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DEPARTAMENTO DE DIREITO
Pós Graduação Lato Sensu Direito Processual Civil
A Legitimidade Ativa da Defensoria Pública para as Ações Coletivas
A Defesa em juízo de Grupos Sociais Vulneráveis
Aluna: Michelle Valéria Macedo Silva
Professor Orientador: Leonardo Moreira Lima
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Michelle Valéria Macedo Silva
A Legitimidade Ativa da Defensoria Pública para as Ações
Coletivas
A Defesa em juízo de Grupos Sociais Vulneráveis
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Processual Civil da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Processo Civil. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.
Orientador: Leonardo Moreira Lima
Rio de Janeiro
Dezembro de 2009
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Dedico este trabalho ao povo brasileiro e aos meus sobrinhos/afilhados
Clarinha e João Gabriel com a verdadeira esperança da “Dinda” de que
cresçam num mundo cada vez melhor.
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Agradeço primeiro a Deus por me guiar por mais esta jornada. A minha mãe Bia pela criação e instrução que me foi proporcionada. A minha irmã Anabelle pelo exemplo de profissional e mulher
corajosa. A meu pai Célio, in memoriam, pela batalha de vida. A meus sobrinhos Clarinha e João Gabriel pelas primeiras
impressões do mundo compartilhadas que me abastecem da alegria de viver.
A Ângela por entender meus momentos difíceis de ser, juntamente com a Maat e o Tigre (Tisouri), pela sutileza de seus gestos felinos caseiros.
Agradeço, ainda, à Escola Superior da Defensoria Pública da União por me conceder bolsa parcial para realização desta pós graduação junto ao Programa de Capacitação de Defensores Públicos da União.
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Sumário
1.Introdução 2. Acesso á Justiça 2.1. Primeira Onda Renovatória – Assistência aos Pobres 2.2. Segunda Onda Renovatória - Representação de Interesses Difusos e Coletivos 2.3. Terceira Onda Renovatória – Instrumentos Processuais de Efetividade do Processo 3. As Ações Coletivas 4. A Missão Constitucional da Defensoria Pública 5. Os Direitos Coletivos 6. A Legitimidade Ativa para Propositura das Ações Coletivas 7. A Legitimidade Ativa da Defensoria Pública para Defesa dos Direitos Coletivos Lato Sensu 8. Conclusões
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Abreviaturas e Siglas Usadas ACP – Ação Civil Pública
Adin – Ação Direta de Inconstitucionalidade
ANADEP – Associação Nacional dos Defensores Públicos
ANDPU – Associação Nacional dos Defensores Públicos da União
CDC – Código de Defesa do Consumidor
CF – Constituição Federal
CONAMP - Associação Nacional dos Membros do Ministério Público
CPC – Código de Processo Civil
DJ – Diário de Justiça
DOU – Diário Oficial da União
LACP – Lei da Ação Civil Pública
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social
INSS – Instituto Nacional da Seguridade Social
MP – Ministério Público
NUDECON – Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública do
Estado
RE – Recurso Extraordinário
RePro – Revista de Processo
Resp – Recurso Especial
STJ – Superior Tribunal de Justiça
STF – Supremo Tribunal Federal
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“Em pequena minha família por brincadeira chamava-me de 'a protetora dos animais'. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu
imediatamente defendê-la. E eu sentia o drama social com tanta intensidade que vivia de coração perplexo diante das grandes injustiças a
que são submetidas as chamadas classes menos privilegiadas. Em Recife, eu ia aos domingos visitar a casa de nossa empregada nos
mocambos. E o que eu via me fazia como me prometer que não deixaria aquilo continuar.”
(Clarice Lispector, “O que eu queria ter sido” in A Descoberta do Mundo)
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1. Introdução
O presente trabalho partiu da análise histórica e conceitual das ondas de
acesso à justiça estudadas por Mauro Capelletti e Bryant Garth e sua correlação
com o desenvolvimento e percepção dos direitos na sociedade.
Em seguida, levou-se em consideração a realidade da sociedade brasileira,
frente ao grande contingente de excluídos e marginalizados que na maioria das
vezes não compartilham do sistema processual brasileiro, dependendo cada vez
mais da Instituição Pública Defensoria Pública para galgar algum acesso aos
direitos que titularizam.
O conceito de hipossuficiência foi abordado numa perspectiva ampla para
além da falta de recursos financeiros, alcançando o real objetivo do Constituinte,
qual seja, a proteção e tutela dos “mais frágeis” que restariam desassistidos e
jogados à esmo se não lhes fosse garantido uma Instituição para lhes atendê-los.
Por derradeiro, traçamos uma legitimidade constitucional desta Instituição
Defensoria Pública para o manejo de instrumentos processuais de tutela coletiva
para a defesa destes grupos sociais vulneráveis (índios, negros, homossexuais,
“favelados”, etc).
Tive como objetivo comprovar ter a Defensoria Pública legitimidade ativa
adequada para a defesa coletiva de demandas de reprodução em massa, fruto da
sociedade moderna, reconhecendo-se, ainda, sua capacidade postulatória para
representar uma coletividade vulnerável e, por isso, marginalizada e excluída dos
serviços públicos essenciais à manutenção do mínimo existencial do cidadão
hipossificiente financeira, técnica e juridicamente.
A missão constituicional ofertada à Defensoria Pública pelo Poder
Constituinte Originário não pode ser restringida por interpretações que aniquilem
o livre exercício das funções institucionais de seus membros, englobando-se neste
ponto a possibilidade de tratamento coletivo dos conflitos de interesses à cargo
deste órgão democrático de defesa técnica judicial e extrajudicial.
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2. Acesso à Justiça
O estudo da legitimidade ativa da Defensoria Pública para propositura de
ações coletivas não pode prescindir da abordagem precípua do tema: acesso à
justiça. Por sua vez, tratando de acesso à justiça torna-se obrigatória a menção
expressa ao pioneiro estudo de Mauro Capelletti e Bryant Garth1 sobre as diversas
tentativas feitas em vários países de se efetivar esse princípio, tratado no Direito
Brasileiro como cláusula pétrea no art. 5°, XXXV da CF/88.
Sopese-se o fato de que o próprio conceito de acesso à Justiça é um desafio
aos juristas, haja vista a dificuldade de sua delimitação, extensão e efeitos,
contudo, pode-se elencar como característica essencial, a existência de uma
estrutura jurídica estatal voltada à solução dos problemas apresentados pelos
indivíduos, propiciando-se a oportunidade de todos acioná-la, fim último a ser
perseguido pela prestação jurisdicional do Estado. Afinal, se o acionamento desta
estrutura estatal de composição de conflitos de interesses não puder ser acionada
por todos, não fará sentido sua manutenção estatal.
A norma constitucional citada acima prescreve que “nenhuma lesão ou
ameaça de lesão poderá ser subtraído de apreciação do Poder Judiciário”,
enfatizando a inafastabilidade da jurisdição para solução dos conflitos no âmbito
do Estado democrático de Direito, o verdadeiro monopólio da jurisdição
sacramentado na Carta Magna.
Vedando-se a autotutela e, por conseguinte, aumentando-se a relevância do
Poder Judiciário, surge a preocupação da ciência jurídica mundial com a
promoção do amplo acesso à justiça, sem a qual desigualdades substanciais
estariam legitimadas indevidamente.
O trabalho científico de Mauro Capelletti ficou famoso mundo afora como
“as três famosas ondas renovatórias de acesso à justiça” por ter desencadeado um
movimento mundial de busca pelo efetivo acesso à justiça. As três ondas se
sucedem de acordo com a evolução histórica de percepção dos direitos e dos
instrumentos processuais de composição dos conflitos de interesses realcionados a
estes direitos em juízo.
1 Cappelletti, Mauro e Garth, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris,
1988
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2.1. Primeira Onda Renovatória – Assistência aos Po bres
Primeiramente, verificou-se que muito embora “as portas do Poder
Judiciário” estejam abertas e nenhum conflito de interesses possa ser impedido de
adentrar neste recinto, a camada menos abastada da sociedade não conseguia
quebrar a inércia da jurisdição, seja por manifesta ignorância acerca da existência
dos direitos (falta de iniciativa própria), seja por falta de representação técnico-
jurídica (representatividade através de advogado), ou, seja por elevados custos
processuais que acabavam por afastar a jurisdição desta camada menos abastada
da sociedade.
Verificou-se a necessidade de se promover a representação judicial e
extrajudicial desta parcela da sociedade marginalizada do conhecimento e dos
meios de defesa legítimos, o que a torna, por conseguinte, mais vulnerável
socialmente.
Nesta perspectiva, partindo do estudo de Capelletti adicionado ao trabalho
desenvolvido pelo doutrinador pátrio Cleber Francisco Alves2 constatou-se
basicamente quatro modelos jurídicos de assistência aos indivíduos de baixa
renda: sistema caritativo (probono), “sistema judicare” e “salaried staff” ou
sistema misto.
Em síntese, no sistema caritativo advogados atuam movidos pela
voluntariedade e boa-vontade, sem perceberem nenhuma remuneração pelo ofício.
No “sistema judicare”, o Estado paga honorários tabelados aos profissionais
liberais escolhidos pelos necessitados ou pelo órgão público, a partir de listas de
candidatos voluntários inscritos. No sistema “salaried staff”, advogados são pagos
pelo Governo em sistema de dedicação exclusiva, inserindo o campo da
orientação extrajudicial e fomentando a especialização destes profissionais com
vistas inclusive à busca da representatividade adequada para a defesa de interesses
transindividuais. E, o sistema misto pretende a combinação de um ou dois dos
outros sistemas conjuntamente e complementariamente.
Com o advento da Constituição Federal de 1988, restou clara a adoção do
“salaried staff”3 pelo Direito Brasileiro, optando pelo sistema oficial ou público,
2 Alves, Cleber Francisco. Justiça para todos! Assistência jurídica gratuita nos Estados Unidos,
na França e no Brasil. Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2006. 3 Silva, Holden Macedo da. Princípios Institucionais da Defensoria Pública da União.
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incumbido à Defensoria Pública a prestação desta assistência jurídica integral e
gratuita. O que acontece em nosso país é que há entes políticos que ainda não
organizaram sua respectiva Defensoria Pública, como o Estado de Santa Catarina,
ou a organizaram de forma insuficiente, de modo que advogados têm atuado de
forma caritativa ou mediante pagamento de honorários tabelados, pagos pelo
Poder Judiciário e não pelo Poder Executivo, contudo, a todos parece que a
Constituição da República é clara ao destacar a Defensoria Pública para cumprir
este munus, optando pelo sistema do “salaried staff” .
Neste contexto e retomando as ondas renovatórias de Cappelletti,
historicamente, percebeu-se, primeiramente, a extrema necessidade de se
proporcionar o acesso à justiça dos pobres, ou seja, promover a assistência
jurídica integral e gratuita aos hipossuficientes de recursos, nos ditames
esculpidos no art. 5º, LXXIV da CF/88. Buscou-se obter não só um meio de
representatividade processual e gratuidade de justiça para a camada menos
favorecida da sociedade, como também um meio acessível de orientação e
composição de conflitos extrajudicialmente, por isso a expressão “assistência
jurídica integral e gratuita” contida na norma constitucional.
A noção da existência de um órgão com essa preocupação jurídica específica
foi detectada e a Defensoria Pública cresceu enquanto Instituição, galgando relevo
no âmbito do Estado Democrático de Direito, justamente por se dedicar
exclusivamente a esta camada vulnerável e excluída da sociedade.
2.2. Segunda Onda Renovatória – Representação de In teresses
Difusos e Coletivos
A segunda onda do movimento de acesso a justiça traduziu-se como
resposta à evolução histórica de percepção de direitos. O advento do Estado
Liberal, não intervencionista, contribuiu para a percepção e proteção das
liberdades individuais, um dos pilares da Revolução Francesa, ganharam
densidade normativa os direitos fundamentais de liberdade, os chamados “direitos
de primeira geração”, sobretudo os direitos civis e políticos, traduzindo direitos
dos cidadãos contra o Estado, como resposta à queda do Estado Absolutista.
Brasília:Fortium, 2007, p.13.
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O liberalismo individualista vigorante incentivou o princípio da autonomia
da vontade, reduzindo o papel do Estado e traçando limites legais ínsitos ao
Estado democrático de Direito, advindo daí o princípio da legalidade no âmbito
positivo para o Estado e negativo para os particulares4, ou seja, aos particulares
tudo é permitido somente sendo-lhes vedado o que for tipificado na lei. Lutava-se
contra arbitrariedades e abusos do Poder estatal, remanescentes do Estado
Absolutista.
Passou-se, então, do combativo Estado intervencionista para o extremo
oposto, deparando-se a sociedade com um Estado absenteísta que acabava por
aniquilar a igualdade entre as pessoas. A igualdade era apenas formal denunciando
que o liberalismo puro era insuficiente na busca da harmonia social, diante de
tamanha omissão do Estado. A sociedade e a economia livres da intervenção
estatal não era capaz de galgar o progresso vinculado à harmonia social.
