demanda de energia na indústria brasileira: efeitos da eficiência

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Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” Demanda de energia na indústria brasileira: efeitos da eficiência energética Marlon Bruno Salazar Tese apresentada para obtenção de Titulo de Doutor em Ciências. Área de Concentração: Economia Aplicada Piracicaba 2012

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  • Universidade de So Paulo

    Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

    Demanda de energia na indstria brasileira: efeitos da eficincia energtica

    Marlon Bruno Salazar

    Tese apresentada para obteno de Titulo de Doutor em

    Cincias. rea de Concentrao: Economia Aplicada

    Piracicaba

    2012

  • Marlon Bruno Salazar

    Bacharel em Cincias Econmicas

    Demanda de energia na indstria brasileira: efeitos da eficincia energtica verso revisada de acordo com a resoluo CoPGr 6018 de 2011

    Orientador:

    Prof. Dr. ROBERTO ARRUDA DE SOUZA LIMA

    Tese apresentada para obteno de Titulo de Doutor em

    Cincias. rea de Concentrao: Economia Aplicada

    Piracicaba

    2012

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao DIVISO DE BIBLIOTECA - ESALQ/USP

    Salazar, Marlon Bruno Demanda de energia na indstria brasileira: efeitos da eficincia energtica / Marlon

    Bruno Salazar. - - verso revisada de acordo com a resoluo CoPGr 6018 de 2011. - - Piracicaba, 2012.

    93 p. : il.

    Tese (Doutorado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2012.

    1. Demanda energtica 2. Energia - Eficincia 3. Indstria - Brasil I. Ttulo

    CDD 338 S161d

    Permitida a cpia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte O autor

  • 3

    DEDICO

    Aos meus pais, que muito me apoiaram em todos

    os momentos de minha vida e a minha esposa

    Joyce que nos quase trs anos de casados me fez

    pensar como vivi tanto tempo sem ela do meu

    lado.

  • 4

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente a DEUS, por me mostrar sempre o melhor caminho a seguir e colocar em

    minha vida pessoas maravilhosas que sempre pude contar.

    Aos meus pais e irmos pelo carinho e a certeza na vida que nada mais importante que a

    famlia.

    Agradeo tambm a minha esposa Joyce pelo amor despendido, sua ateno e apoio nos

    momentos mais crticos e difceis dessa nossa caminhada.

    Ao meu orientador, Roberto, que desde a nossa primeira conversa confiou em mim,

    principalmente quando me ausentei de Piracicaba para poder casar e comear a trabalhar.

    Aos amigos de Piracicaba, em especial meu padrinho Jernimo, Inocncio, Bruno, Neto,

    Gilberto Fraga, Gilberto Fernandes e Maria.

    Aos professores e funcionrios do Departamento de Economia da ESALQ/USP, em especial a

    Maielli pelas incontveis vezes que me orientou da forma mais correta possvel.

    A todos que diretamente ou indiretamente contriburam para minha formao e a pessoa que

    me tornei.

  • 6

  • 7

    Os que crem que a culpa de nossos males est em nossas estrelas e no em ns

    mesmos ficam perdidos quando as nuvens encobrem o cu.

    Roberto Campos

  • 8

  • 9

    SUMRIO

    RESUMO .............................................................................................................................. 11

    ABSTRACT .......................................................................................................................... 13 LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... 15

    LISTA DE TABELAS ...............17 1 INTRODUO .................................................................................................................. 19

    1.1 Consideraes Iniciais ...................................................................................................... 19 1.2 Problema e sua Importncia.............................................................................................. 25 1.3 Objetivos .......................................................................................................................... 28 1.3.1 Objetivo Geral ............................................................................ ..................................................28 1.3.2 Objetivos Especficos ................................................................................................................. 28 2 REFERNCIAL TERICO ................................................................................................ 29

    2.1 Teoria dos Custos ............................................................................................................ 29 2.1.1 Custos no Curto Prazo ................................................................................................................ 30 2.1.2 Custo no Longo Prazo ................................................................................................................ 32 2.2 Modelos Empricos de Demanda de Energia.................................................................... 34

    3 REFERENCIAL ANALTICO ........................................................................................... 39 3.1 Decomposio da Intensidade Energtica ......................................................................... 39 3.1.1 Mtodos de Decomposio ........................................................................................................ 40 3.1.2 Atribuies desejveis para os Mtodos de Decomposio.......................................................... 49 3.1.3 Comparao entre Mtodos de Decomposio ............................................................................ 52 3.2 Modelo de Cointegrao................................................................................................... 54 3.2.1 Estacionariedade ........................................................................................................................ 54 3.2.2 Teste de Raiz Unitria ................................................................................................................ 55 3.2.3 Co-integrao de Johansen ......................................................................................................... 57 3.2.4 Modelo Auto-Regressivo Vetorial (VAR) .................................................................................. 59 3.3 Fonte de Dados ................................................................................................................ 60 4 RESULTADOS .................................................................................................................. 63

    4.1 Decomposio do Consumo de Energia e Intensidade Energtica ..................................... 63 4.1.1 Decomposio do Consumo de Energia ...................................................................................... 63 4.1.2 Decomposio da Intensidade Energtica ............................................................................... ....68 4.2 Funo de Demanda de Energia na Indstria Brasileira .................................................... 72 4.3 Determinantes da Intensidade Energtica na Indstria ...................................................... 78 5 CONCLUSO E CONSIDERAES FINAIS .................................................................. 87

    REFERNCIAS .................................................................................................................... 89

  • 10

  • 11

    RESUMO

    Demanda de energia na indstria brasileira: efeitos da eficincia energtica

    A conservao de energia, mais precisamente a eficincia energtica, vem ganhando

    importncia nos ltimos anos no Brasil e no mundo em funo dos impactos ambientais que o

    uso intensivo de energia gera ao meio ambiente e pelo fato de a oferta de energia,

    principalmente as derivadas de fontes no renovveis, estar se tornando cada vez mais

    escassa. Estudos que abordam os impactos que os ganhos de eficincia podem gerar em

    termos de custos e na conservao de energia e, por conseguinte, na diminuio dos efeitos da

    atividade industrial no meio ambiente vem ganhando importncia. Este trabalho teve como

    motivao principal determinar o impacto da Eficincia Energtica na demanda de energia da

    indstria brasileira. Para isso utilizaram-se duas metodologias complementares para dissertar

    a respeito do tema. Primeiramente, a intensidade energtica foi decomposta em dois efeitos

    distintos, Efeito Intensidade e Efeito Estrutural. Os resultados encontrados sugerem que o

    Efeito Intensidade foi o principal responsvel pela perda de Eficincia no consumo de energia

    pela indstria. Como o Efeito Intensidade uma importante proxy para a Eficincia

    Energtica, buscou-se determinar o impacto desta no consumo de energia pela industria

    brasileira. Outras variveis tambm foram utilizadas para compor a funo de demanda de

    energia, como PIB industrial, preos mdios ponderados das diferentes fontes de energia e o

    nvel de salrios pagos na indstria. Os resultados encontrados sugerem que um aumento de

    1% no Efeito Intensidade tem impacto de 0,297% no consumo de energia industrial.

    Procurou-se tambm neste trabalho buscar os determinantes da Eficincia Energtica. Para tal,

    utilizou-se como variveis explicativas a Formao Liquida de Capital Fixo como proxy dos

    investimento feitos pela indstria, a Utilizao da Capacidade Instalada como um indicador

    de excesso ou de subutilizao do parque industrial e por fim a Taxa de Cmbio Real, dado

    que a maior parte dos setores energo-intensivos industriais tambm se caracterizam pela forte

    abertura ao comrcio exterior. Os resultados encontrados sugerem que o aumento na

    Utilizao da Capacidade Instalada implica na perda de Eficincia Energtica. Por outro lado,

    aumento na Formao Liquida de Capital Fixo contribui para a reduo do Efeito Intensidade

    que implica aumento na utilizao eficiente de energia. Concluiu-se que o aumento da Taxa

    de Investimento na economia, alm de aumentar a Eficincia Energtica na indstria, tambm

    responsvel por reduzir o consumo de energia e assim beneficiar o prprio setor industrial

    atravs da reduo de custos como tambm toda a sociedade atravs dos benefcios que a

    reduo da produo de energia pode gerar no meio ambiente e na poupana de recursos no

    renovveis.

    Palavras-chave: Efeito intensidade; Eficincia energtica; Demanda de energia industrial

  • 12

  • 13

    ABSTRACT

    Energy demand of brazilian industry: effects of energy efficiency

    The conservation of energy, specifically energy efficiency is gaining importance lately

    in Brazil and the world due environmental impacts that intensive use of energy generates to

    the environment and for the fact that the supply of energy, mainly derived from non-

    renewable sources, is becoming increasingly scarce. Studies which approach the impacts that

    efficiency gains can generate in terms of cost and energy conservation and, therefore, to

    reduce the effects of industrial activity on the environment are gaining importance. This work

    had as its main motivation to determine the impact of energy efficiency in energy demand of

    Brazilian industry. For this we used two complementary methodologies to discourse on the

    subject. First, the energy intensity was decomposed into two distinct effects: Intensity effect

    and Structural effect. The results suggest that the Intensity effect was mainly responsible for

    the loss of efficiency in energy used by industry. As the Intensity Effect is an important proxy

    for the Energy Efficiency, we attempted to determine the impact of energy consumption in

    Brazilian industry. Other variables were also used to compose the function of energy demand,

    such as industrial GDP, weighted average prices of different energy sources and the level of

    salaries paid in the industry. The results suggest that a 1% increase in the intensity effect has

    an impact of 0.297% in industrial energy consumption. We also sought to pursue the

    determinants of Energy Efficiency. For this purpose, we used as explanatory variables the Net

    Fixed Capital Formation as a proxy of the investment made by the industry, the Use of

    Installed Capacity as an indicator of excess or industrial underused and finally the Real

    Exchange Rate, as most energy-intensive industrial sectors are also characterized by a strong

    opening to foreign trade. The results suggest that increased use of installed capacity implies

    the loss of energy efficiency. On the other hand, increase in Net Fixed Capital Formation

    contributes to the reduction of the Intensity Effect which implies an increase in the efficient

    use of energy. It was concluded that the increased Rate of Investment in the economy, besides

    increasing the Energy Efficiency in industry, is also responsible for reducing energy

    consumption and thus benefit the industrial sector itself by reducing costs as well as the whole

    society through the benefits that the reduction of energy production can have on the

    environment and saving non-renewable resources.

