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Desafios do desenvolvimento da cadeia de valor das matérias-primas para melhorar a competitividade dos produtos agrícolas em África
Documento de Referência Preparado para a
2ª Conferência do CTE sobre Agricultura, Desenvolvimento Rural, Água e Ambiente
2-6 de Outubro de 2017 Adis Abeba, Etiópia
UNIÃO AFRICANA
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1.0: Introdução
A Declaração de Arusha de 2005 sobre as matérias-primas Africanas enuncia claramente que o
desenvolvimento do sector das matérias-primas é um pré-requisito para se alcançar os objectivos de
desenvolvimento. A declaração realça os papéis significativos que a produção e o comércio de
matérias-primas desempenham na geração de receitas e de emprego, na criação da riqueza e a sua
contribuição directa para as receitas das exportações. Tendo em conta que a economia da maior parte
dos países Africanos é dependente das matérias-primas, torna-se impossível acelerar a melhoria dos
meios de subsistência e o desenvolvimento económico, eliminar a pobreza e a fome e atingir o
desenvolvimento sustentável sem o desenvolvimento da cadeia de valor das matérias-primas.
A economia Africana é essencialmente agrária. Esta vantagem comparativa apresenta uma grande
oportunidade para impulsionar a vantagem competitiva de África na produção e comércio de
matérias-primas agrícolas. Os compromissos de Malabo de 2014, que definiram o futuro imediato
das economias Africanas em torno da agricultura também articulam os papéis fundamentais do
desenvolvimento das cadeias de valor das matérias-primas agrícolas como instrumento para triplicar
o comércio intra-Africano.
Provas emergentes mostram que deficientes cadeias de valor de matérias-primas associadas a uma
série de constrangimentos relacionados com infra-estruturas e políticas estão a travar as
capacidades dos países Africanos no sentido de impulsionarem a competitividade das matérias-
primas. O desenvolvimento das cadeias de valor das matérias-primas, que é o produto da análise da
cadeia de valor, ajuda a situar o sistema de mercado de matérias-primas em termos da melhoria da
sua competitividade, eficiência e fiabilidade. A análise envolve a identificação dos intervenientes e
actividades que aumentam os custos de transação em toda a cadeia e limitam a eficiência. No quadro
da sua acção de apoio na promoção de cadeias de valor de matérias-primas agrícolas estratégicas na
zona semi-árida, o SAFGRAD-UA encomendou dois estudos - o da região da IGAD (2014) e o da zona
Saelo-saariana (2015) - para identificar os desafios ligados ao desenvolvimento das cadeias de valor
visando melhorar a sua competitividade. Enquanto o estudo da IGAD focou nas cadeias de valor do
sésamo e do sorgo utilizando dados administrativos, o estudo da zona sahelo-saariana investigou as
cadeias de valor do milho e do sorgo utilizando dados de inquéritos no terreno gerados a partir dos
principais agentes que intervêm na cadeia de valor das matérias-primas.
.
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A avaliação das actividades dos principais intervenientes através da utilização da análise FOFA
(SWOT) revela os resultados específicos dos países, que são fundamentais para iniciar o
desenvolvimento de cadeias de valor através da redução de custos de transação e da produção de
produtos competitivos. As actividades de produção, comercialização (a grosso e a retalho) e de
transformação foram analisadas com referência à sua competitividade e eficiência.
2.0: Principais conclusões
A. Gerais:
O estudo encontra muitas semelhanças na estrutura, comportamento e desempenho das
actividades da cadeia de matérias-primas nos países e nas zonas. Especificamente:
1. Os agentes da cadeia incluem fornecedores de meios de produção, agricultores, colectores,
grossistas, exportadores, transformadores (empresas de moagem) e retalhistas.
2. A produção de cereais foi feita principalmente nas explorações agrícolas de sequeiro; as
explorações cultivadas são pequenas (< 2 ha/família) e dispersas, com pouca ou nenhuma
utilização de factores de produção comprados. Em grande parte, a produção do sorgo e do
sésamo foi considerada para satisfazer as necessidades das famílias (67% e 74% da produção
total consumida pelas famílias das zonas da IGAD e Saelo-saariana respectivamente).
3. Baixos níveis de rendimento de sorgo e sésamo por hectare e perto da média da ASS (720kg).
Contudo, os níveis de rendimento do milho no Burkina Faso (1,79tons) e no Mali (1,9tons)
foram mais elevados que a média da ASS (1,14tons).
B. Vantagens do crescimento das cadeias de valor de matérias-primas:
1. Condições climáticas favoráveis;
2. Grandes oportunidades para aumentar o rendimento através da intensificação da produção;
disponibilidade de apoio técnico e institucional;
3. Grupo maciço de famílias agrícolas envolvidas na produção e adição de valor;
4. Oportunidades de adição de valor considerando a vasta gama de variedades de preparação e
aplicação;
5. Grandes oportunidades de mercado (procura por parte das famílias e a nível industrial) na
região.
