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1. Introdução A pesar de, nos últimos anos, a sua imagem ter sido um pouco beliscada pelo seu apa- rente envolvimento em alguns escândalos tais como a questão da dívida pública oculta; in- tervenção financeira duvidosa no Moza Banco; e os processos de recrutamento de recursos hu- manos pouco transparentes, o Banco de Moçam- bique (BM) continua a ser das poucas entidades públicas com uma reputação de integridade, im- parcialidade e imunidade às pressões políticas, normalmente exercidas pelo partido no poder, Frelimo, para uso do poder público para beneficio do partido. No entanto, uma avaliação minuciosa da evolução da emissão monetária em Moçambique, conforme é detalhadamente explicado na secção seguinte, sugere haver possibilidade de acções ‘ocultas’ do BM, em períodos eleitorais. Esta prática, que tem sido comum, um pouco por todo mundo, mas com maior incidência em países africanos e sul ameri- canos, resulta da pressão política dos governos so- bre os bancos centrais. E, consiste na expansão da emissão, oferta monetária ou redução da taxa de juro de política monetária, em períodos eleitorais para criar uma falsa sensação de bem-estar socio- económico, e por esta via, reeleger ou favorecer a eleição do candidato do partido no poder (Hakes, 1988, Wallner, 2012, Eryilmaz e Murat, 2016). Neste sentido, o presente Desenvolvimento Re- view analisa a política monetária do BM nos anos de realização de eleições. Especificamente, pre- tende-se avaliar, se a política monetária (expan- siva ou restritiva) difere entre períodos pré-eleito- rais e pós-eleitorais. Para além desta introdução, este artigo apresenta, na secção 2, uma dis- cussão sobre algumas coincidências curiosas en- tre a evolução da emissão monetária e os ciclos eleitorais em Moçambique; já na terceira secção descreve-se o cenário da política monetária do BM, em 2019, no contexto do actual ciclo eleito- ral que iniciou em 2018. Finalmente, na secção 4 apresenta as principais conclusões do artigo. 2. Algumas coincidências entre a evolução da oferta monetária e os ciclos eleitorais Esta secção analisa quatro aspectos que levantam algumas dúvidas sobre a independência e impar- cialidade do BM durante os períodos eleitorais, em Moçambique. Resumo Este Desenvolvimento Review (DesR) analisa as acções do Banco de Moçambique ao longo dos últimos 10 anos e constatou que, em períodos eleitorais, o Banco de Moçambique muda o sen- tido da política monetária, com influência na competição eleitoral. DESENVOLVIMENTO REVIEW Maputo, 9 de Setembro, 2019 Número 1 Português Emissão monetária excessiva em períodos eleitorais: Simples Coincidência ou “Campanha Eleitoral Oculta” do Banco de Moçambique?

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Page 1: DESENVOLVIMENTO REVIEWeleicoes.cddmoz.org/wp-content/uploads/2019/12/...c) A oferta monetária sempre acelera nas vésperas (período de campanha eleitoral) das eleições gerais O

1. Introdução

Apesar de, nos últimos anos, a sua imagem ter sido um pouco beliscada pelo seu apa-rente envolvimento em alguns escândalos

tais como a questão da dívida pública oculta; in-tervenção financeira duvidosa no Moza Banco; e os processos de recrutamento de recursos hu-manos pouco transparentes, o Banco de Moçam-bique (BM) continua a ser das poucas entidades públicas com uma reputação de integridade, im-parcialidade e imunidade às pressões políticas, normalmente exercidas pelo partido no poder, Frelimo, para uso do poder público para beneficio do partido.

No entanto, uma avaliação minuciosa da evolução da emissão monetária em Moçambique, conforme é detalhadamente explicado na secção seguinte, sugere haver possibilidade de acções ‘ocultas’ do BM, em períodos eleitorais. Esta prática, que tem sido comum, um pouco por todo mundo, mas com maior incidência em países africanos e sul ameri-canos, resulta da pressão política dos governos so-bre os bancos centrais. E, consiste na expansão da emissão, oferta monetária ou redução da taxa de juro de política monetária, em períodos eleitorais

para criar uma falsa sensação de bem-estar socio-económico, e por esta via, reeleger ou favorecer a eleição do candidato do partido no poder (Hakes, 1988, Wallner, 2012, Eryilmaz e Murat, 2016).

