desenvolvimento de produtos sob uma...

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THIAGO HIDETOSHI NAKO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS SOB UMA PERSPECTIVA SUSTENTÁVEL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS E FERRAMENTAS Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção São Paulo 2010

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THIAGO HIDETOSHI NAKO

DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS SOB UMA PERSPECTIVA SUSTENTÁVEL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS E

FERRAMENTAS

Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção

São Paulo 2010

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THIAGO HIDETOSHI NAKO

DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS SOB UMA PERSPECTIVA SUSTENTÁVEL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS E

FERRAMENTAS

Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção

Orientador: Prof. Dr. Eduardo de Senzi Zancul

São Paulo 2010

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FICHA CATALOGRÁFICA

Nako, Thiago Hidetoshi

Desenvolvimento de produtos sob uma perspectiva sus ten- tável: um estudo de metodologias e ferramentas / T. H. Nako. -- São Paulo, 2010.

111 p.

Trabalho de Formatura - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Produçã o.

1. Desenvolvimento de produtos 2. Sustentabilidade I. Uni -

versidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departa mento de Engenharia de Produção II. t.

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À minha família e amigos,

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Agradecimentos

À minha família, que contribuiu e ainda contribui imensamente para minha formação

pessoal e acadêmica.

Ao Prof. Dr. Eduardo Zancul, que desde o início me apoiou e incentivou a realização

desse trabalho, e ao aluno Henrique José Pimentel Pizzotti, que contribuiu para a estruturação

da página na internet por meio de seu projeto de Iniciação Científica. Além disso, gostaria de

registrar meus sinceros agradecimentos à Escola Politécnica, que tanto me orgulha, e,

especialmente, ao Departamento de Engenharia de Produção.

Às empresas que concederam informações e tempo de seus funcionários para a

realização das entrevistas.

Por fim, ficam meus agradecimentos a todos os meus colegas do curso e de faculdade,

em especial, ao B8, que tanto me apoiaram ao longo dessa jornada.

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Quando próximo, finja estar longe; quando longe, finja estar próximo.

(Sun Tzu)

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Resumo

Esse trabalho tem como objetivo levantar os principais métodos de desenvolvimento

de produtos sustentáveis, sistematizá-los e buscar a difusão de tal conhecimento de modo

simples para que empresas das mais variadas características possam aplicá-los. Dada tamanha

importância de tais conceitos no cenário atual e por se tratar de técnicas em fase inicial de

desenvolvimento, é inquestionável afirmar que tal área tem despertado a atenção de muitas

empresas, especialmente, no modo como devem se posicionar no mercado. Apesar disso,

pode-se dizer que há certa dificuldade para avaliar se um projeto, processo ou produto é

comprovadamente sustentável. Frente a essa situação, esse trabalho contém um estudo a

respeito das abordagens, métodos/ferramentas e princípios disponíveis atualmente para o

desenvolvimento de produtos sustentáveis. Três métodos/ferramentas relevantes (Life Cycle

Assessment, E-FMEA, QFD Ambiental) foram selecionados e sistematizados, visando a sua

divulgação para aplicação em empresas. Além disso, por meio de entrevistas realizadas com

algumas empresas de variados setores, o trabalho apresenta um panorama do posicionamento

dessas empresas em relação à sustentabilidade, especialmente, no que se refere ao

desenvolvimento de produtos. Por fim, com a contribuição de um projeto de iniciação

científica realizado de forma integrada com este trabalho, foi iniciada a criação de uma página

na internet para a difusão do conhecimento sistematizado nesse trabalho.

Palavras-chave: Desenvolvimento de Produtos. Sustentabilidade

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Abstract

The aim of this report is to identify main methods of sustainable product development,

standardize them and seek for the dissemination of this information in a simple manner. As a

consequence all companies can apply them. Given the importance of these concepts in the

current scenario and as these techniques are in an early stage of development, undoubtedly,

these points have raised attention of a large number of corporations, especially, in the way

they should be positioned in the market. In spite of that, it is possible to say that there are

some difficulties when evaluating if a project, process or product is really sustainable. Due to

the mentioned points, this paper presents a study of approaches, methods/tools and principles

currently available for projecting and developing sustainable products. Three main

methods/tools (Life Cycle Assessment, E-FMEA, QFD Ambiental) were selected and

standardized in order to be applied in companies. Moreover, through interviews with

companies from different sectors, this report presents an overview of the position of these

companies regarding sustainability, especially, in the product development department. At

last, a website containing all methodologies presented in this report was released with the

contribution of an undergraduate research project.

Keywords: Product Development. Sustainability

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Lista de Tabelas

Tabela 1: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (adaptado de Savitz (2006))............. 29

Tabela 2: Palavras-chave pesquisadas (elaborado pelo autor) ................................................. 38

Tabela 3: Abordagens identificadas (elaborado pelo autor) ..................................................... 39

Tabela 4: Métodos/Ferramentas identificados (elaborado pelo autor) ..................................... 50

Tabela 5: Lista de Abordagens (elaborado pelo autor)............................................................. 70

Tabela 6: Lista de Métodos/Ferramentas (elaborado pelo autor) ............................................. 73

Tabela 7: Softwares de apoio para LCA (elaborado pelo autor) ............................................... 80

Tabela 8: Softwares de apoio para E-FMEA (elaborado pelo autor) ........................................ 81

Tabela 9: Softwares de apoio para QFD (elaborado pelo autor) .............................................. 84

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Lista de Figuras

Figura 1: Visão dos consumidores sobre a sustentabilidade (adaptado de Manget; Roche e

Munnich (2009)) ....................................................................................................................... 17

Figura 2: Comparação entre os índices Ibovespa e ISE (elaborado pelo autor) ....................... 18

Figura 3: Metodologia de Trabalho (elaborado pelo autor) ..................................................... 20

Figura 4: Etapas da Revisão bibliográfica (elaborado pelo autor) ........................................... 22

Figura 5: Definição de Produto Verde (adaptado de Manget; Roche e Munnich (2009)) ....... 24

Figura 6: Principais Atitudes "verdes" (adaptado de Manget; Roche e Munnich (2009)) ....... 25

Figura 7: Prêmio de preço pela Sustentabilidade (adaptado de Manget; Roche e Munnich

(2009)) ...................................................................................................................................... 26

Figura 8: Razões para uma empresa investir em sustentabilidade (adaptado de Bonini; Gorner

e Jones (2010)) ......................................................................................................................... 27

Figura 9: Dimensões do Desenvolvimento Sustentável (elaborado pelo autor) ....................... 28

Figura 10: Etapas do Desenvolvimento de Produtos (adaptado de Abele et al. (2008)) .......... 30

Figura 11: Curva de Comprometimento de Custo (adaptado de Rozenfeld et al. (2006)) ....... 31

Figura 12: Ciclo de Vida de um Produto (elaborado pelo autor) ............................................. 32

Figura 13: Grau de incerteza (adaptado de Rozenfeld et al. (2006)) ........................................ 34

Figura 14: Número de escolhas durante o desenvolvimento de produtos (adaptado de

Rozenfeld et al. (2006)) ............................................................................................................ 34

Figura 15: Modelo de Desenvolvimento de Produtos (adaptado de Rozenfeld et al. (2006)) . 36

Figura 16: Comparativo entre DfE e DfS (elaborado pelo autor) ............................................. 43

Figura 17: Etapas para o Clen Production (adaptado de Thorpe (2009)) ................................. 45

Figura 18: Estágios do ciclo de vida de um produto (adaptado de Curran (2006)) .................. 51

Figura 19: LCA de acordo com os padrões da ISO 14000 (adaptado de Hauscild; Jeswiet e

Alting (2005)) ........................................................................................................................... 52

Figura 20: Itens de um FMEA Ambiental (elaborado pelo autor) ........................................... 55

Figura 21: Possibilidades de Melhoria Ambiental ao Longo do Desenvolvimento de um

Produto (adaptado de Hauscild; Jeswiet e Alting (2004)) ........................................................ 66

Figura 22: Composição do DfS (elaborado pelo autor) ............................................................ 69

Figura 23: Composição do DfE (elaborado pelo autor) ........................................................... 69

Figura 24: Ilustração das Abordagens de Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis

(elaborado pelo autor) ............................................................................................................... 70

Figura 25: Comparativo entre Cradle to Cradle e Cradle to Grave (elaborado pelo autor) .... 71

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Figura 26: Comparativo entre DfR e DfD (elaborado pelo autor) ............................................ 72

Figura 27: Comparativo entre Cradle to Cradle e DfR (elaborado pelo autor) ........................ 72

Figura 28: Quadro Resumo de Abordagens, Ferramentas e Princípios (elaborado pelo autor)75

Figura 29: LCA de acordo com os padrões da ISO 14000 (adaptado de Hauscild; Jeswiet e

Alting (2005)) ........................................................................................................................... 79

Figura 30: Representação da Matriz QFD (adaptado de Abele et al. (2008)) .......................... 83

Figura 31: Modelo de Desenvolvimento de Produtos (adaptado de Rozenfeld et al. (2006)) . 87

Figura 32: Modelo de Desenvolvimento de Produtos (adaptado de Rozenfeld et al. (2006)) . 90

Figura 33: Modelo de Desenvolvimento de Produtos – Empresa do Setor Aeroespacial

(adaptado de Rozenfeld et al. (2006)) ...................................................................................... 93

Figura 34: Matriz de Impacto Ambiental (elaborado pelo autor) ............................................. 95

Figura 35: Print do item objetivos ............................................................................................ 98

Figura 36: Print do item métodos e ferramentas (1) ................................................................ 99

Figura 37: Print do item métodos e ferramentas (2) ................................................................ 99

Figura 38: Print do item métodos e ferramentas (3) .............................................................. 100

Figura 39: Modelo de Desenvolvimento de Produtos (adaptado de Rozenfeld et al. (2006)) 109

Figura 40: Quadro Resumo de Abordagens, Ferramentas e Princípios (elaborado pelo autor)

................................................................................................................................................ 110

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Lista de Siglas

ANBIMA: Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais

APIMEC: Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais

CES: CENTRO DE ESTUDOS EM SUSTENTABILIDADE

DfD: Design for Disaseembly

DfE: Design for Environment

DfS: Design for Sustainability

DfR: Design for Recycling

EAESP-FGV: Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas

EPA: ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY – United States

EUA: Estados Unidos da América

FMEA: Failure Mode Event Analysis

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFC: International Finance Corporation

INMETRO: Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

ISE: Índice de Sustentabilidade Empresarial

IBOV: Índice Ibovespa

ISO: International Organization for Standization

LCA: Life Cycle Assessment

LCI: Life Cycle Inventory

LCIA: Life Cycle Impact Assessment

ONG: Organização não governamental

PE: Estado de Pernambuco

QFD: Quality Function Deployment

SETAC: Society for Environmental Toxicology and Chemistry

SP: Estado de São Paulo

TBL: Triple Bottom Line

TQM: Total Quality Management

USD: dólar americano

USP: Universidade de São Paulo

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Sumário

1. Introdução .................................................................................................... 15

1.1. Importância do tema .................................................................................................. 15

1.1.1. Contextualização ................................................................................................ 15

1.1.2. Problema ............................................................................................................. 18

1.2. Objetivo do trabalho .................................................................................................. 19

1.3. Metodologia de trabalho ............................................................................................ 19

1.4. Estrutura do trabalho .................................................................................................. 21

2. Revisão bibliográfica ................................................................................... 22

2.1. Sustentabilidade ......................................................................................................... 22

2.1.1. Sustentabilidade como estratégia ....................................................................... 23

2.1.2. Triple Bottom Line (TBL) ................................................................................... 28

2.2. Projeto e gestão de produtos ...................................................................................... 29

2.2.1. Ciclo de vida de produtos ................................................................................... 30

2.2.2. Projeto de Desenvolvimento de Produtos ........................................................... 33

2.2.3. Modelo unificado do processo de desenvolvimento de produtos ....................... 35

2.3. Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis .............................................................. 38

2.3.1. Abordagens ......................................................................................................... 39

2.3.2. Métodos/Ferramentas ......................................................................................... 49

2.3.3. Princípios aplicados ao projeto de produtos sustentáveis ................................... 61

2.4. Certificações de adequação ambiental ....................................................................... 62

2.5. Modelo de implementação ......................................................................................... 65

3. Sistematização de Métodos .......................................................................... 68

3.1. Design for Sustainability x Design for Environment ................................................. 68

3.2. Organização dos conceitos de desenvolvimento de produtos sustentáveis ............... 70

3.3. Sistematização de métodos/ferramentas para o desenvolvimento sustentável .......... 77

3.3.1. Life Cycle Assessment ......................................................................................... 77

3.3.2. FMEA-Ambiental ................................................................................................ 80

3.3.3. QFD-Ambiental .................................................................................................. 82

4. Aplicação em Empresas .............................................................................. 85

4.1. Empresa do Setor de Equipamentos Eletrônicos ....................................................... 85

4.2. Empresa do Setor de Eletrodomésticos...................................................................... 89

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4.3. Empresa do Setor Aeroespacial ................................................................................. 91

4.4. Proposta de modelo para classificação de empresas de acordo com impacto

ambiental ............................................................................................................................... 94

5. Proposta de Divulgação ............................................................................... 98

6. Conclusão .................................................................................................. 101

6.1. Comentários Finais .................................................................................................. 101

6.2. Sugestões de Futuros Trabalhos .............................................................................. 102

Referências bibliográficas ................................................................................ 104

Apêndice A – Roteiro de Entrevistas ............................................................... 108

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1. Introdução

Esse capítulo apresenta um breve panorama sobre o tema em análise, bem como o

problema que é abordado neste trabalho. Além disso, são apresentados o objetivo do trabalho,

a metodologia de pesquisa e a estrutura deste texto.

1.1. Importância do tema

Esse item apresenta uma breve contextualização a respeito do tema e a importância

que a sustentabilidade tem ganhado na sociedade. Além disso, é discutido o problema

motivador deste trabalho.

1.1.1. Contextualização

A primeira menção do termo sustentabilidade, definida como atender as necessidades

da sociedade atual sem comprometer as gerações futuras de atenderem às suas, foi

apresentada durante a Comissão de Bruntland em 1983 conforme Triple Bottom Line (2009).

Atualmente, tal conceito tem ganhado cada vez mais importância e é pauta de diversas

agendas de governo e eventos internacionais, dentre os quais vale destacar:

• AN INCONVENIENT TRUTH: documentário estrelado por Al Gore, ex-vice-

presidente dos Estados Unidos, e vencedor do Oscar em sua categoria no ano de

2007. Nele, Guggenheim (2006) aborda a questão do aquecimento global.

• Protocolo de Kyoto: assinado em Kyoto, Japão, em 1997. Nele foi proposto um

calendário para os países membros reduzirem as suas emissões em ao menos 5,2%

com base nos valores do ano de 1990 entre o período de 2008 e 2012. Para tal, o

protocolo estimula que as medidas sejam tomadas em setores de energia e

transportes, promoção do uso de fontes de energia renováveis, proteção de

florestas e sumidouros de carbono.

• As empresas buscam cada vez mais evidenciar sua preocupação não apenas com o

meio ambiente, mas também com aspectos sociais e culturais. Ilustra a situação a

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Apple1, empresa do setor de informática, que disponibiliza em sua página na

internet um vasto conteúdo informativo destinado a mostrar toda importância que

merece o meio ambiente. Além disso, muitas empresas atualmente divulgam não

apenas seus relatórios financeiros, mas também relatórios sociais, enfatizando

todos os seus investimentos em tal setor.

• A BMF&BOVESPA2, seguindo uma tendência mundial dos investidores buscarem

investimentos em empresas socialmente responsáveis, sustentáveis e rentáveis, em

parceria com a ANBIMA, APIMEC, IBGE, IFC, Insituto Ethos e Ministério do

Meio Ambiente, desenvolveu um índice de ações referência para investimentos

socialmente responsáveis, o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial). A

carteira do índice é composta por papéis de empresas com comprovada

responsabilidade social e sustentabilidade empresarial.

Como se pode notar, o tópico tem recebido especial atenção dos principais meios de

comunicação e no meio empresarial, o que tem contribuído para a difusão de tal assunto para

toda a população. Ainda que haja massiva divulgação de tal conhecimento, existe uma grande

confusão com relação à definição conceito de sustentabilidade propriamente dito. De acordo

com Berns et al. (2009)¸ se por um lado parte da população relaciona o conceito de

sustentabilidade apenas com aspectos ambientais e regulatórios que proporcionam ganhos de

imagem, por outro uma alguns segmentos buscam expandir tal definição. Portanto, além do

aspecto ambiental, procura-se considerar também os impactos econômicos e sociais. Assim,

de acordo com o CENTRO DE ESTUDOS EM SUSTENTABILIDADE da EAESP-FGV3, o

conceito mais amplo e preciso de sustentabilidade pode ser definido da seguinte forma:

Desenvolvimento econômico baseado no equilíbrio entre as dimensões ecológica, social e

econômica. Representa o potencial para uma nova abordagem do setor privado em relação ao

desenvolvimento criando negócios rentáveis que, simultaneamente, elevam a qualidade de vida

dos pobres do mundo, respeitam a diversidade cultural, e conservam a integridade do planeta para

as futuras gerações

(CENTRO DE ESTUDOS EM SUSTENTABILIDADE da EAESP-FGV).

Diante disso e conforme Manget; Roche e Munnich (2009), a preocupação com a

sustentabilidade dos recursos e com os produtos que estamos consumindo começam a

1 Acesso através do site http://www.apple.com/br/ em 20/10/2010. 2 Acesso através do site http://www.bmfbovespa.com.br/home.aspx?idioma=pt-br em 30/10/2010. 3 Acesso através do site http://www.ces.fgvsp.br/ em 02/10/2010.

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17 representar um fator significativo de decisão para os consumidores comprarem seus produtos.

É inquestionável afirmar que tal ponto tem despertado a atenção de muitas empresas,

especialmente, no modo como devem se posicionar no mercado.

De acordo com pesquisa apresentada em Manget; Roche e Munnich (2009), diversos

são os fatores que os consumidores consideram importante/muito importante para uma

empresa ser sustentável. Como apresentado na Figura 1, 73% dos pesquisados acreditam que

é importante/muito importante a corporação apresentar um bom histórico ambiental, por

exemplo.

Figura 1: Visão dos consumidores sobre a sustentabilidade (adaptado de Manget; Roche e Munnich

(2009))

Em outras palavras, pode-se dizer que as empresas que conseguem traduzir tais

definições em produtos diferenciados têm conseguido maiores margens de lucro e maior

participação em um mercado cada vez mais competitivo. Um indicador de tal fator é a

comparação da rentabilidade do ISE x IBOVESPA entre 27/10/2009 e 27/10/2010.

