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O EXECUTOR Oo ALTA TENSÃO COLECÇÃO DO AUTOR DE O HIPNOTISTA

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Page 1: Depois de O HIPNOTISTA, eis que chega O EXECUTOR DO AUTOR DE O … · 2011. 6. 27. · actividade. Salman explica o que significa o relatório preliminar favo-rável e a fase em que

O EXECUTORLARS KEPLER O EXECUTOR

Uma mulher aparece misteriosamente morta numa embarcação de recreio ao largo do arquipélago de Estocolmo. O seu corpo está seco, mas a autópsia revela que os pulmões estão cheios de água. No dia seguinte, Carl Palmcrona, director-geral de Armamento e Infraestruturas de Defesa da Suécia, é encontrado enforcado em casa. O corpo parece flutuar ao som de uma enigmática música de violino que ecoa por todo o apartamento. Chamado ao local, o comissário da polícia Joona Lina sabe que na sua profissão não se pode deixar enganar pelas aparências e que um presumível suicídio não é razão suficiente para fechar o caso. Haverá possibilidade de estes dois casos estarem relacionados? O que poderia unir duas pessoas que aparentemente não se conheciam?

Longe de imaginar o que está por detrás destas mortes, Joona Lina mergulhará numa investigação que o conduzirá, através de uma vertiginosa sucessão de acontecimentos, a uma descoberta diabólica. Existem pactos que nem mesmo a morte pode quebrar…

«Lars Kepler, os sucessores de Larsson.»El Mundo

«Uma vez mais, o romance negro deitou por terra o mito da idílica sociedade nórdica.»El Periódico

«Não há margem para dúvidas de que O Executor é um dos melhores livros suecos dos últimos anos. É também uma obra notável em termos de mérito literário. Melhor é impossível!»Göteborgsposten

«O Executor fala-nos do pacto que o músico Paganini fez com o Diabo em troca do seu virtuosismo. Também o leitor estará disposto a vender a sua alma em troca da leitura ininterrupta deste livro.»Arbetarbladet

«Há crime para lá de Millennium.»Os Meus Livros

«Joona Lina é um polícia deveras merecedor de uma série de romances.»José Riço Direitinho, Ípsilon

«A nova sensação do policial sueco.»Sol

«O Hipnotista é o mais hipnótico policial que li este ano.»Paulo Nogueira, Expresso

Lars Kepler é o pseudónimo de uma dupla de escritores de sucesso na Suécia: Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril. O Hipnotista, anteriormente publicado pela Porto Editora, foi o primeiro livro que escreveram juntos e está a ser adaptado ao cinema pela mão do realizador Lasse Hallström. Os direitos de tradução para O Executor estão cedidos até ao momento para 24 países.

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www.portoeditora.pt

ISBN 978-972-0-04331-3

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CÇÃO

Depois de O HIPNOTISTA, eis que chega O EXECUTORLars Kepler, a grande revelação do policial nórdico

DO AUTOR DE O HIPNOTISTA

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Penélope Fernández sente um calafrio a percorrer -lhe a espinha. O seu coração começa a bater mais depressa, e ela lança um rápido olhar por cima do ombro. Talvez tenha tido um pressentimento daquilo que lhe irá acontecer mais tarde, naquele mesmo dia.

Apesar do calor no estúdio, Penélope nota uma sensação de frescura na cara devido à maquilhagem; aplicam-lhe uma base cremosa no rosto e retiram-lhe o gancho com a pomba da paz do cabelo, antes de aplica-rem a espuma para lhe delinear os longos caracóis.

Penélope Fernández é a presidente da Associação Sueca para a Paz e Arbitragem. Conduzem -na em silêncio até ao plateau e a jovem senta -se à luz dos holofotes, em frente de Pontus Salman, o director executivo da fábrica de material bélico Silencia Defence AB.

A pivô do noticiário, Stefanie von Sydow muda de tema, olha direc-tamente para a câmara e começa a falar dos despedimentos que se segui-ram à compra da Aktiebolag Bofors pelo grupo britânico de defesa, BAE Systems Limiteds. Dirige -se depois a Penélope:

– Penélope Fernández, tem feito duras críticas, em vários debates, aos negócios de exportação de armamento sueco. Recentemente fez uma comparação com o escândalo francês conhecido como Angolagate. Polí-ticos e homens de negócios em altos cargos foram processados por cor-rupção e contrabando de armas e agora condenados a longas penas de prisão… Mas nunca vimos nada parecido aqui na Suécia, pois não?

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A premonição

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– Isso pode ser interpretado de duas maneiras – responde Penélope Fernández. – Ou os nossos políticos funcionam de forma diferente ou é o nosso sistema judicial que funciona de forma diferente.

– A senhora sabe muito bem – diz Pontus Salman – que temos uma longa tradição de…

– Segundo a lei sueca – interrompe Penélope Fernández –, o fabrico e a exportação de material bélico são proibidos.

– Nisso está claramente enganada – diz Salman.– Os artigos 3.º e 6.º da legislação sobre material bélico – especifica

Penélope.– No entanto, a Silencia Defence recebeu uma resposta preliminar

positiva – diz ele com um sorriso.– Sim, porque de outra forma estaríamos perante um crime de

grande escala e…– Mas agora temos de facto uma licença – interrompe ele.– Não se esqueça de que o material bélico se destina a…– Espere um pouco, Penélope – intervém a pivô Stefanie von Sydow,

e faz um gesto com a cabeça para Pontus Salman, que erguera a mão em sinal de não ter terminado.