No bojo desta crise, percebeu-se que seria necessário encontrar meios de
assegurar a liberdade do indivíduo em face dos demais indivíduos e não só
defender liberdades individuais em face do Estado, com vistas à persecução da
igualdade material, tal como idealizada na Revolução Francesa.
Sem renunciar aos direitos de liberdade conquistados duramente e dando um
passo a frente, brotou a “segunda geração de direitos fundamentais”, os chamados
direitos econômicos e sociais, ampliando-se qualitativamente o direito de
liberdade no seio da humanidade.
Nasce o Estado do bem estar social, com as luzes do Iluminismo,
reconhecendo-se o direito à educação, saúde, habitação, seguridade social, direitos
trabalhistas, entre outros. Fomentava-se atividade estatal, antes omissa, de
proclamar compromissos solenes, de estabelecer políticas públicas destinadas a
eliminar desigualdades sociais e promover a dignidade da pessoa humana.
O princípio da legalidade foi temperado com o princípio da legitimidade5, as
Constituições tomaram papéis de protagonistas e foram recheadas de ideários
humanitários, o que foi um grande avanço, sem, contudo, efetiva correspondência
no mundo dos fatos. Assim, verificamos que muito embora construído o
4 Principio da legalidade positivo para a Administração Pública segundo o qual a Administração
Pública somente pode fazer aquilo que a lei permite e, no campo negativo destinado aos particulares, tudo é permitido salvo o que seja vedado expressamente pelo Ordenamento Juridico.
5 Bonavides, Paulo, Do Estado Liberal ao Estado Social. 7ª ed., São Paulo, Malheiros, 2003, p.8.
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arcabouço de normas jurídicas humanitárias (libertárias e igualitárias) não
experimentávamos ainda força ou vontade suficiente para implementá-las no
mundo concreto.
Constatou-se o surgimento de uma crise de efetividade face a dificuldade de
implementar-se esses direitos de segunda geração de modo satisfatório,
culminando-se com a queda do regime socialista, abrindo-se uma nova era de
buscas pela implementação dessas plataformas humanitárias.
A par da crise da efetividade das normas jurídicas, objeto de constante e
incansável luta pelos operadores do Direito e no bojo deste novo impasse
evolutivo, percebeu-se, ainda, que ao lado dos direitos individuais (de titularidade
de cada cidadão - interesse privado) e dos direitos sociais (patrocinados pelo
interesse público também titularizados por cada cidadão - fomentados pelo
Estado), existiria um campo de ação legítimo à proteção de interesses
metaindividuais, cuja titularidade é a coletividade determinável ou indeterminada
(de difícil determinação). Os direitos de terceira geração estariam sendo
percebidos pela primeira vez na sociedade, como os direitos coletivos e difusos.
Portanto, imbuídos daquele terceiro pilar da Revolução Francesa calcado na
fraternidade, percebe-se o ser humano relacional, sem fronteiras físicas ou
econômicas. Brota, enfim, a solidariedade como valor axiológico de se tratar a
sociedade como um todo, surgindo daí direitos de terceira geração, de titularidade
coletiva ou difusa, destinando-se à proteção de grupos humanos ligados por
interesses comuns mas dispersos na coletividade.
Firmado este arcabouço de percepção de geração de direitos, percebemos
que os direitos de terceira geração, notadamente direitos difusos e coletivos,
demandam, por si só, instrumentos processuais diferentes e eficazes de defesa em
juízo. A prática nos levou à conclusão de que as demandas individuais
(“demandas-átomos”) limitava muito a representatividade dos interesses
metaindividuais que acabavam insuficientemente protegidos na sociedade.
Percebeu-se a necessidade de criação de meios processuais capazes de
viabilizar a dedução desses direitos de terceira geração em juízo, atendendo a
tendência à coletivização da tutela jurisdicional e envolvendo uma gama maior de
indivíduos tutelados em uma só ação. Ganha força a dedicação e o estudo do
processo coletivo, sendo certo que em nosso país, vários grupos científicos-
jurídicos estão debruçados com o afã de elaborar um Anteprojeto de Lei tratando
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de um verdadeiro Código de Processo Coletivo a demonstrar a atualidade e a
pertinência do presente tema escolhido.
Sinaliza-se, assim, no sentido do crescimento e aprimoramento de um
devido processo legal coletivo ao lado do devido processo legal individual, com
anseios e instrumentos próprios à efetiva proteção de interesses metaindividuais,
demandas ínsitas à defesa da terceira geração de direitos.
2.3. Terceira Onda Renovatória – Instrumentos Proce ssuais de
Efetividade do Processo
Os anseios de proteção efetiva dos direitos, sejam individuais ou coletivos,
que traduz concepção mais ampla do acesso à justiça, vem sendo buscados por
meios de reformas processuais estruturais com vistas a se chegar à prestação
jurisdicional completa de forma mais rápida. Há a busca constante de
instrumentos processuais que confiram efetivamente ao processo a duração
razoável do mesmo.
Desta feita, no Brasil criaram-se juizados especiais regidos por princípios de
informalidade e celeridade, reconheceu-se os danos marginais do processo com
vistas a concessão de tutelas antecipadas, vislumbraram-se mecanismos de
solução extrajudicial de conflitos, reduziram-se as hipóteses de cabimento de
recursos, surgiram novos requisitos de admissibilidade de recursos, na tentativa de
encurtar o processo, entre outros.
Atualmente, outubro/novembro de 2009 está sendo criada pelo Senado
Federal uma Comissão Especial de Reforma do Código de Processo Civil, código
cujo texto original data de janeiro de 1973. A iniciativa visa reunir um grupo de
juristas renomados para promover um estudo dedicado, buscando-se, sobretudo, a
duração razoável do processo, em observância ao princípio previsto na
Constituição Federal (art. 5º, LXXVIII, CF/88)6. Vigora a máxima de que “Justiça
que tarda não é justiça e, sim, injustiça”. O CPC de 1973, como está, mais parece
uma colcha de retalhos diante dos constantes remendos legislativos que já se
operou no seu corpo inicial, frutos justamente das novas percepções de direitos e
6 Art.5º- LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
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principios constitucionais que irradiaram sobre todas as leis em consequência do
neoconstitucionalismo de nossos tempos.
Portanto, a crise de efetividade conduziu ainda à terceira onda renovatória
que prega o aprimoramento de antigos institutos processuais, preenchendo lacunas
de tutelas jurisdicionais (tutelas de urgência e, também, representatividade
coletiva) e eliminando burocracias daninhas a fim de que se alcance, enfim, a
concretização do direito no menor tempo possível e da forma menos dispendiosa e
sacrificante para todos os envolvidos na composição dos conflitos de interesses.
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3. As Ações Coletivas
O processo civil brasileiro atual tem como centro e base de todo sistema, a
ação individual, onde somente o titular do direito individual pode deduzir uma
demanda em juízo, ressalvados alguns casos autorizados por lei e, portanto, de
legitimidade extraordinária, permite-se excepcionalmente que um indivíduo
litigue em nome próprio pleiteando direito alheio.
É a visão privatista do processo, muito embora ramo do Direito Público, em
que a jurisdição constitui-se como atividade substitutiva dos indivíduos entre si,
na afirmação da justiça no caso concreto. Contudo, as sociedades complexas
demonstraram a insuficiência das tutelas meramente individuais para solucionar a
problemática do acesso à justiça e da própria concretização de direitos no mundo
dos fatos (crise de efetividade), sobretudo direitos que extrapolam da esfera
privada dos indivíduos ou se repetem em massa de forma pulverizada.
Percebeu-se que os instrumentos processuais que podíamos lançar mão não
serviam para a adequada tutela de interesses metaindividuais, que restavam, ao
fim, subprotegidos numa verdadeira lacuna de tutela a merecer a atenção da
ciência jurídica, lacuna esta inadmissível face o monopólio da jurisdição para
pacificação social.
São direitos titularizados por grupos de indivíduos indeterminados ou
determináveis que detonam carga de interesse público tamanha, que não permitem
restarem violados à esmo, a depender da ação individual de um ou outro indivíduo
continente para sua proteção efetiva. A demanda individual mostrou-se também
frágil para a defesa eficaz de direitos coletivos violados por entes ou pessoas
jurídicas de grande porte (nacional e internacional) e com técnicas econômico-
jurídicas afiadas.
Assim, surgiu a necessidade de se relativizar a oposição entre o interesse
individual privado e o interesse público coletivo, diante da falível dicotomia
público-privado oriunda das sociedades de massa7. O Direito tenderia à
universalização, assumindo o Estado o papel de interferir nas relações inclusive
entre os indivíduos, primando-se pela preocupação social, consoante valores
maiores de solidariedade/fraternidade.
7 Didier Jr, Fredie e Zaneti Jr, Her es. Curso de Direito Processual Civil Vol.IV. ed.,
Bahia:JusPodium, 2008, p.35;RT, 1992, n° 67, p.15.
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Restou premente a necessidade de efetiva tutela de direitos coletivos lato
sensu. A reinante técnica de fragmentação dos conflitos, que preconiza o
tratamento atomizado do conflito, se mostrou obsoleta e incapaz de promover o
efetivo acesso à justiça e, por conseguinte, a defesa desses interesses
metaindividuais.
Surgiram, assim, diplomas legislativos capazes de comporem um verdadeiro
microssitema de processo coletivo, que permitiu a defesa coletiva destes direitos,
que extrapolavam da mera esfera privada dos indivíduos de modo que alavancam
o interesse público desta tutela coletiva efetiva.
O processo coletivo surgiu, assim, com características próprias, dentre as
quais sobressaem, além da legitimidade ativa para o manejo destas demandas
(elemento subjetivo), a afirmação do direito coletivo que se pretende tutelar
(elemento objetivo – pedido de um direito coletivo) e, também, a extensão
subjetiva da coisa julgada produzida, esta última sendo mera consequência da
substituição processual empreendida.
A legitimidade ativa para as demanda individuais é conferida ao titular do
direito material invocado em juízo (elemento subjetivo). Problemática surge
quanto à aferição da legitimidade ativa para a defesa de direitos materiais
coletivos que possuem titularidade indeterminada ou determinável.
Portanto, a legitimidade ativa para as ações coletivas, uma das condições
para o regular exercício do direito de ação coletivo, vai além da necessidade de
identificação dos titulares do direito invocado. Isto ocorre, primeiro diante da
dificuldade de identificação e até quantificação destes sujeitos e, segundo, porque
também encontra-se em jogo interesse público já que a defesa destes direitos
coletivos extrapola o interesse privado individualista, se destinando este estudo a
demonstrar a adequação de um legitimado específico, a Defensoria Pública, para
este mister.
O elemento objetivo da demanda, verdadeira condição da ação coletiva
atinente à possibilidade jurídica do pedido, diz respeito à matéria litigiosa
discutida no processo, caracterizando verdadeiro juízo de admissibilidade destas
demandas. O conteúdo destas ações são assim determinantes para o perfilamento
do processo coletivo ao lado da ação individual, sendo certo que esta estará
sempre à disposição dos indivíduos para a tutela dos interesses privados violados.
Por outro lado, a “sociedade de massa” sujeita à reprodução de situações
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padrões (direitos individuais homogêneos), de onde decorrem lesões e ameaças de
lesões padrões (direitos de origem comum), demandam do processo civil mais
efetivo, composições de litígios de forma “molecular” 8 e não mais “atômicas”9 e
disseminadas abarrotando os tribunais de forma insolúvel.
A justificativa para as ações coletivas esbarra tanto na questão já tratada
amiúde, atinente ao acesso à justiça, quando na questão da economia processual,
evitando “litigiosidade de massa”10, com redução de custos na prestação
jurisdicional, uniformização de julgamentos, minorando-se inclusive decisões
contraditórias. Portanto, pretendemos traçar um estudo do processo coletivo,
encontrando balisas racionais, não só para um tratamento coletivo de direitos
individuais, mas, sobretudo, para um tratamento adequado e técnico, capaz de
atender à demanda social coletiva, fruto da sociedade complexa em crescente
industrialização, globalização, urbanização e, ainda, marginalização.
O processo coletivo se destina a instrumentalizar litígios de interesse
público, demandas que envolvam além dos interesses meramente individuais,
aqueles relacionados à harmonia e pacificação social, buscando acima de tudo
realizar os objetivos de uma sociedade justa.
Nas demandas coletivas estamos defendendo interesses constitucionalmente
reconhecidos, como o interesse: ao meio ambiente preservado, ao patrimônio
histórico, artístico e cultural, a proteção do consumo em resposta as ações de
massa do agressivo mercado neoliberal.