43%

54%

66%

71%

73%

75%

75%

81%

30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%

As empresas devem realizar doaçòes à caridade

As empresas devem se envovler em projetos sociais

As empresas devem oferecer produtos "verdes"

As empresas devem tratar seus funcionários de maneira justa

As empresas devem apresentar um bom histórico ambiental

As empresas devem informar os impactos ambientais de seus produtos

As empresas devem apresentar altos padrões de ética

As empresas devem conhecer exatamente os riscos de seus produtos

Visão dos Consumidores

Importante/Muito Impotante

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Figura 2: Comparação entre os índices Ibovespa e ISE (elaborado pelo autor)

A Figura 2 evidencia que um investidor que aplicou R$ 100,00 no dia 27 de outubro

de 2009 em uma carteira similar ao ISE possuiria R$ 115,95 após um ano, ou seja, houve o

rendimento de 15.95%. Um investimento análogo em uma carteira similar ao Ibovespa

proporcionaria um rendimento de, aproximadamente, 11.73%. Dessa forma, pode-se afirmar

que a rentabilidade do ISE foi consideravelmente melhor quando comparado ao Ibovespa.

Em outras palavras pode-se notar que há real criação de valor para o acionista de uma

empresa quando a mesma se preocupa com questões sustentáveis, tais como o meio ambiente

e problemas sociais.

1.1.2. Problema

De acordo com Bonini; Gorner e Jones (2010), mais de 50% das principais empresas

do mundo acreditam que a sustentabilidade exerce fundamental importância em diversas áreas

do setor empresarial, tais como desenvolvimento de novos produtos, desenvolvimento de

reputação e na estratégia da empresa como um todo. Apesar disso, apenas 30% dos dirigentes

afirmam que suas empresas procuram ativamente oportunidades para investir em

sustentabilidade. Ainda conforme Bonini; Gorner e Jones (2010), uma potencial causa para

90.00

95.00

100.00

105.00

110.00

115.00

120.00

out-09 nov-09 dez-09 jan-10 fev-10 mar-10 abr-10 mai-10 jun-10 jul-10 ago-10 set-10 out-10

BR

LIbovespa x ISE

IBOV ISE

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19 essa baixa porcentagem é a falta de uma definição clara de tal conceito, dado que apenas 20%

dos executivos entrevistados em pesquisa responderam entender claramente o conceito de

sustentabilidade. Alguns a consideram como o gerenciamento de problemas relacionados ao

meio ambiente, outros a relacionam com problemas com o governo e outros a consideram o

gerenciamento de problemas sociais.

Dada tamanha importância de tais conceitos e por se tratar de um conhecimento em

fase inicial de desenvolvimento, pode-se dizer que há certa dificuldade para avaliar se um

projeto, processo ou produto é comprovadamente sustentável. Ainda é de fundamental

importância ressaltar que o projeto de desenvolvimento de um produto é crucial para o

potencial impacto ambiental que o mesmo poderá gerar. Isso porque, como propõe Rebitzer et

al. (2004, p. 702), as tomadas de decisões envolvidas durante essa etapa, tais como seleção de

materiais e determinação do processo de produção, podem definir até, aproximadamente, 70%

dos impactos ambientais de um produto em todo o seu ciclo de vida.

Diante disso, torna-se interessante analisar na literatura os diversos

métodos/ferramentas existentes para o desenvolvimento de produtos sustentáveis e

sistematizá-los para que possam ser mais facilmente aplicados em empresas. Além disso, a

verificação atual estágio de aplicação em empresas fornece uma visão geral sobre a aplicação

prática dos métodos/ferramentas de desenvolvimento sustentável e das lacunas atuais. Por

fim, um ponto interessante é a difusão de tal conhecimento de maneira simples para que toda

a população possa ter acesso ao mesmo.

1.2. Objetivo do trabalho

Esse trabalho tem como objetivo levantar as principais metodologias de

desenvolvimento de produtos sustentáveis, sistematizá-las e buscar a difusão de tal

conhecimento de modo simples para facilitar a aplicação nas empresas.

1.3. Metodologia de trabalho

O trabalho proposto está estruturado em três fases de acordo com Figura 3.

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Figura 3: Metodologia de Trabalho (elaborado pelo autor)

A seguir, cada fase é descrita detalhadamente:

• Levantamento de dados (Fase I): a primeira etapa consiste fundamentalmente de

pesquisa na literatura e é composta por três atividades. Inicialmente, são

levantados o maior número possível de métodos/ferramentas para o

desenvolvimento de produtos sustentáveis. Em seguida, é realizada a organização

de tais formas de desenvolvimento de produtos sustentáveis de modo a classificá-

las de acordo com suas características. Além disso, é realizada uma seleção dos

principais métodos/ferramentas de desenvolvimento. Por fim, estudam-se de modo

mais detalhado os métodos/ferramentas considerados mais relevantes durante a

etapa de seleção. Como resultado de tal etapa, obtém-se uma relação estruturada

dos principais métodos/ferramentas.

• Sistematização (Fase II): baseado nos resultados obtidos durante a Fase I propõe-

se a sistematização dos mesmos. Para tal, realiza-se a definição da estrutura de

padronização e em seguida realiza-se a sistematização dos métodos selecionados

durante a Fase I. Como resultado, espera-se obter uma forma simples e organizada

para que tais conhecimentos possam ser transferidos para empresas.

Levantamento de dados SistematizaçãoDivulgação e Estudo

em empresas

Levantamento de métodos existentes

Seleção de métodos

relevantes

Estudo de métodos

relevantes

Sistematização de métodos

Padrões para sistematização

de métodos

Verificação de métodos em

empresas

Divulgação de métodos

Fase I Fase II Fase III

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• Divulgação e Estudo em empresas (Fase III): a terceira fase é composta de duas

etapas. A primeira consiste de entrevistas realizadas em empresas de diferentes

segmentos para verificar como as mesmas aplicam os conceitos de

sustentabilidade. Esses resultados são apresentados na forma de estudos de caso.

Por fim, propõe-se a divulgação dos resultados obtidos durante as fases II e III de

uma forma simples e objetiva, por meio de um site na Internet.

Dado o conteúdo deste trabalho, o próximo item apresenta a organização do texto

1.4. Estrutura do trabalho

Além deste introdutório, o presente trabalho está dividido em cinco capítulos

estruturados como descrito a seguir.

O Capítulo 2 apresenta a fundamentação teórica para o desenvolvimento desse

trabalho. Dessa forma, aborda não apenas conceitos de sustentabilidade para as corporações,

como também um modelo de referência para o desenvolvimento de produtos. Além disso, são

descritas as principais abordagens, métodos/ferramentas e princípios que contribuem para o

desenvolvimento de produtos sustentáveis. Por fim, são expostas algumas formas para

mensuração e verificação se um produto é ou não sustentável.

O Capítulo 3 possui como foco principal uma análise dos principais conceitos que

envolvem o projeto e desenvolvimento de produtos sustentáveis levantados na literatura e

descritos no Capítulo 2.

Já o Capítulo 4 apresenta uma pesquisa realizada em diversas empresas para estudar o

modo como as empresas enxergam a sustentabilidade e como buscam aplicar em seu dia a dia,

em especial, na área de desenvolvimento de produtos. Além disso, em tal capítulo há a

proposição da Matriz de Impacto Ambiental, que busca posicionar as empresas com relação

aos seus volumes de produção x impacto ambiental gerado por unidade do produto.

Por sua vez, o Capítulo 5 tem como tema central a proposta de divulgação de todo o

conhecimento levantado ao longo da etapa de fundamentação teórica (Capítulo 2), de

sistematização (Capítulo 3) e de análise de empresas (Capítulo 4).

Por fim, o Capítulo 6 contém o fechamento do trabalho, com os principais resultados

obtidos e com propostas de futuros trabalhos.

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2. Revisão bibliográfica

Nesse capítulo, é apresentada uma análise das principais obras na literatura, que

abordam os temas envolvidos no escopo deste trabalho. Por questões organizacionais, a

revisão bibliográfica é estruturada em quatro partes, como ilustrado na Figura 4.

Figura 4: Etapas da Revisão bibliográfica (elaborado pelo autor)

• Sustentabilidade: nessa parte são apresentados os principais conceitos relacionados

com tal área. Vale ressaltar que há especial foco para a análise da sustentabilidade

sob o ponto de vista estratégico de uma empresa.

• Projeto e gestão de produtos: nessa parte são abordados os principais conceitos

para o projeto/desenvolvimento de novos produtos.

• Métodos de desenvolvimento sustentáveis: nessa parte são explorados os

principais métodos de projeto do produto focados no desenvolvimento de produtos

sustentáveis.

• Critérios sustentáveis: nessa parte são apresentados alguns critérios que

configuram os produtos/serviços como sustentáveis.

Nos próximos subitens são detalhadas cada uma das partes da revisão bibliográfica,

conforme a estrutura apresentada acima.

2.1. Sustentabilidade

Esse item tem por objetivo evidenciar como o conceito de sustentabilidade tem se

tornado cada vez mais estratégico em empresas de diversos setores, tais como mineração,

petróleo e bens de consumo.

Revisãobibliográfica

SustentabilidadeProjeto e gestão

de produtos

Métodos de desenvolvimento

sustentáveis

Critérios sustentávies

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2.1.1. Sustentabilidade como estratégia

Como mencionado anteriormente, o conceito de sustentabilidade é bastante amplo e

generalista. Esse trabalho tem como foco principal o estudo de desenvolvimento de produtos

no ambiente corporativo, e, portanto, será apresentado o conceito de sustentabilidade

direcionado a tal setor. Conforme o CENTRO DE ESTUDOS EM SUSTENTABILIDADE

da EAESP-FGV, para o setor empresarial, a sustentabilidade pode ser vista como:

A sustentabilidade consiste em uma nova abordagem para fazer negócios, com inclusão social,

respeito à diversidade cultural e aos interesses de todos os envolvidos, à otimização do uso de

recursos naturais e à redução de impacto sobre o meio ambiente.

(CENTRO DE ESTUDOS EM SUSTENTABILIDADE da EAESP-FGV4)

Uma definição precisa de sustentabilidade para o setor empresarial é de fundamental

importância. De acordo com Manget; Roche e Munnich (2009), consumidores do mundo todo

estão cada vez mais preocupados com o meio ambiente. Apesar disso, em pesquisa

apresentada em Manget; Roche e Munnich (2009), quando questionadas sobre o que seria um

produto sustentável, observa-se grande incerteza e indefinição de acordo com dois

parâmetros:

• Tipo de produto.

• Origem dos entrevistados.

Isso porque, apesar de grande parte da população relacionar o conceito com

atividades/atitudes que promovam impacto positivo ao meio ambiente, uma pequena parcela

inclui atos que correspondem à responsabilidade social, tais como desapoio ao trabalho

infantil e adoção de políticas de fairtrade5. Diante disso, torna-se de fundamental importância

que as empresas entendam o que o termo produto sustentável significa para o seu público-alvo

considerando o produto que fabricam.

De acordo com pesquisa realizada com 1000 pessoas em diferentes países e

apresentada em Manget; Roche e Munnich (2009), a definição de produto verde é

consideravelmente incerta. A Figura 5 evidencia em que os pesquisados concordam ou

concordam fortemente ser um produto verde quando apresentados a uma lista de

características, tais como produtos recicláveis ou reutilizáveis.

4 Acesso através do site http://www.ces.fgvsp.br/ em 02/10/2010. 5 De acordo com FAIRTRADE FOUNDATION, o fairtrade é uma abordagem que busca criar oportunidades de mercado para produtores menos favorecidos. Acesso através do site http://www.fairtrade.org.uk/ em 25/07/2010.

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Figura 5: Definição de Produto Verde (adaptado de Manget; Roche e Munnich (2009))

Como se pode notar, mais de 90% dos entrevistados concordam ou concordam

fortemente que um produto verde deve ser reciclável ou reutilizável. Além disso, ainda há

diferentes conceitos com relação à definição de um produto verde por parte da população.

Outro complicador está no fato de que os consumidores não expressam exatamente a razão

pela qual compram essa classe de mercadorias. Ainda conforme pesquisa efetuada com 8047

pessoas e apresentada em Manget; Roche e Munnich (2009), os pesquisados afirmam que

compram produtos verdes por se preocuparem com o meio ambiente e por desejarem que suas

famílias vivam em um mundo melhor e mais saudável. Apesar disso, quando questionados

sobre o que fazem em favor do meio ambiente, a grande maioria das respostas está

diretamente relacionada com redução de custos. A Figura 6 ilustra o comportamento atual e o

comportamento que as pessoas esperam apresentar no futuro com relação ao meio ambiente.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%

Produtos artesanais

Produtos fabricados localmente

Produtos com políticas de fair-trade

Produtos não testados em animais

Produtos com inovação tecnológica

Produtos de materia orgânico/natural

Produtos com certificação ambiental

Produtos com baixa emissão de carbono

Produtos que utilizam menos embalagens

Produtos que consomem menos energia

Produtos fabricados de modo eco-friendly

Produtos com matéria prima reciclável

Produtos que gerem menos poluição

Produtos recicláveis ou reutilizáveis

Definição de Produto Verde

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Figura 6: Principais Atitudes "verdes" (adaptado de Manget; Roche e Munnich (2009))

Apesar da redução de custos ser um fator relevante, é claro notar que há grande

indefinição com relação aos fatores que motivam os clientes a comprarem produtos verdes.

Ainda de acordo com estudo realizado Manget; Roche e Munnich (2009), cerca de 1/3 dos

entrevistados estariam dispostos a pagar entre 5 e 10% a mais por um produto verde de acordo

com a sua categoria:

• Alimentos e bebidas: 30% dos entrevistados revelaram que estariam dispostos a

pagar 10% ou mais por alimentos frescos. A principal razão para tal está na

qualidade superior dos produtos verdes.

• Eletrônicos e Aplicativos: entre 20% e 30% dos entrevistados pagariam 10% ou

mais para tais tipos de produtos. Economia é o principal motivador.

• Cosméticos: o mesmo pode ser verificado para os cosméticos. O principal

benefício está no uso de matéria-prima menos agressiva à pele.

• Vestuário: entre 20 e 30% dos entrevistados estariam dispostos a pagar um prêmio.

Consideram melhor que os produtos normais.

• Produtos descartáveis: é o que apresenta menos disposição para pagamentos de

prêmio. Em tal categoria, os clientes acreditam que funciona como um pré-

requisito.

Como apresentado pelo estudo, apenas ser sustentável não indica que o cliente está

disposto a pagar mais pelo produto. O mesmo precisa apresentar algo adicional, como um

0% 25% 50% 75% 100%

Desligar equipamentos eletrônicos

Reciclar e reutilizar produtos

Utilizar lâmpadas mais eficientes

Economizar água

Levar sacolas próprias ao supermercado

Utilizar dispositivos eficientes

Utilizar o carro o minímo possível

Dar preferência por produtos produzidos localmente

Comprar produtos sem embalagem

Consumir produtos orgânicos

Dirigir um carro mais eficiente

Comprar mais produtos verdes

Possuir um carro híbrido

Tendências de Comportamento

Futuro Hoje

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26 sabor melhor, ser mais saudável ou fazer com que os clientes possam reduzir suas despesas.

Uma tendência do preço de prêmio pela sustentabilidade é apresentada na Figura 7.

Figura 7: Prêmio de preço pela Sustentabilidade (adaptado de Manget; Roche e Munnich (2009))

Ainda de acordo Manget; Roche e Munnich (2009), vale ressaltar que produtos verdes

não necessariamente precisam custar mais. Um grande número de empresas alcançam

reduções de custos significativas por meio da redução do tamanho da embalagem, por

exemplo. Tal fato gera reduções não apenas no uso de matéria-prima, mas também em custos

logísticos e de armazenamento.

Reconhecido o ponto de vista do consumidor, cabe verificar quais são as principais

razões que motivam as empresas a desenvolver projetos sustentáveis.

De acordo com pesquisa realizada em 1749 empresas apresentada por Bonini; Gorner

e Jones (2010), o principal fator para o investimento em sustentabilidade corresponde á

geração de valor para empresa considerando tanto o curto quanto o longo prazo. A Figura 8

evidencia quais os principais fatores que incentivam o engajamento das empresas em temas

sustentáveis.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

União Européia Estados Unidos Canadá Japão China

Prêmio pela Sustentabilidade

0% de prêmio 5% de prêmio 5-10% de prêmio 10-20% de prêmio Acima de 20% de prêmio

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Figura 8: Razões para uma empresa investir em sustentabilidade (adaptado de Bonini; Gorner e Jones

(2010))

Como se pode notar, o principal ponto é a construção/manutenção de sua reputação.

Além disso, conforme Manget; Roche e Munnich (2009), a preocupação ambiental gera

vantagem competitiva na diferenciação do produto e na redução de custos, fato já identificado

por uma parte das empresas. Ainda de acordo com o artigo, foi realizado um estudo, no qual

foram identificadas as 10 melhores práticas que geram vantagem competitiva. Essas foram

divididas em quatro grandes grupos (Plano, Processo, Produto e Promoção):

Plano

• Incluir o fator sustentabilidade dentro da estratégia da empresa. Além disso, definir

recursos e orçamentos.

• Desenvolver novos conceitos relacionados com a sustentabilidade e não apenas

seguir os já existentes.

• Procurar otimizar o próprio negócio por meio de iniciativas sustentáveis.

Processo

• Promover a sustentabilidade ao longo de toda a cadeia de suprimentos.

• Evidenciar os resultados alcançados a todos os colaboradores da empresa.

• Os objetivos sustentáveis devem ser reportados a toda estrutura empresarial.

Produto

• Fazer com que os consumidores entendam como o seu produto sustentável é

superior quando comparado aos outros.

• O preço deve ser justo.

Promoção

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%

Pressões de ONG e outros

Atrair, motivar e reter talentos

Riscos regulatórios

Novas Oportunidades de Mercado

Melhor eficiência operacional

Atender expectativas dos consumidores

Alinhar com os objetivos da empresa

Manter/aumentar reputação corporativa

Razões para a Sustentabilidade

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• Os esforços verdes devem partir da alta gerência.

• Ser consistente com os conceitos para evidenciar credibilidade.

Identificados os fatores de mercado importantes para a empresa quando se fala em

produtos sustentáveis, torna-se importante que a mesma esteja estruturada internamente para

incorporar tais conceitos em seu cotidiano.

2.1.2. Triple Bottom Line (TBL)

Compreendido como gerar vantagem competitiva em razão da sustentabilidade, torna-

se interessante buscar uma forma de mensuração da performance da empresa não apenas em

termos financeiros, como ocorre tradicionalmente. Com tal intuito, de acordo com a página na

internet da ONG SUSTAINABILITY6, John Elkington propôs a medição não apenas do lucro

financeiro da empresa, mas também de outros dois fatores: as pessoas e o planeta.

Figura 9: Dimensões do Desenvolvimento Sustentável (elaborado pelo autor)

Como se pode observar na Figura 9, o desenvolvimento sustentável é composto por

três pilares básicos: dimensão ambiental, dimensão econômica e dimensão social, ou seja,

uma empresa sustentável é aquela que não apenas gera valor aos acionistas, mas também

protege o meio ambiente e contribui para a qualidade de vida da população com a qual

interage.

6 Acesso através do site http://www.sustainability.com/ em 07/09/2010.

Desenvolvimento Sustentável

Dimensão Econômica

Dimensão

Ambiental

Dimensão Social

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Savitz (2006) propõe que a sustentabilidade é uma prática essencial para se realizar

negócios na situação de interdependência em que o mundo de encontra atualmente. Isso

porque o conceito considera os mais diversos elementos de interação da sociedade. Em outras

palavras, pode-se dizer que a sustentabilidade promove o crescimento econômico e o sucesso

financeiro ao mesmo tempo que promove benefícios para os seres humanos e para a sociedade

como um todo.

