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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUI CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DOS MATERIAIS DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITOS A BASE DE POLIANILINA E CELULOSE MICROCRISTALINA MODIFICADA COM ANIDRIDO MALEICO COMO PLATAFORMAS PARA ENSAIOS ELETROQUÍMICOS JOSÉ REGILMAR TEIXEIRA DA SILVA PROFª. Dra. CARLA EIRAS PROF. Dr. EDSON CAVALCANTI DA SILVA FILHO Teresina Piauí Dezembro de 2013

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Page 1: DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE … · esquema de preparaÇÃo de filmes automontados a partir de ... (cam) depositadas sobre ito, a partir da mesma soluÇÃo inicial, nos tempos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DOS MATERIAIS

DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITOS A BASE DE

POLIANILINA E CELULOSE MICROCRISTALINA MODIFICADA COM

ANIDRIDO MALEICO COMO PLATAFORMAS PARA ENSAIOS

ELETROQUÍMICOS

JOSÉ REGILMAR TEIXEIRA DA SILVA

PROFª. Dra. CARLA EIRAS

PROF. Dr. EDSON CAVALCANTI DA SILVA FILHO

Teresina – Piauí

Dezembro de 2013

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JOSÉ REGILMAR TEIXEIRA DA SILVA

DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITOS A BASE DE

POLIANILINA E CELULOSE MICROCRISTALINA MODIFICADA COM

ANIDRIDO MALEICO COMO PLATAFORMAS PARA ENSAIOS

ELETROQUÍMICOS

Dissertação submetida ao Programa de Pós-

Graduação em Ciência dos Materiais da

Universidade Federal do Piauí – UFPI, como

requisito complementar à obtenção do título

de Mestre em Ciência dos Materiais.

ORIENTADORA: PROFa. Dra. CARLA EIRAS

CO-ORIENTADOR: PROF. Dr. EDSON CAVALCANTI DA SILVA FILHO

Teresina-Piauí

2013

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FICHA CATALOGRÁFICA

Serviço de Processamento Técnico da Universidade Federal do Piauí

Biblioteca Setorial do CCN

S586d Silva, José Regilmar Teixeira da..

Desenvolvimento e caracterização de compósitos a

base de polianilina e celulose microcristalina modificada

com anidrido maleico como plataformas para ensaios

eletroquímicos. / José Regilmar Teixeira da Silva –

Teresina, 2013.

90f.: il.

Dissertação (Mestrado) – Pós-Graduação em Ciência

dos Materiais, Universidade Federal do Piauí, 2013.

Orientador: Profª. Dra. Carla Eiras

Co-orientador: Prof. Dr. Edson Cavalcanti da Silva Filho

1. Físico-química. 2. Eletroquímica. 3. Polianilina. 4.

Celulose modificada. I. Titulo.

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JOSÉ REGILMAR TEIXEIRA DA SILVA

Desenvolvimento e Caracterização de Compósitos a Base de Polianilina e Celulose

Microcristalina Modificada com Anidrido Maleico como Plataformas para Ensaios

Eletroquímicos.

Dissertação submetida à coordenação do

curso de Pós-graduação em Ciência dos

Materiais da Universidade Federal do Piauí,

como requisito para a obtenção do grau de

Mestre em Ciência dos Materiais.

Banca Examinadora:

______________________________________________

Profa. Dra. Carla Eiras

Universidade Federal do Piauí

Orientadora

______________________________________________

Prof. Dr. Edson Cavalcanti da Silva Filho

Universidade Federal do Piauí

Co-orientador

______________________________________________

Profa. Dra. Cleide Maria da Silva Leite

Universidade Federal do Piauí

Examinador Interno

______________________________________________

Profa. Dra. Andressa Galli

Universidade Estadual do Centro Oeste

Examinadora Externa

Teresina – Piauí

Dezembro de 2013

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pela vida e oportunidade de superar minhas dificuldades nos

momentos ruins, pelos momentos bons que trouxeram um alento no trilhar dessa jornada.

A Profª. Dra. Carla Eiras, minha orientadora, pela confiança e apoio necessário para

o meu crescimento no mundo científico.

Ao prof. Dr. Edson Cavalcanti da Silva Filho, coorientador, por sempre se mostrar

disponível a ajudar quando solicitado.

Aos demais colaboradores, por dedicarem tempo grandioso para realização desta

pesquisa.

Aos Professores do Programa de Pós-graduação em Ciência dos Materiais, e colegas

de turma o meu agradecimento.

A Universidade Federal do Piauí que possibilitou a realização desse sonho, a

obtenção do título de mestre.

Aos funcionários do LIMAV, em especial Fabrícia, Kelson, Kilson e Allan.

Ao amigo Emanuel Airton, (BIOTEC) pela amizade, ajuda e dedicação no trabalho

árduo de laboratório e pelo apoio durante todo o processo do mestrado.

Agradeço a minha amiga, Evânia Carvalho, que abriu as portas de sua casa sempre

que precisei, quando inúmeras viagens a Parnaíba (PI) foram necessárias para desenvolver a

parte experimental desse trabalho, além do apoio e incentivo.

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Obrigado a minha família por vocês existirem. Por depositarem em mim a confiança

em todas as horas. Pai Francisco (in memorian), Mãe Francisca, Irmãos Ronaldo e Reginaldo

e minha Irmã Regilande, o meu muito obrigado.

A minha esposa, Edvane, que foi a principal motivadora para o meu ingresso no

programa de mestrado e, durante todo esse processo, sempre esteve ao meu lado dando-me

apoio.

Agradeço aos meus filhos Isadora e Guilherme, por serem minha motivação nos

momentos de cansaço e desânimo e sempre me fazerem lembrar que minhas vitórias também

são deles.

Devo muito a todas as pessoas mencionadas aqui, intelectual e emocionalmente.

A todos, meu muito obrigado!

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1

FIGURA 01. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA, A) DA CUBA LANGMUIR E B) TIPOS DE FILMES

MULTICAMADA OBTIDOS PELA TÉCNICA (LB) ONDE FILMES Y CORRESPONDEM À ARQUITETURA

(CALDA-CALDA), X A (CABEÇA – CALDA) E Z (CALDA – CABEÇA). ADAPTADO DE MATTOSO,

FERREIRA & OLIVEIRA, 1994. ................................................................................................... 23

FIGURA 02. ESQUEMA DE AUTOMONTAGEM POR QUIMISORÇÃO ONDE A ETAPA A)

REPRESENTENTA A MODIFICAÇÃO QUÍMICA DA SUPERFÍCIE DO SUBSTRATO EM QUE X-R-A

REPRESENTA UM HALETO ORGÂNICO COM UM GRUPO ANIÔNICO, ETAPA B) INCORPORAÇÃO DE

UM METAL (M) E ETAPA C) INCORPORAÇÃO DE UM GRUPO BIFUNIONALIZADO ANIÔNICO.

ADAPTADO DE PATERNO, MATTOS & OLIVEIRA, 2001. ............................................................ 25

FIGURA 03. A) ESQUEMA DE AUTOMONTAGEM DE MULTICAMADAS ADSORVIDAS POR IMERSÃO

ALTERNADA EM SOLUÇÕES DE POLIELETRÓLITOS ANIÔNICOS E POLIELETRÓLITOS CATIÔNICOS E

B) CORRELAÇÃO ENTRE A ESTRUTURA MOLECULAR DO POLÍMERO CATIÔNICO E ANIÔNICO E

SUAS RESPECTIVAS REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS NOS FILMES AUTOMONTADOS. ADAPTADA DE

DECHER, HONG & SHIMITT, 1992. ............................................................................................ 26

FIGURA 04. ESQUEMA DE PREPARAÇÃO DE FILMES AUTOMONTADOS A PARTIR DE

POLIELETRÓLITOS CATIÔNICOS E ANIÔNICOS. (ADAPTADO DE ZAMPA, ET AL. 2012). ............... 28

FIGURA 05. ESQUEMA DAS FÓRMULAS ESTRUTURAIS DE POLÍMEROS CONDUTORES

INTRÍNSECOS: A) POLIACETILENO B) POLIPIRROL C) POLITIOFENO D) POLIFENIL E) POLIANILINA.

ADAPTADO DE ZOPPI, PAOLI, 1993. .......................................................................................... 33

FIGURA 6. ESQUEMA DA FÓRMULA ESTRUTURAL DA POLIANILINA. .......................................... 34

CAPÍTULO 2

FIGURA 01. ESTRUTURAS QUÍMICAS DA: A) POLIANILINA E B) CELULOSE MICROCRISTALINA

MODIFICADA COM ANIDRIDO MALEICO. ..................................................................................... 55

FIGURA 02. ESQUEMA PARA DEPOSIÇÃO DOS FILMES MONOCAMADAS DE PANI E CAM PELA

TÉCNICA DE AUTOMONTAGEM. .................................................................................................. 56

FIGURA 03. ESPECTROS DE UV-VIS OBTIDOS DE FILMES CONTENDO 2 MONOCAMADAS DE PANI

E PARA PANI(CAM) IMOBILIZADOS APÓS DISPERSÃO DA CAM EM PANI EM TA (1MINUTO),

TB (2 HORAS) E TC (4 HORAS) EM SOLUÇÕES: (A) EM REPOUSO, (B) COM AGITAÇÃO E EM (C)

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COMPARATIVO ENTRE FILMES DE PANI(CAM) IMOBILIZADOS EM SOLUÇÃO COM E SEM

AGITAÇÃO. ................................................................................................................................ 59

FIGURA 04. CURVA DE CRESCIMENTO DOS FILMES DE: (A) PANI E (B) PANI(CAM) OBTIDOS

POR UV-VIS A CADA DUAS MONOCAMADAS ADSORVIDAS E (C) GRÁFICO DE CORRELAÇÃO

ENTRE O NÚMERO DE MONOCAMADAS (N) E VALOR DE ABSORBÂNCIA A 610NM. ..................... 64

FIGURA 5. VOLTAMOGRAMAS CÍCLICOS CARACTERÍSTICOS DO ELETRODO DE ITO E ITO

MODIFICADO COM DUAS MONOCAMADAS DE PANI. MEDIDAS REALIZADAS EM SOLUÇÃO DE

FOSFATO DE POTÁSSIO MONOBÁSICO 1,0 MOL L-1

(PH 1,5 AJUSTADO COM H3PO4 ) A 50MV S-1

.

.................................................................................................................................................. 65

FIGURA 6. VOLTAMOGRAMAS CÍCLICOS CARACTERÍSTICOS DO ELETRODO ITO MODIFICADO

COM DUAS MONOCAMADAS DE PANI E DO COMPÓSITO PANI(CAM). MEDIDAS REALIZADAS EM

SOLUÇÃO DE HIDROGENO FOSFATO DE POTÁSSIO MONOBÁSICO 1,0 MOL L-1

(PH 1,5 AJUSTADO

COM H3PO4 ), A 50MV S-1

. ........................................................................................................ 66

FIGURA 07. VOLTAMOGRAMAS CÍCLICOS CARACTERÍSTICOS DO ELETRODO ITO MODIFICADO

COM DUAS MONOCAMADAS DO COMPÓSITO PANI(CAM) PREPARADOS SEM E COM AGITAÇÃO

MECÂNICA DURANTE O PROCESSO DE DISPERSÃO DA CAM NA PANI. MEDIDAS REALIZADAS

EM SOLUÇÃO DE FOSFATO DE POTÁSSIO MONOBÁSICO 1,0 MOL L-1

(PH 1,5 AJUSTADO COM

H3PO4 ), A 50MV S-1

. ................................................................................................................ 67

FIGURA 08. VOLTAMOGRAMAS CÍCLICOS OBTIDOS PARA FILMES CONTENDO DUAS

MONOCAMADAS DE PANI(CAM) DEPOSITADAS SOBRE ITO, A PARTIR DA MESMA SOLUÇÃO

INICIAL, NOS TEMPOS TA (1MIN.), TB (2 HORAS) E TC (4 HORAS). TODOS OS FILMES FORAM

DEPOSITADOS A PARTIR DE UMA SOLUÇÃO AGITADA MECANICAMENTE POR UM PERÍODO DE UM

MINUTO APENAS ANTES DA PRIMEIRA IMOBILIZAÇÃO. OS VOLTAMOGRAMAS FORAM OBTIDOS

EM SOLUÇÃO DE HIDROGENO FOSFATO DE POTÁSSIO MONOBÁSICO 1,0 MOL L-1

(PH 1,5

AJUSTADO COM H3PO4 ), A 50MV S-1

. ....................................................................................... 69

FIGURA 09. FÓRMULAS ESTRUTURAIS: A) HIDROQUINONA, B) O-BENZOQUINONA C) P-

BENZOQUINONA ........................................................................................................................ 70

FIGURA 10. VOLTAMOGRAMAS CÍCLICOS OBTIDOS PARA OS FILMES DE (A) PANI E (B)

PANI(CAM)DEPOSITADOS SOBRE ITO COM DIFERENTES NÚMEROS DE MONOCAMADAS. TODAS

AS MEDIDAS FORAM REALIZADAS EM SOLUÇÃO DE FOSFATO DE POTÁSSIO MONOBÁSICO 1,0 MOL

L-1

(PH 1,5 AJUSTADO COM H3PO4 ), A 50MV S-1

. ..................................................................... 70

FIGURA 11. RESPOSTA ELETROQUÍMICA EM DIFERENTES PHS PARA OS FILMES DE A) PANI E B)

PANI(CAM) CONTENDO SEIS BICAMADAS CADA UM. ELETRÓLITO SUPORTE EMPREGADO FOI

UMA SOLUÇÃO DE FOSFATO DE POTÁSSIO MONOBÁSICO (1,0 MOL L-1

) AJUSTADO EM CADA PH

COM SOLUÇÃO DE HIDROGENO FOSFATO DE POTÁSSIO DIBÁSICO (K2HPO4) TAMBÉM 1,0 MOL L-1

À V= 50MV S-1

. .......................................................................................................................... 72

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FIGURA 12. TESTES DE ESTABILIDADE ELETROQUÍMICA DOS FILMES EM FUNÇÃO DO NÚMERO

DE VARREDURAS PARA OS FILMES DE PANI EM A) PH 1,5 E B) PH 4,5; E PARA OS FILMES DE

PANI(CAM) EM C) PH 1,5 E D) PH 4,5. TODAS AS MEDIDAS FORAM REALIZADAS EM UMA

SOLUÇÃO DE FOSFATO DE POTÁSSIO MONOBÁSICO (1,0 MOL L-1

) AJUSTADO EM CADA PH COM

SOLUÇÃO DE HIDROGENO FOSFATO DE POTÁSSIO DIBÁSICO (K2HPO4) 1,0 MOL L-1

À V= 50MV S-

1. ............................................................................................................................................... 73

FIGURA 13. ESTUDOS DA INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE VARREDURA NO COMPORTAMENTO

ELETROQUÍMICO DE FILMES CONTENDO SEIS MONOCAMADAS DEPOSITADAS DE: A) PANI C)

PANI(CAM) E CORRELAÇÃO ENTRE CORRENTE DE POTENCIAL DE OXIDAÇÃO E REDUÇÃO EM

FUNÇÃO DA VELOCIDADE DE VARREDURA. OS VOLTAMOGRAMAS FORAM OBTIDOS EM SOLUÇÃO

DE FOSFATO DE POTÁSSIO MONOBÁSICO 1,0 MOL L-1

(PH 1,5 AJUSTADO COM H3PO4 ), EM

DIFERENTES VELOCIDADES DE VARREDURA. ............................................................................. 75

FIGURA 14. TESTES DE ESTABILIDADE ELETROQUÍMICA DE FILMES DE PANI(CAM) CONTENDO

SEIS MONOCAMADAS EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE DIAS APÓS PREPARAÇÃO DOS MESMOS,

OBTIDOS EM SOLUÇÃO DE HIDROGENO FOSFATO DE POTÁSSIO MONOBÁSICO 1,0 MOL L-1

(PH 1,5

AJUSTADO COM H3PO4 ), A 50MV S-1

. ....................................................................................... 77

