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Ordem dos Advogados – Centro Distrital do Porto 2.º Curso de Estágio de 2008 Resumos de Deontologia I. 1. A Deontologia Profissional: noção e análise comparativa com a Deontologia no domínio das demais profissões liberais. A Deontologia e o valor da confiança. (Orlando Guedes da Costa, págs. 5 a 9) Noção de profissão: Profissão é uma actividade exercida com base em conhecimentos teóricos, adquiridos através de um método científico e geradora de confiança proporcionada por quem tem autoridade para a exercer, com acesso e exercício regulamentados em função do seu interesse público ou utilidade social e com subordinação a um código deontológico, imposto por uma associação que promove a cultura própria da actividade considerada. O valor da confiança na profissão resulta: antes de mais, da autoridade profissional ou do facto de a preparação fornecer ao profissional um tipo de conhecimento inacessível ao não profissional, e, depois, do acesso condicionado e do exercício regulamentado em função do seu interesse público ou da sua função social. Do conceito de profissão decorre que as actividades profissionais são reguladas por um conjunto de normas que constituem a deontologia profissional e que asseguram o seu correcto exercício. Noção de Deontologia: Joana Ruivo 32209 1

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Ordem dos Advogados – Centro Distrital do Porto2.º Curso de Estágio de 2008

Resumos de Deontologia

I.

1. A Deontologia Profissional: noção e análise comparativa com a Deontologia no domínio das demais profissões liberais. A Deontologia e o valor da confiança.(Orlando Guedes da Costa, págs. 5 a 9)Noção de profissão:Profissão é uma actividade exercida com base em conhecimentos teóricos, adquiridos através de um método científico e geradora de confiança proporcionada por quem tem autoridade para a exercer, com acesso e exercício regulamentados em função do seu interesse público ou utilidade social e com subordinação a um código deontológico, imposto por uma associação que promove a cultura própria da actividade considerada.O valor da confiança na profissão resulta:

− antes de mais, da autoridade profissional ou do facto de a preparação fornecer ao profissional um tipo de conhecimento inacessível ao não profissional,

− e, depois, do acesso condicionado e do exercício regulamentado em função do seu interesse público ou da sua função social.

Do conceito de profissão decorre que as actividades profissionais são reguladas por um conjunto de normas que constituem a deontologia profissional e que asseguram o seu correcto exercício.Noção de Deontologia:Deontologia é etimologicamente o conhecimento dos deveres.Noção de Deontologia profissional:Deontologia profissional é o conjunto de normas jurídicas que regulam o exercício de uma profissão. A maioria destas normas tem conteúdo ético.Estas normas são:

− umas, específicas− outras, comuns a duas ou mais profissões.

O valor da confiança:E é da Deontologia que também resulta o valor da confiança.Este:

− não provém apenas da autoridade profissional,− mas também do acesso condicionado à profissão− e da regulamentação do seu exercício, em função do interesse

público ou função social desta.Ponto 1.1 CDAE dispõe: «A função do advogado na sociedadeNuma sociedade baseada no respeito pelo primado da lei, o advogado desempenha um papel especial. Os deveres do advogado não se esgotam no cumprimento rigoroso do seu mandato dentro dos limites da lei. O

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Resumos de Deontologiaadvogado deve servir o propósito de uma boa administração da justiça ao mesmo tempo que serve os interesses daqueles que lhe confiaram a defesa e afirmação dos seus direitos e liberdades. Um advogado não deve apenas ser um pleiteador de causas, mas também um conselheiro do cliente. O respeito pela função do advogado assume-se como uma condição essencial para a garantia do Estado de Direito Democrático.Por isso a função do advogado impõe-lhe uma diversidade de obrigações legais e morais, muitas vezes conflituantes, perante:

− o cliente,− os tribunais e outras autoridades junto das

quais o advogado pleteia ou representa o seu cliente;

− a advocacia em geral ou qualquer colega em particular;

− o público, para o qual a existência de uma profissão livre e independente, auto-regulada por normas vinculativas, é um elemento essencial para a defesa dos direitos humanos face ao poder do Estado e a outros instalados na sociedade».

E o ponto 2.1 – 1 e 2 CDAE dispõe que: «IndependênciaA multiplicidade de deveres a que o advogado está sujeito impõe-lhe uma independência absoluta, isenta de qualquer pressão, especialmente a que resultar dos seus próprios interesses ou de influências exteriores. Esta independência é tão necessária à confiança na justiça como a imparcialidade do juiz. O advogado deve, pois, evitar pôr em causa a sua independência e nunca negligenciar a ética profissional com a preocupação de agradar ao seu cliente, ao juiz ou a terceirosEsta independência é necessária em toda e qualquer actividade do advogado, independentemente da existência ou não de um litígio concreto, não tendo qualquer valor o conselho dado ao cliente pelo advogado, se prestado apenas por complacência, ou por interesse pessoal ou sob o efeito de uma pressão exterior».O ponto 2.2 CDAE dispõe que «Confiança e integridade moralAs relações de confiança só podem existir se a honestidade e a probidade, a rectidão e a sinceridade do advogado, forem inquestionáveis. Para o advogado, estas virtudes tradicionais são obrigações profissionais».No ponto 2.3 CDAE, sob a epígrafe do «Segredo Profissional», acrescenta que «É requisito essencial do livre exercício da advocacia a possibilidade do cliente revelar ao advogado informações que não confiaria a mais ninguém, e que este possa ser o destinatário de informações sigilosas só transmissíveis no pressuposto da confidencialidade. Sem a garantia da

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Resumos de Deontologiaconfidencialidade não pode haver confiança. O segredo profissional é, pois, reconhecido como direito e dever fundamental e primordial do advogadoA obrigação do advogado de guardar segredo profissional visa garantir razões de interesse público, nomeadamente a administração da justiça e a defesa dos interesses dos clientes. Consequentemente, esta obrigação deve beneficiar de uma protecção especial por parte do Estado».Em Portugal, a profissão de Advogado tem garantias constitucionais previstas no artigo 208.º CRP «A lei assegura aos Advogados as imunidades necessárias ao exercício do mandato e regula o patrocínio forense como elemento essencial à administração da justiça».O art. 6.º n.º1 da LOFTJ dispõe que «os Advogados participam na administração da justiça, competindo-lhes, de forma exclusiva e com as excepções previstas na lei, exercer o patrocínio das partes».E o n.º 2 deste artigo estabelece que «no exercício da sua actividade, os Advogados gozam de discricionariedade técnica e encontram-se apenas vinculados a critérios de legalidade e às normas deontológicas da profissão».O art. 114.º LOFTJ dispõe que «a lei assegura aos Advogados as imunidades necessárias ao exercício do mandato e regula o patrocínio forense como elemento essencial à administração da justiça».E o n.º 2 deste artigo dispõe que «para a defesa intervenção dos órgãos jurisdicionais competentes».E segundo o artigo 114.º n.º 3 «A imunidade necessária ao desempenho eficaz do mandato forense é assegurada aos advogados pelo reconhecimento legal e pela garantia de efectivação, designadamente:

a) do direito à protecção do segredo profissional;b) do direito ao livre exercício do patrocínio e ao não

sancionamento pela prática de actos conformes ao estatuto da profissão;

c) do direito à especial protecção das comunicações com o cliente e à preservação do sigilo da documentação relativa ao exercício da defesa».

O art. 3.º n.º 1 EOA nas als. d), e) e g) enumera, entre as atribuições da Ordem dos Advogados: «…

d) zelar pela função social, dignidade e prestígio da profissão de advogado, promovendo a formação inicial e permanente dos advogados e o respeito pelos valores e princípios deontológicos;

e) defender os interesses, direitos, prerrogativas e imunidades dos seus membros;

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Resumos de Deontologiaf) …g) Exercer, em exclusivo, jurisdição disciplinar sobre

os advogados e advogados estagiários».(Fernando Sousa Magalhães)«Neste artigo são genericamente reproduzidas as atribuições previstas no DL 84/84 de 16 de Março, sendo todavia de registar e aplaudir, pelo especial significado que encerra, a alteração introduzida na alínea d), ao incluir a formação inicial e permanente dos Advogados como uma das atribuições fundamentais da OA.Deve também ser assinalada a alteração da redacção da alínea g), que traduz a preocupação de se definir, por um lado que a OA só exerce a acção disciplinar sobre Advogados e Advogados Estagiários, como também que tal acção disciplinar só pode ser exercida pela OA, assim se excluindo a possibilidade legal de apreciação da prática profissional dos Advogados e Advogados Estagiários por qualquer outro poder tutelar, designadamente pelas Magistraturas, o que se revela de especial importância para a interpretação regime legal das condenações por litigância de má fé instrumental, imputável aos Advogados, nos termos do art. 459.º CPC. Assim, cabendo o exercício da acção disciplinar em exclusivo à OA, em caso de indicação de má fé instrumental deve o Juiz limitar-se a mandar extrair e remeter certidão à OA para apuramento da responsabilidade disciplinar, ficando a fixação e graduação das custas, multa e eventual indemnização dependentes dessa apreciação em concreto.E dispõe no art. 61.º n.º 1 EOA que «… só os licenciados em direito com inscrição em vigor na OA podem, em todo o território nacional, praticar actos próprios da advocacia, nos termos definidos na Lei 49/2004 de 24 de Agosto.»Conclusão:Perante o conjunto destas normas, bem se justifica a afirmação de que, sem a estrita observância das regras deontológicas da profissão, não pode haver confiança.A deontologia profissional é, assim, da maior importância no quadro do seu estatuto profissional.

.2. A Deontologia Profissional como Direito Profissional(Orlando Guedes da Costa, págs. 9 a 12)O EOA reúne no Título III, intitulado Deontologia Profissional, desde o art. 83.º até ao art. 108.º, o Estatuto Deontológico do Advogado, nele se referindo, sucessivamente:

− À integridade

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Resumos de Deontologia− À independência− Aos seus deveres para com a comunidade− Aos seus deveres para com a Ordem dos

Advogados− Ao dever de segredo profissional− À discussão pública de questões pendentes− À informação publicidade− Ao dever geral de urbanidade− Aos deveres para com os clientes− Às relações com o tribunal− E aos deveres entre Advogados

Neste capítulo não está contido todo o direito deontológico do Advogado, o qual se reparte pelo EOA e por outros diplomas legais.No título II, desde o art. 61.º até ao art. 82.º trata das garantias no exercício da advocacia e de alguns pressupostos daquele exercício, designadamente, das incompatibilidades e impedimentos.(Fernando de Sousa Magalhães)«As normas … dos arts. 61.º a 75.º ( … ) contêm, na sua maioria, prerrogativas funcionais atribuídas aos Advogados e Advogados Estagiários, em contraponto com os deveres deontológicos arrumados no Título III, justificadas como garantia, na óptica do interesse público, do cabal exercício da profissão»Conceito de Direito Profissional do Advogado:O Direito Profissional do Advogado pode definir-se como o conjunto de normas jurídicas que regulam o acesso e o exercício da profissão de Advogado.Trata-se de um conjunto de normas autónomas que proíbem ou impõem condutas quanto ao acesso e ao exercício de uma profissão com interesse público tendo em vista a protecção de valores jurídicos que são impostos às pessoas que acedem à profissão e a exercem e que estão adstritas a especiais deveres perante outras pessoas no quadro dessa profissão.Uma profissão de interesse público, como a advocacia, pode ser considerada:

− Como valores que ao Estado cumpre defender a lesão ou perigo de lesão desses valores por um profissional constituirá um ilícito criminal, como acontece com o crime de prevaricação – art. 370.º Código Penal, disposição que inclui a qualidade de Advogado ou solicitador entre os elementos do tipo legal do crime de prevaricação.

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Resumos de Deontologia− Em si mesma, tendo em atenção o interesse público que

está na sua base, como uma profissão que exige uma certa disciplina para o seu perfeito desenvolvimentoE a violação dessa disciplina constituirá então um ilícito disciplinar.O ilícito disciplinar abrange1) não só a violação dos deveres profissionais dos Advogados (o seu “estatuto positivo”)2) mas também as condutas da vida privada que constituem comportamento público (o seu “estatuto negativo”), sempre que estas condutas se repercutam na profissão.Cfr. art. 83. n.º 1 «O Advogado … deve ter um comportamento público e profissional adequado à dignidade e à responsabilidade da função que exerce…».Cfr. Fernando de Sousa Magalhães, art. 83.º ponto 8, 9, 10 e 11«O art. 83.º sob a epígrafe “Integridade” trata do dever geral de probidade …Este dever de probidade tem questionado a possibilidade de os Advogados poderem ser avaliados e eventualmente sancionados por actos praticados na sua esfera de actuação privada…Desde há muito também que a jurisprudência disciplinar da OA vem aceitando o princípio da censurabilidade do comportamento indecoroso dos Advogados na sua vida privada, designadamente no plano da acção disciplinar desde que tal comportamento seja cumulativamente escandaloso, desprimoroso aos olhos do público, desonroso para o autor e lesivo da classe. Vide acórdão do C. Superior de 15/11/62 in ROA 23, 182.Sendo necessário diferenciar na vida privada dos Advogados os actos da sua vida íntima e os que assumem repercussão pública, só estes podem ser deontologicamente avaliados…»

Juridicidade das normas que integram o Direito Profissional do AdvogadoTêm natureza jurídica todas as normas que integram o Direito Profissional do Advogado,

− Quer as que regulam o exercício e acesso da profissão− Quer as que integram o estatuto deontológico strictu sensu

do Advogado

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Resumos de DeontologiaA diferença das normas jurídicas das outras normas de conduta é a susceptibilidade de serem impostas coactivamente pela autoridade do Estado, cuja constituição é contemporânea da criação das normas jurídicas.(Fernando Sousa Magalhães, art. 83.º pontos 1, 2 e 3)«Neste artigo III regula-se a Deontologia, enquanto conjunto de regras de comportamento, assentes nos costumes e na moral que regulam o exercício da profissão. Nestas normas deontológicas a moral e o direito associam-se intimamente, sendo da sua essência a existência de um conteúdo de natureza ética.Estas normas deontológicas impõem deveres jurídicos, já que se caracterizam por imperativos que se traduzem em regras concretas de comportamento perante diversas situações que, a não serem observadas, implicam sanções disciplinares por decorrência do art. 110.º do EOA.De acordo com o ponto 1.2.1. CDAE “As regras profissionais e deontológicas aplicáveis ao advogado estão adequadas a garantir, através da sua espontânea observância, o exercício correcto de uma função que é reconhecida como indispensável em todas as sociedades civilizadas. O incumprimento dessas regras pelo advogado é susceptível de ser objecto de sanções disciplinares».O art. 110.º EOA dispõe que «Comete infracção disciplinar o advogado ou advogado estagiário que, por acção ou omissão, violar dolosa ou culposamente algum dos deveres consagrados no presente Estatuto, nos respectivos regulamentos e nas demais disposições legais aplicáveis». Os arts. 125.º e seguintes tratam das penas disciplinares e da sua aplicação.O art. 6.º n.º 3 EOA dispõe que «dos actos praticados pelos órgãos da OA cabe ainda recurso contencioso para os tribunais administrativos, nos termos gerais de direito».É pois o Estado, através dos tribunais, que impõe coactivamente as normas deontológicas e as demais normas do estatuto profissional do Advogado.E não deixam de ter natureza jurídica as regras decorrentes:

− de usos, costumes e tradições referidos no art. 83.º n.º 1 EOA;

− ou dos usos profissionais a que se deve atender na fixação de honorários, nos termos do art. 100.º n.º 3 EOA;

− ou dos usos que determinam a medida da retribuição, na falta de ajuste prévio ou de tarifas profissionais, conforme impõe o art. 1158.º n.º 2 CC

Natureza jurídica que é indubitável face ao disposto no art. 3.º n.º 1 CC «Os usos que não forem contrários aos princípios da boa fé são juridicamente atendíveis quando a lei o determine».Fernando Magalhães, art. 83.º ponto 14 e 15

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Resumos de Deontologia«Na parte final do art. 83.º n.º 1 do EOA reconhecem-se os usos e costumes como fonte de deveres deontológicos.Contudo, da análise conjugada dos arts. 3.º n.º 1 do CC e 83.º n.º 1 do EOA, conclui-se que os usos e costumes profissionais só serão juridicamente atendíveis desde que a lei o determine e sejam reconhecidos pela OA, como resultava da alínea c) do art. 79.º do DL 84/84 de 16 de Março, norma que impunha aos Advogados o dever perante a Ordem de acatamento dos usos e costumes profissionais. Com a eliminação deste dever específico no actual art. 86.º EOA, reconheceu o legislador que os usos e costumes profissionais, que não forem normatizados, mais não são, presentemente, do que simples praxes em desuso e sem qualquer valor jurídico para efeitos disciplinares».

