depressÃo: o atual foco das especulações · a primeira a apontar as diferenças na melancolia...

16
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE FÍSICA DE SÃO CARLOS LICENCIATURA EM CIENCIAS EXATAS Victor José de Oliveira Nº USP: 8911310 DEPRESSÃO: O atual foco das especulações São Carlos Agosto de 2015

Upload: buinhu

Post on 09-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE FÍSICA DE SÃO CARLOS

LICENCIATURA EM CIENCIAS EXATAS

Victor José de Oliveira – Nº USP: 8911310

DEPRESSÃO:

O atual foco das especulações

São Carlos

Agosto de 2015

Page 2: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

VICTOR JOSÉ DE OLIVEIRA

DEPRESSÃO:

Culminância de uma especulação

Monografia apresentada ao curso de

Licenciatura em Ciências Exatas, na

disciplina SLC 0631 – Psicologia da

Educação II, Instituto de Física de São

Carlos – USP, como parte do critério de

avaliação do curso e divulgação científica

para o instituto.

Docente: Prof.º Dr. José Fernando

Fontanari

São Carlos

Agosto de 2015

Page 3: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 4

2. COMO O MUNDO CIENTÍFICO IDENTIFICOU HISTORICAMENTE A DEPRESSÃO ... 5

2.1. Metodologia ......................................................................................................................... 5

2.2. Antiguidade (500 a.C. – 100 d.C.) ................................................................................... 5

2.3. Idade Média (450 – 1400 d.C.) .......................................................................................... 6

2.4. Idade Moderna (séculos XV a XIX) ................................................................................. 9

2.5. Idade Contemporânea (século XX até os dias atuais) ............................................ 10

3. EFEITOS REAIS DOS ANTIDEPRESSIVOS ........................................................................ 13

4. CONCLUSÕES ........................................................................................................................... 15

5. REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 16

Page 4: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

1. INTRODUÇÃO

Grande parte da população mundial, e principalmente ocidental, acredita

que a depressão é “o mal do século vinte e um”. Todavia, apesar de levantamentos

estatísticos que confirmam sua grande ocorrência na última década, principalmente

em países desenvolvidos, ela não é um problema recente que permeia o cotidiano

dos cidadãos. Ao fazer uma análise histórica do caráter psíquico humano e as

problemáticas envolvidas, percebe-se que havia outros termos que definiam o

mesmo problema psicológico, e atualmente essa relação é possível de ser feita

devido aos critérios científicos utilizados para seu diagnóstico.

Tendo uma noção histórica da depressão, percebe-se que ela,

inicialmente, não era reconhecida como um malefício propriamente dito contra o

psicológico humano e tendo também relação com fatores externos ao indivíduo, mas

sim como um problema interior, relacionado a crenças e superstições.

Posteriormente, com a permissão de olhares críticos sobre os fenômenos

relacionados simultaneamente ao intelecto e ao físico do ser humano, e graças

também, e principalmente, ao desenvolvimento do racionalismo e da investigação de

caráter científico, a psicologia, a psiquiatria e a medicina puderam se desenvolver e

se unir para desvendar o que havia por trás dessa questão complexa.

Nos dias de hoje, é comum delegar a total responsabilidade do

diagnóstico da depressão, bem como seu tratamento, às questões problemáticas

que a medicina e a farmácia dos bioquímicos sugerem. Com exceção dos casos

graves da “doença da alma” e que requerem um tratamento clínico intenso, vêm se

notando nas últimas décadas o uso intensivo de antidepressivos cujos efeitos podem

não ter o efeito esperado. Além disso, muitos medicamentos podem apenas causar

uma melhoria imediata, não tratando do problema de modo completo, com a

tendência de saná-lo. Tendo em vista tais situações, nota-se que a depressão torna-

se um negócio lucrativo às indústrias farmacêuticas, fomentando a dúvida sobre

quem benefícios adquiridos pela ciência ao longo desses séculos sobre o estudo da

doença visam beneficiar.

