desde a sua fundação, em 1995, o instituto “o direito por um … · verde”, além de festejar...

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Desde a sua fundao, em 1995, o Instituto O Direito por um Planeta Verde cumpre um papel fundamental nodesenvolvimento e consolidao do Direito Ambiental brasileiro. Nesse perodo, o Instituto teve importante participaona elaborao das leis e normas ambientais aprovadas pelo Congresso Nacional e pelo CONAMA Conselho Nacionaldo MeioAmbiente. Reunindo renomados especialistas do pas, o Instituto edita a conhecida Revista de DireitoAmbientale realiza cursos em todas as regies do pas. Pelo seu trabalho srio e dedicao, tornou-se uma referncia nacional einternacional.

O Instituto O Direito por um Planeta Verde a maior e mais conhecida instituio jurdico-ambiental do Brasil. Integradopor especialistas de todo o pas, muitos deles professores das melhores universidades brasileiras, o Instituto em poucosanos se transformou em ator indispensvel e sempre presente nos grandes debates ambientais, tanto no Parlamento,como na academia. Seja propondo inovaes legislativas, como a Lei dos Crimes contra o MeioAmbiente de 1998, sejaopondo-se s tentativas de enfraquecimento das leis existentes, o Instituto, pela sua credibilidade cientfica eacadmica, virou ponto de apoio para todos aqueles que se preocupam com a nossa ameaada biodiversidade.

O Brasil conta hoje com uma das mais avanadas legislaes ambientais do mundo. Por outro lado, publica-se maissobre Direito Ambiental aqui do que em todos os pases da Amrica Latina somados. No obstante tantos avanos,continua a degradao dos nossos recursos naturais. Nesse contexto de boa lei e cumprimento insuficiente, o trabalhodo Instituto O Direito por um Planeta Verde imprescindvel. Responsvel por muito do que h de bom no DireitoAmbiental brasileiro, o Instituto, pela excelncia de seu trabalho, sempre encontra as portas abertas por onde passa. Foia primeira instituio brasileira a abordar o tema da implementao ambiental. E, mais recentemente, foi tambmpioneira ao iniciar um Projeto Piloto sobre indicadores de implementao ambiental. O Brasil deve muito aos membrosdo Instituto O Direito por um Planeta Verde.

Since it was founded in 1995, the Law for a Green Planet Institute has played a fundamental role in the development andconsolidation of Brazilian environmental law. In this period, the Institute has participated in the drafting of environmentallaws and regulations enacted by the National Congress and the National Council on the Environment. Bringing togetherrenowned Brazilian experts, the Institute publishes the prestigious Revista de Direito Ambiental (Journal ofEnvironmental Law) and conducts capacity-building programs in all regions of the country. Due to its serious anddedicated work, the Institute has become a national and international reference in the field of Environmental Law.

The Law for a Green Planet Institute is the largest and best known legal-environmental think tank in Brazil. Withmembers from the entire country, many of them professors at leading Brazilian universities, the Institute in only a fewyears has been transformed into an indispensable and always-present participant in the great environmental debates ofour country, as often in Parliament as in the academy. At times proposing legislative innovations, such as the Crimesagainst the Environment Act of 1998, or at times opposing efforts to weaken existing environmental laws, the Institute with its academic and scientific credibility has become a resource for all those who are worried about our endangeredbiodiversity.

Brazil today has some of the most advanced environmental legislation in the world. And we publish more onEnvironmental Law than in all the countries of Latin America combined. Despite such progress, the degradation of ournatural resources continues. In this context of good law and insufficient implementation, the work of the Law for a GreenPlanet Institute is crucial. Responsible for much of what is good about Brazilian environmental law, the Institute, becauseof its excellent reputation, always finds doors open to it. Green Planet was the first Brazilian institution to study thetheme of implementation of environmental legislation. And, more recently, it was again a pioneer in initiating a PilotProject on environmental compliance and enforcement indicators. Brazil owes much to the members of the Law for aGreen Planet Institute.

Senadora Marina SilvaEx-Ministra do Meio Ambiente

Deputado Jos Sarney FilhoEx-Ministro do Meio Ambiente

Jos Carlos CarvalhoEx-Ministro do Meio Ambiente

Senator Marina SilvaFormer Minister of the Environment

Congressman Jos Sarney FilhoFormer Minister of the Environment

Jos Carlos CarvalhoFormer Minister of the Environment

apoio grfico

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Dados Internacionais de Catalogao na PublicaoBiblioteca do Ministrio Pblico do Estado de So Paulo

Congresso Internacional de Direito Ambiental (14.: 2010 : So Paulo, SP) C76m Florestas, mudanas climticas e servios ecolgicos / coords. Antonio

Herman Benjamin, Carlos Teodoro Irigaray, Eladio Lecey, Slvia Cappelli. So Paulo : Imprensa Oficial do Estado de So Paulo, 2010.

2v.

Co-patrocnio: Instituto O Direito por um Planeta Verde Trabalhos apresentados no 14. Congresso Internacional de Direito Ambiental, 15. Congresso Brasileiro de Direito Ambiental, 5. Congresso de Estudantes de Direito Ambiental, 5. Congresso de Direito Ambiental dos Pases de Lngua Portuguesa e Espanhola, realizados em So Paulo de 22 a 26 de maio de 2010

1. Direito ambiental Congresso internacional. I. Benjamin, Antonio Herman de Vasconcelos e, coord. II. Irigaray, Carlos Teodoro Jos Hugueney, coord. III. Lecey, Eladio, coord. IV. Cappelli, Slvia, coord. V. Instituto O Direito por um Planeta Verde. VI. Ttulo.

CDU 349.6(100)(063)

Criao de Capa: Armando de Lima Sardinha

Cover Designer: Armando de Lima Sardinha

Miolo em papel 100% reciclado (Papel Reciclato da Suzano)Pages printed on 100% recycled paper (Reciclato Suzano Paper)

Coordenadores Cientficos/Academic CoordinatorsAntonio Herman Benjamin

Carlos Teodoro IrigarayEladio Lecey

Slvia Cappelli

Comisso de Organizao do 15 Congresso Brasileiro de Direito AmbientalSteering Commitee of 15th Brazilian Conference on Environmental LawAnnelise Monteiro Steigleder, Carlos Teodoro Jos Hugueney Irigaray,

Cristina Godoy de Arajo Freitas, Eladio Lecey, Jos Carlos Meloni Scoli, Jos Eduardo Ismael Lutti, Jos Rubens Morato Leite, Mrcia Dieguez Leuzinguer,

Paulo de Tarso Siqueira Abro, Patryck de Araujo Ayala, Rogrio Hetmanek, Rogrio Portanova, Slvia Cappelli, Vansca Buzelato Prestes

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SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DE SO PAULO

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www.imprensaoficial.com.br/imprensasocial

Nascentes do BrasilEstratgias para a proteo de cabeceiras em bacias hidrogrficas

Samuel Roiphe Barreto,

Sergio Augusto Ribeiroe Mnica Pilz Borba | Coord.

Esta publicao mais que um simples relatrio

das atividades do WWF-Brasil e relato de outras

experincias desenvolvidas em nosso Pas em

defesa das guas, uma nascente em si, fonte

onde outros brasileiros sedentos de conhecimento

e de participao ativa na conservao dos recursos

naturais podero beber e servir.

Sirva-se e bom proveito! Denise Ham Secretria-geral WWF-Brasil

Cachoeira com mata ciliar preservada Foto: Acervo WWF-Brasil/Juan Antonio Gili

downlo

ad

gratuit

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AGRADECIMENTOS

O Instituto O Direito por um Planeta Verde agradece Procuradoria Geral de Justia de So Paulo pelo apoio ao 14 Congresso Internacional de Direito Ambiental, fazendo-o nas pessoas dos doutores Fernando Grella Vieira (Procurador Geral de Justia), Francisco Stella Jnior, Wilson Alencar Dores, Jorge Luiz Ussier, Eloisa de Sousa Arruda, Cristina Godoy de Arajo Freitas, Jos Eduardo Ismael Lutti e Jos Carlos Meloni Scoli.

Outras pessoas e instituies contriburam, decisivamente, para o sucesso do evento, cabendo em especial lembrar:

Governo do Estado de So Paulo (Governador Alberto Goldman; Secretrios Luiz Antnio Guimares Marrey e Francisco Graziano Neto; Humberto Rodrigues da Silva e Joo Germano Bottcher Filho)Superior Tribunal de Justia (Ministro Cesar Asfor Rocha)Ministrio do Meio Ambiente (Izabella Mnica Vieira Teixeira, Maria Ceclia Wey de Brito, Guilherme Estrada Rodrigues e Nilo Srgio de Mello Diniz)Procuradoria Geral da Repblica (Roberto Gurgel e Sandra Cureau)PNUMA - Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (Cristina Montenegro e Andrea Brusco)Tribunal de Justia do Estado de So Paulo (Desembargador Viana Santos)UICN - Comisso de Direito Ambiental (Sheila Abed)INECE - (Durwood Zaelke e Kenneth J. Markowitz) FMO - Fundao Mokiti Okada (Tetsuo Watanabe, Hidenari Hayashi, Mitsuaki Manabe, Hajime Tanaka, Yoshiro Nagae, Rogrio Hetmanek, Agner Bastoni, Luiz Fernando dos Reis, Fernando Augusto de Souza, Jorge Bulhes, Erisson Thompson de Lima Jr, Yugi Yaginuma e Rosana Cavalcanti)Secretaria do Meio Ambiente do Estado de So Paulo (Pedro Ubiratan Escorel de Azevedo e Jaques Lamac)Secretaria da Agricultura do Estado de So Paulo (Antnio Jlio Junqueira de Queiroz)Imprensa Oficial do Estado de So Paulo (Professor Hubert Alqures, Professora Vera Lucia Wey, Teiji Tomioka, Manoel Carlos de Oliveira Novaes, Nanci Roberta da Silva Cheregati, Marli Santos de Jesus, Maria de Ftima Alves Consales, Vanessa Merizzi, Sandra Regina Brazo, Aline Navarro, Ana Lcia Charnyai, Fernanda Buccelli e Solange Aparecida Couto Brianti).Embaixada da Frana no Brasil (Yves Edouard Saint-Geours, Pierre Colombier e Marina Felli)Embaixada e Consulado Geral dos Estados Unidos em So Paulo (Laura Gould, Cezar Borsa, Karla Carneiro e Vera Galante)Conselho Nacional de Procuradores Gerais de Justia (Olympio de S Sotto Maior Neto)www.imprensaoficial.com.br/imprensasocial

Nascentes do BrasilEstratgias para a proteo de cabeceiras em bacias hidrogrficas

Samuel Roiphe Barreto,

Sergio Augusto Ribeiroe Mnica Pilz Borba | Coord.

Esta publicao mais que um simples relatrio

das atividades do WWF-Brasil e relato de outras

experincias desenvolvidas em nosso Pas em

defesa das guas, uma nascente em si, fonte

onde outros brasileiros sedentos de conhecimento

e de participao ativa na conservao dos recursos

naturais podero beber e servir.