– Todas as transacções são examinadas de antemão – esclarece Sal-man. – Ou directamente pelo Governo ou pela Direcção-Geral de Arma-mento e Infra-Estruturas de Defesa, caso tenha ouvido falar nela.

– A França tem uma entidade correspondente – objecta Penélope. – E, no entanto, houve material bélico no valor de oito mil milhões de coroas que foi parar a Angola, apesar do embargo da ONU, apesar de uma proibição totalmente vinculativa…

– Agora estamos a falar da Suécia.– Compreendo que as pessoas não queiram perder os seus empregos,

mas mesmo assim gostaria de ouvir como justifica o senhor a exportação de enormes quantidades de munições para o Quénia. É um país que…

– A senhora não tem absolutamente nada que nos possa apontar – interrompe Salman. – Nada, nem um único pormenor, ou tem?

– Lamento, mas não posso…– Tem algo em concreto em que se possa basear? – intervém Stefanie

von Sydow.– Não – responde Penélope Fernández e baixa o olhar. – Mas eu…

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– Então, julgo que seria apropriado apresentar desculpas – diz Pon-tus Salman.

Penélope olha -o nos olhos, sente a irritação e a frustração a ferver--lhe o sangue, mas faz um esforço para se dominar. Pontus Salman mostra um sorriso condescendente e começa de seguida a falar da fábrica de Trollhättan. Afirma que duzentos postos de trabalho foram criados quando a Silencia Defence obteve a autorização para iniciar a actividade. Salman explica o que significa o relatório preliminar favo-rável e a fase em que se encontra a produção. Fala longa e demorada-mente sobre o assunto de maneira a não sobrar espaço para a sua adversária responder.

Penélope ouve e faz um esforço para afastar o perigoso orgulho do seu coração. Prefere pensar em como ela e Björn dali a pouco se encon-trarão no seu barco. Irão fazer a cama, encher o frigorífico e o pequeno congelador portátil. Imagina os copos gelados de vodka e o arenque de escabeche, com molho de mostarda, batatas novas, ovos cozidos e tostas estaladiças que comerão. Vão pôr a mesa no convés da popa, ancorar num pequeno ilhéu do arquipélago e passar horas a comer enquanto o sol se põe no horizonte.

Penélope Fernández sai da Televisão Sueca e começa a caminhar em direcção à rua Valhallavägen. Ficara sentada à espera durante quase duas horas para participar noutro debate televisivo quando o produtor veio explicar que tinham sido obrigados a retirar a sua participação para emi-tir um especial com cinco conselhos rápidos sobre como conseguir uma barriga lisa no Verão.

Ao longe, no final da esplanada de Gärdet, vê a grande tenda colo-rida do Cirkus Maximum. Um tratador de animais lava dois elefantes à mangueirada. Um dos elefantes eleva a tromba e recolhe o forte jacto de água na boca.

Penélope tem apenas vinte e quatro anos, o seu cabelo negro e ondulado chega -lhe um pouco abaixo dos ombros. À volta do pescoço cintila uma curta corrente de prata com um pequeno crucifixo, lem-brança da sua primeira comunhão. A sua pele tem um tom suavemente dourado; «como azeite virgem ou mel», escreveu uma vez um colega seu do terceiro ciclo para um trabalho que consistia em descrever o aspecto dos colegas de turma. Os olhos são grandes e sérios. Mais do que uma

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vez ela ouviu comentar a sua espantosa semelhança com a estrela de cinema Sophia Loren.

Penélope tira o telemóvel da mala e telefona a Björn para dizer que está a caminho, que vai apanhar o metropolitano na praça Karlaplan.

– Penny? Aconteceu alguma coisa?– Não, porquê?– Está tudo pronto, deixei uma mensagem no teu voice-mail, só falta

tu chegares.– Também não temos pressa, pois não?Quando Penélope se encontra na comprida e íngreme escada rolante

que desce para a plataforma do metropolitano, o seu coração começa a bater com mais rapidez em virtude de um súbito mal -estar, e fecha os olhos. A escada afunda -se ainda mais, torna -se mais estreita e o ar é cada vez mais frio.

Penélope Fernández nasceu em La Libertad, uma das maiores regiões de El Salvador. A mãe de Penélope, Claudia Fernández, foi presa durante a guerra civil e Penélope nasceu numa cela de prisão onde quinze mulheres cativas deram o seu melhor para ajudar no parto. Claudia era médica e tivera um papel activo em campanhas de consciencialização da população. O que a levara à célebre prisão do regime fora o facto de ter tentado difundir informação sobre o direito dos trabalhadores a criarem sindicatos.

Penélope só abre os olhos quando chega à plataforma do metropoli-tano. A sensação de clausura desaparecera. Pensa de novo em Björn, que está à sua espera junto ao clube náutico de Långholmen. Ela adora tomar banho nua, mergulhar do barco e não ver mais nada senão o mar e o céu.

