desejo, motivação e resistência no processo musicoterapêutico

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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MUSICOTERAPIA DESEJO, MOTIVAÇÃO E RESISTÊNCIA NO PROCESSO MUSICOTERAPÊUTICO ISABELA MENI COSENZA RIBEIRÃO PRETO 2004

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Este trabalho tem como objetivo investigar e relacionar aspectos da motivação humana com aspectos da resistência no contexto terapêutico, questionando até que ponto a falta de motivação, tantas vezes apresentada como queixa de muitos pacientes, tem relação com a resistência deste dentro da terapia, se esta resistência pode ser trabalhada e os resultados serem refletidos nos aspectos motivacionais do indivíduo.

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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MUSICOTERAPIA

DESEJO, MOTIVAÇÃO E RESISTÊNCIA NO PROCESSO MUSICOTERAPÊUTICO

ISABELA MENI COSENZA

RIBEIRÃO PRETO 2004

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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MUSICOTERAPIA

DESEJO, MOTIVAÇÃO E RESISTÊNCIA NO PROCESSO MUSICOTERAPÊUTICO

Trabalho de conclusão de curso sob a orientação do Prof. Renato Tocantins Sampaio.

ISABELA MENI COSENZA

RIBEIRÃO PRETO 2004

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Este trabalho é dedicado a todos aqueles que direta ou indiretamente colaboraram

para que ele fosse realizado.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por proporcionar-me grandes oportunidades na vida. Por fazer-se presente nos momentos de maior necessidade e acima de tudo, por dar-me paciência e tranqüilidade necessárias para lidar com os obstáculos que surgiram no caminho;

Aos meus pais, por sempre me apoiarem, mesmo por algumas vezes sem entenderem esta profissão. Por terem compreendido meus momentos de ausência, por me encorajarem a fazer o que eu gosto, a crescer na vida e ir atrás dos meus objetivos. Por terem me introduzido no mundo maravilhoso da Música. Por nunca terem me negado conhecimentos, tanto os acadêmicos quanto os de experiência de vida. O resultado deste curso e o presente trabalho não existiriam se não houvesse o apoio direto e indireto deles. Serei eternamente grata por tudo;

À minha irmã, que do seu jeito brincalhão e extrovertido sempre me fez dar boas risadas. Com ela aprendi a ser mais verdadeira e a lutar pelo que quero, sem medo de errar e de aprender com nossos próprios erros;

Aos meus amigos, que de uma maneira tão especial fizeram e acredito que sempre farão parte da minha vida. Áqueles que eu já conhecia, e aos que fiquei conhecendo na Universidade. Com eles dividi as risadas, as brincadeiras, as tristezas, as brigas, os sucessos e frustrações, as angústias e as situações do dia-a-dia. Lembrarei-me com carinho de cada um deles;

Ao professor Renato Sampaio, por sua dedicação e paciência e por fazer com que eu quisesse sempre ir além;

À professora Noemi Lang, pelos esclarecimentos e incentivos durante as aulas e as supervisões;

À professora Ana Cristina Sampaio, pela ajuda, incentivo e partilha de experiências;

Ao professor Roger El Khouri, por ter expandido meus conhecimentos e me ajudado a aplicar melhor a música no contexto terapêutico;

Page 5: Desejo, motivação e resistência no processo musicoterapêutico

Ao professor Armando Bugalho, por ter aguçado meu desejo de saber mais sobre a Ciência;

À professora Angela Bataglion, pelo seu trabalho, por sua dedicação, por ter colaborado com que eu gostasse ainda mais de cuidar do ser humano;

Ao professor Nando Araujo, por ter aguçado meu espírito crítico e questionador;

À minha professora de piano, Isabel Cristina Bortogliero Cinto, que me acompanhou dos 8 aos 17 anos e ajudou a construir meu conhecimento musical. Pela sua paciência, amor ao trabalho e sua compreensão durante as aulas e durante nosso convívio;

A todos aqueles que passaram por minhas mãos como pacientes, que me aceitaram sem ao menos me conhecer. Obrigada pela grande aprendizagem e valiosa experiência.

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“So I say Thank you for the music, the songs I'm singing Thanks for all the joy they're bringing Who can live without it, I ask in all honesty What would life be? Without a song or a dance what are we? So I say thank you for the music For giving it to me” (Thank you for the music – ABBA)

“Então eu digo Obrigado pela música, pelas canções que estou cantando

Obrigado por toda a alegria que elas estão trazendo Quem pode viver sem isto, eu pergunto com toda honestidade

O que seria a vida? Sem uma canção ou uma dança, o que somos nós?

Então eu digo obrigado pela música Por tê-la dado a mim”

(Thank you for the music – ABBA)

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo investigar e relacionar aspectos da motivação

humana com aspectos da resistência no contexto terapêutico, questionando até que ponto a

falta de motivação, tantas vezes apresentada como queixa de muitos pacientes, tem relação

com a resistência deste dentro da terapia, se esta resistência pode ser trabalhada e os

resultados serem refletidos nos aspectos motivacionais do indivíduo. Através de revisão de

literatura e de um exemplo de caso clínico, chegamos em alguns resultados e conclusões.

A primeira é de que a motivação é um estado interno do indivíduo. Segundo

Cecília Bergamini, um dos mitos acerca deste aspecto é que um ser humano não é capaz de

motivar o outro, que cada um possui seus próprios desejos e pulsões, concluindo-se que a

motivação parte do paciente, no caso do processo terapêutico. Alguns autores afirmam que

a motivação depende não só do indivíduo, mas também do ambiente que o cerca.

A segunda conclusão é que resistência é um conceito complexo e que tem

muitas variações. Pode se desenvolver quando há uma tentativa, por parte do paciente, em

desviar os sentimentos de dor provocados por um certo medo ou angústia de mudança, ou

mesmo um sentimento invasivo. Sendo assim, é muito importante que a aliança entre

terapeuta e paciente seja bem estruturada, porque se houver confiança na relação, e se o

paciente tiver confiança nas suas próprias potencialidades, a resistência pode diminuir. Isto

pode alterar, em certos casos, os aspectos motivacionais do paciente. Uma pessoa mais

confiante, principalmente em si mesma, pode ser menos resistente e por isso pode estar

mais segura para enfrentar situações inesperadas e assim estar mais motivada a realizar uma

tarefa que ela julga não ser capaz.

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ABSTRACT

The objective of this work is to investigate and relate aspects of the human

motivation with aspects of the resistance in therapeutical context, questioning what’s the

relations of the motivation lack, many times presented as complaint of many patients, with

the resistance of this same patient on therapy, if this resistance can be worked and the

results can be reflected in the motivacional aspects of the individual. Through revision of

literature and one example of a clinical case, we have arrived in some results and

conclusions.

