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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Comunicação Social – Hab. Midialogia Disciplina: CS405 – Educação e Tecnologia Prof. José Armando Valente Alunos: Bruna Luiza Bellico Neves – 095606 Gabriel Garcia Lima Ronconi – 091260 Desenhando rostos com as TIC Resumo: Este artigo tem por objetivo realizar a análise da eficácia das Tecnologias da Informação e da Comunicação no âmbito da aprendizagem, dando enfoque à utilização de vídeos disponibilizados no popular site de carregamento e compartilhamento de vídeos, o Youtube. O vídeo selecionado para tal estudo foi um tutorial sobre como desenhar rosto. Escolhemos uma participante que nunca havia estudado desenho e mostramos a ela o vídeo e pedimos para que fosse realizado o desenho. Em seguida, escolhemos um participante que já havia estudado desenho e que, nesse momento, cursa Artes Visuais na UNICAMP, e aplicamos a ele o mesmo procedimento. Ao final da observação, comparamos as duas experiências e verificamos a eficácia dessa TIC na aprendizagem do desenho de rosto, mostrando que, para um aprendizado inicial e superficial, porém necessário, ele atinge seu objetivo. Palavras-chave: TIC, desenho, vídeo, aprendizagem. Introdução: O estudo realizado para a elaboração desse artigo se faz em torno da utilização de vídeos tutoriais disponibilizados no site Youtube. Tutorias podem estar tanto em forma de texto, quanto em forma de vídeo e podem ser encontrados na Web nos mais diversos sites, abrangendo uma quantidade enorme de temas. Diferente dos textos, os vídeos tem a capacidade de se assemelhar com uma sala de aula, visto que, em sua maioria, mostra o professor realizando e explicando a atividade, como explica Lucia Maria Martins Giraffa em seu artigo, sobre tutoriais: “seguem o padrão de ensino da sala de aula tradicional onde o conteúdo é previamente organizado numa estrutura definida pelo professor e o aluno seleciona dentre as diversas opções disponíveis o conteúdo que deseja estudar. Mesmo aqueles que utilizam estrutura de hipermídia ou foram escritos em versão WEB, mantêm as características do ensino tradicional e não apresentam grandes revoluções, sob o ponto de vista pedagógico”. (GIRAFFA, 2009) A outra vantagem do vídeo, principalmente com relação a sala de aula, e que nos interessou e levou a escolher o tutorial como objeto de estudo, é o fato de o aluno ter a

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Page 1: Desenhando rostos com as TIC · 2019. 9. 27. · Observar e analisar como as pessoas aprendem a desenhar através de vídeos disponibilizados no Youtube e qual a eficiência deles

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASComunicação Social – Hab. MidialogiaDisciplina: CS405 – Educação e TecnologiaProf. José Armando Valente

Alunos: Bruna Luiza Bellico Neves – 095606 Gabriel Garcia Lima Ronconi – 091260

Desenhando rostos com as TIC

Resumo:

Este artigo tem por objetivo realizar a análise da eficácia das Tecnologias da Informação e da Comunicação no âmbito da aprendizagem, dando enfoque à utilização de vídeos disponibilizados no popular site de carregamento e compartilhamento de vídeos, o Youtube. O vídeo selecionado para tal estudo foi um tutorial sobre como desenhar rosto. Escolhemos uma participante que nunca havia estudado desenho e mostramos a ela o vídeo e pedimos para que fosse realizado o desenho. Em seguida, escolhemos um participante que já havia estudado desenho e que, nesse momento, cursa Artes Visuais na UNICAMP, e aplicamos a ele o mesmo procedimento. Ao final da observação, comparamos as duas experiências e verificamos a eficácia dessa TIC na aprendizagem do desenho de rosto, mostrando que, para um aprendizado inicial e superficial, porém necessário, ele atinge seu objetivo.

Palavras-chave:

TIC, desenho, vídeo, aprendizagem.