    Keywords: Intensity effect; Energy efficiency; Industrial energy demand

  • 14

  • 15

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Consumo de Energia Primria por Fonte. ................................................................. 20

    Figura 2 Consumo Energtico por Setor. ................................................................................ 21

    Figura 3.a Consumo de Energia na Indstria por Setor ........................................................... 23

    Figura 3.b Consumo de Energia na Indstria por Setor. ......................................................... 23

    Figura 4 Intensidade Energtica na Indstria. UNIDADE: tep/106 US$. ............................... 24

    Figura 5 - Efeito principal e contribuies dos fatores x e y. ................................................... 43

    Figura 6 Decomposio do Consumo de Energia na Indstria em tep entre 1970

    2008. Fonte: Dados da pesquisa. ........................................................................... 64

    Figura 8 Decomposio da Intensidade Energtica na Indstria em tep/milhes de

    dlares, entre 1970 2008. Fonte: Dados da Pesquisa. ........................................ 69

    Figura 9 Decomposio da Intensidade Energtica na Indstria em ndice, entre 1970

    2008. Fonte: Dados da Pesquisa. ........................................................................ 70

    Figura 10 Intensidade Energtica nos principais setores Energo-Intensivos

    industriais, entre 1970 e 2008. Fonte de dados: BEN (2008). ............................... 71

    Figura 11 Taxa de Investimento em proporo do PIB e Taxa de Utilizao da

    Capacidade Instalada na Indstria. Fonte: IPEADATA. ....................................... 79

    Figura 12 Relao entre Taxa de Investimento e ndice do Efeito Intensidade.

    Fonte: IBGE e Dados da pesquisa. ....................................................................... 85

  • 16

  • 17

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Consumo de Energia no Setor Industrial. Participao por fonte, em %. ........... 21

    Tabela 2 Teste de Fundamentao Terica para ndices de Decomposio............................ 52

    Tabela 3a Teste de Raiz Unitria ADF para as sries Consumo de Energia

    Industrial, PIB Industrial, Preos ponderados de energia, Salrios na

    indstria e Intensidade Energtica. ........................................................................ 73

    Tabela 3b Teste de Raiz Unitria DF-GLS para as sries Consumo de Energia

    Industrial, PIB Industrial, Preos ponderados de energia, Salrios na

    indstria e Intensidade Energtica. ........................................................................ 74

    Tabela 4 Estrutura de defasagem do modelo VAR(p). ............................................................ 75

    Tabela 5 Teste de Cointegrao entre as sries: Consumo de Energia Industrial, PIB

    Industrial, Preos ponderados de energia, Salrios na indstria e

    Intensidade Energtica, assumindo tendncia determinstica linear, sem

    nenhum lag. ........................................................................................................... 75

    Tabela 6 Determinantes da Demanda de Energia pela Indstria. ............................................ 76

    Tabela 7 Coeficiente de Abertura Liquida setores e perodos selecionados. .......................... 80

    Tabela 8a Teste de Raiz Unitria ADF para as sries Capacidade Instalada da

    Indstria, Formao Liquida de Capital Fixo, Intensidade Energtica e Taxa

    de Cmbio Real. .................................................................................................... 81

    Tabela 8b Teste de Raiz Unitria GLS-DF para as sries Capacidade Instalada da

    Indstria, Formao Liquida de Capital Fixo, Intensidade Energtica e Taxa

    de Cmbio Real. .................................................................................................... 82

    Tabela 9 - Estrutura de defasagem do modelo VAR(p). ............................................................ 83

    Tabela 10 Teste de Cointegrao (Trao) entre as sries: Intensidade Energtica,

    Capacidade Instalada na Indstria, Formao Liquida de Capital Fixo e Taxa

    de Cmbio, no utilizando tendncia e lag. .......................................................... 83

    Tabela 11 Determinantes da Intensidade Energtica na Indstria. .......................................... 84

  • 18

  • 19

    1 INTRODUO

    1.1 Consideraes Iniciais

    O consumo de energia um dos principais indicadores do desenvolvimento

    econmico e social de qualquer sociedade. Ele reflete tanto o ritmo de atividade nos setores

    industrial, comercial e de servios, quanto a capacidade da populao para adquirir bens e

    servios tecnologicamente mais avanados, como automveis (que demandam combustveis),

    eletrodomsticos e eletroeletrnicos (que exigem acesso rede eltrica e pressionam o

    consumo de energia eltrica) (ANEEL, 2008).

    O desenvolvimento econmico e social um dos principais fatores que explicam o

    aumento de consumo de energia. Contudo outros fatores so importantes para a anlise, entre

    eles se destaca o crescimento da populao indicador obtido tanto pela comparao entre as

    taxas de natalidade e mortalidade quanto pela medio de fluxos migratrios. No Brasil, entre

    2000 e 2005, a taxa de crescimento populacional teve uma tendncia de queda relativa,

    registrando variao mdia anual de 1,46% (IBGE, 2010).

    Dados do Balano Energtico Nacional (BEN, 2008) e do Ministrio de Minas e

    Energia, mostram que no perodo de 1970 a 2007, de maneira geral, a tendncia tem sido de

    expanso do consumo global de energia (o que abrange derivados de petrleo, gs natural,

    energia eltrica, entre outros). De 1990 a 2007, o crescimento acumulado foi de 69%, com o

    consumo total passando de 127,596 milhes de tep1 para 215,565 milhes de tep.

    Os derivados de petrleo so as principais fontes energticas utilizadas no pas (Figura

    1), comportamento esse verificado ao longo dos ltimos anos. Se somados leo diesel,

    gasolina e GLP (gs liquefeito de petrleo), o consumo atingiu 76,449 milhes de tep, diante

    de um consumo total de 201,409 milhes de tep. Valor, portanto, superior, ao da energia

    eltrica, que atingiu 35,443 milhes de tep (EPE, 2009).

    1 Tonelada Equivalente de Petrleo, 1 tep = 41,85 GJ.

  • 20

    Figura 1 Consumo de Energia Primria por Fonte

    Fonte: EPE, 2009. Adaptado pelo autor.

    A Figura 1 mostra participao relativamente constante dos produtos derivados de

    petrleo na matriz energtica brasileira, enquanto que Eletricidade, Bagao de Cana e Gs

    Natural vem ganhando participao ao longo dos ltimos 30 anos. Lenha a fonte energtica

    que mais perdeu participao ao longo do tempo, em 1970 esta fonte detinha mais de 40% da

    matriz brasileira, em 2008 a participao se reduziu a 7,4%.

    Entre os setores que mais consomem energia destaca-se a Indstria. O setor industrial

    vem aumentando sua participao no consumo energtico brasileiro, passando de uma

    participao de 27,7% em 1970 para 36,4% em 2008 (Figura 2). Os setores de transportes e

    residencial tambm apresentam expressivo consumo, contudo este ltimo vem perdendo

    participao na matriz energtica ao longo do perodo analisado, participao esta que j

    chegou a 35,5% em 1970 e em 2008 no ultrapassou os 10%.

  • 21

    Figura 2 Consumo Energtico por Setor

    Fonte: EPE, 2009. Adaptado pelo autor.

    Outro importante setor a ganhar participao na matriz energtica brasileira o setor

    Energtico, principal responsvel pela produo trmica de energia eltrica, viu sua

    participao na matriz de consumo de energia passar de 2,5% em 1970 para 10,8% em 2008.

    O consumo de energia para produo de eletricidade nas usinas termoeltricas saltou de 200

    mil/tep para 3082 mil/tep, o que representa um crescimento de mais de 15 vezes.

    Tendo em vista que a Indstria, mesmo perdendo participao no PIB brasileiro, como

    pode ser constatada por dados do IBGE (2008), passando de 35% do PIB em 1970 para 25%

    em 2008, aumentou o consumo relativo de energia. Esse maior consumo pode ser divido por

    fontes, como apresentado na Tabela 1.

    Tabela 1 Consumo de Energia no Setor Industrial. Participao por fonte, em %

    Fontes de Energia 1970 1980 1990 2000 2008

    GS NATURAL 0,0 0,9 3,2 6,3 10,3

    CARVO MINERAL 0,4 1,3 2,3 4,6 4,7

    LENHA 24,0 9,3 12,4 8,7 7,9

    BAGAO DE CANA 17,8 12,8 10,5 12,8 18,7

    OUTRAS FONTES PRIM. RENOVVEIS 0,8 2,0 3,4 4,9 6,4

    LEO COMBUSTVEL 30,3 34,7 15,6 11,6 4,8

    GS DE COQUERIA 1,0 1,3 2,0 1,5 1,3

    COQUE DE CARVO MINERAL 6,8 8,5 11,8 10,6 8,1

    ELETRICIDADE 9,8 15,7 22,2 20,6 20,6

    CARVO VEGETAL 6,4 9,0 12,5 7,1 6,8

    OUTRAS 2,7 4,5 4,1 11,2 10,4

    Fonte: BEN (2009).

  • 22

    Destaca-se o aumento da participao do Gs Natural e Eletricidade. O Gs Natural,

    que em 1970 no tinha expressividade no consumo da Indstria, teve sua participao

    aumentada consideravelmente nos ltimos anos, principalmente aps a importao de Gs

    proveniente da Bolvia pela Petrobras, por meio da GASBOL, gasoduto que liga a Bolvia ao

    Brasil.

    A eletricidade foi a fonte de energia que mais ganhou participao na matriz de

    consumo da Indstria, mais que dobrando sua participao no perodo de 1970 a 2008. De

    acordo com o Plano Nacional de Energia 2030 (EPE, 2007c) o consumo de energia eltrica

    pela Indstria deve crescer a uma taxa de 3,7% ao ano at 2030.

    A principal perda de participao no consumo de energia pelo setor industrial ficou

    com a Lenha e o leo Combustvel. Em 1970, Lenha e leo detinham juntos mais de 50%

    das fontes de energia da indstria; j em 2008, as duas fontes no somavam 13%.

    Praticamente no houve alterao com relao a participao de fontes renovveis e no-

    renovveis na Indstria. Em 1970, 58,5% da matriz de consumo provinham de fontes

    renovveis, percentual esse que se manteve praticamente igual em 2008, ou seja, 60,5%.