A Juridicidade das Normas Deontológicas

São normas jurídicas?SIM

− Impõem deveres− Implicam sanções (art. 110.º EOA)Eficácia jurídica dos usos, costumes e tradições profissionais

A tendência é para descaracterizar os usos, costumes e tradições profissionais como fontes de deveres jurídicos e normativizar esses usos, costumes e tradições.Ex.º: al. g) do art.Não é possível a comparência, atempadamente deve ser avisado o colega e o tribunal.É uma questão de cortesia.A OA considerava um dever cuja fonte eram os usos, costumes e tradições.Art. 83.º n.º 1 EOA.

Usos e Costumes Profissionais

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DEONTOLOGIARegras de comportamento assentes no costume e na moral que regulam o exercício da profissão - 1.2 CDAE

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Resumos de Deontologia

Antes, além do acolhimento expresso do art. 3.º n.º1, havia o art. 79.º EOA que acolhia especificamente, dizendo que os usos, costumes e tradições profissionais são fontes de deveres jurídicos desde que assim fosse definido jurisprudencialmente pelos órgãos da OA. Logo não têm eficácia jurídica.Este art. foi revogado.Há sempre as normas gerais de acolhimento da eficácia normativa dos usos e costumes.

Normatização dos Deveres Deontológicos

Tendência do actual EOAEliminação da al. c) do art. 79.º EOA de ‘84

Art. 85.º n.º 2 EOA

3. As regras deontológicas gerais: a integridade; a independência; e o dever geral de urbanidade. Referência à Advocacia em regime de contrato de trabalho subordinado em face da independência do Advogado.(Orlando Guedes da Costa, págs. 12 a 14)

Há deveres deontológicos gerais:− que são específicos de uma determinada profissão− e outros que são comuns a várias profissões

(designadamente, às chamadas profissões liberais).

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Eficácia normativa

Art. 83.º n.º1 EOA

Reconhecimento pelo direito

Art. 3.º n.º1 Código Civil

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Resumos de DeontologiaFernando de Sousa Magalhães, art. 83.º ponto 7«A deontologia dos Advogados desdobra-se em deveres gerais de conduta e em deveres profissionais específicos. Aqueles impõem regras de conduta nos domínios da honra, dignidade e integridade, exigindo constantemente aos Advogados o aperfeiçoamento da sua consciência ética, cívica, social e profissional. Estes impõem condutas tendo em conta determinados destinatários de tais deveres».

São deveres deontológicos comuns às chamadas profissões liberais:− O dever de uma elevada consciência moral;− O dever de integridade (83.º EOA);− O dever de probidade (84.º EOA);− O dever geral de urbanidade (90.º EOA)

Dever de integridadeFernando de Sousa Magalhães, pontos 8 a 13«O art. 83.º sob a epígrafe “Integridade” trata do dever geral de probidade que, no domínio do EOA anterior – vide art. 76.º n.º 1 – era definido como o dever do Advogado, no exercício da profissão e FORA DELA, se considerar um servidor da justiça e do direito e, como tal, mostrar-se digno da honra e da dignidade que lhe são inerentes.Este dever de probidade tem questionado a possibilidade de os Advogados poderem ser avaliados e eventualmente sancionados por actos praticados na sua esfera de actuação privada…Desde há muito também que a jurisprudência disciplinar da OA vem aceitando o princípio da censurabilidade do comportamento indecoroso dos Advogados na sua vida privada, designadamente no plano da acção disciplinar desde que tal comportamento seja cumulativamente escandaloso, desprimoroso aos olhos do público, desonroso para o autor e lesivo da classe. Vide acórdão do C. Superior de 15/11/62 in ROA 23, 182.Sendo necessário diferenciar na vida privada dos Advogados os actos da sua vida íntima e os que assumem repercussão pública, só estes podem ser deontologicamente avaliados…A falta de integridade ou de idoneidade moral implica inibição para o exercício da profissão nos termos do art. 181.º n.º 1 a) do EOA pelo qual não podem ser inscritos “os que não possuam idoneidade moral para o exercício da profissão e, em especial, os que tenham sido condenados por qualquer crime gravemente desonroso”»

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Em 1962 uma Advogada era, à noite, bailarina num bar. Isto porque era mãe solteira e fazia-o para ganhar dinheiro para sobreviver.Para que uma conduta privada dum Advogado tenha relevância disciplinar é necessário que CUMULATIVAMENTE a conduta seja:

− escandalosa;− desprimorosa aos olhos do público;− lesiva dos interesses da classe− e desonrosa para o autor

A OA na época considerou que foi escandalosa, desprimorosa, podia até ser lesiva dos interesses da classe, mas que não era desonrosa para o autor.

A tendência é só excepcionalmente imputar estas condutas pela via disciplinar, mas pelo processo administrativo especial para verificação da falta de idoneidade moral (processo tendente não à aplicação de uma sanção mas tendente ao cancelamento do exercício da profissão).Dá origem à inibição do exercício profissional.É um processo que pode ser despoletado originariamente ou supervenientemente à inscrição na OA.Daí, no acto de inscrição, ser exigido uma certidão do Registo Criminal.Vem regulado, não na parte disciplinar mas na matéria das inscrições (art. 181.º).

Dever geral de urbanidadeO dever geral de urbanidade, consagrado no art. 90.º, não pode ser apenas um dever de cortesia de um Advogado, é antes um dever deontológico geral comum a todas as profissões de interesse público e não só no exercício da profissão como também fora dela, na medida em que a omissão desse dever, mesmo na vida privada do profissional, não pode deixar de repercutir-se na profissão, quando for escandalosa, desprimorosa aos olhos do público, desonrosa para o seu autor e lesiva da profissão.

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Dever de probidadeArt. 83.º

Pressuposto de idoneidade profissional

Processo especial administrativo de verificação da falta de idoneidade

moral – arts. 181.º e 1.º n.ºs 5 e 6 EOA

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Resumos de DeontologiaO art. 90.º deve por isso ser objecto de uma interpretação extensiva ou de integração analógica, face ao disposto no art. 83.º n.º 1.Fernando de Sousa Magalhães, art. 90.º«O dever geral de urbanidade, que deve pautar sempre o comportamento do Advogado, é natural corolário do seu papel como participantes na administração da justiça e de servidores da justiça e do direito.Em contraponto com o dever geral de urbanidade, têm os Advogados o direito a tratamento compatível com a dignidade de funções que exercem.Cfr. art. 67.º n.º 1 EOASem prejuízo deste dever, impõem as normas deontológicas deveres especiais de urbanidade em relação a determinados destinatários no trato dos Advogados. Cfr. arts. 105.º a 107.º n.º 1 al .a).De acordo com o art. 154.º n.º 3 CPC, o dever de urbanidade dos Advogados não é incompatível com a firmeza e veemência nas suas intervenções, não se considerando ilícito o uso de expressões e imputações indispensáveis à defesa da causa.».

Dever de independênciaFernando de Sousa Magalhães, art. 84.º«1. O princípio da independência é, a par do interesse público da profissão, um dos pilares fundamentais da Deontologia dos Advogados…2. (…) a independência consiste na “ausência de toda a forma de ingerência, de interferência, de vínculos e de pressões, quaisquer que sejam, provenientes do exterior, e que tendam a influenciar, desviar e distorcer a acção do ente profissional”3. Presentemente, as fontes de eventual dependência não podem já colocar-se apenas no domínio do poder político e do poder judicial, sendo de acautelar os Advogados das pressões provenientes do poder económico e de outras formas de poder, como o da comunicação social…No ponto 2.1.1. CDAE determina-se que “A multiplicidade de deveres a que o advogado está sujeito impõe-lhe uma independência absoluta, isenta de qualquer pressão, especialmente a que resultar dos seus próprios interesses ou de influências exteriores. Esta independência é tão necessária à confiança na justiça como a imparcialidade do juiz. O advogado deve, pois, evitar pôr em causa e nunca negligenciar a ética profissional com a preocupação de a sua independência agradar ao seu cliente, ao juiz ou a terceiros”Trata-se de uma norma que influenciou claramente a redacção deste art. 84.º, que a transcreve parcialmente.4. (…)5. (…)6. Sobre a independência em relação aos clientes …

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Resumos de Deontologia7. Sem independência perante os clientes, não poderão os Advogados cumprir em relação a eles, de forma cabal, os deveres deontológicos impostos pelo art. 95.º EOA….8. Radicam na preservação da independência em face dos clientes a proibição de celebração, em proveito próprio, de contratos sobre o objecto das questões confiadas – alínea d) do art. 95.º do EOA – princípio que por sua vez se aplica em matéria de honorários com a proibição da quota litis. Cfr. art. 101.º do EOA.9. (…) 10. (…)11. O princípio da independência dos Advogados é um dos pilares do nosso edifício judiciário e, reconhecidamente, um dos valores essenciais do Estado de Direito, assim como o são a independência dos Magistrados Judiciais e a autonomia do Ministério Público».

Os deveres específicos estão normatizados no Título III do EOA (arts. 83.º a 108.º)São deveres dos Advogados arrumados de acordo com os destinatários/ beneficiados dos deveres dos Advogados.

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Resumos de Deontologia

II.

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a Comunidade

os Clientes

os Advogados(deveres

recíprocos)

JuizTribunal

a Prova e as Testemunha

os Cidadãos em geral

DEVERESpara com

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Resumos de Deontologia1. Origem e evolução histórica da advocacia; a Advocacia como profissão liberal: perspectiva histórica.Não sai em exame!!!2. A evolução legislativa da regulamentação da Advocacia: do Estatuto Judiciário ao actual Estatuto da Ordem dos Advogados.Não sai em exame!!!

III.

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Resumos de Deontologia1. A Advocacia na actualidade - caracterização da actividade de Advocacia através dos grandes princípios actuais da deontologia: a independência e o interesse público no exercício da profissão e seus afloramentos no ordenamento deontológico.(Orlando Guedes da Costa, págs. 51 e 52)O interesse público e a independência do Advogado:

− são a razão de ser das especificidades do mandato judicial em relação ao mandato como contrato típico ou nominado e das especificidades das regras sobre honorários dos Advogados

− e são também a razão de ser da limitação da publicidade (cfr. art. 89.º EOA) e da discussão pública de questões pendentes perante órgãos do Estado (art. 88.º EOA), da proibição da angariação de clientela pelo Advogado (art. 85.º al. h) EOA) ou a razão de ser do princípio da livre escolha do mandatário pelo mandante (art. 61.º n.º 2 EOA).

O interesse público da profissão:a) explica a obrigatoriedade inscrição de inscrição numa associação

pública, que é a OA, para que seja legalmente possível o seu exercício (art. 61.º n.º 1 EOA)

b) e explica também muitas obrigações ex lege que impendem sobre os Advogados,

− como a de não recusar o patrocínio ou a defesa de oficiosas sem motivo justificado (art. 85.º n.º 1, al. f EOA)

− como a de não recusar a orientação do estágio dos Advogados estagiários, enquanto patrono destes (arts. 86.º al. f) e 185.º EOA)

c) e explica os deveres do Advogado para com a comunidade (art. 85.º EOA) e para com a AO (art. 86.º EOA).

A independência do Advogado, mesmo em relação ao seu cliente:a) explica a proibição da quota litis (arts. 101.º e 95.º n.º 1 al. d) EOA)b) e explica que o Advogado deve evitar exercer quaisquer represálias

contra a adversário (ART. 105.º EOA)c) e explica que o Advogado não deve ser menos correcto com os

Advogados da parte contrária, juízes ou quaisquer outros intervenientes no processo (art. 181.º EOA),

d) e explica incapacidades, impedimentos e incompatibilidades (art. 76.º EOA).

É importante ainda referir os arts. 32.º e segs. do CPC sobre Patrocínio Judiciário e os arts. 61.º al. e) e 62.º a 67.º e 68.º a 76.º CPP sobre o defensor oficioso e o Advogado do Assistente.Conclusão:

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Resumos de DeontologiaDestas normas resulta que a Advocacia actual é o exercício de uma função de interesse público por uma entidade privada com independência perante qualquer entidade pública ou privada.

2. As diversas "famílias" deontológicas - a Advocacia de Estado, a Advocacia livre e a Advocacia colegiada - e a caracterização da Advocacia colegiada.(Orlando Guedes da Costa, pág. 53)A organização da Advocacia pode subsumir-se ao modelo da:

− da Advocacia colegiada− da Advocacia livre− da Advocacia de Estado

Modelo da Advocacia colegiadaRaízes históricas – direito romanoPaíses em que vigora – em quase toda a Europa ocidental, países da América do Sul, da Ásia e da ÁfricaNeste modelo, os Advogados estão obrigatoriamente inscritos em associações públicas – Ordem, Colegio, Ordre, Ordine – que disciplinam o exercício da profissão com autonomia.Características – Este modelo caracteriza-se pelo equilíbrio entre o princípio da independência e do interesse público da profissão.

Modelo da Advocacia livrePaíses em que vigora – EUA, Suíça, Noruega e Finlândia e países de formação recente como as antigas colónias portuguesas.Neste modelo,

− a colegialidade é facultativa (não é obrigatória)− e está confiado aos Juízes o controle do exercício da

profissão, quer o acesso a esta, mediante inscrição, quer a observância das normas que a disciplinam, tendo sido pois sacrificado o princípio da independência.

Modelo da Advocacia de EstadoRaízes – Prússia de Frederico o GrandePaíses em que vigora – nas repúblicas socialistas da URSS e países totalitários.Neste modelo, a colegialidade também era obrigatória mas estava na dependência do Governo, predominando o interesse público da profissão. Há uma tutela directa da actividade pelo Estado e a funcionalização dos Advogados.

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Resumos de DeontologiaNa advocacia de Estado, estamos perante uma advocacia residual.Caracterização da Advocacia colegiada:A coexistência do interesse público da profissão com a sua independência está referida no Preâmbulo do anterior EOA (DL 84/84 de 16 de Março), que começa por salientar a natureza jurídica da associação pública da Ordem, a qual por devolução normativa de poderes públicos, integra a administração estadual autónoma e que acentua depois a «clara opção pelo princípio da independência do Advogado no exercício da profissão».É o caso da advocacia portuguesa.A diferença entre a advocacia livre e a advocacia colegiada não está na deontologia mas no controlo (na advocacia livre está sujeita a controlo jurisdicional; e na advocacia colegiada o advogado quer-se tanto livre dentro como fora do tribunal).

Advocacia ColegiadaPrincípios estruturantes da independência e do interesse público da

profissão

Caso Português

Independência EOA Interesse Público

Art. 62.º Art. 7.ºArt. 64.º Art. 6.ºArt. 68.º Art. 61.º n.º 1Art. 76.º Art. 70.º a 75.ºArt. 84.º Art. 76.ºArt. 94.º n.º 4 Art. 83.ºArt. 95.º n.º 1, al. d) Art. 85.ºArt. 101.º Art. 87.º

Art. 89.º

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Resumos de DeontologiaQUADRO SÍNTESE

Advocacia ColegiadaProfissão Tutelada

Interesse Público Deontologia Específica

Exercício privado Alçada disciplinarda função pública

TÍTULOADVOGADO

Inscrição obrigatória Ordem(associação pública)

Arts. 1.º, 6.º, 61.º, 65.º, 103.º, 179.º, 180.º, 182.º, 192.º, 196.º EOA

Cfr. Fernando de Sousa Magalhães, art. 1.º, pontos 1, 4, 5 e 6

3.Os Advogados no quadro legal vigente.(Orlando Guedes da Costa, pág. 54 e 55)Art. 6.º n.º 1 LOFTJ «Os Advogados participam na administração da Justiça, competindo-lhes, de forma exclusiva e com as excepções previstas na lei, o patrocínio das partes».E não se compreende que, ainda hoje, em França, os Advogados, em vez de participantes, sejam considerados “auxiliares de justiça”.Os Advogados não são auxiliares ou colaboradores da Justiça, que são úteis, mas não são indispensáveis para a administração da Justiça, como são os Advogados, que são verdadeiros órgãos de administração da Justiça.É por isso que a Ordem dos Advogados é uma associação de direito público e um dos fundamentos da Justiça. E também é, por isso, que o Advogado é um servidor da Justiça e do Direito e indispensável à administração da Justiça.Cfr. art. 83.º n.º 1 EOA «O advogado é indispensável à administração da justiça…».Art. 208.º CRP «a lei assegura aos Advogados, as imunidades necessárias ao exercício do mandato e regula o patrocínio forense como elemento essencial à administração da Justiça».Este artigo é desenvolvido pelo art. 6.º LOFTJ, cuja epígrafe é “Advogados” e pelos arts. 114.º a 116.º LOFTJ, os quais integram o capítulo VII, sob a epígrafe “Mandatários Judiciais”, logo a seguir ao capítulo VI intitulado “Ministério Público”.