Diante de tal situação, Savitz (2006) argumenta que a sustentabilidade corresponde a uma

forma de relacionar:

• Os diversos pontos do negócio, tais como preservação ambiental, direitos de

trabalho, governança corporativa.

• Os impactos do negócio em alguns problemas sociais, tais como pobreza,

educação.

• Lucro financeiro da empresa.

Uma maneira de compreender como a empresa pode se tornar mais rentável

considerando a sustentabilidade é o Tiple Bottom Line. De acordo com Savitz (2006), TBL

sugere que a medição do sucesso de uma empresa não seja apenas fundamentado em seu lucro

financeiro, mas também de outros 2 fatores: as pessoas e o planeta. Alguns exemplos de

indicadores são listados na Tabela 1.

Tabela 1: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (adaptado de Savitz (2006))

São propostas três dimensões, já que uma empresa não consome apenas recursos

financeiros, mas também recursos ambientais (ex. água, energia e matéria prima) e recursos

sociais (pessoas). Dessa forma, pode-se dizer que o TBL busca capturar o sucesso de uma

empresa por meio da medição do que a mesma executa no mundo. Um resultado positivo nas

três visões reflete um aumento de valor para a empresa.

2.2. Projeto e gestão de produtos

Econômico Meio Ambiente Social

Receita, Lucro, ROI Qualidade do Ar Condições de Trabalho

Impostos Qualidade da Água Impactos à Comunidade

Empregos Criados Uso de Energia Direitos Humanos

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Esse item apresenta inicialmente os conceitos relacionados com o ciclo de vida de um

produto e suas diferentes visões. Em seguida são detalhadas as etapas para o projeto de

desenvolvimento de um produto.

2.2.1. Ciclo de vida de produtos

De acordo com Rozenfled et al. (2006), todas as etapas pelas quais um produto passa,

desde a sua concepção até seu destino final, correspondem ao ciclo de vida de um produto.

Para o seu melhor estudo, grande parte da literatura a divide em quatro fases:

Desenvolvimento do Produto, Produção, Uso do Produto em Conjunto com Serviços

Agregados e Descarte.

Figura 10: Etapas do Desenvolvimento de Produtos (adaptado de Abele et al. (2008))

A partir da análise da Figura 10, pode-se notar que o ciclo de vida de um produto

inicia-se com uma análise de oportunidades do mercado. De acordo com Rozenfeld et al.

(2006), nela há a definição do portfólio de produtos da empresa levando em consideração seu

posicionamento estratégico. Os produtos selecionados são encaminhados para a fase de

projetos, tanto de engenharia, quanto de processos de manufatura. Vale ressaltar que tal fase é

de extrema importância, já que nela serão definidas entre 70% e 85% do custo total de um

produto. Além disso, conforme Rebitzer et al. (2004, p. 702), nessa etapa são definidos os

processos de manufatura e é realizada a seleção de materiais, o que determinará,

aproximadamente, 70% do impacto ambiental do produto ao longo de todo o ciclo de vida.

Definição do Produto

Projeto Conceitual

Projeto Geral

Projeto Detalhado

ProduçãoUso

ConsumoDescarte

ReciclagemProcessamento

de Materiais

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Figura 11: Curva de Comprometimento de Custo (adaptado de Rozenfeld et al. (2006))

Como se pode notar na Figura 11, o custo comprometido durante a etapa de

desenvolvimento do produto representa uma parcela significativa do custo comprometido

total de um produto. Outro fator interessante de se observar é o grau de incerteza. O grau de

incerteza é extremamente alto quando ocorre o comprometimento de maior parte do custo de

um produto. Tais fatos evidenciam a importância da etapa de desenvolvimento de produtos.

Após a fase de projeto, inicia-se a fase de produção e com o produto pronto o mesmo

pode ser entregue ao seu destinatário final. O tempo de uso de um produto varia de acordo

com as suas características, dado que alguns podem sofrer manutenções/atualizações, por

exemplo.

Ao final do uso, o produto é descartado. O produto é desmontado e uma parte é

reciclada e outra, que não pode ser reaproveitada, é destinada ao lixo.

Ciclo de vida comercial de um produto

Tempo

Grau de Incerteza

Custo Comprometido

Custo Incorrido

Desenvolvimento Produção

80% a 90% do Custo

Total

Curva de Comprometimento de Custo

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Sob o ponto de vista da empresa, o ciclo de vida de um produto envolve as quatro

etapas citadas acima. Apesar disso, todo produto passa por estágios no mercado, como se

pode verificar na Figura 12:

Figura 12: Ciclo de Vida de um Produto (elaborado pelo autor)

Sob o ponto de vista do departamento comercial/marketing de uma empresa, um

produto apresenta o seguinte ciclo de vida:

• Lançamento:

corresponde à etapa de introdução do produto no mercado consumidor. Como se

pode notar, é um período de crescimento lento nas vendas, e, portanto, torna-se

importante que o departamento de marketing promova o produto de modo a

garantir máximo conhecimento do produto.

• Crescimento:

nessa etapa, o produto já pode ser reconhecido no mercado. Assim, há um intenso

crescimento em suas vendas, o que aumentará o lucro. Nessa etapa, cabe ao

departamento garantir a sustentação do produto no mercado.

• Maturidade/Saturação:

etapa, cuja característica mais marcante é a estabilidade nas vendas, dado que o

produto já é aceito pela grande maioria dos consumidores potenciais.

• Declínio:

Introdução MaturidadeCrescimento DeclínioSaturação

Tempo

Vendas

Ciclo de Vida de um Produto

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momento marcado por um declínio acentuado de venda e de lucro. Em geral, é

causado por competição acirrada ou condições econômicas pouco favoráveis. É o

momento ideal para a descontinuação ou atualização do produto no mercado.

Cabe ressaltar que os produtos podem passar por modificações/atualizações, o que

proporcionará o prolongamento de seu ciclo de vida.

2.2.2. Projeto de Desenvolvimento de Produtos

De acordo com Rozenfeld et al. (2006), o projeto de desenvolvimento de um produto

engloba uma série de atividades, nas quais, fundamentada nas necessidades de mercado e nas

disponibilidades e restrições tecnológicas, e considerando as estratégias competitivas de

produto e da empresa, pode-se determinar as especificações não apenas do produto, mas

também de seu processo de fabricação, para que o departamento de manufatura seja capaz de

produzi-lo. Além disso, é tarefa do desenvolvimento do produto acompanhar a vida do mesmo

para que sejam executadas possíveis alterações no produto e seja planejada uma possível

descontinuidade do produto no mercado.

Logo, nota-se que o processo de desenvolvimento de produtos é estratégico em

qualquer organização e possui diversas especificidades, dentre as quais vale destacar:

• Grau de Incerteza: a atividade de desenvolvimento de produtos envolve um

elevado nível de risco. Isso porque para o lançamento de um novo produto, em

muitos casos, há necessidade de grande investimento em pesquisa, que nem

sempre apresenta resultados positivos. Ilustra a situação, a indústria farmacêutica,

que para o lançamento de um novo remédio investe uma grande quantidade de

recursos financeiros e de tempo.

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Figura 13: Grau de incerteza (adaptado de Rozenfeld et al. (2006))

• Decisões devem ser tomadas precocemente: no desenvolvimento de um novo, as

principais decisões são tomadas na fase inicial do processo, quando as incertezas

são relevantes.

Figura 14: Número de escolhas durante o desenvolvimento de produtos (adaptado de Rozenfeld et al.

(2006))

Tempo

Grau de Incerteza

Desenvolvimento Produção

Grau de Incerteza

Tempo

Número de Decisões

Desenvolvimento Produção

Quantidade de Escolhas

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O elevado grau de incerteza quando muitas decisões são tomadas faz com que seja

pertinente a aplicação de métodos/ferramentas que ajudem os envolvidos a tomar a decisões

mais corretas no momento necessário.

Tipos de projetos de desenvolvimento de produtos

De acordo com Rozenfeld et al. (2006), os projetos de desenvolvimento de produtos

podem ser classificados de acordo com diversos critérios. O mais utilizado se baseia em

mudanças com relação a um projeto anterior. Para a grande maioria dos setores industriais,

pode-se aplicar o seguinte modelo:

• Projetos Radicais: aqueles que englobam alterações significativas no projeto do

produto ou no processo, o que pode gerar uma nova família de produtos para a

empresa. Dessa forma, envolve novos materiais e novas tecnologias e, portanto,

muitas vezes irá caracterizar uma inovação.

• Projetos Plataforma ou Próxima Geração: aqueles que representam alterações

significativas no projeto do produto/processo, sem a introdução de novas

tecnologias e materiais. Apesar disso, representam um novo sistema de solução

para o cliente.

• Projetos Incrementais ou Derivados: aqueles que desenvolvem produtos e processo

que são derivados, híbridos ou com algumas modificações em relação aos projetos

já existentes. De um modo geral, não consome grande quantidade de recursos e

funcionam como o objetivo de estender o ciclo de vida de um produto.

Para o desenvolvimento de produtos, pode-se seguir uma sequência pré-definida em

modelos de referência, como o modelo apresentado no próximo subitem.

2.2.3. Modelo unificado do processo de desenvolvimento de produtos

O processo de desenvolvimento de novos produtos é uma atividade não muito bem

estruturada, dado que engloba, na maioria dos casos, uma grande quantidade de trabalhadores,

que nem sempre estão totalmente cientes de suas tarefas em tal processo, por não se tratar de

um processo linear e seqüencial. Em outras palavras, pode-se dizer que diversas atividades

devem ser realizadas simultaneamente e em ciclos.

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Para gerir todas essas dificuldades, Rozenfeld et al. (2006) propõe o modelo unificado

de desenvolvimento de produtos, baseada na modelagem de processos de negócios. De um

modo geral, pode-se dizer que o modelo descreve fases, atividades, recursos, informações,

responsabilidades dentre outras possíveis dimensões do processo.

Um esquema desse modelo pode ser visto na Figura 15.

Figura 15: Modelo de Desenvolvimento de Produtos (adaptado de Rozenfeld et al. (2006))

Como se pode notar, o processo de desenvolvimento de produtos está dividido em três

macrofases: pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento. A seguir, cada

uma das macrofases é descrita em maiores detalhes.

Pré-desenvolvimento

Com base no posicionamento estratégico da organização, a etapa de pré-

desenvolvimento engloba a definição do projeto de desenvolvimento, considerações de

recursos e conhecimentos e informações sobre os consumidores, e das perspectivas

mercadológicas e tecnológicas.

Rozenfeld et al. (2006) subdivide tal macrofase em duas fases:

• Planejamento Estratégico de Produtos.

• Planejamento do Projeto.

Diante do apresentado, a importância do pré-desenvolvimento é evidenciada de

diferentes formas. Nessa etapa, ocorre a conexão entre os objetivos da empresa e os produtos

que serão desenvolvidos. Tal fato é de extrema importância já que faz com que a empresa

Processo de Desenvolvimento de Produto

Pré-Desenvolvimento Desenvolvimento Pós-Desenvolvimento

Planejamento Estratégico dos

Produtos

Planejamento do Projeto

Projeto Informacional

Projeto Conceitual

Projeto Detalhado

Preparação da Produção

Lançamento do Produto

Acompanhar Produto Processo

Descontinuar Produto

Especificações-Meta

•Requisitos com valores-meta•Informações adicionais qualitativas

Concepção do Produto

•Arquitetura do Produto•Alternativas de Solução•Desenhos Iniciais•Plano Macroprocesso

Protótipo Avançado/Produto

Homologado

•Protótipo Funcional•Projeto dos Recursos•Plano de fim de vida

Lote Piloto Aprovado/Processo

Homologado/Produto Certificado

•Liberação da Produção•Doumentação e homologação•Espec. Proc. de produção•Espec. Proc. de manutenção

Produto Lançado

•Documento Lançamento•Espec. Proc. Vendas

•Espec. Proc. Distribuição•Espec. Proc. Assist. Técnica

Plano do Projeto

•Escopo do Projeto•Escopo do Produto•Prazos e Orçamento•Riscos Indicadores•Qualidade

Minuta do

Projeto

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37 possa alinhar seus projetos às suas metas. Além disso, deve-se avaliar os projetos em

desenvolvimento e otimizar a alocação dos recursos, visando tornar o desenvolvimento de

produto rápido e eficiente. Tais fatos são de extrema importância, dado o mercado

competitivo em que as empresas estão inseridas atualmente. Em muitos casos, o pioneirismo

pode representar considerável vantagem competitiva.

Desenvolvimento

Após a definição não apenas do portfólio de produtos, mas também do planejamento

dos projetos, inicia-se a fase de desenvolvimento do produto.

Com base no plano do projeto e em sua minuta, parte-se para uma etapa de

especificações e maiores detalhes do projeto do produto propriamente dito. Para melhor

entendimento dessa macrofase, Rozenfeld et al. (2006) propõe a divisão de tal macrofase em

cinco fases:

• Projeto Informacional.

• Projeto Conceitual.

• Projeto Detalhado.

• Preparação da Produção.

• Lançamento do Produto.

Ao final de tal macrofase, todas as informações técnicas, de produção e comerciais

para a fabricação e comercialização do produto estão geradas. Além disso, os protótipos

devem ter sido aprovados e todos os recursos necessários para comercialização e produção

devem estar disponíveis para operação. Em outras palavras, pode-se dizer que ao final de tal

macrofase, está encerrada a etapa de desenvolvimento do produto. Em alguns casos, a tarefa

do time de desenvolvimento do produto está encerrada.

Pós-desenvolvimento

Como mencionado no tópico anterior, em grande parte da literatura o final da etapa de

desenvolvimento representa o final do processo de desenvolvimento de produtos e cabe ao

time de produção executar as operações especificadas. Apesar disso, de acordo com

Rozenfeld et al. (2006), tal visão pode provocar grande desperdício de conhecimento

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38 adquirido durante as etapas de desenvolvimento, que em muitos casos podem ser úteis para a

produção e comercialização de um novo produto.

O autor propõe a subdivisão de tal macrofase em duas fases:

• Acompanhamento do Produto/Processo.

• Descontinuidade do Processo.

Ao final de tal etapa, o ciclo de vida do produto está encerrado, dado que o mesmo é

retirado do mercado.

2.3. Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis

Nessa seção, são apresentados os principais conceitos para o desenvolvimento de

produtos sustentáveis encontrados na literatura. Para tal, foi realizada pesquisa no portal ISI

Web Of Knowledge7 utilizando as seguintes palavras-chave:

Ecodesign, eco-desgin, design for environment, sustainable product development,

environmental product development

Com cada palavra, obteve-se o seguinte número de resultados.

Tabela 2: Palavras-chave pesquisadas (elaborado pelo autor)

Apesar do grande número de resultados, pode-se notar que a grande maioria dos textos

aborda o tema em questão de maneira bastante superficial. Na busca por resultados mais

eficientes, buscou-se artigos com até oito citações. Outra ferramenta de busca utilizada de

modo complementar foram o Science Direct8 e o Google Acadêmico9.

Como forma de organização dos conceitos, optou-se por separá-los em três categorias:

7 Ferramenta de pesquisa. Acesso através do site http://www.isiknowledge.com/. Último acesso em 02/11/2010. 8 Ferramenta de pesquisa. Acesso através do site http://www.sciencedirect.com/. Último acesso em 02/11/2010. 9 Ferramenta de pesquisa. Acesso através do site http://scholar.google.com.br/. Último acesso em 02/11/2010.

Palavra-Chave Resultados

Design For Environment 72646

Environmental Product Development 3449

Sustainable Product Development 1450

Ecodesign 309

Eco-Design 284

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39

• Abordagens: consistem em conceitos mais ideológicos que definem a direção a ser

seguida para o desenvolvimento de um produto sustentável.

• Métodos/Ferramentas: consistem em conceitos de aplicação prática e direta. Na

grande maioria dos casos, irão auxiliar a implementação de uma prática.

• Princípios: consistem em fatores que podem ser considerados como base para

todas as abordagens.

Nesse subitem, inicialmente são apresentadas as abordagens, seguido pelos

métodos/ferramentas e por último os princípios.

2.3.1. Abordagens

Com base no critério apresentado, são identificadas as abordagens descritas na Tabela

3.

Tabela 3: Abordagens identificadas (elaborado pelo autor)

Todas as abordagens apresentadas apresentam foco no desenvolvimento de produtos

que consideram requisitos de desempenho, custos e impactos nas fases posteriores do ciclo de

vida. De acordo com Zancul e Rozenfeld (2009), tal visão é conhecida por Life Cycle

Engineering (LCE).

Por se tratar um assunto relativamente recente e pouco definido na literatura, existe

uma grande quantidade de termos que podem ser considerados sinônimos se analisados mais

detalhadamente. Além disso, cabe ressaltar que grande parte da literatura considera estudos de

caso realizados em empresas, que em sua maioria integram mais de uma abordagem.

Abordagens

Design for Environment (DFE) ou Ecodesign

Design for Recycling (DFR)

Design for Diassembly (DFD)

Design for Sustainability (DFS)

Cradle to Grave (Eco-efficiency)

Cradle to Cradle (Eco-effective)

Green Engineering

Cleaner Production

Clean Production

Cleaner Technologies

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40

De acordo com Zancul e Rozenfeld (2009), o LCE aplica várias abordagens, que

possuem como objetivo considerar durante o desenvolvimento do produto questões críticas,

que terão impactos nas fases subseqüentes do ciclo de vida de um produto. Tais abordagens

ficaram comumente conhecidas como Design for X (DfX), na qual a letra X é substituída por

um objetivo específico.

Dentre as DfXs, quatro destacam-se no que se refere a preocupações ambientais.

Design for Environment (DfE) ou Ecodesign

De acordo com Abele et al. (2008), quando se fala em produtos ambientalmente

corretos, um dos conceitos mais comentados é o EcoDesign. Ainda conforme Abele et al.

(2008), a definição mais aceita é a que corresponde à integração e incorporação de aspectos

ambientais durante o projeto e desenvolvimento do produto.

Diante de tal definição, Hauscild; Jeswiet e Alting (2004) argumentam que o

EcoDesign está presente em qualquer atividade de projeto que tenha o intuito de melhorar a

performance ambiental de um produto. Inicialmente, as metodologias aplicadas eram bastante

particulares a determinadas empresas e setores industriais. A partir dos anos 90, diversas

metodologias com aplicações mais abrangentes começaram a ser apresentadas.

Dessa forma, Hauscild; Jeswiet e Alting (2004) afirmam que existe uma grande

quantidade de métodos, desde os generalistas até os específicos, que focam em uma parte

específica do ciclo de vida de um produto ou em um tipo específico de produto.

Design for Recylying (DfR)

De acordo com Duarte (1997), ainda que muitos produtos apresentem diversos apelos

de marketing com relação à sua potencial reciclagem, nem sempre tal processo acontece.

Reconhecida a importância e necessidade de reciclagem, dada não apenas a escassez

de recursos, mas também os elevados custos incorridos para o descarte de produtos em aterros

sanitários, propõe-se a aplicação do DfR para o projeto de produtos.

