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DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Desenvolvimento da Forma Farmacêutica Suspensão à Base de
Benznidazol para Utilização no Tratamento da Doença de Chagas
ANA LUIZA MAURER DA SILVA
RECIFE - 2006
SILVA, A.L.M. 1
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Desenvolvimento da Forma Farmacêutica Suspensão à Base de
Benznidazol para Utilização no Tratamento da Doença de Chagas
Dissertação de Mestrado submetida ao Pro-
grama de Pós – Graduação do Departamento
de Ciências Farmacêuticas do Centro de Ci-
ências da Saúde da Universidade Federal de
Pernambuco, em cumprimento às exigências
para obtenção do grau de Mestre em Ciências
Farmacêuticas.
Área de Concentração: Produção e Controle
de Qualidade de Medicamentos.
ANA LUIZA MAURER DA SILVA
Orientador: Professor Dr. Pedro José Rolim Neto
RECIFE - 2006
SILVA, A.L.M. 2
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
Silva, Ana Luiza Maurer da
Desenvolvimento da forma farmacêutica suspen-são à base de benznidazol para utilização no trata-mento da doença de chagas / Ana Luiza Maurer da Silva. – Recife: O Autor, 2006.
xv 68 folhas : il., tab., fig.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal
de Pernambuco. CCS. Ciências Farmacêuticas, 2006.
Inclui bibliografia, anexo.
1. Benznidazol - Suspensão . 2. Doença de chagas - Tratamento. I. Título.
615.07 CDU (2.ed.) UFPE 615.1 CDD (20.ed.) CCS2006-030
SILVA, A.L.M. 3
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
REITOR
Amaro Henrique Pessoa Lins
VICE-REITOR
Gilson Edmar Gonçalves e Silva
PRÓ-REITOR DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Celso Pinto de Melo
DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
José Thadeu Pinheiro
VICE-DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Márcio Antônio de Andrade Coelho Gueiros
COORDENADORA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Miracy Muniz de Albuquerque
VICE-COORDENADOR DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTI-
CAS
Pedro José Rolim Neto
SILVA, A.L.M. 4
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Dedico este trabalho a todos que eu amo, admiro e
que sempre me incentivaram.
Á Deus por sempre ter me dado fé.
Aos meus pais por terem me dado à vida e por
sempre me ensinarem o caminho da verdade.
Aos meus irmãos, por sempre me apoiarem.
Aos meus avós, que através da simplicidade dos seus
conhecimentos sempre deram muito valor ao estudo.
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AGRADECIMENTOS Á Deus, por ter me dado muita saúde, disposição, fé, alegria de viver. Por ter si-
do sempre meu eterno companheiro de todas as horas.
Aos meus pais, por terem me dado à vida, por sempre terem demonstrado de
forma tão espontânea e forte o amor que sentem por mim. Por sempre estarem presen-
tes, me incentivando, me dando apoio. Aos meus irmãos que sempre tiveram tão presen-
tes em minha vida e que amo tanto, muito obrigado.
Ao meu orientador, Professor Dr. Pedro Rolim, pela sua amizade, pelos seus en-
sinamentos, pelo acolhimento no grupo LTM (Laboratório de Tecnologia dos Medica-
mentos) e por ter me incentivado a pesquisa acadêmica.
Á Flávia Morais e Rosali Ferreira, por fazerem parte deste projeto, e por serem
companheiras, amigas de todas as horas e também pelos ensinamentos, os quais foram
de grande importância para o desenvolvimento desta pesquisa.
Ao Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE®), nas pesso-
as do senhor Presidente Dr. Luiz Alexandre Almeida e o senhor Diretor Técnico Dr.
Leduar Guedes de Lima, por acreditarem na pesquisa e por disponibilizarem materiais e
equipamentos que foram necessários para este estudo. Também agradeço aos estagiários
da Coordenadoria e Pesquisa do LAFEPE®, pelo apoio e incentivo, em especial a Álva-
ro Celmer e ao funcionário Jafe Xavier, por terem feito parte desta pesquisa; aos fun-
cionários do Controle de Qualidade do LAFEPE®, em especial Selma, Ana, e Janaina de
Oliveira. Aos demais setores por terem de alguma forma colaborada com o andamento
desta pesquisa.
Aos alunos que fazem parte do grupo de pesquisa LTM, em especial a José La-
martine Sobrinho, por fazer parte deste projeto de pesquisa e por sempre ter me apoiado
e incentivado.
Ao carinho e colaboração dos meus colegas de Mestrado, em especial Roseane,
Zênia, Youssef, Silvia, Laurimar, Valdeluce, Elisângela, Viviane e Thompson.
Aos professores de Mestrado, pelo ensinamento e incentivo a pesquisa. As secre-
tárias que fazem e fizeram parte do departamento de Pós-Graduação em Ciências Far-
macêuticas em especial Maria da Conceição, Iguaci, Célia e ao secretário Geilson.
Á Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), através do Excelentíssimo Rei-
tor professor Amaro Henrique Pessoa Lins, por ter proporcionado o meu crescimento
como pessoa, como pesquisadora e por ter disponibilizado de forma gratuita o Mestrado
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em Ciências Farmacêuticas e também por disponibilizar equipamentos e bibliotecas
necessárias para a pesquisa.
Á Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rio grande do Sul, através do
Excelentíssimo Reitor professor Clóvis de Lima, por ter me dado o ensino de Gradua-
ção gratuito em Farmácia, habilitação em Indústria, necessário para hoje eu estar alme-
jando o título de Mestre na Universidade Federal de Pernambuco.
Á Pharmapele - Farmácia de Manipulação, através da Presidente Dra. Luisa Sal-
danha, pelo carinho, acolhimento e a colaboração para meu crescimento profissional.
Á Elisângela, Chico e família Moura, Josélia e família, Kévia, Cristina, Patrícia
Firmino, Talita, Osnir, Vandessa, Paulinho, Augusto César Queiroz de Carvalho e famí-
lia, Rosângela, Socorro Menezes, Geisiane Presmich, Fabíola Lima, Diogo Macedo,
Leonardo, Carlos Siqueira, Cíntia, Carmen, Daniela, João, Valderez, Thereza, Ellis,
Flailza, Maria Luiza, Ozéias, George, Züge, Simone, Karla Emmanuele, Diana, Sumaia,
Aline, Arnaldo, Magna, Gilberto, Denício, Rosa Bacelar, Imaruí, Ubiratan Tupinambá
da Costa, Daniela, Júnior Ceará, Danilo, Felipe (“Frei”), Carol/Maga, Adigalene Rodri-
gues, Tiago, amigos de Ijuí, e muitos outros amigos que sempre me receberam muito
bem aqui no estado de Pernambuco e amigos de outros estados que não esqueceram de
mim e sempre estiveram presentes em minha vida.
Aos meus familiares pelo carinho, torcida, preocupação que sempre demonstra-
ram por mim, em especial vovós Hilda e Thereza, vovôs Carlos Maurer (in memória) e
Pedro Araújo, tios, primos, afilhados (Amanda, Eduardo e Otávio).
Aprendi que na vida escrevemos capítulos das nossas histórias, passamos por vá-
rias estações, que são as que o trem da vida nos conduz. Neste meu capítulo e nesta mi-
nha estação, venho agradecer a cada um dos personagens, tantos os principais como os
coadjuvantes que fizeram e fazem parte dela.
SILVA, A.L.M. 8
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“Acredite em você mesmo. No poder que você tem para controlar sua própria vida,
dia após dia, acredite na força que você tem dentro de você mesmo, e sua fé ajuda-
rá a lhe mostrar o caminho... tudo vai dar certo se você confiar e acreditar que não
há limites no que se pode fazer”.
Anônimo.
SILVA, A.L.M. 9
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SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS x
LISTA DE TABELAS xi
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS xii
LISTA DE SÍMBOLOS xiii
RESUMO xiv
ABSTRACT xv
INTRODUÇÃO 16
JUSTIFICATIVA 18
OBJETIVOS 19
CAPÍTULO I. Revisão da Literatura
Doença de Chagas - da Descoberta ao Desenvolvimento de Novas Formas
Farmacêuticas
20
CAPÍTULO II. Desenvolvimento e Validação de Metodologia Analítica
para Matéria-Prima e Produto Acabado
34
CAPÍTULO III. Desenvolvimento da Forma Farmacêutica Suspensão à
Base de Benznidazol 2%
50
CONCLUSÃO 64
PERSPECTIVAS 65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 66
ANEXOS 68
SILVA, A.L.M. 10
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LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO I. Revisão da Literatura Doença de Chagas - da Descoberta ao Desenvolvimento de Novas Formas Farma-cêuticas Figura 1.1. Países endêmicos de Chagas 22
Figura 1.2. Ciclo de vida do vetor no inseto e humano 24
Figura 1.3. Barbeiro e casa de pau-a-pique 25
Figura 1.4. Estrutura molecular do Benznidazol 26
SILVA, A.L.M. 11 x
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LISTA DE TABELAS CAPÍTULO II. Desenvolvimento e Validação de Metodologia Analítica para Ma-
téria-Prima e Produto Acabado
Artigo 2 – Desenvolvimento de método analítico por CLAE em comprimidos de Benz-
nidazol para a Doença de Chagas
Tabela 2.1. Robustez com relação à proporção da fase Anexo I
Tabela 2.2. Robustez com relação à variação do fluxo Anexo I
Tabela 2.3. Robustez com relação à variação do tipo de agitação Anexo I
Tabela 2.4. Resultados da Precisão Intermediária – 1° Dia Anexo I
Tabela 2.5. Resultados da Precisão Intermediária – 2° Dia Anexo I
CAPÍTULO III. Desenvolvimento da Forma Farmacêutica Suspensão à Base de Benznidazol 2% Tabela 3.1. Definição do Agente Aromatizante Anexo II
Tabela 3.2. Resultados de Viscosidade e pH (Lote de Bancada 16) Anexo II
Tabela 3.3. Doseamento do Lote de Bancada 16 Anexo II
Tabela 3.4. Resultados da descrição, pH e Doseamento (Pó para 150,0 mL)
Anexo II
Tabela 3.5. Repartição granulométrica do Benznidazol Anexo II
SILVA, A.L.M. 12 xi
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Abs Absorvância
AIDS Acquired Immunodeficiency Syndrome
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BPFC Boas Práticas de Fabricação e Controle
CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência
CMC Celulose Microcristalina
COP&D Coordenadoria de Pesquisa e Desenvolvimento
COQUA Coordenadoria da Qualidade
cP Centipoise
DATASUS Departamento de Informação e Informática do SUS
DNDi Drugs for Neglected Diseases initiative
HIV Human Immunodeficiency Vírus
HPLC High Performance Liquid Cromatography
LAFEPE Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco
LB Lote de Bancada
LD Limite de Detecção
LQ Limite de Quantificação
LTM Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos
min Minuto
OMS Organização Mundial de Saúde
OPAS Organização Pan-Americana de Saúde
PB Paraíba
PE Pernambuco
qsp quantidade suficiente para
rpm rotações por minuto
SUCEN Superintendência de Controle de Endemias
SUS Sistema Único de Saúde
UFPB Universidade Federal da Paraíba
UFPE Universidade Federal de Pernambuco
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
WHO World Health Organization
SILVA, A.L.M. 13 xii
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LISTA DE SÍMBOLOS
® Marca registrada
% Porcentagem
mg Miligrama
Kg Kilograma
mL Mililitro
nm Nanômetro
µg Micrograma
λ Comprimento de onda
g Grama
L Litro
14xiii SILVA, A.L.M.
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RESUMO Desenvolvimento da Forma Farmacêutica Suspensão à Base de Benznidazol para
Utilização no Tratamento da Doença de Chagas
A Doença de Chagas ou tripanossomíase americana é uma doença endêmica e negligen-
ciada exclusiva do continente americano, principalmente América Central e América do
Sul. Estimativas apontam entre 16 a 18 milhões de pessoas infectadas pelo Trypanoso-
ma cruzi. O benznidazol é, atualmente, o ativo quimioterapeuticamente ativo contra o T.
cruzi. Até 2003 os comprimidos de benznidazol eram produzidos pelo grupo farmacêu-
tico Suíço Roche®, com o nome de Rochagan®, a partir deste ano teve sua tecnologia
transferida para o Governo Brasileiro, onde o Laboratório Farmacêutico do Estado de
Pernambuco (LAFEPE®) passou a ser o seu produtor mundial. O presente trabalho tem
como objetivo apresentar o desenvolvimento farmacotécnico da forma farmacêutica
suspensão a base de benznidazol 2%, baseado em uma planificação qualitativa e quanti-
tativa dos excipientes para realização de testes de bancada visando à obtenção de uma
forma farmacêutica com qualidade e baixo custo, que possa a vir a facilitar a adminis-
tração de dosagens para pacientes pediátricos e geriátricos. Para tanto foi necessário o
desenvolvimento e validação de metodologia analítica para matéria-prima e produto
acabado comprimidos e suspensão, tanto por Espectrofotômetro, como por Cromatogra-
fia Líquida de Alta Eficiência (CLAE), obedecendo aos parâmetros estabelecidos na
Resolução - RE n° 899 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A sus-
pensão de benznidazol desenvolvida apresentou boa qualidade e a suspensão pó extem-
porâneo encontra-se em estudo de estabilidade. Este estudo foi realizado em parceria
com o Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos do Departamento de Ciências
Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Laboratório Farma-
cêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE®).
