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  • 7/22/2019 Desafios Ambientais Da Economia IPEA

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    TEXTO PARA DISCUSSO N 509

    DESAFIOS AMBIENTAIS DA ECONOMIABRASILEIRA

    Ronaldo Seroa da Motta*

    Rio de Janeiro, agosto de 1997

    *

    Coordenador de Estudos do Meio Ambiente da Diretoria de Pesquisa do IPEA eProfessor da Universidade Santa rsula.

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    O IPEA uma fundao pblicavinculada ao Ministrio doPlanejamento e Oramento, cujasfinalidades so: auxiliar o ministro naelaborao e no acompanhamento dapoltica econmica e prover atividadesde pesquisa econmica aplicada nasreas fiscal, financeira, externa e dedesenvolvimento setorial.

    PresidenteFernando Rezende

    DiretoriaClaudio Monteiro ConsideraLus Fernando TironiGustavo Maia GomesMariano de Matos MacedoLuiz Antonio de Souza CordeiroMurilo Lbo

    TEXTO PARA DISCUSSOtem o objetivo de divulgar resultadosde estudos desenvolvidos direta ou indiretamente pelo IPEA,bem como trabalhos considerados de relevncia para disseminaopelo Instituto, para informar profissionais especializados ecolher sugestes.

    ISSN 1415-4765

    SERVIO EDITORIAL

    Rio de Janeiro RJAv. Presidente Antnio Carlos, 51 14 andar CEP 20020-010Telefax: (021) 220-5533E-mail: [email protected]

    Braslia DFSBS Q. 1 Bl. J, Ed. BNDES 10 andar CEP 70076-900Telefax: (061) 315-5314E-mail: [email protected]

    IPEA, 1998 permitida a reproduo deste texto, desde que obrigatoriamente citada a fonte.Reprodues para fins comerciais so rigorosamente proibidas.

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    SUMRIO

    RESUMO

    ABSTRACT

    1 - INTRODUO......................................................................................1

    2 - A QUESTO AMBIENTAL NO FIM DO SCULO ................................2

    3 - DESAFIOS AMBIENTAIS DA ECONOMIA BRASILEIRA.....................8

    4 - APERFEIOANDO A GESTO AMBIENTAL BRASILEIRA ..............17

    BIBLIOGRAFIA ........................................................................................22

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    RESUMO

    Este texto procura situar o leitor para as questes de cunho ecolgico quemerecem ser refletidas e analisa as implicaes destas em dois objetivos nacionaisfundamentais cuja consecuo mandatria para o Brasil no Sculo 21: a inseroqualitativa do pas na economia globalizante e a eliminao das agudasdisparidades sociais. Ao final esboa algumas recomendaes de poltica deplanejamento que podero contribuir para a consecuo destes objetivos. Comisso tenta modificar o juzo convencional prevalecente de que meio ambiente uma restrio ou um problema para um outro no qual a preservao ambiental

    planejada e ajustada nossa realidade econmica e social uma soluo e umafonte de benefcios.

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    ABSTRACT

    This text is an attempt to draw attention to the current and future ecologicalchallenges and their implications on the main mandatory national objectives ofBrazil in the next century: the countrys insertion into the global market and theelimination of the acute social disparities in the Brazilian society. Somerecommendations contributing to that by correcting evironmental policies are thenpresented. In doing so, current conventional wisdom on the ecological challengesmay change from the perception of a problem to other in which environmentalmanagement adjusted to social and economic realities can be a solution and a

    source of welfare.

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    1 - INTRODUO

    A questo ambiental, hoje, encontra-se incorporada na agenda dos partidospolticos, nos programas de governo, no cerne das organizaes populares e no

    planejamento empresarial. Ser ecologicamente correto j um requisito desocializao e uma postura dita moderna.

    Entretanto, o equacionamento dos problemas ambientais no trivial e requer umaanlise mais profunda e abrangente das relaes entre as atividades econmicas ea base natural que estas exploram.

    Em que pesem as dimenses culturais e histricas, os aspectos econmicos esociais que essas relaes refletem, nos remetem, por si ss, a inmeras questesque se tornam desafios para o desenvolvimento de uma economia.

    O primeiro requisito para avaliar a importncia destes desafios reconhecer queos problemas ambientais existem e guardam uma relao direta com o nvel e aqualidade do desenvolvimento econmico. O requisito seguinte seria o de avaliaras magnitudes dessas relaes considerando o seu grau de acuracidade e incerteza.

    Por ltimo, identificar polticas e instrumentos que poderiam ser engendrados emotivados no planejamento governamental que, em conjunto com outrasiniciativas da sociedade civil e da rea empresarial, pudessem reverter tendnciasambientais restritivas melhoria do bem-estar da populao brasileira eharmoniz-las num contexto de desenvolvimento sustentvel.

    O objetivo inicial deste texto o de realizar esta seqncia de indagaes.Certamente o far de forma parcial. Todavia, o objetivo maior ser o de contribuirpara o debate sobre os principais desafios ambientais da economia brasileira eatrair a ateno dos planejadores ambientais e econmicos para a necessidade dedividirem sua rea de conhecimento e reconhecerem a importncia estratgica deatuarem em conjunto no desenho da sociedade brasileira do prximo sculo.

    O momento inevitavelmente de harmonizao, pois, a contradio entre meioambiente e crescimento econmico somente persistir por ausncia de

    (re)conhecimento e vontade poltica.Este documento foi assim estruturado. De forma a situar o leitor para as questesde cunho ecolgico que merecem ser refletidas, a Seo 2 procura identificar aquesto ambiental que predominar no fim do sculo e que ditar a agendaambiental mundial no incio do novo milnio.

    A Seo 3 analisa as implicaes destas questes em dois objetivos nacionaisfundamentais cuja consecuo mandatria para um novo Brasil no sculo 21: ainsero qualitativa do pas na economia globalizante e a eliminao das agudasdisparidades sociais.

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    A Seo 4 finalmente esboa algumas recomendaes de poltica de planejamentoque podero contribuir para a consecuo destes objetivos. Com isso tentamodificar o juzo convencional prevalecente, de que meio ambiente umarestrio ou um problema, para um outro no qual a preservao ambiental

    planejada e ajustada nossa realidade econmica e social uma soluo e umafonte de benefcios.

    2 - A QUESTO AMBIENTAL NO FIM DO SCULO

    Algumas estimativas indicam [ver, por exemplo, Vitousek et alii (1986)] queatualmente 40% da produo lquida primria terrestre da biosfera, em termos deapropriao de recursos naturais e energia, j est comprometida para consumohumano. Esta magnitude, mesmo considerando possveis vieses para cima nestas

    estimativas, oferece uma dimenso da escala da presena das atividades humanasno planeta. Tal escala aponta limites bastante restritos ao crescimento e ao mesmotempo requer exigncias bastante severas ao avano tecnolgico que atenuemestas restries.