Sirva-se e bom proveito! Denise Ham Secretria-geral WWF-Brasil

Cachoeira com mata ciliar preservada Foto: Acervo WWF-Brasil/Juan Antonio Gili

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ENM - Escola Nacional da Magistratura (Eladio Lecey)AJUFE - Associao dos Juzes Federais do Brasil (Fernando Cesar Baptista de Mattos)AMB - Associao dos Magistrados Brasileiros (AirtonMozart Valadares Pires)ANPR - Associao Nacional dos Procuradores da Repblica (Antonio Carlos Alpino Bigonha)CONAMP - Associao Nacional dos Membros do Ministrio Pblico (Jos Carlos Consenzo)ABRAMPA - Associao Brasileira do Ministrio Pblico e Meio Ambiente (Jarbas Soares Junior)APMP - Associao Paulista do Ministrio Pblico (Washington Epaminondas Medeiros Barra)AASP - Associao dos Advogados de So Paulo (Fbio Ferreira de Oliveira e Arystbulo de Oliveira Freitas)IPAM - O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amaznia (Joo Herbety e Andr Lima)Fundao Moore - Gordon and Betty Moore Foundation (Georgia Pessoa)Escola Superior do Ministrio Pblico da Unio (Rodrigo Janot Monteiro de Barros)Procuradoria Geral de Justia do Rio Grande do Sul (Simone Mariano da Rocha e Delmar Pacheco da Luz)Procuradoria Geral de Justia de Minas Gerais (Alceu Jos Torres Marques)Procuradoria Geral de Justia do Estado do Acre (Sammy Barbosa Lopes)Procuradoria Geral do Estado de Mato Grosso (Dorgival Veras de Carvalho)Procuradoria Geral do Municpio de Porto Alegre (Joo Batista Linck Figueira)Caixa Econmica Federal (Maria Fernanda Ramos Coelho, Antnio Carlos Ferreira e Clauir Luiz Santos)Banco do Brasil (Aldemir Bendine e Orival Grahl)Petrobrs (Jos Srgio Gabrielli, Flavio Torres, Dozin Ramos Filho, Jos Aparecido Barbosa e Adriana de Oliveira Molina) CNI Confederao Nacional das Indstrias (Armando Monteiro Neto e Grace Dalla Pria)Instituto Biolgico de So Paulo (Antonio Batista Filho)Escola Paulista da Magistratura (Pedro Luiz Ricardo Gagliardi)Escola Superior do Ministrio Pblico de So Paulo (Eloisa de Sousa Arruda)Escola Superior da Magistratura do Rio Grande do Sul (Ricardo Pippi Schmidt)Editora Revista dos Tribunais (Antonio Bellinello, Carlos Henrique de Carvalho Filho, Nivia Rocha e Roseli Jonas Cavalcante)UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Claudia Lima Marques)BRASILCON - Instituto Brasileiro de Poltica e Direito do Consumidor (Leonardo Bessa)Polcia Militar Ambiental do Estado de So Paulo (Cel. PM Ronaldo Ramos, Cap. PM Walter Nyakas Junior, Ten. PM Marcelo Robis Francisco Nassaro e Ten. Wlader Eduardo Santos)

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Homenagem ao Professor Leonardo BoffA voz corajosa e suave da tica Ambiental

Existem aqueles que imaginam poder construir, ensinar e aplicar o Direito Ambiental a partir das premissas e da estrutura jurdica do Direito tradicional. Para ns, essa tarefa impossvel ou levar a lugar nenhum. Primeiro, porque o ordenamento jurdico convencional no recepciona ou acomoda facilmente os novos conceitos e categorias jurdicos que o combate crise ambiental requer. Segundo, porque a teoria e sobretudo a prtica dos direitos e obrigaes clssicos so pobres em contedo tico, pelo menos numa perspectiva de tica lastreada na solidariedade com todos os seres vivos.

Sem tica Ambiental, portanto, no h Direito Ambiental, ou, se houver, no passar de um retoque cosmtico ao velho pensamento jurdico, ele prprio, em boa medida, uma das principais causas da explorao predatria dos recursos ambientais do Planeta.Homenagear o Prof. Leonardo Boff, ento, reconhecer, pela via transversa, essa conexo prxima, inseparvel, entre tica Ambiental e Direito Ambiental. Coube a ele a misso de acordar um Pas despreocupado com valores outros que no aqueles associados prosperidade material e prosperidade material individualista, s custas da degradao da Natureza e da extino de espcies. Os professores universitrios, magistrados, membros do Ministrio Pblico, advogados pblicos e privados, integrantes de rgos ambientais e estudantes que integram o Instituto O Direito por um Planeta Verde, alm de festejar o intelectual extraordinrio que o Prof. Boff, com essa homenagem tm, pois, o propsito de agradecer a grande contribuio que os seus escritos vm dando ao Direito Ambiental brasileiro.

Como nunca, impe-se ao terico e ao profissional do Direito Ambiental ler Leonardo Boff. De um lado, pelo simples fato, visvel a todos, de que a crise ambiental se agrava em todo o mundo, no obstante a crescente promulgao de leis e criao de rgos especializados. De outro, em razo de que, sutilmente, e por isso mesmo de forma mais perigosa, h o risco de a mesma lex mercatoria, que esgarou a teia humanista dos fundamentos jurdicos de nossa sociedade e resultou em todo tipo de atentado dignidade da pessoa humana, vir tambm a poluir o prprio Direito Ambiental. Aqui e acol aparecem estudos de Direito Ambiental que no passam de pareceres encomendados e bem pagos por grandes degradadores do meio ambiente. Em tais casos, sobretudo quando publicados em livros e revistas especializados, sem uma nota que seja de alerta aos leitores desavisados, o que sucumbe primeiro no o Direito Ambiental, mas a prpria fundao tica que lhe permitiu surgir e desabrochar no inspito meio jurdico tradicional.

Nessas duas situaes de crise ambiental aparentemente inestancvel e de ruptura do compromisso pessoal com as geraes futuras as lies de Leonardo Boff serviro de apoio tanto aos que acabam de chegar como queles que, j instalados, hesitem, por uma razo ou outra, entre colocar o Direito a servio do lucro do negcio ou da causa da Natureza.

Antonio Herman BenjaminProfessor, Ministro do Superior Tribunal de Justia e Vice-Presidente da Comisso de Direito Ambiental da UICN

Carlos Teodoro IrigarayProfessor e Presidente do Instituto O Direito por um Planeta Verde

Eladio LeceyProfessor, Diretor da Escola Nacional da Magistratura (AMB) e da Escola Brasileira de Poltica e Direito Ambiental

Sheila AbedProfessora e Presidente do IDEA e da Comisso de Direito Ambiental da UICN

Slvia CappelliProfessora, Procuradora de Justia (RS)

Queremos uma justia social que combine com a justia ecolgica. Uma no existe sem a outra (Leonardo Boff)

L e o n a r d o

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CARTA DE SO PAULO13 CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO AMBIENTAL

SO PAULO, 31 DE MAIO A 04 DE JUNHO DE 2009

DESAFIOS ATUAIS E FUTUROS DA POLTICA AMBIENTAL BRASILEIRA

A sociedade passa por duas grandes crises, econmica e ambiental. Ela deve, por isso, se unir sobre princpios ticos para passar por esse momen-to de reconstruo. O mercado no funciona eficazmente apenas com me-canismos de auto-regulao. So necessrias instituies virtuosas para a sua sustentao. A sociedade deve saber atuar de acordo com os limites da prpria natureza. Isso no significa uma perda de liberdade, mas sim uma das maiores formas de liberdade, pois a prpria sociedade que coloca os seus prprios limites.

DESAFIOS ATUAIS DO DIREITO AMBIENTAL: UMA PERSPECTIVA GLOBAL

1. Os instrumentos de mercado que estabelecem o sistema de comrcio de emisses de carbono so eficientes, porm necessitam de regulao esta-tal, pois faltam aos instrumentos econmicos requisitos ticos e de eqi-dade. Deve-se ter em mente que o sistema de comrcio de emisses de carbono limitado, pois no abarca todas as emisses de gases de efeito estufa, porm somente o dixido de carbono. Sugere-se a integrao do sistema vermelho (emisses decorrentes do desmatamento e degradao ambiental) ao sistema de comrcio de crditos de carbono, o que poderia ser feito atravs do financiamento do sistema vermelho por vendas e lei-les de permisses de crdito de carbono.

2. O direito internacional e o direito nacional devem ser utilizados de forma holstica de modo a criar um sistema de instrumentos e mecanismos de controle para lidar com a conservao do patrimnio cultural. As medidas de precauo devem ser aplicadas o mais cedo possvel perante ameaas potenciais, tendo em vista que o patrimnio cultural um recurso no renovvel.

3. Os furaces esto aumentando em nmero e intensidade e os brasileiros podem no estar a salvo. preciso combinar prticas para o enfrenta-mento de desastres com as ferramentas preventivas do direito ambiental, sempre invocando o princpio da precauo.

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4. importante pensar nos recursos naturais sob o enfoque da doutrina do public trust, entendendo as obrigaes do Estado como sendo de guarda e conservao de um patrimnio que pertence a todos.

5. A idia trazida pelas clnicas de prtica ambiental preparar a prxima gerao de operadores do direito ambiental para desenvolver novas ferra-mentas capazes de fazer frente a esta nova realidade de desastres naturais com a qual nos deparamos, priorizando a conciliao e no apenas a for-mao de litgios ambientais.

PATRIMNIO CULTURAL NOS PASES LATINOS

1. A proteo do patrimnio cultural no Peru: O Peru um pas multicultural, tendo todas as culturas peruanas uma

relao ntima com o sol. A produo cultural do Peru rica em peas em ouro, alm de outras expresses como a huaqueria. Essas peas so contra-bandeadas para todo o mundo e existem litgios para reav-las.

Desastres naturais como terremotos, o vandalismo e a urbanizao desre-grada contribuem para o desaparecimento do patrimnio cultural peruano.

H uma ampla legislao de proteo do patrimnio cultural no Peru. O problema o seu no cumprimento. Nos ltimos anos, o Poder Pblico tem manifestado a necessidade de revalorizar o seu patrimnio, existindo, atualmente, vrias instituies empreendendo esforos nesse sentido.

2. O patrimnio cultural e a sua importncia para o turismo em Moambique: A Constituio de Moambique consagra a responsabilidade do Poder Pbli-

co para a proteo dos bens culturais e para o desenvolvimento da cultura. Mesmo com os problemas decorrentes de um Estado recentemente inde-

pendente, que demanda outras prioridades sociais, a legislao editada a partir da independncia busca conferir proteo do patrimnio cultural moambicano.

A lei de turismo tem grande preocupao com a proteo do meio am-biente e do patrimnio cultural para a promoo do desenvolvimento sus-tentvel. Moambique atrai o turismo internacional apresentando grande vocao para o desenvolvimento. No entanto, para que isso acontea, necessrio a concertao entre o Poder Pblico e os setores financiadores, alm de uma constante sistematizao da legislao.