Palavras-chave: Benznidazol, Suspensão, doença de Chagas, Método Analítico.
SILVA, A.L.M. 15 xiv
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
ABSTRACT
Development of the Pharmaceutical Form Benznidazol-Based Suspension for Use
in the Treatment of Chagas’ Disease
Chagas’ Disease or American trypanosomiasis is an endemic disease and exclusive ne-
glectfulness of the American continent, mainly Central America and South America.
Estimates allege that between 16 and 18 million people are infected by Trypanosoma
cruzi. Benznidazol is currently the chemotherapeutically active ingredient against T.
cruzi. Until 2003, benznidazol tablets were produced by the Swiss pharmaceutical group
Roche®, under the name of Rochagan®. Since this year its technology has been trans-
ferred to the Brazilian Government, where the Laboratório Farmacêutico do Estado de
Pernambuco [Pharmaceutical Laboratory of the State of Pernambuco] (LAFEPE®) has
become its world producer. The present work has an objective to present the pharma-
cotechnical development of the pharmaceutical form 2% benznidazol-based suspension,
based on a qualitative and quantitative excipient planning for the execution of bench-
marking tests aiming at the acquisition of a quality and low cost pharmaceutical form,
which may facilitate the administration of doses to pediatric and geriatric patients. For
this reason the development and validation of the analytical methodology for raw mate-
rial and finished product in tablets and suspension, through Spectrophotometer, as well
as through High Performance Liquid Chromatography (HPLC), complying with the
parameters established in Resolution – RE no. 899 of the National Sanitary Surveillance
Agency (ANVISA). The developed benznidazol suspension presented good quality and
the extemporaneous powder suspension is found under stability study. This study was
performed in association with the Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos do De-
partamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
[Drug Technology Laboratory of the Pharmaceutical Sciences Department of the Fed-
eral University of Pernambuco] and the Laboratório Farmacêutico do Estado de Per-
nambuco (LAFEPE®).
Key-words: Benznidazol, suspension, Chagas’ disease, Analytical Method.
SILVA, A.L.M. 16 xv
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
INTRODUÇÃO
A doença de Chagas foi descoberta em 1909 por Carlos Ribeiro Justiano das
Chagas, Carlos Chagas, no interior do estado de Minas Gerais (SCLIAR, 2002; MAL-
TA, 1996; NEVES, 2005). É uma parasitose tecidual e hemática, endêmica em amplas
regiões da América, cujo agente etiológico é o Trypanosoma cruzi e afeta cerca de 20
milhões de pessoas na América Latina (NEVES, 2005).
No Brasil a transmissão já chegou a corresponder a 36% do território, que se
estendia em uma área desde o Maranhão ao Rio Grande do Sul (SILVA, 2004; OPAS,
2006). A via de transmissão vetorial já foi considerada a principal e hoje a via transfusi-
onal vem ganhando importância nos grandes centros urbanos pelo o advento da AIDS
(Síndrome de Imunodeficiência Adquirida) (NEVES, 2005; MALTA, 1996; BRENER,
2000).
A doença de Chagas é o exemplo mais do que típico e apropriado de uma injúria
orgânica resultante das alterações produzidas pelo ser humano ao meio ambiente, das
distorções econômicas e das injunções sociais (DNDi, 2006). Sendo, portanto um pro-
blema inteiramente ligado na área de Saúde Pública, mas que infelizmente é classificada
pela Organização Mundial de Saúde como uma doença negligenciada (WHO, 2006).
Apesar de serem criadas e adotadas em várias regiões endêmicas, medidas profi-
láticas, ainda existem poucos estudos no que se refere ao tratamento da doença, muito se
deve a falta de investimento dos setores privados e públicos (DNDi, 2006).
Mas apesar das dificuldades e da falta de interesse por parte dos governantes
existe um número expressivo de pesquisadores e cientistas, principalmente latino ameri-
canos, que não medem esforços para tentar reverter o quadro endêmico existente.
No Brasil, existem grupos de pesquisadores que investigam o genoma do proto-
zoário causador da doença de Chagas e trabalham na criação de vacinas. Assim como
também existem grupos de pesquisadores que buscam alternativas para o tratamento da
doença através do desenvolvimento de novas drogas ou de novas formas farmacêuticas.
O Benznidazol (Rochagan®) é um nitroimidazol (KOROLKOVAS, 1988; GO-
ODMAN, L.S. & GILMAN, 1996), que vem sendo usado desde 1973 e tem efeito tri-
panossomicida e pode erradicar por completo as formas amastigotas (NEVES, 2005;
REY, 2002). No final do ano passado o grupo farmacêutico suíço Roche®, detentor da
patente do Benznidazol anunciou a doação dos direitos de patente e tecnologia do medi-
camento para o governo brasileiro (fato histórico para o grupo). E no Brasil o produto
SILVA, A.L.M. 17
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
passou a ser desenvolvido no Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco –
LAFEPE®, passando a ser o único produtor mundial do medicamento (NEVES, 2005;
ROCHE®, 2004; WEBMEDICOS, 2004).
Buscando inovar e facilitar a deglutição, bem como a flexibilidade da adminis-
tração de diferentes doses para o público alvo da pediatria e geriatria (ANSEL, 2000;
LACHMANN, 2001; AULTON, 2005), optou-se por trabalhar com a forma farmacêuti-
ca líquida suspensão.
As suspensões são sistemas heterogêneos constituídos por duas fases. A fase
contínua, a qual é normalmente líquida ou um semi-sólido, e a fase dispersa é constituí-
da por partículas sólidas que são insolúveis na fase contínua, mas que se dispersam nela
(LACHMANN, 2001).
Para o estudo foram necessários vários testes de bancada da suspensão de benz-
nidazol, onde se observou o comportamento do princípio ativo frente aos excipientes
utilizados para as suspensões líquidas e extemporâneas, visando obter uma suspensão
que tivesse além de eficácia terapêutica, estabilidade química dos componentes e do
preparo, boa aparência, e também foi analisado o processo de sedimentação, preocupou-
se com o tamanho de partícula e a rapidez e a uniformidade de escoamento (ANSEL,
2000).
Este estudo procurou seguir etapas preconizadas pelos órgãos reguladores, vi-
sando atender as Boas Práticas de Fabricação e Controle (BPFC). Também foi necessá-
rio buscar uma alternativa para análise de doseamento do principio ativo, para tanto foi
necessário o desenvolvimento e validação de metodologia analítica para matéria-prima e
produto acabado de comprimidos e suspensão, tanto por Espectrofotômetro, como por
Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE), obedecendo aos parâmetros estabe-
lecidos na Resolução - RE n° 899 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVI-
SA) (BRASIL, 2003).
O estudo foi realizado em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) e o Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE®), o qual
será o único produtor mundial de Benznidazol nos próximos anos.
SILVA, A.L.M. 18
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
JUSTIFICATIVA
A tripanossomíase americana, ou doença de Chagas é comum em todos os 17
países das Américas Central e do Sul. Do México ao Chile, ela ameaça um quarto da
população da América Latina. Estima-se que 18 milhões de pessoas estejam vivendo
com o parasita no sangue e cerca de 100 milhões de pessoas estejam sob risco de infec-
ção em 21 países das Américas Latina e Central.
Mesmo após 90 anos de sua descoberta a doença de Chagas é considerada pela
Organização Mundial de Saúde negligenciada e preocupante devido aos malefícios cau-
sados no organismo de pacientes chagásicos. Isso vem a demonstrar que o progresso da
ciência não foi igualmente distribuído ao redor do mundo, pois ao mesmo tempo em que
medicamentos sofisticados são desenvolvidos para uma grande variedade de doenças,
outras têm sido progressivamente marginalizadas pelos programas de pesquisa.
Buscando mudar esta mentalidade e tentando auxiliar o paciente Chagásico na
adesão ao tratamento da doença é que o Laboratório de Tecnologia de Medicamentos
(LTM), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Laboratório Farmacêutico
do Estado de Pernambuco (LAFEPE®) se propuseram a trabalhar no desenvolvimento
de uma nova forma farmacêutica utilizando o ativo Benznidazol.
O desenvolvimento de uma forma farmacêutica líquida contendo Benznidazol é
de grande importância para o tratamento de pacientes chagásicos, principalmente para
pacientes pediátricos e geriátricos por geralmente apresentarem dificuldade de degluti-
ção. A forma farmacêutica líquida suspensão visa facilitar a deglutição e flexibilizar a
administração de diferentes doses, principalmente em relação ao peso corpóreo do paci-
ente pediátrico.
As perspectivas para esta região e para o país são bastante relevantes no que se
refere ao desenvolvimento racional de medicamentos. Além de consolidar as parcerias
industriais internacionais e nacionais, além das existentes com centros de pesquisa pú-
blicas e privadas.
SILVA, A.L.M. 19
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
OBJETIVOS
Objetivo Geral
� Tecnologia de obtenção da forma farmacêutica suspensão à base de Benznida-
zol.
Objetivos Específicos
� Desenvolver a forma farmacêutica suspensão de Benznidazol;
� Definir as análises dos parâmetros de controle de qualidade para matéria-prima
e produto acabado;
� Desenvolver e validar Método Analítico por Espectrofotometria de Ultra Viole-
ta e por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE);
� Desenvolver estudo de estabilidade do produto farmacêutico na forma suspen-
são.
SILVA, A.L.M. 20
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
CAPÍTULO I
Revisão da Literatura
DOENÇA DE CHAGAS - DA DESCOBERTA AO DESEN-
VOLVIMENTO DE NOVAS FORMAS FARMACÊUTICAS
SILVA, A.L.M. 21
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
REVISÃO DA LITERATURA
DOENÇA DE CHAGAS - DA DESCOBERTA AO DESENVOLVIMENTO DE
NOVAS FORMAS FARMACÊUTICAS
1. A Descoberta da doença de Chagas
A doença de Chagas ou tripanossomíase americana foi descoberta pelo médico sani-
tarista Carlos Chagas, em 1909 em um vilarejo chamado Lassance, no sertão mineiro.
Por este vilarejo passava um trecho da Estrada de Ferro Central do Brasil, a qual se pro-
punha unir, por ferrovia, o norte e o sudeste do Brasil, de Belém do Pará ao Rio de Ja-
neiro. As obras estavam paralisadas, por causa da habitual malária, que mais tarde Cha-
gas descobriu que se tratava de outra doença e se caracterizava pelas palpitações, sensa-
ção que os corações das pessoas doentes não batiam normalmente, mais tarde chamada
de doença de Chagas (SCLIAR, 2002; COLETÂNEA, 1981; NEVES, 2005; SILVA,
2004).
Por volta do dia 14 de fevereiro de 1909, Chagas confirmou a infecção de seres hu-
manos através de uma menina de 2 anos, Berenice. A menina apresentava febre alta e
inchume no rosto e no corpo, e após exame microscópico do sangue da doente, obser-
vou a presença de Tripanosoma cruzi. Era o primeiro caso em que se comprovava a
associação do parasito com a doença, desta forma Carlos Chagas pode descrever o agen-
te causador, o transmissor e o modo de transmissão da doença, como também compro-
var a existência de vertebrados que são reservatórios silvestres e domésticos do parasita,
esclarecendo assim os aspectos básicos da epidemiologia da doença (SCLIAR, 2002;
COLETÂNEA, 1981; SILVA, 2004).
2. Doença de Chagas no Mundo
A doença de Chagas começou a sua expansão no final do século XIX e alcançou
seu pico no final do século XX. Hoje a doença de Chagas é endêmica e exclusiva do
continente americano (OPAS, 2006), principalmente América Central e América do Sul
(figura 1), a tal ponto que estimativas apontam entre 16 a 18 milhões (BRASIL, 2004;
COURA, 2002; DIAS, 2004) de pessoas infectadas pelo Trypanosoma cruzi. Estima-se
que estão infectados por T. cruzi 7% da população na Argentina, 22% na Bolívia, e
1,3% do total da população no Brasil, sendo 4,2% da população rural em 1995 (NE-
VES, 2005; OLIVEIRA, 2004).