    Todavia, esses limites devem ser colocados em perspectiva quanto aos seusaspectos econmicos e distributivos e s suas possveis conseqncias em termosde planejamento. Para tal, vale inicialmente discutir o conceito de sustentabilidadee suas implicaes econmicas.

    A sustentabilidade do desenvolvimento

    O conceito de desenvolvimento sustentvel surge formalmente no bojo doRelatrio Bruntland [WCED (1987)].1 Este documento, realizado pela ComissoMundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naes Unidas, introduzdefinitivamente a idia de que o desenvolvimento econmico de hoje deve serealizar sem comprometer o desenvolvimento econmico das geraes futuras.Isto , o desenvolvimento deve ser sustentvel. Conforme ser discutido a seguir,o que pode parecer um conceito redundante ou pouco original, na verdade, traduzuma nova qualificao para os esforos de desenvolvimento com significativasimplicaes econmicas e polticas.

    A causa ambiental dos anos 80 e 90 atravessa fronteiras. A questo principal agorano se restringe qualidade ambiental de um territrio. Alis, esta perde nfaseem favor das questes ditas globais. Conforme esclarece o subttulo do RelatrioBruntland, trata-se agora do nosso futuro comum.

    A cerimnia de consagrao poltica deste novo conceito de desenvolvimento eproblematizao ambiental foi a Conferncia Mundial sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento realizada no Brasil em 1992 Rio-92 sob os auspcios das

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    A idia de compatibilizar crescimento econmico e natureza no recente, mas, no RelatrioBruntland que os aspectos econmicos e sociais participam das proposies.

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    Naes Unidas. Desde ento, a idia de desenvolvimento sustentvel torna-separte oficial das agendas nacionais e internacionais atravs de diversas convenese acordos. O documento mais importante gerado no bojo da Rio-92 a Agenda21, que determina as bases cientficas e polticas para cada pas e o planeta

    trilharem o caminho do desenvolvimento sustentvel e estabelece osmandamentos desta nova concepo de harmonia entre crescimento e natureza.

    Estes documentos internacionais so apenas os primeiros passos destas iniciativasde harmonizao internacional na direo da sustentabilidade. A busca deconsenso devido necessidade de cooperao transformam estes documentos emdiploma de princpios gerais dos quais outras iniciativas devem suceder. Todavia,a dimenso internacional destes diplomas, e conseqentemente suas questesdiplomticas e de soberania, colocam-nos como referenciais de ao interna epresso externa. plausvel afirmar que sustentabilidade o novo contexto de

    disputa ideolgica no cenrio internacional.No se pretende aqui apresentar uma anlise destes documentos. Mas, o leitorpoder estar certo de que alm das questes ambientais especficas e restritas daeconomia brasileira, outras formas de politizao internacional das questesambientais estaro presentes no prximo sculo. Aqui trataremos, sempre quepossvel, dos condicionantes econmicos das atuais questes, evitando qualquertentativa de anlise poltica destes condicionantes.

    Definindo sustentabilidade

    De forma bastante simplificada, a novidade desta abordagem do desenvolvimentosustentvel reside na insero da dimenso ambiental nos modelos de crescimentoeconmico.

    A sustentabilidade do crescimento econmico sempre foi a questo central dosmodelos de desenvolvimento. Entretanto, os modelos de desenvolvimentoadotados pelos pases nos ltimos cinqenta anos da era do planejamento e dainterveno governamental, excepcionalmente referiam-se s questes ambientaiscomo uma restrio. A base natural das economias em planejamento eraconsiderada como infinita, isto , como um fator de capital sem restries de

    escassez.No obstante esta base natural estar intrinsecamente associada s vantagenscomparativas ensejadas por estas economias na sua insero internacional ealtamente associada s atividades de subsistncia das camadas mais pobres dapopulao, geralmente majoritrias nos pases em desenvolvimento, na literaturasobre desenvolvimento econmico poucas so as referncias s questesambientais. Apesar da finitude destes recursos colocar um impedimento natrajetria de desenvolvimento adotada e gerar problemas sociais significativos, apercepo de escassez no existia na concepo destes modelos.2

    2Ver, por exemplo, Dasgupta e Maller (1996) para uma anlise sobre esta lacuna na literatura.

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    O conceito de desenvolvimento sustentvel embora possa ter inmeras descriese sua utilizao nos meios de comunicao geralmente ocorrer em contextosvagos, possvel ser discutido objetivamente da mesma forma que se discute asustentabilidade do crescimento econmico quando se considera a importncia de

    manterem-se no-declinantes os valores dos ativos de uma economia. Isto , asustentabilidade de uma economia ocorre na medida em que o seu estoque decapital, que define o fluxo de bens e servios futuros, seja mantido pelo menosconstante.

    A questo atual da sustentabilidade apenas introduz a necessidade de tratar-se ocapital natural diferenciadamente do capital material. Uma diferenciao comsemelhante corte terico e metodolgico ao daquela que introduziu a teoria docapital humano e tecnolgico nestes mesmos modelos.

    Entretanto, enquanto as formas de capital material podem ser reproduzidas viacrescimento do produto, o capital natural tende a decrescer e impor restries aocrescimento futuro criando conseqentemente condies de no-sustentabilidadeao crescimento ou ao bem-estar de geraes futuras.

    Os modelos de crescimento econmico desenvolvidos na dcada de 70, queanalisavam a otimizao intertemporal do uso dos recursos naturais [ver Hartwick(1977), Solow (1978) e Dasgupta e Heal (1979)] na produo, tambm dependiamde hipteses pouco realistas sobre a essencialidade dos recursos e seus impactosno nvel de crescimento da economia.

    De acordo com Perringset alii (1995), a essencialidade dos recursos ambientaispode ser analisada pelo grau de complementaridade e de substituio entre ocapital natural e o capital material dentro das possibilidades de produo econsumo de uma economia. Isto , a elasticidade de substituio entre estes doistipos de capital que define este grau de essencialidade. Quanto maior aelasticidade de substituio, menos essencial ser o recurso.

    Nestes modelos assume-se que esta elasticidade de substituio maior ou igual aum. Ou seja, o nvel do estoque de capital natural poder ser reduzido desde que aeconomia consiga realizar os investimentos compensatrios em capital material.

    Esta seria a conhecida regra de Solow-Hartwich, na qual a sustentabilidade deuma economia seria determinada pela capacidade de evitar que a receita gerada naexplorao do recurso natural seja transformada em consumo presente. Para tal,bastaria reinvestir parte desta renda gerada com a explorao de recursos naturaisna formao de capital, seja material ou natural, equivalente ao consumo decapital natural.

    O importante para a maximizao do bem-estar, de acordo com estes modelos, manter o estoque total de capital constante ao longo do tempo.3 Assim, as3No cabe aqui discutir as outras hipteses restritivas, tais como: valorao de capital no tempo e

    constncia da taxa de desconto no tempo.

