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DESAFIOS NA ELABORAÇÃO E EFETIVAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO
PEDAGÓGICO (P.P.P): UM ESTUDO DE CASO
CHALLENGES IN THE ELABORATION AND PROPORTION OF THE
PEDAGOGICAL POLITICAL PROJECT (P.P.P): A CASE STUDY
Veruzia Medeiros de Oliveira
RESUMO
O Projeto Político Pedagógico é a própria organização do trabalho pedagógico da escola como um
todo, sendo construído e vivenciado, em todos os momentos, por todos os envolvidos com o
processo educativo escolar. Neste contexto, surgiu a seguinte problemática: quais os desafios na
elaboração e efetivação de um P.P.P? Diante do exposto, este artigo tem o objetivo de analisar como
se dá o desenvolvimento e aplicabilidade do Projeto Político Pedagógico na Unidade escolar no
Centro Integrado de Educação de Patos (CIEP II) Anésio Leão/Miguel Motta – PB. Para tanto, o
estudo se caracterizar como do tipo exploratória e qualitativo. A coleta de dados ocorreu a partir de
um levantamento de campo com a aplicação do método grupo focal, foram entrevistadas seis
docentes. Os resultados mostraram que o conceito de PPP é compreendido perante as docentes
entrevistadas. No entanto, a escola em estudo não desenvolve de forma democrática o P.P.P
Palavras-chave: Educação, Projeto Político Pedagógico, Gestão Democrática, Centro Integrado de
Educação de Patos (CIEP II) Anésio Leão/Miguel Motta – PB.
ABSTRACT
The Political Pedagogical Project is the very organization of the pedagogical work of the school as a
whole, being built and experienced at all times by all involved with the school educational process. In
this context, the following problems arose: what are the challenges in the preparation and execution of
a P.P.P? In view of the above, this article has the objective of analyzing how the development and
applicability of the Pedagogical Political Project in the School Unit in the Integrated Center of
Education of Ducks (CIEP II) Anésio Leão / Miguel Motta - PB. For this, the study is characterized as
exploratory and qualitative type. Data collection took place from a field survey with the application of
the focal group method, six teachers were interviewed. The results showed that the concept of PPP is
understood by the teachers interviewed. However, the school under study does not democratically
develop P.P.P
Keywords: Education, Political Pedagogical Project, Democratic management, Integrated Center of
Education of Patos (CIEP II) Anésio Leão / Miguel Motta – PB.
INTRODUÇÃO
Na circunstância atual da educação no país, para a construção de projetos,
no tocante ao sentido político-participativo, são vislumbradas novas possibilidades
de mudanças na elaboração e na execução de projetos que conduzem as atividades
educacionais como uma forma de deixar de lado a inquietude e a passividade muitas
vezes observada nas escolas como consequência de projetos políticos pedagógicos
equivocadamente delineados.
Etimologicamente, o termo projeto tem origem no latim projectus, que, por sua
vez, é particípio passado do verbo projicere, que significa “lançar para diante”.
Plano, intento, desígnio (VEIGA, 2000). Ou seja, o projeto é uma ação futura de
ideias desenvolvidas no presente. É o resultado de um planejamento obtido por meio
de investigações da realidade atual com aspirações para obtenção de resultados
almejados nesse processo.
Gadotti (2000), no debate sobre as questões que envolvem as dificuldades e
os limites no processo de implantação da gestão colegiada em uma escola, revela:
Para a real efetivação dos mesmos, é preciso que a escola esteja impregnada de
uma certa atmosfera que respira a “circulação de informações, na divisão do
trabalho, no estabelecimento do calendário escolar, na distribuição das aulas, no
processo de elaboração ou de criação de novos cursos, ou de novas disciplinas, na
formação de grupos de trabalho, na capacitação de recursos humanos” (GADOTTI,
2000).
É o plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização,
nunca definitiva, de um processo de Planejamento Participativo, que se aperfeiçoa e
se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se
quer realizar. É um instrumento teórico-metodológico para a intervenção e mudança
da realidade. É um elemento de organização e integração da atividade prática da
instituição neste processo de transformação (VASCONCELOS, 2004, p. 169).