SILVA, A.L.M. 22
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
Figura 1.1. Países endêmicos de Chagas
(Fonte: www.dndi.org.br/imagens/mapa_doenca_chagas.jpg).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-
Americana de Saúde (OPAS) a doença de Chagas é considerada uma doença negligen-
ciada, pois a doença afeta milhares de pessoas ao redor do mundo, mas não dispõe de
tratamentos eficazes ou adequados (OPAS, 2006; WHO, 2006). Já o DNDi (Drugs for
Neglected Diseases initiative) considera a doença de Chagas uma doença “extremamen-
te negligenciada”, pois os pacientes são tão pobres que praticamente não possuem poder
de compra, e nenhuma manipulação das forças de mercado poderá estimular o interesse
das empresas farmacêuticas (DNDi, 2006).
3. Doença de Chagas no Brasil
No Brasil, a doença de Chagas Humana atinge cerca de 36% do território nacio-
nal, afetando mais de 2.450 municípios que se estendem desde o Maranhão ao Rio
Grande do Sul (SILVA, 2004; OPAS, 2006). Na Amazônia e no Pará são muito comuns
em animais silvestres, porém com as modificações ecológicas pode vir a se tornar um
problema (NEVES, 2005).
Recentemente, os veículos de imprensa e a Agência Nacional de Vigilância Sa-
nitária (ANVISA) noticiaram de forma bastante expressiva os casos de transmissão de
doença de Chagas constatados no litoral de Santa Catarina. Eles foram identificados
pela Vigilância Epidemiológica do estado (BRASIL, 2005). Trazendo assim uma reper-
cussão muito grande em torno da doença e principalmente em torno do meio de trans-
SILVA, A.L.M. 23
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
missão por via oral (TERRA, 2005). Mesmo observando casos isolados no Brasil, nas
duas últimas décadas do século passado, houve consideráveis avanços no controle da
doença de Chagas, não somente com ações voltadas no combate vetorial, como também
no que se refere à transmissão transfusional. Sinalizando, positivamente, para a eficácia
das ações adotadas, tornarem-se cada vez mais raro o encontro de pacientes na fase a-
guda (MALTA, 1996).
No mês de junho de 2006 o Ministro da Saúde, Agenor Álvares, recebeu a Certi-
ficação Internacional de Eliminação da Transmissão da Doença de Chagas pelo Triato-
ma infestans, conferida pela OPAS ao Brasil. Primeiro país da América Latina a ter
controle sobre a doença, o Brasil vira uma página ao superar um grave problema de sa-
úde pública, uma vez que, até então, o Triatoma infestans, conhecido popularmente co-
mo "barbeiro", era o principal vetor de transmissão da doença no país (BRASIL, 2006).
No Brasil tem se visto interesse isolado por pesquisa em relação à doença de
Chagas. Em Salvador pesquisadores têm trabalhado com implante de células-tronco em
pacientes chagásicos. Em Pernambuco, existe um importante centro que trata pacientes
chagásicos. A doença e o tratamento, também tem sido tema de dissertação de mestrado
e tese de doutorado em várias Universidades do país (OLIVEIRA, 2005; BRASIL,
2006).
4. Mecanismo de transmissão
A doença de Chagas caracteriza-se por três fases: aguda, intermediária e crônica.
E os mecanismos de transmissão são vários: pelo vetor (figura 2); principalmente por
um inseto sugador de sangue, o triatomíneo vulgarmente conhecido por “barbeiro”,
“chupão” ou “fincão”, pode também vincular-se de homem para homem através de
transfusão de sangue, por via placentária (congênita), por transplante de órgãos, por
acidentes em laboratório e por outras vias excepcionais, como a oral (SILVA, 2004;
MALTA, 1996; ABC DA SAÚDE, 2004; GARCIA, 2004; REY, 2002).
SILVA, A.L.M. 24
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
Figura 1.2. Ciclo de vida do vetor no inseto e humano
(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Doen%C3%A7a_de_Chagas).
A doença na sua fase aguda pode ser sintomática ou assintomática, esta é mais
freqüente. Ambas estão relacionadas com o estado imunológico do hospedeiro. Há pre-
domínio da forma aguda sintomática na infância, levando à morte em cerca de 10% dos
casos devido principalmente a meningoencefalite e mais raramente à falência cardíaca
devido à miocardite aguda difusa, uma das mais violentas que se cita. Após a fase agu-
da, os doentes passam por um longo período assintomático (10 a 30 anos). Esta fase é
chamada de fase de latência ou indeterminada. Mais de 50% dos pacientes chagásicos
que tiveram a fase aguda pertencem a esta forma. A fase crônica sintomática ocorre com
muitos chagásicos assintomáticos por vários anos e com o tempo apresentam sintomato-
logia relacionada com o sistema cardiocirculatório (forma cardíaca), digestivo (forma
digestiva – “mal do engasgo” e a “prisão de ventre”), ou ambos (NEVES, 2005).
SILVA, A.L.M. 25
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
5. Profilaxia
A profilaxia da doença de Chagas esta intimamente ligada à melhoria das condi-
ções de vida da população, principalmente nas áreas rurais. Isso inclui nas melhores
condições de habitação (muitas pessoas vivem em casas de pau-a-pique ou taipa sem
reboco, favorecendo o barbeiro); no combate aos barbeiros dentro da casa, através da
limpeza de colchões, baús, armários e uso de inseticidas; na fiscalização e controle de
qualidade de bancos de sangue; no controle de transmissão congênita (NEVES, 2005;
MALTA, 1996).
Figura 1.3. Barbeiro e casa de pau-a-pique
(Fonte: www4.prossiga.br/chagas/doenca/barbeiro.jpg)
6. Terapêutica Etiológica
O tratamento etiológico da doença de Chagas em bases racionais, só começou a
ser investigado cerca de meio século depois da descoberta da moléstia, após a reunião
de debates realizada no Rio de Janeiro, de 19 a 21 de março de 1962, com a participação
de grande número de pesquisadores brasileiros e de representantes da indústria farma-
cêutica, segundo Cançado (BRENER, 2000).
Para o tratamento da doença de Chagas muitos medicamentos foram experimen-
tados contra o Trypanosoma cruzi, dentre eles antibióticos, aminoquinoleínas, arsenicais
entre outros. Todos se mostraram insatisfatórios (MALTA, 1996).
Descobriu-se que os nitrofuranos eram ativos contra o Trypanosoma cruzi e a
administração prolongada da nitrofurazona impede o desenvolvimento da infecção ex-
perimental no camundongo (BRENER, 2000).
Dois medicamentos mostraram-se ativos e foram empregados na doença huma-
na: o nifurtimox (Lamit, Bayer®) e o Benznidazol (Rochagan, Roche®) (GOODMAN,
SILVA, A.L.M. 26
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
1996; FERREIRA, 1990). O primeiro depois de amplamente usado no Brasil e em ou-
tros países latino-americanos, foi retirado do mercado farmacêutico (BRENER, 2000).
Hoje apenas o Benznidazol é utilizado para o tratamento etiológico da doença de
Chagas, segundo Cançado (BRENER, 2000) e de acordo com Neves (NEVES, 2005) foi
verificado que na fase aguda da doença os índices de cura foram até 70 %, além de
36,5% em pacientes crônicos com o uso deste medicamento.
7. Benznidazol
Em 1968, Grunberg e colaboradores publicaram um trabalho sobre um derivado
2-nitroiimidazólico (BRENER, 2000; BRASIL, 2004; KOROLKOVAS, 1988, FAR-
MACOPÉIA BRASILEIRA, 1988) (N-benzil-2-nitro-1-imidazolacetamida, representa-
do na figura 4) quimioterapeuticamente ativo contra T. cruzi. Esse fármaco, produzido
pela Hoffman-La Roche sob denominação de Rochagan®, foi introduzido na Argentina
(é conhecido como Radanil®, BRENER, 2000) e no Brasil em 1978. Estudos feitos su-
gerem que o mecanismo de ação do Benznidazol envolve uma diminuição da síntese de
proteínas, redução de incorporação dos precursores de RNA e diminuição da incorpora-
ção de timidina em DNA (BRENER, 2000).
Figura 1.4. Estrutura molecular do Benznidazol
É bem absorvido pela via digestiva, eliminado principalmente por biotransfor-
mação, a maior parte excretada pela urina, mas apenas pequena porção sob forma inalte-
rada. O benznidazol pode apresentar algumas reações adversas como dermatite por hi-
persensibilidade, depressão da medula óssea e polineuropatia periférica (BRENER,
2000; BPR, 2003).
Os comprimidos de benznidazol presentes no mercado até então apresentavam
ranhaduras em cruz, cada um com 100 mg de substância ativa (BRENER, 2000).
O esquema terapêutico em crianças de 5 a 10 mg/Kg de peso corpóreo por dia
(7,5 mg/Kg/dia), durante 60 dias consecutivos, fracionada a dose diária em duas toma-
SILVA, A.L.M. 27
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
das (de 12 em 12 horas), ou em três de (8 em 8 horas), segundo Cançado (BRENER,
2000). Já Jarbas Malta diz que a dose diária deve ser de 5 a 7 mg/Kg de peso corpó-
reo/dia por um período que vai de 30 a 60 dias (MALTA, 1996). Em crianças usa-se
doses maiores de até 10 mg/Kg peso/dia, no início de tratamento, até os 15 primeiros
dias (MALTA, 1996; SILVA, 2002).
Em adultos, 5 mg/Kg de peso corpóreo por dia, durante 60 dias, em duas toma-
das (de 12 em 12 horas), ou três (de 8 em 8 horas), é o esquema mais tolerável (BRE-
NER, 2000).
No final de 2003, o grupo Farmacêutico Suíço Roche®, detentor da patente do
Benznidazol anunciou a doação dos direitos de patente e de tecnologia do medicamento
para o governo brasileiro (fato histórico para o grupo). E no Brasil o produto passou a
ser desenvolvido no LAFEPE®, passando a ser o único produtor mundial do medica-
mento (ROCHE, 2004; WEBMEDICOS, 2004).
7.1. Benznidazol – Forma Farmacêutica Sólida – Comprimidos
Após 90 anos da descoberta de Carlos Chagas, temos como tratamento etio-
lógico apenas como escolha, o até então denominado Rochagan®, e que até então apre-
sentava uma única forma farmacêutica disponível no mercado, a forma farmacêutica
sólida - comprimido (MALTA, 1996; BRENER, 2000; DIAS, 2005).
7.2. Benznidazol – Forma farmacêutica líquida – Suspensão e Suspensão extem-
porânea
Acreditando atender da melhor forma possível, os pacientes chagásicos pedi-
átricos até pacientes idosos o LAFEPE® em parceria com LTM (Laboratório Tecnológi-
co de Medicamentos, da UFPE) tem procurado trabalhar de forma intensiva no processo
de viabilização de uma formulação adequada tanto na forma farmacêutica de liberação
prolongada, quanto na forma farmacêutica líquida (CELMER, 2005).
8. Perspectivas
As infecções por protozoários são comuns em habitantes de países tropicais e
subtropicais subdesenvolvidos, onde as condições sanitárias, a higiene e o controle de
vetores de transmissão são inadequados (HARVEY, 1998).
SILVA, A.L.M. 28
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
O controle da transmissão da doença de Chagas por inseticidas de longa duração,
o aperfeiçoamento do processo de transfusão de sangue e a drástica redução da popula-
ção rural têm permitido a interrupção dessa enfermidade em largas áreas do continente
Americano. Apesar desta conquista, permanecem milhões de pacientes chagásicos que
necessitam atenção médica e tratamento específico (BRENER, 2000). Muitos são os
esforços desenvolvidos por vários laboratórios e pesquisadores, em especial brasileiros,
argentinos, chilenos e venezuelanos (ZORZETO, 2004; CECOTOSTI, 2004).
