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1 Acadêmico Marcelo Adriano Kuffel de Engenharia Civil, da Universidade Paranaense, Campus Toledo. E-mail:[email protected] 2 Prof. Orientadora, Engenheira Civil, Esp., do curso de Engenharia Civil, da Universidade Paranaense, Campus Toledo. E-mail:[email protected]
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GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
UNIVERSIDADE PARANAENSE, CAMPUS DE TOLEDO/PR
TRABALHO FINAL DE CURSO - TFC
DESEMPENHO TÉRMICO DO TIJOLO MODULAR DE SOLO CIMENTO EM
COMPARAÇÃO COM TIJOLO CERÂMICO E BLOCOS DE CONCRETO
Marcelo Adriano Kuffel1
Kamille da Costa Tomim2
RESUMO
Aspirando à crescente incorporação de soluções sustentáveis na construção civil, o trabalho
apresenta o desempenho térmico do tijolo modular de solo cimento, apontando comparativos
com os sistemas de alvenaria cerâmica e blocos de concreto, primeiramente empregados com
sua cor natural, e em seguida com pintura externa uniforme, trazendo dados para a qualificação
do sistema modular ecológico, bem como caracterizando de forma quantitativa seu
desempenho. A obtenção de dados se deu a partir de avaliações experimentais comparativas
com a construção de protótipos em escala reduzida. Para a coleta de dados, procedeu-se com o
monitoramento de 14 dias durante 24 horas/dia da temperatura com um sistema de sensor
termômetro e armazenamento de dados, (datalogger). Os resultados alcançados apontam que,
na aplicação prática da construção civil, o desempenho térmico entre os diferentes tipos de
alvenaria estudados são análogos, não apresentando diferenciação significativa.
Palavras-chave: Alvenaria cerâmica. Isolamento térmico. Sustentáveis. Tijolo modular de solo
cimento.
ABSTRACT
Aspiring the growing incorporation of sustainable solutions in the civil construction, the work
presents the thermal performance of the modular brick of cement soil, pointing out comparative
with the ceramic masonry systems and concrete blocks, firstly employed with their natural
color, then with uniform external paint . Thus, data for the qualification of the ecological
modular system, as well as quantitative characterization of its performance. The data were
obtained from comparative experimental evaluations with the construction of small scale
prototypes. For the data collection we proceeded with the monitoring of 14 days during 24 hours
/ day of the temperature with a thermometer sensor system and data storage, (datalogger). The
results obtained indicate that in the practical application of the civil construction the thermal
performance between the different types of masonry studied are similar, not showing significant
differentiation.
Keywords: Ceramic masonry. Thermoacoustic insulation. Sustainable. Modular brick of
cement soil.
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1 INTRODUÇÃO
A construção civil é um segmento parametrizado por normas de desempenho. No que
concerne a qualidade de conforto térmico, menos de 70% das edificações avaliadas se mostram
de acordo com os requisitos mínimos no desempenho térmico estabelecidos pela Agência
Brasileira de Normas Técnicas ABNT NBR 15.575:2013 - Edificações habitacionais -
Desempenho (FERREIRA, 2015). Segundo Bernardes (2013), as construções evoluíram, com
a adoção de materiais menos pesados e esbeltos, resultando em obras de estruturas mais leves
e econômicas, contudo perdeu-se qualidade de isolamento térmico.
Nesse contexto, busca-se ampliar o conhecimento sobre o desempenho de isolamento
térmico da tecnologia construtiva modular de tijolos de solo-cimento que se caracteriza como
uma técnica que vem contribuir com a otimização desse cenário, haja vista que é uma solução
atrativa no âmbito sustentável, pois são constituídos de cerca de noventa por cento de solo, e
dez por cento de cimento. Seu processo de fabricação é de baixo consumo energético. O mesmo
consiste em classificar, peneirar e triturar o solo, fazer a mistura na proporção ideal de solo,
cimento e água. Em seguida, esse composto segue para uma prensa com energia de
compactação que garante forma e resistência ao elemento, de acordo com a ABNT NBR
10833:2012(Fabricação de tijolo e bloco de solo-cimento com utilização de prensa manual ou
hidráulica — Procedimento). Findando o processo, acontece a cura do tijolo à sombra por 28
dias, não sendo necessário nenhum processo de queima, como acontece com os tijolos
cerâmicos (PISANI, 2016).