3. A defesa do patrimnio cultural sob a perspectiva da magistratura argentina: anlise de jurisprudncia:

O patrimnio cultural, juntamente com o patrimnio natural, o que con-fere identidade a determinado povo. O patrimnio cultural toda forma

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de vida de um povo e sua preservao representa a sua memria histrica. No caso de danos ao patrimnio cultural, a jurisprudncia analisa os

danos coletivos e morais. Devido carncia provocada pelos limites da proteo poltica pelo Poder Pblico, confere-se a titularidade queles que so os destinatrios do uso dos bens de interesse difuso para deman-dar a sua proteo.

As municipalidades so titulares do direito de ao para a proteo de interesses difusos decorrentes de danos ao patrimnio cultural, podendo demandar por danos morais.

4. Proteo do entorno de bens culturais: A finalidade do art. 18 do DL 25/37 a proteo da ambincia do entor-

no do bem tombado. A proteo do entorno deve ser considerada desde o momento da instituio do tombamento provisrio em decorrncia do art. 10 do DL 25/37. A vizinhana deve estar em harmonia com o bem. O fato de o bairro estar degradado no significa que este no possa vir a ser restaurado e a ambincia recuperada.

MUDANAS CLIMTICAS NA AMRICA LATINA

1. A precariedade do Direito Internacional Pblico frente s conseqncias da mudana climtica:

O aquecimento global e o conseqente aumento do nvel do mar podem produzir efeitos no ambiente que incidem em modificaes territoriais dos Estados, notadamente, o desaparecimento de Estados Ilhas. A de-sertificao, outro possvel efeito das mudanas climticas, pode gerar conflitos pelo uso da gua. Por outro lado, a ordem jurdica internacio-nal afetada pela dicotomia existente entre o direito ao desenvolvimen-to dos Estados emergentes e o consumo energtico que eles necessitam para o seu prprio desenvolvimento, ainda que dentro da idia de desen-volvimento sustentvel. Finalmente, surge o refugiado ambiental, que necessita de definio e proteo, mas para o qual o Direito Internacio-nal ainda apresenta poucas respostas.

2. As mudanas climticas e legislao brasileira: algumas concluses do proje-to Mudanas climticas nos pases amaznicos:

Um marco normativo geral sobre mudanas climticas importante, mas no imprescindvel para a utilizao de instrumentos j existentes. necessrio, antes de tudo, uma releitura dos instrumentos e medidas j existentes, a partir da considerao da varivel climtica. O aquecimento global e as mudanas climticas dele decorrentes constituem um novo e relevante argumento para reforar as normas de proteo florestal.

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3. Programa Brasileiro de Mudana Climtica: O Programa Brasileiro de Mudana Climtica foi concebido pela Comisso

Interministerial sobre Mudana do Clima, criada pelo Decreto 6263/2007. Tal diploma legislativo estabeleceu processos de consulta pblica para garantir a transparncia do Plano de Mudana do Clima. No Programa constam as oportunidades de mitigao, os impactos, vulnerabilidades e adaptao, a pesquisa e o desenvolvimento, a educao, a capacitao e a comunicao e os instrumentos para a implementao das aes. Especial referncia deve ser feita insuficincia dos instrumentos legais previstos para a implementao do plano, assim como inconsistncias entre o Plano de Mudanas Climticas e outros instrumentos de planejamento, como o Plano de Acelerao do Crescimento (PAC).

4. Pagamento por servios ambientais na Costa Rica: O pagamento por servios ambientais um mecanismo, reconhecido pelo

Estado, que remunera os proprietrios ou possuidores de florestas pelos servios ambientais produzidos, incidindo na melhor qualidade do meio ambiente. O financiamento realizado pelo imposto seletivo pelo consumo de hidrocarburantes, pela taxa incidente sobre o aproveitamento de gua potvel, por doaes e pela participao de empresa privada. O instru-mento possui, ainda, debilidades, especialmente diante da inexistncia de metodologia especfica para medir e monitorar os servios proporciona-dos, a exemplo do aumento da biodiversidade e da diminuio da pobreza e diante de carncias materiais e humanas para realizar uma fiscalizao adequada.

O DIREITO AMBIENTAL DAS CIDADES TICA DA CIDADE E CIDADE DA TICA

1. O no tratamento adequado dos resduos domsticos gera desperdcio de materiais reciclveis e de recursos pblicos, em funo dos altos custos da gesto dos resduos, alm da no valorizao do trabalho dos catadores.

A sociedade deve cobrar a inverso da lgica na gesto dos resduos, desenvolvendo a poltica do no desperdcio da matria-prima e da destinao adequada dos resduos. Essa inverso de lgica deve ocorrer atravs da implantao de polticas pblicas que considerem a partici-pao do catador enquanto prestador de servios na recuperao dos resduos, no o reconhecendo apenas como destinatrio de polticas as-sistencialistas.

2. Uma percepo do desenvolvimento das cidades passa pela anlise do se-guinte questionamento: a cidade cresce como resultado de um crescimento

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econmico ou causa do crescimento econmico? Atualmente, observa-se que o espao urbano organiza-se de modo voltado ao consumo.

necessria uma poltica governamental baseada numa legislao voltada para a melhoria do con-viver, isto , o viver com o outro. Esta legislao seria o Estatuto da Cidade. No entanto, esse instrumento no traz mecanis-mos para controlar a excluso, de quais so exemplos as favelas e os condo-mnios de luxo. Idealmente, a poltica urbana deveria propiciar o reajusta-mento e o reencontro do ser humano.

3. H diversos instrumentos para a gesto do risco urbano-ambiental, como, por exemplo, o plano diretor, zoneamento ambiental, cdigo de obras do-tado de sensibilidade ambiental, estudo prvio de impacto de vizinhana e o licenciamento ambiental.

H uma irresponsabilidade organizada quando criamos normas aqum das necessidades de um determinado espao. Assim, para gerir adequa-damente as questes do risco urbano-ambiental importante a adoo de uma responsabilidade compartilhada em relao qualidade devida ao futuro da cidade.

4. Um dos grandes desafios da urbanizao diz respeito ao padro de consu-mo, que extrapola os limites territoriais da cidade. O processo de urbani-zao gera impactos que transcendem os limites da cidade, especialmente quando se busca insumos em reas diversas para manter o espao urbano.

As administraes locais tm alcanado resultados positivos nas questes de planejamento, desde que haja boa vontade e recursos financeiros. No mbito global, porm, necessrio todo um processo de reestruturao promovido por mudanas tecnolgicas.

5. A cidade o lugar, por excelncia, de efetivao dos direitos humanos, sendo, para tanto, muito importante a participao da comunidade. A qualidade de vida influenciada pela questo econmica, mas esta no determinante daquela. essencial que haja um equilbrio dos recursos para se alcanar essa qualidade almejada.

A cidade deve ser pensada local e globalmente. A diminuio de riscos e a avaliao de possibilidades viveis a um determinado panorama exigem as duas abordagens, de percepo da cidade enquanto ncleo local e en-quanto agente multiplicador de experincias, podendo alcanar bem-estar global.

Falta, ainda hoje, uma ligao mais evidente entre o direito ambiental e o direito social. O combate degradao ambiental deve ocorrer de modo simultneo persecuo aos direitos fundamentais sociais.

De modo a possibilitar a tutela integral da dignidade humana no se pode

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fragmentar os direitos fundamentais. Nesse sentido, a preservao ambien-tal e o direito moradia devem ser compatibilizados, a garantia de um no pode ocorrer em detrimento do outro.A legitimidade do poder judicirio para intervir em polticas pblicas surge diante da omisso ou da atuao insuficiente do administrador pblico ou do legislador. A existncia dessa legitimidade s poder ser avaliada no caso concreto, quando o mnimo de qualidade de vida no estiver sendo garantido.

DIREITO CIDADE SUSTENTVEL: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

1. Ainda h, no dia-a-dia, contrariedade flagrante s boas prticas ambien-tais nas cidades, principalmente por parte dos governantes. H, infeliz-mente, pouca ou nenhuma utilizao e aplicao do Estatuto da Cidade na elaborao dos espaos pblicos.

2. Os problemas urbanos devem ser divididos entre todos os moradores, to-dos devem se preocupar e se envolver na sua resoluo. O direito urbans-tico existe, porm ele no objeto de estudo sistemtico pela academia.

3. O objeto protegido na ordem urbana a qualidade de vida. A qualidade de vida no implica apenas na qualidade dos servios pblicos, mas tambm na qualidade dos recursos naturais. Assim, compreende-se a qualidade do meio ambiente urbano, conceito amplo que engloba a qualidade de todos os aspectos da vida, ou seja, a vida na cidade com qualidade.

O acesso a qualidade de vida no espao urbano deve ocorrer de forma isonmica, pois as cidades so resultado de uma deciso pblica, processo de deciso do qual participam o Poder Pblico e a coletividade, com o fim ltimo de produzir a qualidade de vida para todos.

4. A ocupao do espao urbano se faz marcada pelo dficit habitacional, pela m qualidade dos servios urbanos, pela degradao dos recursos na-turais, pelo aparecimento de um Estado paralelo instalado nas favelas, pela inoperncia do Poder Pblico e pela violncia mtua nas relaes in-terpessoais na cidade. Deve-se ter como objetivo tornar efetivo o Estatuto da Cidade e todos os seus instrumentos que visam orientar a expanso urbana.

5. Deve-se buscar o direito cidade democrtica, incluindo todos os direi-tos articulados, que compem a qualidade de vida. A paisagem urbana deve ser reconhecida como patrimnio pblico, concretizando o direito paisagem.

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6. Governana envolve identificar quem e como so tomadas as decises so-bre as polticas urbanas. H grandes dificuldades no equacionamento de problemas urbanos em cidades conurbadas, onde ocorre, por exemplo, o recolhimento de resduos em um municpio e a deposio em outro.

FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO AMBIENTAL DA CIDADE

1. H grande dificuldade em definir os limites e as restries ao direito ci-dade. O direito cidade um direito humano, porm diferente dos direitos fundamentais. Trata-se do direito ao lugar, onde o indivduo se posiciona espacialmente e se exercem todos os outros direitos. J o princpio da proi-bio do retrocesso a garantia de que os direitos e a sua modalidade de exerccio no retrocedam, isto , que o nvel de proteo no seja diminu-do. A sustentabilidade o critrio para definir at onde se pode avanar ou retroceder.

2. Os municpios que compem as metrpoles no devem ser considerados plenamente autnomos, pois fazem parte de outra realidade espacial. Se-ria interessante a criao de uma autarquia intergovernamental para a sua gesto.

3. A revitalizao do patrimnio cultural pode servir como meio para ala-vancar a economia da cidade. O Estado desempenha uma importante fun-o nesse aspecto, estabelecendo parcerias com a iniciativa privada para promover a recuperao do espao urbano.

4. O esgotamento dos recursos ambientais e, conseqentemente, das cida-des, torna necessria a criao de novas polticas pblicas voltadas ao planejamento urbano, o que se coaduna com o atual paradigma de Es-tado Socioambiental, no qual se prope a superao da dicotomia entre o pblico e privado, substituindo a idia de eu para o Estado pela de ns pelo planeta.

5. A propriedade, tanto a rural quanto a urbana, deve exercer a funo socio-ambiental, conforme previsto na Constituio. O texto constitucional traz princpios que estabelecem a necessidade de se promover o desenvolvimento sustentvel quando do exerccio da funo socioambiental da propriedade.