O metro chega na sua rápida e agitada corrida, e a luz intensa do sol entra pelas janelas quando as carruagens saem do túnel e entram na esta-ção da Cidade Velha.

Penélope Fernández odeia guerras, violência e o poder bélico; é uma aversão tão profunda e ardente que a impeliu a licenciar-se em Ciências Sociais e Políticas e a fazer uma pós -graduação em Uppsala, no Departa-mento de Pesquisa de Paz e de Conflitos. Trabalhou para a organização humanitária Action contre la Faim, no Darfur, juntamente com Jane Oduya, e escreveu um artigo que mereceu muita atenção para o jornal Dagens Nyheter acerca das mulheres no campo de refugiados e as suas tentativas de refazer uma vida normal depois de cada violação. Há dois

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anos, sucedeu a Frida Blom como presidente da Associação Sueca para a Paz e Arbitragem.

Quando Penélope desce em Hornstull e sai da estação directamente para a luz do sol é invadida por um repentino e inexplicável desassossego e desce a correr a Pålsundsbacken, em direcção à rua Söder Mälarstrand, atravessa a passo apressado a ponte que conduz a Långholmen e conti-nua pelo caminho à esquerda, em direcção à marina de recreio; o pó que os seus pés levantam envolve -a como uma névoa no ar abafado.

O barco de Björn está atracado à sombra da ponte Västerbron, e os movimentos da água criam uma rede de luz vacilante que se reflecte nas vigas de aço pintadas de cinzento da elevada estrutura.

Ela consegue vê -lo no convés da popa, com um chapéu de cowboy, imóvel, os braços à volta do corpo e os ombros encolhidos.

Penélope mete dois dedos à boca e assobia, e Björn sobressalta -se: o seu rosto transfigura-se, como se tivesse apanhado um enorme susto. Vira -se em direcção ao cais e o seu olhar depara -se com ela; a expressão nos seus olhos continua apreensiva quando ele se aproxima da prancha de embarque.

– Que bicho te mordeu? – pergunta Penélope, continuando a descer a escada para os ancoradouros.

– Não foi nada – responde Björn, enquanto endireita o chapéu na cabeça e tenta um sorriso.

Abraçam -se e ela sente que as mãos dele estão geladas e a camisa está molhada nas costas.

– Estás todo transpirado – observa.Björn evita olhá -la nos olhos.– Foi um stresse para conseguir ter tudo pronto para sairmos.– Trouxeste a minha mala?Ele assente com a cabeça e faz um gesto em direcção ao camarote.

O barco balança ao de leve sob os pés de Penélope, e ela sente os cheiros do plástico aquecido pelo sol e da madeira envernizada.

– Acorda! – diz ela a rir. – Parece que não estás aqui.O cabelo cor de palha de Björn espeta -se para todos os lados em

pequenas rastas; os olhos azul -claros parecem os de uma criança, meigos.

– Estou aqui – diz ele e baixa o olhar.– Em que estás a pensar tão absorto?

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– Que vamos poder estar juntos – responde e põe os braços à volta da sua cintura. – Que vamos fazer amor no meio da natureza.

Roça os lábios pelo cabelo dela.– Achas? – sussurra ela.– Sim.Ela ri -se da sua sinceridade.– A maioria… pelo menos as mulheres, acham certamente que essa

é uma ideia romântica um pouco sobrevalorizada – observa. – Estar dei-tada no chão no meio de formigas e pedras e…

– É tal e qual como tomar banho nu – insiste ele.– Então tens de me convencer – diz ela maliciosa.– E vou fazê-lo.– Como? – ri -se ela no momento em que o telemóvel começa a tocar

na sua mala.Björn fica paralisado; o seu rosto empalidece por completo. Penélope

comprova pelo ecrã do telemóvel que a chamada é da irmã mais nova.– É a Viola – explica rapidamente a Björn antes de atender:– Olá, irmãzinha.Ouve -se a buzina de um carro e a irmã grita qualquer coisa do outro

lado.– Que besta – diz zangada.– O que se passa?– Acabou -se – diz a irmã. – Acabei com o Sergej.– Outra vez... – acrescenta Penélope.– Sim – responde Viola baixinho.– Desculpa – diz Penélope. – Percebo que estejas triste, claro.– Não é assim tão grave, mas… A mãe disse que iam sair com o

barco e pensei… gostaria muito de fazer -vos companhia, se não se importarem.

Faz -se silêncio.– Fazer -nos companhia? – repete Penélope e ouve a falta de entu-

siasmo na sua própria voz. – É que eu e o Björn precisamos de passar algum tempo a sós, mas…

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O perseguidor

Penélope está na cabine do leme vestida com um airoso páreo azul à volta das ancas e a parte de cima de um biquíni branco com o símbolo da paz no peito direito. A luz de Verão banha o seu corpo através do pára--brisas. Com cautela, rodeia o farol de Kungshamn, manobrando o iate para dentro do pequeno estreito.

A sua irmã mais nova, Viola, levanta -se da espreguiçadeira cor -de--rosa no convés da popa, na qual passou a última hora a fumar um cigarro de haxixe com movimentos lentos, de cabeça coberta com o cha-péu de cowboy de Björn e com uns enormes óculos de sol com lentes espelhadas.