FIGURA 15. VOLTAMOGRAMAS CÍCLICOS OBTIDOS PARA FILMES DE A) PANI E B) PANI(CAM)

NA PRESENÇA DE CU(II) À 1X10-3

MOL L-1

E C) VOLTAMOGRAMAS DE PULSO DIFERENCIAL

OBTIDOS PARA ESTES MESMOS FILMES NA MESMA CONCENTRAÇÃO ESTUDADA. TODOS OS

VOLTAMOGRAMAS FORAM OBTIDOS COM FILMES DE 6 MONOCAMADAS SOB USO DE ELETRÓLITO

SUPORTE DE TAMPÃO HIDROGENO FOSFATO DE POTÁSSIO 1,0 M, PH 1,5 A 50MV S-1

.. .............. 78

FIGURA 16. FILME DE A) PANI E B) PANI(CAM) NA PRESENÇA DE VÁRIAS CONCENTRAÇÕES

DE AZUL DE METILENO. TODOS OS VOLTAMOGRAMAS FORAM OBTIDOS COM FILMES DE 6

MONOCAMADAS SOB USO DE ELETRÓLITO SUPORTE DE TAMPÃO HIDROGENO FOSFATO DE

POTÁSSIO 1,0 M, PH 1,5 A 50MV S-1

.. ........................................................................................ 80

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LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 1

TABELA 01. MATERIAIS IMOBILIZADOS PELA TÉCNICA LBL E SUAS APLICAÇÕES OU OBJETIVOS

DE ESTUDO. ............................................................................................................................... 29

TABELA 02. POLIANILINA COMBINADA COM DIVERSOS MATERIAIS COM O INTUITO DE

MELHORAR PROPRIEDADES OU DESENVOLVIMENTO DE DISPOSITIVOS. ...................................... 36

CAPÍTULO 2

TABELA 01. VALORES DE ABSORBÂNCIA DE FILME DE PANI(CAM) EM FUNÇÃO DO TEMPO DE

PREPARO DA SOLUÇÃO COM E SEM AGITAÇÃO MECÂNICA, ONDE TA 1MIN, TB 2 H E TC 4H, APÓS

O CONTATO INICIAL ENTRE PANI E CAM. ................................................................................ 61

TABELA 02. VALORES DO PH DAS SOLUÇÕES DE PANI, PANI(CAM) EM FUNÇÃO DO TEMPO DE

PREPARO DA SOLUÇÃO. ............................................................................................................. 62

TABELA 3. COEFICIENTES DE RELAÇÃO LINEAR (PEARSON’S R) ENCONTRADOS NO ESTUDO DE

VELOCIDADE DE VARREDURA. ................................................................................................... 76

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ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

nm Nanômetro

μm Micrômetro

LbL Layer-by-Layer (camada por camada)

UV Ultravioleta (radiação)

LB Langmuir-Blodgett (técnica de imobilização de filmes)

pH Potencial hidrogeniônico

MEV Microscopia eletrônica de varredura

MFA-EC Microscopia de força atômica por emissão de campo

PVP Poli(vinil pirrolidina)

PVA Poli(vinil álcool)

PAAm Poliacrilamina

PSS Poli(estireno sulfonato) de sal de sódio

PCAAm ou (HAP) Poli(cloridrato de alilamina)

TiO2 Dióxido de titânio

PMLG Polimoléculas de (γ-metil L-glutamato)

In Índio (elemento químico)

Ga Gálio (elemento químico)

As Arsênio (elemento químico)

PEI Poli(etileno imina)

PAA Poli(ácido acrílico)

DNA Ácido desoxirribonucleico

SPAEC Sulfonato de poli(arileno éter cetona)

CM Celulose microcristalina

QCM Microbalança de cristal de quartzo

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GOx Glicose oxidase

SnO2 Dióxido de estanho

cm centrímetro

mM Milimolar (10-3

mol/L)

M Molar (mol/L)

A Ampare

Mb Mioglobina

CDA Compósito diacetato de celulose

H2O2 Peróxido de hidrogênio (água oxigenada)

PANI Polianilina

CAM Celulose microcristalina modificada com anidrido maleico

Hg(II) Cátion bivalente do mercúrio

UV-VIS Ultravioleta e visível (espectroscopia)

VC Voltametria cíclica

DMAc Dimetilacetamida

HCl Ácido clorídrico

ITO Óxido de Estanho dopando com Índio

KH2PO4 Fosfáto de potássio monobásico

K2HPO4 Fosfato de potássio dibásico

H3PO4 Ácido fosfórico

H+ Íon hidrogênio

R2 Coeficiente de relação linear de Pearson`s

Eoxi Potencial de oxidação

Ered Potencial de redução

SLE Sal de leucoesmeraldina

SE Sal de esmeraldina

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BPG Base pernigranilina

Cu(II) íon cobre bivalente

C16H18N3SCl Azul de metileno

Constante de Michaelis-Menten

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RESUMO

DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITOS A BASE DE

POLIANILINA E CELULOSE MICROCRISTALINA MODIFICADA COM

ANIDRIDO MALEICO COMO PLATAFORMAS PARA ENSAIOS

ELETROQUÍMICOS

Neste estudo, um novo material, compósito PANI(CAM) a base de polianilina

(PANI) e celulose microcristalina modificada com anidrido malêico (CAM), foi desenvolvido

na forma de filmes finos, imobilizados sobre lâminas de ITO, empregando a técnica layer-by-

layer (LbL) de automontagem. Para efeitos de comparação, filmes finos de PANI, na ausência

da CAM, também foram preparados sob as mesmas condições do compósito de PANI(CAM).

A caracterização do compósito PANI(CAM), pela técnica de espectroscopia na região do

UV-VIS, mostrou que a CAM atua como um ácido orgânico, promovendo um processo de

dopagem secundária da PANI, mostrado pelo aparecimento da banda larga de absorção em

900 nm e confirmado através das medidas de voltametria cíclica, em que foi observado um

incremento nos valores de densidade de corrente obtidos para estes filmes quando

comparados aos valores encontrados a PANI na ausência de CAM. Estudo do comportamento

dos filmes de PANI e PANI(CAM) em diferentes valores de pH revelaram que os filmes do

nanocompósito apresentaram atividade eletroativa em pH mais elevados, fato não observado

nos filmes de referência (PANI). Testes de estabilidade dos filmes de PANI(CAM) revelaram

que três meses após sua fabricação, o perfil eletroquímico observado para os mesmos

manteve-se estável, indicando que não houve aceleração do processo de degradação da

polianilina decorrente da presença da CAM no filme.

Palavras-chaves: polianilina, celulose modificada, densidade de corrente

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ABSTRACT

DEVELOPMENT AND CHARACTERIZATION OF COMPOSITES BASED

ON POLYANILINA AND MODIFIED MICROCRYSTALLINE CELLULOSE WITH

ANHYDRID MALEIC AS PLATFORMS TO ELETROCHEMICAL TRIALS

In this study, a new material, composite PANI (CAM) based on polyaniline (PANI)

and microcrystalline cellulose modified with maleic anhydride (CAM) was designed in the

form of thin films, Immobilized on ITO slides, using the layer-by-layer (LbL) self-assembly

technique. The solution containing PANI CAM was used in the immobilization of these

materials on sheets of ordinary and handler glass from the layer- by-layer self-assembly

technique. For purposes of comparison, thin films of PANI in the absence of CAM were also

prepared under the same conditions of the composite PANI (CAM). The characterization of

the composite PANI (CAM) by spectroscopy in the UV -VIS region showed that the CAM

acts as an organic acid that promotes promoting a process of secondary doping of PANI

shown by the appearance of broad absorption band at 900 nm and confirmed through the

measurements of cyclic voltammetry, showing a development in current density values

obtained obtained for these films when compared to values for the PANI films (CAM) when

compared to the PANI values found in the absence of CAM . Study of the behavior of the

films of PANI and PANI (CAM) at values of different pH’s revealed that films of

nanocomposites showed eletroactive activity on higher phs. This fact was not observed on

reference films. Stability tests of PANI films revealed that three months after the making, the

electrochemical profile observed for the same, remained stable, indicating no acceleration in

the polyaniline’s degradation process of due to the presence of cellulose in the film.

Keywords: Polyaniline, modified cellulose, current density.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................................... 15

CAPÍTULO 1. ARTIGO DE REVISÃO ........................................................................................................................ 18

1.INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 19

2. FILMES AUTOMONTADOS ................................................................................................................................ 22

2.1 POLÍMEROS CONDUTORES ............................................................................................................................. 31

2.2 POLÍMEROS NATURAIS – CELULOSE ................................................................................................................ 37

2.3 APLICAÇÃO DE FILMES LBL DE PANI E CELULOSE NA PRODUÇÃO DE BIOSSENSORES ...................................... 38

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................... 41

4. REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................... 43

CAPÍTULO 2 . ARTIGO CIENTÍFICO ........................................................................................................................ 50

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 51

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ..................................................................................................................... 54

2.1 MATERIAIS ......................................................................................................................................................... 54

2.2 DEPOSIÇÃO DOS FILMES ........................................................................................................................................ 55

2.3 CARACTERIZAÇÃO DOS FILMES ................................................................................................................................ 57

2.3.1 – Espectroscopia na região do ultravioleta visível (UV-VIS) ......................................................................... 57

2.3.2 – Voltametria Cíclica (VC) ............................................................................................................................ 57

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................................................... 59

3.1 – ESPECTROSCOPIA NA REGIÃO DO UV-VIS .............................................................................................................. 59

3.2 CARACTERIZAÇÃO ELETROQUÍMICA POR VOLTAMETRIA CÍCLICA .................................................................................... 65

3.3 TESTES PRELIMINARES DE APLICAÇÕES EM SENSORES ................................................................................................... 78

3.3.1 Detecção de Cu(II) ........................................................................................................................................ 78

4. CONCLUSÃO ...................................................................................................................................................... 84

5. REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................... 86

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APRESENTAÇÃO

A nanotecnologia, segundo Gyles (2012), tem se tornado tema de estudos e

pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento, principalmente naqueles que envolvem

produção e caracterização de materiais nanoestruturados, motivados pelas possíveis

melhorias de algumas propriedades como as ópticas e elétricas que podem apresentar

características típicas apenas em materiais nanoestruturados quando comparadas aquelas

obtidas nos mesmos materiais só que em outras escalas.

Tratando-se de um campo de pesquisa interdisciplinar, a nanotecnologia impulsiona

estudo com diversos tipos de materiais conduzindo as pesquisas a uma infinidade de novos

produtos e aplicações (Camacho, et al. 2012; Liu, Qiu& Wu, 2012). Com o avanço

tecnológico surge a necessidade de equipamentos compactos e mais precisos, otimização de

produtos e serviços (Villiers, et al. 2011)

É nessa conjectura, que filmes finos multicamadas apresentam-se como uma

excelente opção para o desenvolvimento de dispositivos nanoestruturados e em especial

obtidos pela técnica de automontagem Layer-by-Layer (LbL) que se destaca de outras

técnicas pela eficientes de obtenção de filmes finos com grande controle da espessura e da

arquitetura molecular (Lu, Hsieh 2010).

Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi:

Fazer um levantamento bibliográfico sobre filmes automontados,

enfatizando sua aplicação em polímeros condutores, em especial a polianilina

conjugada com outros polímeros de interesse com a celulose; além das aplicações

desses polímeros em biossensores.

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Desenvolver e caracterizar filmes híbridos nanoestruturados a base de

celulose microcristalina modificada com anidrido maleico, pela técnica Layer-by-

Layer (LbL);

Avaliar o comportamento do polieletrólito (PANI) na presença da

celulose microcristalina modificada com anidrido maleico;

Propor o desenvolvimento de sensores para detecção de metais

bivalentes e corantes.

Para tanto, filmes automontados foram obtidos a partir de uma solução do

polieletrólito (PANI) com a celulse dispersa, levando a formação de filmes compósitos

PANI(CAM)

Esta dissertação foi dividida em dois capítulos: Capítulo 1 – artigo de revisão sobre

filmes automontados, dando ênfase a técnica LbL aplicada na fabricação de filmes a base de

polieletrólitos, principalmente polímeros condutores, dando enfoque ao de polianilina em

biossensores, bem como o uso da celulose para os mesmos fins. Capítulo 2 – artigo

científico, enfatizando a síntese e caracterização por UV-Vis e VC, dos filmes

nanoestruturados a base de polianilina e celulose microcristaliana modificada com anidrido

maleico. Por fim, foram realizados teste preliminares do sistema otimizado PANI(CAM) no

desenvolvimento de sensores para a detecção de metais bivalentes e de corantes.

REFERÊNCIAS

Camacho, S.A., Aoki, P.H.B., Constantino, C. J. L., Aroca, R.F., Pires, A.M. (2012).

Nanostructured hybrid films containing nanophosphor: Fabricationand electronic spectral

properties. Journal of Alloys and Compounds, 541, 365–371.

Gyles, Carlton (2012). Nanotechnology. The Canadian Veterinary Journal. 53, 819–822.

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17

Liu, Peng, Qiu, Jianhui,Wu, Xueli (2012). Poly(methyl methacrylate) via in-situ radical

polymerization. Materials Letters, 77, 4–6.

Lu, Ping, Hsieh, You-Lo (2010). Layer-by-layer self-assembly of Cibacron Blue F3GA and

lipase on ultra-fine cellulose fibrous membrane. Journal of Membrane Science. 348, 21–27.

Villiers, Melgardt M. de, Otto,Daniel P., Strydom, Schalk J., Lvov, Yuri M. (2011).

Introduction to nanocoatings produced by layer-by-layer (LbL) self-assembly. Advanced

Drug Delivery Reviews, 63, 701–715.

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CAPÍTULO 1. Artigo de Revisão

SÍNTESE DE FILMES FINOS À BASE DE POLIANILINA E CELULOSE

MICROCRISTALINA PARA APLICAÇÕES EM BIOSSENSORES

José Regilmar1, Edson C. Silva Filho

1 e Carla Eiras

1,2*

1-Laboratório Interdisciplinar de Materiais Avançados - LIMAV, CCN, UFPI,

Campus Ministro Petrônio Portela, Teresina-PI, 64049-550, Brasil.

Emanuel Airton O. Farias2,

2-Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade e Biotecnologia, BIOTEC, Campus de

Parnaíba, UFPI, Parnaíba, PI, 64202-020, Brasil.

___________________________

E-mail: [email protected]

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1.INTRODUÇÃO

Richard Feynman, em 1959, já enfatizava o potencial científico e tecnológico de

materiais e dispositivos produzidos em dimensões atômicas ou moleculares, no entanto, o

termo nanotecnologia surgiu apenas em 1974, quando Norio Taniguchi (pesquisador da

Universidade de Tóquio) estabeleceu a diferença entre a engenharia micrométrica e um novo

campo da engenharia, que atuaria na escala submicrométrica ou nanométrica, a qual

começava a emergir (Taniguchi, 1983) e somente com quase vinte anos depois que Herbert

Gleiter introduziu o termo sólido nanoestruturado (Nordmann, 2009).

Atualmente o termo nanotecnologia, segundo (Gyles, 2012), pode ser definido como

"a engenharia de sistemas funcionais em escala molecular".