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    questes ambientais no so consideradas como relevantes ou restritivas aocrescimento. O que importa a capacidade poltica de imobilizar parte dosingressos resultantes da explorao destes recursos naturais.

    Obviamente esta abordagem, por vezes rotulada na literatura como neoclssica,carece de realismo sobre a produtividade dos sistemas naturais. A capacidade degerao de servios dos ecossistemas depende da manuteno de certoscomponentes ecossistmicos, tais como, populao e cadeia alimentar, dentro delimites especficos. Uma vez vencidos estes limites o sistema poder entrar emcolapso e sua produtividade torna-se nula. A definio destes limites identifica oslimites do crescimento e, portanto, determina a trajetria de sustentabilidade deuma economia.

    Assim, prudente identificar quais os nveis mnimos de segurana ou a

    capacidade de suporte dos recursos naturais que esto sendo apropriados nagerao de renda.

    Desta forma, podemos definir o capital natural crtico como aquele em que o nvelde consumo j excede sua capacidade de suporte e, portanto, sua produtividadetende a zero. Nestes casos, a elasticidade de substituio menor que um e aspossibilidades de substituio entre capital natural e material tendem a reduzir-sequando o produto cresce.

    Nesses casos crticos, um nvel de estoque de capital natural declinante representauma trajetria de no-sustentabilidade e perdas de bem-estar devem ser

    consideradas. Logo o consumo deste capital tem que ser negativo, isto , deve serapreciado e no depreciado.

    O capital natural no-crtico seria, ento, aquele no qual o nvel de estoque aindano atingiu sua capacidade de suporte. Entretanto, isto no significa que estecapital no apresente um nvel mnimo de segurana abaixo do qual ele se tornacrtico. Entretanto, o consumo deste capital pode ser compensado porinvestimentos em capital material sem perdas de bem-estar.

    O quadro a seguir resume formalmente as implicaes desta taxonomia em termos

    de hipteses de sustentabilidade.A hiptese de sustentabilidade muito fraca, crescimento econmico semrestries ambientais, assume que as possibilidades de substituio soinesgotveis desde que o estoque total da economia no decline.

    No outro extremo, a hiptese de sustentabilidade forte, crescimento zero,assume que no h mais possibilidades de substituio, pois todas as formas decapital natural so crticas e no se admite qualquer consumo de capital natural.

    Intermediariamente estaria a hiptese de sustentabilidade fraca, que distingue as

    formas crticas e no-crticas de capital natural e determina tratamentos

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    diferenciados de acordo com o nvel crtico de estoque identificado. Admitetambm o progresso tcnico como agente de sustentabilidade caso este amenize oaumento total de consumo.

    Taxonomia da Sustentabilidade

    Hiptese desustentabilidade

    Capital natural no-crtico Capital natural crtico

    muito fraca e 1 I/Y - K/Y >0 substituio perfeita entre KNe KMCrescimento econmico

    fraca 0 < e < 1 I/Y - m/Y-n/Y > 0t>h e n>Z

    t>h; n*>Z e n*0

    forte e = 0 Crescimento zero n0 e n*0

    Fonte: Com base em Turner (1992).Notas:Y = renda nacionalKN= capital naturalKM = capital materiale = elasticidade de substituio entre KNe KM.I = nvel de investimento.m = depreciao do capital material.n = depreciao do capital natural.t = taxa de progresso tcnicoh = taxa de crescimento do consumon*= estoque de capital natural crticon = estoque de capital natural no-crticoZ = limite mnimo de estoque (padro mnimo de garatia da funo ecossistmica)

    Embora esta taxonomia permita esclarecer e qualificar os conflitos tericos entrecrescimento e natureza, as questes prticas de identificao da criticidade de cadatipo de capital e as formas de interveno adequadas para garantir sustentabilidaderefletem uma complexidade maior, a qual tentaremos abordar sob alguns aspectos.

    Os aspectos econmicos das questes ambientais

    Se podemos identificar a necessidade de controle ambiental para garantir amaximizao do bem-estar, por que as polticas de crescimento econmico noincorporam estes condicionantes desde sua gnese? Ou melhor, por que o prpriosistema econmico naturalmente no otimiza os usos dos recursos naturais?

    De acordo com a teoria econmica, o uso de recursos naturais quase sempre geraeconomias externas negativas no sistema econmico. Estas externalidadesnegativas no so captadas no sistema de preos na medida em que os direitos de

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    propriedade do uso destes recursos no so completos (atenuados) devido dificuldade tcnica ou cultural de fixar direitos exclusivos e rivais de uso. Sendoassim, no possvel estabelecer relaes de troca entre estes direitos quegarantam o uso timo dos recursos.

    Nestes casos o valor econmico do recurso realizado no mercado geralmenterepresenta uma subestimativa do seu custo de oportunidade social e, portanto, seuuso introduz ineficincia no sistema.

    Embora a internalizao das externalidades ambientais aumente a eficincia dosistema, estes ganhos so percebidos diferentemente pelos agentes econmicos eso dispersos no tempo. Ou seja, afetam a distribuio intra e intertemporal darenda.

    A teoria econmica prope que, para corrigir esta falha de mercado, sejam estesdireitos de uso definidos de tal forma que a troca deles via mercado estabelea umpreo de equilbrio que represente o custo social destes recursos.

    Esta possibilidade de corrigir externalidades, por intermdio da definio dedireitos de uso, quase sempre ineficiente frente aos elevados custos de transaopara estabelecer um regime de troca devido ao carter difuso das externalidadesambientais, que geralmente envolvem inmeras partes as que geramdegradao e as que so impactadas por esta degradao.

    A opo clssica, ento, indica a necessidade de se utilizarem instrumentos

    econmicos (mecanismos de mercado via taxao) que sinalizem preos quereflitam o custo de oportunidade social do recurso. Ou seja, que se internalizem opreo correto do recurso no sistema econmico.

    Uma vez utilizando preos corretos para os recursos naturais, estas externalidadesseriam corrigidas aumentando o grau de eficincia do sistema. Desta forma,intervir na economia para ajustar o padro e nvel de uso dos recursos naturais fazsentido econmico.

    As perdas de bem-estar por conta da reduo do produto econmico decorrentes

    deste processo de internalizao seriam compensadas pelo ganho de bem-estaradvindos da melhoria ambiental,4conforme discutido na seo anterior.

    Logo, introduzir os custos ambientais nas atividades de produo e consumoaumenta a eficincia do sistema ao invs de reduzi-la, como primeira vistapoder-se-ia concluir.

    4 Isto , na margem o preo do produto seria dado pelo seu custo marginal privado mais custo

    ambiental marginal.

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    3 - DESAFIOS AMBIENTAIS DA ECONOMIA BRASILEIRA

    Na Introduo procurou-se demonstrar que, em qualquer hiptese desustentabilidade que admita crescimento econmico, os esforos de investimentos

    devem ser equivalentes ao consumo total de capital na economia, seja este naturalou material, de forma a evitar srias restries ao crescimento econmico e suacapacidade de maximizar o bem-estar social.