Além disso, o consumo de cimento em relação aos blocos de concreto é reduzido, visto
que a produção do cimento envolve o processo de alto forno que requer grande emprego
energético. Outra vantagem, é a possibilidade de as instalações elétricas e hidráulicas serem
embutidas por seus furos verticais e horizontais, evitando cortes em paredes e geração de
resíduos (PISANI, 2016).
O presente trabalho vem apresentar o estudo da capacidade de isolamento térmico das
edificações de tijolo modular de solo cimento em relação aos modelos construtivos
convencionais difundidos no mercado, blocos estruturais de concreto e tijolos cerâmicos.
Objetiva-se com este, quantificar o desempenho térmico do sistema construtivo modular
citado bem como a influência da pintura externa, de maneira a disponibilizar, para a sociedade
civil e técnica, grandezas quantitativas que venham auxiliar na tomada de decisões em relação
à escolha da tecnologia construtiva. Visa a ampliar a disponibilidade de informações sobre o
3
produto em questão, buscando elucidar e trazer parâmetros confiáveis para que haja, na
sociedade, uma busca crescente pelo tijolo modular de solo cimento, consequentemente um
melhoramento da eficiência enérgica, economia e sustentabilidade no segmento da construção
civil.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Alvenaria estrutural armada de solo cimento.
Alvenaria estrutural armada de solo-cimento é a tecnologia na qual existe a combinação
de blocos modulados e vergalhões de aço instalados em pontos específicos, passantes por entre
as cavidades horizontais e verticais existentes na alvenaria e atuando nos esforços de tração
(Figura 1), que são preenchidos com microconcretos, denominados graute (CAMACHO, 2006).
Seu assentamento é realizado através de encaixes sucessivos macho e fêmea de simples
nivelamento e alinhamento, sendo recomendado para a união dos elementos construtivos
argamassa de assentamento de piso e cola PVA, na proporção respectiva de 20/1 e podendo ser
utilizado como alvenaria aparente, recebendo somente uma pintura de impermeabilização, ou
ser revestido com reboco e texturas (ALROMA, 2018).
Figura 1 – Obra de alvenaria estrutural armada
O emprego de solo para a construção de edificações que atendam às necessidades de
segurança e bem-estar do ser humano, possui históricos milenares, distribuídos em todo o
mundo (Figura 2). Fazem parte desses referenciais: residências, castelos, igrejas e monumentos
históricos construídos a dezenas, centenas e alguns deles a milhares de anos. Na atualidade, um
Fonte: Sua Obra, 2017
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terço da população mundial ainda vive em obras executadas a base de solo, sendo elas do tipo
adobe, taipas e as mais atuais em BTC (blocos de terra compactados). Este número representa
a durabilidade e qualidade que pode ser alcançada com o emprego de solo como material
construtivo (MARTINS, 2011).
Figura 2 - Obras com emprego de solo Shibam Iêmen
Fonte: Shibam, 2015.
As temperaturas no interior de ambientes estão diretamente relacionadas à radiação
térmica (CAMACHO, 2006). Diante disto, faz-se necessário o entendimento das propriedades
de absortância, refletância e condutividade térmica.
2.2 Irradiação térmica
A irradiação ou radiação térmica é o fenômeno de propagação de calor por ondas
magnéticas. De acordo com Amorim (2011), todo corpo emite ondas de irradiação térmica: os
corpos frios emitem ondas infravermelhas e os corpos aquecidos emitem luz branca. Quando
essas ondas atingem um corpo uma parte dessa energia é absorvida e outra parcela é refletida,
chamada respectivamente como fenômenos de absorbância e refletância, sendo a irradiação
solar o principal fenômeno causador das variações térmicas em edificações.
2.2.1 Absortância
A absortância é a definição dada para a absorção de irradiação térmica. Está é uma
propriedade particular que os materiais possuem de absorver as radiações em dadas frequências.