The first one is that the motivation is an internal state of the individual.

According to Cecilia Bergamini, one of the myths about this aspect is that a human being is

not capable to motivate the other one, that each one possesss its proper desires and

pulsions, concluding that the motivation depends on the patient, in the case of the

therapeutical process. Some authors affirm that the motivation not only depends on the

individual, but also on the environment that fences him.

The second conclusion is that resistance is a complex concept and it has many

variations. It can be developed when it has an attempt, on the part of the patient, in

deviating the feelings of pain provoked by a certain fear or anguish of change, or same an

invasive feeling. Being thus, it is very important that the alliance between therapist and

patient is well structuralized, because if the relation can be trusted, and if the patient will

have confidence in its proper potentialities, the resistance can diminish. This can modify, in

certain cases, the motivacional aspects of the patient. A self-confident person can be less

resistant, and for that it can be more confidence to face unexpected situations, and thus to

be more motivated to carry through a task that it judges not to be capable.

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SUMÁRIO

Introdução 10

1. Desejo 11

1.1 Definição 11

2. Motivação 13

2.1 Definição 13

2.2 Teorias acerca da motivação 15

2.2.1 Teorias de conteúdo estático 15

2.2.2 Teorias de processo 16

2.2.3 Teorias baseadas no ambiente 17

3. Resistência 19

3.1 Definição 19

3.2 O conceito de resistência para a musicoterapia 19

4. Musicoterapia 21

4.1 Definição 21

4.2 O processo musicoterapêutico 21

4.3 Desejo, motivação e resistência no processo musicoterapêutico: como trabalhar?

22

4.4 Como intervir 25

5. Caso Clínico 29

5.1 O Caso “V.” 29

Conclusão 34

Referências Bibliográficas 35

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INTRODUÇÃO

Este tema surgiu através de um atendimento, e também através de algumas

questões pessoais. Muitas vezes durante a experiência clínica, o musicoterapeuta se depara

com um paciente extremamente desmotivado. Algumas causas da desmotivação até podem

ser conhecidas, mas esta mesma desmotivação é também influente no processo

musicoterapêutico. O que fazer quando o paciente não quer ser ativo na sessão?

Nos primeiros capítulos serão abordados alguns conceitos, como o desejo, que

muitas vezes é confundido com a necessidade. Ele é algo mais concreto ou apenas uma

fantasia de nossas mentes? Cada autor explorado conceitua este termo de maneiras

diferentes. Ainda outros conceitos como a motivação e as teorias que a definem, e a

resistência, tão presente em muitos pacientes, são abordados.

Este trabalho ainda visa questionar a relação da falta de motivação do indivíduo

a uma forte resistência. A pessoa precisa ser menos resistente para ter uma maior motivação

em sua vida? No penúltimo capítulo, questões como estas serão discutidas, principalmente

para chegarmos a formas de “vencer” ou “enganar” a resistência dentro do processo

musicoterapêutico.

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DESEJO

1.1 Definição

O desejo faz parte do comportamento e da vida psíquica humana. Vários autores

já abordaram este campo, através de dinâmicas diferentes. Neste capítulo serão abordados

conceitos de três autores.

Na dinâmica freudiana, o desejo é um dos pólos do conflito defensivo. Tende a

realizar-se, estabelecendo sinais ligados às primeiras vivências de satisfação (FREUD cf

LAPLANCHE, 1999). Na doutrina freudiana, o conceito de desejo, como tantos outros

conceitos, é tão fundamental em qualquer concepção do ser humano que não pode ser

limitado (LAPLANCHE, 1999), ou seja, o desejo é muito amplo e complexo e ao mesmo

tempo tão intrínseco ao ser humano que torna-se muitas vezes difícil conceituá-lo.

Freud (cf LAPLANCHE, 1999) diferencia o desejo da necessidade. Esta última

nasce de uma tensão interna e encontra sua satisfação pela ação específica que fornece o

objeto adequado, ou seja, entende-se que necessidade é um estado de tensão interna do

indivíduo, que visa um objetivo, e que para se obter a satisfação é necessária uma ação

específica a esta necessidade. Partindo para o conceito do desejo, Freud postula que:

(...) a imagem mnésica de uma certa percepção se conserva associada ao traço mnésico da excitação resultante da necessidade. Logo que esta necessidade aparecer de novo, produzir-se-á, graças à ligação que foi estabelecida, uma moção psíquica que procurará reinvestir a imagem mnésica desta percepção e mesmo invocar esta percepção, isto é, restabelecer a situação da primeira satisfação: a essa moção é que chamaremos desejo; o reaparecimento da percepção é a ‘realização de desejo’ (FREUD apud LAPLANCHE, 1999, p. 114).

Tendo como base este conceito de desejo, entende-se que ele é mais complexo e

menos diretivo do que a necessidade. Ele é resultado de ligações de imagens e traços

mnésicos, que foram memorizados pelo indivíduo. Quando a imagem mnésica de alguma

percepção é associada ao traço mnésico que foi causado pela excitação da necessidade, é

estabelecida uma ligação, uma moção psíquica que trará de volta à mente do indivíduo

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estes traços e imagens sempre que uma nova necessidade for detectada. Assim o desejo

acaba por ser realizado, todas as vezes em que a percepção reaparece, e isto se dá como

num ciclo. Sinteticamente, armazenamos, em nossa memória, imagens das percepções que

temos. Toda necessidade também causa excitações, que também são armazenadas em

forma de traços. O desejo é a moção psíquica que liga as imagens da percepção com os

traços da necessidade.

Lacan (cf LAPLANCHE, 1999) também distingue desejo de necessidade e

também de demanda, conceitos com os quais o desejo é confundido. Segundo Lacan, a

necessidade tem um objetivo específico e satisfaz-se com ele. A demanda é formada, e

mesmo incidindo sobre um objeto, este não é essencial para ela. O desejo nasce da

defasagem entre a necessidade e a demanda, ocorre em um campo fantasioso. Ele não pode

ser irredutível à necessidade porque não se relaciona com o objeto real, nem irredutível à

demanda porque “procura impor-se sem levar em conta a linguagem e o inconsciente do

outro (...)” (LACAN cf LAPLANCHE, 1999, p. 114.).

Entende-se, com a diferenciação de Lacan, que o desejo não depende da

necessidade nem da demanda, mas os completa.