    No caso brasileiro, Seroa da Motta (1993b) demonstrou que o consumo de capitalnatural no Brasil estaria, no mnimo, acima de 2,5% do PIB e que osinvestimentos necessrios para a recomposio do seu nvel de estoque no estosendo realizados.

    A questo ambiental no contexto do desenvolvimento sustentvel torna-se,

    contudo, completamente evasiva quando se comprova uma relao emprica entrecrescimento econmico e melhoria ambiental. Isto , quando a renda per capitacresce acima de certo nvel, a deteriorao ambiental resultante deste crescimentose reverte e a partir deste nvel a qualidade ambiental melhora. A descrio grficadestas evidncias assemelha-se a uma curva U invertida.5

    Em suma, seria advogar que o crescimento econmico por si s garantir o usoadequado dos recursos ambientais da mesma forma que uma vez acreditou-se queeste mesmo crescimento resolveria a questo distributiva da renda.

    Evidentemente, nveis mais altos de renda estimulam o consumo de bens

    ecologicamente corretos e permitem uma folga fiscal que privilegia a dotaooramentria das reas de controle ambiental. Alm do mais, de se esperar quecertos nveis elevados de degradao encerrem custos to altos sobre uma gamaampla de agentes econmicos que sua eliminao permita uma aliana estratgica.

    Entretanto, as evidncias desta curva U invertida so estatisticamente frgeisquando correlacionam alteraes locais de qualidade ambiental com indicadoresmacroeconmicos. Mais ainda, de acordo com Arrow et alii (1996), estascorrelaes somente se referem a alguns tipos de emisso de certos poluentes.No contemplam, portanto, nveis de estoques, ou efeitos cumulativos, e suas

    implicaes sistmicas. Adicionalmente, tambm no capturam efeitosinterfronteiras e intergeracionais. Estas foram as questes discutidas anteriormentee que exigem aes e intervenes de mercado para introduzir elementos deeficincia e eqidade no processo de crescimento.

    Dessa forma, esta seo procurar abordar dois temas centrais para a discusso dasperspectivas do desenvolvimento econmico brasileiro. Nesta seo procurar-se-analisar as implicaes desta trajetria no-sustentvel da economia brasileira sobdois aspectos fundamentais para um novo Brasil no sculo 21: a insero do pas5A literatura convencionou denominar este fenmeno Kuznetz curve. Ver, por exemplo, Grossman

    e Krueger (1993).

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    na economia globalizante e a eliminao das agudas disparidades sociais. Aconsecuo destes objetivos depender largamente da forma em que a base naturaldo pas for apropriada.

    Globalizao, Competitividade e Meio Ambiente6

    Em outros itens desta publicao observaram-se as tendncias de inserointernacional da economia brasileira. A retomada do desenvolvimento brasileirodepender em grande parte da forma e do contedo desta insero. Acondicionante ambiental ser uma das variveis a influenciar este processo.

    Restries comerciais de cunho ambiental

    A atual tendncia mundial ambientalista e suas resultantes em termos de maiores

    restries ambientais podem afetar a diviso internacional do trabalho aoalterarem as vantagens comparativas de alguns pases criando barreiras para aentrada em certos mercados.

    Estas transformaes ao nvel do comrcio internacional esto se dando por duasformas de restrio: barreiras de processo e barreiras de produtos.

    As barreiras de processo so utilizadas para discriminar certo produto que,devido ao seu processo de produo, gera impactos ambientais consideradosinadequados pelo pas importador. Este seria o caso da produo madeireirabrasileira oriunda de florestas tropicais.

    As barreiras de produto tm sido as de maior xito em termos de comrcioexterior, na medida em que esto associadas aos efeitos do consumo do produto aoinvs da sua produo. Este tipo de barreira mais nociva que as de processo, poisno implica somente elevar gastos de produo para atender s exigncias. O fatode tais barreiras poderem ser erguidas unilateralmente resulta em mercadossegmentados para estes produtos, eliminando economias de escala emonopolizando tecnologias especficas.

    Tendncias das restries ambientaisexternas7

    As exigncias em termos de controle ambiental cresceram nos pases ricos e comisso se exacerbam as presses para impor padres semelhantes s importaes.Assim, produzir com menos risco ambiental no ciclo do produto produo, usoe disposio a tendncia geral nos mercados mais competitivos. Algumasformas mais ntidas destas tendncias j podem ser observadas.

    6Parte dessa seo est baseada em Seroa da Motta (1993a).

    7 Uma resenha desta questo entre comrcio exterior e meio ambiente pode ser encontrada em

    Kerry Smith e Espinosa (1996).

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    Selo ecolgico

    Uma das restries mais espontneas a ser enfrentada no comrcio internacionalest associada ao marketing ecolgico. Na tentativa de capturar as tendncias

    ecolgicas do mercado consumidor, as indstrias dos pases desenvolvidos tm seutilizado de estratgias comerciais de selo ecolgico nos seus produtos. Estesselos procuram conferir graus de controle ambiental aos produtos de acordo comos processos e materiais adotados na sua produo.

    Reciclagem

    Uma tendncia marcante no controle ambiental dos pases desenvolvidos oconjunto de regras associadas reciclagem ou reduo de carga txica paramelhorar a disposio dos resduos slidos (lixo). Alm de reduzir a intensidade

    de uso dos recursos naturais, objetiva-se diminuir as necessidades de disposiodos resduos e os custos energticos associados.

    Compatibilizar-se com os padres de reciclagem que esto sendo definidosinternacionalmente ser fundamental para os setores exportadores. Alm do mais,cresce a presso para a adoo de normas internacionais de reciclagem, justamenteno sentido de evitar medidas protecionistas com base nos princpios dereciclagem.

    Controle ambiental

    Produzir com menos risco ambiental agora sinal de eficincia, na medida emque poluio matria-prima no contida no produto final e, portanto, perdida eno vendida. Embora o controle das emisses de poluentes seja uma restrio aoprocesso de produo cuja aplicabilidade ainda discutvel, fcil prever que suaadoo possvel no futuro imediato, por diversas razes: a) a prpria exignciade selo ecolgico e nveis de reciclagem influenciam os processos produtores; b)existe uma tendncia criao de padres internacionais de forma a proteger ospases onde tais padres so elevados; c) os principais lderes mundiais daindstria j esto se organizando para este fim.

    Em suma, as tendncias descritas exigem que os pases que queiram se fixarcompetitivamente no comrcio externo introduzam, desde j, alteraes na suaestrutura industrial de forma a atingirem padres ambientais compatveisinternacionalmente.

    Uma iniciativa resultante desta mobilizao so as normas da ISO 14000 8 queprevem procedimentos para certificao de empresas de acordo com as prticasde gesto ambiental adotadas. semelhana da ISO 9000, normas de qualidade, asrie 14000 ser tambm um fator de competitividade no mercado internacional.