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Resumos de Deontologia4. O patrocínio judiciário e a função social do Advogado no âmbito do direito à justiça e ao acesso efectivo à mesma.(Orlando Guedes da Costa, págs. 62 e 63)Embora a participação do Advogado na administração da Justiça não se esgote no patrocínio judiciário…… pois a administração da justiça também se exerce:

− na consulta jurídica,− na constituição, alteração, e extinção dos negócios jurídicos− e na composição extrajudicial dos litígios…

é sobretudo no patrocínio judiciário que se exerce a função social do Advogado no âmbito do direito à justiça e no acesso efectivo à mesma:

a) seja no sistema de acesso ao direito e aos tribunais, que se «… destina a assegurar que a ninguém seja dificultado ou impedido, em razão da sua condição social ou cultural ou por insuficiência de meios económicos, o conhecimento, o exercício ou a defesa dos seus direitos» (art. 1.º n.º 1 da lei 34/ 2004)

b) seja no patrocínio oficioso do interessado que não encontra quem aceite voluntariamente o seu patrocínio (art. 50.º n.º 1, al. p) EOA)

Segundo o art. 6.º n.º 1 LOFTJ, aos Advogados compete-lhes «de forma exclusiva … exercer o patrocínio das partes».E segundo o art. 114.º n.º 2 LOFTJ «Para a defesa dos direitos e garantias individuais, os advogados podem requerer a intervenção dos órgãos jurisdicionais competentes».Conclusão:Só o Advogado pode pôr em funcionamento a máquina judicial, sendo o medianeiro entre o cidadão e a Justiça e proporcionando-lhe o acesso efectivo a esta, que, sem o Advogado, seria uma entidade abstracta, certamente muito bela, mas sem utilidade prática…

5. Referência à Organização Judiciária com notação da especificidade das funções do Advogado. A independência deste.(Orlando Guedes da Costa, págs. 56 a 58)O poder judicial é autónomo e independente de qualquer outro.A CRP no seu art. 203.º dispõe que «Os tribunais são independentes e apenas estão sujeitos à lei».Então coloca-se a seguinte questão: Onde existe então a legitimação para o exercício do poder judicial?É o contraditório processual (a dialéctica do processo) o fundamento da Justiça: a sentença resulta do contraditório, do aberto confronto entre as partes.

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Resumos de DeontologiaNum sistema, como o europeu, que não assenta sobre o magistrado electivo, sobre a investidura popular de quem detém o poder judicial, a base da legitimação de quem exerce tal poder não pode certamente encontrar-se no sistema de selecção dos magistrados, isto é, no concurso que lhe permitiu o acesso à magistratura.E então, se pode falar-se de democracia na administração da justiça, trata-se de democracia no processo, que é o contraditório processual.E aqui o protagonista é o Advogado, que é o detentor do contraditório processual.O Advogado não é apenas o defensor dos interesses e direitos do seu cliente: é, pela achega dialéctica que dá ao contraditório, participante da função jurisdicional, coartífice da decisão judicial.Por isso, a Jurisprudência não é tanto da criação do Juiz, mas antes co-produção do Juiz e do Advogado, que mutuamente se completam na administração da Justiça.Também o CDAE, quanto à função actual do Advogado, considera que este é participante na administração da Justiça, dispondo no ponto 2.5.1. sobre as incompatibilidades que «Para permitir ao advogado exercer a sua função com a independência necessária e em conformidade com o seu dever de colaborar na administração da justiça, o exercício de certas profissões ou funções pode ser declarado incompatível com a profissão de advogado».A concepção actual do Advogado como participante na administração da justiça, consagrada expressamente na letra da lei, decorre do preceito constitucional do art. 208.º da CRP, ao ordenar que «A lei assegura aos advogados as imunidades necessárias ao exercício do mandato e regula o patrocínio forense como elemento essencial à administração da justiça».E segundo o art. 202.º CRP «Os tribunais são os órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo».E os arts. 1.º e 2.º LOFTJ estabelecem que «Os tribunais judiciais são órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo» e que «Incumbe aos tribunais judiciais assegurar a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos, reprimir a violação da legalidade democrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e privados».Segundo os arts. 203.º CRP e 3.º LOFTJ «Os tribunais são independentes e apenas estão sujeitos à lei», e segundo o art. 204.º CRP «Nos feitos submetidos a julgamento, não podem os tribunais aplicar normas que infrinjam o disposto na Constituição ou os princípios nela consignados».A organização judiciária assenta na distinção entre duas categorias de tribunais, a saber,

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Resumos de Deontologia− o STJ e os tribunais judiciais de 1.ª e 2.ª instância

(por um lado)− o STA e os tribunais administrativos e fiscais (por

outro)além do Tribunal Constitucional e do Tribunal de Contas.Tal como os Tribunais, também os Juízes são independentes e também estão sujeitos à Constituição e à lei – arts. 4.º EMJ e 4.º LOFTJ.Quanto à independência dos Juízes, pode distinguir-se:

− a independência interna e externa(salvo o dever de acatamento pelos tribunais inferiores das decisões proferidas, em vias de recurso, pelos tribunais superiores)

− a independência no sentido de imparcialidade− e a independência ideológica

Sobre a independência do Advogado(Orlando Guedes da Costa, págs. 58 a 60)Sobre a independência do Advogado, tem de se reconhecer que este:

− enquanto servidor do direito (à semelhança do que acontece com o Juiz) deve obediência à leiarts. 85.º n.ºs 1 e 2, alínea a) EOA e 456.º n.º 2 alíneas a) e d) CPC

− enquanto servidor da justiça, lhe são impostos deveres para com a comunidade, como o de recusar o patrocínio de causas que considere injustas (art. 85.º n.ºs 1 e 2, als. a) e b) EOA) ou o de não entorpecer a descoberta da verdade (ART. 85.º n.º 1 al. a), 103.º n.º 2, 104.º e 107.º n.º 1 al. d) EOA).

E, apesar de não poder esperar-se do Advogado imparcialidade, pois tem por missão o patrocínio de uma das partes, sempre pode falar-se de uma independência de “imparcialidade” do Advogado, mesmo em relação ao cliente,

o como decorre de as relações com o cliente, que assentam no princípio da confiança, terem a norteá-las também as normas legais e deontológicas, não podendo o Advogado negligenciar as normas deontológicas no intuito de agradar ao cliente (arts. 84.º e 92.º EOA),

o e como resulta da quota litis (art. 101.º EOA),o e do princípio de ter de exigir do cliente que seja correcto com a

parte contrária e com todos os intervenientes processuais (art. 105.º n.º 2 EOA),

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Resumos de Deontologiao e como resulta da sua autonomia técnica, mesmo em regime de

contrato de trabalho subordinado que porventura o ligue ao seu cliente ou a outro Advogado ou sociedade de Advogados.

Sobre este último ponto, o art. 76.º n.º 3 EOA dispõe que «Qualquer forma de provimento ou contrato, seja de natureza pública ou privada, designadamente o contrato individual de trabalho, ao abrigo do qual o advogado venha a exercer a sua actividade, deve respeitar os princípios definidos no n.º 1e todas as demais regras deontológicas que constam desse Estatuto».Cfr. art. 68.º EOAMas a autonomia técnica do Advogado assalariado permitirá falar ainda de independência do Advogado?Para Alberto Luís «A actividade do Advogado que se encontra vinculado por contrato de trabalho subordinado tem de se ajustar a uma dada estrutura durante um certo horário e à remuneração de acordo com os resultados, ou seja, em consonância com o que o empregador entende ser merecido… Tenhamos a coragem de reconhecer que a única liberdade de quem trabalha em regime de emprego é deixá-lo».Daí que muitos ordenamentos jurídicos não admitam o exercício assalariado da profissão de Advogado.Só em Portugal e em Espanha é amplamente permitido o exercício assalariado da profissão.

6. Comparação da posição do Advogado com a posição do Ministério Público.(Orlando Guedes da Costa, pág. 58)Em relação ao Ministério Público deve-se falar em autonomia mitigada, em vez de independência.O art. 219.º n.º 2 CRP dispõe que «O MP goza de estatuto próprio e de autonomia, nos termos da lei» e segundo o art. 5.º n.º 3 LOFTJ «A autonomia do Ministério Público caracteriza-se pela sua vinculação a critérios de legalidade e objectividade e pela exclusiva sujeição dos magistrados e agentes do MP às directivas, ordens e instruções previstas na lei».E segundo o art. 219.º n.º 1 «Ao MP compete

− representar o Estado− e defender os interesses que a lei determinar− bem como … participar na execução da política

criminal definida pelos órgãos de soberania− exercer a acção penal orientada pelo princípio da

legalidade− e defender a legalidade democrática»

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Resumos de Deontologia

7. Breve referência à figura do "Advogado Público".(Orlando Guedes da Costa, pág. 61)A advocacia ainda será hoje a mais liberal das profissões liberais.APESAR:

a) do crescente número de Advogados de empresa ou de quaisquer serviços públicos

− de que seja funcionário ou só mesmo representante− desde que em exclusividade− ou sem esta, se se tratar de entidades/ estruturas de

carácter temporárioNOTA: referimo-nos aos inscritos na OA, já que só pela inscrição se obtém o título de Advogado e não a pseudo-Advogados de empresa que são simples licenciados em Direito. b) e do crescente número de Advogados que são trabalhadores

de sociedades de Advogados ou trabalhadores de outros Advogados

Não há dúvida de que os Advogados trabalhadores de outros Advogados e de sociedades de Advogados não deixam de contribuir profissionalmente para o exercício da advocacia liberal. O mesmo já não acontece com os Advogados de empresa ou de quaisquer serviços públicos.Mas uns e outros exercem advocacia com subordinação jurídica e com dependência hierárquica e funcional, pretendendo a lei salvaguardar a sua autonomia técnica, o que parece ser muito pouco ou pelo menos muito teórico….E o mínimo que se deve exigir é:

que declarem em todos os actos em que intervêm por conta de quem agem,

que se responsabilize o comitente por todos os actos do comitido ou o devedor pelos actos dos seus auxiliares,

que se imponha o mesmo seguro obrigatório de responsabilidade civil profissional que deve ser imposto a todos os Advogados que exercem a profissão em regime de profissão liberal remunerada

e que se respeitem as regras aplicáveis ao contrato de trabalho subordinado, designadamente, o direito à greve, à sindicalização, a sujeição a contratação colectiva, a contribuição para a Segurança Social, a retenção na fonte, a subsídios de férias de Natal e a proibição de despedimento por justa causa…

E, assim, voltaríamos provavelmente à advocacia exercida exclusivamente como profissão liberal…

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Resumos de Deontologia8. Comparação entre a posição do Advogado e a do Solicitador.(Orlando Guedes da Costa, pág. 62)Art. 115.º LOFTJ: «Os Solicitadores são auxiliares da administração da justiça».Segundo o art. 1.º n.º 1 da Lei 49/2004 (a qual define os Actos Próprios dos Advogados) «… os solicitadores podem praticar os actos próprios dos Advogados …» salvo « … aqueles que resultem do exercício do direito dos cidadãos a fazer-se acompanhar por advogado perante qualquer autoridade» e «nos casos em que o processo penal determinar que o arguido seja assistido por defensor, esta função é obrigatoriamente exercida por advogado …» (art. 1.º n.ºs 9 e 10 da Lei 49/2004).Exercem também uma profissão liberal e o contrato de trabalho celebrado com o Solicitador não pode afectar os seus deveres deontológicos e a sua autonomia técnica perante o empregador, mas o Solicitador de execução exerce a profissão na dependência funcional do Juiz da causa.

IV.

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Resumos de Deontologia1. A Ordem dos Advogados: explicitação das suas atribuições com especial notação do interesse público por si prosseguido(Orlando Guedes da Costa, págs. 65 a 71)Art. 1.º n.º 1 EOA «Denomina-se Ordem dos Advogados a associação pública representativa dos licenciados em Direito que, em conformidade com os preceitos deste Estatuto e demais disposições legais, exercem profissionalmente a advocacia».E, nos termos do art. 1.º n.º 3 do EOA «A OA goza de personalidade jurídica».Trata-se de uma pessoa colectiva, por contraposição a pessoa singular ou física ou natural.Trata-se também de associação pública, embora de entidades privadas (Advogados e Sociedades de Advogados) e não de entidades públicas.Pessoas colectivas são, além do Estado, as pessoas colectivas criadas por iniciativa pública, para assegurar a prossecução necessária de interesses públicos, através do exercício, em nome próprio, de poderes e deveres públicos.(Fernando Sousa Magalhães, art. 1.º, pontos 9 e 10)«No n.º 1 deste artigo 1.º, assume-se definitivamente a qualificação jurídica da OA como associação pública...Na realidade, a Ordem dos Advogados Portugueses é uma pessoa colectiva de direito público, na espécie de associação pública…».A OA como associação pública integra não a administração indirecta, mas a administração autónoma do Estado.Pois

− a administração indirecta está sujeita à superintendência e tutela do Governo,

− enquanto que a administração autónoma apenas está submetida à tutela do Governo

A superintendência consiste num poder de orientação, que o Governo não tem sobre as associações, designadamente sobre a OA. Aliás, o art. 1.º n.º 2 EOA dispõe que «A OA é independente dos órgãos do Estado, sendo livre e autónoma nas suas regras».A tutela consiste num poder de fiscalização, podendo a tutela ser apenas uma tutela de legalidade (como a que se exerce sobre as associações públicas ou as autarquias locais) ou também uma tutela de mérito (que se exerce sobre institutos públicos e empresas públicas, que integram a administração estadual indirecta).A tutela de legalidade sobre a OA será apenas exercida pela via judicial administrativa.(Fernando de Sousa Magalhães, art. 1.º, ponto 10)

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Resumos de Deontologia«… integra a administração autónoma e mediata do Estado e está sujeita às regras do procedimento administrativo quando no exercício das suas atribuições, produzindo actos administrativos recorríveis para os tribunais administrativos… ».(Fernando de Sousa Magalhães, art. 1.º, ponto 7)«A OA Portugueses foi criada pelo Decreto 11.715 de 12 de Junho de 1926…»As alterações no seu regime jurídico sempre foram efectuadas por diploma legislativo, por iniciativa do Estado através do poder legislativo.

A prossecução necessária de interesses públicos pela OA resulta das atribuições que lhe confere o art. 3.º EOA, designadamente, a «de defender o Estado de Direito e os DLG dos cidadãos e colaborar na administração da justiça» (al. a)); «promover o acesso ao conhecimento e aplicação do direito» (al. h)); «contribuir para o desenvolvimento da cultura jurídica e aperfeiçoamento da elaboração do Direito (al. i)); «contribuir para o desenvolvimento da cultura jurídica e aperfeiçoamento da elaboração do Direito» (al. j)).

Ora, a OA enquanto associação pública que é,− tem, antes de mais, um estatuto constitucional, pelo que a

legislação que lhe respeita é matéria da reserva relativa da AR (art. 165.º n.º 1, al. s) CRP;

− e, nos termos do art. 267.º n.º 1, deve ser «estruturada de modo a evitar a burocratização(da Administração Pública), a aproximar os serviços das populações e a assegurar a participação dos interessados na sua gestão efectiva»

E, entre os poderes e deveres conferidos por lei e integrantes do seu estatuto legal, a OA:

− goza do privilégio da unicidade (art. 1.º n.º 1 EOA)− beneficia do princípio da inscrição obrigatória (arts.

61.º n.º1; 3.º n.º 1, c); 45.º n.º 1, e); 50.º n.º 1, m); 179.º; 182.º; 192.º e 193.º EOA)

− pode impor quotização obrigatória a todos os seus membros (arts. 45.º n.º 1, e) e s); 86.º, e); 174.º n.º 1 EOA)

− controla o acesso e exercício da profissão quer no aspecto legal quer no aspecto deontológico, exercendo sobre os seus membros, de forma exclusiva, poderes disciplinares.

Em contrapartida:

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Resumos de Deontologia− tem de colaborar com o Estado (designadamente com

o Governo) sem prejuízo da independência e autonomia

− tem de respeitar os princípios gerais do Direito Administrativo, nomeadamente,

o princípio da legalidade e da audição prévia do arguido em

processo disciplinar,− cabendo recurso para os tribunais administrativos dos

actos definitivos e executórios dos seus órgãos, designadamente das deliberações de recusa de inscrição e das que apliquem sanções disciplinares

− os seus órgãos, agentes e representantes respondem nos termos gerais do Dto. Administrativo perante os Tribunais Administrativos e não perante os Tribunais Judiciais pelos prejuízos causados a outrem

− faz parte da Administração Pública para todos os efeitos, nomeadamente, para ser considerada como um dos poderes públicos e, por isso, ficar sujeita ao controle do Provedor de Justiça.