    Com relao aos setores industriais, estes podem ser divididos em energo-intensivos e

    no energo-intensivos. Garcia et al. (2005) definem a indstria energo-intensiva como aquela

    composta de segmentos industriais cujo consumo individual de energia supera 2% do total

    consumido pelo setor industrial, ou pelos setores cujas razes despesa com energia/custo

    operacional ou despesa com energia/valor adicionado superam 7,5%.

    Por outro lado, EPE (2007a) define a indstria energo-intensiva com relao a trs

    diferentes critrios, intensidade energtica, consumo especfico de energia e participao do

    segmento no consumo total de energia.

    Por intensidade energtica pode-se entender como razo entre o consumo agregado de

    energia e o Produto Interno Bruto. Pelo critrio anteriormente citado, em geral, setores

    industriais energo-intensivos so aqueles que possuem alta intensidade energtica. Consumo

    especfico de energia entende-se como razo entre o consumo agregado de energia e a

    quantidade fsica de produto no setor.

    EPE (2007b) destaca que levando em considerao os trs critrios, pode-se definir

    como setores energo-intensivos em energia: alimentos e bebidas, papel e celulose, ferro-gusa

    e ao, ferro-ligas, minerao e pelotizao, metais no-ferrosos e outros da metalurgia e

    qumica. Cimento, cermica, txtil e outras indstrias foram classificados no grupo demais

    indstrias.

  • 23

    As Figuras 3.a e 3.b destacam a participao dos setores energo-intensivos na matriz

    de consumo energtico da Indstria nos anos de 1970 e 2008. Em 1970, 69% da energia

    consumida referiam-se a setores energo-intensivos (alimentos e bebidas, papel e celulose,

    ferro-gusa e ao, ferro-ligas, minerao e pelotizao, metais no-ferrosos e outros da

    metalurgia e qumica). Em 2008, 80% do consumo de energia provinha dos setores energo-

    intensivos.

    Figura 3.a Consumo de Energia na Indstria por Setor

    Figura 3.b Consumo de Energia na Indstria por Setor

    Adaptado pelo autor. Fonte: EPE, 2009.

  • 24

    Como destaca EPE (2007b), a dinmica dos subsetores que compem o segmento

    Industrial contribuiu para as modificaes na estrutura de consumo de energia no perodo.

    Setores mais intensivos em energia, como os segmentos de ferro-gusa e ao, papel e celulose,

    no ferrosos e outros da metalurgia, e ferro-ligas apresentaram forte expanso no perodo.

    Analisando a evoluo nos ltimos 30 anos, observa-se que houve uma reduo da

    participao dos setores de alimentos e bebidas, cimento e cermica no consumo energtico

    do setor industrial. Em contrapartida, os setores de ferro-gusa e ao, minerao e pelotizao,

    papel e celulose e no ferrosos e outros metais ganharam participao.

    A Figura 4 mostra a evoluo da Intensidade Energtica da Indstria no perodo 1970

    a 2008. A Intensidade Energtica aumentou de 1970 a 2003, diminuindo desde ento para

    nveis prximos ao ano de 1998.

    Figura 4 Intensidade Energtica na Indstria. UNIDADE: tep/106 US$

    2

    Fonte: BEN (2008).

    2 Razo entre Consumo de energia e PIB.

  • 25

    1.2 Problema e sua Importncia

    Como observa Alves (2007), o conceito de eficincia energtica pode ser tratado como

    o uso da menor quantidade de energia possvel para o fornecimento de um determinado

    produto ou servio. A eficincia energtica pode ser medida a partir de diferentes indicadores,

    em funo do equipamento, processo, tecnologia ou servio estudado, mas sua unidade pode

    ser expressa basicamente como unidade de produto e servio por unidade de energia.

    O inverso da eficincia energtica a intensidade energtica, que pode ser expressa

    como a quantidade de energia por unidade de produto ou servio. No Brasil, utilizam-se

    principalmente os indicadores de intensidade energtica para medir a eficincia.

    (1.1)

    (1.2)

    Contudo, a construo de um serie histrica com os ndices obtidos nas equaes (1.1)

    e (1.2) pode incorporar diversas informaes relevantes que devem ser decompostas nos

    chamados Efeito Estrutural e Efeito Intensidade3.

    O Efeito Estrutural refere-se ao tamanho total do setor/segmento na demanda total de

    energia, o que se relaciona ao nvel de atividade de cada setor/segmento de acordo com o

    crescimento do PIB bem como da estrutura setorial, ou seja, o Efeito Estrutura est

    relacionado com a relao entre setores energo-intensivos e suas respectivas participaes no

    produto industrial.

    O Efeito Intensidade definido como o percentual de ganho relativo de eficincia ao

    se adotar maior participao de uma dada fonte energtica mais eficiente (por exemplo, gs

    natural para gerao de vapor em substituio ao leo combustvel) ou por substituio

    tecnolgica, ou ainda, atravs de mudanas de procedimento (hbitos de uso, especificao

    correta de equipamentos ou de equipamentos mais eficientes, dimensionamento de sistemas,

    manuteno adequada, gesto energtica etc.).

    Diversos trabalhos nacionais e internacionais utilizaram esta metodologia para

    decompor a Intensidade Energtica para o setor industrial. Motta e Arajo (1989)

    decompuseram as variaes de consumo industrial de energia separadamente para energia

  • 26

    eltrica, leo combustvel e outros combustveis para permitir relacionar os principais

    aspectos do crescimento econmico e as polticas energticas.

    Howarth, Schipper and Andersson (1993) decompuseram o consumo de energia

    industrial para cinco pases da OECD entre os anos de 1973 a 1988, chegando concluso

    que mudanas na estrutura dos pases analisados tiveram importantes impactos na relao

    consumo de energia/PIB, mudanas essas independentes de alteraes na utilizao de

    tcnicas mais eficientes de produo e utilizao de energia.

    Greening et. al (1997) utilizaram seis mtodos diferentes de decomposio de

    intensidade agregada de energia para o setor industrial de 10 pases da OECD entre os anos de

    1970 e 1992. Os autores chegaram concluso de que a maior parte da mudana na

    intensidade energtica pode ser explicada pelo Efeito Intensidade, entretanto mudanas de

    produo setoriais, ou seja, Efeito Estrutural, tambm se mostraram importantes na

    determinao da Intensidade Energtica.

    A importncia da decomposio da Intensidade Energtica em Efeito Estrutural e

    Efeito Intensidade reside na utilizao de tais ndices em conjunto com outras variveis para

    estimar uma funo de demanda de energia para a indstria brasileira e determinar as devidas

    elasticidades.

    Estimativas e previses de demanda de energia so muito relevantes no s para uma

    melhor otimizao do planejamento energtico, mas tambm para auxiliar rgos reguladores

    nas formulaes de regras e polticas para este setor.

    Mattos et. al (2008) argumentam que uma importante dimenso do problema envolve

    a gesto estratgica do suprimento de energia a longo prazo. Essa gesto vem sendo

    coordenada pelos rgos governamentais de planejamento energtico e agncias regulatrias

    em parceria com as empresas fornecedoras de energia. Para que tal gesto seja eficaz,

    necessrio se faz o uso de instrumentos adequados para a gerao de previses a longo prazo

    da demanda de energia.

    Por outro lado, Pires, Gostkorzewicz e Giambiagi (2001) denotam que no passado o

    setor energtico brasileiro constituiu importante vetor de desenvolvimento, contudo tende a

    condicionar a velocidade desse crescimento, uma vez que o ritmo de expanso da demanda

    vem evoluindo em patamares superiores taxa de oferta de energia.

    As funes de demanda de energia industrial tradicionais levam em considerao valor

    adicionado na indstria ou PIB industrial, preo da energia, estoque de capital; a Eficincia

    3 Mais detalhes sero fornecidos no Captulo 3 item 3.1.

  • 27

    Energtica costuma ser mencionada apenas quanto se trata da Elasticidade-Renda da demanda

    de energia. Porm, tal mtodo insuficiente para revelar a real importncia da Eficincia

    Energtica na demanda de energia. Cabe, desse modo, responder a pergunta: a Intensidade

    Energtica uma varivel importante para explicar o comportamento do consumo de energia

    na indstria brasileira?

    Dado a importncia que a conservao de energia e eficincia energtica vm

    ganhando nos ltimos anos no Brasil e no mundo em funo dos impactos ambientais que o

    uso intensivo de energia gera ao meio ambiente e pelo fato de a oferta de energia no

    acompanhar a taxa de crescimento da demanda, a completa estimao e mensurao dos

    impactos de ganhos de eficincia contribuem para maior previsibilidade e tambm para que se

    possa entender com maior mrito a contribuio da indstria na conservao de energia e, por

    conseguinte, na diminuio dos efeitos da atividade industrial no meio ambiente.

    Considerando que parte da demanda por energia pela sociedade, em especial a

    indstria, ser suprida pela construo de hidreltricas que precisam de reservatrios para

    armazenagem de gua ou por termoeltricas que produzem energia atravs da queima de

    algum combustvel fssil (diesel, leo combustvel ou gs natural), o real impacto da

    Eficincia Energtica implicaria reduzir a necessidade de novos investimentos, contribuindo

    para mitigar os impactos ambientais.

    Este trabalho tem como motivao principal incorporar medidas de Eficincia

    Energtica ou Intensidade Energtica na funo de demanda industrial e assim determinar os

    parmetros relevantes para explicar tal demanda. Respondendo a questo principal deste

    trabalho, se o aumento da Eficincia Energtica ajudaria na conservao de energia e se

    ajudar qual o real impacto ou magnitude desta contribuio.

    Parte-se da hiptese de que o aumento da intensidade energtica percebido na Figura

    4 deve-se principalmente ao aumento de participao de setores energo-intensivos na

    indstria brasileira, ou seja, o Efeito Estrutural responde pela maior contribuio na

    explicao da Intensidade Energtica. Esta hiptese se origina na percepo da estrutura da

    indstria brasileira exemplificada na Figura 3.

  • 28

    1.3 Objetivos

    1.3.1 Objetivo Geral

    Determinar o impacto da Eficincia Energtica ou Intensidade Energtica na demanda de

    energia da indstria brasileira no perodo de 1970 a 2008.

    1.3.2 Objetivos Especficos

    i) Decompor a Intensidade Energtica Industrial brasileira entre: Efeito Estrutura e

    Efeito Intensidade.

    ii) Decompor o Consumo de Energia na Indstria brasileira entre: Efeito Atividade4,

    Efeito Estrutura e Efeito Intensidade.

    iii) Determinar as principais variveis explicativas para o Efeito Intensidade.