Diante do expostos, diversos estudos de casos vem sendo desenvolvido com
o objetivo de constatar se as escolas brasileiras estão colocando em prática o
desenvolvimento de um P.P.P. que se atenha as reais necessidades da
comunidade, aluno, ensino/aprendizagem levando em consideração o local no qual
a escola se encontrar, a exemplo Santos e Leão (2017) que desenvolveram um
estudo de caso escola nucleada de Sambaituba – ilhéus, que teve o de verificar se a
comunidade escolar compreende a diferença entre Educação do Campo como
política pública e Educação do Campo como política emancipatória e, também, de
identificar as especificidades contidas em um Projeto Político Pedagógico para uma
escola do campo que tenha como pressuposto teórico a emancipação humana.
Silva e Camzubá (2015) também desenvolver um estudo de caso com o
objetivo de analisar como se dá o processo de construção coletiva do P.P.P em uma
unidade de ensino. A pesquisa foi realizada em uma escola pública municipal de
São Gonçalo dos Campos – BA. Outros estudos de casos a respeito da aplicação e
construção de um P.P.P em unidades de ensinos podem ser encontrados em
Cavalcante (2017); Robaert et al. (2015); Schultz et al. (2015); Santos (2009).
Dessa forma, a presente pesquisa considera a hipótese de que apenas com o
desenvolvimento de uma gestão focada na democracia e no envolvimento de todas
as esferas escolares é que se alcança efetivamente um P.P.P que auxiliará na ação
via ensino-aprendizagem de forma satisfatória.
Como bem relata Veiga (2000), o Projeto Político Pedagógico é a própria
organização do trabalho pedagógico da escola como um todo, sendo construído e
vivenciado, em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo
educativo escolar.
Neste contexto, surgiu a seguinte problemática: quais os desafios na
elaboração e efetivação do PPP? E diante deste questionamento, objetivo geral
desta pesquisa é analisar o desenvolvimento e aplicabilidade do Projeto Político
Pedagógico na Unidade escolar no Centro Integrado de Educação de Patos (CIEP
II) Anésio Leão/Miguel Motta – PB.
1. Materiais e Métodos
1.1 Caracterização da área em estudo
A pesquisa tem como área de estudo o Centro Integrado de Educação de
Patos (CIEP II) Anésio Leão/Miguel Motta. O Centro Integrado de Educação de
Patos (CIEP II) Anésio Leão/Miguel Motta, foi a primeira a ser construída no Bairro
da Vila Cavalcante, localizada na Rua Pedro Saraiva Moura, S/N, foi fundado na
Administração do Prefeito José Cavalcante em 1974.
A estrutura inicial da escola possuía 02 (duas) salas de aula, 01 (uma)
diretoria, 01 (uma) cozinha, 02(dois banheiros, e 01 (um) depósito de merenda, e 01
(um) pátio coberto que servia como área de recreação). A escola apresentava 10
(dez) funcionários, sendo: 01 (uma) diretora, 04 (quatro) professores, 04 (quatro)
auxiliares de serviço, e 01 (um) vigia, atendendo manhã e tarde nas séries iniciais.
1.2 Método para coleta de dados
De acordo com o tipo de procedimento utilizado para a coleta de dados, a
pesquisa se classifica como estudo de caso.
Com base na definição de Yin (2001, p.28) o estudo de caso é considerado
como uma estratégia de pesquisa que possui uma vantagem específica quando:
“faz-se uma questão tipo ‘como’ ou ‘por que’ sobre um conjunto contemporâneo de
acontecimentos sobre o qual o pesquisador tem pouco ou nenhum controle”.
A coleta de dados foi feita com a aplicação do método de grupo focal.
Segundo Morgan (1997), grupos focais podem ser definidos como uma técnica de
pesquisa que tem o propósito de coletar dados através das interações grupais ao
discutir-se uma temática em especial sugerida ou abordada pelo pesquisador
(entrevistador).
Gondim (2001) destaca que a técnica de grupo focal ocupa uma posição
intermediária entre a observação participante e as entrevistas em profundidade.
Podendo a técnica ser caracterizada como um ótimo recurso para facilitar a
compreensão dos processos, na construção das percepções, atitudes e, ainda, nas
representações sociais de grupos humanos.
A noção de grupos focais está apoiada no desenvolvimento das entrevistas
grupais (Lazarsfeld, 1972). Segundo Gondim (2003) a diferença recai no papel do
entrevistador e no tipo de abordagem.