2. A sistematização do vigente EOA: enunciado.

3. A Ordem dos Advogados: enunciado dos seus órgãos.(Orlando Guedes da Costa, págs. 71 a 73)Art. 2.º EOA «A OA exerce as suas atribuições e competências que este estatuto lhe confere no território de Portugal (tem, por isso, âmbito nacional) e está internamente estruturada (para efeitos de distribuição de competências, em razão do território por órgãos de âmbito não nacional), em 7 distritos:

a) Lisboab) Portoc) Coimbrad) Évorae) Farof) Açoresg) Madeira»

Esta organização unitária dos Advogados numa única Ordem assegura grande eficácia na sua actuação.Art. 2.º n.º 3 «A cada um dos distritos referidos no n.º 1 corresponde:

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Resumos de Deontologiaa) Ao distrito de Lisboa, o distrito judicial de Lisboa, com

exclusão das áreas abrangidas pelos distritos dos Açores e da Madeira;

b) Aos distritos de Porto e Coimbra, os respectivos distritos judiciais;

c) Ao distrito de Faro, o distrito, enquanto divisão administrativa, de Faro;

d) Ao distrito de Évora, o respectivo distrito judicial, com exclusão da área abrangida pelo distrito de Faro;

e) Aos distritos dos Açores e da Madeira, as áreas das respectivas regiões autónomas».

Art. 9.º n.º 2 «São órgãos da OA:a) O Congresso dos Advogados Portugueses;b) A Assembleia Geral;c) O Bastonário;d) O Presidente do Conselho Superior;e) O Conselho Superior;f) O Conselho Geral;g) As Assembleias Distritais;h) Os Conselhos Distritais;i) Os Presidentes dos Conselhos Distritais;j) Os Conselhos de Deontologia;k) Os Presidentes dos Conselhos de Deontologia;l) As Assembleias de Comarca;m) As Delegações e Delegados».

São órgãos nacionais:a) O Congresso dos Advogados Portugueses;b) A Assembleia Geral;c) O Bastonário;d) O Presidente do Conselho Superior;e) O Conselho Superior;f) O Conselho Geral.

São órgãos distritais:a) As Assembleias Distritais;b) Os Conselhos Distritais;c) Os Presidentes dos Conselhos Distritais;d) Os Conselhos de Deontologia;e) Os Presidentes dos Conselhos de Deontologia;f) As Assembleias de Comarca.

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Resumos de Deontologia4. O Congresso dos Advogados Portugueses.Órgão de democracia indirecta ou representativa dos Advogados.Art. 9.º n.º 2 alínea a) EOARegulado nos arts 26.º a 31.º inclusive. Art. 26.º n.º 1 EOA «O Congresso representa:

− todos os advogados com inscrição em vigor,− os advogados honorários− e ainda os antigos advogados cuja inscrição

tenha sido cancelada por efeito de reforma»Art. 29.º n.º 1 EOA «Os advogados são representados por delegados ao Congresso, eleitos especialmente para o efeito, na área dos respectivos conselhos distritais.».Art. 29.º n.º 2 EOA «O número de delegados por conselho distrital é proporcional ao número de advogados inscritos no respectivo conselho, devendo corresponder a, pelo menos, um delegado por cada 100 advogados com inscrição em vigor…».(Fernando de Sousa Magalhães, art. 29.º, ponto 1)«Tratando-se de um órgão de composição representativa da Classe, entendeu o legislador – e bem – estabelecer um mínimo exigível de proporcionalidade entre o número de delegados e de Advogados com inscrição em vigor…».Art. 30.º EOA «O Congresso dos Advogados Portugueses realiza-se, ordinariamente, de cinco em cinco anos».

5. A Assembleia Geral da Ordem dos Advogados.Art. 9.º n.º 2, alínea b) EOARegulado nos artigos 32.º a 37.º inclusive. Art. 32.º n.º 1 «A Assembleia Geral da Ordem dos Advogados é constituída por todos os Advogados com inscrição em vigor».

6. O Bastonário da Ordem dos Advogados.Art. 9.º n.º 2, alínea c) EOARegulado nos arts. 38.º e 39.º EOA.Art. 38.º EOA«O Bastonário é o presidente da OA e, por inerência, presidente do Congresso, da Assembleia Geral e do Conselho Geral».Fernando de Sousa Magalhães, art. 38.º, ponto 1«Considerando a forma de eleição por sufrágio directo e universal e o facto de ser presidente, por inerência, do Congresso, Assembleia Geral e do Conselho Geral, o Bastonário dispõe de um painel de competências muito amplo e representa no plano interno e externo todos os Advogados Portugueses…».

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Resumos de DeontologiaO Bastonário é um órgão da Ordem com competências próprias – art. 39.º EOA.

7. O Conselho Superior da Ordem dos Advogados. A competência do Presidente do Conselho Superior.Presidente do Conselho Superior:Art. 9.º n.º 2 alínea d) EOA.Art. 40.º EOAConselho Superior:Art. 9.º n.º 2 alínea e) EOAArts. 41.º a 43.º EOA.Constitui o órgão jurisdicional supremo da Ordem.

8. O Conselho Geral da Ordem dos Advogados.Art. 9.º n.º 2 alínea f) EOAArts. 44.º a 46.º inclusive EOAÉ um órgão da Ordem com competências muito diversificadas.

9. Os órgãos distritais da Ordem dos Advogados.

9.1 As Assembleias Distritais da Ordem dos Advogados.Art. 9.º n.º 2 al. g) EOAArt. 47.º EOA «Em cada distrito funciona uma assembleia distrital constituída por todos os advogados inscritos por esse distrito e com inscrição em vigor.».Art. 48.º EOA

9.2. Os Conselhos Distritais da Ordem dos Advogados.Art. 9.º n.º 2 al. h) EOAArts. 49.º e 50.º EOA

9.3. A competência dos Presidentes dos Conselhos Distritais.Art. 9.º n.º 2 al. i) EOAArt. 51.º EOASão órgãos com competência própria e presidentes do respectivo conselho distrital e da assembleia distrital.

9.4 Os Conselhos de Deontologia da Ordem dos Advogados. A competência dos Presidentes dos Conselhos de Deontologia.Art. 9.º n.º 2 alínea j) EOAArts. 52.º a 55.º EOA

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Resumos de Deontologia10. As Delegações da Ordem dos Advogados.Arts. 9.º n.º 2 als. m) e n) EOAArts. 56.º a 61.º EOA

11. Os deveres dos Advogados para com a Ordem dos Advogados.(Orlando Guedes da Costa, págs. 76 a 79)O dever de solidariedade é um dos principais deveres entre Advogados, mas não existe propriamente um dever de solidariedade entre os Advogados e a sua Ordem, mas sim um dever de colegialidade, o qual

− não se esgota com a inscrição obrigatória na Ordem,− e é tanto maior quanto mais a Ordem dos Advogados

exercer as suas competências e atribuições, designadamente,

a) a de zelar pela função social, dignidade e prestígio da profissão de Advogado,

b) e promover o respeito pelos princípios deontológicos

c) a de defender os interesses, direitos, prerrogativas e imunidades dos seus membros;

d) e a de reforçar a solidariedade entre os seus membros (art. 3.º als. d), e) e f) EOA)

Segundo o art. 86.º, que tem como epígrafe “Os deveres para com a Ordem dos Advogados” estabelece que «Constituem deveres do Advogado para com a Ordem dos Advogados:

a) não prejudicar os fins e prestígio da OA;b) colaborar na prossecução das atribuições da Ordem dos

Advogados, exercer os cargos para que tenha sido eleito ou nomeado e desempenhar os mandatos que lhe forem confiados

Isto justifica-se pela consideração de que se trata de funções de interesse público como a própria profissão de Advogado, que é participante da administração da Justiça.c) declarar, ao requerer a inscrição, para efeito de verificação de

incompatibilidade, qualquer cargo ou actividade profissional que exerça;

d) suspender imediatamente o exercício da profissão e requerer, no prazo máximo de 30 dias, a suspensão da inscrição na OA quando ocorrer incompatibilidade superveniente

Justifica-se pela independência e dignidade da profissão de Advogado.

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Resumos de DeontologiaAo poder público da OA de impor quotização obrigatória a todos os seus elementos corresponde a al. e)e) pagar pontualmente as quotas e outros encargos…;f) dirigir com empenho o estágio dos advogados estagiários;este dever, embora constitua um dever entre Advogados, é também um dever para com a Ordem;g) comunicar, no prazo de 30 dias, qualquer mudança de escritório;i) promover a sua própria formação…»

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Resumos de Deontologia

V.

1. O exercício da Advocacia: o mandato forense; a consultadoria; a parecerística.

Arts. 61.º a 66.º EOALei 49/ 2004 que define actos próprios dos advogadosArt. 358.º alínea b) CPPArts. 32.º e segs. CPC

(Orlando Guedes da Costa, págs. 89 a 97)A noção de exercício da advocacia implica a prática habitual de actos próprios de da profissão, nomeadamente:

− «O exercício do mandato forense» (art. 1.º n.º 5, al. a) lei 49/ 2004),

− «O exercício da consulta jurídica» (art. 1.º, n.º 5, al. b) lei 49/ 2004),

− «A elaboração de contratos e a prática de actos preparatórios tendentes à constituição, alteração e extinção de negócios jurídicos» (art. 1.º n.º 6 al. a) lei 49/ 2004),

− «A negociação tendente à cobrança de créditos» (art. 1.º n.º 6 al. b) lei 49/ 2004),

− «O exercício do mandato no âmbito da reclamação ou impugnação de actos administrativos ou tributários» (art. 1.º n.º 6 al. c) lei 49/ 2004),

− «E a representação e a assistência perante qualquer jurisdição, autoridade ou entidade pública ou privada nomeadamente para defesa de direitos, patrocínio de relações jurídicas controvertidas, composição de interesses ou em processos de mera averiguação, ainda que administrativa, oficiosa ou de qualquer outra natureza» (art. 61.º n.º 3)

Segundo o n.º 7 do art. 1.º da Lei 49/ 2004, «Consideram-se actos próprios dos Advogados os actos que, nos termos dos números anteriores, forem exercidos no interesse de terceiros e no âmbito da actividade profissional»

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Consulta

Assistência

Representação

Praticados no interesse de terceiro e no âmbito da actividade profissional

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Resumos de Deontologia

Quando é que os actos são praticados no interesse de terceiros?A lei define pela negativa, começando por dizer o que não são actos praticados no interesse de terceiros.Art. 1.º n.º 8 Lei 49/ 2004Ex.º: sociedades que se dedicam à cobrança de dívidasO credor entrega a cobrança dos seus créditos a cobradores.É uma actividade profissional e remunerada.Logo, cabe no conceito de representação.É um acto próprio da advocacia.Daí que os chamados «cobradores de fraque» tenham sido proibidos.Mandato forenseSegundo o art. 1.º n.º 5 al. a) Lei 49/ 2004 «… são actos próprios dos advogados… o exercício do mandato forense…».Segundo o art. 2.º dessa mesma lei «Considera-se mandato forense o mandato judicial conferido para ser exercido em qualquer tribunal, incluindo os tribunais ou comissões arbitrais e os julgados de paz.».Fernando de Sousa Magalhães, art. 2.º«1. A definição do mandato forense foi sujeita a um claro alargamento no art. 62.º do EOA, mas esta norma ressalvou a vigência deste artigo 2.º da Lei 49/2004, pelo que se deverá entender que apenas se deve considerar como acto próprio da profissão, nos termos e para os efeitos da referida Lei, o mandato judicial conferido para ser exercido em qualquer tribunal, incluindo os tribunais ou comissões arbitrais e os julgados de paz.2. Vide artigo 62.º do EOA…»O artigo 62.º EOA dispõe que: «1.… considera-se mandato forense:

a) O mandato judicial para ser exercido em qualquer tribunal, incluindo os tribunais ou comissões arbitrais e os julgados de paz;

b) O exercício do mandato com representação, com poderes para negociar a constituição, alteração ou extinção de relações jurídicas;

c) O exercício de qualquer mandato com representação em procedimentos administrativos, incluindo tributários, perante quaisquer pessoas colectivas públicas ou respectivos órgãos ou serviços, ainda que se suscitem ou discutam apenas questões de facto.

2.O mandato forense não pode ser objecto, por qualquer forma de medida ou acordo que impeça ou limite a escolha pessoal e livre do mandatário pelo mandante».Fernando de Sousa Magalhães, art. 62.º ponto 1

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Resumos de Deontologia«Nos termos da Lei 49/ 2004 o mandato forense é definido como sendo “o mandato judicial conferido para ser exercido em qualquer tribunal, incluindo os tribunais ou comissões arbitrais e os julgados de paz” …»

(Orlando Guedes da Costa, págs. 95 a 97)BASE CONTRATUAL DO EXERCÍCIO DA ADVOCACIAOutro aspecto que a noção de exercício da advocacia deve abranger é a de que, se na sua origem está um acto jurídico

− unilateral, através de procuração, com que o Advogado fica investido em poderes representativos do seu constituintecfr. arts. 262.º a 269.º Código Civil e 32.º a 44.º CPC.

− ou bilateral (contrato): que tanto pode ser um contrato de prestação de

serviços (quando há autonomia) como um contrato de trabalho (quando há

subordinação, embora mesmo neste caso, haja sempre autonomia técnica

como um contrato de mandato (o qual é uma modalidade do contrato de prestação de serviços)

o exercício da advocacia assenta SEMPRE numa base contratual, mesmo quando emerge de uma procuração outorgada por quem obriga o mandante. Base contratual que, neste caso, se inicia com a outorga da procuração e finda com a sua revogação ou com a renúncia a ela.No entanto, esta procuração tem uma regulamentação própria porque quando for obrigatória a constituição de Advogado, há actos que só podem ser praticados pelo mandatário judicial não o podendo ser pelo seu

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Mandato Forense

Mandato Forense

Mandato Judicial

Tribunais

Comissões arbitrais

Julgados de paz

- com poderes para negociar a constituição, alteração ou extinção de relações jurídicas;-em procedimentos administrativos, incluindo tributários, perante quaisquer pessoas colectivas públicas ou respectivos órgãos ou serviços, ainda que se suscitem ou discutam apenas questões de facto.

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Resumos de Deontologiaconstituinte, ao contrário do que ocorre no Direito Civil, onde os actos praticados pelo procurador também o podem ser pelo mandante, o que é incompatível com um puro contrato de mandato e antes tem a ver com um contrato profissional, conferido por um sujeito privado ou público a um Advogado ou procurador legal, profissional livre, regularmente inscrito no respectivo colégio.Fernando Sousa Magalhães, art. 62.º EOA, pontos 2 a 6«2. Quanto à forma do mandato ver o art. 35.º CPC e o DL 267/92 que dispensou a intervenção notarial nas procurações forenses, mesmo com poderes especiais….3. O contrato de mandato exercido por Advogado assenta basicamente no mesmo complexo de direitos e obrigações decorrentes do contrato de mandato regulado pelos artigos 1157.º e segs. do C. Civil. Sucede que, pela deontologia, específica dos Advogados, existem obrigações impostas aos mandatários forenses que não resultam da lei geral, como por exemplo no plano de aceitação do mandato (vide artigo 94.º EOA) ou da renúncia ao mandato e abandono da causa (art. 95.º n.ºs 1 e 2 al. e)). Dadas estas obrigações específicas, há quem prefira chamar ao contrato de mandato forense de contrato de patrocínio forense para melhor se ressaltar essa realidade.4. Podendo em regra o mandatário fazer-se substituir por outrem na execução do mandato, o que na perspectiva do mandato forense corresponde a um substabelecimento “com reserva”, certo é que, no plano deontológico, deve o Advogado por regra avisar o mandante, seu cliente da utilização de tal faculdade, tendo em conta os deveres consignados nos arts. 92.º n.º 1 e 95.º n.º 1 al. a) EOA.5. Por maioria de razão não pode o Advogado substabelecer sem reserva os poderes forenses que lhe foram conferidos por mandante, sem a prévia e expressa autorização deste.6. O contrato de mandato é apenas um dos tipos de contrato em que assenta a prestação de serviços por Advogado, podendo ainda a actividade ter por base o contrato de trabalho e o contrato de prestação de serviços, que tendo a natureza de prestação continuada com remuneração fixa pode assumir a tipologia de contrato de avença, ou resultar ainda de acto administrativo ou jurisdicional por força de nomeação oficiosa».Quanto ao contrato de trabalho…O artigo 68.º que tem como epígrafe “Exercício da actividade em regime de subordinação” dispõe que«2. São nulas as cláusulas de contrato celebrado com Advogado que violem aqueles princípios.