Ainda de acordo com Duarte (1997), o objetivo primordial de tal método é obter

materiais ou componentes sujeitos à reciclagem e realizá-la minimizando os processos de

degradação. Dessa forma, a perda de energia é minimizada e sua utilidade maximizada.

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Durante a aplicação do DfR, deve-se priorizar os seguintes pontos em ordem

decrescente de prioridade: redução de materiais, reutilização de componentes, remanufatura,

reciclagem de materiais, geração de energia (combustão) e disposição em aterros.

Vale ressaltar que alguns desses pontos dependem diretamente da possibilidade de

desmontar o produto e evitar contaminação entre seus diversos componentes. Dessa forma,

pode-se observar não apenas a importância da aplicação da abordagem de DfD, bem como a

real possibilidade de integração entre as diversas partes.

Design for Disassembly (DfD)

De acordo com Duarte (1997), a disposição final dos produtos nunca foi uma grande

preocupação por parte das empresas. No entanto, com a saturação dos aterros sanitários, há

uma crescente pressão para que os fabricantes se tornem co-responsáveis do destino final de

seus produtos. Ainda conforme Duarte (1997), em alguns países industrializados, há

questionamentos se alguns produtos deveriam ser vendidos ou arrendados.

Duarte (1997) defende que o DfD exerce papel decisivo na reciclagem, em especial

pela facilidade de desmonte. Além disso, torna possível a reutilização e a remanufatura de

forma mais eficiente, o que prolonga a vida útil e facilita a manutenção. É importante ressaltar

que diversos produtos, que em muitos casos necessitam de reparos simples, são abandonados

prematuramente devido à dificuldade de diagnóstico e/ou problemas na desmontagem.

O autor propõe a classificação de desmonte em três tipos básicos: não destrutivo,

parcialmente destrutivo (demolição parcial de partes menos importantes) e destrutivo

(demolição descontrolado do produto).

Diante disso, alguns pontos devem ser considerados durante o projeto de produto de

modo a facilitar o seu desmonte, dentro os quais vale destacar:

• Drenagem de fluidos.

• Desmonatagem antes do retalhamento.

• Retalhamento e classificação do restante.

Dessa forma, pode-se não apenas recuperar os materiais de maior importância, como

também realizar a separação dos materiais, o que em muitos casos evita contaminação de

materiais que eventualmente possam ser reciclados.

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Diante do apresentado, pode-se dizer que o DfD, apesar de não possuir em seu nome

algo diretamente ligado ao meio ambiente, é de fator decisivo ao processo de reciclagem.

Além disso, contribui para o prolongamento da vida útil dos equipamentos.

Design for Sustainaiblity

De acordo com Spangeberg; Fuad-Luke e Blincoe (2010), Design for Sustainability

corresponde a uma abordagem que busca ampliar a abrangência do Design for Environment.

Isso porque além de aspectos ambientais, busca integrar ao desenvolvimento de produtos

aspectos social, econômico e ambiental, como propõe o modelo do TBL.

Focando em todas as vertentes, Spangeberg; Fuad-Luke e Blincoe (2010) propõem

que o DfS englobe desde a escolha de uma tecnologia apropriada para a produção do produto

até os impactos que o mesmo podem causar ao ser humano, sejam eles físicos, mentais ou

emocionais. Dessa forma, Spangeberg; Fuad-Luke e Blincoe (2010) afirmam que o DfS

disponibiliza pensamentos que busquem minimizar impactos negativos e maximizar impactos

positivos na natureza, no seres humanos e na sociedade. Ainda de acordo com Spangeberg;

Fuad-Luke e Blincoe (2010), cabe ressaltar que o DfS gera desafios adicionais ao

desenvolvimento do produto. Isso porque essa abordagem requer uma reestruturação das

práticas atuais, bem como adiciona outros critérios ao processo de desenvolvimento de

produtos. As principais alterações com relação ao Ecodesign são demonstradas na Figura 16.

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Figura 16: Comparativo entre DfE e DfS (elaborado pelo autor)

Além das abordagens comumente conhecidos como DfXs, há outras apresentadas a

seguir.

Produção Mais Limpa (Cleaner Production)

De acordo com Applying [...] (2006), a abordagem de Cleaner Production foi

proposta em 1989 como uma estratégia para atingir o desenvolvimento sustentável. De um

modo geral, propõe a minimização dos impactos ambientais. Para tal, propõe a conservação

de materiais e redução de lixo, que pode ser obtida por meio do aumento de produtividade.

Produção Limpa (Clean Production)

De acordo com Thorpe (2009), Clean Production consiste em qualquer prática que

elimine o uso de substâncias tóxicas na fonte, seja por do uso de sustâncias atóxicas, seja por

meio da redefinição do produto ou de seu processo de produção.

Ainda conforme Thorpe (2009), a abordagem é norteada pelos quatro princípios

seguintes:

De

sig

n f

or

Su

sta

ina

bil

ity

De

sig

n f

or

En

rvio

nm

en

t• Inovações técnicas e sociais

• Questionamento sobre a necessidade da existência do objeto em questão

• Busca redescobrir outras formas de satisfazer as necessidades

• Avaliação global e com foco no longo prazo com base nas 3 dimensões do

desenvolvimento sustentável (ambiental, financeiro e social) para todos os estágios do

ciclo de vida do produto/serviço.

• Inovações técnicas

• Busca reprojetar produtos ou reornganizar o modo como as funções do produto ou

serviço podem ser fornecidas ao cliente

• Avaliação de aspectos econômicos e ambientais com foco no curto/médio prazo para

todos os estágios do ciclo de vida do produto/serviço

Design for Environment x Design for Sustainability

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• Princípio Precaucionário: toda e qualquer ação deve ser tomada assim que possível

para evitar que possíveis prejuízos ambientais ocorram.

• Princípio Preventivo: a prevenção ambiental é menos custosa que o gerenciamento

e o reparo de um desastre ambiental.

• Princípio de Participação Pública: o acesso do público às informações a respeito

das emissões de um produto, de sua composição química, entre outros fatores faz

com que medidas mais seguras sejam tomadas de maneira mais rápida.

• Princípio Holístico: defende que a abordagem deve ser vista sob um olhar

sistêmico, dado que a solução de um problema em geral provoca efeitos colaterais,

que podem ser menos danosos ou mais danosos que o problema atual.

Baseado em tais princípios, Thorpe (2009) propõe uma forma para atingir o Clean

Production: Inicialmente, é importante ter em mente as seguintes informações:

• Conhecer todos os produtos químicos utilizados em seu processo de produção e no

produto propriamente dito.

• Conhecer todos os danos potenciais que tais produtos podem causar ao meio

ambiente.

• Priorizar a substituição dos principais produtos tóxicos por outros ou mesmo

redefinir o processo.

• Executar uma atividade de planejamento, que inclui definição de horizontes de

tempo para a redução total dos produtos químicos.

Para tal o autor propõe o esquema presente na Figura 17.

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Figura 17: Etapas para o Clen Production (adaptado de Thorpe (2009))

Como se pode notar, Thorpe (2009) propõe que o Clean Production seja atingido em

etapas. Como será mencionado adiante, a implantação progressiva de processos de

desenvolvimentos de produtos sustentáveis é defendida por Hopkins (2010).

Tecnologias Mais Limpas (Cleaner Technologies)

De acordo com o PRO-SUSTENTÁVEL10, o Cleaner Technoogies se concentra no

processo produtivo. Para tal propõe que as seguintes características sejam atendidas:

• Minimização de efluentes e perdas de todas as formas.

• Maximização da qualidade do produto.

• Maximização do uso todas as entradas do processo (energia, matéria-prima, etc).

Cradle to Grave (Eco-efficiency)

De acordo com Braungart; McDonough e Bollinger (2007), trata-se de um conceito

bastante amplo que recebeu diversas definições desde 1989. O Conselho Mundial para

Desenvolvimento Sustentável define Cradle to Grave como sendo a entrega de

produtos/serviços a preços competitivos, que não apenas satisfazem as necessidades humanas,

10 Acesso através do site http://www.pro.poli.usp.br/prosustentavel em 25/10/2010.

Processos “verdes”

•Prevenção dapoluição

•Alterações nosprocessos de

produção•Redução do uso de

produtos tóxicos

Produtos “verdes”

•Legislação dos produtos

•Visão do ciclo de vida do produto

•Aplicação de selosambientais

Sistemas fechados

Sociedade “verde”

•Responsabilidadeambiental

extendida à cadeiade suprimentos

•Ecologia industrial•Minimização daprodução de lixo

•Engenhariaambiental

•Materiais de base natural

•Uso de materiaisatóxicos

•Tecnologiasemergentes

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46 mas também que reduzam os impactos ambientais e a intensidade do uso dos recursos durante

o seu ciclo de vida a um nível adequado com a capacidade do planeta.

De um modo geral, Braungart; McDonough e Bollinger (2007) defendem que o

Cradle to Grave pode ser entendido como aquela famosa expressão: “obter mais de menos”.

Em outras palavras, isso indica que o produto/serviço deve ser obtido com menos lixo, menos

uso de recursos e menos uso de produtos tóxicos. Dessa forma, Cradle to Grave engloba os

seguintes conceitos:

• Aumento da produtividade dos recursos.

• Redução da toxicidade dos produtos.

• Aumento da reciclabilidade dos componentes.

• Prolongar a fase de uso do ciclo de vida do produto.

Vale ressaltar que a Cradle to Grave pressupõe um ciclo de vida linear pelo produto e,

portanto, definida pela literatura como: Cradle to Grave, já que inevitavelmente os recursos

serão transformados em lixo e o planeta em uma lata de lixo.

Cradle to Cradle (Eco-effective)

De acordo com Braungart; McDonough e Bollinger (2007) ao contrário do método

Eco-efficiency, no qual o fluxo do material ocorre de modo linear, o método Cradle to cradle

se baseia num fluxo de material circular. Em outras palavras, é baseada nos sistemas naturais,

na qual a saída de um sistema representa a entrada de outros, e, portanto, nada é desperdiçado.

Como mencionado anteriormente, o Cradle to Cradle busca o projeto de produtos e

processos industriais, nos quais todos os materiais possam servir funcionar como recursos

para outros sistemas de duas formas possíveis: o metabolismo biológico e o metabolismo

técnico.

• Metabolismo Biológico: representa os materiais biodegradáveis, ou seja, aqueles

que não são uma ameaça aos sistemas vivos do ambiente.

• Metabolismo Técnico: representa, em geral, os materiais sintéticos e minerais, que

devem ser mantidos, ou seja, reutilizados, pelo máximo número possível de ciclos

de vida de produtos com máximo valor.

Ainda de acordo com Braungart; McDonough e Bollinger (2007), a implementação do

Cradle to Cradle exige não apenas o uso de um ferramental adequado, mas também de uma

correta definição da estratégia.

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Dada a particularidade do Cradle to Cradle, vale ressaltar que o Life Cycle Assessment

(LCA) padrão não pode ser aplicado em tal situação, dado que não se trata de um processo

linear, mas sim circular.

Apresentado o Eco-effective, o próximo passo consiste no processo de implantação de

tal abordagem. Braungart; McDonough e Bollinger (2007) propõem a aplicação de uma

técnica, que consiste na alteração de um produto já existente. Para facilitar a compreensão, foi

realizada a divisão em cinco etapas:

• Livre de ...

• Preferências pessoais

• Lista positiva passiva

• Lista positive ativa

• Reinvenção

Segue breve descrição das etapas:

Livre de ...

De acordo com Braungart; McDonough e Bollinger (2007) a grande maioria das

empresas possui um conhecimento bastante restrito a respeito da toxicidade dos materiais que

compõem seus produtos/processos. Dessa forma, inicialmente, deve-se buscar a identificação

das mesmas para que possam ser removidas e substituídas de maneira apropriada.

Preferências Pessoais

Uma vez removida as substâncias indesejáveis, deve-se realizar a escolha adequada

das substâncias que serão adotadas no produto. A maneira adequada, apesar de quase

impossível, de se realizar tal escolha consiste na elaboração de um estudo detalhado dos

impactos de cada substância na vida das pessoas e no meio ambiente durante o ciclo de vida

do produto. Braungart; McDonough e Bollinger (2007) ressaltam que em alguns casos os

produtos podem apresentar diferentes tipos de impacto, o que geraria diversos

questionamentos na escolha do material mais adequado.

Como na maioria dos casos as informações disponíveis não são completas, propõe-se

que os materiais sejam definidos de acordo com as preferências pessoais do time de projeto

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48 considerando a máxima informação disponível no momento. Em muitos casos, isso não

representará a solução ótima, mas sim a menos ineficiente dadas as limitações.

Lista Positiva Passiva...

Conforme Braungart; McDonough e Bollinger (2007), o próximo passo corresponde

ao levantamento de cada material do produto e classificá-lo de acordo com a sua toxicidade e

considerando os metabolismos biológicos e técnicos.

Com base nisso, pode-se gerar uma lista classificando-a de acordo com a sua

adequação ao metabolismo biológico. Dessa forma, há uma lista para priorização do que deve

ser otimizado.

Lista Positiva Ativa...

Após a realização da classificação, Braungart; McDonough e Bollinger (2007)

afirmam que se deve executar a otimização da lista de modo a garantir que cada material que

compõe o produto seja positivamente definido como um ingrediente técnico ou biológico.

Reinvenção...

Realizadas as etapas mencionadas acima, de acordo com Braungart; McDonough e

Bollinger (2007), o próximo passo é de fundamental importância para o sucesso do produto.

Consiste no desenvolvimento de uma forma diferenciada de relacionamento com o cliente.

Vale ressaltar que em alguns casos a reinvenção pode resultar na mudança do modelo de

negócio. Um exemplo seria a mudança no modelo de negócios.

Engenharia Verde (Green Engineering)

De acordo com a UNITED STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION

AGENCY11 (EPA), Engenharia Verde consiste no design, comercialização e uso de processos

e produtos que são não apenas economicamente viáveis, mas também que minimizem a

geração de poluentes e os riscos à saúde humana e ao meio ambiente.

11 Acesso através do site http://www.epa.gov/ em 20/08/2010.

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Para que tal objetivo seja alcançado, UNITED STATES ENVIRONMENTAL

PROTECTION AGENCY propõe os seguintes pontos:

• Desenvolver processos e produtos de maneira holística, aplicar análises sistêmicas

considerando as ferramentas de avaliação de impacto ambiental.

• Preservar e melhorar os ecossistemas naturais, que protegerá ao mesmo os seres

humanos.

• Considerar o produto sempre em seu ciclo de vida

• Garantir que toda a matéria-prima e dejetos despejados pelo sistema sejam os mais

seguros possíveis.

• Minimizar a destruição de recursos naturais.

• Minimizar as emissões.

• Aplicar soluções que valorizem a região, tanto em seus valores culturais, quanto

em sua localidade.

• Buscar sempre a inovação como uma forma de atingir a sustentabilidade.

• Sempre considerar a opinião da comunidade no desenvolvimento de novas

soluções de engenharia.

Após a apresentação das abordagens, o próximo passo consiste na apresentação dos

métodos/ferramentas.

2.3.2. Métodos/Ferramentas

Nesse subitem são apresentados os principais métodos/ferramentas encontrados na

literatura para o projeto e desenvolvimento de produtos sustentáveis. Esses são apresentados

na Tabela 4.

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Tabela 4: Métodos/Ferramentas identificados (elaborado pelo autor)

Por questões organizacionais, a descrição será iniciada pelo Life Cycle Assessment.

Life Cycle Assessment (LCA)

O Life Cycle Assessment é uma ferramenta que visa avaliar aspectos ambientais e

potenciais relacionados com um produto, processo ou serviço por meio de:

• Compilação do estoque de energia e de inputs de materiais e de lançamentos

ambientais.

• Avaliação dos potenciais impactos ambientais associados às matérias-prima.

• Interpretação de resultado que auxiliam a tomada de decisão.

Hauscild; Jeswiet e Alting (2005) afirmam que o LCA foi desenvolvido como uma

ferramenta analítica para auxiliar a empresas a avaliarem os impactos ambientais de seus

produtos/serviços.

Métodos/Ferramentas

Life Cycle Assessment (LCA)

FMEA Ambiental (E-FMEA)

QFD Ambiental (E-QFD)

ABC Analysis

The Environmentally Responsible Product Assessment Matrix (ERPA)

MECO

MET-Matrix

Philips Fast Five Awareness

Funktionskosten

EcoDesign Checklist

Econcept Spiderweb

Environmntal Objectives Deployment (EOD)

LiDS-wheel

Strategy List

Volvo`s Black List

Matriz Eco-Funcional

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Figura 18: Estágios do ciclo de vida de um produto (adaptado de Curran (2006))

Como se pode observar na Figura 18, todos os recursos são extraídos e transformados

em produtos. Uma vez encerrado seu período de uso, o produto será descartado e

possivelmente reciclado. Entre todas essas atividades, há atividades de transporte.

Dessa forma, pode-se afirmar que uma empresa que deseja operar de maneira

sustentável deve pensar na cadeia de suprimento como um todo e não apenas nas etapas em

que é responsável legalmente.

De acordo com Hauscild; Jeswiet e Alting (2005), os primeiros estudos a respeito do

LCA tiveram início no final dos anos 60 nos Estados Unidos. Originalmente os estudos

focavam no consumo de energia e de recursos.

O intenso uso de recursos como embalagens despertou a atenção pública e evidenciou

a importância da realização de estudos de impactos ambientais. Na busca por um estudo mais

aprofundado do ferramenta, a Society for Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC)

montou grupos de trabalho de modo a garantir o desenvolvimento de tal ferramenta.

Paralelamente, a International Standards Organization (ISO) procurou propor uma

padronização para a realização do LCA, que constam fundamentalmente nas normas ISO série

14000. Ainda de acordo com Hauscild; Jeswiet e Alting (2005), o LCA é aplicado com

diferentes fins em países desenvolvidos e subdesenvolvidos.

• Países Desenvolvidos: comparação de alternativas durante o processo de

desenvolvimento de produto, documentação para avaliação de performance

ambiental, ferramenta de decisão.

Matéria Prima

Energia

Emissões

Atmosféricas

Efluentes Líquidos

Resíduos Sólidos

Co-Produtos

Outras Emissões

Entrada Fronteira do Sistema Saída

Aquisição de Matéria Prima

Manufatura

Uso/Reuso/Manutenção

Reciclagem/Gestão de Resíduos

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• Países Subdesenvolvidos: sua aplicação costuma ser rara e é aplicada com o intuito

de evidenciar os esforços/preocupação com o meio ambiente perante á

comunidade global.

Hauscild; Jeswiet e Alting (2005) propõe a divisão do LCA em três partes:

• Life Cycle Inventory.

• Life Cycle Impact Assessment.

• Life Cycle Management.

Metodologia de aplicação

A abordagem proposta por Hauscild; Jeswiet e Alting (2005) está alinhada com as

etapas propostas na ISO série 14000 e é apresentada na Figura 19.

Figura 19: LCA de acordo com os padrões da ISO 14000 (adaptado de Hauscild; Jeswiet e Alting (2005))

• Meta e definição de escopo

O primeiro passo consiste na definição do objetivo e da razão pela qual será

aplicado o LCA. Além disso, é estipulado o escopo da avaliação com relação às

fronteiras do sistema produtivo e os processos temporais e tecnológicos. A função

Definição de Meta e

Escopo

Life Cycle Inventory

Life Cycle Impact

Assessment

InterpretaçãoAplicação Direta(ex. Marketing e

Selo Verde)

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do sistema produtivo deve ser cuidadosamente descrita em termos qualitativos e

quantificada de acordo com as unidades de medida dos produtos.