Da mesma forma, as ações coletivas também visam a defesa dos interesses
coletivos dos “necessitados”, entendidos como os que estão à margem da
sociedade e que necessitam inclusão social, ressaltando-se a defesa das maiorias
marginalizadas e das minorias vulneráveis (quilombolas, índios, homossexuais,
etc), o que consiste em conferir AMPLO acesso à justiça de interesses individuais
ou coletivos, já que a condição de hipossuficiência econômica, técnica e jurídica
individual, por si só, tenderia a deixá-los sem atenção e quiçá proteção na
sociedade.
Existe a coletividade hipossuficiente e os grupos vulneráveis, ambos de
titularidade determinável ou indeterminada que são titulares de direitos coletivos e
8 Watanabe, Kazuo. Demandas coletivas e problemas emergentes da praxis forense. Revista de
Processo. São Paulo 9 Idem.
10 Idem.
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merecem representação judicial adequada e eficaz através de instituições públicas
ou privadas voltadas aos seus problemas e anseios sociais.
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4. A Missão Constitucional da Defensoria Pública
A Constituição da República de 1988 prescreve que o Estado Brasileiro
prestará assistência jurídica integral e gratuita aos hipossuficientes de recursos,
nos termos do art. 5º, LXXIV. Outrossim, para cumprir este mandamento
constitucional, a Magna Carta tratou no art. 134 de incumbir a Defensoria Pública
a missão de executar este papel democrático de ampliar o acesso à justiça ao
afirmar que a “Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do
Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos
necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV”.
Assim, a primeira impressão reducionista que se tem é que a Defensoria
Pública atuaria como um escritório de advocacia, sendo seus membros
verdadeiros “advogados dos pobres”. Contudo, o estudo histórico da missão
constitucional conferida à Defensoria Pública nos leva a ter certeza que esta
instituição possui papel ainda maior na concretização dos ideais democráticos,
conferindo a igualdade material necessária para a representação desta parcela
marginalizada da população, excluída muitvas vezes do processo democrático.
A Defensoria Pública há de ser os olhos, a voz, os ouvidos, enfim, a vez da
parcela da população marginalizada, tratada individualmente ou em grupo
(coletivamente), porque sem a defesa dos interesses destes menos favorecidos, em
todos os sentidos, através da defesa obstinada deste órgão estatal específico,
impossível seria perseguir o ideário substancial de liberdade, igualdade e
fraternidade.
Portanto, a partir de uma leitura compromissada da Constituição da
República, percebe-se que incumbe à Defensoria Pública, além da função primeira
de proporcionar o simples acesso à justiça individual dos pobres, além de funções
extrajudiciais de orientação jurídica e pacificação social, a primordial função de
AMPLIAÇÃO DEMOCRÁTICA DO ACESSO À JUSTIÇA, como resposta
também aos próprios anseios da crise de efetividade das normas.
Ressalte-se, por oportuno, sobretudo no Brasil, onde a maioria da população
é verdadeiramente “hipossuficiente de recursos” que a crise de efetividade dos
direitos passa necessariamente pela falta de acesso à justiça de uma grande parcela
deste povo e, por conseguinte, da falta de tutela adequada dos direitos de
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titularidade destes grupos vulneráis, seja a titularidade individual ou coletiva.
Isto quer dizer que ao invés da Defensoria Pública ter que propor um milhão
de demandas individuais, bastaria o manejo de uma ação coletiva, a “massificação
dos litígios” seria resumida numa demanda nacional desde que a matéria pleiteada
nos balcões da Defensoria Pública em todo os país configurasse verdadeiro direito
coletivo “lato sensu”.
Preocupa-se aqui efetivamente com a amplicaçãoo do acesso à justiça já que
a demanda coletiva proposta atenderia aos interesses DE TODOS,
independentemente do cidadão ter ido ou não à sede da Defensoria Pública, seja
porque desconhece a existência do direito ou seja porque não exista Defensoria
Pública no seu bairro, cidade ou Estado.
Assim, numa demanda coletiva proposta pela Defensoria Pública, todos os
hipossuficientes que se enquadrem num mesmo suporte fático subjacente para
incidência da norma jurídica violada, restariam protegidos pela tutela jurisdicional
do Estado coletivamente acionada por um representante.
Como já citado acima, a par da hipossuficiência econômica, primeira
interpretação do texto constitucional, temos que o termo “hipossuficiência de
recursos” e “necessitados” alberga significado maior, abrangendo justamente o
desamparo cognitivo, técnico e jurídico para a defesa de direitos, muito embora a
carência de renda ainda seja um dos fatores determinantes deste desamparo em
nosso país. Talvez seja por isso que no Brasil a primeira identificação de atuação
da Defensoria Pública seja justamente à ligada à inação aniquiladora de direitos da
população carente de recursos, porque inclusive constitui seguramente a maioria
dos casos, o que não se justifica deixarmos de atender minorias marginalizadas,
também carentes de conhecimento e de técnica-jurídica, mas cuja situação de
excluídos socialmente se igualem aos pobres, constituindo-se assim grupos sociais
vulneráveis.
Em outros países, com grau de desigualdade social reduzido, como nos
Estados Unidos da América, a defesa judicial de direitos pode ser inclusive
exercida sem o auxílio de um advogado privado, não há o monopólio da
capacidade postulatória à determinda carreira privada ou pública, bastando o
titular do direito ofertar sua própria defesa em juízo, sendo certo que esta opção lá
não aniquila o trabalho dos advogados e nem substitui o trabalho da Defensoria
Pública destinado àqueles que necessitem de orientação jurídica.
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Buscamos refletir que há espaço para atuação da Defensoria Pública na
busca da tutela individual ou coletiva. Individual, ao lado dos advogados privados,
e coletiva, ao lado do Ministério Público e demais legitimados por lei para o
manejo das ações coletivas.
Não admitirmos legitimidade da Defensoria Pública para o manejo de ações
coletivas importa não munir o Defensor Público de instrumento processual eficaz
para cumprimento da missão constitucional de ampla defesa de direitos,
individuais ou coletivos de grupos vulneráveis.
28
5. Os Direitos Coletivos
O objeto do processo coletivo é o pedido de uma tutela jurisdicional de
defesa de direitos coletivos “lato sensu”. Entende-se por direitos coletivos lato
sensu como sendo os direitos individuais homogêneos, os direitos coletivos
“stricto sensu” e os direitos difusos.
No nosso Ordenamento Jurídico a menção aos direitos coletivos encontra
respaldo em várias leis que reunidas forma um verdadeiro microssistema regente
desta tutela coletiva. O art. 81 do Código de Defesa do Consumidor instituído
pela Lei 8078/90, aplicável a todos os direitos coletivos “lato sensu”,
independente da relação consumerista, por força do art. 90 desta lei tratou de
definir o que são estes direitos.
Desta forma, temos que os direitos coletivos “stricto sensu” são aqueles
“transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou
classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária com uma relação
jurídica base” (art.81, II do CDC).
Direitos difusos aqueles “transindividuais de natureza indivisível de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por uma circunstância de fato”
(art.81, I do CDC). Já os direitos individuais homogêneos são “aqueles
decorrentes de origem comum” (art. 81, III do CDC), reservando-se aos mesmos a
polêmica noção de direitos individuais coletivamente tratados11.
Ao lado dos direitos individuais homogêneos, a doutrina ao definir os
direitos coletivos “stricto sensu” e os direitos difusos leva em conta o aspecto
subjetivo (individuais/transindividuais), considerando-se que sob o aspecto
objetivo teriam natureza indivisível.
A diferenciação entre os direitos coletivos “stricto sensu” e os direitos
difusos está justamente na titularidade transindividual. Nos direitos difusos a
titularidade é indeterminada, uma coletividade ligada por circunstância de fato
tendente à universalização dos titulares (ex: meio ambiente, moralidade
administrativa, etc).
Nos direitos coletivos “stricto sensu” a titularidade é determinável, pois
corresponde a uma coletividade ligada entre si ou com a outra parte, a partir de
11 Didier Jr, Fredie e Zaneti Jr., Hermes. Curso de Direito Porcessual Civil Vol.IV. Processo
Coletivo. ed., Bahia:JusPodium, 2008, p.76.
29
um vínculo jurídico (grupo, categoria ou classe). Assim como ocorre com os
direitos individuais homogêneos, nos direitos coletivos stricto sensu, apesar da
dificuldade de identificação e quantificação, se torna possível idealizarmos essa
determinação. Contudo, nos direitos coletivos stricto sensu e nos direitos difusos o
vínculo entre os titulares seja de fato ou de direito é anterior à lesão ou à ameaça
de lesão ao direito, ao passo que nos direitos individuais homogêneos esse vínculo
se verifica em momento posterior.
Ademais, o fato destes direitos ou interesses terem a titularidade coletiva,
determinada ou determinável, importa reconhecer a necessidade da tutela a ser
prestada também ser diferente de modo que a coletividade seja tutelada de forma
eficaz.
Desta feita, obviamente a coisa julgada será “ultra partes”, ou seja, além das
partes, mas muitas vezes limitadas ao grupo quando este determinável por força
do vínculo de fato (direitos difusos) ou jurídico (direitos coletivos “stricto sensu”)
ou, ainda, posterior, (direitos individuais homogêneos).
A tutela dos direitos individuais homogêneos tem origem na massificação
das relações jurídicas e das lesões advindas desta padronização das relações
contemporâneas da sociedade. Essa proteção coletiva remonta tenuamente às
“class actions” norte-americanas, assim, “tal categoria de direitos representa uma
ficção criada pelo direito positivo brasileiro com a finalidade única e exclusiva de
possibilitar a proteção coletiva (molecular) de direitos individuais com dimensão
coletiva (em massa). Sem essa expressa previsão legal, a possibilidade de defesa
coletiva de direitos individuais estaria vedada”12.
A afirmativa coaduna com a visão predominantemente privatista do
processo, segundo a qual somente o titular do direito material tem a legitimidade
do direito de ação, ou seja, ninguém é obrigado a ser autor de uma demanda se
não quiser acionar espontâneamente a estrutura estatal de composição de conflitos
de interesses.
A jurisdição é substitutiva a atividade das partes na composição dos
conflitos, por isso somente substitui quando acionada (princípio da inércia da
jurisdição). Está também diretamente relacionada à disposição dos direitos,
somente permitindo-se que alguém litigue em nome próprio por direito alheio
12 Gidi, Antônio. Coisa Julgada e litispendência em ações coletivas, p.20
30
quanto a lei assim permita, traduzindo-se, por demais, expressão do princípio da
legalidade.
Ressalte-se, por oportuno, que a tutela coletiva se diferencia da tutela
individual reclamando instrumentos e um devido processo legal próprio distinto,
visando a eficácia da tutela jurisdicional coletiva perseguida. A defesa de direitos
coletivos requer necessariamente um ente representando a coletividade
indeterminada ou determinável que titulariza o direito material violado, requer
uma espécie de legitimidade extraordinária específica.
A par dos direitos e interesses essencialmente coletivos (difusos e coletivos
“stricto sensu”), lançamos a tutela dos direitos e interesses acidentalmente
coletivos, promovendo-se uma tutela coletiva de direitos individuais com
dimensão coletiva em busca da eficácia da tutela jurisdicionais a ser prestada ante
a impraticabilidade da participação de todos no processo13.
A classificação ofertada pelo CDC reduzindo os direitos individuais
homogêneos àqueles de “origem comum” quer dizer que são direitos detectados a
partir de uma lesão, ou ameaça de lesão coletiva, que gera uma relação jurídica
entre os titulares post factum, isto é, após o fato lesivo. A diferença destes direitos
individuais homogêneos em relação aos direitos coletivos stricto sensu está
justamente no momento em que a relação jurídica subjacente dos titulares do
direito se verifica, sendo certo que nos direitos coletivos stricto sensu ela é
anterior ao fato lesivo, identificando-se de antemão sempre o grupo titular do
direito.
Contudo, o fato de ser possível determinar individualmente os titulares
destes direitos não afeta a pertinência e importância da ação coletiva dada a
dinâmica molecular resumida do tratamento jurisdicional a ser ofertado em
consonância com os princípios da efetividade e economia processual.
13 Moreira, José Carlos Barbos, “Tendências Contemporâneas do Direito Processual Civil”.
Temas de Direito Processual, terceira série. São Paulo: Saraiva, 1984, p.10, nota 24. Apud Didier Jr, Fredie e Zaneti Jr., Hermes. Curso de Direito Porcessual Civil Vol.IV. Processo Coletivo. ed., Bahia:JusPodium, 2008, p.78.
31
6. A Legitimidade Ativa Para Propositura Das Ações
Coletivas
Nas ações coletivas a titularidade do direito é reconhecida à coletividade
indeterminada ou determinável, sendo certo que a identificação desta coletividade
é importante para estudarmos a legitimidade ativa desta ações coletivas.
Quando tratamos dos direitos coletivos, percebemos em alguns casos que
além de cada indivíduo poder exercer o seu direito de ação individual
(legitimidade ordinária), permite-se também que entes promovam o acionamento
jurisdicional coletivo, numa verdadeira substituição processual (legitimidade
extraordinária).