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Resumos de Deontologia3. São igualmente nulas quaisquer orientações ou instruções da entidade empregadora que restrinjam a isenção e independência do Advogado ou que, de algum modo, violem os princípios deontológicos da profissão.».Consagra assim a nulidade das cláusulas do CT e as instruções da entidade empregadora que restrinjam a independência e violem os princípios deontológicos!Segundo o art. 68.º n.ºs 1, 4, 5 e 6:«1. Cabe exclusivamente à OA a apreciação da conformidade com os princípios deontológicos das cláusulas de contrato celebrado com o Advogado, por via do qual o seu exercício profissional se encontre sujeito a subordinação jurídica.4. O Conselho Geral da Ordem dos Advogados pode solicitar às entidades públicas empregadoras, que hajam intervindo em tais contratos, entrega de cópia dos mesmos, a fim de aferir da legalidade do respectivo clausulado…5. Quando a entidade empregadora seja pessoa de direito privado, qualquer dos intervenientes pode solicitar ao Conselho Geral parecer sobre a validade das cláusulas ou dos actos praticados na execução do contrato, o qual tem carácter vinculativo.6. Em caso de litígio, o parecer… é obrigatório».Fernando de Sousa Magalhães, artigo 68.º pontos 1, 2 e 6«1.Reporta-se este preceito ao exercício da profissão no regime de contrato de trabalho, tentando conciliar a independência do Advogado com o dever de subordinação que é elemento essencial deste tipo de contrato.2. Nem sempre se revela nítida a diferença entre um contrato de trabalho e um contrato de prestação de serviços, devendo os Advogados evitar … a verificação dos indícios de subordinação, como sejam a obediência a horários, a utilização dos meios e equipamentos do cliente, a remuneração certa com as regalias típicas de um salário e a dedicação exclusiva.6. … em reforço do princípio da independência, com especial relevância na defesa dos Advogados em regime de CT, determina o artigo 6.º n.º 2 da LOFTJ “No exercício da sua actividade, os advogados gozam de discricionariedade técnica e encontram-se apenas vinculados a critérios de legalidade e às regras deontológicas próprias da profissão».Consulta JurídicaSegundo o art. 63.º EOA «Constitui acto próprio de advogado o exercício de consulta jurídica nos termos da lei 49/ 2004». E o art. 3.º da lei 49/ 2004 dispõe que «Considera-se consulta jurídica a actividade de aconselhamento jurídico que consiste na interpretação e aplicação de normas jurídicas mediante solicitação de terceiros».Segundo o art. 1.º da Lei 49/ 2004, «Apenas:

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Resumos de Deontologia− os licenciados em Direito com inscrição na Ordem dos

Advogados− e os solicitadores inscritos na Câmara dos Solicitadores

podem praticar os actos próprios dos advogados e dos solicitadores».

1.1. Referência à consultadoria e à parecerística asseguradas por DocentesUniversitários.No entanto, o n.º 2 deste artigo estabelece que «Podem ainda exercer consulta jurídica juristas de reconhecido mérito e os mestres e doutores em Direito cujo grau seja reconhecido em Portugal…».Cfr. art. 193.º EOA.O n.º 3 dispõe «Exceptua-se do disposto no n.º1 a elaboração de pareceres escritos por docentes das faculdades de Direito». Não se obriga a inscrição para o exercício da consulta jurídica e para a elaboração de pareceres escritos por docentes da Faculdades de Direito.

1.2. Referência à consultadoria e à parecerística asseguradas por "advogados de empresa" (licenciados em Direito não inscritos na Ordem dos Advogados).Segundo o n.º 7 do art. 1.º da Lei 49/ 2004, «Consideram-se actos próprios dos Advogados os actos que, nos termos dos números anteriores, forem exercidos no interesse de terceiros e no âmbito da actividade profissional».E segundo o n.º 8 deste artigo «… não se consideram praticados no interesse de terceiros os actos praticados pelos representantes legais, empregados, funcionários ou agentes de pessoas singulares ou colectivas, públicas ou privadas, nessa qualidade, salvo se, no caso da cobrança de dívidas, esta constituir o objecto ou actividade principal destas pessoas».Ficam, assim, salvaguardadas a consultadoria e a parecerística asseguradas por “advogados de empresa” licenciados em Direito não inscritos na OA, desde que não seja em benefício de terceiros mas apenas das empresas a que prestam serviço.

2. A capacidade para o exercício da advocacia e a inscrição na Ordem dos Advogados como condição essencial para o exercício da actividade de Advocacia e da actividade de consulta jurídica em benefício de terceiros.(Orlando Guedes da Costa, págs. 82 a 87)Inscrição na OA como condição essencial para o exercício da actividade da AdvocaciaPara o exercício da advocacia, isto é, para a prática de actos próprios dos Advogados (designadamente, para o exercício do mandato forense e da consulta jurídica), é obrigatória a inscrição na OA.

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Resumos de DeontologiaIsso mesmo resulta do art. 61.º n.º 1 segundo o qual «… só os licenciados em direito com inscrição em vigor na Ordem dos Advogados podem … praticar actos próprios da advocacia, nos termos da Lei n.º 49/ 2004, de 24 de Agosto».E a Lei 49/ 2004 dispõe no art. 1.º n.º 1 que «Apenas os licenciados em vigor na Ordem dos Advogados e os solicitadores inscritos na Câmara dos Solicitadores podem praticar actos próprios dos Advogados e dos solicitadores» e o art. 1.º n.º 5 esclarece que «… são actos próprios dos advogados e dos solicitadores: a) o exercício do mandato forense; b) a consulta jurídica».No entanto, segundo o n.º 2 deste art. «Podem ainda exercer consulta jurídica juristas de reconhecido mérito e os mestres e doutores em Direito cujo grau seja reconhecido em Portugal, inscritos para o efeito na OA nos termos de um processo especial a definir no EOA». Cfr. 193.º n.ºs 1, 2, 5 e 6 e 45.º n.º 1 al. g) EOA.É que o acesso a certas profissões e o seu exercício, pelo interesse público ou função social de que se revestem, impõem o seu controle por uma entidade pública e daí as Ordens profissionais e, entre elas, a OA.Fernando de Sousa Magalhães, art. 61.º pontos 6, 7, 8, 9, 10, 11«6. O acto de inscrição gera o vínculo administrativo à OA e tem a dupla função de atribuição do título profissional de Advogado e de Advogado Estagiário, com inerente habilitação à prática da profissão…7. A inscrição é, por isso, obrigatória, regendo-se pelas normas dos arts. 179.º a 201.º deste EOA…8. O princípio da exclusividade para a prática de actos próprios da advocacia, que decorre do n.º 1 do art. 61.º, é corolário do interesse público da profissão, traduzido pela necessidade da sua função social ser efectivada e garantida por profissionais com responsabilidades deontológicas tuteladas pelo poder disciplinar da associação pública a quem o Estado delegou tal poder.9. A advocacia, tendo em conta o que se anotou em 8, representa o exercício privado de uma função pública.10. A obrigatoriedade de inscrição na OA não é inconstitucional, como decidiu o Tribunal Constitucional no seu Acórdão 497/98... assim como o STJ no Acórdão de 23/05/85…11. A propósito da obrigatoriedade da inscrição na Ordem e do princípio da exclusividade veja-se ainda o Acórdão do STJ de 24/05/88».Segundo o art. 179.º «A inscrição como Advogado ou Advogado estagiário deve ser feita:

− no Conselho Geral*

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Resumos de Deontologia− bem como no Conselho Distrital** da área do domicílio

escolhido pelo requerente como centro da sua vida profissional»

*inscrição definitiva** inscrição provisóriaFernando de Sousa Magalhães, art. 179.º, pontos 1, 2 e 4«1. É através da inscrição na OA que se adquire o estatuto e o título profissional de Advogado – ver art. 61.º n.º 1 EOA e art. 2.º n.º 2 Regulamento de Inscrição de Advogados e Advogados Estagiários.2. Para além das normas do presente Estatuto deve sobre esta matéria ter-se presente o Regulamento de Inscrição de Advogados e Advogados Estagiários…3.4. A inscrição preparatória deve ser requerida nos Conselhos Distritais, cabendo ao Conselho Geral efectuar a inscrição definitiva – ver artigo 182.º EOA.5. O domicílio profissional dos Advogados é aquele que foi escolhido como centro da sua vida profissional, (e, nos termos do art. 86.º al. h), o Advogado deve «manter um domicílio profissional dotado de uma estrutura que assegure o cumprimento dos seus deveres deontológicos….»).6. … art. 86.º al. g) (o Advogado «deve comunicar, no prazo de 30 dias, qualquer mudança de escritório»).7. Decorre do art. 179.º n.º 3 que «O domicílio profissional do Advogado estagiário é o seu patrono.» ….Segundo o art. 182.º, «1. A inscrição … é requerida ao Conselho Distrital em que o Advogado ou o Advogado estagiário pretenda ter o domicílio para o exercício da profissão ou para fazer estágio. 2. O requerimento deve ser acompanhado de:

− certidão do registo de nascimento,− carta de licenciatura, em original ou pública

forma ou, na falta de carta, documento de que ela já foi requerida e está em condições de ser expedida,

− certificado de registo criminal− e boletins preenchidos nos termos

regulamentares, assinados pelos interessados e acompanhados de três fotografias

5. No caso de recusa de inscrição preparatória, pode o interessado recorrer para o Conselho Geral, e no caso de recusa de inscrição no quadro da OA, cabe recurso para o Conselho Superior».Fernando de Sousa Magalhães, art. 182.º, ponto 3

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Resumos de Deontologia«Quanto ao recurso hierárquico previsto no n.º 5 deste artigo 182.º, veja-se o artigo 6.º n.ºs 1 e 2 do EOA».Inscrição como Advogados EstagiáriosCfr. o art. 45.º n.º 1 al. g) segundo o qual «Compete ao Conselho Geral elaborar e aprovar … o regulamento de inscrição dos advogados estagiários…».Cfr. O art. 50.º n.º 1 al. m) segundo o qual «Compete ao conselho distrital… proceder à inscrição dos advogados estagiários …».Segundo o art. 187.º EOA «Podem requerer a sua inscrição como advogados estagiários os licenciados em Direito por cursos universitários nacionais ou estrangeiros oficialmente reconhecidos».Inscrição como AdvogadosCfr. o art. 45.º n.º 1 al. g) segundo o qual «Compete ao Conselho Geral elaborar e aprovar … o regulamento de inscrição dos advogados estagiários…».Cfr. O art. 50.º n.º 1 al. m) segundo o qual «Compete ao conselho distrital… proceder à inscrição dos advogados estagiários, bem como proceder à inscrição definitiva destes últimos, se tal for determinado pelo Conselho Geral».Segundo o art. 192.º «1. A inscrição como Advogado depende do cumprimento das obrigações de estágio com classificação positiva …2. Exceptuam-se do disposto no número anterior, prescindindo-se da realização do estágio e da obrigatoriedade de se submeter ao exame final de avaliação e agregação, podendo requerer a sua inscrição imediata como advogados:

a) os doutores em ciências jurídicas, com efectivo exercício da docência

b) os antigos magistrados com exercício profissional por período igual ou superior ao do estágio, que possuam boa classificação.».

A prova da inscrição faz-se pela cédula profissional.Segundo o art. 180.º n.ºs 1 e 3 «1. A cada advogado ou Advogado estagiário é entregue a respectiva cédula profissional, a qual serve de prova de inscrição na OA.3. O Advogado ou Advogado Estagiário no exercício das respectivas funções deve OBRIGATORIAMENTE fazer prova da sua inscrição através da cédula profissional válida…»Cfr. art. 65.º n.º 1 «A denominação de Advogado está exclusivamente reservada aos licenciados em Direito com inscrição em vigor na OA.».Casos de inscrições especiaisOs Consultores jurídicos – profissionais liberais que exercem actos de advocacia menores (consultadoria jurídica)

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Resumos de DeontologiaArt. 193.º EOA «5. Os juristas de reconhecido mérito, mestres e outros docentes em Direito inscritos na OA nos termos do presente artigo podem praticar apenas actos de consulta jurídica…1. … a inscrição na OA de juristas de reconhecido mérito e os mestres e outros Doutores em Direito cujo título seja reconhecido em Portugal depende da prévia realização de um exame de aptidão, sem necessidade de realização de estágio.2. O exame de aptidão tem por fim a avaliação da experiência profissional e do conhecimento das regras deontológicas que regem o exercício da profissão.3. Consideram-se juristas de reconhecido mérito os licenciados em Direito que demonstrem ter conhecimentos e experiência profissional suficientes no domínio do direito interno português ou do direito internacional para exercer consulta jurídica, com a dignidade e a competência exigíveis À profissão.4. … presumem-se juristas de reconhecido mérito designadamente, os juristas que tenham efectivamente prestado actividade profissional por, pelo menos, 10 anos consecutivos.6. Compete ao Conselho Geral regulamentar o regime de inscrição na OA…».É o caso de personalidades como Marcelo Rebelo de Sousa e Lobo Xavier!!!As Sociedades de AdvogadosArts. 202.º n.º 2 e 203.º EOAART. 9.º DL 229/ 2004Advogados EstrangeirosArts. 194.º e 196.º a 201.º EOAA capacidade para o exercício da AdvocaciaA determinação da capacidade para o exercício da advocacia:

− não será feita de modo positivo, dizendo até onde vai essa capacidade

− mas antes de modo negativo, dizendo quem está ferido de incapacidade.

O elenco taxativo das incapacidades consta das alíneas a), b), c) e e) do n.º 1 e dos n.ºs 3, 7 e 8 do art. 181.º EOA.Assim segundo o art. 181.º n.º 1 als. a), b) c) e e): «Não podem ser inscritos:

a)os que não possuem idoneidade moral para o exercício da profissão;

b)os que não estejam no pleno gozo dos direitos civis;

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Resumos de Deontologiac)os declarados incapazes de administrar as suas sentenças e

bens por sentença transitada em julgado;d)ge)os magistrados e funcionários que, mediante processo

disciplinar hajam sido demitidos, aposentados ou colocados na inactividade por falta de idoneidade moral».

Fernando de Sousa Magalhães, art. 181.º, ponto 1 e 4«1. Neste artigo são tratadas:

− as causas de incapacidade para o exercício da profissão (als. a), b) e c) do n.º 1)

− e as situações de incompatibilidade (als. d) e e) do n.º 1)

como factores que restringem o direito à inscrição,impedindo-a originária ou supervenientemente4. Sobre as alíneas b) e c) cfr. arts. 138.º a 151.º do C. Civil (interdições) e artigos 152.º a 156.º (inabilitações)».A alínea d) do art. 181.º n.1 al. d) prevê que «Não podem ser inscritos os que estejam em situação de incompatibilidade ou inibição do exercício da advocacia».Mas o que esta alínea prevê não são incapacidades mas incompatibilidades ou impedimentos absolutos, previstos nos arts. 76.º a 81.º EOA.