Viola faz cinco tentativas falhadas de levantar a caixa de fósforos do chão com os dedos dos pés, antes de desistir. Penélope não consegue evi-tar um sorriso. Viola entra pela porta de vidro do salão e pergunta se a irmã quer que a substitua.

– Caso contrário, vou até à cozinha preparar uma margarita – diz descendo a escada.

No convés da proa Björn está deitado numa toalha de praia com uma edição de bolso das Metamorfoses de Ovídio a fazer de almofada.

Penélope nota que a amurada em que Björn apoia os pés está ferru-genta na base. Ele recebeu o barco como prenda do pai quando fez vinte anos, mas não tem dinheiro suficiente para conseguir mantê -lo em bom estado. Foi o único presente que o pai alguma vez lhe ofereceu, à excepção

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de uma viagem. Quando o pai fez cinquenta anos, convidou Björn e Penélope para passarem umas férias num dos seus melhores hotéis de luxo, o Kamaya Resort, situado na costa oriental do Quénia. Penélope não suportara o hotel e dois dias depois viajara para o campo de refugia-dos de Kubbum no Darfur, no Sul do Sudão, onde o grupo de ajuda humanitária francesa Action Contre la Faim se encontrava.

Penélope reduz a velocidade de cruzeiro de oito para cinco nós quando se aproximam da ponte Skurusundsbron. Onde se encontram não ouvem o menor ruído do trânsito denso que passa por cima. No momento em que se dirigem para uma zona que se encontra à sombra, ela repara num barco de borracha preto encostado ao pilar de betão; é uma embarcação do mesmo tipo que as forças navais militares usam, um RIB provido de casco de fibra de vidro e motores extremamente potentes.

Logo após passar a ponte Penélope dá-se conta de que há uma pes-soa sentada no barco; um homem agachado na sombra, de costas volta-das. Ela não sabe explicar por que motivo sente a pulsação acelerar repentinamente quando o vê, mas há algo estranho na nuca dele e naquelas roupas pretas. Sente -se como se estivesse a ser observada, ape-sar de ele estar de costas para ela.

Ao entrar novamente na zona iluminada pelo sol, Penélope sente um arrepio percorrer-lhe o corpo, ficando com pele de galinha.

Depois de passar a enseada de Duvnäs, aumenta a velocidade para os quinze nós. Os dois motores a diesel rugem, deixando um rastro de espuma quando o barco toma velocidade.

O telemóvel de Penélope toca. Vê o número da mãe no ecrã; talvez tenha visto o debate na televisão. Penélope pensa por um instante que a mãe está a telefonar para lhe dizer que ela se tinha saído bem e que estava bonita, mas sabe que isso não passa de mera fantasia.

– Olá, mãe.– Ai – diz a mãe baixinho.– O que tens?– São as costas… tenho de fazer naturopatia – explica Cláudia e

ouve -se o som que parece água da torneira a encher um copo. – Liguei só para saber se a Viola já falou contigo.

– Ela está aqui no barco – diz Penélope, ouvindo a mãe beber.– Ah, está convosco… achei que lhe faria bem.– Claro que lhe fará bem.

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– O que vão comer?– Hoje vamos jantar arenque em escabeche, batatas cozidas, ovos…– Ela não gosta de arenque.– Mãe, a Viola telefonou ‑me porque…– Eu sei que não estavas a contar que ela também fosse – interrompe

Claudia. – E é justamente por isso que estou a perguntar.– Fiz almôndegas – diz Penélope com paciência.– E chega para todos? – pergunta a mãe.– Se chega? Isso depende…Cala ‑se e olha fixamente a superfície brilhante da água.– Posso dar as minhas à Viola – assegura Penélope indulgente.– Se não chegar para todos – diz a mãe. – É só isso que quero dizer.– Já percebi – diz Penélope baixinho.– Agora devo ter pena de ti? – pergunta a mãe, tentando conter a

irritação.– É só que… efectivamente, a Viola já não é nenhuma criança e…– Estás a desiludir ‑me.– O quê?– Costumas comer as minhas almôndegas no Natal e na festa do

Solstício e…– Não preciso de as comer – diz Penélope precipitadamente.– Ainda bem – diz a mãe num tom seco. – Fica assim combinado.– Só estou a dizer que…– Não precisas de cá vir na festa do Solstício – interrompe a mãe

exaltada.– Oh, mãe, porque tens sempre…Ouve ‑se um clique quando a mãe, sem mais, desliga. Penélope cala‑

‑se, tremendo de raiva. Olha para o telefone antes de o desligar.O barco move ‑se lentamente por cima dos reflexos verdes lançados

pe las frondosas colinas. A escada da cozinha range e, passado um mo mento, aparece a figura instável de Viola com a margarita na mão.

– Era a mãe?– Sim.– Tem medo que não me dêem de comer? – pergunta Viola com um

sorriso.– Há comida de sobra – responde Penélope.– A mãe não acredita que sou capaz de tomar conta de mim.