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    A srie ISO de normas so as definidas no mbito International Standard Organizationparacertificao.

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    Acordos globais

    Duas questes ambientais globais tm sido objeto de tentativas de acordosinternacionais para seu controle. Tratando-se de problemas cujos impactos se

    realizam alm-fronteiras, somente por intermdio destes acordos que sua soluopode ser alcanada.

    O primeiro o da chuva cida que tem por fonte principal a emisso de sulfuradospelas indstrias. previsvel que, dada a dimenso do controle a ser seguidonestes blocos regionais, sua adoo acabe por ser imposta no comrciointernacional. Alm disso, bastante provvel que tal precedente tambm seestabelea no contexto do Mercosul.

    Outra questo, e talvez a principal, refere-se emisso de gases responsveis pelo

    aquecimento global, abrangendo dois pontos. Primeiro, a substituio dosclorofluorcarbanetos (CFC), que reduz a camada de oznio que protege doaquecimento solar o Plo rtico e a Antrtida, j objeto do Protocolo deMontreal do qual o Brasil signatrio e, portanto, obrigado a cumprir suasresolues sob pena de sofrer sanes comerciais. O segundo ponto, este aindamais polmico, refere-se emisso de CO2, considerado um agente responsvel

    pelo efeito estufa que tambm tem resultado no aquecimento do planeta. Acordosglobais para controle do CO2ainda no foram promulgados, mas existem diversas

    propostas [ver, por exemplo, Unctad (1992)].

    Desta forma, o comprometimento do Brasil na Rio-92 com estas questes globaisindica que o pas certamente se far presente nestes acordos e, assim, serobrigado a cumprir suas exigncias.

    Globalizao

    Procurou-se, at ento, evidenciar a indiscutivelmente crescente restrioambiental economia brasileira que surgir no contexto da globalizao. Nolongo prazo, parece inevitvel um processo de ajuste no padro ambiental daeconomia nacional, de forma a assegurar sua eficincia competitiva.9 Ou seja,antecipar mudanas de processo e de produto que possam, no futuro, resultar em

    custos de ajuste economicamente inviveis.

    Tal cenrio no de todo desconhecido. A questo central reside, entretanto, nasmudanas que, no curto prazo, tero que ser realizadas e as suas respectivasconseqncias no padro de competitividade atual. Ou seja, o balano entre perdasreais de hoje com perdas possveis de amanh. Esta questo no se restringe esfera da competitividade e, sim, permeia toda a discusso sobre sustentabilidade. dentro deste quadro de incerteza que politicamente se viabilizam as restriesambientais que definiro o padro ambiental da economia brasileira.

    9Entendida aqui como a capacidade de expandir participao no comrcio internacional.

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    Quatro questes se apresentam indstria brasileira frente s barreiras de naturezaambiental: a) uma vez que tais barreiras sejam adotadas em mercados comuns deinteresse comercial para o pas, como o Nafta e a CEE, espera-se que osexportadores para estes mercados sofram a mesma imposio; b) no contexto do

    Mercosul, o Brasil poder ter que tratar destas questes diretamente, embora aindstria nacional, neste caso, seja a que exigir padres harmonizados, na medidaem que se percebe (sem evidncias mais concretas) que o pas est mais avanadono controle ambiental que seus parceiros comerciais; c) embora rechaadas naAgenda 21 e nas convenes assinadas na Rio-92, ainda no se pode assegurar queestas barreiras no sejam levantadas como uma soluo imposta pelos pasesdesenvolvidos ao resto do mundo; d) acordos internacionais para controle de fasesassociadas ao aquecimento global (CO2 e CFC, por exemplo) sero fontes de

    possveis sanes comerciais.

    Percepo dos agentes econmicos

    Desta forma, cabe discutir este processo em relao aos aspectos decompetitividade. Para tal, deve-se analisar o papel de cada agente econmico noprocesso de barganha que se realiza para definir este padro ambiental. Estesagentes so a prpria indstria, os sindicatos de trabalhadores, os gruposambientalistas, os consumidores e os formuladores de poltica ambiental.

    O principal impacto sobre a competitividade decorrente de um conjunto derestries ambientais a elevao dos preos relativos dos recursos naturais eservios ambientais. Ou seja, torna-se mais caro consumir recursos minerais eflorestais e poluir a gua e o ar.

    Setores que so intensivos em uso de bens e servios ambientais sero ento maisafetados que os outros. Assim, a competitividade dos setores "sujos" deteriora-sefrente aos setores "limpos". Ou seja, esta alterao de preos relativos induziruma mudana estrutural na composio do produto econmico. , portanto,esperado que setores tenham interesses divergentes quanto a estas questesambientais.

    Esta divergncia depender tambm do posicionamento do setor em termos de

    comrcio exterior. No caso de um setor exportador lquido, as restriesambientais afetam diretamente a sua competitividade no curto prazo. Para ossetores importadores lquidos, crescentes restries ambientais podem seradotadas como uma forma de proteo.

    O posicionamento das associaes de classe, como por exemplo CNI, Fiesp eCNA, tende a ser bastante cauteloso com relao questo ambiental, na medidaem que na sua direo predominam setores antigos que so geralmente intensivosem recursos naturais.

    Os exemplos observados na Europa e Estados Unidos mostram que os sindicatosdos trabalhadores tm adotado, no passado recente, posio prxima do

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    industrialista, ou seja, receia-se as perdas resultantes em produto e emprego porconta das restries ambientais. Este posicionamento, todavia, tem se alteradorecentemente, na medida em que os sindicatos percebem que, no longo prazo, estatendncia ambientalista ser prevalecente na produo industrial. H que se

    considerar tambm que uma reivindicao sindical por melhor controle ambientalteria talvez a mesma carga ideolgica que uma reivindicao por melhoressalrios. Ou seja, o lucro do capital deve ser reduzido para atender questessociais.

    As organizaes ambientalistas nem sempre atuam nas mesmas questesambientais e quando o fazem nem sempre apresentam as mesmas demandas. Nocaso brasileiro, a exemplo do resto do mundo, existem grupos que questionam aprpria base industrial do crescimento e outros que acreditam ser possvel induzir-se uma industrializao limpa. Devido prpria realidade brasileira, em termos de

    renda e emprego, parece predominar no pas a segunda corrente, que inclusive temconseguido eleger representantes s cmaras federal, estaduais e municipais.

    O papel dos consumidores naturalmente determinado pelo nvel de renda.Consumidores de alta renda tendem, a exemplo do primeiro mundo, a adotarpadres de consumo "mais ecolgicos". Tal tendncia no pode ser acentuada,entretanto, para os consumidores de baixa renda, dado que, na maioria dos casos,produtos "ecolgicos" ainda tm preos mais elevados.