5
Por exemplo: a luz solar inserida sobre a superfície de um corpo qualquer, a parcela de energia
que não é refletida, acaba sendo absorvida pelo mesmo, e o aquece, provocando agitação dos
átomos, estes, por sua vez, irão transferir parte de suas vibrações para os átomos vizinhos
encontrando um corpo menos aquecido, acontecendo uma transferência da energia. (YUNG;
FREEDMAN, 2008)
2.2.2 Refletância
Trata-se da fração de ondas magnéticas de calor provenientes da radiação térmica que
são refletidas para o meio atmosférico de origem após atingirem um dado corpo, dessa forma
não sendo absorvida. Considera-se uma escala de 0 a 1 para a classificação dos corpos em
relação a sua cor. O valor igual a 1 é o corpo negro, o qual absorve toda a energia inserida sobre
ele e, consequentemente, possui o maior aquecimento por radiação. As superfícies claras e com
alto brilho se encontram na escala próximo de 0, admitindo uma alta refletância e,
consequentemente, baixa absorção de energia proveniente de ondas magnéticas, possuindo
pequena variação de temperatura pelo fenômeno de irradiação térmica, conforme ilustra a
Figura 03.
Figura 03 – Refletância de radiação em diferentes cores
Fonte: Staff Writer, 2017.
Existe um grande potencial do uso da tinta em relação ao desempenho térmico das
edificações. Envelopamentos com tintas claras com alta propriedade de refletância contribuem
com um menor aquecimento interior, bem como pinturas de envelopamento foscas e escuras
são indicadas para regiões frias onde se deseja o aproveitamento da radiação solar para o
aquecimento de ambientes. (DORNELLES, CARAM e SICHIERI, 2013).
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2.2.2 Condutividade térmica
A condutividade térmica é a propriedade que os materiais possuem de conduzirem calor.
Materiais que são bons condutores de calor possuem alta condutividade térmica, o inverso
também se faz verdade. A condutividade térmica é dada a partir da quantidade de calor Q
transmitida por uma espessura L em direção normal de uma área superficial qualquer de um
corpo, sendo a unidade de medida expressa como W/ (mK), Watt/ metro Kelvin. (CARNOT,
2010).
2.3 - Referenciais
No campo científico, de acordo com Marques, Castro e Issac (2009), a condutividade
térmica para o tijolo modular de solo estabilizado com cimento é de 0,41 a 0,55 W/(m.K). Para
os tijolos cerâmicos, tem-se uma condutividade térmica fixada entre 0,7 a 1,5 W/(m.K). E para
blocos de concreto 1,75 W/(m.K). Segundo a ABNT NBR 15.220-1 2003 de desempenho
térmico de edificações, os requisitos mínimos de condutividade térmica para paredes externas,
é inferior ou igual a 2,2 W/(m.K), apontando dessa forma, satisfação em todas as tecnologias
citadas. Porém, o modelo ecológico demonstra-se com a menor condução térmica, ou seja,
maior resistividade térmica.
Trazendo esses valores para o campo prático, um bom parâmetro de avaliação é o atraso
térmico, sendo este o intervalo de tempo necessário para que uma variação térmica se manifeste
no lado oposto da superfície ao qual foi inserida. Segundo Kappaun (2012), em estudos
realizados sobre conforto térmico, os valores para o atraso térmico de blocos estruturais de
concreto são de 3:40 horas, e para blocos estruturais cerâmicos o atraso térmico é de 3:20 horas.
Já para as edificações modulares de solo cimento, esse valor é aproximadamente 4:40 horas de
acordo com Didoné, Milaní e Alves (2015).
Outro parâmetro significativo a respeito da propriedade térmica das edificações é a
inércia térmica. Trata-se das propriedades físicas relacionadas com densidade, espessura e calor
específico que os diferentes materiais construtivos oferecem em relação à variação de
temperatura: quanto maior a inércia térmica menor a variação térmica. Portanto, esta é uma
característica que classifica o desempenho térmico através da variação térmica interior das
edificações (PASPST, 1999).
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2.3 METODOLOGIA
2.3.1 – Dados referenciais
Para o levantamento de dados experimentais da pesquisa em questão, realizou-se a
construção de três protótipos de dimensões análogas. As edificações foram alocadas em
ambiente aberto, sem influência de sombra, diferença de exposição ao vento e exposição solar,
pois os mesmos foram construídos aproximadamente alinhados sobre o eixo da orientação
cardeal norte sul, desta forma, não havendo a possibilidade de uma construção sombrear a
edificação adjacente. Estes modelos foram projetados com redução em proporção de área e
volume interno para as medidas de 1 m² de área e altura de 1m, sendo mantidos os elementos
construtivos na escala 1:1.