6. O objetivo do estudo de impacto de vizinhana harmonizar o urbanismo e o meio ambiente, buscando-se uma cidade sustentvel a partir do plano diretor. No imprescindvel uma lei especfica para possibilitar a aplica-o do estudo de impacto de vizinhana, j que o Estatuto da Cidade, no

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seu artigo 37, j estabelece os requisitos para a aplicao desse instrumen-to. Esse entendimento, no entanto, no pacfico.

AO CIVIL PBLICA NO DIREITO AMBIENTAL DAS CIDADES

1. O meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado bem de todos e, por isso, no admite relao de dominialidade. A expresso todos, empre-gada no art. 225 da Constituio, abrangente, no se restringindo aos limites do territrio brasileiro.

2. O projeto de lei da ao civil pblica pretende ser uma norma processual mestra para o processo civil coletivo. Nesse diploma legal se prope a pos-sibilidade de alterar os pedidos e as partes at o julgamento da ao. Da mesma forma, os meios executivos so fungveis, cumulativos e sucessivos, podendo ser alterados caso no se mostrem efetivos. De acordo com o projeto de lei, nenhuma ao civil pblica poder ser extinta por falta de alguma das condies da ao, nem mesmo no Supremo Tribunal Federal, sendo sempre possvel a sanao do vcio. A eventual condenao pecu-niria, de acordo com o projeto de lei, ter seu destino deliberado pela comunidade afetada pelo dano. Trata-se, essencialmente, de um projeto de lei voltado para a sociedade e no para o Ministrio Pblico.

3. No possvel converter o direito de ao em dever de ao para o parti-cular. O demandismo insufla a coletividade, o que vem em detrimento paz social. Numa viso reducionista de acesso justia, o Poder Judicirio s tem a ganhar se ficar com as causas realmente complexas, transcenden-tes e as que no possam ser resolvidas por outras vias. As solues consen-suais sempre geram uma predisposio espiritual para cumprir as medidas pactuadas, enquanto que nas decises condenatrias o vencido pode no restar convencido e continuar resistindo.

RESDUOS SLIDOS URBANOS E SANEAMENTO AMBIENTAL

1. A tica aplicada reflete sobre problemas morais, sociais e jurdicos em certas reas do desenvolvimento cientfico, com participao de grupos e pessoas com interesses compartilhados. Posturas ticas s podem ser de-finidas mediante o debate, o dilogo e a discusso. A falta de saneamento est ligada ineficcia dos direitos fundamentais sade, ao meio ambien-te equilibrado e vida digna.

2. A palavra contrapartida significa dar algo em troca de algum benefcio. Os fundamentos da contrapartida so: a funo social da propriedade, o

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princpio do poluidor-pagador, a motivao no interesse pblico, transpa-rncia e publicidade e participao democrtica.

3. A Unio Europia se ope a diversas medidas brasileiras no tocante aos pneus reformados, como, por exemplo, o banimento da importao de pneus reformados, a multa sobre a importao de pneus reformados, a iseno de proibio da importao de pneus reformados do MERCO-SUL. O Brasil foi escolhido pela Unio Europia pelos seguintes motivos: descarte de 40 milhes de pneus por ano, importao de pneus reformados pelo Brasil para o seu segundo e ltimo ciclo e registro da entrada de quase 10 milhes de unidades de pneus usados em 2005.

4. Existem diversas modalidades de saneamento como, por exemplo: abas-tecimento de gua, esgotamento sanitrio, desenvolvimento institucional, saneamento integrado e manejo de resduos slidos. Quando da anlise tcnica do projeto, so observados quatro aspectos: a engenharia, os as-pectos jurdicos, a viabilidade econmico-financeira e a social.

5. Das 168.500 toneladas de resduos slidos que so gerados no Brasil, ape-nas 141 mil toneladas so coletadas. Deste grupo, apenas 31% so tratados. Observa-se que, na verso preliminar do projeto de lei da poltica nacio-nal de resduos slidos, vislumbra-se o princpio do protetor-recebedor e privilegiam-se os planos de gerenciamento e o licenciamento dos resduos slidos, como forma de conciliar reclamos da indstria quanto logstica e aos incentivos na gesto, entre outras.

6. O progresso econmico contemporneo marcado pelo consumo como estilo de vida, sendo a atividade produtiva integrada ao consumo, criando e inventando novas necessidades de consumo. Diante desse cenrio, desta-cam-se a exigncia contempornea de necessidade de proteger e defender o meio ambiente, exigindo uma reviso da conduta humana, a prudncia do consumidor na escolha de bens e servios prejudiciais ao meio ambiente e a observncia do princpio da precauo.

ESTATUTO DA CIDADE, PLANOS DIRETORES E MEIO AMBIENTE

1. A metodologia utilizada pela CEF para a avaliao ambiental de terre-nos com potencial de contaminao visa a prevenir riscos ambientais, principalmente atravs da identificao e da avaliao o nvel e poten-cial de contaminao. Sendo encontrados indcios de contaminao, o terreno classificado como rea potencialmente contaminada e o caso

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encaminhado ao rgo ambiental competente. Sendo constatada a con-taminao do terreno, pode ser feita a revitalizao do terreno, de modo a possibilitar o seu uso pblico.

2. No que tange s unidades de conservao, o planejamento urbano deve ser realizado em junto com a anlise de legislaes municipais. Os planos diretores so, ainda, a forma mais eficiente de planejamento ambiental.

3. necessria uma reformulao do direito administrativo, de modo a tor-n-lo mais adequado para tratar sobre questes ambientais e urbansticas.

4. O estudo de impacto de vizinhana um excelente instrumento para a concesso de licenas urbansticas, sendo a lei municipal responsvel pela definio dos casos e atividades que se sujeitaro ao EIV.

REGULARIZAO FUNDIRIA

1. O problema das ocupaes de reas de preservao ambiental tem origem social, sendo invivel a simples remoo das moradias irregulares. As so-lues tm sido pensadas pelo Ministrio das Cidades em trs frentes: (a) garantia da moradia (com acesso terra urbanizada, auxlio produo de moradias e aluguel social; (b) urbanizao e regularizao dos assenta-mentos precrios; (c) reviso da legislao ambiental urbana. Necessria a remoo de obstculos legais, com a flexibilizao e padronizao de procedimentos para a obteno de ttulo e registro.

2. A ocupao e a explorao de terras amaznicas do-se, primordialmente, s margens do Amazonas e demais rios de grande dimenso, tendo gran-de influncia no desenvolvimento da regio. No entanto, essas atividades trazem consigo a degradao ambiental, inclusive pela ineficincia de pro-jetos decorrentes do desconhecimento das peculiaridades regionais, da aglomerao urbana no planejada e da especulao fundiria, alm da dificuldade de acesso e ausncia de infra-estrutura. A soluo para esses problemas exige, necessariamente, o estabelecimento de polticas agro-am-bientais para promover um desenvolvimento sustentvel.

3. Existe uma tendncia regularizao em reas de preservao permanen-te. Neste sentido foi editada a MP n. 459-09, com contedo mais flexvel e preocupante, que revogou a Resoluo CONAMA n. 369, pois hierar-quicamente superior e superveniente. Embora possvel, em tese, a regula-rizao fundiria de interesse social (no a de interesse especfico) em rea de preservao permanente, deve ela ser feita com muita responsabilidade,

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exigindo-se as devidas medidas reparatrias, compensatrias e mitigat-rias, sob pena de responsabilizao civil, criminal e por improbidade ad-ministrativa.

Um dos caminhos para a facilitao da regularizao o reconhecimento da posse como direito passvel de ser supedneo para o licenciamento am-biental, pois a ausncia da propriedade tem acarretado a impossibilidade de licenciamento e, em decorrncia, a absoluta ausncia de regras para a interveno degradante do ambiente.

4. A regularizao fundiria em rea de preservao permanente, embora se apresente como problema relevante a ser resolvido, deve ser feita com pla-nejamento e estudos rigorosos para afastar riscos urbansticos e ambien-tais. Na Amaznia, importante a regularizao porque o grande nmero de moradias flutuantes torna difcil o monitoramento das ocupaes. De modo geral, a soluo do problema de moradia e dos problemas ambien-tais deve observar a necessidade de fixao no local onde se encontram as moradias, quando possvel.

A MP n. 459-09 no revogou a Resoluo CONAMA n. 369, pois os m-bitos de incidncia tm diferenas, sendo uma referente a um projeto espe-cfico, e a outra uma norma de planejamento. A MP tambm no interfere na disciplina estabelecida pela legislao da Mata Atlntica, pois ela es-pecfica, s aplicvel aos remanescentes da Mata Atlntica.

5. Estabelecidos na Constituio os princpios da funo social da proprie-dade e da cidade, bem como a concentrao das competncias referentes poltica urbana no Municpio, prevendo-se instrumentos de regularizao fundiria no texto constitucional, no Estatuto da Cidade, na MP n. 2220-01 e na Resoluo CONAMA n. 369, deve haver reflexo sobre a forma de realizao da regularizao fundiria e o acerto da aposta na autonomia municipal. Deve ser pensado o papel da Unio e dos Estados, muitas vezes dotados de mais recursos.

6. Defender a regularizao fundiria no o mesmo que defender novas ocupaes em APP, o que no se deve admitir. O mais importante que exista uma poltica urbana que garanta o acesso terra, pois as ocupaes ilegais existem em funo da insuficiente oferta de terras para a populao de baixa renda.

H negociaes para inserir no projeto de reforma da lei de parcelamento do solo a previso de que a aprovao de cada empreendimento esteja vinculada criao de habitao de interesse social em proporcionalidade com a dimenso do empreendimento, o que seria um avano.

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7. preocupante, quanto ao contedo da MP 459-09, a extenso regulari-zao de interesse especfico (o foco era de interesse social). Especialmente o art. 63 estende as regras previstas para a regularizao de interesse social para loteamentos em reas pblicas e loteamentos de pessoas com nico imvel, independentemente da renda, o que beneficiar proprietrios de loteamentos de alta renda com estas caractersticas.

POLUIO NAS CIDADES (SONORA, VISUAL, ELETROMAGNTICA E AR)

1. Os sistemas de controle legal da tecnologia de telefonia mvel no esto restritos legislao federal, porquanto o problema transcende ques-to das telecomunicaes, matria sobre a qual compete privativamente Unio legislar (art. 22, inc. IV, da CF), atingindo a proteo e defesa da sade e do meio ambiente (matrias de competncia legislativa comum entre Unio, estados e Distrito Federal - art. 24, inc. XII, combinado com art. 30, I e II, da CF) e, segundo entendimento majoritrio, tambm de competncia dos municpios.

A Lei Federal n. 11.934/09 no ostenta hierarquia superior s leis munici-pais que estabelecem limites mais protetivos sade e ao meio ambiente do que os atualmente preconizados pela ICNIRP.

2. Mesmo que a implantao de estao de rdio-base no figure no rol do Anexo 1 da Resoluo 237/97 do CONAMA, possvel e aconselh-vel que se exija o respectivo licenciamento ambiental atravs de rgo integrante do SISNAMA, pois a atividade potencialmente poluidora. As ERBs podem causar danos sade, em decorrncia das radiaes no-ionizantes e poluio sonora por elas gerada, bem como causar danos paisagem e segurana das edificaes.