Neste sentido, o presente Desenvolvimento Re-view analisa a política monetária do BM nos anos de realização de eleições. Especificamente, pre-tende-se avaliar, se a política monetária (expan-siva ou restritiva) difere entre períodos pré-eleito-rais e pós-eleitorais. Para além desta introdução, este artigo apresenta, na secção 2, uma dis-cussão sobre algumas coincidências curiosas en-tre a evolução da emissão monetária e os ciclos eleitorais em Moçambique; já na terceira secção descreve-se o cenário da política monetária do BM, em 2019, no contexto do actual ciclo eleito-ral que iniciou em 2018. Finalmente, na secção 4 apresenta as principais conclusões do artigo.

2. Algumas coincidências entre a evolução da oferta monetária e os ciclos eleitoraisEsta secção analisa quatro aspectos que levantam algumas dúvidas sobre a independência e impar-cialidade do BM durante os períodos eleitorais, em Moçambique.

ResumoEste Desenvolvimento Review (DesR) analisa as acções do Banco de Moçambique ao longo dos últimos 10 anos e constatou que, em períodos eleitorais, o Banco de Moçambique muda o sen-tido da política monetária, com influência na competição eleitoral.

DESENVOLVIMENTO REVIEW

Maputo, 9 de Setembro, 2019 Número 1 Português

Emissão monetária excessiva em períodos eleitorais:Simples Coincidência ou “Campanha Eleitoral Oculta” do Banco de Moçambique?

Page 2: DESENVOLVIMENTO REVIEWeleicoes.cddmoz.org/wp-content/uploads/2019/12/...c) A oferta monetária sempre acelera nas vésperas (período de campanha eleitoral) das eleições gerais O

2 Desenvolvimento Review I www.cddmoz.org

a) O crescimento da oferta monetária duplica em anos de eleições

A tabela 1 apresenta a evolução do crescimento da emissão de moeda (M1) em Moçambique desde Ja-

neiro do ano 2000 até Junho de 2019. Os dados apresentados nesta tabela estão divididos em três grupos, crescimento da oferta monetária em anos de eleições gerais (cor de laranja), anos de eleições autárquicas (verde) e anos sem eleições (branco).

Tabela 1: Emissão monetária em Moçambique: ano eleitorais vs anos sem eleições

Fonte: Banco de Moçambique (2019)Notas: As cores indicam os anos de realização de eleições (cor e laranja ara eleições gerais, verde para eleições autárquicas e branco para anos sem eleições)

2

A tabela 1 apresenta a evolução do crescimento da emissão de moeda (M1) em Moçambique desde Janeiro do ano 2000 até Junho de 2019. Os dados apresentados nesta tabela estão divididos em três grupos, crescimento da oferta monetária em anos de eleições gerais (cor de laranja), anos de eleições autárquicas (verde) e anos sem eleições (branco).

Tabela 1: Emissão monetária em Moçambique: ano eleitorais vs anos sem eleições

Ano 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 M1(%) 1.6 1.9 1.8 1.5 1.8 1.8 1.4 1.4 1.9 0.7

Ano 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

M1(%) 2.7 2.5 0.1 1.1 1.3 1.6 0.9 1.7 0.1 0.2 1.3 Fonte: Banco de Moçambique (2019) Notas: As cores indicam os anos de realização de eleições (cor e laranja ara eleições gerais, verde para eleições autárquicas e branco

para anos sem eleições)

Da análise da tabela supracitada, verifica-se que, em anos sem eleições, a emissão monetária cresceu em média 1%, por mês, com o valor mínimo de 0.1% (2011 e 2017) e máximo de 2.5% (2010). Em anos de eleições autárquicas (2003, 2008 e 2018), a oferta monetária também cresceu em 1%, com uma mínima de 0.2% (2018) e máxima de 1.8% (2003). E nos anos de eleições gerais (1999, 2004 e 2019), a oferta monetária aumentou em cerca de 2%, por mês, com uma média mínima de 1.3% (primeiro semestre de 2019) e máxima de 2.7% (2009). b) A oferta monetária é maior em períodos pré-eleitorais que em períodos pós-eleições