Page 5: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

2. COMO O MUNDO CIENTÍFICO IDENTIFICOU HISTORICAMENTE A

DEPRESSÃO

2.1. Metodologia

Estudos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro possibilitaram a realização de

um levantamento histórico sobre os contextos científico e filosófico da depressão,

com base nas ideias de importantes filósofos, teólogos, matemáticos e médicos,

tendo como base registros de culturas predominantemente ocidentais.

2.2. Antiguidade (500 a.C. – 100 d.C.)

Nesse período, importantes filósofos gregos já identificavam as doenças

da mente como fruto de disfunções corporais. Para eles, a depressão seria

consequência do excesso de bile negra, que seria uma substancia fria e seca,

responsável pelos por todos os sues sintomas, porém nunca encontrada até hoje.

Tal substancia corporal fazia parte dos fluidos responsáveis pela teoria dos quatro

humores, que visava explicar a correlação entre saúde e doença. Esse modelo de

pensamento foi importante na historia, foi consistiu na substituição da mitologia pela

biologia e na adoção de um modelo para a observação clínica.

Já no século V a.C., Hipócrates já utilizava o termo melancolia para

designar a depressão, “uma afecção sem febre, na qual o espírito triste permanece

sem razão fixado em uma mesma ideia, constantemente abatido” [...]. Ele afirmava

que a bile negra em excesso ocasionava estados de tristeza e cansaço,

ocasionando a falta de apetite e até o desejo de morte. O excesso da bile negra

estaria associado a padrões inadequados de alimentação, e a situações rotineiras

de vida errôneas, como trabalho estressante e sedentarismo. Sendo assim, os

possíveis tratamentos eram: mudanças na dieta, ginástica, hidroterapia e

medicamentos orais, ervas catárticas, eméticas e purgantes destinadas a eliminar o

excesso da bile negra. Também seria essencial diálogo intenso e a necessidade de

não deixar o doente sozinho.

Cícero, Aristóteles e latão contribuíram fortemente para a questão do

entendimento do psicológico humano e as doenças relacionadas. Em uma de suas

Page 6: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

obras, Aristóteles afirma que os indivíduos com melancolia possuem mais espírito

em relação aos que não a tem.

Imagem 1: Problemata, obra de Aristóteles.

Fonte:

http://www.europeana.eu/portal/record/04202/BibliographicResource_200006825048

9.html?query=refusing&qt=false.

Em sua obre Problemata, ele completa a ideia de Hipócrates, afirmando

que drásticas alterações nos padrões da bile negra causariam o estágio mais

agravado da melancolia. Leves alterações nas quantidades do fluido, somados a

pouca inspiração e ao brilhantismo ou satisfação baixa da realização, culminariam a

doença em seu estado leve ou intermediário.

As contribuições de caráter filosófico provindas do racionalismo grego

para a explicação das doenças da alma perduraram até o inicio da idade das trevas

(450 a 1400 d.C.),uma vez que, antes desse marco histórico, as formas de tratar os

males da mente na Europa já haviam aderido ao pensamento da antiguidade.

2.3. Idade Média (450 – 1400 d.C.)

Nesse período, houve a ascensão do Cristianismo e do estado cristão, que

modificaram bruscamente a ótica sobre os problemas psicológicos e todas as

doenças fisiológicas. A medicina racional deu lugar ao misticismo, ao sobrenatural e

às superstições. Com os paradigmas da doutrina católica ditados sobre as diversas

Page 7: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

populações europeias, os tratamentos psicofarmacológicos desenvolvidos graças ao

avanço científico-filosófico greco-romano foram sendo cada vez menos usados, pois

os transtornos mentais passam a englobar a demonologia da época.