Introdução:

O estudo realizado para a elaboração desse artigo se faz em torno da utilização de vídeos tutoriais disponibilizados no site Youtube. Tutorias podem estar tanto em forma de texto, quanto em forma de vídeo e podem ser encontrados na Web nos mais diversos sites, abrangendo uma quantidade enorme de temas. Diferente dos textos, os vídeos tem a capacidade de se assemelhar com uma sala de aula, visto que, em sua maioria, mostra o professor realizando e explicando a atividade, como explica Lucia Maria Martins Giraffa em seu artigo, sobre tutoriais:

“seguem o padrão de ensino da sala de aula tradicional onde o conteúdo é previamente organizado numa estrutura definida pelo professor e o aluno seleciona dentre as diversas opções disponíveis o conteúdo que deseja estudar. Mesmo aqueles que utilizam estrutura de hipermídia ou foram escritos em versão WEB, mantêm as características do ensino tradicional e não apresentam grandes revoluções, sob o ponto de vista pedagógico”. (GIRAFFA, 2009)

A outra vantagem do vídeo, principalmente com relação a sala de aula, e que nos interessou e levou a escolher o tutorial como objeto de estudo, é o fato de o aluno ter a

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liberdade de parar, voltar e assistir os vídeos quantas vezes quiser. Para realizar um exercício de objetivo definido e prático, como o desenho, atividade que julgamos melhor para análise da eficácia do instrumento, em muitos casos, mesmo que o vídeo e o aluno sejam bons, é necessário a repetição de alguma etapas, para maximizar a memorização e aperfeiçoar os detalhes. Existem algumas outras implicações do uso de vídeos na multimídia educacional, conforme estudo do CINTED da UFRGS:

“Todavia, constatou-se que os alunos resistem um pouco a se deixar “prender” pelos recursos vídeo que impõe uma alocação exclusiva de tempo para acompanhar a narrativa, na cadência em que foi produzida e que pode não combinar com o ritmo que o aluno gostaria de impor ao manuseio do material, indo mais rápido ou pulando segmentos que já domina ou mesmo revendo partes que demandem maior atenção e concentração porque são mais complexas. Um recurso que precisa ser agregado ao uso deste tipo de recurso educacional é um conjunto de mecanismos de controle sobre a exibição do vídeos (botões de parar, reiniciar, retornar, avançar e retroceder rápido etc...). Embora os plugins (Windows Media Player, Real Player, Quick Time etc...) usualmente utilizados para exibir tal tipo de recurso ofereçam tais facilidades ainda assim não são suficientes para fornecer ao aluno uma “pista” ou visão panorâmica sobre se vão encontrar dentro do vídeo o que estão procurando. O processo de inspecionar um vídeo, mesmo com o recurso de avanço rápido é moroso e afasta potenciais usuários”. (ABREU, ÁVILA, GRANDO, SANTOS & TAROUCO, 2009)

Ainda em relação ao uso da web, consequentemente do vídeo tutorial no YouTube, temos algumas considerações feitas por Célia Cláudia Ormonde Séves da Silva, uma pesquisadora portuguesa que estudou o uso das TIC no ensino das artes visuais:

“O ensino baseado na Web pode ser definido como ouso da WWW como um meio de publicação de conteúdos programáticos, divulgação de trabalhos, apresentação de tutoriais, aplicação de testes e comunicação (chat e fóruns de discussão) com alunos, também compreende o uso da Web para a apresentação de conferências multimídia de forma síncrona ou assíncrona.

Poderá existir uma participação e interação ativa dos alunos, que, a partir da proposição pelo professor de um conjunto de tarefas e problemas a serem resolvidos, acendem a outros endereços eletrônicos, procuram referências complementares e instituem processos de cooperação e comunicação com os outros alunos na realização das tarefas”.(SILVA, 2002)

Objetivo Geral:

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Observar e analisar como as pessoas aprendem a desenhar através de vídeos disponibilizados no Youtube e qual a eficiência deles na aprendizagem.

Objetivos Específicos:

1- Escolher um vídeo do Youtube que ensina a desenhar.2- Escolher pessoas para serem observadas.3- Aplicar o projeto nas pessoas escolhidas.4- Observar, verificar e documentar a eficiência desse tipo de aprendizagem.5- Verificar como algum conhecimento prévio pode interferir na aprendizagem.

Metodologia:

- Tipo de Pesquisa: Qualitativa.- Local de Realização: Casa de Bruna Neves e Laboratório de Informática Virgílio Noya Pinto.- Amostra Utilizada: Estudante do curso de Música da UNICAMP e estudante do curso de Artes Visuais da UNICAMP.