    4 O Efeito Atividade est definido no Capitulo 3 item 3.1.1

  • 29

    2 REFERNCIAL TERICO

    A energia um importante insumo na produo dos mais variados produtos

    industriais. Alguns autores como Pindyck (1979), Kemfert (1998), Kemfert e Welsch (2000)

    entre outros, incluem a energia na funo de produo junto s variveis tradicionais, capital e

    trabalho.

    Berndt e Wood (1975) argumentam que a demanda industrial por energia

    essencialmente derivada da necessidade de produo que utilizam como insumo a energia, ou

    seja, a energia um fator tpico do processo de produo da firma. As firmas tendem a

    escolher os insumos que minimizam os custos totais de produo e ao mesmo tempo elevam

    ao mximo a produo de bens.

    A possibilidade de substituio de insumos depende da tecnologia de produo e dos

    preos relativos de todos os insumos. Berndt e Wood (1975) concluem que energia e capital

    so complementares e ambos so considerados substitutos ao trabalho.

    Dada a importncia da energia no processo de produo industrial, a Teoria de Custos

    um relevante instrumento para a compreenso da escolha das firmas entre tipo e quantidade

    de insumos utilizados na produo.

    2.1 Teoria dos Custos5

    A maximizao do lucro est relacionada com a produo, a quantidade de insumos e

    seus respectivos preos; a tecnologia de produo adotada define as possibilidades de

    substituio entre os fatores. Em vista das diferentes possibilidades de substituio entre os

    fatores, possvel combin-los de modo a minimizar os custos de produo, ou seja, a

    maximizao do lucro pode ser feita via minimizao dos custos.

    Algumas vantagens da maximizao do lucro via minimizao dos custos podem ser

    enumeradas, entre elas esto:

    i) a funo de custo homognea de grau um nos preos dos insumos e no

    decrescente no produto.

    ii) a funo custo cncava nos preos dos insumos.

    iii) a funo de demanda dos fatores homognea de grau zero nos preos.

    5 As sees subsequentes so baseadas em, Mas-colell, Whinston e Green (1995), Varian (1999), Binger e

    Hoffman (1998), Debertin (1987) e Chiang (1982).

  • 30

    iv) se a funo de produo homognea de grau um, ento a funo custo e a

    demanda por fatores homognea de grau um no produto.

    v) se a funo de produo cncava, ento a funo custo convexa no

    produto, em particular o custo marginal no decrescente no produto.

    2.1.1 Custos no Curto Prazo

    A funo de custo pode ser obtida a partir de trs equaes, funo de produo,

    equao de custos e caminho de expanso. Lembrando que os preos dos fatores so dados.

    A funo de custo de curto prazo apresentada como:

    CFYPPgCT XX ),,( 21 (2.1)

    em que, CT o custo total, 1X

    P o preo do insumo X1, 2X

    P o preo do insumo

    X2, Y o produto e CF custo fixo.

    A funo custo representa o custo mnimo de produo de cada nvel de produto e

    obtida supondo-se racionalidade do empresrio. O termo funo custo usado para expressar

    o custo como funo do nvel de produo, enquanto que o termo equao de custo usado

    para expressar o custo em termos de quantidade e preos dos fatores. A demonstrao da

    funo custo ser apresentada adiante.

    Considera-se curto prazo se pelo menos um dos fatores de produo no puder variar

    no perodo considerado, ao passo que, no longo prazo, todos os fatores podem variar. Neste

    caso o CT no apresenta um termo de CF.

    Define-se Custo Mdio (CMe) como o custo unitrio de produo de cada unidade

    adicional produzida, matematicamente:

    Y

    CFYg

    Y

    CTCMe

    )( (2.2)

    Define-se Custo Marginal (CMg) como custo adicional de cada nova unidade

    produzida.

    )()(

    YgY

    Yg

    Y

    CTCMg (2.3)

  • 31

    A maximizao do lucro sem condicionalidade pode ser expresso como:

    CFYgYPCTRT Y )( (2.4)

    Na abordagem dos custos, a varivel de deciso o produto, logo para maximizar o

    lucro deriva-se a funo lucro com relao a Y e iguala-se a zero,

    CMgPYgPY

    YY 0)( (2.5)

    Este resultado indica que, para maximizar o lucro, o empresrio deve igualar o preo

    de venda do produto ( YP ) ao custo marginal (CMg).

    Observa-se que YY PRMgYPRT , logo, RMg = CMg. Assim, o empresrio

    pode aumentar seu lucro expandindo a produo, se a venda de uma unidade adicional do

    produto (receita marginal) corresponde ( YP ) for maior que o acrscimo de custo (CMg).

    Para garantir que a condio de maximizao de lucro (primeira ordem) ocorra

    necessrio que as condies de segunda ordem sejam satisfeitas, ou seja, a segunda derivada

    da funo lucro deve ser menor que zero:

    0)()(

    2

    2

    2

    2

    YgY

    CMg

    Y

    CT

    Y (2.6)

    Ou melhor,

    00)(2

    2

    Y

    CTYg (2.7)

    Isto que dizer que o CMg deve ser crescente ao nvel de produo que maximiza o

    lucro, se fosse decrescente, a igualdade entre o preo e CMg indicaria um ponto de lucro

    mnimo. A expresso (2.7) implica que, para maximizar o lucro, deve-se igualar o preo do

    produto ao custo marginal na fase ascendente da curva de custo marginal.

  • 32

    2.1.2 Custo no Longo Prazo

    Como dito anteriormente, o longo prazo se caracteriza como o perodo de tempo no

    qual todos os fatores de produo so variveis, isto , no h qualquer fator fixo, tal como

    tamanho da planta ou investimento em equipamento de capital. Antes de investir, o

    empresrio est em uma situao de longo prazo, ou seja, pode selecionar qualquer

    investimento dentre todas as opes disponveis. Depois que investiu, isto , depois que a

    deciso tomada, o empresrio opera sob condies de curto prazo.

    Considerando que a limitao de recursos impe limitao na quantidade produzida, o

    problema de maximizao do lucro (minimizao dos custos) pode ser elaborado da seguinte

    forma:

    ),(. 21

    21 21

    XXfYAS

    XPXPCMin XX (2.8)

    A expresso (2.8) a forma dual do problema de maximizao da receita total sujeito

    a disponibilidade oramentria. A soluo desse problema levar obteno das demandas

    condicionadas dos fatores e funo indireta de custo.

    Aplicando o Lagrangeano,

    )],([ 2121 21 XXfYXPXPL XX (2.9)

    Derivando o Lagrange com relao a X1 X2 e a , obtm-se as condies de primeira

    ordem para minimizao dos custos:

    011

    1fP

    X

    LX (2.10)

    022

    2fP

    X

    LX (2.11)

    0),( 21 XXfYL

    (2.12)

    Resolvendo as equaes (2.10) e (2.11), tem-se:

  • 33

    21

    21

    f

    P

    f

    P XX (2.13)

    As condies de primeira ordem para minimizao de custos sujeita, a dada restrio

    na produo, so semelhantes s do problema primal. Neste caso a firma procura a Isocusto

    mais baixa que contm, pelo menos, um ponto comum com a Isoquanta determinada. Seu

    custo mnimo dado pela Isocusto que exatamente tangente Isoquanta determinada.

    O multiplicador de Lagrange encontrado no problema dual tem relao inversa com o

    multiplicador encontrado no problema primal, em que o multiplicador era igual razo das

    produtividades marginais dos fatores pelos respectivos preos, conclui-se que 1

    .

    Assim, se a condio de segunda ordem for satisfeita, cada ponto de tangncia entre

    uma Isoquanta e uma Isocusto uma soluo tanto para o problema de maximizao

    condicionado como para um de mnimo condicionado. Em outras palavras, um problema de

    maximizao um problema de minimizao e, portanto as solues so iguais.

    Isolando X1 na equao (2.13) e substituindo na equao (2.12), obtm-se a demanda

    condicionada para o fator X2, o mesmo pode ser feito para o fator X1. A demanda encontrada

    chamada condicionada, j que condicionada a determinada produo diferente daquelas

    obtidas da maximizao sem restries.

    A demanda dos fatores encontrada tem a seguinte forma:

    ),,(

    ),,(

    21

    21

    22

    11

    YPPxX

    YPPxX

    XX

    cC

    XX

    cC

    (2.14)

    Tomando as demandas condicionadas CiX e substituindo na expresso (2.8) e

    resolvendo em funo de C, obtm-se a funo indireta de custo na forma:

    ),,(21

    YPPCC XX (2.15)

    A equao (2.15) chamada de funo de custo de longo prazo, pois considera todas

    as possibilidades de variaes nos fatores e no nvel de produto.

  • 34

    Para finalizar, uma vez obtida a funo indireta de custo (2.15), possvel a partir do

    Teorema de Shepard, obter as funes de demanda condicionadas dos fatores, basta derivar a

    funo de custo com relao 1X

    P e a 21X

    P para se obter a demanda do fator X1 e X2.

    ),,(21

    1

    11 YPPxXP

    CXX

    Cc

    X

    (2.16)

    ),,(21

    2

    22 YPPxXP

    CXX

    Cc

    X

    (2.17)

    2.2 Modelos Empricos de Demanda de Energia

    H tempos, estudos da demanda de energia pela indstria despertam o interesse da

    comunidade cientfica, sendo a indstria a principal consumidora de energia no mundo. Nas

    ltimas dcadas, a oferta de energia na forma de petrleo e gs natural, passou a ser

    controlada por poucos players mundiais, fator que tambm contribui para o desenvolvimento

    de pesquisas.

    Berndt e Wood (1975) assumem uma funo de produo para os Estados Unidos

    contendo como fatores de produo, capital, trabalho, insumos intermedirios e energia,

    admitindo arbitrariamente a forma funcional translog como funo de custo.

    Os autores linearizaram a funo custo, e a demanda condicionada dos fatores de

    produo passou a representar a participao de custo do fator energia sobre o custo total de

    produo. O produto (Y) no foi utilizado pelos autores como varivel explanatria, para

    explicar a demanda por energia. A equao (2.18) denota a diferenciao da funo de custo

    translog enquanto (2.19) mostra a equao estimada para a demanda compensada de energia:

    i

    i

    ii

    MC

    P

    P

    C

    P

    C

    ln

    ln (2.18)

    MMEEEELLEKKEEEE

    E PPPPC

    XPM lnlnlnln (2.19)

  • 35

    em que EM a participao do gasto do bem E no total de despesas C, EP , KP , LP

    e MP so respectivamente o preo Energia, Capital, Trabalho e Insumos Intermedirios.