Inicialmente, o monge Ionnes Cassianus introduz a doença com o termo

acídia, que diz respeito a um estado de descuido do espírito. Esse é o significado da

palavra de origem grega, que se refere à apatia do indivíduo, a preguiça, a

indolência e a negligência. Acídia é então o termo medieval para melancolia. Santo

Agostinho afirmava que o que separava o homem dos demais animais é a razão, por

isso, a perda da razão ocasionada pela melancolia “seria um desfavor a Deus, a

punição para a alma pecadora”. São Gregório Magno (540 – 604) a inclui como um

dos sete pecados capitais a condena totalmente, mas São Tomás de Aquino se

mostra mais benevolente com o indivíduo diagnosticado, afirmando que, ao se

dedicar a sua cura, estaríamos contribuindo para seu renascimento espiritual e

moral, fazendo com que houvesse reconciliação com Deus. Isso contribuiria para

que a penitência em relação a esse estado espiritual se atenuasse.

Todavia, em 1233, com o início da Santa Inquisição da Igreja Católica, a

prática benevolente de São Tomaz foi abolida, e com isso tanto os portadores da

doença quanto estudiosos que buscavam um entendimento e um tratamento

alternativo para a melancolia eram condenados à fogueira. Com isso, intelectuais

que se dedicavam aos estudos dos mecanismos e diagnósticos da depressão

medieval encontraram refúgio no mundo árabe, onde as principais obras greco-

romanas foram traduzidas e continuaram sendo aprimoradas. Nesse contexto,

destaca-se o pensador Avicena (980 - 1037), que, em suas explicações a respeito

da melancolia, se baseia nas teorias greco-romanas, retratando o desequilíbrio das

quantidades da bile negra e fazendo alusão à teoria humoral. Para ele, o fluido seria

ocasionado por superaquecimento e sedimentação, e com base nessa hipótese, lista

os principais tipos de sintomas que vão desde desconfortos físicos até desequilíbrios

mentais, como medos irracionais, prejuízo no julgamento, falsas crenças e

percepções distorcidas da realidade. Todos os seus estudos sobre medicina e

psicologia encontram-se em sua obra O cânone da medicina.

Page 8: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

Imagem 2: O cânone da medicina, obra de Avicena.

Fonte: http://www.artehistoria.com/v2/obras/26299.htm.

Outro grande contribuinte nesse período foi o médico Isaaq Imran, com sua obra

Melancholia. Nesse livro, Imran realiza uma observação detalhada sobre seus

pacientes que possuem a doença e constrói uma lista oficial de todos os seus

sintomas, que são: “mutismo, a imobilidade, distúrbios do sono, agitação, desânimo,

choro e risco de suicídio”.

A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as

mulheres, com bases em seus estudos sobre causas e curas, foi a freira alemã

Hildegard von Bingen (1098 – 1179). Em seus manuscritos, ela contextualiza as

funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal, as quais eram

completamente diferentes das dos homens. Por isso, az razões para a doença entre

os dois sexos eram tão diferentes, quanto à origem. A irmã postulava que seus

princípios fisiológicos também se diferenciam, uma vez em que as manifestações

entre os dois sexos eram distintas.

Imagem 3: Irmã Hildegard von Bingen.

Fonte: http://semeadorestrelas.blogspot.com/2015/08/hildegarde-de-bingen-o-fogo-

do-espirito.html.

Page 9: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

Apesar de sua conclusão, ela não se aprofundava quanto aos

mecanismos físiológicos, pois afirmava que a ciência já os explicaria. Para a

estudiosa, a melancolia provém do inconsciente pessoal, da história do pessoal do

indivíduo. O seu caráter psicossomático provém da não aceitação em relação a uma

situação da vida. A única cura seria o encontro psico-espiritual do paciente.

2.4. Idade Moderna (séculos XV a XIX)

Os estudos da depressão na idade moderna tiveram, inicialmente,

influência do iluminismo, movimento marcado pelo antropocentrismo, naturalismo e

racionalismo. Foram retomados os ideais científico-filosóficos greco-romanos, como

os de Aristóteles, Platão e Sócrates.