Suely Rolnik define desejo como “atração que nos leva a certos universos e

repulsa que nos afasta de outros, sem que saibamos exatamente porquê; formas de

expressão que criamos para dar corpo aos estados sensíveis que tais conexões e

desconexões vão produzindo na subjetividade.” (ROLNIK apud SAMPAIO, 2002 p. 47).

Para Rolnik (cf SAMPAIO, 2002), o desejo está associado ao ato criativo e sua

realização depende de uma ordem social que pode facilitar esta realização ou ainda impedir

que ela aconteça.

Alguns conceitos como a necessidade ainda serão discutidos no próximo

capítulo, dentro do processo da motivação. Também será utilizada a conceituação de Rolnik

para explorarmos outros aspectos do desejo.

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MOTIVAÇÃO

2.1 Definição

A motivação é uma das facetas do comportamento humano difícil de ser prevista

e classificada. Existem várias teorias sobre este conceito, seu processo e como ele afeta e

atua no comportamento do ser humano.

Segundo Soto (2002), a motivação é um processo cíclico que consta de três

aspectos: 1) uma necessidade, todo comportamento humano é decorrente de uma

necessidade de cobrir uma “deficiência”, por isso é considerada um elemento subjetivo. 2)

logo após há uma resposta ou conduta da pessoa, que está em função de sua motivação e é

considerada pelo autor a manifestação das atitudes dela. 3) O incentivo, meta ou a

finalidade, considerado elemento objetivo, é o processo de busca de objetivos dirigidos a

eliminar a insatisfação, satisfazendo assim, a necessidade. Ainda, seguindo as idéias do

autor: “A distinção entre necessidade e incentivo é a chave para explicar e entender a

conduta [da pessoa]” (SOTO, 2002, p. 119).

Lopes afirma que o homem quer tornar agradáveis as condições e o ambiente de

trabalho porque busca o prazer e o conforto, segundo as teorias hedonistas. Já para os

idealistas, a virtude e o saber constituem a motivação. Dessa maneira é preciso que as

organizações tenham ética e justiça, reconhecimento do trabalho bem executado, respeito e

progressão (LOPES, 1980).Várias teorias tentam explicar o fator da motivação tendo como

base enfoques diferenciados, como os hedonistas e os idealistas, mas isto será tratado no

próximo item deste capítulo.

O mesmo autor define a motivação desta maneira: “Um motivo é um estado

interno que dá energia, torna ativo ou move (daí motivação) e que dirige ou canaliza o

comportamento em direção a objetivos.” (LOPES, 1980, p. 3). Soto segue a mesma linha de

causa-efeito, mas elabora um pouco mais sua definição tendo como base aspectos

fisiológicos:

A motivação é a pressão interna surgida de uma necessidade, também interna, que excitando (via eletroquímica) as estruturas nervosas, origina um estado

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energizador que impulsiona o organismo à atividade iniciando, guiando e mantendo a conduta até que alguma meta (objetivo, incentivo) seja conseguida ou a resposta bloqueada (SOTO, 2002, p.118).

Bergamini diferencia e pontua a diferença entre necessidade e o fator que

satisfaz a necessidade. Segundo ela, “a água é um fator de satisfação de uma necessidade

denominada sede; todavia, sempre que a sede é sentida, há uma tendência de encarar a água

como a necessidade, em lugar da sede em sim mesma.” (BERGAMINI e CODA, 1997, p.

24). Ainda seguindo esta idéia, a necessidade que atuará sobre o intelecto da pessoa, é o

motivador, é o que faz a pessoa agir. Quando os fatores de satisfação da necessidade são

interpretados como sendo a própria necessidade, fica fácil afirmar que as necessidades têm

origem no meio ambiente.

Com essas afirmações, cai o mito de que uma pessoa é capaz de motivar a

outra, Segundo Bergamini, isto é falso. O que se pode fazer é satisfazer ou contra-satisfazer

as necessidades de outra pessoa. Pode-se oferecer água, comida, ou ainda negar esses

fatores, mas isto é satisfação ou contra-satisfação, respectivamente, e não motivação

(BERGAMINI e CODA, 1997).

Sigmund Freud foi quem primeiro descreveu a natureza da motivação no

contexto das necessidades humanas, descrevendo uma necessidade como um estímulo que

ataca, não de fora, mas de dentro do organismo. Não é um impacto momentâneo, mas uma

força resistente. Sendo assim, a satisfação é o que põe de lado a necessidade (cf

BERGAMINI e CODA, 1997).

Em suma, vários autores reconhecem que a motivação e as necessidades são

intrínsecas a cada indivíduo, e não dependem sempre do ambiente, considerando-se as

diferenciações de Bergamini a respeito das necessidades e dos fatores de satisfação das

necessidades. Cabe aqui também a questão da perseverança do indivíduo. Ele precisa

querer mudar e manter-se perseverante em suas escolhas.

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2.2 Teorias acerca da motivação

Bowditch e Buono (2002) classificam as teorias acerca da motivação a partir de

três principais áreas de interesse:

1. O que energiza o comportamento humano?

2. O que dirige esse comportamento?

3. Como certos comportamentos podem ser sustentados ou mantidos ao longo

do tempo?

Devido a estas áreas de interesse, classificaram as teorias da motivação em

teorias de conteúdo estático, teorias de processo e teorias baseadas no ambiente. Neste

capítulo serão abordadas apenas as mais relevantes ao tema, dentro de cada classificação.

2.2.1 Teorias de conteúdo estático

As teorias de conteúdo estático, segundo Bowditch e Buono (2002) tratam dos

conteúdos que energizam o comportamento humano. Não prevêem o comportamento, mas

ajudam na sua compreensão. Aqui serão apresentadas apenas algumas delas.

Na Hierarquia das necessidades, Maslow (cf BOWDITCH e BUONO, 2002)

classificou as necessidades humanas em cinco níveis distintos, sendo que o indivíduo só

passa para o nível superior se as necessidades do nível inferior estão satisfeitas. Na parte

basal da pirâmide ficam as necessidades fisiológicas, seguidas das necessidades de

segurança, as necessidades sociais, necessidades de ego e auto-estima e por fim, no topo da

pirâmide, as necessidades de realização pessoal. Bowditch e Buono destacam que Maslow

classificou as necessidades desta forma através de uma perspectiva humanística, onde há

reconhecimento das necessidades individuais de cada pessoa. Conclusões acerca desta

teoria de Maslow apontam que, havendo reconhecimento das necessidades como

individuais, não se pode motivar todas as pessoas da mesma forma, e que cada indivíduo

pode encontrar-se em níveis diferentes das necessidades, ou estar em vários ao mesmo

tempo.