Hauscild; Jeswiet e Alting (2005) reforçam que o objeto de estudo do LCA é

definido de acordo com a função ou serviço que proporcionará. Dessa forma, é de

fundamental importância que os sistemas em discussão proporcionem a mesma

função sob a perspectiva do usuário.

• Life Cycle Inventory (LCI)

Após a definição do escopo do sistema do produto, a análise de inventário buscará

determinar todos os inputs e outputs para todos os processos inseridos no sistema

do produto. A compilação individual dos inputs e outputs dos processos permite

uma análise por unidade funcional. Vale ressaltar que em geral tais dados são

apresentados de maneira agregada.

• Life Cycle Impact Assessment (LCIA)

Com base nos dados proporcionados pelo LCI, a etapa de LCIA buscará interpretar

os possíveis impactos do sistema do produto junto nas áreas pelas quais o LCA

protege:

o Saúde Humana

o Ambiente Natural

o Recursos Naturais

o Ambiente criado pelo Homem

O LCIA confere uma perspectiva holística nos impactos ambientais e, portanto,

engloba ao modelo qualquer impacto do sistema do produto que eventualmente

possa afetar uma ou mais áreas de proteção. De acordo com Hauscild; Jeswiet e

Alting (2005), isso significa dizer que para o caso de um produto químico, por

exemplo, não serão apenas apontados os aspectos tóxicos, mas também a poluição

do ar, da água, pelo uso da terra, entre outros fatores. Alguns métodos de LCIA

verificam inclusive os impactos na saúde humana.

Diante disso, pode se traduzir as emissões em seus impactos potenciais nas áreas

de proteção do LCIA por meio da aplicação do maior conhecimento disponível

sobre as relações entre as emissões e seus impactos ambientais.

Uma vez determinada as principais emissões, Hauscild; Jeswiet e Alting (2005)

propõem que o LCIA seja executado em 4 etapas:

o Seleção de Categorias e Classificação:

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Ocorre a definição dos impactos ambientais relevantes. Em seguida, as

substâncias emitidas são classificadas dentre as categorias considerando

sua capacidade para os diferentes problemas ambientais.

o Caracterização:

O impacto de cada emissão é modelado de acordo com o mecanismo

ambiental e expressado por uma pontuação comum a todos os fatores.

As emissões são então consolidadas.

o Normalização:

Nessa etapa, a pontuação dos impactos bem como o consumo de

recursos da etapa anterior são colocados sob uma referência comum

para facilitar a análise entre categorias.

o Avaliação:

É elaborado um ranking de todos os impactos ambientais e dos recursos

consumidos que refletem a importância relativa classificada durante a

elaboração do estudo.

• Interpretação

Última fase do LCA, na qual os resultados das outras fases são interpretados de

acordo com os objetivos do estudo por meio de análises de sensibilidade e análise

de incerteza. Vale ressaltar que o resultado de um LCA deve ser interpretado como

uma recomendação para a tomada de decisão.

E-FMEA (FMEA Ambiental)

Abele et al. (2008) propõe o uso de FMEA (Failure Mode Event Analysis) de uma

maneira modificada, definida como E-FMEA. Nele, os componentes são considerados

diversos fatores críticos do meio ambiente. A Figura 20 representa uma tabela FMEA.

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Figura 20: Itens de um FMEA Ambiental (elaborado pelo autor)

Para a execução do E-FMEA, Abele et al. (2008) propõe a realização dos seguintes

passos:

1. Determinação da estrutura do produto com componentes

Base para o método consiste na descrição da estruturas dos componentes do

produto, que permite o seu agrupamento de acordo com as necessidades desejadas.

2. Descrição das funções

Corresponde a descrição da função de cada componente do produto.

3. Fatores Ambientais

Após a análise da estrutura do produto e da descrição das funções dos

componentes do grupo, busca-se identificar os principais fatores ambientais que

serão atingidos e são definidos os objetivos ambientais para cada estrutura

definida.

4. Ranking das Fraquezas

O próximo passo consiste na montagem da matriz propriamente dita. São listadas

as principais fraquezas, bem como componente correspondente e objetivo

ambiental. Cada integrante deve atribuir pesos a cada um dos problemas e então

pode-se definir a ordem de prioridades dos problemas a serem tradados. Em outras

palavras, definem-se quais são os aspectos que são potencialmente mais

prejudiciais ao meio ambiente.

5. Proposta

Nessa etapa serão definidas as responsabilidades e as medidas que podem ser

adotadas para tratamento dos problemas.

QFDAmbiental (Quality Funcion Deployment)

Objetivo

Ambiental

Po

ssív

el

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e

Pro

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FMEA Ambiental

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56

De acordo com PORTAL DE CONHECIMENTOS12, o QFD tem sua origem no

movimento conhecido por Gestão da Qualidade Total (TQM). Dessa forma, pode ser

entendido como um método sistemático de projetar a qualidade de um produto ou serviço. Em

outras palavras, busca representar as necessidades do cliente em características do produto ou

serviço. Ainda de acordo com o site, é importante ressaltar que sua aplicação pode ser muito

mais ampla, como é o caso do QFD Ambiental proposto por Abele et al. (2008).

Para o desenvolvimento do QFD Ambiental, Abele et al. (2008) propõe a aplicação

em 8 passos:

1. Conjunto de Aspectos Ambientais

A determinação é feita com base em uma avaliação ecológica do produto e com os

objetivos ambientais das empresas. Abele et al. (2008) sugere que sejam

considerados os seguintes aspectos: Aplicação, Utilização de Materiais, Saúde e

Segurança, Transporte e Eficiência Energética.

2. Definição do Peso de Cada Fator

De acordo com Abele et al. (2008), a determinação de tais coeficientes costuma

apresentar grande dificuldade. Dessa forma, sugere-se que sejam consultados

especialistas ou os pesos sejam ponderados por meio da comparação com

exigências ambientais legalmente definidas.

3. Determinação da Estrutura do Produto

Nessa etapa, propõe-se a divisão do produto em seus componentes de acordo com

as suas funções. Dessa forma, haverá grupos funcionais, o que facilitará a

realização da avaliação do produto.

4. Determinação das influencias sobre a estrutura do produto

Esse passo consiste na avaliação pelo time de desenvolvimento dos componentes

ou das estruturas definidas para que possíveis melhorias possam ser realizadas.

5. Preenchimento da Matriz

A matriz permite avaliação de quais influências cada componente possui sobre os

requisitos ambientais. Para tal, a avaliação na matriz QFD acontece por meio das

seguintes notas: [0, 1, 3, 9]. O valor 0 significa que o componente não apresenta

influencia sobre os requisitos ambientais. Já o valor 9 indica que o componente

apresenta grande influencia sobre o requisito ambiental em análise.

6. Determinação da Relevância Ambiental

12 Acesso através do site http://www.portaldeconhecimentos.org.br/ em 27/09/2010.

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57

A relevância ambiental para cada grupo de componentes é dado pela soma dos

produtos do peso pela nota atribuída a cada fator. Dessa forma, pode-se chegar a

uma normalização dos impactos ambientais com base nos requisitos ambientais

mais importantes.

7. Classificação do Produto

Nessa etapa, pode-se identificar o posicionamento do produto nos mais diversos

aspectos ambientais com relação ao seu benchmark. Além disso, são determinados

objetivos a serem alcançados.

8. Melhorias no Produto

As estratégias para melhoria dos produtos podem ser classificadas vistas de duas

maneiras:

o A partir das estratégias de desenvolvimento

� Alta Relevância Ambiental e Alto Potencial de Melhoria:

� Alta Relevância Ambiental e Baixo Potencial de Melhoria

o Presença de recursos sufieciente

� Baixa Relevância Ambiental e Alto Potencial de Melhoria

� Baixa Relevância Ambiental e Baixo Potencial de Melhoria

Por fim, torna-se interessante documentar os resultados no formato de uma tabela.

Além das ferramentas descritas acima, Byggeth e Hochschorer (2006) propõe algumas

outras:

ABC Analysis

De acordo com Byggeth e Hochschorer (2006), essa ferramenta propõe a avaliação

dos impactos ambientais de um produto. Nela, um produto é avaliado sob onze diferentes

critérios e classificados de acordo com a seguinte escala:

A: Problemático e alguma medida deve ser adotada o mais rápido possível.

B: Médio e deve estar sob atenção para que possa ser aperfeiçoada

C: Sem efeito imediato e, portanto, não é necessária uma ação imediata.

ERPA (The Environmentally Responsible Product Assessment Matrix)

Conforme Byggeth e Hochschorer (2006), a matriz é aplicada para levantar possíveis

fatores que possam provocar uma melhora na performance ambiental de um produto. Para tal,

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58 propõe que cada fase do ciclo de vida de um produto seja analisada de acordo com 5 critérios:

seleção de matéria-prima, consumo de energia, geração de resíduos sólidos, líquidos e

gasosos. Dessa forma, cada etapa do ciclo de vida pode ser analisada e melhorias no produto

podem ser propostas.

MECO

De acordo com Byggeth e Hochschorer (2006), o método propõe uma estimativa dos

impactos ambientais para cada etapa do ciclo de vida. Os cálculos são feitos pelo

levantamento da quantidade de materiais, energia e produtos químicos utilizados.

MET-Matrix

Conforme Byggeth e Hochschorer (2006), essa ferramenta tem como propósito

identificar os principais problemas ambientais durante o ciclo de vida de um produto. Tal

classificação é de fundamental importância na definição das estratégias para aperfeiçoamento

dos produtos. Propõe a classificação dos problemas ambientais em: ciclo de vida dos

materiais, consumo de energia e emissões tóxicas.

Philips Fast Five Awareness

De acordo com Byggeth e Hochschorer (2006) é uma ferramenta proposta para julgar

e comparar diferentes produtos com relação a um produto-referência. Para tal são utilizados

cinco critérios: energia, reciclabilidade, lixo tóxico, durabilidade/facilidade de manutenção e

outros modos de proporcionar o serviço.

Funktionskosten

Conforme Byggeth e Hochschorer (2006), essa ferramenta busca identificar o custo

efetivo de alternativas que podem ser desenvolvidas ou utilizadas como uma estimativa nas

mudanças dos custos como resultado da implementação de um princípio ecológico. Nesse

processo, sugere-se que os custos sejam calculados para cada alternativa proposta.

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59 EcoDesign Checklist

De acordo com Byggeth e Hochschorer (2006), o checklist contribui na identificação

dos principais problemas ambientais ao longo do ciclo de vida de um produto. O usuário deve

avaliar se as soluções no checklist são boas, normais, ruins ou irrelevantes.

Econcept Spiderweb

Conforme Byggeth e Hochschorer (2006) trata-se de uma ferramenta que pode ser

utilizada para uma decisão entre diferentes alternativas de projeto. O usuário deve definir uma

lista de critérios apropriada para as estimativas. Para cada solução, uma avaliação qualitativa

de cada critério é realizada e proporciona um perfil ambiental de cada solução.

Environmntal Objectives Deployment (EOD)

De acordo com Byggeth e Hochschorer (2006), essa ferramenta possui como propósito

apresentar a relação entre a descrição técnica do produto e questões ambientais. Nela, o

usuário pondera as considerações ambientais.

LiDS-wheel

Conforme Byggeth e Hochschorer (2006), essa ferramenta visa proporcionar ao

projetista uma visão do que pode ser melhorado com relação aos aspectos ambientais. Para tal

são propostos oito métodos que permitem a melhoria das características ambientais do

produto: seleção de materiais de baixo impacto, redução do uso de materiais, otimização de

técnicas de produção, otimização dos sistemas de distribuição, redução de impacto durante o

uso, otimização do tempo de vida, otimização do processos de fim de vida do produto e

desenvolvimento de um novo conceito. Dessa forma, as informações de um produto devem

ser adicionadas a um sistema e de acordo com essas estratégias, as possibilidades de melhoria

dos produtos podem ser identificadas.

Strategy List

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De acordo com Byggeth e Hochschorer (2006), a ferramenta propõe uma lista de

sugestões para fase do ciclo de vida de produto, que podem melhorar sua performance

ambiental. As sugestões devem ser baseadas nos seguintes aspectos: otimização do uso de

matéria prima, otimização do uso de energia, redução de emissão de lixo e poluentes, reduzir

risco ambientais e à saúde humana.

Volvo`s Black List

Conforme Byggeth e Hochschorer (2006), a ferramenta é composta por numa lista de

substancias químicas (black list) que não podem ser utilizadas e outras que devem apresentar

uso limitado (grey list) no processo de produção da Volvo, empresa fabricante de caminhões,

ônibus e automóveis. Além disso, contem uma lista de substâncias químicas que podem

potencialmente ser prejudiciais ao meio ambiente e à saúde humana.

Filho et al. (2008) ainda apresenta a seguinte ferramenta:

Matriz Eco-Funcional

De acordo com Filho et al. (2008), a matriz eco-funcional corresponde a uma

ferramenta com o objetivo de incorporar as propriedades funcionais necessárias e importantes

para um produto ao menor preço ambiental possível. Para tal propõe a combinação entre o

perfil ambiental e o perfil funcional do produto.

• Perfil Funcional: busca descrever e avaliar propriedades que se relacionam com as

funções do produto e com a sua viabilidade comercial. Exemplos: tempo de vida-

útil, tempo de uso, segurança, interação homem/máquina, etc.

• Perfil Ambiental: busca identificar as propriedades dos produtos que são

potenciais geradores de impactos ambientais. Dessa forma, busca considerar

número de produtos produzidos ao longo de um ano, uso de materiais tóxicos, uso

de energia entre outros fatores.

Conforme Filho et al. (2008), tais métodos podem ser aplicados em qualquer fase do

desenvolvimento de produtos levando apenas em que grau de exatidão os resultados são

necessários. Ainda Byggeth e Hochschorer (2006) reforçam que a grande maioria das

ferramentas apresentadas são bastante uteis, pois proporcionam um modo sistemático de

estruturar as informações de maneira rápida para a tomada de decisão. Adicionalmente,

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61 algumas das ferramentas apresentadas, não apenas contribuem para a identificação de trade-

offs, mas também auxiliam a tomada de decisão em tais situações. Como ferramentas de

suporte, são totalmente baseadas no julgamento e na responsabilidade do usuário.

2.3.3. Princípios aplicados ao projeto de produtos sustentáveis

Hauscild; Jeswiet e Alting (2004) propõem um conjunto de princípios, que norteiam

os diferentes métodos para desenvolvimento de produtos:

• Não utilizar substâncias tóxicas e procurar utilizar ciclos fechados sempre que

possível.

• Minimizar o consumo de energia e de materiais durante a produção e o transporte

por meio da procura incessante pela eficiência operacional.

• Minimizar o consumo de energia e de recursos durante o período de uso do

produto.

• Prover serviços de manutenção para os produtos.

• Desenvolver produtos que possam ser utilizados por um longo período de tempo,

especialmente, para aqueles em que os impactos ambientais são mais relevantes

durante a fase de descarte.

• Utilizar materiais de alta qualidade e realizar tratamentos de modo a proteger os

produtos da sujeira, corrosão, entre outros fatores.

• Desenvolver os produtos de modo que possam ser atualizados, reparados e

reciclados.

• Promover a atualização, manutenção e reciclagem por meio do uso de poucos e

simples materiais. Evitar o uso de ligas metálicas.

• Minimizar o uso de elementos de fixação (solda, adesivos, entre outros).

Tais recomendações concentram os principais pontos a serem refletidos durante o

processo de desenvolvimento de produtos sustentáveis. Além disso, Zimmerman (2006),

propõe os seguintes princípios:

• Durante o projeto do produto, deve-se focar que todo o material e energia

consumidas prejudiquem o mínimo possível

• É melhor prevenir a produção de lixo ao invés de tratá-lo uma vez que já foi

formado

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62

• Operações de separação e purificação devem fazer parte do projeto do processo.

• Os componentes do sistema devem ser projetados de modo a otimizar eficiência

energética e temporal.

• Os componentes do sistema devem ser fabricados de maneira puxada, ou seja, de

acordo com a demanda.

• Complexidade deve ser vista como um investimento, quando são definidas

medidas para reciclagem, reuso e disposição final dos produtos.

• Deve-se definir um tempo para a durabilidade do produto.

• Projetos além da capacidade necessária devem ser encaradas como uma falha.

• A unificação de materiais é benéfica para promover a desmontagem dos produtos e

a retenção de valor.

• O projeto dos sistemas e processos devem considerar integração e conectividade

• Considerar o valor do pós-vida dos produtos

• Projetos devem ser baseados em recursos disponíveis e renováveis.

Além dos princípios acima listados, Hopkins (2010) propõe um princípio fundamental

para a aplicação de técnicas de desenvolvimento de produtos sustentáveis. Por se tratar de um

algo que para funcionar perfeitamente exige muito tempo de desenvolvimento e apresenta

grandes possibilidades de problemas, buscar mudanças radicais não costuma ser a melhor

solução. Dessa forma, a solução ideal para tal processo é que o mesmo ocorra de modo

incremental e seja constantemente aperfeiçoado. Hopkins (2010) ainda defende que o ponto

de partida para a aplicação do EcoDesign deve ser a substituição de materiais, não apenas do

produto, mas também do processo. Isso porque todas as decisões de seleção de materiais são

realizadas durante o desenvolvimento do produto propriamente dito.

2.4. Certificações de adequação ambiental

De acordo com Manget; Roche e Munnich (2009), quase a totalidade dos

consumidores entrevistados sentem-se desorientados quando vão comprar produtos verdes e

sentem-se incertos em relação ao conceito de produto verde, que tipos de benefícios irão

proporcionar e como definir se um produto é verde ou não. Ainda de acordo Manget; Roche e

Munnich (2009), grande parte dos consumidores possuem pouca confiança nas informações

apresentadas pelos fabricantes e vendedores de produtos verdes. Apesar disso, quando

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63 questionados sobre como avaliam se um produto é realmente verde, muitos deles dizem

confiar nas campanhas publicitárias.

Dessa forma, pode-se afirmar que a falta de uma informação precisa e de qualidade

representa uma das principais razões pelas quais os consumidores não compram produtos

verdes. De acordo com Manget; Roche e Munnich (2009), as empresas perdem em média

20% de potenciais consumidores, quando os clientes não estão bem informados sobre seu

portfólio de produtos verdes. Uma forma de contornar tal situação é o investimento massivo

em campanhas publicitárias e o estabelecimento de parcerias ONGs e agências do governo,

que possuem propósitos ambientais.

Em meio a esse contexto, a ISO busca a padronização de tais métodos por meio da

série 14000. De acordo com Environmental [...] (2009), a série teve sua origem no Comitê

para o Desenvolvimento da ONU ocorrido na cidade do Rio de Janeiro em 1992. Em 1993,

houve a formação do comitê técnico ISO TC/207. Atualmente, é composto por mais de 100

países, dentre os quais o Brasil é líder em conjunto com o Canadá.