3. Os conceitos de meio ambiente e de poluio esto positivados no sistema jurdico brasileiro, na lei n. 6938/81. H, na cidade, especificidades que exigem a adaptao desses conceitos, notadamente o de poluio urbana, que envolve a poluio econmica, social, cientfica, espacial, axiolgica e hdrica. As respostas a esses tipos de poluio so distintas.

O princpio do poluidor-pagador possui trs facetas distintas: a reparao, pela responsabilidade ambiental; a preveno, pelas polticas pblicas am-bientais; e a precauo, pela proibio do uso cientfico incerto.

Entre incertezas e desafios, temos por seguro o fato de que salutar a ur-gncia da concretude dos efeitos jurdicos do conceito legal de poluio e de seu alcance projetado pelo princpio do poluidor-pagador, notadamen-te, no mbito das cidades.

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4. de competncia do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) a regulamentao dos nveis de emisso de poluentes, o que foi feito atra-vs da resoluo n. 315 de 2002 do CONAMA. Essa resoluo estabelece, de forma flexvel, a reduo dos nveis de enxofre no leo diesel, com vi-gncia apenas a partir de 1 de janeiro de 2009, o que foi resultado de uma negociao travada entre os setores representados no CONAMA. Caberia Agncia Nacional do Petrleo (ANP) estabelecer o nvel de emisso de enxofre, o que, no entanto, no foi feito. Sob presso de diversos setores da sociedade, a ANP editou a resoluo n. 37/2007 regulamentando a ques-to, mas no fixou prazo especfico para a entrada em vigor da mesma, estabelecendo, somente, que a resoluo entraria em vigor no momento em que a logstica nacional de distribuio de combustveis estivesse adequada. Essa resoluo da ANP foi objeto de contestao em sede de ao civil pblica, na qual se demandava sobre a definio do momento em que as novas exigncias relativas ao enxofre no leo diesel entrariam em vigor. Celebrou-se, ao final, termo de ajustamento de conduta, sendo fixado pra-zo at o ano de 2014 para atender s exigncias da resoluo do CONA-MA de 2002, o que causa estranheza, vez que se trata de um ajustamento da conduta do CONAMA s exigncias do poder econmico.

5. A paisagem urbana harmonizada um direito difuso, relacionando-se di-retamente com a qualidade de vida e com o bem-estar da populao. No entanto, no que tange poluio visual, somente deve ser repelida a in-fluncia nociva e inconveniente, sob pena de inviabilizar certas atividades econmicas.

A lei paulista da Cidade Limpa tornou-se um modelo no Brasil no combate da poluio visual. Esse diploma legal veda o anncio publicitrio em lo-cais pblicos e privados, visando proteo da paisagem urbana e do meio ambiente cultural e fazendo prevalecer a funo social da propriedade e da cidade.

Os operadores do direito devem fazer valer os instrumentos jurdicos co-locados disposio e dar o remdio que o meio ambiente artificial e cul-tural merece, em prol da vida e sade das atuais e futuras geraes, pois cerca de 82% da populao brasileira vive no meio urbano e tem o direito irrefutvel ao bem-estar e conforto visual.

6. A poluio sonora possui caractersticas especiais, o que a distingue dos outros tipos de poluio: no deixa resduos, tem efeito cumulativo, requer pouca quantidade de energia para ser produzida, tem raio de ao peque-no e no transportada atravs de fontes naturais.

A poluio sonora causa diversos prejuzos, interferindo na comunicao falada, perturbando o sono, impedindo o descanso, a concentrao e a

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aprendizagem. Alm disso, ela cria um estado nocivo de cansao e tenso, ao afetar o sistema nervoso e cardiovascular.

INFRAES PENAIS NO ORDENAMENTO URBANO E PATRIMNIO CULTURAL

1. O patrimnio cultural e o ordenamento urbano constituem aspectos do meio ambiente, configurando bens jurdicos protegidos diretamente e de forma autnoma. Em razo de suas qualidades, justifica-se a utilizao de elementos normativos e de normas penais em branco.

O titular do bem dotado de valor cultural ou do solo no edificvel pode-r ser sujeito ativo de tais tipos penais previstos na lei 9605/98. Quando, de uma mesma conduta, forem atingidos bens de valor cultural e outros elementos do meio ambiente, possvel o concurso formal com os crimes previstos nos outros dispositivos da mesma lei. admissvel a responsabili-zao criminal da pessoa jurdica nos crimes contra o patrimnio cultural e o ordenamento urbano, estejam eles previstos ou no na lei n. 9605/98. Possvel a denncia isolada de pessoa jurdica, quando evidenciada a deliberao em seu interesse ou benefcio e no identificada a pessoa fsica.

2. A legislao penal voltada proteo do ordenamento urbano muito tmida, pois h apenas um tipo penal especfico e que visa tutela to-somente dos aspectos visuais dos monumentos e edificaes. Trata-se do art. 65 da lei n. 9605/98. Nos artigos 62 a 64, essa tutela apenas indireta.

O crime de loteamento clandestino, previsto no artigo 50 da lei n. 6766/79 (lei do parcelamento do solo urbano) tambm tutela o ordenamento ur-bano.

3. O ordenamento jurdico brasileiro no est completamente aparelhado para a proteo efetiva do patrimnio cultural. H vrias condutas alta-mente lesivas ao patrimnio cultural que no esto penalmente tipificadas. Por outro lado, h tipos legais que tutelam o patrimnio cultural, mas que esto inutilizadas, a exemplo do art. 48, da LEP.

A pessoa jurdica pode ser sujeito ativo de crime contra o meio ambiente no tipificado na lei n. 9605/98. Tal concluso extrai-se da interpretao da Constituio e dos artigos 3 e 21 a 23 da lei 9605/98, que constituem um micro-sistema de responsabilizao da pessoa jurdica.

4. Seria interessante que o projeto de novo Cdigo de Processo Penal previs-se que as organizaes no-governamentais (ONG) pudessem atuar como assistentes de acusao.

A previso no projeto de novo Cdigo de Processo Penal de que o juiz que atue na fase de investigao estaria impedido de atuar na fase pro-

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cessual desnecessria, gerando, igualmente, custos e problemas prticos desnecessrios.

5. O direito penal deve extrapolar seu mbito tradicional de atuao (direitos in-dividuais indisponveis) e lanar-se na proteo de interesses transindividuais, como o meio ambiente, a ordenao do territrio e o patrimnio cultural.

O comprometimento da adequada tutela penal do patrimnio cultural de-corre de seu tratamento conjunto com o meio ambiente e a ordenao do territrio. O patrimnio cultural no integra o meio ambiente, vez que este sempre natural e aquele produto do pensar e agir humanos. O mundo natural e o mundo artificial so diferentes e, por isso, merecem tratamentos substancialmente diferentes.

6. A meno deciso judicial no art. 62, I, da lei n. 9605/98 decorre do dever do Poder Pblico de proteger o patrimnio cultural. Inexistindo discricio-nariedade e atestado o valor cultural do bem, no viola a separao de po-deres a prolao de deciso judicial que obriga o Poder Pblico a cumprir o seu dever.

7. A garantia de efetividade da tutela penal do patrimnio cultural ainda um caminho a ser trilhado. Inexiste estrutura estatal voltada adequada e efetiva represso dos crimes contra o patrimnio cultural.

necessria a definio de limites claros entre a Unio, os Estados e os Municpios no que tange o exerccio da competncia concorrente em ma-tria de patrimnio cultural. Alm disso, imprescindvel a definio de critrios para a elaborao de propostas de transao penal para os crimes que a admitem.

LICENCIAMENTO AMBIENTAL E URBANSTICO

1. Atualmente, busca-se um licenciamento ambiental voltado para o desenvolvi-mento sustentvel, o qual ser obtido atravs do necessrio aperfeioamento das polticas de desenvolvimento estatais. As discusses sobre licenciamento ambiental devem estar inseridas nas polticas de Estado com relao gesto do territrio.

Constata-se a falta de critrios para valorao dos impactos ambientais no Brasil e a ausncia de planejamento de territrio em mbito nacional. H possibilidade de implantao de novas medidas compensatrias, fora as pre-vistas na lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC).

2. A legislao nacional em matria ambiental muito avanada, mas carece de implementao. Para reverter esse quadro, deve-se buscar uma maior

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participao social nas tomadas de deciso, resolvendo os problemas am-bientais em um nvel mais prximo do cidado.

O sistema federativo brasileiro muito bem estruturado, porm consta-ta-se um nvel baixo de municipalizao dos licenciamentos ambientais, com hiperconcentrao de atividades licenciadoras no mbito estatal. Ademais, o ritmo da municipalizao dos licenciamentos extremamente lento, verificando-se a tendncia de o licenciamento ambiental tornar-se um instrumento cartorial.

Deve-se buscar a transformao dos grandes empreendimentos em veto-res de desenvolvimento para o pas e, tambm, para o local da instala-o, com o conseqente fortalecimento do municpio dentro da federao. Uma alternativa adequada para tanto a implementao de consrcios de municpios visando resoluo de problemas comuns e implantao e desenvolvimento de polticas conjuntas.

3. Federalismo Brasileiro; municpios interesse local; licena urbanstica e licena ambiental integrada; natureza jurdica da licena ambiental; proce-dimentos para parcelamento do solo.

4. A cidade de So Paulo, no que concerne o licenciamento ambiental, vem desenvolvendo instrumentos de controle urbanos complexos e abrangen-tes. So exemplos a criao de rgos ambientais locais, a capacitao dos tcnicos (especializao para nova frente de licenciamento) e o desenvolvi-mento de um RIMA objetivo e com linguagem acessvel populao.

5. O CONAMA, ao legislar sobre a matria ambiental, produz legislao inconstitucional e invlida, apesar de despertar a ateno sobre o tema meio ambiente. H necessidade de licenciamento das obras potencialmen-te impactantes e nos casos que geram dvida. Esses casos dbios devem ser decididos, ponderados, luz do caso concreto. Admite-se o impacto ambiental, desde que haja medidas compensatrias.

TEMAS CONTEMPORNEOS E AS CIDADES

1. A proteo da rea de preservao permanente decorre da declarao das reas como de interesse pblico. A conservao das reas e a responsabili-dade sobre eventuais danos independem do domnio da rea.

O primeiro passo para se alcanar a proteo das reas de preservao permanente em reas urbanas a identificao das reas para que possam ser adotadas polticas efetivas para a proteo do meio ambiente.

Os instrumentos disposio dos municpios so limitados, o que prejudi-ca a formao de uma conscincia ambiental para a proteo das reas de preservao permanente.

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2. O Cdigo Florestal de 1934 foi o primeiro dispositivo legal a prever a pro-teo das florestas como bens de interesse pblico, devendo ser respeitados os limites previstos na legislao. O Cdigo Florestal declarava a extenso da rea de preservao permanente de apenas cinco metros para o entorno de recursos hdricos. Aps a edio da lei n. 6766/79, as reas de preser-vao permanente existentes passaram a ter quinze metros de extenso, restringindo a edificao no entorno das guas correntes.

A lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservao revogou o artigo 18 da lei n. 6938/81. No entanto, com a aprovao das resolues n. 302 e n. 303 do CONAMA, foram mantidos os limites das reas de preservao permanente, havendo, inclusive, a necessidade de interveno em obras que no respeitavam o limite de cem metros no entorno de cursos dgua.

3. A Constituio Alem, muito embora no faa meno expressa prote-o do meio ambiente, reconhece a perspectiva do Estado socioambiental.

4. As cidades brasileiras ainda no podem ser consideradas sustentveis. Em relao fauna, observa-se a omisso do Estado e dos Municpios na pro-teo dos animais, havendo pouca participao da sociedade nessas ques-tes.

As zoonoses mais comuns so provocadas especialmente pela falta de con-dies sanitrias e de estrutura dos rgos competentes.

5. O desastre ocorrido em Santa Catarina est, tambm, relacionado s al-teraes do Cdigo Florestal do Estado. As reas de preservao perma-nente possuem funes estratgicas ao evitarem a eroso no entorno de lagos de hidreltricas. O desrespeito aos limites previstos em lei para a rea de preservao permanente e a ocupao irregular das mesmas agravam ainda mais o impacto de desmoronamentos e ocasionam a morte e a des-truio de casas instaladas na regio.

TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

1. A lei da ao civil pblica (lei n. 7.347/85) se omitiu quanto efic-cia do termo de ajustamento de conduta, remetendo interpretao no sentido de que no h, portanto, qualquer condicionante para sua ocorrncia. A eficcia do termo de ajustamento de conduta ao mesmo tempo imediata e condicional. A sua homologao pelo ou Cmara de Reviso uma condio de eficcia deste ttulo executivo extrajudicial. Todavia, esta condio resolutiva. Desta forma, a eficcia imedia-ta, porm no plena. A eficcia plena somente ser alcanada se o Conselho Superior do Ministrio Pblico homologar o arquivamento

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do inqurito civil e, conseqentemente, do termo de ajustamento de conduta, quando ento se afasta o risco do compromisso perder total-mente sua eficcia.

2. necessrio criar uma ambincia propcia concertao e negociao, tanto pelo rgo pblico, quanto pelos advogados da parte investigada. A negociao no um termo pejorativo e no equivale negociata, signi-ficando sentar com as pessoas que possuem opinies diferentes e dotadas de vontade de conciliao. A negociao, para ser efetiva, deve ser obje-tiva, estabelecendo-se a extenso do dano, as medidas reparatrias suge-ridas, tudo amparado em conhecimentos tcnico-cientficos. Finalmente, o termo de ajustamento de conduta deve ser, evidentemente, exeqvel, com obrigaes claras, lquidas e certas, identificao clara do investigado, representao adequada, tudo para fazer valer a sua funo, de evitar o ajuizamento da ao civil pblica.

3. No possvel, sob invocao da preveno ou da precauo ambiental, im-pedir que seja feito o licenciamento ambiental, porque a eventual recomen-dao estaria ferindo o pacto federativo, e, portanto, seria exigncia ilcita e desbordada das suas funes constitucionais, atuando como verdadeira coao indevida do agente pblico que teve sua funo usurpada pela in-timidao feita. Dessa forma, a eventual discusso das escolhas feitas pelo administrador polticas pblicas deve ser levada para o Poder Judici-rio, mas no recomendada ou imposta pelo parquet ao sujeito passivo da recomendao. Cabe ao parquet levar para o poder judicirio a discusso e controle das polticas pblicas, mas no ele definir no caso concreto por intermdio das recomendaes.

4. Pode-se executar a Fazenda Pblica quando ela no consta do termo de ajustamento de conduta, pois o obrigado aquele responsvel pela prtica de atos de seu agente.

5. No que concerne a efetividade do termo de ajustamento de conduta, observa-se a tendncia de aumento progressivo da quantidade de TACs, com o estabelecimento de regulamentao e disciplina para uniformizar a atuao em procedimentos administrativos. A atuao ministerial passa a ser cada vez mais preventiva do que repressiva, com uma atuao mais global do que pontual (polticas pblicas). H, ainda, necessidade de me-lhor coordenao e cooperao entre os rgos com atuao ambiental e de melhor definio de atribuies e competncias, sendo imprescindvel a regulamentao da destinao ambiental dos valores oriundos de TACs e a fiscalizao da sua utilizao.

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6. O termo de ajustamento de conduta, apesar de sua importncia para a resoluo de problemas ambientais, carente de regulamentao. Afora a sua meno na Lei da Ao Civil Pblica, includa pelo Estatuto da Crian-a e do Adolescente, em 1990, no h outras disposies regulamentando a matria. O grande problema do termo de ajustamento de conduta, por-tanto, que acarreta dvidas e hesitaes nos operadores de direito, a sua deficiente regulamentao.

7. Termo de ajustamento de conduta tem a sua origem no resgate do passivo ambiental, vocao essa que no se pode esquecer. Esse instrumento apre-senta muitas vantagens em comparao ao civil pblica, notadamente o seu controle, o seu custo diferido e os seus efeitos. No entanto, algumas questes merecem maior ateno e aperfeioamento, como a possibilidade de se trazer para dentro do termo de ajustamento de conduta a questo penal, o que serviria de incentivo celebrao de termos de ajustamento de conduta, e a regulamentao do termo de ajustamento de conduta pre-ventivo, que tenha por objeto o risco de dano ambiental.

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Teses de esTudanTes de graduao PaPers of Law sTudenTs (graduaTe)

01 ASPECTOSJURDICOSRELEVANTESDAPROTEODABIOTECNOLOGIAESUAINTERFACECOMASNORMASDISCIPLINADORASDOMEIOAMBIENTE-Ana Luiza Garcia Campos e Patrcia Aurlia del Nero.............................................................3

02.DESMATAMENTONAPR-AMAZNIAEMUDANASCLIMTICAS-Andiara Martins de S.....................................................17

03.DANOAMBIENTALFUTUROEAFUNOPREVENTIVADARESPONSABILIDADE-Bruna Viegas Graziano.....................................25

04.OPODERPBLICOEASMUDANASCLIMTICAS:BREVEAVALIAOSOBREAESTRUTURAEOSINSTRUMENTOSADOTADOS-Bruna Zaccaro Braccini......................................................37

05.OUSOSUSTENTVELDANATUREZAPELOTURISMORURALElizngela Aparecida da Silva e lan Rodrigo Bicalho.................................53

06.TRIBUTAOECOLGICA:OIMPOSTOCOMOAMELHORESPCIETRIBUTRIAASERUTILIZADACOMVISTASPROMOODODIREITOAMBIENTAL-Erika Araujo da Cunha Pegado e Llia Silva Luz .............................................................................65

07.DIREITOAMBIENTALECONMICO:APOSSIBILIDADEDESOBREPOSIODAREADEPRESERVAOPERMANENTE(APP)NARESERVAFLORESTALLEGAL(RFL)PARAGARANTIADAFUNOSOCIALDAPEQUENAPROPRIEDADERURAL-Fbio Lorensi do Canto e Felipe Mottin Pereira de Paula..........................................................................................75

08.AAOCIVILPBLICAEATUTELADOMEIOAMBIENTENOVALEDOPARABASP-Fernanda de Carvalho Lage e Daisy Rafaela da Silva..............................................................................87

09.CIDADESVERDES:POSSIBILIDADESECONTRADIESNOORDENAMENTOJURDICO-Jeane Aparecida Rombi de Godoy Rosin e Sandra Medina Benini.....................................................................97

10. O DESMATAMENTO E SEU TRATAMENTO JURDICO INTERNACIONAL - PROPOSTAS PARA UMA CONVENO INTERNACIONAL PARA O COMBATE AO DESMATAMENTOJoo Mcio Amado Mendes - Lia Helena Monteiro de Lima Demange, Marina Monn de Oliveira, Matheus Henrique de Paiva Carvalho e Yuri Rugai Marinho ................................................................................ 109

11. O CONTROLE DAS ATIVIDADES URBANAS E AS MUDANAS CLIMTICAS ENFOQUE SOBRE A FUTURA REGIO METROPOLITANA DE SO LUS DO MARANHO - Lus Pedro Oliveira Santos Rodrigues ......................................................................... 127

12. IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO TRANSPORTE DE CARGAS BRASILEIRO: RELEVNCIA DO MODAL HIDROVIRIO PARA REDUO DA EMISSO DE CO2E O PAPEL DO DIREITO AMBIENTAL - Masa Wolff Resplande ...... 147

13. A EXPANSO MONODOMINANTE DA ESPCIE FLORESTAL AROEIRA E O SEU ENQUADRAMENTO NA LISTA DE ESPCIES AMEAADAS DE EXTINO: O CASO DO MDIO RIO DOCE MINEIRO - Rassa de Oliveira Murta, France Maria Gontijo Coelho .......................................................................................... 157

14. COMPENSAO AMBIENTAL - Raul Lopes Dourado ........................ 169

15. HERMENUTICA AMBIENTAL E A INTERPRETAO ABERTA DA CONSTITUIO: CONCRETIZANDO AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS Ruan Didier Bruzaca ................................................................................. 187

TESES DE ESTUDANTES DE PS-GRADUAO PhD AND MASTER STUDENTS PAPERS

16. DESAPROPRIAO E O DESCUMPRIMENTO DA FUNO

SOCIAL AMBIENTAL ANLISE DE CASO - Anatrcia Rovani ....... 207

17. OS EFEITOS DO COMPROMISSO DO AJUSTAMENTO DE

CONDUTA NA ESFERA PENAL - Andr Oliveira Souza ..................... 225

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18. ECOLOGIA POLTICA: EPIFENMENO OU BASES

PARA UMA NOVA CINCIA DA GOVERNABILIDADE

PLANETRIA? - Bruna Silveira Roncato ................................................ 243

19. INADEQUAO DAS TEORIAS CLSSICAS DO NEXO DE

CAUSALIDADE PARA A IMPUTAO DA RESPONSABILIDADE

CIVIL AMBIENTAL NA SOCIEDADE DE RISCO - Carolina Medeiros Bahia ......................................................................................... 253

20. A INSERO DO PRINCPIO DO PROTETOR-RECEBEDOR NO

DIREITO BRASILEIRO A EXPERINCIA DO PROGRAMA

PRODUTORES DE GUA - Danielle de Ouro Mamed e Solange Teles da Silva ............................................................................................ 271

21 BIOPIRATARIA NO BRASIL: A LACUNA LEGISLATIVA

FRENTE APROPRIAO DA BIODIVERSIDADE

NACIONAL E DO CONHECIMENTO TRADICIONAL

Flvia Lordello Piedade ............................................................................. 287

22. A CONSTITUCIONALIZAO DA FUNO SOCIOAMBIENTAL

DA PROPRIEDADE NO BRASIL E EM ALGUNS PASES DA

AMRICA LATINA - Joo Paulo Rocha de Miranda, Marcos Prado de Albuquerque e Katia Gobatti Cala ....................................................... 305

23. O DILOGO DAS FONTES EM PROL DA ARBITRAGEM

AMBIENTAL E CONSEQUENTE ACESSO JUSTIA PARA

AS COMUNIDADES LOCAIS AMAZNIDAS - Liana Amin Lima da Silva e Jos Augusto Fontoura Costa............................................ 321