    Concluso

    O diagnstico apresentado indica que sanes comerciais de cunho ambientalpodem afetar as exportaes da indstria brasileira. O controle ambiental daindstria no Brasil, por sua vez, ainda incipiente, principalmente quandocomparado aos nveis obtidos nos pases mais industrializados. Dois cenrios depoltica podem ser visualizados.

    Cenrio casustico. Neste cenrio: a) as restries ambientais externas seroapenas pontuais afetando isoladamente alguns setores sem constiturem,necessariamente, uma fonte sistemtica de sanes comerciais; b) no havendouma imposio sistemtica de padres ambientais externos, as empresas

    industriais consideraro oportunamente os ajustes necessrios nos seus processose produtos em resposta s suas estratgias comerciais; c) dada a dimenso nosignificativa destas restries e/ou posio econmica favorvel das empresasafetadas, os ajustes no demandaro recursos governamentais de vulto.

    As atividades de fomento ao controle ambiental crescero, na medida em que avontade poltica permita que a adoo de recursos do Tesouro seja ampliada paraeste fim. Em suma, neste cenrio a participao do Estado reativa e apenaspossibilita maior eficincia e abrangncia ao sistema que j existe em termos deincentivo ao controle ambiental. No requer dificuldades legais e institucionaispara sua implementao.

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    Cenrio antecipativo. Neste cenrio: a) as restries ambientais externasconstituiro barreiras no-tarifrias crescentes e tendero a abranger todos ossetores cuja competio no mercado externo seja acirrada; b) a no antecipaodestas restries em nvel domstico acarretar perdas de espaos atuais e futuros

    de competitividade, na medida em que possibilitar uma estrutura industrialdissociada do padro ambiental internacional; c) devido ao vulto dos ajustesnecessrios os produtores demandaro, na forma de aes de fomento, recursosgovernamentais acima do nvel hoje ofertado.

    Neste caso, o Estado assume um papel pr-ativo e divide o nus do ajusteambiental com o prprio setor econmico. A recomendao bsica para estecenrio a criao de um Fundo Ambiental da Economia com base em impostossobre a poluio e o uso de recursos naturais. Este Fundo exigir mudanasradicais em termos legais e institucionais, acarretando maiores dificuldades para

    sua viabilizao poltica.O principal objetivo deste Fundo induzir mudanas estruturais resultantes dasnecessidades de controle ambiental que assegurem definitivamente a melhoria dacompetitividade da indstria brasileira. Dessa forma, as propostas objetivaminternalizar, eficientemente, via taxao, as restries ambientais na esfera daproduo e, ao mesmo tempo, gerar recursos adicionais para fomentar o controleambiental.

    Todavia, h que ressaltar que os alicerces das reformas tributrias em curso noBrasil e em outros pases so o de simplificao da administrao fazendria e da

    reduo no nmero de mecanismos fiscais. Dessa forma, a imposio de tributosambientais ter que ser simples e neutra, alm de contar com um amploentendimento de sua natureza e objetivo por parte da populao para garantir seurespaldo poltico.

    Pobreza e Meio Ambiente

    A associao entre pobreza, aqui entendida como baixo nvel de renda e meioambiente est sempre presente na literatura ambiental. Todavia, esta associaodeve ser compreendida em, pelo menos, duas formas: a primeira quando pobreza

    o fator gerador da degradao e a segunda quando os pobres so os impactadospelos efeitos da degradao.

    Pobreza gerando degradao

    A dimenso global

    A primeira dimenso desta causalidade geralmente discutida em relao aosnveis de desenvolvimento entre os pases. comum observar na literaturareferncias constantes aos pases pobres pela presso que suas atividadeseconmicas, predominantes na base extrativa, vm exercendo sobre as vegetaes

    nativas. Outro resultado desta pobreza seria o crescimento populacional acelerado

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    que exacerbaria a presso sobre a base natural destas economias e ampliaria acrise ambiental urbana.

    Tal argumento, contudo, merece qualificao como demonstram os resultados de

    um estudo por Parikh (1996) ao indicarem que o padro de consumo das naesricas que geram a maior parte da degradao ambiental global. A grande parte doconsumo mundial (50 a 90%) de commodities realizada no primeiro mundoonde vive apenas 1/4 da populao. Alm disso, estes pases so responsveis porquase 70% das emisses de dixido de carbono, principal causador dos problemasprevistos de aquecimento do planeta.

    Alm de no contarem mais com reas expressivas de vegetao nativa, o nvelmais elevado de renda destas economias permite que solues de controle depoluio e uso do solo reduzam a intensidade de degradao por unidade de

    produto gerado. Alm disso, a afluncia dessas sociedades possibilita gastos queminimizam os efeitos negativos da degradao, como por exemplo, acesso amelhores condies sanitrias e preveno mdica.

    Todavia, no consumo agregado os pases ricos ainda contribuem majoritariamentepara os problemas ambientais globais. Isto , tornam-se, ento, importadores desustentabilidade dos pases pobres que detm grande parte das reservas naturais doplaneta.

    A dimenso nacional

    A capacidade dos mais ricos de reduzirem suas presses sobre o meio ambiente ecriarem mecanismos de defesa contra os impactos ambientais tambm se observadentro de uma mesma economia. No caso brasileiro esta realidade pode serconstatada, por exemplo, no acesso aos servios de saneamento, conformedemonstram as estatsticas sociais da Pesquisa Nacional de Amostra porDomiclios do IBGE.

    As famlias de baixa renda so as que menos tm acesso aos servios de esgoto.Assim, enquanto somente 1/4 das famlias com renda10 inferior a dois salriosmnimos (SM) tinha acesso aos servios de coleta de esgoto, o percentual das

    famlias com renda acima de cinco SM atingia 60%. A coleta e tratamento deesgoto so deficientes em todas as classes de renda, embora se observe umaincidncia destes servios muito menor nas classes de renda mais baixa. Comomais da metade da carga orgnica lanada nos corpos dgua brasileiros deorigem humana, logo se torna visvel a associao entre estes redutos de pobrezaurbana e a poluio hdrica no pas.

    10As classes de renda familiar foram definidas pela renda total do chefe da famlia. O ano de 1989foi utilizado de forma a compatibilizar os dados domiciliares da Pesquisa Nacional por Amostra de

    Domiclios com os dados de empresa da Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico realizada nesteano.

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    Pobres sofrendo com a degradao

    Estes redutos so, ao mesmo tempo, as principais vtimas desta degradao,particularmente quando no tm acesso gua potvel que, seria uma forma de

    minimizar o contato direto com a gua poluda. Esta situao pode ser tambmvisualizada quando se observa que quase 1/4 das famlias mais pobres aindacarece de abastecimento de gua potvel.