Ainda conforme Environmental [...] (2009) série ISO 14000 busca englobar as

seguintes áreas do conhecimento:

• Sistemas de gestão ambiental.

• Auditoria ambiental.

• Avaliação de performance ambiental.

• Selo ambiental.

• Life cycle assessment.

• Comunicação ambiental.

• Aspectos ambientais no desenvolvimento de produtos.

• Termos e definições.

• Efeito-estufa e atividades relacionadas.

• Quantificação da emissão de calor dos produtos.

Como proposto por Environmental [...] (2009), alguns itens relevantes da série

ISO14000 são descritos abaixo:

• ISO14001: reconhecida a publicação mais importante no que tange aos sistemas de

gestão ambiental. Adotada como padrão em diversas partes do continente,

envolver não apenas os aspectos ambientais dos processos dentro da organização,

mas também sobre os produtos ou serviços prestados.

• ISO14004: guia complementar e auxiliar a ISO140001.

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64

• ISO14031: propõe formas de avaliação da performance ambiental. Propõe alguns

indicadores padronizados, o que permite comparação entre empresas de maneira

coerente.

• ISO14040: propõe um guia para a condução de um LCA, que contribuirá para

empresa reduzir os impactos ambientais de seus produtos e serviços.

• ISO14063: contém itens referentes á comunicação ambiental.

• ISO14064: é dividido em 3 partes e engloba tópicos a respeito de gases estufa.

• ISO14045: contem princípios e requisitos para o estudo de eco-eficiência. Em

outras palavras, busca relacionar a performance ambiental com o valor criado.

• ISO14051: propicia um guia para a realização da contabilidade do custo dos fluxos

de materiais. Dessa forma, pode-se obter uso eficiente dos recursos disponíveis.

• ISO14067: envolve quantificação e comunicação dos gases estufa relacionados

com o produto/serviço.

• ISO14069: envolve a quantificação dos gases estufa ao longo da cadeia de

suprimento.

• ISO14005: guia para a implementação de um sistema de gerenciamento ambiental.

• ISO14006: guia para o ecodesign.

• ISO14033: compilação de informações quantitativas.

• ISO14066: especifica critérios para a verificação da emissão de gases estufa.

Como se pode notar a ISO oferece uma ampla base para a padronização de processos

sustentáveis. Além disso, existem diversas ONGs e instituições que propõem uma forma de

classificação de sustentabilidade de um produto. Dentre elas, pode-se destacar o Catálogo

Sustentável desenvolvido pelo CES da EAESP-FGV13, que disponibiliza em sua página na

internet uma base de produtos que considera sustentável de acordo com os seguintes critérios:

• Produção Orgânica.

• Eficiência Energética.

• Origem Renovável.

• Toxicidade.

• Biodegrabilidade.

• Menor Grau de Periculosidade.

• Gestão de Resíduos.

• Impactos Globais. 13 Acesso através do site http://www.ces.fgvsp.br/ em 02/10/2010.

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65

• Racionalização.

• Rastreabilidade.

No Brasil, pode-se afirmar que o CES da EAESP-FGV é uma instituição pioneira e

reconhecida na classificação de produtos de acordo com critérios sustentáveis.

De um modo geral, pode-se afirmar que as certificações apresentadas nesse subitem

são complementares, dado que a ISO apresenta foco nos sistemas de gestão e o método

proposto pela CES da EAESP-FGV é destinado ao produto propriamente dito.

2.5. Modelo de implementação

Hauscild; Jeswiet e Alting (2004) propõem uma abordagem sistemática para a

aplicação dos conceitos de sustentabilidade em produtos baseada em um foco hierárquico.

• Considerações Estratégicas

Hauscild; Jeswiet e Alting (2004), o primeiro passo consiste na identificação das

funções do produto e na determinação do modo ótimo de prover tal função. Tais

considerações devem ser pensadas, já que a sustentabilidade pode forçar

mudanças na estratégia de comercialização do produto no longo prazo.

Como resultado de tal etapa, espera-se haver definição de como o produto será

definido.

• Focando no Ciclo de Vida do Produto

Ainda de acordo com Hauscild; Jeswiet e Alting (2004), após a decisão do

produto, deve-se traçar o ciclo de vida do mesmo para identificar onde há os

maiores impactos ambientais gerados pelo produto. Para tal, propõe-se a aplicação

da ferramenta LCA em diferentes etapas do planejamento do produto:

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Figura 21: Possibilidades de Melhoria Ambiental ao Longo do Desenvolvimento de um Produto (adaptado

de Hauscild; Jeswiet e Alting (2004))

Como se pode notar na Figura 21, a situação em que se tem mínimas informações

sobre os produtos é aquela na qual se pode obter os maiores ganhos de

performance ambiental para um produto.

Os principais impactos ambientais devem ser checados para que as potenciais

melhorias possam ser determinadas antes da especificação do processo de

desenvolvimento.

• Implementação do Design for Environment

Após a preocupação ambiental verificada nos dois primeiros passos, deve-se

atentar para questões legais e as necessidades da sociedade como um todo.

Considerando tais aspectos, pode-se determinar a ferramenta adequada.

De um modo geral, pode-se dizer que o presente capítulo apresenta um embasamento

teórico de diversos aspectos relacionados com a preocupação ambiental e o desenvolvimento

sustentável.

• Comportamento do Consumidor e Estratégia da Empresa: inicialmente, foi

apresentada a visão dos consumidores com relação aos produtos verde e/ou

sustentáveis. Nele foram abordados aspectos relativos aos reais fatores motivam as

pessoas a adquirir essa classe de produtos. Tais fatores são determinantes para a

Possibilidades de Melhoria Ambiental

Conhecimento sobre o produto

Idéias Concepção

Possibilidades de Melhoria de Performance Ambiental

Especificação Detalhamento do Projeto Protótipo Produção

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67

determinação da estratégia da empresa, tanto durante o processo de

desenvolvimento, quanto durante a comercialização desses produtos.

• Ciclo de Vida de um Produto: nesse item, buscou-se apresentar de uma forma

estruturada as etapas pelas quais um produto passa desde o seu desenvolvimento

até o seu descarte. Além disso, foram apresentadas cor cada uma das etapas e as

diferentes visões que cada uma delas possui a respeito do produto/serviço.

• Projeto e Desenvolvimento de Produtos: primeiramente, foi apresentado um

método estruturado para o desenvolvimento de produtos, que englobam desde a

definição do produto a ser fabricado até o projeto dos equipamentos necessários

para a fabricação do mesmo.

• Projeto de Produtos e a Sustentabilidade: foram levantadas as principais

abordagens, ferramentas e princípios encontrados na literatura. Além disso, foi

abordado conceitos relativos à norma ISO14000.

A próxima etapa consiste na análise das informações levantadas durante a revisão

bibliográfica e sistematização dos métodos mais relevantes.

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68

3. Sistematização de Métodos

Com base na revisão bibliográfica, observa-se que há uma grande quantidade de

artigos e textos relacionados com o tema de desenvolvimento de produtos ambientalmente

corretos. Apesar disso, cabe ressaltar que há poucas informações teóricas disponíveis e a

grande maioria da bibliografia presente até o momento refere-se fundamentalmente a análise

de alguns casos práticos aplicados em empresas dos mais diversos setores. Como se pode

observar, trata-se na maioria dos casos de empresas de grande porte e que, portanto, podem

fazer grandes investimentos na área de pesquisa, por possuírem elevada capacidade técnica e

financeira.

Diante do apresentado, nesse capítulo é proposto um modelo organizado para auxílio

na aplicação das informações elencadas na revisão bibliográfica nas mais diversas etapas do

desenvolvimento de produtos.

3.1. Design for Sustainability x Design for Environment

Como proposto por Spangeberg; Fuad-Luke e Blincoe (2010), o conceito mais amplo

dentre os apresentados é o de Design for Sustainability. Isso porque na abordagem DfS,

incorpora-se além de aspectos ambientais, aspectos sociais e econômicos. Em outras palavras,

não há preocupação apenas com as questões ambientais (ex. destruição de ozônio), mas

também com preocupações sociais (ex. não utilizar mão de obra infantil), financeiras (garantir

a sustentabilidade da empresa).

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Figura 22: Composição do DfS (elaborado pelo autor)

Um conceito considerado menos amplo que o Design for Sustainability é o Design for

Environment ou EcoDesign. Esse pode ser considerado como um fragmento do Design for

Sustainability, já que se concentra nos aspectos ambientais durante o processo de

desenvolvimento de produtos. A relação entre DfS e DfE pode ser simplificadamente

entendida de acordo com a Figura 23.

Figura 23: Composição do DfE (elaborado pelo autor)

Design for Sustainability e Design for Environment são os conceitos mais genéricos

apresentados durante a revisão bibliográfica. De certo modo, os mesmos podem ser

considerados como filosofias para o desenvolvimento de produtos.

Aspectos Econômicos

Aspectos Sociais

Aspectos Ambientais

Design for Sustainability

Aspectos Econômicos

Aspectos Sociais

Aspectos Ambientais

(DfE)

Design for Environment

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3.2. Organização dos conceitos de desenvolvimento de produtos sustentáveis

Além dos dois conceitos apresentados no item 3.1, a revisão bibliográfica apresenta

uma série de abordagens focadas no desenvolvimento de produtos ambientalmente corretos,

das quais merecem destaque:

Tabela 5: Lista de Abordagens (elaborado pelo autor)

Todas as abordagens apresentadas acima apresentam como foco o desenvolvimento de

produtos ambientalmente corretos e, portanto, estão diretamente relacionadas com o Design

for Environment, como apresentado na Figura 24.

Figura 24: Ilustração das Abordagens de Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis (elaborado pelo

autor)

Abordagens

Design for Recycling (DFR)

Design for Diassembly (DFD)

Green Engineering

Cradle to Grave (Eco-efficiency)

Cradle to Cradle (Eco-effective)

Cleaner Production

Clean Production

Cleaner Technologies

Design for Environment

DfX

Design for Recycling

Design for Disassembly

Cradle to Grave

Cradle to Cradle

Cleaner Production

Clean Production

Cleaner Technologies

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Cabe ainda ressaltar que parte das abordagens apresentadas são conceitualmente

bastante próximas ou compartilham alguma relação hierárquica, dentre as quais vale destacar:

• Cradle to Cradle e Cradle to Grave

A relação entre Cradle to Cradle e Cradle to Grave pode ser observada de acordo

com a Figura 25.

Figura 25: Comparativo entre Cradle to Cradle e Cradle to Grave (elaborado pelo autor)

É inquestionável afirmar que o Cradle to Cradle engloba uma série de atividades e

é mais extensa que o Cradle to Grave, já que, enquanto a segunda limita-se a

preocupação do descarte do material, a primeira busca recolocar todo o material

descartado no ciclo do próprio produto ou de algum outro produto/serviço.

• Design for Disassembly e Design for Recycling

A relação entre Design for Recycling e Design for Diassembly pode ser observada

de acordo com a Figura 26.

Cradle to Cradle

Cradle to Grave

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72

Figura 26: Comparativo entre DfR e DfD (elaborado pelo autor)

Como se pode notar na Figura 26, o Design for Recycling engloba o Design for

Disassembly, já que propõe que o produto como um todo deve ser projetado

para que possa ser reciclado. Dessa forma, não apenas a sua desmontagem

deve acontecer de maneira simples e fácil, mas deve-se atentar para a escolha

de materiais, entre outros fatores.

• Design for Recycling e Cradle to Cradle

A relação entre DfR e Cradle to Cradle pode ser observada de acordo com a

Figura 27.

Figura 27: Comparativo entre Cradle to Cradle e DfR (elaborado pelo autor)

Design for Recycling

Design for Disassembly

Cradle to Cradle

Design for Recycling

v

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O Cradle to Cradle é um método consideravelmente mais extenso que o Design

for Recycling. Isso porque além de propor que os materiais sejam reciclados, o

Cradle to Cradle afirma que os produtos recicláveis deve ser utilizado no ciclo de

vida do mesmo ou de um outro produto/serviço. Já o DfR propõe apenas que o

produto possa se reciclado.

Além das abordagens, foram apresentadas diversas ferramentas levantadas na

literatura.

Tabela 6: Lista de Métodos/Ferramentas (elaborado pelo autor)

Como se pode observar no capítulo de revisão bibliográfica, a ferramenta mais

complexa e completa é o LCA. Além disso, existem outras ferramentas adaptadas da área de

gestão da qualidade de produtos, tais como FMEA e o QFD. Além disso, na revisão

bibliográfica são apresentadas algumas ferramentas mais restritas. Vale ressaltar que todas

podem ser de grande importância não apenas durante o processo de desenvolvimento de

produto, mas também durante o ciclo de vida ou acompanhamento produto. Isso porque

auxiliam não apenas no projeto inicial, mas também contribuem para mudanças de melhoria

do produto. Em muitos casos, essas ferramentas serão utilizadas como uma forma de auxílio

para a implementação das abordagens propostas.

Por fim, na revisão bibliográfica são apresentados os princípios básicos que toda a

equipe de desenvolvimento de produtos deve ter em mente para desenvolver um produto mais

Ferramentas

Life Cycle Assessment (LCA)

FMEA Ambiental (E-FMEA)

QFD Ambiental (E-QFD)

ABC Analysis

The Environmentally Responsible Product Assessment Matrix (ERPA)

MECO

MET-Matrix

Philips Fast Five Awareness

Funktionskosten

EcoDesign Checklist

Econcept Spiderweb

Environmntal Objectives Deployment (EOD)

LiDS-wheel

Strategy List

Volvo`s Black List

Matriz Eco-Funcional

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74 sustentável. De um modo geral, esses podem ser considerados os pilares para o

desenvolvimento de qualquer produto ambientalmente correto e/ou sustentável.

Com base nessa análise e no modelo de gestão de ciclo de vida de produtos proposto

por Rozenfeld et al. (2006), o autor propõe o seguinte quadro resumo contendo as abordagens,

ferramentas. As abordagens, ferramentas são posicionadas em relação às fases do processo de

desenvolvimento de produtos de acordo com sua possibilidade de aplicação, dada pela análise

do referencial teórico (Figura 28).

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Figura 28: Quadro Resumo de Abordagens, Ferramentas e Princípios (elaborado pelo autor)

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A Figura 28 busca evidenciar em que pontos do projeto/desenvolvimento de um novo

produto as abordagens e ferramentas são idealmente aplicáveis. Como se pode notar, os

princípios são os direcionadores de todo o processo de projeto e desenvolvimento de um novo

produto.

Um conceito um pouco mais restrito são as abordagens, que em sua maioria não são

aplicados na fase inicial de desenvolvimento do projeto, dado que não interferem em estudos

mercadológicos que visam entender as necessidades do cliente.

Por fim, são apresentadas as ferramentas. Essas costumam na maioria dos casos

possuírem aplicações pontuais e objetivas. Dessa forma, costumam ser aplicadas em menos

etapas durante o projeto de desenvolvimento de produtos.

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3.3. Sistematização de métodos/ferramentas para o desenvolvimento

sustentável

Com a definição do modelo proposto no item anterior, torna-se interessante o

detalhamento de algumas ferramentas relevantes, o que nos permite sistematizá-las. Como se

busca algo simples e fácil de se entender, o autor propõe o seguinte esquema para cada

método/ferramenta sistematizado. Para tal, sugere-se a seguinte estrutura para sistematização:

• Definição: consiste de comentários gerais sobre o método descrito.

• Objetivo: finalidade para a qual o método deve ser aplicado.

• Aplicação: descrição dos passos para aplicação do método.

• Ferramentas de auxílio: páginas na internet ou softwares que podem contribuir

para a implantação do método.

• Fontes de informação: bibliografia e sugestões de leitura.

• Anexos: disponibilização de informações extras.

Considerando os critérios acima descritos e dado grau de complexidade e necessidade

de detalhamento dos métodos, foram selecionados: LCA, E-FMEA e QFD Ambiental.

3.3.1. Life Cycle Assessment

Definição

De acordo com Curran (2006), o LCA é uma ferramenta de avaliação ambiental de

sistemas industriais fundamentado na abordagem de Cradle to Grave e, portanto, abrange

desde a extração de matéria-prima do planeta até a sua volta na forma de resíduo. Vale

ressaltar, que tal ferramenta pode ser aplicada em qualquer uma das abordagens. Ao contrário

de outras ferramentas, o LCA avalia todos os estágios do ciclo de vida de um produto de

maneira independente e, portanto, permite que sejam estimados is impactos ambientais de

maneira acumulativa.

Objetivo

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78

Evidenciar de modo claro e analítico os principais impactos ambientais do

produto/processo/serviço e uma visão mais precisa a respeito dos custos de oportunidade de

cada processo de tomada de decisão no que se refere a seleção de materiais e processos.

Aplicação

Para melhor organização, a aplicação do LCA ocorre em quatro etapas:

1. Definição de Meta e Escopo: de acordo com Zimmerman (2006), define o

propósito e o método de incluir os impactos ambientais no processo de tomada de

decisão. Para tal é de fundamental importância que sejam definidos:

o Definir da meta do projeto.

o Determinar o tipo de informação necessária para os tomadores de decisão.

o Determinar grau de precisão para que os resultados possam ser

aproveitados.

o Definir como os dados devem ser apresentados para que possam ser

utilizados.

o Definir escopo do estudo.

o Determinar os passos para a realização do trabalho.

2. Life Cycle Inventory: processo com o intuito de quantificar as necessidade matéria-

prima e energia, emissões atmosféricas, resíduos sólidos e toda e qualquer outra

emissão em todo o ciclo de vida de um processo, produto e atividade. Para tal são

sugeridos os seguintes passos:

o Desenvolver um diagrama de fluxo.

o Desenvolver uma planilha com todas as informações para LCI (ex. grau de

precisão dos dados).

o Coletar informações do projeto.

o Avaliar e documentar os resultados obtidos no LCI.

3. Life Cycle Impact Assessment: etapa de avaliação dos potenciais impactos e danos

à saúde humana causados pelas emissões levantadas durante a etapa anterior. São

sugeridos os seguintes passos:

o Definir categorias impactadas.

o Classificar: classificação dos resultados obtidos no LCI nas categorias

impactadas.

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o Caracterizar: caracterização dos resultados nas categorias impactadas

utilizando fatores de conversão científicos.

o Normalizar: expressão dos impactos ambientais em unidade que possam

ser comparáveis entre si.

o Agrupar: elaboração de ranking dos indicadores.

o Ponderar: ponderação que permite evidenciar os impactos ambientais mais

significativos.

o Avaliar e Reportar: avaliação e divulgação dos resultados obtidos.

4. Interpretação: técnica sistemática para identificar, quantificar, checar e avaliar as

informações coletadas durante o LCI e LCIA. Para tal sugerem-se as seguintes

etapas:

o Identificação dos problemas significativos baseado no LCI e LCIA.

o Avaliação considerando por meio de análises de sensibilidade e verificação

de consistência.

o Conclusão.

