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DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE COMPÓSITOS POLIMÉRICOS
BASEADOS EM TERMOPLÁSTICO DE AMIDO E POLIPROPILENO COM
BIOMASSA BRUTA DE Penicillium sp.
L. A. Massulo1*, B. F. Bergel2, C. M. Mählmann3, A. L. Rodríguez4; V. A. Corbellini3
* Av. Independência, 2293, bloco 12, sala 1211, Bairro Universitário, Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, CEP 96815-900, e-mail: [email protected].
1 Curso de Engenharia Civil – Universidade de Santa Cruz do Sul- UNISC, RS. 2 Curso de Química Industrial – Universidade de Santa Cruz do Sul- UNISC, RS.
3 Departamento de Química e Física – Universidade de Santa Cruz do Sul- UNISC, RS.
4 Departamento de Engenharia, Arquitetura e Ciências Agrárias – Universidade de Santa Cruz do Sul- UNISC, RS.
RESUMO A crescente preocupação com a preservação ambiental tem impulsionado pesquisas envolvendo materiais biodegradáveis, neste contexto o termoplástico de amido (TPS) tornou-se um dos plásticos mais estudados. O objetivo geral deste trabalho foi desenvolver blendas parcialmente biodegradáveis de TPS e polipropileno (PP), e aplicá-las como matriz em compósitos poliméricos. Foram utilizados os processos de extrusão e moldagem por compressão a quente para a obtenção dos compósitos. As formulações estudadas envolveram fração mássica de 5% (m/m) de: biomassa fúngica bruta de Penicillium sp.; 1,3-β-glicano ou fibras de bagaço de cana-de-açúcar. As propriedades das amostras foram avaliadas pelos ensaios de flexão, tração e dureza. Os resultados alcançados indicaram a dependência das propriedades avaliadas com os diferentes reforços estudados, indicando potencial de aplicação destes compósitos.
Palavras-chave: termoplástico de amido, Penicillum sp., compósitos poliméricos, fibras de cana-de-açúcar, β-glicano, Lentinus sp.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas o uso de plásticos vem aumentando em vários
segmentos, sendo utilizados em diversas aplicações devido às suas propriedades
interessantes. Por outro lado, a maioria dos plásticos mais usados é oriunda de
matéria prima não renovável, o que aliada à dificuldade de biodegradação, causa
grande impacto ambiental tanto na sua extração como no seu descarte.
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Na busca de uma solução desse problema, plásticos biodegradáveis têm sido
estudados através de várias pesquisas, e a partir de diversas matérias primas. Um
destes plásticos mais estudados é o termoplástico a base de amido (TPS), pois
quando misturado com polímeros tradicionais, permite a obtenção de blendas
parcialmente biodegradáveis e ainda possibilita o acréscimo de reforços (1-3).
Geralmente, os termoplásticos biodegradáveis puros possuem propriedades
mecânicas pobres, sendo que a utilização de misturas (blendas) destes com outros
plásticos podem resolver ou minimizar esse problema.(4-6).
Outra forma de melhorar as propriedades, e portanto ampliar as aplicações, de
termoplásticos biodegradáveis, é através da sua utilização em compósitos
reforçados com diversos tipos de fibras. Entretanto, como o caráter biodegradável é
o que torna interessante a utilização deste tipo de material, os reforços mais
interessantes são os que apresentam este mesmo comportamento, como os
lignocelulósicos, entre outros (7-10).
Neste contexto, este trabalho envolveu o desenvolvimento de blendas de
polipropileno (baixo custo e boas propriedades físicas) com termoplástico a base de
amido de mandioca. Esta blenda foi utilizada como matriz reforçada separadamente
com biomassa bruta do fungo Penicillium sp., com fibras de cana-de-açúcar ou com
betaglicano. O betaglicano foi extraído do fungo Lentinus sp., pois em biomassas
fúngicas são encontrados maiores teores deste carboidrato (11). Os compósitos foram
processados e suas propriedades foram determinadas, visando comparar o efeito
das três fases dispersas empregadas.
MATERIAIS E MÉTODOS
Preparação de termoplástico de amido
O termoplástico de amido (TPS) foi preparado a partir da mistura de 80%
amido de mandioca com 20% de glicerol, Synth 99,5%, (m/m). Esta mistura foi
utilizada para a formulação 80% de água com 20% da mistura (m/m), sendo
gelatinizada em forno micro-ondas em potência média por 7 min em intervalos de 1
minuto para homogeneização. O produto foi seco em estufa a 60°C, e realizada a
moagem em moinho de facas Mecanofar MF300.
Obtenção da blenda (matriz)
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Foi realizada a mistura de polipropileno EP448R-QUATTOR com TPS em
homogeneizador de laboratório MH-equipamentos na proporção de 8:2,
respectivamente. Após a mistura foi realizada a moagem do material.
Preparo das fases dispersas (reforços)
A biomassa fúngica (Penicillium sp.) utilizada neste trabalho foi inoculada e
cultivada em meio preparado a partir de glicose, peptona e água, 4:2:100 (m/m/m). A
biomassa obtida (após 5 dias) foi inertizada em autoclave por 1 hora, seca em estufa
e moída para ser aplicada como reforço. A extração do betaglicano se deu a partir
do fungo Lentinus, que foi digerido em solução de NaOH 1 mol L-1 por 24 horas.
Após, o conteúdo foi centrifugado e o sedimento submetido a uma digestão em HCl
3% por 24 horas. Novamente centrifugou-se a amostra e o sedimento foi submetido
à oxidação com H2O2 3% a -5°C por 3 horas. O sedimento foi lavado com acetona, o
solvente foi evaporado e o produto foi seco. As fibras de bagaço de cana-de-açúcar
foram lavadas em água, secas em estufa a 70°C, e moídas em moinho de facas.