    So fartamente documentadas as elevadas taxas de mortalidade infantil entre ascamadas mais pobres da populao [ver, por exemplo, Martines et alii(1991)] e ocaso brasileiro no uma exceo. Esta incidncia ocorre preponderantemente nascrianas devido a problemas de infeces intestinais causados pela falta de acesso gua potvel e servios de esgoto. O estudo citado na Seo 3 [ver Seroa daMotta (1995)] estimou, para diversas classes de renda das famlias brasileiras,

    uma funo de correlao entre o acesso aos servios de saneamento e aincidncia de casos de mortalidade infantil por doenas de veiculao hdrica. Osresultados encontrados indicam que o nvel de renda familiar uma varivelimportante para a correlao entre estas doenas e a proviso de servios desaneamento. Este estudo revela que se reduziriam em 6% as mortes de crianasocorridas na populao pobre brasileira (famlias com renda menor que cinco SM)caso o acesso desta populao aos servios de saneamento crescesse 1%.

    Outro estudo similar, citado na Seo 3 [ver Seroa da Motta e Fernandes Mendes(1995)], sobre os efeitos na sade humana devidos poluio do ar (particulados esulfurados) realizados na cidade de So Paulo, indica, por outro lado, que os danos

    causados por este tipo de poluio, embora expressivos, no apresentam altacorrelao com o nvel de renda da populao afetada.

    Nesta pesquisa sobre poluio atmosfrica, a varivel instruo foi utilizada comouma aproximao da varivel renda devido a restries de dados. Os resultadosevidenciam uma baixa representatividade estatstica na varivel nvel de instruodas pessoas vitimadas por doenas respiratrias. Esta constatao era esperada namedida em que a exposio poluio atmosfrica no to facilmenteminimizada para as classes de renda mais altas, como no caso da poluio hdricaonde a gua pode ser tratada e o esgoto desviado para regies desvalorizadas onde

    habitam as camadas mais pobres da populao.Entretanto, amplamente reconhecido que as fontes de emisso de poluentesatmosfricos so predominantemente os automveis e as indstrias [ver Cetesb(1994)] que, por sua vez, representam os benefcios da riqueza, geralmenteresultantes de preos subsidiados dos energticos, e no as conseqncias dapobreza. Esta evidncia demonstra que, no caso da poluio do ar, as camadasmais pobres da populao se tornam as maiores prejudicadas ao assimilaremcustos ambientais sem usufruir igualmente dos benefcios do crescimentoeconmico que do origem a esta forma de degradao.

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    Concluso

    As subsees acima procuraram demonstrar que as classes mais pobres dapopulao, embora sejam em alguns casos uma fonte de degradao, na verdade

    tm sido aquelas que mais sofrem com a perda de qualidade ambiental nasprincipais cidades brasileiras. Conforme salientado, as restries de renda destessegmentos no permitem dispndios em mecanismos de defesa que poderiamatenuar os danos de origem ambiental a que esto expostos. Enfim, a pobreza criapoluidores e poludos por excluso social. Dessa forma, no h como dissociar asquestes de eqidade das propostas de poltica ambiental.

    A pobreza e a questo ambiental requerem, portanto, solues harmonizadas. Arelao de causalidade atua nos dois sentidos. Eliminar a pobreza uma forma dereduzir um tipo de presso sobre o meio ambiente. Todavia, a forma mais danosa

    de degradao continuar sendo o acesso quase livre base natural que gerapadres de consumo desiguais e no sustentveis dentro e entre naes.

    Conforme proposto no caso do Fundo Ambiental da Economia, a soluo maiseficiente passar pela reviso destes padres atravs da imposio de preos maisrealistas aos bens e servios ambientais, via mecanismos de mercado, no objetivode evitar que todos eventualmente nos tornemos ambientalmente pobres.

    Os recursos resultantes desta tributao ambiental podem, contudo, ser utilizadoscomo uma base oramentria para financiar investimentos de correo dosproblemas ambientais e/ou polticas compensatrias aos efeitos regressivos que

    possam advir deste novo padro de uso dos recursos ambientais.

    4 - APERFEIOANDO A GESTO AMBIENTAL BRASILEIRA

    A seo anterior procurou apontar as relaes causais entre a base natural e aretomada do desenvolvimento brasileiro, tanto na sua dimenso domstica comona internacional. As concluses finais poderiam ser, assim, resumidas:

    1 - De acordo com os pressupostos tericos econmicos, o custo do controle

    ambiental no reduz a eficincia da economia brasileira. Ou melhor, o custoambiental gerado na explorao ineficiente dos recursos ambientais tambm fazparte do custo Brasil.

    2 - Desafiando o juzo convencional, o custo ambiental no est associado pobreza, mas, ao contrrio, a pobreza parte do custo ambiental. Assim, adistribuio dos custos e benefcios do controle ambiental deve ser eqitativa.

    3 - Embora as presses internacionais, tanto polticas quanto comerciais,imponham ao pas restries de cunho ambiental, o Brasil ainda um pas demegabiodiversidade, que gera significativas externalidades positivas ao resto do

    mundo e, portanto, um credor ambiental.

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    Enfim, a questo ambiental pode deixar de ser um problema e tornar-se umasoluo. Para tal, ser preciso conciliar estas faces de realidade acima descritas edesenhar as opes de gesto que harmonizem as polticas econmicas eambientais. Esta a resposta ao desafio ambiental da economia brasileira. A

    seguir, elaboramos algumas destas opes. As trs primeiras: definindoprioridades, ampliando os instrumentos econmicos e removendo os incentivosperversos so opes que oportunizam a Agenda Nacional Ambiental. A ltimaopo recomendada, viabilizando as compensaes internacionais, por outro lado,deve ser considerada como uma Agenda Internacional em que a legitimidade doBrasil inquestionvel.

    Definindo prioridades

    As magnitudes econmica e ecolgica das questes ambientais so distintas e as

    suas importncias relativas tm que ser esboadas. , portanto, necessrio umexerccio de priorizao dos objetos das aes de poltica.

    Todavia, tal esforo requer uma iniciativa, que deve estar presente no interior dosistema de planejamento, como a de estabelecer concretamente este objetivo degerar indicadores fsico-qumicos que avaliem o padro de uso dos recursosambientais associados a indicadores econmicos e sociais que avaliem suainsero na economia real.11

    As condies essenciais para realizar estas iniciativas so: a) a criao de umsistema estatstico ambiental que defina tais indicadores e b) o estabelecimento de

    relaes destes com os tradicionais indicadores econmicos e sociais. Entretanto,cabe ao setor gestor ambiental, Ministrio do Meio Ambiente, rgos ambientaisestaduais e municipais e seus colegiados, definirem um conjunto mnimo e vivelde indicadores ambientais e iniciar este processo de consolidao estatstica. incuo esperar que a rea de planejamento antecipe estas demandas ambientais,pois, ser a demanda por informaes ambientais que definir a sua oferta.12

    Todavia, a condio necessria para este processo de priorizao a reformainstitucional dos rgos ambientais e sua capacitao por intermdio dereconhecimento administrativo no seio do aparato estatal.