As incapacidades podem ser:a)originárias

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RESTRIÇÕES À INSCRIÇÃO

INCAPACIDADES INCOMPATIBILIDADES

Inerentes à pessoa do Advogado181.º als. a), b), c), e) EOAComunicabilidade da idoneidade da magistratura e da advocacia

Não são inerentes à pessoa do Advogado181.º al. d) EOA; 78.º a 81.º EOAA al. d) não devia estar no art. 181.º mas nos arts. 78.º a 81.º que regulam as incompatibilidades

Dever de comunicação à Ordem dos Advogados

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Resumos de Deontologiasão filtradas na inscrição preparatória.Cfr. art. 182.º EOAb)ou supervenientesas incapacidades sendo supervenientes conduzem ao cancelamento ou suspensão da inscrição

Segundo o art. 181.º n.ºs 5 e 6 «5.A verificação de falta de idoneidade é sempre objecto de processo próprio, que segue os termos do processo disciplinar, com as necessárias adaptações…6. A declaração de falta de idoneidade moral só pode ser proferida mediante decisão que obtenha 2/3 dos votos de todos os membros do conselho competente».Art. 181.º n.ºs 3, 7 e 8:2.3. Para efeitos da alínea a) do n.º 1, presumem-se não idóneos para o exercício da profissão, designadamente, os condenados por qualquer crime gravemente desonroso.4.5.6.7. Os condenados criminalmente que tenham obtido o cancelamento do registo criminal podem, decorridos 10 anos sobre a data da condenação, solicitar a sua inscrição, sobre a qual decide, com recurso para o Conselho Superior, o competente Conselho Distrital.8. Para efeitos do número anterior, o pedido só é de deferir quando, mediante inquérito prévio, com audiência do requerente, se comprove a manifesta dignidade do seu comportamento nos últimos 3 anos e se alcance a convicção da sua plena recuperação mora.»Fernando de Sousa Magalhães, art. 181.º ponto 2«Sobre o processo de averiguação de idoneidade moral para o exercício da profissão, veja-se as anotações aos arts. 171.º a 173.º.»Segundo o art. 171.º «É instaurado processo para averiguação de idoneidade para o exercício profissional sempre que o advogado ou advogado estagiário:

a) tenha sido condenado por qualquer crime gravemente desonroso;

b) não esteja no pleno gozo dos direitos civis;c) seja declarado incapaz de administrar as suas pessoas e

bens por sentença transitada em julgado;d) esteja em situação de incompatibilidade ou inibição do

exercício da advocacia e não tenha tempestivamente requerido a suspensão ou o cancelamento da sua inscrição, continuando a exercer a sua actividade profissional…

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Resumos de Deontologiae) tenha no momento da inscrição prestado falsas declarações

no que diz respeito a incompatibilidade para o exercício da advocacia;

f) seja condenado na Ordem, em um ou mais processos, por reiterado incumprimento dos deveres profissionais…

g) seja judicialmente reconhecida a sua incapacidade mental para assumir a defesa de interesses de 3.ºs».

Fernando de Sousa Magalhães, art. 171.º, pontos 1 a 4«1. O processo de averiguação de idoneidade para o exercício da profissão prende-se intimamente com o dever de integridade ou probidade a que se refere o art. 83.º EOA, pelo qual o advogado deve ter um comportamento público e profissional adequado à dignidade e responsabilidade da função.2. A falta de idoneidade moral para o exercício da profissão inibe a inscrição do Advogado ou Advogado estagiário ou determina o cancelamento da inscrição se for verificada supervenientemente à inscrição. Cfr. art. 181.º n.º 1 al. a).3. De acordo com o n.º 5 do art. 181.º EOA, a verificação da idoneidade moral é sempre objecto de processo próprio…. Mas tal tipo de processo especial, de natureza administrativa, nunca fora antes regulado em normas estatutárias ou regulamentares, pelo que os actuais arts. 171.º a 73.º visam colmatar essa lacuna.».

2.1. As consequências do exercício por não inscritos.O art. 183.º, que tem como epígrafe “Exercício da advocacia por não inscritos” dispõe que: «1. Os que transgredirem o preceituado no n.º 1 do artigo 61.º são, … e sem prejuízo das disposições penais aplicáveis,

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RESTRIÇÕESÀ

INSCRIÇÃO

ORIGINÁRIASFiltradas no pedido inicial de inscrição -

182.º EOA181.º EOA

SUPERVENIENTEDá origem ao

cancelamento ou suspensão da inscrição

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Resumos de Deontologiaexcluídos do processo por despacho do juiz ou do tribunal, proferido oficiosamente, mediante reclamação apresentada pelos conselhos ou delegações da Ordem dos Advogados ou a requerimento dos interessados.».Fernando de Sousa Magalhães, art. 183.º pontos 1 e 2«1. Esta norma aborda a situação do exercício ilegal de profissão, a que corresponde o crime de procuradoria ilícita previsto no artigo 7.º da Lei 49/ 2004 de 24 de Agosto.2. Cfr. anotações 8 e 15 a 25 ao art. 61.º do EOA».

2.2. O problema quanto aos Advogados Estagiários: determinação da sua competência na primeira fase do estágio e na segunda fase deste.(Orlando Guedes da Costa, págs. 97 e 98)Segundo o art. 188.º EOA n.ºs 1 e 2 «O estágio tem a duração global mínima de dois anos…» e «A primeira fase do estágio, com a duração mínima de 6 meses…».Segundo o art. 188.º EOA n.º 3 «Com a aprovação nas provas de aferição e subsequente passagem à segunda fase de estágio, são emitidas e entregues aos advogados estagiários as respectivas cédulas profissionais».Importante para efeitos de exame!!!Quanto à «Competência dos advogados estagiários», o art. 189.º EOA dispõe que «1. Uma vez obtida a cédula profissional como advogado estagiário, este pode autonomamente, mas sempre sob a orientação do patrono, praticar os seguintes actos profissionais:

a) Todos os actos de competência dos solicitadores;b) Exercer a advocacia em processos penais da competência de

tribunal singular (*) e em processos não penais quando o respectivo valor caiba na alçada da primeira instância (**);

c) Exercer a advocacia em processo da competência dos tribunais de menores e em processos de divórcio por mútuo consentimento;

d) Exercer a consulta jurídica.2. Pode ainda o advogado estagiário praticar actos próprios da advocacia em todos os demais processos, independentemente da sua natureza e do seu valor, desde que efectivamente acompanhado de advogado que assegure a tutela do seu tirocínio, seja o seu patrono ou o seu patrono formador.».Fernando de Sousa Magalhães, art. 189.º EOA«1. Como a cédula profissional apenas é entregue aos Advogados Estagiários com a sua passagem à segunda fase do estágio, ou seja, no início da sua formação complementar, como resulta do disposto no n.º 3 do art. 188.º, conclui-se que …. os Advogados Estagiários só podem praticar actos próprios de Advocacia, seja autonomamente mas sob orientação dos

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Resumos de Deontologiapatronos, seja acompanhado pelos patronos ou patronos formadores, na segunda fase do estágio, estando assim impedidos de o fazer na 1.ª fase mesmo em patrocínio em causa própria ou do seu cônjuge, ascendentes ou descendentes.».(*) Segundo o art. 16.º n.º 2 CPP, que tem como epígrafe “Competência do tribunal singular”, «2. Compete ao tribunal singular … julgar os processos que respeitarem a crimes:

a) Previstos no capítulo II do título V do Livro II do Código Penal (cfr. arts. 347.º a 359.º Código Penal)Crimes contra a autoridade pública: resistência, desobediência, tirada e evasão de presos, não cumprimento de obrigações impostas por sentença, violação de providências públicas e usurpação de funções

b) Cuja pena máxima, abstractamente aplicável, seja igual ou inferior a cinco anos de prisão

3.Compete ainda ao tribunal singular julgar os crimes previstos na alínea b) do n.º 2 do artigo 14.º … quando o Ministério Público, na acusação, ou em requerimento, … entender que não deve ser aplicada, em concreto, pena de prisão superior a 5 anos».(**) Exercer a advocacia em processos não penais cujo valor caiba na alçada dos tribunais de 1.ª instância, isto é, cujo valor seja igual ou inferior a 5.000€. Cfr. art. 24.º LOFTJ.Fernando de Sousa Magalhães, art. 189.º pontos 4«4. A possibilidade de os Advogados Estagiários poderem, a partir de agora, patrocinar acompanhados do seu patrono ou patrono formador, em qualquer processo, independentemente da sua natureza ou valor, constitui um passo muito importante no reforço da formação em prática tutelada, ao mesmo tempo que aprofunda e dignifica a relação entre o Advogado Estagiário e o seu Patrono. As intervenções em processos judiciais, que constituem uma das vertentes essenciais da formação complementar do estágio, podem assim ser asseguradas com maior facilidade e aproveitamento….5. Quanto às competências dos Advogados Estagiários no regime de protecção jurídica, ver a Lei 34/ 2004 de 29 de Julho e legislação complementar.De facto, os Advogados Estagiários podem exercer a advocacia por nomeação oficiosa de acordo com a sua competência estatutária.Cfr. arts. 30.º e 45.º n.º 1 al. b) da Lei 34/ 2004Quanto a este ponto o artigo 41.º da Lei de Acesso ao Direito expressamente prevê a intervenção de Advogados Estagiários, e não somente de Advogados, no apoio judiciário em processo penal, incluindo o

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Resumos de Deontologiaprimeiro interrogatório do arguido, na audiência de julgamento em processo sumário e noutras diligências.MASO infeliz Regulamento n.º 330-A/ 2008, de 24 de Junho, relativo à Organização e Funcionamento do Sistema de Acesso ao Direito e aos Tribunais na OA limitou a competência dos Advogados Estagiários, por si sós, à consulta jurídica e excluiu-os da intervenção no apoio judiciário, intervenção que apesar do artigo 189.º do EOA e do artigo 41.º da Lei de Acesso ao Direito, não seria conforme à Constituição, pelo menos quando ocorra em Processo Penal, como sustenta VITAL MOREIRA, em parecer solicitado pelo Bastonário da OA, invocando os artigos 18.º, 20.º n.º 2 (que reconhece o direito a Advogado perante qualquer autoridade), 32.º n.º 3 (que especifica os casos em que a assistência de advogado é obrigatória) e 208.º (relativo às imunidades dos Advogados e ao patrocínio forense) e os artigos 61.º, 62.º e 64.º CPP (referente à obrigatoriedade de assistência de defensor), como se o termo Advogado ou defensor não pudessem abranger o Advogado Estagiário.Além disso, nem a CRP nem a lei:

− proíbem que os Advogados Estagiários sejam constituídos Advogados nos processos para os quais têm competência estatutária,

− nem proíbem que sejam inscritos na OA (art. 45.º al. e); 50.º al. m) do EOA)

− e nem proíbem que tenham o título profissional de Advogado Estagiário (art. 3.º al. c) EOA).

Sendo certo que a lei e a CRP impõem que os Advogados Estagiários:− estejam sujeitos à jurisdição disciplinar da OA, − estejam sujeitos ao seguro de responsabilidade civil

profissional,− e gozem da liberdade de exercício da profissão e da prática

de actos próprios da profissão.Numa perspectiva histórica, o que aconteceu com o infeliz e ilegal Regulamento n.º 330-A / 2008 foi um grande retrocesso, no sentido em que privilegia a defesa por Advogado de quem não paga ou é beneficiado em taxa de justiça, privilégio em relação a quem tem de a pagar, quando possa constituir Advogado Estagiário…É mais uma via para desprestigiar os Advogados, uma vez que se retirou aos Advogados Estagiários uma via essencial para a sua formação, num modelo de estágio que, por envolver a prática de alguns actos próprios dos Advogados, tem sido invejado além-fronteiras…

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Resumos de DeontologiaSegundo o art. 32.º n.º 2 «Ainda que seja obrigatória a constituição de advogado, os ADVOGADOS ESTAGIÁRIOS … podem fazer requerimentos em que não se levantem questões de direito».

3. Os actos próprios dos Advogados e a procuradoria ilícita.Cfr. n.º1 deste Capítulo V.Art. 4.º da Lei 49/ 2004 «Os advogados, advogados estagiários e solicitadores com inscrição em vigor não podem ser impedidos, por qualquer autoridade pública ou privada, de praticar actos próprios dos advogados e solicitadores».Esta norma foi transposta para o art. 64.º EOA.Fernando de Sousa Magalhães, art. 64.º«1. Reformula-se, alargando a todos os actos próprios de advocacia, o que a propósito do mandato judicial, representação e assistência já se afirmara no artigo 61.º n.º 3».A Lei n.º 49/ 2004 «define o sentido e o alcance dos actos próprios dos Advogados … e tipifica o crime da procuradoria ilícita…».Fernando de Sousa Magalhães«1. Com a aprovação desta Lei n.º 49/ 2004 de 24 de Agosto há muito reclamada pelos Advogados e pela OA, foi dado um passo no domínio do combate à procuradoria ilícita. O diploma visa essencialmente:

a) Definir em concreto actos de procuradoria ilícita;b) Criar um novo tipo de crime específico para quem os pratique sem a

necessária habilitação – crime de procuradoria ilícita;c) Atribuir à OA e à Câmara dos Solicitadores a legitimidade para se

constituírem assistentes nos processos-crime contra os agentes infractores;

d) Estabelecer um regime contra-ordenacional para sancionar a actuação de promoção, divulgação e publicidade dos actos de procuradoria ilícita, quando da responsabilidade de pessoas não autorizadas à sua prática;

e) Reforçar a responsabilidade civil pelos danos decorrentes da lesão de interesses públicos inerentes ao regime da proibição da procuradoria ilícita pela instituição do princípio da presunção de culpa, e definir a OA e a Câmara dos Solicitadores como entidades com legitimidade para a propositura das respectivas acções judiciais».

(Orlando Guedes da Costa, págs. 201 a 207)O exercício da advocacia ou só de consulta jurídica por quem não esteja habilitado por não estar inscrito ou por ter suspensa ou cancelada a sua inscrição constitui ilícito criminal e é passível de responsabilidade criminal.

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Resumos de DeontologiaÉ o caso do crime de usurpação de funções punido e previsto no art. 358.º Código Penal, como crime público e do crime de procuradoria ilícita previsto e punido no art. 7.º Lei 49/ 2004, como crime semipúblico, «1. Quem em violação do disposto no artigo 1.º:

a) Praticar actos próprios dos Advogados e dos Solicitadores;b) Auxiliar ou colaborar na prática de actos próprios dos

Advogados e Solicitadores;É punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias2. O procedimento criminal depende de queixa.3. Além do lesado, são titulares do direito de queixa a OA e a Câmara dos Solicitadores4. A OA e a Câmara dos Solicitadores têm legitimidade para se constituírem assistentes no procedimento criminal».Fernando de Sousa Magalhães, art. 7.º Lei 49/ 2004«1. A lei tipificou um novo tipo de crime, semipúblico, … para a prática, colaboração ou auxílio de actos próprios de Advogado e Solicitadores, assim se operando uma significativa modificação no domínio da incriminação destes actos que, até à sua entrada em vigor, ocorria exclusivamente pelo crime de usurpação de funções, previsto no artigo 358.º Código Penal. … o crime de usurpação de funções afigura-se mais exigente nos seus elementos constitutivos do que o ora criado crime de procuradoria ilícita, pelo que a solução encontrada permite uma maior eficácia na perseguição criminal dos agentes de procuradoria ilícita.2. Além do lesado, é reconhecida nos n.ºs 3 e 4 a legitimidade da OA para o exercício do direito de queixa e para se constituir assistente.».E no caso de inscrição suspensa também é passível de responsabilidade disciplinar. É o que resulta do art. 109.º n.º 3.O exercício da profissão de Advogado ou de consultor jurídico, pelo seu interesse público, depende de inscrição numa associação pública, a OA, que age por devolução normativa de poderes do Estado.A protecção do interesse público do exercício da advocacia ou da consulta jurídica exclusivamente por quem esteja inscrito é tão forte que a lei prevê e pune, como crime de procuradoria ilícita, o exercício da profissão e até a prática de um acto próprio da profissão por quem não tenha a inscrição em vigor na OA e se arrogue possuir o título de Advogado e consultor jurídico e estar inscrito como tal.Face ao interesse público que a lei protege bem se justificava que não fosse necessária a queixa de certas pessoas para se iniciar o procedimento criminal… mas actualmente o procedimento criminal depende de queixa de que são titulares, além do lesado, a OA e a Câmara dos Solicitadores, que têm legitimidade para se constituírem assistentes no processo.

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Resumos de DeontologiaSegundo o art. 183.º, que tem como epígrafe “Exercício da advocacia por não inscritos”, «1. Os que transgredirem o preceituado no n.º 1 do artigo 61.º são, … e sem prejuízo das disposições penais aplicáveis, excluídos do processo por despacho do juiz ou do tribunal, proferido oficiosamente, mediante reclamação apresentada pelos conselhos ou delegações da Ordem dos Advogados ou a requerimento dos interessados.2. Deve o juiz … acautelar no seu despacho dano irreparável dos legítimos interesses das partes.3. O transgressor é inibido de continuar a intervir na lide e, desde logo, o juiz nomeia advogado oficioso que represente os interessado, sob pena de findo o prazo, cessar de pleno direito a nomeação, suspendendo-se a instância ou seguindo a causa à revelia».Escritório de Procuradoria IlícitaA concessão de um direito exclusivo ao exercício da advocacia ou só da consulta jurídica àqueles que se encontrem inscritos na OA visa:

− não só assegurar que os actos próprios da profissão são praticados exclusivamente pelas pessoas inscritas

− mas também garantir que só estas possam obter rendimentos do exercício profissional da advocacia ou só da consulta jurídica.

