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1 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRECTIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde (doravante ERS) conferidas pelo artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio; Considerando os objectivos da actividade reguladora da ERS estabelecidos no artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio; Considerando os poderes de supervisão da ERS estabelecidos no artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio; Visto o processo registado sob PMT n.º 020/11; I DO PROCESSO A) Introdução 1. Por deliberação do Conselho Directivo da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) procedeu-se à abertura do processo de monitorização registado sob n.º PMT_020/2011, para aferir do cumprimento da instrução proferida nos termos do Processo de Inquérito n.º ERS_032/10. 2. No âmbito do processo de inquérito ora referenciado competiu à ERS averiguar a veracidade dos factos noticiados na Comunicação Social e das denúncias apresentadas por utentes de cuidados de saúde, a respeito de alegada falta de condições ao nível de instalações, equipamentos, segurança e organização das unidades hospitalares, para o exercício da actividade, que integram o Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. B) Factualidade 3. Sumariamente, no que ao Hospital Maria Pia diz respeito foram evidenciadas falhas infra- estruturais, deficiências nas medidas de segurança e, sobretudo, a necessidade de implementação de medidas de melhoria, por forma a possibilitar a prestação de cuidados de saúde garantindo a qualidade e segurança dos utentes.

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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRECTIVO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde (doravante ERS) conferidas

pelo artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

Considerando os objectivos da actividade reguladora da ERS estabelecidos no artigo 33.º do

Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

Considerando os poderes de supervisão da ERS estabelecidos no artigo 42.º do Decreto-Lei

n.º 127/2009, de 27 de Maio;

Visto o processo registado sob PMT n.º 020/11;

I

DO PROCESSO

A) Introdução

1. Por deliberação do Conselho Directivo da Entidade Reguladora da Saúde (ERS)

procedeu-se à abertura do processo de monitorização registado sob n.º PMT_020/2011,

para aferir do cumprimento da instrução proferida nos termos do Processo de Inquérito n.º

ERS_032/10.

2. No âmbito do processo de inquérito ora referenciado competiu à ERS averiguar a

veracidade dos factos noticiados na Comunicação Social e das denúncias apresentadas

por utentes de cuidados de saúde, a respeito de alegada falta de condições ao nível de

instalações, equipamentos, segurança e organização das unidades hospitalares, para o

exercício da actividade, que integram o Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.

B) Factualidade

3. Sumariamente, no que ao Hospital Maria Pia diz respeito foram evidenciadas falhas infra-

estruturais, deficiências nas medidas de segurança e, sobretudo, a necessidade de

implementação de medidas de melhoria, por forma a possibilitar a prestação de cuidados

de saúde garantindo a qualidade e segurança dos utentes.

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II

DA TRAMITAÇÃO DO PROCESSO DE INQUÉRITO ERS/032/10

A) Diligências efectuadas no âmbito do processo de inquérito

4. Competindo à ERS a regulação e a supervisão da actividade dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde, mormente no que respeita ao cumprimento dos

requisitos de exercício da actividade e à garantia dos direitos e interesses legítimos dos

utentes, foram tomadas as diligências tidas por convenientes para o tratamento da

factualidade denunciada e noticiada, nos termos previstos no Decreto-Lei n.º 127/2009, de

27 de Maio.

5. Concretamente, a ERS levou a efeito uma acção de fiscalização àquele estabelecimento

prestador assente nos seguintes propósitos: (a) verificar o cumprimento dos requisitos de

exercício da actividade e funcionamento dos estabelecimentos de saúde e a sua

conformidade com as disposições legais e regulamentares aplicáveis e os padrões de

qualidade mínimos exigíveis; (b) analisar as condições higieno-sanitárias; e (c) averiguar

os níveis de segurança.

6. No decurso dessa acção tornaram-se evidentes não conformidades no que respeita aos

fluxos infra-estruturais, funcionais e organizacionais, em prejuízo da prestação de

cuidados de saúde pediátricos com observância de padrões de qualidade e segurança,

indispensáveis ao exercício dessa actividade.

7. Sendo de ressaltar, a inexistência de um circuito de doentes, a inexistência de circuitos

independentes de sujos e limpos, ausência de área de transfer no bloco operatório, as

dimensões insuficientes da sala de recobro, a inexistência de um sistema de chamada de

enfermagem, as dimensões reduzidas dos gabinetes e salas de trabalho, evidenciando

problemas de privacidade e falta de condições de trabalho ao nível das exigências

ergonómicas, o desrespeito pela privacidade e dignidade dos doentes e respectivos

acompanhantes, dada a falta de condições das instalações das enfermarias.

8. Finda a instrução do processo de inquérito, ponderada a factualidade apresentada, as

conclusões decorrentes da acção de fiscalização e apreciada a prova produzida, o

Conselho Directivo da ERS, ao abrigo dos poderes previstos no art. 42.º al. b) do Decreto-

Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, emitiu uma instrução ao Centro Hospitalar Porto, E.P.E.,

relativa ao Hospital Maria Pia.

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9. Concretamente, foi deliberado que o Centro Hospitalar do Porto, E.P.E., relativamente à

citada unidade hospitalar, deveria, no prazo máximo de cento e oitenta (180) dias, dar

cumprimento às directrizes que se enunciam:

a) Proceder à definição do circuito dos doentes no bloco operatório;

b) Implementar uma zona de transfer de doentes no bloco operatório, de modo a

minimizar os riscos clínicos associados;

c) Adoptar medidas de modo a assegurar a dignidade e a privacidade dos doentes e

seus acompanhantes;

d) Reorganizar as instalações das enfermarias de modo a assegurar a prestação de

cuidados de saúde no respeito da dignidade e privacidade dos doentes;

e) Implementar um sistema de chamada de enfermagem, que acautele a segurança

dos doentes e garanta uma resposta rápida face à necessidade dos cuidados

saúde;

f) Reformar os gabinetes e salas de trabalho tendo em vista a melhoria das

condições de trabalho ao nível das exigências ergonómicas;

g) Proceder à definição de um circuito de sujos e limpos independentes, evitando a

promiscuidade dos procedimentos;

h) Proceder à instalação de equipamentos para detecção automática de incêndio, de

modo a suprir as deficiências evidenciadas e garantir a segurança dos doentes;

i) Equipar a unidade hospitalar de um sistema de controlo da temperatura e

qualidade do ar, garantindo o arejamento e a ventilação adequada das instalações.

10. Mais se deliberou que, mostrando-se inviável o cumprimento da instrução emitida, o

Centro Hospitalar do Porto, EPE deveria proceder ao encerramento da actividade nas

instalações do Hospital Maria Pia, no prazo máximo de três (3) anos.