    Ampliando os instrumentos econmicos

    A internalizao dos custos ambientais no sistema econmico, tais como taxao,certificados comercializveis de poluio ou de explorao de recursos, sistemadepsito-retorno e outros que atuam via preo, so os instrumentoscomplementares aos j contemplados na moderna legislao ambiental brasileira.

    11 Ver Seroa da Motta (1996) para uma avaliao de um esforo de gerao de indicadoresambientais no Brasil.

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    Mais uma vez, revoga-se a Lei de Say!

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    Alm do aspecto de gerao de eficincia, estes instrumentos podem gerar receitasfiscais ou administrativas adicionais para: a) financiar a capacitao institucionaldos rgos ambientais e b) quando desenhados de forma progressiva, viabilizarpolticas compensatrias para aliviar os impactos ambientais sobre os pobres.

    Para tal, a primeira condicionante a consolidao e codificao desta legislaoambiental e a criao do espao legal para a adoo destes instrumentos. Asegunda, o reconhecimento do espao fiscal destes instrumentos no sistematributrio brasileiro.

    Iniciativas em curso no Congresso Nacional, como a cobrana ao uso dos recursoshdricos em sistemas de bacias hidrogrficas e o imposto ambiental sobre oscombustveis, so exemplos a serem estimulados.

    O momento atual de abertura das concesses dos servios pblicos tambmoferece uma oportunidade para inserir a questo ambiental nas regras tarifrias ede investimentos.

    No mdio prazo, um fundo ambiental com base em impostos sobre poluio eexplorao de recursos naturais para fomento da atividade de controle ambiental,discutido na seo anterior, poderia ser implementado.

    Todavia, a ampliao do uso destes instrumentos deve ser cautelosa devido ssuas dificuldades tcnicas e administrativas. Flexibilidade, compatibilizaoinstitucional, gradualismo e participao dos agentes afetados devem ser critrios

    a serem respeitados na introduo destes instrumentos [ver Seroa da Motta,Ruitenbeek e Huber (1996)].

    Removendo incentivos perversos

    O processo de priorizao no poder ser um obstculo insero da questoambiental nas polticas econmicas, tais como:

    a) as orientadas para recursos naturais e infra-estrutura, como as de energia,abastecimento de gua, malha viria e outras;

    b) as tipicamente setoriais, como, por exemplo, expanso agropecuria eindustrial;

    c) as de cunho macroeconmico voltadas para estmulos s exportaes, geraode emprego e investimentos;

    d) as de contedo estrutural como a reforma agrria e as privatizaes; e

    e) as de objetivo distributivo que estimulam as pequenas empresas, oassentamento urbano e outras.

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    O conhecimento das implicaes ambientais j construdo no sistema gestorambiental e na literatura especializada permite, pelo menos, que se removam e/ouse evitem incentivos perversos ao meio ambiente que comprometem a consecuodos objetivos maiores destas polticas.

    Certamente, a incerteza sobre vrios impactos ambientais vis--vis os benefciosdesejados poder, em certos casos, indeterminar as decises. Todavia, oreconhecimento e a prtica de insero podero, por outro lado, contribuir para umajustamento menos custoso e mais eficiente destas polticas.

    Nestes casos de indeterminao, a postura recomendada seria a identificao daspossveis perdas e perdedores resultantes destes impactos ambientais e aspossveis aes mitigadoras, luz do que se tenta praticar em termos de polticassociais compensatrias.

    As atuais medidas governamentais em discusso no Congresso Nacional paraorganizar a expanso agropecuria na Amaznia e as de reforma do sistema definanciamento da poltica florestal so exemplos concretos do caminho a serpercorrido. Os objetivos do Protocolo Verde de incluir critrios ambientais nasnormas de financiamento governamental, particularmente na agricultura, tambmrepresentam iniciativas neste sentido.13

    Viabilizando as compensaes internacionais

    O nvel de degradao ambiental no Brasil pode estar acelerado e avanado em

    relao, por exemplo, ao uso de recursos florestais. Entretanto, um nvelsignificativo de servios ambientais gerado pela base natural brasileira e apropriado gratuitamente pelo resto do mundo.

    Objetivamente, a Floresta Amaznica e o Pantanal, ainda em grande partepreservados, contribuem significativamente para a preservao de um patrimniogentico nico no planeta e ainda geram servios de estabilizao climtica quehoje perfazem as maiores questes ambientais globais. Dessa forma, o Brasilcontinua sendo um pas exportador de sustentabilidade para o resto mundo,principalmente para os pases mais ricos.

    Embora a remunerao destes servios j seja amplamente reconhecida nos forosinternacionais e na literatura, sua efetivao parece de difcil realizao. Cabe,assim, principalmente ao Brasil, lutar para que estes mecanismos sejamviabilizados. Algumas iniciativas devem ser contempladas, tais como:

    a) definir realisticamente uma rea mnima de preservao ecossistmicaconsiderando o prazo adequado para que as medidas necessrias de uma polticade preservao possam ser viabilizadas poltica e tecnicamente;13O Protocolo Verde uma iniciativa dos Ministrios do Meio Ambiente e do Planejamento para

    adequar a concesso de incentivos creditcios e fiscais da rea finaceira do governo legislaoambiental.

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    b) determinar a magnitude do valor destes servios ambientais de acordo comcritrios que conciliem as aspiraes regionais onde estas reas de preservao selocalizam e ao mesmo tempo reflitam o custo de oportunidade destes servios parao resto do mundo. Alm de um esforo de engenharia econmica, esta

    determinao exige uma atuao diplomtica aberta e pr-ativa engendrada dentrodo governo brasileiro e do Congresso Nacional;

    c) no subordinar estas compensaes a aes estritamente conservacionistas e,sim, caracteriz-las como recursos livres para a economia, que podem atuar nascausas econmicas e sociais da degradao, e no somente nas suasconseqncias, e financiar programas de combate pobreza. Evitar tambmassoci-las dvida externa ou outras obrigaes contratuais externas do pas, paraas quais o custo de pagamento inferior s oportunidades de retorno econmiconos mercados nacionais e internacionais;

    d) desenhar condicionantes de pagamento destas remuneraes ao desempenhoconservacionista do pas que contemplem prazos adequados de capacitaoinstitucional, ajuste estrutural das atividades degradadoras e necessidades decompromisso poltico interno; e

    e) minimizar a ingerncia de rgos multilaterais de desenvolvimento na execuoe efetivao destas compensaes, de forma a evitar procedimentos burocrticosdesnecessrios e alheios aos interesses nacionais. Os foros de negociao devemser prprios entre o Brasil e os importadores de sustentabilidade.

    Em suma, as opes que aqui foram brevemente delineadas confirmam a hiptesede que a questo ambiental no deve ser compreendida como um problema e que,alm de uma soluo, pode representar uma fonte de benefcios econmicos esociais para o Brasil do sculo 21.

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