A nanotecnologia é vista como uma nova revolução tecnológica, a exemplo da

criação e desenvolvimento dos motores a vapor, eletricidade, ferrovias, carros e

computadores, que mudaram o modo de vida da sociedade (Gyles, 2012).

Emprega-se o termo nano à bilionésima parte de uma unidade; assim, o nanômetro

corresponde a um bilionésimo do metro (1nm = 1/1.000.000.000 m) (Wilson, et al. 2002).

Para alguns autores, a nanotecnologia envolve toda pesquisa com estruturas e materiais que

apresentam dimensões na faixa de 1 a 100 nm, ou seja, os nanomateriais (Clift, Lloyd, 2008;

Fishbine, 2002). Mas a definição de nanotecnologia não pode ser limitada apenas a uma faixa

dimensional, pois propriedades óticas, elétricas, magnéticas, de transporte de carga e

catalíticas dos materiais apresentam-se definidas a partir de um determinado tamanho,

denominado tamanho crítico (Zarbin, 2007).

Desta forma, não basta que um material tenha dimensões nanométricas para que

seja considerado um nanomaterial, mas é preciso que o mesmo possua ao menos uma

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dimensão, dentro da faixa de tamanho nanométrico, abaixo do tamanho crítico, capaz de

alterar alguma de suas propriedades ou mesmo apresentar novas propriedades ainda não

observadas. Além disso, fatores como a forma das nanopartículas (esférica, bastões e etc)

também podem influenciar suas propriedades, que essas partículas possuam o mesmo

tamanho. Logo, a nanotecnologia deve envolver toda pesquisa cujas propriedades são

dependentes diretamente do tamanho e do formato das partículas (Zarbin, 2007).

Por se tratar de uma área de pesquisa interdisciplinar, a nanotecnologia vem

impulsionando o estudo dos mais diversos tipos de materiais, dentre eles: polímeros (Liu,

Qiu& Wu, 2012), cerâmicas (Ramaseshan, et al. 2007), metais, semicondutores, compósitos e

biomateriais (Eiras, et al. 2010). Tais materiais são empregados como blocos de construção

(building blocks) na forma de clusters, nanopartículas (Xue, et al. 2010), nanotubos e

nanofibras, possibilitando uma infinidade de novas aplicações, principalmente no que diz

respeito as novas propriedades químicas, físicas e biológicas, intrínsecas à nanoescala (Iwaki,

2011, Duran, Morais & Mattos, 2006), e portanto, não observadas na macroescala, como, por

exemplo, fenômenos quânticos superficiais e supramoleculares (Camacho, et al. 2012).

O avanço tecnológico e a exigência de equipamentos cada vez mais compactos e

mais precisos, além da necessidade de otimização de produtos e serviços exigidos pela

sociedade atual, impulsionam as pesquisas por novos materiais nanoestruturados. O alto

controle de parâmetros como espessura e flexibilidade, nas múltiplas combinações de

materiais, é primordial para o desenvolvimento destes nanomateriais; mas, em contrapartida,

para o avanço da ciência, são exigidos equipamentos com maior precisão, além da criação de

novas técnicas de manipulação de materiais ou mesmo o aprimoramento de técnicas já

existentes, à medida que vão sendo reduzidos os tamanhos das amostras, e mergulhando-se

cada vez mais na intimidade da matéria, (Iwaki, 2011; Santos, 2009).

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Uma forma muito interessante de conjugar diferentes tipos de materiais na escala

nanométrica consiste na imobilização destes na forma de filmes (Nie, Ellmer, 2013; Kaci, et

al. 2010). Um filme pode ser definido como uma quantidade de matéria sólida ou líquida

arranjada em camadas, sobre uma superfície que também pode encontrar-se no estado sólido

ou líquido (Galembeck, 1998; Sigaud, 2005).

De acordo com sua espessura, os filmes podem ser definidos como: I) finos, quando

essa variação é entre 100nm e 1μm II) ultrafino, se essa espessura for abaixo de 100 nm; III)

e espesso, aqueles acima de 1μm (Ohring,1992 ). Na atualidade, se dispõe de técnicas de

preparação de filmes, destacando-se as técnicas casting (Chandra, Sobral, 2000), spin-coating

(Kobayashi et al. 2013;Petri, 2002; Chwastek, et al. 2011) e Dip Coating (Brinker et al,

1990). Porém, quando se deseja agrupar características como: baixo custo, simplicidade

procedimental, alto controle da espessura dos materiais, alto grau de empacotamento

molecular, além de versatilidade nas combinações de materiais, a técnica de automontagem

do tipo camada-por-camada ou LbL – do inglês Layer-by-Layer – destaca-se entre as demais

(Nomoto, et al. 2010; Iler, 1966).

A técnica LbL fundamenta-se na deposição em camadas, por atração eletrostática de

materiais com cargas opostas, permitindo a variação da arquitetura e da sequência de

deposição, dos materiais de interesse, conforme necessidade do investigador. A obtenção de

filmes finos, como filmes LbL, pode em muitos casos, potencializar as interações entre as

moléculas dos materiais empregados, promovendo um efeito sinérgico entre os mesmos e,

com ele o surgimento de propriedades ou comportamentos que não seriam vistos em filmes

mais espessos quando obtido por outras técnicas como casting e spin-coating (Lvov, Decher

& Mohwald, 1993; Decher, Hong & Schmitt,1992).

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Inúmeros materiais vêm sendo incorporados na forma de filmes ultrafinos por meio

da técnica LbL, como enzimas (glucose-oxidase) (Jesus, et al. 2013), polímeros combinados

com nanomateriais (Camacho, et al. 2012), materiais biocompatíveis a base de hidrato de

hidrogênio, fosfato de zircônio e quitosana (Waraich, et al. 2012), polieletrólitos diversos

para a produção de películas para encapsulamento (Villiers; et al. 2011), agentes de

avivamento fluorescentes e poli(cloreto de dialildimetilamônio) os quais atuam na proteção

contra radiação UV (Wang, Hauserb, 2010). No entanto, nas últimas décadas, o estudo de

polímeros condutores na forma de filmes finos vem despertando interesse devido as suas

propriedades ópticas (Yoshino, et al. 2001; Patil, Hegeer & Wudl, 1998), elétricas (Lakshmi,

et al. 2008) e magnéticas (Vandeleene, et al. 2010; Zuppiroli, Paschen & Bussac, 1995), as

quais abrem um leque de aplicações, a exemplo de diversos tipos de dispositivos

eletroeletrônicos músculos artificiais e sensores eletroquímicos (Otero, Martinez & Arias-

Pardilla, 2012), transistores de feito de campo (Bubnova, Berggren & Crispin, 2012) e

revestimentos transparentes e condutores (Kulkarni, 1995).

2. FILMES AUTOMONTADOS

Os primeiros filmes com espessura abaixo de 100nm foram obtidos ainda no início

do século XX por meio dos trabalhos realizados por Langmuir e, posteriormente, por

Blodgett, cujo nome da técnica Langmuir-Blodgett (LB) homenageia seus criadores (Paterno,

Mattoso & Oliveira, 2001). Para a obtenção desses filmes, foram utilizados vários tipos de

moléculas orgânicas como os derivados de hidrocarbonetos, biomoléculas, polímeros,

copolímeros, polímeros condutores e ácidos graxos, as quais possuem uma extremidade

hidrofílica e outra hidrofóbica (Trivinho-Strixino, Pereira & Lopes, 2004).

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Desta forma, o procedimento na técnica LB consiste na dissolução de materiais

orgânicos, em solventes voláteis e não solúveis em água e, posterior dispersão dessa mistura

sobre uma lâmina de água. Após a evaporação do solvente, restará uma película de materiais

orgânicos sobre a lâmina de água que, ao ser pressionado por anteparos móveis adaptados a

uma cuba, produz uma pressão que leva a uma orientação das moléculas de tal forma que a

parte hidrofóbica do material será direcionada para cima, enquanto a parte hidrofílica ficará

orientada para baixo permanecendo em contato com a água (Xhanari, 2011; Paterno, Mattoso

& Oliveira 2001; Mattoso, Ferreira & Oliveira, 1994), Figura 01.

Figura 01. Representação esquemática, A) da cuba Langmuir e B) tipos de filmes

multicamada obtidos pela técnica (LB) onde filmes Y correspondem à arquitetura (calda-

calda), X a (cabeça – calda) e Z (calda – cabeça). Adaptado de Mattoso, Ferreira & Oliveira,

1994.

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Como resultado, obtém-se uma camada, cuja espessura é igual à das moléculas que a

compõe, podendo ser removida lentamente para um substrato. Assim, a repetição sistemática

desse procedimento levará a formação de filmes multicamadas com diferentes arquiteturas

que dependem da natureza da superfície do substrato, bem como dos tipos de materiais

utilizados para formar as monocamadas do filme nanoestruturado (Paterno, Mattoso &

Oliveira2001).

Como consequência desse procedimento, obtém-se filmes com elevado grau de

organização molecular a nível nanométrico e propriedades diretamente dependentes de

variáveis como velocidade e sequência de deposição, valor do pH da solução e da natureza

química dos materiais utilizados na produção dos filmes. Entretanto, a necessidade de

compostos anfifílicos, do aparato sofisticado e a exigência de ambiente extremamente limpo

apresentam-se como limitações dessa técnica (Paterno, Mattoso & Oliveira 2001).

A técnica Langmuir-Blodgett foi aplicada na produção de filmes obtidos a partir de

emulsões de nanofibras de celulose modificada com grupos hidrofóbicos e tolueno na

investigação da natureza da camada formada por essas nanofibras na interface água/óleo, por

microscopia eletrônica de varredura (MEV) e microscopia de força atômica por emissão de

campo (MFA-EC). Constatou-se, então, que na interface água/óleo as nanofibras de celulose

atuam como um único dispersante ou podem atuar na forma de rede (Xhanari, 2011).

A automontagem do tipo LbL apresenta-se com uma alternativa à LB na obtenção de

filmes ultrafinos, com baixo custo de produção. Correspondendo a uma técnica de produção

de filmes finos, fundamentada na atração eletrostática entre materiais eletrolíticos, em que a

reorganização molecular dá-se espontaneamente sem que haja intervenção ou auxílio externo,

de tal forma que essa reorganização e estabilidade dos filmes sejam favorecidas por

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condições termodinâmicas adequadas (Whitesides, Grzybowski, 2002; Paterno, Mattoso&

Oliveira, 2001).

Essa técnica foi primeiramente citada por Iler em seu artigo publicado em 1966,

onde descreve a fabricação de filmes por adsorção alternada de partículas coloidais que

possuíam cargas opostas (Iler, 1966). No entanto, foi, no início da década de 80, com os

trabalhos desenvolvidos por Sagiv e colaboradores (Sagiv, et al. 1983), que foi introduzida a

expressão ―automontagem‖ (self-assembly). Filmes finos multicamadas, constituídos por

moléculas adsorvidas ao substrato a partir de ligações covalentes, estabelecidas entre o

mesmo e moléculas bifuncionalizadas, conforme ilustrado na Figura 02, deram origem a

expressão ―automontagem‖, proposta por Sagiv. No entanto, a necessidade de moléculas

bifuncionalizadas limitava a técnica no que diz respeito à variedade e especificidade das

espécies químicas empregadas (Sagiv, et al. 1983).

Figura 02. Esquema de automontagem por quimisorção onde a etapa A) represententa a

modificação química da superfície do substrato em que X-R-A representa um haleto

orgânico com um grupo aniônico, etapa B) incorporação de um metal (M) e etapa C)

incorporação de um grupo bifunionalizado aniônico. Adaptado de Paterno, Mattos &

Oliveira, 2001.

Como resposta às limitações apresentadas pelo processo de automontagem proposto

por Sagiv, Decher e Lvov, já na década de 90, deram uma nova roupagem à técnica proposta

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por Iler, utilizando agora o princípio físico da atração eletrostática para a formação dos filmes

e não mais por quimissorção. A modificação metodológica da técnica permitiu ampliar a

gama de materiais possíveis de serem imobilizados na forma de filmes multicamadas,

surgindo, a partir desse momento, o processo de automontagem ―camada-por-camada‖ ou

Layer-by-Layer (LbL), ilustrado esquematicamente na Figura 03, (Mattoso, 1994; Decher,

Hong & Schimitt, 1992).

Figura 03. A) Esquema de automontagem de multicamadas adsorvidas por imersão

alternada em soluções de polieletrólitos aniônicos e polieletrólitos catiônicos e B) correlação

entre a estrutura molecular do polímero catiônico e aniônico e suas respectivas

representações gráficas nos filmes automontados. Adaptada de Decher, Hong & Shimitt,

1992.

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O processo de preparo de filmes utilizando a técnica LbL é muito simples, não

requerendo equipamentos sofisticados. Como nessa técnica o processo de adsorção ocorre

principalmente por via de interações não covalentes, como atração eletrostática, forças Van

Der Waals e ligações de hidrogênio, pode-se empregar diversos tipos de substratos como

vidro, sílica, metais entre outros; sendo que tais substratos devem ser preparados

antecipadamente de tal forma que adquiram carga elétrica quando se deseja imobilizar, por

exemplo, polieletrólitos, cujo processo de adsorção é governado por interações eletrostáticas

entre os grupos iônicos (Yin, Wang & Wang, 2012; Paterno, Mattoso & Oliveira, 2001).

O preparo de um filme multicamada, onde se deseja imobilizar polieletrólitos, é

iniciado com a imersão do substrato em uma solução em que o polieletrólito possua carga

oposta à do substrato para que, neste caso, haja adsorção por atração eletrostática. Permanece

parcialmente imerso na solução por um determinado tempo, a ser otimizado de acordo com

cada sistema em particular. Após o tempo de imersão, o substrato é retirado e submerso

novamente em uma solução de lavagem para remover o excesso de material não adsorvido;

em seguida, é secado.

O procedimento é repetido agora com o sistema (substrato-monocamada de

polieletrólito) e em uma segunda solução de polieletrólito que possua carga oposta à do

primeiro; e, após o tempo de adsorção, repetem-se as etapas de lavagem e secagem do

sistema. Com a repetição sistemática desse procedimento, pode-se preparar filmes

multicamadas com as mais variadas sequências de materiais e quantidades de camadas

desejadas (Yin, Wang &Wang, 2012, Zampa, et al. 2012, Karabulut, Wågberg, 2011;

Acciano, et al. 2011, Paterno, Mattoso & Oliveira, 2001), como ilustrado na Figura 04.

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Figura 04. Esquema de preparação de filmes automontados a partir de polieletrólitos

catiônicos e aniônicos. (Adaptado de Zampa, et al. 2012).

Quando as atrações eletrostáticas não são a principal forma de interação que permite

a formação do filme, a adsorção ocorrerá através de ligações secundárias, como as interações

de Van Der Waals e ligações de hidrogênio, o que pode ser constatado em relatos de

trabalhos em que se conseguiu preparar filmes finos multicamada de PANI com polímeros

não iônicos como poli(vinil pirrolidona) (PVP), poli(vinil álcool) (PVA), poliacrilamina

(PAAm), entre outros; sobre uma variedade de substratos diferentes, cuja adsorção das

multicamadas só foi possível devido às interações secundárias do tipo ligação de hidrogênio

entre grupos funcionais presentes nesses polímeros não-iônicos e os grupos aminas e imida

presentes na PANI (Cheung, Stockton & Rubner 1997; Kellogg, et al. 1996).

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Na Tabela 01 temos um exposto de vários materiais imobilizados por LbL em uma

diversidade de aplicações.

Tabela 01. Materiais imobilizados pela técnica LbL e suas aplicações ou objetivos de estudo.