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Na Teoria ERC, C. P. Alderfer (cf BOWDITCH e BUONO, 2002) tentou

diminuir os níveis da hierarquia de Maslow, encontrando três níveis de necessidades: as de

existência, de relacionamento e de crescimento, que são, as primeiras, necessidades básicas,

as segundas, de interação social, estima e reconhecimento, e as terceiras, de

desenvolvimento de potencial próprio e satisfação do ego. Alderfer notou que podia haver

progressão de um estágio para outro, e até uma sobreposição entre eles. Notou também que

as pessoas poderiam passar para o próximo estágio sem ter concluído todas as necessidades

do anterior.

Há ainda a Teoria das Necessidades Socialmente Adquiridas de McClelland

(cf BOWDITCH e BUONO, 2002), que identificou três necessidades básicas que as

pessoas desenvolvem: realização, poder e afiliação. Esta teoria propõe que cada pessoa é

influenciada em momentos diferentes por essas três necessidades, e que elas variam de

acordo com a experiência de vida do indivíduo. Salvo assim, alguns indivídos têm maior

necessidade de conquistar poder sobre outras pessoas, enquanto outros são motivados pela

necessidade de afiliação (necessidades sociais). A teoria de McClelland sugere que a

motivação é mutável e variável, mesmo na idade adulta.

Finalizando, a Teoria da Motivação-Higiene de Herzberg (cf BOWDITCH e

BUONO, 2002) sugere duas dimensões não relacionadas: a primeira são os aspectos e

atividades que impedem a insatisfação, mas não impulsionam o indivíduo a crescer, e a

segunda são os aspectos e atividades que encorajam o crescimento do indivíduo. A proposta

de Herzberg é que as duas dimensões sejam incorporadas simultaneamente no ambiente de

trabalho.

2.2.2 Teorias de processo

Bowditch e Buono (2002) afirmam que as teorias de processo da motivação nos

alertam para o fato de que as pessoas variam no modo como reagem, que muitas

necessidades podem estar em ação simultaneamente e que outros fatores além nas

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necessidades insatisfeitas podem influenciar na motivação, e conseqüentemente, no

comportamento das pessoas.

Na Teoria das Expectativas, Vroom (cf BOWDITCH e BUONO, 2002)

distingue três componentes: esforço, desempenho e resultado. Quanto maior for o esforço

da pessoa, melhor seu desempenho (expectativa); quanto melhor seu desempenho, maiores

os resultados ou a recompensa (instrumentalidade) e como último aspecto ele pontua que o

valor da recompensa é diferente para cada indivíduo (valência). Este modelo tenta predizer

como o indivíduo se comportará em determinada situação.

A Teoria da Motivação pelo Caminho-Meta e a Teoria do Estabelecimento

de Metas são muito similares à teoria das expectativas. A primeira, proposta por House (cf

BOWDITCH e BUONO, 2002), traz a idéia de que as pessoas fazem suas opções tomando

por base a utilidade da recompensa para si próprias. Como sugere a teoria das expectativas,

elas só serão motivadas a produzir quando perceberem que seus esforços farão com que

obtenham recompensas desejadas. A Segunda teoria tem como premissa básica que as

metas de uma pessoa são determinantes da motivação relacionada à tarefa que será por ela

executada, visto que, segundo Locke (cf BOWDITCH e BUONO, 2002), as metas dirigem

nossos pensamentos e ações. “Todavia, nem todas as metas levam necessariamente ao

desempenho, visto que uma certa meta pode entrar em conflito com outras que a pessoa

possa ter, ou pode ser percebida como inadequada para aquela situação em particular”

(LOCKE cf BOWDITCH e BUONO, 1992, p. 48).

2.2.3 Teorias baseadas no ambiente

Segundo Bowditch e Buono (2002), essas teorias “vêem a motivação como um

variável interventora e dependente” (BOWDITCH e BUONO, 1992, p. 49). O enfoque será

nas antecedentes das variáves às quais o comportamento motivado é atribuído.

Na Teoria do Condicionamento e Reforço Operantes, segundo a teoria de

Skinner, “o comportamento ou a motivação de um indivíduo é uma função da

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18

conseqüências daquele comportamento” (SKINNER apud BOWDITCH e BUONO, 1992,

p. 49). Ainda com a idéia de Skinner, se alguém quer manter um certo comportamento,

deverá reforçá-lo, oferecendo recompensas, ou seja, manipulando as conseqüências do

comportamento. Tanto o reforço positivo (recompensas) quanto o reforço negativo

(punições) podem moldar o comportamento. “Como esta escola supõe que todo

comportamento tem uma base condicionadora operante, a motivação fica reduzida a

identificar as necessidades e oferecer as recompensas apropriadas” (BOWDITCH e

BUONO, 1992, p.49).

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19

RESISTÊNCIA

3.1 Definição

Quem descobriu e conceituou a resistência foi Freud, que primeiramente a

designou como “(...) uma atitude de oposição às suas descobertas na medida em que elas

revelavam os desejos inconscientes e infligiam ao homem um ‘vexame psicológico’”

(FREUD cf LAPLANCHE, 1999, p. 458).

Sendo assim, entende-se a resistência como algo que atravanca o processo

terapêutico, psicanaliticamente falando. Freud descobriu este aspecto quando encontrou

uma resistência maciça em certos pacientes, sendo que esta não podia ser superada nem

interpretada, e foi isso que fez com que Freud renunciasse à hipnose e à sugestão

(LAPLANCHE, 1999).

Para “enganar” essa resistência encontrada, Freud criou a regra da associação

livre, que “visa em primeiro lugar eliminar a seleção voluntária dos pensamentos (...), pôr

em evidência uma ordem determinada do inconsciente” (FREUD cf LAPLANCHE, 1999,

p. 39).

A partir deste ponto, após a definição freudiana serão expostas algumas

pontuações de vários musicoterapeutas sobre o conceito de resistência na musicoterapia,

que é um dos objetivos deste trabalho.

3.2 O conceito de resistência para a musicoterapia

A musicoterapeuta Pamela Steele pontua que “(...) o conceito de resistência em

terapia não implica em que o terapeuta tenha um plano com o qual o paciente se recusa a

cooperar; isto não estaria de acordo com a flexibilidade da resposta do terapeuta dentro do

ambiente musical” (STEELE, 1999, p. 42).

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20

Muitas vezes, o que pode parecer uma falta de colaboração do paciente, é uma

grande resistência. Steele (1999) também faz uma metáfora musical à resistência, dizendo

que a relação entre paciente e terapeuta pode ser consonante ou dissonante, sendo que a

dissonância é resultante da resistência.