B) Abertura de processo de monitorização

11. No seguimento da instrução emitida no âmbito do processo de inquérito ERS_032/10, por

deliberação do Conselho Directivo, datada de 11/11/2010, procedeu-se à abertura do

processo de monitorização n.º PMT_020/11, com a finalidade de acompanhar o

comportamento adoptado pelo Centro Hospitalar do Porto, EPE, tendente ao cumprimento

da instrução emitida.

12. Consignando-se para o efeito o decurso de um prazo considerado razoável, leia-se cento

e oitenta (180) dias, para a efectiva implementação, findo o qual deveria a ERS adoptar as

diligências reputadas oportunas para aferir do respectivo cumprimento.

4

III

DO PROCESSO DE MONITORIZAÇÃO

A) Acção de fiscalização

13. Na tramitação do processo de monitorização PMT_020/2011, competiu à ERS, no âmbito

dos seus poderes de supervisão, averiguar o cumprimento da deliberação do Conselho

Directivo da ERS emitida em sede do processo de inquérito ERS/032/10.

14. Dando cumprimento ao determinado, foi promovida uma acção de fiscalização ao Hospital

Maria Pia, com a finalidade de acompanhar e verificar o comportamento adoptado pelo

Centro Hospitalar do Porto, E.P.E., tendente ao cumprimento da instrução – cfr.

documento 1 junto aos autos.

15. No âmbito dessa acção, executada no dia 2 Agosto de 2011, foram realizadas outras

diligências, de igual modo reputadas necessárias e pertinentes, designadamente a

obtenção de informações e de esclarecimentos junto dos representantes daquele Centro

Hospitalar e do Hospital Maria Pia, que acompanharam a comissão de fiscalização da

ERS.

B) Relatório da acção de fiscalização

16. Conforme anteriormente dito, o âmbito da acção de fiscalização assentou na verificação e

acompanhamento das medidas implementadas pelo Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.,

quanto ao cumprimento da instrução emitida pela ERS, relativamente às não

conformidades infra-estruturais, organizacionais e funcionais verificadas no Hospital Maria

Pia.

17. Concretamente, competiu à comissão de fiscalização da ERS verificar a implementação

das medidas enunciadas no ponto 9, que seguidamente se analisam – cfr. relatório da

acção de fiscalização que se junta aos autos sob documentos 2 e 3.

(i) Enfermarias

18. Relativamente às instalações das enfermarias do Hospital Maria Pia a instrução emitida

ditava a necessidade de proceder à reorganização das respectivas instalações, de modo a

assegurar a prestação de cuidados de saúde no respeito da dignidade e privacidade dos

doentes, e implementar um sistema de chamada de enfermagem, que acautelasse a

5

segurança dos doentes e garantisse uma resposta rápida face à necessidade de cuidados

saúde.

19. In loco, a comissão de fiscalização da ERS verificou que tais medidas não haviam sido

implementadas.

20. Efectivamente, ouvidos e colhidos os esclarecimentos apresentados pelos representantes

do Hospital Maria Pia, que acompanharam a acção de fiscalização, aquela comissão foi

informada que a reorganização das instalações das enfermarias não foram iniciadas por

falta de verba, mas o plano de obras já havia sido elaborado pelo departamento de

infância e adolescência e remetido ao serviço de aprovisionamento – conforme documento

4 junto aos autos.

21. No mesmo sentido vão os esclarecimentos apresentados pelo Centro Hospitalar do Porto,

E.P.E., em resposta à notificação da ERS após o decurso da acção de fiscalização.

22. Assim, relativamente ao estádio das obras de reorganização das instalações afectas a

enfermarias é referido que “as mesmas têm decorrido ao longo dos últimos anos, ao ritmo

e profundidade compatíveis com o facto de se planear, e se encontrar agora em curso, a

obra de construção do CMIN [leia-se Centro Materno-Infantil do Norte], instalação para

onde serão transferidos os serviços agora instalados no HMP” [Hospital Maria Pia] –

conforme informação adiante junta aos autos sob documento 5.

23. No seguimento desse esclarecimento aquela entidade seleccionou um conjunto de alguns

exemplos de obras e aquisições realizadas, nos anos de 2009, 2010 e 2011, que ilustram

a preocupação permanente em melhorar as condições de funcionamento do Hospital

Maria Pia, no que respeita ao conforto e segurança das crianças, seus pais ou

acompanhantes e profissionais de saúde – vide documento 5 junto.

24. Adicionalmente é dito que, “inserido no âmbito das iniciativas de responsabilidade social

da Fundação EDP, o Hospital Maria Pia será beneficiário, no âmbito do programa “Parte

de Nós” (…), onde se encontram incluídas melhorias sistemas de electricidade e

iluminação, a colocação de estores, de 16 cortinas em U e a disponibilização de cacifos,

bem como a decoração da sala de refeitório” – cfr. documento 5 junto.

25. No que respeita à implementação de um sistema de chamada de enfermagem nas

enfermarias foi confirmado pela comissão de fiscalização que o mesmo não foi levado a

efeito.

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26. Sobre esta questão o Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. declarou que o sistema de

chamada de enfermagem “está disponível no internamento médico-cirúrgico” e que no

serviço de cuidados intensivos, no recobro e no serviço de lactentes a sua disponibilização

não encontra justificação, dada a vigilância permanente por equipas médicas e de

enfermagem, o estado clínico e idade dos pacientes. Mais referiu que a permanência dos

pais/acompanhantes e a permanente vigilância de enfermagem no serviço de nefrologia

“garantem o apoio que seja necessário just-in-time” – vide documento 5 junto aos autos.

(ii) Salas de trabalho

27. Por outro lado, a instrução emitida pela ERS ditava a necessidade de se proceder à

reforma dos gabinetes e salas de trabalho, tendo em vista a melhoria das condições de

trabalho ao nível das exigências ergonómicas.

28. Relativamente à implementação desta medida verificou-se que aqueles compartimentos

foram objecto de adaptações ao nível do aumento da superfície de trabalho,

concretamente adaptações de mobiliário, de modo a permitir um melhor aproveitamento

do espaço, contudo mantêm uma volumetria manifestamente insuficiente face à actividade

aí prestada – cfr. relatório da acção de fiscalização junto sob documento 2.

(iii) Bloco operatório

29. Ao nível das instalações do bloco operatório a instrução dirigida ao Centro Hospitalar do

Porto, E.P.E. preconizava a necessidade de implementar uma zona de transfer de

doentes, de modo a minimizar os riscos associados, e ao nível de procedimentos a

necessidade de proceder à definição de um circuito dos doentes.

30. Quanto à prossecução de tais medidas, no decurso da acção de fiscalização, constatou-se

que as instalações do bloco operatório não foram objecto de intervenção significativa ao

nível de infra-estruturas e equipamentos, nem da reorganização funcional e da

identificação de espaços e circuitos.