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– Ela está apenas preocupada – explica Penélope.– Nunca se preocupa contigo – observa Viola.– Eu governo ‑me.Viola bebe um gole do seu copo e olha demoradamente pelo

pára ‑brisas.– Vi o debate na televisão – diz de seguida.– Esta manhã? O meu frente ‑a ‑frente com o Pontus Salman?– Não, foi na… semana passada. Estavas a falar com um homem

arrogante que… que tinha um nome bonito e…– Palmcrona – diz Penélope.– Exactamente, Palmcrona…– Irritei ‑me, senti‑me a ferver de raiva e as lágrimas a subirem ‑me

aos olhos. Apeteceu ‑me cantar Masters of Wars do Bob Dylan ou sair a correr dali para fora batendo com a porta.

Viola aponta para os braços da irmã quando ela se estica e abre a janela do tecto.

– Pensei que não costumavas depilar as axilas.– Não, mas tenho aparecido tantas vezes nos media que…– A vaidade atingiu ‑te em cheio – brinca Viola.– Não quero ser vista como uma idealista sem noção da realidade só

por causa de uns pêlos por baixo dos braços.– E então como vai a linha do biquíni?– Mais ou menos…Penélope levanta o páreo e Viola solta uma gargalhada.– O Björn gosta – sorri Penélope.– Bem, com aquela rasta dele, também não pode dizer grande coisa.– Já tu depilas‑te como deus manda – diz Penélope num tom áspero.

– Para agradares aos teus tipos casados e a esses idiotas com grandes músculos e…

– Já sei que tenho um péssimo critério – interrompe Viola.– Só para algumas coisas.– Nunca fiz nada como deve ser.– O que devias fazer é melhorar as tuas notas e…Viola encolhe os ombros:– Afinal fiz o exame de acesso ao ensino superior.Continuam a avançar em marcha lenta pelas águas transparentes,

com gaivotas a seguir o barco em alto voo.

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– E como correu? – pergunta Penélope passado um bom bocado.– Achei a prova fácil – responde Viola e lambe o sal da borda do copo.– Quer dizer que correu bem, então – sorri Penélope.Viola confirma com um aceno de cabeça enquanto pousa o copo na

mesa.– Mas bem até que ponto? – quer Penélope saber, e dá ‑lhe uma leve

cotovelada.– Tive nota máxima – diz Viola baixando o olhar.Penélope lança um grito de alegria e abraça a irmã com força.– Sabes o que isso significa? – pergunta Penélope excitadíssima.

– Vais poder escolher qualquer curso que queiras, com entrada garantida em qualquer universidade, é só escolheres: Economia, Medicina, Jornalismo…

A irmã ri‑se, corada, e Penélope dá ‑lhe outro abraço que lhe atira o chapéu ao chão. Faz ‑lhe uma festa na cabeça, ajeita ‑lhe o cabelo da mesma maneira que costumava fazer quando eram crianças, tira o gan‑cho com a pomba do seu próprio cabelo e prende ‑o no da irmã, olha ‑a nos olhos e sorri.

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Um barco à deriva na baía Jungfrufjärden

A proa corta a superfície lisa como se fosse uma faca, produzindo um som dilacerante. Navegam a alta velocidade formando ondas que chegam a terra. Rasgam as ondas, a quilha ressalta ruidosamente, a água levanta ‑se em jorros à volta do barco. Penélope conduz o barco para a baía com os motores a trabalhar na potência máxima. A proa ergue ‑se e a espuma branca das águas separa ‑se atrás da popa.

– Estás louca, rapariga – grita Viola e tira o gancho do cabelo, tal como costumava fazer em criança assim que terminavam de penteá‑la.

Björn acorda quando fazem uma paragem na ilha de Gåsö. Compram gelados e bebem uma chávena de café. Viola quer jogar minigolfe no pequeno campo de golfe, e já é tarde avançada quando prosseguem viagem.

A bombordo, toda a baía se estende como um gigantesco chão empedrado.

O plano é atracarem em Kastskär, uma ilha desabitada em forma de ampulheta. No lado sul há uma frondosa enseada onde poderão ancorar o barco, nadar, fazer um churrasco e pernoitar.

– Vou descer até ao camarote a descansar um pouco – diz Viola com um bocejo.

– Vai lá, então – responde Penélope com um sorriso.Viola desce a escada e Penélope concentra ‑se na condução. Reduz a

velocidade e mantém debaixo de olho a sonda electrónica, atenta aos

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bancos de areia à medida que se vão aproximando de Kastskär. A pro‑fundidade diminui repentinamente, dos quarenta para os cinco metros.

Björn entra na cabine do leme e beija a nuca de Penélope.– Queres que comece a cozinhar? – pergunta ‑lhe.– A Viola ainda precisa de dormir mais um pouco.– Agora pareces a tua mãe a falar – diz ele com voz meiga. – Ela já te

telefonou?– Já.– Para comprovar se sempre deixámos a Viola vir?– Sim.– Discutiram?Penélope nega com um gesto de cabeça.– O que tens? Estás triste?– Não, é só que a minha mãe…– O quê?Penélope limpa as lágrimas das faces, sorrindo.– Não me quer lá na festa do Solstício – explica.Björn abraça ‑a.– Não devias ligar ao que ela diz.– E não ligo.Penélope manobra o barco muito, muito devagar em direcção ao

interior da enseada. Os motores trabalham suavemente. Já se encontram tão perto da costa que ela consegue sentir o cheiro da vegetação da ilha.