Um exemplo seriam as ações individuais consumeristas que podem ensejar
legitimidade ordinária de casa consumidor lesado ou uma ação coletiva que trate
coletivamente os direitos individuais homogêneos, coletivamente violados e
tutelados. A medida enxuga a quantidade de ações que abarrota os tribunais e
transfere para o momento da execução a habilitação voluntária dos consumidores
lesados.
Desta feita, ao invés da Defensoria Pública propor um milhão de ações
individuais, resta facultado à esta instituição o manejo da ação coletiva para
composição do conflito coletivo que surgiu em torno da violação do direito
coletivo, buscando a defesa dos interesses dos substituídos e, por conseguinte, de
toda a coletividade interessada não só na recomposição dos prejuízos como
também no desestímulo destas práticas abusivas. As vicissitudes e particularidades
de cada caso concreto são, ao fim, focalizadas e atendidas somente na fase de
liquidação/execução da sentença, sendo certo que a execução há de ser individual
por conta desta peculiaridades.
Portanto, com relação aos direitos individuais homogêneos não há tese
contrária capaz de sustentar a impossibilidade da Defensoria Pública fazer uso da
ação coletiva como instrumento capaz de enxugar as causas repetitivas dos
tribunais, cujos modelos de petições iniciais e de sentenças se acumulam no Poder
Judiciário.
A constatação clara da evidente legitimidade ativa da Defensoria Pública
para a propositura destas ações que envolvam direitos individuais homogêneos
32
decorre do fato, já citado acima e ventilado na doutrina, de que os direitos
individuais homogêneos não seriam direitos coletivos propriamente ditos mas
estariam recebendo um tratamento coletivo, apesar de serem nitidamente direitos
individuais (direitos acidentalmente coletivos).
No entanto, a interpretação restritiva deve ser afastada já que diante da
repercussão em massa da lesão operada nesses direitos individuais homogêneos
faz brotar o legítimo interesse público de tutela coletiva, além da recomposição
individual de prejuízos ocasionados, cuja monta individual pode desinteressar as
demandas individuais, mas que jamais devem deixar de mover a reprimenda
judicial calcada no interesse público de busca da função didática, preventiva e
repressora destas lesões na sociedade.
Trata-se, portanto, de conceitos iterativos de direito material e processual
voltados para a instrumentalidade e adequação do direito material à realidade da
sociedade massificada e repetitiva. A ciência jurídica passa a reconhecer um
direito subjetivo com titulares coletivos, ou seja, um direito subjetivo coletivo,
conferindo legitimidade à entes que representam de forma molecular toda a
coletividade indeterminada ou determinável. Essa percepção que visa a busca da
efetividade da prestação jurisdicional detona a anterior visão individualista do
direito material e, consequentemente do direito processual.
Portanto, inerente a identificação da titularidade do direito coletivo
invocado, importa ao estudo do processo coletivo reconhecer e distinguir o seu
objeto. A distinção entre os gêneros de direitos subjetivos coletivos “lato sensu”,
composto pelas espécies: direitos difusos, direitos coletivos stricto sensu e direitos
individuais homogêneos, constitui, assim, tarefa de relevo para aferição da
legitimidade ativa destas ações coletivas, justamente porque equaciona a
visualização de seus titulares.
A princípio essas três espécies de direitos coletivos coexistem, sendo certo
que para Antônio Gildi para diferenciá-los basta pensarmos no direito subjetivo
coletivo específico violado, ao passo que para Nelson Nery Junior a diferenciação
se dará de acordo com a tutela jurisdicional a ser requerida com base no direito
material invocado14.
A dicotomia apresentada peca pois a classificação dos direitos não deve
14 Didier Jr, Fredie e Zaneti Jr., Hermes. Curso de Direito Porcessual Civil Vol.IV. Processo
Coletivo. ed., Bahia:JusPodium, 2008, p.85/86.
33
estar refém da tutela jurisdicional pretendida e, tampouco, o direito subjetivo
coletivo afirmado é capaz de sozinho promover uma classificação estanque de que
se trata deste ou aquele direito coletivo lado sensu. A adoção cega das duas
fórmulas apresentadas pela doutrina, pode nos conduzir a erros ou taxações, por
demais, desnecessárias.
Para a solução da aparente dificuldade de classificação do direito coletivo,
invocado como causa de pedir na demanda coletiva, primeiro não devemos
esquecer a noção básica de que de um mesmo ato ilícito decorrem legítimas
pretensões díspares oriundas de responsabilidades civis individuais (ações
individuais), responsabilidades civis coletivas (ações coletivas), responsabilidades
administrativas (ações de improbidade, ações populares) e até criminais (ação
penal), distintas e passíveis de condenações simultâneas, sem que correspondam
em bis in idem.
Isso ocorre porque os bens jurídicos dispostos na sociedade são protegidos
pelo Ordenamento Jurídico, buscando-se reprimir todas as violações e ameaças de
violações relevantes para a manutenção da harmonia e do bem estar social. Há
sempre um valor individual ou coletivo-social tutelado pela norma jurídica, sendo
certo que toda violação acarretará necessariamente consequências jurídicas
distintas, inerente ao caráter cogente do Ordenamento Jurídico.
Neste mesmo contexto e sob uma lupa mais apurada, vislumbramos que
dentro das ações coletivas há de se verificar a repercussão individual e/ou coletiva
do dano experimentado pelo ato ilícito, para buscarmos identificar os possíveis
titulares dos direitos coletivos (bem jurídico) afetados, sejam esses titulares
determináveis (coletivos lato sensu ou individuais homogêneos) ou
indeterminados (interesses difusos).
Depois de dissecarmos o caso concreto amiúde, restarão claras as possíveis
consequências jurídicas daí advindas a serem deduzidas em forma de pretensões
em juízo, individuais ou coletivas, buscando-se a máxima concretude do Direito,
ou seja, a proteção dos bens jurídicos violados e ameaçados de lesão.
Portanto, não é certo falar que todo incidente ambiental seja direito difuso e
nem que toda propaganda enganosa seja direito individual homogêneo, afinal,
como nos diferentes ramos do direito, as responsabilidades possuem campos e
consequências jurídicas diferentes.
Por exemplo, um derramamento de óleo na Baía de Guanabara poderá
34
ensejar responsabilidade criminal de um funcionário e também da empresa
(responsabilidade penal de pessoa jurídica), responsabilidades administrativas
caso haja vínculo com o Poder Público (licitação, licenças ambientais, etc), poderá
ainda ensejar a ação civil individual em virtude de danos suportados
individualmente (lucros cessantes, por exemplo) ou a ação coletiva a ser proposta
pela associação de pescadores afetada ou pelo Ministério Público do Estado do
Rio de Janeiro em virtude da repercussão daninha à todos os habitantes do Rio de
Janeiro ou pela Defensoria Pública com legítima representação daquela favela
ribeirinha ao epicentro do dano, localidade, aliás, pouco fiscalizada face a
deficiente urbanização, propiciando a ocorrência de ilícitos de todas as espécies.
Várias ações poderão coexistir na Justiça com objetos diferentes, pedidos
diferentes e legitimados diferentes, de forma autônoma e concorrente, reunidas
por conexão e até com formação de litisconsortes ativos.
Como em toda ciência do Direito, um ato ou fato ilícito gera consequências
jurídicas, perseguidas em juízo através da dedução de pretensões. Um ato passa a
ser ilícito quando desrespeita a lei, extrapolando da esfera privada de seu condutor
passando a ocasionar danos de maior ou menor proporção social, a merecer
reprimendas oriundas de demandas individuais ou coletivas.
O objeto da ação coletiva é o pedido de tutela de um direito coletivo violado
ou ameaçado, sendo certo que a melhor forma de distinguir e definir os direitos
coletivos é estudando o bem jurídico tutelado e, por conseguinte, a tutela
jurisdicional necessária a sua proteção. Surge uma terceira forma de distinção que
mistura os conceitos de Antônio Gildi e Nelson Nery Junior acima citados15.
Outra condição para o regular exercício do direito de ação coletivo é a
legitimidade das partes, foco principal do presente estudo, sendo certo que a
legitimidade ativa nas ações coletivas comporta controle jurisdicional desta
legitimação.
Primeiramente, este controle era determinado ope legis de modo que a lei
conferia esta legitimação a entes determinados. Com o tempo, a simples indicação
legislativa se mostrou artificial e precária para a atribuição de tamanha capacidade
postulatória coletiva, tendo a doutrina e a jurisprudência desenvolvido o conceito
da legitimação adequada como parâmetro para defesa em juízo destes direitos
15 Didier Jr, Fredie e Zaneti Jr., Hermes. Curso de Direito Porcessual Civil Vol.IV. Processo
Coletivo. ed., Bahia:JusPodium, 2008, p.85/86.
35
coletivos.
Esse princípio da adequada representação está ligado ao princípio da
segurança jurídica, ao devido processo legal coletivo e à efetividade da tutela
coletiva. Afinal, se a ação coletiva já é um instrumento processual que visa
resolver um dos aspectos da crise de efetividade das normas, última onda
renovatória do acesso à justiça, a legitimidade ativa para essas demandas coletivas
há de ser adequada, ou seja, conferida àqueles com capacidade técnico-jurídica
para a defesa obstinada destes direitos coletivos.
A condição primordial é aferir se a coletividade restará bem representada no
processo coletivo por um legitimado ativo que exerça o direito coletivo em sua
plenitude, dando impulso a um processo coletivo efetivo. A perspectiva atual a
qual este trabalho se destina busca conferir legitimidade substancial a um órgão
público de defesa, buscando fundamentos racionais além da autorização
legislativa conquistada.
O estudo da legitimação coletiva se mostra relevante diante do controle
judicial dos representantes, através da aferição das condições para o regular
exercício do direito de ação coletivo, não bastando a mera autorização legislativa
para legitimar a ação, mas sim ensejando a aferição da chamada representação
adequada, ou seja, mesmo que haja a autorização legal para tanto o ente pode não
estar autorizado a agir naquele caso concreto.
A cega defesa da taxatividade dos legitimados da lei, mostrou-se pobre e
obsoleta diante da magnitude e complexidade que a defesa dos direitos coletivos
merecem, em busca da efetividade da tutela jurisdicional destes valores da
coletividade indeterminada ou determinável. Assim, ousamos dizer que a
representação adequada balizadora da legitimidade ad casuam para as ações
coletivas está relacionada ao pleno exercício do direito coletivo pelo ente
capacitando-o a iniciar e guiar o processo com eficiência fática e técnica.
Começa-se a perceber que a mera autorização legislativa para que o autor da
demanda coletiva pleiteie em nome próprio direito alheio pertencente à
coletividade (legitimidade extraordinária), por si só, não é suficiente para a
garantir a plena adequação da legitimidade coletiva.
Portanto, passou a exigir, dentre os legitimados por lei, alguma pertinência
temática para a adequada representação, não bastando constar no rol legislativo
autorizativo de agir. Imbuídos destas referências substanciais, no caso da
36
Defensoria Pública fora construída tese jurídica com repercussão na
jurisprudência reconhecendo-se a legitimidade ativa da Defensoria Pública para o
manejo da Ação Civil Pública, mesmo antes da alteração da Lei 7347/85 pela Lei
11448/2007 que incluiu a Defensoria Pública no rol dos legitimados do art. 5º da
Lei da Ação Civil Pública - LACP.
A par da letra da lei, percebeu-se que os órgãos públicos e formações
sociais, assim como as pessoas jurídicas individualizadas, possuem anseios e
objetivos institucionais, angariando interesses e poderes de coerção capazes de
quebrarem de forma bastante adequada e aficaz a jurisdição para defesa de
direitos coletivos.
A mesma resistência verificada aqui na transposição da legitimidade do
processo individual para o coletivo foi experimentada, resguardadas as devidas
proporções, também quando do início das teses de responsabilização penal de
pessoas jurídicas.
Retomando as conquistas históricas da humanidade, a resistência aqui
experimentada passa mais uma vez pela dificuldade de transpormos os interesses
privados (individualismo), soberanos sobre o direito de ação e o direito material,
para pensarmos na esfera do interesse público, justamente na seara dos direitos
coletivos (solidariedade e fraternidade).
Diante desta reflexões preliminares, a doutrina apresenta três propostas para
explicar a legitimidade verificada nas ações coletivas.
A primeira majoritária é a da legitimidade extraordinária, baseada na
substituição processual que necessita de autorização legislativa para que o ente
possa demandar em juízo a defesa da coletividade representada. Mostrou-se
ultrapassada diante da interpretação restritiva e artificial para defesa de direitos
coletivos, pois haveriam legitimados extraordinários (autorizados por lei) que não
gozariam de “legitimidade adequada”, diante do esvaziamento temático
institucional em relação ao exercício do direito coletivo invocado.