31. Efectivamente, foi referido, pelos representantes da unidade hospitalar, que

acompanharam a acção de fiscalização, que qualquer intervenção no bloco operatório

coloca em causa o respectivo funcionamento.

32. A respeito da definição de um circuito de doentes, o Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.,

dando cumprimento ao pedido de esclarecimentos solicitado pela ERS veio dizer que a

“reestruturação recente a que o bloco operatório do Hospital Maria Pia foi submetido, para

melhoria das condições estruturais e funcionais (…) optimizou, na medida do que é

possível, os circuitos acima referidos [leia-se circuitos de pessoas e materiais]. Os doentes

7

entram e saem do bloco pelo mesmo local, depois de circularem pela sala operatória e

área de recobro, sem cruzamento com o circuito do material e dos resíduos. O material e

os resíduos usam o mesmo acesso ao bloco, respeitando a circulação independente e as

regras de higienização próprias e específicas, por utilizarem o mesmo elevador” –

conforme documento 5 adiante junto aos autos.

33. Quanto à implementação de uma zona/área de transfer de doentes, o Centro Hospitalar do

Porto, E.P.E. apresentou a informação que se segue: “a) as restrições de arquitectura e de

espaço do bloco operatório não são estruturalmente compatíveis com uma barreira física

tipo transfer; b) o turnover, a faixa etária e o estrato ponderal dos doentes são condições

que não condicionam uma utilização máxima e eficiente de um transfer físico e minimizam

(…) a premência da questão. A experiência dos profissionais do bloco operatório neste

âmbito permite escrever que esse dispositivo se interporá, num número considerável de

casos, mais como uma barreira do que um facilitador na transferência de doentes

particularmente no pós-operatório imediato” – vide documento 5 adiante junto aos autos.

34. Concluiu aquele centro hospitalar que “a sua inexistência [leia-se área de transfer] não é,

neste caso particular, considerado um factor limitativo ao desenvolvimento da actividade

clínica em segurança” e que até à recente reestruturação “o empenho e profissionalismo

dos profissionais têm, ao longo do tempo, contornado de forma exemplar os

condicionalismos estruturais existentes” – cfr. documento 5 junto aos autos.

35. Por fim, a acrescer aos esclarecimentos apresentados relativamente à reestruturação do

bloco operatório, o Centro Hospitalar visado refere que a “transferência, em Setembro

próximo, da cirurgia de ambulatório pediátrica para o edifício do CICA [Centro Integrado de

Cirurgia de Ambulatório], poderá criar as condições a uma nova reestruturação recorrendo

ao dimensionamento do número de salas do BO do HPM [bloco operatório do Hospital

Maria Pia] e eventual readaptação do espaço” para implementação de uma zona de

transfer e uma definição dos circuitos de pessoas e materiais. Mais adita que “a avaliação

custo benefício desta intervenção deverá ser ponderada face ao projecto de construção do

CMIN” – cfr. documento 5 adiante junto.

(iv) Circuitos sujos e limpos

36. Relativamente aos circuitos de sujos e limpos consignou-se que o Hospital Maria Pia

deveria proceder à definição de circuitos independentes, de modo a evitar a

promiscuidade dos procedimentos.

37. Quanto à definição de circuitos independentes de sujos e limpos foram referidas a

adopção de medidas concretas, enumerando-se a afectação de duas

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zonas/compartimentos adstritos aos sujos, na área de nefrologia e da unidade de cuidados

intensivos.

38. Não obstante, veja-se o relatório da acção de fiscalização que refere a inadequação dos

circuitos de sujos e limpos, reiterando a subsistência das deficiências enunciadas na

instrução emitida pela ERS, no âmbito do processo de inquérito registado sob ERS/032/10

– conforme documento 2 junto aos autos.

39. Concretamente, a inexistência de uma definição de circuitos independentes de limpos e

sujos, na medida em que o circuito é o mesmo e passa por áreas comuns a profissionais e

doentes, inexistindo, desse modo, uma metodologia capaz de salvaguardar padrões de

qualidade e segurança dos serviços.

(v) Sistema de segurança contra incêndios

40. Ao nível dos procedimentos de segurança contra incêndios o Centro Hospitalar do Porto,

E.P.E. foi instruído no sentido de proceder à instalação de equipamentos para detecção

automática de incêndio, de modo a suprir as deficiências evidenciadas e garantir a

segurança dos doentes.

41. No decurso da acção de fiscalização os representantes responsáveis pela recepção da

comissão da ERS, destacando-se o representante do Serviço de Instalações e

Equipamentos e do Sector de Segurança, referiram a instalação de equipamentos de

detecção automática de incêndio, o reforço da sinalética, a colocação de planos e plantas

de emergência, em diferentes áreas da unidade hospitalar, factos que foram verificados in

loco.

(vi) Climatização

42. Quanto ao sistema de climatização das instalações foi emitida instrução no sentido de ser

instalado um sistema de controlo da temperatura e qualidade do ar, de modo a garantir o

arejamento e a ventilação adequada das instalações

43. A respeito da implementação destas medidas a comissão da ERS foi informada sobre a

instalação de equipamentos de ar condicionado nas enfermarias, custeados pelo

mecenato, factos presenciados no decurso da acção de fiscalização, e sobre a

contratualização de aquisição de serviços de manutenção de assistência técnica – teor

residual de gases, avaliação do sistema de AVAC e análise microbiológica, com

especificações relativamente a cada uma das unidades – conforme Anexo I e Anexo II

juntos ao documento 5.

9

(vii) Procedimentos

44. Ao nível dos direitos dos utentes na instrução da ERS consignou-se a necessidade de

implementar medidas e procedimentos que permitissem assegurar a dignidade e a

privacidade dos doentes e respectivos acompanhantes.

45. Contudo, no decurso da acção de fiscalização verificou-se que não foram implementadas

quaisquer medidas ou procedimentos no sentido de melhorar as condições de conforto e

privacidade dos doentes e acompanhantes.

46. Tal facto foi afirmado pelos representantes da unidade hospitalar que acompanharam a

acção de fiscalização, referindo que a adopção de tais medidas estava dependente do

início das obras de reestruturação das enfermarias. Mais referiram que os dois edifícios

anexos à unidade hospitalar iam ser reestruturados, tendo em vista a reorganização e

respectiva afectação a áreas exclusivas de apoio, de modo a libertar espaços e melhorar

as condições de habitabilidade dos doentes e acompanhantes.

(viii) informações adicionais

47. Ainda, no âmbito da acção de fiscalização foi referido por aqueles representantes e

verificado pela comissão da ERS a colocação de portas interiores de segurança no

elevador que, à data da primeira fiscalização, apresentava deficiências.