O gráfico 1 mostra a evolução da emissão monetária nos anos (1999, 2000, 2009 e 2014) em que foram realizadas eleições gerais em Moçambique. O primeiro aspecto que salta à vista, ao se observar o gráfico 1, é uma transição na política monetária do BM, de uma política restritiva (contração da emissão monetária) para uma política expansiva (incremento da emissão monetária). Em todos anos em estudo, a oferta monetária apresenta uma tendência decrescente entre Janeiro e Abril, alterando, posteriormente, para uma tendência crescente, normalmente até ao início da campanha eleitoral ou mesmo até as vésperas das eleições. Com a excepção de 2014, em todos os outros anos em análise, o BM voltou a restringir a oferta monetária logo a seguir às eleições, num esforço de controlar possíveis pressões inflacionárias causadas pela emissão excessiva de moeda no período pré-eleitoral.

Gráfico 1: Evolução da Oferta Monetária em Anos de Eleições Gerais em Moçambique 1999 2004

Da análise da tabela supracitada, verifica-se que, em anos sem eleições, a emissão monetária cres-ceu em média 1%, por mês, com o valor míni-mo de 0.1% (2011 e 2017) e máximo de 2.5% (2010). Em anos de eleições autárquicas (2003, 2008 e 2018), a oferta monetária também cres-ceu em 1%, com uma mínima de 0.2% (2018) e máxima de 1.8% (2003). E nos anos de eleições gerais (1999, 2004 e 2019), a oferta monetária aumentou em cerca de 2%, por mês, com uma média mínima de 1.3% (primeiro semestre de 2019) e máxima de 2.7% (2009).

b) A oferta monetária é maior em períodos pré-eleitorais que em períodos pós-eleições

O gráfico 1 mostra a evolução da emissão mon-etária nos anos (1999, 2000, 2009 e 2014) em

que foram realizadas eleições gerais em Moçam-bique. O primeiro aspecto que salta à vista, ao se observar o gráfico 1, é uma transição na política monetária do BM, de uma política restritiva (con-tração da emissão monetária) para uma política expansiva (incremento da emissão monetária). Em todos anos em estudo, a oferta monetária apresenta uma tendência decrescente entre Ja-neiro e Abril, alterando, posteriormente, para uma tendência crescente, normalmente até ao início da campanha eleitoral ou mesmo até as vésperas das eleições.

Com a excepção de 2014, em todos os outros anos em análise, o BM voltou a restringir a oferta monetária logo a seguir às eleições, num esforço de controlar possíveis pressões inflacionárias cau-sadas pela emissão excessiva de moeda no perío-do pré-eleitoral.

Gráfico 1: Evolução da Oferta Monetária em Anos de Eleições Gerais em Moçambique

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2009 2014

Fonte: Banco de Moçambique (2019) Notas: As barras cor de laranja indicam o mês no qual foram realizadas as eleições gerais

c) A oferta monetária sempre acelera nas vésperas (período de campanha eleitoral) das

eleições gerais

O gráfico 2 ilustra a variação mensal da emissão monetária nos anos (1999, 2004, 2009 e 2014), em que foram realizadas as eleições gerais em Moçambique. O gráfico acima mostra que em todos os anos de eleições gerais, nos períodos de campanha eleitoral (45 dias antes da realização de eleições), o BM sempre injetou mais dinheiro no sistema financeiro nacional e, em alguns casos, contrariando a tendência de política monetária restritiva verificada no período imediatamente anterior à campanha eleitoral. Gráfico 2: Evolução do Crescimento da Emissão Monetária em Anos de Eleições Gerais em

Moçambique 1999 2004

1.602

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1.542

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Fonte: Banco de Moçambique (2019)Notas: As barras cor de laranja indicam o mês no qual foram realizadas as eleições gerais

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Fonte: Banco de Moçambique (2019) Notas: As barras cor de laranja indicam o mês no qual foram realizadas as eleições gerais

c) A oferta monetária sempre acelera nas vésperas (período de campanha eleitoral) das

eleições gerais

O gráfico 2 ilustra a variação mensal da emissão monetária nos anos (1999, 2004, 2009 e 2014), em que foram realizadas as eleições gerais em Moçambique. O gráfico acima mostra que em todos os anos de eleições gerais, nos períodos de campanha eleitoral (45 dias antes da realização de eleições), o BM sempre injetou mais dinheiro no sistema financeiro nacional e, em alguns casos, contrariando a tendência de política monetária restritiva verificada no período imediatamente anterior à campanha eleitoral. Gráfico 2: Evolução do Crescimento da Emissão Monetária em Anos de Eleições Gerais em