E como a musicoterapia também lida com aspectos não verbais, eis uma

colocação de Janice Dvorkin:

A resistência do paciente em expressar-se através da música é vista como uma defesa contra trazer os sentimentos inconscientes e pensamentos do consciente por meio da própria música. Este mesmo comportamento pode ser visto como uma demonstração de medo, do paciente para o terapeuta, tanto de perder o controle quanto de risco de ameaça do seu sentido de self. (DVORKIN, 1999, p. 60)

Priestley (1994) conecta alguns pensamentos de Freud com música e

resistência. Cita o resistance vacuum (vácuo de resistência), que é um espaço psíquico

ocupado por uma ligação entre emoção e pensamento, dentro de uma experiência musical.

Neste vácuo, esta resistência tenta ligar a emoção expressa na música ao pensamento.

Paul Nordoff e Clive Robbins (1977) relacionam a resistência ao nível de

participação do paciente na sessão, que pode ser diferente. Afirmam também que o caráter

resistente do paciente muda com o nível de relacionamento entre ele e o terapeuta.

Dentre todos os conceitos apresentados, a resistência aparece ainda como algo a

ser trabalhado no processo musicoterapêutico, pois segundo Aigen, “(...) resistência não é

alguma coisa destrutiva ou negativa; mas é, de fato, uma função essencial” (AIGEN, 1999,

p. 72). Como pode ser uma função essencial? Vista por todas estas perspectivas, a

resistência é uma forma de proteção. Se não houvesse resistência, o indivíduo não teria

consciência de suas dores, dos pontos emotivos que o tocam e/ou incomodam. Assim, a

resistência é importante tanto para o terapeuta, para que ele identifique o que emociona e

incomoda seu paciente, sobretudo para este último, como uma forma de proteção.

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21

MUSICOTERAPIA

4.1 Definição

Dentre várias definições de musicoterapia, a mais pertinente ao tema deste

trabalho é a definição da World Federation of Music Therapy:

Musicoterapia é a utilização da música e/ou dos elementos musicais (som, ritmo, melodia e harmonia) pelo musicoterapeuta e pelo cliente ou grupo, em um processo estruturado para facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física, emocional, mental, social e cognitiva) para desenvolver potenciais e desenvolver ou recuperar funções do indivíduo de forma que ele possa alcançar melhor integração intra e interpessoal e conseqüentemente uma melhor qualidade de vida. (apud BRUSCIA, 2000, p. 286).

Sendo assim, entende-se que a musicoterapia é um processo que engloba e pode

promover, através da música e de seus elementos, várias áreas que são muito importantes

para o ser humano, principalmente a comunicação e o relacionamento.

Neste trabalho serão destacadas estas duas últimas áreas, por motivo de

relevância ao tema apresentado.

2.3 O processo musicoterapêutico

O que seria um processo musicoterapêutico? Ele pode ser sistematizado? Qual a

diferença de processo e intervenção?

A primeira coisa a ser destacada por Bruscia (2002) em relação ao processo

musicoterapêutico, é o elemento tempo. A musicoterapia é “uma série de interações que

levam a uma relação cliente-terapeuta e não um único encontro interpessoal; uma

progressão por etapas de engajamentos musicais e não uma experiência musical isolada”

(BRUSCIA, 2000, p. 35).

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22

Bruscia (2002) ainda destaca que a musicoterapia é um processo evolutivo e não

momentâneo. Por estas razões ele classifica sistematicamente os tipos de processo como

desenvolvimentista, educacional, interpessoal, criativo e científico. Entretanto, tais

classificações não serão detalhadas porque não é necessário a este trabalho.

2.4 Desejo, motivação e resistência no processo musicoterapêutico: como trabalhar?

Qual é a ligação de todos estes conceitos com a musicoterapia? Freqüentemente

aparecem em clínicas, hospitais, instituições e outros pacientes com um alto grau de

desmotivação.

À primeira vista, cabe ao terapeuta uma investigação do histórico deste paciente.

Muitos pacientes costumam apresentar desmotivação. Alguns não têm vontade nem de

cuidar da higiene pessoal e preferem ficar deitados, dormindo durante muitas horas. Na

sessão de musicoterapia, muitas vezes não querem conversar, ouvir uma música ou sequer

tocar um instrumento. É o caso de muitos pacientes depressivos. A este ponto, questiona-

se: aonde estão os desejos e a motivação deste indivíduo?

Voltando à definição de desejo de Rolnik (cf SAMPAIO, 2002), os desejos

dependem de uma ordem social, ou seja, muitas vezes este paciente foi tão frustrado em

várias tentativas de alcançar algum objetivo, que em certo ponto, ele desiste. Pode

acontecer uma cadeia de reações a um indivíduo que é mais suscetível a isso. Por exemplo,

se um desempregado ouvir um “não” inúmeras vezes, em certo ponto ele pode ficar tão

frustrado que dificilmente se sentirá motivado a procurar outro emprego, e isto traz uma

cadeia de reações que também podem afetar a auto-estima desta pessoa, e por

conseqüência, o seu relacionamento inter e intrapessoal. Em casos mais severos, pode

ocorrer até uma despersonalização, uma “anulação” de identidade, no sentido em que esta

pessoa nem conhece mais seus desejos e necessidades.

Todos estes aspectos podem converter-se em uma resistência no processo

musicoterapêutico. O indivíduo sem desejos não sabe o que quer nem na terapia. Os

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pacientes resistem de várias formas diferentes: verbalizando ao extremo, “fugindo” do

assunto proposto, não querendo ouvir música nem tocar instrumentos, falando sempre do

mesmo assunto, de uma forma cíclica.

Tendo isto como base, por que os pacientes resistem?

É provável que eles resistem porque têm medo. Medo de perder o controle de

seu próprio self, segundo Dvorkin (1999), medo da mudança que pode ocorrer, medo de

entrar em contato com sentimentos que são dolorosos, sofridos... Afinal, a resistência é uma

proteção, como foi pontuado anteriormente. Às vezes é mais fácil resistir à mudança do que

se adaptar a outro funcionamento psíquico, a outra forma de agir diante dos problemas.