48. Por último, a comissão de fiscalização da ERS foi informada sobre a implementação de

um circuito de videovigilância, no perímetro interior e exterior, por forma a reforçar a

segurança das instalações, profissionais e utentes, facto que foi verificado, bem como

sobre a redefinição do circuito do medicamento, encontrando-se em avaliação a

implementação da dose unitária, e a elaboração de um plano de emergência que foi

submetido a apreciação e, posterior, aprovação.

IV

DO DIREITO

A) Das atribuições e competências da ERS

49. Constituem atribuições da ERS a regulação da actividade dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde, nos termos do art. 3º do Decreto-lei 127/2009, de 27

de Maio.

10

50. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do artigo 8.º do Decreto-Lei n.º

127/2009, de 27 de Maio, todos os “(...) estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde, do sector público, privado e social, independentemente da sua natureza jurídica

(…)”.

51. O Hospital Maria Pia é um estabelecimento prestador de cuidados de saúde, integrado no

Centro Hospitalar do Norte, E.P.E. - cfr. comprovativo de registo do Sistema de Registo de

Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS junto aos autos sob documento 6.

52. Na prossecução da sua missão, é legalmente acometida à ERS, entre outros, o objectivo

de “velar pelo cumprimento do exercício da actividade dos estabelecimentos prestadores

de cuidados de saúde, nos termos da lei”, bem como “ garantir os direitos e interesses

legítimos dos utentes”, conforme disposto nas al. a) e c) do art. 33.º do Decreto-Lei

127/2009, de 27 de Maio;

53. Competindo-lhe nesse seguimento, e entre outras atribuições, “pronunciar-se e fazer

recomendações sobre os requisitos necessários para o funcionamento dos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde e velar pelo cumprimento dos

requisitos legais e regulamentares de funcionamento e sancionar o seu incumprimento” –

conforme disposto no art. 34.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

54. Competindo-lhe, de igual modo, analisar e avaliar os acontecimentos que possam ser

susceptíveis de prejudicar os direitos dos utentes, bem como avaliar a qualidade dos

cuidados de saúde prestados, tendo em vista a defesa do interesse público e dos direitos

dos utentes – nos termos do disposto no art. 36.º al. a), b) e c) do Decreto-Lei n.º

127/2009, de 27 de Maio e art. 4.º, n.º 2 al. a) e n.º 3 al. c) da Portaria n.º 418/2005, de 14

de Abril;

55. Podendo fazê-lo mediante o exercício dos seus poderes de supervisão consubstanciado

no dever de “velar pela aplicação das leis e regulamentos e demais normas aplicáveis às

actividades sujeitas à sua regulação”, e na emissão de “ordens e instruções, bem como

recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja necessário” – cfr. alíneas

a) e b) do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio.

56. Ora, dos factos supra expostos resulta, em suma, a necessidade de verificar o

cumprimento da instrução emitida ao Centro Hospitalar do Porto, E.P.E., relativa ao

Hospital Maria Pia, em sede do processo de inquérito ERS/032/10.

57. Sendo que toda a análise acautelará o cumprimento dos requisitos do exercício da

actividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, in casu no que

11

respeita ao regular funcionamento do Hospital Maria Pia, tendo em conta a prestação de

cuidados de saúde pediátricos, mediante a observância de padrões mínimos de segurança

e qualidade indispensáveis ao exercício dessa actividade, tendente à defesa dos direitos e

interesses legítimos dos utentes.

58. Devendo aqui, concretamente, averiguar-se da implementação das medidas preconizadas

na citada instrução, em virtude das não conformidades infra-estruturais, organizacionais e

funcionais apuradas no âmbito do processo de inquérito ERS/032/10, relativas às

enfermarias, salas e gabinetes de trabalho dos profissionais, ao bloco operatório, aos

circuitos de sujos e limpos, ao sistema de segurança contra incêndios, à climatização e ao

respeito pelo direito à privacidade e dignidade dos doentes e acompanhantes.

59. De igual modo, pretende-se apurar da flexibilidade funcional, interna e estrutural do

edifício hospitalar face às remodelações ou alterações implementadas, do layout dos

serviços, compartimentos e equipamentos, bem como a sua viabilidade futura.

60. Nesse sentido, cumpre apreciar e decidir em face dos factos apurados.

B) Do exercício da actividade e funcionamento do Hospital Maria Pia

61. A respeito dos requisitos do exercício da actividade dos estabelecimentos prestadores de

cuidados de saúde do sector público, in casu, no que respeita ao funcionamento do

Hospital Maria Pia, veja-se a fundamentação ínsita na instrução emitida no âmbito do

processo de inquérito ERS/032/10, que aqui se dá por integralmente reproduzida, que

aplica à questão em assunto as regras previstas na legislação que regulamenta o

licenciamento dos estabelecimentos privados prestadores de cuidados de saúde, no que

respeita aos requisitos mínimos de qualidade e segurança1, bem como as recomendações

e especificações técnicas relativas a edifícios hospitalares e directivas técnicas de

prevenção de incêndios em hospitais2, ambas da ACSS

3, que definem os parâmetros a

que a concepção, construção e manutenção dos edifícios hospitalares devem obedecer.

62. Por outro lado, foram ainda considerados artigos técnicos no âmbito de cuidados de saúde

pediátricos e legislação nacional e internacional atinente aos direitos e deveres dos

utentes, no geral, e das crianças, em particular.

1 Leia-se Decreto Regulamentar n.º 63/94, de 2 de Novembro.

2 Directiva Técnica 01-02/2007.

3 Publicadas no sítio da internet da Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS).

12

63. No âmbito do citado processo de inquérito, a ERS, em face dos normativos,

recomendações e directivas supra enunciados e da prova produzida, concluiu que o

funcionamento do Hospital Maria Pia apresentava algumas não conformidades, em

prejuízo dos padrões de qualidade e segurança inerentes à prestação de cuidados de

saúde, o que ditou a emissão da instrução e cujo cumprimento se pretende aferir, no

âmbito do presente processo de monitorização.

64. Para o efeito deve-se atender às conclusões vertidas no relatório de fiscalização da

comissão da ERS, emitidas na sequência da acção de fiscalização, realizada no dia 2 de

Agosto de 2011, e aos esclarecimentos apresentados pelo Centro Hospitalar do Porto,

E.P.E. na sequência da mesma, que se dão por reproduzidos – cfr. documentos 2, 3 e 5

juntos aos autos.

65. Assim, ditam as conclusões vertidas no relatório referenciado que, excepção feita ao nível

do equipamento de detecção automática de incêndio e ao nível da climatização, o Centro

Hospitalar do Porto, E.P.E não implementou as medidas vertidas na instrução emitida pelo

Conselho Directivo da ERS, relativamente ao funcionamento do Hospital Maria Pia.