No VI Congresso Pernambucano de Chagas, IV Simpósio Continental de En-
fermidade de Chagas e II Simpósio Pernambucano de Insuficiência Cardíaca, realizado
de 3 a 5 de novembro de 2005 em Recife (certificado de participação, anexo) o confe-
rencista João Carlos Pinto Dias apontou em sua palestra intitulada: “Perspectivas epi-
demiológicas e sociais da doença de chagas após o controle” alguns pontos específicos
que devem ser analisados como: os casos isolados de Chagas recentemente ocorridos no
Norte e Sul do país, devido a contaminação oral através do consumo de açaí e caldo de
cana-de-açúcar, a importância das notificações da doença feita através de exames labo-
ratoriais de forma precoce, os cuidados com a transmissão congênita, a atenção que se
deve ter quanto ao turismo ecológico e a construção de casas adequadas para população,
a correlação do paciente HIV com a doença de Chagas (muitos casos tem sido analisa-
dos e tem feito com que o número de pacientes chagásicos aumente), novas perspectivas
de tratamento específico, onde foi lembrado a descoberta de novas drogas (que ainda
encontram-se em fase de pesquisas), novas formulações, neste caso, chamou a atenção
pelo interesse e trabalho realizado no LAFEPE®/LTM e por fim os estudos de células
tronco que tem muita a ser visto e certamente terá inicialmente uma pequena parcela de
pacientes privilegiados.
9. Conclusão
A doença de Chagas é apontada como uma das principais doenças negligências e
este é um fator preocupante não só para pacientes chagásicos, mas também para organi-
zações não-governamentais (Médicos Sem Fronteiras), grupos de médicos cardiologis-
tas e epidemiologistas que trabalham de forma direta com os pacientes, assim como a
preocupação da Organização Mundial de Saúde (OMS), a qual tem visto os números de
casos de Chagas aumentarem, talvez não de forma tão expressiva como os casos notifi-
cados de AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), mas que tem demonstrado
aumento bastante significativo devido as suas várias formas de transmissão, as quais
SILVA, A.L.M. 29
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
antes se deviam apenas a transmissão clássica e que hoje tem-se observado outras for-
mas como transmissão oral, transfusão sanguínea e transmissão congênita.
Existe a necessidade de uma maior mobilização da parte governamental no sen-
tido de incentivo a pesquisa acadêmica, de incentivo na produção de novos medicamen-
tos para tratar deste mal que há mais de 90 anos tem sido significativamente presente
em países subdesenvolvidos, principalmente na América Central e América do Sul.
A produção industrial do Benznidazol, realizada hoje por um Laboratório Brasi-
leiro, o LAFEPE® e assim como o interesse do mesmo em sediar a pesquisa e desenvol-
vimento de novas formas farmacêuticas em parceria com o Laboratório de Tecnologia
dos Medicamentos – LTM, vinculado a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) é
certamente um grande avanço para a pesquisa acadêmica e industrial, assim como visa
melhorar a adesão de pacientes chagásicos ao tratamento de sua enfermidade.
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SILVA, A.L.M. 33
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
CAPÍTULO II
DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE METODOLO-
GIA ANALÍTICA PARA MATÉRIA-PRIMA e PRODUTO
ACABADO
Artigo (1) – Submetido à Revista Brasileira de Farmácia
Artigo (2) – Aceito para publicação na Revista Química Nova
(com sugestões do assessor)
SILVA, A.L.M. 34
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
Desenvolvimento e Validação do Método Analítico para o Doseamento de Benznidazol
Development and Validation of an Analytical Method for Assay of Benznidazole
José Lamartine Soares Sobrinho¹, Ana Luiza Maurer da Silva¹, Severino Grangeiro Jú-
nior², Flávia Patrícia Morais de Medeiros², Pedro José Rolim Neto¹*
¹ Laboratório de Tecnologia de Medicamentos – LTM - UFPE
Avenida Artur de Sá S/N – Cidade Universitária - CEP: 50.740-521 - Recife- PE
² Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco - LAFEPE
Abstract
The Chagas’s disease is an endemic parasitism in several regions of America, whose
etiologic agent is the Trypanosoma cruzi. The Benznidazole is used since 1973 and still
it is the drug of choice in the treatment of the chagas’s disease. The aim of this study
was to develop and validate an analytical method for the assay of benznidazole raw ma-
terial and tablet by espectrofotometric, following the requirements of the effective legis-
lation. In the search of a faster, simple and low cost methodology, the following pa-
rameters had been evaluated: linearity, precision (intermediate precision, repeatability),
limit of detention, limit of quantification, accuracy and robustness. The parameter speci-
ficity was evaluated only for the assay method of tablets. The developed methods had
presented resulted of the specifications in agreement the evaluated parameters, follow-
ing the requirements of Resolution RE n° 899 of National Health Surveillance Agency
(ANVISA).
Key-Word: Development, Validation, Benznidazole, Analytical Method.
Resumo
A doença de Chagas é uma parasitose endêmica em amplas regiões da América, cujo
agente etiológico é o Trypanosoma cruzi. O benznidazol vem sendo utilizado desde
1973 e ainda é a droga de escolha no tratamento de pacientes chagásicos. O presente
trabalho teve como objetivo desenvolver e validar a metodologia analítica para benzni-
dazol matéria-prima e comprimido por espectrofotometria, atendendo aos requisitos das
legislações vigentes. Na busca por uma metodologia mais rápida, simples e de baixo
custo, foram avaliados os seguintes parâmetros: linearidade, precisão (precisão interme-
diária, repetitividade), limite de detecção, limite de quantificação, exatidão e robustez.
SILVA, A.L.M. 35
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
O parâmetro especificidade foi avaliado somente para o método de doseamento de com-
primidos. Os métodos desenvolvidos apresentaram resultados dentro das especificações
conforme os parâmetros avaliados, atendendo as exigências da Resolução RE n° 899 da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Palavras-chave: Desenvolvimento, Validação, Benznidazol, Método Analítico.
Introdução
A Doença de Chagas é uma enfermidade endêmica na América Latina, afetando
em torno de 18 milhões de pessoas, com mais 100 milhões expostas ao risco de conta-
minação (WHO, 1997). Seu agente etiológico é o Trypanosoma cruzi, um protozoário
hemoflagelado da família Trypanosomatidae e ordem Kinetoplastida. (Hoare & Walla-
ce, 1966).
O nifurtimox e o benznidazol são drogas utilizadas para o tratamento da Doença
de Chagas. Estes fármacos têm sido estudados ao longo do tempo por diversos cientis-
tas, especialmente no Brasil, Argentina e Chile (Cançado et al., 1969; Cançado et al.,
1973; Cançado et al., 1975; Cançado & Brener, 1979; Bocca-Tourres, 1969; Rubio &
Donoso, 1969; Rassi & Ferreira, 1971; Rassi & Luquetti, 1992; Coura et al., 1978; Cou-
ra et al.,1997; Viotti et al., 1994; Andrade et al., 1996; Estani et al., 1998).
Neste contexto o benznidazol vem sendo utilizado desde 1973 e ainda é a droga
de escolha no tratamento de pacientes chagásicos. Desde 2004, o fármaco que era paten-
teado pelo Laboratório Farmacêutico Suíço Roche® passou a ser de responsabilidade do
Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco - LAFEPE®.
O presente trabalho teve como objetivo desenvolver e validar a metodologia ana-
lítica para benznidazol matéria-prima e comprimido por espectrofotometria, atendendo
aos requisitos de Boas Práticas de Laboratório, vigentes na Resolução RE n° 899 da
ANVISA.
Materiais e Métodos
Reagentes e Amostras
Utilizou-se para o estudo: Padrão de trabalho de benznidazol, com teor de 99,9%
fornececido por Laborgen; água purificada; benznidazol matéria-prima; etanol e com-
primidos de benznidazol fabricados e fornecidos pelo LAFEPE®.
SILVA, A.L.M. 36
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
Equipamentos e Condições Analíticas
Utilizou-se o equipamento espectrofotômetro da Marca Shimadzu, com duplo
feixe, modelo N-2401 PC, com detector de 190 a 800 nm, lâmpada deutério e tungstê-
nio. A calibração do espectrofotômetro foi realizada, através de padrões de referência,
rastreado pelo NIST (National Institute of Standards and Technology). Utilizou-se a
balança Sartorius CP 225 D, com capacidade máxima de 220g e utilizou-se o ultra sonic
cleaner, modelo: USC-1880.
Preparo da Solução Padrão
Pesou-se precisamente 25 mg do padrão de trabalho benznidazol, transferiu-se
quantitativamente para balão de 50 mL, completou-se o volume com etanol, sonicou-se
por 10 minutos. Pipetou-se 2mL dessa solução e estes foram transferidos para balão
volumétrico de 50mL, completou-se o volume com água. A leitura se procedeu em es-
pectrofotômetro com comprimento de onda de 324 nm, utilizando-se água como branco.
A concentração teórica de leitura foi de 20µg/mL.
Preparo da Solução Amostra
Matéria-prima: O preparo desta solução procedeu-se da mesma maneira que o
preparo da solução padrão, utilizando 25 mg de benznidazol matéria-prima.
Comprimido: O preparo desta solução também obedeceu ao mesmo procedimen-
to acima citado, utilizando o equivalente a 25 mg de benznidazol, contudo deve-se fil-
trar a solução da primeira diluição antes de proceder a técnica.
Validação dos Métodos Analíticos
Linearidade
Este ensaio foi realizado com a análise de regressão linear pelo método dos mí-
nimos quadrados dos pontos médios de três curvas autênticas com o mínimo de cinco
pontos nas concentrações de 5�g/mL, 10�g/mL, 15�g/mL, 20�g/mL e 30�g/mL do
padrão de trabalho de benznidazol. O coeficiente de correlação obtido foi a partir da
média das três curvas.
Precisão (Repetitividade, Precisão intermediária)
A precisão foi determinada através dos métodos de repetitividade e precisão in-
termediária. A repetitividade foi determinada pela análise de seis amostras individuais.
SILVA, A.L.M. 37
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
A precisão intermediária foi determinada em dois diferentes dias e por dois diferentes
analistas.
Exatidão
Foram manipuladas três amostras, cada uma nas concentrações de 50%, 100% e
150% da concentração teórica da benznidazol matéria-prima e comprimido. Em se-
guida, cada amostra foi analisada em triplicata.
Especificidade
Realizou-se este parâmetro apenas para produto acabado (comprimido), reali-
zando leituras com o placebo obtido no estudo.
Limite de Detecção e Quantificação (LD eLQ)
Para a realização do LD e LQ foi considerado o desvio padrão da reta com rela-
ção à absorbância do primeiro nível de concentração (5 �g/mL) de benznidazol nas três
curvas de calibração e seus coeficientes angulares (inclinação da reta). Foi considerada
a razão de três vezes da linha da base para o LD e dez vezes para o LQ.
Robustez
Para o método de doseamento de matéria-prima o ensaio foi determinado a partir
da variação dos seguintes parâmetros: tipo de agitação (sonicação e barra magnética),
tempo de agitação (5, 10 e 15 min). Enquanto que para os comprimidos foram avaliados
os parâmetros de tempo de sonicação e fabricante do solvente.
Resultados e Discussão
Os resultados obtidos da avaliação dos parâmetros foram tratados estatisticamente por
análise de variância e teste t Student com intervalo de confiança de 95%.
Resultados obtidos com relação ao método para matéria-prima
O comprimento de onda utilizado na metodologia após realizada uma varredura
espectrofotométrica foi de 324 nm. O método mostrou-se robusto frente as variáveis
analisadas, para o tempo de agitação (5,10 e 15 min.) foi obtido um F calculado de
0,8775 e F tabelado de 5,1432, com relação ao tipo de Agitação (barra magnética e
sonicação) obteve-se o t calculado de 0,2794 e o t tabelado de 2,7760 podendo-se con-
cluir que não houve diferença estatisticamente significativa para as variáveis analisadas
com 95% de confiança. Para o parâmetro linearidade obteve-se uma equação da reta y
SILVA, A.L.M. 38
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
= 0,0301x + 0,001. A análise de regressão linear pelo método dos mínimos quadrados
demonstrou um coeficiente de correlação muito próximo da unidade (0,99997),
demonstrando que há uma correlação linear entre as variáveis X e Y, o que significa
que 99,99% da variação total em torno da média é explicada pela regressão. O Limite
de detecção foi de 0,09966 e o de quantificação de 0,33222, calculado pela equação da
reta (RE 899,ANVISA). No caso da precisão (repetitividade e precisão intermediária), o
método atendeu ao referido parâmetro visto que apresentou um coeficiente de variação
de 0,93% na sextuplicata realizada. A Precisão intermediária entre dias e entre analistas,
apresentou um F calculado de 0,235 para analistas, F calculado de 1,564 para dias e F
tabelado de 4,757 e 5,143 respectivamente, sendo então o método considerado preciso.
A exatidão foi tratada por comparação entre médias e um valor padrão, onde para con-
centração a 50%, 100% e 150% o t calculado foi, respectivamente, 0,558; 0,344; 0,099
menores que o t tabelado (2;0,95) 4,303.