A segunda pretende conferir legitimidade ordinária, reconhecendo
objetivos institucionais dos entes eleitos, conferindo-lhes a própria titularidade do
direito coletivo subjetivo em jogo. Esta teoria enseja a investigação das
finalidades estatutárias instituidoras do ente, traduzindo-se verdadeira ficção
jurídica inerente à própria concepção organicista que confere volição a entes no
mundo dos fatos.
37
A terceira constrói a figura da legitimidade autônoma para condução do
processo coletivo, baseada na teoria do “direito de condução do processo”, na
tentativa de superar os obstáculo da lógica formal oponíveis à teoria da
substituição processual. Essa corrente incorre em antigo erro ao afastar a
aproximação entre o direito material e o processo, reduzindo a legitimidade para
quebra da jurisdição à mera capacidade de impulsionar o processo e conduzí-lo.
Entendo que a solução é a busca da legitimidade extraordinária adequada
que necessita de autorização legislativa para legitimar o ente à defesa coletiva,
mas os objetivos institucionais do órgão deve guardar pertinência temática com o
direito coletivo invocado, para que o órgão demonstre capacidade fática e técnica
para a representatividade suficiente em juízo, ou seja, para a defesa do pleno
exercício destes direitos pela coletividade, esta sim titularizadora do bem jurídico
protegido.
Na sua concepção individualista, o direito de ação era concebido como um
direito de propriedade, sendo visto como uma verdadeira propriedade privada. O
art. 6º do CPC proclama a estrita correspondência entre o titular da ação e o titular
do direito material afirmado de onde se conclui que em regra ninguém poderia
pleitear em nome próprio direito alheio. Mas o próprio artigo do CPC excepciona
a regra ao determinar in fine que mediante autorização legislativa esta
legitimidade, portanto, extraordinária restaria concedida16.
Quanto à autorização legislativa, a lei da ação civil pública (LACP)
apresenta o rol de legitimados no art. 5º (Lei 7347/85) sendo certo que entre os
legitimados estão o Ministério Público, os entes políticos da federação,
associações civis (Partidos Políticos, sindicatos, entidades de classe, Organizações
Sociais, etc) e, recentemente fora incluída expressamente a Defensoria Pública
pela Lei 11448/07.
Já o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/90) estabeleceu os
mesmos legitimados ad causam sem que a legislação tenha sido alterada para a
inclusão expressa da Defensoria Pública, muito embora a analogia nos conduza ao
mesmo raciocínio e conclusões da conquista legislativa da Lei da Ação Civil
Pública - LACP.
16 Art. 6o Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei.
38
Consoante lição de Ada Pellegrini Grinover, “a criteriosa aferição da
representatividade adequada é apta a garantir aos membros da categoria a melhor
defesa judicial, de modo que neste caso o julgado não atua propriamente ultra
partes, na medida em que todos estão representados pelo portador em juízo dos
direitos e interesses”17.
Essa noção da representatividade adequada respaldaria inclusive o estudo
dos efeitos da coisa julgada nas ações coletivas, já que esses efeitos
necessariamente atingem pessoas que a primeira vista não fizeram parte da relação
jurídica processual, mas que se fizeram muito bem representar por aquele ente
específico que em juízo era o portador destes direitos.
No sistema das class actions que prega o controle judicial da legitimidade
ativa para essas ações coletivas, através da estrita aferição em juízo da
representatividade adequada dos que se acham detentores desta legitimação
(autores destas ações). A representação se dá através de entes privados, com
objetos sociais ligados ao direito coletivo invocado, ou através de entes públicos
criados para esse fim, como o Ministério Público e, até, os ombudsman18, espécie
de ouvidores públicos, como relata a experiência de países nórdicos19.
O Direito Brasileiro à primeira vista adotou o critério meramente indicativo
legislativo dos legitimados ativos para a propositura de ação coletiva, como se
tivesse estabelecido somente parâmetros objetivos de controle judicial desta
legitimidade, como a representação no Congresso Nacional para os partidos
políticos e a preexistência legalmente constituída há pelo menos um ano, entre
outros.
A doutrina pátria valoriza demais esse critério de política legislativa, capaz
de atribuir essa legitimidade ativa a entes privados e públicos especificados na lei,
17 Grinover, Ada Pellegrini, Mandado de Segurança coletivo:legitimação, objeto e coisa
julgada,p.83. 18 Ombudsman é um profissional contratado por um órgão, instituição ou empresa que tem a
função de receber críticas, sugestões, reclamações e deve agir em defesa imparcial da comunidade.A palavra passou às línguas modernas através do sueco (ombudsman significa representante). De fato, em 1809, surgiram na Suécia normas legais que criaram o cargo de agente parlamentar de justiça para limitar os poderes do rei.Atualmente, o termo é usado tanto no âmbito privado como público para designar um elo imparcial entre uma instituição e sua comunidade de usuários. Nos países de língua portuguesa as palavras portuguesas "ouvidor" e "provedor" (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Ombudsman)
19 Didier Jr, Fredie e Zaneti Jr., Hermes. Curso de Direito Porcessual Civil Vol.IV. Processo Coletivo. ed., Bahia:JusPodium, 2008, p.216.
39
reduzindo-se o controle jurisdicional desta legitimidade20. Contudo, entendo que a
opção do sistema brasileiro requer além da autorização legislativa, como forma de
manutenção da técnica processual atinente à legitimação extraordinária, também o
controle jurisdicional da representação adequada com vistas a se perseguir a
melhor defesa plena do direito coletivo em juízo.
A aferição da representatividade adequada diz respeito à pertinência
temática, construção esta semelhante a que ocorre com os legitimados do art. 103
da CF/88 para a propositura da ação direta de inconstitucionalidade, no âmbito do
controle concentrado. Cabendo ao Supremo Tribunal Federal a verificação da
representatividade adequada dos entes legitimados pela Constituição da República
frente à questão de Direito Constitucional que se pretende apreciar via controle
concentrado.
Assim, não basta estar no rol dos legitimados, o interessado autorizado por
lei deverá comprovar que poderá representar em juízo com eficiência a defesa da
Ordem Constitucional maculada pela norma atentatória contra seus preceitos. Essa
aptidão é colhida aferindo-se a pertinência temática do ente com o objeto da ação
que pretende propor. A proximidade de objetivos leva a crer que a experiência e os
propósitos institucionais do ente serão capazes de qualificá-lo e habilitá-lo ao
manejo da ação. Do mesmo modo, a legitimidade para as ações coletivas requer a
aferição da representatividade adequada, além do critério objetivo da autorização
legislativa.
Repare que uma opção não exclui a outra, ao revés, há uma relação de
complementariedade entre ambos os métodos posto que confere lastro razoável à
escolha legislativa, tendo em vista que a opção objetiva de política legislativa,
várias vezes se mostra frágil diante da magnitude social que a defesa judicial
destes direitos representa para a efetividade do Ordenamento Jurídico.
Pois bem, considerando-se a pluralidade de legitimados ativos, passamos a
estudar as classificações atinentes à legitimidade extraordinária21. Há os
legitimados extraordinários autônomos que podem iniciar e conduzir o processo
independentemente da participação do titular do direito material litigioso.
Há a classe dos legitimados extraordinários exclusivos em que somente eles
20 Grinover, Ada Pellegrini, Comentários ao Código Brasileiro de Defesa do Consumidor,
p.709/710) 21 Moreira, José Carlos Barbosa. Apontamentos para um estudo sistemático da legitimação
extraordinária, p.10.
40
podem iniciar o processo coletivo, cabendo aos interessados individuais participar
da demanda como assistentes, se quiserem. Portanto, o sistema brasileiro optou
claramente pela legitimação ativa extraordinária autônoma e exclusiva, tendo a
doutrina, outrossim, sinalizado ser ela sempre concorrente, ponto que discordamos
ao exirgirmos o controle judicial da representatividade adequada.
Não é verdade que a legitimidade extraordinária ativa para as ações
coletivas seja SEMPRE concorrente, há hipóteses em que aquele legitimado por
lei não guarde pertinência temática fática-jurídica para a promoção da melhor
defesa em juízo. Como por exemplo, as organnizações sociais relacionadas ao
consumidor não demonstram representatividade coletiva adequada para a defesa
em juízo das causas ambientais, ensejando o controle judicial desta condição para
o regular exercício deste direito de ação coletivo específico.
Logo, não basta o elenco legislativo formal puro, há de se perquirir o objeto
do ente privado e, também, do ente público para se reconhecer suficiente esta
representatividade. Nada impede que diante desta análise mais de um seja
legitimado concorrentemente à propositura da ação coletiva, mas, abstratamente,
nem todos são legitimados de forma concorrente em determinados casos
concretos.
Para a aferição da legitimação coletiva temos que verificar o implemento
dos seguintes requisitos: previsão legislativa, representatividade adequada, sendo
certo que esta legitimidade seria sempre extraodinária, autônoma, exclusiva e,
muitas vezes, concorrente.
Por outro lado, a legitimação ativa das ações coletivas é sempre disjuntiva o
que significa que cada legitimado a exerce independente da aquiescência dos
demais que poderão sempre ser litisconsortes de acordo com seus objetivos e
interesses.
Poderíamos, ainda, discorrermos acerca da legitimidade universal de alguns
legitimados por lei. Esses legitimados universais gozariam de representatividade
adequada para o manejo de qualquer ação coletiva, buscando-se a defesa em juízo
da coletividade. A aferição da representatividade adequada estaria sempre
implícita nestes casos. Isso é o que ocorre com o Ministério Público, o que não
impede e nem desestimula que a lei venha conferir legitimidade também a outros
entes públicos, atribuindo-se, assim, sempre legitimidade concorrente em
determinadas áreas em conjunto com o Ministério Público.
41
A sociedade democrática só tem a ganhar com o aumento do número de
legitimados à propositura de ações coletivas de modo que o debate em torno de
“'lutas de poder” entre instituições públicas contrárias à inclusão da Defensoria
Pública neste rol, traduz visão mesquinha incompatível com a missão
constituicional tanto do Minsitério Público quanto da Defensoria Pública. Ao fim,
não haverá discurso teórico que subsista diante do flagrante interesse público na
inclusão da Defensoria Pública dentre os aptos à propositura das ações coeltivas.
Por derradeiro, em parecer favorável à Defensoria Pública, numa ADI22
proposta pela Associação Nacional dos Membros do Ministério Público
(CONAMP) contra a legitimidade da Defensoria Pública para a propositura de
Ação Civil Pública, a doutrinadora Ada Pellegrini Grinover asseverou que é
relevante lembrarmos que o estudo da elaboração e aprovação da atual Lei da
Ação Civil Pública (Lei 7347/85) originou-se de um anteprojeto de lei elaborado
no XI Seminário Jurídico dos Grupos do Ministério Público do Estado de São
Paulo, realizado em 1983 em São Lourenço, tendo culminado numa “proposta que
resultava no fortalecimento do MP (à época parte integrante do Poder Executivo),
em detrimento da sociedade civil”23.
O monopólio da legitimidade para a propositura de Ação Civil Pública
nunca existiu na medida em que também fora conferido a entes políticos e até
associações civis o manejo desta ação coletiva. Esse dado histórico, no entanto,
descortina e nos faz entender porque tamanha resistência à se admitir possa a
Defensoria Pública também promover a defesa de direitos coletivos.
7. Da Legitimidade Ativa Da Defensoria Pública Para Defesa
Dos Direitos Coletivos Lato Sensu
O art. 5º, LXXIV da CF/8824 confere ao Poder Público o dever de prestar
22 ADI 3943, Rel. Min. Carmem Lúcia, STF. 23 Consulta formulada com pedido de parecer em nome da Associação Nacional dos Defensores
Públicos – ANADEP a respeito da arguição de inconstitucionalidade do inciso II do art. 5º da Lei da Ação Civil Pública – Lei 7347/85 -, com a redação dada pela Lei 11488/2007, que conferiu legitimação à Defensoria Pública para a juizar a demanda, em discussão na Ação Direta de Inconstitucionalidade promovida pela Associação Nacional dos Membros do Ministério Público CONAMP (ADI 3943 - STF)
24 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
42
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos. Trata-se de uma garantia das garantias do indivíduo e da sociedade, pois
se há o monopólio da jurisdição e a capacidade postulatória é restrita aos
advogados espera-se que o Estado crie um órgão público de defesa capaz de
concretizar o princípio da igualdadade entre as pessoas.
Adiante, no art. 134 da Carta Política de 1988 declara-se solenimente que
compete à instituição Defensoria Pública cumprir este mandamento
constitucional25.
A vasta carta de direitos que compõe o art. 5º da CF/88 prescreve
expressamente que todos são iguais perante a lei, garantindo-se, entre outros, o
direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade. É assegurado ainda a
inafastabilidade da Jurisdição e o devido processo legal, bem como o contraditório
e a ampla defesa, com todos os meios a ela inerentes.