66. Concretamente, atente-se os factos descritos no relatório de fiscalização, analisados no

Ponto III alínea B, que dão conta das medidas e procedimentos que não foram

implementados.

67. Relativamente às instalações das enfermarias do Hospital Maria Pia constatou-se que não

foram implementadas medidas no sentido de promover a reorganização do espaço das

enfermarias, de modo a garantir a dignidade e privacidade na prestação de cuidados de

saúde, nem a instalação de um sistema de chamada de enfermagem; sendo tais factos,

igualmente, confirmados pelo Centro Hospitalar do Porto, E.P.E, conforme declarações

juntas aos autos sob documento 5.

68. Mais se referia relativamente às salas de trabalho e gabinetes que apesar de terem sido

implementadas adaptações ao nível do mobiliário, continuam a apresentar uma volumetria

manifestamente insuficiente, atento o fim visado.

69. Quanto à implementação das medidas estabelecidas na instrução relativas ao bloco

operatório verificou-se que aquele espaço não foi objecto de uma intervenção significativa

ao nível de infra-estruturas e equipamentos, da reorganização funcional e da identificação

de espaços e circuitos.

70. No que respeita à definição de circuitos independentes de sujos e limpos, apesar das

declarações apresentadas pelo Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. sobre a adopção de

13

algumas medidas, concretamente a afectação de duas zonas/compartimentos adstritos

aos sujos na área de nefrologia e na unidade de cuidados intensivos, concluiu o relatório

de fiscalização pela inadequação dos circuitos de sujos e limpos, e, nesse sentido, a

subsistência das deficiências enunciadas na instrução emitida pela ERS.

71. Por outro lado, no que respeita à adopção de medidas e procedimentos que permitam

assegurar a privacidade e dignidade dos doentes e respectivos acompanhantes,

constatou-se que os mesmos não foram implementados, na medida em que estão

dependentes do início das obras de reestruturação das enfermarias.

72. Pelo exposto, atendendo aos factos presenciados, descritos no relatório de fiscalização, e

aos esclarecimentos apresentados pelo Centro Hospitalar do Porto, E.P.E, é forçoso

concluir pelo incumprimento parcial da instrução emitida pelo Conselho Directivo da ERS,

no âmbito do processo de inquérito ERS/032/10.

73. Mais se concluiu que, sem prejuízo do empenho e preocupação dos profissionais em

minimizar as deficiências identificadas, as características do edifício e exiguidade dos

espaços condicionam fortemente a sua adequação com parâmetros de qualidade e

segurança desejáveis.

C) Do direito à protecção da saúde

74. Na ordem jurídica portuguesa a consagração do direito à protecção da saúde está

plasmado na Constituição da República Portuguesa (CRP), no art. 64.º, na Lei de Bases

da Saúde4, na Base V, n.º 2, e na Base XIV, n.º 1 al. c), no Estatuto do Serviço Nacional

de Saúde5, no Regulamento Jurídico da Gestão Hospitalar

6 e na Carta dos Direitos de

Acesso aos Cuidados de Saúde pelos Utentes do SNS7.

75. A Lei de Bases da Saúde em concretização da imposição constitucional contida no

preceito ora citado, estabelece na sua Base V, n.º 2 que “os cidadãos têm direito a que os

serviços públicos de saúde se constituam e funcionem de acordo com os seus legítimos

interesses” e na Base XIV, n.º 1 al. c) que ““os utentes têm o direito de ser tratados pelos

meios adequados, humanamente e com prontidão, correcção técnica, privacidade e

respeito”.

4 Aprovada pela Lei n.º 48/90, de 24 de Agosto e alterada pela Lei n.º 27/2002, de 8 de Novembro.

5 Lei n.º 11/93, de 15 de Janeiro, alterada pelos Decretos-Lei n.º 53/98, de 11 de Março, n.º 401/98, de 17

de Dezembro, n.º 68/2000, de 26 de Abril, n.º 223/2004, de 3 de Dezembro, n.º 222/2007, de 29 de Maio,

e n.º 276-A/2007, de 31 de Julho. 6 Lei n.º 27/2002, de 8 de Novembro.

7 Portaria n.º 1529/2008, de 26 de Dezembro.

14

76. No que ao caso importa, além destes, devem, igualmente, ser tidos presentes os

normativos que expressamente visam os direitos dos menores de idade na prestação de

cuidados de saúde, que resultam, sobretudo, de fontes de direito internacional, que

estabelecem um conjunto de direitos aos beneficiários de tais serviços e um conjunto de

obrigações e orientações aos Estados que aderiram a tais convénios, de modo a garantir a

promoção e protecção da saúde da criança, a saber: a Carta da Criança Hospitalizada8, a

Carta Europeia dos Direitos da Criança e do Adolescente relativamente à Pediatria

Ambulatória9 e a Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas, de 20 de

Novembro de 198910

.

77. Assim, considerando que, entre outros, é objectivo da actividade reguladora da ERS

garantir os direitos e interesses legítimos dos utentes;

78. E, considerando que em sede da instrução emitida pelo Conselho Directivo da ERS, a

garantia dos mesmos foi apreciada em face das não conformidades infra-estruturais,

organizacionais e funcionais evidenciadas, tendo-se verificado uma inequívoca violação

dos direitos à privacidade, dignidade e segurança dos utentes;

79. Cumpre apreciar se as medidas implementadas no Hospital Maria Pia se compadecem

com a garantia daqueles direitos.

80. Conforme o predito, quer o relatório de fiscalização, quer os esclarecimentos

apresentados pelo Centro Hospitalar do Porto, E.P.E dão conta que a citada instrução foi

parcialmente cumprida, concretamente apenas foram implementadas as medidas

preconizadas quanto à instalação de equipamentos para detecção automática de incêndio,

de modo a suprir as deficiências evidenciadas e garantir a segurança dos doentes, e

quanto à instalação de um sistema de controlo da temperatura e qualidade do ar,

garantindo o arejamento e a ventilação adequada das instalações; ficando as demais

medidas por cumprir, pelos motivos acima descritos.

81. Ora, face à não execução de medidas tendentes à reorganização das instalações das

enfermarias, de modo a assegurar a prestação de cuidados de saúde no respeito da

dignidade e privacidade dos doentes e dos respectivos acompanhantes, à não

implementação de um sistema de chamada de enfermagem, que acautele a segurança

8 Aprovada em Leiden por várias associações europeias, em 1988 e divulgada em Portugal pelo Instituto

de Apoio à Criança (IAC). 9 Congresso SEPA-ESAP 2003.