Muitas vezes aparece o medo do desconhecido. O indivíduo tem medo de ir para

um lugar que lhe é desconhecido, isto para ele pode ser angustiante. Como por exemplo,

uma criança que nunca saiu de casa sozinha, de repente perceber-se em uma situação onde

ela terá que sair, e terá que se adaptar ao meio. Isto pode ser muito angustiante para um

paciente dentro da terapia, pois ele não sabe o que pode encontrar ou o que pode emergir de

um processo terapêutico. Ele pode então resistir, porque pode ter medo de não saber lidar

com estes conteúdos que emergem da terapia.

A questão se volta para os terapeutas: como agir diante desta resistência? É

possível vencê-la?

Várias abordagens em musicoterapia têm um modo diferente de trabalhar.

Nordoff e Robbins (1977) acreditam na criatividade para trabalhar a resistência, sobretudo

das crianças. Algumas vezes, basta alguma “manobra” do terapeuta, como mudar de música

sutilmente, ou tentar outra tática, isto vai depender da capacidade do terapeuta em ser

criativo e encontrar outra forma de apresentar sua proposta ao paciente. Outros estados de

resistência podem precisar de muitas sessões de trabalho, em outras áreas de contato sem

ser a área da própria resistência. Isto é muito importante para o trabalho terapêutico, pois

muitas vezes em que se tenta combater diretamente a resistência, como Freud tentou no

caso da histeria, podemos nos deparar com outra ainda maior.

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Segundo Barcellos, o método GIM criado por Helen Bonny, a resistência

também pode se apresentar. O método GIM consiste no trabalho com audição musical e as

imagens que as músicas suscitam na mente das pessoas. A resistência neste método pode

aparecer quando o paciente resiste a relaxar e relata que não vieram imagens à sua mente.

Cabe ao terapêuta reconhecer este fenômeno e perceber se este paciente está apto a este

trabalho, o terapeuta também deve se utilizar de instrumentos e outras intervenções para o

avanço do paciente no processo. (BARCELLOS, 1999, p. 119)

Afinal, o que pode vir em primeiro lugar para o trabalho da resistência em

musicoterapia?

Bruscia (2002) fala sobre a empatia, que é a “capacidade de compreender ou de

se identificar com o que outra pessoa está vivendo” (BRUSCIA, 2002, p. 66). Para ele, a

música é um meio de empatia, pois quando duas pessoas tocam ou cantam algo juntas,

compartilham a mesma melodia, ritmo, centro tonal e etc. Ainda segundo Bruscia, a

empatia se dá por meio de uma identificação do paciente com o terapeuta Com as palavras

de Barcellos: “A música, ao meu ver, nos induz a partilhar com o outro momentos nos

quais, em outras condições, ficaríamos sozinhos, isolados” (BARCELLOS, 1992, p. 9).

Algo que Etchegoyen (1987) engloba dentro de sua descrição de aliança

terapêutica, que é algo complexo e tem como um de vários aspectos a dissociação

terapêutica do ego:

(...) se deve a uma identificação com o analista, cujo protótipo é o processo de formação do superego. Essa identificação é fruto da experiência da análise, no sentido de que, frente aos conflitos do paciente, o analista reage com uma atitude de observação e reflexão. Identificado com esta atitude, o paciente adquire capacidade de observar e criticar seu próprio funcionamento (...) (ETCHEGOYEN, 1987, p. 125-126).

A partir da identificação pode estabelecer-se confiança, ou seja, o paciente pode

passar a confiar no terapeuta. Podemos assim observar, que tanto no meio musical como no

meio psicanalítico, é necessária uma identificação. Se isto não acontecer, o trabalho do

terapeuta ficará mais difícil, pois o paciente pode tornar-se resistente.

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Ainda sobre as atitudes do terapeuta, Patrícia Pellizzari reforça o aspecto da

escuta do terapeuta, que deve ser usada como meio e como fim: “Como meio porque a

partir dela o musicoterapeuta pode entrar no inconsciente do paciente e como fim, porque a

escuta do musicoterapeuta metaforiza a da própria voz interior do paciente” (PELLIZZARI,

1993, p.15).

Assim sendo, o terapeuta deve estar atento às manifestações do paciente, tanto

verbais quanto musicais, para saber a hora de intervir, de detectar e tentar dissolver, de um

modo não diretivo, a resistência apresentada.

4.4 Como intervir

O terapeuta não pode basear-se apenas na escuta. É um recurso importante, mas

não suficiente. Ele também precisa intervir, mas como acontecem as intervenções em

musicoterapia?

Este é um aspecto que traz muita polêmica à musicoterapia. Afinal, o terapeuta

pode usar recursos verbais com o paciente? O paciente pode conversar, ou ele tem que tocar

algum instrumento ou ouvir alguma música? Para respondermos a estas questões, devemos

nos basear no que Bruscia afirma sobre música como terapia e música na terapia:

Na música como terapia, a música exerce uma influência direta sobre o cliente e sua saúde e serve como um agente primário na mudança terapêutica (...). Na música na terapia, a música é usada não somente por suas próprias propriedades curativas, mas também para intensificar os efeitos da relação cliente-terapeuta ou de outras modalidadesde tratamento (por exemplo, argumentação verbal) (BRUSCIA, 2000, p. 43).

Em suma, o que Bruscia coloca é que a música pode ser tanto um agente

primário como um secundário, ou seja, o processo musicoterapêutico pode ocorrer na

música ou com o auxílio da música. Um exemplo de música como terapia é o trabalho

desenvolvido por Paul Nordoff e Clive Robbins.

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Seria importante, nesta parte do trabalho citar um pensamento de Jung: “na

Psicoterapia de hoje exige-se, às vezes, que o médico ou psicoterapeuta ‘siga’, por assim

dizer, o doente e as suas emoções. Não creio que esse seja o melhor caminho. Às vezes é

necessário que o médico intervenha ativamente” (JUNG apud BARCELLOS, 1992)

Entende-se que o papel do terapeuta é ajudar o paciente, e por isso às vezes é

necessário intervir. Se não ocorre intervenção quando necessário, o paciente pode repetir

padrões de comportamento, muitas vezes até agravando sua doença.

Barcellos (1992) classificou as intervenções em musicoterapia em verbais,

paraverbais/musicais, musicais propriamente ditas e corporais.

As intervenções verbais podem ser divididas em faladas ou cantadas. Quando

cantadas, através de músicas existentes ou improvisação de letras. As principais formas de

intervenção

- Interrogar: quando se pergunta algo ao paciente;

- Informar: quando o terapeuta fornece informações que julga serem necessárias;

- Confirmar: retificar conceitos do paciente sobre situações que ele solicite ou o terapeuta

julgue necessário;

- Clarificar: esclarecer alguma situação ao paciente;

- Recapitular: resumir pontos essenciais de cada sessão ou do processo;

- Assinalar: sinalizar relações entre os aspectos do paciente;

- Interpretar: o significado do comportamento e algumas situações apresentadas;

- Indicar: alguns comportamentos com caráter de prescrição;

- Sugerir: atitudes e mudanças

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- Meta-intervenções: comentar o significado de ter recorrido a acontecimentos e sessões

anteriores;

- Outras intervenções: mudanças no contrato terapêutico, etc.. (BARCELLOS, 1992).