No século XVI, nota-se grande divergência entre os pensadores europeus

em relação à doença, ainda que retomassem ideias da antiguidade. Na Itália, o

filósofo Marsilio Ficino foi quem mais discutiu a respeito, afirmando que a ansiedade

era a manifestação do anseio humano pelo grande e o eterno e que todo gênio é um

melancólico. Já os ingleses diziam que seria o fruto das relações com anjos maus,

mas que o indivíduo nesta situação não seria culpado. Até metade do século XVII,

nota-se a predominância da teoria dos quatro humores e suas qualidades provindas

do um desequilíbrio de “uma substancia fria e seca de temperamento”.

Já no início do século XVIII, com o advento do Iluminismo, que

proporcionou uma ciência comprovada com métodos empíricos e não apenas

dedutivos, intelectuais como o médico Hernan Boerhaave promoveram a

substituição da teoria dos humores por um modelo de funcionamento mecânico e

hidráulico que proporcionou muitos avanços na medicina. Com base nisso, o médico

William Cullen passa a correlacionar integralmente as doenças psíquicas com o

sistema nervoso. Ele firma que a melancolia resulta de um desequilíbrio em

diferentes partes do cérebro, que resulta no comprometimento das faculdades

cognitivas como o julgamento e a articulação de ideias. A melancolia seria, então,

uma ansiedade parcia, causada por um grau de torpor na atividade do sistema

nervoso que afeta a sensação e a volição.

O filósofo e metafísico Emmanuel Kant também contribuiu para a

investigação da depressão na Idade Moderna, classificando os transtornos mentais

em três entidades: a melancolia, a mania e a ansiedade.

Page 10: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

No século XIX, o termo melancolia perde importância para ciência,

surgindo então, de forma bem edificada, os estudos da depressão, algo que,

inicialmente, não apresentava muita semelhança. Nesse período, ocorrem inúmeras

transformações na psiquiatria, que passa a ter uma visão integral de relação entre o

físico e o psíquico, embasando-se assim a psicossomática. O professor de medicina

psíquica Christian August Leipzing, utilizou desta base científica para descrever a

melancolia como uma paralisia da disposição do indivíduo, acompanhada da

depressão.

Na mesma época, o francês Philippe Pinel (1745 – 1826) revolucionou a

abordagem da doença mental, com sua obra Trate Médico Philosophique sur

L’aliénation Menta ou la Manie, definindo a melancolia como uma forma parcial da

insanidade, caracterizada por um número limitado de delírios. Ele identificou uma

série de configurações nervosas próprias de certos indivíduos, relacionadas a

experiências de vida, que estariam ligadas a predisposições físicas e psicológicas.

Por isso, defendia que a psiquiatria deveria ser baseada em observações rígidas e

livre ideologias, de modo a investigar diferentes manifestações clínicas.

Outro importante nome que merece ser citado é o do cientista Benjamin

Rush, que se esforçou para colocar as doenças mentais no mesmo paradigma das

outras especialidades médicas. Ele descreve a melancolia como uma ansiedade

parcial, e estaria mais associada com a presença de falsas crenças e delírios do que

com sentimentos e emoções como medo ou tristeza. Até o final do século XIX,

inúmeros cientistas já definiam a melancolia como o início da demência crônica e a

depressão como um estagio mais brando dessa doença.

2.5. Idade Contemporanea (século XX até os dias atuais)

O início desse período ficou marcado pelos pela dualidade entre a

psicanálise de Sigmund Freud, fundamentada em princípios psicológicos, e a

psiquiatria de Ernil Kraepelin, embasada na neurobiologia. Nessa fase, a psiquiatria

já havia já havia sido cientificamente muito contribuída, graças ao avanço da

psicopatologia, da farmacologia, da anatomia patológica, da neurologia e da

genética.