10 Ratificada por Portugal em 21 de Setembro de 1990.

15

dos doentes e garanta uma resposta rápida face à necessidade dos cuidados saúde, à

inexistência de uma zona de transfer de doentes no bloco operatório, de modo a minimizar

os riscos clínicos associados, à indefinição do circuito dos doentes no bloco operatório e à

indefinição de um circuitos independentes de sujos e limpos, é forçoso concluir pela

inequívoca violação de tais direitos [leia-se direito à privacidade, dignidade e segurança

dos utentes].

82. Efectivamente, considerando-se que o direito de respeito do doente é um direito ínsito à

dignidade humana, que se manifesta não apenas no respeito que os profissionais devem

ter por aquele [no que se refere aos aspectos técnicos e aos actos de acolhimento,

orientação e respectivo encaminhamento], mas também ao nível das condições das

instalações e equipamentos, que devem proporcionar o conforto e o bem-estar exigidos

pela situação de vulnerabilidade em que o doente se encontra;

83. A unidade hospitalar deve dispor e proporcionar às crianças um ambiente que

corresponda às suas necessidades físicas, afectivas e educativas, quer no aspecto do

equipamento, quer no do pessoal e da segurança.

84. De igual forma, o direito à privacidade dita que todo o acto de diagnóstico ou terapêutica

só pode ser efectuado na presença dos profissionais indispensáveis à sua execução, de

modo a evitar que ocorram intromissões na vida privada ou familiar do doente, a não ser

que se mostre necessária para o diagnóstico ou tratamento, o doente expresse o seu

consentimento ou exija a presença de outros elementos.

85. Representando a realidade presenciada no decurso da acção de fiscalização, é forçoso

concluir pela inequívoca violação do direito à privacidade e o direito de respeito pela

dignidade dos utentes nos cuidados assistenciais que lhe são prestados, na medida em

que subsistem as não conformidades infra-estruturais e organizacionais anteriormente

verificadas relativamente às condições das infra-estruturais e organizacionais das

enfermarias do Hospital Maria Pia (vide ponto Ponto III – alínea B).

86. Por outro lado, o direito à segurança do utente na prestação de cuidados de saúde é,

de igual modo, colocado em crise, uma vez que as não conformidades verificadas ao nível de

infra-estruturas e organização, sobretudo no que respeita às condições deficitárias das

instalações (quer do ponto de vista de acessos, dimensões, quer da funcionalidade e

operatividade dos serviços), à inexistência da definição de um circuito independente para sujos

e limpos, à inexistência de zona de transfer e à inexistência de um circuito definido para

doentes, condicionam a sua adequação com parâmetros de qualidade e segurança desejáveis.

16

V

DAS CONCLUSÕES

87. No âmbito do processo de inquérito ERS/032/10 a ERS, tendo por base as notícias

divulgadas pela Comunicação Social e denúncias apresentas por utentes, propôs-se

analisar a qualidade e a segurança dos cuidados de saúde, tendo por base padrões

mínimos exigíveis no âmbito da medicina hospitalar, bem como a garantia dos direitos e

interesses legítimos dos utentes.

88. No seguimento das diligências encetadas, com vista ao apuramento da veracidade dos

factos, concluiu-se que o Hospital Maria Pia evidenciava não conformidades infra-

estruturais, organizacionais e funcionais que condicionavam o exercício da actividade em

respeito pelos padrões mínimos de qualidade e segurança a ela inerentes e lesavam

direitos e interesses legítimos dos utentes.

89. Chamado a pronunciar-se relativamente ao projecto de deliberação da ERS no âmbito

daquele processo de inquérito, o Centro Hospitalar do Porto, E.P.E., na qualidade de

interessado, veio dizer que dentro das limitações existentes seriam adoptadas

intervenções que possibilitassem a resolução ou pelo menos a minimização dos

problemas detectados.

90. Assumindo, directamente, o compromisso de adoptar medidas que assegurem a dignidade

e a privacidade dos doentes, a reorganização das instalações das enfermarias, a

implementação de um sistema de chamada de enfermagem, a reforma dos gabinetes e

salas de trabalho e proceder à instalação de equipamentos para detecção automática de

incêndio.

91. E, relativamente às demais não conformidades evidenciadas afirmou serem “de mais difícil

resolução dadas as limitações estruturais do edifício e/ou os volumes financeiros

envolvidos”.

92. A final declarou que, sem prejuízo do escrupuloso cumprimento dos compromissos acima

assumidos, velará pela “reinstalação do Hospital Central Especializado de Crianças Maria

Pia – agora Unidade Maria Pia do Centro Hospitalar do Porto, EPE – em instalações que

proporcionem, no respeito da lei e dignidade da criança hospitalizada, a prestação de

cuidados de saúde de qualidade em ambiente seguro.”

93. Considerando que os argumentos apresentados pelo Centro Hospitalar não infirmaram os

factos e a apreciação tal como constantes do projecto de deliberação, o Conselho

17

Directivo da ERS emitiu uma instrução ao Centro Hospitalar do Porto, E.P.E., no intuito de

prover pelo direito de prestação de cuidados de saúde com qualidade e segurança,

solvendo as não conformidades evidenciadas ao nível de infra-estruturas, organização e

funcionamento, e pelos direitos dos utentes (concretamente o direito à privacidade,

dignidade e segurança na prestação de tais cuidados), consignando-se para o efeito a

adopção de um conjunto de directrizes, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, findo o qual

competia à ERS monitorizar o seu cumprimento.

94. Mais se consignou que mostrando-se inviável o cumprimento da instrução deveria o

Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. proceder à mudança do Hospital Maria Pia para outras

instalações, no prazo máximo de 3 (três) anos.

95. Decorrido o lapso temporal instituído [leia-se 180 dias], competiu à ERS, em sede do

processo de monitorização, registado sob o n.º PMT/020/11, encetar as diligências

reputadas por convenientes, tendentes à averiguação do cumprimento daquelas

directrizes, ou seja, a supressão das não conformidades evidenciadas relativamente ao

Hospital Maria Pia.

96. Analisados os elementos carreados no âmbito do presente processo de monitorização,

concretamente o relatório da acção de fiscalização e os esclarecimentos apresentados

pelo Centro Hospitalar do Porto, E.P.E., verificou-se a subsistência de algumas das não

conformidades identificadas em sede do Processo de Inquérito ERS/032/10, que ditou a

instrução cujo cumprimento ora se pretende aferir.

97. Efectivamente, o relatório da comissão de fiscalização da ERS concluiu que, exceptuando

a aquisição de equipamento de detecção automática de incêndio e a implementação de

um sistema de controlo da temperatura e qualidade do ar, subsistiram as não

conformidades infra-estruturais, fluxos funcionais e organizacionais, aferidas no âmbito do

citado processo de inquérito, que comprometem a prestação de cuidados de saúde em

respeito pelos padrões de qualidade e segurança mínimos exigíveis e violam direitos e

interesses legítimos dos utentes.