Concluímos, então, que à Defensoria Pública é assegurado todos os meios
de defesa de direitos dos hipossuficientes, tanto direitos individuais quanto
eventuais direitos coletivos dos hipossuficientes, direitos coletivos dos que estão à
margem da sociedade, dos indefesos, daqueles que já não têm muitas vezes
capacidade de sequer saberem que têm direitos e quiçá oportunidade de defesa.
Portanto, o Poder Constituinte Originário destina à Defensoria Pública o
papel precípuo de defesa judicial e extrajudicial dos hipossuficientes de recursos.
Pelo texto da Constituição da República não há restrição para a defesa de direitos
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;
§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.”
25 “Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV.
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e
dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de
carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a
seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das
atribuições institucionais.” (CF/88)
43
coletivos e nem para a defesa de direitos das classes mais pobres. Isto significa
que quanto aos direitos elencados exemplificadamente no caput do art.5º, não há
restrições de modo que os mesmos devem ser interpretados extensivamente, seja
para defesa de direitos individuais ou coletivos.
Pelo princípio da superioridade da Constituição, não poderá nenhuma lei,
nenhuma interpretação jurídica, nenhuma manifestação de vontade, poderá
sobreviver validamente no Ordenamento Jurídico Brasileiro contrário à
Constituição ou tendente à restringir a garantia constitucional declarada e
protegida sob o manto de cláusula pétrea (art.60, § 4º, CF/88).
Onde a Constituição da República não restringiu a defesa de direitos pela
Defensoria Pública, há de se promover sempre interpretação extensiva com vitas a
concretizar o comando constitucional garantidor da igualdade e da liberdade dos
indivíduos carentes de recursos.
O texto ainda assegura no art. 5º, § 1º a aplicação imediata dos direitos e
garantias assegurados no extenso rol de Direitos, de modo que os comandos
independem de norma regulamentadora para sua concretude, a demonstrar que o
campo de atuação e defesa dos direitos estariam à disposição dos membros da
Defensoria Pública independentemente de autorização legal.
A Constituição ainda garante expressamente em todo o seu corpo, a defesa
do consumidor (art. 5°, XXXII, CF/88) e elenca vasto arcabouço de direitos
sociais no art. 6º, sem distinguir a feição individual ou coletiva do Direito que,
como já abordado anteriormente, pode assumir ao lado da demanda individual,
repercussões sociais que necessitem de uma instrumentalidade coletiva para a
eficácia de sua defesa em juízo.
Impedir a Defensoria Pública de manejar as ações coletivas, sobretudo a
Ação Civil Pública significa retirar do defensor público importante instrumento
processual de atuação rotineiro para o exercício de suas atribuições institucionais,
restringindo campo de autuação, promovendo-se uma interpretação restritiva sem
respaldo de validade na Carta Magna.
Como já exposto acima, o microssistema do processo coletivo comporta a
integração de vários diplomas legislativos, destacando-se o Código de Defesa do
Consumidor – CDC (Lei 8078/90) e a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7347/85).
44
Desde o advento destas leis e diante da crescente demanda ordinária dos
núcleos da Defensoria Pública, os membros desta instituição têm feito uso de
todos os instrumentos processuais disponíveis para a consecução dos fins
institucionais. Antes mesmo da alteração da Lei 7347/85 (LACP) que introduziu
expressamente a Defensoria Pública no rol dos legitimados ativos para a
propositura da ação civil pública, esta ação coletiva era manejada pelos seus
membros, encontrando, inclusive acolhida jurisprudencial aqui e alhures.
Muito antes da alteração da LACP, a Defensoria Pública enquadrava-se
dentre os órgãos da Administração Direta, sem personalidade jurídica própria mas
com núcleos e setores especificamente criados para a defesa de direitos e
interesses protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor, nos termos do art.
82, III da Lei 8078/9026.
As Defensorias Públicas imbuidas da missão constitucional que lhes foi
conferida, organizaram-se visando o comando legal que legitimava órgão da
Administração Direta e criaram “Núcleos de Defesa do Consumidor”
(NUDECOM), com vistas à especialização e atendimento da demanda que acudia
diariamente a Defensoria Pública. A partir daí intentaram várias ações coletivas
relacionadas à defesa dos consumidores hipossuficientes em juízo, o que criou,
mesmo antes do advento da Lei 11448/07, aceitação jurisprudencial desta
legitimidade ativa concorrente com os demais legitimados da lei, e, sobretudo,
amplo reconhecimento no Superior Tribunal de Justiça27.
26 “Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
(...)
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.” (Lei 8078/90)
27 “PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO NO JULGADO. INEXISTÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA COLETIVA DOS CONSUMIDORES. CONTRATOS DE ARRENDAMENTO MERCANTIL ATRELADOS A MOEDA ESTRANGEIRA. MAXIDESVALORIZAÇÃO DO REAL FRENTE AO DÓLAR NORTE-AMERICANO. INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. LEGITIMIDADE ATIVA DO ÓRGÃO ESPECIALIZADO VINCULADO À DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO.
I – O NUDECON, órgão especializado, vinculado à Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, tem legitimidade ativa para propor ação civil pública objetivando a defesa dos interesses da coletividade de consumidores que assumiram contratos de
45
As vitórias junto ao Poder Judiciário foram aguerridas e a legitimidade
ativa da Defensoria Pública para propositura de ações civis públicas instigou o
próprio Poder Legislativo a aprovar a Lei 11448/07, integrando o Ordenamento
Jurídico de forma condizente com os ditames do Estado Democrático, incluindo a
Defensoria Pública no rol dos legitimados por lei.
A falta de menção expressa à Defensoria Pública no rol do Códido de
Defesa do Consumidor (art. 82, Lei 8078/90) dificultava o reconhecimento da
legitimidade por se tratar de legitimidade extraordinária, mas a representatividade
adequada era tamanha e nunca questionada pelo Poder Judiciário. Assim, diante
da lacuna da lei e fazendo-se uso da interpretação teleológica do Código de
Defensa do Consumidor, verificou-se que dos entes ali elencados na lei, a
Defensoria Pública era plenamente enquadrada numa das hipóteses permissivas ao
manejo das ações coletivas relacionadas à defesa do consumidor.
Assim, a luta da Defensoria Pública pelo direito de ação para o regular
exercício da ação coletiva, alcançou o Poder Legislativo que, somente em
15/01/2007, através da Lei 11448/07, alterou-se a Lei 7347/85 (LACP) para
incluir a Defensoria Pública no rol do art. 5º, com legitimidade concorrente com
os demais legitimados anteriores28.
arrendamento mercantil, para aquisição de veículos automotores, com cláusula de indexação monetária atrelada à variação cambial.
II - No que se refere à defesa dos interesses do consumidor por meio de ações coletivas, a intenção do legislador pátrio foi ampliar o campo da legitimação ativa, conforme se depreende do artigo 82 e incisos do CDC, bem assim do artigo 5º, inciso XXXII, da Constituição Federal, ao dispor, expressamente, que incumbe ao “Estado promover, na forma da lei, a defesa do consumidor”.
III – Reconhecida a relevância social, ainda que se trate de direitos essencialmente individuais, vislumbra-se o interesse da sociedade na solução coletiva do litígio, seja como forma de atender às políticas judiciárias no sentido de se propiciar a defesa plena do consumidor, com a conseqüente facilitação ao acesso à Justiça, seja para garantir a segurança jurídica em tema de extrema relevância, evitando-se a existência de decisões conflitantes.
Recurso especial provido.
(REsp 555.111/RJ, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/09/2006, DJ 18/12/2006 p. 363)
28“Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela
Lei nº 11.448, de 2007).
I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
II - a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (Incluído pela Lei nº 11.448,
46
Ressalte-se que não se trata de uma luta de poder com os demais entes
legitimados, mas simplesmente uma luta para que os Defensores Públicos possam
utilizar-se deste relvante instrumento processual de defesa de direitos coletivos.
Não há razão para subtrair do membro da Defensoria Pública essa
ferramenta há muito conquistada numa das “ondas renovatórias” posteriores de
acesso à Justiça, juntamente com a própria concepção deste órgão de defesa
pública também idealizado com o mesmo fim último de promover o devido e
adequado acesso à justiça com todos os meios de defesa dispostos para realização
deste múnus público relevante.
A alteração legislativa tardia traduziu relevante conquista democrática,
abraçada imediatamente pelos tribunais pátrios29, cumprindo-se o requisito formal
que estava faltando para se conferir à Defensoria Pública a legitimidade
extraordinária para a defesa de direitos coletivos em juízo.
Portanto, com o advento da Lei 11448/07, a legitimação ativa da Defensoria
Pública além de encontrar destaque na jurisprudência, tomou corpo legislativo,
corrigindo omissão da lei específica o que levou surpreendentemente a Associação
de 2007).
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
V - a associação que, concomitantemente: (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei.
§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.” (Lei 7347/85)
29 PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COLETIVA. DEFENSORIA PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA. ART. 5º, II, DA LEI Nº 7.347/1985 (REDAÇÃO DA LEI Nº 11.448/2007). PRECEDENTE.
1. Recursos especiais contra acórdão que entendeu pela legitimidade ativa da Defensoria Pública para propor ação civil coletiva de interesse coletivo dos consumidores.
2. Esta Superior Tribunal de Justiça vem-se posicionando no sentido de que, nos termos do art. 5º, II, da Lei nº 7.347/85 (com a redação dada pela Lei nº 11.448/07), a Defensoria Pública tem legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar em ações civis coletivas que buscam auferir responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências.
3. Recursos especiais não-providos. (REsp 912.849/RS, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/02/2008, DJe 28/04/2008)
47
Nacional dos Membros do Ministério Público-CONAMP a ajuizar a já citada ação
direta de inconstitucionalidade30 em relação ao inciso II do artigo 5º da Lei da
Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85), com a redação dada pela Lei n.11.448/2007,
que conferiu legitimidade ampla à Defensoria Pública para ajuizar a ação civil
pública, alegando violação aos artigos 5º, inciso LXXIV e ao artigo 134, caput, da
Constituição Federal.
Repare que a tese ventilada traduz argumentação contrária aos ditames da
Constituição da República, pois, repito, subtrair do defensor Público este
instrumento processual coletivo dificulta a perseguição do amplo acesso à justiça
incumbida constitucionalmente à Defensoria Pública.
O órgão representativo de classe do Ministério Público (CONAMP) busca a
declaração da inconstitucionalidade do inciso II do artigo 5º da Lei n. 7.347/85, na
redação da Lei n. 11.488/07, ou, ao menos pretendem lançar mão de uma pseudo
“interpretação conforme a Constituição”, para que, sem redução do texto, seja
excluída da referida legitimação a tutela dos direitos difusos, alegando que seus
titulares são pessoas indeterminadas, cuja individualização e identificação seria
impossível, obstacularizando a aferição da carência financeira, única capaz de
legitimar a Defensoria Pública em juízo.
O presente estudo tem por escopo demonstrar que a Defensoria Pública tem
legitimidade para a propositura de ações civis públicas relacionadas aos direitos
coletivos lato sensu não excluindo-se do campo de ação deste órgão os direitos
coletivos e nem os direitos difusos.
A defesa da legitimidade ativa para a propositura de ação civil pública se
torna fácil sob o aspecto formal, mas o que se pretende ainda é demonstrar que
essa legitimidade encontra vasta constitucionalidade material ínsita à
representatividade adequada que esta Instituição guarda para com os
marginalizados individualmente ou coletivamente de forma determinável ou até
indeterminada.
A instituição Defensoria Pública, enquanto essencial à função jurisdicional
possui funções típicas e funções atípicas definidas por lei. As funções típicas são
aquelas que dizem respeito à defesa dos hipossuficientes de recursos em juízo, nos
30 ADI 3943, Rel. Min. Carmem Lúcia, STF.
48
termos do art. 5º, LXXIV c/c art. 134 da CF/88.
Mas a lei também reserva à Defensoria Pública funções atípicas que não
estão lastreadas estritamente na condição financeira dos assistidos e sim no
interesse público da promoção universal e incondicional da defesa, não só defesa
formal mas técnica e efetiva, cumprindo os princípios constitucionais do
contraditório e da ampla defesa (art. 5°, LV, CF/88).
Isso é exatamente o que ocorre quando a Defensoria Pública é chamada para
defesa de pessoas físicas ou jurídicas que não foram localizadas pelo Poder
Judiciário para que escolham o profissional técnico capaz de promover sua defesa
em juízo. Esse exercício da defesa do réu revel citado por edital ou por hora certa
é reservada à Defensoria Pública, exercendo a curadoria especial, nos termos do
art. 9° do CPC31.
Portanto, há muito à Defensoria Pública não promove só a defesa dos
hipossuficientes, mas também promove a defesa de direitos vulneráveis na
sociedade que não devem correr o perigo de restarem desprotegidos.