Daí que se proíba o funcionamento de escritório de procuradoria ou de consulta jurídica, tal como dispõe o art. 6.º da Lei 49/ 2004 «… é proibido o funcionamento de escritório ou gabinete, constituído sob qualquer forma jurídica, que preste a terceiros serviços que compreendam, ainda que isolada ou marginalmente, a prática de actos próprios dos advogados e dos solicitadores.».Fernando de Sousa Magalhães, art. 6.º Lei 49/ 2004«2. … (mantém-se) a proibição de actos próprios de advocacia por gabinetes ou escritórios que não sejam exclusivamente compostos por Advogados ou por Advogados e Solicitadores, embora estes como colaboradores, regra esta que está… na base da ilicitude da constituição e funcionamento, em Portugal, das sociedades multidisciplinares…»Segundo o n.º 2 deste artigo «A violação da proibição estabelecida no número anterior confere à OA ou à Câmara dos Solicitadores o direito de requererem junto das autoridades judiciais competentes o encerramento do escritório ou gabinete».Segundo os n.º 3 «Não são abrangidos … os sindicatos e as associações patronais, desde que os actos praticados o sejam para defesa exclusiva dos interesses comuns em causa e que estes sejam individualmente exercidos por advogado, advogado estagiário ou solicitador».

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Resumos de DeontologiaAssim, os serviços de contencioso de um sindicato em que os interesses legitimamente associados são de natureza laboral não poderão dar consultas aos sócios sobre direito de arrendamento ou direitos reais, por exemplo.E o n.º 4 exclui também do disposto nos n.ºs 1 e 2 «… as entidades sem fins lucrativos que requeiram o estatuto de utilidade pública…».Além do encerramento do escritório de procuradoria ilícita, poderá verificar-se procedimento criminal pelo crime de procuradoria ilícita, que é semipúblico… sendo titulares do direito de queixa, além do lesado, a OA e a Câmara dos Solicitadores, que têm legitimidade para se constituírem assistentes no procedimento criminal.

1) Responsabilidade Criminal:− art. 358.º Código Penal (crime de usurpação de

funções)− art. 7.º Lei 49/ 2004 (crime de procuradoria

ilícita)

2) Medida Administrativa: encerramento do escritório (art. 6.º n.º 2 Lei n.º 49/ 2004)

3) Regime contra-ordenacional: arts. 8.º a 10.º da Lei 49/ 20044) Responsabilidade Civil: presunção de culpa (art. 11.º Lei 49/ 2004)

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OA Autoridades judics.

Crime de Procuradoria IlícitaArt. 7.º Lei 49/ 2004

Crime de Usurpação de FunçõesArt. 358.º Código Penal

Instituto do Consumidor

OA

Medida Adm.Art. 6.º Lei 49/

2004

Encerramento do escritório

Regime contra-ordenacional

Arts. 8.º a 10.º lei 49/ 2004COIMAS

Promoção, divulgação e publicidade; cujo produto 40% para o Instituto do Consumidor e 60% Estado

Responsabilidade CivilPresunção de culpa

Cabe ao agente infractor ilidir a culpa

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Resumos de Deontologia

Ilícito Disciplinar no próprio exercício da profissão da advocacia(Orlando Guedes da Costa, págs. 207 a 211)Segundo o art. 82.º do EOA «Os magistrados, conservadores, notários e os responsáveis pelas repartições públicas têm obrigação de comunicar à OA qualquer facto que indicie o exercício:

− Ilegal− Ou irregular

da advocacia, designadamente do patrocínio judiciário.».Fernando Sousa Magalhães, art. 82.º«1. O dever de denúncia é alargado aos Notários, Conservadores e responsáveis por quaisquer repartições públicas, assim como aos funcionários destes serviços.2. Acolhe-se agora correctamente a distinção entre o exercício ilegal e o exercício irregular da profissão…3. Cfr. artigos 183.º (exercício ilegal) e 116.º (exercício irregular) do EOA.Importa assim distinguir:

− Exercício ilegal da advocaciaArt. 183.º EOAAo qual corresponde o crime de procuradoria ilícita – art. 7.º lei 49/ 2004“Diferente do exercício ilegal da profissão é o mero exercício irregular da actividade por Advogado ou Advogado Estagiário,

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Exercício Ilegítimo da Profissão

Autoridades OAArt. 82.º EOA

Exercício ilegal

61.º a 183.º EOA

Exercício irregularArt. 113.º

Responsabilidade civil e criminal

Responsabilidade disciplinar

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Resumos de Deontologiatratado nos artigos 110.º e 116.º EOA” – Fernando de Sousa Magalhães, art. 183.º ponto 3.− Exercício irregularArt. 116.º EOAAo qual corresponde responsabilidade disciplinar

Diferente do exercício criminal da advocacia ou da consulta jurídica é o exercício destas por alguém que tem a inscrição em vigor, mas está em situação de incompatibilidade e, por isso, devia ter requerido a suspensão daquela inscrição.Neste caso, verifica-se um ilícito disciplinar no próprio exercício da profissão mas sem ocorrer um ilícito criminal.Outro caso de ilícito disciplinar no próprio exercício da advocacia sem que se verifique ilícito criminal é o seu exercício por Advogado estagiário para além da sua competência específica por ser obrigatória a constituição de Advogado.Diferentes destas situações são as do exercício da advocacia ou da consulta jurídica em situação de impedimento ou com violação de outros deveres estatutários ou de algum dever processual.Embora em todos estes casos se possa dizer que estamos perante violação de deveres estatutários ou processuais, no caso de advocacia em situação de incompatibilidade, o dever violado é o de suspender imediatamente o exercício da profissão e requerer, no prazo máximo de 30 dias, a suspensão da inscrição na OA, quando ocorrer incompatibilidade superveniente (cfr. art. 86.º al. d)).Segundo o art. 116.º EOA «1. Os tribunais e quaisquer autoridades devem dar conhecimento à OA de todos os factos susceptíveis de constituir infracção disciplinar praticados por advogados.2. O MP e os órgãos e autoridades de polícia criminal devem remeter à OA certidão de todas as denúncias, participações ou queixas apresentadas contra advogados».O que bem se compreende pois apesar de, nos termos do art. 111.º n.º 1 EOA, a responsabilidade disciplinar ser independente da responsabilidade civil ou criminal, o n.º 2 deste art. dispõe que «quando, com fundamento nos mesmos factos, tiver sido instaurado processo criminal contra advogado, pode ser ordenada a suspensão do processo disciplinar, devendo a autoridade judiciária…».Ver págs. 208 a 211 do “Direito Profissional do Advogado” de Orlando Guedes da Costa.

4. Exercício da advocacia por estrangeiros4.1 O caso especial dos Advogados brasileiros.

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Resumos de Deontologia4.2 O caso especial dos Advogados provenientes da UE – referência às Directivas comunitárias e sua transposição para o direito interno português, tendo dado origem aos actuais artigos 196.º a 202.º do EOA e ao Regulamento de Registo e Inscrição dos Advogados provenientes da UE.

5. A Advocacia individual e a Advocacia exercida em termos societários. Regime legal das Sociedades de Advogados.

6. As incompatibilidades para o exercício da Advocacia.(Orlando Guedes da Costa, págs. 175 a 200)Já vimos, no ponto 2 do capítulo V, as incapacidades que afectam o indivíduo e o inibem de exercer a profissão e até de se candidatar a tal exercício. As incapacidades dizem respeito à pessoa e às suas qualidades.Cfr. art. 181.º als. a), b), c) e e) EOA.A alínea d) deste artigo consagra que «Não podem ser inscritos os que não estejam em situação de incompatibilidade ou inibição do exercício da advocacia». Trata-se de uma incompatibilidade e não de uma incapacidade.Fernando Sousa Magalhães no comentário a este artigo no ponto 5 estabelece que «Quanto às incompatibilidades ou impedimentos absolutos, que não devem ser confundidas com incapacidades pessoais veja-se os arts. 76.º e 77.º deste EOA».Já as incompatibilidades ou impedimentos decorrem do exercício de outra actividade diferente da advocacia.Dentro das incompatibilidades ou impedimentos importa distinguir:

− Impedimentos: Incompatibilidades ou impedimentos relativosOs quais inibem da prática de todos os actos próprios da profissão em relação a certas as pessoas

− Incompatibilidades: Incompatibilidades ou impedimentos absolutosOs quais inibem da prática de todos os actos próprios da profissão em relação a todas as pessoas

É a defesa da independência e da dignidade da profissão que explica não só as incapacidades mas também os impedimentos relativos (ou simplesmente impedimentos) e os impedimentos absolutos (ou incompatibilidades).É para garantir a independência e a dignidade da profissão que o EOA não permite o exercício da advocacia, por exemplo, aos magistrados e funcionários que hajam sido demitidos, aposentados ou colocados na situação de inactividade por falta de idoneidade (incapacidade), ou aos

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Resumos de Deontologiamagistrados judiciais ou do MP (incompatibilidade) ou aos deputados à AR em assuntos contra o Estado (impedimento).É o que resulta do artigo 76.º EOA, o qual se insere no Capítulo II, que tem como epígrafe “Incompatibilidades e Impedimentos”, segundo o qual «1. O advogado exercita a defesa dos direitos e interesses que lhe sejam confiados sempre com plena autonomia técnica e de forma isenta, independente e responsável.2. O exercício da advocacia é inconciliável com qualquer cargo, função ou actividade que possam afectar a isenção, a independência e a dignidade da profissão.».A independência do Advogado traduz-se em plena liberdade perante o poder, a opinião pública, os tribunais e terceiros, não devendo o Advogado depender, em momento algum, de qualquer entidade.A dignidade do Advogado tem a ver com a sua conduta no exercício da profissão e no seu comportamento público, com a probidade e com a honra e a consideração pública que o Advogado deve merecer.O CDAE enuncia entre os Princípios Gerais da Profissão:

(2.1) – a independência;(2.2) – a confiança e integridade moral;(2.5) – as incompatibilidades

Quanto à independência, o 2.1. do CDAE «1 – A multiplicidade de deveres a que o Advogado está sujeito impõe-lhe uma independência absoluta, isenta de qualquer pressão, especialmente a que resultar dos seus próprios interesses ou de influências exteriores. Esta independência é tão necessária à confiança na justiça como a imparcialidade do juiz. O advogado deve, pois, evitar pôr em causa a sua independência e nunca negligenciar a ética profissional com a preocupação de agradar ao seu cliente, ao juiz ou a terceiros.2 – Esta independência é necessária em toda e qualquer actividade do advogado, independentemente da existência ou não de um litígio concreto, não tendo qualquer valor o conselho dado ao cliente pelo advogado, se prestado apenas por complacência, ou por interesse pessoal ou sob o efeito de uma pressão exterior».Este 2.1.2 marca bem a generalidade do princípio da independência.Quanto ao princípio da confiança e integridade moral, o 2.2 do CDAE estabelece que «As relações de confiança só podem existir se a honestidade, a probidade, a rectidão e a sinceridade do Advogado forem inquestionáveis. Para o Advogado, estas virtudes tradicionais são obrigações profissionais».Quanto ao princípio geral sobre as incompatibilidades, o 2.5 do CDAE dispõe que «1. Para permitir ao advogado exercer a sua função com a

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Resumos de Deontologiaindependência necessária e em conformidade com o seu dever de colaborar na administração da justiça, o exercício de certas profissões ou funções pode ser declarado incompatível com a profissão de Advogado.2. O Advogado que assegure a representação ou a defesa de um cliente num processo judicial ou perante qualquer autoridade pública de um EM de Acolhimento está sujeito às regras sobre incompatibilidades aplicáveis aos Advogados desse EM.3. O Advogado estabelecido num EM de Acolhimento que pretenda participar directamente numa actividade diferente da advocacia respeitará as regras relativas a incompatibilidades, tais como são as aplicadas aos advogados desse EM».O CDAE coincide, no essencial, com os princípios que norteiam o EOA.Fernando de Sousa Magalhães, art. 76.º EOA, pontos 3, 6, 7, 8 e 9«3. No campo das incompatibilidades e impedimentos concorrem de forma convergente os princípios deontológicos estruturantes da independência e da dignidade profissional, esta na perspectiva do interesse público inerente à função social da Advocacia.6. As incompatibilidades ou impedimentos absolutos inibem o Advogado da prática da profissão e determinam, caso seja superveniente à inscrição, a obrigação de suspensão, a qual deve ser requerida no prazo de 30 dias – vide art. 86.º n.º 1 al. d) EOA.7. Caso ocorra incompatibilidade ou impedimento absoluto à data do pedido de inscrição, deve esta ser rejeitada ao abrigo do art. 181.º n.º 1 al. d) do EOA.8. Os impedimentos ou impedimentos relativos apenas inibem a aceitação de certos patrocínios por razões de conflito de interesses, estando regulados no art. 78.º EOA.9. Diferentes das incompatibilidades e impedimentos são as incapacidades pessoais que impedem o exercício da profissão – cfr. art. 181.º n.º 1 als. a), b) e c) do EOA.».Segundo o art. 76.º n.º 4 «São nulas as estipulações contratuais bem como quaisquer orientações da entidade contratadora que restrinjam a isenção e a independência do advogado ou que, de algum modo violem os princípios deontológicos da profissão.»E o n.º 5 estabelece que «As incompatibilidades ou impedimentos são declarados e aplicados pelo Conselho Geral ou pelo conselho distrital que for o competente, o qual aprecia igualmente a validade das estipulações, orientações e instruções a que se refere o número anterior».

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Resumos de Deontologia

Vejamos agora as incompatibilidades…Dos artigos 76.º e 77.º resulta que as incompatibilidades estão enumeradas no art. 77.º a título meramente exemplificativo. Um pequeno parêntesis sobre esta problemática…Tem-se entendido que as incompatibilidades estão previstas na lei como excepções à regra constitucional da liberdade de trabalho e de exercício de uma profissão.Mesmo que se considerasse o art. 77.º EOA uma norma excepcional, o que é muito controvertido (!), certo é que as normas excepcionais não comportam aplicação analógica mas admitem interpretação extensiva.De qualquer modo hoje não pode haver dúvidas face ao advérbio “designadamente” constante do n.º 1 do art. 77.º EOA.

Dispõe o art. 77.º EOA que:«1. São, designadamente, incompatíveis com o exercício da advocacia os seguintes cargos, funções e actividades:

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Princípios Gerais

Defesa da Independência

Defesa da Dignidade da

FunçãoArt. 79.º

EOA

NulidadesEstipulações contratuais

Orientações que violem a deontologia profissional

Apreciada e declarada pelo Conselho Geral ou Distrital

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Resumos de Deontologiaa) Titular ou membro de órgão de soberania, os representantes da

República para as RA, os membros de Governo Regional das RA, os presidentes de câmara municipal e, bem assim, os respectivos adjuntos, assessores, secretários, funcionários, agentes ou outros contratados dos respectivos gabinetes ou serviços;

Fernando de Sousa Magalhães, art. 77.º pontos 2 e 3Em relação ao poder autárquico, a incompatibilidade é apenas quanto aos Presidentes de Câmara Municipal, ficando os vereadores, com ou sem atribuição de pelouros, os membros das assembleias municipais e de freguesia, e os membros de juntas de freguesias apenas incurso em situação de eventual impedimento.Subsiste a inexistência de incompatibilidade para os membros da AR…b) Membro do TC e os respectivos funcionários, agentes ou

contratados;c) Membro do Tribunal de Contas e os respectivos funcionários,

agentes ou contratados;d) Provedor de Justiça e os funcionários, agentes ou contratados do

respectivo serviço;e) Magistrado, ainda que não integrado em órgão ou função

jurisdicional;f) Governador civil, Vice-Governador civil e os funcionários,

agentes ou contratados do respectivo serviço;g) Assessor, administrador, funcionário, agente ou contratado de

qualquer tribunal;h) Notário ou conservador de registos e os funcionários, agentes ou

contratados do respectivo serviço;i) Gestor público;j) Funcionário, agente ou contratado de quaisquer serviço ou

entidades que possuam natureza pública ou prossigam finalidades de interesse público, de natureza central, regional ou local;

l) Membro de órgão de administração, executivo ou director com poderes de representação orgânica das entidades indicadas na alínea anterior;

m) Membro das Forças Armadas ou militarizadas;n) ROC ou TOC e os funcionários, agentes ou contratados do

respectivo serviço;o) Gestor judicial ou liquidatário judicial ou pessoa que exerça

idênticas funções;p) Mediador mobiliário ou imobiliário, leiloeiro e os funcionários,

agentes ou contratados do respectivo serviço;

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Resumos de Deontologiaq) Quaisquer outros cargos, funções e actividades que por lei sejam

consideradas incompatíveis com o exercício da advocacia.2. As incompatibilidades verificam-se qualquer que seja o título, designação, natureza e espécie de provimento ou contratação, o modo de remuneração e, em termos gerais, qualquer que seja o regime jurídico do respectivo cargo, função ou actividade, com excepção das seguintes situações:

a) Dos membros da AR bem como respectivos adjuntos, assessores, secretários, funcionários, agentes ou outros contratados dos respectivos gabinetes ou serviços;

b) Dos que estejam aposentados, reformados, inactivos, com licença ilimitada ou na reserva;

vínculo + actividade – porque se estiver aposentado, reformado, de licença já cai no âmbito do art. 78.º (impedimento). Só tem vínculo, não actividade.