Materiais imobilizador

por LbL Aplicações ou objetivos de estudo Referência

Quitosana, alginato,

celulose

Produção de uma plataforma para o

desenvolvimento de culturas de

células

Deng, et al. 2010

Colesterol oxidase,

nanotubos de carbono,

nanopartículas de ouro,

poli(alilamina)

Produção de um biossensor

enzimático para detecção de

colesterol

Cai, et al. 2013

Níquel tetrassulfonada

ftalocianinas,

poli(cloridato de

alilamina; gomas

naturais: Angico

(Anadenanthera

macrocarpa Benth) ,

chicha (Sterculia striata)

Preparo de camada ativa para

biossensor para detecção de

dopamina

Eiras, et. al. 2010

Glicose oxidase,

3-n-propilpiridina

silsesquioxana polímero,

tetrasulfoftalocianina(II)

de cobre

Desenvolvimento de um biossensor

para detecção de glicose Jesus, et al. 2013

Polianilina Sensor de pH Lakard, et al. 2012

poli(n-

isopropilacrilamida),

poliestireno

Avaliação do comportamento de

filmes multicamadas com: variação

do número de camadas depositadas,

mudança de solventes e

temperatura de preparo.

Estillores, Advincula, 2011

poli(hidroquinona)

quitosana

Estudo eletroquímico dos filmes e

aplicações em biossensores

amperométricos

He, Guan & Zhang, 2013

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Com o exposto na Tabela 01 permite-se compreender que comparativamente a

outras técnicas de montagem de filmes, a técnica LbL apresenta muitas vantagens tais como:

baixo custo, utilização de pequenas quantidades de material, fabricação simplificada e a

possibilidade de utilização de diferentes substratos, não havendo restrições quanto a sua

forma ou tamanho. Há, ainda, e principalmente, a possibilidade da combinação de diversos

materiais como compostos inorgânicos carregados (Lu, Hsieh, 2010), nanopartículas,

nanotubos, argilas, complexos organo-metálicos, polímeros (Therézio, et al, 2011) e

biomateriais como proteínas e enzimas (Eiras, et al. 2010, Crespilho, et al. 2009).

A técnica LbL vem sendo utilizada para imobilizar diferente tipos de polímeros em

diversas aplicações, as quais podemos citar: I) filmes híbridos de Poli(estireno sulfonato) de

sal de sódio ( PSS) e poli(cloridrato de alilamina) (HAP) com TiO2, aplicados na degradação

fotocatalítica do Dimetoato (O, O - dimetil- S - [ 2 - ( metilamino ) - 2 - oxoetil ]

fosforoditioato) na presença de radiação UV (Priya, et al. 2011); II) filmes ultrafinos

automontados de poli moleculas de (γ-metil L-glutamato) (PMLG) que podem ser

consideradas como um tecido, cujas fibras não são entrelaçadas, mas unidas por ligações

covalentes secundárias, que aumentam, dessa forma, a resistência do material e facilitam a

incorporação de outros materiais covalentes sobre a superfície do tecido (Higuchi, et al.

2012); III) microtubos orgânicos semicondutores híbridos funcionais obtidos através da

combinação da autolaminação de camadas In0.2Ga0.8As/GaAs com a deposição de

multicamadas de polí(etileno-imina) (PEI), e poli (ácido acrílico), PAA, onde se pode

observar que processos de nanoreação e nanocatálise são possíveis desde que os tubos

híbridos sejam integrados em um sistema de fluidos. Além da boa durabilidade, a reatividade

química também apresenta-se promissora na aplicação em sistemas para detecção de drogas

(Giordano, et al. 2008).

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Por fim, peptídeos foram extraídos da pele de rãs (Phyllomedusa hypochondrialis) e

imobilizados, em conjunto com ftalocianina e tetrassulfonato de níquel, na forma de filmes

camada por camada nanoestruturados, em que se buscou desenvolver um biossensor para a

detecção de dopamina (neurotransmissor associado a doenças como Alzheimer e Parkinson),

cujos resultados apontaram uma seletividade para dopamina e um limite de detecção da

ordem de 10−6

mol L−1

(Zampa, et al. 2012).

2.1 POLÍMEROS CONDUTORES

Os polímeros, cujo nome vem do grego: poli = muitos + meros = partes, são

macromoléculas de elevada massa molecular resultantes da reação de polimerização entre

estruturas menores, os chamados monômeros (Morrison, Boyd, 1996; Allinger, et al, 1976)

Os polímeros constituem grande parte das estruturas que se conhece tais como,

colágeno, lignina, proteínas e DNA, compostos estes que fornecem parte do apoio estrutural e

dos tecidos presentes em organismos animais. Já no caso dos organismos vegetais, temos a

celulose, o amido, quitosana, látex, dentre outros, conhecidos como polímeros naturais. Já os

polímeros sintéticos são produzidos de forma artificial, buscando imitar, em muitos casos,

substâncias naturais, como as borrachas, ou ainda poliésteres, poliamidas, poliimidas, que não

possuem similares na natureza e são à base de fibras e plásticos e tem papel importante na

sociedade atual (Friend, Tirrell, 1996).

A tentativa de atribuir propriedades elétricas a polímeros convencionais, durante

muito tempo, fez-se a incorporação de impurezas como negro de fumo, fibras metálicas ou de

carbono às matrizes poliméricas, com a finalidade de atribuir carga a esses materiais e,

consequentemente, condutividade elétrica. Assim, tais polímeros passaram a ser chamados de

polímeros condutores extrínsecos (Medeiros, et al. 2012; MacDiarmid, 2002).

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No entanto, polímeros capazes de conduzir corrente elétrica sem a necessidade de

incorporação de impurezas, associadas a outros materiais, são chamados ―polímeros

condutores intrínsecos‖, só foram preparados a partir da segunda metade da década de

setenta. Em 1976, no laboratório coordenado pelo Prof. Hideki Shirakawa, no Instituto de

Tecnologia de Tóquio, em uma tentativa de sintetizar o poliacetileno, um procedimento

rotineiro, por um engano, levou à formação de um filme prateado semelhante a uma folha de

alumínio, o que, posteriormente, foi constatado pelo seu orientador, como fruto acidental da

adição excessiva do catalisador empregado na reação (Shirakawa, et al, 1977). Estudos

posteriores realizados por Shirakawa, MacDiarmind e Heeger, mostraram que a

condutividade desse filme era aumentada após dopagem com vapor de iodo (Chiang, et al.

1978).

A característica fundamental para que um polímero seja um condutor eletrônico

reside na existência de ligações duplas conjugadas, conforme Figura 5, as quais permitem a

remoção ou adição de elétrons com facilidade, levando dessa forma à ocorrência de um fluxo

de elétrons pelo material. O processo de oxirredução em polímeros condutores leva a

formação de cargas deslocalizadas, cujo balanço de cargas é realizado pela incorporação de

contra-íons à cadeia polimérica, que, nesse contexto, são denominados dopantes, (Otero,

Martinez & Arias-Pardilla, 2012, Medeiros, et al. 2012; MacDiarmid, 2002).

Diferentemente da dopagem feita nos semicondutores inorgânicos, onde o dopante

encontra-se incorporado à estrutura cristalina do material, numa proporção muito pequena, na

ordem de ppm, nos polímeros intrinsecamente condutores, o dopante localiza-se nas

vizinhanças das cadeias poliméricas em quantidades bem maiores, ao se comparar com a

proporção dopante/material vista em materiais semicondutores inorgânicos (MacDarmid,

2002).

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Figura 05. Esquema das fórmulas estruturais de polímeros condutores intrínsecos: a)

poliacetileno b) polipirrol c) politiofeno d) polifenil e) polianilina. Adaptado de Zoppi, Paoli,

1993.

A quantidade de dopante exigida na dopagem de polímeros condutores explica-se

quando se considera que, em processos redox, há formação de pólarons (radicais de spin ½)

no decorrer da cadeia polimérica que são parcialmente localizados devido às forças de

atração coulômbicas promovidas pelo equilíbrio íon contra-íon, havendo, portanto, a

necessidade de uma alta concentração de contra-íons para facilitar a mobilidade do pólaron

(Medeiros, et al. 2012; Chaikin, Garito& Heeger, 1973).

A dopagem de polímeros condutores pode ser realizada de diversas formas: com

dopagem redox, que ocorre em todos os polímeros conjugados onde a quantidade de elétrons

da cadeia polimérica muda ao término do processo, que pode ser promovido químico ou

eletroquimicamente; ou com dopagem não redox, quando o processo de dopagem não muda a

quantidade de elétrons da cadeia polimérica, como no caso da dopagem protônica ocorrida na

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polianilina; e, ainda, com a dopagem que não envolve a presença de íons dopantes –

fotodopagem e dopagem por injeção de carga (Medeiros, et al. 2012; MacDiarmid, 2002).

Pertencente a uma classe de polímeros condutores cuja dopagem ocorre por

protonação, a polianilina, e seus derivados, vem despertando grande interesse científico,

principalmente depois da década de 80, quando suas propriedades condutoras foram

descobertas. Mas, além da condutividade, a polianilina apresenta outras características de

interesse como baixo custo de produção, processabilidade fácil, estabilidade da sua forma

condutora em condições ambientais (Mattoso, 1994).

A polianilina é conhecida desde 1834, mas relatada pela primeira vez na literatura

científica apenas em 1862 por H. Letherby. Foram descritos, no início da segunda década do

século XX, seus vários estados de oxidação, os quais se apresentam bem definidos, variando

desde a forma totalmente reduzida (leucoesmeraldina) (amarela), parcialmente reduzida

(nigranilina), parcialmente oxidada (protoesmeraldina) (verde), semi oxidada (esmeraldina)

(azul) a completamente oxidada (pernigranilina) (violeta). Enquanto os poliaromáticos

apresentam-se condutores no estado oxidado, a polianilina, Figura 6, apresenta-se melhor

condutora quando em estados oxidados medianos (Esmeraldina e protoesmeraldina), em que

sofre dopagem por protonação (Albuquerque, et al. 2004, MacDiamind, 2002; Mattoso,

1994).

Figura 6. Esquema da fórmula estrutural da polianilina.

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A síntese da polianilina processa-se por duas vias, a química e a eletroquímica. Esta,

a via eletroquímica, apesar de produzir moléculas com massa molar reduzida e a produção da

quantidade de material ser limitada pelo tamanho do eletrodo, permite a síntese em uma única

etapa e o consumo reduzido de reagente quando comparado à síntese química; enquanto

naquela, as maiores vantagens são: I - a ocorrência de cadeias poliméricas de alta massa

molecular, obtida já no estado dopado; II - a possibilidade da produção desse material em

grande quantidade (Medeiros et al. 2012; Mattoso, 1994).

Estudos eletroquímicos mostram que o ácido dopante influencia diretamente em

parâmetros cinéticos como densidade de corrente, coeficiente de transferência catódica,

potenciais de oxidação e de redução (Pruneano, Veress&Oniciu, 1999). Sua síntese

eletroquímica, sob potencial constante (potencioestática) e também sob potencial cíclico

(pontenciodinâmica), foi realizada com diversos eletrólitos, cuja influência no perfil

eletroquímico do polímero puderam ser observados (Gribkova, et al. 2011; Abalyaeva,

Efimov, 2010; Moraes, Huerta-Vilca&Motheo, 2004; Genies, Lapkowski, 1987). Também

seus estados oxidados e suas respectivas interconversões foram estudados por métodos

espectroscópicos (Albuquerque, et al. 2004; Sakamoto, et al. 1998; Genies, Lapkowski,

1987), assim como propriedades de reflectância (Lee, Heeger &Cao, 1995). Filmes LbL a

base de polianilina foram preparados em conjunto com sulfonado de poli(arileno éter cetona)

(SPAEC) a fim de produzir membranas seletivas de alta condutividade protônica (Zhao, et al.

2010).

A versatilidade que a polianilina apresenta na combinação com vários materiais,

além das propriedades ópticas, mecânicas e elétricas associadas ao baixo custo de produção,

boa estabilidade química em condições ambientais, despertou o interesse e a realização de

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muitos estudos sobre suas propriedades e possíveis combinações com outros materiais

(Efimov, 2010; Casado, et al. 2012; Crespilho, et al. 2009; Abalyaeva), conforme Tabela 02.

Tabela 02. Polianilina combinada com diversos materiais com o intuito de melhorar

propriedades ou desenvolvimento de dispositivos.

Material combinado com

Pani Estudo ou Aplicação Referência

Amido-hidrolase

creatinina, sarcosina-

oxidase

Biossensor amperométrico para

detecção de creatina.

Yadav, Kumar & Pundir,

2011

Uricase Biossensor para detecção de ácido

úrico.

Arora, et al. 2007; Jiang,

Wang & Kan, 2007

Poli(ácido vinil sulfônico )

Estudo dos efeitos da espessura e

temperatura de eletrodos metálicos, na

condutividade elétrica em filmes

múltiplas camadas.

Santos, Munford &

Bianchi, 2012

Silício Fabricação de diodos Schottky. Rivera, Pinto, 2009

Nanopartícula de prata,

Poli (vinil álcool), uréase. Biossensor para detecção de uréia. Crespilho, et al. 2009

Nanofibras de carbono,

triosina

Biossensor para detecção dos

compostos fenílicos. Zhang, et al. 2009

Acetato de celulose Produção de filmes flexíveis

condutores e de alta transparência. Pron, et al. 1997

Sulfonato de poli(arileno

éter cetona), ácido

fosfotungstenato

Produção de membranas seletivas para

prótons. Zhao, et al. 2010

Tantálio Produção de um sensor químico para

detecção de gás hidrogênio.

Srivastava, Kumar &Vijay,

2012

Colágeno

Estudo do comportamento

eletroquímico dos compósitos e

aplicações em biomedicina

Kim, et al. 2009

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2.2 POLÍMEROS NATURAIS – CELULOSE

A celulose é o principal componente estrutural das plantas, constituído por unidades

monoméricas de (+) D-glucose ligadas covalentemente por ligações β(1-4) glicosídica, um

polímeros natural material abundante na natureza e principalmente renovável (Morrison,

1996). Devido a estas qualidades, a celulose apresenta-se e como material de interesse na

formação de filmes finos (Wu, et al. 2013).

As formas microcristalinas ou amorfas da celulose dependem de sua origem

biológica quanto da forma de obtenção. As regiões amorfas são decorrentes das imperfeições

das microfibrilas de celulose. Por hidrólise em meio ácido consegue-se quebrar as fibras de

celulose e posterior processo de purificação pode-se obter partículas cristalinas e assim a

celulose passa a ser chamada de celulose microcristalina (Silva, et al. 2009).

A celulose por se um material hidrofóbico e de baixa reatividade, em muitos casos,

requer modificações químicas com a substituição de grupos hidroxilas grupos funcionais de

interesse (Philips & Yang, 2013, She-Ying, et al. 2011 Shi, Melo, et al. 2009; Ass, Ciacco &

Frollini, 2006).

Modificações químicas na celulose microcristalina (CM), promovendo a inclusão de

grupos funcionais, podem favorecer um melhor desempenho da celulose em processos

eletroquímicos e adsortivos e também em trocas iônicas quando comparados ao realizados

com sua forma pura, ou seja, sem modificações (Silva, 2008; Teixeira, 2013), segundo Zhou

et al. (2012), a substituição de grupos hidroxilas por Anidrido Maleico (CAM), fez com que a

celulose atuasse como um bom adsorvente na remoção de Hg (II), fucsina básica, azul de

metileno e cristal de violeta presentes em solução aquosa.