A Lei Complementar 80/94 é a Lei Orgânica da Defensoria Pública, sendo
certo que no art. 4°32, encontramos elencadas as funções institucionais da
31 “Art. 9o O juiz dará curador especial:
I - ao incapaz, se não tiver representante legal, ou se os interesses deste colidirem com os daquele;
II - ao réu preso, bem como ao revel citado por edital ou com hora certa.
Parágrafo único. Nas comarcas onde houver representante judicial de incapazes ou de ausentes, a este competirá a função de curador especial.” (CPC – Lei 5869/73)
32 “Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
I - promover, extrajudicialmente, a conciliação entre as partes em conflito de interesses;
II - patrocinar ação penal privada e a subsidiária da pública;
III - patrocinar ação civil;
IV - patrocinar defesa em ação penal;
V - patrocinar defesa em ação civil e reconvir;
VI - atuar como Curador Especial, nos casos previstos em lei;
VII - exercer a defesa da criança e do adolescente;
VIII - atuar junto aos estabelecimentos policiais e penitenciários, visando assegurar à pessoa, sob quaisquer circunstâncias, o exercício dos direitos e garantias individuais;
IX - assegurar aos seus assistidos, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, o contraditório e a ampla defesa, com recursos e meios a ela inerentes;
49
Defensoria Pública que devem colher fundamento de validade na Constituição da
República.
Assim, no inciso VI deste diploma legal há expressa menção à atribuição
conferida a Defensoria Pública para a defesa incondicional do incapaz, do réu
preso e do réu revel, citado por Edital ou com hora certa, no exercício da
curadoria especial requisitada genericamente pela lei processual civil.
Ressalte-se que a defesa do réu revel, do incapaz e do preso, independem da
aferição da condição financeira dos mesmos, tendo a lei confiado à Defensoria
Pública a promoção destas defesas em juízo, em consonância com a máxima de
que todos tem direito à defesa, cumprindo-se os ideais de igualdade e liberdade
dentro do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LIV e
LV, CF/88).
A interpretação que se faz é que as atribuições que se correlacionam
estritamente com a hipossuficiência de recursos são típicas o que não sugere que o
restante das atribuições afetas à Defensoria Pública sejam inconstitucionais, pelo
contrário ampliam o “acesso à justiça” o qual defendemos seja o papel primordial
da Defensoria Pública.
Acessibilidade pressupõe a “existência de pessoas, sentido lato (sujeitos de
direito), capazes de estar em juízo, sem óbice de natureza financeira,
desempenhando adequadamente o seu labor (manejando adequadamente os
instrumentos legais judiciais e extrajudiciais existentes), de sorte a possibilitar, na
prática, a efetivação dos direitos individuais e coletivos, que organizam uma
determinada sociedade”33.
Um dos requisitos primordiais para a garantia da acessibilidade é a
informação, o discernimento, o conhecimento dos direitos que temos e dos meios
de utilizá-los e defendê-los. O conhecimento dos direitos, para que seja possível
sua defesa judicial ou extrajudicialmente, traduz papel importante da educação e
civismo, um pouco deficiente na nossa sociedade a impor a existência de um
órgão capaz de não só promover ações judiciais como também singelamente
X - atuar junto aos Juizados Especiais de Pequenas Causas;
XI - patrocinar os direitos e interesses do consumidor lesado;” (LC 80/94)
33 Carneiro, Paulo César Pinheiro. Acesso à Justiça. Juizado Especial Cível e Ação Civil Pública. ed., Forense. 1999, p.57.
50
orientar a população marginalizada da existência destes direitos.
Aparece o outro pilar da “acessibilidade”, qual seja, a escolha das pessoas
mais adequadas para a efetiva defesa destes direitos afirmados, visando a
efetivação destes no mundo dos fatos. Repare, outrossim, que a escolha de um
ente não implica e sequer desautoriza a existência de legitimidados concorrentes o
que enriquece o debate e fortalece os trabalhos e a democracia.
Buscamos a legitimidade adequada para a atribuição de certas funções
com vistas a perseguição do interesse comum público de eficiência na prestação
da função jurisdicional. Nunca podemos, neste ponto, deixar que privilégios e
disputas de Poder sejam colocados acima do debate jurídico científico, deturpando
as intenções do Poder Constituinte Originário. Este embate histórico de ideologias
do Ministério Público contra a Defensoria Pública, a meu humilde ver, depõe
contra as funções institucionais do Ministério Público, buscando retirar legitimado
ativo para propositura de ação coletiva demonstrando pueril disputa de Poder ao
invés de aplaudir a alteração legislativa que consolidou corrente crescente na
jurisprudência.
No meu sentir, o conceito de “hipossuficiência de recursos” mencionado no
art. 5º, LXXV da CF/88 é conceito jurídico indeterminado que não enseja
interpretação restritiva por se tratar de garantia constitucionalmente assegurada.
A Lei Orgânica da Defensoria Pública, Lei Complementar n° 80/94,
disciplina no art. 1° que a Defensoria Pública é instituição essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe prestar assistência jurídica, judicial e
extrajudicial, integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma da
lei34.
A Lei 1060/50 no art. 2°, parágrafo único, preconiza que “considera-se
necessitado, para os fins legais, toda aquele cuja situação econômica não lhe
permita pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do
sustento próprio ou da família”.
Num país de extremas desigualdades sociais, percebe-se que há uma
34 “Art. 1º A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe prestar assistência jurídica, judicial e extrajudicial, integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma da lei.” (LC 80/94)
51
legítima preocupação expressa com as barreiras financeiras que possam dificultar
o amplo acesso à justiça, não só quanto às despesas inerentes ao serviço judiciário
prestado e aos honorários advocatícios, como também em relação à ciência acerca
da existência de direitos.
Contudo, pode-se fazer uma leitura da Constituição da República com vistas
a extrair do texto, uma interpretação garantidora de direitos, buscando reconhecer
que a Defensoria Pública foi criada para promover essencialmente a ampliação do
acesso à Justiça da parcela da população marginalizada não só economicamente
(materialmente), mas também marginalizada intelectualmente, tecnicamente e, por
conseguinte, juridicamente.
O amplo acesso à Justiça é o grande norte da Defensoria Pública,
promovendo além da conscientização de direitos a oportunidade de conciliação
extrajudicial e representatividade judicial de direitos individuais ou coletivos
violados. Muito além da necessidade de aferição de renda, para averiguar a
insuficiência de recursos financeiros, capaz de conferir capacidade postulatória à
Defensoria Pública, há no ordenamento jurídico situações em que a defesa em
juízo, ou seja, o acesso à Justiça, daqueles que a princípio não teriam defesa
alguma (p. ex., presos, revéis, incapazes), toma relevância legal e a incumbência
deste múnus passa a ser atribuída também à Defensoria Pública.
Recentemente, a Lei Orgânica da Defensoria Pública – LC 80/94 - foi
alterada pela da Lei Complementar n° 132 de 07 de outubro de 2009 (DOU de
08/10/2009) que aumentou as funções institucionais das Defensorias Públicas,
mencionando-se expressamente a atribuição das Defensorias Públicas para a
defesa dos direitos coletivos.
Dentre as mudanças empreendidas pela nóvel legislação, verificou-se a
menção expressa a atribuição para a da defesa de direitos individuais ou coletivos.
Em nosso país, o óbvio deve ser escrito na lei, sob pena de vedarmos o amplo
acesso à justiça, ao revés, uma vez escrito na lei, haverá quem queira declarar o
dispositivo como inconstitucional, muito embora benéfico às garantias
individuais, numa reversão de valores que deflagra mera luta de vaidades e poder.
A nova Lei Orgânica da Defensoria Pública que resultou das derrogações
empreendidas pela LC 132/09 na antiga LC 80/94, promoveu a inclusão dentre as
52
funções institucionais da Defensoria Pública, a defesa dos direitos coletivos desde
que guarde a já aludida pertinência temática com a instituição.
Verificamos no diploma legislativo específico que compete à Defensoria
Pública, fundamentalmente a orientação jurídica, a promoção dos direitos
humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos, aos necessitados (art. 1º,
caput, LC 80/94). Ademais, há ainda menção expressa à defesa de direitos
individuais ou coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa
portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de violência doméstica e
familiar e de outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial
do Estado, nos termos do art. 4º, XI da LC 80/94 com a redação dada pela LC
132/09.
“Grupos sociais vulneráveis” também constitui conceito jurídico
indeterminado, ao lado dos conceitos de “necessitados” e “hipossuficientes de
recursos” que sugere inclusive a noção de titularidade coletiva de direitos,
incluindo os homossexuais, os negros, os índios, os quilombolas, dentre outros.
Percebe-se que nestes casos a aferição de renda não é o norte de atuação da
Defensoria Pública, mas sim a própria marginalização destes grupos que propicia
a vulnerabilidade dos direitos que titularizam.
O art. 1º e o art. 4º, V, VI, VII35, X e XI da LC 80/94 ainda assegura à
35 “Art. 1º A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do
Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal.” (NR)
“Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
I – prestar orientação jurídica e exercer a defesa dos necessitados, em todos os graus;
II – promover, prioritariamente, a solução extrajudicial dos litígios, visando à composição entre as pessoas em conflito de interesses, por meio de mediação, conciliação, arbitragem e demais técnicas de composição e administração de conflitos;
III – promover a difusão e a conscientização dos direitos humanos, da cidadania e do ordenamento jurídico;
IV – prestar atendimento interdisciplinar, por meio de órgãos ou de servidores de suas Carreiras de apoio para o exercício de suas atribuições;
V – exercer, mediante o recebimento dos autos com vista, a ampla defesa e o contraditório em favor de pessoas naturais e jurídicas, em processos administrativos e judiciais, perante todos os órgãos e em todas as instâncias, ordinárias ou extraordinárias, utilizando todas as medidas capazes de propiciar a adequada e efetiva defesa de seus interesses;
VI – representar aos sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos, postulando
53
Defensoria Pública a utilização de todos os meios e instrumentos processuais para
o desempenho de suas funções institucionais, não só permitindo a esta Instituição
Pública promover a ação civil pública, como também utilizar-se de “todas as
espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos,
coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder
beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes”.
Portanto, sem adentrarmos nas questões materiais que fundamentam a
legitimidade ativa da Defensoria Pública para a propositura da ação civil pública,
esta legitimidade, pelo simples fato de estar na lei (requisito forma ínsito à
legitimidade extraordinária), independentemente da possibilidade de aferição de
renda ou viabilidade de identificação de titulares e objeto, se perfaz razoável
simplesmente pelo fato de que a Defensoria Pública também exerce funções
atípicas, desde que determinadas por lei.
Bastaria pensarmos que o legislador teria atribuído mais essa função atípica
à Defensoria Pública, objetivando aumentar o elenco dos legitimados ativos
concorrentes com o Ministério Público e até associações civis, buscando a
máxima realização dos direitos coletivos, sem pensar no fortalecimento ou
enfraquecimento de uma Instituição em detrimento da outra, mas sim pensando
que TODA a sociedade, rica ou pobre, lucraria com o aumento deste rol de
legitimados ativos.
Poderíamos concluir então que a legitimidade ativa da Defensoria Pública
para a ação civil pública se insere dentre as funções atípicas deste órgão, com
perante seus órgãos;
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes;
VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos, coletivos e individuais homogêneos e dos direitos do consumidor, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal;
X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados, abrangendo seus direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela;
XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado;” (LC 80/94 com a redação dada pela LC 132/09)
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assento na própria legislação pátria (opção legislativa), mas o que pretendemos é
ir além para demonstrar a feição material desta legitimidade, ou seja, a Defensoria
Pública é dotada de tamanha “representatividade adequada” para determinadas
defesas coletivas em juízo.
Ora, a defesa de direitos coletivos, pode se relacionar especificamente com
uma coletividade determinável ou indeterminada hipossuficiente o que abarca a
tese do pleno exercício de função típica da Defensoria Pública, ainda no campo da
defesa de direitos difusos e coletivos strito sensu.
O fato de parcela dos titulares dos direitos ser hipossuficiente, por si só, já
autorizaria a atuação da Defensoria Pública na defesa deste direito coletivo, pouco
importando, para que a legitimação ativa da Defensoria Pública se verifique, que
parcela mais abastada dos titulares também sejam beneficiada pela defesa
coletiva.
O impedimento que se quer impor à Defensoria Pública para a defesa de
direitos coletivos reverte os valores do propósito, ao tentar excluir um órgão
visceralmente ligado às populações carentes da possibilidade de defesa de direitos
coletivos, afinal, se nem todos os titulares forem pobres, bastaria um rico para
impedir a atuação da Defensoria Pública na defesa de interesses coletivos. Não me
parece seja essa a melhor expressão da democracia e tampouco não me parece seja
essa a vontade da Constituição Federal de 1988.