Resultados obtidos com relação ao método para comprimidos:
As leituras das amostras (placebo) não apresentaram absorvância, confirmando a
especificidade do método frente aos excipientes utilizados no comprimido de benznida-
zol. Os parâmetros analisados para robustez (tempo de agitação e fabricante do solven-
te) demonstraram adequação do método apresentando um F calculado de 0,196 e F tabe-
lado de 5,143 e o t calculado foi de 1,2118 e o t tabelado de 2,7760 respectivamente
para os níveis avaliados, podendo-se concluir que não houve diferença estatisticamente
significativa com 95% de confiança. Os resultados da Precisão (repetitividade e precisão
intermediária) apresentaram um coeficiente de variação de 0,82% para repetitividade e
um F calculado 0,432 para dias e 0,579 para analistas frente a o F tabelado de 5,143 e
4,757,respectivamente, podendo ser considerado o método em questão preciso. A exati-
dão foi tratada por comparação entre médias e um valor padrão, onde para concentração
a 50%, 100% e 150% o t calculado foi, respectivamente, 0,056; 0,518 e 0,093 menores
que o t tabelado (2;0,95) 4,303, comprovando a exatidão do método.
Conclusão
Os métodos atendem as exigências da Resolução RE n° 899 ANVISA, apresen-
tando-se linear, preciso, exato e robusto, garantindo a qualidade da análise e assim as
boas práticas de laboratório. Sendo um passo importante para as subseqüentes etapas do
desenvolvimento de formas farmacêuticas contendo benznidazol, como matéria-prima
SILVA, A.L.M. 39
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
ativa bem como, o método alternativo para análise da forma farmacêutica comprimidos.
Proporcionando para a indústria um custo razoável, com um tempo de análise curto,
acelerando assim a resposta de análise para produção em escala industrial, fator impor-
tante no custo final do produto.
Agradecimentos
Ao Laboratório Farmacêutico Suíço Roche®, ao Laboratório Farmacêutico do
Estado de Pernambuco - LAFEPE® e ao CNPQ pela ajuda financeira na realização des-
se projeto.
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DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
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DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
Desenvolvimento de método analítico por CLAE em comprimidos de Benznidazol
para a Doença de Chagas
Ana Luiza Maurer da Silva, José Lamartine Soares Sobrinho, Pedro José Rolim Neto*.
Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos – LTM – Departamento de Ciências
Farmacêuticas, Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Av. Prof. Arthur de Sá
s/n, Cidade Universitária – CEP 50740-521 - Recife – Pernambuco – Brasil . Fone/Fax
+55 (81) 3272-1383.
Rosali Maria Ferreira da Silva, Flávia Patrícia Morais de Medeiros, Leduar Guedes de
Lima.
Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco – LAFEPE, Largo de Dois Ir-
mãos, nº 1117, Dois Irmãos – CEP 52171-010 - Recife – Pernambuco – Brasil.
Fone/Fax +55 (81) 3267-1155.
Develo
Abstract The analy
assay of b
disease, w
899, ANV
column, 1
is specific
is conside
being safe
Key-word
tography.
SILVA, A.L.M
* Pedro José Rolim Neto E-mail: [email protected]
pment of an analytical method for HPLC of Benznidazol tablets for the
treatment of Chagas disease
tical method for High Performance Liquid Chromatography (HPLC) for the
enznidazol tablets, the only available medicine for the treatment of Chagas
as developed and validated following the requirements of Resolution RE nº
ISA. The validated method used mobile phase (acetonitrile:wather; 1:1), C18
25 x 4 mm, 5 �m, � 316 nm. The results have demonstrated that the method
, precision, accuracy and robustness after the statistical treatment. The method
red to be an analytical alternative with low cost for the laboratorial routine,
and following the Good Practical of Laboratory.
s: Development of Method; Validation; High Performance Liquid Chroma-
. 43
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
Introdução A Doença de Chagas é uma enfermidade endêmica na América Latina, afetando
em torno de 18 milhões de pessoas, com mais 100 milhões expostas ao risco de conta-
minação1. Seu agente etiológico é o Trypanosoma cruzi, um protozoário hemoflagelado
da família Trypanosomatidae e ordem Kinetoplastida2.
As doenças negligenciadas tais como leishmaniose, tripanossomíase, doença de
Chagas e malária têm impacto devastador sobre a humanidade3. O benznidazol (N-
benzil-2-nitro-1-imidazolacetamida) é um antiparasitário, derivado nitroimidazol, com
ação tripanossomicida, que vem sendo utilizado, desde 1973, no tratamento etiológico
da doença de Chagas4.
Para a fabricação de comprimidos a base de benznidazol, visto a falta de méto-
dos nos compêndios oficiais, faz-se necessário o desenvolvimento e validação de um
método que atenda as especificações dos órgãos reguladores. A validação inclui a espe-
cificação dos requisitos do método; determinação das características do método; verifi-
cação de que os requisitos podem ser atendidos com o uso do método e uma declaração
sobre a validade do método5-6-7-8.
Diante do exposto o presente trabalho tem como objetivo o desenvolvimento e
validação de método analítico para doseamento de comprimidos a base de benznidazol
de acordo com a RE 899 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)9.
Materiais e métodos Matéria-prima, reagentes e vidrarias – Para as etapas que corresponderam ao desenvol-
vimento do método e a sua validação, foram utilizados padrão de trabalho e matéria-
prima (Lote LAFEPE 13871) fornecidos pela Roche®, amido de milho, lactose malha
200, estearato de magnésio, talco e os comprimidos de benznidazol fabricados no LA-
FEPE® (Lote 05030569). Os reagentes utilizados no estudo foram: acetonitrila grau
HPLC Tedia®, metanol grau HPLC Tedia® e água ultra-purificada obtida por Milli-Q
Millipore®. As colunas testadas tiveram empacotamento C8 e C18, apresentando as se-
guintes especificações: C8 (Symmetry®, 250 x 4,6 mm, 5 µm), C18 (µBondpack®, 300
x 3,9 mm, 10 µm e Lichrospher® 125 x 4,0 mm, 5 µm). A vidraria utilizada foi certifi-
cada por lote, sendo da marca Pirex®.
Desenvolvimento do método analítico – Primeiramente foi realizada uma varredura em
espectrofotômetro Shimadzu® com duplo feixe, modelo N-2401 PC, com detector de
190 a 800 nm, possuindo lâmpada deutério e tungstênio. Teve sua calibração realizada
através de padrões de referência, rastreado pelo NIST (National Institute of Standards
SILVA, A.L.M. 44
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
and Technology). A amostra de comprimidos testada foi diluída em metanol Merck® até
uma concentração final de 40 ppm, sendo a varredura programada numa faixa entre 200
a 800 nm, objetivando a confirmação do comprimento de absorvância máximo citado
pela literatura científica.
Visando redução de custo e de tempo de análise, foi realizado estudo em CLAE
das amostras de comprimidos preparadas a 100 ppm, utilizando diluições em diferentes
misturas de solventes (metanol, metanol:água (50:50), acetonitrila e acetonitrila:água
(50:50)).
Para definição do método a ser validado buscando maior seletividade e resolu-
ção, também se analisou a variação da temperatura do forno (25º a 80°C), diferentes
proporções de fase móvel (50:50 a 80:20) e diferentes composições de fase móvel (ace-
tonitrila:água e metanol:água).
A performance do sistema cromatográfico foi avaliada a partir dos seguintes pa-
râmetros: fator de capacidade, número de pratos teóricos e fator de cauda, observando-
se os cromatogramas obtidos.
Validação do método analítico – Todo método desenvolvido e não descrito em farma-
copéia ou formulários oficiais deve ser validado, sendo avaliados os seguintes parâme-
tros: especificidade, linearidade, intervalo, precisão, limite de detecção, limite de quan-
tificação, exatidão e robustez.7-8
Preparação da solução-amostra – As amostras foram pesadas analiticamente, di-
luídas em balão volumétrico com acetonitrila e sonicadas por 15 minutos. Foi realizada
a aferição do volume, filtração em papel de filtro faixa preta marca Schleicher & Scheu-
ell 589’®. Em seguida, foi amostrado do filtrado uma alíquota volumétrica e diluída com
fase móvel (acetonitrila:água (50:50) até obtenção da concentração de 100 ppm. As a-
mostras foram preparadas em quintuplicatas.
Preparação da curva controle – Partindo da solução estoque de benznidazol em acetoni-
trila (1mg/mL), diluições em fase móvel (acetonitrila:água (50:50) foram realizadas
para obtenção das seguintes concentrações: 40, 100 e 160 ppm. A curva controle foi
preparada diariamente e utilizada para os cálculos das concentrações.
Equipamentos e condições cromatográficas – Foi utilizado o Cromatógrafo a Líquido de
Alta Eficiência Shimadzu® composto pelos seguintes módulos: bombas LC – 10 ADVP,
autoinjetor SIL – 10 ADVP, detector SPD – 10 AVP, controlador SCL – ADVP, forno
CTO – 10 ASVP e degaseificador DGU – 14 A.
SILVA, A.L.M. 45
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
Foi utilizada a balança analítica Sartorius® CP 225 D para realização das pesa-
gens e a lavadora ultrassônica Unique® para a sonicação. As condições cromatográficas
definidas a partir do desenvolvimento do método foram: coluna C18, Lichrospher®,
(125 x 4,0 mm, 5 µm), fase móvel acetonitrila:água (50:50), fluxo de 1mL/min, detector
UV 316 nm, temperatura do forno de 25ºC e volume de injeção de 20 µL. Como pré-
requisito para validação de métodos analíticos, os equipamentos e instrumentos foram
qualificados e certificados.
Parâmetros avaliados
Para a realização da robustez foram avaliados a proporção da fase móvel (aceto-
nitrila:água), variação de fluxo (0,99 a 1,01 mL/min) e tipo de agitação (sonicação e
agitador magnético Quimis®).
A preparação da curva de linearidade foi realizada a partir de três curvas autênti-
cas, nas concentrações 40, 60, 100, 120 e 160 ppm de benznidazol. Os resultados foram
tratados estatisticamente pelo método dos mínimos quadrados, obtendo-se a regressão
linear. A faixa de variação testada correspondeu entre 40 a 160% da concentração em
teste, foi o intervalo entre os limites de quantificação superior e inferior do método.
A especificidade do método foi testada analisando comprimidos placebo, con-
tendo amido de milho, lactose malha 200, estearato de magnésio e talco.
A precisão foi avaliada em dois níveis: precisão intra-corrida (repetitividade) e a
precisão inter-corridas (precisão intermediária). Para a repetitividade, réplicas de 6 de-
terminações a 100% da concentração teste foram preparadas. Para a precisão intermedi-
ária, réplicas da concentração teste foram testadas em dias diferentes e com analistas
diferentes.
Os limites de detecção e de quantificação (LD e LQ, respectivamente) foram
calculados pela divisão do desvio padrão dos coeficientes lineares das três curvas de
calibração do ensaio de linearidade pela média dos coeficientes angulares destas respec-
tivas curvas e multiplicado por 3,0 e 10,0, respectivamente.
A exatidão foi definida preparando as análises, considerando que o método é e-
xato quando se analisa a proximidade dos resultados obtidos em relação ao valor verda-
deiro. Comprimidos de benznidazol foram manipulados para obtenção das concentra-
ções a 50%, 100% e 150%.
Resultados e Discussão Desenvolvimento do método analítico – Após avaliação dos resultados preliminares foi
definido que a fase móvel selecionada seria composta por acetonitrila:água na propor-
SILVA, A.L.M. 46
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
ção de 50:50, tendo como fase estacionária a coluna C18, Lichrospher, 125 x 4,0 mm, 5
µm.
As amostras foram preparadas com a primeira diluição em acetonitrila e a se-
gunda diluição em fase móvel. O cromatograma obtido registrou o pico desta análise
simétrico, com tempo de retenção curto o que foi considerado como vantajoso para a
rotina industrial.
Após testar diferentes temperaturas para o forno (25 a 80 °C) foi verificado que,
para este método, a temperatura não influenciou na resolução do pico. O fluxo e o vo-
lume de injeção foram definidos em 1 mL/min e 20µL, respectivamente.
Foi obtido como resultado o número de pratos teóricos de 2659,93, fator de cau-
da de 1,22 e fator de capacidade 4,10.
Validação do método analítico – Os resultados obtidos pelas variações deliberadas apli-
cadas ao método desenvolvido, demonstraram que o mesmo se apresentou robusto para
variações de proporções de fase móvel, variações de fluxo e diferentes tipos de agitação,
estando descritos nas tabelas 2.1, 2.2 e 2.3 (Anexo I).