24. LICENCIAMENTO AMBIENTAL ANLISE DO PROCESSO

DE LICENCIAMENTO NA RODOVIA BR-319 - Marcus Vincius Carvalho Arantes e Paulo Santo de Almeida .............................................. 339

25. PROTEO DAS FLORESTAS, MINERAO NA AMAZNIA

E A NECESSIDADE DE AJUSTES PARA A EFICCIA NO

EMPREGO DA CFEM - Maria Luiza Machado Granziera e Laura Nazar Rocha Andrade ................................................................. 359

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26. O PROTOCOLO DE KYOTO E O MECANISMO DE

DESENVOLVIMENTO LIMPO: A ZONA DA MATA MINEIRA COMO POTENCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS - Natlia Campos Texeira ...................................................... 367

27. PAGAMENTOS POR SERVIOS AMBIENTAIS (PSA) A PEQUENOS AGRICULTORES RURAIS: UMA NOVA PERSPECTIVA PRESERVAO DA BIODIVERSIDADE. CONSIDERAES ACERCA DO PROGRAMA DE RECUPERAO DE VEGETAO CILIAR E RESERVA LEGAL DO MUNICPIO DE LONDRINA PR - Natlia Jodas ..................... 383

28. A RESTAURAO DE MATA CILIAR COMO CONDICIONANTE DA OUTORGA DO DIREITO DE USO DA GUA: ALGUMAS INTERAES COM A POLTICA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE NO ESTADO DA BAHIA Noemi Lemos Frana ................................................................................ 397

29. A UTILIZAO DOS ROYALTIES DO PETRLEO NA GESTO DE RISCOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA ATIVIDADE PETROLFERA: UMA PONDERAO A PARTIR DA PROBLEMTICA ENVOLVENDO INCIDENTES COM MANCHAS RFS - Orlindo Francisco Borges .................................. 407

30. PROTEO DA VEGETAO SECUNDRIA EM ESTGIO INCIAL DE REGENERAO DO BIOMA MATA ATLNTICA Paola Wohnrath Mele ............................................................................... 427

31. DUE DILIGENCE: ASPECTOS RELATIVOS AO PASSIVO AMBIENTAL - Pedro Mallmann Saldanha .............................................. 441

32. A CIDADE MODERNA E OS ENTRAVES ACESSIBILIDADE URBANA E INCLUSO SOCIAL DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS PELA FALTA DE PLANEJAMENTO URBANO ADEQUADO - Srgio Augustin e Letcia Gonalves Dias Lima ................................................................................................. 455

33. AHE BELO MONTE: PLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO

E QUESTES SCIOAMBIENTAIS - Simy de Almeida Corra e Sabrina Mesquita do Nascimento ............................................................ 471

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34. AFRONTA RECENTE S REAS DE PRESERVAO

PERMANENTE: O CDIGO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE

DE SANTA CATARINA (LEI N. 14.675/09) - Stela Luz Andreatta Herschmann .............................................................................................. 485

35. OS PADRES AMBIENTAIS SO ESCOLHIDOS DE FORMA

EFICIENTE? UMA ABORDAGEM SOB O FOCO DA ANLISE

ECONMICA DO DIREITO - Victor Hugo Domingues ........................ 495

36. REDUO DAS EMISSES POR DESMATAMENTO E

DEGRADAO FLORESTAL (REDD) COMO INSTRUMENTO

DE POLTICA PBLICA PARA A PROTEO DO CLIMA E DA

BIODIVERSIDADE NA AMAZNIA - Wander da Conceio Silva ..... 505

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Teses de Estudantes de Graduao

Papers of Law School Students

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ASPECTOS JURDICOS RELEVANTES DA PROTEO DA BIOTECNOLOGIA E SUA INTERFACE COM AS NORMAS

DISCIPLINADORAS DO MEIO AMBIENTE1

ANA LUIZA GARCIA CAMPOSGraduanda em Direito pela Universidade

Federal de Viosa

PATRCIA AURLIA DEL NEROProfessora do Departamento de Direito

da Universidade Federal de Viosa. Doutora em Direito pela Universidade

Federal de Santa Catarina

1. INTRODUO

O arcabouo jurdico brasileiro das normas disciplinadoras da biotecno-logia encontra-se em construo com relao ao seu processo de formao e quanto sua eficcia.

Deste modo, imperioso se faz considerar a possibilidade de proteo da biotecnologia, estabelecendo-se quais so as normas disciplinadoras do meio ambiente que asseguram a sustentabilidade quanto ao mesmo.

Neste sentido, verifica-se que para a positivao das normas de proteo da biotecnologia acontea se faz necessrio que o ordenamento jurdico se adapte s exigncias e s disposies contidas nas Convenes e nos Trata-dos Internacionais disciplinadores desta matria e s disposies constitu-cionais referentes ao Meio Ambiente. Alm da convenincia de se partilhar equitativamente os benefcios provenientes da utilizao de conhecimentos tradicionais, das inovaes e das prticas relevantes para a conservao da diversidade biolgica e da real utilizao sustentvel dos seus componentes.

Portanto, preciso analisar o processo de positivao da novel Lei de Biossegurana, que disciplina as principais regras relativas ao tema.

Deve-se ainda, nesse sentido, investigar, a partir da caracterizao e da anlise das possibilidades conferidas pela biotecnologia, a sua interface com as normas jurdicas disciplinadoras do Meio Ambiente, cujo fundamento o artigo 225 da Constituio Federal2.

1 Artigo realizado a partir do Relatrio Final de Programa de Iniciao Cientfica da Universidade Federal de Vio-sa com financiamento do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq).2 BRASIL, Constituio Federativa da Repblica do Brasil, de 1988. stio eletrnico internet planalto.gov.br

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Neste diapaso, a norma jurdica padro que ser objeto de anlise (nova Lei de Biossegurana), alcana especial relevo, pois se encontra sob a anlise do Supremo Tribunal Federal, com relao aos aspectos referentes sua constitucionalidade ou no.

2. TUTELA JURDICA DA BIOTECNOLOGIA E DO MEIO AMBIENTE

O sistema jurdico de proteo ambiental sobreleva-se no Brasil com a previso no Art. 225, e seguintes, da Constituio Federal, que estabelecem os direitos e garantias ambientais do povo brasileiro, ao mesmo tempo em que criam os mecanismos de proteo a esses direitos. O caput do Art. 225 delega ao Estado e comunidade em geral a responsabilidade de assegurar e preser-var os recursos naturais para as geraes presentes e futuras.

Outras previses importantes se encontram elencadas nos pargrafos subsequentes, dispondo acerca da preservao da diversidade e a integridade do patrimnio gentico, da exigncia de um estudo prvio de impacto am-biental para instalao de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradao do meio ambiente, e, por fim, sobre o controle da produo, comercializao e emprego de tcnicas, mtodos e substncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.

Observa-se do exposto acima, que este dispositivo tem como principais objetivos a proteo da biodiversidade e do patrimnio gentico do pas, o que, entretanto, no impede a realizao de pesquisas cientficas de manipu-lao gentica.

As diretrizes apontadas pela Constituio Federal revestem-se indiscu-tivelmente de carter tutelar, e as normas constitucionais servem como base para a adeso brasileira Conveno sobre Diversidade Biolgica que foi incorporada ao direito ptrio pelo Decreto n. 2.519 de 16 de maro de 1998.

Passando-se anlise dos Princpios Fundamentais de Direito Ambiental, convm salientar, que os Princpios possuem no Direito Ambiental uma impor-tncia fundamental, j que frequentemente surgem novas situaes, advindas, sobretudo, do avano biotecnolgico, que no possuem previso e demandam solues administrativas e judiciais para os casos concretos que se apresentam. Prestam-se, em outras palavras para balizar o procedimento do legislador e dos operadores do direito. So inmeros os Princpios arrolados pelos doutrina-dores, neste estudo, contudo, evidenciado o Principio do Desenvolvimento Sustentvel, entendido de tal forma que se responda equitativamente s necessi-dades ambientais e de desenvolvimento das geraes presentes, utilizando-se de maneira racional os recursos no renovveis, o Princpio Democrtico em que participao das pessoas e das organizaes no governamentais nos procedi-mentos de decises administrativas e nas aes judiciais deve ser facilitada e en-corajada, o Princpio da Informao j que as informaes ambientais devem ser transmitidas pelos causadores, ou potenciais causadores de poluio e da degradao da natureza, e repassadas pelo Poder Pblico coletividade, e por

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5Teses de Estudantes de Graduao/ Papers of Law School Students

fim os Princpios da Precauo, vez que quando houver perigo de dano grave e irreversvel, a falta de certeza cientfica absoluta no dever ser utilizada como razo para adiar-se a adoo de medidas eficazes em funo dos custos, para impedir a degradao do meio ambiente e da Preveno, na medida em que cabe ao Poder Pblico e os particulares prevenir os danos ambientais, havendo correo, com prioridade, na fonte causadora.

Com fulcro nos Princpios supra descritos e diante das possveis conse-quncias negativas das atividades advindas da engenharia gentica, o Poder Legislativo resolveu disciplinar a atividade mediante, inicialmente, a cria-o da Lei 8.974/953, que regulamentava o j citado art.225, 1, II e V da Constituio Federal, prevendo normas para o uso de tcnicas de engenharia gentica e para a liberao no meio ambiente de organismos geneticamen-te modificados. A Lei ainda autorizava a criao no mbito da Presidncia da Repblica, da Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana, que possua como uma de suas principais atribuies estabelecer mecanismos de funcio-namento das Comisses Internas de Biossegurana (CIBio) no interior de cada instituio que se dedica a manipulao de Organismos Geneticamente Modificados(OGMs). Estas Comisses tinham a incumbncia de adotar as medidas que fossem necessrias referentes segurana no interior de cada instituio ou entidades e avaliar os possveis riscos dessas atividades para as comunidades e para o meio ambiente. Cumpre destacar, que um dos pontos mais controversos do Decreto 1.752, de 20 de dezembro de 1995, estava na possibilidade de a CTNBio exigir o EIA/RIMA apenas como documentao adicional para a elaborao de seu parecer tcnico conclusivo sobre o orga-nismo geneticamente modificado e a atividade a ele relacionada, conforme o artigo 2, incisos XII e XIV do alusivo decreto.

No entanto, as informaes acerca dos possveis riscos e prejuzos sa-de humana e ao meio ambiente ainda eram e so incipientes, sendo assim no poderia a CTNBio se furtar de exigir que a pessoa jurdica interessada apresentasse o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que consiste na anlise cientfica dos riscos inerentes s atividades relacionadas ao OGM, seguido do Relatrio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA), onde dever-se-ia transcre-ver todas as concluses extradas da primeira anlise.

Esta exigncia encontrar-se-ia em consonncia com o disposto na nor-ma constitucional no art.225, inciso IV e com o direito informao, na me-dida em que o pblico tem o direito de receber as informaes necessrias dos riscos a que est submetido em caso de liberao ou descarte de OGMs.