Contudo, podemos ainda assim vislumbrar hipóteses em o direito difuso, ou
coletivo em apuro, contenha titularidade indeterminada ou determinável somente
hipossuficientes de recursos, o que aniquilaria definitivamente a argumentação
contra as funções da Defensoria Pública na defesa em juízo, ou fora dele, de
direitos coletivos lato sensu.
Um exemplo seria um dano ambiental experimentado no topo de uma
favela, cujas repercussões daninhas ao meio ambiente primeiro seriam
experimentadas e afetariam imediatamente toda aquela comunidade à margem da
sociedade do asfalto, comunidade vulnerável. Indiscutível também é que à
humanidade toda, ricos e pobres, interessa conter o ato ilícito causador do dano
com vistas a salvaguardar o meio ambiente inclusive para as gerações futuras. A
comparação destas duas hipóteses, por si só, justifica a legitimidade concorrente
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conferida tanto para a Defensoria Pública quanto para o Ministério Público.
Não se mostra, assim, razoável excluirmos a legitimidade ativa da
defensoria pública porque os titulares do direito coletivo são indetermináveis ou
porque parcela dos determináveis sejam abastados. Essa construção é perigosa
pois exclui, mais uma vez, a voz dos marginalizados, dos mais fracos, apesar da
indiscutível superioridade numérica destes no nosso país.
A par da questão imposta, atinente à necessidade de identificação de
titulares pobres capazes de conferir legitimidade ativa à Defensoria Pública
devemos ainda estudar outro fator determinante da legitimidade adequada, qual
seja a legitimação de entes que possibilitem que o direito possa efetivamente ser
reclamado da melhor forma e com o melhor desempenho.
Devemos olhar então para a legitimação mais conveniente36, independente
da aferição do titular do Direito material, aliás, esta é a ratio essendi de toda
legitimação extraordinária e aqui também há de se sopesar essa representatividade
adequada e não apenas baseado na possibilidade de determinação de titulares ou,
ainda, de aferição da qualificação financeira dos titulares do direito coletivo
violado.
A Defensoria Pública é a “casa dos pobres”, por excelência, nesta Instituição
a parcela marginalizada da população se socorre para defesa judicial e
extrajudicial de direitos individuais e também coletivos, carecendo, portanto, de
proporcionalidade qualquer tese que pretenda retirar da Defensoria Pública a
legitimidade ativa para a representatividade adequada dos direitos coletivos dos
hipossuficientes, ainda quando haja conjutamente interesses de classes mais altas
em jogo.
Por oportuno, temos que relembrar que a legitimidade adequada também é
relacionada à igualdade material, à paridade de armas, sobretudo, diante do
adversário contra o qual se litiga, não sendo crível argumentação preconceituosa
de que a Defensoria Pública não daria conta do recado. Não aparelhar a
Defensoria Pública causando um descompasso estrutural entre a Defensoria
Pública e o Ministério Público não merece ser argumento de defesa crível para a
36 Carneiro, Paulo César Pinheiro. Acesso à Justiça. Juizado Especial Cível e Ação Civil Pública.
ed., Forense. 1999, p.59.
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falácia da “falta de condições” para que este digno órgão exerça suas atribuições
institucionais.
Passamos para a análise da espécie dos direitos coletivos. Quanto aos
direitos individuais homogêneos não há dificuldade em aceitarmos a legitimidade
para a defesa destes interesses em juízo através da ação coletiva responsável pelo
enxugamento dos processos de massa na Justiça, com relevo para os conflitos de
consumo fruto da massificação, dos contratos de adesão que atinge parcela de
consumidores hipossuficientes.
Por outro lado, a Constituição Federal no art. 129, III 37 atribuiu ao
Ministério Público a função institucional de promover a ação civil pública para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos, mas no parágrafo primeiro deste mesmo artigo ressalvou que
a legitimação do Ministério Público para as ações civis não impediria que a lei
viesse a legitimar terceiros ao manejos desta ação coletiva. Exatamente como o
fez a lei ampliando o acesso à justiça, aliás, temos que dizer que demorou muito
para que o Poder legislativo ouvisse o clamor popular manifestado através da
Defensoria Pública para que corrigisse essa lacuna que dificultava muito o
trabalho dos membros desta Instituição.
Ressalte-se, inclusive, em se tratando de direitos patrimoniais disponíveis,
não haveria empecilho para a atuação da Defensoria Pública, obstáculo este
questionado aoMinistério Público, cosoante decisões do Superior Tribunal de
Justiça que não reconhecem legitimidade ativa do Ministério Público para a defesa
de direitos patrimoniais disponíveis, salvo interesses de menores e incapazes em
jogo38.
37 “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
§ 1º - A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.” (CF/88)
38 AÇÃO ORDINÁRIA. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. DIREITOS DISPONÍVEIS. MINISTÉRIO PÚBLICO. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
1. De acordo com o entendimento firmado pela Terceira Seção, o Ministério Público não possui legitimidade para propor ação civil pública objetivando a revisão da renda mensal de benefícios previdenciários, porquanto estes encontram-se na esfera do interesse patrimonial disponível.
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Ainda quanto a esses direitos individuais homogêneos que devem mais
acertadamente serem tratados como subespécie de direitos coletivos e não
meramente como direitos acidentalmente coletivos, recebendo natureza material
de direito coletivo lato sensu e não só processual/instrumental, maior
legitimidade, ainda, tem a Defensoria Pública para a sua defesa coletiva.
A dimensão do papel da Defensoria Pública na defesa coletiva destes
interesses não persiste só porque significam o tratamento coletivo de demandas
individuais, estas já propostas pelo órgão de defesa pública, mas sobretudo porque
perseguem a função educativa e de repressão de condutas contra aqueles seres
humanos já marginalizados em demasia na sociedade e cujo desconhecimento, a
par da diminuta recompensa pecuniária, desestimulariam as ações individuais.
Quanto aos direitos coletivos stricto sensu há inclusive categoria com
titularidade identificável em abstrato, como por exemplo, hipoteticamente, a
demanda que tenha por objeto o reajuste dos benefícios assistenciais de idoso e
deficientes carentes, ou, ainda, a majoração de um parâmetro normativo de
hipossuficiência que aniquilava o própro direito ao benefício assistencial do
hipossuficiente (art. 2º, V da Lei 8742/93), bem como a demanda que questiona o
reajuste de salário mínimo aquém dos índices inflacionários.
Nestes casos, a titularidade coletiva afeta ao direito material coletivo
invocado (direito social), indiscutivelmente, abarca até exclusivamente população
carente de recursos (benefícios assistenciais, LOAS, Lei 8742/93), sendo esta
verba a responsável pela subsistência destes indivíduos na sociedade.
Contudo, temos reconhecido que nas relações previdenciárias e
assistenciais, não há relação consumerista caracterizada do cidadão para com o
INSS, inquestionável, porém, que se trata de direito coletivo social, não se tendo
como negar a legitimidade ativa da Defensoria Pública para o manejo da ação
civil pública, fulcrada não na tutela consumerista mas sim no direito social aos
benefícios assistenciais previstos na lei39.
2. Por idêntica razão, não há falar em legitimidade do Parquet para recorrer em ação ordinária
destinada à obtenção de benefício assistencial. 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 980.899/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
26/08/2008, DJe 28/10/2008) 39 AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. REVISÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. DIREITOS INDIVIDUAIS
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8. Conclusões
A Defensoria Pública é instituição permanente essencial à prestação
jurisdicional do Estado, sendo responsável pela prestação de assistência jurídica
integral e gratuita não só aos hipossuficientes de recursos mas também dos grupos
sociais vulneráveis.
A Constituição da República não restringiu competir à Defensoria Pública
somente a defesa de direitos individuais, de tal sorte que há que se ofertar
interpretação extensiva para garantia de direitos individuais ou coletivos pela
Defensoria Pública.
A Defensoria Pública exerce funções típicas relacionadas à defesa de
parcela da população carente de recursos, mas também exerce funções atípicas,
atribuídas por lei à Instituição, como o exercício da curadoria especial.
O papel constituicional da Defensoria Pública seria ampliação democrática
do acesso à Justiça, sobretudo de titulares de direitos marginalizados na sociedade,
sejam estes determináveis ou indeterminados, ricos ou pobres.
As sociedades complexas demonstraram a insuficiência das tutelas
meramente individuais para solucionar a problemática do acesso à justiça e da
própria concretização de direitos no mundo dos fatos (crise de efetividade),
sobretudo direitos que extrapolam da esfera privada dos indivíduos ou se repetem
em massa de forma pulverizada.
A justificativa para as ações coletivas esbarra tanto na questão da ampliação
DISPONÍVEIS. AUSÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO ENTRE O INSS E O SEGURADO. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. ILEGITIMIDADE ATIVA "AD CAUSAM".
A quaestio objeto da ação civil pública diz respeito a direito que, conquanto pleiteado por um grupo de pessoas, não atinge a coletividade como um todo, não obstante apresentar aspecto de interesse social. Sendo assim, por se tratar de direito individual disponível, evidencia-se a inexeqüibilidade da defesa de tais direitos por intermédio da ação civil pública. Destarte, as relações jurídicas existentes entre a autarquia previdenciária e os segurados do regime de Previdência Social não caracterizam relações de consumo, sendo inaplicável, in casu, o disposto no art. 81, III, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor. Ressalva do entendimento do Relator.
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 502.610/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 23/03/2004, DJ 26/04/2004 p. 196)
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do acesso à justiça, quando na questão da economia processual, evitando
“litigiosidade de massa”, com redução de custos na prestação jurisdicional,
uniformização de julgamentos, minorando-se inclusive decisões contraditórias.
O processo coletivo promove um tratamento adequado e técnico, capaz de
atender à demanda social coletiva, fruto da sociedade complexa em crescente
industrialização, globalização, urbanização e, ainda, marginalização.
A legitimidade ativa para a propositura de ações coletivas possui dois
requisitos: previsão legal (requisito objetivo) e representação adequada (requisito
subjetivo).
A representação adequada diz respeito à pertinência temática que o
legitimado ativo deve possui com o objeto da ação coletiva, com vistas a se
assegurar a melhor defesa da coletividade em juízo, está ligada ao pleno exercício
em juízo do direito coletivo.
O rol dos legitimados ativos para a propositura de ações coletivas constitui
legitimidade extraordinária, autônoma, exclusiva, concorrente e disjuntiva.
Autônoma porque cada ente legitimado pode propor a ação independente da
participação dos titulares do direito material coletivo. Exclusiva porque somente
estes autorizados por lei podem mover a ação coletiva. Concorrente sugere que
mais de um ente pode propor a demanda coletiva, dependendo da pertinência
temática requerida. Disjuntiva significa que independe de aquiescência dos
demais legitimados.
A Defensoria Pública possui pertinência temática e já goza de autorização
legal para a propositura de ação civil pública para a defesa de direitos coletivos de
grupos sociais vulneráveis (pobres, homossexuais, quilombolas, índios, etc).
A ampliação do rol dos legitimados para a propositura de ações coletivas,
desde que haja representatividade adequada, busca cumprir mandamentos
constituicionais de promoção da igualdade e liberdade dos indivíduos.
A Defensoria Pública constitui Instituição pública, com assento
constituicional, voltada para a promoção da defesa judicial e extrajudicial de
direitos titularizados por estes grupos vulneráveis, direitos de titularidade
indeterminada (direitos difusos) ou determinável (direitos coletivos stricto sensu
ou direitos individuais homogêneos).
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Há relevante interesse público na ampliação do acesso à Justiça destes
direitos já que a condição de vulnerabilidade tenderia à deixar estes direitos
violados à esmo o que atenta contra a efetividade das normas jurídicas e merece
reprimenda judicial.
Além de enxugar os processos no Poder Judiciário, molecularizando
demandas àtomos que atravancam a Justiça, a propositura de ações coletivas pela
Defensoria Pública promove maior defesa da Ordem Jurídica já que diminutos
valores de indenização desestimulariam a propositura de ações, inviabilizando o
caráter preventivo educativo desta verrtente de pretensão que assume assim
interesse público diante da coibição da massificação dos conflitos na sociedade.
O reconhecimento da legitimidade ativa da Defensoria Pública, ao lado do
Ministério Público, constitui conquista social há muito esperada, já que a
Constituição da República ao legitimar o Ministério Público para a propositura de
ações coletivas, ressalvou que a lei poderia conferir esta legitimidade a outros
entes (art. 129, § 1º, CF/88).
Não se perfaz razoável subtrairmos da Defensoria Pública a legitimidade
ativa para a propositura da ação civil pública, retirando relevante instrumento de
trabalho dos membros desta Instituição, ou seja, diminuindo o acesso à Justiça ao
invés de ampliá-lo.
Além da inclusão no rol dos legitimados para a propositura da ação civil
pública, reconhecemos a pertinência temática e, por conseguinte, a representação
adequada da Defensoria Pública para a defesa judicial e extrajudicial de direitos
coletivos lato sensu de grupos sociais vulneráveis.
61
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