descentralização: princípios económico-institucionais a ter em conta

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Descentralização: princípios económico - institucionais a ter em conta Rui Nuno Baleiras Vogal Executivo Conferência “Descentralização – o caminho do desenvolvimento” Painel “A descentralização como ideia política de organização” Porto, 17 de Outubro de 2016

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Page 1: Descentralização: princípios económico-institucionais a ter em conta

Descentralização: princípios económico-institucionais a ter em conta

Rui Nuno BaleirasVogal Executivo

Conferência “Descentralização – o caminho do desenvolvimento”

Painel “A descentralização como ideia política de organização”

Porto, 17 de Outubro de 2016

Page 2: Descentralização: princípios económico-institucionais a ter em conta

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1. Introdução

2. Rácios de descentralização orçamental: Portugal, a OCDE e cuidados com leituras simplistas

3. O que é descentralizar?

4. Descentralização político-administrativa de competências: quais são as funções descentralizáveis do orçamento público?

5. O princípio da subsidiariedade: conceito e alertas

6. Argumentos pró e contra a descentralização de determinada competência

7. Ilações práticas

8. Conclusões e recomendações

9. Leituras sugeridas

14 Out 2016

Nota prévia: acetatos escritos segundo as normas anteriores ao Acordo Ortográfico de 1990.

Page 3: Descentralização: princípios económico-institucionais a ter em conta

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1. Introdução

2. Rácios de descentralização orçamental: Portugal, a OCDE e cuidados com leituras simplistas

3. O que é descentralizar?

4. Descentralização político-administrativa de competências: quais são as funções descentralizáveis do orçamento público?

5. O princípio da subsidiariedade: conceito e alertas

6. Argumentos pró e contra a descentralização de determinada competência

7. Ilações práticas

8. Conclusões e recomendações

9. Leituras sugeridas

14 Out 2016

Page 4: Descentralização: princípios económico-institucionais a ter em conta

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2. Rácios de descentralização orçamental: Portugal, a OCDE e cuidados com leituras simplistas

14 Out 2016

Gráfico 1: Pesos das Administrações Local e Regional no conjunto das Administrações

Públicas, OCDE 2014

Fonte: OCDE (2016).

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1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Percentagem

Ano

Despesa própria AdL (em % total das AP) Despesa total AdL (em % PIBpm) Despesa total AdR (em % PIBpm)

Gráfico 2: Pesos das Administrações Local e Regional no PIB e da Administração Local no

conjunto das Administrações Públicas, Portugal 1995–2015

Fonte: Baleiras et al. (em prep.).

2. Rácios de descentralização orçamental: Portugal, a OCDE e cuidados com leituras simplistas

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6,9%7,3%

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11,9%

10,5%

11,9%

9,5%10,0%

8,7%9,1%

0,0%

2,0%

4,0%

6,0%

8,0%

10,0%

12,0%

14,0%

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Perc

en

tag

em

Anos

Receita própria AdL (em % total das AP) Despesa própria AdL (em % total das AP)

Gráfico 3: Rácios de descentralização local da receita e da despesa públicas, Portugal 1995–2015

Fonte: Baleiras et al. (em prep.).

2. Rácios de descentralização orçamental: Portugal, a OCDE e cuidados com leituras simplistas

• As comparações internacionais, bem como as nacionais entre anos, são falaciosas. Escondem graus de autonomia política local ou regional bastante diferentes.

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1. Introdução

2. Rácios de descentralização orçamental: Portugal, a OCDE e cuidados com leituras simplistas

3. O que é descentralizar?

4. Descentralização político-administrativa de competências: quais são as funções descentralizáveis do orçamento público?

5. O princípio da subsidiariedade: conceito e alertas

6. Argumentos pró e contra a descentralização de determinada competência

7. Ilações práticas

8. Conclusões e recomendações

9. Leituras sugeridas

14 Out 2016

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3. O que é descentralizar?

• Administração local (ou regional) maior é razão para justificar a bondade da descentralização? Max Weber e a burocracia

• Emdemocracia os governos locais (e regionais) são eleitos pela população e para servir a população das respectivas circunscrições

• Cada governo existe para prestar serviços colectivos a custos sustentáveis com o objectivo de maximizar o bem-estar da respectiva população

• Governo central – população nacional

• Governo do município i – população do concelho i

• Teoria económica assenta neste pressuposto para fazer recomendações quanto à repartição vertical de competências entre níveis da AP eficiência económica (também conhecida como eficiência na afectação dos recursos da sociedade)

• Ideário político de descentralização justifica-se assim na capacidade de oferecer à sociedade mais valor pelo mesmo custo (ou mesmo valor com custo menor)

• Esta apresentação sugere um conjunto de princípios a ter em conta em eventual discussão próxima sobre repartição vertical de competências partindo do princípio que ela visa optimizar o bem-estar social

14 Out 2016

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1. Introdução

2. Rácios de descentralização orçamental: Portugal, a OCDE e cuidados com leituras simplistas

3. O que é descentralizar?

4. Descentralização político-administrativa de competências: quais são as funções descentralizáveis do orçamento público?