1- Escolher um vídeo do Youtube que ensina a desenhar:Pesquisamos no Youtube vídeos tutoriais para desenho e escolhemos o que melhor se adaptava aos os objetivos do projeto. O vídeo selecionado foi “Como desenhar rostos” (Figuras 1, 2, 3 e 4), disponível no seguinte link: http://www.youtube.com/watch?v=8tSv-z9vNkk

Figura 1 – Estrutura primária do desenho Figura 2 – Posicionando olhos e nariz

Figura 3 – Traçando o cabelo Figura 4 – Desenho finalizado

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2- Escolher pessoas para serem observadas:Foram escolhidas duas pessoas para participarem da observação, uma delas estudante de Música, que nunca havia feito aula de desenho e a outra, estudante de Artes Visuais, que já fez aula de desenho.

3- Aplicar o projeto nas pessoas escolhidas:A estudante de Música foi levada à casa de Bruna Neves, onde ela pode assistir ao vídeo e realizar o desenho. O estudante de Artes Visuais foi levado ao Laboratório de Informática Virgílio Noya Pinto, onde pode também assistir ao vídeo e realizar o desenho.

4- Observar, verificar e documentar a eficiência desse tipo de aprendizagem:Durante a realização da atividade, observamos, fotografamos e anotamos tudo que julgamos ser relevante para a realização da nossa análise. Logo após, entrevistamos as pessoas, perguntando quais os pontos positivos e negativos do vídeo assistido, como ele pode ser útil para elas e sugestões para possíveis melhorias. Durante as experiências, tiramos fotos da realização das tarefas para documentá-las e utiliza-las no artigo.

5- Verificar como algum conhecimento prévio pode interferir na aprendizagem:Após realizar as observações e a coleta de dados, analisamos se a pessoa conseguiu aprender com o vídeo e, comparando os resultados, como algum conhecimento prévio sobre desenho pode interferir na realização e no resultado da atividade proposta a elas.

Resultados:

Analisamos primeiramente a aluna de Música, Juliana Milasseno (Figura 5), que nunca havia feito aula de desenho. Ela assistiu ao vídeo uma vez e começou a desenhar, tendo a necessidade assistir novamente, pausando em algumas partes e depois voltando em algumas em que queria um maior detalhamento do desenho. Percebemos também que ela não se preocupou em centralizar o desenho no papel, o que fez com que parte dele não coubesse no espaço. A borracha foi utilizada diversas vezes, mostrando a sua preocupação em fazer o mais semelhante possível ao desenho apresentado no vídeo (Figuras 6, 7 e 8).

Figura 5 – Juliana Milasseno Figura 6 – Estágio inicial do desenho

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Figura 7 – Etapa de finalização Figura 8 – Desenho finalizado

Após a realização do desenho, fizemos uma entrevista com a participante, na qual pedimos para que ela opinasse sobre os pontos positivos e negativos do vídeo e para que ela fizesse sugestões sobre melhorias a serem feitas no vídeo para aperfeiçoar o processo de aprendizagem dos espectadores. Juliana, que demorou 21 minutos para executar a tarefa, classificou-a como fácil. Ela disse que o vídeo explica bem apenas a estrutura do desenho do rosto, como fazer os círculos e as marcações de distâncias, não dando tanta atenção aos detalhes do rosto, como por exemplo, olhos, boca, nariz e sombras, sugerindo ser necessário um maior aprofundamento na parte da finalização.

A segunda pessoa analisada foi Guilherme Galindo (Figura 9), estudante de Artes Visuais, que já fez aula de desenho antes da faculdade e diz já ter utilizado vídeos do Youtube para aprender a desenhar com carvão, considerando-os bastante úteis. Ele assistiu ao vídeo uma vez e já partiu para o desenho, tendo que revê-lo apenas uma vez para relembrar a posição da orelha. Ele mostrou certa preocupação com os materiais a serem utilizados, afinando a ponta do lápis, de princípio 2B, trocando para 4B para finalizar o desenho. Notamos que ele não se importou em deixar o desenho igual ao do vídeo, utilizando-se de técnicas e formas já aprendidas por ele, fazendo com que seu desenho tivesse algumas características do seu próprio estilo (Figuras 10, 11 e 12).