A passagem a uma destas situações faz morrer a incompatibilidade mas pode fazer nascer o impedimento do art. 78.º N.º 2 EOA. Fernando Sousa Magalhães, art. 77.º EOA, ponto 13

«As incompatibilidades previstas … exigem actividade pelo que não abrangem os que se encontram aposentados, reformados, inactivos, com licença ilimitada ou na reserva»

c) Dos docentes;d) Dos que estejam contratados em regime de prestação de

serviçoFernando Sousa Magalhães art. 77.º ponto 4Da análise conjunta das als. b), c), d), f), g), h), j), n) e p) do n.º 1 com a al. d) do n.º 2 resulta que as incompatibilidades abrangem todos os funcionários, agentes e contratados, com excepção dos que estiverem em regime de prestação de serviços, pelo que constitui factor essencial a existência do vínculo ou subordinação emergente de contrato administrativo ou laboral.

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Resumos de Deontologia

3. É permitido o exercício da advocacia às pessoas indicadas nas als. j) e l) quando esta seja prestada em regime de subordinação e em exclusividade, ao serviço de quaisquer entidades previstas nas referidas alíneas…4. É ainda permitido o exercício da advocacia às pessoas indicadas nas als. j) e l) do n.º 1 quando providas em cargos de estruturas com carácter temporário…».

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Verificam-se

excepto

INDEPENDENTEMENTE

título, designação, natureza e espécie de provimento ou contratação, com excepção dos contratados em regime de prestação de serviços

modo de remuneração

regime jurídico do cargo, função ou actividade

Deputados e seus auxiliaresDocentesAposentados, reformados, inactivos, licença ilimitada ou reserva*Contratados em regime de prestação de serviços

Art. 77.º n.º 3 e 4

pessoas previstas nas als. j) e l) do n.º 1quando

A advocacia seja prestada em regime de subordinação e em exclusividade ao das entidades previstas nas als. j) e l)

OU

Quando as pessoas em causa estejam providas em cargos de entidades ou estruturas com carácter temporário sem prejuízo do disposto no estatuto pessoal dos serviços e organismos da administração central, local e regional do Estado.

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Resumos de DeontologiaOs arts. 77.º n.º 3 e 181.º n.º 2 EOA prevêem uma excepção às alíneas j) e l) do art. 77.º n.º 1 EOA pois permitem a estas pessoas o exercício da advocacia quando esta seja prestada em regime de subordinação e em exclusividade.NOTA: para mais desenvolvimentos sobre o art. 77.º n.ºs 3 e 4 cfr. “Direito Profissional do Advogado” de Orlando Guedes da Costa, págs. 188 a 194.

Segundo o artigo 80.º «1. É proibida a inscrição cumulativa na OA e na Câmara dos Solicitadores.2. É, porém, permitida a inscrição cumulativa durante a primeira fase de estágio…».Fernando Sousa Magalhães, art. 80.º pontos 3 e 4«3. A disposição do n.º 2 é inovadora, tendo sido acolhida na sequência da ponderação de que os Advogados Estagiários da 1.ª Fase de estágio ainda não podem praticar actos próprios da profissão – cfr. art. 188.º do EOA4. A inconciliabilidade entre as profissões de advogado e solicitador… constitui uma situação de verdadeira e própria incompatibilidade.». Segundo o art. 81.º EOA «As incompatibilidades e impedimentos criadas pelo presente Estatuto não prejudicam os direitos legalmente adquiridos ao abrigo de legislação anterior».

O art. 76.º n.º 5 EOA estabelece que «As incompatibilidades ou impedimentos são declarados e aplicados pelo Conselho Geral ou pelo conselho distrital que for o competente, o qual aprecia igualmente a validade das estipulações, orientações e instruções a que se refere o número anterior».E segundo o art. 79.º n.ºs 1 e 2 «Os Conselhos Distritais ou o Conselho Geral podem solicitar às entidades com quem os advogados possam ter estabelecido relações profissionais, bem como a estes, as informações que entendam necessárias para a verificação da existência da incompatibilidade.Não sendo tais informações prestadas, pelo advogado, no prazo de 30 dias contados da recepção do pedido, pode o Conselho Geral deliberar a suspensão da inscrição».Fernando Sousa Magalhães, art. 79.º pontos 1 e 2«1. O regime de verificação das incompatibilidades assenta no dever de comunicação pelos Advogados à OA com suspensão da inscrição ou pedido de emissão de parecer…2. Independentemente deste dever de comunicação, que a não ser cumprido faz os Advogados incorrer em responsabilidade disciplinar, pode a OA,

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Resumos de Deontologiapor sua iniciativa promover as diligências necessárias para a averiguação das eventuais incompatibilidades…».Cfr. art. 86.º n.º 1 al. d) EOA

7. Os impedimentos para o exercício da Advocacia.(Orlando Guedes da Costa, págs. 199 e 200)Quanto aos impedimentos ou impedimentos relativos, são aqueles inibem a prática de todos os actos próprios da profissão (apesar de o art. 78.º n.º 3 EOA apenas se referir ao mandato judicial) em relação a certas as pessoas:

− Por causa de certa função,− Ou por causa de certa dependência do Advogado

relativamente a tais pessoas,− Ou por causa de relações de parentesco, afinidade ou união

de facto com o Juiz da causa ou com o Advogado da parte contrária.

Segundo o art. 78.º n.º 1 «Os impedimentos diminuem a amplitude do exercício da advocacia e constituem incompatibilidades relativas do mandato forense e da consulta jurídica, tendo em vista determinada relação com o cliente, com os assuntos em causa ou por inconciliável disponibilidade para a profissão»Fernando Sousa Magalhães, art. 78.º ponto 1«1. Os impedimentos … resultam de circunstâncias concretas que devem levar os Advogados a recusar mandato ou prestação de serviços em função de conflito de interesses ou de decoro, já que o exercício da profissão deve ser livre, independente e adequado à dignidade da função – vide artigos 83.º e 84.º do EOA.»O n.º 4 deste artigo estabelece um mecanismo inovador segundo o qual «Havendo dúvida sobre a existência de qualquer impedimento, que não haja sido logo assumido pelo advogado, compete ao respectivo conselho distrital decidir».Quanto aos Deputados…O n.º 3 dispõe que «... estão impedidos, em qualquer foro, de patrocinar acções pecuniárias contra o Estado»Fernando Sousa Magalhães, art. 78.º pontos 3 e 4«3. José Magalhães Godinho … defende, em relação aos Deputados da AR, que se deve impedi-los, durante o período do seu mandato, de aceitar mandato e advogar contra o Estado, por si próprio, ou por intermédio do colega que com ele esteja associado, ou dos seus companheiros de escritório, mas ainda e em certas circunstâncias, de dar consultas ou pareceres, sobre quaisquer assuntos pendentes de qualquer resolução de qualquer departamento governamental, ministérios, secretarias …4 Não obstante a ausência de referência expressa, deve entender-se:

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Resumos de Deontologia− Que os Deputados da AR estão impedidos de advogar

contra o Estado,− Que os Deputados às Assembleias Regionais não podem

patrocinar acções contra as RA,− Que os Vereadores não podem intervir em acções em que

sejam parte os respectivos municípios….»8. O trajo profissional.(Orlando Guedes da Costa, págs. 213 a 215)Segundo o art. 69.º EOA «1. O uso da toga é obrigatório para os Advogados e para os Advogados Estagiários, quando pleiteiem oralmente.2. O modelo do trajo profissional é o fixado pelo Conselho Geral».O trajo profissional está disciplinado no Regulamento do Trajo e Insígnia – Regulamento n.º 31/ 2006.Segundo o n.º 1 deste Regulamento «O trajo profissional do Advogado ou Advogado Estagiário compõem-se da toga e do barrete.»O art. 2.º refere-se à toga (de cor preta) e o art. 3.º ao barrete (também preto).O art. 4.º dispõe que «É obrigatório para o Advogado e para o Advogado Estagiário, quando pleiteiem oralmente, o uso da toga, e facultativo, o do barrete».Assim constitui um dever e não apenas um direito o uso da toga pelos Advogados, ao contrário do que acontece noutras legislações como a francesa.O mesmo não acontece quanto aos outros acessórios do trajo profissional, como o barrete e a insígnia cujo uso é facultativo.O art. 5.º deste Regulamento consagra um “dever de zelo” ao estabelecer que «É dever do Advogado e do Advogado Estagiário, sob pena de procedimento disciplinar, zelar pela completa compostura e asseio do trajo profissional».

Regulamento do CG de 17 de Fevereiro de 2006

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Barrete(facultativo) TOGA

Uso obrigatório para os Advogados e Advogados Estagiários quando pleiteiam oralmente

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Resumos de DeontologiaOs magistrados usam beca e os funcionários de justiça usam capa.O ponto 4.1 CDAE dispõe que «O Advogado que se apresente ou participe num procedimento perante uma autoridade judicial ou Tribunal, terá de observar as regras deontológicas aplicáveis nessa jurisdição». E por isso mesmo também às regras deontológicas sobre o trajo profissional – 199.º n.º 1 EOA.

9. A discussão pública de questões profissionais; a publicidade.(Orlando Guedes da Costa, págs. 217 a 229)Segundo o art. 89.º EOA «1. O Advogado pode divulgar a sua actividade profissional de forma:

− Objectiva,− Verdadeira− E digna

No rigoroso respeito:− dos deveres deontológicos,− do segredo profissional− e das normas legais sobre publicidade e

concorrência».O n.º 5 deste artigo diz que estas disposições «… são aplicáveis ao exercício da advocacia quer a título individual quer às sociedades de advogados».

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Publicidade comparativa

propagandística tipo mercantil

NÃO

Publicidade

Art. 89.º EOA Pontos 2.6.1. e 2.6.2 C.D.A.E.

Publicidade Informativa* SIM

- deveres deontológicos- Segredo profissional- Regime legal da publicidade e concorrência

limites

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Resumos de Deontologia

* é ilícito tudo o que sai fora disto…

Fernando Sousa Magalhães, art. 89.º EOA, ponto 4« Não obstante a evidente liberalização do regime legal da publicidade dos Advogados permanece inalterada a barreira entre a publicidade informativa, pessoal e profissional e a publicidade de tipo comercial ou propagandística, comparativa e tendencialmente enganosa, sendo aquela lícita e esta ilícita, barreira essa que se impõe por exigência de decoro e da dignidade da profissão».Segundo o n.º 2 deste artigo «Entende-se, nomeadamente, por informação objectiva:

a) a identificação pessoal, académica e curricular do Advogado ou sociedade de advogados;

b) o número de cédula profissional ou de registo da sociedade;

c) a Morada do escritório principal e as moradas de escritórios noutras localidades;

d) a Denominação, o logótipo ou outro sinal distintivo do escritório;

e) a indicação das áreas ou matérias jurídicas de exercício preferencial;

f) a referência à especialização se previamente reconhecida pela Ordem dos Advogados;

g) os cargos exercidos na Ordem dos Advogados;h) os colaboradores profissionais efectivamente integrados no

escritório do advogado;i) o Telefone, o fax, o correio electrónico e outros elementos

de comunicação de que disponha;j) o horário de atendimento ao público;l) as línguas ou idiomas, falados ou escritos;m) a indicação do respectivo site;n) a colocação, no exterior do escritório, de uma placa ou

tabuleta identificativa da sua existência.

Informação objectiva autorizadaAdvogados e Sociedades

Identificação pessoal,

académica e curricular

Cédula profissional,

registo da sociedade

Morada do escritório principal e secundário

Denominação, logótipo e outros sinais distintivos

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Resumos de DeontologiaÁreas de exercício

preferencial

Especialidade reconhecida pela

Ordem dos Advogados

Cargos exercidos na Ordem dos

Advogados

Identificação dos colaboradores profissionais

Telefone, fax, e-mail, site, etc.

Horário de atendimento ao

público

Línguas e idiomas falados

e escritos

Placa e tabuleta identificativa no

exterior

O n.º 3 enumera, exemplificativamente, quais os Actos lícitos de Publicidade.

Área preferencial de

actividade

Cartões para informação objectiva

Indicação da qualidade de

Advogado em listas, fax, etc.

Publicação de informações

sobre dados do escritório

Nota curricular breve em anuários

profissionais

Promoção e intervenção em conferências e

colóquios***

Brochuras, circulares e

escritos sobre temas jurídicos

Menção a assuntos

profissionais sem referência

do cliente (mesmo que com

autorização do cliente)

Cargos públicos, privados e empregos

Composição e estrutura do escritório

Inclusão de fotografia

Ilustração e logótipos adoptados

E o n.º 4 consagra um elenco não taxativo de Actos ilícitos de publicidade

Colocação de conteúdos persuasivos,

ideológicos de auto-engrandecimento e de

comparação

Referência a valores de serviços, gratuitidade

ou forma de pagamento

Menção à qualidade do escritório

Prestação de informações erróneas

ou enganosas

Promessa ou indução da produção de

resultados

Uso de publicidade directa não solicitada(daí o Advogado não poder enviar CV para

fora)

NOTA: sobre a “Publicidade do Advogado e o Exercício especializado da Advocacia” cfr. págs. 221 a 228

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Resumos de DeontologiaQuanto à Publicidade Pessoal do Advogado no CDAE…(Orlando Guedes da Costa, págs. 228 e 229)Procedeu-se a alterações no sentido de esta ser mais permitida, de uma maior abertura…Assim, o ponto 2.6 dispõe que «1. O Advogado pode informar o público dos serviços por si oferecidos, desde que tal informação seja verdadeira, objectiva, não induza em erro e respeite a obrigação de confidencialidade e outros deveres deontológicos essenciais.2. É permitida a publicidade pessoal do Advogado através de qualquer meio de comunicação, nomeadamente a imprensa, rádio televisão, meios electrónicos ou outros, na medida em que cumpra os requisitos definidos no artigo 2.6.1.».

Quanto à discussão pública de questões pendentes ou a instaurar perante quaisquer órgãos do Estado(Orlando Guedes da Costa, págs. 229)Artigo 88.º n.º 1 «O Advogado não deve pronunciar-se publicamente, na imprensa ou noutros meios de comunicação social, sobre questões profissionais pendentes.».No entanto, o n.º 2 deste artigo dispõe que «2. O Advogado pode pronunciar-se, excepcionalmente, desde que previamente autorizado pelo presidente do Conselho Distrital competente, sempre que o exercício desse direito de resposta se justifique, de forma a prevenir ou remediar a ofensa à dignidade, direitos e interesses legítimos do cliente ou do próprio3. O pedido de autorização é devidamente justificado e indica o âmbito possível das questões sobre que entende dever pronunciar-se.4. O pedido de autorização é apreciado no prazo máximo de 3 dias, considerando-se tacitamente deferido na falta de resposta, comunicada, naquele prazo, ao requerente.5. Da decisão do presidente do conselho distrital que indefira cabe recurso para o Bastonário, que decide, no mesmo prazo.6. …»Fernando Sousa Magalhães, art. 88.º ponto 1«1. O fenómeno da mediatização da Justiça, gerador de uma perversa promiscuidade do poder judicial com o poder da comunicação social e tornando apetecível a “instrumentalização dos “mass media” como forma de influência na acção da justiça, que deve ser serena e isenta de qualquer tipo de pressão, vem justificando sucessivas reformas das normas estatutárias destinadas a disciplinar a discussão pública pelos Advogados das questões que lhes estão confiadas…»

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Resumos de Deontologia

Regime do Art. 88.º EOA

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Discussão Pública de Questões Profissionais

Art. 88.º EOA

Dignidade da Profissão (exige-se descrição…)

Perturbação da acção da justiça (mediatização

excessiva(!))

Sigilo Profissional

Publicidade Ilícita

Direito de Resposta

Justificado

Defesa da dignidade, direitos e interesses legítimos do cliente ou do próprio advogado

Autorização Prévia ao Presidente do

CD da AO. Decisão em 3 dias.

O silêncio dá origem a um acto

tácito de deferimento.

Urgência

Informação posterior no prazo de 5 dias ao Presidente do CD da

OA

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