Para a utilização nos compósitos procedeu-se com a separação granulométrica das
fibras, tendo sido utilizadas fibras menores que 1 mm.
Produção dos compósitos
Os compósitos foram produzidos com teores de reforço de biomassa bruta de
Penicillium sp. e cana-de-açúcar foi de 5%, enquanto o de betaglicano foi de 10%.
As formulações foram processadas por extrusão, em extrusora monorosca SEIBT,
(temperatura máxima de 165°C). O material obtido foi moído em moinho de facas e
depois, processado por moldagem por compressão a 180°C, obtendo-se placas de 2
mm de espessura.
Avaliação das propriedades
As propriedades das amostras foram caracterizadas pelos ensaios de: Tração
(ASTM D638, EMIC DL 10.000, 5 mm min-1); Flexão (ASTM D790); Dureza (ASTM-
D2240, no Durômetro Shore GSD – 702 Teclock Politest.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ensaio de tração
Na figura 1 são apresentados os resultados para o parâmetro módulo de
elasticidade em tração da blenda polimérica de PP + TPS 20%, e dos compósitos de
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PP/TPS + 5% de biomassa bruta de Penicillium sp., PP/TPS + 10% de β-glicano e
PP/TPS + 5% de fibras de bagaço de cana-de-açúcar.
Fig. 1 - Resultados do módulo de elasticidade do ensaio de tração.
Observou-se aumento na rigidez do compósito com 5% de biomassa em
relação ao PP/TPS puro. Entretanto, verificou-se diminuição na rigidez dos
compósitos com os demais reforços, tendo esse último uma variação muito grande
dessa propriedade.
Na figura 2, são apresentados os resultados do ensaio de tração para
tensão na força máxima.
Fig. 2 - Resultados de tensão na força máxima do ensaio de tração.
Em comparação com o PP/TPS puro, notou-se um aumento na resistência
mecânica dos compósitos quando acrescidos de fibras de cana-de-açúcar ou de
betaglicano, entretanto, quando acrescido de biomassa bruta, o compósito teve um
resultado similar ao PP/TPS, contudo, mostrou menor variação.
Ensaio de flexão
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Os valores obtidos para o módulo de elasticidade do ensaio de flexão das
amostras testadas são apresentados na figura 3.
Fig. 3 - Resultados do módulo de elasticidade do ensaio de flexão.
Os resultados mostraram que a adição de betaglicano ou biomassa bruta
aumentaram a rigidez em flexão em comparação ao PP/TPS puro. Também houve
um aumento com a adição das fibras de cana-de-açúcar, porém menor comparado
às outras formulações.
As tensões máximas determinadas pelo ensaio de flexão são na figura 4.
Fig. 4 - Resultados da tensão máxima do ensaio de flexão
Em flexão foi observado um grande aumento da resistência mecânica nos
compósitos, tanto com a adição de fibras de cana-de-açúcar, tanto com biomassa
bruta. O betaglicano quando adicionado também mostrou um acréscimo desta
propriedade.
Dureza Shore D
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Na figura 5 são apresentados os resultados de dureza superficial das amostras
analisadas.
Fig. 5 - Resultado do teste de dureza das amostras avaliadas.
Os compósitos apresentaram maior dureza superficial quando comparados
com a amostra PP/TPS. Entre os compósitos avaliados, verificou-se similaridade
quanto a essa propriedade.
CONCLUSÕES
Os resultados mostraram que o emprego do β-glicano como reforço em
compósito polimérico foi interessante, e que este quando adicionado à matriz
melhorou principalmente a dureza, a resistência mecânica na tração e a rigidez na
flexão.
Já a adição de cana de açúcar contribuiu adequadamente na melhoria da
dureza, bem como nas resistências mecânicas na tração e flexão.
Com a relação à biomassa bruta, esta foi a única que sua adição não
prejudicou o desempenho quanto à rigidez na tração, e que ainda melhorou a
dureza, a rigidez na flexão e a resistência mecânica na flexão.
Estes resultados interessantes quanto ao ganho de propriedades mecânica
com o emprego destes reforços em matriz de blenda de TPS com PP, indicam que
este tipo de material pode ser aplicado onde a característica inerente ao TPS, de
biodegradação, seja necessária. As aplicações podem ser em bens de consumo
descartáveis, e que durante seu uso não seja colocado em contato com a água,
evitando assim, a desagregação dos constituintes.
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REFERÊNCIAS
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10 Gironès, J.; López, J.P.; Mutjé, P.; Carvalho, A.J.F.; Curvelo, A.A.S.; Vilaseca, F.
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Technology. n.55 p.627-631. 2013.
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DEVELOPMENT AND AVALIATION OF POLYMERIC COMPOSITES BASED
THERMOPLASTIC STARCH AND POLYPROPYLENE REINFORCED WITH
GROSS Penicillum sp. BIOMASS.
ABSTRACT
The growing concers with the environmental preservation has driven research involving
biodegradable materials, in this context the thermoplastic starch (TPS) became one of
the most studied plastics. The goal of this research was to develop partially
biodegradable blends of TPS and polypropylene, and apply them as matrix in
polymerics composites. The process of extrusion and casting through hot compression
were used to obtaining the composites. The formulations studied involved mass
fractions of 5% of: gross fungal biomass of Penicillium sp.; 1,3-β-glucan of Lentinus sp.
or sugar cane bagasse fiber. The samples’ proprieties were evaluated by bending,
tensile and hardness tests. The achieved results indicated the dependence of the
evaluated proprieties with the various studied reinforcements, indicating the potential
application of these composites.
Key words: thermoplastic starch, Penicillium sp., polymeric composites, sugar cane
fibers, β-glucan, Lentinus sp.
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