Figura 29: LCA de acordo com os padrões da ISO 14000 (adaptado de Hauscild; Jeswiet e Alting (2005))

Definição de Meta e

Escopo

Life Cycle Inventory

Life Cycle Impact

Assessment

Interpretação

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80 Ferramentas de Auxílio:

Tabela 7: Softwares de apoio para LCA (elaborado pelo autor)

Fontes de Informação

-

Anexos

-

3.3.2. FMEA-Ambiental

Definição

Ferramenta Distribuidor

BEES 3.0 NIST Building and Fire Research Laboratory

Bousted Model Bousted Consulting

CMLCA 4.2 Centre of Environmental Science

Dubo-Calc Netherlands Ministry of Transport, Public Works and Water Management

Ecoinvent 1.2 Swiss Centre for Life Cycle Inventories

Eco-Quantum IVAM

EDIP PC Tool Danish LCA Center

eiolca.net Carnegie Mellon University

Environmental Impact Indicator ATHENA TM

EPS 2000 Design System Assess Ecostrategy Scandinavia AB

GaBi 4 PE Europe GmbH and IKP University of Stuttgart

GREET 1.7 DOE`s Office of Transportation

IDEMAT 2005 Delft University of Technology

KCL-ECO 4.0 KCL

LCAIT 4.1 CIT Ekologik

MIET 3.0 Centre of Environmental Science

REGIS Sinum AG

SimaPro 6.0 PRé Consultants

SPINE@CPM The Society for Promotion of Life-Cycle Assessment

TEAM TM

4.0 Ecobalance

Umberto ifu Hamburg GmbH

US LCI Data National Renewable Energy Lab

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De acordo com o site PORTAL DO CONHECIMENTO14, o FMEA tem como intuito

aumentar a confiabilidade de um produto ainda durante a fase de projeto do produto/processo.

Assim, consiste em uma lista de eventuais falhas, organizada em ordem decrescente de risco e

com correspondentes ações para eliminá-las ou mitigá-las.

Objetivo

A ferramenta tem como intuito sistematizar e detectar possíveis falhas e avaliar os

efeitos dos mesmos no projeto/processo.

Aplicação

Abele et al. (2008) propõe a aplicação do FMEA em cinco passos:

1. Determinar a estrutura do produto com componentes: descrição da estrutura do

produto, que contribuirá para o seu agrupamento.

2. Descrever as funções: descrição detalhada da função de cada componente do

produto.

3. Identificar fatores ambientais: com base nos componentes e em suas funções,

identificar os fatores ambientais relevantes. Além disso, devem ser definidos

objetivos ambientais para cada componente/grupo.

4. Classificar fraquezas: são listadas as principais fraquezas, componentes e suas

funções. Cada integrante do comitê deve atribuir pesos a cada um dos problemas

levantados e então pode-se definir a prioridade dos problemas a serem tratados.

5. Propostas: definição de responsabilidades e medidas que podem ser adotadas para

tratamentos dos problemas.

Ferramentas de Auxílio

Tabela 8: Softwares de apoio para E-FMEA (elaborado pelo autor)

14 Acesso através do site http://www.portaldeconhecimentos.org.br/ em 27/09/2010.

Ferramenta Distribuidor

Xfmea Reliasoft

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Fontes de Informação

-

Anexos

-

3.3.3. QFD-Ambiental

Definição

De acordo com PORTAL DO CONHECIMENTO15, o QFD pode ser entendido um

processo gerencial de desenvolvimento de produtos orientado ao cliente. Além disso, vale

ressaltar que pode ser considerada dual, já que engloba duas áreas de modo complementar:

• QFDr como uma referência para a gestão de desenvolvimentos de produtos.

• QD: proporciona o desdobramento dos desejos do cliente em características do

produto/serviço ainda durante a etapa de desenvolvimento do produto.

Por fim cabe ressaltar que trata-se de uma ferramenta que permite a integração entre as

necessidades do cliente e as diversas áreas da organização, tais como vendas, manufatura,

marketing, entre outros.

Objetivo

A ferramenta tem como intuito levantar todas as necessidades dos clientes, identificar

novas oportunidades e traduzir em ações e projetos por meio de métodos analíticos e de

priorização de medidas a serem adotadas.

Aplicação

15 Acesso através do site http://www.portaldeconhecimentos.org.br/ em 27/09/2010.

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A ferramenta se baseia em matrizes. Para a sua aplicação, são sugeridos os seguintes

passos:

1. Definir conjunto de aspectos ambientais: a determinação dos aspectos relevantes

está relacionada com avaliação ecológica do produto e com o objetivo ambiental

da empresa. São sugeridos: aplicação, utilização de materiais, entre outros.

2. Definir peso de cada fator: ponderar a relevância de cada fator.

3. Definir estrutura do produto: agrupar os componentes do produto de acordo com

as suas funções.

4. Determinar influencia da estrutura do produto.

5. Preencher matriz: preenchimento da matriz QFD utilizando as seguintes notas: [0,

1, 3, 9].

6. Determinar relevância ambiental: multiplicar cada nota pelo peso atribuído a cada

fator. Efetuar a soma e verificar pontuação de cada atributo.

7. Classificar produto: identificar o posicionamento do produto em relação ao

benchmark e definir objetivos a serem alcançados.

Figura 30: Representação da Matriz QFD (adaptado de Abele et al. (2008))

Notas

[0, 1, 3, 9]

(5)

Re

sult

ad

os

(7)

Be

nch

ma

rk

(7)

Me

ta

(7)

Asp

ect

os

Am

bie

nta

is

(1)

Pe

sos

(2)

Relevância Ambiental

(6)

Medidas Necessárias

Componentes

(3)

Possibilidade de

Melhoria

De Cada Componente

(4)

Correlação

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Ferramentas de Auxílio

Tabela 9: Softwares de apoio para QFD (elaborado pelo autor)

Fontes de Informação

-

Anexos

-

Ferramenta Distribuidor

QFD Designer Vicente Luz Consultores Associados

Sigma Zone Sigma Zone

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4. Aplicação em Empresas

Considerando o levantamento dos métodos e a posterior análise, o próximo passo

consiste na verificação da aplicação de tais conceitos no ambiente corporativo. Para tal foram

realizadas entrevistas em três indústrias de diferentes setores. As entrevistas tiveram como

foco observar como as empresas têm empregado tais conceitos em seu cotidiano,

especialmente, na área de desenvolvimento de produtos. Como ferramenta de auxílio às

entrevistas, foi elaborado um Roteiro de Entrevista.

4.1. Empresa do Setor de Equipamentos Eletrônicos

Breve Histórico

Fundada em 1988, a empresa em questão atua no setor de otpoeletrônica e atende aos

setores de componentes ópticos, aeroespacial, de defesa e médico. Desde suas origens, a

empresa é sinônimo de inovação e respeito aos clientes, á sociedade e ao meio ambiente.

Dentre as principais inovações destacam-se:

• Primeira empresa no hemisfério sul a produzir um laser.

• Primeira fabricante de leitor de código de barras para uso em supermercado.

• Desenvolvimento de sensores a laser para sistemas militares.

• Pioneira no mercado brasileiro com o tratamento antirreflexo para lentes de

óculos.

Atualmente, dispõe de uma planta industrial na cidade de São Carlos. Além disso,

dispõe de unidades em São Paulo, Fortaleza, Porto Alegre, Brasília e unidade no exterior.

Sustentabilidade e Estratégia

De acordo com a entrevista realizada, pode-se observar que os conceitos relacionados

com sustentabilidade estão presentes na empresa, especialmente em duas áreas e de maneiras

distintas:

• Departamento de Marketing

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Atualmente, a empresa conduz alguns projetos relacionados com o meio ambiente

e com o bem estar social por meio do patrocínio de evento e conservação de áreas

próximas às suas instalações.

• Departamento de Sistemas de Gestão

Ainda de acordo com o entrevistado, parte dos conceitos de sustentabilidade foram

implantados durante o processo de certificação da empresa para obtenção da

ISO9001, fatores fundamentais para que os produtos possam ser exportados. Para

tal algumas medidas internas foram adotadas, tais como reaproveitamento de

águas, tratamento de efluentes, coleta seletiva de lixo e eliminação de alguns

componentes de sua linha de produtos (ex. chumbo).

Apesar de tais aplicações, cabe ressaltar que a cultura de sustentabilidade não é

difundida como um todo para a organização.

Desenvolvimento de Produtos

A empresa dispõe de uma ampla linha de produtos divididos nas seguintes áreas:

• Médica: equipamentos para diagnóstico e tratamento de diversas doenças do olho

humano.

• Antirreflexo: completa linha de tratamentos antirreflexo, antirrisco e

hidrorrepelentes.

• Aeroespacial: aplicações de laser na indústria aeroespacial.

• Óptica e Industrial: equipamentos na área de medição a laser.

A grande maioria dos produtos é totalmente desenvolvida no Brasil, apesar do uso de

componentes importados na grande maioria dos casos. Ainda cabe ressaltar que se trata de

uma empresa operando na fronteira do conhecimento. Em outras palavras, a empresa está

sempre lançando produtos inovadores não apenas no cenário nacional, mas também

internacional.

Ainda de acordo com o entrevistado, o processo de desenvolvimento de produtos

dentro da empresa é bastante similar ao proposto por Rozenfeld et al. (2006).

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Figura 31: Modelo de Desenvolvimento de Produtos (adaptado de Rozenfeld et al. (2006))

O principal fator diferenciador corresponde ao planejamento estratégico dos produtos.

Por se tratar de uma empresa altamente inovadora com um grande número de pesquisadores,

os novos produtos não são lançados baseados apenas nas necessidades de mercado. Dessa

forma, há uma grande interação entre os conceitos de market-pull e technology-push.

Sustentabilidade e Desenvolvimento de Produtos

De acordo com o entrevistado, não há aplicação de nenhuma ferramenta ambiental

específica no modelo de desenvolvimento da empresa. Apesar disso é importante ressaltar que

há especial foco para que os produtos sejam fáceis de desmontar para a realização de

atividades de reparo e manutenção. Além disso, há certo cuidado na seleção de materiais, mas

com foco fundamental nas certificações de qualidade e da área de saúde, para os produtos de

aplicação médica.

A principal razão apontada pelo entrevistado para não haver maior investimento em

tais áreas está no fato de que eles não atendem ao grande público diretamente. Trata-se de um

mercado com poucas empresas, na qual a sustentabilidade não iria gerar grande vantagem

competitiva. Além disso, é de fundamental importância ressaltar que se trata de um mercado

com baixo volume e, portanto, os impactos ambientais tendem a não apresentar grande

relevância.

Por fim, o entrevistado ressaltou que gostaria de poder ter acesso à avaliação de ciclo

de vida de seus produtos (LCA).

Processo de Desenvolvimento de Produto

Pré-Desenvolvimento Desenvolvimento Pós-Desenvolvimento

Planejamento Estratégico dos

Produtos

Planejamento do Projeto

Projeto Informacional

Projeto Conceitual

Projeto Detalhado

Preparação da Produção

Lançamento do Produto

Acompanhar Produto Processo

Descontinuar Produto

Especificações-Meta

•Requisitos com valores-meta•Informações adicionais qualitativas

Concepção do Produto

•Arquitetura do Produto•Alternativas de Solução•Desenhos Iniciais•Plano Macroprocesso

Protótipo Avançado/Produto

Homologado

•Protótipo Funcional•Projeto dos Recursos•Plano de fim de vida

Lote Piloto Aprovado/Processo

Homologado/Produto Certificado

•Liberação da Produção•Doumentação e homologação•Espec. Proc. de produção•Espec. Proc. de manutenção

Produto Lançado

•Documento Lançamento•Espec. Proc. Vendas

•Espec. Proc. Distribuição•Espec. Proc. Assist. Técnica

Plano do Projeto

•Escopo do Projeto•Escopo do Produto•Prazos e Orçamento•Riscos Indicadores•Qualidade

Minuta do

Projeto

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88 Certificações

A empresa atualmente detém diversas certificações de padrão internacional, tais como

ISO9001 e a ISO13485. Tais certificações são de fundamental importância para que a

empresa possa atingir o mercado europeu e americano.

Sustentabilidade e Cadeia de Valor

Apesar de não existir nada formalizado, há certa preocupação com a sustentabilidade

na cadeia de valor da empresa. A empresa participa de diversas licitações públicas, na qual

deve apresentar extensa documentação a respeito de suas certificações de qualidade, relatórios

de estudos de impacto, entre outros.

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89

4.2. Empresa do Setor de Eletrodomésticos

Breve Histórico

Fundada em 1994, a empresa sempre teve como objetivo produzir eletrodomésticos de

alta qualidade com preços competitivos focado em um segmento específico do mercado. Com

uma ampla linha de lavadoras, centrífugas, bebedouros, purificadores e ventiladores atende

todo o mercado nacional e exporta para mais de nove países, dentre os quais destacam-se:

países sul-americanos, Portugal, França e alguns países da África e Caribe.

Reconhecida não apenas pelos diversos prêmios conquistados na área de design de

produtos, desde o ano de 2005 toda a sua linha de lavadoras possui nota A de acordo com os

padrões do INMETRO no que se refere à eficiência energética de seus produtos.

Dispõe de duas plantas industriais localizadas nas cidades de São Carlos (SP) e Recife

(PE).

Sustentabilidade e Estratégia

A empresa em questão pode ser considerada de médio porte e a questão de

sustentabilidade é totalmente apoiada pela diretoria. Pode-se afirmar que está presente em

duas áreas básicas:

• Produtos – durante o projeto de um novo produto, o time de desenvolvimento de

produtos busca sempre aplicar conceitos de sustentabilidade, tal como seleção de

materiais reciclados e planejamento de processos corretos ambientalmente. Cabe

ressaltar que todos os produtos possuem padrão A pelo INMETRO e os

refrigeradores e geladeiras possuem o selo do PROCEL.

• Depto. de Marketing – além de toda a preocupação ambiental durante o

desenvolvimento de produtos, a empresa possui um programa focado na saúde no

trabalho e esta engajada em diversos projetos sociais, dentre os quais pode se

destacar: doação de produtos a entidades filantrópicas, campanha do agasalho,

projeto de coleta seletiva na cidade sede, apoio à fundação ABRINQ, entre outros.

Apesar dessas diversas aplicações, o entrevistado acredita que a sustentabilidade ainda

é desenvolvida de modo pontual dentro da empresa.

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90 Desenvolvimento de Produtos

O portfólio de produtos da empresa entrevistada é composto por uma ampla linha de

eletrodomésticos. Fabrica bebedouros, centrífugas, lavadoras, purificadores e ventiladores.

Trata-se de uma empresa 100% nacional com uma estrutura enxuta, na qual todos os projetos

são desenvolvidos por um time de 15 pessoas.

Ainda de acordo com o entrevistado, o processo de desenvolvimento de produtos

dentro da empresa é bastante similar ao proposto por Rozenfeld et al. (2006).

Figura 32: Modelo de Desenvolvimento de Produtos (adaptado de Rozenfeld et al. (2006))

Dessa forma, pode-se notar que desde o processo de estudos de mercado passando

pelo desenvolvimento do projeto até a fabricação do produto propriamente dito é realizada

pela própria empresa. É importante ressaltar que a empresa sempre buscar fabricar produtos

de excelente qualidade a preços competitivos.

Sustentabilidade e Desenvolvimento de Produtos

Como mencionado anteriormente, os conceitos de sustentabilidade estão presente no

processo de desenvolvimento de produtos. Apesar de não considerar que apliquem algum

método propriamente dito, a preocupação com o meio ambiente pode ser verificada de modo

pontual nas diversas etapas do projeto de um novo produto e de seu processo de fabricação.

De acordo com o entrevistado, a empresa sempre que possível fazer uso de material

reciclado em seus produtos. Nesse processo, é importante destacar que o material reciclado é

Processo de Desenvolvimento de Produto

Pré-Desenvolvimento Desenvolvimento Pós-Desenvolvimento

Planejamento Estratégico dos

Produtos

Planejamento do Projeto

Projeto Informacional

Projeto Conceitual

Projeto Detalhado

Preparação da Produção

Lançamento do Produto

Acompanhar Produto Processo

Descontinuar Produto

Especificações-Meta

•Requisitos com valores-meta•Informações adicionais qualitativas

Concepção do Produto

•Arquitetura do Produto•Alternativas de Solução•Desenhos Iniciais•Plano Macroprocesso

Protótipo Avançado/Produto

Homologado

•Protótipo Funcional•Projeto dos Recursos•Plano de fim de vida

Lote Piloto Aprovado/Processo

Homologado/Produto Certificado

•Liberação da Produção•Doumentação e homologação•Espec. Proc. de produção•Espec. Proc. de manutenção

Produto Lançado

•Documento Lançamento•Espec. Proc. Vendas

•Espec. Proc. Distribuição•Espec. Proc. Assist. Técnica

Plano do Projeto

•Escopo do Projeto•Escopo do Produto•Prazos e Orçamento•Riscos Indicadores•Qualidade

Minuta do

Projeto

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91 aplicado principalmente em componentes internos. Isso porque apesar de possuírem qualidade

adequada, muitas vezes podem sofrer variação de cor de acordo com o lote.

Outro ponto que merece destaque é que a empresa não utiliza produtos químicos em

seu processo de fabricação, tais como tintas e solventes e para o caso de refrigeradores o

único gás refrigerante utilizado é o R134a, que evita a destruição da camada de ozônio e,

portanto, não é prejudicial ao meio ambiente.

Ainda é importante ressaltar que a empresa tem seu próprio processo para injeção de

poliuretano, o que garante que seu descarte seja feito de modo correto.

Um exemplo citado pelo entrevistado foi a alteração de um processo, que estava

bastante ineficiente e pouco sustentável. Diante da ineficiência, alto nível de perdas e dejetos,

foi realizado uma alteração no processo que permitiu não apenas grande economias de capital,

como também tornou o processo bem mais adequado em termos ambientais.

Certificação

Não apenas a empresa, como também seus produtos possuem diversas certificações.

Para o segmento de eletrodomésticos, dois selos destacam-se:

• INMETRO: todos os produtos da empresa possuem classificação A em suas

respectivas categorias, o que representa alta eficiência energética.

• PROCEL: todas as lavadoras são certificadas pelo PROCEL, o que representa não

apenas alta uma alta eficiência energética, mas também eficiência no uso de água e

no processo de lavagem.

Sustentabilidade e Cadeia de Valor

Apesar de não haver um processo formalizado, a empresa evidencia preocupação com

a sustentabilidade em toda a sua cadeia de valor, desde os seus fornecedores até os seus

distribuidores.

4.3. Empresa do Setor Aeroespacial

Breve Histórico

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Ao longo de mais de 40 anos de existência, a empresa em questão tem significativa

participação no mercado global no setor aeroespacial e já produziu mais de 5000 aeronaves

que operam em todos os continentes.

A empresa tem como missão gerar valor para seus acionistas por meio da plena

satisfação de seus clientes do mercado aeronáutico global. Atualmente, a empresa se

concentra em três áreas de negócio e mercados:

• Aviação Comercial.

• Aviação Executiva.

• Mercado de Defesa.

Conta com, aproximadamente, 17.000 colaboradores e possui unidades no Brasil,

Estados Unidos, Europa e Ásia.