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A conjugação da celulose com diversos materiais tem sido empregada na preparação

de nanocompósitos de celulose com polianilina forma de partículas, obtidas em diversas

proporções entre esses materiais, nos quais foram observados melhoramento das propriedades

condutoras da PANI (Casado, et al. 2012)

A celulose pode ser utilizada, com alguma modificação química, na produção de

membranas de acetato de celulose embebidas em ferroceno com d-frutose desidrogenase

imobilizada em sua superfície, em vistas de produção de um biossensor para frutose, cujos

resultados apontaram para uma membrana com 1,8% Fc-CA/Nafion® como sendo a mais útil

na aplicação em biossensores na determinação de frutose em frutas ou sumos, ou ainda na

detecção de lactose em amostras de leite, após hidrólise enzimática. Para tanto, foi

consideração também a boa estabilidade operacional e menor valor Kapp

M (Tkáč, et al. 2002;

Tkáč, et al. 2001).

Considerando que a celulose apresenta-se como um polímero natural de grande

importância devido às características como biocompatibilidade in vitro e in vivo, caráter

hidrofóbico e possibilidade de uma diversidade de modificações que atribuem novas

propriedades a esse polímero, as quais podem ser combinadas às da PANI, a combinação

desses materiais na obtenção de camadas ativas aplicadas a sensores, para finalidades

diversas, mostra-se viável e promissora (Shi, Philips & Yang, 2013, Melo, et al. 2009; Ass,

Ciacco & Frollini, 2006)

2.3 APLICAÇÃO DE FILMES LbL DE PANI E CELULOSE NA PRODUÇÃO DE

BIOSSENSORES

Sensor, numa visão geral, é um dispositivo capaz de converter um fenômeno físico

(pressão, temperatura) ou fenômeno químico (reação de oxirredução) em um sinal elétrico.

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Um bom sensor deve ter características como sensibilidade e seletividade. Como por

exemplo, os sensores químicos, cujo fenômeno a ser detectado tem natureza química, a

exemplo um processo de oxirredução, que ao ser interpretado por um transdutor permite

extrair informações como a composição do meio que está sendo analisado (Wu, et al. 2013;

Zampa, et al. 2012, Yamanaka, et al.; 2009; Wilson, 2005).

Quando, em um dispositivo de sensoramento, o elemento de reconhecimento –

denominado receptor – for uma substância de natureza biológica (enzimas, células, arti-

corpos, proteínas), tem-se um biossensor. Assim, o biorreceptor consiste em uma

biomolécula capaz de reconhecer um analito específico por meio da sua bio-afinidade. O

biorreceptor ao interagir com o analito produz um sinal elétrico que, ao ser enviado ao

transdutor, é convertido em um sinal mensurável (Zampa, et al. 2012, Yamanaka, et al. 2009;

Wilson, 2005).

Eletrodos de pasta de carbono vítreo, modificados com a deposição de filmes finos

de polianilina, funcionaram como sensor de pH e também com potencialidade na aplicação de

um biossensor enzimático, tomando por base a sensibilidade da polianilina a variação de pH.

Para tanto, imobilizaram-se, por LbL, sobre o eletrodo modificado múltiplas camadas de

uma mistura de urease dispersa em polissacarina e os resultados mostraram que a resposta

para esses filmes foi para concentração da ordem de 10-4

a 10-1

mol L-1

, exibindo alta

sensibilidade, boa durabilidade dos filmes e reprodutibilidade dos resultados (Lakard, et al.

2012; Abalyaeva, Efimov, 2010).

Um biossensor com finalidade para detecção de colesterol foi fabricado a partir da

imobilização da enzima colesterol-oxidase sobre nanofibras de polianilina, para tanto foi

utilizando a técnica (LbL) no processo de imobilização dos materiais. O nível de adsorção foi

investigado usando uma microbalança de cristal de quartzo (QCM).Foi observado uma

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relação linear entre corrente e concentração de colesterol, cuja leitura foi realizada em

sistemas contendo cinco camadas depositadas de cada material (Shin, Kameoka, 2012); e um

nanocompósito de polianilina com nanofios de ouro foi produzido, apresentando-se como

uma boa plataforma para a imobilização de diversas biomoléculas para a produção de

biossensores (Gangopadhyay, Chowdhury & De, 2012).

Por LbL, nanocompósitos de polissacarídeos, contendo quitosa e alginato carregados

positivamente, foram alternadamente depositados com microfibras finas de celulose

modificadas para apresentar carga negativa, sendo esse biocompósito um material

biocompatível e mostrando-se como uma boa plataforma para biossensores (Deng, et al.

2010)

A glicose oxidase (GOx) foi imobilizada sobre nanocompósito híbrido de óxido de

estanho (SnO2) e celulose como um biosensor de glicose apresentando uma resposta linear na

gama de 0,5 - 12 mM, com coeficiente de correlação de 0,96 (Mahadeva, Kim, 2011). Outro

biossensor para glicose também foi produzido, agora utilizando nanofibras de ouro dispersas

em uma matriz de acetato de celulose com imobilização da enzima glucose oxidase, cuja

resposta da corrente do elétrodo modificado mostrou-se 10 vezes maior do que a verificada

sem nanofibras; e, sob condições ideais, o biossensor mostra uma sensibilidade elevada

(8,4Acm-2

mM-1

), e um limite de detecção baixo (2×10-5

M), boa estabilidade no

armazenamento e elevada afinidade para a glicose (Ren, et al. 2009).

Um biossensor, utilizando mioglobina (Mb) imobilizada sobre uma membrana

compósita de diacetato de celulose (CDA) na superfície de um eletrodo de carbono vítreo,

apresentou resultados que mostraram uma melhoria da condutividade do elétrodo modificado.

Por outro lado, outros experimentos revelaram que o biossensor possuía boa atividade

eletrocatalítica para a redução do peróxido de hidrogénio (H2O2) (She-Ying, et al. 2011)

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41

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A nanotecnologia trouxe consigo uma gama de possibilidades para o

desenvolvimento de novos dispositivos aplicáveis nas mais diversas áreas do conhecimento.

Isso se deve a ocorrência de propriedades só vistas nessa escala, a possibilidade de

combinação de propriedades conhecidas e a descoberta de novas propriedades.

Embora dispondo de diversas técnicas para a produção de materiais em nanoescala e

a técnica LbL destaca-se dentre as demais pela simplicidade procedimental e baixo custo

podendo ter aplicabilidades diversas, desde a produção de sensores químicos e biossensores

os quais requerem a imobilização de materiais como enzimas, aminoácidos, proteínas até

outras formas de materiais biológicos ou não biológicos. O estudo insistente e progressivo

dessa técnica acessível, e por isso mesmo ainda inovadora, com procedimentos e materiais

relativamente simples, pode se manifestar como grande avanço não somente para a

comunidade científica e também para toda a sociedade, que, de fato, tem usufruído dos

resultados das pesquisas, tendo em vista que por meio dela vem sendo imobilizados diversos

materiais em matrizes poliméricas como a polianilina e, em especial, a celulose que pode ser

empregada na sua forma microcristalina ou mesmo com modificações químicas com a

substituição de grupos hidroxilas por outros grupos funcionais de interesse.

A polianilina, devido à sua propriedade condutora associada a outras características

como baixo custo de produção, boa estabilidade química em condições ambientais e

facilidade na combinação com diversos materiais, e a celulose, por ser um polímero natural

susceptível às modificações químicas que lhe atribuem novas propriedades, além da

biocompatibilidade, já vêm sendo bastante utilizadas na produção de dispositivos de

sensoramento.

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Desta forma, as perspectivas para a utilização desses materiais são promissoras,

tendo em vista que a conjugação da polianilina com a celulose possibilita um leque de

combinações com os mais diversos tipos de matérias, apresentando-se como plataformas

propícias ao desenvolvimento de dispositivos eletrônicos como sensores e principalmente no

desenvolvimento de biossensores.

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CAPÍTULO 2 . Artigo Científico

DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITOS A BASE DE

POLIANILINA E CELULOSE MICROCRISTALINA MODIFICADA COM

ANIDRIDO MALEICO COMO PLATAFORMAS PARA ENSAIOS

ELETROQUÍMICOS

José Regilmar Teixeira da Silva1, Edson C. Silva Filho

1 e Carla Eiras

1,2*

1-Laboratório Interdisciplinar de Materiais Avançados - LIMAv, CCN, UFPI, Teresina-PI,

64049-550, Brasil.

Emanuel Airton O. Farias2,

2-Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade e Biotecnologia, BIOTEC, CMRV, UFPI, Parnaíba,

PI, 64202-020, Brasil.

___________________________

E-mail: [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Chama-se ―filme‖ a matéria condensada disposta em camadas, suportadas em uma

superfície sólida ou líquida. A matéria na forma de filme pode ser encontrada nos estados

sólido ou líquido, de tal forma que uma de suas dimensões seja muito menor que as demais.

Os filmes podem ser classificados conforme sua espessura; sendo chamados de filmes

espessos, aqueles com espessura maior que 1µ micrômetro, e de filme finos, aqueles cuja

dimensão referente à espessura é igual ou menor que 1µ (Sigaud, 2005).

Diferentes técnicas para a produção de filmes têm sido empregadas e, dentre elas,

podemos citar: a técnica casting aplicada na fabricação de filmes da ordem de vários

micrômetros (Chandra, Sobral, 2000); spin-coating a qual permite a fabricação de filmes

mais finos e com maior controle da espessura quando comparados àqueles obtidos por

casting (Petri, 2002; Chwastek, et al. 2011); e a técnica LbL (do inglês Layer-by-Layer), que

permite a obtenção de filmes automontados com grau de organização molecular inferior

apenas aos filmes obtidos pela técnica de Langmuir-Blodgett ou LB (Mattoso, Ferreira, &

Oliveira,1994).

O interesse em filmes finos vem sendo motivado pela obtenção de propriedades

diferenciadas apresentadas pelos materiais empregados em sua confecção. A diminuição da

espessura do filme promove um sinergismo entre os materiais conjugados nesta estrutura –

filme –, levando-os a exibirem comportamentos observáveis apenas na escala nanométrica ou

moleculares (Shi, Philips & Yang, 2013, Zhao, et al. 2010). Dessa forma, o controle da

espessura dos filmes finos torna-se um parâmetro de grande relevância, uma vez que

influenciará diretamente nas propriedades finais dos mesmos, possibilitando assim diferentes

aplicações em: ótica integrada (Kinauss, et al. 1998), sensores bio-eletroquímicos

(Ramanavičius, Ramanavičienė & Malinauskas, 2006; Crespilho, et al. 2009), dispositivos

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piezoelétricos (Lin, et al. 2010), materiais para eletrodos e dispositivos termocrômicos

(Boileau, et al. 2012), dentre outros.

A técnica LbL consiste na repetição sistemática da imersão de um substrato sólido, com

superfície física ou quimicamente modificada, em uma solução cujo soluto possa ser

adsorvido ao substrato (Paterno, Mattoso & Oliveira, 2001). Esse procedimento permite o

emprego de diferentes materiais dispostos em camadas sobrepostas (Villiers, et al. 2011;

Santos, et al. 2010; Decher, Hong & Schmitt, 1992). A proximidade entre as moléculas do

material adsorvido ao substrato, pela técnica LbL, permite a ocorrência de diferentes tipos de

interações, tais como forças de Van der Waals e ligações de hidrogênio, as quais tornam o

filme mais coeso, assumindo conformações mais convenientes, devido a fatores

termodinâmicos favoráveis, e dispensando ações externas, atribuindo-lhe dessa forma o

caráter de sistema automontado (Paterno, Mattoso, & Oliveira, 2001; Decher, Hong, &

Schmitt, 1992). Caracteriza-se também por ser um procedimento relativamente simples, de

baixo custo e com alta versatilidade, devido às possíveis variações da arquitetura do filme, o

que está relacionado com a sequência de deposição das multicamadas (Xu & Sun, 2012).

Também é característica a fácil integração entre diferentes materiais, tais como

polieletrólitos, colóides, proteínas, espécies inorgânicas carregadas (Eckle & Decher, 2001) e

polímeros condutores, como, por exemplo, a polianilina (Mattoso, Ferreira & Oliveira, 1994)

e seus derivados (Pron, et al. 1997).

A polianilina (PANI) é classificada como um polímero intrinsecamente condutor, pois

apresenta propriedades elétricas, magnéticas e ópticas normalmente observadas em metais;

além de mostrar propriedades mecânicas e de processabilidade, encontradas em polímeros

convencionais (MacDiarmid, 2002). O processo de condução observado nos polímeros

condutores ocorre por meio de um processo conhecido como dopagem, a qual pode ocorrer

por meio da adição de pequenas quantidades, não estequiométricas, de agentes oxidantes ou

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redutores ou ainda ácidos protonantes à cadeia polimérica, como ocorre no caso da

polianilina. A adição de dopantes na estrutura do polímero resultará em mudanças

significativas nas propriedades físicas deste, como o aumento de sua condutividade (Mattoso

Ferreira, & Oliveira, 1994; MacDiarmid & Epstein, 1994). O processo de dopagem ácida da

polianilina ocorre sem que haja qualquer alteração no número de elétrons da cadeia

polimérica, conferindo-lhe estabilidade química em condições ambientais (MacDiarmid,

2002; Sakamoto, et al. 1998).

O interesse pela PANI não se restringe apenas às suas propriedades de condução, mas

também tem despertado a atenção para outras características, tais como: baixo custo,

facilidade de síntese (obtida tanto por via química quanto eletroquímica), sem dispensar

grande esforço para processabilidade e estabilidade química, quando exposta ao ambiente

(Mattoso,1996; Abalyaeva & Efimov, 2011).

Outro material de grande relevância na formação de filmes finos é a celulose, um

polímero natural constituído por monômeros de (+)D-glucose unidos por ligações

β(1-4)glicosídica. A celulose é o principal componente estrutural de plantas, portanto um

material renovável e de grande abundância na natureza (Morrison, 1996). Além disso, a

celulose também pode ser produzida por um grande número de microrganismos, dos quais se

destacam as bactérias Agrobacterium, achromobacter, Aerobacter, Azotobacter,

Sarcinaventriculo, salmonela, Escherichia e Rhizobium (Sheykhnazari et al. 2011).

As cadeias poliméricas da celulose interagem entre si por meio das ligações de

hidrogênio decorrentes de seus grupos hidroxilas e tem como consequência a formação de

cristais intercalados por regiões amorfas. A cristalinidade da celulose depende de sua origem

e da forma de obtenção; enquanto que as regiões amorfas são imperfeições nas microfibrilas

de celulose que dependem da origem biológica do material. A quebra das fibras de celulose

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por meio da hidrólise em meio ácido leva à formação de partículas cristalinas denominadas

celulose microcristalina (Silva et al. 2009).

A celulose microcristalina (CM), após modificação, com inclusão de grupos funcionais,

apresenta melhores resultados em processos eletroquímicos e adsortivos, e também em trocas

iônicas quando comparados aos realizados com sua forma pura, ou seja, sem modificações

(Silva, 2008; Zhou et al,. 2012; Teixeira, 2013). A substituição de grupos hidroxilas por

Anidrido Maleico (CAM) permite que a celulose atue como um bom adsorvente, com baixo

custo de produção e boa eficiência na remoção de Hg (II), fucsina básica, azul de metileno e

cristais de violeta, presentes em solução aquosa (Zhou, et al. 2012). Além disso, também foi

observado um grande potencial na remoção de cátions bivaletes, por meio de processos de

sorção (Melo, et al. 2009).

O estudo aqui proposto teve por objetivo o desenvolvimento de filmes finos,

produzidos a partir da técnica layer-by-layer, empregando conjuntamente a polianilina e a

celulose microcristalina modificada com grupo anidrido maleico. Os filmes foram

caracterizados pelas técnicas de Espectroscopia na região do ultravioleta-visível (UV-VIS) e

pela técnica eletroquímica de voltametria cíclica (VC).