Os materiais empregados na construção são os mesmos empregados nos projetos do
cotidiano. Este método foi aplicado por Simpson e McPherson (1997), no estudo de caso de
pintura em telhados residências com tintas de alto índice refletivo, no centro de estudos
agrícolas na universidade do Arizona, Estados Unidos. As dimensões dos protótipos são
semelhantes e proporcionais às empregadas por Lima et al. (2017), no estudo comparativo de
desempenho térmico de blocos estruturais cerâmicos e blocos estruturais de concreto, no estado
de Santa Catarina, Brasil.
Os protótipos possuíam tal estrutura: fundação em piso radier de espessura igual a cinco
centímetros e forro de laje treliçada com lajota cerâmica de espessura de 12 centímetros. Em
relação às paredes, uma construção foi executada com fechamento de alvenaria de tijolo
modular de solo cimento, assentamento realizado com argamassa ACI, (Figura 4)O segundo
modelo foi executado com fechamento lateral de blocos de concreto, assentamento com
argamassa de cimento areia e cal (Figura 5), e o terceiro protótipo recebeu como fechamento
lateral tijolos cerâmicos, com o emprego de argamassa ACI para assentamento, (Figura 6).
8
Figura 04 – Construção de protótipo com tijolos modulares de solo cimento.
Fonte: O autor, 2018.
Figura 05 – Construção de protótipo com bloco de concreto.
Fonte: O autor, 2018.
Figura 06 – Construção de protótipo com tijolos cerâmicos.
Fonte: O autor, 2018.
9
Os tijolos modulares de solo cimento são provenientes de uma empresa situada na região
norte do Paraná, com dimensões 12,5x7x25cm. Já os blocos de concreto e tijolos cerâmicos,
são produzidos em fábricas localizadas no oeste do Paraná, com as respectivas dimensões,
14x19x 39cm e 11,5x14x29cm. A alvenaria cerâmica foi rebocada interna e externamente
resultando numa parede de 14 cm de largura, sendo de características semelhantes na qual ela
de fato é empregada.
A coleta dos dados de temperatura se deram em dois momentos distintos, sendo o
primeiro ciclo de coletas realizado com as construções na cor natural, Figura 7.Já para o
segundo ciclo de aferições, realizou-se a pintura uniforme dos protótipo com a tinta acrílica
Suvinil cor cinza crômio, de acordo com a Figura 8.
Figura 07 – Medição em protótipos com cor natural.
Fonte: O autor, 2018.
Figura 08 – Medição em protótipos com cor uniforme.
Fonte: O autor, 2018.
10
As medições de temperaturas foram registradas através de uma unidade de aferição,
instalado em cada protótipo, e uma quarta unidade instalada no ambiente externo, munida de
um sensor termômetro e equipamento de armazenamento de dados (datalloger), marca Mi Sol,
(Figura 9), com precisão na medição de temperatura de 0,5º Celsius. As medições foram
realizadas a cada 15 minutos durante 24 horas diárias em um período de 7 dias para cada caso.
Figura 09 – Termômetros datalogger utilizados no estudo.
Fonte: O autor, 2018.
Objetivando a mínima influência de transferência de calor entre o meio externo e interno
dos protótipos através da circulação de ar, por aberturas ou fissuras, adotou-se para a instalação
do equipamento datalloger, e suas respectivas verificações, um sistema de abertura em formato
circular com diâmetro de 10 centímetros, munido de tampa de plástico celular rígido (EPS),
com formato ajustado para o perfeito encaixe e vedação do orifício ao qual ficou preso por um
fio de nylon de 50 centímetros o equipamento de coleta, graficamente apresentado na Figura 10
e 11.
Figura 10 – Vedação de EPS
Fonte: O autor, 2018.
11
Figura 11 – Projeto dos protótipos
Fonte: O Autor, 2018.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Obtendo os dados após 7 (sete) dias de coleta com os protótipos em sua cor natural, foi
possível gerar o gráfico conforme Figura 12. Neste gráfico, interpreta-se um comportamento
semelhante das variações de temperatura entre os três elementos construtivos. Realizando a
avalição dos períodos nos quais foram registrados os picos máximos de temperatura, o tijolo de
solo cimento, bloco de concreto e tijolo convencional apresentaram as máximas temperaturas
nos mesmos períodos, ficando as linhas gráficas sobrepostas. Desta forma, não se identificou
12
diferença significativa para o atraso térmico entre os três modelos estudados. Ainda sobre as
máximas temperaturas registradas, é possível observar que comumente as temperaturas
máximas no interior das construções se igualaram com a temperatura externa e até a superaram.