Os outros tipos de intervenções serão brevemente esclarecidas e não

aprofundadas, pois não são o foco de estudo deste trabalho.

Ainda seguindo as idéias de Barcellos (1992), as intervenções

paraverbais/musicais incluem mímica verbal, variações na forma de emissão e no tom de

voz, intensidade e inflexões rítmico-sonoras da fala. As intervenções musicais

propriamente ditas podem ser sonoras, rítmicas, melódicas e harmônicas, e as corporais

incluem gestos, posturas e olhares (BARCELLOS, 1992).

A aplicação das intervenções verbais na musicoterapia são muito discutidas.

Mas o processo musicoterapêutico precisa ter a música como agente principal? Por que a

música não pode exercer um papel de agente facilitador? A afirmação de Bruscia sobre

música na terapia é muito pertinente a este tema, pois ela não precisa ser necessariamente o

agente primário do processo musicoterapêutico.

As intervenções verbais cantadas podem ser um meio facilitador para trabalhar a

resistência, principalmente com o uso de canções populares. Para um paciente resistente, o

musicoterapeuta pode, inocentemente, propor que ele cante ou diga o nome de uma canção

que lhe vem à mente, e na maioria das vezes o paciente concorda, porque a canção expõe e

ao mesmo tempo não expõe os conteúdos internos e as emoções do paciente. A canção

popular é dialética.

Segundo Millecco, Brandão e Millecco (2001), os autores de canções populares

“emprestam” suas canções, que interagem com o mundo de cada um, ou seja, as canções

que o paciente canta são e ao mesmo tempo não são dele: são dele porque “quando uma

pessoa canta, no setting musicoterapêutico, ele ou ela não reproduz simplesmente a canção,

mas se apropria dela” (CHAGAS, 1998, p. 122), e também não são dele por questões

práticas: não foi ele quem a compôs, nem as palavras e nem as melodias, por isso este

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processo se torna fácil. Muitas vezes, somente depois de cantar a canção, o paciente toma

consciência do que ela significa para ele. Muitas vezes são necessárias intervenções verbais

do musicoterapeuta, como assinalar as partes da canção que têm alguma relação com a

personalidade, o momento ou situação vivida pelo paciente.

Nem sempre o paciente precisa participar ativamente do canto. Ele pode

escolher uma canção e o musicoterapeuta pode cantá-la ou até acompanhá-lo em seu canto.

Luiz Tatit relaciona a canção com a linguagem falada quando coloca que o

cancionista é “um gesticulador que manobra sua oralidade, e cativa, melodicamente, a

confiança do ouvinte” (TATIT apud MILLECCO, BRANDÃO e MILLECCO, 2001, p.

83).

Sendo assim, a canção pode ser comparada à regra de associação livre de

Freud. A canção na musicoterapia “engana” a resistência do paciente, que pensa que apenas

vai cantar uma canção. O que muitas vezes ele desconhece, é que esta canção vem a partir

de associações de seu inconsciente.

Depois de estabelecida a confiança, a aliança terapêutica e trabalhada a

resistência do paciente, este sente-se mais confortável no processo, e o processo

musicoterapêutico passa a promover mudanças. O paciente que antes se sentia desmotivado

e que não sabia mais quais eram os seus desejos provavelmente resistia por medo,

insegurança ou angústia, por não saber com o que teria que lidar. Com o tempo do processo

o paciente adquire confiança na relação com o terapeuta, deixa um pouco de lado a

resistência e se abre ao processo e às mudanças, e isto pode ser um fator que irá refletir-se

nos aspectos motivacionais e no desejo dele.

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CASO CLÍNICO

Este capítulo ilustrará este trabalho com um exemplo de um caso clínico.

5.1 O Caso “V.”

V, sexo feminino, 54 anos de idade, casada há 35 anos, com o diagnóstico de

depressão, começou seu tratamento comigo em março de 2004.

Suas maiores queixas eram a grande desmotivação e vontade de dormir, que não

a deixava fazer as coisas que gostava.

V. teve três filhos, dois faleceram logo após o parto por problemas congênitos.

O terceiro filho morreu aos 18 anos, com a hipótese de suicídio. V. não acredita que foi

sucídio. Desde então o quadro depressivo instalou-se. Hoje V. mora com seu marido e com

o quarto filho, que é adotivo.

V. queixou-se muito do marido. Disse-me que ele era ciumento e controlador, e

que durante todo seu tempo de casamento foi passiva, anulou seus gostos, desejos e

sentimentos para realizar os dele. V. fala do marido com muita raiva.

V. já planejou muitas vezes seu suicídio. Tentou por duas vezes matar seu

marido, uma atirando-lhe uma faca e outra envenenando sua cerveja, mas ficou com

remorso e retirou o copo da mão dele. Dizia-me que somente quando o matasse seria

realmente feliz, seria verdadeiramente ela, apresentando assim, um funcionamento muito

fantasioso.

Os primeiros contatos com esta paciente foram “frios”. Foi aplicado

primeiramente o teste do perfil psicomusical elaborado pela musicoterapeuta francesa

Verdeaux-Paillès, e percebi que V. não estava gostando do teste, mas que continuava com

ele somente para me agradar. Deixou bem claro para mim, na entrevista inicial, que é

viciada em analgésicos: “Não gosto de sentir dor”, e esclareceu também suas relações com

a música. Disse que prefere ouvir a tocar. Fez aulas de piano e violão, mas não continuou,

porque não gosta de tocar.

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Em todas as sessões, V. verbalizava muito, e todas as vezes em que eu

perguntava se ela gostaria de ouvir alguma música, ela dizia que não se lembrava de

nenhuma no momento, e eu respeitava sua resistência. Durante várias sessões eu continuei

perguntando, até que um dia ela quis ouvir “Fascinação”, da Elis Regina. Peguei o violão e

comecei a cantar, pedi para que me ajudasse e ela comentou que não lembrava a letra. Eu

disse a ela que tudo bem, que eu cantaria a música para ela. Comecei a cantar e V.

acompanhou me, com uma voz fraca e bem afinada:

“Os sonhos mais lindos sonhei

De quimeras mil, um castelo ergui

E no seu olhar, tonto de emoção

Com sofreguidão mil venturas previ

O teu corpo é luz, sedução

Poema divino cheio de esplendor

Teu sorriso prende, inebria entontece

És fascinação, amor”.