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

2.1 Materiais

A rota de síntese química foi empregada para a obtenção da polianilina (PANI), em sua

forma de base esmeraldina, conforme metodologia descrita por diferentes autores (Mattoso,

1996; Devendrappa, et al. 2006; Brozová, et al. 2008). A celulose microcristalina foi obtida

comercialmente (Aldrich) e modificada com Anidrido Maleico, conforme metodologia

proposta por Melo (et al. 2009). A Figura 01 apresenta as estruturas químicas dos materiais

empregados neste estudo.

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Figura 01. Estruturas químicas da: A) polianilina e B) celulose microcristalina modificada

com anidrido maleico.

(A)

(B)

2.2 Deposição dos filmes

Para o processo de deposição dos filmes, foi empregada uma solução estoque de PANI,

preparada a partir de 0,47 g da base esmeraldina solubilizada em 25 mL de dimetilacetamida

(DMAc), mantida em agitação por 12 h e posteriormente filtrada. Uma alíquota de 3,0 mL da

solução estoque foi adicionada a 26 mL de solução de HCl (pH 2,86). O pH da solução final

também foi ajustado para 2,86. A celulose microcristalina já modificada com Anidrido

Maleico (CAM) foi dispersa na solução de PANI na concentração de 0,01 g/mL.

Os filmes foram depositados manualmente, empregando-se a técnica de automontagem

do tipo layer-by-layer (LbL), proposta por Decher e colaboradores (Decher, Hong, 1990),

cujo processo consiste na imersão de parte um substrato (lâminas de vidro ou metal) em uma

solução contendo a PANI ou a PANI em conjunto com a CAM gerando (PANI(CAM)), por

um intervalo de 5 minutos; seguido de lavagem e secagem com fluxo leve de gás nitrogênio.

Essa técnica fundamenta-se no princípio da atração eletrostática entre os materiais de

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interesse. Dessa forma, a solução de PANI foi empregada como polieletrólito catiônico,

enquanto a celulose modificada (CAM) atuou como polieletrólito aniônico, devido à presença

dos grupos hidroxilas, característicos da estrutura da celulose, e também os grupos carboxilas

provenientes do anidrido maleico, incorporados à celulose. Os filmes foram depositados

sobre vidro comum para as caracterizações por espectroscopia de UV-VIS e sobre vidro

condutor, ITO (vidro recoberto com uma fina camada de óxido de estanho dopado com índio,

um óxido condutor e transparente), para as caracterizações eletroquímicas, conforme

esquema representado na Figura 02.

Figura 02. Esquema para deposição dos filmes monocamadas de PANI e CAM pela técnica

de automontagem.

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2.3 Caracterização dos filmes

2.3.1 – Espectroscopia na região do ultravioleta visível (UV-VIS)

Os filmes LbL foram caracterizados pela técnica de espectroscopia na região do

ultravioleta visível (UV-VIS); e os espectros, obtidos com o auxílio de um espectrofotômetro

SHIMADZU modelo UV-1800.

Inicialmente, foram produzidos filmes contendo duas monocamadas de PANI(CAM),

sem que houvesse a utilização de um agitador mecânico para dispersar a celulose na solução

de PANI, apenas empregando agitação manual. Em uma segunda etapa, os filmes de

PANI(CAM) foram preparados após ter sido promovida a agitação mecânica da solução de

PANI contendo a CAM, com o auxílio de um agitador e barras magnéticas. O processo de

agitação mecânica somente era cessado no momento da imobilização dos filmes. E, para

efeito de comparação, também foram preparados filmes monocamadas de PANI, na ausência

da CAM, tanto por agitação manual, quanto mecânica.

A formação dos filmes de PANI e PANI(CAM), em ambas as condições de agitação,

manual e mecânica, foi realizada em intervalos de tempo de um minuto (TA), duas horas (TB)

e quatro horas ( TC) após a dispersão da CAM na PANI.

O monitoramento da formação dos filmes foi realizado também com o auxílio da

espectroscopia de UV-VIS, a cada duas monocamadas imobilizadas. Nesse procedimento, foi

empregada apenas uma única agitação mecânica, com duração de um minuto, antes da

imobilização da primeira monocamada tanto para soluções de PANI, contendo CAM ou não.

2.3.2 – Voltametria Cíclica (VC)

As caracterizações eletroquímicas dos filmes de PANI e PANI(CAM) foram realizadas

pela técnica de voltametria cíclica (VC) com o auxílio de um potenciostato/galvanostato da

AUTOLAB modelo PGSTAT 128N, acoplado a uma célula eletroquímica com tampa para

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encaixe de três eletrodos e capacidade para 10 mL. O eletrodo de calomelano saturado (ECS)

foi empregado como referência; assim também, uma placa de platina, com área de 2,0 cm2,

funcionou como contraeletrodo; e, para eletrodo de trabalho, utilizou-se o filme automontado

depositado sobre lâminas de ITO (área geométrica média de 0,4 cm2).

Como eletrólito suporte foi utilizada a solução de hidrogeno fosfato de potássio

monobásico (KH2PO4), na concentração de 1,0 mol L-1

com pH ajustado para 1,5 através da

adição de alíquotas de ácido fosfórico (H3PO4). Todos os ajustes de pH necessários ao estudo

do comportamento eletroquímico dos filmes, de PANI e PANI(CAM), frente a variações de

pH, foram realizados empregando-se uma mistura da solução de hidrogeno fosfato de

potássio monobásico (KH2PO4) com a solução de hidrogeno fosfato de potássio dibásico

(K2HPO4) também 1,0 mol L-1

, em quantidades convenientes para se obter o pH desejado.

O comportamento da densidade de corrente em função do número de camadas

depositadas foi monitorado, por VC, a cada duas monocamadas imobilizadas sobre eletrodo

de ITO. Posteriormente, filmes de PANI e PANI(CAM), contendo seis monocamadas

imobilizadas, foram avaliados por meio de estudos do efeito da concentração hidrogeniônica

do meio (pH) e da variação da velocidade de varredura, bem como por testes de estabilidade

em função do número de varreduras empregadas e, ainda, em função do tempo de preparo do

filme.

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59

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 – Espectroscopia na região do UV-VIS

O espectro de absorção, mostrado na Figura 03A (curva em azul), é característico da

polianilina dopada, com a presença da banda de absorção na região de 440 nm associada à

formação de radicais cátions, e a banda em 610 nm, atribuída a formas excitadas dos anéis

quinóides (Pruneanu, Veress & Oniciu, 1999; Morais, Huerta-vilca & Motheo, 2004).

Figura 03. Espectros de UV-Vis obtidos de filmes contendo 2 monocamadas de PANI e

para PANI(CAM) imobilizados após dispersão da CAM em PANI em TA (1minuto), TB (2

horas) e TC (4 horas) em soluções: (A) em repouso, (B) com agitação e em (C) comparativo

entre filmes de PANI(CAM) imobilizados em solução com e sem agitação.

400 600 800 1000

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

0.18 PANI

T0 (Agitação)

T2 (Sem agitação)

Absorb

ância

(u.

a.)

Comprimento de onda (nm)

400 600 800 1000

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

0.18 PANI

T0

T2

T4

Absorb

ância

(u.

a.)

Comprimento de onda (nm)

400 600 800 1000

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

0.18 PANI

T0

T2

T4

Absorb

ância

(u.

a.)

Comprimento de onda (nm)

(A) (B)

(C)

TA TB TC

TA` TB` TC`

TA` TB

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60

Posteriormente, a CAM foi imobilizada conjuntamente a polianilina formando o filme

de PANI(CAM) (curva preta da Figura 3A), levando ao aparecimento de uma banda larga de

absorção, observada na região de 900 nm, decorrente da interconversão entre a base

esmeraldina para sal de esmeraldina, que são estados oxidados da PANI

(Gribkova, et al. 2011).

O aparecimento da banda em 900 nm, característica da PANI em sua forma de sal de

esmeraldina, está associada ao aumento da concentração de H+ proveniente da ionização dos

grupamentos carboxílicos, presentes no anidrido maleico da CAM, o que resulta no processo

de dopagem secundária. Segundo Mattoso (1996), a dopagem secundária, quando promovida

por um ácido orgânico funcionalizado na presença de um solvente conveniente, neste caso, a

CAM no meio, contendo a DMAc, levará a modificações conformacionais na cadeia da

PANI, fazendo com que saia de sua conformação enovelada para outra estendida, permitindo

assim, uma maior ordenação e compactação do material (MacDiarmid, Epstein, 1994), para

facilitar o transporte de carga na cadeia da PANI. Ela – a dopagem secundária – promove

ainda a diminuição da energia de transição eletrônica levando ao surgimento de um portador

livre deslocalizado (deslocalização do polaron) (Mantovani, MacDiamird & Mattoso, 1997),

cuja existência é justamente verificada com o surgimento da banda larga de absorção na

região de 900 nm, conforme Figura 3A (curva preta). Esse efeito torna-se ainda mais

pronunciado após 2 horas (TB) em que a CAM ficou em contato com a PANI, Figura 3A

(curva verde).

Os filmes de PANI(CAM) mostraram uma dependência da intensidade dos valores de

absorção em função do processo de agitação mecânica empregada na metodologia de

preparação dos filmes, Tabela 01.

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61

Tabela 01. Valores de absorbância de filme de PANI(CAM) em função do tempo de preparo

da solução com e sem agitação mecânica, onde TA 1min, Tb 2 h e Tc 4h, após o contato

inicial entre PANI e CAM.

Tempo em horas Absorbância

Solução PANI(CAM) repouso Solução PANI(CAM) agitado

TA 0,08 0,115

TB 0,115 0,063

TC 0,049 0,050

Uma vez que filmes produzidos a partir de soluções idênticas mostraram diferenças nos

valores de absorbância em função do tempo de permanência da CAM na solução de PANI

quando submetidos a condições diferenciadas de manuseio da solução onde a absorbância em

TA foi de 0,08 em TA` ficou em 0,115 conforme Figura 3(A e B). Podemos inferir que a

agitação influenciou diretamente tanto na cinética de adsorção do material ao substrato

quanto na velocidade de protonação do polímero, mas não alterou a quantidade máxima de

material adsorvido, conforme Figura 3C.

Como descrito anteriormente, os grupos carboxílicos do anidrido maleico sofrerão

ionização que culminará no processo de dopagem secundária, que segundo Mattoso (1996),

ao ser promovida por um ácido orgânico funcionalizado na presença de um solvente

conveniente, levará a modificações conformacionais na cadeia da PANI, fazendo com que a

mesma saia de sua conformação enovelada para outra estendida, permitindo, assim, uma

maior ordenação e compactação do material (MacDiarmid, Epstein, 1994). Além disso,

podem também funcionar como novos sítios de ancoragem, auxiliando nas interações entre as

moléculas da celulose e do polímero condutor (PANI) e, consequentemente, promovendo um

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62

aumento da quantidade de material depositado sobre o substrato, o que justifica o aumento

nos valores de absorbância observados apenas em filmes contendo celulose modificada

(PANI(CAM)).

Observou-se que apenas filmes PANI(CAM) apresentaram decaimento nos valores de

absorbância após duas horas de preparo da solução, sendo esse decaimento mais acentuado

quando a solução é submetido a agitação continuada.

A redução nos valores de absorbância verificados após duas horas de preparo da

solução pode ser ocasionada devido ao processo de degradação ácida do polímero condutor

quando exposto a ambiente com valores de pH muito baixo, o que levará a formação das

espécies hidroquinona e benzoquinona, as quais são solúveis em água, reduzindo assim a

quantidade de material adsorvido ao substrato influenciado no valor da absorbância.

Na busca de evidências sobre a ocorrência do processo de degradação ácida,

monitorou-se o pH das soluções de PANI, PANI(CAM) em repouso e PANI(CAM) com

agitação.Esses resultados foram concatenados na Tabela 02.

Tabela 02. Valores do pH das soluções de PANI, PANI(CAM) em função do tempo de

preparo da solução.

Tempo (h) pH solução da PANI em

repouso com agitação

pH solução PANI(CAM)

em repouso

pH solução PANI(CAM)

após agitação

0 3,08 ± 0,00 2,58 ± 0,00 2,56 ± 0,01

1 3,08 ± 0,00 2,54 ± 0,04 2,54 ± 0,03

2 3,08 ± 0,00 2,54 ± 0,01 2,55 ± 0,02

3 3,08 ± 0,00 2,52 ± 0,00 2,51 ± 0,02

4 3,08 ± 0,00 2,54 ± 0,01 2,54 + 0,01

5 3,08 ± 0,00 2,53 ± 0,02 2,53 ± 0,00

6 3,08 ± 0,00 2,54 ± 0,00 2,48 ± 0,00

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63

Mediante os resultados apresentados na Tabela 02, pode-se verificar que ocorreu uma

redução no valor de pH das soluções de PANI contendo celulose modificada, quando

comparado a soluções apenas de PANI, ratificando a afirmação de que a carboxila do

anidrido maleico presente na celulose modificada realmente está sofrendo ionização e, por

questões de estereoquímica, devido ao tamanho das cadeias dos polímeros que aumentam a

distância entre íons e contraíons do sal de esmeraldina, enfraquecendo as interações entre eles

– íons e contraíons –, o que facilita a migração de H+ na solução, reduzindo o pH e

acelerando o processo de degradação ácida da PANI.

Podemos afirmar ainda que a agitação continuada da solução favorece o contato da

PANI com o meio ácido acelerando seu processo de degradação; corroborando, dessa forma,

com o entendimento de que a redução da absorbância de filmes PANI(CAM) após duas horas

de preparo da solução se deve ao processo de degradação ácida da PANI.

Estabelecida a influência do tempo de exposição da PANI e a CAM e o efeito do

processo de agitação nas transições eletrônicas do filme de PANI(CAM), após controle

desses parâmetros, foram preparados e caracterizados filmes multicamadas, mostrados na

Figuras 04.

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64

Figura 04. Curva de crescimento dos filmes de: (A) PANI e (B) PANI(CAM) obtidos por

UV-Vis a cada duas monocamadas adsorvidas e (C) gráfico de correlação entre o número

de monocamadas (n) e valor de absorbância a 610nm.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

0.18

0.20

0.22

0.24

(C)

(B)

R2 = 0.988

400 600 800 1000

0.08

0.12

0.16

0.20

0.24

0.28

0.32

0.36

0.40

0.44 2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Absorb

ância

(u.a

.)

Comprimento de onda (nm)

Filme PANI(CAM)/PANI(CAM)

n -

Mo

no

ca

ma

da

s

400 600 800 1000

0.06

0.09

0.12

0.15

0.18

0.21

0.24 2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Absorb

ância

(u.a

.)

Comprimento de onda (nm)

Filme PANI/PANI

n -

Mo

no

ca

ma

da

s

PANI/PANI

PANI(CAM)/PANI(CAM)

Ab

so

rbâ

ncia

em

62

0 n

m

Número de monocamadas (n)

R2 = 0.970

(A)

A Figura 04(A e B) mostra que a variação da absorbância em função do número de

monocamadas adsorvidas (n) comprova que a quantidade de material adsorvido nos filmes é

controlada pelo número de monocamadas depositadas, e que nos filmes formados por

PANI(CAM) a quantidade de material adsorvido foi maior que aquela obtida para os filmes

formados apenas por monocamadas de PANI, Figura 4C. Conforme já foi descrito

anteriormente, o sistema PANI(CAM), além de apresentar uma quantidade maior de sítios de

ancoragem, também passa por um processo de compactação, devido ao estiramento das

cadeias da matriz polimérica, colaborando com o aumento da massa de material depositado.