Lançam a âncora, soltam a corda e aproximam ‑se pelo meio das rochas. Björn salta para terra com a corda e ata ‑a à volta do tronco de uma árvore na encosta íngreme.

O chão está coberto de musgo. Ele permanece ali a olhar para Pené‑lope. Alguns pássaros mexem ‑se nas copas das árvores quando o cabres‑tante faz barulho.

Penélope veste uns calções e uns ténis brancos, salta para terra e agarra a mão estendida de Björn. Ele rodeia ‑lhe o corpo com os braços.

– Vamos dar uma vista de olhos à ilha?– Não tinhas de me convencer de alguma coisa? – pergunta ela num

tom provocador.– Das vantagens do direito ao livre acesso – diz ele.Ela assente com um sorriso enquanto ele lhe afasta o cabelo da cara

e lhe acaricia a maçã do rosto e a sobrancelha espessa e negra.

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mas de um momento para outro sente um arrepio. De súbito, os pássaros deixam de cantar e cai um silêncio quase absoluto; apenas se ouve o cha‑pinhar da água contra o casco e o surdo rangido da corda atada à volta da árvore. Inesperadamente, Penélope toma consciência dos seus pró‑prios movimentos. Desce a escada que leva à popa e vê a porta do cama‑rote dos hóspedes aberta. A luz do candeeiro está acesa, mas Viola não se encontra ali. Penélope nota que a sua mão treme quando bate à porta da pequena casa de banho. Abre‑a, olha à sua volta e volta a subir para o convés. Ao longe, vê Björn a meter ‑se na água. Faz ‑lhe sinal com a mão, mas ele não a vê.

Penélope abre as portas envidraçadas do salão, passa pelos sofás azuis, pela mesa de teca e pela cabine do leme.

– Viola? – chama ela baixinho.Desce para a cozinha, tira uma panela do armário, mas larga ‑a em

cima do fogão quando sente a pulsação acelerar. Dá uma rápida vista de olhos à casa de banho grande e continua a andar para o camarote na proa onde ela e Björn costumam dormir. Abre a porta, percorre o espaço mal iluminado com o olhar e ao princípio pensa que se está a ver a si própria reflectida no espelho.

Viola está sentada na borda da cama, imóvel, com uma mão apoiada na almofada cor ‑de ‑rosa comprada numa loja de artigos em segunda mão.

– O que estás a fazer aqui dentro?Penélope ouve a sua própria voz a perguntar à irmã o que está a

fazer no camarote, apesar de já ter percebido que alguma coisa não bate certo. Viola está pálida, com o rosto baço e molhado, o cabelo empapado e desgrenhado.

Penélope aproxima ‑se, segura na cara da irmã com as mãos, geme baixinho e, de seguida, grita, com o rosto encostado ao dela:

– Viola! O que aconteceu? Viola!Percebe o que está mal: não se sente qualquer respiração no corpo

da irmã, a sua pele não irradia calor; não há nada que reste nela, a chama da vida está apagada. O espaço reduzido do quarto escurece, aperta ‑se à volta de Penélope. Com uma voz que não reconhece, torce ‑se em gemi‑dos e tropeça para trás, atira a roupa para o chão, o ombro choca com força no umbral da porta. Dá meia ‑volta e corre pela escada acima.

Quando chega ao convés, tenta recuperar o fôlego, como se estivesse a ponto de se afogar. Tossindo e arquejando, olha à sua volta com o terror

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gélido a alastrar ‑se dentro do corpo. Na praia, cem metros mais à frente, vê um homem estranho de roupa preta. De alguma maneira, Penélope com‑preende como tudo se enquadra: ela sabe que se trata do mesmo homem que viu no barco militar na penumbra, debaixo da ponte; o mesmo que lhe virou as costas quando eles passaram. Percebe que foi aquele homem ves‑tido de negro quem matou Viola e que ainda não terminou.

O homem está na praia a acenar em direcção a Björn, que nada a uns vinte metros de terra, chama por ele e levanta o braço. Björn ouve ‑o e pára de nadar, mantém ‑se a boiar e procura a terra com o olhar.

O tempo parece ter ‑se detido. Penélope lança ‑se em corrida para a cabine do leme, remexe na gaveta das ferramentas, encontra uma faca com cabo de plástico e corre de volta para o convés.

Ela vê como Björn nada a braçadas lentas, vê os anéis de água à sua volta. Ele olha para o homem com uma expressão intrigada. O homem faz ‑lhe sinal para se aproximar, insiste que ele venha. Björn mostra um sorriso hesitante e começa a nadar para a praia.

– Björn! – grita Penélope a plenos pulmões. – Afasta ‑te da praia!O homem em terra vira ‑se na sua direcção e começa a correr para o

barco. Penélope corta a corda, escorrega no convés de madeira molhado, levanta ‑se, entra aos tropeções na cabine e liga o motor. Sem olhar para trás, iça a âncora e, ao mesmo tempo, mete a marcha ‑atrás.

Björn deve tê ‑la ouvido, porque se afastou da praia e agora está a nadar para o barco. Penélope dirige o iate na sua direcção, ao mesmo tempo que repara que o homem mudou de direcção e corre, encosta acima, para o lado oposto da ilha. Percebe que o seu perseguidor anco‑rou o seu barco de borracha preto na enseada norte.