2. Resultados
2.1 Percepções a respeito da temática Projeto Político Pedagógico
O exposto pelas entrevistadas ao longo do desenvolvimento desta questão
sintetiza todo o assunto abordado diante do diálogo que fomentou o método grupo
focal. Uma vez que, de forma complementar, a discussão acerca da temática P.P.P.
desencadeou as questões posteriores.
Logo, no que se refere à compreensão das entrevistadas quando questionado
a respeito do conceito de Projeto Político Pedagógico, observa-se que a
Entrevistada A, que abre as falas do diálogo, denota uma certa confusão em relação
aos tipos de documento, plano de curso e P.P.P.:
“O Plano Político Pedagógico, plano de curso, é o ponto de partida”. (Entrevistada A).
De acordo com Gadotti (2000) (Dimensão política do projeto pedagógico da
escola, p.1), termos como plano e planejamento são frequentemente mencionados
nas escolas, porém seus conceitos não são discutidos, logo suas diferenças não
ficam claras. O que, de maneira geral, pode justificar tal desentendimento de
significados por parte dos próprios docentes.
Segundo o autor, o P.P.P. insere-se no planejamento escolar, uma vez que
implica em ações que visam o melhoramento futuro do ensino-aprendizagem. Em
suas palavras, “planejar é um processo político-pedagógico que implica diagnosticar
uma situação e tomar decisões em função de um determinado fim” Gadotti
(Dimensão política do projeto pedagógico da escola, p.1).
Ainda no âmbito da compreensão do que é o P.P.P., a entrevistada B expõe
que além da maior parte dos professores desconhecer o seu conceito e a sua
finalidade. Os pais, agentes que também deveriam participar do projeto, não sabem
das suas existência e função. O que, no final das contas, acaba por tornar o
documento do P.P.P. uma cópia de modelos prontos, em que são implantados
objetivos opostos à realidade da escola em estudo:
“[...] Por que quem elabora não sabe. Ou seja, professores, pais né, que devem estar presentes na elaboração do P.P.P. eles quase não sabem nem o que significa, e professores também não sabem. Então, assim se colocam, geralmente se pegam um modelo de P.P.P. pronto certo, como na
maioria dos casos acontece. E coloca os objetivos que as vezes não tem nada a ver com objetivos que a escola se propõe a desenvolver. Então muito certo, eu digo por que eu trabalhei o P.P.P. na outra escola que eu estava, nós trabalhamos o projeto de intervenção na outra escola. E que precisava que pais estivessem presentes também já que também devem – se constar pais na elaboração do P.P.P. da escola que na época não tinha. Os pais não sabem, a comunidade não sabe o que é, nem pra que é, nem o que deve ter ali. E a maioria dos professores também não sabe. Então eles pegam o modelo pronto de outras escolas, de outros estados, de outros lugares e simplesmente se jogam ali, e aí depois ninguém sabe o que foi colocado lá e nem também a maioria não tem interesse de procurar, de olhar o P.P.P. da escola” (Entrevistada B).
Santos (2012) desenvolveu um estudo acerca da temática P.P.P e cultura
escolar. De acordo com os resultados obtidos pelo autor, com base em entrevistas a
docentes, um dos entrevistados da pesquisa afirmou que o P.P.P deveria ser um
instrumento que integra, mas o círculo está aberto, fragmentado, não existe uma
unidade e esta falta de unidade está expressa no cotidiano escolar. Alerta que há
falta de consciência da equipe escolar do compromisso de todos para a elaboração
do PPP.” Outro docente entrevistado pelo autor supracitado relatou que: a rotina
escolar, as tarefas, os problemas pessoais e profissionais do dia a dia, tomavam
todo o tempo e o P.P.P ficava a margem, sem função. Que ela sentia-se presa,
levada pelo cotidiano sem tempo para pensar. Ainda outro docente entrevistado por
Santos (2012) ressaltou que não existe tempo para organização escolar. Que a
forma como o sistema está organizado impede uma ação coletiva e sistematizada.
Tais argumentos e resultados mostram que existe um certo comportamento
em comum no meio educacional entre as comunidades educacionais. Dessa forma,
percebe-se que, muitas vezes, os próprios docentes não fazem ideia de como
desenvolver um P.P.P ao mesmo tempo que outras atividades acabam demandando
mais tempo que normal, impedindo a construção ou desenvolvimento de um P.P.P.