2 3 4 5 6 7 8

0,06

0,07

0,08

0,09

0,10

0,11

0,12

0,13

0,14

0,15

PANI(CAM)

PANI

Ab

so

rba

nce

(6

10

nm

)

n-monolayers

R

2

= 0.989

R

2

=0.944

(C`)

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65

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8-20

-10

0

10

20

Ered2Ered1

Eox2

j/A

cm

2

E/V vs ECS

PANI Eox1

Sentido da varredura

-2

-1

0

1

2

3

ITO

j/A

cm

2

Também foi observado um comportamento linear do aumento da absorbância em função de

n, até a sexta camada para filmes de PANI(CAM), Figura 4C`; ocorrendo, após esse valor,

desvios consideráveis na linearidade da relação entre absorbância e número de camadas,

sugerindo que, no intervalo de deposições entre duas e oito monocamadas, PANI(CAM) e

PANI apresentam-se como autorregulados.

3.2 Caracterização Eletroquímica por Voltametria Cíclica

A Figura 05 mostra os voltamogramas obtidos para o substrato ITO e ITO contendo

duas monocamadas de PANI adsorvida à sua superfície, obtidos em meio tamponado por

hidrogeno fosfato de potássio monobásico1,0 mol L-1

. Nas condições empregadas, o substrato

(ITO) mostrou um largo pico de oxidação na região de 0,3V e um discreto processo de

redução em 0,15V.

Figura 5. Voltamogramas cíclicos característicos do eletrodo de ITO e ITO modificado com

duas monocamadas de PANI. Medidas realizadas em solução de fosfato de potássio

monobásico 1,0 mol L-1

(pH 1,5 ajustado com H3PO4 ) a 50mV s-1

.

SLE SE BPG

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66

O ITO modificado com duas monocamadas de PANI passa a exibir o

comportamento eletroquímico característico do polímero condutor, cujo voltamograma

apresenta dois pares redox: o primeiro, localizado em aproximadamente 0,2V (Eox1) e seu

respectivo processo de redução em 0,1V (Ered2), atribuídos às transições entre as forma de sal

de leucoesmeraldina (SLE) e sal de esmeraldina (SE) da PANI; e o segundo, em

aproximadamente 0,6V, oxidação (Eox2) e redução (Ered1), atribuídos à segunda transição

entre as formas sal de esmeraldina (SE) e base de pernigranilina (BPG), Figura 5 (Mattoso,

1996; Kang, Neoh &Tan, 1998; Huang, Humphrey & MacDiarmid, 1986).

Na Figura 06, são apresentados voltamogramas dos filmes de PANI e PANI(CAM),

ambos depositados sobre substrato de ITO. Para o caso dos filmes de PANI(CAM), observa-

se, além dos dois pares redox característicos do PANI (Eox1, Ere2, Eox2 e Ered1), um terceiro

par redox (Eox3, Ered3) com valores de potenciais intermediários, os quais são atribuídos a

degradação da PANI (Pruneanu, Veress & Onicius, 1999).

Figura 6. Voltamogramas cíclicos característicos do eletrodo ITO modificado com duas

monocamadas de PANI e do compósito PANI(CAM). Medidas realizadas em solução de

hidrogeno fosfato de potássio monobásico 1,0 mol L-1

(pH 1,5 ajustado com H3PO4 ), a

50mV s-1

.

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8

-300

-200

-100

0

100

200

300

i/j A

cm

2

E/V vs ECS

PANI

PANI(CAM)Eox1

Ered2

Eox3 Eox2

Ered3

Ered1

Eox1

Ered2

Eox2

Ered1

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67

O pico de densidade de corrente verificado no potencial de oxidação em 0,2V em

filme de PANI apresenta valor em torno de 20µA cm-2

, enquanto, para filmes de

PANI(CAM), o valor de densidade de corrente, nesse mesmo potencial, é registrado em torno

de 300µA cm-2

. O mesmo comportamento foi observado para o caso dos outros principais

processos da PANI. Também verificou-se que, no segundo processo redox da PANI, foram

deslocados os pares redox para região de potenciais mais negativos, ou seja, em torno de 0,56

e 0,55 V, respectivamente, provavelmente devido ao sinergismo existente entre a PANI e a

CAM, de forma a facilitar os processos de oxidação e redução do polímero condutor, os quais

ocorreram em potenciais menores que aqueles observados para a PANI sem a presença da

CAM.

A Figura 07 apresenta voltamogramas de filmes de PANI(CAM) imobilizados a partir

de soluções com e sem agitação mecânica, cujo aumento da corrente capacitiva reflete um

aumento da dupla camada elétrica para cada sistema, sendo mais pronunciado para o filme

preparado com agitação mecânica.

Figura 07. Voltamogramas cíclicos característicos do eletrodo ITO modificado com duas

monocamadas do compósito PANI(CAM) preparados sem e com agitação mecânica durante

o processo de dispersão da CAM na PANI. Medidas realizadas em solução de fosfato de

potássio monobásico 1,0 mol L-1

(pH 1,5 ajustado com H3PO4 ), a 50mV s-1

.

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

-300

-200

-100

0

100

200

300

i/j A

cm

-2

E/V vs ECS

TA sem agitação

TA com agitação

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68

Descontando-se o efeito da corrente capacitiva e fazendo-se a razão entre as áreas sob

os picos de oxidação no potencial em 0,2V para filmes de PANI e PANI(CAM), temos uma

razão de 1,64, fato que mostra o processo de agitação aumentou em mais que uma vez e meia

a densidade de corrente em filmes PANI(CAM). Esse resultado corrobora com aqueles

encontrados por UV-VIS, mostrando que a agitação mecânica, além de acelerar o processo de

adsorção do compósito sobre o substrato, também acelera o processo de dopagem que a CAM

desempenha sobre a PANI.

A Figura 08 apresenta um conjunto de voltamogramas de filmes de PANI(CAM)

imobilizados a partir de uma mesma solução, porém em intervalos de tempos distintos. No

voltamograma obtido para o filme imobilizado imediatamente após a adição da CAM e

agitação mecânica (chamado T0), são observados os três pares redox já descritos na Figura

06 para filmes de PANI(CAM).

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69

Figura 08. Voltamogramas cíclicos obtidos para filmes contendo duas monocamadas de

PANI(CAM) depositadas sobre ITO, a partir da mesma solução inicial, nos tempos TA

(1min.), TB (2 horas) e TC (4 horas). Todos os filmes foram depositados a partir de uma

solução agitada mecanicamente por um período de um minuto apenas antes da primeira

imobilização. Os voltamogramas foram obtidos em solução de hidrogeno fosfato de potássio

monobásico 1,0 mol L-1

(pH 1,5 ajustado com H3PO4 ), a 50mV s-1

.

.

A variação no perfil eletroquímico de filmes de PANI(CAM), registrados nos

voltamogramas TA a TC, é atribuída à degradação ácida da PANI, corroborando com os

estudos de UV-VIS (Figura 03) e acompanhamento do valor de pH da solução (Tabela 02). O

voltamograma TB obtido após duas horas de contato em solução entre PANI e CAM mostra

uma redução na intensidade do par redox (Eox2 e Ered1) acompanhada conjuntamente do

aumento da intensidade do par redox intermediário (Eox3 e Ered3), atribuído ao surgimento de

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

E/V vs ECS

100A

100A

100A

TC

TB

TA

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70

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

(B)

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8-1200

-900

-600

-300

0

300

600

900 Número de

monocamadas

i/j A

cm

2

E/V vs ECS

2

4

6

8

i/j A

cm

2

E/V vs ECS

2

4

6

8

Número de

monocamadas

(A)

produtos da degradação da PANI, tais como a hidroquinona e espécies o-benzoquinona e p-

benzoquinona (Mattoso, 1996), Figura 09, indicando o avanço da degradação do polímero no

decorrer do tempo.

Figura 09. Fórmulas estruturais: A) hidroquinona, B) o-benzoquinona C) p-benzoquinona

No voltamograma Tc da Figura 8, após quatro horas de contato entre a PANI em

solução e a CAM, apenas os pares redox característicos dos produtos de degradação ácida da

PANI, em torno de 0,3 e 0,4 V, são observados.

Na Figura 10, são apresentados voltamogramas cíclicos para os filmes de PANI e de

PANI(CAM), onde se buscou identificar a influência do número de camadas depositadas

sobre os valores de densidade de corrente registrados

Figura 10. Voltamogramas cíclicos obtidos para os filmes de (A) PANI e (B)

PANI(CAM)depositados sobre ITO com diferentes números de monocamadas. Todas as

medidas foram realizadas em solução de fosfato de potássio monobásico 1,0 mol L-1

(pH 1,5

ajustado com H3PO4 ), a 50mV s-1

.

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

(B)

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8-1200

-900

-600

-300

0

300

600

900 Número de

monocamadas

i/j A

cm

2

E/V vs ECS

2

4

6

8

i/j A

cm

2

E/V vs ECS

2

4

6

8

Número de

monocamadas

(A)

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71

Para os filmes de PANI, observa-se um aumento significativo nos valores de

densidade de corrente, quando, ao invés de duas, foram imobilizadas quatro monocamadas

sobre o ITO, Figura 10A. No entanto, os valores de densidade de corrente não são assim tão

expressivos ao se comparar um filme de seis e oito monocamadas.

Por outro lado, os filmes de PANI(CAM) mostram um aumento discreto nos valores

de densidade de corrente de duas para quatro monocamadas e um aumento mais expressivo a

partir de seis e oito monocamadas, mostrando a presença da CAM modificada entre as

monocamadas imobilizadas e sua influência sobre os valores de densidade de corrente desses

filmes.

A partir deste estudo, Figura 10, e de UV-VIS (Figura 04), os estudos que se seguem

foram realizados empregado filmes tanto de PANI quanto PANI(CAM) contendo apenas seis

monocamadas depositadas.

A Figura 11 mostra o efeito da mudança de pH do meio sob a resposta eletroquímica

dos filmes de PANI e PANI(CAM).

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72

Figura 11. Resposta eletroquímica em diferentes pHs para os filmes de A) PANI e B)

PANI(CAM) contendo seis bicamadas cada um. Eletrólito suporte empregado foi uma

solução de fosfato de potássio monobásico (1,0 mol L-1

) ajustado em cada pH com solução

de hidrogeno fosfato de potássio dibásico (K2HPO4) também 1,0 mol L-1

à v= 50mV s-1

.

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8

A)

E/V vs ECS

B)

65

65

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8

pH 6.0

pH 4.5

pH 3.0

E/V vs ECS

30A

pH 1.5

PANI

30A

30A

30A

pH 6.0

pH 4.5

pH 3.0

65

pH 1.5

65

Sendo o processo de dopagem da polianilina governado pela condição de

neutralidade de cargas, em que a incorporação de cargas positivas (prótons) e negativas

(ânions) na matriz polimérica à medida que o estado de oxidação do polímero é modificado, o

aumento nos valores do pH provoca o processo de desprotonação na PANI, e,

consequentemente, a diminuição de sua condutividade, conforme Figura 11A (Kang, Neoh &

Tan, 1998; Huang, Humphrey & Macdiarmid, 1986).

Em filmes de PANI(CAM), também se observa comportamento análogo, Figura

11B. Mas, em pH 3, observa-se ainda dois pares redox: o primeiro em 0,3 e 0,5V e o segundo

em 0,50 e 0,45V, mostrando que os grupos carboxílicos do anidrido maleico mantiveram a

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73

PANI protonada em valores de pH mais elevado, mantendo a eletroatividade do polímero

condutor; enquanto que, em filmes apenas de PANI, não há mais a presença desses pares

redox, mas apenas duas bandas largas em torno de 0,30 e 0,35V, decorrentes da sobreposição

dos pares redox visto em pH 1,5. Em valores de pH superior a 3,0 a eletroatividade do filme

se reduz, sendo possível observar apenas a resposta eletroquímica do substrato (ITO); mas,

quando os mesmo filmes são recolocados em solução com pH´s ácido novamente, ocorre a

protonação da PANI, voltando também a sua capacidade condutora e o comportamento

característico do polímero condutor volta a ser observado.

A Figura 12 apresenta voltamogramas de filmes de apenas PANI e PANI(CAM) e

seu comportamento eletroquímico em função do número de varreduras.

Figura 12. Testes de estabilidade eletroquímica dos filmes em função do número de

varreduras para os filmes de PANI em A) pH 1,5 e B) pH 4,5; e para os filmes de

PANI(CAM) em C) pH 1,5 e D) pH 4,5. Todas as medidas foram realizadas em uma solução

de fosfato de potássio monobásico (1,0 mol L-1

) ajustado em cada pH com solução de

hidrogeno fosfato de potássio dibásico (K2HPO4) 1,0 mol L-1

à v= 50mV s-1

.

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8

-450

-300

-150

0

150

300

(D)

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8

-150

-100

-50

0

50

100

150Número de

varreduras

i/j

A c

m2

E/V vs ECS

2

10

25

(C)

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8-50

-25

0

25

50

i/j

A c

m2

E/V vs ECS

2

10

25

Número de

varreduras

i/j

A c

m2

E/V vs ECS

2

10

25

Número de

varreduras

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8-100

-75

-50

-25

0

25

50

75

i/j

A c

m2

E/V vs ECS

2

10

25

Número de

varreduras

pH 4.5

(A)

(B)

Degradação da base

pernigranilina

Hidroquinona e

Benzoquinona

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74

Como os processos de oxidação e redução observados para a PANI não são

totalmente reversíveis a cada ciclo de varredura de potencial, parte do material da matriz

polimérica converte-se em hidroquinona e benzoquinona, conFigurando a degradação do

polímero. O aumento da intensidade de corrente nos potenciais de oxidação e redução dos

produtos de degradação da PANI, em torno de 0,4V, acompanhado da redução da intensidade

dos picos dos pares redox principais da PANI, confirmam esse processo de degradação,

conforme Figura 12 (A e B).

Em filmes de PANI(CAM), observa-se uma redução acentuada do segundo par

redox em função do número de varreduras e seu deslocamento para potenciais menores, os

quais aproximam-se de 0,4V, Figura 12C, indicando que, nesse estado de oxidação (base

pernigranilina), ocorre maior degradação, tendo em vista que nesse momento a cadeia

polimérica apresenta uma maior quantidade de insaturações. Já o primeiro par redox,

correspondente a passagem do sal de leucoesmeraldina para sal de esmeraldina em filmes de

PANI(CAM), não apresenta redução acentuada nos valores de pico de densidade de corrente,

mas um deslocamento tanto no potencial de oxidação quanto no de redução para valores

maiores de potencial.

Em pH 4,5, filmes de PANI(CAM) apresentam comportamento similar a de filmes

apenas de PANI, neste mesmo pH onde nota-se o aumento da intensidade do par redox,

localizados em torno de 0,3 e 0,2V, para oxidação e redução, respectivamente. Esse aumento

da densidade de corrente se deve ao surgimento dos produtos de degradação.

A Figura 13 apresenta voltamogramas de filmes de PANI e de PANI(CAM) em

diferente valores de velocidade de varredura, da qual a densidade de corrente depende

(If 1/2

) (Brett & Brett, 1992).

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75

Figura 13. Estudos da influência da velocidade de varredura no comportamento

eletroquímico de filmes contendo seis monocamadas depositadas de: A) PANI C)

PANI(CAM) e correlação entre corrente de potencial de oxidação e redução em função da

velocidade de varredura. Os voltamogramas foram obtidos em solução de fosfato de potássio

monobásico 1,0 mol L-1

(pH 1,5 ajustado com H3PO4 ), em diferentes velocidades de

varredura.