Moçambique 1999 2004

1.602

,41

1.542

,72

1.442

,50

1.506

,04

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c) A oferta monetária sempre acelera nas vésperas (período de campanha eleitoral) das eleições gerais

O gráfico 2 ilustra a variação mensal da emissão monetária nos anos (1999, 2004, 2009 e 2014), em que foram realizadas as eleições gerais em Moçambique. O gráfico acima mostra que em to-

dos os anos de eleições gerais, nos períodos de campanha eleitoral (45 dias antes da realização de eleições), o BM sempre injetou mais dinheiro no sistema financeiro nacional e, em alguns casos, contrariando a tendência de política monetária re-stritiva verificada no período imediatamente an-terior à campanha eleitoral.

Gráfico 2: Evolução do Crescimento da Emissão Monetária em Anos de Eleições Gerais em Moçambique

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2009 2014

Fonte: Banco de Moçambique (2019)

d) Existe uma correlação forte entre a expansão monetária em anos de eleições e os

resultados das eleições

A tabela 2 compara a evolução da oferta monetária e os resultados eleitorais tanto das eleições legislativas como das presidenciais nos anos 1999, 2004, 2009 e 2014.

Tabela 2: Oferta Monetária e Resultados das Eleições Gerais em Moçambique Ano 1999 2004 2009 2014 Coeficiente de Correlação

M1(%) 1.6 1.8 2.7 1.6 1 Votos Legislativas Frelimo (%) 48.6 62 74.7 55.7 0.93 Votos Legislativas Renamo (%) 38.8 29.7 17.7 33 -0.95 Votos Presidenciais Frelimo (%) 52.3 63.7 75 57 0.94 Votos Presidenciais Renamo (%) 47.7 31.7 16 36.6 -0.92

Fonte: Banco de Moçambique (2019) e Conselho Constitucional (2004, 2014), EISA (2016) e Nuvunga (2014)

Coincidência ou não, a verdade é que existe uma correlação forte entre a evolução da emissão monetária em períodos eleitorais e os resultados da votação, sendo essa correlação positiva para a Frelimo e o seu candidato e negativa para a RENAMO e o seu candidato. A tabela 2 mostra claramente que, nos anos em que se verificou um crescimento acentuado da oferta monetária (2004 e 2009), a vitória da Frelimo e seu candidato presidencial foi esmagadora. Nos anos em que a oferta monetária cresceu de

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Eleições: 3 -5 de Dezembro

Eleições: 1 -3 de Dezembro

Eleições: 28 de Outubro Eleições: 28 de Outubro

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2009 2014

Fonte: Banco de Moçambique (2019)

d) Existe uma correlação forte entre a expansão monetária em anos de eleições e os

resultados das eleições

A tabela 2 compara a evolução da oferta monetária e os resultados eleitorais tanto das eleições legislativas como das presidenciais nos anos 1999, 2004, 2009 e 2014.

Tabela 2: Oferta Monetária e Resultados das Eleições Gerais em Moçambique Ano 1999 2004 2009 2014 Coeficiente de Correlação

M1(%) 1.6 1.8 2.7 1.6 1 Votos Legislativas Frelimo (%) 48.6 62 74.7 55.7 0.93 Votos Legislativas Renamo (%) 38.8 29.7 17.7 33 -0.95 Votos Presidenciais Frelimo (%) 52.3 63.7 75 57 0.94 Votos Presidenciais Renamo (%) 47.7 31.7 16 36.6 -0.92

Fonte: Banco de Moçambique (2019) e Conselho Constitucional (2004, 2014), EISA (2016) e Nuvunga (2014)

Coincidência ou não, a verdade é que existe uma correlação forte entre a evolução da emissão monetária em períodos eleitorais e os resultados da votação, sendo essa correlação positiva para a Frelimo e o seu candidato e negativa para a RENAMO e o seu candidato. A tabela 2 mostra claramente que, nos anos em que se verificou um crescimento acentuado da oferta monetária (2004 e 2009), a vitória da Frelimo e seu candidato presidencial foi esmagadora. Nos anos em que a oferta monetária cresceu de