98. Concretamente, no que respeita às instalações do bloco operatório, concluiu o citado

relatório que as alterações, pontualmente, implementadas não reflectem uma intervenção

significativa, mantendo-se a inexistência de uma área de transfer de doentes, bem como a

inexistência de sinalização que permita a identificação de espaços e circuitos,

concretamente entradas independentes para doentes e material.

99. De igual modo, concluiu-se que não foram implementadas quaisquer melhorias nas

enfermarias de modo a assegurar a prestação de cuidados de saúde no respeito da

18

dignidade e privacidade dos utentes, nem foi implementado um sistema de chamada de

enfermagem, que acautele a segurança dos doentes e garanta uma resposta rápida face à

necessidade de cuidados de saúde.

100. Efectivamente, concluiu-se que não foram disponibilizados biombos amovíveis/cortinas,

conforme compromisso assumido pelo Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. em sede de

audiência de interessados.

101. Já quanto à substituição e ajustamento progressivo do mobiliário aos postos de trabalho

concluiu-se que foram realizadas alterações nas salas e gabinetes de enfermagem, mas

tais compartimentos apresentam volumetria insuficiente para fazer face à actividade aí

exercida.

102. E, ao nível do risco clínico, concluiu-se pela subsistência da indefinição de circuitos

independentes de sujos e limpos, em detrimento das boas práticas clínicas e dos

princípios que norteiam as políticas de gestão desses riscos, expondo os doentes e os

próprios profissionais a agentes biológicos.

103. De igual modo, concluiu-se que a correcção técnica exigível aos profissionais envolvidos

na prestação de cuidados de saúde poderá ficar ameaçada, na medida em que a

subsistência das não conformidades evidenciadas e não supridas não permitem assegurar

a qualidade e segurança daqueles cuidados, nem a garantia dos direitos e interesses

legítimos dos utentes, que são, directamente, postos em causa.

104. Objectivamente, concluiu-se que, a prestação de cuidados de saúde, in casu, reportados

aos cuidados pediátricos, tal qual é exercida consubstancia uma clara violação dos direitos

dos utentes, concretamente do direito de respeito pela dignidade humana, privacidade e

segurança dos utentes.

105. Atendendo ao supra exposto, é consentâneo que o motivo, principal, subjacente à

subsistência das não conformidades evidenciadas reside nas limitações estruturais do

edifício, mormente pelo facto de se tratar de um edifico centenário que não possui

capacidade de alteração do uso nem de sofrer ampliações, sem perda de coesão.

106. Sem descurar que as intervenções a realizar no Hospital Maria Pia envolvem a aplicação

de valores financeiros avultados.

107. Em suma, é de concluir que a instrução emitida pelo Conselho Directivo da ERS, no

âmbito do Processo de Inquérito registado sob n.º ERS/032/10, foi parcialmente cumprida

19

pelo Centro Hospitalar do Porto, E.P.E., dado que as directrizes aí instituídas não foram

integralmente implementadas.

108. Verificando-se, desse modo, que o Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. não deu, total,

cumprimento ao compromisso assumido, em sede de audiência de interessados, de

encetar um conjunto de medidas correctivas, com vista a colmatar as não conformidades

evidenciadas pela comissão da ERS, concretamente no que respeita à definição do

circuito dos doentes no bloco operatório, à reorganização das instalações das enfermarias,

à reforma dos gabinetes e salas de trabalho, à definição de circuitos independentes de

sujos e limpos e à implementação de medidas que assegurem a privacidade dos doentes

e seus acompanhantes11

.

109. E, muito menos, envidou esforços ou fez prova da adopção de medidas no sentido de

velar pela reinstalação do Hospital Maria Pia em instalações que proporcionem a

prestação de cuidados de saúde tendo em conta os padrões mínimos de qualidade e

segurança exigíveis e o respeito pelos direitos e interesses legítimos dos utentes.

110. À semelhança das conclusões vertidas no Processo de Inquérito ERS/032/10, mantém-se

a convicção da ERS no sentido de que a antiguidade das instalações e a ausência de

flexibilidade estrutural e funcional daquelas, além de não se compadecerem com padrões

mínimos de qualidade e segurança exigíveis na prestação de cuidados de saúde,

prejudicam a capacidade de actuação clínica dos profissionais, apesar do empenho

demonstrado por estes para ultrapassar as limitações impostas pelas infra-estruturas

existentes e prestar os melhores cuidados em função das condições que têm ao seu

alcance.

111. Além de ser um facto assente que a vida útil das instalações do Hospital Maria Pia,

enquanto unidade hospitalar centenária, há muito foi ultrapassada, inviabilizando a

adopção de quaisquer medidas de flexibilidade estrutural e funcional, dado que a estrutura

do edifício não possui capacidade de alteração do uso, nem de sofrer ampliações sem

perda de coesão do mesmo.

112. Pelo que, considerando a subsistência das não conformidades anteriormente evidenciadas

ao nível das infra-estruturas, organização e funcionamento é forçoso concluir que as

condições actuais existentes fazem perigar a satisfação integral da qualidade e segurança

na prestação de cuidados de saúde.

11

Conforme documento junto ao processo de inquérito ERS/032/10.

20

113. Assim, considerando que o principal fundamento do incumprimento da instrução da ERS

pelo Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. reside, essencialmente, na ausência de

flexibilidade estrutural e funcional das instalações e a sua inaptidão para fazer face às

necessidades existentes e prementes;

114. Merece total acolhimento a decisão vertida no âmbito do processo de inquérito

ERS/032/10 ao determinar que, mostrando-se inviável o integral cumprimento da instrução

emitida, deve o Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. proceder ao encerramento da

actividade nas instalações do Hospital Maria Pia, no prazo máximo de três (3) anos,

contados da notificação daquela decisão [leia-se 12 de Novembro de 2010].

115. Prazo tido por adequado face à instrução emitida pela ERS, na medida em que se

considerou ser lapso de tempo máximo para a definição e implementação de um programa

funcional conducente ao encerramento da actividade nas instalações do Hospital Maria

Pia, e por forma a garantir, no decorrer desse período, a prestação assistencial à

população abrangida.

116. Porquanto, deve ter-se presente o lapso de tempo decorrido entre a instrução emitida no

âmbito do processo de inquérito ERS/032/10 e o processo de monitorização que ora se

aprecia, distando aproximadamente um ano.

117. Posto o juízo conclusivo que se apresenta, a disciplina vertida no art. 43.º do Decreto-Lei

n.º 127/2009, de 27 de Maio, dita que a ERS deve tomar as providências que em cada

caso se justifiquem para acautelar ou eliminar uma situação de perigo, derivada do

incumprimento de requisitos legais respeitantes ao funcionamento e actividade dos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde.