Por análise de variância one-way, os valores de F calculados para a variação da
proporção da fase móvel e fluxo (1,040 e 2,379, respectivamente) foram inferiores ao F
tabelado (3,885) e, utilizando teste t Student, para a variação do tipo de agitação, o va-
lor de t calculado (2,287) foi inferior ao t tabelado (2,306), comprovando que não houve
diferenças estatisticamente significativas, com 95% de confiança.
O método também se mostrou linear, para a faixa de variação entre 40 a 160%,
conforme a equação da reta, onde y = 39025,5x + 57455,86, tendo que 99,85% dos va-
lores são explicados pela linearidade e que 0,25% são resíduos, no entanto, seguindo a
Análise de Variância, tem-se que o R2 máximo explicável é de 0,99969. Houve uma
regressão estatisticamente significativa e sem falta de ajuste, proporcionando uma curva
linear. Ainda como resultado da avaliação da linearidade do método, calculou-se o LQ
1,4960 ppm e o LD 0,9874 ppm.
Para o ensaio da precisão, na repetitividade de seis réplicas autênticas na concen-
tração de 100%, apresentou-se como resultado a média de 101,91 ppm e com desvio
padrão relativo de 0,46%, atendendo a resolução vigente. Outro ensaio de precisão, a
intermediária, foi testada entre dias e analistas diferentes, tendo como resultado do tra-
tamento estatístico por t Student, que o método foi preciso entre dias e analistas com
95% de confiança, conforme resultados apresentados nas tabelas 2.4 e 2.5 (Anexo I).
SILVA, A.L.M. 47
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
Em seguida, como resultado do teste para comprovação da especificidade tem-se
um cromatograma para o placebo sem detecção no tempo de retenção correspondente ao
pico cromatográfico do benznidazol.
Por fim, o método se mostrou além de específico e exato, visto que, após trata-
mento estatístico por teste t Student entre comparação de médias, obteve-se para a con-
centração 50, 100 e 150%, que os t calculados (0,6846; 2,27 e 1,566, respectivamente)
foram inferiores ao t tabelado (2,776), com 95% de confiança.
Conclusão
A partir do trabalho realizado, tem-se que pelos resultados apresentados o méto-
do desenvolvido, apresenta-se validado conforme a RE nº 899 da ANVISA, estando
disponível como método específico, preciso, exato e robusto para acompanhamento do
estudo de estabilidade nos moldes acelerado e de longa duração dos comprimidos de
benznidazol 100 mg, desenvolvidos pelo LAFEPE� em parceria com a Roche�. Este
medicamento é hoje considerado a única alternativa mundial para o tratamento de paci-
entes crônicos com Doença de Chagas.
Agradecimentos Ao Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, da Universidade Federal de
Pernambuco, e o Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco LAFEPE.
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DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
CAPÍTULO III
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA
SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL 2%
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DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE
DE BENZNIDAZOL 2%
1. Introdução
As formas farmacêuticas líquidas em geral são classificadas em soluções, emul-
sões ou suspensões que contêm um ou mais princípios ativos e excipientes farma-
cêuticos. Estes excipientes ou adjuvantes farmacêuticos são na maioria das vezes
responsáveis por manter a estabilidade e conservação da formulação e por garantir a
biodisponibilidade da droga (AULTON, 2005; ALVES, 2002).
Dentre as formas farmacêuticas líquidas optou-se trabalhar com a suspensão, que
são sistemas heterogêneos constituídos de duas fases. A fase contínua, ou externa, é
normalmente um líquido ou um semi-sólido, enquanto que a fase dispersa, ou inter-
na, é constituída por partículas sólidas que são insolúveis na fase contínua, mas que
se dispersam nela (LACHMAN, 2001; ANSEL, 2000; PRISTA, 1992; LE HIR,
1997).
Algumas suspensões já vêm prontas para uso, ou seja, já estão devidamente dis-
persas num veículo líquido com ou sem estabilizantes e outros aditivos farmacêuti-
cos. Outras preparações são disponíveis na forma de pós para uso de forma extem-
porânea destinados a serem misturados com veículos líquidos. Este tipo de produto
geralmente é uma mistura de pós que contém fármaco e agentes suspensores e de
dispersão (ANSEL, 2000).
As razões para se preparar as suspensões orais são várias. Uma delas é que certas
substâncias são quimicamente instáveis em solução, porém estáveis em suspensão,
neste caso a suspensão oral garante estabilidade química ao mesmo tempo em que
permite terapia com líquido. Para muitos pacientes, principalmente pediátricos (lac-
tantes e crianças) e geriátricos, a forma líquida é preferível à sólida pela maior faci-
lidade de deglutição e pela flexibilidade de administração das doses. Por outro lado,
o sabor desagradável de certos fármacos em solução é evitado quando o medicamen-
to é administrado na forma de partículas não dissolvidas de uma suspensão, isto o-
corre através do uso de flavorizantes e edulcorantes adequados (AULTON, 2005;
ANSEL, 2000; PRISTA, 1992; FERREIRA, 2002).
Além da eficácia terapêutica, da estabilidade química dos componentes, qualida-
de do preparo e de sua boa aparência, algumas outras características dizem respeito
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mais específico às suspensões: uma boa suspensão deve sedimentar lentamente e
voltar a dispersar-se com agitação suave do recipiente; as características da suspen-
são devem ser tais que o tamanho das partículas dispersas permaneça constante por
longos períodos de repouso; a suspensão deve escoar com rapidez e uniformidade
do recipiente (AULTON, 2005; LACHMAN, 2001; ANSEL, 2000; PRISTA, 1992;
LE HIR, 1997).
O Benznidazol (N-Benzil-2-nitro-1-imidazolacetamida) é um antiparasitário, in-
dicado para tratamento de infecções devido ao Trypanosoma cruzi, que é comercia-
lizado na forma farmacêutica de comprimidos de 100 mg (DEF, 2000; GOODMAN,
1996; KOROKOVAS, 1988; NEVES, 2005), era até 2003 fabricado pela indústria
Roche®, e a partir deste ano teve sua tecnologia transferida para o Governo Brasilei-
ro, onde o LAFEPE® passou a ser o seu produtor mundial (ROCHE, 2004; WEB-
MEDICOS, 2004).
O objetivo desta pesquisa foi fazer um estudo do desenvolvimento farmacotécni-
co de uma suspensão de Benznidazol, forma farmacêutica não existente no mercado
mundial para o tratamento de doença de chagas, e este foi feito com o propósito de
beneficiar os pacientes chagásicos, em especial os pacientes pediátricos, que das
14.000.000 pessoas infectadas no continente americano, pelo menos 2.800.000 são
crianças ou bebês (SOSA-ESTANI).
2. Materiais e Métodos
No desenvolvimento farmacotécnico da suspensão de Benznidazol foram reali-
zados 21 lotes de bancada onde os lotes 1 a 16 foram suspensão líquida e os lotes de
bancada 17 a 21 foram pó-extemporâneo para suspensão oral. Estes estudos se divi-
diram em várias etapas, como preconiza os órgãos reguladores.
2.1. Materiais para os lotes de bancada 1 a 16 – Suspensão Líquida
As matérias-primas utilizadas foram: Benznidazol (lote: 13871/Roche®), Ta-
bulose SC 580® (lote: 5006/05/ Blanver®), Carboximetilcelulose - CMC 600/1200
(lote: 12941), Glicerina (lote: 14280), Propilenoglicol (lote: 14245), Silicone - Si-
methicone® (lote: 1114026/Dow corning®), Metilparabeno (Nipagin®, lote: 14681),
Propilparabeno (Nipazol®, lote: 14370), Ciclamato de sódio (lote: 12503), Sacarina
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sódica (lote: 13268), Aroma de Banana (lote: 31664/ Vitta flavor®), Aroma de cho-
colate branco (lote: CHB-002-01/Iceberg®), Etanol e Água.
Os solventes utilizados foram etanol Merck® , etanol (álcool industrial) e água
deionizada. Os equipamentos de produção e controle de qualidade foram os seguin-
tes: Balança semi-analítica (Marte®/Modelo: HA - 500), Espectrofotômetro CARY
50 (Varian®), agitador mecânico (FISATON® 713 D), Béqueres de 50, 100 e 1000
mL (Pirex®), pipetas volumétricas 1 e 10 mL (Pirex®), pipeta graduada 5 mL (Pi-
rex®), pêra, balões volumétricos 100 mL (Pirex®), provetas graduada de 10, 50, 100 e
1000 mL (Pirex®), Erlenmeyer (Pirex®), funil de vidro, Filtro de papel 100 pieces Ø
125,0 ± 1,0 mm 5891 black ribbon (Schleicher e Schuell®), Tamiz malha 48 t-
yler/mesh (300 µm de abertura) (Bertel®), Papel de pesagem, espátulas para pesa-
gem, Lavadora-Ultrasonica (Unique®, Modelo: USC 1880), Moinho Coloidal (ME-
TEOR, modelo REFLEX 2/2), phmetro digital (Tecnal® phmetro TEC-3MP), visco-
símetro Brooksfield (modelo: DV-I).
2.2. Metodologia para os lotes de bancada 1 a 16
Foram desenvolvidos 16 lotes de bancada, partindo de formulações com o
princípio ativo e excipientes conforme avaliação, a fim de se obter características
desejáveis. O direcionamento deste desenvolvimento farmacotécnico se deu por ob-
servação visual e medidas de parâmetros confiáveis, tais como a viscosidade, altura
de sedimento, redispersão, formação de espuma durante o processo, homogeneida-
de.
Os lotes de bancada foram desenvolvidos no laboratório da COP&D (Coor-
denadoria de Pesquisa e Desenvolvimento, do LAFEPE®) e algumas análises de
controle de qualidade também foram realizadas neste laboratório, como: pH (phme-
tro), altura de sedimentação (Proveta graduada) e teor (Espectrofotômetro). A uni-
formização de partículas foi realizada na Divisão de Líquidos (LAFEPE®) e as aná-
lises de viscosidade (utilizando um viscosímetro Brooksfield, com spindle número 3
e rotação 30 rpm) na Divisão de Físico-químico da Coordenadoria de Qualidade
(COQUA - LAFEPE®).
Para os lotes de bancada desenvolvidos utilizou-se o seguinte processo de fa-
bricação: os lotes tiveram em todas as suas formulações a mesma técnica de mani-
pulação, de acordo com a natureza dos excipientes. Desta forma, todos os lotes, fei-
tos sob agitador mecânico a 600 rpm (em média), exceto quando por necessidade
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específica era necessário um aumento (em média 1200 rpm), como por exemplo, du-
rante a incorporação do benznidazol ou na dispersão da espuma.
Todos os lotes de bancada foram feitos em béqueres de tamanho apropriado,
com a adição de água purificada em quantidade suficiente para a incorporação e
homogeneização do agente suspensor (Carboximetilcelulose, Tabulose SC 580®).
Excipientes líquidos como glicerina e propilenoglicol foram mensurados e adiciona-
dos com auxílio de proveta graduada. O princípio ativo benznidazol foi previamente
tamizado em tamiz de malha 48 Tyler/Mesh (300 µm de abertura). Excipientes lí-
quidos e de pouca quantidade, como os flavorizantes e o silicone foram adicionados
com ajuda de pipeta graduada ou volumétrica. Os edulcorantes (ciclamato e sacari-
na) foram acrescentados após a dissolução em água, e os conservantes (propilpara-
beno e metilparabeno) após dissolução em uma quantidade mínima de etanol (álcool
industrial). Para completar volume, utilizou-se uma proveta graduada.
Todas as formulações, após o acréscimo de cada excipiente foram sujeitas a
homogeneização em agitador mecânico por tempo suficiente, 20 minutos. Após o
término de cada formulação houve homogeneização, no mínimo 30 minutos. Após a
uniformização do tamanho de partículas em moinho coloidal as formulações foram
submetidas à homogeneização durante 45 minutos.
Na uniformização pelo moinho coloidal, realizada na divisão de líquidos, quan-
do possível houve recirculação da suspensão pelo moinho, durante dois minutos.
2.3. Materiais para os lotes de bancada 17 a 21 – Pó Extemporâneo para Sus-
pensão
As matérias-primas utilizadas foram: Benznidazol (lote: 13871/Roche®), Tabu-
lose SC 611® (lote: 6041/05/Blanver®), Metilparabeno (Nipagin®, lote: 14681), Pro-
pilparabeno (Nipazol®, lote: 14370), Ciclamato de sódio (lote: 14240), Sacarina só-
dica (lote: 14762), Dióxido de silício coloidal (Aerosil®, lote: 14304), Aroma artifi-
cial de Banana (lote: 22985/Vitta flavor®).