Dessa forma, percebe-se que o meio educacional precisa ser repensando para os
professores possam desenvolver suas atividades de forma planejada. No entanto,
fica a dúvida, será essa falta de planejamento em função do não desenvolvimento
de um P.P.P ou de fato os professores estão sobrecarregados de funções e
atribuições o que os impede de desenvolver suas atividades rotineiras e também
necessária para a comunidade educacional?
No entanto, indo contra esse pensamento, Robaert et al. (2015) observou, em
um estudo de caso em uma escola de educação básica, que os docentes e gestores
entrevistados apresentaram um boa visão a respeito do P.P.P para uma escola, indo
contra o que vem sendo observado na presente pesquisa e por Santos (2012).
Retomando a fala da Entrevistada A quanto ao conceito do P.P.P., a mesma
menciona a “escola democrática”, ao tempo em que questiona a relação direta entre
o P.P.P. e a comunidade na qual a escola se insere:
“É o ponto de partida da escola democrática de hoje, né? Tudo funciona a partir dele, os objetivos traçados no P.P.P em prol da comunidade, né? Onde da comunidade, em mãos duplas, indo e voltando”. (Entrevistada A).
A importância da comunidade na construção do P.P.P. também é citada pela
entrevistada C, quando diz:
“Mas se fosse cobrado pra tá ali colocando em prática né, que a gente vai de acordo com a realidade. Você sabe que o P.P.P. vai de acordo com a realidade da comunidade escolar, com a comunidade de bairro, né? ” (Entrevistada C).
Para esta realidade citada pelas entrevistadas A e C, Veiga (2001, p.62 apud
Kolarik et al., 2017, p.48) indica que “o projeto político-pedagógico da escola, ao se
identificar com a comunidade local, busca alternativas que imprimam dimensão
política e social à ação pedagógica”.
Segundo Malavasi (apud Lopes, Online, 2010) a chave para a realização de
um P.P.P. autêntico e claro perante suas intenções, é a forma com que é
estruturado. É quando todos os agentes da escola, sejam eles gestores,
funcionários, pais e alunos estão inseridos na elaboração do projeto, de forma
participativa e colaborativa, de modo a terem conhecimento acerca dos objetivos da
instituição para a busca da melhoria no processo do ensino (VEIGA, 2011, p 13
apud SILVA, 2017, p.11).
O que leva a compreensão de que a essência do P.P.P. se insere em um
sistema amplo, em que o processo do ensino deve ir muito além da sala de aula. Ele
deve considerar a realidade do aluno a partir de seu ambiente familiar.
Para Gadotti (Dimensão política do projeto pedagógico da escola, p.1), o
P.P.P. “pode representar a grande oportunidade que a comunidade tem para definir
coletivamente o seu futuro”.
Contudo, para se chegar a este ideal participativo no Brasil, é preciso romper
com o modelo de gestão pública baseada no próprio cenário político do país, que se
caracteriza nos moldes da hierarquia e do poder (PARO, 1998a; LÜCK, 2006 e
CHAUÍ, 1995 em Desafios da gestão democrática na educação pública: 20 anos de
LDB/96, p.382)
Além da dificuldade existente quanto à compreensão do conceito do P.P.P.,
conferida a partir do que foi exposto pelas entrevistadas A e B. As entrevistadas
foram inserindo suas colocações perante os entraves no desenvolvimento do Projeto
Político Pedagógico, no que tange a falta de interesse imposta pelos próprios
professores em se analisar o documento. Conforme relatam as entrevistadas E, A e
C:
“Esse plano se todos desenvolvessem da forma que é para ser, todas as escolas seriam quase perfeitas, só que a gente sabe que eles vão ficando engavetados. E a cada ano a gente se depara com a escola fazendo novo plano, que não era pra ser feito um novo plano, era pra ser acrescentado neste plano é algo a mais, esse plano não é pra morrer. Ele é uma sequência, então ele tinha que ser apenas alimentado de acordo com o ano letivo, com as turmas que se vão. Mas a gente sabe que aqui em Patos cada escola constrói um no ano seguinte” (Entrevistada E).