5. O princípio da subsidiariedade: conceito e alertas

6. Argumentos pró e contra a descentralização de determinada competência

7. Ilações práticas

8. Conclusões e recomendações

9. Leituras sugeridas

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4. Descentralização político-administrativa de competências: quais são as funções descentralizáveis do orçamento público?

• Não há autoridades político-administrativas sem orçamento próprio porquanto a sua atividade envolve transações e exige necessariamente fluxos monetários entre si e entre elas e os demais agentes económicos da sociedade

• Orçamento do sector público: três funções

• Estabilização macroeconómica? Não

• Redistribuição? Não

• Afectação (ou provisão de bens e serviços)

• Bens colectivos nacionais? Não

• Bens colectivos locais? Talvez

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Mobilidade geográfica

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1. Introdução

2. Rácios de descentralização orçamental: Portugal, a OCDE e cuidados com leituras simplistas

3. O que é descentralizar?

4. Descentralização político-administrativa de competências: quais são as funções descentralizáveis do orçamento público?

5. O princípio da subsidiariedade: conceito e alertas

6. Argumentos pró e contra a descentralização de determinada competência

7. Ilações práticas

8. Conclusões e recomendações

9. Leituras sugeridas

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Page 12: Descentralização: princípios económico-institucionais a ter em conta

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5. O princípio da subsidiariedade: conceito e alertas

• Mensagem do acetato anterior: a provisão de bens e serviços colectivos locais é descentralizável na medida em que os territórios difiram na procura ou na oferta desses serviços

• Princípio da subsidiariedade: as competências devem ser atribuídas ao nível de governo que maximiza o bem-estar social resultante da fruição e do pagamento dos bens e serviços locais

• Cuidado com as interpretações generalizadoras!

• Haver diferenças entre territórios nas preferências dos utentes ou nos custos de fornecimento dos bens é condição necessária. Mas não chega!

• O mundo real é complexo. Há outros factores, para além da informação, que devem ser tomados em conta na hora de decidir alterar a repartição de competências entre níveis da AP

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Page 13: Descentralização: princípios económico-institucionais a ter em conta

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1. Introdução

2. Rácios de descentralização orçamental: Portugal, a OCDE e cuidados com leituras simplistas

3. O que é descentralizar?

4. Descentralização político-administrativa de competências: quais são as funções descentralizáveis do orçamento público?

5. O princípio da subsidiariedade: conceito e alertas

6. Argumentos pró e contra a descentralização de determinada competência

7. Ilações práticas

8. Conclusões e recomendações

9. Leituras sugeridas

14 Out 2016

Page 14: Descentralização: princípios económico-institucionais a ter em conta

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6. Argumentos pró e contra a descentralização de determinada competência

Heterogeneidade espacial na procura ou na oferta do serviço

colectivo local

Argumentos pró-descentralização (incentivos p/ max bem-estar local)

Ouvir a voz do povo

Receitas próprias

Responsabilização perante utentes e

credores

Restrições orçamentais locais

claras

Pró-centralização

Capacidade de diversificação na

oferta centralizada

Economias de escala

Externalidades inter-

circunscrições

A eventual debilidade na capacidade administrativa

local é contra- e pró-descentralização

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Hipótese: fronteiras exógenas das circunscrições subnacionais (regionalização do Continente obrigaria a considerar argumentos adicionais)

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1. Introdução

2. Rácios de descentralização orçamental: Portugal, a OCDE e cuidados com leituras simplistas

3. O que é descentralizar?

4. Descentralização político-administrativa de competências: quais são as funções descentralizáveis do orçamento público?

5. O princípio da subsidiariedade: conceito e alertas

6. Argumentos pró e contra a descentralização de determinada competência

7. Ilações práticas

8. Conclusões e recomendações

9. Leituras sugeridas

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Page 16: Descentralização: princípios económico-institucionais a ter em conta

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7. Ilações práticas

1. Encurtar a distância entre decisor e população não chega para recomendar a descentralização (cf diapositivos anteriores)

2. Estar preparado para acolher competências exclusivas e competências partilhadas com outros níveis de governo

3. Exercício local de competências descentralizadas: imitar o Estado não é necessariamente boa ideia; a voz dos interessados

–O envolvimento da comunidade de interessados nos recursos e nos resultados das políticas públicas melhora-as e fortalece o capital social dos territórios e, por essa via, o próprio desenvolvimento económico

4. Inovação e boas práticas: variedade intermunicipal nas experiências é enriquecedora nas funções descentralizadas de maior complexidade

5. Repartição de competências: descentralizar, centralizar e cooperar–Heterogeneidade dos territórios e das autarquias locais recomenda abordagem flexível num qualquer programa de descentralização (fato único não será boa ideia)

–Contratação por objectivos (FSM não será bom guia para o futuro)

–Atentar em exemplos estrangeiros e estar aberto à negociação (Estado-ANMP-ANAFRE, Ministério x-Autarquia i, Autarquia i-Autarquia j, etc.)