    A demanda por energia primria como petrleo, carvo, gs natural e eletricidade foi

    analisada por McRae (1979) para diferentes regies do Canad, onde a produo no foi

    utilizada como varivel explanatria para explicar a demanda por estes fatores, fazendo uso

    apenas do preo, o que est em concordncia com o proposto na literatura [Berndt e Wood,

    1975].

    Pindyck (1979) realizou uma anlise da demanda por energia primaria para dez pases

    desenvolvidos, utilizando alm da energia, capital e trabalho como fatores de produo. O

    autor incorpora a produo industrial como varivel explicativa da demanda por energia,

    diferentemente das consideraes feitas por Berndt e Wood (1975) e McRae (1979).

    A equao proposta estimada para a demanda de energia est mostrada a seguir:

    J

    J

    EJYEEEE

    E PYC

    XPM lnln (2.20)

    Conforme argumenta Clarke (1983), a equao de demanda do fator independente do

    produto, pois este no exgeno na determinao dos insumos, ou seja, determinado

    recursivamente na funo de produo da firma. Em geral, o preo real dos fatores de

    produo e no somente o prprio preo do fator que determina a demanda por este.

    Argumenta ainda que, ao contrrio das funes de demanda por energia industrial

    frequentemente utilizadas na literatura, a correta especificao da funo independente do

    produto, mas dependente do preo real da energia assim como do preo de todos os demais

    fatores de produo.

    Contudo, a incluso do produto como uma varivel explanatria implica dizer que a

    firma assume minimizao dos custos, ou seja, o produto passa ser uma varivel exgena e

    que os fatores so escolhidos para atingir tal nvel de produo (Clarke, 1983).

    Arsenault et. al (1995) estimaram a demanda total de energia para Qubec, no Canad.

    Alm da demanda total, os autores estimaram tambm a demanda de cada fator de produo,

    petrleo e gs natural. As equaes estimadas so:

    ),,( 1 tti

    t

    i

    t PNGPOMfM (2.21)

  • 36

    ),,( 1 ttttt INPIPETEhTE (2.22)

    em que, itM a participao de cada fator i no custo total de produo, PO o preo

    do petrleo e PNG o preo do gs natural; TE a demanda total de energia em Terajoules,

    PE ndice de preos de petrleo e gs, PI ndice de preos geral da economia e IN o PIB

    industrial.

    Yi (2000) compara dois modelos de demanda de energia, o translog e o Leontief

    Generalizado. Alm disso, estima a demanda de energia para cada setor industrial: alimentos

    e bebidas, txtil, madeira, papel e impresso, qumico, minerais no-ferrosos, metais e

    maquinrio.

    Outra diferena dos modelos anteriormente apresentados a incorporao da varivel

    mudana tecnolgica equao de demanda de energia. A equao estimada da demanda de

    energia mostrada a seguir:

    TPYC

    XPM TJ

    J

    EJYEEEE

    E lnln (2.23)

    em que, T representa mudana tcnica.

    Kulshreshtha e Parikh (2000) estimaram equao de demanda de carvo para

    diferentes setores industriais na ndia. Os autores utilizaram o modelo de cointegrao para

    estudar a relao entre o consumo de carvo, preo e produo industrial. Concluindo que a

    demanda por carvo mais sensvel s mudanas no valor adicionado na indstria que

    variao no preo do carvo.

    Griffin e Schulman (2005) utilizaram um ndice tcnico de eficincia energtica na

    equao de demanda de energia para 16 pases da OECD em um modelo de sries temporais.

    A equao estimada ,

    ),)(,/(/ tttt ZPLNIfNQ (2.24)

    em que, Q/N o consumo per capita de energia, I/N a renda per capita, tPL)( o operador

    de defasagem do preo de energia e Z o ndice de eficincia energtica. Contudo, como so

    usados dados em painel, removeu-se a varivel Z e no lugar foi colocada uma varivel dummy

    como efeito fixo para captar a mudana tecnolgica entre os pases.

  • 37

    Polemis (2007) utiliza o modelo de correo de erros (ECM) para estimar a demanda

    por leo Combustvel e Eletricidade para a indstria Grega. As equaes estimadas so:

    ttttt uRPELECLRPOILLDBPLOILLa )()()()( (2.25)

    ttt

    ttt

    uCONSLRPELECL

    RPOILLDBPLELECLc

    )()(

    )()()( (2.26)

    em que, )(La , )(L , )(L , )(L , )(Lc , )(L , )(L , )(L e )(L representam operadores

    de defasagem. DBP o PIB industrial, RPELEC e RPOIL so os ndices de preos da

    eletricidade e leo Combustvel respectivamente e por fim CONS a voltagem mdia dos

    consumidores de energia.

    Este trabalho prope, com base em todos os trabalhos acima citados, estimar uma

    equao de demanda de energia para a indstria brasileira utilizando um ndice de eficincia

    energtica obtida atravs da decomposio da intensidade energtica da indstria. A

    metodologia de decomposio ser mostrada no prximo capitulo. A equao a ser estimada

    :

    ),,,( tS

    tttt IIEPPYfE (2.27)

    Em que, Et a demanda agregada de energia pela indstria, Yt o produto industrial

    ou valor agregado, Pt um ndice ponderado dos preos dos diferentes insumos energticos

    utilizados pela indstria, PS

    t o nvel de salrio mdio da indstria e IIEt o ndice de

    intensidade energtica (Efeito Intensidade). Utilizar-se- o Modelo de Cointegrao para

    estimar a demanda de energia de longo prazo.

  • 38

  • 39

    3 REFERENCIAL ANALTICO

    3.1 Decomposio da Intensidade Energtica

    Eficincia Energtica se refere atividade ou produto que pode ser produzido com

    uma determinada quantidade de energia com, por exemplo, toneladas de ao por megawatt-

    hora de energia. Eficincia Energtica pode ser traduzida como a melhora na produo de

    determinado bem ou servio a partir de quantidades reduzidas de insumos utilizados na

    produo.

    Na economia, levando em considerao todos os setores produtivos, a eficincia

    energtica no um conceito significativo devido natureza heterognea da produo,

    diferenas estas que podem ser em produtos, processos e equipamentos. Por outro lado,

    comparaes a respeito da Intensidade Energtica so mais facilmente percebidas.

    Ao nvel de uma tecnologia especifica, a diferena entre eficincia e intensidade

    energtica insignificante, ou seja, uma o inverso da outra. Por Intensidade Energtica se

    entende a razo entre o consumo de energia e o produto gerado, seja medido em termos

    fsicos ou em termos monetrios, como, por exemplo, o PIB, ou no caso deste trabalho, valor

    adicionado da indstria.

    A diferena entre intensidade e eficincia mais evidente quando mltiplas

    tecnologias ou vrios produtos so utilizados ou produzidos na economia. Por exemplo,

    difcil comparar a eficincia energtica da produo de ao com a eficincia na produo de

    etanol, neste caso comparar as intensidades energticas de ambos os setores possvel.

    Como destaca Ang (2004) a intensidade energtica est relacionada com a eficincia

    tcnica dos processos e atividades e os padres de consumo de cada setor. O processo que

    transforma energia final em energia til influencia a quantidade de energia necessria para

    produo de bens e servios. Desse modo, mede-se por este indicador, o grau de eficincia

    com que a energia utilizada.

    Dessa forma, melhorar a eficincia nos processos e equipamentos contribui para

    mudanas na intensidade energtica, que por sua vez pode ser considerada como proxy para

    Eficincia Energtica.

    A principal diferena entre intensidade e eficincia energtica com relao a

    mudanas estruturais. Mudanas na composio dos setores e/ou participao na produo e

    consumo de energia podem afetar a intensidade energtica, mas no esto relacionadas com a

    melhoria da eficincia. No setor industrial, uma mudana na produo e/ou participao de

  • 40

    indstrias energo-intensivas (metal primrio, qumicos, papel e celulose) para setores que

    utilizaro menos intensamente energia (alimentos) causam diminuio na intensidade

    energtica que no reflete necessariamente um aumento na eficincia energtica.

    Os indicadores de Intensidade Energtica medem no mais alto nvel, o esforo de um

    pas para se obter o desenvolvimento econmico a partir do insumo energtico. Sendo assim,

    o comportamento ideal deste indicador seria um crescimento econmico contnuo com

    reduo ou estabilizao na demanda/oferta de energia. Obtm-se a reduo da intensidade

    pelo aumento da eficincia dos processos, mas tambm pelo melhor uso econmico (EPE,

    2007a).

    Existem vrios mtodos de decomposio da Intensidade Energtica e do Consumo de

    Energia; a prxima seo discorrer a respeito da evoluo de tais mtodos.

    3.1.1 Mtodos de Decomposio

    Os mtodos de decomposio populares entre os analistas de consumo energia e

    intensidade energtica podem ser divididos em dois grupos: os mtodos relacionados com o

    ndice de Laspeyres e mtodos relacionados com o ndice de Divisia. Bem conhecido em

    estudos econmicos, o ndice de Laspeyres mede a variao percentual em algum aspecto de

    um grupo de itens ao longo do tempo, usando pesos baseados nos valores de alguns anos base.

    O ndice Divisia uma soma ponderada das taxas de crescimento logartmico, onde os pesos

    so partes dos componentes do valor total, dado na forma de uma linha integral.

    Em termos simples, a construo de mtodos ligados ao ndice de Laspeyres baseada

    no conceito familiar de variao percentual, enquanto que a construo de mtodos

    relacionados com o ndice de Divisia baseado no conceito de mudana logartmica (Ang,

    2004).

    Diversos trabalhos foram feitos nas ltimas trs dcadas utilizando mtodos de

    decomposio de energia, os mais utilizados entre as dcadas de 1970, 1980 e inicio de 1990

    foram os mtodos baseados no ndice de Laspeyres. Howarth et. al (1991) decomps a

    intensidade energtica na indstria entre os anos de 1973 e 1987 para oito pases membros da

    OECD. Atravs da metodologia de classificao proposta por Ang (2004), o mtodo de

    decomposio utilizado por Howarth et. al (1991) pode ser chamado de mtodo convencional

    de ndice de Laspeyres.