Resultado semelhante encontrou Santos (2012) em relação ao interesse dos
professores ao entrevistar um docente. Segundo um dos professores entrevistados
pelo autor: a fragmentação da escola, onde não há espaço para o trabalho coletivo.
O PPP deveria possibilitar a organização escolar, dando unidade, mas nem é
conhecido e muito menos elaborado pelo conjunto. Salienta que em muitos
momentos não há Escola. “Pode existir unidade de ensino sem integração?”
Como bem relata o autor, que a pergunta da professora expressa uma
angústia vivida por muitos profissionais de educação. Uma insatisfação com o
modelo atual de educação e aponta que ainda há esperanças, ainda há pelo que e
“com” quem lutar.
Segundo Gadotti (2000), não se constrói um projeto sem uma direção política,
um norte, um rumo. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é também político.
O projeto pedagógico da escola é, por isso mesmo, um processo inconcluso, uma
etapa em direção a uma finalidade que permanece como horizonte da escola.
Contudo as entrevistas levantaram alguns questionamentos e afirmativas
importantes perante o comportamento dos professores e gestores da escola:
“[...] E se ele está engavetado, não é por que a gestão deixou engavetado, somos nós que no planejamento, nós não pedimos. Somos nós que no início do ano, não estamos ali pra ver as etapas que deram certo e as que nem foram tentadas. Não é culpa de gestão. É culpa de nós quanto professor que não procuramos. Até por que deva ter uma gestão ou outra que vai dizer eu não sei. Eu não vi. Mas a gente não faz a pressão. (Entrevistada A).
“No caso, se a supervisora fosse trabalhada para puxar por ele (P.P.P.), por que professor só vai quando é cobrado né? É acomodado, mas você tem que ter alguém [...]. Que puxe! Se a supervisão fosse cada planejamento ou uma vez por mês, vamos dá uma olhadinha no P.P.P. Quais foram os objetivos alcançados? Qual foi a metodologia exigida? Implantada nesse bimestre, né? Mas ali vai passando, vai amornando, amornando e no final vai ficando, vai passando um ano, dois anos”. (Entrevistada C).
Entretanto, essa iniciativa por parte da gestão, conforme comentada pela
entrevistada C é, na verdade, algo que segundo Vasconcellos (1995, p.143 apud
BRITO et al., 2017, p.453 e p.454) insere-se em um processo democrático dentro do
qual, cada indivíduo participante tem uma função. Portanto, a motivação para o
andamento do P.P.P. não é tarefa de um único agente em específico, a exemplo da
gestão, e sim, de toda a comunidade escolar inserida em um trabalho coletivo.
Já para a entrevistada D, o P.P.P. é um documento onde deveriam ser
acrescentadas novas medidas para a melhoria da educação escolar, em suas
variadas vertentes. De modo que este documento sempre estivesse sendo
renovado. Porém, de acordo com a entrevistada, muitos profissionais sequer têm
conhecimento do que está escrito nele, o deixando arquivado.
Essa renovação colocada pela entrevistada D vai de encontro ao tempo de
planejamento e reflexão indicado por Veiga (2001, p.62 apud Kolarik et al., 2017,
p.48), que equivale ao amadurecimento do conteúdo inserido no P.P.P. e sua
consequente compreensão por parte dos agentes inseridos nesse processo contínuo
de ações.
A entrevistada E ainda acrescenta:
“Eu acho que o P.P.P. começa errado desde o início do ano. Antes de começarem as aulas tem que ter montado. Por que ele devia ser montado depois que a gente conhecesse nossa clientela, depois de um mês de aula, é que deveria ser montado. Por que a gente ia conhecer a clientela e saber o que a clientela precisa” (Entrevistada E).
De acordo com o exposto pela entrevistada E, sendo o processo “alimentado
de acordo com o ano letivo, com as turmas que se vão”, as escolas seriam “quase
perfeitas”. Ou seja, se a produção do documento P.P.P. fosse sequenciada a cada
novo ano letivo, as avaliações dos anos anteriores não se encontrariam esquecidas
e poderiam estar sendo trabalhadas.
Dadas as respostas para a primeira questão do debate, pode-se perceber que
com exceção da entrevistada A, as demais participantes se detêm à forma como o
P.P.P. é ou como deveria ser conduzido, por parte da comunidade escolar.