Freud, em 1917, escreveu o livro Luto e melancolia. Nesta obra, ele

retrata a melancolia (ou a depressão) como uma forma de luto do indivíduo, que

Page 11: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

surge de uma sensação de perda do libido. Ele considera que na melancolia, o ego

se torna pobre e vazio. Já Kraepelin impulsionou o aperfeiçoamento da análise

psiquiátrica no início do século, supondo que toda doença mental se erigia sobre

uma base bioquímica interna. Separou a depressão em três categorias, da mais

suava à mais grave, havendo uma relação entre elas, e segundo sua teoria, a

hereditariedade seria responsável por 80% dos casos da doença. Em outras

palavras, influenciou em sua classificação como sendo parte do curso da psicose

maníaco-depressiva, eu seria um estágio de loucura. Até então, a doença não era

vista como uma entidade separável das outras.

Percebe-se que, neste contexto, a análise da depressão fica restrita ao

campo científico, uma vez que fortalecida pelo desenvolvimento da bioquímica, da

psicanálise, da Teoria da Evolução e da Teoria Quântica. Com o favorecimento de

tais áreas da ciência, surgem, nos anos 50, os primeiros antidepressivos. Descobre-

se que seus princípios ativos estão relacionados a mecanismos de

neurotransmissores cerebrais, responsáveis pelas emoções, e esse avanço ocorre

devido à intensa influencia da psiquiatria científica, bem como suas classificações

para a síndrome depressiva, tanto utilizadas no Manual diagnóstico estatístico de

transtornos mentais e na Classificação internacional das doenças. Já a psicanálise

contribuiu para o desenvolvimento de psicoterapias a as representações da

depressão ocorridas na literatura.

Adolf Meyer, psiquiatra suíço, criticou o posicionamento de Kraepelin,

afirmando que havia muitos quadros de depressão que não se encaixavam nos

cursos da psicose maníaco-depressiva. Ele contrariou o uso da palavra melancolia,

adotando definitivamente e termo depressão.

Apesar da forte tendência da psiquiatria bioquímica, a teoria psicanalítica

de Freud foi a mais recorrida para a solução da depressão até a década de 1970,

devido às sistematizações de suas abordagens clínicas para o tratamento da

neurose, que também se aplicavam à depressão.

Na década de 1960, abordagens cognitivas e comportamentais passam a

despertar o interesse de cientistas a respeito de entendimento do comportamento

depressivo. O psicólogo norte-americano criou a terapia cognitivo-comportamental

(TCC), que sustenta a origem da depressão à disfunções, e não a problemas

inconscientes, como era defendido por Freud. Inúmeros ensaios clínicos comprovam

a eficácia da TCC no tratamento da depressão leve e moderada.

Page 12: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

Com as consequências negativas sobre os de um grande número de

soldados sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, que eram dominados pela

doença, aumentaram os estudos sobre os substratos utilizados para a fabricação de

antidepressivos. Descobriu-se, em 1955, o efeito antidepressivo da molécula de

imipramina, conhecido também como antidepressivo tricíclico (ADT). Depois disso,

outros ADTs foram desenvolvidos, e o princípio farmacológico mais importante

dessa classe de medicamentos seria a inibição da receptação da noroadrenalina

(NA), pois estudos mais detalhados permitiram concluir que a ausência dessa

substancia culminaria da depressão. Essa teoria ficou conhecida como hipótese

norodrenérgica.

Com base nos estudos de outro substrato, a aproniazida, descobriu-se,

posteriormente, que ela estaria associada à inibição da enzima monoaminoxidase,

que tem a função de degradar neurotransmissores. Com isso haveria o aumento da

serotonina no cérebro, o que acarreta do bom humor do paciente. Surge então, uma

nova classe de antidepressivos, os inibidores MAO (IMAO), que logo foram

substituídos pelos ADTs. A imipramina e a apriniazida marcaram uma nova era para

a psiquiatria e justamente por isso os anos 50 ficaram marcados como a “década de

ouro”.