Posteriormente, com o intuito de afastar qualquer dvida quanto obri-gatoriedade do EIA/Rima como condio para a liberao de OGM no meio ambiente, foi editada a Resoluo n. 237 de dezembro de 1997, pelo Conselho

3 BRASIL. Congresso Nacional. Lei n. 8.974, de 05 de janeiro de 1995. Regulamenta os incisos II e IV do pargrafo primeiro do artigo 225 da Constituio Federal, estabelece normas para uso das tcnicas de engenharia gentica no meio ambiente de organismos geneticamente modificados e autoriza o Poder Executivo a criar, no mbito da Presi-dncia da Repblica, a Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana e d outras providncias.

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6 14 CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO AMBIENTAL

Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) que, expressamente exigia a licena ambiental em caso de introduo de espcies geneticamente modificadas.

Com o advento de novas tecnologias e consequentemente com a neces-sidade de conferir amparo jurdico s mesmas, sem, contudo distanciar-se da proteo conferida ao Meio Ambiente, foi editada a nova Lei de Biosseguran-a, que revogou as disposies da Lei 8.974/95.

3. ASPECTOS RELEVANTES DA LEI 11.105/2005 LEI DE BIOSSEGURANA

A Lei 11.105/20054 tem como objetivo estabelecer normas de segurana e mecanismos de fiscalizao no uso de tcnicas de Engenharia Gentica.

V-se que, ao se discorrer sobre normas de segurana implicitamente a Lei abarca a hiptese geral que a engenharia gentica implica em riscos que necessitam ser gerenciados.

A Lei de Biossegurana direciona seus preceitos para oito atividades quais sejam: construo, cultivo, manipulao, transporte, comercializao, consumo, liberao, e descarte de OGMs.

A Lei tambm disciplina os interesses protegidos, que so a vida e a sade dos homens, dos animais, das plantas, enfim, busca-se a proteo do meio ambiente como um todo integrado.

A partir da leitura do artigo 2 da Lei de biossegurana e de sua in-terpretao que as atividades e projetos ligados produo industrial e ao desenvolvimento tecnolgico que envolvam OGMs esto sujeitas a disciplina da mencionada legislao, acrescenta-se ainda a este rol a inovao referente s atividades e projetos de ensino e pesquisa cientifica. Em seu 6 artigo de-senha os principais limites s atividades humanas relacionadas Engenharia Gentica, vez que ao estabelecer proibies a contrario sensu, apontou os ca-minhos na gesto destas atividades.

Probe-se por fim, por meio das determinaes constantes na Lei de Biossegurana, o uso da engenharia gentica para produzir produtos estreis bem como as tcnicas que interditam a ativao ou a desativao de genes relacionados fertilidade das plantas. um preceito que tenta frear proibir a produo de sementes estreis, que possibilitam ao produtor agrcola um plantio ou colheita.

Aps esta breve apreciao da abrangncia da nova Lei de Biossegu-rana, resta adentrar, neste momento, no ponto crucial deste estudo, vez que se analisar a nova feio da Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana,

4 BRASIL. Congresso Nacional. Lei n. 11.105, de 24 de maro de 2005. Regulamenta os incisos II, IV e V do d 1o do art. 225 da Constituio Federal, estabelece normas de segurana e mecanismos de fiscalizao de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Bios-segurana CNBS, reestrutura a Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana CTNBio, dispe sobre a Poltica Nacional de Biossegurana PNB, revoga a Lei n. 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisria n. 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5o, 6o, 7o, 8o, 9o, 10 e 16 da Lei n. 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e d outras providncias.

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7Teses de Estudantes de Graduao/ Papers of Law School Students

sua competncia e suas implicaes e questionamentos no universo jurdico principalmente os avenados na Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n. 3526 proposta pelo Procurador Geral da Repblica e que se encontra em tramitao perante o Supremo Tribunal Federal. Hodiernamente

De acordo com o disposto no artigo 10 da Lei em comento, a Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana integrante do Ministrio da Cincia e Tecnologia, sendo um rgo multidisciplinar, com competncia consultiva e deliberativa, voltada ao apoio tcnico e de assessoramento do Governo Fe-deral, na formulao, atualizao e implementao da Poltica Nacional de Biossegurana, de organismos geneticamente modificados e seus derivados, bem como no estabelecimento de normas tcnicas de segurana e de pareceres tcnicos referentes autorizao para atividades que envolvam pesquisa e uso comercial de OGMs e seus derivados com base na avaliao de seu risco zoofitosanitrio, sade humana e ao meio ambiente.

Observa-se que a nova Lei, aumentou as atribuies da referida Co-misso em comparao com a legislao anterior, restringindo, ao mesmo tempo, a competncia de alguns Ministrios, especialmente a do Ministrio do Meio Ambiente.

A CNTBio em face das disposies constantes na nova legislao passa a ter competncia para emitir deciso tcnica, caso a caso sobre biosseguran-a no mbito de pesquisa e de uso comercial, vinculando sua deciso tcnica, quanto aos aspectos de biossegurana de OGMs e seus derivados, aos demais rgos e entidades da Administrao Pblica (artigo 14, XII).

Essa competncia foi proposta a partir das disposies constante na Medida Provisria n. 1.186-16 de agosto de 2001, que trazia em seu bojo a atribuio de emitir parecer conclusivo.

Vislumbra-se nesta redao o posicionamento dos que queriam um pa-pel quase exclusivo ou mesmo exclusivo, da Comisso na autorizao dos OGMs. Procurou-se centralizar a Engenharia Gentica no Ministrio da Cincia e Tecnologia.5

Oportuno se faz analisar neste momento, um pontos mais tormentosos da Lei em anlise, qual seja, a competncia que estabelecida CTNBio com relao s questes e solicitaes que envolvem o meio ambiente.

Com a legislao em vigor esta Comisso passou a ter a atribuio de identificar atividades e produtos decorrentes do uso de OGM e seus derivados potencialmente causadores de degradao do meio ambiente ou que possam causar riscos sade humana (art.14, XX).

O artigo 16 3 da Lei de Biossegurana dispe ainda que a CTNBio delibera em ltima e definitiva instncia, sobre os casos em que a atividade potencialmente ou efetivamente causadora de degradao ambiental, bem como a necessidade de licenciamento ambiental.

5 MACHADO Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 7 ed., So Paulo, Malheiros, 1998. P. 996.

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8 14 CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO AMBIENTAL

De acordo com estes artigos a Lei 11.105/05, outorga uma maior compe-tncia a CNTBio em matria que antes era analisada pelo Ministrio do Meio Ambiente, no plano federal. Em face do exposto, verifica-se que a competn-cia, expressa no Texto Constitucional, aos rgos e s entidades do Minis-trio do Meio Ambiente, so deslocadas, infraconstitucionalmente, ou seja, por meio de Lei, a outros Ministrios que esto expressamente previstos na referida norma, como o Ministrio da Cincia e Tecnologia, por exemplo.

Como j mencionado anteriormente, muitos dos dispositivos que dis-ciplinam as atribuies da CNTBio so questionados, em face das deter-minaes Constitucionais, por intermdio da ADI 3526, Ao Direta de Inconstitucionalidade proposta pelo Procurador Geral da Repblica com fundamento no artigo 103, VI da Constituio da Federal da Repblica em atendimento solicitao feita pelo Partido Verde (PV) e pelo Instituto Bra-sileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) autores das representaes PGR n. 100000004921/2005-17 e PGR n 100000005210/2005-51 respectivamente, e recomendao da 4 Cmara de Coordenao e Reviso- Meio Ambiente e Patrimnio Cultural do Ministrio Pblico Federal.

O objeto da Ao mencionada acima impugnar a Lei 11.105/2005 que com o intuito de regulamentar os incisos II, IV e V do artigo 225, da Cons-tituio Federal estabeleceu normas de segurana e de fiscalizao para as atividades que envolvam OGM e seus derivados.

O Procurador Geral da Repblica assevera na exordial proposta que, o Senado modificou o Substitutivo aprovada pela Cmara dos Deputados. Naquela verso havia uma prescrio clara que a questo referente exign-cia de apresentao de estudo do impacto ambiental como condio para a liberao comercial de sementes geneticamente modificadas, ficaria sob o comando do Sistema Nacional de Meio Ambiente, cuja competncia para proceder ao licenciamento de atividades relativas liberao de organismos geneticamente modificados no ambiente caberia ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA)6.

Depois de aprovado pela Cmara o substitutivo sofreu vrias mudanas no Senado, sendo logo em seguida aprovadas pelo Congresso Nacional, o que teria resultado em vrios dispositivos inconstitucionais.

O primeiro aspecto sobre o qual versa a ADI 3526 refere-se possvel afronta competncia comum dos entes federados para proteger o meio am-biente e combater a poluio em qualquer de suas formas. De acordo com os argumentos levantados, a CF/88 estabeleceu trs entidades com autonomia poltica administrativa na Federao: a Unio como ordem nacional, os Es-tados como ordens regionais e os Municpios como ordens locais. Ao criar a Federao a Constituio possibilitaria que o poder no ficasse concentrado nas mos de uma nica pessoa jurdica de direito pblico, mas que se repar-tisse entre as pessoas polticas que a compe.

6 FONTELES, Cludio. Petio Inicial ADI 3526

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9Teses de Estudantes de Graduao/ Papers of Law School Students

Neste sentido a Constituio estabelece em seu artigo 23 a competncia comum da Unio, dos Estados e dos Municpios para articularem polticas pblicas atinentes ao meio ambiente e exercerem as medidas referentes tu-tela e ao amparo do mesmo. Destarte, a Constituio estabelece no somente um poder, mas um poder-dever de proteger o meio ambiente, desta forma, qualquer norma infraconstitucional que limitar as competncias direciona-das aos entes federados afronta a Carta Maior.

Salienta-se ainda, por oportuno, o pronunciamento do Supremo Tribu-nal Federal, em temtica semelhante, quando julgou inconstitucional Lei Es-tadual que impedia o Estado de fiscalizar as atividades que envolviam OGMs, na Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n. 2303/MC-RS.

A escolha do legislador constituinte pela competncia comum para pro-teo do meio ambiente, bem como a opo do legislador ordinrio quando criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), por intermdio das disposies constantes na Lei 6938/81, sinalizam para a necessidade de cooperao entre os entes federados e seus rgos e entidades.

Segundo o alegado, poder-se-ia afirmar que aos rgos do SISNAMA, atribui-se a responsabilidade pela melhoria e proteo da qualidade ambien-tal. Assim sendo, no caberia aos Estados e Municpios pedir autorizao para a Unio para exercerem seu poder de polcia administrativa, para orga-nizarem seus servios administrativos ambientais, ou para aplicarem instru-mentos da Poltica Nacional de Meio Ambiente, dentre eles o licenciamento ambiental.

Desta forma, o 2 do artigo de 16 da Lei 11.105/05, que condiciona a aplicao dos incisos II e III do artigo 8 e do caput do artigo 10 da Lei 6.938/81 aos casos que CNTBio deliberar que o organismo potencialmente causador de risco, estaria eivado de inconstitucionalidade afrontando direta-mente o disposto no artigo 23 da Constituio.

Padeceriam do mesmo vcio os 2 e 3 do artigo 16 da lei 11105/05 que concedem a CNTBio o poder de deliberar em ultima e definitiva instncia, sobre os casos em que a atividade potencialmente o