Sustentabilidade e Estratégia

De acordo com o entrevistado, o conceito de sustentabilidade faz parte do dia-a-dia da

empresa. Há grande apoio da direção e existem diversas ações relacionadas com o tema,

dentre as quais vale destacar a manutenção de um colégio de altíssimo nível de qualidade de

ensino voltado a crianças carentes da região onde se localiza a principal fábrica. Além disso, a

empresa realiza tratamento de efluentes, programas de reciclagem, entre diversas outras

iniciativas. Apesar do grande número de projetos, pode se afirmar que a maioria deles ocorre

de modo pontual. Dessa forma, merece especial atenção a possibilidade de integração dos

projetos por meio da criação de um departamento corporativo responsável pelo tema.

Desenvolvimento de Produtos

A empresa entrevistada apresenta uma ampla linha de aeronaves, desde jatos

executivos até aviões com fins militares. Trata-se de uma empresa desenvolvedora de alta

tecnologia e posicionada entre as líderes de inovação com diversos projetos, alguns deles em

parcerias com as principais instituições de ensino do país.

De acordo com a entrevista, pode-se notar que o modelo de desenvolvimento de

produtos na empresa está alinhado com o modelo proposto por Rozenfeld et al. (2006):

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93

Figura 33: Modelo de Desenvolvimento de Produtos – Empresa do Setor Aeroespacial (adaptado de

Rozenfeld et al. (2006))

Como se pode observar no esquema acima, todo o processo de desenvolvimento de

produtos é realizado no Brasil, desde os estudos de mercado até a montagem do produto final.

Apesar disso, cabe ressaltar, que alguns componentes são importados dos mais variados

países.

Sustentabilidade e Desenvolvimento de Produtos

Os conceitos de sustentabilidade podem ver observados sob diferentes óticas quando

se fala em desenvolvimento de produtos.

• Adequação às legislações internacionais

Os padrões internacionais de produção/produto são bastante restritivos com

relação à matéria prima utilizada em seus produtos. Por se tratar de uma empresa

com volume de exportação considerável, a mesma detém diversas certificações

ambientais. A grande maioria das alterações envolve substituição de materiais, tal

como limitação de uso de solventes.

• Substituição de materiais para redução de custos e peso dos produtos

De acordo com entrevistado, a busca por componentes cada vez mais leves e

menos custosos é de fundamental importância para o setor aeroespacial. Pesquisas

com esse foco contribuem também para o desenvolvimento de produtos

sustentáveis, dado que a redução de peso, não apenas garante maior autonomia de

vôo, como também reduz o consumo de combustível e, por conseqüência, a

Processo de Desenvolvimento de Produto

Pré-Desenvolvimento Desenvolvimento Pós-Desenvolvimento

Planejamento Estratégico dos

Produtos

Planejamento do Projeto

Projeto Informacional

Projeto Conceitual

Projeto Detalhado

Preparação da Produção

Lançamento do Produto

Acompanhar Produto Processo

Descontinuar Produto

Especificações-Meta

•Requisitos com valores-meta•Informações adicionais qualitativas

Concepção do Produto

•Arquitetura do Produto•Alternativas de Solução•Desenhos Iniciais•Plano Macroprocesso

Protótipo Avançado/Produto

Homologado

•Protótipo Funcional•Projeto dos Recursos•Plano de fim de vida

Lote Piloto Aprovado/Processo

Homologado/Produto Certificado

•Liberação da Produção•Doumentação e homologação•Espec. Proc. de produção•Espec. Proc. de manutenção

Produto Lançado

•Documento Lançamento•Espec. Proc. Vendas

•Espec. Proc. Distribuição•Espec. Proc. Assist. Técnica

Plano do Projeto

•Escopo do Projeto•Escopo do Produto•Prazos e Orçamento•Riscos Indicadores•Qualidade

Minuta do

Projeto

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94

emissão de gases poluentes. Assim como no item anterior, tais ganhos são obtidos

fundamentalmente com a substituição de materiais.

• Projetos sustentáveis em desenvolvimento atual

A empresa desenvolve diversos projetos em parcerias com outras empresas e

universidades. Atualmente, possui diversos projetos com especial foco para o

desenvolvimento de novos materiais, tais como fibras e ligas metálicas. Além

disso, merece destaque o lançamento do primeiro avião certificado e homologado

a operar com etanol, uma fonte de energia renovável.

Por fim, outro ponto bastante relevante é descarte de uma aeronave. Não se trata de

um processo simples e o mesmo está se tornando pauta de discussão, em especial, por meio da

abordagem Design for Disassembly. Vale ressaltar também que a empresa está avaliando a

possibilidade de aplicação do Life Cycle Assessment.

Certificação

A empresa mantém investimentos significativos para o desenvolvimento de seu

Sistema Integrado de Gestão do Meio Ambiente, Saúde e Segurança no Trabalho e Qualidade.

Além disso, a empresa é certificada ISO9001 e ISO14001 e OHSAS 18001.

Sustentabilidade e Cadeia de Valor

O ciclo de vida de uma aeronave é bastante longo, por volta de 30 anos. Dessa forma,

torna-se mais importante focar no período de uso do produto propriamente dito, já que essa

etapa pode potencialmente provocar os maiores impactos ambientais do produto. Além

disso, é importante ressaltar que seus fornecedores devem respeitar todas as legislações em

vigor e essas são auditadas ambientalmente e socialmente.

4.4. Proposta de modelo para classificação de empresas de acordo com

impacto ambiental

Como resultado do estudo da aplicação de metodologias sustentáveis nas empresas,

esse item tem por objetivo apresentar uma proposta para classificação das empresas de acordo

com o impacto ambiental, definido por dois eixos:

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95

• Impacto ambiental por unidade: corresponde ao impacto ambiental gerado por um

produto.

• Volume de produção: corresponde ao volume de produção de um determinado

produto em um determinado período de tempo.

Figura 34: Matriz de Impacto Ambiental (elaborado pelo autor)

Com base no esquema a seguir, são sugeridos alguns pontos a serem priorizados a

respeito da sustentabilidade de um produto, de acordo com seu impacto ambiental e seu

volume de produção.

Alto Impacto Ambiental por Unidade e Alto Volume de Produção

Área da matriz caracterizada por produtos que possuem um ciclo de vida médio, que

causam impactos ambientais relevantes, especialmente, se for levado em consideração a

quantidade de produtos comercializados. Nesse caso, é de fundamental importância, que não

apenas o processo, mas também os produtos sejam considerados prioritários para estudos de

impactos ambientais.

Dentre as empresas entrevistadas, pode-se afirmar que a empresa do setor de

eletrodomésticos encontra-se em tal quadrante.

Matriz de Impacto Ambiental

Imp

act

o A

mb

ien

tal/

Un

ida

de

Volume de Produção

Empresa

Setor

Aeroespacial

Empresa

Setor de

Equipamentos

eletrônicos

Baixo Alto

Ba

ixo

Alt

o

Foco:

•Materiais

•Otimização do

consumo de

energia no ciclo de

vida

Foco:

•Substituição de

materiais

Foco:

•Materiais

Empresa

Setor de

Eletrodomésticos

Foco:

•Materiais

•Otimização do consumo

de energia no ciclo

de vida

Empresa

Setor de Bens

de consumo

Page 96: DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS SOB UMA …pro.poli.usp.br/wp-content/uploads/2012/pubs/desenvolvimento-de... · desenvolvimento, é inquestionável ... this paper presents a study of

96 A empresa entrevistada neste quadrante prioriza a utilização de materiais reciclados

em seus produtos e enfatiza a eficiência energética, como forma de reduzir o consumo ao

longo de todo o ciclo de vida.

Alto Impacto Ambiental por Unidade e Baixo Volume de Produção

Área da matriz caracterizada por produtos que possuem um longo ciclo de vida e

apresentam um elevado valor agregado ao produto. Nesse caso, torna-se interessante que o

foco sustentável seja dado ao produto propriamente dito, ou seja, facilitação dos processos de

manutenção/reparo de componentes, facilidade de desmontagem (DfD), utilização de

materiais de menor impacto ambiental e mais leves. Nesse quadrante, as empresas também

tendem a dar grande importância ao consumo energético na fase de uso do ciclo de vida,

especialmente nos casos em que o ciclo de vida tende a ser longo. Possíveis prejuízos com

relação a problemas logísticos podem ser classificados como secundários.

Dentre as empresas entrevistadas, pode se afirmar que a empresa do setor aeroespacial

encontra-se em tal quadrante.

Baixo Impacto Ambiental por Unidade e Alto Volume de Produção

Área da matriz caracterizada por produtos que possuem ciclo de vida curto e baixo

valor agregado. Em tal situação, tornam-se mais relevantes a análise de impactos relacionados

com embalagens e distribuição, por exemplo.

Baixo Impacto Ambiental por Unidade e Baixo Volume de Produção

Área caracterizada por produtos que possuem um ciclo de vida médio e com

considerável valor agregado. De um modo geral, não costumam potencial de geração de

poluição significativo. Dessa forma, como proposto em entrevista realizada com Eppinger

apresenta em Hopkins (2010), o passo inicial para essas empresas pode ser a substituição de

materiais.

Dentre as empresas entrevistadas, pode se afirmar que a empresa do setor eletrônico

encontra-se em tal quadrante.

Page 97: DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS SOB UMA …pro.poli.usp.br/wp-content/uploads/2012/pubs/desenvolvimento-de... · desenvolvimento, é inquestionável ... this paper presents a study of

97 Como última etapa desse trabalho, é proposta a divulgação dos métodos/ferramentas

levantados durante a revisão bibliográfica, bem como as análises realizadas ao longo do

mesmo.

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98

5. Proposta de Divulgação

Como última etapa deste trabalho, propõe-se disponibilizar todo conteúdo do trabalho

desenvolvido para em um portal na Internet.

Diante de tal interesse e com o auxílio de um aluno atuando em um projeto de

iniciação científica decidiu-se pela criação de um portal na internet, cujo foco principal é

Desenvolvimento de Produtos e Sustentabilidade.

A página na internet encontra-se em fase inicial de desenvolvimento e o conteúdo aqui

presente servirá como um passo inicial para o desenvolvimento de uma grande rede de

informações e relacionamentos entre as pessoas que tenham interesse pelo assunto. Dessa

forma, pretende-se que o portal seja uma fonte de informação para que tais abordagens

possam ser aplicadas por empresas no Brasil.

Abaixo, seguem algumas imagens da página na internet16.

Figura 35: Print do item objetivos

16 Acesso através do site http://143.107.108.162:20007/ezjoomla/ em 03/11/2010.

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99

Figura 36: Print do item métodos e ferramentas (1)

Figura 37: Print do item métodos e ferramentas (2)

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100

Figura 38: Print do item métodos e ferramentas (3)

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101

6. Conclusão

Esse capítulo é composto pelo fechamento desse trabalho. Está dividido em dois itens

que apresentam os principais resultados alcançados e sugestões de outros trabalhos na área.

6.1. Comentários Finais

Esse trabalho de formatura tem por objetivo levantar as principais abordagens de

desenvolvimento de produtos sustentáveis, sistematizá-las e buscar a difusão das informações

levantadas.

Pode-se afirmar que a proposta do trabalho é cumprida, dado que o presente texto

apresenta uma ampla revisão bibliográfica com o levantamento de diversos conceitos de

sustentabilidade para o desenvolvimento de um produto, que são classificados em abordagens,

métodos/ferramentas e princípios. Dessa forma, um importante resultado do trabalho é a

organização e estruturação do conhecimento existente na área.

Além disso, cabe destacar que três das principais ferramentas (LCA, E-FMEA e E-

QFD) são sistematizadas de modo a proporcionar maior facilidade de compreensão a todas

que possam se interessar pelo assunto.

Vale destacar também que foram realizadas entrevistas para verificação de aplicação

de tais conceitos no ambiente corporativo e pode-se notar que ainda se trata de um

conhecimento em desenvolvimento nas três empresas analisadas. Por se tratarem de empresas

com bom nível de desenvolvimento gerencial e tecnológico, essa observação permite levantar

a hipótese de que a mesma situação deve ser encontrada na maior parte das empresas no

Brasil.

No caso das empresas analisadas neste estudo, apesar delas estarem diretamente

envolvidas em projetos de sustentabilidade, tais como reciclagem e ações sociais que

proporcionam benefícios à sociedade, poucas fazem a aplicam quando estão desenvolvendo

seus produtos. Em outras palavras, pode-se dizer que são programas corporativos liderados

pelo departamento de recursos humanos.

De um modo geral, é inquestionável afirmar que empresas têm um longo percurso e

potencial a ser desenvolvido nessa área e isso provavelmente não ocorrerá de maneira rápida,

já que envolve mudanças culturais e na forma de pensamento dos colaboradores da empresa.

Por se tratar de um processo de difícil implantação, torna-se ideal a realização do mesmo em

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102 etapas, iniciando pela ênfase na substituição de materiais já que isso exige alterações menos

significativas nos processos industriais e, portanto, na indústria como um todo. Nas empresas

estudadas, a substituição de materiais atuais por materiais com menor impacto ambiental é o

principal ponto comum para o desenvolvimento de produtos sustentáveis. Essa observação é

consistente com a proposta de Hopkins (2010), que considera que a substituição de materiais é

o primeiro passo para a sustentabilidade no desenvolvimento de produtos.

As entrevistas realizadas resultaram na elaboração de uma proposta para classificar as

empresas de acordo com o impacto ambiental por unidade de produto e com o volume de

produção. A classificação de acordo com essas variáveis parece permitir identificar os pontos

mais importantes para focar as iniciativas de sustentabilidade.

Por fim, cabe ressaltar que os principais tópicos relacionados com o processo de

desenvolvimento de um produto sustentável estão disponíveis no em um portal na internet,

cumprindo o objetivo de ampliar o acesso ao conhecimento da área no país, de modo simples

e eficaz.

6.2. Sugestões de Futuros Trabalhos

Ao final desse trabalho, é inegável afirmar que o tópico de sustentabilidade nas

empresas ainda pode ser consideravelmente desenvolvido e aprimorado. Dessa forma, ficam

alguns pontos que merecem destaque no tema em questão:

• Análise do estágio atual da sustentabilidade no desenvolvimento de produtos no

Brasil por meio de um estudo quantitativo

Como destacado no item anterior, os conceitos de sustentabilidade encontram-se

em fase de desenvolvimento nas três empresas analisadas, o que pode indicar que

grande parte das empresas brasileiras encontra-se na mesma situação. Dessa

forma, sugere-se a realização de um estudo quantitativo com o intuito de

determinar o atual estágio de sustentabilidade no desenvolvimento de produtos no

Brasil.

• Desenvolvimento do modelo de classificação de empresas e sua validação, visando

a definição de um modelo prescritivo

Nesse trabalho foi proposta uma forma para classificação das empresas de acordo

com o impacto ambiental por unidade de produto e com o volume de produção

denominada de Matriz de Impacto Ambiental, que permite avaliar o que deve ser

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103

avaliado para a adoção práticas sustentáveis durante o desenvolvimento de

produtos. Trata-se de uma proposta inicial que pode ser desenvolvida na busca

pela definição de um modelo prescritivo.

• Estudos de Indicadores

Um tópico que merece destaque quando se fala em desenvolvimento de produtos

sustentáveis são os indicadores. O desenvolvimento de um estudo dos mesmos

moldes nessa área auxiliaria as empresas e a população a identificarem de maneira

mais objetiva e precisa, quais produtos e processos são comprovadamente

sustentáveis.

• Página na internet

Como trabalho já iniciado sugere-se o aperfeiçoamento e a manutenção da página

na internet, que pode se tornar uma grande fonte de informações a todos os

interessados no desenvolvimento de produtos sustentáveis. Uma proposta

interessante seria a migração da atual página na internet para um Portal no site do

departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP.

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104

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108

Apêndice A – Roteiro de Entrevistas

Roteiro de Entrevista

Duração estimada: 1 hora e 30 minutos

Data:

Local:

1. Introdução

1.1.Apresentação do trabalho e em que contexto a entrevista se encaixa

2. Dados do entrevistado

2.1.Nome:

2.2.Cargo:

2.3.Dados para contato (e-mail / telefone):

3. Descrição da empresa

3.1. Descreva brevemente a empresa (linha de produtos, número de funcionários,

faturamento, entre outros)

4. A visão de sustentabilidade

4.1. Qual a visão de sustentabilidade para empresa?

4.2. Qual a área responsável? Qual o seu nível na organização?

4.3. Em quais áreas os conceitos de sustentabilidade estão presentes?

4.4. A cultura de sustentabilidade é difundida entre os funcionários?

5. Caracterização do desenvolvimento de produtos

5.1. A empresa desenvolve produtos no Brasil ou realiza adaptações de produtos para o

mercado brasileiro? Qual o grau de inovação? Cite exemplos.

5.2. Quais as macro-fases e fases de desenvolvimento de produtos são realizadas no

Brasil, com base no modelo proposto por Rozenfeld et al. (2006)?

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109

Figura 39: Modelo de Desenvolvimento de Produtos (adaptado de Rozenfeld et al. (2006))

5.3. A empresa aplica algum processo / abordagem / metodologia específicos no

desenvolvimento de produtos?

6. A sustentabilidade no desenvolvimento de produtos

6.1. Como a empresa traduz a visão de sustentabilidade no desenvolvimento de novos

produtos?

6.2. A empresa emprega algum dos métodos ou ferramentas de Ecodesign listados na

figura abaixo? Quais? A quanto tempo cada um dos métodos/ferramentas é aplicado?

Processo de Desenvolvimento de Produto

Pré-Desenvolvimento Desenvolvimento Pós-Desenvolvimento

Planejamento Estratégico dos

Produtos

Planejamento do Projeto

Projeto Informacional

Projeto Conceitual

Projeto Detalhado

Preparação da Produção

Lançamento do Produto

Acompanhar Produto Processo

Descontinuar Produto

Especificações-Meta

•Requisitos com valores-meta•Informações adicionais qualitativas

Concepção do Produto

•Arquitetura do Produto•Alternativas de Solução•Desenhos Iniciais•Plano Macroprocesso

Protótipo Avançado/Produto

Homologado

•Protótipo Funcional•Projeto dos Recursos•Plano de fim de vida

Lote Piloto Aprovado/Processo

Homologado/Produto Certificado

•Liberação da Produção•Doumentação e homologação•Espec. Proc. de produção•Espec. Proc. de manutenção

Produto Lançado

•Documento Lançamento•Espec. Proc. Vendas

•Espec. Proc. Distribuição•Espec. Proc. Assist. Técnica

Plano do Projeto

•Escopo do Projeto•Escopo do Produto•Prazos e Orçamento•Riscos Indicadores•Qualidade

Minuta do

Projeto

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110

Figura 40: Quadro Resumo de Abordagens, Ferramentas e Princípios (elaborado pelo autor)

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111

6.3. A empresa utiliza algum outro método / ferramenta de Ecodesign não listado na

figura? Quais? Como é empregado?

6.4. Poderia citar benefícios e dificuldades da aplicação dos métodos e ferramentas que

você utiliza?

7. Certificações

7.1. Como vocês procuram evidenciar a sustentabilidade para o mercado consumidor?

7.2. A empresa possui algum tipo de certificação relacionada com sustentabilidade?

ISO14000?

7.3. A empresa divulga relatório social?

8. Sustentabilidade na cadeia de valor

8.1. A empresa procura integrar os conceitos de sustentabilidade ao longo de toda a

cadeia de suprimentos (logística, fornecedores, distribuidores, etc)? De que forma?