-2,9%-3,7%

-6,5%

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set/99

out/99

nov/99

dez/99

-7,4%

-2,4%-2,4%

4,8%

0,1%

7,4%

5,3%

-0,5%

1,9%3,2%

6,6%5,1%

jan/

04

fev/04

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abr/04

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04

jul/0

4

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04

set/04

out/04

nov/04

dez/04

-6,0%

-3,6%

2,0%

6,2%6,6%

9,9%

4,9%

-1,4%

5,2%3,8%

1,9%2,8%

jan/

09

fev/09

mar/09

abr/09

mai/09

jun/

09

jul/0

9

ago/

09

set/09

out/09

nov/09

dez/09

-6,3%

-1,9%

2,4%1,7%

6,9%7,4%5,9%

-0,8%0,7%

-1,0%-0,4%

5,1%

jan/

14

fev/14

mar/14

abr/14

mai/14

jun/

14

jul/1

4

ago/

14

set/14

out/14

nov/14

dez/14

Eleições: 3 -5 de Dezembro

Eleições: 1 -3 de Dezembro

Eleições: 28 de Outubro Eleições: 28 de Outubro

2009 2014

Fonte: Banco de Moçambique (2019)

d) Existe uma correlação forte entre a expansão monetária em anos de eleições e os resultados das eleições

A tabela 2 compara a evolução da oferta monetária e os resultados eleitorais tanto das eleições legis-lativas como das presidenciais nos anos 1999, 2004, 2009 e 2014.

Tabela 2: Oferta Monetária e Resultados das Eleições Gerais em Moçambique

Ano 1999 2004 2009 2014 Coeficiente de Correlação M1(%) 1.6 1.8 2.7 1.6 1Votos Legislativas Frelimo (%) 48.6 62 74.7 55.7 0.93Votos Legislativas Renamo (%) 38.8 29.7 17.7 33 -0.95Votos Presidenciais Frelimo (%) 52.3 63.7 75 57 0.94Votos Presidenciais Renamo (%) 47.7 31.7 16 36.6 -0.92

Fonte: Banco de Moçambique (2019) e Conselho Constitucional (2004, 2014), EISA (2016) e Nuvunga (2014)

Coincidência ou não, a verdade é que existe uma correlação forte entre a evolução da emissão monetária em períodos eleitorais e os resultados da votação, sendo essa correlação positiva para a Frelimo e o seu candidato e negativa para a RENAMO e o seu candidato. A tabela 2 mostra claramente que, nos anos em que se verificou um crescimento acentuado da oferta monetária (2004 e 2009), a vitória da Frelimo e seu candida-

to presidencial foi esmagadora. Nos anos em que a oferta monetária cresceu de uma forma mais moderada (1999 e 2014), a RENAMO e seu can-didato presidencial teve um crescimento eleitoral, dando lugar a uma maior competição eleitoral. Estes indícios sugerem que, mesmo que de for-ma indirecta, o BM terá tido alguma influência no sentido de voto dos moçambicanos nas eleições gerais e provinciais realizadas desde 1999.

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5Desenvolvimento Review I www.cddmoz.org

3. Evolução da política monetária nas vésperas das eleições gerais e provinciais de 2019

O gráfico 2 ilustra o comportamento da oferta monetária e da taxa de juro de política monetária (taxa MIMO) do BM nos últimos oito meses.

Gráfico 2: Evolução da Emissão Monetária (M1) e da Taxa de Juro e Política Monetária (MIMO) em Moçambique (2019)

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uma forma mais moderada (1999 e 2014), a RENAMO e seu candidato presidencial teve um crescimento eleitoral, dando lugar a uma maior competição eleitoral.

Estes indícios sugerem que, mesmo que de forma indirecta, o BM terá tido alguma influência no sentido de voto dos moçambicanos nas eleições gerais e provinciais realizadas desde 1999. 3. Evolução da política monetária nas vésperas das eleições gerais e provinciais de 2019 O gráfico 2 ilustra o comportamento da oferta monetária e da taxa de juro de política monetária (taxa MIMO) do BM nos últimos oito meses.

Gráfico 2: Evolução da Emissão Monetária (M1) e da Taxa de Juro e Política Monetária (MIMO) em Moçambique (2019)

Fonte: Banco de Moçambique (2019) Nota: NMC – Notas e Moedas em Circulação (M1); escala à esquerda (milhões de meticais); escala à direita (percentagem, %).