Os solventes utilizados foram etanol Merck® , álcool etílico e água deionizada.
Os equipamentos de produção e controle de qualidade utilizados foram os seguintes:
Balança semi-analítica (Marte®/Modelo: HA - 500), Espectrofotômetro CARY 50
(Varian®), pipetas volumétricas 10 mL (Pirex®), pêra, balões volumétricos 100 mL
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(Pirex®), Erlenmeyer (Pirex®), funil de vidro, Filtro de papel 100 pieces Ø 125,0 ±
1,0 mm 5891 black ribbon (Schleicher e Schuell®), Tamiz malha 28 tyler/mesh (600
µm de abertura) (Bertel®), Papel de pesagem, espátulas para pesagem, sacos plásti-
cos, Lavadora ultra-sônica (Unique®,modelo: USC 1880), vidro âmbar com capaci-
dade de 250,0 mL, com tampa, phmetro digital (Tecnal phmetro TEC-3MP, visco-
símetro Brooksfield (modelo:DV-I).
2.4. Metodologia para os lotes de bancada 17 a 21
Procurando melhorar as características da forma farmacêutica líquida sus-
pensão, passou-se a fazer lotes de bancada de pó para suspensão extemporânea de
benznidazol. Para tanto se fez necessário fazer uma planificação quali-quantitativa
das matérias-primas para um volume de 150,0 mL.
As matérias-primas foram pesadas separadamente. O benznidazol foi tami-
zado na malha 200 mesh e o aerosil® na malha 28 mesh, ambos antes de serem pe-
sados.
Em um saco plástico resistente, colocou-se a tabulose® e aerosil® e agitou-
se por cinco minutos, depois foi colocada sacarina e ciclamato e agitou-se por
mais 5 minutos. Em seguida acrescentou-se o benznidazol e agitou-se por cinco
minutos. Na seqüência adicionou-se os conservantes, nipagin e nipazol e agitou-se
por cinco minutos. Colocou-se o aroma de banana e agitou-se por mais cinco mi-
nutos. Após observar homogeneizado, transferiu-se o pó para um vidro âmbar de
250,0 mL, previamente demarcado o volume de 150,0 mL (para facilitar a aferição
da água), com auxilio de um funil de vidro. Aos pós no vidro âmbar adicionou-se
água até o local demarcado.
Com o frasco fechado, agitou-se por 10 vezes a embalagem de vidro, afe-
riu-se novamente o volume e agitou-se novamente. Deixou-se o vidro âmbar em
repouso.
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2.5. Desenvolvimento de Metodologia de Doseamento
O desenvolvimento da metodologia de doseamento foi feito com base no
doseamento de comprimidos de benznidazol, validada anteriormente, efetuando a
primeira diluição com etanol e a segunda com água destilada.
No desenvolvimento de metodologia para suspensão de benznidazol foram
testadas variações nas diluições, realizadas combinações com os solventes etanol e
metanol na primeira diluição e etanol, metanol e água na segunda diluição.
Na prática, foi selecionada a seguinte metodologia:
1 Homogeneizar/redispersar a suspensão e retirar uma alíquota de 10 mL, com pi-
peta volumétrica (equivalente a 200 mg de benznidazol);
2 Diluir a alíquota em balão volumétrico de 100 mL, adicionando cerca de 70 mL
de etanol absoluto;
3 Sonicar por 30 minutos;
4 Completar o volume do balão volumétrico de 100 mL;
5 Agitar e filtrar em filtro faixa preta;
6 Retirar uma alíquota de 1 mL do filtrado, com auxilio de pipeta volumétrica;
7 Diluir a alíquota em balão volumétrico de 100 mL com água destilada (concen-
tração final de 0,02 mg/mL);
8 Fazer a leitura em espectrofotômetro, a λ 316 nm, utilizando água destilada co-
mo branco;
9 Comparar o resultado da leitura de absorvância da amostra com a leitura do pa-
drão, segundo o cálculo:
Teor de benznidazol (%) = média Abs amostra / média Abs padrão x teor do padrão
OBS: para o preparo do padrão pesa-se 200 mg da substância de referência e procede-se
com as mesmas diluições com os mesmos solventes até atingir a mesma concentração
final (0,02 mg/mL) e em seguida lê-se em espectrofotômetro a λ 316 nm.
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3. Estudo de Pré-formulação
3.1. Escolha da concentração do princípio ativo (Benznidazol)
Para o desenvolvimento farmacotécnico de uma formulação líquida no caso,
suspensão oral líquida e pó extemporâneo (pó extemporâneo para suspensão oral) de
benznidazol foi feito um levantamento bibliográfico e segundo Jarbas Malta (MAL-
TA, 1996) verificou-se que a dose pediátrica de benznidazol pode ser de 10 mg/kg
peso/dia no início do tratamento (mais ou menos 15 dias), e que depois passa a 5
mg/Kg peso/dia até 60 dias. Foi considerado o peso médio de uma criança com 30
kg, por exemplo, viu-se que esta criança teria que ingerir 300 mg de benznidazol no
início do tratamento e 150 mg ao término do tratamento, divididos em três doses (3
doses de 100 mg cada , três doses de 50 mg). Um volume relativamente conveniente
para a administração das doses de 100 mg, neste caso, seria de 5 mL; e para as doses
de 50 mg de 2,5 mL; já que estes volumes são fáceis de medir em copos de medida
para medicamentos. Para tanto, seria necessário que em cada mL da suspensão con-
tenha 20 mg de benznidazol, ou seja, que a suspensão tenha a concentração de 20
mg/mL ou igual a 2%. Viu-se que a concentração contempla suficientemente pacien-
tes com uma ampla variedade de peso, necessitando apenas de um copo dosador co-
mum, e o frasco com o conteúdo de benznidazol (embalagem primária) não foge das
usuais em medicamentos líquidos e atende há vários dias de tratamento.
3.2. Testes de Agentes Suspensor
O agente suspensor é usado para aumentar a viscosidade e retardar a sedimen-
tação, características importantes para uma suspensão (AULTON, 2005; ANSEL,
2000; FERREIRA, 2002; KIBBE, 2000). Para este estudo foi usado o CMC (carbo-
ximetilcelulose sódica) e a tabulose®, que é um excipiente comercializado pela Blan-
ver® Farmoquímica Ltda, formado pela mistura de celulose microcristalina e carbo-
ximetilcelulose sódica.
3.3. Testes de edulcorantes
Para o teste, separou-se 3 porções de 50 mL do lote de bancada 04 ( 2% benzni-
dazol, 1% tabulose®) e adicionou-se sacarina sódica nas concentrações 0,1% , 0,3% e
0,6 % e ciclamato sódico nas concentrações 0,2%, 0,6% e 1,2%, respectivamente, man-
tendo a proporção 2:1 de ciclamato/sacarina em cada teste. A avaliação final foi organo-
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léptica, selecionando uma formulação que mais agradou o paladar, a partir do painel de
degustação (CELMER, 2005).
3.4. Teste de Flavorizantes/Aromatizantes
Para melhorar a palatabilidade e as características organolépticas da formula-
ção e assim promover uma maior aceitabilidade dos pacientes pediátricos e geriátri-
cos acrescentou-se os flavorizantes.
Para a suspensão foram selecionados flavorizantes que se associam com a co-
loração da formulação (branca), sem o acréscimo de corantes, que foram evitados
para prevenir incompatibilidades químicas. Sendo assim, os aromas selecionados
para o teste foram: chocolate branco, banana, baunilha e abacaxi.
O teste foi realizado nas mesmas condições de 50 mL onde ocorreu o teste de
edulcorantes (lote de bancada 04 ; 2,0 % benznidazol, 1,0 % tabulose®). A avalia-
ção final se deu pelas características organolépticas da formulação, a partir de opini-
ões de vários analistas. A partir do painel de satisfação (CELMER, 2005; SILVA,
2003). Tabela 3.1 (Anexo II).
3.5. Teste de Agentes Molhantes
Alguns fármacos insolúveis podem ser molhados com facilidade pela água,
sendo rapidamente dispersos na fase aquosa apenas mediante agitação fraca. Contudo, a
maioria dos fármacos apresenta graus variados de hidrofobicidade, não sendo facilmen-
te molhados. Algumas partículas formam grandes aglomerados porosos quando coloca-
das em contato com a água, enquanto outras continuam na superfície, sendo atraídas
para a parte superior do recipiente. Assim, a espuma produzida durante a agitação ten-
derá a desaparecer lentamente, devido ao efeito estabilizante das pequenas partículas na
interface líquido/ar (AULTON, 2005).
Para garantir uma molhabilidade adequada, a tensão interfacial entre sólido e o
líquido deve ser reduzida de maneira que o ar adsorvido na superfície do sólido possa
ser deslocado pelo líquido. Assim, as partículas serão facilmente dispersas no líquido,
em especial se a mistura for feita sob forte agitação. Se forem preparadas várias suspen-
sões, cada qual contendo uma faixa de concentração de agente molhante, a concentração
escolhida deverá ser a que propiciar a molhabilidade adequada (AULTON, 2005).
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Como agente molhante foi proposto para formulação glicerina nas concentrações
20% e 30%. Foram testadas nas formulações de CMC (celulose microcristalina) 1,0 % e
tabulose® 2%, sendo o resultado final avaliado conforme observações na altura de sedi-
mento e aparência final, aspecto da preparação.
3.6. Escolha dos conservantes
Para a conservação da suspensão de benznidazol, foram testados os conser-
vantes metilparabeno e propilparabeno em associação, na proporção 9:1; nas concen-
trações de 0,18 e 0,02 %, respectivamente. Esta proporção e concentração são larga-
mente utilizadas para várias formas farmacêuticas, incluindo suspensões (KIBBE,
2000).
Os parabenos são efetivos em uma ampla variação de pH e tem um amplo es-
pectro de atividade antimicrobiana apesar de serem mais efetivos contra mofos e bo-
lores (KIBBE, 2000). Eles também são mais ativos contra bactérias Gram-negativas.
3.7. Escolha do anti-espumante
No lote de bancada 16 acrescentou-se silicone (simethicone®) como agen-
te anti-espumante, de acordo com a orientação do fabricante do agente suspensor ta-
bulose SC 580®, na concentração de 0,1%, visto que durante o processo observou-se
uma excessiva formação de espuma.
4. Resultado e Discussões
Entre as formulações para forma farmacêutica suspensão líquida oral, a que mais
se aproximou das características desejadas de uma formulação foi o teste de bancada
de número 16.
Os resultados físico-químicos dos lotes de bancada, estão descritos na tabela 3.2
(Anexo II), resultados da viscosidade e do pH. Sendo que a viscosidade foi definida
utilizando spindle 3, rotação de 30 rpm, a partir do lote de bancada 6, devido o volume
dos anteriores serem muito pequenos para se fazer a análise, a capacidade mínima é de
500 mL, especificada pelo aparelho BROOKSFIELD. A faixa de pH da suspensão a-
quosa de benznidazol é entre 5 e 8. O resultado esperado para o teste de viscosidade não
foi especificado, basta que a suspensão mantenha viscosidade considerada para diminuir
a velocidade de sedimentação, sem, contudo dificultar a redispersão.
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4.1. Doseamento
Inicialmente foram testadas metodologias que utilizaram metanol na primeira e
segunda diluições, e etanol também na primeira e segunda diluição. O melhores resulta-
dos, avaliados pela menor variação, foi com a diluição em etanol; e esta apresentou ab-
sorvâncias inferiores às diluições com metanol. Em seguida avaliou-se a realização da
segunda diluição com água a partir da primeira com metanol e etanol, e os valores se
mostraram com menor variação, bem como com maior facilidade no procedimento, me-
nor custo de análise e menor exposição à solventes orgânicos potencialmente tóxicos.
Sendo assim, foi selecionado o método para realizar o doseamento da suspensão que
empregou etanol na primeira diluição e água destilada na segunda diluição.
O método apresentou algumas dificuldades (benznidazol é um princípio ati-
vo muito pouco solúvel em água (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2002)), sobretudo
na etapa da retirada da alíquota de 10 mL da suspensão com pipeta volumétrica, por se
tratar de um líquido com certa viscosidade possibilitando pequenas variações no volu-
me da alíquota e por ocorrer a formação de espuma. A homogeneidade da suspensão
também é um fator a ser considerado, pois a distribuição do tamanho de partículas
(FLORENCE, 2003) precisa ser homogênea e uniforme para dar resultados reprodutí-
veis e com repetitividade. A etapa de filtração também apresentou dificuldades, a filtra-
ção em filtro faixa preta, visto que o aporte de sólidos e viscosidade do agente suspen-
sor rapidamente saturava o papel. Tabela 3.3 (Anexo II).