Figura 12 – Comportamento da temperatura cor natural.
Fonte: O Autor, 2018.
Já no segundo ciclo de medições, após a pintura uniforme das construções, com o
objetivo de parear os fenômenos de absorbância e refletância da radiação solar, os dados deram
origem ao gráfico apresentado na Figura 13. Novamente, identificou-se um comportamento
bastante uniforme entre as temperaturas dos três modelos construtivos em teste. De acordo com
a simultaneidade dos picos máximos de temperatura no interior de cada modelo, não é notório
o maior atraso térmico para o tijolo modular de solo cimento, conforme dados mencionados de
Kappaun, Didoné, Milaní e Alves.
Seguindo com a avaliação das temperaturas máximas, nota-se que, para esse caso, em
nenhum momento a temperatura de registro interno das edificações se mostrou mais expressiva
que a máxima temperatura externa. Permite-se afirmar que pinturas claras, através do fenômeno
de refletância, tendem a proporcionar um menor aquecimento no interior das edificações,
conforme afirmado por Dornelles, Caram e Sichieri, em estudo anterior sobre cores de pinturas
e temperatura superficial.
13
Figura 13 – Comportamento da temperatura cor uniforme.
Fonte: O Autor, 2018.
Para uma interpretação dos registros de modo particular em cada protótipo, segue a
Figura 14, onde são apresentadas as leituras das temperaturas médias para as construções na
sua cor natural. É notável que, para esse caso, as temperaturas médias mais elevadas foram
registradas nas construções de solo cimento, seguidas das edificações de bloco de concreto e a
média mais branda pertencendo ao tijolo cerâmico.
Figura 14 – Temperaturas médias dos primeiros 7 dias.
Fonte: O Autor, 2018.
20.50
21.00
21.50
22.00
22.50
23.00
23.50
T. Cerâmico B. de concreto T. Solo cimento Ambiente
Tem
per
atu
ra e
m °
C
Elementos construtivos
Protótipos com cor natural
14
Após a pintura uniforme das construções, é possível afirmar que as temperaturas médias
mais elevadas foram registradas no interior das edificações de tijolo cerâmico, seguidas das
edificações de tijolo de solo cimento e por fim nas edificações de blocos de concreto, conforme
Figura 15.
Figura 15 – Temperaturas médias dos últimos 7 dias.
Fonte: O Autor, 2018.
Para o tratamento estatístico de dados deste estudo, fez se uso da análise de variância
ANOVA de fator único, modelo estatístico que analisa as variações entre as médias aritméticas
dos dados de dois ou mais grupos distintos, avaliando o desvio padrão e variância das relações
de dados. Para o caso em questão, adotou-se um nível de significância de 5%. Ou seja, os dados
gerados pelo modelo estatístico possuem sua confiabilidade fixada em 95%.
Apresentados abaixo na Figura 16, tem-se os resultados para a análise de dados
ANOVA, fator único com os dados de temperatura obtidos nas edificações na sua cor natural,
possuindo como parâmetro que a variação térmica é inversamente proporcional a capacidade
de isolamento térmico. Sendo assim, pode-se afirmar que, para esse caso, o melhor desempenho
térmico pertence ao tijolo cerâmico, com variação de 17,02%, seguido pelo solo cimento, com
variância fixada em 19,61% e, por fim, pelo bloco de concreto, com 19,82% de variação.
23.00
23.50
24.00
24.50
25.00
T. Cerâmico B. de concreto T. Solo cimento Ambiente
Tem
per
atu
ra e
m °
C
Elementos construtivos
Protótipos com cor uniforme
15
Todos os dados foram considerados válidos, uma vez que F < F crítico. Embora tenha-
se obtido variação entre os grupos, o valor-P superior a 0,05 indica que a variação registrada é
insignificante para uma confiabilidade de 95%.
Figura 16 – Análise estatística, protótipos cor natural
Fonte: O Autor, 2018.