A principal constatação é de que o padrão do ciclo eleitoral está a repetir-se, ou seja, depois de ter iniciado o ano com uma política monetária restritiva, manifestada pela redução da oferta monetária e manutenção da taxa MIMO em 14.25%, em Maio, o BM começou adoptar uma política monetária mais populista e, portanto, mais a favor aos interesses eleitorais do governo do dia, aumentando a oferta monetária. Por exemplo, de Junho para Julho a emissão monetária aumentou em 5%, reduzindo a taxa de juros de política monetária e mais recentemente, no terceiro dia da campanha eleitoral, reduziu a taxa de reservas obrigatórias.

12,60%

12,80%

13,00%

13,20%

13,40%

13,60%

13,80%

14,00%

14,20%

14,40%

-

5.000,00

10.000,00

15.000,00

20.000,00

25.000,00

30.000,00

35.000,00

40.000,00

45.000,00

dez/18 jan/19 fev/19 mar/19 abr/19 mai/19 jun/19 jul/19

NMC (direita) MIMO (esquerda)

Fonte: Banco de Moçambique (2019)Nota: NMC – Notas e Moedas em Circulação (M1); escala à esquerda (milhões de meticais); escala à direita (percentagem, %).

A principal constatação é de que o padrão do ciclo eleitoral está a repetir-se, ou seja, depois de ter iniciado o ano com uma política monetária res-tritiva, manifestada pela redução da oferta mon-etária e manutenção da taxa MIMO em 14.25%, em Maio, o BM começou adoptar uma política monetária mais populista e, portanto, mais a fa-

vor aos interesses eleitorais do governo do dia, aumentando a oferta monetária. Por exemplo, de Junho para Julho a emissão monetária aumen-tou em 5%, reduzindo a taxa de juros de política monetária e mais recentemente, no terceiro dia da campanha eleitoral, reduziu a taxa de reservas obrigatórias.

Conclusões

O presente Desenvolvimento Review (DesR) de-screveu a evolução da política monetária do Ban-co de Moçambique em anos de eleições e analisou os seus possíveis efeitos sobre o comportamento eleitoral dos moçambicanos. Constatou-se o se-guinte:

l O crescimento da emissão monetária em Moçambique é duas vezes maior em anos eleitorais comparativamente aos anos sem eleições;

l A acção do Banco de Moçambique, em períodos eleitorais têm influenciado as intenções de votos a favor da Frelimo e seus candi-datos presidenciais, prejudicando a com-petição eleitoral;

l A tendência de emissão excessiva de moeda em períodos de eleições está a se repetir em 2019, acompanhada da redução da taxa de juro de política monetária e da taxa de reserva obrigatória.

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Documentos Consultados

Banco de Moçambique. (2019). Estatísticas Monetárias. Maputo, Moçambique. Obtido em 17 de agos-to de 2019, de http://bancomoc.mz/fm_pgLink.aspx?id=222Conselho Constitucional. (2004). Deliberação n 5/CC/05 de 19 de janeiro que valida e proclama os resultados das eleições gerais, presidenciais e legislativas, de 1 e 2 de dezembro. Maputo.Conselho Constitucional. (2014). Acórdão n 21/CC/2014 que valida e proclama os resultados das Eleicoes Presidenciais, Legislativas e das Assembleias Provinciais de 15 de outubro de 2014. Maputo.EISA. (2016). Relatório n 53 da Missão de Observação Eleitoral do EISA. Maputo.Eryilmaz, F., & Murat, D. (2016). Political Business Cycles Theories: Evidence from Turkey. Universi-dade de Uludag, Departamento de Economia.Hakes. (1988). Monetary Policy and Presidential Elections: A Nonpartasian Cycle. Public Choice, 175-182.Nuvunga, A. (2014). From the Two-Party to the Dominant-Party System in Mozambique, 1994–2012: framing Frelimo Party Dominance in Context. Tese de Doutoramento, Maputo.Wallner, P. (2012). In Search of a Political Business Cycle. Universidade de Lund, Departamento de Economia, Lund.

Propriedade: Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD)Diretor: Prof. Adriano NuvungaAutor: Agostinho MachavaEquipa: Prof. Adriano Nuvunga, Selma Inocência, Narciso Cossa, Déborah Capela, Agostinho Machava, Denise Cruz, Isabel MacamoLayout: CDD

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