Figura 9 – Guilherme Galindo Figura 10 – Estágio inicial do desenho

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Figura 11 – Etapa de finalização Figura 8 – Desenho finalizado

Após a realização do seu desenho, Guilherme, que levou 15 minutos para fazê-lo, também foi entrevistado por nós, da mesma forma que Juliana. Segundo ele, o esquema mostrado no vídeo é bom, mas preferiu desenhar da forma que já está acostumado. Apesar de ter começado pelo esquema do círculo e das retas, disse que não costuma usar esse método. Ele afirmou também que, para quem está começando a desenhar, o vídeo pode ser muito útil, visto que ensina passos básicos para se iniciar um desenho de rosto, não sendo da competência ou intenção do vídeo aprofundar nos detalhes, como olhos, boca, etc, visto que as técnicas são muito variadas e complexas. Além disso, sugeriu que seria legal assistir vários vídeos com esse enfoque para aprender melhor os detalhes de finalização, visto que ele é da opinião de que, na aprendizagem de desenho por vídeos, é necessário ver o maior número possível de variações e encontrar padrões e estilos no qual se basear. Ele propôs também que a câmera ficasse mais tempo no desenho, não dando tanta importância em mostrar o professor, pois, para ele, o que importa é mostrar os traços sendo feitos.

Conclusão:

O objetivo principal do nosso artigo era o de analisar a eficácia do vídeo na aprendizagem de técnicas de desenho para a realização de desenhos de rostos humanos, e as nossas conclusões mostraram que, no intuito de mostrar somente as técnicas mais básicas e primárias do desenho de rosto, ele foi bastante eficaz. Os dois desenhos, tanto da participante tida como leiga quanto do participante considerado especialista na área, ficaram bem parecidos, entre si e com o exemplo do vídeo, ou seja, somente assistindo ao vídeo, ambos os participantes atingiram o objetivo do mesmo.

Focando na observação da participante Juliana, que não sabia nenhuma técnica para desenho de rosto, podemos perceber que ela conseguiu compreender muito bem a parte inicial do vídeo, quando o professor foca nos traços primários, e nem precisou ver muitas vezes este trecho. Porém, quando o vídeo foi para a parte da finalização e dos detalhes do rosto, quando o professor para de falar, ela se mostrou um pouco perdida e teve que assistir mais vezes, mostrando uma possível deficiência nesta parte. Deficiência esta que vai ser contestada e reconsiderada após a observação do

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Guilherme.Quando pegamos os resultados da observação com o candidato dito especialista

Guilherme e comparamos com os obtidos com o da participante Juliana, podemos reafirmar o que concluímos antes e ainda contestar a dica da segunda, pois fica claro que o objetivo do vídeo é somente introduzir ao desenho do rosto e mostrar técnicas básicas para se começar, os detalhes são um bônus. O Guilherme ainda mostra que, no caso das artes visuais, é necessário uma variedade de vídeos e exemplos para que você encontre a técnica e o estilo que melhor se adaptem aos seus gostos e aptidões. No geral, entretanto, o vídeo escolhido foi considerado satisfatório pro seu objetivo primário e principal.

Referências:

GIRAFFA, Lucia Maria Martins. Uma odisséia no ciberespaço: O software educacional dos tutoriais aos mundos virtuais. Revista Brasileira de Informática na Educação, Volume 17, Número 1, 2009. Disponível em: http://ceiesbc.educacao.ws/pub/index.php/rbie/article/viewFile/3/3. Acesso em: 15 out. 2010.

SILVA, Célia Cláudia Ormones Sérves da, O Contributo das TIC no Processo Ensino/Aprendizagem das Artes Visuais. Tese de mestrado em Tecnologia Multimídia pelo Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, Porto, 2002. 139 pp.

ABREU, C. de S.; ÁVILA, B.; GRANDO, A.; SANTOS, P. M. E. Dos; TAROUCO, L. M. R.; Multimídia Interativa: Princípios e Ferramentas .RENOTE . PortoAlegre: CINTED/UFRGS, v. 7 n. 1, 2009.