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1. Introdução

2. Rácios de descentralização orçamental: Portugal, a OCDE e cuidados com leituras simplistas

3. O que é descentralizar?

4. Descentralização político-administrativa de competências: quais são as funções descentralizáveis do orçamento público?

5. O princípio da subsidiariedade: conceito e alertas

6. Argumentos pró e contra a descentralização de determinada competência

7. Ilações práticas

8. Conclusões e recomendações

9. Leituras sugeridas

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8. Conclusões e recomendações

• Rácios orçamentais de descentralização não é o que importa discutir enquanto ideia política de organização

• Descentralização política: capacidade de patamares territoriais locais e regionais, com legitimidade democrática própria, poderem escolher os termos da oferta de serviços às famílias e às empresas anteriormente providos por um patamar superior (sujeita a padrões mínimos nacionais)

• Descentralização como ideia política de organização tem racionalidade económica se melhorar o bem-estar dos cidadãos (“dar mais por menos”)

• Mobilidade geográfica das bases de tributação e dos eleitores é uma restrição que deve estar presente no desenho de soluções em concreto de descentralização

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8. Conclusões e recomendações

• Em princípio, não há vantagem em descentralizar a oferta de serviços coletivos sem diversidade territorial nas preferências ou nos custos unitários

• Não há boa descentralização sem boa governança Ahmad e Mazarei (2015),

Kyriacou et al. (2015), Faguet (2011)

• Ouvir a voz das forças vivas

• Cada competência é um caso e requer uma solução própria

• Contratação em função dos resultados é um modelo que deve estar sobre a mesa

• Fato único não serve; na baixa densidade a oferta conjunta pode ser melhor que a oferta individual; como lidar com economias de escala e efeitos interterritoriais

• Aproveitar para melhorar intermunicipalidade e partilhas ente freguesias

• Finanças locais e regionais em ordem só podem ajudar

• Inovar e partilhar experiências

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Page 20: Descentralização: princípios económico-institucionais a ter em conta

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1. Introdução

2. Rácios de descentralização orçamental: Portugal, a OCDE e cuidados com leituras simplistas

3. O que é descentralizar?

4. Descentralização político-administrativa de competências: quais são as funções descentralizáveis do orçamento público?

5. O princípio da subsidiariedade: conceito e alertas

6. Argumentos pró e contra a descentralização de determinada competência

7. Ilações práticas

8. Conclusões e recomendações

9. Leituras sugeridas

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9. Leituras sugeridas

• AHMAD, Ehtisham e MAZAREI, Adnan (2015), Can Fiscal Decentralization Help Resolve Regional Conflicts in the Middle East? Blogue, 23 de Janeiro, Washington: Fundo Monetário Internacional. Consult 14 Out 2016.

• BALEIRAS, Rui Nuno (2002), The Economics of Multilevel Governance, mimeo, aceite para publicação por Edward Elgar, Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Economia, caps. 5 e 6.

• BALEIRAS, Rui Nuno (2014), Território e desenvolvimento económico: falhas institucionais, Publicação Ocasional n.º 3, Dezembro, Lisboa: Conselho das Finanças Públicas, Sumário Executivo e Caps. 7 e 8. Consult. 14 Out 2016.

• BALEIRAS, Rui Nuno, DIAS, Rui e ALMEIDA, Miguel (em prep.), Finanças locais: fundamentos económico-institucionais e a experiência portuguesa entre 1987 e 2015, Publicação Ocasional em preparação, Lisboa: Conselho das Finanças Públicas, Caps. 1 e 2.

• FAGUET, Jean-Paul (2011), Decentralization and governance, Economic Organisation and Public Policy Discussion Papers, n.º 027, Londres: London School of Economics and Political Science. Consult 14 Out 2016.

• KYRIACOU, Andreas P., MUINELO-GALLO, Leonel e ROCA-SAGALÉS, Oriol (2015), “Fiscal decentralization and regional disparities: The importance of good governance”, Papers in Regional Science, vol. 94, n.º 1, Março, pp. 89-107. Consult. 14 Out 2016.

• OCDE (2015), “OECD Skills Strategy Diagnostic Report: Portugal”, Directorate for Education and Skills, Paris: Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económicos (OCDE). Consult 5 Out 2016.

• OCDE (2016), Subnational governments in OECD countries: key data (brochure), Directorate for Public Governance and Territorial Development, Paris: Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económicos (OCDE). Consult 12 Out 2016.

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