Evidentemente, os dados que mais condizem com a realidade são as medições
provenientes das construções com suas cores externas uniformes. Para tanto, na Figura 17 é
apresentado a análise estatística das variações registradas nesse caso. Admitindo, como no caso
anterior, que a capacidade de isolamento térmico é inversamente proporcional à variação de
temperatura interna das edificação, é possível afirmar que o melhor isolamento pertence à
tecnologia de solo cimento com a taxa de variação de temperatura de 23,37%, seguida do
método construtivo de tijolo cerâmico com variância de 24,14% e se apresentando novamente
com a maior taxa de variância o bloco de concreto com variação de 24,25%, considerando-se
que todos os dados são válidos uma vez que F < F crítico. No entanto, novamente a variação
registrada é insignificante para uma confiabilidade de 95%. Já que as variações entre os grupos
apresentaram um valor-P maior que 0,05, configurando-se como insignificantes.
Anova: fator único
RESUMO
Grupo Contagem Soma Média Variância
Temperatura(°C) - T. cerâmico 672 15464.3 23.01235 17.02234
Temperatura(°C) - B. de concreto 672 15688.4 23.34583 19.82359
Temperatura(°C) - Solo cimento 672 15716.1 23.38705 19.61067
ANOVA
Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Entre grupos 56.74174 2 28.37087 1.507576 0.221696 3.000195
Dentro dos grupos 37882.37 2013 18.81886
Total 37939.11 2015
16
Figura 17 – Análise estatística, protótipos cor uniforme
Fonte: O Autor, 2018.
4 CONCLUSÃO
Os dados obtidos através deste estudo não alcançaram as expectativas, pois o
desempenho térmico entre as edificações construídas a partir de tijolos modulares de solo
cimento, blocos de concreto e tijolos cerâmicos, de acordo com os dados estatísticos, não
apresentam diferenças significativas. Ou seja, as diferenças das temperaturas internas entre as
construções foram de baixa amplitude, entendendo-se que qualquer das tecnologias em questão,
quando aplicadas nas edificações, resultará em desempenho térmico bastante similar.
A respeito do tijolo modular de solo cimento, constatou-se que seu desempenho térmico
é otimizado quando pintado com cores claras que diminuam a absorção de radiações solares. Já
no caso em questão onde o tijolo ecológico é de cor marrom escuro, característica herdada do
solo empregado na sua fabricação, quando aplicado em sua cor natural tende a degenerar o
desempenho térmico, apresentando inclusive temperaturas máximas no interior dos ambientes
mais elevadas do que a alvenaria de tijolos cerâmicos.
Desta forma, com a avaliação do desempenho térmico na aplicação prática do tijolo
modular de solo cimento em relação ao bloco de concreto e tijolo cerâmico, pode concluir-se
que as temperaturas internas se comportam de forma intimamente similar em todos os
elementos analisados. Pertencendo ao tijolo modular o diferencial de tecnologia sustentável,
sistema otimizado de encaixa macho e fêmea e bom acabamento quando aplicado como
Anova: fator único
RESUMO
Grupo Contagem Soma Média Variância
Temperatura(°C) - T. Cerâmico 672 16510.1 24.5686 24.1424
Temperatura(°C) - B. Concreto 672 16126 23.99702 24.25951
Temperatura(°C) - Solo cimento 672 16142.3 24.02128 23.37432
ANOVA
Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Entre grupos 140.4144 2 70.20718 2.934419 0.053389 3.000195
Dentro dos grupos 48161.85 2013 23.92541
Total 48302.26 2015
17
alvenaria aparente. Por outro lado, sem desempenho superior aos demais modelos estudados no
que tange desempenho térmico.
Acredita-se que as semelhanças estatísticas entre os dados coletados a campo em relação
aos parâmetros referenciados, podem estar relacionadas pelo fato de os elementos construtivos
utilizados não serem reduzidos na mesma proporção de área e volume dos protótipos. Outro
fator que pode ter contribuído para o desvio dos dados é a utilização de laje cerâmica e telha de
fibrocimento, que não apresentam nenhum sistema de isolamento térmico, sendo que, de acordo
com Michels (2007), o telhado em construções horizontais é o responsável por receber a maior
parcela de radiação solar. Logo, pode ter ocorrido uma larga contribuição com a absortância de
radiação térmica pela cobertura, elevando a temperatura interna de todos os protótipos e
diminuindo a influência das paredes nos resultados coletados pelos termômetros. Desta forma,
não se obteve o pleno desempenho das paredes no que se refere desempenho térmico.
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