Deixando subtendida a sua real compreensão perante o sumo conceito do Projeto
Político Pedagógico.
2.2 Quem são os agentes mais significativos no processo de elaboração do
Projeto Político Pedagógico
Nesta questão o diálogo ocorreu entre o entrevistador e as entrevistadas A e
B. Quando a entrevistada A colocou que os agentes mais importantes no processo
de elaboração do P.P.P. são o docente e a comunidade.
No entanto, mais uma vez a questão referente a ausência dos pais na vida
escolar do aluno foi coloca em chegue. O que remete mais uma vez à necessidade
do P.P.P. ser desenvolvido dentro da realidade da comunidade onde se insere e a
importância da escola na vida do aluno, como meio de mudança social.
Partindo do que diz Veiga (2002) ao abordar a construção do P.P.P. através
“dos princípios de igualdade, qualidade, liberdade, gestão democrática e valorização
do magistério”. Este último é caracterizado por Sacristan (2001, p.58 e 59) como um
trabalho de humanização.
Estando a escola na condição de instituição social, como já mencionado no
texto, e sendo o professor, o principal agente junto à comunidade, conforme
sugerem as entrevistadas. Entende-se que o papel desse docente na vida do aluno,
que não tem apoio familiar, vai além da função de educador. Se tornando o próprio
orientador na busca pelo crescimento pessoal e social desse aluno enquanto
cidadão.
2.3 Como o Projeto Político Pedagógico contribui com o trabalho da gestão
escolar
Com base nos comentários das entrevistadas, entende-se que a gestão tem a
função de garantir que todo o processo que envolve a escola funcione e que o
resultado disso seja o rendimento escolar do aluno, refletido em sua aprovação.
A partir do exposto pela entrevistada C quando esta fala:
“Por que no caso da gestão é o que? É o desenvolvimento da escola. O que a comunidade escolar pode retribuir pra gente? A aprendizagem, a aprovação do aluno né?” (Entrevistada C).
Visando um pouco diferente da encontrar por Robaert et al. (2015) em um
estudo de caso em uma escola de educação básica. Os autores questionaram a
sobre a importância do PPP para a gestão Escolar, os Gestores colocaram que “o
PPP é a expressão da comunidade escolar e é fundamental, pois a Escola é um
contexto que tem que ser projetado […] quando você faz coisas pensadas, a
tendência é surtir um efeito bem mais interessante” (GESTOR 1). O Gestor 2 teve
um entendimento semelhante acerca do PPP, no sentido de que ele é “fundamental
para a Escola pois nele está a Escola que temos, nossos desejos e nossas
propostas para avançar”.
Desse modo, percebe-se que existe uma divergência no entendimento da
importância do P.P.P quando comparando a visão da Entrevista C com os
resultados observados por Robaert et al. (2015). Pois o P.P.P tem uma importância
aquém de apenas aprovar o aluno. Lembrando que o aluno é quem se aprova, à
medida que estuda para os simulados, provas e desenvolvendo as atividades que o
docente passa em sala de aula.
Percebe-se também, quase como unanimidade pelos entrevistadas, que a
aprendizagem é tida como uma maior importância em relação as metas e objetivos
de um P.P.P.Logo, a melhoria na qualidade do ensino, que abrange a aprendizagem
do aluno, é para Gadotti (1994, p. 579 apud VEIGA, 2011, p. 12 em Silva, 2017) o
princípio norteador do P.P.P.
Visto que as entrevistadas têm consciência que o fator de maior importância
no processo educativo é a aprendizagem e que este é o foco do P.P.P. E ainda que
parte dos alunos não possuam apoio de suas famílias. Existe um outro lado que vai
estar disposto a conhecer a vida escolar do seu filho e que, se convidado, irá
contribuir com o desenvolvimento do P.P.P. Tal como expõe a entrevistada B:
Tal como expõe a entrevistada A:
“Com o P.P.P. pode conseguir até apoio dento da comunidade, por que a comunidade sempre tem o que oferecer”. Por que quem coloca o filho dentro da escola, coloca justamente pra isso. Pra o filho aprender é quando a escola oferece não oportunidades de aprendizagem, não só aquela tradicional do quadro. O objetivo é mais fácil de ser alcançado” (Entrevistada A).