Ela sabe que não há a mínima hipótese de andar mais depressa do que ele.

O barco pesado faz um ruído surdo e prolongado quando Penélope dá a volta em direcção a Björn. Ela grita‑lhe, aproxima ‑se, reduz a veloci‑dade e estende ‑lhe o croque. A água está fria. Björn parece assustado e exausto; a sua cabeça desaparece constantemente debaixo da superfície. Sem querer, Penélope magoa‑o com a ponta do croque, a testa começa a sangrar ‑lhe.

– Agarra ‑te! – grita ela.O barco de borracha preto já começou a rodear a ilha; ela ouve o

som inconfundível do motor. Björn faz um esgar de dor e, após várias

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tentativas, acaba por conseguir prender o braço à volta do croque. Pené‑lope puxa ‑o tão depressa quanto pode para a plataforma de mergulho e ele agarra ‑se à borda. Sem querer, Penélope deixa cair o croque e vê ‑o a afastar ‑se na água.

– A Viola está morta! – grita e ouve o desespero e o pânico a misturarem ‑se na sua voz.

Logo que Björn consegue agarrar‑se‑se com firmeza à escada, ela corre para a cabine do leme e acelera a fundo.

Björn sobe a amurada e ela ouve ‑o a gritar que se dirija em linha recta para a ponta da ilha de Ornäs.

O som ensurdecedor dos motores do barco de borracha aproxima‑‑se atrás deles.

Ela gira num ângulo apertado, ouvem ‑se estrondos debaixo do casco.

– Ele matou a Viola – geme Penélope.– Cuidado com as rochas submersas – adverte Björn a tiritar.O barco de borracha já rodeou a ilha de Stora Kastskär e ganha velo‑

cidade no mar aberto e plano.O sangue escorre pelo rosto de Björn.Aproximam ‑se rapidamente da ilha grande. Björn vira ‑se, vê o barco

de borracha talvez a uns trezentos metros de distância.– Para o embarcadouro!Ela vira, mete a marcha ‑atrás e quando desliga o motor a proa choca

contra o embarcadouro com um rangido. O costado roça contra uma escada de madeira molhada. As ondas agitadas abatem ‑se sobre as rochas e logo retrocedem. O iate inclina ‑se para o lado, a escada desfaz‑‑se em estilhaços; a água transborda a amurada. Björn e Penélope aban‑donam o barco e sobem para o molhe. Atrás de si ouvem como o costado range quando balança contra o paredão. Precipitam ‑se para terra enquanto o barco de borracha se aproxima com os motores a rugir. Penélope escorrega, apoia ‑se com a mão e começa a subir ofegante a praia inclinada em direcção à vegetação. Os motores do barco de borra‑cha silenciam ‑se, e Penélope sabe que o avanço deles é insignificante. Ela e Björn correm por entre as árvores, penetram no bosque, ao mesmo tempo que os seus pensamentos voam em pânico e o olhar procura um lugar onde se possam esconder.

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– Como podes ser tão bela?Por fim, dá ‑lhe um beijo leve nos lábios e de seguida começam a

andar em direcção ao bosque de árvores baixas.No meio da ilha há uma clareira com grandes tufos de erva. Borbo‑

letas e pequenos abelhões esvoaçam por cima das flores do campo. Está calor ao sol, vê ‑se a água brilhante entre as árvores do lado norte. Mantêm‑‑se de pé, quietos, hesitantes; olham ‑se com um sorriso para logo fica‑rem sérios.

– E se aparece alguém?– Somos os únicos nesta ilha; não há mais ninguém.– Tens a certeza?– Quantas ilhas e ilhéus há no arquipélago de Estocolmo? Trinta

mil? Mais até, de certeza – diz ele.Penélope tira a parte de cima do biquíni, descalça os ténis e baixa as

cuecas do biquíni juntamente com os calções, ficando nua no meio da relva. A sua primeira sensação de embaraço é quase de imediato substi‑tuída por outra de pura alegria. Há algo de muito excitante na brisa do mar na sua pele, no calor que ainda emana do chão.

Björn observa ‑a, sussurrando que não é machista, mas que tem de a estudar detidamente. Ela é alta, os seus braços são musculosos e macios. A cintura fina e as coxas fortes fazem com que se pareça com uma antiga deusa traquinas.

Björn sente as mãos a tremer ao tirar a T‑shirt e os compridos cal‑ções de banho às flores. É mais novo do que ela, o seu corpo é juvenil, quase imberbe, e tem os ombros queimados do sol.