118. Mais compete à ERS, no caso de se mostrar impossível a regularização dessa situação,

propor à entidade competente o encerramento do estabelecimento, no caso de se tratar de

estabelecimento do sector público – vide art. 43.º anteriormente referido.

119. No que ao caso respeita, evidenciando-se e demonstrando-se a impossibilidade de

regularização das não conformidades verificadas relativamente ao Hospital Maria Pia, pelo

Centro Hospitalar do Porto, E.P.E., no prazo de 180 (cento e oitenta) dias concedido para

o efeito, pode a ERS propor à Administração Regional de Saúde do Norte, I.P. o

encerramento daquela unidade hospitalar, por se reputar a entidade competente nos

termos das disposições legais vigentes.

120. Concretamente, dita a disciplina vertida no n.º 1 do art. 3.º do Decreto-Lei n.º 222/2007, de

29 de Maio, que as Administrações Regionais de Saúde têm por missão “garantir à

21

população da respectiva área geográfica de intervenção o acesso à prestação de cuidados

de saúde de qualidade, adequando os recursos disponíveis às necessidades em saúde”.

121. Consignando-se, entre as atribuições de cada Administração Regional de Saúde “elaborar

programas funcionais de estabelecimentos”, bem como “elaborar a carta de instalações e

equipamentos das respectivas regiões de saúde”, conforme disposto nas alíneas n) e q)

do n.º 2 do citado artigo.

122. Estabelecendo-se, ainda, que compete ao Conselho Directivo das Administrações

Regionais de Saúde “orientar a organização e funcionamento das instituições e serviços

prestadores de cuidados de saúde da respectiva região”, bem como “promover medidas

necessárias para a melhoria do funcionamento das instituições e serviços e ao pleno

aproveitamento da capacidade dos recursos humanos e materiais”, nos termos das

alíneas a) e i) do n.º 2 do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 222/2007, de 29 de Maio.

Com efeito,

123. Considerando que a legislação sobre saúde é de interesse e ordem públicos e que no

caso em apreço estão em causa a salvaguarda da protecção do direito à saúde e dos

direitos e interesses legítimos dos utentes de cuidados de saúde, que são atingidos pelas

não conformidades apuradas no que respeita a falta de infra-estruturas, fluxos funcionais e

organizacionais, resultantes do exercício da actividade do estabelecimento a funcionar

sem que sejam observados padrões mínimos de qualidade e segurança;

124. Da ponderação dos interesses em causa, mormente da violação da legislação aplicável e

das boas práticas clínicas, outro juízo não poderá proceder que não seja aquele que

determine a prevalência da salvaguarda do direito à protecção da saúde e dos direitos e

interesses legítimos dos utentes por se verificar a possibilidade de serem afectados.

125. Remanescendo, assim, a necessidade da resolução da problemática existente quanto à

continuidade da prestação de cuidados de saúde no Hospital Maria Pia, perante as

condições infra-estruturais, organizacionais e funcionais presentes.

126. Porquanto compete à ERS, no âmbito da sua actividade regulatória e ao abrigo dos

poderes de supervisão que lhe são legalmente conferidos, assegurar que em face das

condicionantes e não conformidades infra-estruturais, organizacionais e funcionais das

instalações do Hospital Maria Pia, sejam adoptadas as medidas reputadas por

convenientes para solver a questão em assunto.

22

127. Assim, considerando as conclusões extraídas no âmbito do processo em assunto,

mormente no que respeita à subsistência de algumas não conformidades identificadas em

sede do processo de inquérito ERS/032/10, que prejudicam a prestação de cuidados de

saúde em respeito por padrões mínimos de qualidade e segurança exigíveis e,

consequentemente, lesam os direitos e interesses legítimos dos utentes;

128. Considerando a inaptidão de o Centro Hospitalar do Porto E.P.E para suprir tais não

conformidades em virtude das limitações estruturais e funcionais do edifício para sofrer

alterações e ampliações sem perda de coesão;

129. Considerando que, de igual forma, encontra-se em processo de elaboração uma nova

Carta Hospitalar, que consubstancia um novo conjunto de linhas de orientação estratégica

para os hospitais que integram o Serviço Nacional de Saúde;

130. Compete à ERS recomendar à Administração Regional de Saúde do Norte, I.P. que

perante o conjunto de não conformidades elencadas implemente as medidas reputadas

oportunas tendentes à sua resolução;

131. Sendo certo que, em face da não solvabilidade dessas não conformidades deverá o citado

organismo regional, em função dos princípios e orientações das políticas de saúde e das

necessidades da população abrangida, prover pelo encerramento do Hospital Maria Pia,

dentro do prazo consignado no âmbito da Instrução do processo de inquérito ERS/032/10,

132. Posto que tal medida apresenta-se como adequada e não excessiva, não se vislumbrando

qualquer outra menos gravosa, que possa ser tomada e garanta a salvaguarda dos bens e

valores ofendidos, perante a subsistência das condicionantes e não conformidades infra-

estruturais, organizacionais e funcionais evidenciadas relativamente às instalações que

integram o Hospital Maria Pia.

VI

DA DECISÃO

133. Atento todo o supra exposto, o Conselho Directivo da ERS, nos termos e para os efeitos

do preceituado nos artigos 33.º e 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio,

recomenda à Administração Regional de Saúde do Norte, I.P.:

a) A adopção urgente de todas as medidas aptas a aferir da real capacidade de

resposta do Centro Hospitalar do Porto, E.P.E., no que respeita à subsistência do

funcionamento do Hospital Maria Pia, em respeito dos padrões mínimos de qualidade

23

e segurança, preconizados para o exercício da actividade, e dos direitos e interesses

legítimos dos utentes;

b) A implementação urgente de um programa funcional que se adeqúe à situação

concreta do Hospital Maria Pia, monitorizando o respectivo estado de conservação e

apresentação de respostas para a respectiva reforma estrutural;

c) Verificada a incapacidade de resposta do Centro Hospitalar do Porto, E.P.E., no que

respeita à subsistência do funcionamento do Hospital Maria Pia, o encerramento da

actividade nas instalações desta unidade hospitalar, devendo para o efeito atender-se

ao lapso temporal instituído na instrução emitida no âmbito do processo de inquérito

ERS/032/10.

134. O Conselho Directivo da ERS, igualmente, delibera que a Administração Regional de

Saúde do Norte, I.P. deve manter permanentemente informada a Entidade Reguladora de

todas as diligências encetadas quanto à recomendação ora emitida.

135. Da presente recomendação será dado conhecimento ao Centro Hospitalar do Porto,

E.P.E. e ao Ministério da Saúde.

136. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada no sítio oficial da

Entidade Reguladora da Saúde na internet.

O Conselho Directivo