Em 1969 e 1970, os farmacologistas russos Izyaslav P. Lapin e Gregory

F. Oxenkrug postularam a hipótese serotonérgica da depressão, em oposição à

norodrenérgica. Tal hipótese justificaria a doença como a falta da serotonina entre

as fendas sinápticas. Como já descrito os ADTs e os IMAO haviam sido descobertos

de forma acidental. Com a formulação de Lapin e Gregory, em 1974, um grupo de

pesquisadores patrocinados pela indústria farmacêutica descobriu uma molécula

altamente seletiva a potente na inibição da captação da serotonina, a SSRI, que

apresenta maior tolerabilidade me relação aos outros dois antidepressivos.

Rapidamente, essa substancia passou a ser a mais prescrita do mundo.

Na década de 80, muitos avanços na neurociência possibilitaram a

avaliação cerebral em termos estruturais, funcionais e moleculares, representando-

se um cérebro in vivo. Com isso, cientistas puderam aumentaram as investigações

das síndromes psico-patológicas. Houve, então uma maior aproximação da

psiquiatria com a neurobiologia, o que a elevou ao mesmo patamar das outras

especialidades médicas. A depressão, então, começa a ser uma doença descrita

com óticas tão importantes como as das doenças propriamente ditas fisiológicas.

Page 13: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

3. EFEITOS REAIS DOS ANTIDEPRESSIVOS

Uma publicação feita New England Journal of Medicine por uma equipe

coordenada pelo psicólogo Eick H. Turner, da Health and Science University de

Oregon, Em Potland, abordou uma avaliação a respeito de todos os antidepressivos

autorizados entre 1987 e 2004 nos Estados Unidos, sendo a maioria deles SSRIs.

Foram analisados estudos de avaliações a respeito de sua eficácia e, segundo um

levantamento realizado, de 74 estudos, 13 mil participantes, exatamente 37 –

metade deles – foram classificados pelo Food And Drugs Administration (FDS) como

positivos. Ou seja, um em cada dois testes comprovara a eficácia dos remédios,

sendo que esses antidepressivos tinham sido aprovados em 94% dos casos.

Em 2008, o psicólogo Irving Kirsch, da universidade britânica de Hull

avaliou documentos de autorização de quatro novos medicamentos. Constatou que

eles tinham efeito apenas sobre pacientes com estado de depressão grave. Esses

remédios, sendo um deles a paroxetina, costumam mitigar os sintomas das

depressões mais leves, uma vez em que as formas mais amenas da melancolia

costumam regredir naturalmente após certo tempo, e a probabilidade disso

acontecer aumente conforme o estado depressivo é mais leve. Sendo assim, faz

pouquíssima diferença se o paciente recebeu o medicamento ou placebo. Somente

em pessoas com o caso mais sério a diferença entre o medicamento e o placebo é

tão grande a ponto de adquirir importância segundo os critérios do Instituto Britânico

de Medicamentos, conforme o gráfico abaixo:

Imagem 4: Gráfico da pesquisa de Irving Kirsch sobre os efeitos da paroxetina.

Page 14: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

Fonte: Revista Mente cérebro – Edição novembro de 2011.

Foi realizado nos Estado Unidos um estudo que alarma ainda mais o

quadro, o STAR*D (Sequenced Treatment Alternatives to Relieve Depression). Nele,

o Instituto Nacional de Saúdem Mental analisou pessoas com depressão que

também tinham diabetes ou doenças cardiovasculares. Sabendo que havia cerca de

4 mil participantes, 78% deles teriam sido excluídos pelos procedimentos de

tratamento padrão. Aqueles que normalmente seriam excluídos apresentavam um

risco maior de suicídio, em geral estavam desempregados e recebiam baixos

salários, o que indica que sofriam de depressões renitentes. 39% dessa parcela

responderam ao tratamento e para os outros o índice de sucesso foi de 51%. Sendo

assim, os benéficos não podem ser transferidos para a maioria dos pacientes.