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8-150

-100

-50

0

50

100

150

(D)

(C)

0 50 100 150 200-150

-75

0

75

150

ip/ A

cm

2

E/V vs ECS

Ox1

Ox2

Red2

Red1

(B)

0 50 100 150 200-200

-100

0

100

200

300

Red1

Red2

Ox2

ip/ A

cm

2

E/V vs ECS

Ox1

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8-300

-200

-100

0

100

200

300

i/j A

cm

2

E/V vs ECS

25

50

100

150

200

v, mV s-1

Red1

Red2

Ox2

v, mV s-1

i/j A

cm

2

E/V vs ECS

25

50

100

150

200

Ox1

Ox1

Ox2

Red2

Red1

(A)

v, mV s-1 v, mV s

-1

Observou-se uma dependência linear da corrente de pico com o aumento da

velocidade de varredura durante todo o intervalo de velocidade analisado, o que indica

estabilidade termodinâmica para os sistemas estudados, dentro das condições experimentais

(Kelly, et al. 2007) empregadas. Além disso, esse comportamento sugere ainda que os

processos eletroquímicos da PANI são governados por transferência de cargas, corroborando

Ip/µ

A

Ip/µ

A

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76

com o que já foi descrito na literatura (Benabdellah, et al. 2011; Pruneanu, et al. 1999).

Entretanto, a presença da celulose no compósito melhora o processo de transporte de cargas,

evidenciado com o valores de densidade de corrente, que são maiores em filmes de

PANI(CAM), Figura 12(A e C), e ratificado, com a maior inclinação da reta, quando se

relaciona velocidade de varredura em função da densidade de corrente, Tabela 2,

provavelmente devido a um aumento intersticial e/ou estiramento das cadeias da PANI,

decorrente da dopagem secundária da PANI, conforme descrito anteriormente (Kelly, et al.

2007; Benabdellah, et al. 2011; Pruneanu, et al. 1999).

Tabela 3. Coeficientes de relação linear (Pearson’s R) encontrados no estudo de velocidade

de varredura.

Sistema Ox1 Ox2 Red1 Red2

PANI 0,969 0,969 0,962 0,978

PANI(CAM) 0,999 0,999 0,999 0,999

A Figura 14 apresenta voltamogramas de filmes de PANI(CAM) em função de dias

transcorridos após seu preparo. Os voltamogramas registrados para o primeiro dia de

imobilização – chamado 0 dias – e após 60 dias de seu preparo mostram a presença dos dois

pares redox característicos da PANI e um discreto terceiro par redox intermediário decorrente

de produtos de degradação do polímero.

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77

Figura 14. Testes de estabilidade eletroquímica de filmes de PANI(CAM) contendo seis

monocamadas em função do número de dias após preparação dos mesmos, obtidos em

solução de hidrogeno fosfato de potássio monobásico 1,0 mol L-1

(pH 1,5 ajustado com

H3PO4 ), a 50mV s-1

.

Quando a PANI e CAM se encontram em solução, observa-se a degradação do

polímero após um período de duas horas, conforme discutido anteriormente, Figura 8. No

entanto, quando esses materiais são imobilizados na forma de filmes LbL, esse processo

torna-se muito mais lento em função do tempo, conforme Figura 14, mostrando que o

compósito apresenta boa estabilidade química em condições ambientais, justificando a

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8

E/V vs ECS

0 dias

(B)

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8

60 dias

30 dias

E/V vs ECS

0 dias100A

60 dias

30 dias

25

(A)

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78

importância de se trabalhar com esses materiais conjugados na forma de filmes automontados

do tipo LbL, e não em solução.

3.3 Testes preliminares de aplicações em sensores

3.3.1 Detecção de Cu(II)

A Figura 15 mostra os voltamogramas obtidos para os filmes de PANI (Figura 15A) e

PANI(CAM) (Figura 15B) na presença de Cu(II) à 1x10-3

mol L-1

. Observou-se que quando

em contato com o metal, ambos os filmes mostraram um pico de oxidação bem definido na

região de 0,04V vs ECS, o qual pode ser atribuído à presença do Cu(II) na célula

eletroquímica e apenas em filmes de PANI foi observado a supressão do segundo pico de

redução indicando que o cobre complexou fortemente apenas com a PANI.

Figura 15. Voltamogramas cíclicos obtidos para filmes de A) PANI e B) PANI(CAM) na

presença de Cu(II) à 1x10-3

mol L-1

e C) voltamogramas de Pulso Diferencial obtidos para

estes mesmos filmes na mesma concentração estudada. Todos os voltamogramas foram

obtidos com filmes de 6 monocamadas sob uso de eletrólito suporte de tampão hidrogeno

fosfato de potássio 1,0 M, pH 1,5 a 50mV s-1

..

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

-400

-300

-200

-100

0

100

200

300

400

-0,15 -0,10 -0,05 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20

100

200

300

400

500

600

i/ j

A c

m-2

E/V vs ECS

PANI

PANI(CAM)

-0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

i/ j

A c

m-2

E/V vs ECS

PANI

PANI em Cu(II) 1x10-3 mol L

-1

0.04V

i/ j

A c

m-2

E/V vs ECS

PANI(CAM)

PANI(CAM) em Cu(II) 1x10-3 mol L

-1

0.04V

A) B)

C)

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79

A literatura relata que a celulose – modificada com anidrido maleico (CAM) –

possui capacidade de adsorver metais bivalentes (Melo et al. 2009). Seguindo esta lógica

acredita-se que a presença desta celulose modificada no filme de PANI, pode melhorar a

adsorção por complexação e, consequentemente, a detecção do metal Cu(II) em meio aquoso.

No entanto na Figura 15C, é possível observar um comportamento contrário ao que

era esperado teoricamente. Os voltamogramas de Pulso Diferencial, Figura 15C, mostraram

que a sensibilidade eletroquímica do filme à presença do metal, diminui quando há a

incorporação da CAM no filme. Uma explicação conveniente seria que os grupos da celulose

modificada (CAM) responsáveis pela adsorção de metais (grupamentos hidroxilas) possam

estar interagindo diretamente com a PANI, ou mesmo inativados, dessa forma não estando

livres para a complexação com os íons metálicos. Neste caso, o filme constituído por apenas

PANI seria mais recomendável para a detecção do Cu(II).

3.3.2 Detecção de azul de metileno (C16H18N3SCl)

Conforme a Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (2009), o

aquecimento do azul de metileno pode gerar óxido de enxofre e óxido nítrico; além de causar

efeitos toxicológicos em organismos aquáticos e na qualidade da água. Segundo Fabrício

et al. (2009) o corante azul de metileno é comumente empregado na produção de papel e

outros materiais como poliésteres e nylons, sendo considerado um resíduo difícil de ser

tratado e, por ser catiônico, tem alta reatividade e capacidade de reagir com quase qualquer

substrato. Zhou et al., 2012 relataram que a celulose modificada com anidrido malêico

(celulose - CAM) tem capacidade de adsorver fortemente o azul de metileno. Seguindo esta

perspectiva foram também testados filmes desenvolvidos para a detecção do azul de metileno

e os resultados são mostrados a seguir.

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80

A Figura 16 exibe os voltamogramas obtidos para os testes de detecção do azul de

metileno. Ambos os voltamogramas dos filmes de PANI (Figura 16A) e de PANI(CAM)

(Figura 16B) apresentaram o surgimento de um novo processo de oxidação na região de

0,1V, o qual pode ser atribuído a oxidação do azul de metileno mediada por esses filmes. No

caso do filme de PANI(CAM), foi observado um aumento da corrente capacitiva e da

resistividade à transferência de cargas, em função do aumento da concentração do azul de

metileno na célula eletroquímica.

Figura 16. Filme de A) PANI e B) PANI(CAM) na presença de várias concentrações de azul

de metileno. Todos os voltamogramas foram obtidos com filmes de 6 monocamadas sob uso

de eletrólito suporte de tampão hidrogeno fosfato de potássio 1,0 M, pH 1,5 a 50mV s-1

..

Este comportamento pode inicialmente sugerir que a presença da celulose no filme

possa estar influenciando na detecção do azul de metileno. Devido a essas alterações na

interface, foi preferível minimizar essas interferências por meio de voltametria de Pulso

Diferencial, apresentados na Figura 17.

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

-267

-200

-133

-67

0

67

133

200

267

333

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

-31

-15

0

15

31

i/ j

A c

m-2

E/V vs ECS

0

1x10-4

2x10-4

3x10-3

0

1x10-4

2x10-4

3x10-3

i/ j

A c

m-2

E/V vs ECS

A) B)

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81

Figura 17. Voltamogramas de Pulso Diferencial obtidos para os filmes de A) PANI e C)

PANI(CAM) sob diferentes concentrações de azul de metileno em ambos os gráficos a linha

de base preta cheia corresponde ao branco experimental (apenas o filme), preta pontilhada ao

branco após os testes de detecção (teste de contaminação), curva vermelha pontilhada

corresponde à repetição do primeiro ponto da curva de calibração em tampão puro e após

lavagem do filme. Todos os voltamogramas foram obtidos com filmes de 6 monocamadas

sob uso de eletrólito suporte de tampão fosfato de potássio 1,0 M, pH 1,5, e B) e D) são suas

respectivas curvas de calibração.

[] mol. L-1

C)

A)

D)

B)

0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25

0

20

40

60

80

100

120

140

160

4,0x10-4

6,0x10-4

8,0x10-4

1,0x10-3

70

80

90

100

110

120

130

140

150

R = 0.988

ip

Concentração (mol L-1)

i/j A

cm

-2

E/V vs ECS

4x10-4

5x10-4

6x10-4

7x10-4

8x10-4

9x10-4

Após teste

de contaminação

0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,250

20

40

60

80

100

4,0x10-4

6,0x10-4

8,0x10-4

1,0x10-3

60

70

80

90

100

ip

Concentração (mol L-1

)

R = 0.996

i/j A

cm

-2

E/V vs ECS

4x10-4

5x10-4

6x10-4

7x10-4

8x10-4

9x10-4

Após teste

de contaminação

[] mol. L-1

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82

A Figura 17 mostra os voltamogramas de pulso diferencial obtidos para os filmes

desenvolvidos em função do aumento da concentração do azul de metileno na célula

eletroquímica. Para ambos os filmes de PANI (Figura 17A) e PANI(CAM) (Figura 17C), na

região de oxidação do azul de metileno (aproximadamente 0,1V), houve o aumento linear da

corrente de pico em função do aumento da concentração do azul de metileno na célula

eletroquímica. Analisando por este ângulo, os resultados exibidos nas Figuras 17A e 17C

sugerem que na detecção do corante, a presença da celulose não influenciou no aumento da

intensidade do pico de corrente, pois filmes de PANI(CAM) apresentaram sinal com menor

intensidade quando comparados à de filmes de PANI em concentrações equivalente de azul

de metileno.

Testes de ―descontaminação‖ do corante foram realizados no intuito de averiguar se o

azul de metileno permaneceria adsorvido ao filme, mesmo após proceder com lavagem dos

filmes com água ultra-pura e transferi-lo para solução tampão sem a presença do analito de

interesse. Este experimento poderia indicar se a celulose estaria adsorvendo o azul de

metileno na superfície do filme.

Após lavagem e ciclagem dos filmes em tampão puro, ambos os filmes mostraram

valores de densidade de corrente próximos àqueles observados para o branco experimental,

ou seja, apresentou apenas os perfis de PANI e PANI(CAM) observados apenas para os

filmes na ausência do azul de metileno na célula eletroquímica. Este comportamento

confirmou que a presença da CAM no filme não influenciou na adsorção do corante e por

consequência na detecção do azul de metileno. Entretanto, pôde-se observar que ambos os

filmes mostraram-se reprodutíveis para esta aplicação, visto que os mesmo filmes, quando

ciclados novamente na presença de 4x10-4

mol L-1

de C16H18N3SCl exibiram valores de

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83

densidade de corrente similares aos observados para esta mesma concentração antes do teste

de ―contaminação‖ .

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84

4. CONCLUSÃO

Filmes à base de PANI e celulose modificada com anidrido malêico (CAM) foram

preparados a partir da técnica LbL e caracterizados por espectroscopia de UV-VIS e

voltametria cíclica (VC). Os resultados obtidos por UV-VIS mostraram que dois parâmetros

são de extrema importância quanto às propriedades finais do compósito formado: I) tempo de

interação entre a PANI e a CAM; e II) agitação mecânica da solução empregada na deposição

dos filmes. A introdução de agitação mecânica no sistema contendo a CAM dispersa na

solução de PANI aumentou consideravelmente a velocidade de reação de dopagem

secundária da PANI para apenas um minuto, ao invés de duas horas que foi o tempo

observado para esse processo ocorrer na ausência de agitação mecânica. Quanto às medidas

de UV-VIS, foi observado também que ambos os filmes (PANI e PANI(CAM)) são sistemas

autorregulados, onde o fator de correção entre absorbância e número de monocamadas

adsorvidas sobre o substrato (n) foi superior a 97% para ambos os caso, e o filme de

PANI(CAM) apresentou uma inclinação da curva de crescimento consideravelmente maior,

indicando que o sistema contendo a celulose adsorve melhor no substrato.

A caracterização por voltametria cíclica (VC) mostrou que a presença da CAM no

filme PANI(CAM) promove um incremento nos valores de densidade de corrente quando

comparados àqueles observados para o filme de PANI na ausência da CAM. Os resultados

obtidos pelas técnicas de VC e UV-VIS mostram que as melhores condições de preparo do

compósito ocorrem após a dispersão da CAM na solução de PANI, seguida de sua agitação

por um minuto, e imobilização das monocamadas no período máximo de duas horas após a

agitação da solução. O estudo da variação de pH do meio mostrou que a estabilidade do filme

PANI(CAM) em pH 1,5 foi menor do que aquela observada para o filme contendo apenas

PANI; no entanto, em pH maior, pH 4,5, ambos os sistemas (PANI e PANI(CAM))

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85

apresentaram comportamento similar, com o compósito exibindo maiores valores de

densidade de corrente. O processo de transferência de cargas na interface eletrodo/solução foi

facilitado pela presença da CAM no compósito.

Apesar do curto período de tempo para a processabilidade do material (até duas

horas), após o preparo dos filmes, esses sistemas possuem ótima estabilidade, visto que, ao

longo de 60 dias, os perfis eletroquímicos não sofreram mudanças significativas em termos

de densidade de corrente, o que justifica a aplicação do material na forma de um filme

ultrafino em sensores eletroquímicos, principalmente para a detecção de metais pesados, que

apresentam facilidade de interação por complexação com anidrido presente na CAM.

O emprego da CAM em filmes monocamadas contendo a PANI foi realizado com o

objetivo de gerar um compósito que atuasse como camada ativa em processos eletroquímicos,

intensificando as propriedades condutoras da PANI, de acordo com os resultados

apresentados, esse objetivo foi atingido com sucesso.

Os filmes de PANI(CAM) nos teste preliminares para a detecção de cobre(II) e azul

de metileno não apresentaram resposta satisfatória, quanto à detecção desse materiais, mas

não significando que esses filmes não possam ser utilizados como suporte para detecção de

outros materiais.

Como perspectivas futuras este sistema será utilizado como camada ativa para o

desenvolvimento de sensores para outros metais e corantes e também será utilizado no

desenvolvimento de um biossensor enzimático na detecção de agrotóxicos.

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86

5. REFERÊNCIAS

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Alencar, W. S. (2008). Nanoarquiteturas Supramoleculares a partir de Metaloftalocianinas e

Nanopartículas de Ouro: Desenvolvimento, Propriedades e Aplicação. Dissertação (Mestrado

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