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Fonte: dados brutos FAOSTAT (2013)
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Fig.1: Produção de sorgo em países seleccionados na região IGAD (2013)
SudãoEtiopiaEritreia QueniaSomália
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Fig. 2: Produção de sésamo em países seleccionados da região IGAD (2013)
EtiopiaSomáliaSésamo
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Sudão
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kg)
Fig3: Produção e rendimento do milho em países seleccionados na zona.Chade
Produção de Milho (kg) Rendimento de Milho (kg/ha)
1940000
745000 819606
1287000
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Fig4: Produção e rendimento de sorgo nos países seleccionados
SudãoChade
Produção de Sorgo Rendimento de Sorgo (kg/ha)
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C. Fontes de ineficiências nas cadeias de valor de matérias-primas:
A nível nacional
1. Falta de padronização,
2. Fraca qualidade das colheitas,
3. Ausência de serviços de apoio ao mercado,
4. Deficientes infra-estruturas rodoviárias, e
5. Práticas desonestas da parte dos agentes das autoridades públicas de comercialização.
Entre os países
6. Barreiras não-tarifárias provocadas por documentação excessiva, e
7. Atrasos resultantes dos excessos dos agentes nas fronteiras terrestres (fitossanitários e de
certificação), e
8. Custos elevados de transporte.
D. Áreas prioritárias de intervenção para o desenvolvimento da cadeia
O estudo identifica as principais áreas prioritárias de intervenção para acelerar o
desenvolvimento da cadeia nos países. As áreas prioritárias sugerem os tópicos específicos
que irão acelerar o desenvolvimento das cadeias de valor aos níveis nacional e regional. As
figuras 5 e 6 mostram as áreas mais importantes de intervenção específicas dos países
(produção agrícola, comercialização e transformação). A altura de cada coluna significa a sua
relativa importância na aceleração do desenvolvimento da cadeia nos respectivos países. Por
exemplo, para além de incentivar actividades de transformação, o desenvolvimento de infra-
estruturas de mercado e outras medidas de redução dos custos de comercialização
contribuirão para reduzir os custos de transação do sorgo e apresentar produtos
competitivos.
E. Resumo dos desafios do desenvolvimento a partir das actividades dos agentes da cadeia
O Quadro 1 é um resumo dos principais desafios do desenvolvimento das cadeias de valor
identificados a partir do estudo. Ao nível do agricultor, os constrangimentos recorrentes são
a falta de acesso a sementes melhoradas e fertilizantes químicos. Ao nível da recolha e da
venda a grosso, os elevados custos de transporte e a falta de acesso a boas estruturas de
armazenamento (que resultam em elevadas perdas de qualidade e quantidade) bem como a
volatilidade foram consideradas como causas significativas dos elevados custos de transação.
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As actividades de processamento, especialmente ao nível industrial, foram em grande parte
afectadas pelos elevados custos do processamento, a instabilidade dos preços resultantes do
irregular abastecimento de cereais e a feroz concorrência com os produtos importados
acabados e mais baratos.
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Burkina faso Chad Mali Niger Sudan
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Fig 5: Áreas prioritárias de intervenção para o desenvolvimento da cadeia de valor do sorgo
Produção Agrícola Comercialização Processamento
SudãoChade
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Fig 6: Áreas prioritárias de intervenção para o desenvolvimento da cadeia de valor do milho
Produção Agrícola Comercialização Processamento
Chade
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Quadro 1: Resumo dos desafios do desenvolvimento a partir das actividades dos agentes da
cadeia
Actividade da
cadeia
Desafios
Produção Falta de acesso (disponibilidade e viabilidade dos preços) a sementes melhoradas e
fertilizantes; irregularidade das chuvas
Colheita Falta de medida-padrão, fraca qualidade dos produtos, ausência de estruturas de
armazenamento e acesso ao crédito, elevados custos de transporte
Venda a grosso Estruturas de armazenamento e acesso ao crédito, falta de medida-padrão, fraca
qualidade dos produtos, ausência de estruturas de armazenamento e acesso ao crédito
Processamento Grande variabilidade na qualidade e preço oferecidos, elevados custos de energia,
custo elevado da reparação e manutenção das instalações, disponibilidade de produtos
importados baratos.
Retalho Grande variabilidade de qualidade e de preços e acesso ao crédito
Fonte: Estudo UA-SAFGRAD (2016)
3.0: Recomendações
São apresentadas as seguintes recomendações com base nas conclusões dos estudos:
Os Estados-membros (EM) devem:
1. Promover políticas anti-dumping para incentivar e proteger os investimentos em toda a
cadeia de valor;
2. Incentivar regimes de apoio às empresas para atrair investidores;
3. Abrir e desenvolver estradas secundárias e infra-estruturas de mercado;
4. Facilitar o acesso a meios de produção e equipamento a preços razoáveis; e
5. Promover o desenvolvimento de informação sobre mercados funcionais e estruturados.
Aos níveis regional e continental
6. As CERs devem facilitar a regularização das normas comerciais;
7. As CERs devem dar prioridade às matérias-primas estratégicas regionais sobre as quais
devem concentrar esforços de desenvolvimento das cadeias de valor para melhorar as
vantagens competitivas regionais;
8. As CERs, em colaboração com a CUA, devem harmonizar as certificações, documentos e
licenças dos postos fronteiriços para facilitar o comércio intra-africano de matérias-primas;
e
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9. As CERs, em colaboração com a CUA, devem organizar comités regionais de matérias-primas
estratégicas (CRME). O Comité traçará o roteiro para o desenvolvimento de cadeias de valor
que são consideradas fundamentais para garantir a segurança alimentar e impulsionar o
comércio intra-africano.