Para alarmar ainda mais a situação, foi constatado que um ano após o

tratamento, apenas um quarto dos pacientes ainda estava melhor do que no

começo. Nessa parcela, já está incluído um possível efeito placebo, pois no STAR*D

não houve pacientes apenas aparentemente tratados cujas reações os

pesquisadores poderiam ter excluído dos resultados farmacológicos.

Conclui-se então que “antidepressivos não têm garantias de sucesso tão

fortes quanto as pessoas pensavam antigamente”, como afirma o farmacologista

Gerard Glaeske. Os efeitos colaterais causados pelos medicamentos e os resultados

modestos levam ao questionamento se realmente, foram desenvolvidos tratamentos

ideais para a depressão. Precisa-se entender o que ocorre no cérebro das pessoas

e quis os efeitos dos diferentes fármacos. Ainda que seções de acompanhamento

psicoterápico sejam efetivas, as mesmas têm resultados apenas em estados

brandos da depressão. As combinações dos remédios aprovados para o uso só têm

seu real efeito quando a depressão está em um estágio avançado.

Page 15: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

4. CONCLUSÕES

Ao se analisar o processo histórico de como a sociedade interpretava a

depressão, percebe-se que ao longo de um acervo riquíssimo, o seu conceito e sua

investigação mudaram de uma forma extrema. Inicialmente, não eram utilizados

métodos científicos para entender suas causas, fazer seu diagnóstico de forma

precisa e aperfeiçoar seu tratamento. Com os progressos científicos e os

consequentes avanços tecnológicos, foram possíveis muitos estudos que

conciliassem o comportamento fisiológico humano e o entendimento do seu

psicológico, e isso possibilitou a criação de fármacos que, a priori, seriam efetivos no

tratamento. Porém estudos já revelaram e ainda e ainda nos mostra que ainda há

muito para se conhecer do funcionamento do cérebro humano e o efeito desses

medicamentos. Percebe-se que o consumo destes, por mais que existam essas

grandes lacunas, é altíssimo, o que é vantajoso para as indústrias farmacêuticas,

que são privilegiadas que ando omitir os resultados não vantajosos de suas

pesquisas. Para ter acesso a estes, um indivíduo precisa acessar à informações

institucionais, como as da Food And Drugs Administration (FDS), pois a mídia

apenas divulga as aspectos vantajosos das pesquisas realizadas.

Page 16: DEPRESSÃO: O atual foco das especulações · A primeira a apontar as diferenças na melancolia entre os homens e as ... funções que são sucedidas à mulher na sociedade feudal,

5. REFERÊNCIAS

[1] – FERREIRA, SILVANA A. T. A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DEPRESSÃO

NO SÉCULO XX:UMA ANÁLISE DA CLASSIFICAÇÃO DA DEPRESSÃO NAS

DIFERENTES EDIÇÕES DO MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DA

ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA (DSMs) E POSSÍVEIS

REPERCUSSÕES DESTAS MUDANÇAS NA VISÃO DE MUNDO MODERNA. Rio

de Janeiro, 2011.

[2] – SOUZA, THAÍS RABANEA DE; LACERDA, ACIOLY RUIZ TAVAREZ DE.

Depressão ao longo da história. Quevedo & silva (org.). 2010.

[3] – GONÇALVES, CÍNTIA ADRIANA VIEIRA; MACHADO, ANA LÚCIA. Depressão,

o mal do século: de que século? Revista Enfermagem. Rio de Janeiro, 2007.

[4] – PAULUS, JOCHEN. Antidepressivos: são mesmo eficazes? Revista mente

cérebro. P. 26-33. Novembro de 2011.

[5] – BUENO, J. ROMILDO. A era dos antidepressivos. Revisão sobre a escolha de

um antidepressivo na prática clínica. Revista Debates em psiquiatria. P. 6 – 12.

Janeiro/Fevereiro de 2011.