– Agora é a minha vez de olhar para ti – diz ela.Ele sente ‑se corar e aproxima ‑se dela com um grande sorriso.– Não me deixas ver?Ele nega com a cabeça e esconde a cara no meio do pescoço e do

cabelo dela.Começam a beijar ‑se, sem se mexer, apenas com os corpos muito

juntos enquanto as suas bocas se encontram. Penélope sente a língua quente de Bjorn na boca e uma sensação de extrema felicidade percorre‑‑lhe o corpo; faz um esforço para deixar de sorrir e apenas se entregar ao beijo. Os dois respiram com mais intensidade. Ela sente como Björn começa a ter erecção, como o seu coração bate com mais força. Deitam‑‑se na relva, impacientes. A boca dele procura os seios dela, os mamilos

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castanhos, beija ‑lhe a barriga e abre ‑lhe as coxas. Quando a olha pensa que é como se os seus corpos emanassem luz própria sob o sol do entar‑decer. Tudo é de súbito extremamente íntimo e sensível. Ela já está húmida e inchada quando ele começa a lambê ‑la, suave e demorada‑mente; passado um pouco, ela afasta ‑lhe a cabeça. Aperta as coxas, sorri‑‑lhe e enrubesce; sussurra ‑lhe que se ponha em cima dela, puxa ‑o para si, guia ‑o com a mão e deixa ‑o deslizar para dentro de si. Ele respira pesadamente junto ao seu ouvido e ela fixa o olhar no céu rosado por cima deles.

Um pouco mais tarde, Penélope levanta‑se, espreguiça ‑se, dá uns passos e olha em direcção às árvores.

– O que é? – pergunta Björn com voz turva.Ela volta ‑se para ele, que continua sentado nu no chão, a sorrir ‑lhe.– Queimaste os ombros.– Como todos os verões.Ele afaga ao de leve a pele vermelha nos ombros.– Vamos voltar, estou com fome – diz ela.– Gostava de dar umas braçadas na água.Ela volta a vestir as cuecas e os calções, calça‑se e fica de pé com a

parte de cima do biquíni na mão. Percorre com o olhar o peito liso de Björn, os músculos dos braços, a tatuagem na omoplata, o bronze pouco cuidado até encontrar os seus claros olhos brincalhões.

– Da próxima vez ficas tu por baixo – sorri ela.– Da próxima vez… – repete ele a rir ‑se. – Já sabia que ias gostar.Penélope ri ‑se enquanto faz um gesto de negação com o dedo. Ele

deita ‑se de costas e, com uma expressão feliz, fixa o céu. Ela ouve ‑o asso‑biar uma melodia, absorto nos seus pensamentos, quando começa a atravessar a floresta a caminho da pequena enseada onde o barco se encontra ancorado.

Antes de continuar, detém ‑se alguns segundos para vestir a parte de cima do biquíni.

Quando sobe para bordo, pergunta ‑se se Viola ainda estará a dormir no camarote. Tem a intenção de pôr a panela ao lume com as batatas novas e alguns ramos de aneto antes de ir tomar duche e mudar de roupa. Estranhamente, o convés está molhado como se tivesse havido um aguaceiro; Viola deve tê ‑lo lavado por alguma razão. Penélope tem a sensação de o barco estar diferente, não sabe muito bem definir porquê,

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O EXECUTORLARS KEPLER O EXECUTOR

Uma mulher aparece misteriosamente morta numa embarcação de recreio ao largo do arquipélago de Estocolmo. O seu corpo está seco, mas a autópsia revela que os pulmões estão cheios de água. No dia seguinte, Carl Palmcrona, director-geral de Armamento e Infraestruturas de Defesa da Suécia, é encontrado enforcado em casa. O corpo parece flutuar ao som de uma enigmática música de violino que ecoa por todo o apartamento. Chamado ao local, o comissário da polícia Joona Lina sabe que na sua profissão não se pode deixar enganar pelas aparências e que um presumível suicídio não é razão suficiente para fechar o caso. Haverá possibilidade de estes dois casos estarem relacionados? O que poderia unir duas pessoas que aparentemente não se conheciam?

Longe de imaginar o que está por detrás destas mortes, Joona Lina mergulhará numa investigação que o conduzirá, através de uma vertiginosa sucessão de acontecimentos, a uma descoberta diabólica. Existem pactos que nem mesmo a morte pode quebrar…

«Lars Kepler, os sucessores de Larsson.»El Mundo

«Uma vez mais, o romance negro deitou por terra o mito da idílica sociedade nórdica.»El Periódico

«Não há margem para dúvidas de que O Executor é um dos melhores livros suecos dos últimos anos. É também uma obra notável em termos de mérito literário. Melhor é impossível!»Göteborgsposten

«O Executor fala-nos do pacto que o músico Paganini fez com o Diabo em troca do seu virtuosismo. Também o leitor estará disposto a vender a sua alma em troca da leitura ininterrupta deste livro.»Arbetarbladet

«Há crime para lá de Millennium.»Os Meus Livros

«Joona Lina é um polícia deveras merecedor de uma série de romances.»José Riço Direitinho, Ípsilon

«A nova sensação do policial sueco.»Sol

«O Hipnotista é o mais hipnótico policial que li este ano.»Paulo Nogueira, Expresso

Lars Kepler é o pseudónimo de uma dupla de escritores de sucesso na Suécia: Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril. O Hipnotista, anteriormente publicado pela Porto Editora, foi o primeiro livro que escreveram juntos e está a ser adaptado ao cinema pela mão do realizador Lasse Hallström. Os direitos de tradução para O Executor estão cedidos até ao momento para 24 países.

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www.portoeditora.pt

ISBN 978-972-0-04331-3

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Depois de O HIPNOTISTA, eis que chega O EXECUTORLars Kepler, a grande revelação do policial nórdico

DO AUTOR DE O HIPNOTISTA

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