve evitar se resumir à questão da distribuição locacional
• O local não é mero recipiente neutro que se atrai e se imobiliza recursos
Evitar ter mero comportamento reativo às forças de mercado como um mero “facilitador” de negócios
Ao invés de responder ao mercado, (re)criá-lo e (re)organizá-lo
• A formação de novos mercados é que interessa e não o velho mercado que aí está.
• O mercado atual é um resultado de uma fase do desenvolvimento a ser superada por uma organização superior associada a novos mercados a serem configurados.
• Analistas que se revelam defensores de mercado envelhecidos pouca valia deveriam ter suas recomendações.
• As metas públicas não devem ser baseadas naqueles que querem a inércia, fazendo crer que economia é para garantir que os mercados se mantenham estáveis.
• Modelo econômico é para ser instrumento de transformação estrutural positiva.
Visar mecanismos de coordenação pública de decisões em prol de uma acumulação de capital com temporalidade estratégica, e não só temporalidade de retorno.
Política de desenvolvimento não é caçadora de "vocações"
• Discurso de “vocações” busca apenas se apropriar da imagem daquilo que aparentemente dá certo. É mais marketing puro, mas tentando ser disfarçado.
• Isso não é política, mas sim sua negação. Afinal, política é a arte de tornar possível aquilo que tem temporalidade estratégica, não só se resumindo a temporalidade mercantil de retorno do capital.
• Senão o que aparentemente está em dificuldade não é assumido em um projeto. (por exemplo, diante, de sua situação de desfinanciamento, a UERJ não seria vista como vocação, mas sobre outra visão ela é mais que estratégica).
• Não confundir planejamento com marketing exige pensar sistema econômico regional e seus complexos logístico-produtivos.
O gestor público deve deixar de reafirmar uma Estrutura Produtiva Oca
O conceito de “Estrutura Produtiva Oca” (1)
• Um conjunto disperso de especializações setoriais em uma região e com pouca coerência do ponto de vista de uma divisão territorial do trabalho.
• Uma economia muito dependente do aproveitamento de algumas vantagens já reveladas que passam a ser consideradas suas “vocações” por suas elites decisórias
• Muitas vezes isso provoca situações de euforia exagerada sobre tais potencialidades.
• Embora existam brechas para alguns ganhos de competitividade em nichos setoriais isolados, não há o enfrentamento dos problemas estruturais.
• Isso impede o surgimento de novas vantagens competitivas mais sistêmicas.
O conceito de “Estrutura Produtiva Oca” (2)
• É possível listar um conjunto de atividades dinâmicas, mas não são setores líderes a ponto de gerar efeitos indutores e poder de arrasto significativos
• Ainda que possam ocorrer ciclos expansivos, inclusive decisões de grandes
investimentos, mantém-se os riscos de regressão generalizada. • Isso vai depender do grau que estiver vulnerável aos efeitos negativos de
conjunturas adversas.
• Logo, é uma economia mais suscetível a sofrer (e com mais intensidade) os rebatimentos de qualquer crise internacional e nacional.
Quais são as atividades econômicas com potencial de constituir cadeias de valor no município do Rio de Janeiro?
Complexo do petróleo e gás
• Induz setores associados como: naval, siderurgia, plástico, petroquímica, construção civil, ciência e tecnologia, máquinas e equipamentos.
• Apesar de há alguns anos ter sido colocado como grande aposta, os projetos sofreram um impasse.
• Hoje é preciso novamente pensar em recuperar e, em seguida, consolidar uma estratégia de agregar valor.
• Deve-se incentivar não só maior articulação institucional com uma agenda nacional (conteúdo local e Petrobras), como ganhar escala de planejamento estadual.
• É importante ter claro que o problema econômico fluminense não é superar a dependência do petróleo (e gás), ao contrário, é fortalecer seu complexo.
Complexo da saúde
• Área especial por envolver biotecnologia e ter como âncora a Fiocruz, que fica na capital e atua, inclusive, internacionalmente.
• O Rio tem potencial para essa agenda de ciência e tecnologia que envolve desenvolvimento de medicamentos, vacinas e outras inovações associadas à saúde.
• O potencial não é só econômico, mas também de desenvolvimento social, com a melhoria dos padrões de vida da população.
• Vale lembrar, ainda, problemas atuais relacionados a esse tema, como a epidemia de febre amarela.
Complexo da cultura (1)
• Em particular a indústria audiovisual.
• Como a saúde, esse complexo não se liga apenas a um desenvolvimento tecnológico e produtivo, mas social.
• Pode-se pensar cultura popular considerando a vanguarda cultural do Rio, que possui ativos intangíveis, de difícil reprodução e que não se vê e outros lugares.
• Debate sobre cultura por vezes é colocado apenas no sentido de preservar histórica ou medidas compensatórias.
• Inversamente é para ser tratado economicamente como algo para agregar valor e ser um dos setores líderes do desenvolvimento.
Complexo da cultura (2)
• Exemplo: a economia do Carnaval, que não é para ser vista só como atividade turística, e sim cultural
• Não tem uma agenda pública de desenvolvimento que a encare como algo que se desenvolve ao longo do ano e que deve dar retorno dessa forma, ou seja, para além do evento anual.
• Pode criar equipamentos/aplicativos, moda/vestuário, circuitos de entretenimento e produção de várias mídias independentes, o que se liga a uma agenda social de valorização da riqueza popular.
• O desafio é que seja algo que ancora desenvolvimento econômico com inclusão social, e não apenas com os ganhos concentrados em transmissão televisiva e trade turismo.