Destaco aqui a importância da ordem social no desejo pontuada por Rolnik. A

terapeuta apoiou o canto da paciente, e por isso esta sentiu-se mais segura ao cantar.

Transcorreram-se várias sessões, e eu percebia que seria difícil levá-la aos

instrumentos, por isso decidi trabalhar com canções populares. V. sempre se mostrava

muito tímida ao cantar, e disse para mim que nunca gostou de ser o alvo das atenções. Ao

mesmo tempo, em seu discurso, ela me dizia que sentia culpa pelo suicídio do filho, por

não ter conseguido resolver um problema entre ele e o pai. Tendo como base essas

informações, pensei em dedicar uma música a ela em uma sessão.

Como eu sabia que ela gostava do timbre do piano, sentei-me ao teclado da sala,

ajustei o timbre para o piano e toquei “Alguém cantando”, de Caetano Veloso:

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“Alguém cantando longe daqui, alguém cantando longe, longe

Alguém cantando muito, alguém cantando bem, alguém cantando é bom de se ouvir

Alguém cantando alguma canção, a voz de alguém nessa imensidão

A voz de alguém que canta, a voz de um certo alguém

Que canta como que pra ninguém

A voz de alguém quando vem do coração

De quem mantém toda pureza da natureza

Onde não há pecado nem perdão”

Ao terminar a música, o silêncio de V. permaneceu durante um tempo. Depois

ela comentou: “Só não vou chorar porque não quero te deixar triste”. Isto eu considerei

como uma pequena resistência que ela manifestou para não entrar realmente em contato

com os próprios sentimentos. A partir desta sessão, V. começou a cantar e lembrar mais

músicas.

Em uma outra sessão, V. trouxe um álbum de fotografias e comentava que

sentia como se não tivesse mais identidade, pois não tinha mais motivação nem para fazer

os trabalhos manuais que fazia. “Antigamente, eu levava um dia para fazer um tapete de

crochê”. Pedi então para que ela escolhesse uma foto, V. escolheu uma na qual ela estava

sozinha. Pedi para que ela olhando para aquela foto, se dedicasse uma canção. Ela me disse:

“Ah, tem que ser do Roberto Carlos” e logo após começou a cantar, muito tímida:

“Tanto tempo longe de você, quero ao menos lhe falar

A distância não vai impedir, meu amor, de te encontrar

Cartas já não adiantam mais, quero ouvir a sua voz

Vou telefonar dizendo que eu estou quase morrendo de saudade de você

Eu te amo, eu te amo, eu te amo

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Mas o dia que eu puder te encontar eu quero contar o quanto sofri

Por todo este tempo que eu quis te falar

Eu te amo, eu te amo, eu te amo...”

Cantei a música junto com ela, ela resistia em chorar. Seus olhos estavam

marejados, então eu lhe pedi para que cantasse a mesma música, mas em primeira pessoa.

Ela cantou, com a voz trêmula:

“Tanto tempo longe de mim, quero ao menos me falar

A distância não vai impedir, meu amor, de me encontrar

Cartas já não adiantam mais, quero ouvir a minha voz

Vou telefonar dizendo que eu estou quase morrendo de saudade de mim

Eu me amo, eu me amo, eu me amo

Mas o dia que eu puder me encontrar eu quero contar o quanto sofri

Por todo este tempo que eu quis me falar

Eu me amo, eu me amo, eu me amo...”

Ao terminar a canção, V. chorava muito. Perguntava-me como era possível que

exatamente esta canção tinha vindo à sua mente. Respondi-lhe que era o que ela pensava e

sentia, mas que apenas se tornou consciente quando eu lhe pedi para que cantasse.

Ao término do primeiro semestre de atendimento, durante a entrevista

devolutiva, V. comentou que não gostou de mim na primeira impressão. Disse que não

queria nem mais voltar para a musicoterapia, mas que resolveu dar uma chance para mim,

para ela e para o tratamento.

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Hoje V. mudou muitos aspectos em seu comportamento: disse que não é mais

tão passiva na relação com o marido e que hoje faz as coisas, come, se veste como ela

gosta. Não tem mais o forte ciúme que tinha do filho adotivo em relação à sua nora. Hoje

ela diz que o filho deve ter a vida que ele, não ela, escolher. Contou-me que agora gosta de

sair sozinha, caminhar e passear, está mais motivada a fazer os trabalhos manuais que fazia

antes da depressão.

O caso de V. é um exemplo onde a principal forma de trabalhar a resistência foi

o uso das canções, que possibilitaram, junto com o estabelecimento de uma aliança

terapêutica, da escuta e do acompanhamento da terapeuta, uma abertura da paciente ao

processo, e assim as mudanças foram acontecendo.

V. conseguiu resgatar sua identidade através da canção e das intervenções

musicoterapêuticas. O apoio da figura da terapeuta para que ela se sentisse mais segura em

suas descobertas também foi muito importante. V. conseguiu perceber outra vez quais eram

os seus desejos, e sentir-se motivada para alcançar seus objetivos. Percebeu também sua

resistência à mudança, e como poderia encontrar novas formas de ser feliz.

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CONCLUSÃO

Durante a realização deste trabalho, foi concluído que os aspectos do desejo, e

motivação se relacionam com a resistência, e que esta resistência tem várias formas de se

apresentar.

O mais importante também foi o destaque para a intervenção do

musicoterapeuta. Se ele não intervém, ele pode estar contribuindo para a não-melhora do

paciente ou até um agravamento da doença, no caso de pacientes com depressão. Mas

também é importante destacar que esta intervenção deve ser “calculada”, de acordo com os

objetivos que o terapeuta tem, de acordo com a aliança terapêutica e a empatia estabelecida.

O destaque do trabalho foi o uso das canções dentro do processo terapêutico,

dentro de uma abordagem psicanalítica. É claro que temos que frisar que o paciente tem

que querer a mudança, tem que contribuir para que isto aconteça, e o musicoterapeuta é um

agente facilitador.

Ainda há mais complexidade dentro dos desejos, da motivação e da resistência

que não puderam ser abordados neste trabalho, devido ao fato de que a mente humana é

uma “caixinha de surpresas”. Como este trabalho foi desenvolvido por causa desta

experiência clínica, ainda há mais a ser explorado, que poderá ser assunto de outras

pesquisas sobre o tema.

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