    Os setores industriais foram desagregados em seis subsetores: papel e celulose,

    qumicos, cimento, cermica e vidro, metais ferrosos, metais no ferrosos, e outros (outras

  • 41

    atividades de manufatura). O autor ressalta que os cinco primeiros setores correspondem a

    25% do valor adicionado na indstria, porm so responsveis pelo consumo de 75% da

    energia.

    Howarth et. al (1991) utilizaram as seguintes notaes para a decomposio da

    intensidade energtica:

    E = uso total de energia na indstria.

    Q = produto industrial total medido em valor adicionado real.

    Ii = vetor de intensidade energtica, que dado pela razo i

    i

    Q

    E.

    Si = vetor de coeficientes estruturais, participao no produto do subsetor i, que

    denotado por Q

    Qi .

    em que, o subscrito i denota o subsetor, Ei a energia usada no subsetor i e Qi o

    produto no subsetor i.

    De acordo com as notaes descritas, o uso total de energia pode ser definido em

    funo da produo industrial, intensidade e varivel estrutural.

    ISQE (3.1)

    Dessa forma, tem-se:

    )0()0(

    )0()1(

    )0(

    )]0()1()[0(

    IS

    IS

    E

    ISQLI (3.2)

    )0()0(

    )1()0(

    )0(

    )]1()0()[0(

    IS

    IS

    E

    ISQLS (3.3)

    em que, 0 e 1 denotam os anos de 1973 e 1987. LS o ndice de Laspeyres da variao

    relativa no uso da energia devido a mudana estrutural, LI o ndice de Laspeyres relativo a

    variao no uso da energia devido a mudana na intensidade energtica.

    Howarth et. al (1991) chegaram a concluso que no perodo analisado, a mudana

    estrutural teve pequeno impacto na reduo do uso de energia, inclusive foi responsvel por

    um substancial aumento no consumo de energia na Noruega. Por outro lado, a intensidade

  • 42

    energtica reduziu o consumo de energia de maneira notavelmente uniforme entre todos os

    pases pesquisados como, por exemplo, reduo de 20% na Noruega, 36% e no Japo.

    Contudo, o trabalho de Howarth et. al (1991) criticado pois a decomposio

    utilizada no perfeita, ou seja, h resduo. O autor denota o resduo como termo de

    interao, que captura a relao entre mudanas nos termos estruturais e intensivos.

    Sun (1998) prope alteraes na decomposio de energia atravs do ndice de

    Laspeyres de forma que no haja resduo. Pela metodologia de classificao proposta por Ang

    (2004), o novo mtodo de decomposio denomina-se ndice de Laspeyres Refinado.

    A proposta do trabalho de Sun (1998) de fornecer um modelo de decomposio

    completo, que seja confivel e preciso. A ideia bsica decompor o resduo de acordo com o

    princpio de igual distribuio, ou seja, distribuir o resduo igualmente entre as diferentes

    variveis de decomposio. A seguir o modelo proposto.

    Assume-se que yxV , isto , a varivel V determinada pelos fatores x e y, no

    perodo de tempo entre [0, t], a variao em V )( V pode ser calculado como:

    ))(()()( 000000

    000

    yyxxxyyyxx

    yxyxVVV

    tttt

    ttt

    yxyxxyV 00 (3.4)

    em que xy0 e yx0 so as contribuies da variao dos fatores x e y na variao

    total em V, o terceiro termo ( yx ) o resduo no modelo de decomposio geral. O modelo

    completo de decomposio pode ser visto na Figura 5.

  • 43

    Figura 5 - Efeito principal e contribuies dos fatores x e y

    O terceiro termo pode ser atribudo a x ou a y de igual modo. A contribuio depende

    de ambos, pois se um zera, o outro tambm desaparece. Quando no h razo para que se

    assuma o contrrio, o resduo dividido igualmente entre x e y. Portanto, o modelo completo

    de decomposio pode ser mostrado como:

    yxxY

    yxyX

    efeito

    efeito

    2

    1

    2

    1

    0

    0

    (3.5)

    efeitoefeito YXV (3.6)

    Na forma de ndice o modelo pode ser mostrado como:

    0001

    V

    Y

    V

    X

    V

    V efeitoefeitot

    (3.7)

    000 V

    Y

    V

    X

    V

    V efeitoefeito (3.8)

    X

    Y

    yt

    y

    y0

    x0y

    y0x V

    0

    Vt

    xy

    x0

    xt

    x

  • 44

    O modelo pode ser estendido para n fatores, porm torna-se cada vez mais complicado

    determinar os termos da decomposio.

    Sun (1998) apresenta dois modelos, um para decomposio do consumo de energia e

    outro para decomposio da intensidade energtica.

    Seja o consumo de energia na indstria denotado por tii

    t

    i

    tt SIQE . Repare que no

    h diferena entre a equao (3.1) em Howarth et. al (1991). Neste modelo, a variao no

    consumo de energia influenciada por trs efeitos como ressalta Motta e Arajo (1989):

    Efeito Atividade (EQ) = variaes de curto prazo no nvel de atividade econmica que

    podem no resultar em variaes proporcionais no consumo de energia, no caso de aumento

    de atividade, plantas menos eficientes podem entrar em operao ou mesmo rendimentos

    decrescentes na utilizao da energia, por outro lado, o consumo de energia pode no ser

    reduzido na mesma proporo caso a atividade econmica diminua.

    Efeito Estrutural ou Mix (ES) = aumento ou reduo da participao de um setor no

    produto total pode alterar a intensidade energtica total de acordo com a intensidade deste

    setor, como por exemplo, se setores mais intensivos em energia crescem a taxas superiores s

    setores menos intensivos, ento a intensidade total crescer devido a este movimento e sem

    que haja mudanas tcnicas no contedo energtico da produo de cada setor.

    Efeito Intensidade (EI) = os insumos utilizados na produo como capital, trabalho e

    energia podem ser combinados em diferentes propores, seja por decorrncia de alteraes

    nos seus preos relativos, de melhorias tcnicas ou do progresso tecnolgico. Podem ocorrer

    alteraes de intensidade resultante da melhoria tcnica que acompanha uma ampliao ou

    modificao de plantas visando a um maior ganho de eficincia no uso da energia. Variaes

    de preos relativos entre os insumos energticos podem da mesma forma resultar, no curto

    prazo, em emprego de combustveis menos eficientes intensificando o contedo energtico.

    O modelo de decomposio da variao do consumo de energia dado por:

    i

    i

    iiii

    i

    ii

    i

    i SIQSISIQSIQEQ3

    1)(

    2

    1 0000 (3.9)

    i

    i

    iii

    i

    i

    i

    ii SIQSQSQISIQEI3

    1)(

    2

    1 00000 (3.10)

    i

    i

    iii

    i

    i

    i

    ii SIQIQIQSSIQES3

    1)(

    2

    1 00000 (3.11)

  • 45

    A soma das equaes (3.9), (3.10) e (3.11) demonstra que a decomposio exata,

    ESEIEQE (3.12)

    Ou, na forma de ndice,

    0000 E

    ES

    E

    EI

    E

    EQ

    E

    E tttt (3.13)

    00001

    E

    ES

    E

    EI

    E

    EQ

    E

    E tttt (3.14)

    A contribuio do setor i na variao do consumo total de energia dada pela

    equao:

    iiii

    iiiiiiiiiii

    SIQSIQ

    SIQSIQSISIQSIE

    0

    0000000 )( (3.15)

    As equaes (3.9), (3.10) e (3.11) mostram a decomposio da variao no consumo

    de energia, porm Sun (1998) apresenta a decomposio da variao na intensidade energtica

    que ser utilizada nesse trabalho para mensurar o impacto da eficincia energtica na

    demanda por energia pela indstria brasileira.

    Neste modelo h apenas dois efeitos que determinam a variao na intensidade

    energtica, so eles, Efeito Intensidade (II) e Efeito Estrutural (IS) que so dados pela

    variao da intensidade energtica, 0III t .

    i

    i

    i

    i

    ii SIISII2

    10 (3.16)

    i

    i

    i

    i

    ii SISIIS2

    10 (3.17)

  • 46

    A contribuio de cada setor i da indstria na variao total da intensidade energtica

    dada por:

    iiiiiii SISIISI00 (3.18)

    A soma das equaes (3.16) e (3.17) mostram a decomposio exata da intensidade.

    ISIII

    III t 0 (3.19)

    Utilizando (3.19), mostra-se a decomposio na forma de ndice:

    000 I

    IS

    I

    II

    I

    I (3.20)

    0001

    I

    IS

    I

    II

    I

    I t (3.21)

    Boyd et. al (1987) propuseram a abordagem do ndice Divisia, como alternativa

    abordagem ndice de Laspeyres na anlise de decomposio do consumo energia e

    intensidade energtica. Posteriormente, extenses e aperfeioamento de mtodos ligados ao

    ndice de Divisia foram feitas por Boyd et. al (1988), Liu et. al (1992), Ang (1994), Ang e

    Choi (1997), Ang et. al (1998) e Ang e Liu (2001) como ressaltam Ang (2004).

    O modelo de decomposio de intensidade energtica mostrado a seguir ter como

    base os trabalhos de Ang e Zhang (2000) e Choi e Ang (2003).