Os lotes de bancada de número 17 a 21 apresentaram a mesma concentração de
princípio ativo e variou a adição de um novo excipiente o Aerosil®. O resultado da des-
crição, pH e doseamento realizado nestes lotes podem ser visualizados na tabela 3.4
(Anexo II).
Os resultados físico-químicos dos testes de bancada foram realizado a medida
que o teste estava sendo realizado e o pH foi medido em um phmetro digital, como os
testes de bancada de número 1 a 16, o teor da suspensão extemporânea foi obtido por
Espectrofotometria, mantendo-se a mesma técnica utilizada nos testes anteriores. Os
resultados de viscosidade não foram mensurados nestes ensaios, pois o volume de 150,0
mL não era o suficiente para se fazer a leitura no aparelho BROOKFIELD (capacidade
mínima é de 500 mL).
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Sendo assim, o teste de bancada 21 foi o que mais se aproximou das característi-
cas desejadas de uma formulação de suspensão, sendo este refeito para viabilizar o estu-
do de estabilidade acelerada e de longa duração do pó para suspensão de Benznidazol a
2%.
Procurando otimizar a forma farmacêutica suspensão líquida oral de benznidazol
2%, foram feitos 8 lotes de bancada a partir do lote de bancada 16. Foi proposto à alte-
ração do agente molhante e o anti-espumante, tendo em vista que o agente molhante do
lote de bancada 16, não apresentou um resultado satisfatório, após ser deixado em análi-
se na bancada dentro de proveta de vidro. Foi feito seis testes de bancada, usando o sor-
bitol 70% nas concentrações 20% e 30% associado com o polietilenoglicol e propileno-
glicol 400 nas concentrações 15% e 25%, o resultado final foi avaliado observando-se a
altura do sedimento e aparência. Os realizados apresentaram excessiva formação de
espuma, com exceção dos lotes de bancada 2 e 6.
E partindo dos lotes 2 e 6, foi feito o 7 e 8, onde duplicou-se o anti-espumante
(silicone, Simethicone®, de 0,1%, passou a ser 0,2%). Estes dois testes apresentaram
uma espuma com aspecto mais frouxo e de fácil dispersão. E entre os dois testes o
que melhor apresentou o resultado foi o lote 8, onde ele está dentro das especifica-
ções de teor, tamanho de partículas aparentemente uniforme, cor e odor agradável.
5. Conclusão
Os estudos de pré-formulação permitiram à obtenção de formulação dentro das es-
pecificações físico-químicas estabelecidas, além de definir o melhor processo de fabri-
cação.
O estudo viabilizou uma forma farmacêutica inexistente no mercado farmacêutico
para contemplar um púbico alvo de pacientes pediátricos e geriátricos, a forma farma-
cêutica líquida suspensão foi desenvolvida juntamente com a metodologia analítica para
matéria-prima e produto acabado. O estudo visou contribuir e beneficiar o tratamento
dos pacientes chagásicos, facilitando principalmente a administração de dosagens e
maior adesão ao tratamento.
SILVA, A.L.M. 61
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6. Referências Bibliográficas
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SILVA, A.L.M. 63
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
CONCLUSÕES
A doença de Chagas preocupa não somente os pacientes chagásicos, mas tam-
bém a Organização Mundial de Saúde, por se tratar de uma doença negligenciada e de-
vido ao aumento do número de novos casos a cada ano devido as suas várias formas de
transmissão.
O Benznidazol é considerado hoje a única alternativa mundial para o tratamento
de pacientes crônicos com doença de Chagas e desde 2003 passou a ser produzido no
Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE®).
O método desenvolvido por Espectrofotômetria apresenta-se validado, por aten-
der as exigências da Resolução RE n° 899 ANVISA, apresentando-se linear, preciso,
exato e robusto, garantindo a qualidade da análise e assim as boas práticas de laborató-
rio.
O método desenvolvido por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE)
apresenta-se validado conforme a RE nº. 899 da ANVISA, estando disponível como
método específico, preciso, exato e robusto para acompanhamento do estudo de estabi-
lidade nos moldes acelerado e de longa duração dos comprimidos de benznidazol 100
mg, desenvolvidos pelo LAFEPE� em parceria com a Roche�.
Os desenvolvimentos e validação de Metodologia Analítica, feitos em parceria
com o Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos (LTM), da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE), irão proporcionar a indústria uma análise de custo razoável,
rápida, acelerando assim a resposta de análise para produção em escala industrial, fator
importante no custo final do produto.
O desenvolvimento da forma farmacêutica suspensão à base de Benznidazol 2%
permitiu à obtenção da formulação dentro das especificações físico-químicas estabele-
cidas, além de definir o melhor processo de fabricação.
O estudo viabilizou uma forma farmacêutica inexistente no mercado farmacêutico
para contemplar um púbico alvo de pacientes pediátricos e geriátricos, e visando au-
mentar a adesão ao tratamento.
A forma farmacêutica suspensão, tanto a líquida como o pó extemporâneo, foi de-
senvolvido juntamente com a metodologia analítica para matéria-prima e produto aca-
bado.
SILVA, A.L.M. 64
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
PERSPECTIVAS São necessários estudos complementares para a produção da suspensão de
Benznidazol a 2% em escala industrial e posterior comercialização. Alguns já estão em
andamento e outros ficam como perspectivas a serem realizadas por nosso grupo de
pesquisa. Segue abaixo algumas sugestões para continuação e aprofundamento deste
trabalho:
- Otimização da forma farmacêutica suspensão de Benznidazol 2%a partir do estudo de
estabilidade;
- Validação da Metodologia Analítica por Espectrofotometria e Cromatografia Líquida
de Alta Eficiência (CLAE), já desenvolvidos, para a forma farmacêutica suspensão de
Benznidazol;
- Transposição de escala para o universo industrial;
- Estudo de Equivalência Farmacêutica e Biodisponibilidade para a suspensão.
SILVA, A.L.M. 65
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
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SILVA, A.L.M. 67
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
ANEXOS
SILVA, A.L.M. 68
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ANEXO I. Capítulo II - Desenvolvimento e Validação de Metodologia Analítica
para Matéria-Prima e Produto Acabado
Artigo 2 – Desenvolvimento de método analítico por CLAE em comprimidos de Benz-
nidazol para a Doença de Chagas
Tabela 2.1. Robustez com relação à proporção da fase
Concentração (ppm) Proporção de água ultra pura : Acetonitrila1 2 3 4 5
Média CV%
48:52 105,01 104,78 104,03 103,34 105,85 104,60 0,92 50:50 104,52 103,27 103,28 104,31 102,57 103,59 0,78 52:48 106,25 104,99 104,17 103,45 106,23 105,02 1,18
Tabela 2.2. Robustez com relação à variação do fluxo
Concentração (ppm) Fluxo (mL/min)
1 2 3 4 5
Média CV%
0,99 103,85 102,79 101,15 102,24 102,54 102,51 0,95 1,00 101,33 100,65 99,22 99,93 100,19 100,26 0,79 1,01 103,69 102,72 100,52 101,13 101,03 101,82 1,31
Tabela 2.3. Robustez com relação à variação do tipo de agitação
Concentração (ppm) Tipo de agitação 1 2 3 4 5
Média CV%
Sonicação 102,14 100,66 101,62 101,17 101,54 101,43 0,54 Agitação magnética 100,14 99,90 100,88 101,17 101,01 100,62 0,56
SILVA, A.L.M. 69
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ANEXO I. Capítulo II - Desenvolvimento e Validação de Metodologia Analítica
para Matéria-Prima e Produto Acabado
Artigo 2 – Desenvolvimento de método analítico por CLAE em comprimidos de Benz-
nidazol para a Doença de Chagas
Tabela 2.4. Resultados da Precisão Intermediária – 1.° Dia
Concentração (ppm) Analistas
1 2 3 4 5
Média CV
(%)
I 101,51 101,57 101,74 101,94 101,90 101,73 0,19
II 102,48 102,36 102,04 101,36 101,36 101,92 0,53
Tabela 2.5. Resultados da Precisão Intermediária – 2° Dia
Concentração (ppm) Analistas
1 2 3 4 5
Média CV
(%)
I 102,04 102,11 102,55 101,10 101,93, 101,95 0,52
II 99,44 100,53 101,95 102,57 101,08 101,11 1,21
SILVA, A.L.M. 70
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
ANEXO II. Capítulo III – Desenvolvimento da Forma Farmacêutica Suspensão à
Base de Benznidazol 2%
Tabela 3.1. Definição do Agente Aromatizante
TESTE FLAVORIZANTE FABRICANTE LOTE
1 Aroma Artificial de Chocola-
te Branco
Iceberg® CHB 002-
01
2 Aroma Artificial de Banana Vita flavor® 31664
3 Aroma Artificial de Baunilha Vita flavor® 23364
4 Aroma Artificial de Abacaxi Vita flavor® 22714
SILVA, A.L.M. 71
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
ANEXO II. Capítulo III – Desenvolvimento da Forma Farmacêutica Suspensão à
Base de Benznidazol 2%
Tabela 3.2. Resultados de Viscosidade e pH (Lote de Bancada 1 a 16)
LOTE DE
BANCADA pH* VISCOSIDADE**
(cP)
1 6,77 -
2 7,10 -
3 7,10 -
4 6,63 -
5 6,49 -
6 6,47 230
7 6,14 44
8 6,25 68
9 6,27 82
10 6,87 364
11 6,42 508
12 6,28 98
13 6,34 94
14 6,60 1010
15 6,83 1680
16 6,14 162
* Especificação do pH: 5 – 8
** Especificação da Viscosidade: Satisfatória a redispersão.
SILVA, A.L.M. 72
DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
ANEXO II. Capítulo III – Desenvolvimento da Forma Farmacêutica Suspensão à
Base de Benznidazol 2%
Tabela 3.3. Doseamento do Lote de Bancada 16
AMOSTRA Abs TEOR % Padrão 1 0,543 - Padrão 2 0,5483 - Amostra 1 0,5131 94,03 Amostra 2 0,5151 94,4 Amostra 3 0,5268 96,54 Amostra 4 0,5207 95,43 Média das amostras 0,51893 95,1
Tabela 3.4. Resultados da descrição, pH e Doseamento (Pó para 150,0 mL)
ANÁLISES LB 17 LB 18 LB 19 LB 20 LB 21
DESCRIÇÃO
Líquido, branco – levemente amare-lado; sem gru-mos; formou um pouco de espuma no inicio da agitação.
Líquido, branco – levemente amare-lado; sem gru-mos; formou um pouco de espuma no inicio da agitação.
Líquido, branco – levemente amare-lado; sem gru-mos; formou um pouco de espuma no inicio da agitação.
Líquido, branco – levemente amare-lado; sem gru-mos; formou um pouco de espuma no inicio da agitação.
Líquido, branco – leve-mente amarelado; sem grumos; formou um pouco de espuma no inicio da agitação.
PH 6,14 6,06 6,37 5,67 -
DOSEAMENTO 105,53% 79,56% 56,29% 86,56% -
SILVA, A.L.M. 73
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ANEXO II. Capítulo III – Desenvolvimento da Forma Farmacêutica Suspensão à
Base de Benznidazol 2%
DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA DA MATÉRIA PRIMA BENZONI-
DAZOL
A distribuição granulométrica do princípio ativo Benznidazol matéria-prima.
Peso inicial = 15000,06 mg LOTE 13871
Tabela 3.5. Repartição granulométrica do Benznidazol
Nº. tamiz MALHA
(MESH)
ABERTURA
(µm)
PESO RETI-
DO (mg) % RETIDO
1 28 600 413,41 2,884
2 35 425 1064,91 7,430
3 60 250 8922,50 62,252
4 80 180 2717,96 18,963
5 100 150 1171,65 8,175
6 200 75 38,11 0,26
COLETOR - - 4,21 0,03
TOTAL - - 14332,75 99,99
SILVA, A.L.M. 74
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CERTIFICADO DE PARTICIPAÇÃO DE EVENTOS
RESUMOS APRESENTADOS EM CONGRESSOS
CARTAS DE SUBMISSÃO DE ARTIGOS
SILVA, A.L.M. 75
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SILVA, A.L.M. 76
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DESENVOLVIMENTO DA FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO À BASE DE BENZNIDAZOL PARA UTILIZAÇÃO NO TRA-TAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS
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