Logo as entrevistadas passam a dialogar sobre a forma com que o P.P.P.
pode ser desenvolvido, indicando alterações em relação a construção do P.P.P. A
entrevistada E sugere: que P.P.P. tem que ser planejado após um mês de aula. Para
que a professora conheça melhor os seus alunos e um pouco da comunidade.
Já a entrevistada A ressalta uma característica do P.P.P:
“E ele é flexível. Por que no momento que a gente está conversando aqui vem uma ideia, mas quando a gente começa a desenvolver esta ideia sujem outros, outros vem que direcionam” (Entrevistada A).
Porém, a entrevistada E faz uma observação importante quanto à posição dos
docentes perante esse processo:
“Olha, nós sabemos que é flexível, mas quantas vezes durante o ano a gente pega e diz: vamos mudar esta meta? Vamos mudar este projeto? Acho que aquele outro fica melhor. A gente sabe o que é pra fazer” (Entrevistada E).
Logo, a entrevistada A confirma:
“A gente não vivencia o P.P.P. na verdade” (Entrevistada A).
E a entrevistada E finaliza o diálogo desta questão reafirmando a condição de
documento “arquivado”, citada no início do debate, na qual se encontra o Projeto
Político Pedagógico da escola e a necessidade, também segundo as entrevistadas,
de se ter um gestor que as direcione na execução desse processo.
2.4 Que mudanças o Projeto Político Pedagógico pode provocar na
comunidade escolar
Sabendo que o Projeto Político Pedagógico é um processo que deve ser
“elaborado participativa e democraticamente” (VEIGA, 2005, p. 100 apud Kolarik, et
al., p.50) e observando o apresentado pelas entrevistadas na atual questão. Tem-se
que, o P.P.P. ao ser colocado em prática de acordo com suas premissas é, de fato,
um importante instrumento de transformação dentro da comunidade escolar.
As entrevistadas D e B ressaltam a importância do trabalho colaborativo entre
os participantes desse processo. No entanto, a entrevistada A questiona a falta de
continuidade desse P.P.P. à medida em que surge um novo ano letivo e novos
profissionais passam a fazer parte da equipe escolar. A entrevista chama atenção
para a questão referente a rotatividade dos professores, ou seja, a cada ano existe
uma equipe diferente de professores, o que pode corroborar para o não
desenvolvimento e aplicação do P.P.P.
E a partir do levantado pela entrevistada A, tem-se que o P.P.P. de acordo
com Marques (1990, p. 23 apud Veiga, 2002, p.2) deve ser conduzido como “um
processo permanente de reflexão e discussão”, com a presença de todos os agentes
componentes da comunidade escolar. Assim como, coloca a entrevistada E sobre o
P.P.P., em resposta a primeira questão abordada nesse diálogo, que o plano nunca
deveria ser totalmente novo, deveria ser analisado e acrescentando melhorias ao
plano já existe, deveria ser um contínuo, ano após ano.
3. CONCLUSÃO
A partir do observado ao longo de todo o trabalho, substancialmente no que
tange a análise do método grupo focal, é possível perceber que, em termos gerais, o
conceito do Projeto Político Pedagógico é compreendido perante as docentes
entrevistadas. Porém, é perceptível que a escola em questão não desenvolve o seu
Projeto Político Pedagógico.
O termo gestão democrática, também parece ser pouco discutido e efetivado
no cotidiano da instituição. Foi observado o entendimento por parte dos docentes
sobre o temática gestão. Contudo, uma vez que o P.P.P não é colocado em prática,
o termo gestão democrática não passa de um mera formalização de conhecimento
por parte dos entrevistados. Esta realidade parece se repetir ao longo de todo o
território brasileiro. E caracteriza-se numa forma de gestão centralizadora e
detentora do poder de decisões. O que só vem a dificultar a realização do Projeto
Político Pedagógico no cotidiano das escolas públicas do país.
Com isso, percebe-se a necessidade urgente da queda desse sistema
hierárquico, de modo que os problemas venham a ser discutidos uniformemente
pelos agentes que compõe a escola, ou seja, gestão, professores, pais e alunos.
Tendo em vista as visões relatadas das entrevistadas em relação ao que pode ser
melhorado em relação a construção de um P.P.P.
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