    Seja a intensidade energtica agregada dada por:

    Y

    ESII

    n

    i

    i

    i

    n

    i

    ii

    1 i1

    Y

    Y (3.21)

    Diferenciando a equao (3.21) como relao ao tempo t, tem-se:

    dt

    dSI

    dt

    dIS

    dt

    dI in

    i

    ii

    n

    i

    i

    11

    (3.22)

    Integrando ambos os lados da equao (3.22) no intervalo [0,t], tem-se:

    http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6V2W-48CX105-4&_user=5674931&_coverDate=06%2F30%2F2004&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1292437350&_rerunOrigin=scholar.google&_acct=C000049650&_version=1&_urlVersion=0&_userid=5674931&md5=d367a3f4a05207afaa24b0550ba6f035#bib11#bib11http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6V2W-48CX105-4&_user=5674931&_coverDate=06%2F30%2F2004&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1292437350&_rerunOrigin=scholar.google&_acct=C000049650&_version=1&_urlVersion=0&_userid=5674931&md5=d367a3f4a05207afaa24b0550ba6f035#bib12#bib12http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6V2W-48CX105-4&_user=5674931&_coverDate=06%2F30%2F2004&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1292437350&_rerunOrigin=scholar.google&_acct=C000049650&_version=1&_urlVersion=0&_userid=5674931&md5=d367a3f4a05207afaa24b0550ba6f035#bib21#bib21http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6V2W-48CX105-4&_user=5674931&_coverDate=06%2F30%2F2004&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1292437350&_rerunOrigin=scholar.google&_acct=C000049650&_version=1&_urlVersion=0&_userid=5674931&md5=d367a3f4a05207afaa24b0550ba6f035#bib2#bib2http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6V2W-48CX105-4&_user=5674931&_coverDate=06%2F30%2F2004&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1292437350&_rerunOrigin=scholar.google&_acct=C000049650&_version=1&_urlVersion=0&_userid=5674931&md5=d367a3f4a05207afaa24b0550ba6f035#bib3#bib3http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6V2W-48CX105-4&_user=5674931&_coverDate=06%2F30%2F2004&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1292437350&_rerunOrigin=scholar.google&_acct=C000049650&_version=1&_urlVersion=0&_userid=5674931&md5=d367a3f4a05207afaa24b0550ba6f035#bib3#bib3http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6V2W-48CX105-4&_user=5674931&_coverDate=06%2F30%2F2004&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1292437350&_rerunOrigin=scholar.google&_acct=C000049650&_version=1&_urlVersion=0&_userid=5674931&md5=d367a3f4a05207afaa24b0550ba6f035#bib3#bib3http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6V2W-48CX105-4&_user=5674931&_coverDate=06%2F30%2F2004&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1292437350&_rerunOrigin=scholar.google&_acct=C000049650&_version=1&_urlVersion=0&_userid=5674931&md5=d367a3f4a05207afaa24b0550ba6f035#bib7#bib7http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6V2W-48CX105-4&_user=5674931&_coverDate=06%2F30%2F2004&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1292437350&_rerunOrigin=scholar.google&_acct=C000049650&_version=1&_urlVersion=0&_userid=5674931&md5=d367a3f4a05207afaa24b0550ba6f035#bib5#bib5

  • 47

    dtdt

    dSIdt

    dt

    dISII

    n

    i

    t

    i

    i

    n

    i

    t

    i

    i

    t

    1 01 0

    0 (3.23)

    O primeiro termo da equao (3.23) pode ser interpretado como efeito associado

    variao da intensidade energtica e o segundo termo o efeito associado variao no mix

    de produto ou na estrutura.

    Utilizando o teorema do valor mdio para a integral proposto por Spiegel (1963),

    possvel reescrever a equao (3.23) como:

    )()( 0

    1

    0

    1

    0

    i

    t

    i

    n

    i

    ii

    t

    i

    n

    i

    i

    t SSIIISII (4.24)

    Em que )( ,Siii tSS e )( ,Iiii tII com ],0[,, ttet IiSi , ou seja, iS e iI representam

    a mdia das variveis S e I, porm a forma funcional no especificada a priori.

    O mtodo de decomposio pelo ndice de Divisia mostrado anteriormente, equao

    (3.24), chamado de decomposio aditiva, pois baseado na diferena entre a intensidade

    energtica em dois perodos distintos, todavia, o mtodo permite que seja feito a

    decomposio baseada na razo entre as intensidades chamada de decomposio

    multiplicativa.

    Choi e Ang (2003) argumentam que a escolha entre a forma da decomposio ad

    hoc, pois devido a propriedade de simetria entre as duas frmulas de decomposio estas

    podem ser intercambiveis.

    Uma das diferenas entre as duas frmulas de decomposio que os resultados da

    decomposio por diferena mantm a mesma unidade de medida da varivel utilizada, o

    indicador agregado, enquanto que na decomposio por relao unidade de medida do

    ndice passa a ser adimensional.

    Ang e Zhang (2000) argumentam que a escolha entre a decomposio multiplicativa e

    aditiva sutil e metodologicamente a diferena reside na facilidade de apresentao de

    resultados e interpretao. Quando a decomposio realizada para uma srie peridica,

    mais conveniente usar a abordagem multiplicativa, como os resultados da decomposio

    geralmente so dados em ndices, pode ser convenientemente traada ao longo do tempo.

    Alguns estudos utilizam os dados de apenas dois perodos de referncia, especialmente

  • 48

    quando o nvel de desagregao do setor alto e os dados peridicos no esto disponveis,

    nesses casos a decomposio aditiva pode ser adotada.

    Dessa forma, apresenta-se a decomposio por relao.

    Dividindo a equao (3.22) pelo ndice agregado de intensidade (I), tem-se:

    dt

    Sdw

    dt

    Idw

    dt

    Id in

    i

    ii

    n

    i

    i

    lnlnln

    11

    (3.25)

    Onde, E

    E

    I

    SIw iiii

    Integrando a equao (3.25) com relao a t [0,t],

    n

    i

    t

    i

    i

    n

    i

    t

    i

    i

    t

    dtdt

    Sdwdt

    dt

    Idw

    I

    I

    1 01 0

    0

    lnexp

    lnexp (3.26)

    Mais uma vez utilizando o valor mdio para a integral, (3.26) pode ser escrito na

    forma discreta aproximada:

    n

    i i

    t

    i

    i

    n

    i i

    t

    i

    i

    t

    S

    Sw

    I

    Iw

    I

    I

    10

    *

    10

    *

    0lnexplnexp (3.27)

    Em que ],0[)( ,,* ttetww wiwiii , como j foi dito anteriormente,

    *

    iw uma mdia

    sem, contudo, ser definido sua forma funcional.

    Choi e Ang (2003) apud Bennet (1920) sugerem a mdia aritmtica como forma

    funcional nas equaes (3.24) e (3.27) para as variveis com asterisco.

    2,

    2

    0

    *

    0

    * i

    t

    i

    i

    i

    t

    i

    i

    SSS

    III (3.28)

    Por outro lado, Ang e Choi (1997) propem a utilizao da mdia logartmica em

    substituio mdia aritmtica nas equaes (3.24) e (3.27), tem-se:

  • 49

    ),(

    ),(,

    ),(

    ),(0

    00

    *

    0

    00

    *

    i

    t

    i

    ii

    t

    i

    t

    i

    i

    i

    t

    i

    ii

    t

    i

    t

    i

    iIIL

    SISILS

    SSL

    SISILI (3.29)

    Em que a mdia logartmica L, definida como:

    yxx

    yxyx

    yx

    yxL

    ,

    ,)ln(ln

    )(

    ),( (3.30)

    Substituindo (3.29) em (3.24) e (3.27), tem-se:

    )(),(

    ),()(

    ),(

    ),( 0

    10

    00

    0

    10

    00

    0

    i

    t

    i

    n

    i i

    t

    i

    ii

    t

    i

    t

    i

    i

    t

    i

    n

    i i

    t

    i

    ii

    t

    i

    t

    it SSIIL

    SISILII

    SSL

    SISILII (3.31)

    n

    i i

    t

    i

    i

    t

    i

    ii

    t

    i

    t

    in

    i i

    t

    i

    i

    t

    i

    ii

    t

    i

    t

    i

    t

    S

    S

    IIL

    SISIL

    I

    I

    SSL

    SISIL

    I

    I

    100

    00

    100

    00

    0ln

    ),(

    ),(expln

    ),(

    ),(exp (3.32)

    3.1.2 Atribuies desejveis para os Mtodos de Decomposio

    Do ponto de vista da fundamentao terica, alguns mtodos podem ser facilmente

    demonstrados superiores aos outros, contudo do ponto de vista de aplicao, onde a facilidade

    de uso e a simplicidade so consideraes importantes, os mtodos mais utilizados podem ser

    diferentes daqueles cuja fundamentao terica a principal vantagem.

    Geralmente, os pesquisadores e analistas de decomposio de ndices precisam

    considerar, pelo menos, quatro questes de mtodo de seleo (Ang, 2004):

    1) Fundamentao terica

    2) Adaptabilidade,

  • 50

    3) Facilidade de uso (por exemplo, se um mtodo de decomposio pode ser

    facilmente aplicados aos problemas de interesse), e

    4) Facilidade de compreenso e apresentao de resultados.

    Os mtodos de anlise de decomposio esto intimamente ligados teoria dos

    nmeros ndices, dessa forma a fundamentao terica baseiam-se em grande parte nos

    nmeros ndices. Fisher (1972) props uma srie de testes para a identificao de

    propriedades desejveis de nmeros ndices, so elas:

    i) Reverso no tempo

    ii) Circularidade

    iii) Reverso de fatores

    O teste de Reverso no tempo exige que o nmero ndice calculado para frente deva

    ser o inverso do calculado para trs. Simbolicamente, isso significa 0

    0

    1

    T

    TD

    D onde D

    refere-se ao ndice de preos, quantidade ou valor. Da mesma forma, em estudos de

    decomposio, podemos aplicar este conceito e desejar que os resultados da decomposio

    sejam coerentes, no importando se a decomposio realizada de forma prospectiva ou

    retrospectiva (Ang e Zhang, 2000).

    O teste de circularidade pode ser expresso como STST DDD 00 , onde o ndice S

    um determinado ponto do tempo entre 0 e T. Passando neste teste implica que o nmero

    ndice D0T no depende de como o indicador se desenvolve ao longo do tempo entre 0 e T.

    O teste de reverso de fatores exige que todos os componentes da decomposio

    quando multiplicados (caso a decomposio seja multiplicativa) resultam na proporo

    observada de forma agregada, ou seja, n

    i

    iDD1

    . O nmero ndice que passa pelos trs

    testes pode ser chamado de perfeito ou exato, no caso dos ndices de decomposio no

    haver resduo (Ang e Zhang, 2000).

    Para os mtodos de decomposio aditiva, os testes correspondentes podem ser

    obtidos facilmente, a reverso no tempo, circularidade e reverso de fatores podem ser

    expressas simbolicamente como:

    00 TT VV

    STST VVV 00 (3.33)

  • 51

    i

    iVV

    Dos trs testes, o teste de circularidade o mais rigoroso. Fisher (1972) aponta que o

    teste de circularidade pode ser cumprido se os pesos so constantes, porm, nenhum nmero

    de ndice prtico pode satisfazer este teste e dessa forma ele excludo do teste realizado por

    Ang e Zhang (2000). Outra preocupao na anlise dos ndices de decomposio se o

    mtodo pode acomodar valores zero nos dados. A presena de zeros coloca problemas

    computacionais de alguns mtodos.

    Dos trs testes, o mais importante o teste de reverso de fatores; mtodos de

    decomposio que passam neste teste foram tomados por analistas como altamente desejveis

    (Ang, 2004). Alm disso, a decomposio pode ser realizada aditiva ou multiplicativamente e

    a escolha entre os dois bastante arbitrria, a existncia de uma associao simples e direta

    entre a decomposio aditiva e multiplicativa seria visto como uma propriedade boa do ponto

    de vista metodolgico.

    Mtodos com um elevado grau de adaptabilidade poderiam ser aplicados a uma ampla

    gama de problemas de decomposio, incluindo sries de anlises e comparaes cross-

    country, com pouca dificuldade tcnica ou prtica. Mais especificamente, a adaptabilidade

    pode ser avaliada em termos do conjunto de dados, se um mtodo capaz de lidar com dado

    que apresentam grandes variaes, valores nulos ou valores negativos (Ang, 2004).

    Facilidade de uso refere-se dificuldade com que o mtodo pode ser aplicado para

    diferentes tipos de problemas. A frmula de decomposio ou mesmo a dificuldade de

    interpretao dos resultados podem dificultar a utilizao de um determinado mtodo.

    Facilidade de interpretao dos resultados em grande parte ligada a fundamentao terica

    de um mtodo e ligaes possveis entre a decomposio aditiva e multiplicativa para o

    mtodo.

    Por exemplo, os mtodos que passam no teste de reverso de fatores no deixam

    resduo, que tenderia a complicar a interpretao dos resultados. Em alguns casos a

    decomposio aditiva pode ser prefervel decomposio multiplicativa, ou vice-versa, pois

    os resultados podem ser mais facilmente compreendidos e comunicados e, como tais mtodos

    que do uma associao direta entre a decomposio aditiva e multiplicativa tambm pode

    levar facilidade de interpretao dos resultados. Para mais detalhes a respeito da associao

    entre decomposio aditiva e multiplicativa pode ser consultado em Choi e Ang (2003).

  • 52

    3.1.3 Comparao entre Mtodos de Decomposio

    Ang e Zhang (2000) compararam diversos mtodos de decomposio como relao

    aos testes de Reverso no Tempo, Reverso de Fator e Valor Zero, os resultados podem ser

    visto na Tabela 2.

    Tabela 2 Teste de Fundamentao Terica para ndices de Decomposio

    Mtodos

    Testes

    Reverso no

    Tempo

    Reverso de

    Fator

    Valor

    Zero

    Multiplicativa

    Laspeyres No No Sim

    Divisia com Mdia Aritmtica Sim No No

    Divisia com Mdia Logartmica Sim Sim Sim

    Paasche No No Sim

    Aditiva

    Laspeyres No No Sim

    Divisia com Mdia Aritmtica Sim No No

    Divisia com Mdia Logartmica Sim Sim Sim

    Paasche No No Sim

    Marshall-Edgeworth Sim No Sim

    Laspeyres Refinado Sim Sim Sim

    Ang e Zhang (2000).

    Com relao decomposio multiplicativa, apenas o mtodo que utiliza o ndice de

    Divisia com mdia logartmica passou nos trs testes, o mtodo de decomposio que adota o

    ndice Laspeyres no passou no teste de inverso no tempo e no teste de reverso de fator,

    enquanto que o mtodo de Divisia com Mdia Aritmtica no passou no teste de inverso de

    fatores e no valor zero.

    Pode ser visto tambm que apenas os mtodos que utilizaram o ndice Divisia com

    Mdia Logartmica e o mtodo de ndice de Laspeyres Refinado possuem todas as trs

    propriedades desejveis na decomposio aditiva. necessrio relacionar algumas questes

    quanto aplicao dos dois mtodos (Ang e Zhang, 2000):

    i) ambos os mtodos resultam em decomposies exatas, mas os mecanismos

    envolvidos so bastante diferentes. O mtodo Laspeyres Refinado aloca o resduo

    igualmente entre os efeitos principais, que intuitivamente razovel. Por outro lado, o

    ndice de Divisia com mdia logartmica apresenta resultados sem resduo, no

    precisando assim ser alocados entre os efeitos principais.

    ii) quando existem valores nulos no conjunto de dados, o mtodo Laspeyres refinado

    mais conveniente; o mtodo de Divisia contm termos logartmicos, porm o

  • 53

    problema de valor zero efetivamente resolvido pelo mtodo de Divisia com mdia

    logartmica.

    iii) o mtodo de Divisia com mdia logartmica tem frmulas uniformes e concisas

    para todos os fatores e podem ser facilmente obtidas, independentemente do nmero

    de fatores. As frmulas para o mtodo Laspeyres Refinado so muito mais complexas,

    especialmente quando o nmero de fatores superior a trs, que frequentemente o

    caso em estudos sobre a decomposio de indicadores ambientais.

    Em relao ao mtodo de Divisia com mdia aritmtica, este apresenta duas

    deficincias. Primeira, no passa no teste de reverso de fatores, dessa forma, o mtodo pode

    apresentar resduo nas seguintes situaes: (a) decomposio de cross-country, quando a

    variao dos dados entre pases grande, (b) a decomposio em uma base anual encadeada

    durante um longo perodo de tempo, os resduos se acumulam ao longo do tempo, e (c)

    decomposio em uma base no-encadeada, mas os dois anos de decomposio estendem-se

    durante um longo perodo de tempo onde as mudanas nos dados so significativas (Ang,

    2004).

    A segunda insuficincia do mtodo de Divisia com mdia aritmtica que ele falha

    quando o conjunto de dados contm valores zero, por exemplo, quando uma fonte de energia

    comea ou deixa de ser usada em um setor no perodo do estudo. Dessa forma, do ponto de

    vista da fundamentao terica, o mtodo de Divisia com mdia logartmica mais

    recomendado porque, primeiro, eles passam no teste de reverso de fatores e teste de reverso

    de tempo. Em segundo lugar, o mtodo com decomposio multiplicativa tambm possui a

    propriedade da forma aditiva, ou seja, ln (Dtot) = Ln (Dstr) + Ln (Dint). Em terceiro lugar, os

    resultados das verses multiplicativas e aditivas esto ligados por uma frmula simples6:

    int

    int

    lnlnln D

    V

    D

    V

    D

    V

    estr

    estr

    tot

    tot (3.34)

    Com esta simples relao, uma vez que tm o efeito estimado para um determinado

    fator em decomposio multiplicativa, o efeito correspondente estimado em decomposio

    6 Para mais detalhes ver Ang (2004).

  • 54

    aditivo pode ser facilmente derivado, e vice-versa. Dessa forma, a escolha entre o mtodo

    multiplicativo ou aditivo arbitrria.

    Neste trabalho utilizar-se- o Mtodo de Decomposio Aditivo Laspeyres Refinado

    proposto inicialmente por Sun (1998). Optou-se por este mtodo, pois como pode ser visto na

    Tabela 2 ele cumpre todos os testes de Fundamentao Terica alm de ser um mtodo

    facilmente adaptvel. Outra importante qualidade atribuda ao mtodo sua facilidade de uso,

    compreenso e apresentao dos resultados.

    3.2 Modelo de Cointegrao

    Nesta seo apresenta-se o modelo de Cointegrao de Johansen, que permite analisar

    as inter-relaes dinmicas entre as variveis econmicas. Essas inter-relaes ocorrem entre

    o consumo de energia pela indstria, PIB industrial, preos ponderados de energia e

    intensidade energtica da indstria, contudo para tanto, necessrio apresentar algumas

    definies teis para aplicar o Mtodo de Cointegrao de Johansen.

    3.2.1 Estacionariedade

    Segundo Gujarati (2000), uma srie estacionria fracamente quando sua mdia

    constante ao longo do tempo; sua varincia tambm deve ser constante ao longo do tempo; e

    sua covarincia indica que a autocorrelao entre dois valores de yt, tomados a partir de dois

    perodos de tempo distintos, depende somente do intervalo de tempo entre esses dois

    valores e no de sua data, ou seja, Cov(yt, yt+s ) constante para todo t que no seja igual a

    s.

    Caso um dos pressupostos mencionados no seja atendido, a srie temporal analisada

    no estacionria. A utilizao de sries temporais no-estacionrias na anlise de regresso

    clssica pode levar a um problema conhecido na literatura como regresso espria, cuja

    principal caracterstica um elevado valor de R2

    , t estatstico e uma estatstica DW baixa,

    que podem parecer significativos, porm no tm nenhum significado econmico.

    As sries temporais econmicas so na sua maioria no-estacionrias em nvel.

    Contudo, sries no-estacionrias podem-se tornar estacionrias depois de uma ou mais

    diferenciaes. Uma srie temporal que precisa ser diferenciada d vezes para se tornar

  • 55

    estacionria chamada integrada de ordem d ou I(d). Desse modo, uma srie estacionria

    em nvel dita ser I(0).

    Uma srie estacionria importante em economia, pois no faz sentido econmico

    trabalhar com sries que so explosivas com o passar do tempo. Utilizam-se testes de raiz

    unitria com a finalidade de testar a estacionariedade de uma srie; o passo seguinte testar a

    co-integrao das sries de modo a utilizar o modelo VAR.

    3.2.2 Teste de Raiz Unitria

    Para determinar a estacionariedade das sries, um dos principais testes de raiz unitria

    o Dickey-Fuller Aumentado (ADF). O teste de raiz unitria ADF apresenta-se da seguinte

    forma:

    tjt

    p

    j

    jtt eyyty1

    1

    111 )1( (3.35)

    Onde, o intercepto, t a tendncia, o operador de diferena. O nmero de

    defasagens determinado pelo menor valor do Critrio de Schwarz, com a finalidade de

    eliminar a autocorrelao dos resduos. O teste de raiz unitria testa a hiptese nula de

    presena de raiz unitria ( =1) contra a hiptese alternativa de que a serie estacionria (

    < 1).

    Para determinar o nmero de defasagens utilizado o Critrio de Informao de

    Akaike (AIC). O critrio funciona da seguinte forma:

    NTAIC 2||log

    Onde, || o determinante da matriz de varincia e covarincia dos resduos e N o

    nmero total de parmetros estimados em todas as equaes do sistema. No modelo VAR

    com p defasagens contendo n variveis mais intercepto, o nmero total de parmetros

    estimados em todas as equaes corresponde a N = n2

    p + n, sendo que cada uma das n

    equaes contm np defasagens mais intercepto.

    O teste ADF apresenta alguns problemas que podem comprometer a eficincia do

    teste, Maddala e Kim (1998), argumentam que os testes de rai